You are on page 1of 361

Sumário

1 Aplicações da instrumentação.........................................................................................................1
2 Configurações e descrições funcionais............................................................................................2
2.1 Elementos funcionais...............................................................................................................2
2.2 Transdutores ativos e passivos.................................................................................................3
2.3 Modos de operação analógico e digital....................................................................................4
2.4 Modos de nulo e de deflexão...................................................................................................4
2.5 Entradas e saídas......................................................................................................................4
3 Características de desempenho estático e dinâmico........................................................................1
3.1 Características estáticas...........................................................................................................1
3.1.1 Calibração estática...........................................................................................................1
3.1.2 Erros aleatórios e sistemáticos.........................................................................................2
3.1.3 Faixa.................................................................................................................................3
3.1.4 Faixa dinâmica.................................................................................................................3
3.1.5 Resolução.........................................................................................................................3
3.1.6 Limiar...............................................................................................................................3
3.1.7 Sensibilidade estática.......................................................................................................3
3.1.8 Deriva...............................................................................................................................4
3.1.9 Linearidade.......................................................................................................................4
3.1.10 Histerese e outras não linearidades................................................................................5
3.1.11 Ajustes............................................................................................................................6
3.1.12 Precisão..........................................................................................................................6
3.1.13 Exatidão.........................................................................................................................6
3.1.14 Exemplo sobre calibração estática.................................................................................7
3.2 Características dinâmicas.........................................................................................................9
3.2.1 Sistemas lineares no domínio do tempo...........................................................................9
3.2.2 Resposta ao degrau.........................................................................................................10
3.2.3 Resposta em frequência..................................................................................................10
3.2.4 Exemplos de sistemas de ordem zero, um e dois...........................................................11
3.3 Outras características.............................................................................................................18
3.4 Aspectos numéricos...............................................................................................................18
3.4.1 Algarismos significativos...............................................................................................18
3.4.2 Representação de incertezas...........................................................................................19
3.4.3 Cálculo e propagação de incertezas...............................................................................19
3.4.4 Erro máximo..................................................................................................................21
3.5 Exercícios...............................................................................................................................22
4 Transdutores e Sensores................................................................................................................28
4.1 Transdutores de temperatura..................................................................................................28
4.2 Transdutores de pressão.........................................................................................................29
4.3 Transdutores de força.............................................................................................................33
4.4 Transdutores de vazão............................................................................................................34
4.5 Transdutores de posição.........................................................................................................38
4.6 Transdutores de inclinação, aceleração e giroscópios...........................................................42
4.7 Transdutores de nível.............................................................................................................43
4.8 Outros Transdutores...............................................................................................................44

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 1


5 Transdutores resistivos..................................................................................................................47
5.1 Potenciômetro........................................................................................................................47
5.2 Strain gauge – extensômetro..................................................................................................51
5.3 Detector resistivo de temperatura ou termo resistor (RTD)...................................................57
5.4 Termistores.............................................................................................................................62
5.5 Outros transdutores resistivos................................................................................................68
5.6 Eletrônica para transdutores resistivos..................................................................................69
6 Amplificador operacional..............................................................................................................70
6.1 Introdução..............................................................................................................................70
6.2 Símbolo e Modelo..................................................................................................................72
6.3 Amplificador inversor............................................................................................................74
6.4 Amplificador não-inversor.....................................................................................................77
6.5 Amplificador somador inversor.............................................................................................78
6.6 Amplificador diferencial ou subtrator....................................................................................79
6.7 Amplificador de instrumentação............................................................................................83
6.8 Amplificador com realimentação ativa..................................................................................86
6.9 Amplificador diferencial completo........................................................................................87
6.10 Considerações práticas.........................................................................................................88
7 Circuitos condicionadores para transdutores resistivos.................................................................91
7.1 Medidas de resistência...........................................................................................................91
7.2 Circuitos em ponte de Wheatstone........................................................................................92
7.3 Conversores tensão corrente..................................................................................................96
7.3.1 Outras topologias...........................................................................................................97
7.4 Referências de tensão e corrente..........................................................................................100
7.5 Medições de resistência em ponte de Wheatstone...............................................................101
7.5.1 Instrumentação para medidas remotas.........................................................................105
7.5.2 Problemas com offset...................................................................................................107
7.6 Amplificador chopper e auto-zero.......................................................................................108
7.7 Outros circuitos úteis...........................................................................................................110
7.7.1 Amplificador de ganho programável (PGA)................................................................110
7.7.2 Potenciômetro digital...................................................................................................110
7.7.3 Amplificador operacional de transcondutância (OTA).................................................111
7.7.4 Circuitos específicos para pontes de Wheatstone.........................................................114
7.8 Exercícios.............................................................................................................................116
8 Sistemas de aquisição de sinais e controle..................................................................................126
8.1 Digitalização e frequência de amostragem..........................................................................126
8.1.1 Exercício......................................................................................................................134
8.2 Arquiteturas de conversores DA..........................................................................................134
8.2.1 Reconstrutores..............................................................................................................135
8.2.2 Conversores integrados................................................................................................135
8.2.3 Outros tipos de conversor DA......................................................................................136
8.3 Multiplexadores...................................................................................................................137
8.3.1 Chaves Analógicas.......................................................................................................138
8.4 Circuito amostrador – sample and hold...............................................................................138
8.4.1 Modos de operação......................................................................................................140
8.5 Arquitetura de conversores AD............................................................................................142
8.5.1 Conversor flash............................................................................................................142
8.5.2 Conversor por aproximação sucessiva.........................................................................143
8.5.3 Conversor pipeline.......................................................................................................144

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 2


8.5.4 Conversores sigma-delta..............................................................................................145
8.5.5 Dupla rampa.................................................................................................................146
8.5.6 Conversores por largura de pulso ou frequência..........................................................148
8.6 Exercícios.............................................................................................................................148
9 Componentes Passivos................................................................................................................151
9.1 Resistores e potenciômetros.................................................................................................151
9.1.1 Efeitos térmicos............................................................................................................152
9.1.2 Elementos parasitas......................................................................................................152
9.1.3 Falhas, variação com o tempo e ruído..........................................................................153
9.1.4 Potenciômetros.............................................................................................................153
9.2 Indutores..............................................................................................................................154
9.3 Capacitores...........................................................................................................................154
9.3.1 Absorção Dielétrica......................................................................................................154
9.3.2 Elementos parasitas (Rp, ESR e ESL).........................................................................156
9.3.3 Tolerância.....................................................................................................................158
10 Interferência, blindagem e aterramento.....................................................................................160
10.1 Formas de propagação.......................................................................................................160
10.2 Aterramento.......................................................................................................................163
10.2.1 Laços de terra.............................................................................................................166
10.3 Cabeamento.......................................................................................................................170
10.3.1 Acoplamento capacitivo.............................................................................................170
10.3.2 Acoplamento indutivo................................................................................................171
10.3.3 Ruídos em circuitos de alta frequência......................................................................175
10.4 Gabinetes...........................................................................................................................176
10.5 Peças..................................................................................................................................177
10.6 Exercícios...........................................................................................................................178
11 Ruído e incertezas......................................................................................................................180
11.1 Ruído térmico.....................................................................................................................180
11.2 Shot noise...........................................................................................................................180
11.3 Ruído de contato................................................................................................................181
11.4 Soma de ruídos...................................................................................................................181
11.5 Espectro de ruído...............................................................................................................182
11.6 Equivalente Elétrico...........................................................................................................184
11.7 Razão sinal ruído e figura de ruído....................................................................................184
11.8 Tabela de erros...................................................................................................................186
11.9 Exercícios...........................................................................................................................187
12 Transdutores reativos.................................................................................................................188
12.1 Transdutores capacitivos....................................................................................................188
12.1.1 Variações dimensionais..............................................................................................189
12.1.2 Capacitores diferenciais.............................................................................................193
12.2 Transdutor Indutivo............................................................................................................194
12.2.1 Transdutores de relutância variável............................................................................194
12.2.2 Transdutores de indutância mútua..............................................................................199
12.2.3 Outros transdutores indutivos....................................................................................200
12.3 Exercícios...........................................................................................................................201
13 Comparadores............................................................................................................................203
13.1 Símbolo..............................................................................................................................203
13.2 Características....................................................................................................................203
13.3 Configurações típicas.........................................................................................................205

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 3


13.3.1 Detetor por cruzamento de zero.................................................................................205
13.3.2 Limitação da tensão de saída......................................................................................206
13.3.3 Detetor de nível com limitação de tensão de saída....................................................207
13.3.4 Comparador de janela................................................................................................208
13.3.5 Comparador de declividade........................................................................................209
13.3.6 Comparador com histerese.........................................................................................210
14 Retificadores de precisão e detectores de pico..........................................................................212
14.1 Retificador de ½ onda........................................................................................................212
14.2 Retificador de onda completa............................................................................................213
14.3 Detetor de pico...................................................................................................................216
14.4 Sobre a escolha dos diodos................................................................................................217
15 Integradores e derivadores.........................................................................................................218
15.1 Integrador...........................................................................................................................218
15.1.1 Integrador prático.......................................................................................................219
15.2 Derivador...........................................................................................................................223
15.2.1 Derivador prático.......................................................................................................224
16 Conversor logarítmico e antilogarítmico...................................................................................226
16.1 Introdução..........................................................................................................................226
16.2 Modelo de Ebers Moll do transístor NPN.........................................................................226
16.3 Conversor logarítmico.......................................................................................................227
16.4 Conversor Antilogarítmico................................................................................................230
17 Outras operações com circuitos analógicos...............................................................................233
17.1 Multiplicação.....................................................................................................................233
17.1.1 Multiplicador por transcondutância variável.............................................................234
17.1.2 Multiplicador com conversor logarítmico..................................................................235
17.2 Divisão...............................................................................................................................237
17.2.1 Raiz quadrada.............................................................................................................238
17.2.2 Circuito conversor RMS-DC.....................................................................................238
18 Geradores de função..................................................................................................................240
18.1 Introdução..........................................................................................................................240
18.2 Osciladores harmônicos.....................................................................................................240
18.3 Osciladores não harmônicos..............................................................................................240
18.3.1 Gerador de onda retangular........................................................................................241
18.3.2 Gerador de onda triangular.........................................................................................243
18.3.3 Gerador de rampa ou dente de serra...........................................................................246
18.4 Gerador de onda senoidal por conformação de triangular.................................................248
18.4.1 Conformação usando par diferencial.........................................................................248
18.4.2 Conformador com diodos...........................................................................................249
18.4.3 Conformador por série de Taylor...............................................................................253
18.5 Geração de senoides por síntese digital direta (DDS).......................................................254
18.6 Exercícios...........................................................................................................................255
19 Circuitos condicionadores para sensores reativos.....................................................................256
19.1 Introdução..........................................................................................................................256
19.2 Circuitos em ponte.............................................................................................................256
19.2.1 Circuitos para sensor simples ou diferencial..............................................................259
19.3 Blindagem..........................................................................................................................260
19.4 Demoduladores..................................................................................................................262
19.5 Exercícios...........................................................................................................................264
20 Transdutores autogeradores.......................................................................................................267

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 4


20.1 Transdutores termoelétricos...............................................................................................267
20.2 Transdutores Piezoelétricos...............................................................................................270
20.3 Transdutores Fotovoltaicos................................................................................................274
21 Condicionamento para sensores autogeradores.........................................................................277
21.1 Offset e drift em amplificadores operacionais...................................................................277
21.2 Eletrômeros, amplificadores de transimpedância e de carga.............................................278
21.2.1 Amplificador para fotodiodo no modo fotovoltaico..................................................279
21.2.2 Condicionador para fotodiodo operando no modo fotocondutivo.............................286
21.2.3 Amplificadores de Carga............................................................................................289
21.3 Exercícios...........................................................................................................................291
22 Filtros seletores de frequência...................................................................................................296
22.1 Introdução..........................................................................................................................296
22.2 Unidades e nomenclatura...................................................................................................297
22.3 Funções de 1ª e 2ª ordens...................................................................................................297
22.4 Gabaritos............................................................................................................................297
22.5 Normalização e desnormalização em frequência...............................................................299
22.5.1 Transformação passa baixa para passa baixa normalizado........................................299
22.5.2 Transformação passa alta para passa baixa normalizado...........................................300
22.5.3 Transformação passa faixa para passa baixa normalizado.........................................302
22.5.4 Transformação rejeita faixa para passa baixa normalizado........................................303
22.6 Escolha das frequências e atenuações................................................................................304
22.7 Aproximações....................................................................................................................306
22.8 Cálculo das aproximações.................................................................................................309
22.8.1 Para aproximação de Butterworth..............................................................................310
22.8.2 Outras aproximações..................................................................................................314
22.8.3 Gráficos de resposta normalizados.............................................................................314
22.8.4 Soluções tabeladas.....................................................................................................314
22.9 Etapas da síntese................................................................................................................321
22.10 Síntese de filtros...............................................................................................................322
22.10.1 Filtros a capacitor chaveado.....................................................................................322
22.10.2 Filtros variáveis de estado........................................................................................324
22.10.3 Exemplo 2................................................................................................................329
22.10.4 Configurações de um único amplificador operacional.............................................331
22.10.5 Passa baixas Sallen-Key...........................................................................................332
22.10.6 Passa baixas MFB....................................................................................................334
22.10.7 Passa altas Sallen-Key.............................................................................................335
22.10.8 Passa altas MFB.......................................................................................................336
22.10.9 Passa Faixa Sallen-Key............................................................................................337
22.10.10 Passa faixas MFB...................................................................................................339
22.10.11 Rejeita faixa (ou Notch).........................................................................................340
22.10.12 Rejeita faixa Sallen-Key (modificado – com rede duplo T)..................................340
22.10.13 Rejeita faixa MFB (modificado)............................................................................341
22.10.14 Exemplo 1..............................................................................................................341
22.10.15 Exemplo 2..............................................................................................................344
22.10.16 Exemplo 3..............................................................................................................345
22.10.17 Exemplo 4..............................................................................................................347
22.11 Exercícios.........................................................................................................................348

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 5


Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 6
1 Aplicações da instrumentação

A instrumentação trata do uso de instrumentos de medida para, basicamente, três tipos de


aplicações: O monitoramento de processos e operações; o controle de processos e operações, e a
análise experimental. No monitoramento estamos interessados apenas na medida de diferentes
grandezas físicas. No controle, por outro lado, estamos interessados em medir grandezas para
fechar uma malha de controle tal qual em sistemas lineares. Também pode acontecer de estarmos
estudando problemas que não tenham uma teoria bem definida para explicá-lo, neste caso
simulações e experimentos devem andar de mãos dadas para tentar solucionar o problema
proposto. A compreensão sobre o desenho e a concepção dos experimentos também é de
fundamental importância para que se consiga manter sobre controle os efeitos indesejados.

No mundo atual avaliamos, muitas vezes, que a solução de todos os problemas passa por
uma análise computacional e que estes sistemas devem ser os mais eficientes. De um modo geral
as pessoas já se convenceram que, no futuro, os computadores poderão resolver todos os
problemas existentes. Os computadores, entretanto, não costumam ser os elementos críticos para
a maioria dos problemas existentes e sim os atuadores ou sensores capazes de integrá-los ao
mundo real.

De qualquer forma, o uso inteligente da instrumentação sempre ira depender do nosso


conhecimento sobre o assunto, dos materiais disponíveis, e de qual desempenho cada solução
proposta pode apresentar. Novos equipamentos estão sendo desenvolvidos a cada dia, mas os
conceitos e ideias básicas de vários sistemas de medida tem sido usadas com sucesso e
continuarão assim por muitos anos ainda. Estudá-los é de grande valia para entender como
funcionam e como são aplicados o que possibilitará estendê-los a outras aplicações.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 1


2 Configurações e descrições funcionais

2.1 Elementos funcionais

É possível e desejável descrever a operação e o desempenho de instrumentos de medida e


equipamentos de forma generalizada. A operação normalmente é descrita em termos de elementos
funcionais enquanto o desempenho em termos de características estáticas e dinâmicas. Antes de
mais nada, entretanto, é importante deixar claro alguns conceitos aparentemente simples mas que
podem gerar confusão. Instrumento de medida, por exemplo, e definido pelo Vocabulário
Internacional de Metrologia (VIM) como o “dispositivo utilizado para realizar medições,
individualmente ou associado a um ou mais dispositivos suplementares” enquanto que um
sistema de medição corresponde a um ou mais instrumentos de medição e seus insumos. Já uma
cadeia de medição é uma série de elementos de um sistema de medição que formam um caminho
único desde a entrada até a saída do instrumento, como na Figura 1.1.

m A B C D E

Figura 1.1: Cadeia de medição. m) Mensurando; A) Elemento sensor primário; B) Elemento


conversor de variável; C) Elemento de manipulação de variável; D) Elemento de transmissão de
dados; E) Armazenamento ou exibição.

O elemento sensor primário é aquele que primeiro recebe energia do meio e produz uma
saída (sinal) que varia em função da quantidade a ser medida (mensurando). Em metrologia este
elemento é chamado de sensor sendo definido como “o elemento de um sistema de medição que é
diretamente afetado por um fenômeno, corpo ou substância que contém a grandeza a ser medida.”
(VIM). Observe que o elemento primário sempre retira energia do meio. O sensor ideal é aquele
que elimina este efeito de carga e não influencia sobre o que se deseja medir. Adicionalmente ele
deve ser afetado apenas pelo mensurando desejado. A saída deste sensor primário sempre é uma
variável física como deslocamento ou tensão. Algumas vezes é necessário transformar esta
variável em outra mais fácil de ser tratada ou manipulada. Esta é a função do elemento conversor
de variável. É interessante notar que nem todos os instrumentos incluem este bloco e outros
incluem mais de uma transformação de variáveis. Também é importante dizer que algumas vezes
um único elemento físico é responsável por um ou mais blocos deste diagrama.

Na sequência existe o elemento de manipulação da variável relacionada a grandeza que se


deseja medir. Esta manipulação pode ser um simples amplificador ou um complexo sistema
envolvendo não apenas elementos eletrônicos. Se o sinal a ser manipulado é elétrico normalmente
este bloco é chamado de condicionador de sinais, circuito de interface ou front end e as operações
de mudança de nível, amplificação, filtragem, casamento de impedâncias, modulação e
demodulação são as mais comuns. Assim como os demais, este elemento não necessariamente se
apresenta nesta exata posição do diagrama, podendo ser necessário seu aparecimento em
diferentes posições.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 2


Por fim existem os elementos de transmissão de dados que podem ser sistemas de exibição
para o operador, telemetria ou simples alavancas para mover um ponteiro. Também podem ser
sistemas para armazenar os dados obtidos permitindo uma análise ou relatório posterior.

É importante observar que todos os instrumentos de medição são criados para operarem
em uma faixa de valores sendo que o seu máximo costuma ser chamado de valor nominal. O valor
nominal, na verdade, é mais do que isso, ele corresponde ao valor da grandeza que serve de guia
para a utilização apropriada do instrumento. Assim ele pode ser o valor máximo de medida de um
voltímetro ou de uma proveta mas também pode ser o valor de um resistor ou da sua potência
máxima.

2.2 Transdutores ativos e passivos

Os transdutores, “dispositivos utilizados em medição e que fornecem uma grandeza de


saída que guarda uma relação especificada com uma grandeza de entrada” (VIM), podem ser ativos
ou passivos. Como este texto foi criado a partir de diferentes fontes podem aparecer nele duas
definições diferentes para transdutores ativos e passivos.

Transdutores passivos serão aqueles cuja energia para seu funcionamento é fornecida total
ou quase que totalmente pelo sinal de entrada. Por outro lado um transdutor ativo é aquele que
uma fonte auxiliar fornece a maior parte da energia necessária para o funcionamento do
transdutor. Esta definição pode gerar algumas confusões. Uma chave, por exemplo, pode ser um
transdutor ativo uma vez que a energia para ligar ou desligar o restante do circuito vem de uma
fonte externa e não da chave ou do objeto que ativou a chave. Amplificadores são elementos
naturalmente ativos pois a energia na saída do amplificador não vem da fonte de sinal mas sim da
fonte de energia. Assim um transdutor resistivo pode ser considerado como ativo, uma vez que ele
precisa ser alimentado por fontes de tensão ou corrente para resultar em uma tensão de saída.
Neste caso a energia na saída do transdutor não é fornecida por ele mas sim pela fonte.

Um transdutor passivo, por outro lado, é aquele que provê sua própria energia, ou a deriva
do próprio fenômeno que está sendo medido. Um exemplo poderia ser um termopar, normalmente
utilizado para medir temperatura, uma vez que a saída do transdutor é uma tensão proporcional a
uma diferença de temperatura.

Atenção especial deve ser dada a estas definições pois elas podem ser utilizadas com
sentidos diferentes em diferentes bibliografias Um sentido mais eletrônico, por exemplo, é
comumente atribuído a elas e, neste caso, resistores e chaves seriam transdutores passivos. Os
próprios termos, sensor e transdutor são usados com sentidos diferentes em diferentes textos e até
mesmo em dicionários. Todas estas diferenças existem pois a instrumentação é usada e estudada
por diversas áreas com jargões diferentes, mas mesmo restringindo a área a evolução da
instrumentação ao longo dos anos levou a mudanças nos conceitos e definições para torná-los
mais claros e menos ambíguos. Neste texto, de um modo geral, os termos sensores e transdutores
serão usados de forma indistinta, mas se você tiver trabalhando com metrologia, não cometa este
sacrilégio! Recomenda-se ainda que, em textos escritos, defina-se cada termo logo após o seu uso
inicial, ou que seja citada uma referência para o significado dado a cada termo, neste caso
recomenda-se o VIM do ano vigente.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 3


2.3 Modos de operação analógico e digital

Os instrumentos de medida podem funcionar em modo digital ou analógico. Normalmente


o conceito de analógico implica na medida contínua enquanto que sistemas digitais utilizam
quantização do que se mede. Esta quantização, entretanto, não deve ser significativa para não
afetar a exatidão (desvio entre o valor considerado verdadeiro e o valor medido – veja definição na
seção 3.1.13) do equipamento mas deve ser usada como uma característica de imunidade a ruído.
A limitação na exatidão geralmente está associada as porções analógicas e ao conversor A/D.

2.4 Modos de nulo e de deflexão

Instrumentos de medida que funcionam no modo de deflexão apresentam uma saída que
muda proporcionalmente com mudanças na entrada. Classicamente são instrumentos com
ponteiros que apresentam deflexão em virtude de uma força que se opõe a um dispositivo de mola,
por exemplo. Instrumentos que operam com nulo necessitam de uma realimentação (manual ou
automática) para equilibrar a saída, ou seja, manter os ponteiros ou indicadores em uma posição
de equilíbrio ou zero. Utilizam um sensor de equilíbrio entre uma quantidade desconhecida e uma
quantidade padrão. Em geral possui maior exatidão e sensibilidade (razão entre a variação de saída
e a variação correspondente de entrada – veja definição na seção 3.1.7) mas uma pobre resposta
dinâmica. Equipamentos de nulo costumam ser muito exatos porém costumam apresentar pior
resposta temporal que os instrumentos de deflexão.

2.5 Entradas e saídas

O instrumento ideal é aquele que responde a um único tipo de estímulo, ou seja, não é
influenciado por variáveis distintas daquelas que se deseja medir. Este instrumento ideal não
existe e sempre teremos que conviver com entradas que interferem diretamente na saída ou que
modificam a função de transferência do instrumento (Figura 1.2).

Interferência

Modificador Saída
+
Sinal

Figura 1.2: Entradas e saídas.

Entradas que interferem diretamente na saída podem ser, por exemplo, vibrações ou
inclinações em equipamentos mecânicos ou com partes hidráulicas ou ainda o campo de 60 Hz
gerado pelas linhas de energia e que induzem tensões em diferentes elementos alterando
diretamente a saída do equipamento. Entradas que modificam funções de transferência podem
ser, por exemplo, a temperatura, alterando as dimensões de um equipamento mecânico ou valores

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 4


de um divisor resistivo ou a saída de um amplificador, ou variações na fonte de alimentação do
equipamento. Estas perturbações indesejadas no sinal (na entrada ou saída), quando aleatórias, são
chamadas de ruído. Neste contexto o ruído não carrega informação enquanto que o sinal sim.

Para resolver este problema ou minimizar sua influência podemos buscar sensores ou
transdutores que respondam a um único tipo de estímulo e sejam mais insensíveis a interferências
e as variáveis modificadoras. Isto é difícil de obter então outras estratégias normalmente são
empregadas. As principais estratégias são a realimentação com alto ganho de malha, como nos
casos de servo mecanismos, correções matemáticas da saída a partir de estimativas de como as
interferências e os modificadores afetam a saída do equipamento, filtragens e a inclusão de outros
sensores que medem as interferências e os modificadores e os cancelam na saída do equipamento.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 5


3 Características de desempenho estático e dinâmico

3.1 Características estáticas


3.1.1 Calibração estática
As características estáticas de um equipamento, aquelas que dizem respeito a resposta do
equipamento a entradas contínuas de frequência zero, são obtidas através de um procedimento
chamado calibração estática. Este procedimento consiste em apresentar, ao instrumento,
diferentes valores das grandezas desejadas mantendo constante as entradas modificadoras e as
interferências. A relação entre as entradas contínuas e suas respectivas saídas é chamada de
calibração estática. Este procedimento pode ser repetido várias vezes para cada entrada desejada.
A calibração então, pode ser apresentada como uma curva, uma equação ou uma tabela ou ainda
como uma família delas.

Apesar de a definição acima exigir que todas as variáveis modificadoras e de interferência


sejam mantidas constantes durante o processo de calibração, isto é impossível de se obter na
prática. Também não é possível garantir um valor verdadeiro para a grandeza que se deseja medir.
Uma definição mais verdadeira acerca da calibração é dada pelo VIM. No VIM 2012 a calibração é
definida como a “operação que estabelece, sob condições especificadas, numa primeira etapa, uma
relação entre os valores e as incertezas de medição fornecidos por padrões e as indicações
correspondentes com as incertezas associadas; numa segunda etapa, utiliza esta informação para
estabelecer uma relação visando a obtenção dum resultado de medição a partir duma indicação.”
Desta forma o uso da incerteza contorna os problemas práticos apresentados.

O uso da incerteza na calibração de equipamentos é relativamente nova. A abordagem


tradicional, baseada em erro (diferença) entre o valor medido e o valor verdadeiro da grandeza,
definia que existiam erros aleatórios e sistemáticos (seção 3.1.2), mas estes erros deviam ser
tratados diferentemente e não há regras para determinar a combinação destes erros (na verdade
eles eram tratados da mesma forma como agora, porém as definições atuais são mais consistentes
e menos sujeitas a má interpretação). Na abordagem moderna o conceito de erro (normalmente
impossível de ser determinado, pois depende do valor real, verdadeiro, da grandeza) foi
substituído pelo de incerteza. Na abordagem da incerteza o processo é tratado estatisticamente e
dois Tipos de incerteza são definidos, a incerteza do Tipo A e a incerteza do Tipo B. A incerteza
do Tipo A é avaliada de forma estatística (medidas repetidas) e a incerteza do Tipo B é avaliada de
outras formas (uma informação de erro máximo, ou associado a uma leitura entre duas marcações
de uma escala, por exemplo), mas ambas são tratadas matematicamente pela teoria da
probabilidade (transformadas em desvio padrão). Assim, o resultado total pode ser expresso como
um desvio padrão (incerteza padrão). Desta forma a incerteza é um parâmetro não negativo
que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a grandeza que se deseja medir. Convém
salientar que não existe relação entre erro aleatório e a incerteza do Tipo A nem entre o erro
sistemático e a incerteza do Tipo B.

Mais detalhes sobre este tipo de abordagem podem ser obtidos no Guia para a Expressão
da Incerteza de Medição (GUM).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 1


3.1.2 Erros aleatórios e sistemáticos
O erro de medição é a diferença entre o valor medido e um valor de referência. Se este
valor de referência corresponde ao valor verdadeiro do mensurando então o erro (verdadeiro) é
desconhecido, pois o valor verdadeiro nunca poderá ser definido. Se o valor de referência
corresponde ao valor de um padrão de medição ou um valor convencional (uma constante, como a
aceleração da gravidade, uma equação teórica…) então o erro pode ser determinado.

Em medidas repetidas a parcela do erro que permanece contante é chamada de erro


sistemático e aquela que varia de forma imprevisível é chamada de erro aleatório. O erro aleatório
é aquele devido a causas desconhecidas que ocorrem mesmo que todos os erros sistemáticos
tenham sido levados em conta. Esses erros têm características estatísticas e só assim podem ser
considerados.

Já os erros sistemáticos correspondem a erros previsíveis mas que não se devem a um uso
inadequado dos instrumentos. Nesta família de erros podemos listar os erros instrumentais
(equipamento não calibrado, danificado…), erros característicos do instrumento (diferença entre a
curva ideal e a curva real de calibração…), erros dinâmicos (caso um equipamento seja calibrado
em condições estáticas e usado em medidas dinâmicas, tempo de resposta inadequado, resposta
em frequência, distorções de amplitude e fase…), e erros ambientais (aqueles derivados do
ambiente onde o sistema de medição é utilizado como temperatura, pressão, vibrações, choques,
altitude…). A presença de erros sistemáticos pode ser descoberta realizando a medida com
diferentes dispositivos, diferentes métodos, mudança nas condições de medida e até mesmo
trocando o operador. O termo tendência (bias) é comum para designar a estimativa de um erro
sistemático.

Além destes, também nos deparamos com erros grosseiros devidos ao uso inadequado do
instrumento como erros de leitura, erros de cálculo e registro de resultados e erros de inserção
(aqueles onde o instrumento é inserido de forma incorreta no local da medição, como por exemplo
o uso de um voltímetro com impedância de entrada da mesma ordem de grandeza dos resistores
sobre os quais se deseja medir a tensão) ou erros de aplicação (causados pelo operador, tais como
o fechamento de um sensor de pressão com bolhas de ar em seu interior). Estes erros devem ser
evitados a qualquer custo.

Informações sobre erro podem ser fornecidas na forma absoluta, relativa ou ambas.
Quando apenas uma informação de erro absoluto, ou o erro relativo a um valor fixo, é fornecida
este costuma ser o erro máximo apresentado pelo dispositivo. Este valor pode representar um erro
proporcionalmente pequeno quando estamos realizando medidas próximas do valor nominal do
dispositivo, mas proporcionalmente elevado quando a medida é feita para valores pequenos. Por
exemplo, se um dispositivo pode medir até 100 N com erro de 0,1% (0,1 N) ele pode errar 100%
quando medir coisas da ordem de 0,1 N. Se o erro for apresentado de forma relativa ao valor que
está sendo medido o dispositivo de medida deve ser capaz de perceber variações de entrada cada
vez menores quando estamos medindo valores baixos da grandeza. Por exemplo, se um dispositivo
apresenta erro de 0,1% do valor medido ele pode errar 0,1 N quando medir 100 N ou 0,0001 N se
estiver medindo 0,1 N. No primeiro exemplo fica claro como é ruim fazer medidas longe do valor
nominal do dispositivo e o segundo exemplo mostra que quando a medida se aproximar de zero as
incertezas também devem zerar, o que é impossível. Alternativamente o erro de alguns
dispositivos é fornecido com um valor absoluto e outro relativo. Neste caso ou o erro total é a
soma dos dois erros em cada valor medido ou o maior erro é usado.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 2


3.1.3 Faixa
A faixa, ou, segundo o VIM, intervalo de medição (range), diz respeito aos valores máximo
e mínimo do parâmetro de entrada que podem ser medidos. Para um dado sensor de pressão, por
exemplo, a faixa de operação pode ser de –60 a +400 mmHg. Não existe a necessidade da faixa
incluir valores negativos e positivos, ser simétrica, ou englobar o zero. De qualquer forma a faixa é
sempre informada como um intervalo de valores.

