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Grande mídia brasileira falha na cobertura da questão indígena

Pesquisa realizada na ECA (USP) com jornais de grande circulação


nacional aponta que 46,5% das reportagens envolvendo a questão indígena no
país não ouvem os índios.

Tadeu Breda, ano de 2004

"Na maioria das vezes, o índio só aparece na TV, no rádio e nos jornais
quando há conflito e problemas relacionados à terra"
O jornalismo, da forma como é feito pela grande imprensa brasileira, não
contribui para o diálogo intercultural entre índios e não-índios do País. A
pesquisa Diálogo Parcial - uma análise da cobertura da imprensa para a
questão indígena brasileira, do jornalista Maurício Pimentel Homem de
Bittencourt, além de mostrar que o tratamento da imprensa em relação à
questão é inadequado, apresenta propostas para melhorar as coberturas sobre
o assunto. O estudo foi apresentado na Escola de Comunicações e Artes da
USP.
Bittencourt pesquisou as reportagens sobre a questão indígena
publicadas nos quatro maiores jornais do país ("Folha de S. Paulo", "O Estado
de S. Paulo", "O Globo" e "Jornal do Brasil") de abril a junho de 2003. "O
resultado indica que em 46,5% das reportagens os jornalistas não ouviram o
índio", diz. "Isso vai contra um dos princípios básicos do jornalismo, que é
consultar os principais envolvidos na notícia."
Além do levantamento nos veículos de imprensa, Bittencourt fez quatro
visitas a aldeias indígenas nos municípios de Dourados e Tacuru, no Mato
Grosso do Sul, e no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Também entrevistou seis
"comunicadores interculturais" (profissionais que fazem a comunicação entre a
sociedade brasileira e as sociedades indígenas) sobre a cobertura do assunto
pela mídia. "Entre os entrevistados, o consenso foi de que, na maioria das
vezes, o índio só aparece na tevê, no rádio e nos jornais quando há conflito e
problemas relacionados à terra", diz o pesquisador. "Por isso, muitas
coberturas acabam sendo feitas de forma sensacionalista."
Bittencourt lembra que a falta de ética de alguns jornalistas e jornais e a
manipulação de interesses também foram aspectos citados pelos
entrevistados. "Por não conhecer de forma aprofundada a questão indígena no
Brasil, o jornalista acaba sendo manipulado, tanto por índios como por não-
índios", acrescenta.
Baseado nisso, o pesquisador traz sugestões para que os veículos de
comunicação melhorem a cobertura dos temas indígenas. "Para ser mais
eficiente na construção de um diálogo entre índios e não-índios, sugiro que o
jornalista pesquise a cultura da etnia e a história da região a ser abordada, e
também consulte algum especialista", explica. "Como em toda reportagem, o
jornalista precisa esquecer qualquer tipo de preconceito."
Bittencourt argumenta que a falta de sintonia entre a sociedade brasileira
e a indígena pode ser considerada um "mal-entendido cultural" - o que é,
segundo ele, extremamente prejudicial ao País. "Sem dialogar com os índios,
nós deixamos de ter acesso a um patrimônio cultural, social e natural
riquíssimo e único. Esse mal-entendido cultural pode ser desfeito. E a mídia,
como formadora de opinião, tem um grande papel nesse processo."
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Esta reportagem foi publicada no site ecolnews.com.br. Todas as informações
nela contida são de responsabilidade do autor.

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