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Pilares Cintados

Everaldo Bonaldo (1); Marcia Telesi (2); Luiz Roberto Sobreira de Agostini (3)

(1) Engenheiro Civil, Mestrando pelo Depto de Estruturas da Faculdade de Engenharia Civil, UNICAMP
email: bona@fec.unicamp.br

(2) Engenheira Civil, Mestranda pelo Depto de Estruturas da Faculdade de Engenharia Civil, UNICAMP
email: mtelesi@fec.unicamp.br

(3) Professor Doutor, Depto de Estruturas da Faculdade de Engenharia Civil, UNICAMP


email: agostini@fec.unicamp.br

DES-FEC-UNICAMP, Caixa Postal 6021, Campinas, SP-Brasil, CEP 13083-970

Resumo

Com o advento do concreto de alta resistência, tornou-se possível a construção de


estruturas mas leves, esbeltas e com melhor desempenho em termos de durabilidade.
Mas quando se consegue aumentar a resistência de um concreto, tem-se como
conseqüência imediata o aumento da sua fragilidade. Surgiu então uma nova
necessidade no projeto de estruturas de concreto armado, a de se desenvolver uma
técnica de armar as estruturas em concreto de alta resistência de modo que estas
venham a apresentar comportamento favorável quanto à segurança a estados limites
últimos, isto é, que sejam estruturas mais dúcteis. Para o caso de pilares, em concreto de
alta resistência, as taxas de armaduras de cintamento ou confinamento se tornaram o
foco de estudo para a maioria dos pesquisadores da área. Com o objetivo de contribuir
para o entendimento da arte de se executarem colunas cintadas, o presente trabalho
apresenta uma breve resenha histórica da técnica de se empregar armaduras de
confinamento em pilares de concreto armado. É apresentada uma análise de pilares
cintados segundo a norma alemã de 1932, a norma brasileira NBR-6118, e a teoria de
Lauro Modesto dos Santos.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 1


1. Introdução
O aumento da resistência do concreto, quando o mesmo é cintado, proporcionou a origem
da técnica de se executarem colunas cintadas. Como as colunas compostas por tubos
metálicos seriam de difícil execução de armaduras de espera para vinculação dos pilares
com as vigas, no caso das seções circulares, realiza-se o cintamento por barra enrolada
em hélice de pequeno passo ou por estribos cerrados. A experiência e análises
experimentais têm demonstrado que tais tipos de cintamento funcionam de modo
satisfatório (SANTOS, 1981).
As hélices ou estribos de cintamento não participam diretamente na resistência da tensão
de compressão a que a coluna ou pilar estão sujeitos, e sim, atuam no sentido de que
aumentam a resistência do núcleo de concreto cintado acima de sua resistência sem
cintamento, devido ao confinamento do núcleo.
Ao longo deste trabalho será mostrado a análise de pilares cintados segundo a Norma
Alemã de 1932 (MÖRSCH, 1948), a Norma Brasileira NBR-6118 (ABNT, 1978) e a teoria
de Lauro Modesto dos Santos (SANTOS, 1981).

2. Conceito de cintamento ou fretamento


O cintamento ou fretagem, é uma armação transversal que trabalha como cintura
impedindo a deformação transversal do concreto comprimido longitudinalmente (PFEIL,
1975).
Seja um cilindro de concreto totalmente envolto por um tubo metálico de paredes finas,
caso o cilindro seja carregado longitudinalmente por uma compressão uniforme p, este
estará sujeito a um encurtamento longitudinal, e devido ao efeito de Poisson, a um
alongamento transversal que será parcialmente impedido pelo tubo de aço. Devido à
reação do tubo, o concreto contido pelo tubo metálico estará sujeito a um estado triplo de
tensão, e a pressão p poderá ter valor acima da resistência fcc do concreto
(SANTOS,1981).
Tem-se então, que o cintamento do concreto é uma forma de se elevar sua resistência à
compressão, possibilitando o emprego de seções menores de elementos submetidos
predominantemente à compressão.
De acordo com PFEIL (1975), a armação de fretagem tem grande eficiência na resistência
à ruptura da peça. O mesmo não é verificado entretanto para as cargas de trabalho,
porque o cintamento só entra em carga após o escoamento da armadura longitudinal e a
destruição do concreto do revestimento.