Em instrumentos completos, onde a saída já é calibrada (a saída é idealmente igual à


entrada), a faixa é estipulada com relação a saída. Com relação a sensores e transdutores
normalmente o interesse é a grandeza que se deseja medir, ou seja, a entrada. Mesmo assim em
alguns contextos o termo faixa, ou range, se refere apenas a um intervalo de valores independente
deles serem entrada ou saída, ou ainda, variáveis modificadoras, como no caso da faixa de
temperatura em que o equipamento pode operar.
3.1.4 Faixa dinâmica
A faixa dinâmica, formalmente conhecida por amplitude de medição (span), é um escalar
que indica a amplitude do intervalo de medição. Assim, se um sensor tem faixa de –60 a
+400 mmHg ele apresenta uma faixa dinâmica de 460 mmHg.

Assim como ocorre para a definição de faixa, a faixa dinâmica é estipulada com relação a
saída dos equipamentos calibrados (entrada e saída com a mesma unidade) e com relação a
grandeza que se deseja medir, para o caso dos sensores e transdutores. O termo faixa dinâmica, ou
span, também pode ser utilizado apenas para indicar a variação máxima de entrada, saída ou
variáveis modificadores. Quando a faixa dinâmica for utilizada para fazer normalizações, por
exemplo, como no cálculo da linearidade ou histerese, emprega-se a faixa dinâmica da grandeza
onde é calculado o erro (normalmente na saída). De qualquer forma, a faixa dinâmica é um escalar
cujo valor é igual à diferença entre o máximo e o mínimo de uma determinada grandeza.
3.1.5 Resolução
Esta especificação é a menor mudança incremental do parâmetro de entrada que causa
uma variação detectável no valor de saída do sensor. A resolução pode se expressa como um
percentual da faixa dinâmica ou em valores absolutos. Em sistemas digitais a resolução está
fortemente ligada ao nível de quantização (conversores analógico para digital e vice-versa) e em
sistemas analógicos ao ruído, que aumenta a incerteza de medição e limita o menor valor
detectável do mensurando.
3.1.6 Limiar
Maior valor de um mensurando e que não causa variação perceptível na indicação
correspondente. Assim como na resolução o seu valor pode depender, por exemplo, de ruído ou
atrito.
3.1.7 Sensibilidade estática
Quando uma calibração estática é realizada a sensibilidade corresponde a inclinação da
curva de calibração. Esta inclinação pode variar com a relação a entrada (quando a relação entre
entrada e saída é não linear) e neste caso duas coisas podem acontecer: a sensibilidade estática
deixa de ser um parâmetro importante (casos muito não lineares ou onde a exatidão requerida é
grande) ou uma reta de calibração é fornecida e os desvios com relação a está reta são
considerados erros. É interessante notar que a cuva de calibração para um elemento sensor é

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 3


diferente da curva de calibração do equipamento onde ele está inserido, mesmo que após o sensor
exista apenas um amplificador com ganho unitário. Isto acontece pois a saída do sensor será uma
tensão, por exemplo, e a saída do equipamento é um valor correspondente a grandeza que está
sendo medida. Ou seja, o equipamento faz uma dupla conversão de valores. Um sensor de pressão,
por exemplo, apresenta uma sensibilidade em V/cmH2O mas antes de apresentar o valor no
mostrador do equipamento este sinal em Volts deve ser novamente convertido para cmH 2O.
Algumas vezes, quando se utilizam sensores ativos, a sensibilidade também pode aparecer como
uma função da tensão de alimentação ou o valor nominal do sensor, ou seja, como uma dupla
razão entre grandezas. Neste caso uma sensibilidade de 10 V/V/mmHg, por exemplo, significa que
o sensor produzirá 10 V de tensão de saída por Volt de tensão de excitação e por mmHg de
pressão aplicada.
3.1.8 Deriva
A deriva ou drift corresponde a variação de um determinado valor ao longo do tempo e
ocorre em função de características específicas de cada dispositivo. Também é possível especificar
esta deriva em função de alguma outra variável específica como a temperatura.
3.1.9 Linearidade
A linearidade de um sensor é um tipo de parâmetro que expressa o quanto a sua curva
característica se desvia da reta de calibração. A linearidade é uma característica típica de
equipamentos ou sensores cuja relação entre entrada e saída pode ser considerada linear. Neste
caso o fabricante específica uma reta de calibração para o equipamento. Segundo a IEC 61298-2,
entretanto, esta reta pode ser definida de três formas diferentes. Ela pode ser a reta que passa
pelos pontos extremos (menor e maior valor) da curva de calibração média, a reta que minimiza o
erro com a curva de calibração média ou a reta que passa pela origem e minimiza o erro com a
curva de calibração média, mas, dependendo da área, outras definições podem surgir, fique atento.

A linearidade normalmente é especificada em termos do percentual de não linearidade, ou


seja, do erro máximo de saída entre o valor medido pela curva de calibração média e a reta de
referência. Muitas vezes este erro é dado de forma relativa a medida atual, ao fundo de escala de
saída (neste caso costuma-se apresentar as letras FS – full scale – ou outro indicador semelhante)
ou, conforme recomendado pela IEC 61298-2, faixa dinâmica de saída (FSS – full span scale).
(Figura 1.1). Observe que a não linearidade é uma razão entre valores de mesma unidade e,
portanto, é adimensional.

Saída Erro Máximo

FS
Reta de
Calibração FSS
Curva de
Calibração
Média

Entrada
Figura 1.1: Avaliação da linearidade.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 4


3.1.10 Histerese e outras não linearidades
Nem sempre a saída de sensores, transdutores ou dispositivos de medição é linear. Todo o
tipo de não linearidade pode estar presente, mas algumas são muito comuns e recebem nomes
especiais. Histerese, saturação, rompimento, zona morta, e bang-bang estão entre as mais comuns
e são apresentadas na Figura 1.2.

a) y b) y c) y

x x x

d) y e) y

x x

Figura 1.2: Não linearidades mais comuns. a) Histerese; b) Saturação; c) Rompimento; d) Zona
Morta; e) Bang-Bang. Entrada na abcissa e saída na ordenada.

Quando a saída do dispositivo difere para um mesmo valor de entrada, dependendo se o


sinal está subindo ou descendo em amplitude o dispositivo apresenta histerese (Figura 1.2a). Para
a determinação ou caracterização da histerese devem ser estimadas as diferenças de saída para
cada entrada (durante a subida e a descida) e, então, o maior valor é usado. O valor pode ser
indicado como um percentual com relação a faixa dinâmica de saída (assim como a maioria dos
erros). Normalmente encontramos histerese em sistemas magnéticos, sistemas elásticos ou outros
com perdas no armazenamento de energia, engrenagens e outros. Dispositivos onde há um valor
máximo (ou mínimo) para a saída a partir do qual incrementos na entrada não acarretam em
modificações na saída apresentam saturação (Figura 1.2b). É um efeito muito comum devido a
limitações físicas dos componentes e ocorrem marcadamente em dispositivos magnéticos, com
fontes de alimentação, ou com qualquer tipo de limitador mecânico. Um efeito dual é conhecido
como rompimento (breakdown), nele a saída dispara a partir de uma determinada entrada
(aumenta com elevada derivada – Figura 1.2c). Isto pode estar associado a situações catastróficas
de ruptura de elementos, dielétrico, por exemplo, mas pode ser intencional e útil como nos casos
de diodos. Outra não linearidade muito comum é a zona morta (dead zone) que ocorre quando
variações da entrada em uma determinada região, tipicamente em torno do zero, não produzem
uma saída correspondente (Figura 1.2d). Dispositivos mecânicos normalmente apresentam este
comportamento em função das diferenças entre o atrito estático e dinâmico, mas este efeito
também pode ser visto em circuitos eletrônicos com componentes não lineares como diodos. Por
último há o bang-bang (Figura 1.2e) que se caracteriza por uma variação abrupta da saída para
uma variação mínima da entrada. As razões para este efeito não linear podem ser as mesmas
encontradas na zona morta e por esta razão este tipo de não linearidade também é chamada de
Coulomb frictional.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 5


3.1.11 Ajustes
Segundo o VIM os ajustes correspondem a um “conjunto de operações efetuadas num
sistema de medição, de modo que ele forneça indicações prescritas correspondentes a
determinados valores duma grandeza a ser medida”. Existem vários ajustes que podem ser feitos
em sistemas de medição e dentre eles podemos citar o ajuste de zero (offset) e o ajuste de ganho ou
sensibilidade (Figura 1.3).

O ajuste de zero é feito para tornar a saída do sistema de medição igual a zero quando a
entrada for nula. Também pode ser atribuído a diferença entre o valor de saída realmente
observado e aquele especificado para uma dada condição. O ajuste de ganho ou sensibilidade, por
sua vez, é realizado para fazer com que a saída do dispositivo varie conforme prescrito. Estes
ajustes não devem ser confundidos com calibração, que é um pré-requisito para o ajuste, e muito
provavelmente, após um ajuste, o sistema deve ser recalibrado.

Saída Saída
Curva
Ideal
Ajuste de offset
Ajuste de Curva
Sensibilidade Real
Ajuste de offset

Entrada
Entrada
Figura 1.3: Ajuste de zero (esquerda) e de sensibilidade (direita).

O termo offset também é comumente empregado para indicar quando a saída de um


dispositivo não é zero para uma entrada nula. Isto é mais comum em sensores e transdutores do
que em instrumentos.
3.1.12 Precisão
O conceito de precisão refere-se ao grau de concordância de uma medição realizada
diversas vezes em condições de repetibilidade (mesmo procedimento, operadores, sistema de
medição, condições de operação e local onde são realizadas medidas repetidas de um objeto num
curto espaço de tempo) ou reprodutibilidade (diferentes procedimentos, operadores, sistema de
medição, condições de operação e local onde são realizadas medidas repetidas do mesmo objeto).
A precisão é uma medida de dispersão e geralmente é expressa como um desvio padrão, variância
ou coeficiente de variação. A precisão está ligada a um erro aleatório.
3.1.13 Exatidão
A exatidão corresponde ao grau de concordância entre o valor medido e o valor verdadeiro
de um mensurando. Tradicionalmente a exatidão (accuracy) reflete um comportamento de
tendência central mas não é uma grandeza e, portanto, não pode ser quantificada numericamente.
Nos catálogos dos fabricantes de sensores, transdutores e equipamentos, assim como na norma

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 6


IEC 61298-2, define-se inexatidão como o erro máximo entre o valor verdadeiro e o valor medido.
Nela são incluídos os erros relacionados a linearidade e a histerese entre outros.

Apesar da definição aparentemente coerente observa-se, no exemplo da seção 3.1.14, que a


exatidão é obtida pela diferença entre o maior erro positivo e o maior erro negativo, dentre todas
as medidas realizadas, mesmo que estes erros tenham sido obtidos em pontos diferentes da curva.
Desta forma, a exatidão também é influenciada pela precisão da medida, e justamente para acabar
com esta ambiguidade a norma também passou a definir o termo “veracidade de medição”. A
veracidade de medição é o grau de concordância entre a média de infinitos valores medidos e o
valor de referência, e assim como a exatidão não pode ser quantificada. Com esta definição extra a
veracidade de medição está ligada ao erro sistemático (Figura 1.4), mas não ao erro aleatório e a
exatidão está ligada tanto ao erro sistemático quanto aleatório (diferente da definição tradicional).

Exatidão
Veracidade de Medição

Precisão
Figura 1.4: Relação entre precisão, veracidade de medição e exatidão.

Assim como outras características de desempenho a inexatidão pode ser dada de forma
percentual calculada com relação ao valor medido, valor do fundo de escala ou faixa dinâmica
(seção 3.1.4). Este último é o recomendado pela IEC 61298-2 mas, mesmo para a faixa dinâmica,
existem variantes (faixa dinâmica de saída ideal ou faixa dinâmica de entrada nominal).
3.1.14 Exemplo sobre calibração estática
Uma tabela de calibração foi feita com três ciclos de medida onde a entrada foi
gradativamente aumentada e diminuída. A tabela a seguir mostra os erros relativos obtidos pela
diferença entre cada medida e seu valor de referência dividido pelo valor máximo de saída (IEC
61298-2). Com esta tabela de erros é possível determinar diretamente a não repetibilidade, a
histerese, a inexatidão e o erro máximo:

Não repetibilidade (tracejado – dif. máxima nas mesmas condições): 0,13-0,08 = 0,05%

Histerese (pontilhado – dif. máxima no mesmo ciclo): 0,15-(-0,07) = 0,22%

Inexatidão (linha dupla – máximo e mínimo erro): [-0,32%; 0,26%]

Erro máximo (linha cheia – máximo da curva média): -0,30%

A linearidade também pode ser encontrada se uma reta de calibração for especificada.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 7


Ciclo 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Média
Entrada Média
Erro percentual Erro percentual Erro percentual Erro percentual
%
Subindo Descendo Subindo Descendo Subindo Descendo Subindo Descendo Geral
0 -0,04 -0,05 0,06 -0,05 -0,050
10 0,06 0,14 0,04 0,15 0,05 0,16 0,05 0,15 0,100
20 0,13 0,23 0,08 0,26 0,09 0,26 0,10 0,25 0,175

30 0,11 0,24 0,09 0,25 0,1 0,26 0,10 0,25 0,175

40 -0,04 0,13 -0,07 0,15 -0,04 0,17 -0,05 0,15 0,050


50 -0,18 -0,02 -0,16 0,01 -0,13 0,01 -0,16 0,00 -0,078
60 -0,27 -0,12 -0,25 -0,1 -0,23 -0,08 -0,25 -0,10 -0,175
70 -0,32 -0,17 -0,3 -0,16 -0,28 -0,12 -0,30 -0,15 -0,225
80 -0,27 -0,17 -0,26 -0,15 -0,22 -0,13 -0,25 -0,15 -0,200
90 -0,16 -0,06 -0,15 -0,05 -0,14 -0,04 -0,15 -0,05 -0,100
100 0,09 0,11 0,1 0,10 0,100

Linearidade (reta de calibração escolhida – curva média geral):

1. Reta que passa pelos pontos médios extremos: -0,28%;

2. Reta que passa pela origem e minimiza os erros quadrados: +0,22%;

3. Reta de mínimos quadrados: +0,2%.

Saída Linearidade

Histerese

FS

FSS

Curva
Média

Entrada
Figura 1.5: Diferenças entre as forma de cálculo da histerese e da linearidade.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 8


Neste exemplo vale a pena observar que as medidas de histerese e linearidade são
independentes o que torna possível a obtenção de valores de histerese menores ou maiores do que
os de linearidade. A diferença entre as duas definições é ilustrada na Figura 1.5.

3.2 Características dinâmicas

As características dinâmicas de um dispositivo dizem respeito a sua resposta temporal ou


resposta em frequência (resposta a excitações senoidais de diferentes frequências). Em sistemas
que não apresentam elementos armazenadores de energia (capacitores, indutores, massa,
elementos elásticos…) a saída muda instantaneamente com a entrada, mas quando armazenadores
de energia estão presentes a saída sempre apresenta uma dinâmica temporal. A caracterização
dinâmica destes sistemas é realizada apresentando a eles entradas variantes no tempo.
Tradicionalmente estes ensaios têm como base a resposta ao impulso, ao degrau ou a sinais
senoidais de frequências distintas. As duas primeiras permitem inferir diretamente sobre questões
temporais e não lineares com sinais de amplitude elevada. A terceira analisa especificamente o
comportamento em frequência do sistema e deve ser realizada com amplitude baixa para evitar
distorções (usualmente 20% da faixa dinâmica de saída). A forma como as entradas são produzidas
e os tipos de ensaios que podem ser realizados dependem da grandeza.
3.2.1 Sistemas lineares no domínio do tempo
Para sistemas lineares e invariantes no tempo, com uma excitação (entrada) e uma resposta
(saída), a relação entre entrada e saída pode ser expressa por uma equação diferencial linear de
coeficientes constantes,

dny d n−1 y dm x d m−1 x


n
+a ⋅
1 n−1
+...+a n⋅y=b 0⋅ m
+b ⋅
1 m−1
+...+bm⋅x (3.1)
dt dt dt dt

onde y representa a saída e x a entrada do sistema.

A resposta deste sistema corresponde a solução da equação diferencial que o descreve.


Genericamente esta solução apresenta uma soma de exponenciais (tantas quantas a ordem do
sistema – ordem da equação diferencial) além de uma resposta forçada (as vezes chamada de
particular) cujo formato é o mesmo da entrada. Assim

n
y (t )= ∑k i⋅e λ ⋅t +y p (t )
i
(3.2)
i =1

onde yp é a solução particular que tem o mesmo formato da excitação x. As constantes ki são
obtidas pelas condições iniciais e os expoentes λi são as raízes da equação característica.

Apesar de não haver limites para a ordem do sistema costumam ser estudados apenas os
sistemas de ordem zero, um e dois. Sistemas de ordem zero correspondem a sistemas que não são
descritos por equações diferenciais e, portanto, não apresentam nenhuma dinâmica temporal na
resposta. Sistemas de primeira ordem apresentam equações diferenciais de ordem 1 com apenas
uma exponencial. Sistemas de segunda ordem (equações diferenciais de ordem 2) apresentam duas
exponenciais que podem ter expoentes reais ou complexo conjugados, o que pode levar ao

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 9


surgimento de oscilações. Sistemas de ordem maior apresentam soluções semelhantes as
anteriores. Atrasos na resposta também podem estar presentes e costumam ser modelados
separadamente.
3.2.2 Resposta ao degrau
A resposta ao degrau é uma das formas mais comuns de avaliação da dinâmica de sistemas.
Degraus de entrada correspondendo a 80% da faixa dinâmica de saída devem ser aplicados
mudando a saída de 10% para 90% e de 90% para 10%. Degraus menores, produzindo uma saída
correspondente a 10% da faixa dinâmica de saída também devem ser ensaiados. Estes degraus
podem ser aplicados em diferentes faixas cobrindo toda a operação do dispositivo. As faixas de 5%
a 15%, de 45% a 55% e de 85% a 95% são as recomendadas pela IEC 61298-2.

A IEC 61298-2 também recomenda que neste teste sejam anotados o tempo de
estabilização (settling time) da saída em 99% do seu valor final, o tempo em que a saída permanece
em zero (dead time), os tempos e amplitudes de sobrepassos (overshot), o tempo de subida entre
10% e 90% do valor final (rise time), o tempo de resposta (tempo até a primeira vez que a saída
atinge 90% do seu valor final), constantes de tempo entre outros. Na Figura 1.6 são apresentados
algumas das características listadas.

Figura 1.6: Características dinâmicas obtidas da resposta ao degrau.


É importante ter em mente que nem sempre estas informações estarão disponíveis e nem
sempre serão apresentadas da forma estipulada. Os percentuais para tempo de estabilização, e
tempo de resposta, por exemplo, mudam com frequência. Para saber exatamente o que está sendo
caracterizado é necessário ler completamente os manuais dos dispositivos e se estivermos
caracterizando o nosso próprio dispositivo convém fazê-lo de acordo com as normas vigentes e o
padrão da área.
3.2.3 Resposta em frequência
Além da análise pelo domínio do tempo os sistemas lineares também podem ser descritos
pelo domínio da frequência (Figura 1.7). Isto é feito pelas transformadas de Laplace ou Fourier e,
indiretamente, usando-se fasores. Neste tipo de análise é comum a apresentação de um gráfico de
módulo e fase da sensibilidade em função da frequência (gráfico de resposta em frequência ou

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 10


diagramas de Bode). Nos gráficos são analisados o ganho (sensibilidade) e a fase do sinal para cada
frequência.

Normalmente são analisadas desde frequências que permitam obter o ganho estático do
sistema (frequência zero) até frequências onde a saída corresponda a 10% do sinal de entrada ou a
fase apresente variação de 360º. Também devem ser marcados os pontos onde o ganho seja
máximo ou reduzido para 70% do valor basal além dos pontos onde a fase atinja 45 º ou 90º (IEC
61298-2 ).

Na maioria das vezes os sensores ou transdutores apresentarão comportamentos


semelhantes aos de filtros passa baixas (Figura 1.7) de primeira e segunda ordem ou de filtros
passa faixa, para dispositivos que só atuam em uma determinada faixa de frequência. Um filtro
passa baixas é aquele onde o ganho é maior nas frequências baixas do que nas altas.

Figura 1.7: Resposta em frequência de cinco sistemas de segunda ordem. Detalhes na seção 3.2.4.
3.2.4 Exemplos de sistemas de ordem zero, um e dois
Sistemas de ordem zero, um e dois serão ilustrados com exemplos elétricos, mas, por
analogia, poderiam ser sistemas de qualquer natureza.

Para o sistema de ordem zero da Figura 1.8, supondo que a entrada x do sistema seja a
fonte de tensão vs e a saída seja a tensão v sobre o resistor R2, a equação da saída pode ser obtida
algebricamente por meio de (3.5).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 11


Figura 1.8: Sistema de ordem zero.

vs
i TOT = (3.3)
R 1+ R 2+ R 3

v=i TOT⋅R 2 (3.4)

vs
v= ⋅R (3.5)
R 1 +R 2 +R 3 2

Observa-se que a saída é independente do tempo. Isto significa que, se a entrada muda, a
saída muda instantaneamente, ou seja, a resposta a um degrau será um degrau e um gráfico de
resposta em frequência mostra ganho constante com fase nula para todas as frequências. Na
prática os sistemas de ordem zero são apenas uma idealização da realidade, afinal todos os
sistemas elétricos apresentam capacitâncias e indutâncias parasitas, os sistemas mecânicos sempre
apresentam massa e alguma elasticidade, ou seja, todos os sistemas sempre apresentam uma
dinâmica temporal. Acontece que nos sistemas de ordem zero esta dinâmica pode ser considerada
insignificante se comparada a velocidade com que as grandezas de entrada variam.

Para o sistema de ordem 1 da Figura 1.9, considerando que a tensão v é a entrada do


sistema e a tensão sobre capacitor, vc, é a saída do sistema, a equação que relaciona entrada e
saída (3.9) é uma equação diferencial.

Figura 1.9: Sistema de primeira ordem.

Transformando a fonte de tensão em série com o resistor no seu equivalente Norton e


equacionando a corrente em cada componente temos

v
i C +i R = (3.6)
R

e sabendo que

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 12


dv
i C =C⋅ C (3.7)
dt

temos

dv v v
C⋅ C + C = (3.8)
dt R R

dv C v C v
+ = (3.9)
dt R⋅C R⋅C

A solução de (3.9), uma equação diferencial de ordem 1, linear e de coeficientes constantes,


é uma exponencial somada a uma constante (resposta particular). O expoente pode ser obtido da
equação característica

1
S+ =0 (3.10)
R⋅C

cuja raiz é S=-1/RC. Desta forma

1
− ⋅t
v C =k 1⋅e R⋅C
+k 2 (3.11)

onde os coeficientes k1 e k2 dependem, entre outros, das condições iniciais do problema.

Isto significa que a saída do sistema não muda instantaneamente, ou seja, existe uma
dinâmica temporal entre a entrada e a saída (3.11). Neste caso a dinâmica temporal é controlada
pela exponencial. Observa-se para t=R·C, 2·R·C, 3·R·C… que a exponencial se reduz a e-1, e-2, e-3… e
por esta razão o produto R·C é chamado de constante de tempo do circuito (τ). Toda exponencial
decrescente apresenta 37% de seu valor inicial em τ, 14% em 2·τ, 5% em 3·τ, 2% em 4·τ e 0,7% em
5·τ. A Figura 1.10 mostra a resposta do circuito para uma entrada em degrau. Nesta simulação
v=1 V e R·C=1 s.

A constante de tempo tem unidade de segundos e corresponde ao recíproco da frequência


natural do circuito (ω). Um circuito RC com apenas um capacitor equivalente e um resistor
equivalente sempre apresenta constante de tempo da forma de um produto R·C. Sistemas de
primeira ordem nunca terão oscilações nem sobrepasso na resposta ao degrau. O tempo de subida
(para a saída mudar de 10% para 90% do valor final ou vice-versa) pode ser facilmente calculado a
partir de (3.11)

t r ≈2,197⋅τ (3.12)

O mesmo circuito também pode ser analisado pelo domínio da frequência, usando fasores
(3.13) ou Laplace (3.16). Neste caso calcula-se a chamada função de transferência (razão entre
saída e entrada) cujo módulo (3.15) corresponde ao ganho ou a sensibilidade em cada frequência
(Figura 1.11). Observa-se que, tanto no domínio do tempo quando no domínio da frequência a

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 13


resposta ao degrau e a função de transferência são calculadas levando-se em conta condições
iniciais nulas para os elementos armazenadores de energia.

Figura 1.10: Resposta ao degrau de um sistema de primeira ordem.

[ ]
V C ( j ω) V ( j ω) 1 1 1 R⋅C
H C ( j ω)= = ⋅ ⋅ = = (3.13)
V ( j ω) 1 j⋅ω⋅C V ( j ω) 1+ j⋅ω⋅R⋅C 1
+R j⋅ω+
j⋅ω⋅C R⋅C

1 1− j⋅ω⋅C⋅R 1− j⋅ω⋅C⋅R
H C ( j ω)= ⋅ = (3.14)
1+ j⋅ω⋅C⋅R 1− j⋅ω⋅C⋅R 1−ω2⋅C 2⋅R 2

1
H C ( j ω)= ∢ [−arctan (ω⋅C⋅R ) ] (3.15)
√ 1+( ω⋅C⋅R ) 2

Para simplificar a notação podemos substituir j⋅ω por S (Laplace). Neste caso

a
H C ( S )= (3.16)
S +a

Com esta notação é fácil perceber que máx (H C (S ))=1 quando S →0 . Também é possível
observar que o denominador apresenta o mesmo formato e a mesma raiz da equação característica
da equação diferencial de ordem 1, ou seja, a=1/τ. Este padrão se repete para todas as funções de
transferência de ordem 1. Nas funções de transferências as raízes do denominador são chamadas
de polos do sistema e, neste caso, estão relacionadas com a constante de tempo e indiretamente
com o rise time.

Para a frequência que corresponde ao recíproco da contante de tempo (ωC=1/τ) o ganho da


função de transferência cai para 70,7% do seu valor original (é reduzida em 3 dB com relação ao
valor original em dB) e a fase do sinal de saída fica 45o atrasada com relação a senoide de entrada.
A maior defasagem que pode ser obtida com um sistema de ordem 1 é 90 o e a menor é zero.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 14


Figura 1.11: Resposta em frequência de um sistema de primeira ordem. O eixo das frequências e do
ganho estão em escala logarítmica.

Já para um sistema de segunda ordem, como o da Figura 1.12, uma equação diferencial de
ordem 2 é necessária para equacionar a saída (no nosso caso iL  – corrente no indutor) em função
da entrada (no nosso caso I – fonte de corrente independente). Assim

Figura 1.12: Sistema de segunda ordem.

i C i R i L= I (3.17)

e sabendo que

di L
v R=v C =v L =L⋅ (3.18)
dt

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 15


d 2 i L L di L
C⋅L⋅ 2 + ⋅ +i L =I (3.19)
dt R dt

d 2iL 1 di L 1 I
+ ⋅ + ⋅i L = (3.20)
dt 2
R⋅C dt C⋅L C⋅L

Observe que a equação diferencial de ordem 2 com coeficientes constantes e invariantes no


tempo (3.20) apresenta equação característica

1 1
S2 + ⋅S + =0 (3.21)
R⋅C L⋅C

cuja forma geral é

ω0
S2 + ⋅S +ω20 =0 (3.22)
Q

e as raízes são s1 e s2 tal que

i L (t )=k 1⋅e s ⋅t +k 2⋅e s ⋅t +k 3


1 2
(3.23)

As raízes s1 e s2 podem ser reais ou complexas e, neste último caso, segundo a fórmula de
Euler, a solução pode conter senos e cossenos amortecidos (multiplicados por exponenciais reais).
Na Figura 1.13 são apresentadas as soluções para ω0=1 e Q=0,5 (raízes reais e iguais), Q=0,707
(raízes com parte real igual à imaginária), Q=1, 2 e 10 (raízes com parte real menor que a
imaginária).

Pelo domínio da frequência a função de transferência entre as correntes no indutor e na


fonte pode ser obtida pelo simples divisor de corrente

[ ]
I L ( j ω) 1 1 1
H L ( j ω)= = I ( j ω)⋅ ⋅ ⋅
I ( j ω) 1 1 j ω⋅L I ( j ω) (3.24)
+ j⋅ω⋅C +
R j⋅ω⋅L

Simplificando a equação e substituindo j⋅ω por S

1
C⋅L
H L (S )= (3.25)
1 1
S 2+ ⋅S +
R⋅C C⋅L

Mais uma vez o polinômio característico forma os polos da função de transferência e, da


mesma forma que no domínio do tempo, ele pode ser escrito em função de ω0 e Q. A resposta em
frequência (Figura 1.14) pode, então, ser desenhada em função do módulo e da fase de HL(jω).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 16


Figura 1.13: Resposta ao degrau de um sistema de segunda ordem. Verde Q=0,5; azul Q=0,707;
vermelho Q=1; azul claro Q=2; magenta Q=10.

Figura 1.14: Resposta em frequência de sistemas de segunda ordem. Verde Q=0,5; azul Q=0,707;
vermelho Q=1; azul claro Q=2; magenta Q=10.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 17


Para funções de ordem maior do que 2 os polinômios formados no denominador podem ser
fatorados em polinômios de ordem 1 e 2.

3.3 Outras características

Outras características funcionais podem ser informadas. As mais comuns são a isolação
elétrica do dispositivo em condições de temperatura e umidade distintos, consumo energético,
flutuação do sinal de saída (ripple), limites ajustáveis, flutuações com temperatura (drift) ou de
longo tempo, impedâncias de entrada e saída, características de dispositivos pneumáticos como
consumo de ar, consumo de gás, fluxos entre outros. Cada dispositivo deve vir com informações
complementares específicas de acordo com cada aplicação.

3.4 Aspectos numéricos


3.4.1 Algarismos significativos
Em instrumentação não são usados todos os algarismos que resultarem das contas
efetuadas uma vez que o número de algarismos significativos, ou o número de casas decimais, está
ligado a precisão e a incerteza. De um modo geral os algarismos incertos não devem ser
apresentados, pois levam a uma falsa impressão de precisão ou incerteza. Para evitar este
problema, o melhor é realizar os arredondamentos adequados e entender como as incertezas se
propagam nos cálculos.

Antes de mais nada é necessário definir algarismos significativos e casas decimais. A forma
mais fácil de entender estes conceitos é com exemplos. O número 0,0453, por exemplo, tem apenas
3 algarismos significativos, mas 4 casas decimais, enquanto que o número 4,350 tem 4 algarismos
significativos e apenas 3 casas decimais. Ou seja, o último algarismo de um determinado valor ou
medida representa uma incerteza associada a este valor ou medida. Se a medida indica 101 V é
mais provável que a resposta certa esteja mais próxima de 101 V do que de 100 ou 102 V. Se a
medida indica 101,0 V é mais provável que a resposta verdadeira está mais próxima de 101,0 V do
que de 100,9 ou 101,1 V. Entretanto, para o caso de números inteiros que terminam com zero isto
pode não ser verdade. O valor 10.000 Ω pode ter sido obtido com cinco algarismos significativos
ou menos. Para evitar esta confusão estes números são melhores apresentados na notação
científica. Assim, 1,00·104 Ω possui 3 algarismos significativos e 1,0000·104 Ω possui cinco
algarismos significativos.

Regras de arredondamento também devem ser definidas. De um modo geral os


arredondamentos devem ser feitos sempre para o número mais próximo, porém quando os
números terminarem em 5 devem, preferencialmente, ser arredondados para o algarismo par mais
próximo. Por exemplo 2,635 deve ser arredondado para 2,64 e 7,6345 para 7,634.

