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As Sete Portas do Inferno

“O Pequeno Missionário”, Pe. Guilherme Vaessen, Livro de 1953

Introdução

1ª Porta: A Impureza
2ª Porta: O Furto
3ª Porta: A Profanação do Dia do Senhor
4ª Porta: A Embriaguez
5ª Porta: A Má Educação dos Filhos
6ª Porta: O Protestantismo
7ª Porta: O Espiritismo

Primeira Porta do Inferno - A Impureza

Não erreis, disse São Paulo, os impuros não herdarão o céu. A


impureza é o amor desregrado dos prazeres da carne. Pensar
voluntariamente em coisas desonestas; desejar praticar, ver, ouvir
coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros
obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-
se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no
sacramento do matrimônio o que a moral cristã proíbe... são pecados
contra a pureza.

Dirão alguns: isso é pecado pequenino. Pequenino? Mas é pecado


mortal. Diz Santo Antonino que é tal a corrupção que faz lavrar este
pecado, que nem os próprios demônios podem sofrê-lo, e acrescenta
o mesmo santo que, quando se cometem semelhantes torpezas, até o
demônio foge de vê-las.
Considerai agora o horror que causará a Deus aquela pessoa que,
como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no lodaçal
deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: Deus é
misericordioso, conhece a fraqueza da carne. Pois ficai sabendo que,
conforme o relata a Escritura, os mais terríveis castigos que Deus
descarregou sobre o mundo foram a punição deste pecado.

Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo está ainda no começo e já


os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus se arrepende
de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar.
Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e
quarenta noites, as águas sobem até cobrirem as montanhas mais
altas, e a humanidade morre afogada, abismada nas águas do dilúvio.
Só escapam oito pessoas, a família de Noé que, sozinho, guardara a
castidade.

Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia? Havia na Palestina


cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas, mais
célebres, ainda, pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades
cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados
sensuais contra a natureza, pecados horrorosos que infelizmente se
cometem hoje, depois de dois mil anos de cristianismo. Que fez Deus?
Mandou chover sobre aquelas cidades uma chuva, não mais de água,
mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as cidades e os
habitantes.

Não satisfeito, Deus mandou à terra que se abrisse e ao inferno que


engolisse os restos infames de Sodoma e Gomorra.
Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que outrora Deus mandava
queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos casados
que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo do adultério. Este
pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave de todos os
pecados contra o próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos
como um crime digno de todos os castigos. Os antigos egípcios
condenavam a ser queimada viva a mulher casada que tinha cometido
este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a mulher
casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que
trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama
grande.

Estes são apenas os castigos para este mundo. Que será no outro
mundo!

Está escrito, e a palavra de Deus não volta atrás, que os desonestos


não entrarão no reino do céu. E este o pecado que arrasta para o
inferno o maior número das almas. Diz São Remígio que a maior parte
dos condenados estão no inferno por causa deste pecado. O mesmo
diz São Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o
mundo. Do mesmo modo fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais
que qualquer outro vício que sujeita o gênero humano ao demônio.
Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos, de cem
condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio,
mas noventa e nove desonestos.

Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos o desespero; o que


quero dizer é que, se vos achais atolados neste vicio, procurai sair
quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa sorte
eterna.

O que deveis fazer é o seguinte:

1º. Rezar. A oração é uma chuva celestial que apaga o pecado da


concupiscência.

Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do leito, três Ave-Marias à


pureza de Nossa Senhora.

2º. Repelir sem demora todo mau pensamento e desejo, chamando


pelos nomes de Jesus e Maria.

3º. Fugir, mas fugir absolutamente, custe o que custar, da ocasião do


pecado, da frequentação de tal pessoa, de tal casa, de tal
divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão
imorais e escandalosas.

4º. Enfim o meio mais eficaz é a recepção frequente e piedosa dos


sacramentos da confissão e comunhão.

Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde


demais.

Segunda Porta do Inferno: O Furto

Não erreis, diz o mesmo apóstolo, os ladrões não herdarão o reino de


Deus.
O furto consiste em tomar, sem razão legítima, o alheio, às
escondidas do dono. A rapina é um furto praticado à força na
presença do dono.

A fraude consiste em enganar no comércio, no peso, na medida, na


qualidade, no preço, nos contratos. A usura, em cobrar juros
excessivos.

