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1- Pode o delegado aplicar o princípio da insignificância para deixar de lavrar o flagrante?

Para responder a pergunta, faz-se necessária a delimitação dos poderes do delegado


de polícia para, assim, verificarmos se lhe é permitido deixar de lavrar prisão em flagrante.
A saber, o delegado de polícia, no exercício de sua função pública, possui certa
margem de discricionariedade em suas decisões. Veja-se que discricionariedade não é o
mesmo que livre-arbítrio, mas sim, liberdade condicionada a parâmetros normativos.
(Principiológicos, constitucionais, legais e infra-legais).
Outro ponto importante para a resposta da questão em epígrafe é a caracterização da
prisão em flagrante como uma espécie de medida cautelar, que se impõe mediante certos
requisitos.
Para que esta força cautelar mantenha restrita a liberdade de um indivíduo, devem ser
observados, então, certos requisitos presentes no Art. 312, CPP, ou seja, deve haver, no caso
em concreto, a verificação de perigo à ordem pública, à ordem econômica, por conveniência
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria.
Desta forma, cabe ao delegado aferir na casuística, a presença de algum desses
requisitos para assim lavrar a prisão em flagrante. Caso não haja manifesta motivação para
que se proceda com a restrição de liberdade de alguém, só poderemos reputar este tipo de
prisão como ilegal.
Perceba-se que os próprios pressupostos do crime de bagatela remetem à
desnecessidade de seu enfrentamento com medidas cautelares. Relata o HC 84.412/SP,
julgado pelo Ministro do STF Celso de Mello, que deve ser interpretada segundo o princípio da
insignificância a conduta típica em que concorrem: a) Mínima ofensividade da conduta do
agente; b) Nenhuma periculosidade social da ação; c) O reduzidíssimo grau de reprovabilidade
do comportamento; e d) A inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Partindo dos requisitos supra, necessários para a aplicação do princípio da
insignificância a algum tipo de crime cometido, quase que automaticamente se exclui a
necessidade da utilização da cautelar de prisão para o mesmo, ficando assim demonstrada a
possibilidade do delegado de polícia não proceder com a lavratura de auto de prisão em
flagrante.
Noutra senda, devemos perceber que a aplicação do princípio da insignificância a uma
conduta formalmente típica funciona como um fator de exclusão de sua tipicidade. Ou seja, se
uma conduta é insignificante para o direito penal, esta não possui mais status de conduta
típica, não havendo então critérios jurídicos para reputá-la como crime.
Assim, se é tarefa do delegado de polícia verificar se, no caso concreto, há crime, para
assim proceder com a lavratura de prisão em flagrante, consequentemente, o delegado de
polícia poderia se recusar a lavrar auto de prisão em flagrante nos casos de “crimes de
bagatela” pelo simples fato de que, juridicamente, estas condutas não poderiam ser
enquadradas como crimes e assim, atrair as reprimendas em direito penal previstas. (ver Art.
5º, §2º, CPP)

2- Qual a diferença entre furto insignificante e furto de pequeno valor?

O furto de pequeno valor é categoria utilizada para a incidência da causa de


diminuição de pena prevista no §2º do Art. 155, CP, ou seja, é conduta típica e, segundo
Rogério Greco, não se confunde com a subtração insignificante, um indiferente penal.
Perceba-se que no caso do furto de pequeno valor, deve-se conjugar com o pequeno
valor da coisa furtada com a primariedade do réu para que seja aplicado o benefício previsto
em lei.
Para que se classifique um furto como de pequeno valor deve haver a distinção entre
este e aquele onde se pratica a subtração de algo cujo valor é ínfimo (HC 82.417/SP, STF,
2007).

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