irracional, está em decadência. Surgem várias instituições exclusivas para mulheres, como que para deficientes, e leis. Por que há uma lei contra especificamente a agressão a mulheres se já existe uma contra a agressão a qualquer sujeito? Por que há uma Academia Feminina Espírito- Santense de Letras se poderia haver – caso já não a haja – uma só Academia Espírito-Santense que recebesse literatos sem os distinguir sexualmente? Parece-me tal distinção análoga à distinção feita quando se criam as Olimpíadas e também, aos inferiores, as Paraolimpíadas. Será que as senhoras da Academia Feminina julgam-se tão medíocres em relação aos homens de letras quanto não se permitam juntar-se-lhes? Ou são arrogantes o bastante para, equivocadas, gabarem-se do contrário? Talvez se reúnam em separado porque gostam de trocar receitas de bolo e técnicas de crochê. Está havendo exagero, a não ser quando o exagero volta-se a países como o Afeganistão, fundamentalistas ultra-atrasados, onde a comoção feminista ainda é muito necessária. Mas, no Brasil, o que as mulheres não podem fazer? Dos dois maiores pianistas brasileiros, uma é mulher, Guiomar Novaes, a qual foi a melhor entre os do mundo em sua época. Hoje a melhor do mundo ainda é uma mulher, Martha Argerich. Sem contar com as louvadas Mitsuko Uchida e Hélenè Grimaud. Já que estou na Arte, posso citar ainda Tarsila do Amaral, Cecília Meireles e Clarice Lispector: todas consagradas independentemente de serem mulheres. Qual é o problema ainda? Se mesmo na Arte, campo dominado pelos homens, tanto no que respeita à excelsitude quanto no que respeita ao número, as mulheres estão sendo devidamente reconhecidas, em que outra área não seriam? Certamente, não posso deixar de lembrar que alguns homens guardam preconceito intelectual pelas mulheres; contudo ser preconceituoso não apenas é natural como, nesse caso, o preconceito frequentemente encontra comprovação. Diz-se que há tendência de mulheres receberem salários menores que os dos homens. Isso é inegável, mas quem obrigaria um empregador a pagar igualmente para os dois sexos se ele julga que um vale mais que o outro? Ninguém o pode obrigar senão por meio de coerção, o que é antiético. Certo que há esposas que apanham. No entanto por que isso viria a calhar nesta discussão? Ora, como qualquer outro indivíduo, aquela que do cônjuge apanha deveria prestar queixa na polícia. Não o faz porque não quer. A queixa de que há homens que desvalorizam suas consortes, impedindo-as de trabalhar, obrigando- as a restringirem-se aos afazeres da casa ou simplesmente não as ajudando como deveriam é estúpida. Tal conduta por parte de certos homens é legitimada por suas mulheres mediante a submissão e a resignação delas. Elas a aceitam, e assim desvalorizam a si mesmas. Se se honrassem, exigiriam o divórcio. Que se responsabilize por suas más escolhas cada uma delas. Então inquiro: onde está o problema, minhas queridas fêmeas? Aqui bem encontraria seu termo este texto, porém me falta falar daquela espécie de mulher que, em protesto feminista, expõe os próprios seios. Um tal manifesto dizem elas defender, entre outros fitos, o direito de as mulheres agirem no trato para com seu corpo como sua vontade lhes ordenar, sem serem maldosamente julgadas. Por minha parte, digo que a que durante a vida conhece muitos homens não faz senão um bem a si e age de maneira sensata, uma vez que, na única vida que terá, sorve mil prazeres e assim mitiga o sofrimento da existência. Sempre enxerguei com os mesmos olhos essa atitude e nunca concordei com reputá- la imoral ou a condenar. No entanto, assim como em tempos de absolutismo aquele que era a favor da república era tido por radical, assim essas protestantes hoje em dia podem ser merecidamente chamadas de impudicas ou, qual diria o vulgo, de vadias. O objeto pelo que lutam é razoável, mas é também razoável pensar que esse tipo de protestante é sem pudor, pois que fazem coisas que os que se criaram nesta sociedade têm grande vergonha em fazer. Se elas foram criadas nesta sociedade e saem nuas pelas avenidas, ultrapassam em muito os limites do pudor que a sociedade embutiu-lhes, e portanto são vadias legítimas. Não obstante minha crítica, ofereço- vos o pênis, para servir de haste à bandeira do feminismo, a qual mostrastes ser vossos próprios seios e talvez até mesmo aqueles lábios que os tecidos – não os vossos – normalmente ocultam. Hastear-me-eis o pênis com vosso discurso férvido, oralmente perfeito, e terei prazer em estar convosco nessa luta, durante o tempo que for necessário ou até que o dulçor da juventude vos desvaneça.