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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

RICARDO DOS SANTOS BERNI

USO DO GABIÃO PARA PROTEÇÃO DE MARGENS DE


CURSOS D’ÁGUA: O CASO DO RIO TIETÊ

SÃO PAULO
2007
ii

RICARDO DOS SANTOS BERNI

USO DO GABIÃO PARA PROTEÇÃO DE MARGENS DE


CURSOS D’ÁGUA: O CASO DO RIO TIETÊ

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial
para a obtenção do título de Graduação
do Curso de Engenharia Civil da
Universidade Anhembi Morumbi

Orientador: Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos

SÃO PAULO
2007
iii

RICARDO DOS SANTOS BERNI

USO DO GABIÃO PARA PROTEÇÃO DE MARGENS DE


CURSOS D’ÁGUA: O CASO DO RIO TIETÊ

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial
para a obtenção do título de Graduação
do Curso de Engenharia Civil da
Universidade Anhembi Morumbi

Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2007.

______________________________________________
Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos

____________________________________________
Prof. Dr. Antonio Rubens Portugal Mazzilli
Comentários:___________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
iv

Dedico esse trabalho aos meus pais Gilberto Berni e Milta dos Santos Berni
pelo apoio incondicional durante esses anos de vida.
A minha namorada Karina
pela paciência que teve nas horas que me prendi ao trabalho.
Aos meus grandes amigos Giva, Yee e Ronaldinho,
pelos momentos de descontração desde os tempos da Fatec.
v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos pela orientação e
paciência durante o desenvolvimento desse trabalho.

A Universidade Anhembi Morumbi pela infra-estrutura direcionada para a formação de


profissionais qualificados.
vi

RESUMO

Este trabalho apresenta uma revisão de métodos utilizados para revestimento das
margens de cursos d’água, enfocando as técnicas executivas, os materiais disponíveis,
suas utilizações e limitações. As proteções das margens estão classificadas em:
proteções diretas ou contínuas e proteções indiretas ou descontínuas. A escolha do tipo
de proteção que será utilizado num determinado projeto leva em consideração as
características do solo, a ação das correntezas e das ondas, facilidade de execução,
além do custo final da obra. O revestimento das margens torna-se uma escolha viável
quando se pretende manter um curso d’água estável e dentro dos limites estabelecidos
para sua utilização. O estudo de caso aborda a obra de ampliação e revestimento da
calha do Rio Tietê, no trecho da região metropolitana de São Paulo. Um exemplo de
obra onde não só o custo foi um dos fatores preponderantes, mas também a mão de
obra e os materiais utilizados foram decisivos na escolha do tipo de revestimento
utilizado.

Palavras Chave: Gabião; Rio Tietê; Proteção de Margens.


vii

ABSTRACT

This document presents a description of methods used for edges covering of


watercourses, focusing on executive techniques, the available materials and its uses
and limitations. The protections for the edges are classified in: direct or continuous
protection and indirect or discontinuous protection. The choice of the better type of
protection to be used in a project must consider the soil characteristics, action of the
water flows and the waves, easiness for executing, beyond of the final cost of the work.
The edges’ covering becomes an interesting choice when it intends to keep a stable
watercourse respecting the established limits for use. The case study refers the work of
enlarging and covering of Rio Tietê, in the metropolitan region of São Paulo. It is an
example of work, where the cost was not the only one factor considered in the project;
labor hand, type and conditions of the materials has also been analyzed during the
choice process of the type of covering to be used.

Key Words: Gabion; Tietê River; Edges Protection


viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 5.1: Proteção com Enrocamento Granítico. ........................................................ 14


Figura 5.2: Enrocamento Arrumado ............................................................................... 14
Figura 5.3: Colchões Articulados de Concreto. .............................................................. 15
Figura 5.4: Gabião Tipo Colchão Reno. ......................................................................... 17
Figura 5.5: Montagem dos Colchões no Talude. ............................................................ 18
Figura 5.6: Enchimento dos Colchões. ........................................................................... 18
Figura 5.7: Manta de proteção tipo GeoWeb. ................................................................ 20
Figura 5.8: Aplicação do GeoWEB com concreto. ......................................................... 20
Figura 5.9: Revestimento de Margem com Bolsacreto ................................................... 21
Figura 5.10: Revestimento de Margem Côncava com Bolsacreto.................................. 22
Figura 5.11: Revestimento feito de sacos de solo-cimento. ........................................... 22
Figura 5.12: Gabião Tipo Caixa...................................................................................... 23
Figura 5.13: Contenção de Margem com Gabião Tipo Caixa ........................................ 23
Figura 5.14: Painéis em Concreto Armado. ................................................................... 24
Figura 5.15: Revestimento de Margem com Cortina Atirantada. .................................... 24
Figura 5.16: Espigão de proteção da margem côncava. ................................................ 27
Figura 5.17: Espigão de Proteção, com retenção de material flutuante, Rio Arkansas . 27
Figura 6.1: Nascente do rio Tietê ................................................................................... 29
Figura 6.2: Calha do rio Tietê ......................................................................................... 30
Figura 6.3.: Obras de retificação no curso do rio Tietê – Década de 70 ........................ 32
Figura 6.4: Complexo do cebolão................................................................................... 34
Figura 6.5: Obras de construção da eclusa .................................................................... 34
Figura 6.6: Lote 2 - Ponte do Piqueri.............................................................................. 35
Figura 6.7: Lote 3 - Ponte das Bandeiras e Ponte Cruzeiro do Sul ................................ 36
Figura 6.8: Lote 4 – Barragem da Penha ....................................................................... 37
Figura 6.9: Detalhe do projeto da parte superior do talude ............................................ 38
Figura 6.11: Montagem dos colchões ............................................................................ 39
Figura 6.12: Gabião caixa para ancoragem ................................................................... 40
ix

Figura 6.13: Abertura de vala para ancoragem .............................................................. 40


Figura 6.14: Costura da manta geotêxtil ........................................................................ 41
Figura 6.15: Manta geotêxtil esticada sobre o talude ..................................................... 42
Figura 6.16: Colchões de gabião amarrados.................................................................. 42
Figura 6.17: Colchão de gabião posicionado sobre o talude .......................................... 43
Figura 6.18: Escavadeira carregando brita .................................................................... 43
Figura 6.19: Acerto manual das pedras no colchão ....................................................... 44
Figura 6.20: Costura das tampas ................................................................................... 44
Figura 6.21: Viga de separação ..................................................................................... 45
Figura 6.22: Projetando concreto no talude.................................................................... 46
Figura 6.23: Juntas de dilatação. ................................................................................... 46
Figura 6.24: Salgamento com pedrisco. ......................................................................... 47
Figura 6.25: Capivaras nas margens do rio.................................................................... 52
x

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 - Classificação das Proteções.......................................................................10


xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DAEE Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo

FCTH Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica

RMSP Região Metropolitana de São Paulo

SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo


xii

LISTA DE SÍMBOLOS

kVA Quilovolt-Amperes

kg/cm2 Quilograma por centímetro quadrado

kg/m3 Quilograma por metro cúbico

psi Libra por polegada quadrada

km Quilometro

m Metro

cm Centímetro

mm Milímetro

m2 Metro quadrado

m3 Metro cúbico

m3/h Metro cúbico por hora

pH Potencial Hidrogeniônico
xiii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS ..................................................................................................................3
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................3
2.2 Objetivo Específico ..................................................................................................... 3
3 METODOLOGIA DO TRABALHO ................................................................................. 4
4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 5
5 PROTEÇÃO DE MARGENS DE CURSOS D’ÁGUA .................................................... 6
5.1 Estabilização e Proteção das Margens ...................................................................... 6
5.1.1 Fatores que afetam a estabilidade das margens ..................................................... 7
5.1.2 Necessidade de proteção ........................................................................................ 9
5.1.3 Métodos de Proteção ............................................................................................ 10
5.2 Proteções diretas ou continuas ................................................................................ 11
5.2.1 Proteção com enrocamento .................................................................................. 13
5.2.2 Proteção com colchões ......................................................................................... 14
5.2.3 Mantas................................................................................................................... 19
5.2.4 Enrocamentos sintéticos ....................................................................................... 21
5.2.5 Gabiões caixa ........................................................................................................ 23
5.2.6 Painéis de concreto armado .................................................................................. 24
5.2.7 Cortinas atirantadas .............................................................................................. 24
5.3 Proteções Indiretas ou Descontínuas ....................................................................... 25
5.3.1 Espigões................................................................................................................ 25
5.3.2 Diques ................................................................................................................... 28
6 REVESTIMENTO DAS MARGENS DO RIO TIETÊ .................................................... 29
6.1 Identificação da Obra ............................................................................................... 29
6.2 Histórico ................................................................................................................... 31
6.3 Caracterização da Obra ........................................................................................... 33
6.3.1 Lote 1 .................................................................................................................... 34
6.3.2 Lote 2 .................................................................................................................... 35
6.3.3 Lote 3 .................................................................................................................... 36
xiv

