Professional Documents
Culture Documents
° 3 • Dezembro 2007
Corpo Editorial Editor Chefe – José Manuel Schiappa, Editores – José Crespo Mendes de Almeida (Editor Científico), José Augusto
Gonçalves (Editor Técnico), Jorge Penedo (Editor de Supervisão), Amadeu Pimenta, Eduardo Xavier da Cunha (Editores
Associados) • Conselho Científico A. Silva Leal, António Marques da Costa, A. Araújo Teixeira, C. Alves Pereira, Eduardo
Barroso, F. Castro e Sousa, Fernando José Oliveira (Presidente), Francisco Oliveira Martins (Secretário Geral), Jaime Celestino da
Costa, João Gíria, João Patrício, Jorge Girão, Jorge Santos Bessa, José Guimarães dos Santos, José Luís Ramos Dias, José M.
Mendes de Almeida, Rodrigo Costa e Silva, Vítor Passos de Almeida • Edição e Propriedade Sociedade Portuguesa de Cirurgia
– Rua Xavier Cordeiro, 30 – 1000-296 Lisboa, Telefs.: 218 479 225/6, Fax: 218 479 227, E-mail spcirurgia@clix.pt • Redacção
e Publicidade SPOT Depósito Legal 255701/07 • Composição, impressão e acabamento G.C. – Gráfica de Coimbra, Lda.
Índice
Página dos Editores/Editors Page . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Editorial /Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Agenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Agenda
Os agrupamentos profissionais, para além da prática que os une, caracterizam-se pela existência
de objectivos bem definidos, cujo cumprimento é a razão de ser e a natureza do próprio grupo.
As sociedades científicas, de índole profissional ou outra, têm como objectivo a procura do conhe-
cimento através do emprego do método científico. No presente, tal como no passado e no futuro, a
demanda do estudo da realidade é indissociável do desenvolvimento tecnológico. Ao longo do tempo,
as curvas do desenvolvimento científico e tecnológico comportam-se como duas sinusóides desfasadas.
A um pico de desenvolvimento científico segue-se outro de desenvolvimento técnico e assim sucessi-
vamente. Esta sequência de períodos é fulcral e também uma consequência da forma como a cultura
científica de matriz ocidental se tem desenvolvido.
O conhecimento científico, tal como a prática clínica, caracteriza-se também pela sequência tem-
poral de paradigmas que num dado momento sintetizam a informação disponível e a prática desejá-
vel. Este conceito, introduzido por Thomas Kuhn, coloca-nos perante o dilema da transitoriedade de
todo o conhecimento e das actuações dele derivadas.
Vivemos, no âmbito da especialidade médica de Cirurgia Geral, um período dominado pelo
desenvolvimento tecnológico. Em permanência são desenvolvidas e apresentadas à comunidade cirúr-
gica técnicas cada vez mais sofisticadas. Seja pela pressão da miniaturização, da menor invasividade
ou de outro propósito dependente de uma nova possibilidade, o Cirurgião Geral é confrontado con-
tinuadamente com equipamentos mais modernos.
Cada inovação apresentada carece de, para a sua validação enquanto instrumento de progresso,
verificação da melhoria dos resultados que permite potencialmente obter.
Este aspecto crucial, e tantas vezes esquecido, corresponde à análise científica que se deve seguir à
introdução de cada novo desenvolvimento tecnológico. Só pela sequência – novo procedimento téc-
nico / verificação de resultados – se pode evoluir de um paradigma a outro e, assim, originar um ver-
dadeiro progresso de conhecimento teórico e prático.
A força das sociedades científicas resulta do seu empenho em respeitar esta metodologia e de pro-
curar interpretar e divulgar novos paradigmas. Neste conceito a Sociedade Portuguesa de Cirurgia é
uma sociedade científica que tem cumprido a sua razão de ser.
Ao invés, quando um agrupamento profissional, pretensamente de matriz científica, se desvia des-
tes objectivos e metodologia perde esta natureza e transforma-se numa entidade com outro propósito.
Nesta medida não se pode invocar a Ciência quando se está exclusivamente dependente da Técnica.
Um tal posicionamento desvia-se da procura do conhecimento, tem uma razão de ser conjuntural e,
como tal, não tem futuro.
REUNIÕES
“VENHA TOMAR UM CAFÉ CONNOSCO” “UM DIA/UM TEMA”
All of the early laparoscopic pioneers suffered through the indignity of being the object of derogatory comments by the
surgical academic establishment. The great surgical innovators of early era of laparoscopy like Barry McKernan and Eddie
Joe Reddick (gallbladder and hernia), Joe Petelin and Maurice Arregui (common bile duct), Dennis Fowler (colon), Lee
Swanstrom (esophagus), and Michel Gagner (adrenal and pancreas) all pushed the scientific envelope in busy surgical prac-
tices in smaller hospitals. Thirteen years ago, in 1994, my partner (and me by association) were less than gently chided by
Nat Soper and Michael Brunt in the New England Journal of Medicine for doing operations that were “a triumph of tech-
nical ability over common sense”, for daring to do operations on the pancreas laparoscopically. (1)
Our next surgical technological revolution, robotics, swept the minimal invasive world at the turn of the millennium.
The literature proclaimed this robotic surgery as being as “safe and effective” as laparoscopic surgery, but none actually
proved it to be better. When the publications are actually analyzed, all the operations cost more and take longer (how is this
effective?). While no one has actually said so, no one but the urologists are taking robotics very seriously other than for its
obvious use as a marketing tool. Most of these expensive toys gather dust in the hallways of the operating room.
By 2006 most laparoscopic surgeons had seen or heard of a remarkable edited video of the removal of an appendix, albeit
very normal appearing, through a gastroscope. Fully one year later no endoscopic appendectomy series has ever been published
and there is only one publication in a human subject about surgery done through a NOTES technique (and that is about the
rescue of a dislocated PEG, hardly something we see every day). (2) This year however, we have been treated to a plethora of ani-
mal feasibility study articles. In a recent publication from John Hopkins, the number of animals (five) is actually half the num-
ber of authors (ten) (3). At this spring’s SAGES Meeting we were treated to edited videos that showed scopes introduced through
the rectum, with stool affixed, used to guide surgery on gallbladders that were poorly grasped and dissected with no discernable
anatomic landmarks, all often culminating in an explosion of bile. To those that state that these videos resemble the early era of
laparoscopy I paraphrase the Lloyd Bentsen/Dan Quayle 1988 Vice Presidential debate; I was there and we never operated like
that (and if we did, we certainly never filmed it). Obviously someone noticed and at more recent meetings like the Argentine
Congress of Surgery’s 78th Clinical Congress in Buenos Aires this fall, IRCAD’s Jacques Marescaux treated a standing only audi-
ence to masterful video and computer graphics of a NOTES cholecystectomy. Yes we can do this operation but where is the sci-
ence? Again, at the same SAGES meeting there was significant media play on the world first trans-vaginal cholecystectomy. At
this writing a “Goggle” search on vaginal choleystectomies yields 35,000 hits while a PubMed search shows only 5 cases in the
literature (none in North America).
The surgical community has also been treated to videos of endoscopic gastric plications in animals (what exactly was
plicated to what is difficult to determine), in the guise of performing an endoluminal VBG. In 2000 Michael Sarr’s group
published excellent follow up data on the VBG, showing that this operation worked to sustain weight loss less than 25% of
the time and required re-operation about 20% of the time. (4) American surgeons have essentially abandoned this operation.
It was Karl Marx who said history repeats itself first as a tragedy and then as a farce. Why on earth would we again perform
a bad operation again but now in a more technically inept way?
1. Soper N.J., Brunt L. M., Kerbl K. (1994) Laparoscopic general surgery NEJM 330 (6);409-419
2. Marks J. M., Ponsky J.L., Pearl J.P., McGee M.F. (2007) PEG “Rescue” a practical NOTES technique Surg Endosc 21 (5): 816-819
3. Shih S.P., Kanttsevoy S.V., Kalloo A. N. et al (2007) Hybrid minimally invasive surgery-a bridge between laparoscopic and
translumenal surgery. Surg Endosc 21: 1450-1453
4. Balsinger B.M., Poggio J.L., Mai J., Kelly K. A., Sarr M.G. (2000) Ten and more years after vertical banded gastroplasty as a
primary operation for morbid obesity J. Gastrointest Surg 4:598-605
5. http://www.noscar.org/
Correspondence:
Editorial
6
Editorial
Richard M. Satava, MD, FACS
There is something exciting in the air!! And that is exactly the way Natural Orifice Transluminal Endoscopic
Surgery (N.O.T.E.S.) feels today. There is a light-headedness about something new and different, something you
just cannot put your finger upon, but which has an electrifying feeling that you sense must be right. It’s “déjà
vu” - all over again”(1). This has not occurred since 1987 when the first video of laparoscopic cholecystectomy
(lap chole) had such a stimulating effect of what is possible and grasped the imagination of the surgical world.
Yes, N.O.T.E.S is here, but will it stay?
As expected there is the anticipated spectrum of response from the “usual suspects”: The academicians
slowly and methodically analyzing all the possible pros and cons; the young surgeons who see an opportunity to
be involved in the making of a new revolution for surgery and an opportunity to recreate the surgical world in
their image. The dinosaurs versus the mammals – the prudent versus the risk takers. Somewhere in the mid-
dle, leaning more to one side than the other, lies the truth and ultimate outcome.
The academics bring conventional wisdom, experience, prudence and safety to the table, pointing out the
initial high complication rate with early laparoscopy, the difficulty with the technology, and raising the valid
question whether there will be scientific evidence that N.O.T.E.S can actually bring significant improvement over
the established value of laparoscopic approach. Wisely, they question whether potentially exposing a patient to
a risk with high mortality (ie leaking from the endoluminal incision in the stomach or colon) that does not exist
with laparoscopic surgery clearly and unequivocally should mandate against further N.O.T.E.S research and
development. In essence, if there is an increase in mortality or morbidity as an inherent property of the proce-
dure, there is no justification for further pursuit of the research, let alone clinical trials. How could you justify
even one patient that dies from a gastric leak – something that could not possibly happen with a laparoscopic
approach?
On the other side are the optimists – the risk takers. These have the confidence that it will be possible to
identify the risks and craft a technologic solution. What are some of the currently identified problems? First
and foremost is the issue of secure closure of the gastrotomy or colotomy. There are a number of approaches,
such as suturing, clipping, stapling or adapting the “umbrella” occluder for catheter-closure of an atrial septal
defect. It is not clear whether any approach will provide the near 100% security that is requested. Moreover,
does N.O.T.E.S. solve a problem which laparoscopic surgery has, such as strangulated umbilical or port-site her-
nia? Does robotic surgery solve most of the limitations of dexterity, precision, tremor, etc. Data needs to be col-
lected and analyzed in order to provide such a comparison. And finally, do we even need to develop a different
solution for laparoscopic surgery.
Footnotes:
1. Berra, Yogi. An attribution to the famous American baseball coach/philosopher who used double entendre as his forté for ambiguity.
