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RESUMO
O trabalho analisou as classes gramaticais: substantivos e adjetivos. Realizou-se um
levantamento das definições delas em gramáticas tradicionais e em outros estudiosos e, tendo-as por
base, discutiu-se sua aplicação em contextos de usos. Foram analisados principalmente exemplos de
situações não referidos em algumas das obras citadas os quais requerem um conhecimento e uma visão
mais amplos sobre a língua. A análise mostrou, então, substantivos e adjetivos que podem trocar de
‘classificação’ em virtude da função deles dentro de frases e de palavras compostas. Observou-se que,
dependendo do contexto em que estão inseridos, as definições dadas pelas gramáticas não se aplicam a
todos os casos.
ABSTRACT
This research will analyze two grammatical classes: nouns and adjectives in use context.
Realized it will be made a survey of existing definitions in traditional grammar and other studious of
the language to after, having them as base, to argue its application in use of language contexts. It will
be pointed and argued mainly examples of their use not referred in traditional grammar and in didactic
books of which request a wider knowledge and vision. The analyzes will show then nouns and
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adjectives that can change from classification in virtue of function inside of a phrase and its
participation in compound forms. Depending of the context in which they are inserted, we can observe
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that the tight definitions managed by the grammar don’t apply and thus are incompatible for these
cases.
INTRODUÇÃO
A pesquisa verificou as classes de palavras, substantivos e adjetivos, levando-se em
consideração o uso delas em contextos, no intuito de se dar uma visão mais ampla já que em
um ato de fala podem ocupar funções diversas das previstas em definições estanques que são
encontradas em gramáticas tradicionais, geralmente na parte destinada à morfologia. Estas
partem, na maioria das vezes, de palavras em frases escritas de autores consagrados para
definirem e exemplificarem classes gramaticais e não propriamente do uso cotidiano delas na
língua. Neste contexto, podem passar a ser consideradas de forma diversa do previsto já que
há mutabilidade de função das categorias gramaticais na sua utilização no discurso; daí a
importância de uma visão mais abrangente sobre o tema em questão.
A elaboração deste estudo se deve justamente ao fato de que há pouca inclusão de
dados a respeito de alguns usos dessas em gramáticas tradicionais, que são, geralmente, o
material de trabalho e de pesquisa da maioria dos docentes pertencentes à rede de ensino
fundamental e médio (de 1º e 2º graus).
Desta forma, este artigo pretendeu aprofundar um pouco o conteúdo sobre o tema,
fazendo-se uma análise de textos existentes em obras de estudiosos diversos e, a partir da
averiguação de dados, fazer uma apreciação sobre usos que normalmente não constam em
gramáticas e que merecem ser considerados como possibilidades da língua, pois estes fazem
parte, também, do cotidiano do falante que os usa para se comunicar em quaisquer situações
da sua vida, seja na modalidade escrita ou na oral.
Inicialmente foi feito um levantamento do estudo diacrônico das classes gramaticais,
verificando-se as vigentes no latim e no português, comparando-se, ainda, as mudanças na sua
evolução principalmente em relação à classe dos nomes. A seguir, fez-se um levantamento
das definições sobre as classes a partir de estudiosos, principalmente dos tradicionais. Após
esse estudo, foi iniciada uma análise, constatando-se semelhanças e divergências entre elas.
A partir daí, foram averiguadas possibilidades de mudanças dessas classes no uso da
língua; a mudança de classe de um mesmo item lexical quando em funções diferentes. Foi
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ou como palavras usadas juntas em frases. No final, foi feita uma reflexão sobre todos os
resultados para, assim, se chegar a uma visão mais completa do objeto de estudo analisado
nesta pesquisa.
DESENVOLVIMENTO
Moura Neves (2002 ) se refere inicialmente à classificação de acordo com a forma e com a
distribuição que, às vezes, é insuficiente para reconhecê-las. Outro critério é o da verificação
da função das palavras na oração; este é previsto quando o anterior leva à ambiguidade.