Para fazer adições ou subtrações utiliza-se um algarismo significativo a mais que no


número de menor precisão. O resultado deve ser arredondado para o mesmo número de casas
decimais ou algarismos significativos do número menos preciso. Por exemplo, a soma de 18,7 com
3,624 deve ser feita como 18,70 somado a 3,62 cujo resultado é 22,3. Por outro lado 1,02·103 somado
a 5,36 resulta em 1,02·103 mas 1,02·103 somado a 6,36 resulta em 1,03·103.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 18


Para multiplicação, divisão, radiciação e outras funções matemáticas se utilizam números
com um algarismo significativo a mais que o do número com menor número de algarismos
significativos. O resultado é arredondado para o número com a menor quantidade de algarismos
significativos. O produto de 35,68 por 3,18 resulta em 113,4624 que deve ser arredondado e
expresso como 113, pois uma das medidas só tem três algarismos significativos (note que a casa
depois da vírgula pode assumir qualquer valor entre 0 e 8 (35,69·3,19=113,8511 e
35,67·3,17=113,0739, então não há razão para exibir estes dígitos).

Assim, se uma medida for obtida como uma média de outras medidas, como por exemplo, a
média de 5202 g, 5202 g e 5203 g, deve-se tomar cuidado com a apresentação do resultado. A
apresentação do número 5202,3333 (o valor da média) não é muito indicada, pois todas as contas
foram realizadas com apenas quatro algarismos significativos, então é melhor apresentar o
resultado com quatro algarismos significativos. Para apresentar o valor da média é importante
informar que o valor foi obtido por uma média de três medidas, cada qual com quatro algarismos
significativos.

Diversas ferramentas estão disponíveis para cálculos levando em conta o número de


algarismos significativos e arredondamentos. Um exemplo, que usa as regras apresentadas, é a
Significant Figures Calculator.
3.4.2 Representação de incertezas
As incertezas (assim como os erros) podem ser representadas de três formas principais,
absoluta, relativa e percentual (também podem ser apresentadas como partes por milhão, ppm, ou
partes por bilhão, ppb) conforme indicado a seguir. No exemplo são apresentadas três formas de
representar uma medida de 100 s com incerteza de 2 s. Observe o uso apropriado da unidade
apenas para o caso da representação absoluta.

Absolutas – t=100±2s

Relativas – t=(100s±0,02)

Percentual – t=100s±2 %
3.4.3 Cálculo e propagação de incertezas
Para o caso de medidas repetidas, onde as estimativas do mensurando podem ser feitas por
processos estatísticos é possível determinar um desvio padrão desta medida. Este desvio padrão se
refere a incerteza padrão da medição. Assim, uma incerteza padrão combinada pode ser
obtida considerando-se a incerteza padrão individual de cada elemento que afeta a estimativa do
mensurando. Esta incerteza padrão combinada pode, então, ser utilizada para estimar um
intervalo onde o valor verdadeiro de um mensurando provavelmente se encontra. Isto é feito com
o cálculo da incerteza de medição expandida, que corresponde a incerteza padrão combinada
multiplicada por um valor constante (fator de cobertura) para aumentar o intervalo de valores
prováveis para o mensurando.

Estas incertezas calculadas estatisticamente com amostras repetidas formam a chamada


incerteza Tipo A. Um outro tipo de incerteza, a incerteza do Tipo B, obtida por outros métodos
que não os estatísticos (não pode ser obtida por medidas repetidas), também pode ser expressa na
forma de desvio-padrão e, desta forma, combinada com a anterior. Por exemplo, uma medida feita

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 19


com uma régua indica que um determinado objeto mede alguma coisa entre 7,3 e 7,4 cm. Como a
probabilidade do mensurando assumir qualquer valor neste intervalo é razoável, podemos
considerar uma distribuição uniforme de possíveis valores para o mensurando entre 7,3 e 7,4  cm.
Uma distribuição uniforme no intervalo [-a; +a], por exemplo, tem desvio padrão

a
ε= (3.26)
√3
Porém, se considerarmos que existe mais probabilidade da medida assumir um valor mais
próximo do centro da escala, por exemplo, mas sem que haja indícios de que uma distribuição
normal se aplique ao caso, pode-se utilizar uma distribuição triangular para o intervalo [-a; +a],
neste caso o desvio padrão é dado por

a
ε= (3.27)
√6
Uma vez que as incertezas padrões Tipo A e Tipo B podem ser determinadas basta saber
como pode ser obtida a incerteza padrão combinada. Supondo as grandezas X1, X2,…, Xn com seus
respectivos valores numéricos estimados x1, x2, …, xN, e incertezas associadas εx1, εx2, …, εxN (cada
uma destas incertezas definida como um desvio padrão). Supondo uma grandeza R que se
relaciona com as grandezas Xi através de uma função R = F(X1, X2, …, XN). R pode ser expressa
como

R =r +ε (3.28)

onde r corresponde a avaliação da função F e ε corresponde a incerteza combinada. Considerando


que as grandezas Xi são variáveis aleatórias não correlacionadas as incertezas podem ser tratados
convenientemente na forma de variâncias ou desvios padrão ou valores RMS (valor eficaz). Se
houver correlação entre as grandezas as covariâncias também devem ser consideradas. Neste texto
serão considerados apenas os casos não correlacionados, assim

√[( ) ] [( ) ] [( ) ]
2 2 2
∂F ∂F ∂F
ε= ⋅ε x1 + ⋅ε x2 + ...+ ⋅ε xN (3.29)
∂ X1 ∂X2 ∂XN

Para o caso particular em que F é uma soma ou uma subtração de grandezas então a
incerteza absoluta pode ser obtida pela raiz quadrada da soma dos quadrados das incertezas. Por
exemplo, se T 1=(200±4) s e T 2=(100±2) s , então

T1 –T2=200 – 100±4 222 =100±4,47s .

Para o caso particular em que F apresenta apenas produtos ou divisões então a incerteza
relativa pode ser obtida pela raiz quadrada da soma dos quadrados das incertezas relativas. Por
exemplo, se L3=551±1⋅10−6 m e T 1=100±2 s , então

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 20


( L3 /T 1 )= ( 551⋅10−6
100 )
± √((1 /551)2 +(2/100)2) =(5,51μ m/ s±2 %) .

3.4.4 Erro máximo


Nem sempre as incertezas são informadas diretamente. Muitas vezes a informação dada
consiste de um erro limite. Por exemplo, em alguns instrumentos a exatidão é garantida no que
concerne ao valor de fundo de escala, e no caso dos componentes eletrônicos estes são garantidos
dentro de limites percentuais do valor nominal do componente. Os limites destes desvios são
chamados de limites de erro. Se considerarmos uma probabilidade uniforme entre os limites de
erro, este pode ser considerado como uma incerteza de medição expandida com um fator de
cobertura suficientemente grande.

Exemplo: Um voltímetro tem exatidão de 1% do valor do fundo da escala (FS) e está sendo
utilizado para medir uma tensão de 30 V, na escala 0 – 200 V. Calcule o erro limite percentual

Erro limite=200⋅1 %=2V

2
Erro %= ⋅100 %=6,7 %
30

Observe que para valores relativos ao fundo de escala a exatidão absoluta é constante mas
o erro percentual é variável.

Em alguns equipamentos outras formas de tolerância para os valores medidos ou erros


limites podem ser empregadas, por exemplo, percentuais do valor lido somados a resolução ou
percentuais do fundo de escala.

Exemplo (GUM 4.3.7 e 5.1.5): As especificações do fabricante para um voltímetro digital


estabelecem que a exatidão na faixa de 1 V é de 14·10-6 V vezes a leitura mais 2·10-6 V vezes a
faixa. Considere que o multímetro está sendo usado para medir em sua faixa de 1  V e que a média
aritmética de um número de observações repetidas independentes de tensão é encontrada como
sendo V̄ =0,928571V , com uma incerteza-padrão do Tipo A de 12 µV. Qual a incerteza padrão
combinada para esta medida?

Erro limite=14⋅10−6⋅0,928571+2⋅10−6⋅1=15μ V

Supondo que a exatidão declarada fornece limites simétricos para uma correção aditiva do
valor medido (com esperança igual a zero e com igual probabilidade de estar em qualquer parte
dentro dos limites), então a incerteza padrão Tipo B é

15μ V
εTipoB = =8,7μ V
√3

Uma vez que V =V̄ +Δ V então ∂V / ∂ V̄ =1 e ∂V /∂Δ V =1 então

ε=√ ε2TipoA +ε2TipoB =√(12μ V )2+(8,7μ V )2=15μ V

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 21


3.5 Exercícios

1) Determinar os tipos de erros para cada um dos 4 gráficos abaixo. Considere a linha cheia
como a curva ideal e a curva tracejada a curva real.

2) A curva de calibração de um sensor é mostrada abaixo. Escreva uma função de


calibração que descreva a tensão de saída em função da pressão de entrada. Assegure-se que esta
função passa pela origem e determine: a) linearidade; b) histerese; c) sensibilidade; d) offset; e)
limiar; f) faixa e faixa dinâmica para a entrada.

90
80
70
60
V. Saída (mV)

50
40
30
20 Subindo
10 Descendo
0
0 10 20 30 40 50 60
P. Entrada (kPa)

3) Determinar a sensibilidade e o offset de um transdutor de temperatura para faixa de 100


a 200 °C e com uma saída de 4 a 20 mA. Escreva uma equação para a corrente de saída do
transdutor.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 22


4) Um sistema eletrônico de medição de temperatura utiliza um transmissor eletrônico
para enviar o sinal correspondente para a sala de controle. Este transmissor tem uma escala que
varia de 50 °C até 350 °C e sua precisão é de ±1% do tamanho total da faixa de excursão do sinal. O
valor da precisão inclui o sensor de temperatura e o transmissor propriamente dito. Se a
temperatura indicada for de 200 °C, entre que valores, mínimo e máximo, respectivamente, estarão
situados todos os valores possíveis para o verdadeiro valor da temperatura? (PETROBRAS, prova
para engenheiro de equipamentos pleno, 2006)

5) Para a tabela de calibração estática, de um transdutor de pressão, apresentada a seguir,


determine: a) a equação de uma curva de calibração; b) a utilidade desta equação de calibração em
especial; c) a sensibilidade estática; d) histerese; e) linearidade; f) offset. Para este problema use
programas de computador para desenhar os gráficos e calcular os itens acima. Mostre não apenas
a resposta mas gráficos ou tabelas que permitam chegar aos resultados que você apresentou.

Pressão real Pressão indicada

(kPa) Aumentando Diminuindo

0,00 -1,12 -0,69

1,00 0,21 0,42

2,00 1,18 1,65

3,00 2,09 2,48

4,00 3,33 3,62

5,00 4,50 4,71

6,00 5,26 5,87

7,00 6,59 6,89

8,00 7,73 7,92

9,00 8,68 9,10

10,00 9,80 10,20

6) Um sensor de esforços (strain-gauge), com resistência de 120Ω±0,3% @ 24ºC e fator de


gauge (FS) de 2,085±0,5% @ 24ºC, foi colado sobre uma barra de aço que sabidamente sofre uma
deformação longitudinal de 0,02% desta dimensão para cada kgf aplicado. O arranjo foi usado na
construção de um dinamômetro que mede entre 0 e 100 kgf. O sensor foi inserindo como quarto
resistor de uma ponte de Wheatstone onde os demais elementos possuem todos 120Ω. O
condicionador de sinais fornece um sinal entre 0 e 1 V. Se usarmos um multímetro de 3½ dígitos,
qual a resolução do equipamento?

7) Considere o gráfico a seguir como a resposta a um degrau de amplitude 45 mmHg de um


sistema de segunda ordem. Com base em tal informação responda: a) Qual a sensibilidade estática
do sistema? b) Qual o valor aproximado do settling-time para um erro de 10%?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 23


8) Diga qual a diferença entre limiar e resolução e como podemos determiná-las em
sistemas analógicos e digitais.

9) Qual a diferença entre precisão e exatidão? Como podemos estimar a precisão de um


sistema? O que pode ser utilizado para caracterizar a exatidão de uma medida?

10) O que significa calibração?

11) Qual a diferença entre repetibilidade e reprodutibilidade?

12) Um determinado sensor apresenta sensibilidade de 10 mV/V/mmHg. Qual o significado


dessa unidade?

13) O uso de transdutores não lineares afeta a exatidão ou a precisão de uma medida?

14) O ruído aleatório de média zero afeta a exatidão de uma medida, sua precisão, ambos
ou nenhum deles?

15) Ruído afeta a resolução de um sistema de medidas analógico ou digital?

16) Cite um indicador de exatidão, um de precisão e um de resolução apresentado em


manuais de transdutores.

17) Num experimento você vai utilizar a célula de carga abaixo para construir uma balança
cujo fundo de escala é 50 kgf. a) Projete um condicionador de sinais para a ponte de forma que o
sinal de saída ocupe 50% da faixa de entrada do seu AD (considere que a instrumentação é ideal e
sem ruído) b) Nestas condições, qual a equação para determinar a força a partir do valor lido pelo
AD? c) Estime o offset máximo esperado (em kgf). d) Estime a precisão (em kgf). e) Estime a
exatidão (em kgf). f) Se você substituir o AD por um voltímetro quantas casas depois da vírgula

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 24


você recomenda que ele meça? g) Para compensar variações de offset causados por temperatura
podemos utilizar um filtro passa altas? h) o que podemos fazer para usar esta ponte a 50  m de
distância? Justifique suas respostas.

18) A tabela a seguir mostra as especificações de uma célula de carga cujo valor nominal
(fundo de escala) é de 1,1 N. Se este sensor for alimentado com 10 V, informe: a) qual a
sensibilidade (V/N)? b) qual a precisão (em N)? c) qual o erro máximo (em N)? d) qual o offset
máximo?

19) Qual a diferença entre linearidade e exatidão?

20) Qual a diferença entre limiar e resolução?

21) Circuitos analógicos têm resolução infinita?

22) Para o sensor de pressão 163PC01D48, cujas informações do manual estão transcritas a
seguir, responda: a) Qual a sensibilidade? b) Qual a faixa de frequência? c) Como a histerese pode
ser menor do que o erro de linearidade? Use um desenho para explicar como isto ocorre. d) Qual a
equação da curva de calibração mais provável? e) Qual a informação de manual está errada? Que
valor você acha que é correto para ela?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 25


23) Aparelho para medidas de distância tem as seguintes especificações listadas a seguir.
Com base nestas especificações responda: a) Qual a precisão do aparelho? b) Qual a exatidão? c) A
exatidão e a linearidade não deveriam ser iguais?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 26


24) Para o sensor de aceleração apresentado abaixo determine a equação mais provável
para o sinal de saída em função de acelerações no eixo X. Supondo que o sinal será filtrado por um
passa baixas com banda passante (BW) de 10 Hz (-3 dB) estime a resolução que pode ser obtida
com este sensor.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 27


4 Transdutores e Sensores

Neste capítulo é apresentada uma grande variedade de transdutores para diferentes


grandezas. Esta lista serve apenas de exemplo de como se pode fazer medidas das formas mais
criativas e como estas ideias podem ser usadas em outros transdutores. Os elementos
apresentados nesta seção são, em sua maioria, transdutores cuja saída não são grandezas elétricas
(variações de resistências, capacitância, indutância, tensão ou corrente), mas os sensores elétricos
estudados nos próximos capítulos podem ser utilizados em conjunto com estes transdutores.
Sensores primários cuja saída é elétrica serão discutidos em outros capítulos desta apostila.

4.1 Transdutores de temperatura

Um dos sensores para medida de temperatura é o par bimetálico. Um par bimetálico é


formado por dois metais com diferentes coeficientes de expansão térmica que foram unidos em
uma temperatura de referência T1 (Figura 1.1). Uma variação de temperatura provoca uma
deformação do conjunto e o raio de curvatura (r) é aproximadamente determinado pela equação
(4.1) onde t é a espessura total do conjunto, T2 é a temperatura final e α são os coeficientes de
expansão térmicos. Na prática esta deformação é medida com sensores eletrônicos ou é usada para
movimentar um ponteiro sobre uma escala. O formato mais usado costuma ser o helicoidal
formado por invar (aço com 64% de Fe e 36% de Ni) com baixo coeficiente de dilatação e latão
(com alto coeficiente de dilatação). São usados na faixa de -50 a 800 ºC com exatidão de ±1%.

2⋅t
r≈ (4.1)
3⋅(α A−αB )⋅(T 2−T 1 )

Figura 1.1: Par bimetálico e formas de utilização para medida de temperatura.

Uma outra forma de medição de temperatura pode ser feita com um pirômetro óptico
(Figura 1.2). Nesse caso a energia térmica irradiada (comprimentos de onda do visível – entre 400
e 700 nm – ou infravermelho – entre 700 e 2000 nm) por um corpo é captada, filtrada e comparada
com a radiação térmica produzida por um filamento aquecido. Como a intensidade da energia
térmica é função do comprimento de onda (lei de Planck) é possível comparar os comprimentos de
onda (ou cor) emitidos pelo objeto em estudo e pelo filamento. No exemplo da Figura 1.2 a medida
que o filamento vai sendo aquecido sua cor se confunde com a do fundo (centro). Este é o modelo
de pirômetro mais antigo e o mais barato. Originalmente ele funcionava na faixa do visível entre
400 e 700 nm de comprimento de onda. Sistemas mais sofisticados utilizam comparações com mais
cores para compensar efeitos de emissividade dos objetos. Com estes sistemas é possível, com
facilidade encontrar dispositivos com erros da ordem de 2%).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 28


Figura 1.2: Pirômetro óptico. Acima um esquema de funcionamento, abaixo a cor do filamento se
confundindo com a cor do fundo.

4.2 Transdutores de pressão

Diversos tipos de sensores de pressão são apresentados na Figura 1.3. O mais simples é
uma coluna de líquido (mais comumente água ou mercúrio) com tubo em U ou inclinado, mas
também são muito comuns os tubos de Bourdon em forma de C, torcido, helicoidal ou espiral,
diafragmas, cápsulas e foles. Em todos estes casos a pressão produz uma deformação do sensor, e
esta deformação pode ser medida com algum outro sensor eletrônico. Assim como no exemplo de
pares bimetálicos, as alterações de dimensão desses sensores de pressão podem ser medidas com
potenciômetros, transformadores diferenciais do tipo LVDT, sensores indutivos ou encoders
digitais. Nos sistemas com diafragmas podem ser utilizados potenciômetros, strain gauges
(extensômetros), LVDT (transformador linear diferencial), sensores indutivos, sistemas de
relutância variável, sensores capacitivos, sensores ópticos ou piezoelétricos entre outros. Boa
parte destes sensores eletrônicos serão estudados no decorrer do curso.

Os medidores com tubo de Bourdon em C são os mais utilizados na indústria devido ao


baixo custo e boa precisão, operam na faixa de 1 kgf/cm2 até 2.000 kgf/cm2 e, devido as
características mecânicas no transdutor apresentam melhor precisão na faixa entre 1/3 e 2/3 da
escala.

Os manômetros de coluna líquida em U ou inclinado, com ou sem reservatório são os mais


simples de serem construídos. Para manômetro em forma de U, considerando ρ a densidade e g a
gravidade temos

p− p ref
h= (4.2)
ρ⋅g

A ideia principal dos sensores de pressão mostrados na Figura 1.3 se traduz numa
variedade maior ainda de implementações, e que podem ser associadas a diversos outros sensores
responsáveis pela conversão final para um sinal elétrico. Esta grande combinação de opções torna
o mundo dos sensores praticamente ilimitado e, não raro, encontramos sensores feitos sob medida

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 29


para cada aplicação. Os exemplos mostrados a seguir não se limitam aos sensores de pressão, o
mesmo ocorre com os demais sensores.

Figura 1.3: Dispositivos para medida de pressão. a) coluna líquida; b) tubo de Bourdon em C; c)
tubo de Bourdon torcido; d) diafragma; e) diafragma integrado; f) cápsula; g) fole.

Tubos de Bourdon e foles podem ser associados a simples arranjos mecânicos para que a
mudança de pressão resulte em mudança perceptíveis de deslocamento (Figura 1.4). O resultado
pode ser apresentado em um mostrador com ponteiro ou este deslocamento pode afetar a posição
de um potenciômetro, LVDT ou outro sensor cuja saída seja elétrica.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 30


No caso de diafragmas um arranjo de strain gauge (extensômetro) pode ser colocado sobre
ele, ou um arranjo de capacitores pode ser construído usando o diafragma como um dos terminais
do capacitor (Figura 1.5).

Com um pouco mais de criatividade, o pequeno deslocamento de um diafragma poderia ser


medido com um sistema óptico (Figura 1.6), mas a pressão sobre a fibra óptica que guia a luz
também altera as características da luz transmitida e, portanto, também poderia ser utilizado como
sensor.

Figura 1.4: Implementações mecânicas de sensores de pressão com tubos de Bourdon e foles. No
diagrama inferior direito o movimento do fole atua sobre o núcleo de um LVDT.

Figura 1.5: Sensores de pressão com diafragma.

Além dos sensores apresentados muitos outros existem com base em propriedades físicas
ou químicas diferentes. Este texto não tem a pretensão de apresentar todas ou a maioria das
formas de medir uma determinada grandeza, mas de servir de exemplo. O sensor apresentado na

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 31


Figura 1.7, por exemplo, usa um polímero condutivo para interligar trilhas condutoras. Quanto
maior a pressão menor a resistência do polímero e, consequentemente, menor a resistência entre
as trilhas condutoras.

A pressão também pode ser uma forma de medir indiretamente a temperatura. Neste caso
um tubo de Bourdon pode ser empregado em conjunto com um bulbo para armazenar um gás
sensor (Figura 1.8). Neste caso a pressão no interior do sistema varia com a temperatura e o tubo
de Bourdon transforma variação de pressão em deformação. Sistemas mecânicos ou elétricos
podem ser usados para converter esta deformação em um registro de temperatura.

Figura 1.6: Sensores de pressão usando fibras ópticas. Acima, em conjunto com um diafragma;
abaixo, com a modificação de características da fibra.

Figura 1.7: Sensor polimérico de pressão.

Figura 1.8: Medidor de temperatura usando Tubo de Bourdon.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 32


4.3 Transdutores de força

Sensores de força são muito semelhantes aos sensores de pressão e muitas vezes
compartilham os mesmos princípios de funcionamento. Nesse caso, o diafragma, cápsulas, foles, e
outros são substituídos por uma peça rígida, com deformação imperceptível a olho nu. O desenho
da peça mecânica deve favorecer a transmissão das forças para o eixo de maior sensibilidade de
outros sensores de deformação, responsáveis pelo sinal elétrico final.

Os mesmos extensômetros que podem ser fixados aos diafragmas dos sensores de pressão
podem ser posicionados nestas peças rígidas para a medida de força aplicada a elas ( Figura 1.9). A
deformação das peças é percebida pelos extensômetros e transformada em uma variação de
resistência. As peças rígidas definem a faixa de operação do sensor e devem permanecer sempre
em sua região de deformação elástica para preservar a integridade do sensor.

Figura 1.9: Sensores de força.

Uma infinidade de modelos comerciais estão disponíveis, permitindo o uso destes


dispositivos em diferentes ambientes e configurações, e com capacidade para medir forças em até
três eixos ortogonais. Estes sensores também costumam ser chamados de células de carga.

Apesar destes arranjos com extensômetros formarem os transdutores de força mais


comuns outros arranjos também estão disponíveis. O sensor polimérico da Figura 1.7 tem se
tornado muito comum para aplicações simples, mas transdutores piezoelétricos ou que envolvem
indutores (para a produção de força de atração ou repulsão magnética em sistemas realimentados)
também são muito explorados. Alguns dispositivos comerciais são apresentados na Figura 1.10.

Figura 1.10: Sensores de força comerciais.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 33


4.4 Transdutores de vazão

Sensores de vazão também ocupam uma posição importante na indústria e podem ser
feitos de muitas formas diferentes como os tubos de Pitot, fio quente, anemômetro laser, sistemas
eletromagnéticos, ultrassom, sistemas de orifício fixo ou variável, efeito Venturi, sistemas de fluxo
laminar, turbina, vortex, transporte térmico, efeito Coriolis dentre outros.

Dentre os dispositivos mais simples estão aqueles que transformam vazão em diferença de
pressão acrescentando obstáculos a passagem do fluido. A diferença de pressão antes e depois do
obstáculo é proporcional ao fluxo. O obstáculo pode ser de vários tipos como tubos capilares,
orifício fixo (Figura 1.11) ou variável (para tentar evitar ou compensar não linearidades do
sistema). Um exemplo é apresentado na Figura 1.11.

Figura 1.11: Medição de vazão com sistema de orifício fixo.

Num sistema como este, com orifício fixo, circular, e fluido incompressível, sofrendo
apenas a ação da gravidade na direção vertical, e na condição de regime permanente, a vazão pode
ser calculada, aproximadamente, como

√ [ ( )]
2⋅( p1 – p2 )
v 2= 2
(4.3)
A
ρ⋅ 1− 1
A2

onde p1 e p2 indicam as pressões medidas antes e depois do obstáculo (ver figura) e A1 e A2 são as
áreas antes de depois do obstáculo (ver figura). Outras geometrias para conversão de vazão em
diferença de pressão são apresentadas na Figura 1.12.

No tubo de Pitot, quando o elemento condutor do fluido é aberto (a esquerda na Figura


1.12) a vazão pode ser determinada como

v =√2⋅g⋅h (4.4)

enquanto nos sistemas onde o fluído é conduzido em um tubo fechado a vazão pode ser
determinada como

v= √ 2⋅( p t− p)
ρ (4.5)]

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 34


Figura 1.12: Medidores de vazão. De cima para baixo: bocal de fluxo, Venturi, Fleish,
canaletas, e tubos de Pitot.

Outros dispositivos comumente empregados (rotâmetros, discos nutantes, medidores


lobulares e turbina) são apresentados na Figura 1.13.

Neste grupo de transdutores a vazão produz deslocamentos angulares ou lineares. Estes


deslocamentos podem ser medidos por sistemas ópticos ou magnéticos, analógicos ou digitais.
Medidas ópticas e magnéticas não requerem contato mecânico para a realização da medida e, no
caso de um sensor magnético, não é necessário que o sistema seja transparente ou translúcido.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 35


Sensores de ultrassom também podem ser adaptados para a medida de vazão. O uso de
efeito Doppler pode ser empregado em sistemas pulso eco, mas tempo de voo ou detecção de
turbulência (vortex) em dutos também são efeitos que podem ser empregados para o mesmo fim
(Figura 1.14).

Figura 1.13: Medidores de vazão: rotâmetro, disco nutante, medidor lobular, e turbina.

Muitas outras formas de medição de vazão também estão disponíveis. Exitem métodos que
empregam o efeito Corilolis, sensores eletromagnéticos, e de diluição, por exemplo, todos
mostrados na Figura 1.15. No medidor que emprega o efeito Coriolis um tubo vibra de forma
quase que imperceptível e, quando um fluido passa por ele, a interação entre a vibração do tubo e
a vazão do fluído produzem uma força de torção proporcional a vazão. O sensor eletromagnético,
por sua vez, se aplica a fluidos condutivos. Nesse caso, um campo magnético externo envolve o
duto e a passagem do fluido condutor produz uma tensão elétrica que pode ser captada nas
laterais do duto. Sistemas de diluição também são empregados em alguns casos. Nestes
dispositivos uma determinada quantidade é inserida no sistema, em condições controladas, e
medida novamente em outro local. Em função das diferenças de concentração é possível
determinar a vazão no sistema. No exemplo da Figura 1.15 a diluição é térmica, então qualquer
medidor de temperatura pode ser utilizado para completar o transdutor.

Apesar de associarmos naturalmente a medida de vazão aos fluidos nem sempre isso é
verdade. Algumas vezes é importante medir a vazão de sólidos como grãos ou minérios que
passam por uma esteira, por exemplo. Nestes casos é possível construir um medidor de vazão
como o apresentado na Figura 1.16.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 36


Figura 1.14: Medidores de vazão por efeito Doppler, medida de tempo de voo e vortex.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 37


Figura 1.15: Medidores de vazão empregando efeito Coriolis, eletromagnéticos e de diluição.

Figura 1.16: Medidor de vazão para sólidos.

4.5 Transdutores de posição

Sensores de posição são muito comuns para o posicionamento de máquinas lineares ou


rotativas. Uma grande quantidade de métodos pode ser utilizados para este fim, sendo que em
alguns casos o sinal é contínuo (analógico) e em outros o sinal é pulsado e, além disso, relativo, ou
seja, não é possível determinar a posição correta do objeto em estudo e sim o seu deslocamento.

O chamado encoder é um tipo bastante comum de sensor de posição, rotativo ou linear. Na


versão clássica uma fonte de luz ilumina um disco ou régua com furos ou raias que permitem
iluminar ou escurecer um fotodetector (Figura 1.17) dependendo a posição. O uso de apenas um

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 38


fotodetector permite apenas saber que há movimento e qual o deslocamento, mas não é possível
saber onde o dispositivo está nem para que lado ele está se movimentando.

Figura 1.17: Sensores de posição com saída pulsada.

O uso de dois fotodetectores com furos desalinhados permite detectar o sentido de


movimento, e o uso de múltiplos fotodetectores permite definir a posição do objeto em função do
código binário associado a cada posição. Estes códigos devem ser obrigatoriamente de distância
mínima, ou seja, apenas um bit de variação entre posições consecutivas. Variações em torno do
mesmo tema podem incluir sensores magnéticos por variação de relutância magnética (caminho
magnético) usando indutores ou sensores de efeito Hall (pode ser utilizado tanto para medida de
campos magnéticos quanto de correntes elétricas).

Uma outra variação sobre o mesmo tema é o inductosyn (Figura 1.18). Nele um indutor
plano é estampado sobre um trilho fixo e a posição de uma peça móvel, com uma ou duas bobinas
planas, é determinada em função do sinal induzido nas bobinas móveis. Observe que num sistema
com duas bobinas móveis elas não estão em fase espacial com a bobina fixa, o que permite
determinar a direção do movimento, de forma similar ao que acontece com o encoder.

Outros sensores elétricos estão disponíveis para medidas tanto de deslocamento linear
quanto angular. Para medidas angulares (Figura 1.19) cita-se o transformador rotativo (1 bobina
fixa), o resolver (duas bobinas de estator a 90°) e o synchro (três bobinas de estator a 120°).

Em todos estes sistemas indutivos indutores acoplados onde a tensão induzida é função do
ângulo uma ou mais bobinas são excitadas com um sinal senoidal e uma ou mais bobinas
apresenta

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 39


Para medidas lineares cita-se o sensor magnetostrictivo (Figura 1.20). Nele um pulso
elétrico é enviado a uma haste metálica. Um campo magnético que circunda a haste se propaga
por ela até encontrar o campo magnético de ímãs fixos. A interação entre os dois campos produz
uma onda mecânica que se propaga pela haste metálica (nas duas direções) e é detectada em uma
de suas extremidades. Em função do tempo até a detecção da onda mecânica é possível determinar
a posição do ímã permanente.

Figura 1.18: Sensor de posição do tipo inductosyn.

Figura 1.19: Resolver (esquerda) e transformador rotativo (direita – em corte, duas bobinas).

Um sistema muito preciso é o que emprega um interferômetro, como o apresentado na


Figura 1.21. Nele um feixe de luz é enviado ao objeto que se deseja conhecer a posição. No
interferômetro parte da luz alcança o objeto e parte faz um caminho diferente, mas os dois raios se
misturam novamente num padrão de interferência (detector B) que pode ser usado para medir
muitas coisas diferentes, inclusive deslocamentos.

