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156 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

ROUBO – DUAS OU MAIS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA –


O AUMENTO DEVE SER ALÉM DO MÍNIMO DE 1/3. O aumento
de pena acima do limite mínimo de 1/3, no crime de roubo,
faz-se necessário quando houver causas de aumento concor-
rentes. (D.O.E., 12/06/2003, p. 31/32). cancelada na R.O.M. de
07/10/2004, conforme Aviso nº 581/2004-PGJ, publicado no D.O.E.
de 20/10/2004, p. 32. Tese-111

4.10 Roubo qualificado pela lesão corporal grave e


morte (§ 3º)

4.10.1 Roubo qualificado pelo resultado lesão corporal


grave (art. 157, § 3º, primeira parte, CP)
A pena será de reclusão, de 7 a 15 anos, e multa, se da
violência resultar lesão corporal grave.
Lesão corporal grave, segundo o art. 129, §§ 1o e 2o, do
Código Penal, é aquela de que resulta: incapacidade para as
ocupações habituais, por mais de 30 dias; perigo de vida; debili-
dade permanente de membro, sentido ou função; aceleração de
parto; incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade
incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
deformidade permanente; aborto.
Não há que se distinguir, para a caracterização do tipo
em estudo, lesão corporal grave de gravíssima. Aliás, o Código
Penal não faz essa distinção, que é meramente didática e dou-
trinária. Para a legislação, tanto é lesão corporal de natureza
grave aquela do § 1º quanto a do § 2º, do art. 129, CP.
Caberá ao Juiz, no instante da dosimetria da pena, consi-
derar as consequências do crime e avaliar se a lesão foi grave
ou gravíssima, aumentando a pena-base nessa última hipótese,
mais danosa.
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 157

Se a lesão for apenas leve, servirá para a tipificação da


conduta no art. 157, caput, do CP.
Destaque-se que a lesão grave deverá decorrer da violência
empregada. Não caracterizará o art. 157, § 3º, primeira parte, a
lesão decorrente de violência imprópria ou grave ameaça, res-
pondendo o agente, nesse caso, por roubo em concurso com
outro delito (doloso ou culposo).
Nada obstante, o resultado agravador poderá ser alcan-
çado dolosa ou culposamente (art. 19, CP). Entendemos que,
se a lesão grave era pretendida pelo agente ou ele efetivamente
assumiu o risco de produzi-la (dolo), sua culpabilidade será mais
acentuada do que se a tiver praticado culposamente, razão pela
qual isso deverá ser bem avaliado pelo julgador na fase do art.
59, CP, para uma correta individualização da pena.
A lesão grave deverá atingir outra pessoa, que não o pró-
prio agente ou seu comparsa. Poderá alcançar, assim, a vítima
patrimonial, uma pessoa que passava próxima, um vigia ou
segurança etc.
A consumação do delito se dá com a produção do resultado
lesão corporal grave, independentemente da subtração. É delito
que se aperfeiçoa com o resultado agravador, prescindindo, a
partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal, aliás, não exige
o êxito na subtração, prevendo a pena de 7 a 15 anos, e multa,
para a hipótese de resultar lesão corporal grave, silenciando em
relação ao patrimônio.

Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de


São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial
e extraordinário:
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ROUBO – CONSUMAÇÃO – LESÃO CORPORAL GRAVE CONSU-


MADA E SUBTRAÇÃO TENTADA. Considera-se consumado o
crime de roubo previsto no artigo 157, § 3º, primeira parte, do
Código Penal quando há lesão corporal grave, ainda que a subtração
tenha sido tentada. (D.O.E., 09/06/2010, p. 57). Tese-328.

4.10.2 Roubo qualificado pelo resultado morte –


latrocínio (art. 157, § 3º, parte final)
Se da violência resultar morte, a sanção será de reclusão,
de 20 a 30 anos, e multa. Como dito acima, o resultado agra-
vador deve decorrer da violência empregada, e não da grave
ameaça ou da violência imprópria, hipóteses em que poderá
existir concurso de delitos.
O termo latrocínio não é empregado pelo Código Penal,
mas é reconhecido legalmente, já que a Lei de Crimes Hediondos
(Lei n. 8.072/90) o emprega no art. 1º, II.
Frise-se, desde logo, que latrocínio é apenas a conduta
prevista no art. 157, § 3º, parte final do Código Penal (resultado
morte), não alcançando sua parte inicial, ou seja, o resultado
lesão corporal grave. É o que se extrai da Lei de Crimes Hedion-
dos, que diz: “Art. 1o. São considerados hediondos os seguintes
crimes, todos tipificados no Dec.-lei 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, consumados ou tentados: II - latrocínio
(art. 157, § 3º, in fine)”.
Como se vê, a própria legislação, no instante em que em-
pregou a expressão latrocínio, o fez com remessa à parte final
do § 3º do art. 157. A hediondez existirá mesmo em se tratando
de latrocínio tentado.
É latrocínio tanto a conduta de matar, para roubar, quanto
a de roubar e matar para assegurar a detenção da res ou a impu-
nidade do crime. O dolo do agente, voltado para a subtração,
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 159

