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O Aqui e o Agora são categorias que necessariamente são sua falsidade (seu não-
ser; quando digo “aqui”, nego o ali e o acolá, o mesmo ocorre quando do “agora”, nego o
passado e o futuro) “que, por intermédio da negação, não é isto nem aqui, mas somente um
não-isto, e que é indiferente a ser isto ou aquilo – uma coisa desta espécie (...) nós
chamamos de um Universal” (pg. 106)
Não é possível para Hegel nadar duas vezes no mesmo rio; a experiência da vida
cotidiana nos apresenta de maneira muda essa objetividade, o primeiro passo da
investigação filosófica é tomar a objetividade muda e transformá-la em conhecimento;
nesse sentido a esfera do ser natural se encarrega de ilustrar, para o sujeito pensante, a vida,
o desenvolvimento e morte de vários animais e plantas, nessa ou naquela época e neste ou
naquele rincão, independendo do animal ou da planta, para o conhecer do ser humano, que
tempo e espaço são o verdadeiro conteúdo – objeto do pensamento – da experiência da vida
cotidiana.
Afirmo que é dia e que vejo uma casa. Registro esta verdade, e alguém
que depois a lê, pode afirma que é noite, e que vê uma árvore. “As duas
verdades têm a mesma autenticidade”, e ambas se tornam falsas com a
mudança de tempo e lugar. A verdade, por conseguinte, não se pode
vincular a um eu individual particular. Se eu digo que eu vejo uma casa
aqui e agora, significa que qualquer um poderia tomar meu lugar como
sujeito dessa percepção. (pg 107)
Nesse momento a percepção da objetividade parte desde já dos universais; não mais
como imediaticidade sensível, mas como seu oposto, como objeto pensado e como tal, sua
objetividade se relaciona com o mundo real como coisa, coisa universal.
Por exemplo: chamo de “sal” esta coisa que percebo aqui e agora. Não me
refiro aos quais e agoras particulares nos quais tal coisa me aparece, mas
a unidade específica na diversidade das suas “propriedades”
(Eigenschaften). Refiro-me à coisidade da coisa (...) O sal é branco, de
forma cúbica, etc (...) Suas propriedades não são arbitrárias e
epermutáveis, mas antes “encluem e negam” outras propriedades. Se o
Sal é branco e acre, não pode ser negro e doce. (pg. 108-109)
Aparência como expressão de uma essência e seu pólo oposto; como identidade da
identidade e da não identidade a aparência (como negação) só pode existir em interação
com sua essência (como mediação dos distintos elementos do objeto que lhe dão vida) e a
essência só pode se revelar como aparência, como imediaticidade do objeto, como o seu
não-ser.
A essência tida como a força que medeia o mundo “interior” dos objetos toma, para
Hegel, importância sui generis visto que para o sujeito pensante o caminho para se
apropriar da verdade dos objetos – que são formas de ser, determinação da existência do
Espírito – passa da experiência cotidiana muda para a experiência sensível, agora, mediada
pela negação da imediaticidade do objeto e da individualidade do “eu” pensante, que na sua
percepção da universalidade da coisa se defronta com as contradições da particularidade do
hic et nunc do objeto.
Para Hegel, a dinâmica que se estrutura entre senhores e escravos não pode ser
natural, nem tão pouco imutável, mas se apresenta como reflexo na vida cotidiana do modo
específico com que os seres humanos se relacionam com o trabalho; o mundo objetivo com
o qual a autoconsciência se relaciona é um mundo entre os seres humanos que são limitados
ao trabalho e aqueles que se apropriam do trabalho alheio, O primeiro é limitado a sua
condição de ser trabalhador, que ao transformar a natureza e inserir no mundo objetivo um
novo produto tem a possibilidade de se reconhecer, de autoconhecer enquanto sujeito
pensante e como sujeito ativo de suas necessidades; o segundo ao não produz os elementos
de sua satisfação só se relaciona com elementos alheios a si, pois não tem a possibilidade
do escravo de relacionar-se com a contradição do mundo, por isso não pode ser um sujeito
independente, por depende necessariamente do escravo.
Nesse momento, o da percepção, está posto que a realidade está mediada tanto pela
negação do objeto quanto do sujeito que pensa o objeto e que ao elevá-lo a condição de
objeto do pensamento este último se revela como coisa particular que mantém
universalidades que se contradizem mutuamente, seja internamente, seja com outros
objetos.