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Inédito por sua amplitude e pela participação das mais diversas correntes ideológicas da
esquerda, o encontro reafirmou, na prática, a disposição das forças de esquerda, socialistas e
anti-imperialistas do sub-continente de compartilhar análises e balanços de suas experiências
e da situação mundial. Abrimos assim novos espaços para responder aos grandes objetivos
que se colocam hoje a nossos povos e a nossos ideais de esquerda, socialistas, democráticos,
populares e anti-imperialistas.
Constatamos que todas as organizações da esquerda concebemos que a sociedade justa, livre
e soberana e o socialismo só podem surgir e sustentar-se na vontade dos povos, ligados com
suas raízes históricas. Manifestamos, por isso, nossa vontade comum de renovar o
pensamento de esquerda e o socialismo, de reafirmar seu caráter emancipador, corrigir
concepções errôneas, superar toda expressão de burocratismo e toda ausência de uma
verdadeira democracia social e de massas. Para nós, a sociedade livre, soberana e justa à
que aspiramos e o socialismo não podem ser senão a mais autêntica das democracias e a
mais profunda das justiças para os povos. Rechaçamos, por isso mesmo, toda pretensão de
aproveitar a crise da Europa Oriental para incitar a restauração capitalista, anular os ganhos e
direitos sociais ou alimentar ilusões nas inexistentes bondades do liberalismo e o capitalismo.
A análise das políticas pró-imperialistas, neoliberais aplicadas pela maioria dos governos
latino-americanos seus trágicos resultados e a revisão da recente proposta de "integração
americana" formulada pelo Presidente Bush para processar as relações de dominação dos
EUA com América Latina e Caribe, nos reafirmam na convicção de que a nada positivo
chegamos por esse caminho.
Assim, estas propostas são alheias aos genuínos interesses de desenvolvimento econômico e
social de nossa região e vão combinadas com a restrição de nossas soberanias nacionais e
com o recorte e tutelagem de nossos direitos democráticos. Elas, na realidade, apontam
impedir uma integração autônoma de nossa América Latina dirigida a satisfazer suas mais
vitais necessidades.
Por isso, reafirmamos nossa solidariedade com a revolução socialista de Cuba, que defende
firmemente sua soberania e suas conquistas; com a revolução popular sandinista, que resiste
aos intentos de desmontar suas conquistas e reagrupa suas forças; com as forças
democráticas, populares e revolucionárias salvadorenhas, que impulsionam a desmilitarização
e a solução política à guerra; com o povo panamenho – invadido e ocupado pelo imperialismo
norte-americano, cuja imediata retirada exigimos – e com os povos andinos que enfrentam a
pressão militarista do imperialismo.
Mas também definimos aqui, em contraposição com a proposta de integração sob domínio
imperialista, as bases de um novo conceito de unidade e integração continental. Ela passa
pela reafirmação da soberania e auto-determinação da América Latina e de nossas nações,
pela plena recuperação de nossa identidade cultural e histórica e pelo impulso à solidariedade
internacionalista de nossos povos. Ela supõe defender o patrimônio latino-americano, pôr fim
à fuga e exportação de capitais do sub-continente, encarar conjunta e unitariamente o flagelo
da impagável dívida externa e a adoção de políticas econômicas em benefício das maiorias,
capazes de combater a situação de miséria em que vivem milhões de latino-americanos. Ela
exige, finalmente, um compromisso ativo com a vigência dos direitos humanos e com a
democracia e a soberania popular como valores estratégicos, colocando as forças de
esquerda, socialistas e progressistas frente ao desafio de renovar constantemente seu
pensamento e sua ação.
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