Bem menos sofisticados, mas muito mais comuns, são os sensores de proximidade, que são
sensores de posição para objetos próximos (Figura 1.22). Sistemas que incluem laser (que detectam
se houve transmissão ou reflexão de um feixe) e sensores capacitivos ou indutivos (que alteram
suas capacitâncias ou indutâncias em função da proximidade de algum objeto) são os mais

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 40


frequentes. Sensores ópticos mais simples (com LED) ou sonares e modelos pneumáticos também
estão disponíveis. No sensor pneumático, normalmente, uma alteração de proximidade resulta em
uma alteração de pressão.

Figura 1.20: Sensor magnetostrictivo.

Figura 1.21: Interferômetro óptico.

Figura 1.22: Sensores de proximidade capacitivo (esquerda) e indutivo (direita).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 41


Figura 1.23: Sensor de proximidade pneumático.

4.6 Transdutores de inclinação, aceleração e giroscópios

Classicamente o giroscópio é um dispositivo onde uma massa gira a alta velocidade em um


sistema como o mostrado na Figura 1.24. Uma variação angular em um eixo resulta num torque
em outro, para manter o momento angular. Um giroscópio ainda melhor é feito com laser e um
interferômetro para medidas de pequenos deslocamentos (caminhos percorridos pela luz). Estes
dois sistemas são muito usados em aviação, são muito precisos e muito exatos.

Sistemas mais simples usam dispositivos micromecânicos (integrados) conhecidos como


navegadores inerciais. É possível encontrar dispositivos capazes de medir acelerações, rotações,
direção magnética e altitude com um só integrado. Nestes dispositivos a aceleração é estimada
medindo a força que atua sobre uma massa conhecida (Figura 1.25).

Ainda mais simples estão os sensores de inclinação. Nestes dispositivos a resposta em


frequência não é importante, então dispositivos tão simples quanto chaves ou potenciômetros
podem ser construídos com facilidade (Figura 1.26).

Figura 1.24: Giroscópio tradicional (esquerda) e laser com interferômetro (direita).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 42


Figura 1.25: Acelerômetro integrado.

Figura 1.26: Inclinômetros. A esquerda uma chave e a direita um potenciômetro.

4.7 Transdutores de nível

Os sensores de nível são usados para determinar o volume líquido em um reservatório. Os


sensores mais comuns utilizam boias e flutuadores (Figura 1.27), mas as variações do tema são
muitas incluem, por exemplo, a pesagem de objetos imersos.

Figura 1.27: Sensores de nível por pressurização e por transmissão de um feixe luminoso, sonoro
ou de radiação.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 43


Dispositivos colabáveis (para unir duas tiras condutoras, por exemplo), chaves de nível,
alteração de capacitância, alteração de pressão ou de absorção de ondas luminosas, sonoras ou
eletromagnéticas também são muito comuns (Figura 1.28).

Figura 1.28: Sensores de nível mais comuns.

Um último exemplo, que usa a reflexão de ondas na superfície do líquido, é apresentado na


Figura 1.29.

Figura 1.29: Sensor de nível por reflexão na superfície.

4.8 Outros Transdutores

Muitas outras grandezas podem ser medidas e alguns exemplos extras são apresentados
nesta seção. Na Figura 1.30 pode ser vistos alguns sensores de umidade onde diferentes materiais
higroscópicos alteram sua forma, dimensão, permissividade ou condutividade com a umidade.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 44


Figura 1.30: Sensores de umidade.

Sensores de radiação, especificamente uma fotomultiplicadora e um contador Geiger,


podem ser vistos na Figura 1.31. No desenho, a fotomultiplicadora está acoplada a um cintilador,
um material que intensifica a sinal do fóton incidente e pode ser usado na entrada de qualquer
outro sensor deste tipo.

Figura 1.31: Sensores de radiação. Acima uma fotomultiplicadora e um cintilador, abaixo um


contador Geiger.

Na Figura 1.32 são apresentados um modelo bastante completo de eletrodo para a captação
de biopotenciais e um eletrodo para medida de pH.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 45


Figura 1.32: Eletrodo para captação de biopotenciais e sensor de pH.

Um medidor de densidade comum, adaptado a um sensor de posição com saída elétrica


(LVDT) é apresentado na Figura 1.33.

Figura 1.33: Medidor de densidade.

E, finalizando a lista de exemplos, um chamado transformador de corrente para a medida


de correntes elevadas (Figura 1.34).

Figura 1.34: Transformador de corrente.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 46


5 Transdutores resistivos

5.1 Potenciômetro

Potenciômetros são dispositivos resistivos com um contato deslizante. Normalmente, dois


terminais são conectados a alimentação e uma tensão é medida entre o contato deslizante e a
referência de tensão (Figura 1.1). A posição do contato deslizante é alterada em decorrência da
ação de alguma variável mecânica, tal como uma força ou posição. Este é um tipo de transdutor
que apresenta grande variação de sinal uma vez que a saída pode variar de 0 até 100% da tensão de
excitação. Isto não é comum, mas torna seu uso muito simples. Existem, na prática, vários tipos de
potenciômetros, sendo cada tipo responsável pelas características finais do mesmo. Dentre os
diversos modelos podemos citar os de deslocamento linear e rotativo (Figura 1.1), de corda (para
medida de deslocamentos), em fita (para medida de deslocamentos ou pressão), colabável (para
medida de nível de líquido), com líquido condutor (para medidas de inclinações), entre outros.
Além disto existem potenciômetros múltiplos (múltiplos potenciômetros controlados por um
mesmo elemento deslizante) ou que implementam diversos tipos de funções não lineares.

Figura 1.1: Potenciômetros. Da direita para a esquerda: linear, rotativo, esquema.

Neste texto nos ateremos aos potenciômetros lineares conectados a um circuito cuja
impedância de entrada é RL (Figura 1.2). Considerando que a resistência entre o contato deslizante
e a referência seja x·Rp e 0≤x≤1, a tensão de saída pode ser obtida por meio de (5.1)

Figura 1.2: Circuito básico de medida com potenciômetros.

R L // x⋅R p
v out =v in⋅ (5.1)
R L // x⋅R p +(1−x )⋅R p

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 47


Considerando R L =⋅R p

α⋅R p⋅x⋅R p
α⋅R p +x⋅R p
v out =v in⋅ (5.2)
α⋅R p⋅x⋅R p
+(1−x )⋅R p
α⋅R p +x⋅R p

α⋅x⋅R 2p
v out =v in⋅ (5.3)
α⋅x⋅R 2p +α⋅(1−x )⋅R 2p +x⋅(1−x )⋅R 2p

α⋅x
v out =v in⋅ (5.4)
α+ x⋅(1−x )

Observa-se que a saída depende não só de x, mas também de α. Para que a saída dependa
apenas de x é necessário que RL e, consequentemente, α, sejam infinito. Neste caso

v out
=x (5.5)
v in

Se o erro relativo entre a função de transferência real e a ideal for definido como

erro=
( ) ( )
v out
v in real

v out
v in ideal
(5.6)

( ) v out
v in ideal

então

α⋅x
−x
α +x⋅(1−x ) (5.7)
erro=
x

−x⋅(1−x )
erro= (5.8)
α+x⋅(1−x )

Derivando-se a função de erro com relação a x e igualando-a a zero, obtém-se a posição do


erro máximo

∂erro [α +x⋅(1−x )]⋅(2⋅x−1)−x⋅(1−x )⋅(2⋅x −1)


= =0 (5.9)
∂x [ α+ x⋅(1−x )]
2

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 48


∂erro α⋅(2⋅x −1)+x⋅(1−x )⋅(2⋅x −1)−x⋅(1−x )⋅(2⋅x−1)
= =0 (5.10)
∂x [ α +x⋅(1−x )]
2

∂erro α⋅(2⋅x −1)


= =0 (5.11)
∂x [ α+x⋅(1−x )]
2

logo

α⋅(2⋅x−1)=0 (5.12)

x =0,5 (5.13)

Então o maior erro relativo, em relação ao valor ideal, ocorre quando o contato está no
meio do curso. Neste caso o erro máximo é dado por (5.17)

erro máx =erro x=0,5 =


−x⋅(1−x )
|
α+ x⋅(1−x ) x=0,5
(5.14)

−0,25
erro máx = (5.15)
α+0,25

−1
erro máx =
1+ α (5.16)
0,25

−1
erro máx = (5.17)
1 +4⋅α

Observa-se que o erro máximo é função de α, como esperado. Supondo-se =1 ,


( R L =R p ) temos

−1
erro máx = =20 % (5.18)
1 +4

Na Figura 1.3 são apresentadas as curvas de erro absoluto e relativo com relação a posição
x além dos valores de vout para o caso ideal e real onde vin=1 V, RL=10 kΩ e Rp=10 kΩ. Como pode
ser visto na Figura erros relativo e absoluto máximo não ocorrem para o mesmo valor de x. Isso é
esperado, pois, uma vez que as equações de erro são diferentes os máximos devem ocorrer em
pontos diferentes. Então, para cada critério de erro escolhido para análise, o máximo ocorre em
um x diferente, e pode ou não ser dependente de α.

As características de desempenho analisadas até aqui são estáticas e algumas vezes são as
únicas consideradas, pois o potenciômetro é, do ponto de vista elétrico, um sistema de ordem zero.
Entretanto, do ponto de vista mecânico, os potenciômetros possuem massa e atrito que limitam
sua utilização em altas frequências ou com velocidades elevadas de deslocamento do contato.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 49


Figura 1.3: Erros absoluto e relativo, e saída do potenciômetro, v(out), em função da entrada x.

Uma lista simplificada de características comuns aos potenciômetros é apresentada na


Tabela 5.1. Nela estão incluídas características elétricas e mecânicas, como resposta em frequência,
velocidade máxima do contato, atrito, vida útil e coeficiente térmico.
Tabela 5.1: Principais características de potenciômetros lineares e rotativos
Parâmetro Potenciômetro Linear Potenciômetro Rotativo
Faixa 2 mm até 8 m 10° até 60 voltas
Resolução 50 μm 2° até 0,2°
Linearidade 0,002% FSO até 0,1% FSO
Velocidade máxima 10 m/s (restrições mecânicas)
Frequência máxima 3 Hz (restrições mecânicas)
Potência 0,1 W (plástico condutivo ou híbrido) até 50 W (fio)
Resistência 20 Ω até 220 kΩ
Coeficiente Térmico 20·10-6/°C (fio) até 1000·10-6/°C (plástico condutivo)

Vida útil 108 ciclos (plástico condutivo)


Vantagens Fácil de usar, baixo custo, não eletrônico, alta amplitude do sinal
Desvantagens Limitado em frequência, atrito e inércia, desgastes
Com base em Sensors and signal conditioning, Ramon Pallàs-Areny & John G. Webster. John Wiley & Sons, Inc, 2001

Apesar de muito prático as limitações de frequência e desgastes são os principais


problemas deste sensor. Os desgastes são decorrentes do atrito entre o contato deslizante e a

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 50


resistência. Convém notar que o contato deslizante está sempre sob ação de uma mola que, de um
modo geral, impõe uma carga equivalente de 3 a 15 g. Apesar desta mola garantir um bom contato
elétrico o atrito limita a vida útil do sensor. Problemas de autoaquecimento também limitam a
aplicação de tensão, alteram a resistência do potenciômetro e, consequentemente, sua função de
transferência. Todos estes problemas devem estar na mente do projetista para que sejam
minimizados ou não interfiram significativamente no projeto.

5.2 Strain gauge – extensômetro

Um strain gauge é um elemento resistivo que produz uma mudança na sua resistência
elétrica em função de uma deformação mecânica (strain). São dispositivos que apresentam
pequenas variações de sinal e que são normalmente utilizados como parte integrante de uma
ponte de Wheatstone (um sistema de medida diferencial com base em dois divisores de tensão).

As deformações as quais os strain gauges são submetidos devem ser elásticas, para não
danificar o sensor. Nesta situação a tensão mecânica sobre os materiais produz uma deformação
deste material que é proporcional a força aplicada e ao chamado módulo de Young. Esta é a lei de
Hook aplicada aos materiais.

F ΔL
σ = =E⋅ε =E⋅ (5.19)
A L

onde σ é a tensão mecânica, F a força, A é área, E é o módulo de Young e ε é a deformação relativa


(strain, em inglês).

Assim, os strain gauges costumam ser especificados em termos da sua deformação máxima
(ε) que é um adimensional. Normalmente os valores desta deformação são da ordem de με (micro
strains) que corresponde a 10-6 m/m de deformação. Strain gauges podem ser imaginados como
fios de diâmetro bastante reduzido e que, quando sob ação de uma força, deformam-se, alterando
comprimento e área de seção transversal (Figura 1.4). Esta variação dimensional se reflete em uma
variação de resistência (5.20)

ρ⋅L
R= (5.20)
A

∂ R ∂ ρ⋅L
=
∂R ∂R A ( ) (5.21)

( )
⋅ + ⋅ + ( )
∂ R ∂ ρ⋅L ∂ ρ ∂ ρ⋅L ∂ L ∂ ρ⋅L ∂ A
= ⋅ ⋅
∂ R ∂ρ A ∂ R ∂ L A ∂ R ∂ A A ∂ R ( ) (5.22)

L ∂ ρ ρ ∂ L ρ⋅L ∂ A
1= ⋅ + ⋅ − 2 ⋅ (5.23)
A ∂R A ∂R A ∂R

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 51


Figura 1.4: Deformações sofridas pelos strain gauges.

L ρ ρ⋅L
∂ R= ⋅∂ρ+ ⋅∂ L− 2 ⋅∂ A (5.24)
A A A

Dividindo-se todo mundo por R=(ρ·L)/A

∂R
R (
L ρ ρ⋅L
= ⋅∂ρ+ ⋅∂ L− 2 ⋅∂ A ⋅
A A A
A
ρ⋅L ) (5.25)

∂ R ∂ρ ∂L ∂ A
= ρ + − (5.26)
R L A

ΔR Δρ ΔL Δ A
= ρ + − (5.27)
R L A

Consequentemente, a variação na resistência do elemento é causada por uma mudança


relativa do comprimento, uma mudança relativa na secção transversal e uma mudança relativa na
resistividade.

Para elementos de secção transversal circular (grande maioria dos strain gauges não
limitados), a variação relativa da secção transversal está ligada a variação de diâmetro, tal que

Δ A π⋅(d + Δ d )2−πd 2
= (5.28)
A π⋅d 2

Δ A d 2 +2⋅d⋅Δ d + Δ d 2 −d 2
= 2 (5.29)
A d

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 52


e considerando-se Δ d 2 ≪2⋅d⋅Δ d ( d ≈10μ m )

Δ A 2⋅d⋅Δ d
≈ (5.30)
A d2

Δ A 2⋅Δd
≈ (5.31)
A d

Por outro lado a variação relativa de diâmetro está relacionada com a variação relativa de
comprimento através de chamada razão de Poisson (υ). Usualmente 0<υ<0,5 sendo que para o
volume se manter constante é necessário que υ=0,5 (caso da borracha e de fluidos
incompressíveis). A maioria dos materiais se deforma quando sobre ação de uma força
modificando o seu volume inicial. Para o ferro fundido a razão de Poisson vale 0,17, para o aço
vale 0,303 e para o alumínio e o cobre vale 0,33. Então

2⋅Δ d ΔL
=2⋅ν⋅ (5.32)
d L

assim

ΔA ΔL
=2⋅ν⋅ (5.33)
A L

No que diz respeito a variação relativa de resistividade é possível relacioná-la com uma
variação relativa de volume, uma vez que a resistividade depende da amplitude das vibrações na
rede metálica. Bridgeman mostrou que, em metais, a variação relativa de resistividade é
proporcional a variação relativa de volume, e que uma extensão no material reduz a mobilidade
dos elétrons, ou seja, aumenta a sua resistividade. Esta variação de resistividade como resultado de
um estresse mecânico é chamada piezo resistividade, e a contante de proporcionalidade C, de
Bridgeman, para as ligas mais comuns em strain gauges está entre 1,13 e 1,15, enquanto que para a
platina ela chega a 4,4. Assim

Δρ ΔV
ρ =C⋅ V (5.34)

ΔV ΔL Δ A
= + (5.35)
V L A

Δ V Δ L 2⋅Δ d
= + (5.36)
V L d

ΔV ΔL
= ⋅(1+2⋅ν) (5.37)
V L

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 53


logo

Δρ ΔL
ρ =C⋅(1+ 2⋅ν) L (5.38)

Então, substituindo (5.33) e (5.38) em (5.39) chega-se a equação final (5.41)

ΔR Δρ ΔL Δ A
= ρ + − (5.39)
R L A

ΔR ΔL ΔL ΔL
=C⋅(1+ 2⋅ν) + −2⋅ν⋅ (5.40)
R L L L

ΔR ΔL
= ⋅[ 1−2⋅ν+C⋅(1+2⋅ν) ] (5.41)
R L

Agrupando-se todas as constantes em uma só, chamada fator de gauge (me ou G em alguns
livros)

ΔR ΔL
= ⋅me (5.42)
R L

Δ R /R
me= (5.43)
Δ L /L

Vários materiais podem ser usados para a confecção de strain gauge, resultando em
diferentes fatores de gauge e faixas de operação. Materiais isotrópicos, por exemplo, apresentam
me≈2, ligas isoelásticas me≈3,2, e a platina me≈6.

A Tabela 5.2 mostra a sensibilidade (fator de gauge) para strain gauges de diferentes
materiais. Por ela é possível inferir que as variações de resistência ΔR/R são bastante pequenas.
Normalmente obtém-se somente alguns poucos milivolts de variação de tensão na saída de um
transdutor strain gauge. Variações maiores podem ser obtidas com elementos semicondutores,
como silício, que apresentam mais efeitos piezo resistivos do que de variação de dimensão. Nos
semicondutores a tensão afeta principalmente o número e a mobilidade dos portadores e os efeitos
piezo resistivos dependerão do tipo de material semicondutor, dos seus portadores, e da
orientação cristalográfica com relação a força aplicada. Para barras de silício tipo P com o eixo
dominante na direção (1,1,1), por exemplo, é possível obter me(1,1,1) da ordem de 100 a 175, sendo
tal valor dependente de dopagem. Uma vez que um strain gauge de fio possui, me entre 2 e 6,
pode-se dizer que um strain gauge de silício é muito mais sensível, mas também é muito mais
sensível a variações de temperatura!

Dentre os materiais não semicondutores é possível observar que a platina possui um fator
de gauge relativamente grande e, por suas características químicas, pode ser usada em ambientes
corrosivos. Entretanto, a platina também é usada como termômetro o que introduz erros por vezes
inaceitáveis.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 54


Variações de temperatura representam uma fonte de erro ambiental expressiva nos
transdutores strain gauge. Em strain gauge metálicos este erro pode ser equivalente a 50 με/°C.
Tais erros são divididos em erros de sensibilidade e erros de offset. Estes erros podem ser
compensados com strain gauge chamados dummy. Estes são strain gauge usados apenas para
medir a temperatura e compensá-la. Uma lista com as principais características de strain gauge
comerciais é apresentada na Tabela 5.3.
Tabela 5.2: Fator de gauge (sensibilidade) de diversos strain gauges
Material Sensibilidade (me)

Platina (Pt 100%) 6,1

Platina – Iridio (Pt 95%, Ir 5%) 5,1

Platina – Tungstênio (Pt 92%, W 8%) 4,0

Liga isoelástica (Fe 55.5%, Ni 36% Cr 8%, Mn 0.5%) 3,6

Constantan (ou Advance ou Copel) (Ni 45%, Cu 55%) 2,1

Nicromo V (Ni 80%, Cr 20%) 2,1

Karma (Ni 74%, Cr 20%, Al 3%, Fe 3%) 2,0

Armour D (Fe 70%, Cr 20%, Al 10%) 2,0

Monel (Ni 67%, Cu 33%) 1,9

Manganina (Cu 84%, Mn 12%, Ni 4%) 0,47

Níquel (Ni 100%) -12,1

Tabela 5.3: Principais características dos strain gauges comerciais


Parâmetro Metal Semicondutor
Faixa 0,1 με até 50.000 με 0,001 με até 3.000 με
Fator de Gage 1,8 até 4,5 40 até 200
Resistência Nominal (Ω) 120, 250, 350, 600, …, 5.000 1000 até 5.000
Tolerância 0,1% até 0,35% 1% até 2%
Potência máxima 250 mW
5 mA até 25 mA – se for montado sobre uma
Corrente máxima
base que seja boa condutora de calor
100 kHz – limitado pelo comprimento de
Frequência máxima
onda mecânico
Tamanho (mm) 0,4 até 150 (padrão entre 3 e 10) 1 até 5
Com base em Sensors and signal conditioning, Ramon Pallàs-Areny & John G. Webster. John Wiley & Sons, Inc, 2001

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 55


Do ponto de vista mecânico dois tipos de strain gauges são disponibilizados, os limitados
(Figura 1.5) e os não limitados. Os primeiros são fios com espessura da ordem 4 μm depositados
sobre uma superfície que, apesar de delicada, limitam a deformação acima de um determinado
valor protegendo o transdutor e permitindo a sua manipulação manual. A forma de montar um
destes transdutores sobre uma superfície plana é mostrada na Figura 1.6. Adesivos especiais
devem ser utilizados para a fixação dos transdutores, uma vez que eles não podem permitir que a
base e o strain gauge tenham deformações diferentes. Estas colas podem ser adquiridas no mesmo
local onde são adquiridos os transdutores.

Os tipos não limitados são, normalmente, mais lineares que os limitados, mas devido as
dimensões são empregados apenas para montagens industriais. Normalmente são fios com
dimensões capilares de difícil manipulação manual.

Figura 1.5: Alguns modelos de strain gauges limitados. Strain gauge quadruplo com direções
perpendiculares, simples, triplo e para deformação radial.

Figura 1.6: Forma de montagem de strain gauges limitados.

Para a base dos extensômetros limitados são utilizados papel, resina epóxi, fenólica ou
poliamida. O adesivo utilizado para colar o sensor costuma ser feito de ciano acrilato, resina epóxi
ou cola cerâmica. Para proteção do sensor empregam-se verniz, epóxi, borracha RTV e massa 3M.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 56


5.3 Detector resistivo de temperatura ou termo resistor (RTD)

RTD (resistance temperature detector) são resistências dependentes da temperatura.


Normalmente estas resistências são obtidas a partir de metais ou ligas metálicas. Nestes materiais
o número de portadores não é significativamente alterado pela temperatura, mas a sua mobilidade
sim, e isto se reflete em um aumento de resistência em função da temperatura. Seu coeficiente de
temperatura é positivo e é capaz de operar em uma faixa de temperatura muito ampla podendo
ser considerado linear em faixas estreitas. Os RTD são modelados conforme 5.44.

R T =R o⋅( 1+α 0⋅(T −T 0 )+β0⋅(T −T 0 )2 + γ0⋅(T −T 0 )3 +...) (5.44)

onde R0 é a resistência de referência na temperatura T0 (normalmente 0 ℃), α0, β0 e γ0 são os


coeficientes térmicos dos RTD que as vezes são chamados de coeficientes de temperatura. Observe
que os coeficientes térmicos devem ser fornecidos para a temperatura de referência, pois são
dependentes dela. Por exemplo, um RTD linear com R0=100 Ω e α0=0,00385 Ω/Ω/K para T0=0 ℃
apresenta uma sensibilidade s=R0·α=0,385 Ω/K em toda a faixa de operação, mas se a temperatura
de referência fosse 25 ℃ seria necessário especificar um α25. Como a sensibilidade do RTD não
muda então

α 25⋅R25 =α 0⋅R 0 (5.45)

α 0⋅R 0
α 25= (5.46)
R 25

α 0⋅R 0
α 25= (5.47)
R 0 +R 0⋅α 0⋅25

α0
α 25= =0,00355 Ω/Ω/ K (5.48)
1+ α 0⋅25

Assim, para calcular R(0 ℃) usando T0=0 ℃ usa-se α0

R (0 ℃)=R 0 + R 0⋅α 0⋅(0 – 0) (5.49)

R (0 ℃)=R 0 =100 +100⋅0,00385⋅(0)=100Ω (5.50)

e para calcular R(0 ℃) usando T0=25 ℃ usa-se α25

R (0 ℃)=R 25 + R 25⋅α 25⋅(0 – 25) (5.51)

R (0℃)=109,6255 +109,625⋅0,00355⋅(−25)=100 Ω (5.52)

A norma IEC 60751 determina o uso preferencial da equação de Callendar-van Dusen


(5.53), uma aproximação polinomial de quarta ordem, desenvolvida no início do século passado, e
que apresenta exatidão razoável. A aproximação de primeira ordem é razoável para uma faixa

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 57


estreita de temperatura (da ordem de 100 ℃). Para faixas maiores até 600 ou 800 ℃ é necessário
usar o termo quadrático. Só se temperaturas negativas forem necessárias o termo de quarta ordem
deve ser usado (β=0 para T>0). Para uma exatidão melhor é possível usar métodos numéricos de
ajuste de curva.

[ ( ) ( ) ( )( ) ]
3
T T T T
R T =R 0 + R 0⋅α T −δ⋅ –1 ⋅ −β –1 ⋅ (5.53)
100 100 100 100

ou na forma alternativa, mais simples

R T =R 0 ( 1+ A⋅T + B⋅T 2 −100⋅C⋅T 3 +C⋅T 4 ) (5.54)

onde

A=α + α⋅δ (5.55)


100

B=− α⋅δ2 (5.56)


100

α⋅β
C =− (5.57)
100 4

Na equação proposta pela IEC 60751 R0 e todos os coeficientes são definidos para T0=0 ℃ e,
por esta razão, (T-T0) se reduz a T nas equações (5.53) e (5.54).

O RTD mais comum é o de platina (normalmente 50, 100, 200, 500, 1.000, 2.000 Ω) que é
inerte e razoavelmente linear para uma ampla faixa de temperatura, apesar de um pouco caro.
Cobre (normalmente 10 Ω) é bem mais barato, também é bastante linear numa ampla faixa de
temperatura, mas oxida com facilidade. O RTD de níquel (normalmente 50, 100, 120  Ω) também é
razoavelmente inerte e tem a maior sensibilidade, mas apresenta uma faixa de utilização menor.
Para temperaturas mais altas o tungstênio pode ser usado. Para temperaturas muito baixas
existem RTD de carbono e vidro, germânio e filmes finos de ródio e ferro. Muitos outros modelos
estão disponíveis para aplicações específicas. Curvas de resistência normalizada em função da
temperatura para alguns dos RTD mais comuns são apresentadas na Figura 1.7.

Para o RTD de platina com resistência de 100 Ω (PT100), um dos mais populares RTD, a
equação de Callendar-van Dusen apresenta coeficientes α=0,003850 Ω/Ω/℃, β=0,10863 e δ=1,4999.
Os coeficientes da equação (5.44) para os RTD de platina, níquel e cobre são apresentados na
Tabela 5.4. Para calcular a temperatura a partir das equações (5.44), (5.53) ou (5.54) é necessário
resolver equações polinomiais de grau dois ou três com cálculo de raiz quadrada ou métodos
iterativos. Isso pode consumir muito tempo de processamento em controladores mais simples e,
nestes casos, um ajuste polinomial pode ser feito para o cálculo da temperatura diretamente em
função da resistência. A exatidão da media obtida com este método é apresentada na Tabela 5.5.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 58


Figura 1.7: Variações relativas de resistências dos RTD mais comuns. Measurement &
Instrumentation Principles, Alan S Morris, Butterworth Heinemann, 2001
Tabela 5.4: Coeficientes da equação (5.44) para os principais RTD (0 ℃)
Material α β γ
(faixa de operação) (10-6Ω/Ω/K) (10-6Ω/Ω/K2) (10-6Ω/Ω/K3)
Platina (0 até 850℃) 3907 -0,5768408
Níquel (-50 até 1809℃) 5470 6,39 0,0069
Cobre (-50 até 180℃) 4260

Tabela 5.5: Exatidão de um RTD de platina com o uso de polinômio de diferentes ordens
Ordem do Exatidão em ℃ Exatidão em ℃
polinômio (-200 até 850 ℃) (-50 até 150 ℃)

1 <20,2 <0,55

2 <1,7 <0,007

3 0,16 <0,0001

4 <0,018 ~0

5 <0,002 ~0
PSoC 3, PSoC 4, and PSoC 5LP – Temperature Measurement with an RTD, Cypress – AN70698

Como já foi mencionado, os sensores propriamente ditos podem ser formados por fios
enrolados ou por filme metálico (Figura 1.8). Os de filme metálico apresentam características

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 59


muito semelhantes aos de fio, mas operam em temperaturas mais baixas devido ao substrato. Os
encapsulamentos permitem o uso em ambiente inóspito ou líquido. Deve-se ter em mente que em
função da massa e da transmissão de calor este sensor, mesmo sendo resistivo, apresenta um
comportamento de primeira ou segunda ordem. Estes transdutores apresentam resposta dinâmica
lenta, entre 0,5 e 5 segundos (aumenta com o encapsulamento), mas precisão de 0,01%,
sensibilidade moderada, comportamento razoavelmente linear em torno de um ponto de operação,
saída estável por longa faixa de tempo e tolerância pequena (da ordem de 0,1%). Estas
características permitem que os RTD sejam trocados por outros iguais quando apresentarem
problemas sem mudanças significativas na curva de calibração (inexatidão de 0,25 até 2,5 ℃).

Figura 1.8: Encapsulamentos de RTD.

Para sensores mais rápidos é necessário menor massa o que pode ser conseguido, em parte,
com materiais de resistividade maior, pois é possível obter a mesma resistência com menos fio.
Valores de resistência mais altos para os RTD facilitam a interconexão com cabos longos (a
resistência dos fios, neste caso, deve ser bem menor que do RTD).

Como a resistência depende da variação da resistividade e das dimensões do material o


autoaquecimento, o gradiente térmico e as deformações mecânicas são problemas que devem ser
levados em conta durante o uso. O autoaquecimento pode ser controlado por meio do fator de
dissipação ou contante de dissipação térmica (δ) dos RTD que define a potência necessária para
aquecer o sensor de 1 ℃ (5.58). O fator de dissipação normalmente é informado em mW/K e para
duas condições distintas, para o sensor imerso em ar ou imerso em água. Para evitar o problema
de autoaquecimento normalmente são empregadas correntes menores do que 20 mA.

PD
δ= (5.58)
ΔT

Como todos os sensores, o RTD também deve ser estável, mas o drift térmico costuma
limitar a resolução em altas temperaturas. Mesmo assim os RTD costumam apresentar uma boa
sensibilidade, alta exatidão, baixo custo (para os sensores de cobre e níquel) e elevada estabilidade
(para o sensor de platina – desvios de 0,1 ℃/ano em ambiente industrial e 0,0025 ℃/ano em
laboratórios). Isto acaba por conferir ao RTD uma boa relação de compromisso entre sensibilidade,
estabilidade e linearidade.

Observa-se também que alguns materiais utilizados como RTD são empregados como
strain gauges e por esta razão os RTD também serão sensíveis a deformações mecânicas que
devem ser evitadas ou compensadas. E para finalizar a seção vale a pena observar que os nomes

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 60


dos RTD são definidos pela sigla do material do qual o sensor é feito seguido do valor da
resistência R0, por exemplo, o RTD mais comum é o PT100, ou seja, sensor de platina de 100Ω.

5.4 Termistores

Termistores são resistores sensíveis à temperatura (Figura 1.9), que apresentam resistência
variando com coeficiente positivo (PTC) ou negativo (NTC). Os termistores, diferente dos RTD,
são formados por elementos semicondutores (óxido metálico sinterizado e coberto por epoxy ou
vidro, nos casos mais comuns) onde o número de portadores de carga é alterado com a
temperatura.