Acrescenta, ainda, que há estudos que consideram o sentido como meio de identificar uma
palavra, unindo, na verdade, forma e função ( visão morfo-sintática); porém parece ser este
um critério que leva a generalizações excessivas.
De modo geral, os substantivos e os adjetivos praticamente se identificam no plano
morfológico, pois ambos são afetados pelas categorias de gênero, de número e de caso, sendo
obrigatória a concordância entre eles; neste caso, já entra o plano sintático, pois os relaciona.
Biderman (2001) diz que substantivo e adjetivo são divididos apenas por uma questão
sintática acrescida de características semânticas; isso ocorre no português e em outras
línguas que também os possuem.
Perini (2001, p. 40) diz que: “Em lingüística, [....] falamos de adjetivos, verbos,
preposições, orações e sintagmas nominais: todos esses nomes designam classes de formas
lingüísticas. Ora, veremos que nem sempre os limites entre essas classes são claros e bem
definidos: a lingüística também tem seus ornitorrincos”. Admite , portanto, a não limitação
de classes conforme o fazem outros estudiosos; porém justifica a existência da classificação
pelo fato de que outras áreas do conhecimento também a efetuam para o estudo ser mais
eficiente e mais fácil. Embora a admita, acrescenta que, geralmente, torna rígida uma classe.
Daí a classificação também ocorrer na língua: ela existe principalmente para fins didáticos e
para facilitar o estudo.
Leitão (2000) se refere à dificuldade que estudiosos têm para organizarem as palavras
da língua. Diz, ainda, que a terminologia oficial, reconhecida por autores como Cunha e
Cintra, Rocha Lima e Bechara, divide-as em 10 classes gramaticais. Embora prevaleça a
natureza morfológica, a descrição convencional se vale de outros critérios. Acrescenta que
Os aspectos semânticos muitas vezes não se coadunam com os formais, enquanto que estes se
confundem com os morfossintáticos, ensejando definições longas, pouco precisas, que não
apreendem a essência do conceito descrito. (LEITÃO, 2000, p.65).
dedicada à morfologia; além disso, na maioria das vezes, as definições não abrangem todos os
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casos de contextos de usos da língua. Elas seguem, na maior parte das vezes, o que foi
imposto pela NGB: uniformização do ensino da língua portuguesa.
[...] a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos
objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em
segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substância, quais
sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrada,
aceitação).
Já o adjetivo, ele conceitua como “[...]a classe de lexema que se caracteriza por
constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo,
orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado” (op.cit.,
p.142).
Para Cunha e Cintra (2001, p.177) o “Substantivo: é a palavra com que designamos ou
nomeamos os seres em geral”. Ainda na parte referente ao substantivo, os autores dizem que
ele pode formar uma locução adjetiva e, portanto, ter a função de um adjunto adnominal,
como, por exemplo, em uma vontade de ferro. Ainda se refere aos exemplos: um riso
canalha, uma recepção monstro, em que os substantivos assinalados têm a função de adjunto
adnominal ao se referirem a outro substantivo. Também mostram o uso do substantivo como
modificador do adjetivo em casos como: amarelo-canário, verde-garrafa (op.cit., p. 201). O
adjetivo é, para eles (op.cit., p.245), “[...] essencialmente um modificador do substantivo”.
Acrescentam que ele serve para caracterizar os seres, os objetos ou as noções nomeadas pelos
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de ser, ou indicando-lhes o aspecto ou estado. Assim como alguns estudiosos já citados, ele
diz que “[...] substantivos e adjetivos apresentam muitas características semelhantes e, em
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muitas situações, a distinção entre ambos só é possível a partir de elementos fornecidos pelo
contexto”. Dá ainda como exemplos: jovem brasileiro / brasileiro jovem para evidenciar a
mudança de classe gramatical e diz que: “Ser adjetivo ou ser substantivo não decorre,
portanto, de características morfológicas da palavra, mas de sua atuação efetiva numa frase da
língua”( op.cit., p. 312).