2. Horgan S, Talamini M, Marescaux J, Zorron R. Personal communication.
Editorial
8
ARTIGO DE OPINIÃO
Importância e utilidade
da análise de resultados
Eduardo Alberto Font Xavier da Cunha
Chefe de Serviço de Cirurgia Geral dos HUC – Serviço de Cirurgia III – Departamento de Cirurgia
(Director: Prof. Doutor Francisco Castro e Sousa) – Hospitais da Universidade de Coimbra
Na literatura anglo-saxónica surgiram nos últimos comparar estratégias terapêuticas, mas dele não se
anos múltiplos artigos, em que se procede à análise de podem esperar respostas que abranjam várias questões
“outcomes”, referentes aos mais diferentes procedi- simultâneas. Por isso Berg e Vickrey (3), são da opinião
mentos médicos e cirúrgicos. de que o desenvolvimento da área de análise de resul-
Um “outcome” é na realidade qualquer evento / epi- tados, deve complementar e permitir melhorar a capa-
sódio / resultado, passível de ocorrer após a exposição cidade destes estudos na avaliação dos episódios mais
do doente, a um determinado acto terapêutico (1). relevantes para os doentes.
Assim, a sua investigação tem como finalidade definir A investigação a partir de resultados provenientes de
a resposta do doente a esse acto e a avaliação do resul- bases de dados pré-existentes exige métodos de obser-
tado final ou das suas consequências. vação rigorosos, para permitir a medição e comparação
Os cirurgiões sempre se preocuparam e centraram o com os dados obtidos da nossa prática clínica, a fim de
seu interesse na avaliação dos resultados do tratamento melhor compreender o que efectivamente foi benéfico
cirúrgico (2). A mortalidade pos-operatória constitui para o doente e extrair conclusões acerca da eficácia das
quase sempre a grande preocupação clínica, já que é terapêuticas utilizadas (4). A eficácia de um tratamento
um episódio muito relevante e importante, embora clínico, pode assim ser avaliada, usando este meio de
pouco frequente para uma grande maioria dos actos investigação, que procura saber como se comporta nos
cirúrgicos, pelo que a nossa atenção deve abranger doentes e em circunstâncias normais, e responder a uma
outros episódios que podem igualmente ocorrer. simples pergunta – qual a sua eficácia real? (5)
Este método de análise de resultados, difere dos Este tipo de investigação permite avaliar actos médi-
estudos randomizados controlados, pelo facto de nes- cos, os intervenientes do acto médico, e as organiza-
tes, as questões para as quais se pretendem respostas ções e sistemas de saúde. Os médicos utilizam esta
serem previamente especificadas, antes da recolha de metodologia para criar linhas de conduta e ainda como
quaisquer dados. ferramenta no controlo de qualidade.
A investigação conduzida a partir de resultados já Estas análises podem centrar-se em diferentes aspec-
ocorridos, baseia-se no conceito da utilização de uma tos tais como mortalidade, morbilidade, complicações,
grande multiplicidade de dados e variáveis, o que vai alívio de sintomas, qualidade dos cuidados prestados,
permitir uma visão mais ampla dos efeitos experi- qualidade de vida e grau de satisfação do doente e
mentados pelo doente, para um determinado tipo de ainda análise de custos. São múltiplas as ferramentas
tratamento, do que aquela que se obtém através de um que podem ser usadas nestas avaliações: revisão da lite-
estudo randomizado. Este é geralmente ideal para ratura, análise de bases de dados, avaliação da quali-
BIBLIOGRAFIA
1. Sankoh AJ, Huque MF, Dubey SD. Some comments on frequently used multiple endpoint adjustment methods in clinical trials. Sta Med 1997:16: 2529-2542
2. Wright JG, Mc Leod, RS.,Lossing, A., Walters, BC., Hu, X :Measurement in surgical clinic research. Surgery:1996:119:241-243.
3. Berg A, Vickrey BG. Outcomes research. Science 1994;264:756-757.
4. Canto JC, Kiefe CI, Williams OD, Barron HV and Rogers WJ: Comparison of Outcomes Research With Clinical Trials Using Preexisting Data. Am. J. of Car-
diology:1999; 84; 923-927
5. Guadagnoli E, Mc Neil. Outcomes research: hope for the future or the latest rage. Inquiry 1994; 31:14-24
6. Deming EW. “The New Economics for Industry, Governement, Education” 1993. MIT Center for Advanced Engineering Study
7. Traverso C,Shinchi H and Low DE. Useful benchmarks to evaluate outcomes after esophagectomy and pancreatoduodenectomy. American J of Science 2004;
187, 604-608
8. Shukri FK and Anderson WG. The patient safety in surgery study Journal of Amer. College of Surgeons 2007;204: 1087-1088
9. Neumayer,L, Mastin M, Vanderhoof RN, and Hinson D. Using the Veterans Administration National Surgical Quality Improvement Program to Improve
Patient Outcomes. Journal of Surg. Research 200:88, 58-61.
10. Hanchak, NA, Kelly JT and Liang BA. Using administrative data to evaluate the quality of care. Hosp. Physician 1997;12: 38-40
11. Atherly A, Fink AS, Campbell DC, Mentzer RM, Henderson W Khuri S and Culler SD. Evaluating alternative risk-adjustment strategies for surgery. Amer.
J. of Surgery 2004;188: 566-570
12. Campion FX and Rosenbllat, MS. Quality assurance and Medical outcomes in the era of cost containment. Surg. Clinics of N. Amer. 1996;76: 139-158
13. Davenport DL, Henderson WG, Khuri SF and Mentzer RM. Preoperative risk factors and surgical complexity are more predictive of costs than postopera-
tive complications. A case study using the National Surgical Quality Improvement Program (NSQIP) database. Ann. Surg, 2005;242:463-471
14. MacLeod RS Now you have the data. Is it possible to improve practice? In Symposium:using data to improve patient outcomes. 93 rd Clinical congress ACS,
New Orleans 2007
15. Sjovall A, Holm T, Sngnomklao T e Al. Colon cancer management and outcome in relation to individual hospitals in a defined population. Br J Surg 2007;
94:491-499
Correspondência:
DR. EDUARDO XAVIER DA CUNHA
Serviço de Cirurgia III – Hospitais da Universidade de Coimbra
3049 Coimbra Codex — Portugal
xavierdacunha@mail.telepac.pt
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
16
– tratar-se de uma doença localizada ao fígado, 19.9 > 100 UI/L. A soma da pontuação de cada um
embora, nalguns casos seleccionados, se possam destes fac-tores define o prognóstico aos 5 anos (vidé
considerar para ressecção as seguintes situações: tabela 4).
metástases pulmonares (em pequeno número e
localizadas), adenopatias hilares e, mais rara- Sobrevida média
Score 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos
mente, outras localizações extra-hepáticas ressecá- (meses) %
veis (sem doença metastática «difusa», sem pro- 0 93 79 72 60 60 74
gressão global da doença); 1 91 76 66 54 44 51
– ser possível a ressecção R0 das metástases; 2 89 73 60 51 40 47
– ter sido efectuada uma ressecção oncológica do 3 86 67 42 25 25 33
tumor primário; 4 70 45 38 29 20 20
– discutir multidisciplinarmente a estratégia onco-
5 71 45 27 14 14 22
lógica global.
Tabela 3 – Factores de risco para recidiva – Smith, DeMatteo, Fong,
Blumgart (1001 doentes)
OBJECTIVOS
I 75 44,4
II 81 47,9
III 8 4,7
IV 5 3,0
RESULTADOS
Da análise dos vários factores de risco, verificámos
De Abril de 1996, data em que constituímos o que não houve diferenças estatisticamente significati-
grupo multidisciplinar para a abordagem e tratamento vas, quer na sobrevida global estimada aos 5 anos, quer
das doenças hepato-bilio-pancreáticas, até Janeiro de na sobrevida livre de doença, para os seguintes: tumor
2006, foram realizadas 201 ressecções / ablacções primário (cólon versus recto), mo-mento do diagnós-
intra-operatórias de metástases hepáticas de cancro tico (metástases síncronas versus metácronas), dimen-
colo-rectal em 169 doentes, com uma taxa de sobre- são da maior metástase (< 5 cm versus > 5 cm) – vidé
vida global estimada aos 5 anos de 46,7% (gráfico 1) gráficos 3, 4, 5, 6, 7 e 8.
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
18
Gráfico 2 – Metástases hepáticas de cancro colo-rectal ressecadas. Gráfico 5 – Sobrevida global estimada aos 5 anos – metástases hepáti-
Sobrevida livre de doença. cas metácronas versus síncronas (Kaplan – Meier Log-Rank (Mantel-
-Cox), p = 0.844).
Gráfico 3 – Sobrevida global estimada aos 5 anos – metástases hepáti- Gráfico 6 – Sobrevida livre de doença – metástases hepáticas metácro-
cas de tumor do cólon versus de tumor do recto (Kaplan – Meier Log- nas versus síncronas (Kaplan – Meier Log-Rank (Mantel- Cox), p =
Rank (Mantel- Cox), p = 0.143). 0.177).
Gráfico 4 – Sobrevida livre de doença – metástases hepáticas de tumor Gráfico 7 – Sobrevida global estimada aos 5 anos – metástases hepáti-
do cólon versus de tumor do recto (Kaplan – Meier Log-Rank (Man- cas < 5 cm versus > 5 cm (Kaplan – Meier Log-Rank (Mantel- Cox),
tel- Cox), p = 0.266). p = 0.687).
Para os doentes com metástases unilobares, a sobre- Embora no Livermetsurvey o número superior a 3
vida global esperada aos 5 anos não teve diferença esta- metástases hepáticas de cancro colo rectal tenha signi-
tisticamente significativa em relação aos doentes com ficado estatístico para a sobrevida aos 5 anos (48%
metástases bilobares (vidé gráfico 9), enquanto que para < 3 metástases versus 24% para > 3 metástases;
para a sobrevida livre de doença essa diferença já teve Log rank, p<0.0001), verificámos, na nossa série, que
significado estatístico – 39,5% para os doentes com tal não acontecia (vidé gráfico 11). Contudo, acima
metástases unilobares versus 30,9% para aqueles com de 2 metástases, encontrámos implicação prognóstica
metástases bilobares; p=0.016 (vidé gráfico 10). estatisticamente significativa na sobrevida livre de
doença (vidé gráfico 12).
Gráfico 9 – Sobrevida gobal estimada aos 5 anos – doentes com metás- Gráfico 11 – Sobrevida gobal estimada aos 5 anos – doentes com >2
tases hepáticas colo-rectais unilobares versus unilobares (Kaplan – metástases versus doentes com < 2 metástases (Kaplan – Meier, Log-
Meier, Log-Rank (Mantel- Cox), p = 0.359). Rank (Mantel- Cox), p = 0.199).
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
20
Gráfico 12 – Sobrevida livre de doença – doentes com >2 metástases Gráfico 13 – Sobrevida gobal estimada aos 5 anos – doentes com mar-
versus doentes com < 2 metástases (Kaplan – Meier, Log-Rank (Man- gens de ressecção < 1 cm versus doentes com margens de ressecção >
tel- Cox), p = 0.003). 1 cm (Kaplan – Meier, Log-Rank (Mantel- Cox), p = 0.000).
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
22
órgão o que nos permite a ressecção de metástases de
localização «difícil» com margens adequadas.
Outro recurso de que dispomos, actualmente, é a
embolização do ramo da veia Porta que nutre o lobo
hepático que aloja a maior carga de doença metastática.
Desta forma, podemos, assim, induzir uma atrofia desse
lobo, com uma hipertrofia compensadora do lobo con-
tra-lateral, prevenindo uma insuficiência hepática aguda
no pós-operatório, por insuficiente reserva hepática.
