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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE


PROGRAMA DE GRADUAÇÃO DE FILOSOFIA/BACHARELADO-
LICENCIATURA
FLAVIO JOSELINO BENITES & DANIEL ARAÚJO COSTA
4º Período/2014.2
Trabalho apresentado para a disciplina Filosofia Política
Prof. Dr. Luiz Vicente Vieira

Carl Schmitt. O conceito do político; 1-Estatal e Político, 2-A distinção


amigo-inimigo, critério do político

Sobre Carl Schmitt, pode se afirmar com muita clareza, que é o maior
pensador político do século XX, e sua obra “O conceito do político” é certamente
de toda sua vasta bibliografia a obra mais conhecida.1
Destarte, esse curto ensaio de Schmitt, é um dos grandes clássicos da
filosofia política contemporânea, sabemos que, ela surge originalmente de uma
conferência proferida na “Deutsche Hochschuhle für Politik” em Berlim por
ocasião de um ciclo de conferências dedicado aos problemas sobre
democracia.2
Dessa maneira, sua obra fora publicada com o título “Der Begriff des
Politischen”, e no ano de 1927 (dois anos antes da crise de 1929, 6 anos antes
da ascensão dos nazistas ao poder) no “Archiv für Sozial Wissenchaft und
Socialpolitik”, tomo 58, n.1, pp.1-33 e reeditado na série “Probleme des
Demokratie, Politische Wissenchaft”, Berlim, 1928, até ser publicado em1932,
pela “Duncker und Humblot, Munich”, esta edição servirá de referência para a
tradução de George Schwab. Por sua vez, Schwab é grande responsável pela
difusão da obra de Carl Schmitt em solo americano através de livros, artigos e
traduções das suas obras mais importantes.3
Outrossim, quanto ao seu pensamento teórico a partir, da obra “O conceito
do político” é pensar o que é o político, pois, é certo que a tentativa de dar ao
político um caráter autônomo separando-a dos demais campos da vida comum,
não é algo novo, pois, encontramos na história da filosofia política um grande
número de obras e autores dedicados ao tema, porém, a novidade trazida por
Schmitt reside na forma com a qual o autor dá tratamento ao problema, ou seja
a radicalidade que emprega na formulação do critério do ser político4.
Então, diante disso, no primeiro capítulo, para pensar o político Schmitt
parte do Estado, iniciando da seguinte forma; “O conceito do Estado pressupõe
o conceito do político”, que, na necessidade de partir para uma análise mais

1 Artigo Publicado na Revista eletrônica, KRITERION, Belo Horizonte, nº 118, Dez./2008, p. 449.
2 Ibidem.p.450.
3 Ibidem.
4 Ibidem.p.452.
2

aprofundada, na questão sobre o que é o político, dessa maneira, exige uma


suspensão de tentar desvendar o que seria o Estado, num primeiro momento da
discussão.5
Com essa afirmação, ele demarca o território que sua reflexão pretende
explorar, i.e. a relação entre esses dois conceitos, que podem se tornar um
problema de grande relevância, isso porque, a concepção pautada na
equivalência político e estatal pode ser uma compreensão errônea se o termo
político for assim utilizado negativamente em contrariedade a outras noções
como;

“Política e economia, política e moral, política e direito e, dentro do


direito política e direito civil, e assim por diante. Mediante tais
contraposições negativas, geralmente também polêmicas, pode-se
bem designar, dependendo do contexto e da situação concreta, algo
suficientemente claro, mas isto ainda não constitui uma determinação
do que há de específico. Em geral político ou pelo menos relacionado
ao Estado. O Estado surge então como algo político, porém como algo
estatal; evidentemente um círculo que não satisfaz.” 6

Também, em alguns casos, quando ocorre a generalização da palavra


político pode veicular o uso prático/técnico do termo, fiando a circunstâncias
administrativas ou jurídicas, preenchendo eventuais necessidades
terminológicas por falta de um termo apropriado para seu correto uso;

Na literatura jurídica especializada encontramos muitas destas


paráfrases do político, as quais, no entanto na medida em que não
possuem um sentido político polêmico, apenas devem ser
compreendidas a partir do interesse prático-técnico da decisão jurídica
ou administrativa de casos particulares. Elas recebem seus
significados pelo fato de pressuporem de forma não problemática um
Estado existente, em cujo contexto se movimentam. Assim há, por
exemplo uma jurisprudência e literatura acerca do conceito de
“associação política” ou de “assembleia política”, no direito de
associação, além disso, a prática do direito administrativo francês (...)” 7

Carl Schmitt deixa, claro que equiparar político a Estado não é de todo
satisfatório, possibilitando dessa maneira um conceito polêmico devido as
relações humanas no interior do Estado e, de toda sorte, este com os outros,
desembocando nas suas relações externas;

Tais determinações vêm de encontro das necessidades da prática


jurídica buscam, fundamentalmente, apenas um meio prático para a
delimitação de variados fatos que se apresentam no interior de um
Estado, em sua prática jurídica, não visam qualquer definição do
político como tal. Portanto, saem-se bem com sua referência ao Estado

5 SCHMITT, Carl. O conceito do político. Ed. Vozes. Petrópolis, 1992.p.43.


6 Ibidem.p.44.
7 Ibidem.p.45.
3

ou ao estatal, enquanto o Estado as instituições estatais puderem ser


pressupostos como algo evidente e sólido. As definições conceituais
gerais do político que nada contém além de uma remissão ao “Estado”
também são compreensíveis e cientificamente justificáveis, enquanto
o Estado representa realmente uma clara, unívoca e determinada
grandeza, e se defronta com grupos e assunto não estatais e
justamente por isso, “Não-políticos”, logo, enquanto Estado ainda
detém o monopólio do político.”8