Azeredo (2008, p.155) diz que o substantivo reúne características como: dar nome às
parcelas do conhecimento representadas por seres; ser núcleo de expressões referenciais do
texto; ter gênero e número próprios e desempenhar funções sintáticas de sujeito e de objeto
direto. Sobre adjetivos, afirma que são “[...] os lexemas que se empregam tipicamente para
significar atributos ou propriedades dos seres e coisas nomeadas pelos substantivos” (op.cit.,
p.169). Ele também limita as caracterizações do substantivo e do adjetivo, semelhante a
outros estudiosos, embora as suas definições sejam abrangentes, uma vez que, por exemplo,
na do substantivo abrange sentido, relação com outras palavras, função, envolvendo, desta
forma, o aspecto semântico, o sintático além do morfológico. Na realidade, sabe-se que há
muitas outras possibilidades de uso.
Macambira (2001) analisa substantivo sob o aspecto mórfico inicialmente dividindo-
o em: quadriforme, biforme e uniforme, embora apenas isto não o classifique, já que outras
classes também as têm: artigo, adjetivo, numeral, pronome. Usa, então, o critério de
“oposições formais”, isto é, como classe variável que admite sufixos aumentativos e
diminutivos. Estes também são usados por adjetivos e advérbios, segundo o autor. Daí,
acrescenta o aspecto sintático, dizendo que “[...] pertence à classe do substantivo toda palavra
que se deixar preceder por artigo ou pronome adjetivo, especialmente possessivo,
demonstrativo e indefinido” (op.cit., p.34). Sob o aspecto semântico, para ele, o substantivo é
a palavra que “serve para designar os seres” (op.cit., p.34).
Ainda segundo Macambira (2001), adjetivo, sob aspecto mórfico, é toda palavra que
“[...] produz oposições formais, correspondentes ao grau positivo e ao grau superlativo...”
(op.cit., p. 36). Sob aspecto sintático é toda “[...] palavra variável que se deixar preceder
pelos advérbios correlativos tão ou quão, de preferência o primeiro, pertencente ao dialeto
coloquial” (op.cit., p.37). Sob aspecto semântico, é a palavra que exprime qualidade,
conceituação semelhante a muitos outros estudiosos. Mais adiante acrescenta que é melhor
defini-lo como: “Adjetivo é a palavra variável que serve para modificar o substantivo”
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(op.cit., p.38).
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Estes são alguns dos estudiosos que fazem referência aos substantivos e aos
adjetivos. De modo geral, atribuem a designação àqueles como a classe que nomeia os seres
e a estes como sendo os termos que acrescentam atributos aos substantivos. Ao se tentar
aplicar as definições a determinadas palavras no uso da língua, chega-se à conclusão de que
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elas parecem ser incoerentes e incompletas, pois não explicam o uso de certas palavras em
contextos especiais.
Há de se considerar a possibilidade de uma certa mudança de função/classificação de
adjetivos e substantivos da língua quando em uso por falantes, inclusive considerando-se a
sua inclusão na ‘formação’ de palavras. Eles não são termos fixos com contextos definidos,
mas, apesar disto, se admite ser necessária uma definição, pelo menos para fins didáticos,
pois ela é a garantia de que se está falando de ‘classes’ que funcionam dentro da língua,
assim como há classificações em outras áreas do conhecimento para se poder entender a
realidade e, principalmente, facilitar o estudo. Daí a categorização feita por estudiosos e
gramáticos tradicionais a respeito de palavras do português.
baseando-se no significado. Desta forma, o substantivo é definido como palavra que designa
seres, enquanto o adjetivo é a palavra que indica qualidade desses seres.
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ambos pertenciam a uma única classe: a dos nomes; por isso percebem-se até hoje afinidades
entre eles. Este é mais um motivo para que haja ‘troca’ de funções e, por consequência,
mudança de classe de substantivos e de adjetivos quando em contextos de uso.