Esta técnica pode ser conseguida, quer por via percutâ-
nea, quer por via intra-operatória. Na nossa série, reali-
zámos 31 embolizações portais, tendo-se conseguido
efectuar a ressecção hepática ulterior em 14 casos.
Gráfico 17 – Sobrevida gobal estimada aos 5 anos – doentes não sub-
A utilização da ablacção intra-operatória de metásta- metidos a quimioterapia adjuvante versus doentes submetidos a qui-
ses hepáticas por Radio-frequência tem sido por nós mioterapia adjuvante (Kaplan – Meier, Log-Rank (Mantel-Cox), p =
preconizada em casos de metástases hepáticas múltiplas 0.004).
(em que se associam ressecções de segmentos hepáticos
com maior carga tumoral a ablacção por Radiofre-
quência de metástases situadas no fígado restante, como
«preparação» para uma segunda ressecção hepática – res-
secção iterativa). Temos, também, recorrido à utilização
da Radiofrequência no tratamento da loca de ressecção
de metástases em que as margens de ressecção, por moti-
vos anatómicos ou de má localização das mesmas, não
nos pareceram suficientemente satisfatórias.
Em 12 dos 98 casos de metástases síncronas (12,2%
dos casos de metásta-ses síncronas), efectuámos res-
secções simultâneas cólica e hepática, tendo correspon-
dido estes casos a 5,97% de todas as ressecções hepá-
ticas da série. Tais ressecções foram realizadas em casos
Gráfico 18 – Sobrevida livre de doença – doentes não submetidos a
de metástases únicas e/ou periféricas, preferencial- quimioterapia adjuvante versus doentes submetidos a quimioterapia
mente em que o tumor primitivo se situava no cólon adjuvante (Kaplan – Meier, Log-Rank (Mantel- Cox), p = 0.010).
direito. Não verificámos haver piores resul-tados nem
pior prognóstico com esta abordagem, tendo os doen-
tes efectuado quimio-terapia adjuvante. DISCUSSÃO
Em relação aos doentes que, na série global, recebe-
ram quimioterapia adjuvante, estes tiveram pior sobre- A abordagem dos doentes com metástases hepáticas
vida global estimada aos 5 anos (gráfico 17) e pior de cancro colo-rectal é, actualmente, multidisciplinar,
sobrevida livre de doença (gráfico 18) do que os doen- procurando-se desta forma definir uma correcta estra-
tes que a ela não foram submetidos. Da mesma forma tégia global de tratamento oncológico. Todos estes casos,
do que verificámos para a quimioterapia neoadjuvante, em Centros modernos de tratamento das doenças
tal facto deve-se à presença de doença mais avançada hepato-bilio-pancreáticas, são discutidos em reuniões
naqueles doentes. conjuntas de vários especialistas (cirurgiões hepato-bilio-
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
24
fre-quência. Em casos mais recentes, ulteriores à série Adam), embora ao nível da sobrevida livre de doença
que aqui apresentamos, temos efectuado os dois pro- tenhamos constatado um ligeiro melhor prognóstico
cedimentos por via percutânea (quando exequíveis), para os doentes que apresentaram como tumor primi-
evitando-se, assim, um procedimento cirúrgico, com tivo um tumor do cólon em detrimento daqueles que
todos os inconvenientes que este acarreteria para uma tinham um tumor do recto (diferença não significa-
futura ressecção hepática. Tem sido nossa norma, tiva estatisticamente).
durante as 6 semanas entre a realização da embolização
portal e a cirurgia de ressecção ulterior, manter os
doentes sob quimioterapia. CONCLUSÕES
Da análise dos factores de prognóstico efectuada
nesta série, ressalta que o factor que teve maior força As metástases hepáticas de cancro colo-rectal devem
estatística foi o respeito pela margem de ressecção ser tratadas de forma multidisciplinar.
superior a 1 cm. Esta constatação, que na nossa série Nos casos de metástases hepáticas de origem colo-
se revelou muito forte, não tem tido o mesmo impacto rectal isoladas ou unilobares (preferencialmente metá-
em vários trabalhos da literatura, desde as publicações cronas), estas devem ser submetidas a ressecção ime-
de Yamamoto nos anos 90, até aos mais recentes tra- diata (considerando-se a avaliação para quimioterapia
balhos de J.P.A.Lodge e colaboradores e de Jean-Nico- adjuvante caso a caso). As metástases hepáticas de ori-
las Vauthey e colaboradores, nos quais aparentemente gem colo-rectal de distribuição bilobar e/ou síncronas
só a evidência de uma margem rasante teria um de-vem ser previamente submetidas a quimioterapia
impacto negativo na sobrevida global destes doentes. neoadjuvante, tanto para se estudar o comportamento
Não foram estes dados que constatámos na nossa série, biológico do tumor, como para se proceder a uma
tendo inclusivé demonstrado um prognóstico clara- selecção mais ade-quada dos doentes para ressecção.
mente pior, quer a nível da sobrevida global estimada A quimiocirurgia tem-se revelado a forma mais ade-
aos 5 anos, quer da sobrevida livre de doença, nos quada de abordar estes doentes; com os novos regimes
doentes em que a margem de ressecção negativa supe- de quimioterapia, é possível converter metásta-ses hepá-
rior a 1 cm não foi respeitada. ticas de origem colo-rectal irressecáveis em ressecáveis
Na nossa série, a presença de mais de duas metásta- (25,44% dos doentes da nossa série). A introdução da
ses hepáticas viria a condicionar um pior prognóstico terapêutica bio-molecular associada aos esquemas já uti-
ao nível da sobrevida livre de doença, embora sem afec- lizados de quimioterapia veio aumentar as taxas de res-
tar significativamente a sobrevida global. Na grande posta tumoral para cerca de 80%, aumentando, tam-
série multi-institucional Livermetsurvey, a presença de bém, as taxas de ressecabilidade destes tumores.
mais de 3 metástases hepáticas acarretaria um prognós- Na recidiva de metástases hepáticas colo-rectais res-
tico significativamente pior a nível da sobrevida global secadas, a decisão da ressecção da recidiva só deve ser
(24% de sobrevida aos 5 anos para doentes com mais de tomada após um período de tempo em que estes doen-
3 metástases contra 48% de sobrevida aos 5 anos para tes são submetidos a quimioterapia, com o intuito de
doentes com 3 ou menos metástases – p<0.001). se monitorizar o comportamento tumoral – tal ocor-
Tal como para a Livermetsurvey, não constatámos reu em 23 doentes da nossa série.
haver pior prognósti-co para os doentes com metásta- Nas metástases hepáticas de cancro colo-rectal síncro-
ses síncronas em relação aos doentes com metástases nas, a ressecção simultânea cólica e hepática só deve ser
metácronas. Em relação ao tumor primitivo, também efectuada em situações especiais, tal como preconizou
não houve diferença de prognóstico estatisticamente Daniel Jaeck: que a metástase seja periférica e facilmente
significativa (tal como para a Livermetsurvey e con- abordável e que o tumor primitivo seja preferencialmente
trariando os factores prognósticos propostos por René do cólon direito. Efectuámos 12 destas ressecções na
BIBLIOGRAFIA
1. Staging and prognostic factors, Leandro Gennari, Roberto Doci, Paola Bignami in Liver Metastases, Biology, Diagnosis and Treatment Edited by O.J.Gar-
den, J.G.Geraghty and D.M.NagorneySpringer-Verlag London Limited 1998
2. Treatment strategy for patients with colorectal cancer and synchronous irresectable liver metastases, S. Benoist, K. Pautrat, E. Mitry, P. Rougier, C. Penna and
B. Nordlinger British Journal of Surgery 2005; 92: 1155-1160
3. Novel Two-Step Resection for Lesions Between the Middle Hepatic Vein and Vena Cava Which Allows the Middle Hepatic Vein to Be Preserved, Peter J. Hor-
ton, M.D., Prosanto K. Chaudhury, M.D., Tammy L. Znajda, M.D., John B. Martinie, M.D., Caroline Rochon, M.D., George N. Tzimas, M.D., Peter Metra-
kos, M.D. J Gastrointest Surg 2006;10:69–76
4. Comparison Between Hepatic Wedge Resection and Anatomic Resection for Colorectal Liver Metastases, Daria Zorzi, M.D., John T. Mullen, M.D., Eddie K.
Abdalla, M.D., Timothy M. Pawlik, M.D., M.P.H., Axel Andres, M.D., Andrea Muratore, M.D., Steven A. Curley, M.D., Gilles Mentha, M.D., Lorenzo
Capussotti, M.D., Jean-Nicolas Vauthey, M.D. J Gastrointest Surg 2006;10:86-94
5. Does Repeated Surgery Improve the Prognosis of Colorectal Liver Metastases?, Zenichi Morise, M.D., Ph.D., Atsushi Sugioka, M.D., Ph.D., Junko Fujita,
M.D., Ph.D., Sojun Hoshimoto, M.D., Takazumi Kato, M.D., Akitake Hasumi, M.D., Ph.D., Takashi Suda, M.D., Ph.D., Hiromichi Negi, M.D., Ph.D.,
Yoshinobu Hattori, M.D., Ph.D., Harunobu Sato, M.D., Ph.D., Kotaro Maeda, M.D., Ph.D. J Gastrointest Surg 2006;10:6-11
6. The extent of resection influences outcome following hepatectomy for colorectal liver metastases, G.D. Stewart, C.B. O’Su´illeabha´in, K.K. Madhavan, S.J.
Wigmore, R.W. Parks*, O.J. Garden EJSO (2004) 30, 370–376
7. Metastatic Colorectal Carcinoma: Pushing the Surgical Envelope of Cure, Vijay P. Khatri, MD, FACS Annals of Surgical Oncology, 12(11): 866)867
8. Liver resection for hepatic metastases: 15 years of experience, Giulio Belli, Alberto D’Agostino, Fabio Ciciliano, Corrado Fantini, Nadia Russolillo, and Andrea
Belli J Hepatobiliary Pancreat Surg (2002) 9:607-613
9. Repeat Hepatectomy for Recurrent Colorectal Liver Metastases, Patrick Pessaux, MD,* Emilie Lermite, MD, Olivier Brehant, MD, Jean-Jacques Tuech, MD,
Gérard Lorimier, MD, and Jean-Pierre Arnaud, MD Journal of Surgical Oncology 2006;93:1-7
10. Results of R0 Resection for Colorectal Liver Metastases Associated With Extrahepatic Disease, Dominique Elias, MD, PhD, Lucas Sideris, MD, FRCSC, Marc
Pocard, MD, PhD, Jean-Francois Ouellet, MD, FRCSC, Valérie Boige, MD, Philippe Lasser, MD, Jean-Pierre Pignon, MD, PhD, and Michel Ducreux, MD
Annals of Surgical Oncology, 11(3):274–280
11. Current surgical strategies for the treatment of colorectal cancer liver metastases, R. Adam EJC Supplements Vol 2 No. 7 (2004) 21-26
12. Hepatic and Extrahepatic Colorectal Metastases: When Resectable, Their Localization Does Not Matter, But Their Total Number Has a Prognostic Effect, Domi-
nique Elias, MD, PhD, Gabriel Liberale, MD, De´ wi Vernerey, MSc, Marc Pocard, MD, PhD, Michel Ducreux, MD, PhD, Vale´ rie Boige, MD, David
Malka, MD, PhD, Jean-Pierre Pignon, MD, PhD, and Philippe Lasser, MD Annals of Surgical Oncology, 12(11): 900)909
13. Extending the Frontiers of Surgical Therapy for Hepatic Colorectal Metastases: Is There a Limit?, Vijay P. Khatri, Nicholas J. Petrelli, and Jacques Belghiti Jour-
nal of Clinical Oncology volume 23 number 33 November 20 2005
14. Resection margin in patients undergoing hepatectomy for colorectal liver metastasis: A critical appraisal of the 1 cm rule, Z.Z.R. Hamady, I.C. Cameron, J.
