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O documentário se inicia com um relato de uma juventude em desarmonia com a

dinâmica social vigente nas páginas de um jornal, assim, o interlocutor evidencia a


problemática da falta de educação que aqueles jovens possuem, de forma retórica, ele
constrói sua crítica dizendo que os jovens não saberão escolher os governantes ou decidir
sobre seu próprio futuro. Ainda hoje as manchetes se fazem presente. O sistema educacional é
sucateado e não cumpre com seus preceitos básicos de educar e formar cidadãos conscientes
de seus direitos e deveres. As estatísticas apresentadas expõem a ineficiência de um modelo
educacional arcaico o obsoleto.

Apesar de todas as adversidades e problemas do sistema educativo, meio social e


propriedade doméstica, muitos estudantes enxergam a realidade como um desafio a ser
superado, esse é o caso de Valéria, residente na cidade de Manari, que compõe poemas e lê
escritores literários brasileiros de grande renome como Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira.
Nos trechos que se seguem o telespectador se confronta com a dura realidade de uma das
cidades mais pobres do país, em que é exposta a falta de estrutura escolar na qual os
estudantes estão submetidos; banheiros com vaso sanitário quebrado, falta de papel higiênico
e outros produtos de higiene. Além disso, em um dado momento percebe-se o descaso do
Estado com as regiões menos favorecidas do país, onde um entrevistado analisa a triste
situação orçamentária do colégio. É válido ressaltar, também, que nesse contexto social de
miséria os estudantes são vistos como entidades sem qualquer tipo de conhecimento, o que
não é verdade ora que o ambiente familiar é fonte de conhecimento informal e os indivíduos
possuem habilidades e talentos inatos. Diante de tantos problemas os educadores se sentem
desestimulados pelos alunos que vão para a escola com o objetivo de ficar namorando e os
alunos não assistem às aulas porque elas não são cativantes e/ou não tem o poder
transformador da realidade, assim, essa dialética fica em aberto, nada é feito a respeito e todo
mundo perde. É intrigante quando um aluno diz que possuem aulas de inglês, que é algo
totalmente fora da realidade daquele povo e sem aplicabilidade alguma na mudança de vida
deles. A educação precisa ser repensada como algo regionalizado e não geral, levando-se em
consideração todas as necessidades econômicas e sociais da população em questão. Ela deve
ter uma capacidade de humanizar o indivíduo para fazê-lo pensar sobre a dinamicidade da
própria realidade, além de ser um suporte e incentivar a mudança.

Em seguida somos levados a encarar a realidade em um colégio com condições


melhores que aquele do nordeste, mas muito longe de ser boa. Logo na apresentação da
instituição de ensino o interlocutor nos diz que existe uma boca de fumo a alguns metros do
colégio. Isso nos faz refletir que a escola é uma extensão do meio social e não algo isolado da
sociedade, logo, os problemas e conflitos sociais estão também ai presentes. Esse dilema se
constrói quando o estudante Douglas afirma que já teve contato com arma de fogo e drogas. A
criminalidade acaba fazendo parte do cotidiano escolar, de forma indireta ou direta, como é o
caso em outra escola, em que uma estudante afirma, sarcasticamente, ter assassinado outra a
sangue frio, ou quando vários rapazes, de 14 a 18 anos, afirmam que rotineiramente saem
para a rua para roubar simplesmente porque isso é mais interessante do que ficar no colégio.
Em se tratando de um colégio localizado em um bairro pobre e violento, a diretora da escola
nos expõe a dura realidade a qual aqueles jovens são expostos; “eles não tem nada a perder,
tem uma vida muito sofrida”. Apesar do contato e vivência em um ambiente com
criminalidade Douglas participa de projetos culturais de música. Aqui se nota o quanto é
importante algo distante do convencional método de ensino (quadro negro) para o
desenvolvimento pessoal dos jovens. Não é arriscado dizer que se não fossem os projetos
culturais muito mais jovens se aproximariam do crime. É negada a concepção inatista do
psiquismo humano, que infere que todo ser humano nasce com as aspirações, capacidades,
virtudes e comportamentos inatos. É evidente que o ambiente exerce influência
preponderante sobre a formação psíquica do Homem, pois este reage a todos os estímulos
ambientais e sociais de alguma forma, os encontros com o mundo produzem seu
conhecimento e seu comportamento. Não obstante esses projetos incentivam os estudantes a
fazerem algo novo e diferente do normal, além de contribuírem com o desenvolvimento
pessoal de cada um e dar a oportunidade de se conhecerem. Outro ponto é que esses
programas são, muitas vezes, mais acessíveis do que outros veículos de transmissão de cultura
como o cinema e o teatro, situação exposta na fala de uma professora do Colégio do Parque
Piratininga dois, que criou um projeto de fanzine. Uma observação pertinente é que a relação
entre professor e aluno pode ser conflituosa, podendo gerar problemas emocionais e
psicológicos para ambas as partes, além de prejudicar e denegrir o método educativo, fazendo
com que os alunos percam interesse em ir à escola e os professores faltem com frequência em
consequência da violência sofrida, seja psicológica, verbal ou até mesmo física.

Em um colégio elitista na cidade de São Paulo a educação se apresenta com caráter


conservador e autoritário, dessa forma, os estudantes são pressionados a adquirirem um
corpo de conhecimento generalizado que o colégio pressupõe que seja essencial para a
formação psicossocial de cada um, sem levar em consideração as aspirações e talentos
individuais. Mais uma vez a educação como reprodução na sociedade se faz presente já que o
colégio é uma extensão do meio familiar e social que os estudantes vivem. Ainda que a
qualidade do ensino seja muito superior em comparação com os colégios públicos alguns
problemas, principalmente relacionados ao meio familiar e à assistência social, são visíveis.
Thais era uma estudante que sofreu depressão por um tempo por causa das pressões
acadêmicas que sofria. Outra estudante enfrentava sérios problemas emocionais por se cobrar
demais no quesito estudo, deixando de lado a vida social e afetiva. Novamente, outra aluna
também tinha impasses familiares quando diz que o próprio pai não a conhece, pois se dedica
muito à sua própria carreira profissional, e receber carinho e afeto da mãe era algo muito raro
de se acontecer. Em contra partida, no nordeste com uma amiga de Valéria as coisas não são
diferentes, sendo que a garota também não tem a figura paterna presente. O mesmo acontece
em Itaquacetuba.

Diante de tudo o que é observado nas diferentes realidades de cada colégio, levando-
se em consideração todas as desigualdades sociais e econômicas, é possível verificar que a
formação da constituição humana se dá por uma interação ativa entre o indivíduo e o meio,
isto é, o indivíduo transforma e é transformado pelo meio em que vive. Não é possível separar
o meio o meio orgânico do social e também não é possível generalizar, propor e promover um
modelo de educação como sendo algo universal e estático, sem ponderar sobre as
particularidades socioculturais e econômicas de cada grupo.

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