Um fato relevante a ressaltar nas conceituações de gramáticos normativos é o de que
a definição dada por eles toma isoladamente a palavra e, ainda, esta é restrita ao uso escrito da
língua. Na maioria das vezes, usam como exemplos frases de escritores, em vez de analisá-la
em sua existência real dentro da língua, isto é, vê-la inserida em um contexto, incluindo
outros níveis, variações linguísticas e a modalidade oral. Desta forma é que a palavra
adquirirá sua identidade funcional, sendo substantivo, adjetivo ou verbo. Ela terá sua marca
funcional e será diferente de todas as outras no uso.
Assim, há casos nos quais uma mesma palavra pode desempenhar a função de
substantivo ou de adjetivo dependendo do contexto em que está inserida. Pode-se tomar
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como exemplo a ocorrência da palavra doce como nas seguintes orações citadas por Basílio
(2004, p. 80):
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Observa-se que em (1) a palavra doce está funcionando como adjetivo, pois está
atribuindo algo ao substantivo bolo: o de ter sabor como o de açúcar. Já em (2), a mesma
palavra está funcionando como substantivo, pois está nomeando algo e não atribuindo uma
característica como na frase anterior; significa: produto culinário.
Pode-se perceber que existe uma relação semântica entre as duas orações,uma vez que
como substantivo designa produto culinário; qualificado como ‘doce, com gosto de açúcar’ é
adjetivo. Mas essa relação semântica não é absoluta, porque nem todo produto comestível ou
culinário “predicável” pelo adjetivo doce pode ser designado pelo substantivo doce, como se
pode confirmar nas orações:
(3) Pudins e compotas são doces.
(4) Comi biscoitos doces.
Observa-se que, aqui,o adjetivo denota uma propriedade atribuída que é própria do
pudim e da compota: ‘ser doce’, enquanto em (4) denota um produto ‘específico’, já que nem
todos os biscoitos são doces. Neste caso identifica o tipo de biscoito.
A diferença entre eles também pode ser notada em uma frase possível na língua: Este
doce está doce demais, em que a significação e categorização se devem à função de cada
emprego de doce na frase.
Daí se pode concluir que uma palavra não deve ser considerada como sendo um
substantivo ou um adjetivo antes de ser analisada em um contexto específico, já que, como se
pôde constatar, em muitos casos, a classificação dela depende de sua posição, função dentro
de uma frase; portanto em uso na língua.
Há palavras que são essencialmente, por exemplo, “adjetivos” como belo, que,
conforme consta em dicionários, é assim considerada. Porém em um uso específico, pode-se
dizer ‘o belo’ no lugar de se usar o substantivo correspondente beleza. Houve, neste caso,
uma substantivação do adjetivo, que, segundo Basílio (2004), ocorre quando ele passa a ser
usado como um substantivo, denotando ser e acionando mecanismos de concordância, embora
não possa ser considerado como substantivo pleno. É o que ocorre com os adjetivos ‘manso’ e
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‘aflito’ que são considerados adjetivos, mas que, em um emprego determinado, torna-se
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‘substantivo’ devido à função que passam a ter no contexto, como nas frases dadas por
Basílio (2004, p. 85):
(5) Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra.
(6) Consolai os aflitos.
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Nestes usos, em vez de qualificar o ser, o adjetivo está funcionando como se fosse um
substantivo, isto é, designando seres; o significado dele se assemelha ao do próprio adjetivo.
Em (5) mansos, plural do adjetivo manso, denota todos os seres que tenham a propriedade de
mansidão; já em (6), aflitos está denotando todos os seres que possam ser qualificados como
tendo aflição.
Há, também, construções inversas em que os substantivos ‘qualificam, caracterizam e
ou especificam substantivos’; nestes casos, diz-se que houve uma adjetivação do substantivo,
como se pode constatar nos exemplos:
(7) Fui vítima de um sequestro-relâmpago.