Wyatt, R.K. Prasad, G.J. Toogood, J.P.A. Lodge www.ejso.com – February 2006
15. Effect of Surgical Margin Status on Survival and Site of Recurrence After Hepatic Resection for Colorectal Metastases, Timothy M. Pawlik, MD, MPH; Char-
les R. Scoggins, MD; Daria Zorzi, MD; Eddie K. Abdalla, MD; Axel Andres, MD; Cathy Eng, MD; Steven A. Curley, MD; Evelyne M. Loyer, MD; Andrea
Muratore, MD; Gilles Mentha, MD; Lorenzo Capussotti, MD; Jean-Nicolas Vauthey, MD. Ann Surg 2005;241: 715-724
Paulo A. S. Mira, Hugo P. Marques, João S. Coelho, José A. Pereira, Vitorino A. Rocha, Jorge P. Pereira, Américo Martins, Eduardo Barroso
26
ARTIGO ORIGINAL
1 Assistente Hospitalar de Cirurgia Geral, Director-Adjunto do Gabinete de Coordenação de Colheitas e Transplantação do Hos-
pital de Santa Maria, “Certified European Transplant Coordinator”, Conselheiro da European Transplant Coordinators Organi-
zation – Clínica Universitária de Cirurgia I – Hospital Santa Maria; Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa
2 Interno do Internato Complementar de Cirurgia Geral, Coordenador de Transplantes do Gabinete de Coordenação de Colheitas
e Transplantação do Hospital de Santa Maria – Clínica Universitária de Cirurgia I – Hospital Santa Maria; Faculdade de Medi-
cina, Universidade de Lisboa
3 Interna do Internato Complementar de Cirurgia Geral – Clínica Universitária de Cirurgia I – Hospital Santa Maria; Faculdade
College of Surgeons, Fellow of the American College of Surgeons – Clínica Universitária de Cirurgia I – Hospital Santa Maria;
Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa
Contribuições:
Concepção e desenho do trabalho – 1
Aquisição de dados – 1, 2, 3
Análise e Interpretação dos dados – 1, 2, 3, 5
Elaboração do Manuscrito – 1, 2
Revisão Científica – 1, 4, 6
Revisão Crítica – 4, 5, 6
Análise e Revisão dos dados Estatísticos – 1
Pesquisas Bibliográficas – 1, 2, 3
Introdução – Os dadores de coração parado podem Introduction – Donation after cardiac death offers an
reduzir a carência crónica de órgãos para transplante, no interesting alternative to reduce organ shortage. Neverthe-
entanto, os órgãos provenientes destes dadores estão sujei- less these organs are subjected to a greater ischemia-reper-
tos a lesão de isquémia/reperfusão mais intensa, o que vai fusion injury which impairs immediate and long term
condicionar os resultados imediatos e à distância do trans- transplant results. We have recently demonstrated an
plante. Demonstrámos recentemente, num modelo de important renal protective effect of erythropoietin (EPO),
isquémia/reperfusão no rato, o efeito protector da eritro- in a rat ischemia-reperfusion model.
poietina (EPO). O objectivo deste trabalho foi avaliar, num
modelo animal de transplantação renal com rins colhidos
em paragem circulatória, o efeito sobre o enxerto e o recep-
tor da administração de eritropoeitina no dador.
Material e Métodos – Num modelo animal (porco) Material and Methods – In a pig model we simulated
simulámos as condições de colheita renal em paragem car- the conditions of donation after cardiac death (DCD) fol-
díaca. Após paragem cardíaca os rins foram submetidos a 30 lowed by kidney transplant. Cardiac arrest was induced and
min de isquémia quente sendo posteriormente colhidos e the kidneys extracted after 30 minutes of warm ischemia,
preservados com Celsior® a 4ºC durante 24 horas sendo then preserved with Celsior™ at 4ºC. Twenty four hours
depois transplantados utilizando um modelo de alo-trans- later they were transplanted using a heterotopic technique.
plantação renal heterotópica. A um grupo de dadores foi In the pre-treated group, 1000 units of EPO/kg were admi-
administrado, 30 min antes da paragem cardíaca, 1000 nistered 30 minutes before cardiac death. At the end of the
UI/kg/ev de EPO. Colheita de sangue e urina para análise experiment, blood, urine and renal tissue samples were col-
bioquímica e de tecido renal para avaliação histológica. lected for analysis. Graph Pad Prism Statistical Package
Análise dos dados pelo software Graph Pad Prism Statisti- (version 3.0) was used for statistical analysis and p<0,05
cal Package (versão 3.0). p<0,05 foi considerado estatisti- considered statistically significant.
camente significativo.
Resultados – A transplantação de rins colhidos em para- Results – Transplantation of DCD kidneys resulted in
gem cardíaca resultou num aumento nos níveis de creati- elevation of serum levels of creatinine, N-acetil-β-D-
nina, N-acetil-β-D-glucosaminidase (NAG), glutatião-S- glucosaminidase (NAG), glutathione-S-transferase (GST),
transferase (GST), AST, LDH, ALT, fracção de excreção de AST, LDH, ALT, sodium excretion fraction, interleukin 1
Na+, interleucina 1 e 6, níveis de malonildialdeído (MDA) and 6, malondialdehyde (MDA) and myeloperoxidase acti-
e actividade da mieloperoxidase (MPO), redução significa- vity (MPO). There was also a significant reduction in uri-
tiva do débito urinário e do clearence da creatinina e ainda nary flow and creatinine clearance (p<0,05). Histological
alterações histológicas (p<0,05). A administração de EPO, evaluation demonstrated architectural damage and necro-
30 min antes da isquémia, reduziu significativamente as sis. EPO administration 30 minutes before ischemia redu-
alterações bioquímicas e histológicas resultantes da disfun- ced significantly the biochemical and histological changes
ção glomerular e lesão tubular. A EPO também reduziu a from glomerular dysfunction and tubular lesion. It also
lesão sistémica, a resposta inflamatória e o stress oxidativo diminished systemic injury, inflammatory response and
(p<0,05). oxidative stress (p<0,05).
Conclusões – Este estudo demonstrou pela 1ª vez que o Conclusion: Our study demonstrated that donor pre-
pré-tratamento do dador com uma dose única de EPO pro- treatment with a single dose of EPO induces a considera-
voca uma redução significativa da disfunção e lesão renal e ble reduction in kidney dysfunction and systemic injury
sistémicas associadas à transplantação de rins colhidos em associated with renal transplantation from DCD donors.
paragem cardíaca
PALAVRAS-CHAVE: Dadores em paragem cardíaca, KEYWORDS: Donation after cardiac death, Erythro-
Transplantação Renal, Lesão de Isquémia-Reperfusão, Eri- poietin, Renal Transplant, Ischemia-Reperfusion Injury
tropoietina.
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
29
Fig. 1 – Protocolo Experimental
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
31
zando a fórmula standard serviu para calcular a clea- vância do sobrenadante foi medida por espectrofoto-
rance da creatinina (ClCr), que constitui um indicador metria a 650nm.
da função glomerular. Determinou-se ainda a activi- Os níveis de MDA foram expressos em mmol/L
dade da N-acetyl-β-D-glucosaminidase (NAG) e da MDA/100mg de tecido.
glutatião-S-transferase (GST) marcadores muito sen-
síveis da lesão tubular. Os níveis de ureia, potássio, • Avaliação histológica
cloro, glicose e proteínas na urina também foram As amostras de rim colhidas no final da experiência
quantificados. foram fixadas durante uma semana numa solução de
formaldeido a 10% com tampão PBS. Foram manti-
• Determinação da actividade da mieloperoxidase (MPO) das à temperatura ambiente, desidratas com etanol,
A actividade da mieloperoxidase (MPO) foi utili- embebidas em Paraplast (Sherwood Medical, Mah-
zada como indicadora da infiltração por polimorfo- wah, NJ, USA) e cortadas em fragmentos com 5 mm
nucleares (PMN) e determinada de acordo com um de espessura. Os fragmentos foram desparafinados
método previamente descrito(6). No final da experiên- com xilene e corados com hematoxilina – eosina. As
cia, o tecido renal foi pesado e homogeneizado numa lâminas foram observadas por microscopia óptica
solução contendo 0,5% (peso/volume) de brometo de (Dialux 22 Leitz).
hexadeciltrimetilamónio dissolvido em 10mmol/L de
tampão de fosfato de potássio (pH 7,4) e centrifugado • Tratamento estatístico
durante 30 minutos a 20.000 g a 4ºC. Para efeito de tratamento estatístico, os dados foram
Removeu-se uma aliquota do sobrenadante e adi- apresentados na forma de média afectada do respec-
cionou-se uma mistura de reagente contendo 1,6 tivo erro padrão associado de n observações (média ±
mmol/L de tetrametilbenzidina e 0,1 mmol/L de peró- erro padrão), em que n corresponde ao número de ani-
xido de hidrogénio (H2O2). A taxa de mudança de mais ou amostras de sangue em estudo. No caso de
absorvância foi medida por espectrofotometria a medições repetidas (parâmetros hemodinâmicos) foi
650nm. efectuada uma análise de variância ANOVA de duas
A actividade da MPO foi definida como a quanti- entradas. Resultados, sem medições repetidas associa-
dade enzima necessária para degradar 1mmol de H2O2 das, foram tratados através de uma análise de variân-
a 37ºC e foi expressa em mU/100mg de tecido. cia ANOVA de uma entrada, seguida de um pós-teste
de Bonferroni para comparações múltiplas, utilizando
• Determinação dos níveis de malonildialdeído (MDA) o software Graph Pad Prism Statistical Package (versão
Os níveis de malonildialdeído (MDA) foram utili- 3.0). As diferenças foram consideradas estatisticamente
zados como indicador da peroxidação lipídica e deter- significativas para um valor de p <0,05.
minados de acordo com um método previamente des-
crito(7). O tecido renal colhido foi pesado e homoge-
neizado numa solução de KCl a 1,15% (peso/volume). RESULTADOS
Removeu-se uma aliquota de 100 mL que se adicio-
nou a uma mistura contendo 200 mL de lauril sulfato • Efeito da EPO nos parâmetros hemodinâmicos
a 8,1% (peso/volume), 1,5 mL de ácido acético (pH No grupo Tx DPC, verificou-se uma descida acen-
3,5) a 20% (volume/volume), 1,5 mL de ácido tio- tuada da pressão arterial média (PAM) nos 30 minu-
barbitúrico a 0,8% (peso/volume) e 700 mL de água tos iniciais da reperfusão, período a partir do qual a
destilada. PAM mostrou uma ligeira tendência de subida per-
As amostras foram fervidas durante 1 hora a 95ºC manecendo depois relativamente estável ao longo da
e centrifugadas a 3000 g durante 10 minutos. A absor- experiência. Estes valores médios são, no entanto, sig-
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
33
Fig. 3 – Níveis séricos de creatinina. (* vs Tx Controlo; + vs Tx DPC)
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
35
Fig. 11 – Níveis séricos de LDH (* vs Tx Controlo; + vs Tx DPC)
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
37
Fig. 18 – Histologia renal (H-E) x400: A – Grupo de Referência; B – Grupo Tx Controlo; C – Grupo Tx DPC; D –
Grupo EPO + Tx DPC; Nos fragmentos de rins transplantados após colheita em paragem cardíaca verificou-se a existência
de picnose nuclear, cariorrexis (setas amarelas) e desorganização da arquitectura tubular (setas laranjas).