6.3.4 Lote 4 .................................................................................................................... 37


6.4 Procedimento Executivo ........................................................................................... 38
6.5 Vantagens e Limitações do Uso de Colchão Reno .................................................. 47
6.6 Impactos Ambientais ................................................................................................ 50
7 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 55
1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o homem de deparou com problemas complexos, devido ao aumento
das populações e da urbanização das cidades, que cada vez mais vem utilizando os
rios para múltiplas funções, como abastecimento d’água, geração de energia,
navegação, irrigação, etc.

Durante o passar dos anos, houve uma interferência direta nos cursos d’água para
suprir as necessidades da população, a construção de barragens, tomadas d’água,
retificação de rios, entre outros.

Todas essas atividades interferem na estabilidade das margens e mudam o


comportamento dos rios. Essa mudança desencadeia processos erosivos no leito,
gerando perda da qualidade da água, aumentando os custos de tratamento da mesma
para a distribuição à população.

Além disso, o material que se deposita no fundo dos rios, favorece a ocorrência de
inundações nas áreas de várzea dos rios e causa problemas para navegação, devido a
eventual diminuição da lâmina d’água.

Devido a esses fatores, o estudo de soluções para esses problemas, se torna cada vez
mais importante devido ao impacto social causado, além do grande impacto ambiental
gerado.

Com isso, faz-se necessário nas áreas atingidas pelo problema, o controle e a
recuperação da situação original com a preservação da topografia e da mata ciliar. Isso
pode ser feito com a estabilização dos cursos d’água naturais para fixar o traçado do
rio, limitando as erosões e viabilizando as seguintes atividades (TAMASHIRO, 2004):
2

• Obras de drenagem urbana;

• Vias de navegação;

• Controle de cheias;

• Irrigação;

• Abastecimento;

• Adução à usinas hidrelétricas.

Ainda segundo Tamashiro (2004), regiões protegidas com materiais naturais (gramas,
pastos, arbustos) ou artificiais (gabião, geomanta, blocos) limitam a ação destrutiva de
um processo erosivo de qualquer natureza e a proteção dos cursos d’água, em especial
as margens, poderá ser realizada, utilizando vários tipos de materiais e técnicas de
revestimento.

Neste trabalho são apresentadas algumas técnicas para revestimento de margens de


cursos d’água, que estão classificadas em dois grupos: as proteções diretas ou
contínuas e as proteções indiretas ou descontínuas.

O uso do gabião é enfatizado no estudo da obra de ampliação e revestimento da calha


do rio Tietê, no trecho de São Paulo. Essa obra tem o objetivo de diminuir as enchentes
e transbordamentos que geralmente ocorrem nas épocas de chuva.
3

2 OBJETIVOS

Este trabalho tem o objetivo de discutir as técnicas mais utilizadas para proteção de
margens de cursos d’água e seus métodos construtivos.

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral apresentar métodos para proteção das margens
de cursos d’água, utilizando conceitos de hidráulica e mecânica dos solos, enfocando
as técnicas construtivas e os materiais utilizados em função dos diferentes tipos de solo
encontrados nas margens.

2.2 Objetivo Específico

O objetivo específico deste trabalho é apresentar a técnica utilizada para proteção das
margens na calha do rio Tietê, em São Paulo, onde foi utilizado um método conhecido
como gabião tipo colchão Reno1, num trecho de 24,5km, que se estende desde a
barragem da Penha até a barragem móvel do Cebolão.

1
Gabião tipo colchão Reno é marca registrada da Maccaferri do Brasil.
4

3 METODOLOGIA DO TRABALHO

Na primeira parte deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os
métodos de proteção de margens de cursos d’água, consultando livros, manuais
técnicos, sites e catálogos de empresas especializadas no assunto. A partir dessa
pesquisa foram escolhidas as principais técnicas de revestimento para formar a base
teórica deste trabalho.

Para a segunda parte deste trabalho, foram realizadas visitas à obra da calha do rio
Tietê, em São Paulo, para obtenção de material de apoio para a realização do estudo
de caso. Entrevistas aos profissionais que trabalharam na obra, relatórios fotográficos
do método adotado para revestimento da margem e memoriais descritivos, obtidos
durante as visitas, auxiliaram na produção deste trabalho.
5

4 JUSTIFICATIVA

A falta de planejamento sustentável em muitas regiões permitiu o avanço da


urbanização muito próximo às várzeas de rios, canais e córregos, desencadeando ou
agravando um problema muito comum em grandes cidades, a ocorrência de enchentes
e o processo erosivo das margens, quando ocorre chuvas fortes com grandes períodos
de retorno.

O processo erosivo das margens causa o fenômeno do assoreamento no leito dos


cursos d’água, diminuindo sua capacidade de vazão e conseqüentemente aumentando
a ocorrência de enchentes, gerando sérios problemas a saúde da população, como por
exemplo, o aumento de casos de leptospirose em épocas de enchentes.

As obras de canalizações e revestimento das margens de cursos d’água se torna


essencial nos grandes centros, onde a falta de saneamento e ocupação das áreas de
várzeas são cada vez mais freqüentes.

O revestimento das margens dos cursos d’água se faz necessário, cada vez mais
diante dessa situação, um projetista de obras fluviais deve considerar esses fatores,
analisando as técnicas disponíveis e escolhendo uma alternativa para revestimento
onde além de suas qualidades características apresente harmonia com a natureza em
tempos em que a preocupação com o meio ambiente se torna cada vez maior.

A partir deste trabalho é possível conhecer técnicas de proteção de margens de cursos


d’água, muito utilizada em obras fluviais, como o exemplo do revestimento da calha do
rio Tietê, em São Paulo, que foi executada com gabião tipo colchão Reno.
6

5 PROTEÇÃO DE MARGENS DE CURSOS D’ÁGUA

5.1 Estabilização e Proteção das Margens

O propósito fundamental da estabilização e proteção de margens de cursos d’água, sob


o ponto de vista hidráulico, é manter a seção do curso d’água estável e dentro dos
limites estabelecidos para sua utilização, seja como via de navegação (proteção de
portos, ancoradouros e acesso a eclusas), componente de um sistema de drenagem
(proteção de pistas de tráfego junto às margens, pontes, encontros e acessos),
aproveitamento hidrelétrico (proteção de tomadas d’água e estruturas de descarga) ou
abastecimento de água (proteção de propriedades às margens do curso d’água)
(BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

A ação das ondas e correntezas sobre as margens arrastam o material constituinte,


provocando erosão das margens através do próprio escoamento, vento, operação de
estruturas hidráulicas ou pelo movimento das embarcações (BRIGHETTI e MARTINS,
2001).

A margem pode ser considerada composta pela superfície de terreno em contato direto
com a água ou imediatamente acima, assim tem-se de cima para baixo: a berma, que
somente é atingida por cheias excepcionais e pode corresponder aos diques de
proteção contra inundações, o talude, entre o nível de estiagem mínima e o das
enchentes normais e o pé de margem, abaixo do nível de estiagem e permanentemente
submerso (ALFREDINI, 2005).