(8) Ele era a testemunha-chave da polícia.
considerado uma lexia complexa. Por lexia complexa entende-se: formas aglutinadas que
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parecem “[...] algumas vezes perfeitamente soldadas e outras com forte índice de coesão
interna” (BIDERMAN, 2001, p.170).
Perini (2001,p 42) questiona como fazer para tratar de adjetivos e de substantivos
como classes. Ainda indaga: “O que é que faz de uma palavra um adjetivo ou um
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substantivo?” Considera essas duas classes como difíceis de distinguir, embora sejam tratadas
como classes distintas; daí separadas na classificação: os substantivos dão “nomes às coisas,
seres,..”, enquanto os adjetivos expressam “qualidades, atributos,..”; é o que se resume a
partir de dados de gramáticas. Porém “se as palavras forem João e paternal, a aplicação é
razoavelmente fácil”. João é nome de uma coisa (uma pessoa) e paternal exprime apenas uma
qualidade; logo, João é substantivo e paternal um adjetivo. Acrescenta outro exemplo em que
a facilidade não é tão evidente. Quando se trata da palavra maternal, o autor afirma que:
Mas como classificar maternal? Essa palavra parece, à primeira vista, ser idêntica a paternal,
com a única diferença de que se refere à mãe, não ao pai. Assim, dizemos atitudes maternais
do mesmo jeito que dizemos atitudes paternais. Mas na verdade há uma diferença: maternal
(mas não paternal) é também o nome de uma coisa, ou seja, designa um tipo de escola
infantil: meu menino ainda está no maternal.
E agora? Maternal é adjetivo, porque expressa uma qualidade; e é substantivo, porque é o
nome de uma coisa. Ou será um caso, com certeza excepcionalíssimo, de palavra que está no
limite das duas classes e tem as propriedades de ambas? Nem isso, porque o caso de maternal
não é raro nem excepcional. Há milhares de palavras que se comportam de maneira
semelhante. (PERINI, 2001, p. 43)
Nos exemplos, o que ocorre é a mudança em que os adjetivos assumem a função dos
substantivos, omitindo-se, então, homem, cidadão, indivíduo. Porém, os três lexemas constam
como sendo ‘adjetivo’ e ‘substantivo’ no Michaëlis (1998). Isto significa que, de acordo com
o dicionário, as palavras pertencem às duas classes e daí o uso ser normal. Há, no entanto,
palavras com as quais realmente há uma recategorização dos lexemas, cuja ocorrência é
válida e recorrente na língua em uso.
Devido à necessidade de renovação da língua, algumas palavras já existentes acabam
por trocar de classificação em função do contexto em que estão inseridas, passando a adquirir
um novo significado, como se observa nas seguintes orações:
(9) Este livro é muito velho.
(10) O velho atravessou a rua.
Nas duas orações está sendo utilizada a mesma palavra velho, mas, no primeiro caso,
pode-se classificá-la como adjetivo, pois está atribuindo um estado ao substantivo livro; já,
no segundo caso, ocorre a utilização dela como substantivo, indicando ‘uma pessoa com certa
idade’. Através de exemplos como estes, pode-se constatar que o contexto é determinante
para a classificação da palavra, pois, se vista isoladamente, não se teria como identificar se
está exercendo a função de substantivo ou de adjetivo. Se se recorrer ao dicionário Houaiss
(2001) o verbete velho evidencia que a palavra pode ser usada como adjetivo, significando
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“relativo a algo antigo” e como substantivo, tendo o sentido de “ pessoa de mais idade”.
Outro exemplo evidenciando a ocorrência é o uso de “marinheiro” no contexto
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referente ao substantivo brasileiro. O que ocorre é que elas podem tanto ter a função de
substantivos como adjetivos; mais uma vez se constata que a classificação dessas palavras vai
depender do contexto no qual estão inseridas.