• Efeito da EPO nas alterações histológicas resultan- órgão. Os efeitos desta lesão são determinantes para o
tes da transplantação de rins colhidos em paragem resultado final da transplantação contribuindo para a
circulatória disfunção aguda e crónica do enxerto, pelo que o con-
A transplantação com rins colhidos em paragem cir- trole deste fenomeno inflamatório multifactorial é
culatória (Tx DPC) resultou em alterações muito mar- essencial para o sucesso da transplantação.
cadas nas células tubulares, com morte e descamação Demonstrámos recentemente que: a inibição da
celular para o interior dos túbulos. O pré-tratamento poli-ADP-ribose polimerase (PARP) (9), o uso de
do dador reduziu consideravelmente estas alterações. De pequenas moléculas com elevada permeabilidade celu-
facto neste grupo, assistiu-se a uma marcada redução lar e elevado potencial antioxidante como o 4-hidroxi-
das alterações nucleares, da descamação celular e do 2,2,6,6-tetrametilpiperidina-N-oxil (TEMPOL) (10) e
edema e infiltrado inflamatório intersticial o que é indi- a inibição da activação do NF-kB com ditiocarbama-
cativo de menor inflamação e morte celular – Fig.18. tos (DETC) (11) reduzem a lesão hepática associada à
isquémia reperfusão (I/R) no rato.
DISCUSSÃO: Neste estudo demonstrámos, no nosso conheci-
mento pela primeira vez, que num modelo experi-
Na transplantação de orgãos, factores intervenientes mental o pré-tratamento do dador com EPO reduz a
na doação, preservação e colocação do enxerto contri- lesão glomerular, tubular e sistémica resultante da
buem cumulativamente para a lesão isquémica do transplantação de rins colhidos em paragem circulató-
Colheita de rins em paragem cardíaca – efeito do pré-tratamento do dador com eritropoietina (estudo experimental)
39
vadas de EPO possa também ter tido um efeito pró- cou uma redução significativa da disfunção e lesão
coagulante. renais e sistémicas associadas à transplantação de rins
colhidos em paragem circulatória.
Será necessária a realização de mais ensaios quer
CONCLUSÃO experimentais quer clínicos para avaliar as proprieda-
des terapêuticas da EPO na prevenção de lesão por
Este estudo demonstra pela 1ª vez que o pré-trata- I/R, não apenas no rim, mas também na transplanta-
mento do dador com uma dose única de EPO provo- ção de outros órgãos sólidos.
BIBLIOGRAFIA
1. Calvillo L, Latini R, Kajstura J, Leri A, Anversa P, Ghezzi P, e al. Recombinant human erythropoietin protects the myocardium from ischemia-reperfusion
injury and promotes beneficial remodeling. Proc Natl Acad Sci USA 2003; 100:4802-4806
2. Yang C, Li C, Jung J, Shin SJ, ChoiBS, Lim SW, e tal. Preconditioning with erythropoietin protects against subsequent ischemia-reperfusion injury in rat kid-
ney. FASEB J 2003; 17:1754-1755
3. Patel Ns, Sharples EJ, Cuzzocrea S, Chatterjee PK, Britti D, Yaqoob MM, e al. Pretreatment with EPO reduces the injury and dysfunction caused by ische-
mia-reperfusion in the mouse kidney in vivo. Kidney Int 2004; 66:983-989.
4. Sharples EJ, Patel N, Brown P, Stewart K, Mota-Filipe H, Sheaff M, e al. Erythropoietin protects the kidney against the injury and dysfunction caused by ische-
mia-reperfusion. J Am Soc Nephrol 2004; 15:2115-2124.
5. Sepodes B, Maio R, Sharples E, McDonald M, Yaqoob M, Thiemermann C, Mota-Filipe H. Recombinant human erythropoietin protects the liver from hepa-
tic ischemia-reperfusion injury in the rat. Transplant International 2006
6. Mullane KM, Kraemer R, Smith B: Myeloperoxidase activity as a quantitative assessment of neutrophil infiltration into ischemic myocardium. J Pharmacol
Methods 14:157-167, 1985
7. Ohkawa H, Ohishi N, Yagi K: Assay for lipid peroxides in animal tissues by thiobarbituric acid reaction. Anal Biochem 95:351-358, 1979
8. McWhinnie DL, Thompson JF, Taylor HM: Morphometric analysis of cellular infiltration assessedby monoclonal antibody labelling in sequential human renal
allograft biopsies. Transplantation 42:352-358, 1986
9. Mota-Filipe H, Sepodes B, McDonald Mc, Cuzzocrea S, Pinto R, Thiemermann C. The novel PARP inhibitor 5-aminoisoquinolinone reduces the liver injury
caused by ischemia and reperfusion in the rat. Med Sci Monit 2002; 8:444-453
10. Sepodes B, Maio R, Pinto R, Marques C, Mendes-do-Vale J, McDonald MC e al. Tempol, an intracelullar free radical scavenger, reduces the liver injury in
hepatic ischemia-reperfusion in the rat. Transplant Proc 2004; 36:849-853
11. R Maio, B Sepodes, N Figueiredo, M McDonald, C Thiemermann, P Costa, H Mota-Filipe: Effects of Diethyldithiocarbamate (DETC) on liver injury indu-
ced by ischemia-reperfusion in rats. Transplantation Proceedings, 2007.
12. Vesey DA et al . Erythropoietin protects against ischaemic acute renal injury. Nephrol Dial Transplant 2004; 19:348-355.
13. Yamamoto K, Wilson DR, Baumal R. Outer medullary circulatory defect in ischemic acute renal failure. Am J Pathol. 1984 Aug;116(2):253-61
14. Kaushal GP, Singh AB, Shah SV. Identification of gene family of caspases in rat kidney and altered expression in ischemia-reperfusion injury. Am J Physiol.
1998 Mar;274(3 Pt 2):F587-95
15. Vairano M, Dello Russo C, Pozzoli G, Battaglia A, Scambia G, Tringali G, Aloe-Spiriti MA, Preziosi P, Navarra P. Erythropoietin exerts anti-apoptotic effects
on rat microglial cells in vitro. Eur J Neurosci. 2002 Aug;16(4):584-92
16. Abdelrahman M, Sharples EJ, McDonald MC, Collin M, Patel NS, Yaqoob MM, et al. Erythropoietin attenuates the tissue injury associated with hemorr-
hagic shock and myocardial ischemia. Shock 2004; 22:63
17. Yang C, Li C, Jung J, Shin SJ, ChoiBS, Lim SW, e tal. Preconditioning with erythropoietin protects against subsequent ischemia-reperfusion injury in rat kid-
ney. FASEB J 2003; 17:1754-1755
18. Stohlawetz PJ, Dzirlo L, Hergovich N, Lackner E, Mensik C, Eichler HG, Kabrna E, Geissler K, Jilma B. Effects of erythropoietin on platelet reactivity and
thrombopoiesis in humans. Blood. 2000 May 1;95(9):2983-9
Correspondência:
RUI MAIO
Cirurgia I – Hospital Santa Maria; Faculdade de Medicina de Lisboa
1600-158 Lisboa – Portugal
Tel.: + 351 – 21 – 780 50 00
Fax: + 351 – 21 – 795 74 72
e-mail: maio.rui@netcabo.pt
Tratamento conservador
das deiscências anastomóticas
após bypass gástrico laparoscópico
Pedro Rodrigues1, Marta Guimarães1, Paulo Martins2, Mário Nora3, Gil Gonçalves3
1 Interno Complementar de Cirurgia Geral, Serviço de Cirurgia do Hospital de S. Sebastião, Santa Maria da Feira
2 Assistente de Cirurgia Geral, Serviço de Cirurgia do Hospital de S. Sebastião, Santa Maria da Feira
3 Director de Serviço, Serviço de Cirurgia do Hospital de S. Sebastião , Santa Maria da Feira
ABSTRACT
Background: Laparoscopic Roux-en-Y Gastric Bypass (LRYGB) is a technical demanding laparoscopic operation. Anastomotic
leaks at the gastojejunostomy have been reported as a major factor in increased morbidity and mortality. Nonoperative treatment is
possible only in less than half of those patients.
Methods: Retrospectively collected data from 100 LRYGB performed at our institution from July 2004 to June 2006 was analy-
zed. Diagnosis of anastomotic leak was established when patients presented alimentary drainage from abdominal drain and proved after
ingestion of water dyed with methylene blue. GI series with oral contrast were used to establish the location of the anastomotic leak.
Results: Seven patients presented with anastomotic leak. All of them have been discharged from the hospital a few days earlier with
no complains. The common initial complain was alimentary drainage from the abdominal drain. All were treated nonoperative being
nil per os with total parenteric nutrition and antibiotics when required. One was laparotomized because of gastrointestinal bleeding
on the 4th day of nonoperative approach.
Conclusions: Anastomotic leak from gastrojejunostomy is a major complication from LRYGB.
Nonoperative treatment is possible in a large number of these patients. Placement and maintenance of an abdominal drain made
possible early diagnosis and is probably one of the major factors for the success of nonoperative treatment.
Pedro Rodrigues, Marta Guimarães, Paulo Martins, Mário Nora, Gil Gonçalves
42
Encerramento da brecha mesentérica com sutura N.° Cir. Bariátrica
Caso Sexo IMC Co-morb.
contínua de Ethibond Exel ®2/0 Ethicon. Ordem Prévia
Teste de estanquicidade das anastomoses com soro 1º 2 Fem 48 Sim Não
fisiológico tingido com azul-de-metileno. Secção intes-
tinal entre as duas anastomoses de modo a confeccio- 2º 22 Fem 45 Sim Não
nar um Y-de-Roux com Endopath ETS Flex 45® Ethi-
con Endo-Surgery carga branca. 3º 25 Mas 47 Sim Não
Colocação de dreno tubular em sistema fechado
junto das anastomoses gastrojejunal e jejuno-jejunal 4º 26 Fem 46 Sim Não
que se mantém até cerca do 10º dia pós-operatório.
5º 33 Fem 48 Sim Não
Encerramento das feridas operatórias com agrafos
na pele.
6º 65 Masc 50 Sim Não
Os doentes iniciam ingestão de líquidos (doses de
15ml de 20 em 20 minutos) no primeiro dia pós-ope- 7º 89 Fem 50 Sim Sim*
ratório mantendo dieta líquida durante um mês.
Para efeito de uniformização da nomenclatura consi- *Gastroplastia com SAGB
QUADRO 1
derou-se a expressão “deiscência anastomótica” sinónimo
do termo “leak” usado na literatura anglo-saxónica.