3. Inconvenientes no uso de pilares cintados


Como inconvenientes no uso de pilares cintados pode ser citado:
a) o aumento significativo na quantidade de aço e mão de obra para execução, tornam-se
soluções antieconômicas;
b) o cintamento praticamente não contribui para a segurança ao estado limite último de
instabilidade, motivo pelo qual os pilares cintados devem ser curtos;
c) a eficiência do cintamento fica comprometida com a excentricidade da força de
compressão, podendo-se desaparecer o ganho de resistência do concreto quando for
atingido certo valor de excentricidade, mesmo no caso de pilares curtos;
d) caso a coluna esteja sujeita a elevadas temperaturas provocadas por incêndios, que
venham a danificar o efeito de cintamento, passam a ficar expostas a risco maior que no
caso de pilares simples.
Devido a todos estes motivos, o uso de pilares com armadura de cintamento é restrito. É
creditado também às razões anteriores expostas, o fato de normas como CEB refutarem o
seu uso e/ou de outras não realizarem nenhum tipo de abordagem sobre o tema
IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 2
(SANTOS, 1981). A Norma Brasileira NBR-6118 (ABNT, 1978) admite o emprego de
pilares cintados desde que tal recurso seja acompanhado de determinadas medidas.
Colunas cintadas só devem ser usadas após terem sido esgotadas as possibilidades de
solução sem cintamento. Devem ser de preferência intermediárias, supostas no projeto
sob compressão centrada, de modo que a excentricidade a ser considerada no cálculo
seja apenas a acidental ea. Em qualquer caso, deve ser o pilar curto, ou seja, o índice de
esbeltez λ, referido ao núcleo não deve ultrapassar 40.

4. Dimensionamento segundo a Norma Alemã de 1932


Entre os pilares submetidos a uma carga centrada se distinguem aqueles com armadura
usual e os pilares cintados. A diferença característica entre a armadura usual e o
cintamento se manifesta na ruptura dos pilares, e pode ser vista claramente na figura 1.

(a) ruptura de um prisma de (b) Ruptura de um pilar (c) Ruptura de um pilar


concreto sem armadura usual de concreto cintado de concreto
armado
Figura 1 - Tipos de Ruptura em Peças de Concreto (MÖRSCH (1948))

Enquanto que na armadura usual a ruptura se verifica de um modo análogo ao de um


prisma de concreto não armado e as fissuras surgem simultaneamente ou pouco antes de
atingida a carga máxima, nas colunas cintadas a carga pode ser aumentada até ser
atingido o valor máximo, mesmo depois do surgimento das fissuras. Ao aumentar a carga,
a parte de concreto de revestimento do cintamento se desprende, por esta razão, no
cálculo das colunas cintadas não se deve levar em conta toda a seção de concreto Ω,
mas sim a parte confinada pelo cintamento Ω n.
4.1. Fórmulas para o cálculo de colunas segundo a norma alemã
A seguir encontram-se as fórmulas para colunas com armadura usual e armadura de
cintamento.
4.1.1. Colunas com armadura usual
Nos pilares com armadura usual sem perigo de flambagem ou flexão lateral, calculava-se
a carga centrada admissível pela fórmula:

P = σh (Ω + 15 F) (Equação 1)
onde:
σh = tensão admissível do concreto
Ω = área da seção transversal do concreto
F = área da armadura longitudinal comprimida
IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 3
O limite inferior para a taxa de armadura longitudinal (ρ) em 0,8% da seção transversal do
concreto era baseado na eventualidade de cargas excêntricas. Particularmente adotado
porque o coeficiente de segurança embutido na fórmula era considerado insuficiente para
pilares de concreto não armado, e também, para os pilares pouco armados.
O limite superior para a taxa de armadura em 3% pode ser explicado tão somente pela
falta de ensaios com armaduras maiores.

F
ρ= × 100 para 0,8% ≤ ρ ≤ 3% (Equação 2)

A distância entre os estribos não deveria ser superior a menor dimensão da seção do
pilar, nem passar de 12 vezes a bitola das barras longitudinais.
Os valores de σh variavam com a resistência cúbica do concreto, e eram calculados de
acordo com a tabela 1.