A maioria dos PTC são utilizados em aplicações de chaveamento (posistor), pois a


resistência desses elementos apresenta uma curva de resistência com inclinação ligeiramente
negativa até que a temperatura alcança um valor crítico (que pode ser ajustado de fábrica). Neste
momento a resistência do PTC aumenta significativamente com a temperatura (da ordem de 100%
ou mais para cada ℃). Este comportamento é conseguido com uma dopagem muito forte dos
semicondutores (cerâmicas policristalinas com titanato de bário e outros componentes) e fazem
destes PTC componentes especiais para proteção de circuitos. Existem também os silistores ou
tempistores (termômetros de resistência de silício) que são PTC com aplicações em medição de
temperatura (razoavelmente lineares). A resistência destes elementos varia conforme (5.59) em
uma faixa de -50 ℃ até +150 ℃, mas não são o foco deste texto.

( )
2,3
T
R(T )=R 0⋅ (5.59)
T0

onde R0 é a resistência na temperatura de referência T0, normalmente 298,15 K (25 ℃), e T é a


temperatura em Kelvin

Os NTC são os termistores mais comuns para medidas de temperatura, mas também
podem ser empregados com base no seu autoaquecimento. Quando funcionam como um medidor
de temperatura a resistência de um termistor NTC pode ser descrita aproximadamente por uma
exponencial (5.60). Esta aproximação é válida para uma faixa de aproximadamente 50 ℃

R(T )=R0⋅e
β⋅
( 1 1

T T0 ) (5.60)

( )⋅e

β β
R (T )= R 0⋅e T0 T (5.61)

onde R0 é a resistência na temperatura de referência T0, normalmente 298,15 K (25 ℃), β é uma


constante que depende do material e T é a temperatura em Kelvin. Como β apresenta unidade de
temperatura, costuma ser chamada de temperatura característica do termistor e normalmente
assume valores entre 2.000 K e 5.000 K. Vale a pena observar que β pode ser determinado a partir
do valor da resistência em duas temperaturas distintas, independentemente de R0 e T0.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 61


Figura 1.9: Comparação entre diferentes tipos de sensores de temperatura. Sensors in Biomedical
Applications, Fundamentals,Technology and Applications, Gárbor Harsányi, CRC Press, 2000.

Tomando-se o logaritmo natural dos dois lados de (5.60)

β β
ln [R (T )]= − + ln[ R 0 ] (5.62)
T T0

Chamando o recíproco da temperatura de lambda Λ=T-1, então

ln [R (T )]=β⋅Λ−β⋅Λ0 +ln [R 0 ] (5.63)

que é uma função linear de Λ (β é a inclinação da curva ln[R(T)] em função de Λ).

Este modelo exponencial normalmente permite medidas com erro de ±0,3 ℃ para uma
faixa dinâmica de 50 ℃. Modelos mais sofisticado podem ser utilizados para melhorar as
estimativas de temperatura e aumentar a faixa de atuação do transdutor. O modelo empírico de
três parâmetros (5.64), com base na equação de Steinhart-Hart, por exemplo, leva o erro para
±0,01 ℃ numa faixa dinâmica de 100 ℃, e o modelo de quatro parâmetros (5.65) leva a erros para
0,00015 ℃ na faixa de 0 a 100 ℃. Este cuidado todo com a qualidade da medida, entretanto, exige
recalibrações toda vez que o transdutor for trocado, pois normalmente os valores de β variam

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 62


muito de transdutor para transdutor. Algumas vezes é possível adquirir transdutores que são
garantidamente intercambiáveis, mas eles custam mais caro.

R (T )=R ⋅e
( B C
A+ + 3
T T ) (5.64)
0

R (T )=R ⋅e
( B C D
A+ + 2+ 3
T T T ) (5.65)
0

Da mesma forma que para os RTD também é possível calcular a sensibilidade relativa de
um termistor. Considerando o modelo de um parâmetro (5.60), a sensibilidade relativa α pode ser
descrita por (5.66). Supondo β=2648 em 25 ℃, obtém-se um α=0,0355 Ω/Ω/K, ou seja, 10 vezes
maior do que no PT100. Algumas vezes este valor é escrito como 3,55%/K (simplificando a razão
Ω/Ω). A faixa normal de sensibilidade para NTC vai de 3 até 7%/K. Curvas reais de alguns NTC
são apresentadas na Figura 1.10. Para os PTC modelados por 5.59 α=0,77%/K, o dobro do PT100.

dR (T )/dT B
α= =− 2 (5.66)
R (T ) T

A contante de dissipação térmica (δ) dos termistores (normalmente entre 0,5 e 10 mW/℃)
também é muito importante para garantir a qualidade da medida. Por exemplo, se uma medida
requer um erro menor do que 0,1 ℃, mas o termistor apresenta δ=3 mW/℃, ele precisa dissipar, no
máximo 0,3 mW. Esta é uma condição limite que considera o transdutor como única fonte de erro.
Em uma situação real a potência terá que ser no mínimo duas ou três vezes menor. Quando o
termistor opera nesta faixa considera-se que ele está numa região linear entre tensão e corrente
que as vezes é chamada de região de potência nula ou modo R×T (Figura 1.11).

Para potências mais altas o termistor entra numa região de funcionamento com
autoaquecimento. Nesta região o transdutor não é usado para medida de temperatura, mas utiliza
suas características para funcionar como limitador de corrente ou medidor de perda de calor. Estes
costumam ser chamados de modo de queda de tensão ou variação de corrente no tempo.

O modo de queda de tensão costuma ser utilizado em medidores de fluxo, nível, vácuo ou
outros dispositivos que resfriam o termistor alterando a queda de tensão sobre ele. No modo de
variação de corrente com o tempo o termistor pode ser usado para limitar a corrente de partida de
um circuito. A medida que o tempo passa o autoaquecimento reduz sua resistência permitindo o
fluxo de uma corrente de regime permanente substancialmente maior. Esta estratégia é
comumente empregada em dispositivos que requerem uma partida lenta ou um aumento
gradativo da corrente. Para esta aplicação é necessário conhecer além das características elétricas
do transdutor, a sua capacidade térmica e seu calor específico, pois

dT
P =V T⋅I T =δ (T −T a )+C⋅ (5.67)
dt

onde C é a capacidade térmica (produto entre massa e calor específico) e Ta é a temperatura


ambiente.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 63


Figura 1.10: Curvas características de NTCs comerciais (NTC elements – Epcos – General
technical information). Os valores de β estão anotados no gráfico. Todos os termistores tem o
mesmo valor de resistências em 25℃

Figura 1.11: Curva V × I de termistores (NTC elements – Epcos – General technical information).
A região linear ocorre para potências muito baixas. A parte alta da curva é utilizada com o
transdutor no modo de autoaquecimento.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 64


A equação (5.67) é uma equação diferencial da temperatura cuja solução é

P
T =T a + ⋅[1– e −(δ /C)⋅t ] (5.68)
δ

Em regime permanente

2 V 2T
I ⋅R T = =δ⋅(T −T a)
T (5.69)
RT

Com estas informações é possível determinar a constante de tempo térmica do termistor e


a maior queda de tensão sobre ele. Na Tabela 5.6 são apresentadas algumas características gerais
dos termistores.

Tabela 5.6: Características gerais dos termistores


Parâmetro Valores
Faixa de temperatura -100 ℃ até 450 ℃
Resistência em 25 ℃ 0,5 Ω até 100 MΩ (1 kΩ até 10 MΩ)
β 2.000 K até 5.500 K
Máxima Temperatura 300 ℃ contínuo ou 600 ℃ intermitente
Constante de Dissipação 1 mW/℃ (ar) ou 8 mW/℃ (óleo)

Contante de Tempo Térmica 1 ms até 22 s


Máxima Potência Dissipada 1 mW até 1 W
Com base em Sensors and signal conditioning, Ramon Pallàs-Areny & John G. Webster. John Wiley & Sons, Inc, 2001

Termistores podem apresentar uma razoável estabilidade com o tempo apenas em casos de
pré envelhecimento. Nestes casos é possível obter variações equivalentes a 0,01 ℃ para uma faixa
de 70 ºC. Uma estabilidade intermediaria pode ser obtida cobrindo o elemento sensor com vidro
mas a constante térmica ficará pior. Além disto é necessário atenção na troca de termistores para
que eles apresentem características semelhantes.

Se a exatidão não for importante este sensor pode ser linearizado com associação de
resistores. Isto pode ser conseguido, para uma faixa limitada de temperatura, colocando-se um
resistor fixo em série ou em paralelo com o termistor (Figura 1.12). Embora isto acarrete uma
redução na sensibilidade do dispositivo, a sensibilidade original do termistor é relativamente alta,
o que ainda garante um resultado final satisfatório. Neste caso os erros obtidos estão na faixa dos
2,5%.

Existem várias formas de calcular estes resistores otimizando a linearidade em torno de um


ponto ou para uma faixa de temperatura. A seguir são apresentadas duas formas bastante comuns
obtidas pela associação paralela entre o termistor RT e um resistor de valor fixo RP. A resistência da
associação paralela é dada por

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 65


Figura 1.12: Linearização de NTC com resistência em paralelo ( NTC elements – Epcos –
Application notes).

R P⋅R T
R= (5.70)
RP + RT

Uma linearização simples em torno de uma só temperatura (a temperatura central da


medida) pode ser obtida fazendo com que neste ponto a curva da resistência R tenha um ponto de
inflexão. Assim

dR R 2P dR
= ⋅ T (5.71)
d T ( R T + R P ) dT
2

d 2R
dT 2 |
T =T C
=0 (5.72)

β−2⋅T C
Rp=R TC⋅ (5.73)
β+2⋅T C

Uma outra linearização comum, e que envolve uma faixa de operação, pode ser obtida para
qualquer função não linear fazendo com que variações iguais de temperatura correspondam a
variações iguais na resistência equivalente. Assim, para temperaturas extremas T1 (mais alta) e T3
(a mais baixa) podemos escrever

T 1−T 2 =T 2 −T 3 (5.74)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 66


R T 1 – R T 2=R T 2−R T 3 (5.75)

R P⋅R T 1 R ⋅R R ⋅R R ⋅R
− P T2 = P T2 − P T3 (5.76)
( R P + R T 1 ) ( R P +R T 2) (R P + R T 2) ( R P + R T 3)

R T 2⋅( R T 3 + R T 1 )−2⋅R T 3⋅R T 1


Rp= (5.77)
R T 3 + R T 1 – 2⋅R T 2

Alguns encapsulamentos de termistores são apresentados na Figura 1.13.

Figura 1.13: Alguns modelos de NTC.


Mesmo com toda a não linearidade que lhe é peculiar os termistores são muito utilizados
em controladores de temperatura de geladeiras, máquinas de lavar, fornos, sistemas automotivos
(medir a temperatura da água do radiador, óleo, catalisador, freios, compartimento dos
passageiros), ar condicionado, aquecedores de água, estabilização de diodos laser e foto elementos,
controle de temperatura em telefones celulares, baterias, mostradores de LCD, HD de
computadores, sensores de nível, sensores de fluxo, entre outros.

5.5 Outros transdutores resistivos

Muitos outros transdutores resistivos estão disponíveis no comércio. Dentre os mais


comuns estão os magnetorresistivos, resistores dependentes da luz (LDR), resistores sensíveis a
umidade e gases, resistores sensíveis a pressão entre outros.

O sensor magnetorresistivo apresenta resistência nominal depende da intensidade do


campo magnético no qual se encontra imerso. Os magnetorresistores funcionam de forma
semelhante aos sensores de efeito Hall, onde a força de Lorentz, devido a interação entre um
campo magnético e um fluxo de elétrons, desvia os elétrons de seu caminho normal. Dependendo
do tempo de relaxação devido a colisão dos elétrons pode surgir uma tensão na superfície do
material (sensor de efeito Hall) ou uma variação de resistência (sensor magnetorresistivo). Em

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 67


muitos condutores o efeito magnetorresistivo é secundário quando comparado com o efeito Hall,
mas em materiais anisotrópicos, como os ferromagnéticos, a resistência é fortemente dependente
do momento magnético.

O LDR é um sensor óptico semicondutor que varia sua resistência em função da


intensidade de radiação eletromagnética na faixa do visível que incide sobre o sensor. Os elétrons
da banda de valência de semicondutores dopados estão muito próximos da banda de condução de
tal forma que a luz incidente fornece o pouco de energia necessária para esta passagem. A
resistência depende, então da iluminação (E – energia por unidade de área) tal que RLDR=A·E-α,
onde A e α são constantes que dependem do material e de características construtivas (0,7<α<0,9).
Devido a elevada sensibilidade e resposta espectral estreita o LDR é um sensor muito empregado
em aplicações que envolvem a luz visível.

Resistores sensíveis a umidade normalmente são formados por materiais isolantes


misturados com materiais que absorvem água como sais de lítio clorido (LiCl) ou polímeros
condutivos. Resistores sensíveis a gás dependem da condutividade de semicondutores de metal
óxido e da concentração de oxigênio na atmosfera que envolve o sensor ou de gases que reagem
com o oxigênio, como CO ou H 2, por exemplo. Polímeros especiais também são produzidos como
sensores tanto de umidade quanto de concentração de gases.

5.6 Eletrônica para transdutores resistivos

Transdutores resistivos podem apresentar variações de resistência que vão desde 0,001%
até 10.000% nos casos extremos. Como uma variação de resistência não é um sinal propriamente
dito estas variações devem ser transformadas em tensão e corrente. Os circuitos que são ligados
aos transdutores fornecem energia para os mesmos aquecendo-os, e isto normalmente é
indesejado. Além disto todo o circuito ligado ao transdutor pode ser simplificadamente substituído
por seu equivalente Thévenin de tal forma que a impedância do Thévenin interage com a
resistência do transdutor afetando as tensões e correntes no circuito final. Apesar das
características dinâmicas das medidas serem importantes os transdutores resistivos podem, com
facilidade, ser utilizados com corrente contínua em medidas estáticas. Uma série de características
e problemas estáticos relacionados as medidas e aos circuitos de medidas podem ser investigados
nestes casos. Linearizações, cancelamento de interferências, ganhos elevados e habilidade para
cancelar efeitos resistivos dos fios de interligação, principalmente para medidas remotas ou em
ambiente onde a temperatura varie significantemente são alguns dos problemas que devem ser
tratados. Para tanto é necessário conhecer os amplificadores e circuitos mais comuns para estas
aplicações, bem como ter uma ideia de como funcionam os principais elementos utilizados para ler
os sinais analógicos e convertê-los em digital e vice-versa. Outros circuitos não lineares ou de
corrente alternada também podem ser bastante úteis, mas não serão tratados neste momento.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 68


6 Amplificador operacional

6.1 Introdução

Em instrumentação os sinais oriundos de sensores, transdutores ou outros dispositivos


costumam ser muito baixos e não raro estão contaminados por ruído. Por esta razão costuma ser
necessário passar estes sinais por circuitos condicionadores de sinal. Estes circuitos transformam
o sinal de entrada adaptando-o as necessidades do próximo estágio. Os condicionadores de sinal
mais simples são os amplificadores e os somadores, mas moduladores, demoduladores,
retificadores, conformadores, isoladores e muitas outras operações matemáticas podem ser
necessárias. Neste curso, cujo foco está nas baixas frequências, o elemento básico para tais
procedimentos será o amplificador operacional (AO, AmpOp ou em inglês OA ou OpAmp).

Por ter sido projetado para ser versátil e funcionar em circuitos com realimentação
negativa este amplificador é construído com ganhos extremamente elevados. Tão elevados que na
maioria das vezes vamos considerar que seu ganho é infinito. O erro desta suposição é, na maioria
das vezes, desprezível. A Figura a seguir mostra um diagrama com realimentação negativa. O
ganho de malha aberta do amplificador operacional está representado por Ad(S), vi é o sinal de
entrada e vo o sinal de saída. A malha de realimentação negativa é formada pelo bloco β(S). Em
circuitos práticos a realimentação é feita por resistores e capacitores. O conjunto completo forma
um novo amplificador com características e nomes próprios que vão depender da rede de
realimentação, como veremos mais adiante. Apesar do ganho infinito do AO a sua saída é finita e
o ganho do circuito realimentado também. Isto será fundamental para o equacionamento de
circuitos

vi vo
Ad(S)
+ _

β(S)

Figura 1.1: Malha de realimentação negativa.

Considerando que cada bloco representa um ganho então

v o (S )=Ad ( S )⋅[ v i (S )– v o (S )⋅β(S ) ] (6.1)

vo(S) Ad (S )
= (6.2)
v i (S ) 1+ Ad (S )⋅β(S )

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 69


Se o ganho Ad(S) (ganho diferencial ou ganho de malha aberta) for muito elevado, como no
caso do AO, o ganho da malha de realimentação, β(S), é responsável pelo ganho do amplificador
realimentado.

v o (S ) 1
lim = (6.3)
A (S)→∞ v i (S )
d
β

Observa-se que, mesmo com o ganho infinito do AO a sua saída é finita e o ganho do
circuito realimentado também. Isto será fundamental para o equacionamento de circuitos
envolvendo AO.

Existem outras consequências importantes da realimentação negativa. As mais


importantes para nós dizem respeito a faixa de frequências, a estabilidade e as impedâncias de
entrada e saída. Quando o ganho de malha aberta do AO for dependente da frequência como em
(6.4), por exemplo, com um polo em ωC

Aol⋅ωC
Ad (S )= (6.4)
S +ω C

então o ganho do amplificador realimentado é

Aol⋅ωC
vo(S ) ( S + ωC )
= (6.5)
v i (S ) A ol⋅ωC
1+ ⋅β
( S +ωC )

Aol⋅ωC
vo (S ) ( S + ωC )
= (6.6)
v i (S ) ( S + ωC ) + A ol⋅ωC⋅β
( S + ωC )

vo(S) A ol⋅ωC
= (6.7)
v i (S ) S +ωC⋅(1+ Aol⋅β)

Aol
vo(S ) 1+ A ol⋅β
= (6.8)
v i (S ) S
1+
ω C⋅(1+ A ol⋅β)

Observa-se que o ganho do amplificador realimentado foi reduzido a mesma quantidade


que o polo foi aumentado (1+Aol·β). Isto significa que, para frequências maiores do que ωC, o
produto ganho faixa em malha aberta ou realimentado se mantém constante quando o AO
apresenta resposta em frequência com um só polo ou compensado com polo dominante em baixas

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 70


frequências. Para exemplificar considere Aol=105, ωC=1 rad/s. Neste caso o produto ganho faixa do
AO sem realimentação é Aol·ωC=105 rad/s. Quando o AO é realimentado com β=0,1 (ganho 10 para
o amplificador realimentado) a frequência do polo passa para ωC*=Aol·β·ωC=104 rad/s, ou seja, o
novo produto ganho faixa continua igual (β−1·ωC*=10·104=105 rad/s).

A realimentação também perturba a estabilidade do sistema como um todo. Se o produto


Aol(S)·β(S) na equação (6.2) apresenta módulo unitário e fase de 180 o, por exemplo, o circuito oscila.
Se ganho for ainda maior em módulo o circuito torna-se instável. Na prática seria necessário um
sistema de ordem maior do que dois para levar a oscilação ou instabilidade, mas como os AO
práticos apresentam vários polos isto pode ocorrer mesmo com realimentações puramente
resistivas, basta que o ganho de realimentação (β) seja elevado.

A realimentação também altera as impedâncias de entrada e saída do sistema. Dependendo


de como é feita a realimentação essas impedâncias podem aumentar ou diminuir com relação
aquelas encontradas no AO em malha aberta.

6.2 Símbolo e Modelo

Os símbolos mais comumente utilizados para representar um AO estão na Figura 1.2. A


versão mais comum é aquela sem alimentação (±Vcc), mas não devemos esquecer que todo
amplificador operacional precisa de duas fontes de alimentação, como mostrado no símbolo
completo. Uma fonte de alimentação é positiva e a outra costuma ser negativa (neste caso o
segundo terminal de cada fonte é ligado ao nó terra 1). Quando a segunda alimentação tem, em
módulo, o mesmo valor da primeira diz-se que a alimentação é simétrica, caso contrário
assimétrica. Para os casos de alimentação assimétrica devemos consultar o manual do AO para
saber detalhes de como operá-lo sem problemas. Um outro aspecto importante das alimentações é
que elas limitam a saída do AO e, normalmente, as entradas do circuito.

Figura 1.2: Símbolos do amplificador operacional. A esquerda representação simplificada, a direita


com os fios de alimentação.

O modelo do AO ideal é apresentado na Figura 1.3. Observe que a impedância de entrada


do amplificador é infinita (impedância entre cada entrada e o nó terra e entre as entradas) e a
impedância de saída (impedância entre a saída e o nó terra) é zero. A diferença de potencial entre
as duas entradas controla a tensão na saída do amplificador. Esta diferença de potencial é
multiplicada pelo ganho diferencial ou de malha aberta.

1 O nó terra é o ponto do circuito a partir do qual são medidas as diferenças de potencial para as entradas e saídas
do AO. Neste ponto também são ligadas as duas fontes de alimentação. O nó terra é a referência para medidas de
tensão.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 71


Figura 1.3: Modelo ideal do amplificador operacional. A é o ganho diferencial de malha aberta.

Quando se fala em impedância de entrada e saída de um amplificador estamos


implicitamente calculando a impedância do equivalente Thevenin das entradas ou da saída. Vale
lembrar que o Thevenin é calculado para cada par de fios, ou seja, de cada entrada para o nó terra
ou da saída para o nó terra.

Se o ganho diferencial (Ad ou Aol) é infinito, e o AO está ligado com realimentação


negativa, então as tensões nas duas entradas do AO são iguais, pois, como explicado
anteriormente, uma malha de realimentação negativa, onde o ganho direto tende a infinito,
apresenta saída finita e dependente do ganho de realimentação. Esta relação é válida enquanto o
AO estiver trabalhando na região linear (sem a saturação que ocorre próxima das tensões de
alimentação). Em outras palavras, se considerarmos o ganho Aol infinito (condição ideal) a
diferença de potencial entre as entradas obrigatoriamente será nula (condição ideal) para que a
saída seja finita pois v o =A ol⋅(v + − v − ) .

Outras características importantes de um amplificador operacional ideal são apresentadas


na Tabela 6.1. Nela estão listadas várias características estáticas (de corrente contínua – frequência
zero) e dinâmicas. A maioria destas características estáticas pode ser modelada, de forma simples,
com adição de fontes de corrente ou tensão e resistências ao modelo da Figura 1.3 (isso é feito no
final do capítulo). Procedimento semelhante pode ser feito para as características dinâmicas, mas
neste caso basta adicionar polos a saída do AO. Os modelos mais simples adicionam apenas um
filtro passa baixas de primeira ordem, com resistor e capacitor.

As características ideais de um AO nunca são alcançadas na prática, mas os erros


decorrentes de assumirmos estes valores ideais é pequeno. Desta forma é comum utilizarmos estas
características ideais para simplificar a análise de circuitos com AO, como será mostrado nas
seções subsequentes, entretanto, quando circuitos são usados para a interface com sensores e
transdutores algumas características reais podem se tornar importantes. Neste caso, a escolha do
AO se faz importante.

Mesmo assim, na maioria das vezes o projeto leva em conta um AO com características
ideais. As características reais são importantes apenas para a escolha do AO de forma a atender os
requisitos do projeto. Por exemplo, em instrumentação costuma ser importante a escolha de AO
de baixo ruído, em aplicações onde a temperatura varia muito talvez seja importante um circuito
com pouco drift térmico, se a impedância de saída do sensor for muito alta talvez seja necessário
escolher AO com impedância de entrada também elevada. Uma vez que o AO tenha sido escolhido
para atender as exigências do projeto a escolha das características necessárias para o AO tenha
sido feit

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 72


Tabela 6.1: Características de amplificadores operacionais ideais
Valor Valor
Característica Símbolo Notas
Ideal Real*

Ad Amplifica a diferença entre as tensões


Ganho diferencial ∞ 105
Aol de entrada

Amplifica a tensão comum as duas


Ganho de modo comum Acm 0 1
entradas

Atenua a tensão comum as duas


Rejeição de modo comum CMRR ∞ 105
entradas

Impedâncias diferencial Rid ∞ MΩ Resistência entre as duas entradas

Resistência de cada entrada para o


Impedância de modo comum Ricm ∞ MΩ
terra

Impedância de saída Ro 0 Ω Resistência de saída

Velocidade com que a saída pode


Slew-rate SR ∞ V/μs
variar

Settling time ST 0 μs Tempo de estabilização

Largura de banda BW ∞ MHz Faixa de frequência

Corrente polarização Ib 0 nA Corrente em cada entrada

Desigualdade entre as correntes de


Corrente de offset Ios 0 nA
entrada

Diferença de tensão na entrada,


Tensão de offset Vos 0 mV necessária para que a saída seja nula
quando as entradas forem nulas

Ruído elétrico VN e IN 0 μV Ruído adicionado ao sinal de saída

Variação de fase ϕ 0 Entre o sinal de entrada e de saída


*Os valores reais são aproximações para a ordem de grandeza mais comum.

6.3 Amplificador inversor

A Figura 1.4 mostra o circuito básico de um amplificador inversor com AO.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 73


Figura 1.4: Amplificador inversor.

Considerando que o ganho Ad do AO não é infinito

v o =Ad⋅(v +−v − ) (6.9)

+
v =0 (6.10)

então

vo
=−v − (6.11)
Ad

-
Equacionando o nó da entrada v ,

v − −v i v −−v o
+ =0 (6.12)
R1 R2

temos que

v i⋅R 2 + v o⋅R 1
v −= (6.13)
R 1+ R 2

logo

vo vi⋅R 2 + vo⋅R 1
=− (6.14)
Ad R1 + R 2

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 74


vo R2
=− (6.15)
vi R1 + R2
R1 +
Ad

Se Ad tende a infinito (AO ideal), então

vo R2
=− (6.16)
vi R1

Observe que, se o ganho do AO tende a infinito, o ganho do amplificador inversor é


determinado apenas pela malha de realimentação. Convém notar, ainda, que a influência do Ad
não infinito é tanto menor quanto menor for o ganho do amplificador inversor (Tabela 6.2).
Considerando o amplificador inversor com ganho ideal N teremos

vo N⋅R Ad⋅N⋅R Ad⋅N


=− =− =− (6.17)
vi R + N⋅R R⋅( Ad + N + 1 ) Ad + N +1
R+
Ad

Tabela 6.2: Erro na estimativa do ganho do amplificador inversor considerando o ganho


diferencial não infinito
Ganho ideal (N) Ganho do AO (Ad) Ganho real Erro (%)

1 100.000 1 -0,002%

10 100.000 10 -0,011%

100 100.000 99,9 -0,101%

1.000 100.000 990,09 -0,991%

10.000 100.000 9.090,8 -9,09%

10.000 1000.000 9.900,9 -0,990%

Se considerarmos o AO como ideal, o equacionamento do ganho fica muito facilitado pelo


uso de duas considerações: Não há corrente circulando nas entradas do AO; e a diferença de
potencial entre as entradas do AO é nula.

Assim, equacionando o nó da entrada v -

v − −v i v −−v o
+ =0 (6.18)
R1 R2

e sabendo que v −=0 , então

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 75


vo R2
=− (6.19)
vi R1

Além do ganho vale a pena observar as impedâncias de entrada e de saída do amplificador


inversor. Observe que a saída do AO é a saída do circuito, então, da mesma forma que o AO, o
circuito também apresenta impedância de saída nula. Já na entrada, entretanto, existe uma
corrente não nula que flui pela resistência R1.

vi
iR = (6.20)
1
R1

Esta corrente caracteriza uma impedância de entrada igual a R1 e isto pode fazer com que
tanto um circuito que é ligado na entrada do amplificador quanto o próprio amplificador
interfiram no funcionamento um no outro. A Figura 1.5, por exemplo, ilustra bem este caso. O
circuito ligado antes do amplificador inversor apresenta resistência de saída Rth1 que está em série
com R1.

Figura 1.5: Influência da impedância de saída e entrada em estágios subsequentes.

Com esta montagem o ganho do amplificador inversor é alterado para

vo R2
=− (6.21)
vi R 1 + Rth1

Observa-se que a tensão na saída do circuito ligado ao inversor também foi alterada.
Quando não estava conectado, o circuito apresentava saída vx=Vth1, porém, depois de interligado
ao amplificador inversor, apresenta a saída

R1
v x=Vth1⋅ (6.22)
Rth 1 + R 1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 76


Como visto, o circuito conectado antes do amplificador inversor altera o funcionamento do
amplificador que, por sua vez, altera o funcionamento do circuito ligado a ele. Isto ocorre porque a
impedância de entrada do amplificador inversor não é infinita e porque a impedância de saída do
circuito que está ligado a ele não é nula. Assim, para que amplificadores de tensão se comportem
como blocos em um diagrama, ou seja, de forma independente, é necessário que eles tenham
impedância de saída nula e impedância de entrada infinita. O projeto que envolve circuitos com
estas características pode considerar cada circuito de forma independente e isto facilita o projeto,
além de torná-lo mais flexível. Uma outra boa razão para adotar esta estratégia de projeto é que
nem sempre dispomos de informações completas sobre a impedância de entrada ou saída de
circuitos ou equipamentos que não foram projetados por nós. Isto significa que, mesmo com a
informação de que a impedância de saída de um circuito é de 50 Ω, por exemplo, nada garante que
isto seja verdade para qualquer corrente de saída ou para qualquer frequência, então a melhor
estratégia e fazer um projeto que não dependa desta resistência.

6.4 Amplificador não-inversor

A Figura 1.6 mostra o desenho básico de um amplificador não inversor.

Se considerarmos que o ganho do AO não é infinito, então

Figura 1.6: Amplificador não inversor.

v + =v i (6.23)

− R1
v =v o⋅ (6.24)
R 1+ R 2

e como

vo
v + −v− = (6.25)
Ad

então

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 77


R1 vo
v i −v o⋅ = (6.26)
R 1 + R2 A d

vo (R1 + R2 )⋅Ad
= (6.27)
v i R 1+ R 2+ R1⋅Ad

vo R1+ R2
= (6.28)
vi R +R
R 1+ 1 2
Ad

Se Ad tende a infinito, então

v o R 1+ R2
= (6.29)
vi R1

Supondo que o AO seja ideal, a solução do problema é encontrada fazendo-se a tensão na


entrada negativa igual à tensão na entrada positiva. Equacionando a entrada negativa temos

v i – 0 v i−v o
+ =0 (6.30)
R1 R2

v o R 1+ R2
= (6.31)
vi R1

Mais uma vez o ganho do amplificador realimentado, quando Ad tende a infinito, é igual
aquele calculado considerando que as duas entradas do AO tem o mesmo valor. Podemos notar,
também, que nesta configuração o menor ganho é o unitário, que pode ser obtido se R1=∞
(circuito aberto) ou R2=0 (curto circuito). Neste caso o circuito do amplificador não inversor é
chamado de buffer. O buffer possui ganho unitário e, assim como o amplificador não inversor,
pode ser utilizado para isolar estágios amplificadores. Isolar, aqui, é usado para indicar que os
circuitos anterior ou posterior não afetam nem são afetados pelo amplificador. Isto se deve
novamente aos equivalentes Thevenin. No caso do amplificador não inversor a impedância de
saída é zero (o que é ótimo), e a impedância de entrada é infinita (o que também é ótimo).

6.5 Amplificador somador inversor

A Figura 1.7 mostra a topologia do amplificador somador inversor básico.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 78


Figura 1.7: Amplificador somador inversor.