Fez-se diagnóstico de deiscência anastomótica Todos os doentes apresentavam um IMC ≥45 (IMC
quando se observou drenagem de conteúdo alimentar médio=47,7) e duas ou mais co-morbilidades associa-
e/ou pus pelo dreno abdominal comprovada com saída das, (Quadro 2) tendo um doente sido submetido pre-
de solução corada de azul-de-metileno após ingestão viamente a cirurgia bariátrica com gastroplastia por
pelo doente. Localizou-se a deiscência por extravasa- banda ajustável.
mento para a cavidade peritoneal ou pelo dreno abdo-
minal de contraste hidrossolúvel em trânsito esófago-
gastro-jejunal. Diabetes Dislipi- Sind apneia Osteoar-
Caso HTA
Tipo 2 demia do sono ticular
Considerou-se encerramento da deiscência após ces-
sação da drenagem abdominal pelo dreno e confirma- 1º X X X
ção por trânsito esófago-gastro-jejunal.
2º X X X X
3º X X X
RESULTADOS 4º X X X X
intervalo entre o 6º e 12º dia pós-operatório. Os doen- A duração média dos internamentos foi de 14 dias
tes tinham tido alta entre o 4º e 6º dia pós-operatório. (9-24 dias).
A principal queixa foi a de aumento do volume da A drenagem média observada inicialmente foi de
drenagem pelo dreno abdominal especialmente após 262cc/24h (100-400cc/24h) mantendo-se patente por
ingestão alimentar (100% dos casos), dois doentes aproximadamente 6 dias (2-10 dias). Quando se veri-
referiam dor a nível do local de inserção do dreno ficou a abolição da drenagem abdominal iniciou-se
(28%) e um referia dispneia (14%) (Quadro 3). dieta líquida. Foi realizado trânsito esófago-gastro-
Inicialmente foi realizado um teste com ingestão de duodenal para comprovar encerramento da DA na
pequena quantidade de água corada com azul-de- totalidade dos doentes.
metileno verificando-se saída da solução pelo dreno na Dois doentes (28,5%) tiveram complicações asso-
totalidade dos doentes (Fig.1). ciadas à DA: um ao 4º dia de terapêutica conserva-
Para localização da DA foi realizado trânsito esó- dora iniciou instabilidade hemodinâmica, com hema-
fago-gastro-jejunal com contraste hidrossolúvel (Fig. témeses e drenagem hemática abundante pelo dreno
2 e 3) verificando-se extravasamento de contraste a abdominal tendo sido laparotomizado para hemos-
nível da anastomose gastrojejunal em 100% dos casos. tase de vaso gástrico justa-anastomótico, sendo corri-
Todos os doentes iniciaram terapêutica conservadora gida a DA.
com fluidoterapia endovenosa, dieta zero, inibidor da Outro iniciou quadro de febre e expectoração puru-
bomba de protões, heparina de baixo peso molecular lenta tendo sido diagnosticada pneumonia nosocomial
ajustada ao peso, monitorização contínua dos sinais vitais ao 13º dia de internamento.
e contabilização de drenagem abdominal e diurese. Apenas o doente laparotomizado foi admitido na
Em média os doentes permaneceram em dieta zero Unidade de Cuidados Intensivos onde permaneceu
11 dias (3-22 dias) tendo quatro (57%) permanecido por 3 dias iniciando nutrição parentérica total (NPT)
por um período superior a 10 dias. Nesses doentes foi e antibioterapia por pneumonia nosocomial.
instituída NPT entre o 2º e 8º dia de dieta zero. Não se registou mortalidade nesta série.
Pedro Rodrigues, Marta Guimarães, Paulo Martins, Mário Nora, Gil Gonçalves
44
FIG. 2 FIG. 3
BIBLIOGRAFIA
[1] Diet and physical activity for health. WHO European Ministerial Conference on Counteracting Obesity, Istanbul, Turkey, November 2006
[2] George A Bray, Simin Liu, Walter C Willett, Rodger A Liddle, Richard H Savel Michael A Gropper, Jerzy M Macura, Richard S Lazzaro, Norman M
Kaplan, Burton D Rose, Vivian M Sanchez, Benjamin E Schneider, Edward C Mun, Dwight J Rouse, Francis S Nuthalapaty: Obesity. UpToDate versão
14.3, www.UpToDate.com © 2006
[3] K Sandrasegaran, A Rajesh, C Lall, G A Gomez, J C Lappas, D D Maglinte: Gastrointestinal complications of bariatric Roux-en-Y gastric bypass surgery,
Eur Radiol (2005) 15: 254-262.
[4] R. Gonzalez, K. Haines, S. F. Gallagher, M. M. Murr: Does experience preclude leaks in laparoscopic gastric bypass?, Surg Endosc (2006) 20: 1687–1692
[5] M. Suter, A. Paroz, J.-M. Calmes and V. Giusti. European experience with laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass in 466 obese patients. British Journal of
Surgery 2006; 93: 726–732
[6] M. Suter, V. Giusti, E. Héraief, F. Zysset J. M. Calmes. Laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass - Initial 2-year experience. Surg Endosc (2003) 17: 603–609
[7] Daniel Cottam, M.D., Jeffrey Lord, M.D., Ramsey M. Dallal, M.D., Bruce Wolfe, M.D., Kelvin Higa, M.D., Kathleen McCauley, J.D., Philip Schauer,
M.D. Medicolegal analysis of 100 malpractice claims against bariatric surgeons. Surgery for Obesity and Related Diseases 3 (2007) 60–67
[8] E. C. Hamilton, T. L. Sims, T. T. Hamilton, M. A. Mullican, D. B. Jones, D. A. Provost. Clinical predictors of leak after laparoscopic Roux-en-Y gastric
bypass for morbid obesity. Surg Endosc (2003) 17: 679–684
[9] Royd Fukumoto, M.D., Jeraldine Orlina, M.D., James McGinty, M.D.,
Julio Teixeira, M.D., F.A.C.S.Use of Polyflex stents in treatment of acute esophageal and gastric leaks after bariatric surgery. Surgery for Obesity and Rela-
ted Diseases 3 (2007) 68–72
[10] Henry Buchwald. Consensus conference Statement – Bariatric surgery for morbid obesity: Health implications for patients, health professionals, and third-
party payers. Surgery for Obesity and Related Diseases 1 (2005) 371–381.
[11] Rodrigo Gonzalez, MD, Michael G Sarr, MD, FACS, C Daniel Smith, MD, FACS, Mercedeh Baghai, MD. Michael Kendrick, MD, Samuel Szomstein, MD,
FACS, Raul Rosenthal, MD, FACS, Michel M Murr, MD, FACS Diagnosis and Contemporary Management ofAnastomotic Leaks after Gastric Bypass for
Obesity. J Am Coll Surg (2007) Vol. 204, No. 1, (47-54)
[12] Ninh T. Nguyen, M.D., FACS., Caroline T. Nguyen, C. Melinda Stevens, B.S.,
Earl Steward, and Mahbod Paya, M.D.The efficacy of fibrin sealant in prevention of anastomotic leak after laparoscopic gastric bypass. Journal of Surgical
Research 122, 218–224 (2004)
[13] P. K. Papasavas, P. F. Caushaj, J. T. McCormick, R. F. Quinlin, F. D. Hayetian, J. Maurer, J. J. Kelly,D. J. Gagne. Laparoscopic management of complica-
tions following laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass for morbid obesity. Surg Endosc (2003) 17: 610–614
[14] Henry Buchwald, George S M Cowan, Jr, Walter J Pories: Surgical management of obesity, 1st ed. , Saunders Elsiever, Philadelphia, 2007
[15] Manish S Parikh, MD, Scott Laker, MD, MattWeiner, MD, Omid Hajiseyedjavadi, MD,Christine J Ren, MD, FACS. Objective Comparison of Compli-
cations Resulting from laparoscopic bariatric procedures. J Am Coll Surg (2006) Vol. 202, No. 2, (252-261)
[16] Henrik Kehlet, Douglas W. Wilmore. Fast Track Surgery. ACSSurgery: Principles & Practice, Feb (2004)
Pedro Rodrigues, Marta Guimarães, Paulo Martins, Mário Nora, Gil Gonçalves
46
ARTIGO DE OPINIÃO
Cirurgia laparoscópica
no cancro do cólon
Anabela Rocha
Consultora de Cirurgia Geral – Departamento de Cirurgia, Hospital Geral de Santo António EPE, Porto
RESUMO: Após uma introdução sobre o estado da arte da cirurgia de ressecção curativa do cancro do cólon por via laparoscópica,
a autora transmite a sua opinião sobre as condições mais adequadas para a prática desta cirurgia, tendo em vista a obtenção das vanta-
gens desta abordagem, com conservação da segurança oncológica.
PALAVRAS CHAVE: Ressecção laparoscópica, Laparoscopia no cólon, Cancro do cólon, Metástases parietais, Laparoscopia no recto,
Laparoscopia e resposta imunológica
Anabela Rocha
48
treino, como a doença diverticular, tumores benignos, levar a que se quebrem as regras da cirurgia oncológica
Polipose Familiar, prolapso rectal, e pequenos cancros com grande facilidade. Os planos anatómicos podem
metastizados. também é importante observar cuida- não ser visíveis e a espessura dos mesos, apêndices epi-
dosamente as filmagens dessas operações para detectar plóicos e gordura sub-peritoneal pode tornar a expo-
gestos a serem alterados. sição do campo operatório muito má ou, mesmo,
impossível.
II. O TUMOR O consentimento informado do doente dever ser
A localização pré-operatória do tumor é essencial. obtido como habitualmente. No entanto, é preciso
Como a colonoscopia não permite uma informação realçar que se pretendermos efectuar cirurgia do can-
fidedigna, é necessário um Clister Opaco ou, em lesões cro do recto é mandatório explicar ao doente que o
pequenas, marcação com Tinta-da-china. A T.A.C., procedimento não é consensual e se encontra ainda em
quando necessária, normalmente mostra a localização. fase de ensaio. Aliás, nestas circunstâncias, tem de
A colonoscopia per-operatória aumenta o tempo ope- haver um Protocolo de Registo ou de Investigação,
ratório pelo que é um recurso a evitar. prospectivo e com controlo rigoroso de resultados.