definirá a tipificação. Se, então, tiver ele a intenção de matar


por outro motivo, que não o objetivo patrimonial, haverá
homicídio. Na hipótese em que o agente mata uma pessoa, por
exemplo, em razão de uma discussão e, aproveitando-se da
oportunidade, efetua uma subtração subsequente, terá cometido
homicídio em concurso material com furto. Aqui, como a morte
já ocorreu, a vítima da subtração será o sucessor do falecido.
Observe-se que não há patrimônio sem herdeiro. A transmis-
são da herança ocorre, pelo sistema brasileiro, no exato instante
da morte (art. 1.784, CC); e, em último caso, na falta de parente
sucessível, o patrimônio pertencerá ao Município, Distrito Federal
ou a União (art. 1.844, CC).
O resultado morte poderá ser atingido dolosa ou culpo-
samente (art. 19, CP), constituindo-se em delito preterdoloso
nessa última situação (dolo no antecedente, culpa no conse-
quente), que, então, não admitirá tentativa, pois ou a morte
ocorre e o latrocínio é tido por consumado, ou não ocorre e
haverá o roubo simples ou mesmo com resultado lesão grave.
Discute-se, contudo, acerca da possibilidade de tentativa
de latrocínio.
Se a subtração e a morte se consumam, não há dúvida, o
latrocínio estará consumado.
Se a subtração é tentada e a morte consumada, há latrocínio
consumado.
É que, mais uma vez, a consumação do delito se dá com a
produção do resultado morte, independentemente da subtração.
É delito que se aperfeiçoa com o resultado agravador, prescin-
dindo, a partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal não exige o
êxito na subtração, prevendo a pena de 20 a 30 anos, e multa,
para a hipótese de resultar morte, silenciando em relação ao
patrimônio.
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Nessa linha, a orientação do Supremo Tribunal Federal é


firme e sumulada:

Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio


se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens
da vítima.

Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de


São Paulo, em atendimento a essa orientação jurispru-
dencial, foi editada a seguinte tese de recursos especial
e extraordinário:

LATROCÍNIO – CONSUMAÇÃO – TENTATIVA DE SUBTRAÇÃO –


HOMICÍDIO CONSUMADO – SÚMULA 610 DO STF. “Há crime de
latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
o agente a subtração de bens da vítima”. (D.O.E., 30/04/2008, p.
59) - Tese-287.

As discussões se acendem quando a subtração é consumada


e a morte tentada ou quando ambas são tentadas.
De nossa parte, acreditamos que o delito de latrocínio,
quando o resultado morte é querido pelo agente ou quando
ele assume o risco de produzi-lo, agindo dolosamente, admi-
te a tentativa, mesmo que não reste qualquer lesão na vítima.
Imagine-se a hipótese em que o agente ingressa num estabele-
cimento bancário e, para efetuar a subtração, dispara a arma
de fogo contra o tórax da vítima, um vigilante, que só não vem
a falecer porque usava colete à prova de balas, resultando-lhe
apenas lesão leve (uma escoriação).
É inegável, na hipótese, que o autor do roubo atirou para
matar a vítima, mas não alcançou seu objeto por razões alheias
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 161

à sua vontade. Também é inequívoco que o seu dolo estava diri-


gido ao patrimônio, de forma que a morte pretendida estava
atrelada (nexo de causalidade) ao crime do art. 157, CP. Houve
aqui, portanto, latrocínio tentado.
É a linha do STJ, que diversas vezes já decidiu:

ROUBO (QUALIFICAÇÃO PELO RESULTADO). SUBTRAÇÃO –


CRIME-FIM (CONSUMAÇÃO). EVENTO MORTE – CRIME-MEIO
(TENTATIVA). DOLO (MATAR). LATROCÍNIO (TENTATIVA). 1.
Para o efeito da responsabilidade penal, é a existência do dolo
– vontade livre e consciente de praticar o fato – o demarcador
das hipóteses do § 3º do art. 157. Tratando-se de elemento sub-
jetivo tendente ao resultado morte, a tipicidade, evidentemente,
haverá de ser a tentativa de latrocínio. 2. No caso, as indicações
da sentença e do acórdão são no sentido de que o dolo era o de
matar, e não o de provocar lesão corporal, hipótese que se enquadra,
dúvida não há, na segunda porção do § 3º do art. 157 do Cód. Penal,
na forma tentada. 3. Precedentes do STJ. 4. Agravo regimental
ao qual se negou provimento. (STJ – AgRg no HC 54.852/RJ – Rel.
Min. Nilson Naves – 6ª Turma – data do julgamento 14/12/2006 –
data da publicação/fonte DJe 04/08/2008)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. LATROCÍNIO. MORTE TENTADA