Como podemos observar este amplificador apresenta várias fontes de entrada e, portanto,
pode ser equacionado utilizando o princípio da superposição de fontes. Aqui levaremos em conta
que o AO possui características ideais de funcionamento, assim, a saída será dada pela equação

v o =−R4⋅
( v1 v2 v3
+ +
R1 R2 R3 ) (6.32)

Se R1=R2=R3=R, então

R4
v o =− ⋅(v +v + v ) (6.33)
R 1 2 3

Observe que, assim como o amplificador inversor, o amplificador somador não possui
impedância de entrada infinita. As resistências R1, R2 e R3 correspondem respectivamente as
impedâncias das entradas 1, 2 e 3.

6.6 Amplificador diferencial ou subtrator

A Figura 1.8 mostra a topologia do amplificador diferencial ou subtrator básico.

O cálculo da tensão de saída pode ser feito facilmente por superposição, uma vez que
existem duas fontes atuando sobre o circuito. Quando v2 é zero a entrada v1 é aplicada a um
amplificador inversor. Quando v1 é zero a entrada v2 passa por um divisor de tensão e é aplicada a
um amplificador não inversor.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 79


Figura 1.8: Amplificador diferencial ou subtrator.

R2 R2 R 1 + R 2
v o =−v 1 +v 2 ⋅ (6.34)
R1 R 1 + R2 R 1

R2
vo = ⋅(v −v ) (6.35)
R1 2 1

O amplificador subtrator amplifica a diferença entre duas tensões. Idealmente aquilo que
as duas tensões têm em comum não é amplificado. Na prática isto não acontece, pois as duas
resistências R1 e as duas resistências R2 não são idênticas e assim cada entrada é amplificada de
forma um pouco diferente. A Figura 1.9 mostra um amplificador subtrator com quatro resistências
diferentes, uma fonte comum as duas entradas e um par de fontes produzindo uma tensão
diferencial.

Figura 1.9: Amplificador diferencial com entrada de modo comum e diferencial.

Este amplificador pode ser estudado por superposição. Para a entrada vcm e v2

R 4 R 2+ R 1
v o =( v cm +v 2 )⋅ ⋅ (6.36)
R 3+ R 4 R 1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 80


Para a entrada vcm e v1

R2
v o =− ⋅(v + v ) (6.37)
R1 cm 1

Somando as duas equações

[
vo =
R1⋅R4− R2⋅R3
]
R1⋅( R3+ R4 )
R
R1
R 1+ R2 / R1
⋅v cm− 2⋅v 1 + 4⋅ ⋅v
R3 1+ R 4 / R3 2
(6.38)

Observe que as entradas v1 e v2 são amplificadas de forma diferente e que só há uma forma
de cancelar a tensão de modo comum, fazendo

R2 R 4
= (6.39)
R1 R3

e neste caso particular

R2
vo = ⋅(v −v ) (6.40)
R1 2 1

Observe que a influência de vcm é nula se a razão entre as resistências R1 e R2 for


exatamente igual à razão entre as resistências R3 e R4. Como na prática isso não acontece é
possível dividir o ganho do amplificador em dois ganhos distintos, o ganho diferencial (Ad) e o
ganho de modo comum (Acm). Desta forma, o subtrator é classificado quanto a sua habilidade de
amplificar a diferença entre os sinais aplicados a suas entradas, e rejeitar a parcela de sinal comum
as duas entradas.

Como o ganho de modo comum costuma ser muito baixo podemos usar a chamada
rejeição de modo comum, ou CMRR que pode ser expressa linearmente (6.41) ou em dB (6.42)

Ad
CMRR= (6.41)
Acm

CMRR=20 log ( )
Ad
Acm
(6.42)

e para este cálculo considera-se

vo
Ad= (6.43)
vd

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 81


vo
Acm = (6.44)
v cm

Quando o problema se apresenta como na Figura 1.8, a tensão diferencial (vd) pode ser
obtida pela diferença entre v1 e v2 enquanto a tensão de modo comum (vcm) pode ser obtida pela
média entre as duas tensões. Fazendo isso, o ganho de modo comum da equação (6.38) passa a ser

Acm =
[ R 1⋅R 4 −R 2⋅R 3
R 1⋅( R 3+ R 4) ] (6.45)

e o ganho diferencial pode ser obtido considerando que v1  = −vd/2 e v2  = +vd/2, assim

1 R ⋅R +R ⋅R +2⋅R 2⋅R 4
Ad = ⋅ 1 4 2 3 (6.46)
2 R 1⋅(R 3 + R 4 )

Substituindo (6.45) e (6.46) em (6.41) obtemos (6.47), uma equação para a CMRR do
subtrator em função da falta de casamento entre as resistências. Considerando que o ganho ideal
do subtrator (G) é determinado pela razão entre R1 e R2, a equação (6.47) pode ser simplificada até
que se obtenha (6.48). A dedução está em Precision Matched Resistors Automatically Improve
Differential Amplifier CMRR – Here’s How, da Linear Technology.

Ad 1 R 1⋅R 4 + R 2⋅R 3 +2⋅R 2 ⋅R 4


CMRR R = = ⋅ (6.47)
Acm 2 R 1⋅R 4 – R 2⋅R 3

G+1
CMRR R ≈
ΔR (6.48)
4⋅
R

onde ΔR/R corresponde a tolerância dos resistores (metade do valor informado pelos manuais para
o casamento entre as resistências).

A Tabela 6.3 mostra como a CMRR do circuito pode mudar com relação a tolerância dos
resistores. Observe que para resistores com tolerância de até 0,1% a CMRR do subtrator é
relativamente pequeno. A solução para este problema é integrar os resistores ou todo o circuito,
ou aumentar o ganho do subtrator (para aumentar o ganho diferencial). Exemplos destes circuitos
integrados são o AMP03, o AD628, AD629 da Analog Devices, e os INA149 e INA146 da Texas
Instruments que apresentam CMRR próximos a 100 dB.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 82


Tabela 6.3: CMRR do subtrator de ganho unitário em função da tolerância dos resistores
Tolerância dos Resistores (%) 5 2 1 0,1

Acm subtrator 0,1 0,04 0,02 0,002

CMRRsubtrator 10x (20dB) 25x (27dB) 50x (33dB) 500x (54dB)

A CMRR do circuito completo, levando em conta a influência da CMRR do amplificador


pode ser obtida por (6.49) cuja dedução é apresentada passo a passo em Precision Matched Resistors
Automatically Improve Differential Amplifier CMRR – Here’s How, da Linear Technology

1 1 1
CMRR = + ≈ (6.49)
CMRR +CMRR AO 4⋅(CMRR R +CMRR AO ) CMRR R +CMRR −1
−1 −1 −1
R AO

Observe que a própria impedância da fonte pode causar um desbalanço nos resistores e
diminuir a CMRR da configuração. Por esta razão é desejável uma topologia onde a impedância de
entrada seja extremamente elevada. A construção integrada deste amplificador também minimiza
os erros entre as resistências e propicia uma CMRR maior.

Exemplo: Calcular a CMRR para um amplificador diferencial cujas relações de resistências


são: R2=100·R1, e R4=101·R3.

Acm =
[ R 1⋅R 4 −R 2⋅R 3
R 1⋅( R 3+ R 4) ] (6.50)

1 R ⋅R +R ⋅R +2⋅R 2⋅R 4
Ad = ⋅ 1 4 2 3 (6.51)
2 R 1⋅(R 3 + R 4 )

1
v o= ⋅v + 100⋅v d (6.52)
102 cm

Ad 100
CMRR= = =10200≈80 dB (6.53)
Acm 1/102

que também poderia ser obtido por (6.47) ou, usando a aproximação da equação 6.48

100 +1
CMRR≈ =5050≈74 dB
4⋅0,005

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 83


6.7 Amplificador de instrumentação

Em instrumentação é muito comum a medida de sinais de forma diferencial (diferença


entre dois potenciais), como no caso das medidas em ponte de resistores e biopotenciais. Esta
necessidade faz do amplificador subtrator um ótimo candidato para esta tarefa. Entretanto, este
amplificador não apresenta impedância de entrada infinita o que pode ser um problema na
maioria das aplicações de instrumentação. Para resolver este problema, foi criado o amplificador
de instrumentação (InAmp) cujo símbolo é apresentado na Figura 1.10 e o diagrama esquemático
na Figura 1.11. Neste circuito, um amplificador não inversor e colocado em cada entrada do
amplificador subtrator conferindo a montagem uma característica de amplificador subtrator com
elevada impedância de entrada.

Esta topologia apresenta alta rejeição a tensões de modo comum, ganho elevado, ganho
ajustável apenas com um resistor, impedância de entrada (diferencial e de modo comum) elevada
em ambas as entradas. Nesta configuração o primeiro estágio é responsável pelo ganho e o
segundo estágio é responsável pelo CMRR e para que este valor seja elevado o amplificador de
instrumentação é comercializado em um único integrado.

Figura 1.10: Símbolo do amplificador de instrumentação. A entrada REF corresponde a referência


(normalmente o terra) e as entradas R servem para a colocação da resistência de ganho.

Figura 1.11: Amplificador de instrumentação com três amplificadores operacionais. A entrada de


referência corresponde ao terminal aterrado de R2. A entrada positivas corresponde a v2 e a
negativa a v1.

Circuitos integrados com amplificadores de instrumentação alcançam CMRR maiores do


que 100 dB (CMRR > 105), mas este valor costuma decair com a frequência. Exemplos clássicos de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 84


amplificadores de instrumentação integrado são o AD620, AD8221 da Analog Devices, o INA118 e
o INA103 da Texas Instruments.

O circuito pode ser resolvido por superposição. Supondo v2 aterrada, o potencial na


entrada negativa do AO de baixo é zero, logo

R+ R3
v o 1=v 1⋅ (6.54)
R

R3
v o 2 =−v 1⋅ (6.55)
R

Supondo v1 aterrada, o potencial na entrada negativa do AO de cima é zero, logo

R+ R3
v o 2 =v 2⋅ (6.56)
R

R3
v o 1=−v 2⋅ (6.57)
R

Como a saída do segundo estágio já foi calculada anteriormente e vale

R2
vo = ⋅(v −v ) (6.58)
R1 2 1

então

R 2 R+2⋅R3
vo = ⋅ ⋅(v 2−v 1 ) (6.59)
R1 R

vo =
R2
R1 (
⋅ 1+
2⋅R3
R )
⋅(v 2−v 1) (6.60)

Uma versão de amplificador de instrumentação com dois AO é apresentada na Figura 1.12.


A maior vantagem deste amplificador reside no uso de apenas dois AO, mas esta também é sua
maior desvantagem. Por apresentar caminhos diferentes para os sinais amplificados positiva e
negativamente o sinal sofre diferentes atrasos e deslocamentos de fase nos dois caminhos. Como
resultado a CMRR para sinais alternados é reduzido com relação ao amplificador de
instrumentação de três AO. Assim como no amplificador subtrator tradicional, para que este
circuito funcione apropriadamente é necessário que R1/R2=R4/R3 o que significa que a CMRR
também será dependente do perfeito casamento de valores entre os resistores. Para contornar este
problema e o baixo CMRR em sinais alternados, este circuito pode ser encontrado integrado e,
neste caso, suas características são ajustadas de fábrica para um desempenho superior. Exemplos

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 85


deste circuito integrado são o AD627. O circuito com resistor RG permite o ajuste do ganho com a
mudança de apenas um resistor evitando que a CMRR seja afetado.

(
v o =( v 2 – v 1)⋅ 1+
R4 2⋅R 4
+
R3 RG ) (6.61)

ou sem o resistor RG

( )
v o =( v 2 – v 1)⋅ 1+
R4
R3
(6.62)

Figura 1.12: Amplificador de instrumentação com dois operacionais.

6.8 Amplificador com realimentação ativa

Uma outra topologia disponível é a do amplificador para recepção diferencial de sinais de


alta frequência (Figura 1.13). Diferente dos outros amplificadores de instrumentação estes
amplificadores utilizam uma topologia de realimentação ativa. Internamente este amplificador
apresenta dois pares de entradas diferenciais sendo que usualmente uma delas é usada para a
realimentação (dai o nome realimentação ativa). Uma das vantagens deste amplificador é que seu
CMRR permanece elevado mesmo para sinais de frequência muito alta (alguns MHz) ao contrário
dos amplificadores de instrumentação tradicionais onde a CMRR cai por volta de 100 a 10 kHz,
dependendo do ganho e do amplificador.

A função de transferência deste amplificador é

v o =Ad⋅[(v 1 – v 2)+(v 3−v 4)] (6.63)

A configuração clássica para uso deste amplificador é apresentada na Figura 1.14 e


apresenta função de transferência igual à do amplificador não inversor.

(v 1−v 2 )=−(v 3 −v 4 )=(v 4 −v 3 ) (6.64)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 86


R1
v 4 =v o⋅ (6.65)
R 2 +R 1

R +R
v o =(v 1 −v 2)⋅ 2 1 (6.66)
R1

Figura 1.13: Amplificador operacional de recepção.

Figura 1.14: Configuração clássica do amplificador de instrumentação para recepção.

Exemplos deste amplificador são o AD8129 e AD8130 da Analog Devices e podem ser
utilizados em conjunto com os amplificadores operacionais diferenciais completos. Com este
circuito é possível criar buffer, circuito de ganho 2 sem resistores, somadores não inversores,
inversor com alta impedância de entrada, e o clássico amplificador de instrumentação com CMRR
elevado até alguns MHz. Alguns cuidados são importantes: as tensões diferenciais não podem ser
altas; as duas entradas diferenciais não são iguais, então não podemos trocar a entrada de
realimentação e as cargas capacitivas devem ser evitadas.

6.9 Amplificador diferencial completo

Amplificadores operacionais diferenciais completos são aqueles onde tanto a entrada


quanto a saída são diferenciais (Figura 1.15). Estes dispositivos apresentam elevados valores de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 87


CMRR, provem baixa distorção harmônica e são aplicados na transmissão de dados a longa
distância, entradas de conversores AD ou sempre que forem necessárias saídas complementares. O
circuito típico para este tipo de amplificador é apresentado na Figura 1.16. Se R4/R3=R6/R5 a função
de transferência é a mesma do amplificador subtrator porém com as saídas complementares.

Figura 1.15: Amplificador operacional completamente diferencial.

Figura 1.16: Amplificador subtrator.

Outra configuração bastante comum é aquela que transforma um sinal simples em um


sinal diferencial (R4=∞, R3=0 e v–=0). Exemplos destes amplificadores são o ADA4940 e ADA8131
da Analog Devices e o LTC1992 da Linear Technology LMH6550 da Texas Instruments. Para mais
informações leia o Application Report SLOA054E - Fully differential Amplifiers da Texas
Instruments.

6.10 Considerações práticas

O amplificador operacional real é bem diferente do ideal. Seu ganho diferencial (Ad) é da
ordem de 105 ou 106 vezes. Os melhores CMRR estão próximos de 100 dB. As impedâncias de
entrada diferencial (Rid) e de modo comum (Ricm) são da ordem de alguns MΩ e, como
consequência, as correntes nas entradas do AO (Ib) são da ordem de μA ou nA e não são iguais.
Além disto a saída não é zero quando as duas entradas estão aterradas. Isso adiciona um efeito de
offset (Vos) no AO. Para finalizar, a impedância de saída (Ro) não é nula. Um modelo mais completo
do AO, levando em conta todas estas características reais, é apresentado na Figura 1.17. Neste
modelo foram consideradas apenas características estáticas (de corrente contínua). Características
dinâmicas também devem ser consideradas em algumas aplicações. De um modo geral todas estas
características (estáticas e dinâmicas) se tornam importantes em problemas de alto desempenho e
nestes casos vale a pena consultar um especialista (um engenheiro eletrônico).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 88


Adicionalmente devemos levar em conta que os circuitos eletrônicos, de um modo geral,
trabalham com tensões da ordem de alguns Volts (de 3,3 V até uns 15 V mais ou menos) e que
estas tensões podem ser positivas ou negativas. As potências que os AO conseguem fornecer não
costumam ultrapassar alguns mW e, portanto, as correntes ficam limitadas a mA. Com esta
combinação de valores as resistências estão na faixa de alguns kΩ (muito baixas elas produzem
correntes elevadas, muito altas elas interferem nas impedâncias de entrada dos AO). O segredo é
usar valores que permitam as aproximações por modelos ideais e que cada circuito possa ser
projetado de forma independente, não afetando ou sendo afetado pelos circuitos do entorno.

Figura 1.17: Modelo de corrente contínua para o amplificador operacional.

Aproveitar toda a faixa de entrada ou saída de um equipamento ou sensor é, em teoria, a


melhor forma de utilizá-lo, mas nem sempre isso é possível ou desejável na prática devido as
saturações e aos erros de ganho e offset. Por exemplo, um AO comum satura quando sua saída está
a aproximadamente 1 V da tensão de alimentação (exceção para os AO rail-to-rail onde este valor
cai para centenas de mV), então é melhor não fazer o projeto para utilizar toda a faixa da tensão
de alimentação. Se desejamos interligar equipamentos e o projeto é feito para o máximo
aproveitamento das faixas de operação erros nos ganhos ou offsets podem saturar estes
equipamentos. Por outro lado, equipamentos e sensores foram feitos para funcionarem próximos
de seus valores nominais, então, utilizar uma faixa muito pequena do dispositivo não é
recomendado. Use o bom senso, tente usar o máximo possível da faixa de operação, mas sempre
deixe uma folga. Se você tiver que escolher entre ter que trabalhar numa faixa menor do que os
limites ou maior que os limites opte pela faixa menor. O sinal pode não ficar tão bom, mas, com
certeza, você não vai queimar nada nem vai sofrer com saturações. Se tiver que distribuir um sinal
em uma faixa de valores, procure, de um modo geral, distribuir o sinal no centro da faixa.
Algumas vezes, entretanto, é comum ver projetos que aproveitam apenas metade da faixa para
evitar de usar amplificadores somadores. Neste caso você está economizando nos amplificadores e
penalizando a qualidade do sinal. Se mesmo assim a qualidade do sinal for aceitável então não há
problemas.

Também vale a pena lembrar que quase todos os sinais apresentam valor zero para entrada
zero, então, quando lemos que um sinal pode varia de 10 a 20 mV, por exemplo, provavelmente
esta é uma informação sobre os valores máximos deste sinal e não sobre a faixa de valores. A
resposta correta vai depender do tipo de sinal e você terá que pesquisar. Muitas vezes, também, os

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 89


sinais serão simétricos em torno do zero, como no caso do EEG e EMG, mas as informações são
dadas apenas para a faixa positiva de valores. Portanto você deve conhecer o sinal com o qual está
trabalhando. Da mesma forma, se um equipamento diz que sua saída pode variar em uma
determinada faixa de valores, isto não quer dizer que todos os sinais que saírem destes
equipamento ocuparão toda esta faixa. Pode ser que os sinais medidos fiquem distantes do
máximo para a faixa que o equipamento está sendo usado, mas se for possível ajustar esta
amplitude use este recurso a seu favor. A mesma coisa vale para a entrada de outros dispositivos.
Nem sempre você conseguirá produzir sinais que ocupam toda a faixa de entrada de um conversor
AD (dispositivo que converte os sinais analógicos para sinais digitais), por exemplo.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 90


7 Circuitos condicionadores para transdutores resistivos

7.1 Medidas de resistência

Resistências podem ser medidas de duas formas básicas, por métodos de deflexão ou de
zero. Os métodos de zero costumam ser mais exatos, porém mais lentos. Alguns problemas
relativos as medidas, entretanto, são comuns aos dois métodos e serão apresentados, neste texto,
uma única vez. Neste capítulo os conceitos serão apresentados em um contexto mas podem e
devem ser estendidos para todos os casos.

Os métodos de medida por deflexão são simples, pois necessitam apena que uma corrente
ou tensão seja aplicada ao transdutor. A variação de resistência, então, se traduz também numa
variação de corrente ou tensão dependendo de como se faz a medida. Para estes casos é necessário
que as fontes sejam muito estáveis e precisas. Assim, mesmo para as fontes de corrente as
referências de tensão serão importantes. Eventuais erros de exatidão podem ser compensados pois
irão se refletir em erros de tendência. Resistências dos fios e terminais podem ser compensadas
facilmente empregando-se uma medida com quatro fios, excitação por corrente e medida de
tensão (Figura 1.1, esquerda).

Medidas diferenciais também são comuns, pois as vezes as resistências variam pouco o que
se traduz em um sinal com offset muito elevado. Nas medidas diferenciais o offset pode ser
removido por comparação com resistências dummy, que apresentam a mesma resistência do
transdutor e, muitas vezes, variações idênticas com a temperatura ou outras grandezas que não
são de interesse (Figura 1.1, direita). Uma variação deste esquema pode ser feita com apenas uma
fonte de corrente e medidas diferenciais de tensão sobre cada resistência. Neste caso a saída pode
ser obtida pela subtração ou razão das tensões. A subtração pode ser realizada com um
amplificador diferencial enquanto que a razão pode ser implementada com circuitos divisores ou
um conversor AD cujo valor máximo corresponda a uma tensão de referência.

Figura 1.1: Algumas formas comuns de medida de resistência. A esquerda o método com quatro
fios e a direita uma medida diferencial. Em ambos os métodos as medidas de tensão são feitas
entre os pontos A e B.

Para qualquer caso também vale a pena lembrar que o autoaquecimento, se não for
necessário para a medida, deve ser evitado. Se o circuito for alimentado por fonte de tensão a
potência máxima ocorre quando a resistência do transdutor for igual à resistência do equivalente

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 91


Thévenin. Se a alimentação for realizada por fonte de corrente a máxima potência ocorre quando a
resistência for máxima. A máxima potência, seja para não danificar o transdutor seja para evitar o
autoaquecimento, normalmente é uma informação usada apenas para determinar um dos limites
da resistência do equivalente Thévenin. Outras equações devem ser encontradas para determinar
o valor final dos resistores ou equivalentes. Normalmente estas informações são obtidas pelo
equacionamento literal do problema, e por informações adicionais de como o circuito deve
funcionar (faixa de saída, sensibilidade e outros).

7.2 Circuitos em ponte de Wheatstone

Vários transdutores como os RTDs e os strain gauges apresentam pequenas variações de


resistência com relação a variável de interesse, e normalmente são utilizados em uma montagem
chamada ponte de Wheatstone (criada por S. H. Christie em 1833 e aprimorada por C Wheatstone
em 1843). Os sensores são colocados nos braços da ponte, que pode ser alimentada com fonte de
tensão ou corrente conforme indicado na Figura 1.2. Na ponte, uma ou mais impedâncias mudam
seu valor proporcionalmente a grandeza que se deseja medir. Isto provoca um desequilíbrio nas
tensões da ponte que pode ser detectado por um amplificador. Eventualmente este amplificador
também pode ser responsável por linearizar ou filtrar o sinal captado da ponte.

Figura 1.2: Pontes de Wheatstone alimentadas com fontes de tensão ou corrente.

Apesar das duas formas serem possíveis a mais comum é aquela com alimentação em
tensão. Nela, considerando que Av é o ganho do amplificador e Vcc é o valor da fonte de
alimentação, a tensão na saída do amplificador será

v o =Av⋅Vcc⋅( R3

R4
R 2 + R 3 R 1 + R4 ) (7.1)

enquanto que, para o circuito alimentado com fonte de corrente, o sinal na saída do amplificador é
dado por

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 92


(
v o =Av⋅Icc⋅ R 3⋅
R 1 +R 4
R 1 +R 2 +R 3 + R 4
−R 4⋅
R 2+ R 3
R 1+ R 2+ R 3+ R 4 ) (7.2)

Em ambos os casos o amplificador foi considerado ideal, ou seja, com impedância de


entrada infinita. Isto nem sempre é verdade, e, assim como no caso apresentado para o circuito
com potenciômetro, se a impedância de entrada do amplificador não for infinita um erro
sistemático será adicionado a saída do circuito. A análise completa do problema, considerando a
impedância de entrada do amplificador, pode ser feita por meio de equivalentes Thévenin vistos a
partir de cada entrada do amplificador (Figura 1.3).

Figura 1.3: Modelo de ponte de Wheatstone ligado a um amplificador com impedância de entrada
ZL.

R3
v TH 1=v⋅ (7.3)
R2 + R3

R 2⋅R3
RTH 1= (7.4)
R 2+ R3

R4
v TH 2=v⋅ (7.5)
R1 + R 4

R1⋅R4
RTH 2= (7.6)
R1 + R4

o que resulta no modelo da Figura 1.4

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 93


Figura 1.4: Equivalentes de Thévenin da ponte de Wheatstone.

v TH =v TH 1−v TH 2=v⋅
( R3
− 4
R
R 2 + R 3 R 1 + R4 ) (7.7)

RTH =RTH 1+ RTH 2=


( R 2⋅R3 R1⋅R 4
+
R2 + R 3 R1+ R4 ) (7.8)

Com as equações apresentadas fica evidente que a relação entre a tensão de saída da ponte
e a variação de resistência dos elementos sensores pode ser bastante complexa. O uso mais
simples da ponte inclui apenas um elemento sensor. Supondo que R3=R 0⋅(1+Δ) e que

R 1 R2
k= = (7.9)
R 4 R0

então a tensão de Thévenin pode ser simplificada

v TH =v⋅
[ R0⋅(1+ Δ)

R4
R 2+ R 0⋅(1+Δ) R1 + R4 ] (7.10)

[
v TH =v⋅
R0⋅(1+ Δ) 1/R 0
⋅ −
R 4 1/ R4

R 2+ R 0⋅(1+Δ) 1/R 0 R1 + R4 1/ R4 ] (7.11)

v TH =v⋅ [ (1+ Δ)

1
k +(1+ Δ) k +1 ] (7.12)

v TH =v⋅
[ k⋅Δ
(k +1)⋅(k +1+Δ) ] (7.13)

Desta forma fica evidente que a sensibilidade da ponte depende da relação entre as
resistências e que não é linear com relação a entrada (Δ). A sensibilidade da ponte pode ser
calculada como

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 94


S 0=
dv TH
d (Δ R 0) |
Δ=0
=
v⋅k

1
R0 (k +1)2
(7.14)

cujo máximo é obtido com k=1. Neste caso

v TH =v⋅ Δ (7.15)
2⋅(2+Δ)

o que significa que a saída não é linear com relação as variações de resistência, mas para
aplicações menos exigentes e com Δ≪2

v TH ≈v⋅Δ (7.16)
4

Este limite para Δ pode ser conseguido com certa facilidade quando usamos strain gauges,
mas isto pode não ocorrer quando os sensores forem RTD, por exemplo. Neste caso pode ser mais
interessante reduzir a sensibilidade da ponte alterando a relação entre as resistências. Isto também
torna a ponte mais linear.

A resistência de Thévenin também pode ser recalculada considerando que todos os


elementos da ponte tem o mesmo valor inicial R1=R2=R 4=R0 =R

R⋅R⋅(1+Δ) R⋅R
RTH = + (7.17)
R+ R⋅(1+ Δ) R+ R

R⋅(1+ Δ) R
RTH = + (7.18)
2+Δ 2

RTH =R⋅
 1 1

2 2  (7.19)

ou seja, não é constante e varia de forma não linear com relação a Δ. Mais uma vez, para
aplicações menos exigentes e com Δ≪1

RTH =R (7.20)

Observe que tanto a tensão quanto a resistência de Thévenin variam em função das
variações de R3, e que RTH é aproximadamente igual as demais resistências empregadas na ponte.
Isto quer dizer que o uso de sensores com impedância baixa é desejado, pois os erros relativos
oriundos destas variações e da impedância de entrada do amplificador serão baixos. Outras
possibilidades de montagem da ponte estão listadas na Tabela 7.1.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 95


Tabela 7.1: Algumas configurações possíveis para ponte de Wheatstone
R1 R2 R3 R4 vTH/v vTH/IR0

R0 R0 R0·(1+Δ) R0 Δ Δ
2( 2+ Δ) (4 +Δ)

R0·(1+Δ) R0 R0·(1+Δ) R0 Δ Δ
(2+Δ) 2

R0 R0 R0·(1+Δ) R0·(1–Δ) 2Δ Δ
2
(4 +Δ 2)

R0 R0·(1–Δ) R0·(1+Δ) R0 Δ Δ
2 2

R0·(1–Δ) R0 R0·(1+Δ) R0 −Δ2 −Δ2


4−Δ2 4

R0·(1+Δ) R0·(1–Δ) R0·(1+Δ) R0·(1–Δ) Δ Δ

A alimentação em corrente também apresenta um caso não linear, onde apenas uma
resistência da ponte varia. Mesmo nesta situação este tipo de alimentação pode ser vantajosa em
casos de alimentação remota, pois sofre menos influência da resistência dos fios e, portanto,
favorece o uso de cabos mais baratos e com menos fios (como será visto mais adiantes) além de ser
mais imune a interferências externas.

7.3 Conversores tensão corrente

Para alimentar as pontes com fontes de corrente precisamos de circuitos conversores


tensão corrente ou fontes de corrente. Alguns amplificadores muito simples, como o inversor e o
não inversor, são conversores deste tipo e podem ser facilmente utilizados quando uma fonte de
corrente é necessária. Nenhuma mudança no circuito precisa ser feita, basta considerar que os
resistores de realimentação são a carga. Muitos outros circuitos existem. A topologia mais
conhecida para carga aterrada é a Howland, mostrada na Figura 1.5 e discutida no artigo A
Comprehensive Study of the Howland Current Pump da Texas Instruments.

Figura 1.5: Conversor tensão corrente tipo Howland.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 96


No circuito da esquerda, se retirarmos o resistor R, conectado a entrada vin, e o resistor RL,
o equivalente Thévenin do circuito restante é uma resistência negativa de valor -R.

R v
v - =v o⋅ = o (7.21)
2⋅R 2

v +−v o v - −v o v
i in= = =− o (7.22)
R R 2⋅R

vo
v in =v +=v - = (7.23)
2

v in
R eq = =−R (7.24)
i in

Substituindo o circuito pelo seu equivalente Thévenin (Req) e a fonte vin em série com a
resistência R pelo seu equivalente Norton, é fácil perceber que a corrente na carga, de cima para
baixo, é igual a

v in
i RL= (7.25)
R

Para o circuito da direita a corrente na carga, de cima para baixo, é igual a

v in
i RL=− (7.26)
R

Nesta fonte, assim como no amplificador diferencial, o casamento perfeito de impedâncias


é fundamental para o correto funcionamento do circuito, só assim é possível conseguir o
equivalente de valor -R. A vantagem da fonte é que ela permite uma carga ligada ao terra, ou uma
carga flutuante, se duas fontes forem ligadas uma de cada lado da carga. A qualidade da fonte
decai com a frequência em virtude do comportamento não ideal dos resistores e do AO. A
impedância de saída de uma fonte deste tipo está na casa das dezenas de kΩ.
7.3.1 Outras topologias
Alterações nestas fontes (Howland, inversor e não inversor) são comuns. Uma modificação
que resulta numa fonte unipolar (corrente apenas numa direção) pode ser obtida com um
transistor ligado na realimentação do amplificador não inversor (base na saída do AO e emissor na
entrada negativa). Nesta configuração a corrente depende da tensão na entrada do AO e da
resistência de emissor do transistor. Esta é uma boa solução para fontes de corrente elevada, mas a
corrente é unipolar. Uma outra variante comum é a fonte de corrente Howland modificada que
permite o ajuste da corrente com a alteração de apenas 1 resistor (Figura 1.6).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 97


Figura 1.6: Fonte Howland modificada.