Tabela 1 – Tensão admissível do concreto de acordo com a sua resistência cúbica


Resistência cúbica mínima aos 28d. σh
(kgfcm2) (kgf/cm2)
120 35
160 45
1/3 fc se h/l ≤ 20 cm

>160 60 se l ≤ 40 cm
70 se l > 40 cm
h – altura do pilar
l – menor lado da seção do pilar

A fórmula P = σh (Ω + 15F) estava contida também nas normas prussianas anteriores e


nos guias da Associação de Arquitetos e Engenheiros alemães de 1904, no qual foi
tomado n = 15. No início, se imaginava que tanto o concreto quanto a armadura
comportavam-se com o princípio de igual encurtamento específico de maneira que se
verificasse:
σf Ef
= =n (Equação 3)
σk E k
σ f = n × σk (Equação 4)
onde:
σf = tensão na armadura longitudinal
σk = tensão no concreto
Ef = módulo de deformação da armadura longitudinal
Ek = módulo de deformação do concreto

Portanto, podia-se usar

P = σh x Ω + σf x F (Equação 5) ou P = σh (Ω + n F) (Equação 6)

A carga admissível calculada por P = 35 (Ω + 15F), oferecia uma segurança de quase 5


vezes, desde que o concreto tivesse a resistência exigida e os estribos não fossem
colocados a uma distância muito grande.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 4


Tinha-se para este caso σh = 35 kgf/cm2 e n = 15. Este valor de n representava a relação
de tensões do aço e do concreto abaixo da carga de ruptura. O valor de n = 15 não era
considerado satisfatório, e também era tido como elevado para as compressões devido às
cargas inferiores aos valores usuais.
Nos ensaios de colunas deduziu-se que o concreto antes de atingir a carga máxima sofre
encurtamentos tão grandes que se atinge o limite de compressão da armadura
longitudinal. Tendo-se alcançado este limite, a tensão na armadura se mantém até que ao
aumentar novamente a carga, tem-se a ruptura do concreto devido ao encurtamento
adicional.
Na ruptura a carga máxima de uma coluna seria:

Pmax = kh x Ω + σs x F (Equação 7)
onde:
kh = resistência prismática do concreto
σs = limite de compressão das barras longitudinais

A norma prescrevia para o concreto uma resistência cúbica aos 28 dias de 210 kgf / cm2,
então podia-se esperar uma resistência prismática aos 90 dias de kh = 0.8 x 210 = 168 kgf
/ cm2 . Tomava-se para o limite de escoamento ou de fluência do aço, σs = 2520 kgf / cm2,
então a carga de ruptura era dada por:

Pmax = 168 Ω + 2520 F (Equação 8)

Como se queria uma segurança de 4,8 vezes, tinha-se para a carga admissível:

Padm = 35 Ω + 525 F = 35 (Ω + 15 F) (Equação 9)

que concordava com a fórmula dada pela Norma Alemã.

4.1.2. Colunas Cintadas


Eram consideradas colunas cintadas aquelas com armadura transversal seguindo uma
linha helicoidal (armadura em hélice), enrolamentos equivalentes ou colunas providas de
armaduras de anéis com seção transversal do núcleo circular, nas quais a relação entre o
passo da hélice ou a distância entre os anéis (s) e o diâmetro da seção transversal do
núcleo (D n) fosse menor que 1/5 (s/D n < 1/5). O passo dos enrolamentos helicoidais ou
dos anéis não deveria ultrapassar 8 cm. A armadura longitudinal (F) devia, pelo menos,
ser 1/3 da armadura transversal (F z ), nem inferior a 0,8% de Ω n (área da seção transversal
do concreto confinado pelo cintamento), e nem maior que 8% de Ω n , o qual estava
fundado em ensaios que demonstraram que para aproveitar melhor a seção de
cintamento de uma hélice espessa era também necessário uma certa armadura
longitudinal.
Nas colunas cintadas com seção transversal de núcleo circular calculava-se a carga
centrada admissível pela fórmula:

P = σh (Ω n + 15 F + 45 F z ) (Equação 10)
onde:
Ω n = área da seção transversal do núcleo cintado (limitado pelo eixo da armadura
transversal)
F = área da armadura longitudinal comprimida
Fz é a área fictícia da armadura de cintamento, dada pelo volume de aço dos estribos ou
da hélice por unidade de comprimento da peça.
IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 5
π × Dn × f
Fz = (Equação 11)
s
onde:
Dn = diâmetro médio da curvatura da hélice do cintamento
f = área da seção transversal de uma armadura de cintamento
s = passo da hélice de cintamento

