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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA FEDERAL DA 13ªSUBSEÇÃO

JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

EXECUÇÃO FISCAL Nº 0000166-84.2012.4.03.6113

MARIA APARECIDA PINATTE ABIVIOLO, devidamente


qualificada nos autos da execução fiscal que lhe move a Fazenda Nacional em curso neste
Juízo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por meio de seu curador
nomeado em fls. 284, arguir a IMPENHORABILIDADE do bem objeto da penhora de fls.
223, em forma de EMBARGOS À PENHORA, nos seguintes termos:

Nos presentes autos, foi penhorado e é objeto de leilão o


imóvel objeto da matrícula nº 82.301 do 1º Cartório de Registro de Imóveis de Franca,
estado de São Paulo.

Ocorre, no entanto, que referido bem é o único imóvel


residencial da Sra. Maria Aparecida Pinatte Abiviolo e serve-lhe de residência, sendo,
portanto, impenhorável nos termos do art. 1º da Lei 8.009/90.

Cumpre pontuar que está impugnante é pessoa idosa com


85 anos e reside no referido imóvel há tempos, além de encontrar-se enferma pois fora
acometida com Acidente Vascular Celebrar (AVC), inclusive foi submetida a procedimento
cirúrgico para retirada de coágulos do cérebro (fls. 271).

Além do mais, há relação efetiva e emocional com o referido


imóvel objeto de penhora, uma vez que a coexecutada passou tempo considerável de sua
vida nele residindo, inclusive com a convivência de seus filhos e seu marido falecido.
Ainda, a coexecutada Maisa Cristina Abiviolo, filha da aqui
representada por este curador, reside no imóvel com um filho menor impúbere.

Dito isso, é necessário ressaltar também que a coexecutada


possui direito real de habitação em relação ao imóvel penhorado, vez que ali residia com
o de cujos, e, portanto, possuidora vitalícia 1 do referido imóvel de acordo com o artigo
1831 do Código Civil.

Ressalta-se que o bem penhorado nos autos de execução é o


único imóvel residencial da coexecutada, o que lhe garante, assim, os benefícios da Lei
8.009/902.

Nesse ínterim, pode-se verificar pelo teor da certidão do


oficial de justiça (fls. 271-272) quando efetuou a citação da coexecutada, no endereço do
imóvel penhorado, onde efetivamente reside.

Não obstante, a alegação de impenhorabilidade do referido


bem, por se tratar de matéria de ordem pública, de natureza constitucional, que não sofre
os efeitos da preclusão, pode ser feita a qualquer tempo e fase do processo, até a extinção
da execução.

Ora, Excelência, como se pode observar, o prosseguimento


do feito implicará na realização de medidas que tornarão definitiva a alienação do imóvel
da coexecutada que, diga-se e repita-se, é mãe do efetivo devedor, e, ainda, no qual reside,
devendo ser ressaltado que a coexecutada conta hoje com 85 (oitenta e cinco) anos
de idade.

No sentido de que o bem de família não poderá ser objeto


de penhora e nem ao menos de transação, por se tratar de matéria regida por norma de
caráter público e, por isso, insuscetível de disposição, César Fiúza estatui que:

“O objetivo do legislador foi o de garantir a cada individuo,


quando nada, um teto onde morar mesmo que em detrimento
dos credores. Em outras palavras, ninguém tem o direito de

1
REsp 1.273.222
2
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá
por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas
nesta lei.
jogar quem quer que seja na rua para satisfazer um crédito.
Por isso o imóvel residencial foi considerado impenhorável.
Trata-se aqui, do principio da dignidade da pessoa
humana. O valor personalidade tem preeminência neste
caso, devendo prevalecer em face de um direito de
crédito inadimplido.”

É necessário arguir que a execução ultrapassará os limites


previstos na lei, uma vez que estará fazendo com que a mãe do efetivado executado pague
por suas dívidas, seja de forma moral ou emocional, em vista que o objeto da penhora é
sua residência, e não do verdadeiro executado.