Outra ocorrência dessa possibilidade da língua é a palavra referente à nacionalidade:
‘mexicano’ que pode ter duas classificações como nos contextos: mexicano
diplomata/diplomata mexicano. No 1º caso, a palavra é substantivo; no 2º, adjetivo.
Segundo Basílio (2004, p.82) “Os nomes pátrios, como adjetivos, atribuem uma
caracterização de proveniência ou origem aos substantivos com que se combinam; usados
isoladamente, denotam seres humanos por sua origem”, como nos exemplos dados por ela:
a) Os vinhos brasileiros estão melhorando.
b) Os marinheiros brasileiros se emocionam facilmente.
c) Os brasileiros gostam de feijoada. (op.cit., p.82)
cores, não adquirem as propriedades mórficas dos adjetivos, pois não apresentam
concordância em gênero e número em usos como: sapatos café (e não sapatos cafés); bolsas
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areia (não areias) e blusas cereja ( não cerejas), não havendo, portanto, concordância com os
vocábulos a que se referem. Isto se dá em exemplos como estes nos quais foram usados
substantivos, pela semelhança da cor, para designar ‘cores’ de outros elementos.
suma importância dentro do estudo da língua, pois são ocorrências que figuram como
derivações impróprias ou conversão. Alguns autores observam que esse processo pertence à
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área da semântica e não à da morfologia, pois existem traços formais caracterizadores que não
o torna exclusivo da semântica (KHEDI, 2000).
SUBSTANTIVO OU ADJETIVO?
apenas como substantivos simples como a palavra médico, seguida do adjetivo veterinário;
em outro caso, aparece engenheiro civil como um substantivo considerado composto.
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Serão analisados, a seguir, alguns usos que causam também, de certa forma, dúvidas
na sua consideração.
Há criação de novas palavras pelo processo de formação lexical que se dá através de
combinações de vocábulos já existentes como ocorre nos exemplos: amor-próprio, festa-
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surpresa, escola-padrão, sofá-cama, guarda-florestal, entre outros, nos quais aparecem dois
radicais. Na palavra composta, os elementos primitivos podem perder a significação própria
em benefício de um único conceito, novo, global como em alguns dos exemplos ou conservar
algo do significado básico dos elementos formadores.
Para a formação de compostos há dois processos; um deles é o processo por
composição que resulta na justaposição de bases autônomas ou não-autônomas. Esta
constituição de vocábulos ocorre quando os termos associados permanecem com a sua
individualidade, tais como nos exemplos: passatempo, sempre-viva usados ou não com hífen,
(KEHDI, 2000). Há também, segundo o autor, formas compostas por aglutinação em que os
vocábulos se fundem num todo fonético, com um único acento, como em pernalta, por
exemplo.
Nos substantivos compostos constituídos por justaposição com adjetivo e substantivo,
ou vice-versa, pode ser verificado um tipo de subordinação lexical, que acaba sendo
motivado pelo determinante adjetivo que especifica o substantivo determinado, salientando
que a ordem dos elementos, determinado e determinante, não é fixa, pois existe a
possibilidade de troca de posição entre eles. Há exemplos em que a ordem não altera o
produto, isto é, se se inverterem os elementos, os conjuntos manterão o mesmo significado:
“O controle da pinta-preta em cítricos”/ “ O controle da preta-pinta em cítricos” (ALVES,
1994, p.42).
Outros exemplos que se pode citar a respeito da questão de compostos reafirmando a
questão de determinante e determinado são os casos citados por Alves (1994, p. 42): enredo-
denúncia, operação-desmonte e político-galã, em que os substantivos determinantes
denúncia, desmonte e galã desempenham uma função adjetival. Funcionando diferentemente
do que dizem as gramáticas, o segundo elemento, o determinante, não é flexionado quanto à
categoria de número, própria de substantivo.