Levando em conta que a tensão na saída do operacional é vO1 e a tensão sobre a carga é vRL,
então

- ( v1 −v - )
v O 1 =v −R2⋅ (7.27)
R1

+ (v 2−v + )
v RL=v −R 2⋅ (7.28)
R1

-
( )
v O 1 =v ⋅ 1+
R2
R1
−v 1⋅
R2
R1
(7.29)

+
v RL=v ⋅ 1+( ) R2
R1
−v 2⋅
R2
R1
(7.30)

considerando as tensões nas duas entradas do AO são iguais (v+=v-) e que R≪R2 ou um buffer seja
colocado para a realimentação de vRL, então

v O 1 – v RL
i RL = (7.31)
R

1
[( ) R R R R
( )
i RL = ⋅ v +⋅ 1+ 2 −v 1⋅ 2 −v +⋅ 1+ 2 +v 2⋅ 2
R R1 R1 R1 R1 ] (7.32)

R 2 (v 2 – v 1)
i RL = ⋅ (7.33)
R1 R

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 98


Exemplo: Dado o circuito abaixo, calcule sua função de transferência iL=f(vi). Considere os
AO ideais. a) Estabeleça valores para os resistores R, R3 e R4 de forma que o circuito forneça uma
corrente máxima iLmáx=1 mA para uma carga 0 Ω≤RL≤10 kΩ quando vi=-10 V. Considere
R1=R2=100 kΩ e Vcc=±12 V. Considere vi=0 V.

Análise do circuito: A2 forma um amplificador de ganho unitário (buffer); A3 forma um


subtrator junto com R3 e R4; A1 fornece a corrente de saída e é realimentado pelo subtrator através
de R1 e R2.

Análise das realimentações: A1 recebe realimentação negativa (RN) através da entrada não
inversora de A3 e realimentação positiva (RP) através de A2 e da entrada inversora de A3. Como o
ganho dos dois caminhos do subtrator (entradas inversora e não-inversora) são iguais em módulo,
a RN é mais forte, porque a RP ainda passa pelo divisor resistivo formado por R e RL. Como
resultado disto o circuito possui realimentação negativa, o que permite o uso das técnicas
estudadas.

R4
v oA 3 =i L⋅R⋅
R3

vi v
=− oA 3
R1 R2

R 2⋅R 3
i L=− ⋅v
R1⋅R 4⋅R i

a) Sendo iLmáx=1 mA e RLmáx=10 kΩ então vLmáx=10 V (tensão máxima na carga)

v omáx −v Limáx
R= , onde vomáx é a máxima tensão de saída do AO.
i Lmáx

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 99


Como Vcc=±12V, podemos limitar, com segurança, vomáx=11V.

11 V −10 V
R= =1 k Ω
1 mA

R 2⋅R 3
Como i L=− ⋅v (a corrente independe de RL)
R1⋅R 4⋅R i

R4 R ⋅v 100 k⋅(−10)
então =− 3 i =− =10
R3 R i⋅R⋅i O 100 k⋅1 k⋅1 m

assim podemos escolher, por exemplo, R 4 =100k Ω e R 3 =10 k Ω .

7.4 Referências de tensão e corrente

Tanto nas pontes alimentadas com fonte de corrente quanto naquelas alimentadas com
fonte de tensão a saída depende da fonte. Isso significa que oscilações (ripple) na fonte se
propagam para a saída da ponte, levando a variações indesejadas. O mesmo acontece para os
potenciômetros ou circuitos cuja medida é feita a 2 ou 4 fios. Para esta aplicação as fontes
precisariam ser muito estáveis e ter pouco ruído, mas não precisam ter muita potência. Por outro
lado, fontes tradicionais usadas para alimentar circuitos podem ser ruidosas e apresentarem drift
elevado com tempo ou temperatura. Estas características normalmente não são problemáticas pois
os AO e outros circuitos com medidas diferenciais têm imunidade a estas variações (PSRR, por
exemplo). Como consequência destas diferentes requisições foram projetadas fontes de tensão
específicas para referência. Alguns modelos são apresentados na Tabela 7.2.
Tabela 7.2: Circuitos de referência de tensão.
Parâmetro AD581L LM399A LT1021A MAX671C REF10A REF102C
Saída
10/10 6,95/10 10/10 10/10 10/20 10/10
(V/mA)
Drift c/ Tempo
25 20 15 50 50 5
(ppm/1000h)
Drift Térmico
5 0,6 2 1 8,5 2,5
(ppm/K)
Regulação (V)
50 10 4 50 100 100
(ppm/Vmáx)
Regulação (I)
50 3 25 1 800 10
(ppm/mAmáx)
Ruído (μVpp)
40 6 6 50 30 5
(0,1-10 Hz)
Com base em Sensors and signal conditioning, Ramon Pallàs-Areny & John G. Webster. John Wiley & Sons, Inc, 2001

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 100


Estas fontes de referência costumam ser muito precisas e com drift muito pequeno, mas
não são feitas para dissiparem muita potência nem para alimentarem circuitos inteiros. Uma lista
destas fontes de referências fabricadas pela Linear Technology pode ser obtida no seu application
note AN42 – Voltage Reference Circuit Collection.

7.5 Medições de resistência em ponte de Wheatstone

Para entender o problema da medida de resistência pode se utilizar um exemplo numérico.


O RTD mais comum é o PT 100, um sensor de platina com resistência de 100 Ω. Ele tem
coeficiente térmico (TC) aproximado de 0,385%/℃. Então, para medir 1 Ω é necessário discriminar
variações de resistência de 0,385 Ω. Um outro exemplo recai sobre os strain gauges, eles podem
variar 1% de seu valor para o fundo de escala. Isto pode significar variação máxima de 3,5 Ω numa
medida de força. Para medidas com resolução de 10 bits seria necessário detectar variações de
resistência de aproximadamente 0,0035 Ω. Normalmente variações de resistência desta ordem de
grandeza são medidas com o uso de uma ponte de Wheatstone. A saída da ponte costuma ser de
alguns mV quando a alimentação é da ordem de 10 V, o que leva a sensibilidades do conjunto de
1 mV/V até 10 mV/V.

Mesmo com a sensibilidade das pontes dependendo da tensão de alimentação esta não
pode ser aumentada indistintamente, pois leva a aquecimento dos sensores, e se este problema for
diminuído ao máximo, com a redução dos valores para fonte, a sensibilidade também fica muito
diminuída. Além disto, fontes de alimentação para a ponte devem ser muito estáveis, pois
variações na tensão de alimentação produzem variação na sensibilidade da ponte. Para resolver
este problema pode se utilizar fontes de referência (Tabela 7.2) para alimentar as pontes. Existem
fontes de referência muito mais precisas do que as fontes de alimentação como por exemplo o
AD589 (1,2%), o REF195 (0,2%) e o AD588 (0,01%) da Analog Devices. Uma alternativa para o uso
de fontes de referência é a medida na qual a tensão da fonte de alimentação é utilizada para
corrigir o ganho do canal de medição. Na Figura 1.7 a fonte de alimentação da ponte é usada como
referência para o máximo valor de conversão do conversor analógico digital (ADC). Com este
arranjo o conversor se adapta as variações da fonte produzindo uma medida menos sensível a elas.

Figura 1.7: Medida com ponte de Wheatstone e correção contra variações na tensão de
alimentação.

Com relação ao amplificador, normalmente utiliza-se o amplificador de instrumentação


(Figura 1.8), seja ele com dois ou três amplificadores operacionais. O amplificador de
instrumentação apresenta elevada impedância de entrada, elevado CMRR e, de preferência, baixo
ruído, offset e drift (alta estabilidade térmica).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 101


Figura 1.8: Circuito clássico de amplificação para pontes de Wheatstone.

Apesar de todos estes cuidados, se a ponte for não linear a saída do circuito será não linear.
Isto não afeta a exatidão da medida, mas dificulta a leitura do sinal e as não linearidades devem ser
corrigidas de alguma outra forma. Para analisar este efeito podemos lançar mão de um exemplo
numérico. Considerando o circuito da Figura 1.8 alimentado com VB=10 V e com resistências de
R=100 Ω na ponte, então

1/ R
v o real = Av⋅V B⋅ Δ ⋅
2⋅(2+ Δ) 1/ R

( )
V Δ R/ R
v o real = Av⋅ B⋅ (7.34)
4 1+Δ R/ 2 R

V
( )
v o ideal =Av⋅ B⋅
4
ΔR
R
(7.35)

Quando ΔR/R=0,1% (0,1 Ω) a tensão de saída da ponte será vo=2,49875 mV e o erro

2,49875−2,500000
Erro= =−0,05 % (7.36)
2,500000

Quando ΔR/R=1% (1,0 Ω) a tensão de saída da ponte será vo=24,8756 mV e o erro

24,8756−25,00000
Erro= =−0,5 % (7.37)
25,00000

Assim sendo se percebe que a ponte apresenta uma linearidade de ΔR/2, independente do
sensor colocado nela ser ou não linear. Como visto em (7.13) a não linearidade pode ser alterada
modificando-se a razão entre as resistências, mas neste caso a sensibilidade fica reduzida. O
problema da linearidade deve, então, ser resolvido de outra forma. Para linearizar esta ponte
podem ser utilizados alguns circuitos com amplificadores operacionais, tomando cuidado para que

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 102


estes AO sejam escolhidos em função do seu alto ganho, baixo offset, baixo ruído e alta
estabilidade térmica. Amplificadores como os AD708, OP2177, OP213 e INA333 podem ser
utilizados para esta função. Nas Figuras 1.9, 1.10 e 1.11 são apresentadas algumas montagens que
linearizam a saída da ponte mesmo quando há apenas um elemento sensor.

Figura 1.9: Circuito de linearização de ponte de Wheatstone.

Observe que no circuito da Figura 1.9 a ponte foi empregada como os resistores de dois
amplificadores, um inversor (com o sensor na realimentação – o que torna a saída do AO linear
com Δ) e um somador não inversor (que remove o offset e inverte o sinal)

R+Δ R
v o 1 =−V B⋅ (7.38)
R

v +2 −V B v +2 −v o1
+ =0 (7.39)
R R

VB ΔR
v +2 = ⋅ (7.40)
2 R

vo =
VB ΔR
⋅ ⋅ 1+
2 R
R1
R2 ( ) (7.41)

Os circuitos da Figura 1.10 também podem ser utilizados para linearizar pontes com um ou
dois elementos variando, conforme indicado, e alimentação em fonte de tensão. A desvantagem
destes circuitos é que as pontes precisam ser abertas, o que nem sempre é possível, pois algumas
vezes a ponte é comprada lacrada. De qualquer forma, os dois circuitos são circuitos somadores.

Quando apenas um elemento varia (Figura 1.10 a esquerda)

v o =−V B⋅ ( 2⋅R
ΔR
) (7.42)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 103


Figura 1.10: Circuitos de linearização com abertura da ponte de Wheatstone.

Quando há dois elementos variando (Figura 1.10 a direita)

V o =−V B⋅
( ΔRR ) (7.43)

O circuito da Figura 1.11 emprega a ponte em um circuito realimentado. O capacitor serve


apenas para filtrar o sinal realimentado

Figura 1.11: Circuito de linearização da ponte de Wheatstone com realimentação da saída.

v o =Av⋅
Vcc *
4
⋅( Δ R/ R
1+Δ R/ 2 R ) (7.44)

(
Vcc *=Vcc – −v o⋅
R5
R6 ) (7.45)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 104


logo

(
v o 1+
ΔR
2R )Av
= ⋅ Vcc+
4 (v o⋅R5 Δ R
R6

R )( ) (7.46)

v o⋅Δ R Av Δ R v o⋅R5 Av⋅Vcc Δ R


vo + − ⋅ ⋅ = ⋅ (7.47)
2R 4 R R6 4 R

se

Av⋅R 5
R 6= (7.48)
2

então

Av⋅Vcc Δ R
vo = ⋅ (7.49)
4 R
7.5.1 Instrumentação para medidas remotas
Para medidas remotas, onde a ponte está distante do circuito de excitação e captação, é
possível empregar técnicas que compensam os erros introduzidos pelos longos fios. Os métodos
mais conhecidos são os de extensões de três fios para a interconexão de um único elemento que
varia ou de seis fios para interconectar toda a ponte.

O esquema da Figura 1.12 ilustra o problema. Neste exemplo o elemento sensor esta
distante 30 metros do resto da ponte e a interconexão é feita por fios AWG 30, de cobre, com um
total de RFIO=10,5 Ω @ 25 ℃ e TC=0,385%/℃. A resistência dos fios tira a ponte do equilíbrio, o que
pode ser compensado com uma resistência RCOR=21 Ω, entretanto variações de temperatura levam
novamente a ponte ao desequilíbrio.

Figura 1.12: Medida em ponte de Wheatstone com elemento sensor distante.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 105


Supondo VB=10 V, R=350 Ω, ΔR/R=1% para o fundo de escala, e RFIO=10,904 Ω @ 35 ℃,
então a saída da ponte varia na faixa de 0 até 23,45 mV para 25 ℃ e de 5,44 até 28,83 mV para
35 ℃. Isto significa um erro de offset de +23%FS (5,44/23,45) e um erro de linearidade de -0,26%FS
((28,83-5,44)/23,45). A correção para este problema pode ser feita não com o resistor de correção
(RCOR) mas com três fios que ligam a ponte ao sensor (Figura 1.13). Supondo as mesmas condições
do problema anterior, então a saída da ponte varia na faixa de 0 até 24,15 mV para 25 ℃ e de 0 até
24,13 mV para a faixa de 35 ℃.

Figura 1.13: Medida em ponte de Wheatstone com elemento sensor distante e compensação com
três fios.

Observa-se agora, um erro de offset nulo e um erro de sensibilidade de apenas 0,08%FS. Isto
ocorre pois a ponte ficou balanceada com a resistência dos fios que levam ao sensor e que variam
com a temperatura, mantendo a ponte permanentemente em equilíbrio.

Caso toda a ponte esteja distante pode se adotar o uso de seis fios para interconectá-la
(Figura 1.14). Neste caso o maior problema é manter a alimentação da ponte o mais constante
possível. A resistência dos fios, entretanto, varia com a temperatura, o que se traduz em variações
na tensão de alimentação da ponte.

O circuito apresentado na Figura 1.14 mostra como a alimentação sobre a ponte pode ser
mantida constante independente da impedância dos fios. Este sistema de medida com seis fios é,
algumas vezes, chamado de ponte de Kelvin. Apesar do efeito dos fios ter sido removido ainda é
importante manter a estabilidade da fonte de alimentação da ponte. A outra forma de evitar
problemas com os longos fios de interconexão é utilizar fonte de corrente para a alimentação da
ponte. Em qualquer um dos casos é importante atentar para a corrente de saída requerida dos
amplificadores operacionais. Com alimentação de 10 V e resistências de 350 Ω a corrente na saída
dos operacionais é da ordem de 30 mA o que pode ser um problema.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 106


Figura 1.14: Medida em ponte de Wheatstone realizada com 6 fios.
7.5.2 Problemas com offset
Outro problema que deve ser evitado é o do efeito termopar (diferença de tensão que surge
quando dois metais diferentes são unidos e mantidos em temperaturas diferentes) entre os fios que
conectam a ponte aos circuitos de captação de sinais. Em uma ponte onde a saída máxima é de
20 mV erros menores do que 20 μV no offset são necessários para uma exatidão de 0,1%.

O efeito de termopar ocorre entre fios de diferentes materiais como a solda e o cobre
(aproximadamente 2 μV/℃) ou Kovar (material utilizado em alguns terminais de circuitos
integrados) e o cobre (aproximadamente 35 μV/℃) ou entre cobre e terminais de borneiras,
conectores, chaves… Este problema só pode ser evitado mantendo as conexões que formam os
termopares na mesma temperatura, o que significa conexões próximas e sem barreiras entre elas.

Para minimizar problemas com offset e drift (causados por efeito termopar ou introduzidos
pelo próprio amplificador) a escolha dos amplificadores pode ajudar. Os operacionais OP177 e
OP1177 apresentam baixo offset, drift, IB e ruído. Alternativamente podem ser empregados
integrados com arquitetura chopper estabilizadas como o ADA4528, o AD8629 ou o AD8630,
OPA335 e INA326. Também podem ser empregadas excitações alternadas com ondas quadradas ou
senoidais. No caso da excitação com onda quadrada (Figura 1.15) a polaridade da fonte VOS, que
representa o offset do amplificador e dos efeitos de termopar, não é afetado pela inversão da
polaridade da fonte, então a subtração das medias realizadas com a duas polaridades elimina esta
tensão de offset. O tratamento matemático pode ser feito com filtros passa baixas, ou digitalmente
após a conversão de um AD.

V A −V B =(V O + V OS )−(−V O +V OS )=2⋅V O (7.50)

onde VO é a tensão na saída da ponte sem offset, VA e VB são as saídas da ponte levando em conta
as tensões de offset e para cada polaridade de alimentação.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 107


Figura 1.15: Técnica de redução de offset com inversão da polaridade da fonte de alimentação.

A Figura 1.16 mostra uma forma prática de inverter a polaridade na tensão de alimentação
da ponte usando uma ponte H (um DRV8832, por exemplo).

Figura 1.16: Inversão de polaridade da fonte usando ponte H de transistores.

7.6 Amplificador chopper e auto-zero

Os amplificadores chopper foram desenvolvidos a muito tempo (no fim dos anos 40, início
dos anos 50), e não são um tipo especial de amplificador, mas uma técnica de amplificação cujo
objetivo é minimizar características indesejáveis de CC. O amplificador chopper utiliza técnicas de
CA para desacoplar as baixas frequências devido a Vos e Ib. A melhora mais notável se dá no drift
com a temperatura de Vos e Ios. O amplificador chopper pode introduzir um fator de redução de 50
vezes nestes drifts. A Figura 1.17 mostra um esquema simplificado de um amplificador chopper.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 108


Figura 1.17: Diagrama esquemático de um amplificador chopper.

Na Figura 1.17 cada chave funciona como um modulador ou demodulador, uma vez que o
sinal em sua saída é equivalente ao produto do sinal de entrada por uma onda quadrada. Observe
que este é um sistema amostrado, e como acontece em todo sistema amostrado o espectro de
frequências do sinal de entrada é copiado para frequências maiores. Como o sinal de modulação é
uma onda quadrada o sinal de entrada é copiado em torno dos harmônicos ímpares da portadora.
Após a chave, na entrada do amplificador (Vy) são somados ao sinal amostrado todos os ruídos e
offsets que serão amplificados. Após a segunda chave o sinal está sincronamente demodulado (Vo)
e retorna ao seu espectro original. Os offsets são removidos pelo capacitor na saída do
amplificador e um filtro passa baixas reconstrói o sinal original na saída do amplificador chopper
(Vout), filtrado todas as cópias espectrais de frequência elevadas.

Como este é um sistema amostrado o sinal de entrada (Vin) deve ter frequência bem menor
que a de chaveamento. Esta, por sua vez, é da ordem de centenas a milhares de Hz na maioria dos
sistemas.

Como exemplo de amplificador chopper estabilizado podemos citar o LTC1052 com


Vos<5 μV e drift de 50 nV/℃. Observe que os valores de offset e drift são tão baixos que podem ser
necessários cuidados especiais na montagem do circuito. O efeito termopar causado por contatos
de metais diferentes pode produzir variações de tensão da ordem de 200 nV/℃, quatro vezes mais
que drift do LTC1052. Assim, é interessante minimizar o número de chaves, soquetes, conectores e
outros potenciais contatos problemáticos. Eletrostática e campos eletromagnéticos também podem
ser fontes de problemas. O uso de transformadores, por exemplo, podem gerar alguns microvolts
de tensão em trilhas de circuito impresso.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 109


Os amplificadores chopper, na forma como apresentado, estão em desuso e sua produção
tem sido descontinuada. Novos amplificadores chamados de auto-zero (CAZ ou AZA) ou chopper
estabilizados estão em produção. Diferente do chopper tradicional os sinais são amplificados por
um canal CC, e um circuito adicional com chaveamento (chopper) é usado para amostrar e subtrair
o offset e reduzir drifts. Estas características estendem a faixa de frequência do amplificador.
Exemplos de modernos amplificadores de auto-zero são o AD8571, TLC2654, OPA333. Para saber
mais sobre estes amplificadores leia To Chop or Auto-Zero: That Is the Question, da Analog Devices
ou Auto-Zero Amplifiers Ease the Design of High-Precision Circuits, da Texas Instruments.

7.7 Outros circuitos úteis

Muitos outros circuitos podem ser utilizados em condicionadores de sinais para sensores
resistivos dentre os quais podemos citar os multiplicadores analógicos, filtros, amplificadores de
ganho programável, potenciômetros digitais e amplificadores de transcondutância. Alguns destes
circuitos são apresentados nas próximas secções.
7.7.1 Amplificador de ganho programável (PGA)
Amplificadores de ganho programável são amplificadores com ganhos pré estabelecidos e
que podem ser selecionados digitalmente. O tipo mais simples, apresentado na Figura 1.18,
apresenta entradas digitais cuja lógica combinacional é capaz de selecionar um entre diversos
ganhos possíveis (4 no caso do PGA103). Alguns circuitos mais sofisticados, como o MAX9939
apresentam uma interface serial (do tipo SPI) que permite programar diversos parâmetros do
amplificador. Neste caso os ganhos podem ser programados entre 0,2 V/V e 157 V/V além de
permitir a compensação de offset e oferecer recurso de shutdown para minimizar consumo. Outros
recursos comuns, internos aos PGA, são os multiplexadores (MUX) e seleção de ganhos binários
ou para osciloscópio (x1, x2, x5, …). Também estão disponíveis circuitos para ganho variável,
ajustados analogicamente (VGA) como o AD8338.

Figura 1.18: Exemplo de Amplificador de Ganho Programável – PGA103


7.7.2 Potenciômetro digital
Os potenciômetros digitais, também conhecidos como digital POT, RDAC, ou digipot, são
resistências ligadas em escada (ladder) e associadas a chaves. A abertura e fechamento de chaves
altera a associação de resistências simulando o comportamento de um potenciômetro. Eles são
uma alternativa para os circuitos PGA ou VGA e podem ser utilizados para produzir ajustes
automáticos em circuitos de instrumentação. O modelo apresentado na Figura 1.19 pode ter seu
potenciômetro ajustado inúmeras vezes até ser definitivamente programado pela queima de um

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 110


fusível, como se fosse um potenciômetro mecânico com eixo colado após ajustes. A programação é
feita por comunicação serial no padrão I2C.

Figura 1.19: Potenciômetro digital.


7.7.3 Amplificador operacional de transcondutância (OTA)
O amplificador de transcondutância é muito comum em microeletrônica mas existem
poucos integrados discretos disponibilizando funções de OTA. Como o próprio nome sugere este
amplificador transforma a diferença entre as tensões de entrada em uma corrente de saída. Isto
confere características bastante interessantes a este operacional que, por exemplo, pode ter sua
saída ligada a saída de outro operacional do mesmo tipo sem problema de curto circuito, simular o
comportamento de resistência, criar filtros e acionar cargas capacitivas.

Os modelos discretos apresentam uma terceira entrada, chamada de corrente de


polarização, capaz de ajustar o ganho do amplificador. A função de transferência deste operacional
(considerando que a corrente sai do OTA) é dado pela equação (7.51) e alguns de seus símbolos são
apresentados na Figura 1.20. O OTA discretos mais clássico foi o CA3080 cujo circuito interno é
apresentado na Figura 1.21.

i O =gm⋅( v + −v - ) (7.51)

gm=K⋅I B (7.52)

onde gm é o ganho do OTA, K é uma constante que depende do modelo e IB é a corrente de


polarização.

Figura 1.20: Símbolo do amplificador de transcondutância (OTA).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 111


Figura 1.21: Circuito interno do CA3080.

Na Figura 1.22 são apresentados alguns circuitos empregando OTA. Há circuitos que
multiplicam ou emulam impedâncias, ligadas ao nó terra ou flutuantes. Observa-se a pouca
presença de resistências para a polarização o que também facilita seu uso em filtros.

Figura 1.22: Resistores variáveis implementados com OTA.


No circuito do canto superior esquerdo da Figura 1.22 a corrente de entrada vale

i in=gm (7.53)

então a impedância de entrada pode ser calculada como

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 112


1
Z in= (7.54)
gm

Considerando que o valor de gm pode ser controlado pela corrente IB o valor da


impedância pode ser controlado por corrente ou tensão (caso seja empregado um conversor
tensão corrente). No circuito abaixo o comportamento é semelhante, mas a impedância é
flutuantes (não aterrada). No circuito de baixo, a esquerda, a corrente de entrada é

i in=gm 2⋅(v 1⋅gm 1⋅Z L ) (7.55)

o que leva a uma impedância de entrada

1
Z in= (7.56)
gm 1⋅gm 2⋅Z L

Novamente o circuito ao lado apresenta o mesmo comportamento só que para impedâncias


flutuantes (não aterradas).

Na Figura 1.23 são apresentados circuitos somadores e diferenciadores. Como as saídas são
em tensão sempre há um OTA funcionando como carga do circuito (impedância). No canto
superior esquerdo há um amplificador diferencial com impedância de saída não nula. Abaixo um
amplificador diferencial com impedância de saída nula e, a direita, um amplificador somador de
diferenças com impedância de saída não nula.

Figura 1.23: Circuitos somadores e diferenciadores.

As principais aplicações para este tipo de amplificador são o controle automático de ganho,
os multiplicadores e divisores de tensão, circuitos moduladores e filtros. Apesar disto este tipo de
amplificador pode ser utilizado em praticamente todos os casos onde um operacional comum
também é utilizado. Isto, entretanto, não consiste em nenhuma vantagem pois as características do
OTA não o auxiliam nestas tarefas mais comuns. Como exemplos de OTA podemos citar o clássico

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 113


CA3080, o LM13700 e o mais recente o CA3280. Alguns OTA práticos sofrem limitações e
problemas de polarização que dificultam seu uso, sendo importante a inclusão de componentes
que teoricamente não seriam necessários. Normalmente os problemas dizem respeito a não
linearidades do par diferencial de entrada. Como os OTA não precisam trabalhar realimentados a
diferença de tensão entre as entradas não é zero, mas o par diferencial de entrada só tem
comportamento linear para valores de tensão de alguns milivolts. Circuitos com diodos e
resistores são utilizados, externa ou internamente para expandir a linearidade dos amplificadores.
Uma coletânea de circuitos de filtros utilizando OTA foi publicada no artigo Active Filter Design
Using OTA: A Tutorial.
7.7.4 Circuitos específicos para pontes de Wheatstone
Como o uso de pontes de Wheatstone é muito comum existem uma grande variedade de
circuitos integrados que disponibilizam soluções para o problema. Alguns são bem simples como o
INA125 que possui apenas uma fonte de referência e um amplificador de instrumentação (Figura
1.24) enquanto outros são bem sofisticados, como o AD7730.

Figura 1.24: Circuito com o INA125.


Uma outra solução clássica é oferecida pelo XTR101 (Figura 1.25), que alimenta a ponte
com fonte de corrente e transmite os dados da medida também na forma de corrente (uma técnica
muito utilizada na indústria). A saída do XTR101 usa o padrão industrial de 4 a 20 mA sendo que a
corrente de offset serve para determinar se a linha de transmissão está intacta ou partida e serve
para alimentar o circuito. Outra vantagem deste padrão é que apenas dois fios são usados para
alimentar tanto o integrado quanto a ponte assim como para transmitir informações a longa
distância. Um outro circuito nestes mesmos moldes é o XTR110 que pode funcionar nos padrões

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 114


de 0 a 20 mA, de 4 a 20 mA, de 5 a 25 mA, mas usa dois fios para transmissão de dados mais os fios
de alimentação (necessárias para o padrão de 0 a 20 mA).

Figura 1.25: Conexões típicas do integrado XTR101.

Circuitos mais modernos, com múltiplos recursos também são facilmente encontrados. O
AD7730 (Figura 1.26), por exemplo, é um circuito integrado específico para medidas em ponte de
Wheatstone e está preparado, entre outras coisas, para medidas com seis fios e apresenta
internamente circuitos digitais para compensação de offset e conversão analógico para digital
(AD). Seu uso requer programação feita por uma interface digital SPI o que facilita sua interface
com microcontroladores. Um outro exemplo é o PGA309 (Figura 1.27), que assim como o AD7730
apresenta vários recursos que podem ser programados. Internamente o circuito está preparado
para linearizar pontes com saída não linear, realizar compensação de temperatura, detectar falhas
e reduzir efeitos de offset, mas não apresenta conversor AD embutido, ou seja, sua saída é
analógica.

Figura 1.26: Diagrama interno do circuito AD7730, usado para medias em ponte de Wheatstone.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 115


Figura 1.27: Diagrama em blocos e conexões típicas do PGA309.

7.8 Exercícios

1) Um extensômetro resistivo utilizado para ler tensões mecânicas, com um fator de


calibração de 2 é ligado a uma chapa de aço inox que é sujeita a um alongamento relativo a 10 -6.
Sabendo que a resistência elétrica original do extensômetro é de 130 Ω, calcule a variação de
resistência.

2) A próxima figura apresenta dois transdutores que empregam strain-gauges (A, B, C, D e


R1, R2, R3, R4) para medir pressão arterial (a esquerda) e força (a direita). a) Desenhe como os strain-
gauges devem ser interligados para uso em ponte de Wheatstone (indique os resistores
corretamente). b) Considerando as resistências iguais, estas montagens apresentam drift com a
temperatura? Justifique.

3) Um sensor de esforços (strain-gauge), com as especificações na tabela abaixo, é colado a


um cilindro metálico que sabidamente (através de vários ensaios de calibração) sofre uma

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 116


deformação longitudinal de 0,02% desta dimensão para cada kgf aplicado. Desejamos utilizar este
arranjo (strain-gauge + cilindro) na construção de um dinamômetro com fundo de escala de
100 kgf, inserindo o sensor como quarto resistor de uma ponte de Wheatstone onde os demais
elementos possuem todos 120 Ω. A ponte será alimentada por uma fonte 5 V (C. R. Rodrigues,
Medidas Elétricas Ia - ESP314, UFSM). a) Calcule a variação da tensão de saída na faixa de
operação do dinamômetro? b) Qual a sensibilidade do circuito? c) Desenhe o circuito necessário
para interligar esta célula de carga a um computador com conversor AD de 12 bits e faixa de -5 V
até 5 V. d) Qual a resolução do instrumento projetado?

Tipo CEA-06-25UW-120

No do lote R-A56AD133

Resistência (R) 120±0,3% @24 ℃

Fator do sensor (FS) 2,085±0,5% @24 ℃

Sensibilidade transversal 0,6±0,2% @24 ℃

4) Avalie o circuito abaixo. a) Este é um bom circuito para a instrumentação? b) Ele


adiciona erros sistemáticos grandes ou pequenos? c) Como melhorar este circuito? Justifique tudo
com o equacionamento do problema.

5) Um medidor de posição linear foi construído com uma potenciômetro de 100 kΩ.


Admitindo que o passo do potenciômetro é de 0,1 mm e a sensibilidade do sensor é de 500 Ω/mm
dimensione o sistema de medida em relação ao ganho, resolução do conversor AD e número de
dígitos para um mostrador de LCD. Desenhe o diagrama de blocos indicando cada um destes
elementos (Electrónica e Instrumentação, http://robotics.dem.uc.pt/ei/).

6) Considerando que a célula de carga CTMB200, para a faixa de 0-200 kg, deve ser
interligada a um conversor AD de 12 bits com tensões de entrada de ±10 V determine: a) o circuito
que deve ser ligado a célula de carga para que se obtenha a máxima resolução possível na saída do
AD (forneça as características de cada um dos blocos); b) a resolução que se obtém com esta
montagem; c) a equação da curva de calibração final; d) linearidade (aproximada).