A proteção deve ser projetada com maior resistência até o nível das máximas
enchentes anuais, podendo ser convenientemente aliviado para as cotas mais altas até
a cota de máxima enchente e borda livre (ALFREDINI, 2005).
7

5.1.1 Fatores que afetam a estabilidade das margens

Como condição de estabilidade de um curso d’água entende-se o equilíbrio entre a


ação do escoamento sobre o leito do rio e a resistência ao movimento (erosão) dos
materiais (sedimentos) que o constituem. Este equilíbrio é atingido pela interação entre
o escoamento da água e sedimentos provenientes da bacia hidrográfica contribuinte,
considerando-se a evolução das seções, traçado e declividades dos cursos de água
(MACCAFERRI, 2001).

Este equilíbrio pode ser alterado naturalmente em função da ocorrência de grandes


cheias, ou em função da evolução contínua do traçado (o que provoca retificações
naturais no mesmo). De uma forma mais comum, a alteração no equilíbrio pode ocorrer
através de (MACCAFERRI, 2001):

• intervenção direta, com obras no próprio curso de água, tais como: retificações,
barragens, etc;

• intervenção indireta, por ações na bacia hidrográfica que causem alteração no uso do
solo, tais como: urbanização, mudanças de cultura, desflorestamentos, etc.

Essas causas são classificadas em ação fluvial (devido ao escoamento) e instabilidade


geotécnica (saturação e infiltração de água).

A ação das onda e correntezas é decorrente de (BRIGHETTI e MARTINS, 2001):

- Ação erosiva das correntes;


Se a força erosiva atuante for superior à força erosiva critica ou limite do material,
ocorrerá a erosão. Os recuos das margens ocorrem quando da erosão do pé do talude,
provocando o solapamento dos mesmos.
8

- Ação das ondas;


São erosões causadas pelo movimento das ondas contra as margens devido a
diferentes agentes como o vento, embarcações, movimento de comportas e estações
elevatórias.

- Irregularidades localizadas no escoamento;


Ocorre o solapamento da parte inferior das margens devido a presença de pilares de
pontes, afloramentos rochosos e extremidade de espigões.

A instabilidade geotécnica é devido à (BRIGHETTI e MARTINS, 2001):

-Diminuição do ângulo natural de equilíbrio;


A saturação do terreno tem por conseqüência uma redução do ângulo natural de
equilíbrio2 relativo ao material, diminuindo sua resistência.

- Rompimento generalizado da margem;


A descida ou subida rápida do nível d’água ou a elevação do lençol freático podem
provocar o escorregamento do talude da margem.

- Retro Erosão ou Piping;


Este fenômeno, causado pela existência de escoamento através de caminhos
preferenciais, em pontos fracos do terreno, permite que as partículas do talude sejam
transportadas pelo fluxo provocando assim a erosão progressiva retrógrada.

2
Ângulo natural de equilíbrio é o maior ângulo de inclinação para um determinado tipo de solo exposto ao
tempo, obtido sem ruptura do equilíbrio do maciço.
9

5.1.2 Necessidade de proteção

A necessidade da utilização de proteção para estabilização dos cursos d’água naturais


pode ser necessária para fixar o traçado do rio, limitar erosões, proteger estruturas
ribeirinhas (tais como: rodovias, ferrovias, instalações industriais, etc.), ou para a
estabilidade de canais artificiais, utilizados em obras de drenagem urbana, vias de
navegação, obras para o controle de cheias, irrigação, abastecimento, adução a usinas
hidrelétricas, etc (MACCAFERRI, 2001).

Segundo Alfredini (2005) os elementos fundamentais que constituem o revestimento de


margens são a fundação de apoio, que tem dupla função de sustentar o talude e
absorver as cargas transmitidas ao leito sem permitir o deslizamento da margem, e o
revestimento de proteção, que evita a ação erosiva dos agentes hidráulicos e impede o
fluxo excessivo do lençol freático.

A proteção dos cursos d’água e em especial das margens, pode ser feita com os mais
variados materiais e técnicas de revestimento, que são definidos em função das
características do solo, da ação das correntes e ondas e dos objetivos a serem
atingidos (MACCAFERRI, 2001).

A solução para os cursos de água canalizados consiste em definir um tipo de proteção


que mais se adapte às condições locais, não somente quanto à resistência a ação do
escoamento, mas também quanto à resistência às deformações do solo de base, que
atenda as condicionantes ambientais, rugosidade resultante, facilidade de execução,
além do custo final da obra (MACCAFERRI, 2001).

A inclinação das margens é definida após os critérios de estabilidade que levam em


conta aspectos como as características geotécnicas do solo, saturação do material,
esforços e carregamentos decorrentes de tráfego ou construções, efeitos sísmicos.
10

5.1.3 Métodos de Proteção

Os métodos de proteção usualmente empregados na proteção de margens de cursos


d’água são divididos em dois grupos: as proteções diretas ou contínuas e as proteções
indiretas ou descontínuas.

Tabela 5.1 - Classificação das Proteções


PROTEÇÃO

DIRETAS OU CONTÍNUAS INDIRETA OU DESCONTÍNUA

Apoiados ou executados diretamente no Obras construídas a certa distância da


MÉTODO

talude das margens, são as obras de margem para desviar as correntes e


adequação de um talude de sustentação provocar a decantação de material
mais reduzido, vários tipos de revestimentos sólido transportado pela água, sendo a
e redes de drenagem para redução das solução em casos nos qual o solo não
infiltrações. suporte intervenções.
PRINCÍPAIS

Redução de ângulo de talude,


OBRAS

revestimentos das margens com


pedregulhos, cascalhos, pedras britadas, Espigões e diques.
vegetação, revestimento asfáltico,
enrocamento com pedras lançadas,
gabiões, cortinas contínuas e muros.
Fonte: BRIGHETTI e MARTINS, (2001).

A escolha do tipo de contenção ideal é um processo criterioso e individualizado, em


função de diferentes fatores (BARROS, 2005):

• Físicos: altura da estrutura, espaço disponível para sua implantação, dificuldade de


acesso, sobrecargas etc.
11

• Geotécnicos: tipo de solo a conter, presença de lençol freático, capacidade de suporte


do solo de apoio etc.

• Econômicos: disponibilidade de materiais e de mão-de-obra qualificada para a


construção da estrutura, tempo de execução, clima local, custo final da estrutura etc.

Nos próximos capítulos são demonstrados os métodos de proteção incluídos em cada


categoria.

5.2 Proteções diretas ou continuas

As proteções diretas são aplicadas paralelamente à direção do fluxo, ficando em


contato direto com o material da margem propriamente dito.

Esse tipo de revestimento pode ser flexível, quando acompanham as deformações do


material base componente dos leitos, sem perder seu aspecto de integridade, ou
proteções rígidas quando não acompanham as deformações e perdem suas
características e sofrem deformações.

A característica básica dos revestimentos flexíveis é a de admitir deformações sem


perder suas características. Especial atenção deve ser dada para (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001):

• Taludamento das margens quando o revestimento não tem função estrutural, para
inclinações da ordem de 1V:2H até 1V:4H, garantindo a estabilidade em função das
características geotécnicas do material componente;

• Revestimento deve ser poroso e drenante de forma a permitir o alívio de pressões


oriundas do fluxo d’água através do maciço componente das margens;
12

• Uso obrigatório de filtros no contato entre o revestimento e o material original,


composto de material granular ou sintético, impedindo a perda de material tanto por
ação da velocidade como por retro erosão;

• Como a erosão no pé dos taludes de margens é a causa principal da instabilização,


atenção especial deve ser tomada quanto à proteção destes pontos, com o
prolongamento dos revestimentos para o interior do escoamento ou aplicação de
material de proteção do revestimento.

Os exemplos deste tipo são as proteções de enrocamento naturais e sintéticos,


colchões, revestimentos vegetais naturais ou consolidados, gabiões não revestidos,
elementos tipo sacos de areia, solocimento e argamassa arrumados (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001).

