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SÃO PAULO
2007
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SÃO PAULO
2007
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Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos
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Prof. Dr. Antonio Rubens Portugal Mazzilli
Comentários:___________________________________________________________
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iv
Dedico esse trabalho aos meus pais Gilberto Berni e Milta dos Santos Berni
pelo apoio incondicional durante esses anos de vida.
A minha namorada Karina
pela paciência que teve nas horas que me prendi ao trabalho.
Aos meus grandes amigos Giva, Yee e Ronaldinho,
pelos momentos de descontração desde os tempos da Fatec.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos pela orientação e
paciência durante o desenvolvimento desse trabalho.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma revisão de métodos utilizados para revestimento das
margens de cursos d’água, enfocando as técnicas executivas, os materiais disponíveis,
suas utilizações e limitações. As proteções das margens estão classificadas em:
proteções diretas ou contínuas e proteções indiretas ou descontínuas. A escolha do tipo
de proteção que será utilizado num determinado projeto leva em consideração as
características do solo, a ação das correntezas e das ondas, facilidade de execução,
além do custo final da obra. O revestimento das margens torna-se uma escolha viável
quando se pretende manter um curso d’água estável e dentro dos limites estabelecidos
para sua utilização. O estudo de caso aborda a obra de ampliação e revestimento da
calha do Rio Tietê, no trecho da região metropolitana de São Paulo. Um exemplo de
obra onde não só o custo foi um dos fatores preponderantes, mas também a mão de
obra e os materiais utilizados foram decisivos na escolha do tipo de revestimento
utilizado.
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SÍMBOLOS
kVA Quilovolt-Amperes
km Quilometro
m Metro
cm Centímetro
mm Milímetro
m2 Metro quadrado
m3 Metro cúbico
pH Potencial Hidrogeniônico
xiii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS ..................................................................................................................3
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................3
2.2 Objetivo Específico ..................................................................................................... 3
3 METODOLOGIA DO TRABALHO ................................................................................. 4
4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 5
5 PROTEÇÃO DE MARGENS DE CURSOS D’ÁGUA .................................................... 6
5.1 Estabilização e Proteção das Margens ...................................................................... 6
5.1.1 Fatores que afetam a estabilidade das margens ..................................................... 7
5.1.2 Necessidade de proteção ........................................................................................ 9
5.1.3 Métodos de Proteção ............................................................................................ 10
5.2 Proteções diretas ou continuas ................................................................................ 11
5.2.1 Proteção com enrocamento .................................................................................. 13
5.2.2 Proteção com colchões ......................................................................................... 14
5.2.3 Mantas................................................................................................................... 19
5.2.4 Enrocamentos sintéticos ....................................................................................... 21
5.2.5 Gabiões caixa ........................................................................................................ 23
5.2.6 Painéis de concreto armado .................................................................................. 24
5.2.7 Cortinas atirantadas .............................................................................................. 24
5.3 Proteções Indiretas ou Descontínuas ....................................................................... 25
5.3.1 Espigões................................................................................................................ 25
5.3.2 Diques ................................................................................................................... 28
6 REVESTIMENTO DAS MARGENS DO RIO TIETÊ .................................................... 29
6.1 Identificação da Obra ............................................................................................... 29
6.2 Histórico ................................................................................................................... 31
6.3 Caracterização da Obra ........................................................................................... 33
6.3.1 Lote 1 .................................................................................................................... 34
6.3.2 Lote 2 .................................................................................................................... 35
6.3.3 Lote 3 .................................................................................................................... 36
xiv
Nos últimos anos, o homem de deparou com problemas complexos, devido ao aumento
das populações e da urbanização das cidades, que cada vez mais vem utilizando os
rios para múltiplas funções, como abastecimento d’água, geração de energia,
navegação, irrigação, etc.
Durante o passar dos anos, houve uma interferência direta nos cursos d’água para
suprir as necessidades da população, a construção de barragens, tomadas d’água,
retificação de rios, entre outros.
Além disso, o material que se deposita no fundo dos rios, favorece a ocorrência de
inundações nas áreas de várzea dos rios e causa problemas para navegação, devido a
eventual diminuição da lâmina d’água.