Para o cálculo da carga de ruptura de colunas cintadas tinha-se no lugar de σh o valor kh ,


e assim se obtinha:

Pmax = kh x Ω n + 15 kh x F + 45 kh x F z (Equação 12)

Podia-se usar 15 kh = σs e 45 = m, tinha-se então:

Pmax = kh x Ω n + σs x F + m x kh x Fz (Equação 13)


onde:
kh x Ω n = resistência do núcleo de concreto
σs x F = resistência das barras longitudinais
m x kh x F z = influência da armadura transversal

Como as hélices de aço não participam diretamente na carga, mas no sentido de que
aumentam a resistência do núcleo de concreto cintado acima de sua resistência própria,
foi introduzido na fórmula um aumento de superfície de concreto de m x Fz . Aqui m
representa um coeficiente encontrado por ensaios. Segundo estes ensaios, o coeficiente
para as hélices cilíndricas são variáveis em relação à resistência própria do concreto.
Quanto menor for esta, maior será o valor de m.
Na figura 2 foram tomados nas ordenadas os valores calculados para m nos ensaios com
um limite de 3000 kgf/cm2, como limite de fluência do cintamento. Nas abscissas foram
tomados os valores da resistência prismática do concreto (kh ).

Figura 2 - Valores para m

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A Norma Alemã tomava como resistência própria do concreto (kh) na coluna apenas 75%
da resistência cúbica, ou seja, kh = 0,75 x 210 = 157,5 kgf / cm2 o que corresponde na
curva da figura a um valor de m = 45. Partiu-se deste valor para o cálculo das colunas
cintadas através da fórmula:

Padm = 35 ( Ω n + 15 F + 45 F z ) (Equação 14)

A maior armadura possível de cintamento era, pois, segundo a norma, quando se tomava
a armadura longitudinal com 1/3 de F z e Ω n = 0,75 Ω, o qual se verificava com as medidas
usuais das seções transversais octogonais entre 30 e 60 cm de diâmetro,

Fzmax = 0,025 Ω, (Equação 15)

ou seja, 2,5% de Ω ou 3,33% de Ω n.

O limite inferior para F z era calculado com o valor da carga sem cintamento igual ao valor
da carga com cintamento, ou seja:

Ω + 15 F = Ω n + 15 F + m x F z (Equação 16)
de onde:

Ω − Ωn
Fz min = (Equação 17)
m
com Ω n = 0.75 Ω e m = 45 se obtinha:

Fzmin = 0,56% de Ω ou 0,74% de Ω n (Equação 18)

5. Dimensionamento segundo a NBR-6118 (ABNT, 1978)


É apresentado na seqüência o dimensionamento de peças cintadas por armaduras de
projeção circular.
5.1. Prescrições construtivas
A armadura de cintamento será constituída por barras em hélice ou estribos, de projeção
circular sobre a seção transversal da peça, obedecendo as seguintes condições:

a) esbeltez da peça

le l
λ= ≤ 40 e ≤ 10
d 4 d
i i
onde:
le = comprimento de flambagem da peça
di = diâmetro do concreto confinado pelo cintamento

b) ancoragem da armadura de cintamento


as extremidades das barras, sejam elas formadas por uma armadura helicoidal ou por
estribos isolados, deverão estar ancoradas no núcleo de concreto;

c) bitola mínima da barra de cintamento

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 7


φ t ≥ 5 cm

d) espaçamentos limites entre duas hélices ou estribos de cintamento

st ≥ φ t +3 cm

di

st ≤  5
8 cm

e) valores limites da armadura de cintamento

At
At ≥ 0,005 Aci ≥ 0,5%
A ci

At
At ≤ 3 A s l ≤ 3 ⋅ ρs
A ci
onde:
Aci = área transversal do concreto confinado pelo cintamento
Asl = área da armadura longitudinal
ρs = taxa de armadura longitudinal

f) armadura longitudinal

As l > 6 φ10

A sl
As l ≤ 0,08 A ci ρs = ≤ 8% (inclusive na seção de emenda por transpasse)
Aci