É pecado intentar processos injustos, recorrer à chicana para


apoderar-se dos bens ou dos direitos dos outros, ficar com um objeto
achado quando o dono é conhecido ou pode ser conhecido facilmente,
comprar cientemente coisas furtadas, causar qualquer prejuízo ao
próximo em seus bens, sua lavoura, seus negócios.

Enfim, pecam contra a justiça todos os que mandam ou aconselham


ou às vezes simplesmente consentem que outros causem qualquer
prejuízo ao próximo.

Pois este pecado é tão abominável que deveria inspirar horror a todos
os cristãos, porque atrai sobre o homem a cólera de Deus e os priva
do céu.

O alheio é uma isca com que se engole o anzol pelo qual Satanás
pega as almas. No entanto os homens são tão levados para os bens
perecedores, que seus herdeiros disputarão e arrancarão depois da
morte, que obcecados pela cobiça deixam se arrastar. Há certas
pessoas que tributam, por assim dizer, honras divinas ao dinheiro e o
apreciam como seu fim último. “Seus deuses são o ouro e a prata”, diz
o profeta Daniel.

Verdade é, há pecados mais graves que o furto, mas nenhum torna


mais difícil a eterna salvação. A razão disso é que, para alcançar o
perdão dos demais pecados, basta ter deles um verdadeiro
arrependimento, e confessá-los; mas não assim quando se trata do
furto; o arrependimento com a confissão não é suficiente, além disso,
é preciso restituir. Ora, nada mais raro que a restituição. Eis a visão
que teve um certo eremita: viu Lúcifer sentado no seu trono. Era a
hora em que os demônios voltavam da terra aonde tinham sido
mandados para tentar os homens. A um que chegou muito atrasado,
Satanás perguntou qual o motivo do seu grande atraso. Respondeu
que tinha trabalhado até àquela hora para impedir a um ladrão que
fizesse uma restituição que lhe pesava muito na consciência. Lúcifer
mandou castigá-lo, dizendo-lhe que não devia ignorar que o ladrão
nunca restitui e que tinha perdido seu tempo.

Em verdade assim é.

Dir-se-ia que o alheio se converte em próprio sangue e a dor de tirar o


próprio sangue para dá-lo a outro é coisa dura de se sofrer.
Demonstra-o a experiência de todos os dias.

Quantos procuram iludir-se sobre a necessidade da restituição. Alega-


se a pobreza... a família... deixa-se aos herdeiros o cuidado de
restituir, ou, para tranquilizar a consciência, dá-se alguma esmola aos
pobres, mesmo quando se conhece a quem se deve. No entanto,
Santo Agostinho disse: “ou restituição ou condenação”.
Consideremos com S. Gregório que as riquezas que temos
amontoado por meios injustos nos abandonarão um dia, mas que os
crimes cometidos nunca nos abandonarão. Lembremo-nos que é uma
extrema loucura deixar após si bens de que não teremos sido donos
senão uns instantes e de carregar conosco injustiças que nos
atormentarão eternamente.

Não tenhamos a insensatez de transmitir aos nossos herdeiros o fruto


do nosso pecado para nos carregar de toda a pena que lhe é devida e
não nos exponhamos à horrorosa desgraça de arder eternamente na
outra vida por termos educado e enriquecido filhos talvez ingratos.
Lembremo-nos principalmente da palavra de Jesus Cristo: “Que serve
ao homem lucrar o mundo inteiro, se depois perder sua alma?”

Terceira Porta do Inferno: A Profanação do Dia do Senhor

A santificação do domingo comporta duas coisas: a cessação do


trabalho e a oração. Aos domingos não se pode trabalhar sem
necessidade ou por motivo justo: “Trabalhareis durante seis dias,
disse outrora Deus aos israelitas, mas ao sétimo dia não fareis
nenhum trabalho, nem vós nem vossos servos”. Trabalhar aos
domingos é, pois, uma desobediência formal a Deus.

O trabalho do domingo é um desastre para o corpo, para a alma e


mesmo para a fortuna.

As máquinas de bronze e de aço não podem trabalhar semanas e


meses seguidos. Forçosamente, de quando em vez, é preciso
pararem, repousarem, senão arrebentam. Não somos de bronze nem
de aço, somos de carne. Sem o repouso de oito em oito dias, dizem
os sábios, os homens abreviam consideravelmente sua vida.