Devido a esses fatores, o estudo de soluções para esses problemas, se torna cada vez
mais importante devido ao impacto social causado, além do grande impacto ambiental
gerado.
Com isso, faz-se necessário nas áreas atingidas pelo problema, o controle e a
recuperação da situação original com a preservação da topografia e da mata ciliar. Isso
pode ser feito com a estabilização dos cursos d’água naturais para fixar o traçado do
rio, limitando as erosões e viabilizando as seguintes atividades (TAMASHIRO, 2004):
2
• Vias de navegação;
• Controle de cheias;
• Irrigação;
• Abastecimento;
Ainda segundo Tamashiro (2004), regiões protegidas com materiais naturais (gramas,
pastos, arbustos) ou artificiais (gabião, geomanta, blocos) limitam a ação destrutiva de
um processo erosivo de qualquer natureza e a proteção dos cursos d’água, em especial
as margens, poderá ser realizada, utilizando vários tipos de materiais e técnicas de
revestimento.
2 OBJETIVOS
Este trabalho tem o objetivo de discutir as técnicas mais utilizadas para proteção de
margens de cursos d’água e seus métodos construtivos.
Este trabalho tem como objetivo geral apresentar métodos para proteção das margens
de cursos d’água, utilizando conceitos de hidráulica e mecânica dos solos, enfocando
as técnicas construtivas e os materiais utilizados em função dos diferentes tipos de solo
encontrados nas margens.
O objetivo específico deste trabalho é apresentar a técnica utilizada para proteção das
margens na calha do rio Tietê, em São Paulo, onde foi utilizado um método conhecido
como gabião tipo colchão Reno1, num trecho de 24,5km, que se estende desde a
barragem da Penha até a barragem móvel do Cebolão.
1
Gabião tipo colchão Reno é marca registrada da Maccaferri do Brasil.
4
3 METODOLOGIA DO TRABALHO
Na primeira parte deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os
métodos de proteção de margens de cursos d’água, consultando livros, manuais
técnicos, sites e catálogos de empresas especializadas no assunto. A partir dessa
pesquisa foram escolhidas as principais técnicas de revestimento para formar a base
teórica deste trabalho.
Para a segunda parte deste trabalho, foram realizadas visitas à obra da calha do rio
Tietê, em São Paulo, para obtenção de material de apoio para a realização do estudo
de caso. Entrevistas aos profissionais que trabalharam na obra, relatórios fotográficos
do método adotado para revestimento da margem e memoriais descritivos, obtidos
durante as visitas, auxiliaram na produção deste trabalho.
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4 JUSTIFICATIVA
O revestimento das margens dos cursos d’água se faz necessário, cada vez mais
diante dessa situação, um projetista de obras fluviais deve considerar esses fatores,
analisando as técnicas disponíveis e escolhendo uma alternativa para revestimento
onde além de suas qualidades características apresente harmonia com a natureza em
tempos em que a preocupação com o meio ambiente se torna cada vez maior.
A margem pode ser considerada composta pela superfície de terreno em contato direto
com a água ou imediatamente acima, assim tem-se de cima para baixo: a berma, que
somente é atingida por cheias excepcionais e pode corresponder aos diques de
proteção contra inundações, o talude, entre o nível de estiagem mínima e o das
enchentes normais e o pé de margem, abaixo do nível de estiagem e permanentemente
submerso (ALFREDINI, 2005).
A proteção deve ser projetada com maior resistência até o nível das máximas
enchentes anuais, podendo ser convenientemente aliviado para as cotas mais altas até
a cota de máxima enchente e borda livre (ALFREDINI, 2005).
7
• intervenção direta, com obras no próprio curso de água, tais como: retificações,
barragens, etc;
• intervenção indireta, por ações na bacia hidrográfica que causem alteração no uso do
solo, tais como: urbanização, mudanças de cultura, desflorestamentos, etc.
2
Ângulo natural de equilíbrio é o maior ângulo de inclinação para um determinado tipo de solo exposto ao
tempo, obtido sem ruptura do equilíbrio do maciço.