φ l ≥ 10
onde:
φ l = diâmetro da barra longitudinal
5.2. Condições de emprego
É permitido o emprego de pilares cintados por armadura de projeção circular desde que
se tenha esbeltez λ ≤ 40, referida ao núcleo de concreto cintado. Admitindo-se que a
presença do cintamento seja equivalente a um aumento da resistência característica do
concreto de fck para o valor

At  e 
f ck,aparente = f ck + 2 f yk  1− 8  (Equação 19)
Aci  di 
onde
e = excentricidade do carregamento, já incluída a excentricidade acidental, devendo ser

di
e = ei + e a ≤ (Equação 20)
8
At = volume de armadura transversal por unidade de comprimento do pilar

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 8


π ⋅ d i ⋅ A t1
At = (Equação 21)
st
At1 = área da seção transversal da barra de cintamento de diâmetro φ t
st = espaçamento entre as hélices da armadura de cintamento

π ⋅ φt 2
A t1 = (Equação 22)
4
Aci = área da seção do núcleo, definido pelo eixo da barra de cintamento

π ⋅ di 2
A ci = (Equação 23)
4

Com estas considerações, o pilar é calculado como se não fosse cintado, não se
considerando o concreto de revestimento do cintamento exterior ao núcleo. A resistência
total de cálculo da peça cintada não poderá, porém, ser considerada com valor superior a
1,7 vezes à resistência do pilar calculado como se não houvesse cintamento.

5.3. Compressão centrada


No caso de ser admitida uma situação de compressão centrada, sendo λ ≤ 40, pode-se
fazer e = 0, e:

At
f ck,aparente = f ck + 2 f yk (Equação 24)
A ci

logo, a resistência de cálculo para o concreto será:


A
fck + 2 t f yk
fck,aparente A ci
fcd = = (Equação 25)
γc γc
Sendo Asl a área da seção da armadura longitudinal e α o coeficiente de majoração
correspondente à influência das excentricidades acidentais, resulta a condição de
segurança

At
fck + 2 f yk
⋅ ( A ci − A sl ) + fsd ⋅ A sl
A ci
α ⋅ N d ≤ 0,85 ⋅ (Equação 26)
γc
onde:
fsd = reistência de cálculo da armadura de cintamento
Nd = força normal de cálculo

que também pode ser escrita


A  A 
f ck + 2 t f yk  f ck + 2 t f yk 
A ci  A ci 
α ⋅ N d ≤ 0,85 ⋅ ⋅ A ci + f sd − 0,85 ⋅ ⋅ A (Equação 27)
γc  γc  sl
 
 
Ignorando-se, por simplicidade, a redução da seção efetiva de concreto devida à
presença da armadura longitudinal, tem-se a condição simplificada:
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At
f ck + 2 f yk
Aci
α ⋅ N d ≤ 0,85 ⋅ ⋅ Aci + f sd ⋅ Asl (Equação 28)
γc
da qual resulta
 γ  1
A t ≥  c ⋅ (α ⋅ Nd − f sd ⋅ A sl ) − f ck ⋅A ci  (Equação 29)
 0,85  2 ⋅ f yk
devendo ser

Nd, pilar cintado ≤ 1,7 Nd, pilar não-cintado (Equação 30)

6. Dimensionamento segundo SANTOS (1981)


6.1. Fundamentos teóricos
Se fcc for a resistência individual de um corpo de prova de concreto simples, a resistência
do mesmo concreto, desde que cintado, será p > fcc .

Figura 3 - Resistência de corpo-de-prova de concreto simples e cintado (SANTOS (1981))


Os ensaios mostram que:

p = fcc + c q (Equação 31)

onde c é uma constante que se pode, em média, fazer igual a 5 e q é a pressão lateral do
concreto.

Se fizermos uma série de ensaios e tomarmos os valores característicos, podemos


adotar:

p = fck + 5 q (Equação 32)

onde p é agora o valor característico da resistência do concreto cintado.


Considerando um cilindro de concreto envolvido por um tubo de parede fina de aço, figura
4, tem-se a área do núcleo calculada como:

π × di
2

A ci = (Equação 33)
4

onde d i é o diâmetro no núcleo.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 10


Figura 4 - Cilindro de concreto envolvido por tubo de parede fina de aço, SANTOS (1981)

A área de cintamento é calculada por:

A t ≅ π × di × b (Equação 34)

onde b é a espessura da parede de aço.