E SUBTRAÇÃO CONSUMADA. LATROCÍNIO TENTADO. ARTIGO
157, PARÁGRAFO 3º, SEGUNDA PARTE, COMBINADO COM O
ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. RECURSO
PROVIDO. 1. Em tema de crime complexo, é de se afirmar a sua
forma tentada quando o crime-fim alcança a consumação, não
ultrapassando, contudo, o crime-meio os limites da tentativa,
precisamente porque no delito não se reúnem todos os elementos
da sua definição legal (Código Penal, artigo 14, inciso I). 2. In
casu, trata-se de crime de roubo próprio, cuja natureza complexa
é induvidosa e no qual, embora haja se consumado a subtração
patrimonial, o homicídio restou apenas tentado, impondo-se a
afirmação da tentativa do delito complexo, classificando-se o
fato-crime no artigo 157, parágrafo 3º, segunda parte, combinado
com o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal. 3. Recurso
provido. (STJ – REsp 313.545/GO – Rel. Min. Hamilton Carvalhido
– 6ª Turma – data do julgamento 28/10/2003 – data da publicação/
fonte DJ 15/12/2003, p. 412)
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RECURSO ESPECIAL. PENAL. ROUBO CONSUMADO SEM RE-


SULTADO MORTE. ANIMUS NECANDI RECONHECIDO, ESTRE-
ME DE DÚVIDAS, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. LESÕES
CORPORAIS LEVES. CONFIGURAÇÃO DO LATROCÍNIO TEN-
TADO. RECURSO PROVIDO. 1. As instâncias ordinárias, sobe-
ranas na análise da matéria fático-probatória, consignaram que
o Recorrido subtraiu, mediante concurso de agentes e grave
ameaça exercida com o emprego de armas de fogo, relevante
quantia pertencente a estabelecimento comercial. Após, “obje-
tivando a detenção da res furtiva e a impunidade do crime, ele e
seu comparsa, agindo com evidente animus necandi, efetuaram
disparos de armas de fogo contra os milicianos”. 2. O Tribunal a
quo reclassificou a conduta para o crime do art. 157, § 2º, incisos
I e II, do Código Penal, sob o fundamento de que o latrocínio na
forma tentada ocorre quando existe o evento letal sem afetação
patrimonial. 3. Para caracterizar o crime de tentativa de latro-
cínio, não é necessário aferir a gravidade das lesões experimen-
tadas pela vítima, bastando a comprovação de que, no decorrer
do roubo, o agente atentou contra a sua vida com o claro desíg-
nio de matá-la, assim como ocorreu na hipótese, não atingindo
o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade. 4.
Recurso provido. (STJ – REsp 1.026.237/SP – Rel. Min. Laurita
Vaz – 5ª Turma – data do julgamento 28/06/2011 – data da publi-
cação/fonte DJe 01/08/2011)

HABEAS CORPUS. PENAL. TENTATIVA DE LATROCÍNIO.


OCORRÊNCIA. POSSIBILIDADE. SUBTRAÇÃO CONSUMADA.
ANIMUS NECANDI CONFIGURADO. EVENTO MORTE QUE NÃO
SE CONSUMOU POR CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE
DO AGENTE. 1. Não obstante a existência de eventual posicio-
namento em sentido contrário, inclusive do Pretório Excelso,
a jurisprudência desta Corte tem entendimento pacificado no
sentido da possibilidade da ocorrência de latrocínio tentado
nas hipóteses em que, configurada a subtração e demonstrado
o animus necandi, o evento morte não se concretizou por cir-
cunstâncias alheias à vontade do agente. 2. Ordem denegada.
(STJ – HC 151.920/RJ – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – 6ª Turma –
data do julgamento 15/09/2011 – data da publicação/fonte DJe
21/11/2011)
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 163

Atenção: é esse também o entendimento no âmbito do


Ministério Público do Estado de São Paulo, que editou a
seguinte tese de recursos especial e extraordinário:

LATROCÍNIO – TENTATIVA – LESÃO CORPORAL LEVE – POS-


SIBILIDADE. Para configurar a tentativa de latrocínio é irrelevante
que a lesão corporal causada à vítima tenha sido de natureza
leve, bastando comprovado que o réu agiu com dolo de matar
para subtrair (D.O.E., 16/05/2007, p. 55). Tese-262.