Na categoria de proteções rígidas enquadram-se os revestimentos em placas de


concreto pré-moldado e moldado in loco, os muros de concreto em gravidade e armado,
as paredes de alvenaria de pedra (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

As proteções rígidas são muito utilizadas, entretanto apresentam algumas limitações


técnicas e de aplicação que são (BARROS, 2005):

- Exigem bom terreno de fundação (não aceitam recalques ou assentamentos);

- Necessitam de um eficiente sistema de drenagem;

- Em geral o aterro não pode ser feito antes da total conclusão da estrutura.
13

5.2.1 Proteção com enrocamento

Os enrocamentos ou rip-raps consiste no simples revestimento de taludes com pedras


ou blocos artificiais, objetivando a formação de um maciço de pedras arrumadas ou
jogadas; ou blocos arrumados, destinados a proteger aterros, encostas, taludes,
margens de rios, dos efeitos da erosão (TEIXEIRA, 2006).

O enrocamento é um material granular de origem natural produzido em pedreiras e


desmonte natural de rochas como os seixos rolados.

A proteção com enrocamento lançado (Figura 5.1) é uma forma padrão de


revestimento desde que haja material disponível em dimensões e quantidade para
aplicação no projeto. (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

O enrocamento arrumado (Figura 5.2) apresenta economia de material, tanto de


proteção como filtro e tem a vantagem de resultar numa rugosidade final menor. Exige
melhor mão de obra e deve ser feito acima do nível d’água.

A espessura do revestimento e as dimensões das pedras devem ser tais que resistam
ao movimento causado pela correnteza e evitem a erosão do solo da base (BRIGHETTI
e MARTINS, 2001).
14

Figura 5.1: Proteção com Enrocamento Granítico (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

Figura 5.2: Enrocamento Arrumado (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

5.2.2 Proteção com colchões

Colchões são conjuntos de elementos de revestimento, articulados ou não, que


apresentam uma grande resistência à ação de ondas e correntes em função de seu
funcionamento em conjunto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
15

Compostos de materiais diversos apresentam facilidade executiva, excelente


acabamento e economia de material. Geralmente sua resistência é muito superior aos
esforços hidráulicos a que estão submetidos, devendo-se, entretanto especial atenção
à transição entre o material de base da margem e o elemento (BRIGHETTI e MARTINS,
2001).

5.2.2.1 Elementos articulados

São blocos de concreto (Figura 5.3) com ligação entre si, oferecendo grande
flexibilidade e resistência principalmente contra a ação de ondas (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001).

Figura 5.3: Colchões Articulados de Concreto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).


16

Podem também ser colchões montados com elementos articulados de madeira, unidos
por barras metálicas, posteriormente preenchidas com enrocamento, aumentando
assim a resistência do conjunto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

5.2.2.2 Colchões de gabião

Os colchões de gabião são os elementos de revestimento flexível mais empregado em


obras fluviais devido à suas vantagens técnicas (MACCAFERRI, 2001).

Os gabiões tipo colchão, são constituídos de caixa formada por tela metálica, revestida
ou não, e enchimento de pedra, tem a vantagem de exigirem espessura menor, pedras
de menores dimensões e menor consumo de material.

O colchão (Figura 5.4) é constituído por um pano único que formará a base, as paredes
laterais e os diafragmas. Outro painel de malha forma a tampa do colchão. Todos os
panos são em malha hexagonal de dupla torção produzida com arames metálicos
revestidos com liga de zinco / alumínio e adicionalmente revestidos por uma camada de
material plástico.

O pano que forma a base é dobrado, durante a produção, para formar os diafragmas,
um a cada metro, os quais dividem o colchão em células de aproximadamente dois
metros quadrados. Na obra é desdobrado e montado para que assuma a forma de
paralelepípedo. O seu interior é preenchido com pedras de diâmetros adequados em
função da dimensão da malha hexagonal (FCTH, 2002).
17

Figura 5.4: Gabião Tipo Colchão Reno (MACCAFERRI, 2001).

A tela é produzida com arames de aço de baixo conteúdo de carbono, revestido com
uma liga de zinco (95%), alumínio (5%) e terras raras (revestimento Galfan), que
confere uma proteção contra a corrosão de pelo menos cinco vezes a oferecida pela
zincagem pesada tradicional (FCTH, 2002).
Para conferir adequada resistência e flexibilidade, as dimensões das aberturas da tela
são de aproximadamente 6 x 8cm, o diâmetro dos arames metálicos da rede é de
2,2mm (arame com revestimento) e 2,0mm(arame com revestimento e plastificado), e o
diâmetro dos arames das bordas é de 2,7mm e 2,4mm respectivamente (AVINO, 2004)

Os colchões, já montados, são transportados até o lugar definido em projeto, (Figura


5.5) posicionado apropriadamente e costurados entre si, em todas as arestas em
contato (BARROS, 2005).

O talude deve ser estável, sendo previamente preparado e nivelado. Por isso, devem
ser extraídas as raízes, pedras e qualquer material que se sobressaiam, e preenchidas
eventuais depressões, até alcançar uma superfície regular (BARROS, 2005). Segundo
o mesmo autor, durante a montagem dos colchões, devem ser colocados tirantes
verticais que unirão a tampa à base dos mesmos, auxiliando no confinamento do
material de enchimento e minimizando a possibilidade de deformações durante a vida
de serviço do revestimento.
18

Figura 5.5: Montagem dos Colchões no Talude (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

Após a instalação inicia-se o enchimento dos colchões (Figura 5.6). As pedras devem
ser colocadas apropriadamente para reduzir ao máximo o índice de vazios, assim como
previsto em projeto (entre 25% e 35%). O tamanho das pedras deve ser mais
homogêneo e levemente superior às aberturas das malhas do colchão, a fim de
garantir, no mínimo, duas camadas de pedras, melhor acabamento e facilitar o
enchimento (BARROS, 2005).

Figura 5.6: Enchimento dos Colchões (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).


19

Uma vez completado o preenchimento dos colchões as tampas devem ser puxadas e
amarradas ao longo das outras bordas. A amarração deve, sempre que possível, unir
também a borda do colchão vizinho. Finalizando, a tampa deve também ser amarrada
aos diafragmas e aos tirantes verticais (BARROS, 2005).

5.2.3 Mantas

Mantas são elementos contínuos, aplicados aos taludes dos canais com a finalidade de
aumentar a resistência. Geralmente são associadas à consolidação com vegetação,
predrisco asfáltico e solo-cimento (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

5.2.3.1 Manta formada por geocélulas

Há mantas formadas de elementos losangulares de material geossintético que


aumentam a resistência do solo natural à ação do escoamento através do confinamento
de material de preenchimento (Figura 5.7 e Figura 5.8).

Segundo Teixeira (2006) as geocélulas, devido as suas características, são


normalmente empregadas como elemento de reforço de solos, constituindo um sistema
de confinamento celular tridimensional e flexível. As paredes das células são
constituídas por tiras de polietileno, com superfícies rugosas e unidas entre si por meio
de solda. As células podem ser preenchidas com solo, solo-cimento ou ainda concreto,
em função da aplicação.
20

Figura 5.7: Manta de proteção tipo GeoWeb (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

Figura 5.8: Aplicação do GeoWEB com concreto (BIDIM, 2007).

A manta Geoweb3 funciona como fôrma flexível para o concreto e como uma série de
placas com juntas de dilatação, é ideal para proteção de taludes expostos a condições
severas de erosão e canais com fluxo permanente (BIDIM, 2007).

3
Manta tipo Geoweb é marca registrada da Bidim.
21

5.2.4 Enrocamentos sintéticos

Enquadram-se nesta categoria de revestimento as proteções feitas de bolsas


preenchidas com materiais diversos, como areia, concreto, argamassa e solo-cimento.