Devido à pressão lateral q do concreto, a parede de aço ficará tracionada e a resultante
de tração Rs em cada parede, considerando uma altura unitária, será:

R s = σ s × b ×1 (Equação 35)

onde σs é a tensão de tração na parede do tubo de aço.

E satisfazendo a equação de equilíbrio:

2 R s = q × di × 1 (Equação 36)
resultando:
b
q = 2 σs (Equação 37)
di

Podemos escrever a equação de q de outra maneira:

b π × di At σ A
q = 2 σs × = 2 σs = s× t (Equação 38)
di π × d i 4 A ci 2 A ci

A experiência mostra que só haverá ruptura do concreto do cilindro quando o aço escoar,
de modo que o valor máximo da pressão lateral q será:

fy k At
q= × (Equação 39)
2 A ci

onde fyk é a resistência característica ao escoamento do aço do tubo.


Portanto, substituindo q na expressão de p tem-se:
IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 11
At
p = f ck + 2,5 f y k (Equação 40)
A ci

6.2. Extensão das fórmulas aos pilares cintados


Nos pilares cintados da prática, o tubo de aço é substituído por uma armadura de
cintamento formada por barra em hélice ou por estribos com pequeno espaçamento t,
como na figura 5. Sejam φ t o diâmetro da seção transversal da barra do estribo ou da
hélice e A st a área desta seção:

π × φt
2

A st = (Equação 41)
4

O diâmetro di do núcleo será convencionado igual ao diâmetro do eixo da armadura de


cintamento.

Isolemos um cilindro de altura t igual ao passo da hélice ou ao espaçamento dos estribos.


A resultante de tração na área 2 A st deve equilibrar a resultante das pressões q:

q × di × t = 2 A st × f y k (Equação 42)
onde:
A st × f y k
q=2 (Equação 43)
di × t

Figura 5 - Cilindro de concreto envolvido pela hélice de cintamento (SANTOS (1981))

Não temos agora uma área de cintamento como no item anterior, mas podemos definir
uma área fictícia A t de cintamento dada pelo volume de aço dos estribos ou da hélice por
unidade de comprimento da peça:

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 12


A st × π × di π × φ t × di
2 2

At = = (Equação 44)
t 4t

Com estas definições, a expressão de q pode ser escrita na forma:

A st × f y k π × d i 2 A t × fy k A t × fy k
q=2 × = = (Equação 45)
di × t π × di 4 A ci 2 A ci

p = fck + 5 q (Equação 46)


e tem-se para p:
At
p = f ck + 2,5 f y k (Equação 47)
A ci

Por prudência, a NBR-6118 (ABNT, 1978) indica um valor um pouco menor para o
aumento da resistência do concreto cintado apresentado no item anterior, de modo que:

At
p = fck + 2 ×f (Equação 48)
A ci y k

A NBR-6118 (ABNT, 1978) admite também que a eficiência do cintamento diminua com a
d
excentricidade da força de compressão, anulando-se para e ≥ i .
8
Em outras palavras, o valor característico da resistência do núcleo de concreto é:

f ck* = fck + ∆fck (Equação 49)


com
At  e
∆f ck = 2 × f y k 1 − 8  ≥ 0 (Equação 50)
A ci  di 
onde ⌠fck = aumento no valor da resistência característica do concreto

6.3. Dimensionamento
6.3.1. Equação de equilíbrio
Em tudo o que se segue vamos supor e = ea (excentricidade acidental) para cálculo de
∆fck e, simultaneamente, trabalharemos com Nd,eq (Nd equivalente):

De acordo com a NBR-6118 (ABNT, 1978) tem-se:

 6
Nd,eq = 1 +  Nd ≥ 1,1 Nd (Equação 51)
 di 
onde Nd,eq é a força normal de cálculo equivalente da peça.

Sejam, por definição:


A
ρt = t (Equação 52)
A ci

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 13


e
η= (Equação 53)
di

As
ρ= (Equação 54)
A ci
onde:
- ρt = a taxa de armadura transversal;
- A s = a soma das áreas das seções transversais das barras longitudinais comprimidas de
aço;
- ρ = a taxa de armadura longitudinal.