Apesar disso, o Supremo Tribunal Federal tem caminhado


em sentido diverso:

EMENTAS: AÇÃO PENAL. CRIME. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA.


CONDENAÇÃO POR LATROCÍNIO TENTADO. SUBTRAÇÃO
CONSUMADA. NÃO CONSECUÇÃO DA MORTE COMO RESUL-
TADO DA VIOLÊNCIA PRATICADA, MAS APENAS DE LESÃO
CORPORAL GRAVE NUMA DAS VÍTIMAS. DOLO HOMICIDA
RECONHECIDO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSI-
BILIDADE DE REVISÃO DESSE JUÍZO FACTUAL EM SEDE DE
HABEAS CORPUS. TIPIFICAÇÃO CONSEQUENTE DO FATO COMO
HOMICÍDIO, NA FORMA TENTADA, EM CONCURSO MATERIAL
COM O CRIME DE ROUBO. SUBMISSÃO DO RÉU AO TRIBUNAL
DO JÚRI. LIMITAÇÃO, PORÉM, DE PENA EM CASO DE EVENTU-
AL CONDENAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO QUE PROÍBE A
REFORMATIO IN PEIUS. HC CONCEDIDO PARA ESSES FINS. 1. Se
é incontroverso ter o réu, em crime caracterizado por subtração da
coisa e violência contra a pessoa, com resultado de lesão corporal
grave, agido com animus necandi, então os fatos correspondem
ao tipo de homicídio na forma tentada, em concurso material
com o de roubo. 2. Reconhecida, em habeas corpus, a competência
do tribunal do júri para rejulgar réu condenado por latrocínio
tentado, mas desclassificado para tentativa de homicídio, não
pode eventual condenação impor-lhe pena maior que a já fixada
na sentença cassada. (STF – HC 91.585/RJ – Rel. Min. Cezar Peluso
– 2ª Turma – julgamento em 16/08/2008)
164 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PENAL. DOSIME-


TRIA DA PENA. ROUBO CONSUMADO E HOMICÍDIO TENTADO.
NULIDADE DA SENTENÇA NA PARTE QUE FIXOU A PENA. Não
há crime de latrocínio quando a subtração dos bens da vítima se
realiza, mas o homicídio não se consuma. Conduta que tipifica
roubo com resultado lesão corporal grave, devendo a pena ser
dosada com observância da primeira parte do § 3º do artigo 157
do Código Penal. A sentença e o acórdão que extrapolaram tais
parâmetros devem ser anulados apenas na parte em que fixaram
a pena. Habeas deferido em parte. (STF – HC 77.240/SP – Rel. Min.
Marco Aurélio – Rel. P. Acórdão Min. Nelson Jobim – 2ª Turma –
julgamento em 08/09/1998)

Note-se que, no primeiro julgado do STF transcrito acima,


considerou-se que, havendo dolo de matar, deveria o agente
ser responsabilizado por dois delitos em concurso material,
quais sejam, roubo e homicídio qualificado (art. 121, § 2o., V,
CP). Nesse caso, o STF estaria admitindo o latrocínio apenas na
hipótese em que a morte resultar de culpa do agente.
Já no segundo julgado transcrito, afastou-se a hipótese
de latrocínio tentado porque, resultando lesão corporal grave,
haveria incidência da primeira parte do § 3o do art. 157.
Com o devido respeito, entendemos equivocadas as
decisões.
É que, no primeiro caso, desconsiderou-se o preceito do
art. 19 do Código Penal, segundo o qual: “Pelo resultado que
agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente”.
Ora, o Código Penal faz incidir o resultado agravador a
quem o tenha causado ao menos culposamente. É lógico, então, que
esse mesmo resultado é imputado a quem o causou dolosamente.
O Direito Penal, outrossim, é sistematizado a partir da
apuração do dolo do agente, soando no mínimo estranho que
sua conduta seja cindida em dois tipos penais sem previsão de
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 165