Quereis ver um povo sadio, forte, alegre? Vede as nações que


respeitam o domingo. Quereis ver um povo doentio, fraco? Considerai
os países em que o dia do Senhor é profanado.Quanto à alma, o
trabalho ao domingo faz que o homem nem se lembre dela. Quem
trabalha sem cessar torna-se material como a terra que cultiva, como
as máquinas que maneja, torna-se um animal, um bruto. Notou-se que
os revolucionários, os criminosos têm-se recrutado principalmente
entre os profanadores do domingo.

Afinal nossos interesses temporais pedem que santifiquemos o


domingo.

Se Deus não constrói a casa, diz o profeta, em vão trabalham os que


a edificam.

O trabalho ao domingo é como o bem mal adquirido, atrasa. Deus não


engana. Ora, disse aos judeus: “Guardareis o dia do Senhor e
respeitareis meu santuário: se fizerdes estas coisas, eu vos darei as
vossas chuvas a seu tempo e a terra e as árvores darão o seu fruto;
comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros em vossa terra. Se,
pelo contrário, rejeitardes meus mandamentos, visitar-vos-ei em minha
cólera, vossas árvores, vossos campos, não darão seu fruto, farei que
o céu seja como ferro e a terra como bronze, plantareis debalde a
vossa semente e vossos inimigos a comerão, as feras devorarão
vosso gado, mandarei a peste, a guerra, a fome”. Repousemos, pois,
ao domingo e santifiquemos este dia pela oração.

A oração obrigatória é a Santa Missa, para quem não tem um motivo


justo de dispensa. Estes motivos são os seguintes: doenças, cuidados
de crianças ou de doentes, grande distância da igreja (mais de uma
hora de caminho, a pé), falta de companhia para senhoras, pobreza tal
que a gente não possa se apresentar na igreja sem se envergonhar.

As mães que têm crianças pequenas, procurem alguém que possa


substituí-las, para que, pelo menos de vez em quando, possam ouvir a
Santa Missa.

Não esqueçamos que faltar à Missa por descuido, por preguiça, é


pecado grave. Mau sinal, péssimo sinal, perder a Missa aos domingos.
Enquanto o homem aos domingos veste a roupa limpa, toma o
caminho da igreja, assiste ao santo sacrifício, ouve a palavra de Deus,
há esperança. Embora este homem se tenha desviado de Deus, um
dia voltará para ele.

Mas, quando o homem chegou a este ponto de embrutecimento que


não faz mais distinção entre dia de serviço e dia de domingo, não há
mais esperança. Não é mais cristão, não é mais homem, é animal. É a
perda da alma, é o inferno.

Que dizer agora dos que não só profanam o dia do Senhor pelo
trabalho e a perda de Missa, senão pelo pecado propriamente dito.
Infelizmente, para muitos, o domingo é o dia do pecado, da
embriaguez, do jogo, do escândalo.
Que crime! Roubar a Deus o dia que ele reservou para sua glória e
para nossa salvação, e consagrá-lo a Satanás pelo pecado!

O que digo do domingo, digo-o das festas que, muitas vezes, em lugar
de serem festas dos santos, são festas do demônio, pela devassidão.
Assim é que outrora os judeus celebravam os domingos e as festas e
por isso Deus lhes disse: “Eu tenho horror de vossas festas, lançar-
vos-ei em rosto as imundícies de vossas solenidades”. O que Nossa
Senhora e os santos esperam de nós nos seus dias de festas não são
músicas, foguetes, danças, jogos, orgias, mas orações fervorosas,
confissão, comunhão. Só assim nos tornamos merecedores de seus
favores.

Quarta Porta do Inferno: A Embriaguez

“Não erreis: os bêbados não herdarão o reino de Deus”, diz S. Paulo.


A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu
efeito imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus
membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no
homem a imagem de Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de
Deus. Como Deus, a alma conhece, ama e quer. Vede agora o
escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O embriagado é
incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao animal, não é capaz de
exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem
instinto de bruto. Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não
faz o que quer. Chega a ponto de não poder ficar de pé, de não poder
dirigir seus passos, de cair. Um dia, um bêbado caiu numa sarjeta.
Chega um cão, olha, fareja-o festejando-o com a cauda. O cachorro
parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro foi-
se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia
arredar-se do lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas,
pelo vício, o homem nivelou-se ao bruto.