Então, a resistência característica f ck* do concreto do núcleo pode ser escrita na forma:

f ck* = f ck + ∆f ck = f ck + 2 ρ t × f y k(1 − 8η) (Equação 55)

O correspondente valor de cálculo será:

fck*
σ *cd = 0,85 (Equação 56)
γc

Para a compressão centrada a equação de equilíbrio será:

Nd,eq = A ci × σ *cd + A s × σ sd (Equação 57)

onde σsd é a tensão de compressão nas barras longitudinais correspondente ao


encurtamento de 0,2%.

Dividindo ambos os membros da expressão de Nd,eq por Aci, a equação de equilíbrio fica
na forma:

Nd,eq
= σcd
*
+ ρ × σ sd (Equação 58)
A ci
ou:
Nd,eq
=
0,85
[ ]
f ck + 2 ρ t × f y k (1 − 8η) + ρ × σ sd (Equação 59)
A ci 1,4

6.3.2. Limitação imposta


Quando um cintamento muito forte permitir cargas demasiadamente elevadas pode haver
o esmagamento do concreto que está fora do cintamento. Por esta razão a NBR-6118
(ABNT, 1978) limita a resistência total de cálculo da peça cintada de acordo com a
expressão:

Nd,eq ≤ 1,7 N' d,eq (Equação 60)

onde N’ d,eq é o valor de cálculo da força normal equivalente do pilar de mesma seção
transversal e mesma armadura longitudinal, sem efeito de cintamento.
Desenvolvendo a expressão acima, vem:
IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 14
A ci × σ *cd + A s × σ sd ≤ 1,7 (A c × σ cd + A s × σ sd ) (Equação 61)
ou:
0,85
A ci [ ]
f ck + 2 ρ t × f y k (1 − 8η ) + A s × σ sd ≤ 1,7 A c
0,85
fck + 1,7 A s × σ sd (Equação 62)
1,4 1,4
da qual resulta:
f ck  d2  σ sd
ρt ≤ 1,7 − 1 + 0,576 ρ (Equação 63)
2 f y k (1 − 8η )  di 2 
 f y k (1 − 8η )
onde fyk refere-se ao aço tracionado do cintamento e σsd ao valor de cálculo da tensão de
compressão nas barras longitudinais.

6.4. Disposições construtivas segundo a NBR-6118 (ABNT, 1978)



≥ 30 cm
≥ 20 cm 
  l
a-) di  l 0 Sob lajes cogumelo: di ≥ 0
≥ 10  10
l
 20
onde:
l0 é a altura livre do pilar
l é a distância entre os eixos dos pilares

b-) Índice de esbeltez da peça: λ ≤ 40

c-) Cobrimento mínimo: c min = 2,5 cm (e mais 3 cm de revestimento)

d-) Limite para o número de barras longitudinais: nmin = 6

e-) Bitolas Mínimas:

φ ≥ 10 e φ t ≥ 5
onde:
φ = diâmetro da armadura longitudinal
φ t = diâmetro da armadura transversal

f-) Espaçamento Mínimo e Máximo para as Barras Longitudinais:

2 cm 
 ≤ e ≤ 40 cm
φ 

g-) O passo da hélice ou o espaçamento entre os estribos deverá ser:

 di

φ t + 3 cm ≤ t ≤  5
8 cm

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 15


h-) O limite para a taxa de armadura longitudinal é:

2% ≤ ρ ≤ 8%

i-) O limite para a taxa de armadura transversal é:

0,5% 

400  ≤ ρt ≤ 3 ρ
2
%
di 

6.5. Cálculo prático


Em 1962 o Eng. CAMPOS DO AMARAL mostrou que se pode resolver pilares cintados
com um simples gráfico, inclusive do ponto de vista econômico e já respeitadas todas as
prescrições regulamentadas.

O cálculo de ρ através da equação de equilíbrio fica:

Nd , eq
− σ cd
f
ρ t yk (1 − 8η )
Aci 1,7
ρ= − (Equação 64)
σ sd 1,4 σ sd
onde
f ck
σ cd = 0,85 (Equação 65)
γc
Façamos:
Nd ,eq
− σ cd
1,7 f yk
α1 =
Aci
(Equação 66) α2 = × (1 − 8η ) (Equação 67)
σ sd 1,4 σ sd

Resulta como equação de equilíbrio:

ρ = α1 − α 2 × ρ t (Equação 68)

A equação de equilíbrio pode ser representada graficamente como mostra a figura 6.