que responda pelos dois delitos e quando há tipo penal próprio


prevendo a ação. Flávio Augusto Monteiro de Barros diz que
o “entendimento desconsidera o princípio da especialidade”10.
O segundo julgado também não parece acertado, pois
igualmente desconsidera o dolo do agente, voltado para a
morte da vítima. Não se está com isso fazendo letra morta da
primeira parte do § 3o. Ao contrário, está-se buscando aferir a
real vontade do agente, a teor do art. 18, I, CP. Se quis a morte,
aplica-se a parte final do dispositivo; se o objetivo era lesionar,
haverá incidência da primeira parte; se o resultado lesão gra-
ve foi alcançado apenas culposamente, também será aplicada
a parte inicial do § 3o, porque inadmissível a tentativa culposa.
Caso se admita, como nós, a possibilidade de latrocínio
tentado, pensamos que a diminuição máxima da pena (2/3, art.
14, parágrafo único, CP) deve ficar reservada para a hipótese
em que o agente não conseguiu consumar a subtração. Com
efeito, tutelando o delito bens jurídicos diversos, se um deles
foi lesionado de maneira consumada não se pode dizer que o
agente tenha ficado o mais distante possível da consumação
do crime, única situação que autorizaria a maior redução da
reprimenda. Logo, caso haja subtração consumada e morte
tentada, caberá ao julgador utilizar de frações intermediárias,
até chegar à menor diminuição possível se a morte tiver ficado
próxima.
Haverá o latrocínio mesmo que a morte seja de pessoa
estranha ao titular do patrimônio ofendido. Flávio Augusto Mon-
teiro de Barros sintetiza bem a questão:

O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial


quanto aquela que é morta, podendo esta última ser até mesmo
um policial ou terceiro. Com efeito, trata-se de crime pluriofensivo,

10 Op. cit., p. 374.


166 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam, o patrimônio e


a vida. Não há necessidade de que morra a vítima do patrimônio,
sendo suficiente, para a caracterização do delito, a morte de qual-
quer outra pessoa. Não se tipifica, porém, o delito na hipótese de
morte de coautor, salvo quando houver aberratio ictus (CP, art.
73). Com efeito, excepcionando-se a hipótese de aberratio ictus, a
morte de coautor ou partícipe não configura latrocínio, porque
nesse delito quem deve morrer é o sujeito passivo, e não o ativo.
Ademais, quando a morte ocorre em situação de legítima defesa,
como na hipótese de assaltante que é alvejado pela polícia, não
há falar em resultado criminoso. Também haverá latrocínio, em
função da aberratio ictus, na hipótese de morte de um terceiro,
durante troca de tiros entre policiais e assaltantes.11

Outra situação que gera intensa discussão é a ocorrência


de várias mortes, mas com um único patrimônio lesado. Não
há consenso se o fato se constitui crime único ou concurso de
delitos (formal ou continuidade delitiva).
O Superior Tribunal de Justiça já tomou posições diversas.
No sentido do concurso formal (inclusive impróprio, admi-
tindo a cumulação das penas):

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. CONCURSO FORMAL


IMPRÓPRIO. ARTIGO 70, 2ª PARTE, DO CÓDIGO PENAL. DESÍG-
NIOS AUTÔNOMOS. PACIENTE QUE, MEDIANTE UMA SÓ AÇÃO E
COM PROPÓSITOS DIVERSOS, PRATICOU DOIS CRIMES, ATIN-
GINDO DOIS RESULTADOS. PENAS CUMULATIVAMENTE APLI-
CADAS. ORDEM DENEGADA. Tipifica-se a conduta do agente que,
mediante uma só ação, dolosamente e com desígnios autônomos,
pratica dois ou mais crimes, obtendo dois ou mais resultados, no
art. 70, 2ª parte, do Código Penal – concurso formal impróprio,
aplicando-se as penas cumulativamente. No presente caso, o
paciente, no intuito de subtrair coisa móvel alheia para si, matou
uma vítima e feriu outra, gravemente. Precedentes do STJ. Ordem
denegada. (STJ – HC 134.775/PE – Rel. Min. Gilson Dipp – 5ª Turma
– data do julgamento 21/10/2010 – data da publicação/fonte DJe
08/11/2010)

11 Op. cit., p. 372.


FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 167

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. ROUBO QUALIFICADO PELO


RESULTADO MORTE. DUAS VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL
IMPRÓPRIO. 1. Na compreensão do Superior Tribunal de Justiça, no
caso de latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º, parte final, do Códi-
go Penal), uma única subtração patrimonial, com dois resultados
morte, caracteriza concurso formal impróprio (artigo 70, parte
final, do Código Penal). Precedente. 2. Ordem parcialmente conce-
dida. (STJ – HC 33.618/SP – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – 6ª
Turma – data do julgamento 31/05/2005 – data da publicação/
fonte DJ 06/02/2006, p. 333).