O alcoólico é inimigo de sua alma, porque calca aos pés todos os


mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as coisas, diz
o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez é do número
daqueles que S. Paulo estigmatiza, quando diz: “Seu ventre é seu
Deus”. O bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso,
profana o dia do Senhor, é mau filho, mau pai, mau esposo, briga,
fere, às vezes mata. Como é raro dois embriagados separarem-se
sem trocar uns murros e se estragar a cara.

Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie,


pensamentos, desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades que os
próprios irracionais ignoram. No vinho está a luxúria, diz o Espírito
Santo.

O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba


sempre por estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o
estômago, o coração, os rins. Os médicos contam até vinte doenças
quase todas mortais, causadas pelo álcool. De 120.000 pessoas que
morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente pelos excessos
alcoólicos.

O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na


doce esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o
preferido do seu coração, para levar com ele uma vida cheia de
alegria e de felicidade. Por ele deixou pai e mãe, a ele dá sua
mocidade, seu coração, suas forças, seu trabalho, sua vida. E o moço
lhe promete torná-la feliz, promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E,
agora, escravo da embriaguez chega em casa bêbado, envergonha
sua esposa, a contrista, a descompõe, a maltrata, e, às vezes, deixa-
lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição!

Este pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de


um coração esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de
Deus, para bradar vingança contra o violador do amor conjugal.

Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos,


epilépticos, eis, geralmente, a descendência do alcoólico. E estas
pobres criaturas geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não
cai longe da árvore, diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai
a seus filhos? Que ouvem os filhos? Palavras obscenas, conversas
ímpias. Que veem? brigas, escândalos. Pai miserável, que
responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o
exemplo que deste a teus filhos?

Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da


abundância, os encantos da vida de família, tão puros e tão santos.
Que alegria ver-se objeto da afeição de uma esposa, ter filhos sadios
e bem educados!

Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os


sacramentos, afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da
palavra de S. Paulo: “Os bebedores não entrarão no céu”.
Quinta Porta do Inferno: A Má Educação dos Filhos

Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos porque não os


educam no temor e amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres
principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a
instrução, a vigilância e o bom exemplo.

Má pais que não amam os filhos como devem amá-los. Certos


homens não merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo, na
bebida, na devassidão o dinheiro que ganham, deixando faltar aos
filhos o estrito necessário. Pais monstruosos, piores que os irracionais,
que sabem passar fome para dar de comer a seus filhos. Há mães
que amam aos filhos, mas só a parte material, o corpo. Quanto à
alma, pouco ou nada se ocupam dela. Adiam o batismo semanas e
meses, deixando o filho entregue a Satanás e em perigo de morrer
pagão. Quantas almas perdidas e quantas outras estragadas para
sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração do filho, mais o
estraga. Toda a preocupação, todos os cuidados para com o corpo,
até o luxo, até as modas mais indecentes, e quase nada para a alma.

Que será daquela filha a quem a mãe procura inspirar só vaidade, a


quem fala só de beleza, a quem enfeita como uma divindade? Será
uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa,
porque será uma esposa leviana, exigente, cuja paixão do luxo nada
poderá satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a suspeita, a
briga, o abandono, a ruína do lar.

Quantos pais, quantas mães mormente perdem a si mesmos porque


não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao vício,
diz a Escritura. No coração da criança madrugam os maus instintos.
Bem cedo é preciso reprimi-los, corrigir os filhos, dai a pouco será
tarde, impossível.

Como corrigir? A força de gritos e descomposturas? Isso só serve


para ensinar tudo quanto há de palavras feias. A força de pancadas?
Isso avilta e embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar: — “Meu
filho, não faças isso, não andes em tal companhia, não convém, não
pode ser, não consinto.” — Às vezes este aviso será suficiente. Em
caso de reincidência na mesma falta, é necessário repreender
energicamente e ameaçar e, enfim, no caso de nova reincidência,
castigar severamente.

Até quando os pais têm obrigação de corrigir os filhos? Não se


esqueçam que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos, não há
filhos de barba branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e
ai do pai que não avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que
não atende às justas recomendações de seu pai.