A ressecção do cancro do cólon transverso e do
ângulo esplénico do cólon é difícil, tecnicamente, por IV. A TÉCNICA CIRÚRGICA
via laparoscópica. A laqueação dos vasos cólicos Os trocares devem estar bem fixos à parede abdo-
médios na sua origem é particularmente complexa, minal e só devem ser retirados após a aspiração cuida-
bem como a mobilização do ângulo esplénico sem dosa de todo o gás intra-abdominal. Também não deve
abertura do respectivo meso. Por tal motivo, o cancro haver gás quando se abre a incisão de assistência, e esta
do cólon transverso não deve ser abordado. Quem deverá ser protegida por um campo impermeável.
tenha uma larga experiência de mobilização do ângulo Na exploração da cavidade abdominal é sobretudo
esplénico normalmente está em condições de operar importante procurar o tumor, ou o local previamente
tumores nesta localização. marcado, só com preensão dos apêndices epiplóicos
O estádio clínico do tumor é avaliado, habitual- ou do epíplon. Quando há muitas aderências, o
mente, por Ecografia hepática, Radiografia de tórax e conhecimento prévio da localização tumoral torna-
C.E.A. sérico. A T.A.C. está indicada quando se pensa se essencial. A cirurgia deve ser convertida se a explo-
que o tumor é extenso para avaliação do tamanho do ração da cavidade abdominal e o estadiamento não
tumor e eventual envolvimento órgãos vizinhos. forem possíveis no início da intervenção. A utiliza-
ção de ecografia per-operatória para avaliação do
III. O DOENTE fígado não é mandatória mas, obviamente, pode ser
Não há limite de idade, mas é preciso detalhar cuida- útil.
dosamente todas as patologias coexistentes, nomeada- Embora teoricamente não haja limites para o tama-
mente as cardíacas e pulmonares, já que poderão desa- nho da neoplasia, o bom senso leva a que não se ope-
conselhar ou contra-indicar o pneumoperitoneu e/ou o rem lesões que exijam incisões de assistência maiores
Trendelenburg prolongados. Nestes doentes, o diálogo do que as preconizadas. Não se deve esquecer que a
com o Anestesista é particularmente importante. incisão tem de permitir a saída fácil da peça operató-
A obesidade e as cirurgias abdominais anteriores não ria, sem traumatizar o tumor, sob risco de sementeira
constituem contra-indicação para a ressecção laparos- de células tumorais viáveis.
cópica, mas estão associadas a maior tempo operatório Se houver envolvimento de órgãos vizinhos é pre-
e, no caso da obesidade mórbida, a uma taxa de con- ciso converter. Sempre que for possível a ressecção
versão mais elevada. oncológica alargada a outro(s) órgão(s) deve - se resis-
A obesidade mórbida ou/e de tipo andrógino pode tir à tentação de a efectuar, porque há risco de maior
BIBLIOGRAFIA
1. Jacobs M, Verdeja JC, Goldstein HS. Minimally invasive colon resection “laparoscopic colectomy”. Surg Laparosc Endosc 1991; 1: 144-150.
2. Lacy A. Colon cancer: laparoscopic resection. Ann Oncol 2005; 16 Supp 2: ii88-ii92.
3. Bennett CL, Stryker HJ, Ferreira MR et al. The learning curve for laparoscopic colorectal surgery. Preliminary results from a prospective analysis of 1194
laparoscopic-assisted colectomies. Arch Surg 1997: 132; 41-44.
4. Poulin EC, Gagné JP, Boushey RP. Advanced laparoscopic skills acquisition: the case of laparoscopic colorectal surgery. Surg Clin N Am 2006; 86: 987-1004.
5. Fazio VW, Lopez-Kostner F. Role of laparoscopic surgery for treatment of early colorectal carcinoma. World J Surg 2000; 24: 1056-1060.
6. Hartley JE, Mehighan BJ, Monson JR. Alterations in the immune system and tumor growth in laparoscopy. Surg Endosc 2001; 15: 305-313.
7. Hildebrandt U, kessler k, Plusczyk T et al. Comparison of surgical stress betwen laparoscopic and open colonic resections. Surg Endosc 2003; 17:242-246.
8. Nduka CC, Monson JR, Menzies-Gow N et al. Abdominal wall metastases following laparoscopy. Br J Surg 1994; 81: 648-652.
9. Kim SH, Milson JW, Gramlich TL et al. Does laparoscopic vs. Conventional surgery increase exfoliated cancer cells in the peritoneal cavity during resection
of colorectal cancer? Dis Colon Rectum 1998; 41: 971-978.
10. Bessa X, Castells A, Lacy AM et al. Laparoscopic-assisted vs. open colectomy for colorectal cancer: influence on neoplastic cell mobilization. J Gastrointest
Surg 2001; 5: 66-73.
11. Brundell SM, Tucker K, Texler M et al. Variables in the spread of tumor cells to trocars and port sites during operative laparoscopy. Surg Endosc 2002; 16:
1413-1419.
12. Lacy AM, García-Valdecasas JC, Delgado S et al. Laparoscopy-assisted colectomy versus open colectomy for treatment of non-metastatic colon cancer: a ran-
domised trial. Lancet 2002; 359: 2224-2229.
13. Clinical Outcomes of Surgical Therapy Study Group. A comparison of laparoscopically assisted and open colectomy for colon cancer. N Engl J Med 2004;
350: 2050-2059.
14. Guillou PJ, Quirke P, Thorpe H et al. Short-term endpoints of conventional versus laparoscopic-assisted surgery in patients with colorectal cancer (MRC CLA-
SICC trial): multicentre, randomised controlled trial. Lancet 2005; 365: 1718-1726.
15. The COlon cancer Laparoscopic or Open Resection Study Group. Laparoscopic surgery versus open surgery for colon cancer: short-term outcomes of a ran-
domised trial. Lancet Oncol 2005; 6: 477-484.
16. Veldkamp R, Gholghesaei M, Bonjer HJ et al. Laparoscopic resection of colon cancer. Consensus of the European Association of Endoscopic Surgery (E.A.E.S.).
Surg Endosc 2004; 18: 1163-1185.
17. Laparoscopic colectomy for curable cancer. Position Statement of the American Society of Colon & Rectal Surgeons (ASCRS) and of the Society of
Gastrointestinal and Endoscopic Surgeons (SAGES) .
18. Leung KL, Kuok SP, Lam SC et al. Laparoscopic resection of rectosigmoid carcinoma: prospective randomised trial. Lancet 2004; 363: 1187-1192.
19. Moloo H, Mamazza J, Poulin EC et al. Laparoscopic resections for colorectal cancer. Does conversion affect survival? Surg Endosc 2004; 18: 732-735.
20. King PM, Blazeby JM, Ewings P et al. Randomized clinical trial comparing laparoscopic and open surgery for colorectal cancer within an enhanced recovery
programme. Br J Surg 2006; 93: 300-308.
21. Leung KL, Kwok SP, Lam SC et al. Laparoscopic resection of rectosigmoid carcinoma: prospective randomised trial. Lancet 2004; 363: 1187-1192.
22. Laparoscopic proctectomy for curable cancer. Position Statement of the American Society of Colon & Rectal Surgeons (ASCRS) and of the Society of
Gastrointestinal and Endoscopic Surgeons (SAGES) .
23. Nelson H, Petrelli N, Carlin A et al. Guidelines 2000 for colon and rectal cancer surgery. J Natl Cancer Inst 20001; 93: 583-596.
Correspondência:
ANABELA ROCHA
Rua da Lagoa, 1296 2º Dtº., 4460-353 – Matosinhos.
anabela.rocha@netcabo.pt
Anabela Rocha
50
CASO CLÍNICO
Centro Hospitalar de Lisboa Central – E.P.E: Hospital de Santo António dos Capuchos – Serviço 6
Homem de 17 anos, vítima de acidente tauromá- As análises realizadas na admissão não revelaram
quico em Benavente do qual resultou traumatismo alterações.
abdominal fechado por cornada de touro no abdómen. A radiografia simples de abdómen (fig. 1) demons-
Transportado à sala de emergência do nosso hospi- trou uma opacificação dos quadrantes direitos com
tal apresentava-se, à entrada, consciente e orientado, ausência de gás intestinal nessa região e ausência de
Glasgow Coma Score de 15, com pupilas isocóricas e pneumoperitoneu.
reactivas. Apesar de taquicárdico, os restantes parâme- A repetição do hemograma permitiu constatar uma
tros hemodinâmicos eram normais. No restante exame descida do valor da hemoglobina de 1g/dl por com-
objectivo não foram detectadas alterações ventilatórias paração com os valores iniciais na admissão. A clínica
apreciáveis, apesar do traumatismo contuso do tronco de abdómen agudo com defesa e dor abdominal de
que envolvia a face anterior do hemitórax direito e o intensidade progressiva associada ao resultado imagio-
hipocôndrio ipsilateral. A parede torácica apresentava lógico e à descida da hemoglobina determinaram a
múltiplas feridas abrasivas e o doente referia dor abdo- opção por proceder a exploração cirúrgica. Procedeu-
minal espontânea no hipocôndrio direito e epigastro, se a laparotomia mediana que revelou coleperitoneu
agravada pela palpação e percussão, com defesa evi- generalizado, por rotura do fundo da vesícula. Proce-
dente no hipocôndrio direito. deu-se a lavagem peritoneal abundante e exame siste-
matizado dos orgãos da cavidade abdominal para bol, agressões e, actualmente, acidentes rodoviários por
exclusão de outras lesões potenciais. mecanismo de desaceleração. O traumatismo fechado
O doente foi seguido em regime de consulta externa predomina na criança e jovem, e o penetrante aumenta
tendo-se mantido assintomático. no adulto.
O traumatismo fechado da vesícula biliar é raro por Os traumatismos que envolvem a vesícula biliar são
comparação com o penetrante. Tal raridade deve-se por vezes diagnosticados durante uma laparotomia rea-
fundamentalmente a razões anatómicas regionais, uma lizada por outras lesões abdominais associadas (1). Dada
vez que a vesícula se encontra localizada num recesso a variabilidade de apresentação clínica, algumas lesões
protegido. As maiores séries envolvendo traumatismos são diagnosticadas e tratadas tardiamente com as con-
da vesícula, referem-se a traumatismos abertos e fecha- sequentes implicações na evolução e agravamento.