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. LATROCÍNIO. DUAS


VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. HEDIONDEZ.
PROGRESSÃO DE REGIME. DECLARAÇÃO DA INCONSTITUCIO-
NALIDADE DO ART. 2.º, § 1.º, DA LEI N.º 8.072/90, PELO PLE-
NÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AFASTAMENTO
DO ÓBICE LEGAL. 1. Na esteira da já consolidada jurisprudência
desta Corte Superior, no caso de latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º,
parte final, do Código Penal), uma única subtração patrimonial,
com dois resultados morte, caracteriza concurso formal impróprio
(artigo 70, parte final, do Código Penal). Precedentes. 2. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n.º 82.959/
SP, declarou inconstitucional o óbice contido na Lei n.º 8.072/90,
que veda a progressão de regime prisional aos condenados pela
prática dos crimes hediondos ou equiparados, tendo em vista os
princípios constitucionais da individualização, da isonomia e da
humanidade das penas. 3. Com a publicação da Lei n.º 11.464/07,
restou afastado do ordenamento jurídico pelo legislador ordinário
o regime integralmente fechado antes imposto aos condenados
por crimes hediondos, assegurando-lhes a progressividade do
regime prisional de cumprimento de pena. 4. Ordem parcialmente
concedida para reformar o acórdão proferido pelo Tribunal a quo
e a sentença condenatória na parte relativa à imposição do regi-
me integralmente fechado, competindo ao Juízo das execuções
criminais, atendidos os requisitos subjetivos e objetivos, decidir
sobre o deferimento do benefício da progressão de regime pri-
sional. (STJ – HC 56.961/PR – Rel. Min. Laurita Vaz – 5ª Turma
– data do julgamento 18/12/2007 – data da publicação/fonte DJ
07/02/2008, p. 1)
168 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

RECURSO ESPECIAL. PENAL. LATROCÍNIO. DUAS MORTES.


ÚNICA SUBTRAÇÃO PATRIMONIAL. CONCURSO FORMAL.
MAUS ANTECEDENTES. PROCESSOS PENAIS EM ANDAMENTO.
EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO
DE INOCÊNCIA. REINCIDÊNCIA. NECESSIDADE DE AGRAVAMEN-
TO. CRIME HEDIONDO. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. O
crime de latrocínio cometido contra duas ou mais vítimas, median-
te uma só ação, configura concurso formal e não crime único.
Precedentes. Em atenção ao princípio da presunção de inocência,
não se pode exasperar a pena-base quando existentes inquéritos e
processos em andamento. A reincidência é agravante. A sua descon-
sideração acarreta ofensa à lei federal e aos princípios da isonomia
e da individualização da reprimenda. Estando o latrocínio dentre
aqueles elencados pela Lei dos Crimes Hediondos, impõe-se o
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime prisional
integralmente fechado. Recurso parcialmente provido. (STJ –
REsp 729.772/RS – Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca – 5ª Turma
– data do julgamento 28/09/2005 – data da publicação/fonte DJ
07/11/2005, p. 369)

Apesar disso, o mesmo STJ já definiu a situação como


crime único, cabendo ao Juiz considerar o número de mortes
ou lesões na fase do art. 59 do CP, quando for dosar a pena-
-base. Nesse sentido:

PENAL. HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO COM RESULTADO


MORTE. DOSIMETRIA DA PENA. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME.
DUAS VÍTIMAS. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL. POSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Eventual cons-
trangimento ilegal na aplicação da pena, passível de ser sanado
por meio de habeas corpus, depende, necessariamente, da demons-
tração inequívoca de ofensa aos critérios legais que regem a
dosimetria da resposta penal, de ausência de fundamentação ou
de flagrante injustiça. 2. A morte de mais de uma pessoa com a
subtração de um só patrimônio, ao tempo que caracteriza o
latrocínio como crime único, autoriza a fixação da pena-base aci-
ma do mínimo legal, porquanto desfavoráveis as circunstâncias
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 169

judiciais do art. 59 do Código Penal (consequências do crime). 3.


Ordem denegada. (STJ – HC 91.231/RJ – Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima – 5ª Turma – data do julgamento 02/06/2009 – data da pu-
blicação/fonte DJe 03/08/2009)