9
A proteção dos cursos d’água e em especial das margens, pode ser feita com os mais
variados materiais e técnicas de revestimento, que são definidos em função das
características do solo, da ação das correntes e ondas e dos objetivos a serem
atingidos (MACCAFERRI, 2001).
• Taludamento das margens quando o revestimento não tem função estrutural, para
inclinações da ordem de 1V:2H até 1V:4H, garantindo a estabilidade em função das
características geotécnicas do material componente;
- Em geral o aterro não pode ser feito antes da total conclusão da estrutura.
13
A espessura do revestimento e as dimensões das pedras devem ser tais que resistam
ao movimento causado pela correnteza e evitem a erosão do solo da base (BRIGHETTI
e MARTINS, 2001).
14
São blocos de concreto (Figura 5.3) com ligação entre si, oferecendo grande
flexibilidade e resistência principalmente contra a ação de ondas (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001).
Podem também ser colchões montados com elementos articulados de madeira, unidos
por barras metálicas, posteriormente preenchidas com enrocamento, aumentando
assim a resistência do conjunto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
Os gabiões tipo colchão, são constituídos de caixa formada por tela metálica, revestida
ou não, e enchimento de pedra, tem a vantagem de exigirem espessura menor, pedras
de menores dimensões e menor consumo de material.
O colchão (Figura 5.4) é constituído por um pano único que formará a base, as paredes
laterais e os diafragmas. Outro painel de malha forma a tampa do colchão. Todos os
panos são em malha hexagonal de dupla torção produzida com arames metálicos
revestidos com liga de zinco / alumínio e adicionalmente revestidos por uma camada de
material plástico.
O pano que forma a base é dobrado, durante a produção, para formar os diafragmas,
um a cada metro, os quais dividem o colchão em células de aproximadamente dois
metros quadrados. Na obra é desdobrado e montado para que assuma a forma de
paralelepípedo. O seu interior é preenchido com pedras de diâmetros adequados em
função da dimensão da malha hexagonal (FCTH, 2002).
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A tela é produzida com arames de aço de baixo conteúdo de carbono, revestido com
uma liga de zinco (95%), alumínio (5%) e terras raras (revestimento Galfan), que
confere uma proteção contra a corrosão de pelo menos cinco vezes a oferecida pela
zincagem pesada tradicional (FCTH, 2002).
Para conferir adequada resistência e flexibilidade, as dimensões das aberturas da tela
são de aproximadamente 6 x 8cm, o diâmetro dos arames metálicos da rede é de
2,2mm (arame com revestimento) e 2,0mm(arame com revestimento e plastificado), e o
diâmetro dos arames das bordas é de 2,7mm e 2,4mm respectivamente (AVINO, 2004)
O talude deve ser estável, sendo previamente preparado e nivelado. Por isso, devem
ser extraídas as raízes, pedras e qualquer material que se sobressaiam, e preenchidas
eventuais depressões, até alcançar uma superfície regular (BARROS, 2005). Segundo
o mesmo autor, durante a montagem dos colchões, devem ser colocados tirantes
verticais que unirão a tampa à base dos mesmos, auxiliando no confinamento do
material de enchimento e minimizando a possibilidade de deformações durante a vida
de serviço do revestimento.
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Após a instalação inicia-se o enchimento dos colchões (Figura 5.6). As pedras devem
ser colocadas apropriadamente para reduzir ao máximo o índice de vazios, assim como
previsto em projeto (entre 25% e 35%). O tamanho das pedras deve ser mais
homogêneo e levemente superior às aberturas das malhas do colchão, a fim de
garantir, no mínimo, duas camadas de pedras, melhor acabamento e facilitar o
enchimento (BARROS, 2005).
Uma vez completado o preenchimento dos colchões as tampas devem ser puxadas e
amarradas ao longo das outras bordas. A amarração deve, sempre que possível, unir
também a borda do colchão vizinho. Finalizando, a tampa deve também ser amarrada
aos diafragmas e aos tirantes verticais (BARROS, 2005).