5.2.4.1 Bolsacreto

É uma geoforma têxtil de vários tamanhos padronizados, confeccionada com tecido de


combinações poliméricas, com fios de alta tração, retorcidos e fibrilizados,
semipermeável para moldagem “in-loco” dentro ou fora d’água, com microconcreto
usinado, argamassa de cimento e areia ou solo-cimento injetável, sem necessidade de
ensecadeiras, de corta-rio ou de esgotamentos (Figuras 5.9 e 5.10). Destaca-se,
sobretudo, pelo dispositivo de microfiltragem unifluxo, que garante a drenagem do
excesso de água da massa de enchimento sem migração de colóides (nata de cimento)
e impede a entrada de água do exterior da fôrma para dentro, garantindo a qualidade
do concreto no que se refere à textura, estrutura, resistência à tração e resistência nos
ensaios de durabilidade. A resistência é obtida após a cura do concreto, sendo que o
material plástico se desfaz com o tempo (BOLSACRETO, 2007).

Figura 5.9: Revestimento de Margem com Bolsacreto (BOLSACRETO, 2007)


22

Figura 5.10: Revestimento de Margem Côncava com Bolsacreto (BRIGHETTI e MARTINS, 2001)

5.2.4.2 Solo-cimento

O solo-cimento é constituído da mistura íntima compactada de solo, cimento e água, em


proporções determinadas por ensaios prévios de laboratórios. Embora composto
predominantemente de solo-natureza, na ordem de 90% ou mais, e aí está o fator
economia, depois de tratado com cimento, esse solo adquire novas propriedades
perfeitamente identificadas através de características tecnológicas definidas pelos
ensaios (TEIXEIRA, 2006).

Os sacos de solo cimento são dispostos junto à margem de forma inclinada,


acompanhando o talude (Figura 5.11).

Figura 5.11: Revestimento feito de sacos de solo-cimento (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).


23

5.2.5 Gabiões caixa

O gabião tipo caixa é uma estrutura metálica, em forma de paralelepípedo, produzida a


partir de um único pano de malha hexagonal de dupla torção, que forma a base, a
tampa e as paredes frontal e traseira (Figura 5.12). A este pano base são unidos,
durante a fabricação, painéis que formarão as duas paredes das extremidades e os
diafragmas (MACCAFERRI, 2001).

Figura 5.12: Gabião Tipo Caixa (MACCAFERRI, 2001).

São muito empregados, na forma de muros, para a associação entre a resistência


hidráulica e a estabilidade geotécnica das margens (Figura 5.13).

Figura 5.13: Contenção de Margem com Gabião Tipo Caixa (BRIGHETTI e MARTINS, 2001)
24

5.2.6 Painéis de concreto armado

Apoiados sobre o terreno, essas placas são impermeáveis, devendo para tanto ser
previstos drenos horizontais para alívio das pressões de água (Figura 5.14) como
apontado por BRIGHETTI e MARTINS (2001).

Figura 5.14: Painéis em Concreto Armado (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

5.2.7 Cortinas atirantadas

Conforme (BRIGHETTI e MARTINS, 2001) são elementos estruturais para contenção,


geralmente de margens verticais, que funcionam também como revestimento (Figura
5.15).

Figura 5.15: Revestimento de Margem com Cortina Atirantada (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
25

5.3 Proteções Indiretas ou Descontínuas

Estas proteções destinam-se a afastar a corrente das margens a serem protegidas,


criando inclusive condições para a formação de depósitos de sedimentos que tendem a
aumentar a proteção com o tempo e reduzir a necessidade de manutenção
(BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

As obras de proteção descontínua da margem vêm a constituir margens artificiais,


alternado em planta e perfil localmente a corrente livre do curso d’água. O afastamento
da ação hidrodinâmica da margem é normalmente conseguido com a implantação de
espigões, que são obras transversais à margem e nela enraizados, ou diques, quando
paralela ao alinhamento do canal (ALFREDINI, 2005).

5.3.1 Espigões

São obras transversais que avançam desde a margem em direção ao eixo do


escoamento, até o limite adequado para exercer sua proteção, ou até a nova linha da
margem desejada (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

Os espigões, como obras de proteção descontínua podem ser classificadas em:

• Espigões isolados: para afastamento do escoamento da margem são indicados


somente em condições específicas, como a proteção de encontros de pontes,
proteção de talude de ensecadeiras, pois podem ser provocadas erosões na
margem oposta e escavação a jusante de sua extremidade. Na realidade é um
escarpamento artificial destinado a empurrar a corrente liquida para longe da
margem (ALFREDINI, 2005).
26

• Espigões de repulsão: impermeáveis são constituídos por um campo de espigões


que se protegem mutuamente, induzindo a presença de uma massa de água
estagnada entre a margem e a correnteza fluvial, desviando-a. O espaçamento dos
espigões normalmente é maior nos rios mais largos do que nos estreitos, adotando-
se espaçamentos referenciados ao comprimento do espigão. Os comprimentos dos
espigões de repulsão vão crescendo de montante para jusante, sendo que o
primeiro espigão de montante deve ser o menos possível e construído com cuidados
especiais para resistir a vidente ação da corrente. A desvantagem dessa forma de
proteção à quanto ao aspecto econômico, pois muitas vezes se torna mais cara de
que a proteção direta da margem (ALFREDINI, 2005).

• Espigões de sedimentação permeáveis: que permitem a percolação de água com


velocidade reduzida para favorecer a sedimentação do transporte sólido em
suspensão, implantados em série para favorecer ao depósito de sedimentos sobre a
margem visando protegê-las. São eficazes em rios com elevado transporte de
sólidos em suspensão. Visando reduzir o forte efeito de descolamento das correntes
nas extremidades, devem ser de comprimento reduzido e com sua crista declinando
da margem para o canal, vindo a ser prolongado à medida que a sedimentação da
margem se ampliar (ALFREDINI, 2005).

Os espigões podem ser classificados de acordo com a direção que formam com o
escoamento principal do curso d’água em: normais (normalmente utilizados nas curvas
ou em trechos flúvio marítimos sujeitos a correntes alternativas), inclinantes ou
divergentes e declinantes e convergentes (ALFREDINI, 2005).

Os espigões são construídos com diversos materiais, como por exemplo, madeira,
troncos e ramos de árvores (Figura 5.16 e 5.17), enrocamento, elementos pré-
fabricados de concreto e etc (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).
27

Figura 5.16: Espigão de proteção da margem côncava (BRIGHETTI e MARTINS, 2001).

Figura 5.17: Espigão de Proteção, com retenção de material flutuante, Rio Arkansas (BRIGHETTI e
MARTINS, 2001).
28

5.3.2 Diques

Os diques são obras de desenvolvimento longitudinal ao curso d’água, constituindo


proteções de margem quando aderentes a estas. Quando o alinhamento do dique
afasta-se da margem, constituindo margens artificiais, implantam-se muitas vezes
estruturas complementares de conexão (diques transversais) com o intuito de reforço e
facilidade construtiva (ALFREDINI, 2005).

As vantagens deste tipo de obra são: concluída a obra já definem o canal com fixação
da corrente na margem côncava, não obstrução ao escoamento e adaptação às
curvaturas do canal. As desvantagens deste tipo de obra são: por ser obra contínua tem
custo elevado de implantação e eventual correção de geometria, instabilidade dos
taludes pela ação do escoamento, que no caso de romperem pode trazer
conseqüências desastrosas, e lenta incorporação das margens artificiais à margem por
assoreamento (ALFREDINI, 2005).
29

6 REVESTIMENTO DAS MARGENS DO RIO TIETÊ

Este estudo de caso trata da técnica utilizada para revestimento das margens da calha
do rio Tietê, e das obras de melhoria no seu leito.

6.1 Identificação da Obra

O rio Tietê nasce em Salesópolis (Figura 6.1), na Serra do Mar, a 1.027 metros de
altitude. Apesar de estar a apenas 22 quilômetros do litoral, as escarpas da Serra do
Mar obrigam-no a caminhar sentido inverso, rumo ao interior, atravessando o estado de
São Paulo de sudeste a noroeste até desaguar no lago formado pela barragem de
Jupiá no rio Paraná, no município de Três Lagoas, cerca de 50 quilômetros a jusante da
cidade de Pereira Barreto

Figura 6.1: Nascente do rio Tietê (DAEE, 2003)


30

A obra de revestimento de suas margens localiza-se na região metropolitana de São


Paulo, margeado pela via expressa Marginal Tietê (Figura 6.2), abrangendo um trecho
de 24,5km, que se estende desde a barragem da Penha até a barragem móvel do
Cebolão.