Qualquer ponto P da reta MN oferece um par de valores (ρ,ρt) que satisfaz a equação de
equilíbrio.
ρ

M
P

α
1

N ρt

α1/α2

Figura 6 – Equação de Equilíbrio Mostrada Graficamente (CAMPOS DO AMARAL (1962))


IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 16
Vimos anteriormente quatro exigências regulamentadas relativas a ρ e ρt:
1) ρ ≥ 2%
2) ρ ≤ 8%
0,5%

3) ρt ≥  400
 d2 %
 i
4) ρt ≤ 3 ρ

Finalmente, para a limitação da resistência do pilar cintado, é necessário estabelecer mais


uma relação entre ρ e ρt:

fck  d2 
α3 =  1,7 2 − 1 (Equação 69)
2 f y k(1 − 8η)  di 

σsd σsd
α 4 = 0,576 = 0,501 (Equação 70)
fy k (1 − 8η) f y d(1 − 8η)
temos agora a 5 a exigência:
5) ρt ≤ α 3 + α 4 × ρ

As figuras 7, 8, 9 e 10 oferecem uma visualização das cinco exigências regulamentadas,


além da representação gráfica da “região permitida” que respeitam as prescrições da
NBR-6118 (ABNT, 1978).
ρ

reta 2
0,08

região permitida

0,02
reta 1

ρ
t
Figura 7 – Região limitada pelas exigências 1 e 2 (AMARAL (1962)
ρ

ida
mit
per
reta 3

g i ão
re

3
ρt /
4 ρ =
r eta

ρ
t
ρt,mín

Figura 8 – Região limitada pelas exigências 3 e 4 (AMARAL (1962)


IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 17
ρ

D reta 2 C
0,08

ida ρt/3
permit ρ=
reta 3

ão
regi reta
4

0,02
A B reta 1

0,24

ρt,mín

Figura 9 – Região limitada pelas exigências 1, 2, 3 e 4 (AMARAL (1962)


ρ

5
ta
re
a
id
it

ρ
rm

4

pe

3
α
ão
gi

=
re

ρt

ρ
-α 3/ α 4

t
α3

Figura 10 – Região limitada pelas exigências 2 e 5 (AMARAL (1962)

As figuras 11 e 12 apresentam as cinco retas em conjunto e a região permitida final. Este


polígono pode ser um pentágono ou um quadrilátero de acordo com a posição do ponto
B.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 18


ρ

D reta 2 F
0,08
a 4
ret
ida
mit
per E
reta 3

ião
reg

0,02
A B G reta 1

ρ t,mín
Figura 11 – Região permitida final no formato de pentágono (AMARAL (1962)

D F reta 2
0,08
reta 3

a 4
ret

0,02 G
A B reta 1
E

ρ
t

ρt,mín
Figura 12 – Região permitida final no formato de quadrilátero (AMARAL (1962)

6.6. Dimensionamento econômico


Qualquer ponto pertencente à região hachurada da figura 13 define um par de valores
(ρ, ρt ) que não contrariam nenhuma prescrição da NBR-6118 (ABNT, 1978). De todos
estes pontos, só servem os que satisfazem a equação de equilíbrio relativa ao Nd,eq do
problema, isto é, são respostas os pontos P pertencentes ao segmento de reta MN. Há,
pois, uma infinidade de respostas possíveis. A mais econômica corresponde ao ponto N
ou ao ponto dentro da seguinte regra:
se α 2 > 1 : o ponto N é o econômico;
se α 2 < 1 : o ponto M é o econômico;
se α 2 = 1 : é indiferente, podendo-se adotar qualquer ponto P do segmento MN.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 19


ρ

M
P

ρ
t
Figura 13 – Região permitida juntamente com a equação de equilíbrio (AMARAL (1962)

7. Referências bibliográficas

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR-6118. Projeto e


execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro, 1978.

FUSCO, P. B.. Estruturas de concreto: solicitações normais. 1a ed., Rio de Janeiro:


Guanabara Dois S. A., 1981.

MÖRSCH, E.. Teoría y práctica del hormigón armado. Barcelona: G. Gil, 1948.

PFEIL, W.. Concreto armado: dimensionamento. 2ª ed., Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos Editora S.A., 1975.

dos SANTOS, L. M.. Cálculo de concreto armado. São Paulo: Editora LMS Ltda., 1981.

IV Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 20

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