5.2.3 Mantas
Mantas são elementos contínuos, aplicados aos taludes dos canais com a finalidade de
aumentar a resistência. Geralmente são associadas à consolidação com vegetação,
predrisco asfáltico e solo-cimento (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
A manta Geoweb3 funciona como fôrma flexível para o concreto e como uma série de
placas com juntas de dilatação, é ideal para proteção de taludes expostos a condições
severas de erosão e canais com fluxo permanente (BIDIM, 2007).
3
Manta tipo Geoweb é marca registrada da Bidim.
21
5.2.4.1 Bolsacreto
Figura 5.10: Revestimento de Margem Côncava com Bolsacreto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001)
5.2.4.2 Solo-cimento
Figura 5.13: Contenção de Margem com Gabião Tipo Caixa (BRIGHETTI e MARTINS, 2001)
24
Apoiados sobre o terreno, essas placas são impermeáveis, devendo para tanto ser
previstos drenos horizontais para alívio das pressões de água (Figura 5.14) como
apontado por BRIGHETTI e MARTINS (2001).
Figura 5.15: Revestimento de Margem com Cortina Atirantada (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
25
5.3.1 Espigões
Os espigões podem ser classificados de acordo com a direção que formam com o
escoamento principal do curso d’água em: normais (normalmente utilizados nas curvas
ou em trechos flúvio marítimos sujeitos a correntes alternativas), inclinantes ou
divergentes e declinantes e convergentes (ALFREDINI, 2005).
Os espigões são construídos com diversos materiais, como por exemplo, madeira,
troncos e ramos de árvores (Figura 5.16 e 5.17), enrocamento, elementos pré-
fabricados de concreto e etc (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
27
Figura 5.17: Espigão de Proteção, com retenção de material flutuante, Rio Arkansas (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001).
28
5.3.2 Diques
As vantagens deste tipo de obra são: concluída a obra já definem o canal com fixação
da corrente na margem côncava, não obstrução ao escoamento e adaptação às
curvaturas do canal. As desvantagens deste tipo de obra são: por ser obra contínua tem
custo elevado de implantação e eventual correção de geometria, instabilidade dos
taludes pela ação do escoamento, que no caso de romperem pode trazer
conseqüências desastrosas, e lenta incorporação das margens artificiais à margem por
assoreamento (ALFREDINI, 2005).
29
Este estudo de caso trata da técnica utilizada para revestimento das margens da calha
do rio Tietê, e das obras de melhoria no seu leito.
O rio Tietê nasce em Salesópolis (Figura 6.1), na Serra do Mar, a 1.027 metros de
altitude. Apesar de estar a apenas 22 quilômetros do litoral, as escarpas da Serra do
Mar obrigam-no a caminhar sentido inverso, rumo ao interior, atravessando o estado de
São Paulo de sudeste a noroeste até desaguar no lago formado pela barragem de
Jupiá no rio Paraná, no município de Três Lagoas, cerca de 50 quilômetros a jusante da
cidade de Pereira Barreto
6.2 Histórico
A nascente do rio Tietê localiza-se na cidade de Salesópolis, mas o rio começa a ficar
poluído 15 km depois, na cidade de Mogi das Cruzes. Como a cidade de São Paulo fica
na cabeceira do rio, a vazão não é grande o suficiente para diluir os poluentes que
recebe. Seus grandes inimigos estão na região metropolitana, onde a maior parte dos
dejetos das indústrias e do esgoto produzidos nas casas é jogada no Tietê. Cerca de
134 toneladas de lixo inorgânico são despejados no rio diariamente. O crescimento
desordenado da metrópole leva a ocupação irregular de terrenos onde moradores
clandestinos vivem nas margens dos mananciais que alimentam o rio.
Como se não bastasse a poluição, o Rio Tietê também sofre com as inundações
provocadas por enchentes. O Rio Tietê sempre foi rio de meandros e, portanto para a
construção das avenidas marginais foi necessária uma retificação de seu curso natural
(Figura 6.3). Com essa retificação do rio, as avenidas marginais foram construídas
32
sobre a várzea do rio, locais que normalmente eram alagados em épocas de chuva
(WIKIPÉDIA, 2007).