Em muitos casos, podem-se encontrar alguns substantivos que estão direta ou
metaforicamente ligados a elementos centrais do substantivo e, desta forma, sendo
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considerados qualificadores deste, como se percebe nos exemplos utilizados por Basílio
(2004, p.89): festa-monstro, engarrafamento-monstro, testemunha-chave, pergunta-chave,
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Nota-se que, no primeiro exemplo (11), o termo mesa-redonda tem o sentido de uma
roda de discussão; daí ser considerado termo composto. Tem sentido e classificação diferente
daquele do ‘original’ apresentado na frase (12), que está com o seu sentido literal de ser
realmente uma mesa em formato redondo e que se trata de apenas um substantivo modificado
por um adjetivo.
Biderman (2001) cita exemplos como: guarda-roupa, dor de cabeça, capa de chuva,
Santa Casa e outros em que a grafia levaria a induzir a conclusão de que se trata de lexias
complexas. “De fato, porém, elas estão categorizadas em língua como lexemas” (op.cit.,
p.171). Ainda afirma que “a gramática persiste em considerar palavras como guarda-chuva,
terça-feira como compostas por aglutinação quando, de fato, os seus elementos componentes
já se aglutinaram há muito” (op.cit., p.171). Assim, segundo a autora, deveriam ser
consideradas como sintagmas simples.
Borba (2003) discute a formação de palavras como: elefante branco, mosca morta,
boca livre,... (= N+ adj.) como sendo um sintagma fixo (SF) constituído por sintagma
nominal (SN). Para um leigo, a formação referida poderia ser considerada como apenas um
substantivo junto a um adjetivo e não um sintagma fixo como ele considera.
Na análise de usos de substantivos e de adjetivos, foram encontrados casos de
formações de palavras com eles que geram dúvidas em relação ao fato de se considerar
como realmente um composto ou meramente duas palavras que, juntas, têm um único
significado. Para explicar tais ocorrências foram dadas algumas justificativas e recursos que
estudiosos se servem para saber como os considerar: compostos ou locuções?
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gestação.
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perfeito em que não se pode trocar a organização dos elementos nem acrescentar nada entre
Página
eles, pois, se isso ocorrer, torna-o inaceitável como representativo de flor; também, o
significado mudaria.
O mesmo autor diz que “o composto funciona sintaticamente como uma só palavra:
sempre pode ser substituído por um único vocábulo”; como se pode constatar no exemplo
apresentado: Admiro a estrada de ferro./ Admiro a pista. (KEHDI, 2001, p. 42)
Segundo Monteiro (2002, p. 183) “Denomina-se composto o vocábulo formado pela
união de dois ou mais semantemas. Os componentes podem estar graficamente ligados
(aguardente, passatempo), hifenizados (vira-lata, franco-suíço) ou soltos (Porto Alegre, Mato
Grosso)”. Em exemplos destes tipos, encontram-se muitas dificuldades em distingui-lo de
uma locução, em que, de modo geral, os compostos não permitem a troca de posição de seus
componentes. Convém ressaltar que, muitas vezes, a troca de posição muda também o
significado e a função dos termos de uma expressão e isso não ocorre em nomes compostos,
pois o significado é mantido, mesmo com a inversão dos componentes como em: franco-
italiano / ítalo-francês.
Analisando a discussão sobre “formação de palavras”, pode-se definir que o sintagma
fixo não admite inversão de seus componentes, substituição ou omissão de itens, inserção de
adjetivos, sem que fique totalmente diverso o significado. Observa-se que cada autor trata de
estudar os casos citados de um ponto de vista diferente, seja ele morfológico, sintático ou
semântico para comprovar as suas teorias a respeito do assunto mencionado neste artigo.