dos. No entanto a de Soderstrom et al. (2) com 1449 A radiografia simples do abdómen, embora inespe-
doentes inclui apenas traumatismos fechados. A inci- cífica, pode alertar para a rotura pela presença de opa-
dência de traumatismo fechado da vesícula é diminuta cificação no hipocôndrio com indentação cólica. (4)
cerca de 2%. Mais raro ainda é o traumatismo isolado A ecografia, convencional ou pelo método FAST,
da vesícula biliar, não associado a traumatismo da embora possa não diagnosticar de forma inequívoca a
árvore biliar, hepático ou duodeno-pancreático. lesão traumática da vesícula, particularmente na litíase
Os factores etiológicos mais preponderantes in- biliar ou em lesões contusas sem perfuração, pode ser
cluem as quedas, acidentes desportivos – rugby, fute- útil se houver lesão associada da VBP e a dilatação a
Rotura isolada da vesícula biliar por traumatismo abdominal fechado – caso clínico
53
BIBLIOGRAFIA
1. Sharma Om, Toledo Hospital Ohio, USA: Blunt Gallbladder Injuries: Presentation of 22 cases with review of literature, The Jour-
nal of Trauma: Injury, Infection and Critical Care 39:3 1995
2. Soderstrom CA, Maeka K, DuPriest RW Jr: Gallbladder injuries resulting from blunt abdominal trauma. Ann Surg 193:60,
1981
3. Jeffrey RB, Federle MP, Laing FC, Wing VW. Computed tomography of blunt trauma to the gallbladder. J Comput Assist Tomogr,
10:756-758 1986
4. Kohler R, Millin R, Bonner B, Louw A: Laparoscopic treatments of an isolated gallbladder rupture following blunt abdominal
trauma in a schoolboy rugby player. Br J Sports Med 36: 378-379 2002
5. Losanoff JE, Kjossev KT. Complete Traumatic Avulsion of the gallbladder. Injury 30:365-368 1999
6. Nishiwaki m, Ashida h, Nishimura T, et al. Post-traumatic intra-gallbladder hemorrhage in a patient with liver cirrhosis. J Gas-
troenterol 34:282-285 1999
6. Xeropotamos N, Baltoyannis G, Nastos D, Ginnovkas A, Cassioumis A. Traumatic cholecystecomy. Eur J Surg. 158:249-250
1992
7. Konstantakos AK, Ponsky JL, Biliary Trauma Medline 2004
Correspondência:
MÁRIO MENDES
Hospital de Santo António dos Capuchos – Serviço 6
1169 - 050 Lisboa
Telef. 351 21 3136300
3rd Congress of the European Society of Endocrine Surgeons Association of Coloproctology of Great Britain and Ireland 2008
24 a 26 de Abril Annual Meeting
Barcelona, Espanha 30 a 3 de Julho
www.eses.cc Birmingham, Inglaterra
www.acpgbi.org.uk/
MAIO JULHO
XXI Congresso Latinoamericano de Coloproctologia
30th Congress of European Hérnia Society – GREPA 20 a 23 de Julho
7 a 10 de Maio Guayaquil, Ecuador
Sevilha, Espanha www.coloproctologiaecuador.com
hernia2008.unicongress.org
AGOSTO
EVC: European Vascular Course
15 a 17 Maio SMIT 2008
Amsterdão, Holanda 28 a 30 de Agosto
www.european-vascular-course.org Viena, Austria
www.smit2008.com
48th Annual Meeting at Digestive Disease Week 2008
17 a 22 de Maio SETEMBRO
San Diego, California, USA
www.ssat.com/ 11th World Congress of Endoscopic Surgery (incorporando a
reunião da ELSA (Endoscopic and Laparoscopic Surgeons of Asia)
Association of Surgeons of Great Britain and Ireland International 2 a 6 de Setembro
Surgical Congress Yokohama, Japão
21 a 23 de Maio
17th Society of Laparoendoscopic Surgeons Annual Meeting
Harrogate, Inglaterra
17 a 20 de Setembro
bournemouth.asgbi.org.uk/
Chicago, EUA
www.sls.org
9th European Congress of Trauma and Emergency Surgery
24 a 27 de Maio
OUTUBRO
Budapeste, Hungria
www.eurotrauma.2008.org 110éme Congrès Français de Chirurgie
1 a 3 de Outubro
Paris, França
JUNHO www.afc.caducee.net
American Society of Colon and Rectal Surgeons – Tripartite meeting 18th World Congress of IASGO (International Association of
7 a 11 de Junho Surgeons, Gastroenterologists and Oncologists)
Boston, Massachusetts, USA 8 a 11 de Outubro
ascrs.affiniscape.com Istambul, Turquia
www.iasg2008.org
16th International Congress of the European Association for
Endoscopic Surgery (EAES) 94º Congresso do American College of Surgeons
11 a 14 de Junho 12 a 16 de Outubro
Estocolmo, Suécia S. Francisco, EUA
www.eaes-eur.org www.facs.org
16th UEGW (United European Gastroenterology Week)
18th World Conference on Disaster Management (WCDM) 18 a 22 de Outubro
15 a 18 de Junho Viena, Áustria
Toronto, Canadá www.uegw.org
www.wcdm.org
NOVEMBRO
2nd International Experts Meeting on Advanced Laparoscopic
Surgery XVII Congresso Nacional de Cirurgia de Espanha
20 a 22 de Junho 3 a 6 de Novembro
Atenas, Grécia Madrid, Espanha
www.congressexcel.gr www.aecirujanos.es
Agenda
56
Instruções aos Autores Instructions to Authors
A Revista Portuguesa de Cirurgia é o orgão oficial da Sociedade Portuguesa The “Revista Portuguesa de Cirurgia” is the official journal of the Portuguese
de Cirurgia. Society of Surgery
É uma revista científica de periodicidade trimestral que tem por objectivo a It is a scientific quarterly Journal which has as objective the scientific promotion
promoção científica da Cirurgia Portuguesa, através da divulgação de trabalhos of Portuguese Surgery, by divulgation of scientific work with that purpose.
que tenham esse propósito. Its editorial policy follows rigour and respects ethics and the deontologic and sci-
A sua política editorial rege-se pelos valores éticos, deontológicos e científi- entific values of surgical practice, education and research.
cos da prática, educação e investigação em Cirurgia. All texts published in “Revista Portuguesa de Cirurgia” have a known authorship.
Todos os textos publicados são de autoria conhecida. A Revista compromete- The Journal assumes the compromise of respect all statements made under direct
se a respeitar todas as afirmações produzidas em discurso directo, procurando “speech”, trying, when necessary to edit it by space reasons, to keep allits meaning.
quando seja necessário editá-las, por razão de espaço, manter todo o seu sentido. The “Revista Portuguesa de Cirurgia” assumes the compromise to respect and to
A Revista Portuguesa de Cirurgia compromete-se a respeitar e reproduzir reproduce all results obtained in the studies presented which fulfill publication crite-
todos e quaisquer resultados que sejam obtidos em trabalhos apresentados e que ria. All photos of individuals or products published will, except when specifically
cumpram os critérios de publicação. Todas as fotografias de pessoas e produtos mentioned, of own production. Any images of external production to be published will
que sejam publicados serão, salvo quando indicado em contrário, de produção have all authorization permits obtained beforehand.
própria. Em relação a imagens de produção externa todas as autorizações deve- The Journal publishes original and revision articles, clinical cases, introductory
rão ser obtidas antes da publicação, sendo a obtenção dessas autorizações da res- notes, controverises, technical issues, recommendations, image collections, general
ponsabilidade do(s) autor(es). information and other papers related with any subject respecting general surgery prac-
Publica artigos originais, de revisão, casos clínicos, editoriais, artigos de opi- tice, under either basic, advanced, theoric or applied form.
nião, cartas ao Editor, notas prévias, controvérsias, passos técnicos, recomenda- Papers for publication will be accepted in Portuguese, English, French or Span-
ções, colectâneas de imagens, informações várias e outros trabalhos desde que ish.
relacionados com quaisquer dos temas que respeitam ao exercício da cirurgia All papers which are not presented by Editorial invitation will be submitted to
geral, seja sob a forma básica, avançada, teórica ou aplicada. peer revision.
Os trabalhos para publicação poderão ser escritos em Português, Inglês, Fran- Papers will be reviewed to be accepted for publication under the assumption that
cês ou Espanhol. its contents have not been submitted simultaneously to another journal, have not
Todos os artigos enviados para publicação, serão submetidos a revisão cien- been accepted for publication elsewhere and have not already been published. Any
tífica prévia por revisores que serão pares profissionais. Os artigos realizados a attempt at dual publication will lead to automatic rejection and may prejudice
convite dos Editores não serão sujeitos a revisão por editores devendo, no entanto acceptance of future submissions. Please submit with your manuscript copies of any
cumprir as normas de publicação da revista. other papers you have written (published, in press or submitted for consideration else-
O parecer dos revisores levará a que os artigos submetidos sejam: where) that relate to the same subject.
• Aceites sem modificações; It is essential that you submit any other publications or submissions that use the
• Aceites após correcções ou alterações sugeridas pelos revisores ou pelo Con- same data set to allow assessment of any potential overlap. Indicate on the title page
selho Editorial e aceites e efectuadas pelos autores; whether the paper is based on a previous communication to a society or meeting.
• Recusados. • Peer review will lead papers submitted to be:
Os casos de tentativa de publicação dupla levam a rejeição automática. Junto • Accepted without any changes
com o manuscrito deverão ser enviadas cópias de outros artigos (publicados, • Accepted after corrections suggested by the Reviewers or by the Editorial Coun-
aceites para serem publicados ou apresentados para publicação) relacionados com cil and accepted by the authors
o mesmo tema ou que façam uso dos mesmos elementos e da autoria de qual- • Refused
quer dos co-autores. All papers sent and its illustrations become property of “Revista Portuguesa de
Deve ser indicado na página de título se o artigo é baseado em qualquer apre- Cirurgia”
sentação prévia, em comunicação oral ou poster. All papers published become full property of “Revista Portuguesa de Cirurgia”
Os artigos publicados ficarão da inteira propriedade da revista, não podendo and it cannot be reproduced in full or partially with permission of the Editors.
ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem a autorização dos editores. A res- Authors take full responsibility by any statement made in their papers.
ponsabilidade das afirmações feitas nos trabalhos cabe inteiramente aos autores.
Style
Estilo All papers should have, as must as possible, a direct and precise style, avoiding ill
Os trabalhos deverão, tanto quanto possível, ter um estilo directo, conciso e know abbreviations as well as terms rarely or very restrictedly used. Its structure shall
preciso, evitando abreviaturas pouco conhecidas ou em excesso, bem como o allow reading and understanding by professionals dedicated to areas different than
uso de termos crípticos ou de uso muito restrito. Devem permitir uma leitura the ones mentioned in the paper. It shall allow a pleasant and easy reading and shall
agradável e rápida e não devem usar sub-entendidos nem fazer alusão a noções not use misstatements or allude to notions not clearly defined by the paper itself. All
que não estejam claramente definidas no próprio trabalho. Os capítulos devem chapters shall be well defined with the narration a logic progression. Image elements
estar bem definidos, seguindo a narração uma progressão lógica. Os elementos used shall be related to the paper and have an informative role.
de imagem usados devem fazer sentido informativo e estar bem relacionados
com o trabalho. Initial submission of the Manuscript
Authors must submit four copies of the original paper (including copies of tables,
Apresentação Inicial de Manuscrito figures and illustrations) to “Sociedade Portuguesa de Cirurgia c/o Editores da
Devem ser enviadas pelos Autores aos Editores: Revista Portuguesa de Cirurgia”, (R. Xavier Cordeiro, 30 – 1000-296 Lisboa /
1) Quatro cópias do artigo original (incluindo cópias das tabelas, quadros e http://revista.spcir.com)
ilustrações); Authors must also provide:
2) Uma cópia electrónica da versão final (ver parte relativa à apresentação em An electronic copy of the final version of the work (see below)
formato electrónico) A cover letter (or letters) signed by all authors, asking for publication of the paper.
3) Uma carta de pedido de publicação, assinada por todos os autores. Essa This letter must indicate which section of the Journal the authors believe is the most
carta deve indicar qual a secção onde os autores entendem que mais se enqua- appropriate for its publication, as well as the indication of the paper’s originality (or
dre a publicação, bem como a indicação da originalidade do trabalho (ou não, not, depending on the type of paper); it must also mention if any abstract of the paper
consoante o seu tipo); deve também indicar se algum abstract do trabalho foi ou has been published or not (please include all appropriate references). This letter (or
DIGITALIZAÇÃO SCANS
Original Modo de Digitalização Resolução Final Formato Original Scan mode Final resolution Format
Ilustração a cores RGB (24 bit) 300 dpi TIFF Colour illustration RGB (24 bit) 300 dpi TIFF
(foto ou diapositivo) (photo/transparency)
Ilustração a uma cor Escala de cinzento (8 bit) 300 dpi TIFF Monotone illustration Gray scale (8 bit) 300 dpi TIFF
(foto ou diapositivo) (photo/transparency)
Figura com linhas Linhas 800-1200 dpi EPS Black/white figure Line 800-1200 dpi EPS
A preto e branco
O original deve ser verificado, após ajuste de dimensão (redução ou amplia- Please check that your original, after scaling, has the resolution values in the
ção), se tem, pelo menos, os valores de resolução da tabela acima. Só se assim for table; only then will the print quality of the scan be sufficient. If in doubt, send us
é que a qualidade de impressão da imagem digitalizada será suficiente. your originals.