Figura 6.3.: Obras de retificação no curso do rio Tietê – Década de 70 (DAEE, 2003)
Há tempos a cidade de São Paulo sofre com essas inundações provocadas pelo
transbordamento do Rio Tietê, que ocorre por ocasião das grandes chuvas, por não dar
vazão à grande quantidade de água que chega a sua calha. Esses eventos levam à
população grandes prejuízos materiais, paralisação do tráfego das marginais, refletindo
diretamente na vida econômica da cidade, além de por em risco a saúde pelas doenças
de veiculação hídrica.
33
As obras que iniciaram em abril de 2002 (chamadas de Fase II) removeram cerca de
6,8 milhões de m³ de solo e rochas, resultando num aprofundamento médio de 2,5
metros, e ampliação da largura do canal entre 41 e 46 metros.
O projeto, cuja extensão era de 24,5 km, foi realizado em quatro frentes de trabalho: da
foz do rio Pinheiros até 600 metros acima da ponte do Piqueri; deste ponto até a foz do
rio Tamanduateí; da foz do Tamanduateí até 350 metros abaixo da Ponte do Tatuapé,
próximo ao acesso à via Dutra e via Fernão Dias, e o último trecho até a Barragem da
Penha.
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6.3.1 Lote 1
Características: Seção transversal mista com 2 trapézios separados por uma berma de
transição de 3,0 m de largura. Trapézio inferior com 46 m de base e taludes de
1V:1,3H, protegidos por enrocamento, conforme citado no item 5.2.1. Trapézio superior
com 65 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e taludes 1V: 1,7H, protegidos em
gabião manta revestido com concreto projetado.
6.3.2 Lote 2
Trecho compreendido entre a Ponte do Piqueri (Figura 6.6) até a Foz do Tamanduateí,
com extensão de 6.400m.
6.3.3 Lote 3
Figura 6.7: Lote 3 - Ponte das Bandeiras e Ponte Cruzeiro do Sul (DAEE, 2003)
37
Características: Mista com 2 trapézios separados por uma berma de transição de 3,0 m
de largura. Trapézio inferior com 41 m de base e taludes de 1V:1,3H, protegidos por
enrocamento. Trapézio superior com 60 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e
taludes 1V: 1,7H, protegidos em gabião manta revestido com concreto projetado.
6.3.4 Lote 4
Trecho compreendido entre proximidades do acesso à Via Dutra e Fernão Dias e o eixo
da Barragem da Penha (figura 6.8), com extensão de 6.450,48m.
Características: Mista com 2 trapézios separados por uma berma de transição de 3,0 m
de largura. Trapézio inferior com 41 m de base e taludes de 1V:1,3H, protegidos por
trapézio superior com 60 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e taludes 1V: 1,7H,
protegidos em gabião manta revestido com concreto projetado.
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A manta geotêxtil tem a função de evitar o carreamento de finos através das pedras do
colchão de gabião nas ocasiões de cheias prevenindo a deformação do revestimento.
A vala de ancoragem é reaterrada com o próprio material que foi retirado na sua
escavação.
Os colchões de gabião são amarrados uns aos outros para formar a largura total do
talude (Figura 6.16 e Figura 6.17).
Os colchões são preenchidos com ajuda de uma escavadeira (Figura 6.18), que vira a
concha no topo do talude, com britas de diâmetro entre 70 e 100mm, o arraste e o
acerto das pedras é feito manualmente (Figura 6.19) de forma que fique o menor
número de vazios possíveis.
Após o acerto das pedras, é feito o fechamento com as tampas da mesma medida que
os colchões. As tampas são costuradas pelas laterais (Figura 6.20) e no centro é
amarrado por quatro tirantes que são deixados antes do preenchimento com brita.
Após o enchimento, acerto e costura das tampas deve ser feita uma viga de separação
(Figura 6.21) entre a berma superior e o talude, colocando uma forma de madeira com
largura de 20 cm de largura, que é preenchida com concreto magro afim de somente
evitar a passagem do solo para dentro das pedras prejudicando assim a característica
drenante do revestimento.