Como uma tentativa de se diferenciarem as classes analisadas, buscou-se, através do
estudo sobre substantivo e adjetivo, identificar quais foram os recursos dados por estudiosos
para tentarem mostrar quando se trata de um substantivo composto ou quando são meras
palavras (substantivo e adjetivo) colocadas uma ao lado da outra. Porém nenhuma forma de
argumentação foi suficiente para distinguir possibilidades de contextos em que elas se
encontram e, também, para tornar clara a diferença entre elas, devido a pouca abrangência de
cada explicação em relação a muitas probabilidades de se encontrarem “compostos” ou não.
CONCLUSÃO
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as classes, substantivos e adjetivos, assim como os usos possíveis de palavras dessas classes
em contextos, as informações coletadas foram organizadas e interpretadas, tendo como
objetivo discutir perspectivas diferentes ou semelhantes sobre o assunto em questão para
aclarar dúvidas que se encontram sobre o assunto.
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Constatou-se que, nos casos analisados, fica muito difícil definir quais critérios têm
primazia sobre os outros na classificação de palavras da língua. Uma dificuldade constante
vem do próprio significado de unidade lexical e das funções que ela pode desempenhar na
frase, razão pela qual é improvável se estabelecer classes com limites, como são obtidas a
partir de estudos distantes da realidade de uso da língua.
Admite-se, ainda, que há casos em que significado e função (critérios mais fluidos do
que forma e distribuição) são os que têm primazia; em outros, o critério utilizado tem por base
outros aspectos, o que leva a se constatar que as classes de palavras não podem ser pensadas
como compartimentos de fronteiras absolutamente rígidas, estanques, fechadas e
impermeáveis e com conteúdo imutavelmente estabelecido.
Pode-se observar a ‘fragilidade’ das definições apresentadas nas gramáticas
tradicionais, pois apresentam, na maioria das vezes, exemplos ‘convencionais’ da modalidade
escrita, não questionam e não discutem alguns usos, como os da modalidade oral, por
exemplo, em que não há tanta rigidez na utilização da língua. Encontram-se nelas, na maioria
das vezes, exemplos da literatura clássica e não retirados do uso cotidiano de um falante no
ato de comunicação.
Reflexões sobre casos como os citados por Biderman e Borba a respeito de serem os
exemplos dados palavras compostas (substantivos+adjetivos) ou não (=lexema), sintagmas
fixos ou apenas união de substantivos com adjetivos, além de outras observações sobre
procedimentos das classes nominais na língua portuguesa, são importantes para constatar
que, em alguns casos, não há possibilidade de se limitar o uso das palavras de uma língua
baseado em conceitos distantes do uso normal em atos de fala, nem de tomá-las como
pertencentes a classes definidas e imutáveis.
A reflexão feita na análise teve o fim especial de se fazer um estudo mais
aprofundado sobre a questão e, assim, poder contribuir com o aprimoramento de
conhecimentos na área de estudo, uma vez que se pretendeu abranger casos normalmente não
relacionados em gramáticas, material básico usado por professores, mas que fazem parte do
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uso da língua. Daí, foram observadas algumas inconsistências e impropriedades nos dados
encontrados sobre substantivos e adjetivos em gramáticas tradicionais. Outros estudiosos,
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fazem análises de usos de uma forma mais profunda e abrangente, embora ainda o resultado
não leve a dar uma resposta convincente à questão.
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REFERÊNCIAS
INFANTE, U. Curso de gramática aplicada aos textos. São Paulo: Scipione, 2001
MATTOSO CÂMARA Jr. Estrutura da língua portuguesa. 34ed. Petrópolis: Vozes, 2001
MOURA NEVES, M. H. A gramática – história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Editora
UNESP, 2002
Sobre os autores:
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Cybele Maria Martins: Mestrado em Letras, área de Linguística; Especialização em Letras e em Didática;
Graduação em Letras e em Pedagogia. Docente da Unicastelo - Descalvado
e-mail: cybmartins@ yahoo.com.br
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Cíntia Lidiane Pizetta: Graduação em Letras pela Unicastelo – Descalvado, 2009; Iniciação Científica na área
em 2009.
e-mail: cintiapfpizetta@hotmail.com