Figura 6.2: Calha do rio Tietê (DAEE, 2003)

O revestimento da calha do rio Tietê faz parte de um projeto de melhoria no


escoamento de suas águas, para evitar o seu transbordamento e diminuir o transtorno
causado à população.
31

6.2 Histórico

A nascente do rio Tietê localiza-se na cidade de Salesópolis, mas o rio começa a ficar
poluído 15 km depois, na cidade de Mogi das Cruzes. Como a cidade de São Paulo fica
na cabeceira do rio, a vazão não é grande o suficiente para diluir os poluentes que
recebe. Seus grandes inimigos estão na região metropolitana, onde a maior parte dos
dejetos das indústrias e do esgoto produzidos nas casas é jogada no Tietê. Cerca de
134 toneladas de lixo inorgânico são despejados no rio diariamente. O crescimento
desordenado da metrópole leva a ocupação irregular de terrenos onde moradores
clandestinos vivem nas margens dos mananciais que alimentam o rio.

O processo de degradação do rio por poluição industrial e esgotos domésticos no


trecho da Grande São Paulo tem origem principalmente no processo de industrialização
ocorrido nas décadas de 1940 a 1970, acompanhado pelo aumento populacional
ocorrido no período, em que o município evoluiu de uma população de 2.000.000 de
habitantes na década de 1940 para mais de 6.000.000 na década de 1960 (WIKIPÉDIA,
2007).

Essa ocupação desorganizada da área de manancial e a poluição constante das


indústrias transformaram o Tietê num esgoto a céu aberto. A cada segundo, o rio Tietê
e seus afluentes recebem, só na região metropolitana de São Paulo, cerca de 35 mil
litros de esgoto, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp). Em 24 horas, a quantidade lançada chega ao total de 3 bilhões de
litros. Isso sem contar os dejetos que são lançados ao rio antes de ele chegar à capital
e o lixo diretamente atirado em suas águas, como pneus, móveis, etc.

Como se não bastasse a poluição, o Rio Tietê também sofre com as inundações
provocadas por enchentes. O Rio Tietê sempre foi rio de meandros e, portanto para a
construção das avenidas marginais foi necessária uma retificação de seu curso natural
(Figura 6.3). Com essa retificação do rio, as avenidas marginais foram construídas
32

sobre a várzea do rio, locais que normalmente eram alagados em épocas de chuva
(WIKIPÉDIA, 2007).

Figura 6.3.: Obras de retificação no curso do rio Tietê – Década de 70 (DAEE, 2003)

Além da ocupação das áreas de várzea, o crescimento desordenado da cidade também


fez com que o solo da bacia do Tietê na região da Grande São Paulo fosse sendo
impermeabilizado. Asfalto, telhados, passeios e pátios foram fazendo com que a água
das chuvas não mais penetrasse no solo que a reteria. Uma grande percentagem da
precipitação corre imediatamente para as galerias de águas pluviais e dali para os
córregos que finalmente as conduz para o Tietê que, por maior capacidade que tenha,
não tem condições de absorver o volume.

Há tempos a cidade de São Paulo sofre com essas inundações provocadas pelo
transbordamento do Rio Tietê, que ocorre por ocasião das grandes chuvas, por não dar
vazão à grande quantidade de água que chega a sua calha. Esses eventos levam à
população grandes prejuízos materiais, paralisação do tráfego das marginais, refletindo
diretamente na vida econômica da cidade, além de por em risco a saúde pelas doenças
de veiculação hídrica.
33

6.3 Caracterização da Obra

A ampliação e revestimento da calha do rio é uma obra que tende a diminuir


sensivelmente os efeitos das inundações que se tornaram rotina na cidade de São
Paulo, aumentando a sua vazão de 640 para 1048 m³ no Cebolão.

As obras que iniciaram em abril de 2002 (chamadas de Fase II) removeram cerca de
6,8 milhões de m³ de solo e rochas, resultando num aprofundamento médio de 2,5
metros, e ampliação da largura do canal entre 41 e 46 metros.

Os principais objetivos do projeto são:

• Melhorar condições de escoamento de desemboques (62 afluentes) e drenagem


de tubulações;
• Remover materiais não inertes (aprox. 370 mil m³);
• Maior segurança nas marginais - defensas de concreto, 63 baias e drenagem da
pista;
• Melhorias visuais – paisagismo;
• Facilitar desassoreamentos futuros;
• Revestimento das margens.

O projeto, cuja extensão era de 24,5 km, foi realizado em quatro frentes de trabalho: da
foz do rio Pinheiros até 600 metros acima da ponte do Piqueri; deste ponto até a foz do
rio Tamanduateí; da foz do Tamanduateí até 350 metros abaixo da Ponte do Tatuapé,
próximo ao acesso à via Dutra e via Fernão Dias, e o último trecho até a Barragem da
Penha.
34

6.3.1 Lote 1

Trecho compreendido entre o Cebolão e a Ponte do Piqueri, com extensão de 6.060,00


m. Abrange também a construção de uma eclusa e um descarregador de fundo junto à
barragem móvel (Figura 6.4 e Figura 6.5).

Figura 6.4: Complexo do cebolão (DAEE, 2003)

Figura 6.5: Obras de construção da eclusa (DAEE, 2003)


35

Características: Seção transversal mista com 2 trapézios separados por uma berma de
transição de 3,0 m de largura. Trapézio inferior com 46 m de base e taludes de
1V:1,3H, protegidos por enrocamento, conforme citado no item 5.2.1. Trapézio superior
com 65 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e taludes 1V: 1,7H, protegidos em
gabião manta revestido com concreto projetado.

6.3.2 Lote 2

Trecho compreendido entre a Ponte do Piqueri (Figura 6.6) até a Foz do Tamanduateí,
com extensão de 6.400m.

Figura 6.6: Lote 2 - Ponte do Piqueri (DAEE, 2003)


36

Características: Seção transversal trapezoidal, com largura da base de 46 m e taludes


marginais com inclinação de 1V:2H; mista com 2 trapézios separados por uma berma
de transição de 3,0 m de largura. Trapézio inferior com 46 m de base e taludes de
1V:1,3H, protegidos por enrocamento. Trapézio superior com 65 m de base (incluídas
as 2 bermas laterais) e taludes 1V: 1,7H, protegidos em gabião manta revestido com
concreto projetado.

6.3.3 Lote 3

Trecho compreendido entre a Foz do Tamanduateí e proximidades do acesso à Via


Dutra e Fernão Dias, com extensão de 5.660,00m (Figura 6.7).

Figura 6.7: Lote 3 - Ponte das Bandeiras e Ponte Cruzeiro do Sul (DAEE, 2003)
37

Características: Mista com 2 trapézios separados por uma berma de transição de 3,0 m
de largura. Trapézio inferior com 41 m de base e taludes de 1V:1,3H, protegidos por
enrocamento. Trapézio superior com 60 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e
taludes 1V: 1,7H, protegidos em gabião manta revestido com concreto projetado.

6.3.4 Lote 4

Trecho compreendido entre proximidades do acesso à Via Dutra e Fernão Dias e o eixo
da Barragem da Penha (figura 6.8), com extensão de 6.450,48m.

Figura 6.8: Lote 4 – Barragem da Penha (DAEE, 2003)

Características: Mista com 2 trapézios separados por uma berma de transição de 3,0 m
de largura. Trapézio inferior com 41 m de base e taludes de 1V:1,3H, protegidos por
trapézio superior com 60 m de base (incluídas as 2 bermas laterais) e taludes 1V: 1,7H,
protegidos em gabião manta revestido com concreto projetado.
38

6.4 Procedimento Executivo

O revestimento de todo trecho, que se estende desde a barragem da Penha até a


barragem móvel do Cebolão, foi executado com gabião tipo colchão reno, com
espessura de 0,17m, conforme citado no capitulo 5.2.2.2.