- Concreto projetado
O concreto projetado (Figura 6.22) que foi utilizado pela obra é usinado do tipo via seca
e tem um consumo de cimento de 400 kg/m3. A projeção é feita por bomba CP3 (projeta
3m3/h) onde a dosagem da água é feita pelo mangoteiro direto no bico de projeção. A
bomba é ligada a um compressor de ar de 360 psi e um gerador de 60 kVA. O concreto
é auto-adensado pela pressão de projeção que é em torno de 25 kg/cm2 a uma altura
de no mínimo 1 m (AVINO, 2004).
46
Também é feito um salgamento (Figura 6.24) com pedrisco ou pedra que visa diminuir
os vazios entre as pedras do colchão sem prejudicar o envolvimento da tela pelo
concreto projetado. Após o lançamento do pedrisco é feita a varrição para melhor
espalhamento do mesmo entre as pedras de enchimento (AVINO, 2004).
O emprego de gabiões tipo colchões Reno para revestimento de cursos d’água é uma
solução prática e cada vez mais empregada em função de suas vantagens.
Estruturas feitas com colchão Reno possuem muitas vantagens técnicas e econômicas
se comparadas a outros sistemas construtivos, tais como enrocamento (rip-rap) ou
concreto.
• Flexibilidade;
• Fácil manutenção;
• Durabilidade.
Tais obras podem ser executadas no seco ou em presença de água; podem ser
também, consolidadas e impermeabilizadas como mástique de betume hidráulico ou
argamassa de areia/cimento.
Em locais onde por limitação de espaço o escoamento da vazão de projeto tenha que
ser feito por um canal de seções reduzidas, tem-se adotado com grande sucesso o
revestimento com colchão Reno recoberto na superfície por uma camada de argamassa
de espessura bastante esbelta (3 cm). Essa solução garante, também, um revestimento
impermeável para canais de irrigação (ENGENHARIA, 2007).
Para a obra da calha do rio Tietê, o colchão de gabião tornou-se a opção mais viável
economicamente analisando a diferença de custo entre outras opções colocadas à
disposição pelo órgão responsável da obra. Segundo Avino (2004) se a opção fosse a
utilização de paredes diafragma (sem contar com as vigas de coroamento) o custo seria
de aproximadamente R$ 15.500,00 por metro linear de margem enquanto se fossem
realizados muros de flexão (considerando concreto, forma e aço) a partir da cota do
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nível d’água, esse custo, cairia para R$ 6.300,00 por metro linear aproximadamente.
Mesmo assim fica além do custo do revestimento em colchão de gabião
(desconsiderando a escavação do talude) que chegaria a R$ 1.781,00 em média.
Mas o uso do colchão Reno também tem algumas limitações (CORTES, 2004):
• A malha de arame das caixas pode eventualmente ser deteriorada se ficar sujeita
a fricção e/ou desgaste, assim como a pH4 extremos.
• A maior objeção ao seu uso tem sido por razões estéticas, a não ser que as
plantas se desenvolvam por entre as camadas dos gabiões, de modo a que
estes se enquadrem de forma natural.
4
Índice que indica o grau de acidez (ph<7), neutralidade (ph=7) ou alcalinidade (ph>7) de uma substância líquida.
50
A larga e extensa planície em que o leito do Tietê se espraiava até o final do século
passado, formando inúmeras curvas, foi radicalmente transformada pela ação do
homem. Primeiro, foi a exploração dos portos de areia e dos barreiros utilizados para a
produção de tijolos que, aos poucos, destruiu os meandros do rio e ampliou as áreas
sujeitas às enchentes causadas pelas fortes chuvas de verão. Com o tempo, o solo da
cidade foi progressivamente impermeabilizado pelas construções, agravando as
enchentes. Finalmente, o rio foi sendo retificado, perdendo cerca de 25 quilômetros de
seu traçado original (RIO TIETÊ, 2007).
Os impactos causados pelo homem ao rio Tietê vem de longo tempo, as obras de
rebaixamento da calha trouxeram benefícios à população e com eles uma série de
problemas ambientais.