Cumpre ressaltar a importância que o Principio da


Dignidade da Pessoa Humana assume no ordenamento jurídico, devendo-se estendê-lo
não como forma supletiva das lacunas da lei, mas sim como fonte normativa, apta a
exercer sua imperatividade e cogência nas relações jurídicas.

Nesse sentido, a Carta Magna dispõe que:

Art. 1º “A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
III- a dignidade da pessoa humana”;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

Art. 6°- São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição

Nesta seara, seria interessante citar a opinião do autor


Gustavo Tepedino ao afirmar que pretendeu o constituinte, ao fixar cláusula geral e
“mediante o estabelecimento de princípios fundamentais introdutórios, definir uma nova
ordem pública, da qual não se podem excluir as relações jurídicas privadas, que eleva ao
ápice do ordenamento a tutela da pessoa humana, funcionalizando a atividade econômica
privada aos valores existenciais e sociais ali definidos”.

Humberto Theodoro Júnior, ao descrever os princípios


informativos do processo de execução, elucida de maneira brilhante a matéria:

“É aceito pela melhor doutrina e prevalece na jurisprudência


o entendimento de que a execução não deve levar a
coexecutada a uma situação incompatível com a dignidade
humana. Não pode a execução ser utilizada como
instrumento para causar a ruína, a fome e o desabrigo do
devedor e sua família, gerando situações incompatíveis com
a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, institui o
código a impenhorabilidade de certos bens como provisões de
alimentos, salários, instrumentos de trabalho, pensões,
seguros de vida, etc.
(...) a execução deve ser útil ao credor, e, por isso, não se
permite sua transformação em instrumento de simples
castigo ou sacrifício do devedor.”

Nesse sentido, colaciona-se entendimento recente do


Tribunal Regional da 3ª Região:

EMBARGOS À PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. CONJUNTO


PROBATÓRIO SUFICIENTE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
MANTIDOS. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. 1. O artigo 1º a
Lei n.º 8.009/90 estabelece que o imóvel residencial
utilizado como moradia pela entidade familiar é
impenhorável. 2. In casu, restou comprovado que os
embargantes residem no imóvel objeto da penhora, conforme
constado pelo oficial de justiça, quando do cumprimento do
mandado de citação (fls. 70v) dos executados, ora
embargantes, nos autos principais, em apenso. 3. O C. STJ
entende que, para que seja reconhecida a impenhorabilidade
do bem de família, não é necessária a prova de que o imóvel
em que reside a família do devedor é o único de sua
propriedade. A embargada não logrou êxito na contraprova
que pudesse afirmar que o bem constrito efetivamente não
era bem de família. 4. Honorários advocatícios mantidos a
teor do princípio da causalidade. 5. Apelo desprovido. (Ap
00426708220154039999, DESEMBARGADOR FEDERAL
MARCELO SARAIVA, TRF3 - QUARTA TURMA, e-DJF3 Judicial
1 DATA:06/04/2018 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

Resta nos concluir, portanto, que o processo de execução


não deve servir como instrumento de flagelo a coexecutada e também mãe do real
devedor, posto que lhe deva ser assegurados os direitos básicos outorgados por lei, como
o direito a ter moradia e, principalmente, o direito a ter uma vida digna, o que se
restabelecerá, no caso presente, desconstituindo-se o ato pelo qual foi constrito o bem de
família, na medida em que se afigura direito indisponível.

Diante do exposto, requer-se o acolhimento da presente


arguição, para determinar:

a) o imediato cancelamento da hasta pública a ser realizada


nos presentes autos;

b) o cancelamento definitivo da penhora realizada no


imóvel objeto da matrícula nº 82.301 do 1º Cartório de Registro de Imóveis de Franca,
estado de São Paulo:

c) requer a intimação do exequente para indicar outro bem


a penhora que não haja restrições albergadas pelos direitos fundamentais em detrimento
ao objeto da presente impugnação.

Termos em que,
Pede Deferimento.
Franca, 08 de maio de 2018.

MURILLO EDUARDO SILVA MENZOTE


OAB-SP Nº 408.862

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