Após a locação da obra, procede-se aos serviços preliminares de implantação de


estrutura. Estes serviços são basicamente escavação/aterro, limpeza e regularização
da base do terreno. Os taludes devem ser regularizados, de maneira tal que se tenha
uma superfície plana para a implantação dos gabiões.

Conforme as dimensões do projeto (Figura 6.9 e 6.10) iniciam-se as execuções dos


serviços, por etapas que são descritas a seguir.

Figura 6.9: Detalhe do projeto da parte superior do talude (DAEE, 2003)


39

Figura 6.10: Detalhe de projeto do perfil do revestimento acabado (DAEE, 2003)

- Montagem dos colchões

A montagem dos colchões é feita próximo ao local de aplicação, conforme a


necessidade (Figura 6.11). A largura dos taludes varia conforme o trecho, por isso os
colchões devem ser amarrados formando a largura total do talude.

Figura 6.11: Montagem dos colchões (AVINO, 2004)


40

- Abertura da vala para ancoragem e colocação da caixa para ancoragem

Na vala de ancoragem é colocado um gabião caixa para amarração dos colchões


(Figura 6.12). A escavação é feita por retro-escavadeira com concha na largura do
gabião caixa (0,50m) e na profundidade de 1,00 m (Figura 6.13).

Figura 6.12: Gabião caixa para ancoragem

Figura 6.13: Abertura de vala para ancoragem


41

- Colocação da manta geotêxtil e reaterro da vala de ancoragem

A manta geotêxtil tem a função de evitar o carreamento de finos através das pedras do
colchão de gabião nas ocasiões de cheias prevenindo a deformação do revestimento.

A manta é costurada no comprimento da margem sendo as costuras sempre no sentido


transversal ao sentido do rio (Figura 6.14). Depois é lançada sobre o talude de forma
que fique esticada para aumentar o contato (atrito) do geotêxtil com o talude (Figura
6.15).

A vala de ancoragem é reaterrada com o próprio material que foi retirado na sua
escavação.

Figura 6.14: Costura da manta geotêxtil


42

Figura 6.15: Manta geotêxtil esticada sobre o talude

- Montagem dos colchões no talude

Os colchões de gabião são amarrados uns aos outros para formar a largura total do
talude (Figura 6.16 e Figura 6.17).

Figura 6.16: Colchões de gabião amarrados


43

Figura 6.17: Colchão de gabião posicionado sobre o talude

- Preenchimento dos colchões

Os colchões são preenchidos com ajuda de uma escavadeira (Figura 6.18), que vira a
concha no topo do talude, com britas de diâmetro entre 70 e 100mm, o arraste e o
acerto das pedras é feito manualmente (Figura 6.19) de forma que fique o menor
número de vazios possíveis.

Figura 6.18: Escavadeira carregando brita


44

Figura 6.19: Acerto manual das pedras no colchão

- Fechamento e costura das tampas

Após o acerto das pedras, é feito o fechamento com as tampas da mesma medida que
os colchões. As tampas são costuradas pelas laterais (Figura 6.20) e no centro é
amarrado por quatro tirantes que são deixados antes do preenchimento com brita.

Figura 6.20: Costura das tampas (AVINO, 2004)


45

- Execução de viga de separação

Após o enchimento, acerto e costura das tampas deve ser feita uma viga de separação
(Figura 6.21) entre a berma superior e o talude, colocando uma forma de madeira com
largura de 20 cm de largura, que é preenchida com concreto magro afim de somente
evitar a passagem do solo para dentro das pedras prejudicando assim a característica
drenante do revestimento.

Figura 6.21: Viga de separação (AVINO, 2004)

- Concreto projetado

O concreto projetado (Figura 6.22) que foi utilizado pela obra é usinado do tipo via seca
e tem um consumo de cimento de 400 kg/m3. A projeção é feita por bomba CP3 (projeta
3m3/h) onde a dosagem da água é feita pelo mangoteiro direto no bico de projeção. A
bomba é ligada a um compressor de ar de 360 psi e um gerador de 60 kVA. O concreto
é auto-adensado pela pressão de projeção que é em torno de 25 kg/cm2 a uma altura
de no mínimo 1 m (AVINO, 2004).
46

Figura 6.22: Projetando concreto no talude (AVINO, 2004).

Antes da concretagem são colocados sarrafos de 2 x 2 cm formando um quadrado de 4


m2 de área para induzir as trincas no concreto (Figura 6.23). A espessura do projetado
de 4cm é controlada através de pastilhas de concreto na mesma espessura espalhadas
sobre o talude (AVINO, 2004).

Figura 6.23: Juntas de dilatação (AVINO, 2004).


47

Também é feito um salgamento (Figura 6.24) com pedrisco ou pedra que visa diminuir
os vazios entre as pedras do colchão sem prejudicar o envolvimento da tela pelo
concreto projetado. Após o lançamento do pedrisco é feita a varrição para melhor
espalhamento do mesmo entre as pedras de enchimento (AVINO, 2004).

Figura 6.24: Salgamento com pedrisco (AVINO, 2004).

6.5 Vantagens e Limitações do Uso de Colchão Reno

O emprego de gabiões tipo colchões Reno para revestimento de cursos d’água é uma
solução prática e cada vez mais empregada em função de suas vantagens.

Estruturas feitas com colchão Reno possuem muitas vantagens técnicas e econômicas
se comparadas a outros sistemas construtivos, tais como enrocamento (rip-rap) ou
concreto.

Estas vantagens incluem (MACCAFERRI, 1976):


• Simplicidade de instalação e construção, até mesmo em locais de difícil acesso;
48

• Possibilidade de utilização de materiais locais para enchimento;

• Não exige mão de obra qualificada;

• Flexibilidade;

• Redução da espessura das camadas de filtração;

• Fácil manutenção;

• Durabilidade.

Tais obras podem ser executadas no seco ou em presença de água; podem ser
também, consolidadas e impermeabilizadas como mástique de betume hidráulico ou
argamassa de areia/cimento.

Em locais onde por limitação de espaço o escoamento da vazão de projeto tenha que
ser feito por um canal de seções reduzidas, tem-se adotado com grande sucesso o
revestimento com colchão Reno recoberto na superfície por uma camada de argamassa
de espessura bastante esbelta (3 cm). Essa solução garante, também, um revestimento
impermeável para canais de irrigação (ENGENHARIA, 2007).

Com isso se consegue a redução do coeficiente de rugosidade e pode-se trabalhar com


seções mais limitadas em termos de dimensões.

O revestimento de argamassa facilita também a auto-limpeza do canal e impede o


crescimento de vegetação. Possibilita também, quando necessário, um processo de
manutenção muito mais simples, podendo utilizar equipamentos mecânicos leves,
agilizando essas operações.

Para a obra da calha do rio Tietê, o colchão de gabião tornou-se a opção mais viável
economicamente analisando a diferença de custo entre outras opções colocadas à
disposição pelo órgão responsável da obra. Segundo Avino (2004) se a opção fosse a
utilização de paredes diafragma (sem contar com as vigas de coroamento) o custo seria
de aproximadamente R$ 15.500,00 por metro linear de margem enquanto se fossem
realizados muros de flexão (considerando concreto, forma e aço) a partir da cota do
49

nível d’água, esse custo, cairia para R$ 6.300,00 por metro linear aproximadamente.
Mesmo assim fica além do custo do revestimento em colchão de gabião
(desconsiderando a escavação do talude) que chegaria a R$ 1.781,00 em média.

Mas o uso do colchão Reno também tem algumas limitações (CORTES, 2004):
• A malha de arame das caixas pode eventualmente ser deteriorada se ficar sujeita
a fricção e/ou desgaste, assim como a pH4 extremos.

• São difíceis de reconstruir e freqüentemente o custo é muito elevado se tal é


necessário.

• A maior objeção ao seu uso tem sido por razões estéticas, a não ser que as
plantas se desenvolvam por entre as camadas dos gabiões, de modo a que
estes se enquadrem de forma natural.