Cedo também deve começar a instrução, porque tudo depende do


começo, tudo depende pois, principalmente, da mãe. Feliz, mil vezes
feliz quem teve uma mãe cristã e piedosa. Tal a mãe de S. Luís, rei da
França. Tendo nos braços seu filhinho, dizia: “Meu filho, eu te amo
muito, mas tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais;
cuidado, não faças nada que possa ofendê-los, não cometas pecado.
Antes quisera ver-te agora mesmo morrer em meus braços, que ver-te
mais tarde, rei da França, cometer um só pecado mortal.” Mãe, o
coração dessa criança, vosso filho, é um papel branco em que podeis
escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor a Deus,
devoção a Maria Santíssima.

Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É uma obrigação


gravíssima. A mãe que não manda seu filho ao catecismo, onde é
possível, é indigna de absolvição. Meninos e meninas de dez, doze
anos, moços e moças que nunca apreenderam uma palavra de
catecismo, nada sabem de religião e de suas obrigações, e por isso
não se confessam, não comungam, vivem no pecado, é o que
encontramos todos os dias. Os culpados são os pais. Quantas moças
põem o pé no inferno no dia em que casam, porque assumem uma
obrigação que são incapazes de cumprir, ensinar aos filhos a amarem
e servirem a Deus. Que responsabilidade e como poderão salvar-se?
Perdem a si e a seus filhos.

Mandai vossos filhos à escola, para que aprendam pelo menos a ler e
escrever. Depois do pecado a coisa mais triste e funesta é a
ignorância. Mas, cuidado! Vede bem que escola, que colégio, que
mestres. Há escolas e colégios sem religião. Dali sairão vossos filhos
sem fé e sem costumes. Não faltam as escolas e os colégios
católicos. Vigilância neste ponto.

Vigilância em todos os sentidos. O maior bem que os pais possam


deixar a seus filhos não são muitas riquezas, terras, dinheiro, mas a
inocência e os bons costumes. Por isso seu grande empenho deve ser
conservar-lhes este tesouro. Tarefa difícil em um mundo em que tudo
é escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais devem trazer os filhos
presos debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de vista não
escapam à corrupção. Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não
vejam nunca nada, nem em casa nem fora de casa, nem de dia nem
de noite, nada capaz de ofender a inocência. Mas quantos pais, diz
um santo, têm mais cuidado com seus animais, suas criações, que
com seus filhos! Quantos pais deixam seus filhos andarem aonde e
com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas
brincarem longe de seus olhos. Quantas crianças saem de casa
inocentes e voltam culpados; quantos moços e moças acham sua
perdição em noites de festas, de volta por estradas escuras e
desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos
e filhas, que casa, que pessoas, que divertimentos frequentam?
Examinai vossa consciência, condenai-vos, antes que Deus a examine
e vos condene.

Se é um grande pecado dos pais não afastarem os filhos do pecado, é


um crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo. Tal pai, tal
filho; tal mãe, tal filha. Filho de peixe sabe nadar, diz o adágio. Nada
mais eficazmente funesto que o mau exemplo dos pais. Os pais não
rezam, o pai não se confessa, a mãe não vai à Missa aos domingos,
os filhos hão de fatalmente imitar seu procedimento. Por que rezar? —
disse um dia uma menina à sua professora — eu nunca vejo papai
nem mamãe rezarem. Que dizer dos pais que oferecem aos filhos o
espetáculo positivo do vício e do pecado, pais que se embriagam,
brigam, blasfemam; certas mães cuja vida é o pecado... os filhos o
sabem e se envergonham, o que não os impedirá de, mais tarde,
trilharem o mesmo caminho.

“Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá escândalo, isso é, dá mau


exemplo”; por conseguinte, mil vezes ai dos pais que escandalizam
seus filhos: “seria melhor lhes amarrar ao pescoço uma pedra e serem
lançados ao mar.”
“Maldito seja meu pai, disse um condenado à morte, à hora de subir
ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca me ensinou
meus deveres para com Deus e os homens, deixou-me frequentar
más companhias, deu-me em tudo o mau exemplo.” Faz horror pensar
que no inferno muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos pais aos
filhos, porque foram uns para outros causadores de sua condenação.

Pais e mães, amai a vossos filhos com amor cristão, educai-os no


amor e temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em tudo o bom
exemplo, e vossos filhos vos darão gosto, neste mundo serão vossa
consolação e no outro vossa coroa.