HABEAS CORPUS – LATROCÍNIO – APENAS UM PATRIMÔNIO


ATINGIDO – LESÕES CORPORAIS CAUSADAS EM SEIS PESSOAS
DISTINTAS – OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO – INEXISTÊNCIA
DE CONCURSO FORMAL – ÚNICO BEM JURÍDICO AFETADO –
PATRIMÔNIO – MULTIPLICIDADE DE LESÕES QUE DEVEM SER
LEVADAS EM CONSIDERAÇÃO DURANTE A FIXAÇÃO DA PENA-
-BASE, POR TER A VER COM AS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
– TRIBUNAL A QUO QUE REFORMOU, ACERTADAMENTE, A
SENTENÇA CONDENATÓRIA PROLATADA CONTRA CORRÉU
EM IDÊNTICA SITUAÇÃO – MESMA TURMA JULGADORA QUE,
TODAVIA, DEIXOU DE FAZÊ-LO EM RELAÇÃO AO ORA PACIENTE
– FIXAÇÃO DA MESMA PENA IMPOSTA AO CORRÉU – IMPOS-
SIBILIDADE – INDIVIDUALIZAÇÃO – ORDEM PARCIALMENTE
CONCEDIDA. 1. O roubo qualificado pelo resultado morte (latro-
cínio) ou lesões corporais permanece único quando, apesar de
resultarem lesões corporais em várias pessoas, apenas um patri-
mônio seja ofendido. 2. Nessa hipótese, a pluralidade de lesões ou
mortes deve ser levada em conta durante a fixação da pena-base,
por consistir num maior gravame às consequências do delito,
mas não para configurar eventual concurso formal. 3. Se o Tribunal
de 2º Grau, em sede de apelação, reforma a sentença condenató-
ria do corréu para afastar, acertadamente, a regra do concurso
formal, também deveria tê-lo feito com relação ao ora paciente,
pois idênticas suas situações, notadamente levando-se em con-
sideração que os recursos foram apreciados pela mesma Turma
julgadora (Relator, Revisor e Vogal). 4. Impossível, na presente
via, reduzir a reprimenda do paciente para aquela aplicada ao
corréu, tendo em vista que suas penas-base não necessariamente
serão as mesmas, eis que o princípio da individualização obriga
a estrita observância dos critérios dispostos no artigo 59 do Códi-
go Penal, vários deles de caráter pessoal. 5. Ordem parcialmente
concedida, apenas para reconhecer a prática de crime único e de-
terminar ao Tribunal a quo que proceda à reestruturação da pena
do paciente com relação ao delito contra o patrimônio. (STJ – HC
86.005/SP – Rel. Min. Jane Silva, Des. Convocada do TJMG – 5ª
Turma – data do julgamento 28/11/2007 – data da publicação/
fonte DJ 17/12/2007, p. 257)
170 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

Pensamos que orientação jurisprudencial nesse sentido


serve para revelar o pouquíssimo valor que se dá à vida humana.
Não pode o agente, matando diversas pessoas mas subtraindo
apenas o patrimônio de uma delas, ser agraciado com um só
delito, com a singela apuração desse resultado do crime quando
da dosagem da pena.
Aqui, sim, como o dolo de subtrair foi voltado para um
só patrimônio, é o caso de se reconhecer o concurso de crimes
entre latrocínio e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, V, CP),
pois as demais vítimas tiveram sua vida atingida em razão de
outro objetivo, qual seja, assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem do latrocínio.
Caso sejam dois (ou mais) os patrimônios e vidas atingidas,
haverá concurso formal. Nessa linha:

HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. DOSIMETRIA. CRIME ÚNICO.


ALEGADA OCORRÊNCIA. DUPLICIDADE DE VÍTIMAS E DE
PATRIMÔNIOS. CONCURSO FORMAL CARACTERIZADO. INCI-
DÊNCIA DO ART. 70 DO CP ACERTADA. COAÇÃO ILEGAL NÃO
VERIFICADA. 1. Havendo o cometimento de dois delitos de
latrocínio – um consumado e outro tentado – perpetrados contra
vítimas diversas, mediante uma só ação (desdobrada em diver-
sos atos), e constatando-se que houve a subtração de mais de um
patrimônio, resta caracterizado o concurso formal de crimes, e
não crime único, ainda que as vítimas fossem marido e mulher.
3. O fato de serem as vítimas casadas civilmente não leva obri-
gatoriamente à conclusão de que os bens deles subtraídos num
mesmo contexto fático necessariamente constituíam um patri-
mônio comum indivisível, pois, mesmo no regime de comunhão
universal – em que há a comunicação de todos os bens presentes
e futuros dos cônjuges (art. 1.667 do CC) – há os que por lei são
considerados patrimônio exclusivo do cônjuge que o recebeu, os
denominados bens personalíssimos. 4. Ausente constrangimento
ilegal decorrente do reconhecimento, na espécie, do concurso
formal de crimes entre o latrocínio consumado e o latrocínio ten-
tado cometidos pelo paciente, não há como se conceder a ordem
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 171

mandamental. 5. Ordem denegada. (STJ – HC 122.061/RS – Rel.


Min. Laurita Vaz – Rel. P. Acórdão Min. Jorge Mussi – 5ª Turma
– data do julgamento 03/05/2011 – data da publicação/fonte DJe
18/05/2011)

Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de


São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial
e extraordinário:

LATROCÍNIO – MAIS DE UMA MORTE – CONCURSO FORMAL.


Se o agente, para roubar, comete duas ou mais mortes, pratica latro-
cínio em concurso formal. (D.O.E., 12/06/2003, p. 31) Tese 069.