Na realização dos estudos ambientais das obras de ampliação da calha do rio Tietê,
foram identificados 22 impactos sobre o meio físico, 9 sobre o meio biótico e outros 22
sobre o meio antrópico (NAGAHORI, 2002)
No meio biótico não é registrado nenhum impacto positivo ao longo de todas as fases
de implementação do empreendimento. Os impactos negativos sobre o meio biótico,
também não são muito significativos, dados os altos níveis de comprometimento da
fauna e da flora, já registrados nas áreas em que se desenvolve o empreendimento.
Mas não é apenas a calha do Tietê que sofre com esses impactos. A lagoa de
Carapicuíba foi usada para deposição de material retirado do rio Tietê, esse material a
princípio foi considerado inerte, mas após o início das obras foram feitas análises
detalhadas e constou a presença de metais pesados, que podem trazer enormes
problemas a população.
Outro problema ocorrido com o início das obras foi a captura das capivaras (Figura
6.25) que habitavam as margens do rio. Com o revestimento das margens do rio Tietê,
a vegetação que existia foi eliminada dando lugar aos taludes cobertos por colchão de
gabião revestidos com concreto projetado.
52
Nas últimas décadas, a destruição dessas formações vegetais, não apenas na RMSP,
mas ao longo de trecho do rio Tietê, provocou uma grande redução nas espécies de
animais que habitavam a região.
Uma equipe de pesquisadores contratada pelo DAEE capturou as capivaras que vivem
entre as vias expressas da marginal Tietê e as margens do rio. Depois de recolhidas, os
animais passam por um período de quarentena e são recolocados em criadouros ou em
outras áreas.
Também preocupado com a nova cara do Tietê, o governo do Estado, decidiu ampliar o
Projeto Pomar, que consiste na plantação de mudas ao longo da via Marginal,
revitalizando todo percurso que seria usado como pista para retirada do material do rio.
Isso foi possível com a construção de uma eclusa na altura do Cebolão, o que permite
transportar o material retirado pelo próprio leito do rio.
53
7 CONCLUSÃO
A nova calha do rio Tietê foi inaugurada no dia 19 de março de 2006, pelo Governador
Geraldo Alckmin. Considerada a maior obra de drenagem urbana do país, o seu leito foi
aprofundado em 2,5 metros, em média, alargando sua base de 20 para até 46 metros.
Com o fim das obras houve uma melhora substancial dos problemas que a região
metropolitana de São Paulo enfrentava com as enchentes. A partir dessa obra tem que
haver uma conscientização maior dos problemas que causam as inundações e manter
um constante trabalho de desassoreamento e limpeza do rio Tietê, fornecendo a
manutenção necessária para esse empreendimento não perder sua eficiência.
Segundo o Governador Alckmin, a obra cumpriu seus objetivos, que era de aumentar a
capacidade de escoamento da calha do rio para reduzir a ocorrência de inundações e
tornar possível a limpeza e desassoreamento da calha pelo próprio rio, deixando de
usar a malha viária (CONLICITAÇÃO, 2006).
Nesta obra foi utilizada uma manta geotêxtil sob os colchões de gabião, para evitar o
carreamento das partículas finas e prevenir a deformação do revestimento, essa é uma
escolha que normalmente em obras que não tem essa preocupação, a manta não é
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No decorrer das obras no rio Tietê, foram gerados alguns impactos negativos na região
do seu entorno. Um deles refere-se à ampliação da velocidade de escoamento e da
quantidade de água que alcançará as cidades a jusante da RMSP. Outro impacto dessa
obra refere-se ao revolvimento efetuado pelas escavações dos sedimentos do fundo do
rio, acumulados ao longo de anos, que contêm poluentes originados dos esgotos
urbanos e industriais, provocando a contaminação da água e do ar, ocasionando
sensível agravamento nas condições de saúde da população.
Mas não existem apenas impactos negativos nesta obra, as margens do rio Tietê
ganharam um projeto de recuperação ambiental e paisagístico, mudando a imagem do
rio que todos conheciam, com a implantação, por exemplo, do projeto Pomar em suas
margens.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALFREDINI, PAOLO. Obras e gestão de portos e costas. São Paulo. Edgard Blucher,
2005. 688p.