Sexta Porta do Inferno: O Protestantismo

O protestantismo é inimigo jurado da nossa Santa Religião. Nega


os dogmas mais santos: o Santo Sacrifício da Missa, a Confissão,
a Comunhão, a maior parte dos sacramentos, a existência
do purgatório, a instituição Divina da Igreja, a autoridade do Papa,
a legitimidade do culto dos santos. Neste particular vai até
a caluniar aos católicos, dizendo que adoram os santos, as imagens.
Não, mil vezes não! Não adoramos os santos. Adoramos só a Deus.
Quanto aos santos, nós os honramos, pedimos sua proteção junto de
Deus. Honramos as imagens como sendo os retratos dos santos. Que
mal haverá nisso? Não podemos honrar o retrato de um pai, de uma
mãe, de um benfeitor, colocá-lo em nossa sala, no lugar de honra? Se
Deus, outrora, proibiu aos judeus que tivessem imagens, é porque os
judeus habitavam no meio de idólatras e estavam expostos a cair na
idolatria. Foi uma medida disciplinar e passageira. Aliás, o mesmo
Deus deu ordem a Moisés que adornasse a arca com imagens de
anjos. Se os protestantes não têm outra coisa que nos exprobrar,
calem-se; esta acusação cobre-os de ridículo.

É inegável a existência do perigo protestante no Brasil.

Não se deve, porém, temer exageradamente o protestantismo porque


ele tem contra si a promessa feita por Cristo à sua Igreja e porque de
sua natureza tende a se desagregar, dividir e multiplicar-se. Todas as
tentativas de união serão sempre uma paródia da verdadeira união de
fé. Ademais o Brasil nasceu, cresceu e vive ainda sob o bafejo santo
da Igreja Católica e não quer ser ingrato às bênçãos celestes,
simbolizadas pela constelação bendita do Cruzeiro do Sul. Não se
deve, portanto, exagerar o perigo protestante.

Mas, doutra parte, não deve ser desprezado ou descurado.

A fé, na verdade, foi prometida à Igreja e não às nações; estas, como


os indivíduos, a podem perder; e não padece dúvida que o
protestantismo é um sério perigo que poderá ser grave se não se
empregarem os remédios aptos e convenientes.

Não se devem desprezar os protestantes, porque são nossos irmãos


transviados e cegos. Nem é tática bélica desprezar o inimigo, ainda
que aparente fraquezas.

Se não se deve exagerar nem diminuir o perigo, é preciso considerá-lo


em seu justo limite.
Daí a necessidade de um estudo leal e ponderado sobre as forças e
elementos do protestantismo no Brasil. Quanto maior for o estudo,
tanto melhor será o combate.

Devemos combater os protestantes:

Com grande caridade, muita paciência e ardente zelo pela sua


conversão; com constante e sólida instrução, do povo nas
verdades reveladas; com aprática das virtudes cristãs e com
a frequência dos sacramentos; advertindoos fiéis dos enganos;
dando bom exemplo; com o sacrifício e orações fervorosas para
que todos sejam uma só coisa (Jo 17, 22).

O protestantismo foi fundado por Lutero. Quem era Lutero? Um frade


que, depois de passar muitos anos no convento, deixou a vida
religiosa, deixou seu hábito e... casou. Com quem? Com uma freira,
chamada Catarina, que ele mesmo tirou do convento. Lutero viveu e
morreu na crápula, na orgia, no escândalo. Julgai se Deus pode
suscitar semelhante apóstolo para reformar a Igreja ou fundar uma
nova religião.

Não discutamos com protestantes, não vamos ao seu culto, nem por
curiosidade. Não leiamos suas bíblias, seus folhetos. É pecado mortal
ter consigo uma bíblia protestante. Tudo isso expõe nossa fé a
naufragar.

Sétima Porta do Inferno: O Espiritismo


O espiritismo consiste em pretensas ou verdadeiras comunicações
com os espíritos do outro mundo, ou as almas dos defuntos, para
descobrir coisas secretas relativas a esta ou à outra vida.

Digo comunicações pretensas, supostas, porque é sabido que grande


número de médiuns, isso é, de pessoas de que se servem os espíritos
para receberem as respostas dos espíritos ou das almas, os
profissionais Do espiritismo, têm sido convencidos de fraude. Noventa
por cento pelo menos dos casos de comunicações espíritas são
vergonhosas trapaças.