• Não são apropriados em rios com grande capacidade de desgaste, pois


potenciais problemas de abrasão poderão ocorrer.

Todos os tipos de revestimentos têm as suas vantagens e desvantagens, cabe ao


engenheiro projetista, a tarefa de escolher entre as opções existentes. Em cada caso, é
necessário procurar os revestimentos que possuam as características requeridas de
impermeabilidade, resistência, flexibilidade, rugosidade, duração, baixo custo e entre
esses adotar que mais se adapte a obra.

4
Índice que indica o grau de acidez (ph<7), neutralidade (ph=7) ou alcalinidade (ph>7) de uma substância líquida.
50

6.6 Impactos Ambientais

A larga e extensa planície em que o leito do Tietê se espraiava até o final do século
passado, formando inúmeras curvas, foi radicalmente transformada pela ação do
homem. Primeiro, foi a exploração dos portos de areia e dos barreiros utilizados para a
produção de tijolos que, aos poucos, destruiu os meandros do rio e ampliou as áreas
sujeitas às enchentes causadas pelas fortes chuvas de verão. Com o tempo, o solo da
cidade foi progressivamente impermeabilizado pelas construções, agravando as
enchentes. Finalmente, o rio foi sendo retificado, perdendo cerca de 25 quilômetros de
seu traçado original (RIO TIETÊ, 2007).

Os impactos causados pelo homem ao rio Tietê vem de longo tempo, as obras de
rebaixamento da calha trouxeram benefícios à população e com eles uma série de
problemas ambientais.

Na realização dos estudos ambientais das obras de ampliação da calha do rio Tietê,
foram identificados 22 impactos sobre o meio físico, 9 sobre o meio biótico e outros 22
sobre o meio antrópico (NAGAHORI, 2002)

Os principais impactos positivos ocorreram na fase de operação do empreendimento, e


se referem à redução da ocorrência e da abrangência das inundações na região
metropolitana de São Paulo, eliminando os custos sociais e econômicos a que a região
vem sendo submetida sistematicamente.

Os impactos negativos de magnitude significativa são registrados no meio antrópico,


durante a fase de implantação das obras e se referem aos transtornos provocados
pelas obras no tráfego das marginais do rio Tietê.

Os impactos negativos sobre o meio físico, na fase de implantação do empreendimento


são muitos, porém de magnitude menos expressiva, e referente ao desenvolvimento
dos processos erosivos e de assoreamento do rio, incremento dos níveis de poluição, já
51

bastante elevados, da água e do ar, além da desestabilização de taludes que, afetando


as vias marginais pode assumir gravidade significativa.

No meio biótico não é registrado nenhum impacto positivo ao longo de todas as fases
de implementação do empreendimento. Os impactos negativos sobre o meio biótico,
também não são muito significativos, dados os altos níveis de comprometimento da
fauna e da flora, já registrados nas áreas em que se desenvolve o empreendimento.

Segundo o Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, a obra de Rebaixamento da


Calha do Tietê, está provocando impactos na região do Médio Tietê. Um dos impactos
refere-se a inundações decorrentes da ampliação da velocidade de escoamento e da
quantidade de água, que alcançará as cidades à jusante da RMSP. Outro impacto
dessa obra refere-se ao revolvimento efetuado pelas escavações dos sedimentos do
fundo do rio, acumulados ao longo de anos, que contêm poluentes originados dos
esgotos urbanos e industriais, provocando a contaminação da água e do ar,
ocasionando sensível agravamento nas condições de saúde da população.

Mas não é apenas a calha do Tietê que sofre com esses impactos. A lagoa de
Carapicuíba foi usada para deposição de material retirado do rio Tietê, esse material a
princípio foi considerado inerte, mas após o início das obras foram feitas análises
detalhadas e constou a presença de metais pesados, que podem trazer enormes
problemas a população.

Outro problema ocorrido com o início das obras foi a captura das capivaras (Figura
6.25) que habitavam as margens do rio. Com o revestimento das margens do rio Tietê,
a vegetação que existia foi eliminada dando lugar aos taludes cobertos por colchão de
gabião revestidos com concreto projetado.
52

Figura 6.25: Capivaras nas margens do rio (DAEE, 2003).

Nas últimas décadas, a destruição dessas formações vegetais, não apenas na RMSP,
mas ao longo de trecho do rio Tietê, provocou uma grande redução nas espécies de
animais que habitavam a região.

Segundo o Ibama os animais foram encaminhados para o Parque Ecológico do Tietê,


de onde começaram a migrar para o rio Tietê no início da década de 90.

Uma equipe de pesquisadores contratada pelo DAEE capturou as capivaras que vivem
entre as vias expressas da marginal Tietê e as margens do rio. Depois de recolhidas, os
animais passam por um período de quarentena e são recolocados em criadouros ou em
outras áreas.

Também preocupado com a nova cara do Tietê, o governo do Estado, decidiu ampliar o
Projeto Pomar, que consiste na plantação de mudas ao longo da via Marginal,
revitalizando todo percurso que seria usado como pista para retirada do material do rio.
Isso foi possível com a construção de uma eclusa na altura do Cebolão, o que permite
transportar o material retirado pelo próprio leito do rio.
53

7 CONCLUSÃO

O objetivo principal das obras de revestimento e aprofundamento da calha do rio Tietê


era minimizar os riscos das inundações provocadas pelas fortes chuvas, que ocorrem
com grandes períodos de retorno. No final das obras, em meados de 2005, a vazão no
Cebolão passou de 640 m³/s para 1048 m³/s.

A nova calha do rio Tietê foi inaugurada no dia 19 de março de 2006, pelo Governador
Geraldo Alckmin. Considerada a maior obra de drenagem urbana do país, o seu leito foi
aprofundado em 2,5 metros, em média, alargando sua base de 20 para até 46 metros.

Com o fim das obras houve uma melhora substancial dos problemas que a região
metropolitana de São Paulo enfrentava com as enchentes. A partir dessa obra tem que
haver uma conscientização maior dos problemas que causam as inundações e manter
um constante trabalho de desassoreamento e limpeza do rio Tietê, fornecendo a
manutenção necessária para esse empreendimento não perder sua eficiência.

Segundo o Governador Alckmin, a obra cumpriu seus objetivos, que era de aumentar a
capacidade de escoamento da calha do rio para reduzir a ocorrência de inundações e
tornar possível a limpeza e desassoreamento da calha pelo próprio rio, deixando de
usar a malha viária (CONLICITAÇÃO, 2006).

O uso de colchões de gabião foi uma solução eficiente, possibilitando a execução da


obra num tempo reduzido, com boa qualidade, sem a necessidade de mão de obra tão
especializada, utilizando mão de obra das próprias empreiteiras, o que diminuiu o custo
em relação aos outros tipos de revestimento, como citado no item 6.5.

Nesta obra foi utilizada uma manta geotêxtil sob os colchões de gabião, para evitar o
carreamento das partículas finas e prevenir a deformação do revestimento, essa é uma
escolha que normalmente em obras que não tem essa preocupação, a manta não é
54

utilizada e também não é executado o concreto projetado sobre os colchões, permitindo


uma integração entre o revestimento e o solo.

No decorrer das obras no rio Tietê, foram gerados alguns impactos negativos na região
do seu entorno. Um deles refere-se à ampliação da velocidade de escoamento e da
quantidade de água que alcançará as cidades a jusante da RMSP. Outro impacto dessa
obra refere-se ao revolvimento efetuado pelas escavações dos sedimentos do fundo do
rio, acumulados ao longo de anos, que contêm poluentes originados dos esgotos
urbanos e industriais, provocando a contaminação da água e do ar, ocasionando
sensível agravamento nas condições de saúde da população.

Mas não existem apenas impactos negativos nesta obra, as margens do rio Tietê
ganharam um projeto de recuperação ambiental e paisagístico, mudando a imagem do
rio que todos conheciam, com a implantação, por exemplo, do projeto Pomar em suas
margens.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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