Havendo concurso de pessoas, ainda que só um dos agentes


efetue o disparo ou dê o golpe fatal, todos responderão por latro-
cínio, mormente quando o delito ajustado pelos comparsas é
praticado com uso de arma, quando se sabe previamente que
o artefato será utilizado ou poderá ser empregado, inclusive,
para se atingir um resultado maior, decorrência lógica e umbili-
calmente ligada à ação a que todos aderiram. É a regra do art.
29, caput, CP. Nessa linha:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO. CONCURSO


DE PESSOAS. EMPREGO DE ARMA DE FOGO. LATROCÍNIO.
AÇÕES DISTINTAS. VÍTIMAS DIVERSAS. NEGATIVA DE AUTO-
RIA. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. CONSUNÇÃO.
EXAME APROFUNDADO DE PROVAS. ORDEM DENEGADA. Não
há que se falar na prática de apenas um delito de roubo, tendo
em vista que foram três as vítimas cujo patrimônio foi subtraído.
Ajustada a prática do roubo e a utilização de arma de fogo no
evento, de modo a se antever a possibilidade do uso do instru-
mento e a ocorrência da morte de vítimas, tem-se por previsto e
aceito o resultado pelo paciente, o que caracteriza sua responsa-
172 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR

bilidade pelo latrocínio praticado. O habeas corpus, marcado por


cognição sumária e rito célere, não comporta o exame da alegada
inocência do paciente bem como não serve de instrumento para
desclassificar o delito a ele imputado, que, para seu deslinde,
demanda aprofundado exame do conjunto fático-probatório dos
autos, posto que tal proceder é peculiar ao processo de conhe-
cimento. Writ DENEGADO. (STJ – HC 44.342/SP – Rel. Min. Paulo
Medina – 6ª Turma – data do julgamento 06/06/2006 – data da
publicação/fonte DJe 01/12/20080

HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO


DO DELITO PARA O CRIME DE FURTO. IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE REEXAME DO QUADRO FÁTICO-PROBATÓ-
RIO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. CRIME
HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. POSSIBILI-
DADE. 1. Conforme o entendimento desta Corte, “no roubo, mor-
mente praticado com arma de fogo, respondem, de regra, pelo
resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento
causal da ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamen-
te na execução da morte, contribuíram para a execução do tipo
fundamental (Precedentes). Se assumiram o risco, pelo evento,
respondem.” (HC n.º 35.895/DF, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de
04/10/2004). 2. Ademais, se o v. acórdão que julgou o recurso de
apelação fundamentou, de forma exaustiva, que o Paciente assumiu
o risco pelo evento, entender em sentido contrário importaria
revolvimento da matéria fático-probatória, procedimento, como
é sabido, vedado em sede de habeas corpus. Precedentes desta Corte.
(...) 5. Ordem denegada e, de ofício, concedida para afastar da conde-
nação do Paciente a imposição do regime integral fechado, fican-
do a aferição dos requisitos objetivos e subjetivos da progressão a
cargo do Juiz da Execução Penal. (STJ – HC 44.698/MS – Rel. Min.
Laurita Vaz – 5ª Turma – data do julgamento 14/06/2007 – data
da publicação/fonte DJ 06/08/2007, p. 545).

O afastamento da regra do art. 29, caput, CP, fica reservada


para hipótese de participação dolosamente distinta, prevista
no § 2o do mesmo dispositivo. O resultado agravador, contudo,
não pode ter sido pretendido nem aceito pelo agente.
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 173

Diga-se, por oportuno, que a participação do agente não


será de menor importância se, por exemplo, tiver segurado,
rendido, amarrado a vítima ou ajudado no roubo. Para ser tida
como de menor importância e fazer jus à redução do § 1o do art.
29, CP, a ação deve ter sido quase irrisória, dispensável, que se
não tivesse sido perpetrada também não impediria a realização
do delito.

Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de


São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial
e extraordinário:

LATROCÍNIO – CONCURSO DE AGENTES – PARTICIPAÇÃO


DOLOSAMENTE DISTINTA – INAPLICABILIDADE. O roubo com
morte é delito qualificado pelo resultado, sendo que este plus
pode ser imputado na forma de dolo ou de culpa. Respondem,
portanto, pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno
desdobramento causal da ação delituosa, todos que, mesmo não
agindo diretamente na execução da morte, contribuíram para a
execução do tipo fundamental. (D.O.E., 05/05/2004, p. 40) Tese 170.

4.11 Questões diversas

4.11.1 Roubo e concurso com outros crimes


Pode-se discutir sobre a espécie de concurso de crimes
a incidir na prática de roubo e outros delitos (extorsão, furto,
extorsão mediante sequestro etc.).
Embora diversos sejam os crimes contra o patrimônio, não
são eles da mesma espécie e nem são cometidos com a mesma
maneira de execução. Dessa forma, fica afastada a possibilida-

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