Da mesma maneira, se torna equivocado, segundo nosso autor, se


compararmos Estado=político, tendo em vista que, sociedade e Estado se
relacionam profundamente, todas as suas ações de natureza política, por sua
vez, se tornam a ser sociais, i.e. se sociais necessariamente se tornam estatais,
que configura um movimento circular,

“à equivalência estatal=político se mostra-se incorreta e enganosa, na


mesma medida em que Estado e sociedade se interpenetrarem, todos
os assuntos até então políticos se tornam sociais e vice-versa, todos
os assuntos até então “apenas” sociais tornaram-se estatais, como
ocorre necessariamente numa coletividade democraticamente
organizada.”9

Tal situação, faz com que ocorra uma condição até certo ponto polêmica,
devido as condições contrárias, podendo politiza-las ou despolitiza-las, retirando
sua situação de neutralidade, de área até então neutras, seja elas; religiosa,
econômica, cultura, educacional etc., deixa de ser neutra no sentido não estatal
e não político, implicando no surgimento do “Estado total da identidade entre
Estado e sociedade;”

“Como efeito polêmico contraposto a tais neutralizações e


despolitizações de importantes domínios surge o Estado total da
identidade entre Estado e sociedade, o qual não se desinteressa por
qualquer âmbito e, potencialmente, abrange qualquer área. Nele, por
conseguinte, tudo é, pelo menos potencialmente, político, e a
referência ao Estado não consegue mais fundamentar um marco
distintivo específico do político.”10

Nesse sentido, afere que a democracia propiciará a abolição de todas as


distinções, todo tipo de politizações típicas do século XIX de fonte liberal, apando
de maneira radical as oposições entre Estado e sociedade, desta maneira,
também fará desaparecer as contraposições e as separações que correspondem
as situações do séc. XIX, conforme cita em sua obra “Der Huter der Verfassung”
(O Guardião da Constituição), não mais estariam e oposição o político; o
religioso, o cultural, o econômico, o jurídico e o cientifico.11
De toda sorte, percebemos que o autor em questão, barra o conceito de
Estado total, devido a invasão de conteúdo de diversos âmbitos da sociedade na
política, de forma clara e evidente, a ideia de Estado pode ser considerada
oposta a ideia de sociedade, isso porque o conceito de sociedade não funda o
8 Ibidem.p.46-47.
9 Ibidem.p.47.
10 Ibidem.
11 Ibidem.
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político, logo, recusa a proposição que tudo é política, sendo que tal situação
inviabiliza e neutraliza o político. E o mesmo necessita de autonomia.
Carl Schmitt, no segundo capítulo, desenvolve uma reflexão sobre a
relação amigo-inimigo, fundamentando como critério do político. Dessa maneira,
percebe-se que é de forma estrita seu objetivo em afirmar que uma
contraposição será propriamente política, a apresentação da relação amigo-
inimigo. Isso representa, sempre de forma antagônica, a essência dos
agrupamentos políticos, diferente de outras contraposições;

“É que o político tem seus critérios próprios, que de maneira peculiar


se tornam eficazes diante dos domínios diversos e relativamente
independentes do pensamento e do agir humano, especialmente o
moral, o estético, e o econômico. O político precisa, pois, situar-se em
algumas distinções últimas, às quais pode se reportar-se toda ação
especificamente política. Admitamos que as distinções últimas no
âmbito moral, seja bom ou um, no estético, belo e feio, no econômico,
útil e prejudicial. A questão, então, é se também existe uma distinção
peculiar não semelhante ou análoga as demais, porém independente
delas, auto-suficiente, e como tal evidente, como critério simples do
político, em que ela consiste.”12

Diante dessa exposição propõe que;

A distinção especificamente política a que podem reportar-se as ações


e os motivos políticos é a discriminação entre amigo e inimigo. Ela
fornece uma determinação conceitual no sentido de um critério, não
como definição exaustiva ou especificação de conteúdo. Na medida em
que ela não é derivável de outros critérios, corresponde, para o político,
aos critérios relativamente independente das demais contraposições.
(...) ela é independente não no sentido de um novo âmbito próprio, mas
na maneira em que se fundamenta nem em alguma das demais
oposições, nem tão pouco em várias delas, e nem a elas pode ser
reportada.”13

Portanto, percebe-se então, que a dicotomia amigo e inimigo se origina


da relação conflituosa entre agrupamentos sociais no interior do Estado, que
propicia tal condição o controle do poder político, ou alteridade entre dois povos,
sendo que um passa a ver o outro como grave ameaça para sua existência. Tal
situação possibilita induzir que o Estado é o lugar de excelência do político.
Quanto a relação de inimizade e por consequência seu pressuposto é que irá
permitir conhecer a natureza das formas políticas, pois, é o caso limite o conflito
que traz à tona o político, fazendo tal situação uma condição existencial da
política.14

12 Ibidem.p.51.
13 Ibidem.p.51-52.
14 Ibidem.p.52.
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REFERÊNCIA

SCHMITT, Carl. O conceito do político. Ed. Vozes. Petrópolis, 1992.

SITES CONSULTADOS
Artigo Publicado na Revista eletrônica, KRITERION, Belo Horizonte, nº 118,
Dez./2008, p. 449-455. Disponível para consulta:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
512X2008000200010 (08-10-2014)

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