Digo, em segundo lugar, comunicações verdadeiras, porque sábios


verdadeiros e conscienciosos têm verificado a verdade de certas
comunicações, de sorte que forçoso é admitir que nem tudo é fraude.

Por conseguinte, às vezes há espíritos que se comunicam. A questão


é esta: a que espíritos devem ser atribuídas estas comunicações? Em
outras palavras: quem é o espírito que se manifesta? Não são almas
dos defuntos. O dogma católico admite, para as almas que passaram
os umbrais da eternidade, dois estados definitivos e um intermediário,
mas passageiro. Ou elas estão no inferno, ou no céu, ou no
purgatório. Ora, em qualquer estado destes em que elas se achem,
não está na possibilidade delas aparecerem a quem as evoca. As do
inferno estão presas pela corrente da justiça divina, que fixou a sua
desgraçada sorte para a eternidade e deste horrendo calabouço, de
que os demônios são guardas, elas não podem sair, senão em caso
muito extraordinário, por especial providência de Deus. As que estão
no céu, no purgatório, estão em perfeita conformidade à vontade de
Deus, e, portanto, nunca elas se manifestam senão por fins altíssimos,
dignos da infinita sabedoria de Deus, como auxiliar com preces e
santos sacrifícios essas almas, ou converter algum pecador. A regra
geral que Deus tem estabelecido para as almas que passam desta
para a outra vida é que: “o espírito vai e não volta.”

Não são as almas que se manifestam. É o demônio. A prova é que na


maioria dos casos estas comunicações tendem ao erro e à falsidade,
que é o caráter próprio daquele que tem o título “pai da mentira”. Sem
dúvida, há às vezes algumas verdades enunciadas, mas é para mais
facilmente induzir ao erro. Assim dirão que há purgatório, mas que não
há inferno — que fulano está no inferno, mas que a condenação não é
eterna. Outras vezes são respostas ambíguas e contraditórias.Para
um católico não pode haver dúvida, é o demônio. Acrescentemos o
que em mais de uma circunstância se tem dado; e é que se algum dos
circunstantes se acha munido de água benta, um crucifixo, uma
medalha, o espírito ou fica mudo ou dá respostas incoerentes.

Vejamos, aliás, quais as consequências resultantes do espiritismo,


para mais vermos a intervenção diabólica, porque pelos efeitos melhor
se conhece a causa. Uma das consequências que mais avultam é a
loucura. É um fato notório. O diretor do Hospício dos Alienados Pedro
II, no Rio, declarou, há anos passados, que sessenta e cinco por cento
dos alienados eram vítimas do espiritismo.

Que dizer do suicídio? Quem ignora que os tenha havido e só


motivados por esta causa? Quantos desgraçados entre estes cegos a
quem Satanás leva pelo cabresto até esta última cegueira! Quanto às
imoralidades praticadas muitas vezes em certas reuniões espíritas,
delas nem convêm falar. Há outras consequências, doutra ordem mais
transcendente e é que o espiritismo impele seus adeptos à heresia e
ao erro. É principalmente entre os espíritas que se encontram os que
negam a divindade de Jesus Cristo, da confissão, da Igreja; os que
ridicularizam as práticas religiosas, aprovam o ensino ateu.

Basta! Fica claro e evidente que as pessoas que se entregam a estas


práticas cometem pecado mortal não só porque desobedecem à
Igreja, que as proíbe, mas também porque procuram põe-se em
comunicação com o espírito das trevas, o inimigo de Deus, o que é
proibido pela Sagrada Escritura: “Entre ti não se achará... quem
pergunte a um espírito divinatório nem aos mortos.” (Deut 18, II).

Os espíritas são hereges porque negam verdades reveladas e aderem


a erros condenados, renunciando, desta arte, ao título de católicos.
Estão fora da Igreja; se não renunciarem a estas práticas não se
salvam.

A Oração

Há um inferno, suplícios eternos. É horroroso, mas é certo. A porta do


inferno é o pecado mortal. Há também um céu, morada de Deus,
mansão dos anjos e santos, uma glória, uma felicidade eterna. A
chave de ouro do céu é a oração. Quereis evitar o inferno, merecer o
céu, é absolutamente necessário REZAR...

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