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Doutora em Psicologia, Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação. Faculdade de Educação. Universidade Federal de Pelotas
(UFPEL). Diretora da Editora e Gráfica Universitária UFPEL. E-
mail: denisebussoletti@gmail.com . Endereço: Rua Alberto Rosa, 154.
Campus das Ciências Sociais – 2º andar. CEP 96.101-770 Várzea do Porto -
Pelotas – RS – Brasil. Phone/fax: (53) 3284 55 33 | 3284 55 41.
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Ator, Mestre em Ciências da Saúde, Licenciado em Teatro. E-mail:
vagnervarg@yahoo.com.br.
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hoje afetam pessoas que não têm sua identidade de gênero classificada
dentro da dicotomia imposta pela heteronormatização social.
Introdução
A maneira como a sociedade lida, compreende e trata a
diversidade de gêneros vem sendo uma temática amplamente discutida
em todos os âmbitos. As implicações dessas relações afetam
drasticamente a vida das pessoas que se identificam como sendo
transgêneros, transexuais ou não identificadas dentro das normatizações
binárias de gênero e sexualidade. Mas, como ajudar pessoas com
identidade de gênero consideradas minorias em uma sociedade que
construiu seus discursos baseados em argumentos heteronormativos
dicotômicos?
Os reflexos dos agravos causados pela incompreensão e
hostilidade social afetam e se manifestam de diferentes formas na vida
das pessoas com gêneros diferenciados das normatizações tradicionais.
Nem sempre há a disponibilidade dos diferentes grupos sociais
buscarem o conhecimento sobre a realidade e as dificuldades
enfrentadas por essas pessoas. Essa situação também está presente no
que se refere à percepção da sociedade sobre as dificuldades que essas
pessoas, não enquadradas nas determinações heteronormativas,
enfrentam em relação à aceitação da própria identidade de gênero. De
mesmo modo, as barreiras impostas pela sociedade para que essas
pessoas tenham desenvolvimento profissional e uma vida em sociedade
com igualdade de direitos e deveres perante aos demais também
costuma ser um tabu nas discussões, assim como as desigualdades de
direitos e oportunidades também não costumam ser admitidas.
Tradicionalmente, o teatro costuma ser o local onde a
humanidade expõe todas as suas mazelas para fomentar o debate e a
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O programa “Fronteiras da Diversidade”, foi classificado e contemplado pelo
Edital nº 4 do Programa de Extensão Universitária, PROEXT 2011 –
Ministério da Educação e Cultura da Secretaria de Ensino Superior do
Governo Federal do Brasil. Exerce suas atribuições desde o ano de 2011, na
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
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estimular a compreensão e o respeito pelas diversidades na sociedade
(BUSSOLETTI; VARGAS, 2013).
Considerando algumas atividades realizadas pelos integrantes do
NALS e do PBD sobre questões de gênero, sexo e sexualidade, nós
observamos que a população local não estava acostumada a debater
diretamente sobre esses assuntos (ALVES, 2012; BUSSOLETTI;
VARGAS, 2013). Nestes encontros, após vários relatos de gays,
lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, identificamos que essas
pessoas precisavam expor suas problemáticas de modo que a sociedade
se dispusesse a ouvi-las e refletir sobre esses assuntos. Devido a um
profundo engajamento do nosso grupo em possibilitar que as diferentes
condições humanas possam se expressar, nós decidimos encontrar um
caminho para viabilizar esse acontecimento e as artes surgiram como
nosso território de ação e reflexão (BUSSOLETTI; VARGAS, 2013).
Nesse sentido, nosso grupo criou um projeto chamado
“Dramaturgia Teatral para a Diversidade”, onde todas essas histórias e
problemáticas seriam transformadas em pequenas peças de teatro, as
quais receberiam leituras dramáticas em um segundo momento
(BUSSOLETTI; VARGAS, 2012; BUSSOLETTI; VARGAS;
BAIRROS, 2013). Nós acreditamos que, para uma primeira abordagem,
seria necessário transformar algumas histórias reais, assim como criar
outras de ficção sobre essas temáticas para construir uma base mais
sólida de contato da população em geral com essas temáticas, antes que
elas fossem transformadas em espetáculos de teatro propriamente dito.
Além disso, devido à escassez de textos teatrais focados na vida
de pessoas transgêneros, nosso grupo decidiu abrir essa possibilidade
por meio da escrita de dois livros em volumes separados chamados de
“Leituras em Dramaturgia Teatral para a Diversidade” (BUSSOLETTI;
VARGAS, 2012; BUSSOLETTI; VARGAS; BAIRROS, 2013). Sendo
assim, o objetivo desse trabalho é descrever o projeto “Dramaturgia
Teatral para a Diversidade”, assim como expor as questões de
diversidade de gênero que foram levantadas. Ademais, explicaremos
ABSTRACT:
The gender diversity has been a constant theme in the academic
production. Educational approaches aiming to discuss these issues often
propose different strategies to expand these reflections. The transgender
people daily reality and the problems faced in a society that stigmatizes
them to live at a level of marginality have not received emphasis in the
current Brazilian theatrical dramaturgy. The aim of this article is to
describe the project Theatrical Dramaturgy for Diversity, developed by
the Nucleus of Arts, Languages and subjectivities and the Programme
Boundaries of Diversity, at Institute of Education, from Federal
University of Pelotas, southern Brazil. Moreover, we explain how these
actions are guided by concepts of the Border Pedagogy and Aesthetics
of Ginga. After reading the texts produced by our group, we realized the
uniqueness and importance of giving opportunity to many different
social groups the possibility of making their voices heard and their
words read by society. The content of the plays has revealed a universe
of problems that still affect people who do not have their gender
identity classified into the dichotomy imposed by social
heteronormativity.