7) O circuito abaixo, chamado de malha de Anderson (Anderson loop), pode ser utilizado
em substituição a ponte de Wheatstone? Explique o seu funcionamento considerando que cada
símbolo de amplificador operacional representa um amplificador de instrumentação com ganho
unitário (C. R. Rodrigues, Medidas Elétricas Ia - ESP314, UFSM). Qual valor você escolheria para
Rref? Qual a influência de RW1, RW2, RW3, RW4, RW5, RW6 e RW7 sob a saída do circuito?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 117


8) Um RTD tem α0=0,005/°C, R=500 Ω, e uma constante de dissipação PD=30 mW/°C, todos
relativos a temperatura de 20 ℃. O RTD é usado num circuito em ponte onde R1=R2=R4=500 Ω e R3
é um resistor usado para balancear a ponte. Se a fonte de excitação da ponte for de 10 V e o RTD
for colocado num banho a 0 ℃, determine o valor de R3 que conduza à condição de balanceamento
da ponte. Desenhe o circuito da ponte indicando a posição e o valor de todas as resistências
(Técnicas de Instrumentação, http://disciplinas.dcm.fct.unl.pt/ti/).

9) Para os circuitos em ponte mostrados na próxima figura: a) Provar que as equações para
vo e os valores de linearidade de cada uma das pontes abaixo estão corretos (não use casos
particulares). b) Explicar o significado da unidade %/% apresentada para a linearidade. Use o
problema 3 como exemplo para o cálculo da linearidade em um caso real. d) Na sua opinião, qual a
razão para o valor da impedância de Thévenin de cada ponte não ter sido apresentado na tabela?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 118


http://www.analog.com/library/analogDialogue/archives/39-05/Web_Ch4_final.pdf

10) Linearizar um termistor que tenha R25=2000 Ω e B=3528 com resistências em paralelo,
calculadas pelas fórmulas abaixo (duas linearizações diferentes). A faixa de interesse para medida
de temperatura é de 0 a 100 ℃. a) Fazer o gráfico da resistência do termistor em função da
temperatura; b) Encontrar uma reta de calibração, determinar a sensibilidade, e a linearidade; c)
Refazer as letras a e b para cada linearização do termistor; d) Determinar qual a melhor
linearização para esta aplicação.

β−2⋅Tmeio RTmeio⋅( RTbaixo + RTalto )−2⋅RTbaixo⋅RTalto


Rp= RTmeio⋅ , Rp=
β+ 2⋅Tmeio RTbaixo+ RTalto – 2⋅RTmeio
http://www.physics.ucdavis.edu/Classes/Physics116/P116C_lab/2322%20640%205%20NTC%20Thermistors.pdf

11) Quais características devemos observar ao escolher um amplificador de instrumentação


para uso em circuitos com ponte de Wheatstone?

12) Descreva formas de minimizar os problemas causados por uma fonte não muito
regulada (com flutuação de tensão ao longo do tempo) usada para alimentar uma ponte de
Wheatstone.

13) Para o circuito indicado na figura seguinte a ponte é ajustada de forma que, quando
não há esforço longitudinal na barra de aço, a tensão de saída é nula. Considerando que o
diâmetro da barra é D, o Módulo de Young do aço é E, os strain gauges possuem fator de gauge K,
a tensão de alimentação é V e a tensão de saída é Δ V, determine a expressão para a força
(PETROBRAS, Engenheiro de Equipamentos Júnior 2004). a) Resolva sem considerar deformação
no resistor de compensação; b) Resolva considerando a razão de Poisson.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 119


14) O circuito a seguir deveria funcionar como um condicionador para uma ponte de
Wheatstone. a) Este circuito realmente funciona ou o OP177 está com realimentação positiva?
Corrija o circuito se necessário e explique seu funcionamento. b) Mostre como foram calculados
os componentes. c) Determine a saída em função da entrada (με). O ganho do AD620, um
amplificador de instrumentação, é determinado por G=1+49,4 kΩ/RGANHO.

15) Para o circuito da questão 14: a) O que deve ser feito para levar a ponte a um local
distante 30 metros do resto do circuito ao qual ela está interconectada, com fios AWG 30, de cobre,
com Rfio=10,5 W @ 25 ℃ e TC=0,385%/℃, sem que a resistência dos fios interfira na medida; b)
Qual será o efeito de uma variação de temperatura de 50 ℃? c) Que vantagens e desvantagens
existem em excitar esta ponte com um sinal AC? d) Desconsiderando a precisão dos componentes
quais elementos são críticos para a qualidade da medida? Justifique suas respostas.

16) Para o circuito a seguir: a) Calcule a tensão Eo em função das variações de resistência
W. Considere que a equação do multiplicador é 10·(Z1-Z2)=(X1-X2)·(Y1-Y2) e B é a parcela da tensão
de saída do amplificador de instrumentação que chega a entrada Y1 do multiplicador. b) Para que
serve este circuito? c) Qual a função do potenciômetro? d) Sabendo que o erro máximo na saída
do multiplicador é de 0,25% quando o seu uso é recomendado?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 120


17) A figura a seguir mostra um sensor resistivo feito com potenciômetro. A resistência Rm
que conecta o terminal central do potenciômetro ao nó terra representa a impedância de entrada
do circuito condicionador de sinais. a) Qual o erro relativo máximo para Vm (resolva teoricamente
ou atribua valores e aproxime a resposta calculando até 10 pontos da curva de calibração). b) Qual
a função do resistor Rm ligado entre o positivo da fonte e o terminal central do potenciômetro?

18) Alguns multímetros utilizam apenas 2 fios para as medidas de resistência (injetam
corrente e medem a tensão sobre a resistência), outros, entretanto, apesar de utilizarem o mesmo
princípio de funcionamento apresentam 4 fios para a medida. Quais as vantagens e desvantagens
de cada método? Use circuitos para ilustrar.

19) Alguns condicionadores de sinais para circuitos em ponte de Wheatstone provêm


excitação alternada (para a ponte) com onda quadrada para reduzir efeitos de offset. Indique dois
tipos de offset que podem ser removidos com esta técnica e um que não pode (se houver). Explique
(com desenhos e equações) como este método funciona.

20) O circuito a seguir é utilizado para medir temperatura quando RSEN é um RTD. a)
explique como funciona o circuito; b) considerando que os componentes são ideais calcule a
linearidade; c) diga quais são os componentes críticos e se o amplificador operacional apresentado,
associado aos resistores R1 e R2, poderiam ser substituídos por um amplificador subtrator
integrado (caso todos os terminais estivessem disponíveis para se realizar a montagem abaixo).
Neste caso, explique os benefícios desta troca; d) substitua o bloco “Amp” pelo seu circuito real; e)
calcule os componentes para um PT100 (R=100 Ω @ 0 ℃, e α=3907·10–6 Ω/Ω/K) operando na faixa
de 0 a 100 ℃ (use uma escala simples para permitir a leitura da temperatura diretamente com um
multímetro).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 121


21) O circuito abaixo foi projetado para funcionar como um barômetro na faixa de 28 até
32 polegadas de mercúrio. A saída do barômetro deve ser lida em um voltímetro digital de 4
dígitos. O fabricante do sensor informa que as especificações da tabela são válidas para um
circuito formado pelo zener, R5, LT1490 (superior), ponte, R6=0 e R4=R3=∞. Usando a montagem
indicada pelo fabricante ele diz que o sensor é intercambiável. a) explique como o circuito
funciona (calculando o circuito); b) determine a equação da tensão de saída em função da entrada
de pressão (mostre os valores da tensão de saída para as entradas de 28 e 32 inHg e diga qual a
função do LT1490 inferior); c) explique a função de RSET e estime seu valor sabendo que as saídas e
entradas do LT1167 estão limitadas a valores entre +Vcc-2 V e -Vcc+2 V (Vcc são as tensões de
alimentação do LT1167); d) explique que tipos de erro são introduzidos por R6, R4 e R3; e) diga
quais características do LT1167 podem ficar piores com a ligação da entrada REF (pino 5) em um
ponto diferente do nó terra; f) qual razão para a melhor exatidão ser de 0,2% se a linearidade
máxima do sensor ser de 0,1% (use valores para justificar a sua resposta).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 122


Características do Lucas Nova Sensor NPC-1220-015-A-3L Características do LT1167

49,4 k Ω
Pressão nominal: 15 PSI=30,5438 polegadas de mercúrio RG =
G −1

22) Explique como o circuito a seguir funciona (avalie o funcionamento para a frequência
zero). a) A1 está com realimentação negativa? Se a realimentação for positiva corrija o problema.
b) Se a saída do circuito corresponde a saída de A2, qual a função da saída Ratio Output? c) Este
circuito é recomendado para aplicações que requerem elevado CMRR (mais do que se obtém com
um amplificador de instrumentação). Considerando especificamente os erros causados pelo CMRR
da fonte, este circuito seria necessário para uma instrumentação de 12 bits? d) Qual a função de
Q1? e) O LTC1150 é um amplificador chopper. Que características ele confere ao circuito?

*A sensibilidade da ponte é dada para o valor nominal.

23) O circuito a seguir foi projetado para leituras de temperatura usando RTD entre -200 e
+600 ℃. O amplificador A4 da ganho e filtra o sinal que é entregue a um conversor AD de 12 bits.
a) Como funciona o resto do circuito? b) Qual a função de A3? c) Qual a equação da tensão na
saída de A3 em função da temperatura? d) As resistências dos fios (Rw1=Rw2) introduzem algum
erro de sensibilidade ou offset?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 123


24) No circuito a seguir, todos os elementos da ponte estão variando. O comparador
analógico (circuito com símbolo de amplificador operacional) produz uma saída digital +1 quando
o lado direito da ponte tem tensão maior que o lado esquerdo e 0 quando a tensão a esquerda é
maior. Observe que as correntes de saída do DAC tem sentidos opostos. a) Explique como o
circuito funciona; b) Calcule o valor de io em função dos ΔR; c) Qual a função das entradas à
esquerda do DAC? d) O circuito funcionaria se apenas um resistor da ponte variasse? e) Quando
existe apenas 1 elemento variando na ponte e a variação de resistência é grande a linearidade do
circuito completo é maior, menor ou igual aquela que se obtém com variações pequenas de
resistência?

25) O circuito a seguir é usado para linearizar de 20 a 40 vezes um PT100. O LT1078 é um


AO e o LT1101 um amplificador de instrumentação. Analise o circuito em CC. a) Explique como
ele funciona; b) Esboce as curvas de saída linearizada e não linearizada; b) Qual o grande
inconveniente deste circuito? c) Como contornar este problema? d) Que características são
desejáveis para os amplificadores? e) Qual a linearidade estimada para o circuito? f) Que
características tornam o RTD uma boa escolha para esta aplicação?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 124


Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 125
8 Sistemas de aquisição de sinais e controle

Sistemas de aquisição de sinais e controle (1.1) são utilizados para fazer a interface entre o
mundo analógico e o mundo digital, ou seja, quando sinais analógicos, amplificados e filtrados por
um condicionador de sinais, devem ser lidos por um sistema microprocessado, seja ele um
computador ou um dispositivo dedicado, ou quando este sistema microprocessado deve enviar
sinais para o mundo analógico. Na aquisição o sinal analógico é filtrado por um passa baixas, é
selecionado por um multiplexador (MUX), é amostrado por um sample and hold (S&H) e,
finalmente, é convertido para digital por um conversor analógico para digital (AD). O sinal digital
é, então, enviado para o microprocessador. No controle um sinal analógico deve ser gerado, então
o microprocessador envia um sinal digital (um pulso) para um reconstrutor de ordem zero (ROZ)
que retém o valor e o envia para um conversor digital para analógico (DA). Finalmente o sinal é
filtrado por um passa baixas e fica disponível para uso. Nesta cadeia, nem todos os blocos
precisam estar presentes e outros blocos, como aqueles de entrada e saída digitais, podem estar
disponíveis nos dispositivos comerciais. Mais informações podem ser obtidas no livro The Data
Convertion Handbook da Analog Devices.

MUX S&H AD uP ROZ DA

Figura 1.1: Cadeia de aquisição e geração de sinais analógicos. Da esquerda para a direita: filtro
passa baixas, multiplexador, sample and hold, conversor analógico para digital, microprocessador,
reconstrutor de ordem zero, conversor digital para analógico e outro filtro passa baixas.

8.1 Digitalização e frequência de amostragem

Conversores analógico para digital (AD, A/D ou ADC) e digital para analógico (DA, D/A
ou DAC) são comumente empregados em áreas onde a medição, monitorização ou controle de
grandezas analógicas são realizadas por intermédio de sistemas digitais. Basicamente estes
componentes recebem sinais analógicos e os convertem para digital e vice-versa aplicando um
fator de conversão determinado, normalmente por tensões de referência que devem ser fornecidas
aos conversores. Estes circuitos normalmente operam com valores digitais positivos, em
complemento de dois, complemento de um, bit sinal, código de Gray entre outros. As saídas e as
entradas analógicas podem ser em tensão ou corrente. Os fatores de escala envolvidos nesta
conversão normalmente fazem com que os máximos analógicos e digitais correspondam aos
valores das tensões de referência ou uma fração delas. A Figura 1.2 mostra um símbolo
simplificado destes componentes com codificação digital monopolar.

Nos conversores, as grandezas analógicas, normalmente na forma de tensão, limitadas em


amplitude e frequência, tem suas amplitudes codificadas em números binários de forma
semelhante a apresentada nas Figuras 1.3 e 1.4. Nessas duas figuras, entretanto, o fator de
conversão entre números digitais e o correspondente valor analógico é, didaticamente, igual 1.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 126


VREF

MSB +FS
(111...11)
Entradas
Digitais N - bits Saída
N - Bits DAC Analógica
0 ou -FS
LSB (000...00)

VREF

MSB
+FS
(111...11) Saídas
Entrada N - bits
Dititais
Analógica ADC
N - bits
0 ou -FS LSB
(000...00)

Figura 1.2: Conversores analógico para digital ADC e digital para analógico DAC: possíveis
escalas e símbolos. LSB corresponde ao bit menos significativo, MSB ao mais significativo.

Figura 1.3: Função de transferência ideal de um conversor AD. LSB significa bit menos
significativo e representa a resolução do AD.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 127


Figura 1.4: Função de transferência ideal de um conversor digital para analógico (DA). LSB
significa bit menos significativo e representa a resolução do DA.

Como não é possível discriminar os infinitos valores analógicos com um número finito de
bits, cada número binário corresponde a uma faixa de valores analógicos. O erro, entre o valor
exato de tensão e aquele quantificado pelo número digital pode ser considerado como ruído. Este
ruído de quantização pode ser feito tão pequeno quanto o necessário aumentando o número de
bits utilizados para discriminar os diferentes valores analógicos, ou seja, a resolução do conversor.

A resolução de um conversor AD ou DA é dada pela faixa dinâmica do sinal analógico e a


quantidade de números existentes para a sua representação conforme (8.1). Como a resolução
também está associada ao erro e ao ruído da conversão é possível calcular a maior razão entre o
nível de sinal e o nível de ruído (SNR) conforme (8.5). O número de bits, a resolução, o erro ou a
razão sinal ruído são as principais formas de caracterizar um AD quanto a sua capacidade de
discretização (Tabela 8.1).

Faixa dinâmica
Resolução= (8.1)
2 n bits

Sinal
SNR = (8.2)
Ruído

SNR=20 log ( Ruído


Sinal
) (8.3)

SNR=20 log
( 1/21 )
n
(8.4)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 128


SNR=20⋅log 2n≈6,02⋅n (8.5)

Tabela 8.1: Diferentes formas de apresentar a resolução de um conversor AD


Resolução Combinações Resolução Erro Erro SNR
(bits) (2n) (10 VFS) ppm (FS) %FS dB (FS)
2 4 2,5V 250.000 25 12
4 16 625mV 62.500 6,25 24
6 64 156mV 15.625 1,56 36
8 256 39,1mV 3.906 0,39 48
10 1.024 9,77mV 977 0,098 60
12 4.096 2,44mV 244 0,024 72
14 16.384 610μV 61 0,0061 84
16 65.636 153μV 15 0,0015 96
18 262.144 38μV 4 0,0004 108
20 1.048.576 9,54μV 1 0,0001 120
22 4.194.304 2,38μV 0,24 0,000024 132
24 16.777.216 596nV 0,06 0,000006 144
n é o número de bits, FS é fundo de escala

A conversão de um sinal analógico em digital pode ser vista nas Figuras 1.5 e 1.6. Nelas
estão sobrepostos os sinais originais e digitalizados além da diferença entre eles. Esta diferença
corresponde ao erro de quantização que pode ser considerado como ruído. Para um sinal
determinístico, como um seno (Figura 1.5), o erro não se parece com um ruído, mas para sinais
complexos, rico em harmônicos e aleatórios, ou quase, o erro assume um formato que se parece
com um ruído aleatório (Figura 1.6) cuja amplitude corresponde a ±1/2 LSB.

Figura 1.5: Conversão analógico/digital de um sinal senoidal puro. Verde é o sinal real, vermelho é
o sinal quantificado e azul é o erro entre o real e o quantificado.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 129


Figura 1.6: Conversão analógico/digital de um sinal senoidal complexo. Verde é o sinal real,
vermelho é o sinal quantificado e azul é o erro entre o real e o quantificado.

Além dos erros de quantificação, inerentes ao processo de discretização (digitalização) os


conversores AD e DA apresentam diversos outros tipos de erro devido as etapas analógicas e
lineares. Estes erros estão ilustrados nas Figuras 1.7 (offset), 1.8 (erro de ganho), 1.9 (linearidade
diferencial), 1.10 (linearidade total) e 1.11 (erro total). Mais detalhes sobre estes erros podem ser
obtidos em Understanding Data Converters da Texas Instruments.

Figura 1.7: Erro de offset (desvio com relação a origem).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 130


Figura 1.8: Erro de ganho (desvio com relação ao valor final).

Figura 1.9: Linearidade diferencial (desvio com relação ao esperado para 1 LSB).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 131


Figura 1.10: Linearidade total (com erro de offset e ganho ajustados para zero)

Figura 1.11: Erro total.

Como se todos estes problemas não fossem suficientes, existe ainda um problema
associado a frequência de amostragem (digitalização) do sinal analógico. A frequência de
amostragem (fs) deve ser mantida fixa e bem determinada para que o sinal possa ser processado
matematicamente. Esta frequência não pode ser menor do que duas vezes a frequência da maior
componente espectral do sinal analógico (W). Esta regra é conhecida como teorema da
amostragem de Nyquist. Se esta regra não for obedecida se observa um efeito chamado aliasing. O
aliasing consiste no erro de interpretação da frequência do sinal que se está sendo medindo. Na

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 132


1.12 um sinal de frequência elevada é amostrado sem respeitar a frequência de Nyquist e desta
forma o sinal original é confundido com sinais de frequência mais baixa.

Figua 1.12: Interpretação do aliasing em um sinal analisado no domínio do tempo.

A análise do sinal e a identificação do aliasing pode ser realizada pelo domínio da


frequência. O espectro do sinal amostrado é semelhante ao do sinal original porém replicado
infinitamente a intervalos de frequência equivalentes a frequência de amostragem do sinal. Desta
forma se o sinal ultrapassa a largura de banda correspondente a meia frequência de amostragem
há uma sobreposição de espectros que causa o embaralhamento do sinal. Este efeito pode ser visto
na Figura Figura 1.13.

Figura 1.13: Interpretação do aliasing em um sinal analisado no domínio da frequência. W é a


maior componente espectral do sinal analógico. Ts é o período de amostragem. No gráfico do
centro amostragem com aliasing. No gráfico de baixo amostragem correta.

Para minimizar o problema do aliasing (com ruídos e interferências) a amostragem de


sinais analógicos deve ser precedida de uma filtragem analógica do tipo passa baixas. Este tipo de
filtro permite a passagem das baixas frequências e atenua as frequências elevadas. Idealmente o
filtro passa baixas deve permitir que todas as frequências entre 0 e fs/2 sejam transmitidas para a
saída do filtro e todas as frequências acima de fs/2 sejam ser removidas.

Na prática não é possível amostrar um sinal com frequência um pouco maior que 2·W
(largura de banda do sinal) pois sempre existirá ruído de alta frequência misturado ao sinal. Além
disto, o filtro passa baixas necessita de algumas décadas de frequência para atenuar o sinal até que
ele não cause um erro de aliasing significativo. Por exemplo, uma atenuação de 40 dB na saída de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 133


um filtro representa um sinal residual (erro) de 1%, mas esta atenuação só é conseguida após uma
década, em um filtro passa baixas de segunda ordem.

A escolha dos filtros também devem levar em conta a introdução de erros de ganho e fase.
Se erros de fase não forem importantes (normalmente sinais DC, quase DC ou senoidais) é
possível levar em conta apenas o erro de ganho. Se erros de fase são importantes (normalmente
sinais com distribuição de frequência) então deve ser levado em conta erros de ganho e de fase
(desvio de fase com relação a um filtro de fase linear).

De uma forma geral, sinais periódicos e com morfologia complexa como ondas quadradas,
dentes de serra ou mesmo sinais de ECG, por exemplo, precisarão ser amostrados em frequências
bem superiores as suas frequências fundamentais (100x ou mais). Para estes sinais, filtros
Butterworth ou Bessel (ou uma combinação deles – filtro Besselworth) são os mais recomendados
devido a baixa distorção de fase. Um filtro Bessel de 3 polos vai apresentar um erro de pelo menos
0,75% (equivalente ao AD de 7 bits) em 0,4·fc (onde fc é a frequência de corte do filtro). Assim, a
redução do erro de amplitude e fase na banda passante pode ser obtido com o aumento da
frequência de corte do filtro. Uma solução de compromisso seria aplicar a frequência de corte do
filtro 2,5 vezes acima da maior frequência do sinal (fc=2,5·W). A frequência de amostragem seria
função da ordem do filtro e do erro que se aceita. Supondo um erro de 1% um filtro Bessel de 7a
ordem necessitaria de uma frequência de amostragem de 6·fc, se a ordem do filtro cai para 3, a
frequência de corte sobe para 11·fc. Mais detalhes sobre este tipo de análise pode ser obtido no
livro Analog I/O Design: Acquisition, Conversion, Recovery, Patrick H. Garrett, 1981.
8.1.1 Exercício
Conecte um gerador de funções a um osciloscópio digital. Selecione uma frequência baixa
com formato senoidal. Ajuste o osciloscópio até que ele consiga mostrar o sinal adequadamente
na tela. Sem mexer no ajuste do osciloscópio aumente a frequência do gerador de funções. No
osciloscópio você verá a frequência aumentar e depois diminuir. Quando a imagem na tela do
osciloscópio for igual à imagem original: 1) Qual a frequência de amostragem do osciloscópio? 2)
Qual a próxima frequência do gerador de funções que aparecerá na tela do osciloscópio como se
fosse a mesma frequência? 3) Como evitar que este erro ocorra quando se está utilizando o
osciloscópio?

8.2 Arquiteturas de conversores DA

Conversores DA são circuitos analógicos que executam somas ponderadas onde os valores
dos resistores não dependem diretamente da ponderação necessária. Isso é feito para evitar que
erros pequenos nos resistores das maiores ponderações encubram os bits menos significativos. A
topologia mais comum para esta tarefa é a da rede R-2R (Figura 1.14).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 134


Figura 1.14: Conversor DA com rede R-2R.

Vs=−Rr⋅i tot (8.6)

i tot =i 0 +i 1+i 2+ i 3 (8.7)

1 V n0
i 0= ⋅ (8.8)
6⋅R 8

1 V n1
i 1= ⋅ (8.9)
6⋅R 4

1 V n2
i 2= ⋅ (8.10)
6⋅R 2

1
i 3= ⋅V (8.11)
6⋅R n 3

Rr 1
Vs= ⋅ ⋅( 8⋅V n 3 + 4⋅V n 2 +2⋅V n 1 +V n 0 ) (8.12)
6⋅R 8
8.2.1 Reconstrutores
Em muitas aplicações, principalmente naquelas que utilizam microprocessadores, o
número binário que deve ser convertido para analógico é fornecido ao conversor DA por alguns
microssegundos. Para que o valor analógico permaneça na saída do DA mesmo depois da
operação de escrita é comum a utilização de um latch na entrada do DA. Este latch pode ser
endereçado pelo microprocessador como se fosse uma posição de memória (este procedimento é
conhecido como endereçamento de porta de saída). O circuito total, latch e conversor DA é
conhecido como reconstrutor de ordem zero (ROZ) pois este circuito realizada uma interpolação
de ordem zero entre dois valores fornecidos pelo microprocessador.
8.2.2 Conversores integrados
Um circuito típico de DA com latch e conexões a um microcontrolador é apresentado na
Figura 1.15. O conversor DA do esquema é um modelo clássico dos mais simples, com interface

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 135


paralela, 8 bits e saída em corrente. Muitos modelos estão disponíveis hoje em dia sendo que
alguns utilizam interface serial e, neste caso, incorporam o latch.

Figura 1.15: Circuito típico para uso do DAC0808.


8.2.3 Outros tipos de conversor DA
Um outro tipo muito comum de conversor DA consiste na transformação de uma onda
quadrada de frequência fixa e largura de pulso variável em tensão (pulse width modulation –
PWM). Este conversor pode ser facilmente obtidos a partir de um único bit digital (Figura 1.16) e
um filtro passa baixas que funciona como um estimador de valor médio (Figura 1.17). Para
melhores resultados na reconstrução do sinal analógico é necessário que a frequência do PWM
seja muito maior que a frequência do sinal e a frequência de corte do filtro passa baixas (2 décadas
ou mais). A redução na frequência de corte do filtro melhora o sinal de saída, mas reduz o tempo
de estabilização. O aumento no grau do filtro também melhora o desempenho do sistema, mas
aumenta sua complexidade. Além dos problemas com ruído a exatidão do PWM também é afetada
por variações na tensão de alimentação.

Figura 1.16: Sinal analógico ideal e o correspondente digital em PWM.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 136


Figura 1.17: Sinal ideal e o reconstruído com um filtro passa baixas na saída PWM

Nas Figura 1.16 e 1.17 a frequência do PWM não é tão grande quando comparada com a
frequência do sinal, então a qualidade do sinal reconstruído é baixa. Neste texto isso foi feito para
facilitar a visualização do sinal PWM. Se a frequência do PWM fosse duas décadas maior que a
frequência do sinal, por exemplo, o sinal de PWM seria desenhado como um borrão. De qualquer
forma as características de desempenho de um PWM costumam ser piores que as de um DA
convencional enquanto sua grande vantagem é a simplicidade de implementação. Os PWM são
bastante comuns em sistemas de baixo custo e para controle de sistemas lentos como motores e
válvulas, que naturalmente já filtram o sinal.

8.3 Multiplexadores

O multiplexador (MUX) é um dispositivo chaveador que permite interligar sua saída a uma
de várias entradas. A Figura 1.18 mostra um multiplexador 2:1 (com duas entradas e uma saída). O
funcionamento deste multiplexador analógico é muito semelhante ao do multiplexador digital,
porém seu funcionamento é otimizado para este tipo de sinal (isolação, valores das resistências de
ligado e desligado, faixa de tensão, planura da resistência em função da tensão, entre outros).

Figura 1.18: Esquema de um multiplexador (MUX).


Com a ajuda do MUX um conversor AD pode ser interligado a várias entradas analógicas
permitindo a aquisição de vários sinais ou canais. A aquisição, entretanto, não pode ser feita de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 137


forma simultânea havendo sempre um atraso entre as leituras (conversões) feitas em cada canal.
Além disso a máxima frequência de amostragem corresponde a máxima frequência de
funcionamento do AD dividida pelo número de canais a serem lidos. Isso significa que os MUX
são utilizados em sistemas de baixo custo e com baixo desempenho (sempre comparando com
sistemas que tenham um AD por canal).
8.3.1 Chaves Analógicas
Existem no mercado chaves analógicas construídas com tecnologia CMOS e integradas em
uma única pastilha. Textos como o Ask The Applications Engineer—40: Switch and Multiplexer
Design Considerations for Hostile Environments da Analog Devices ou Analog Switch Guide da
Texas Instruments são bons pontos de partida para aprender mais sobre elas. Em essência estas
chaves apresentam um circuito semelhante ao da Figura 1.19. Nela, quando VGS=0, a resistência da
chave é a própria resistência do canal. Quando VGS=-Vcc, a resistência da chave é muito grande,
pois ocorre uma zona de depleção por onde não circulam cargas. Esta chave, de controle bem
simples, pode ser utilizada em todo o tipo de circuito onde uma chave eletrônica seja necessária
(multiplexadores, amostradores, potenciômetros digitais, PGA, banco de chaves...).

Figura 1.19: Chave eletrônica e sua lógica de controle (Vc).

Estas chaves analógicas apresentam resistências de ligado que tipicamente são da ordem de
200 Ω. Chaves mais modernas podem ser encontradas com resistências de ligado da ordem de
100 Ω ou menos. Observe que devido a simetria da chave a resistência de ligado depende da tensão
de controle sendo sempre igual ao paralelo de uma resistência de ligado e outra de desligado.
Capacitâncias parasitas, limitações de tensão, distorções harmônicas, crosstalk e outros problemas
estão presentes neste tipo de circuito.

8.4 Circuito amostrador – sample and hold

O circuito amostrador (Figura 1.20) ou sample and hold (S&H) é um dispositivo capaz de
acompanhar um sinal aplicado a sua entrada e congelar, em sua saída, o valor instantâneo desta
tensão quando um sinal de controle é acionado (Figura 1.21). O sinal de controle é uma entrada
digital capaz de comutar o amostrador do modo sample (modo onde a saída acompanha a entrada,
como se fosse um buffer) para o modo hold (modo onde a saída mantém-se inalterada,

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 138


independente do sinal que estiver presente na entrada). Um pouco da história do S&H pode ser
lida em Sample and Hold Amplifiers da Analog Devices.

Sua utilização antes de um conversor AD se faz necessária para manter a entrada do AD


fixa durante o período de conversão, o que garante uma conversão de melhor qualidade. Os
circuitos de amostragem simultânea são aqueles onde diversos sinais analógicos devem passar por
um único conversor AD, porém, nestes casos, é interessante que todas as medidas sejam feitas
para o mesmo instante de tempo. Como isto não é possível utiliza-se um S&H em cada canal
(entrada analógica) retendo todos os sinais num único instante de tempo e fazendo a conversão da
tensão de cada canal como se todos estivessem sendo convertidos simultaneamente.

Figura 1.20: Diagrama esquemático de um sample and hold.

Figura 1.21: Gráficos da tensão de entrada e saída de um sample and hold em função do sinal de
controle deste amplificador. S significa sample e H significa hold.

Apesar de a simplicidade muitas melhorias podem ser feitas no circuito da Figura 1.20.
Buffers ou amplificadores podem ser adicionados antes ou depois do circuito conferindo a ele alta
impedância de entrada e baixa impedância de saída, realimentações também podem ser
empregadas para melhorar a capacidade de rastrear tensões entre outros.

Amplificadores de entrada devem ter alta capacidade de fornecer e drenar corrente em sua
saída para que o capacitor de armazenamento seja rapidamente carregado com o valor correto da
tensão, mesmo depois de transitórios. Também deve ser um componente de baixa tensão de offset
para que ela não interfira no valor da tensão que será armazenada no capacitor, principalmente
quando este sistema estiver trabalhando com ganho diferente do unitário. Já o amplificador de
saída deve possuir elevada impedância de entrada, o que se traduz em uma baixa corrente de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 139


polarização. Isto é importante para que o capacitor não se descarregue sobre o segundo estágio de
amplificação. Um baixo valor de tensão de offset também é importante.

A chave utilizado no S&H é um dos principais elementos neste tipo de amplificador. Uma
série de características são importantes a começar pela velocidade de abertura que deve ser
elevada. Isto é importante para que o capacitor não se carregue com tensão diferente daquela em
que estava a entrada quando chega o sinal de amostrar. Uma baixa corrente de fuga (traduzida
como uma elevada impedância da chave, quando aberta) impede que o capacitor mude seu valor
enquanto a tensão de saída deve permanecer estável. Uma baixa impedância quando está abeta
impede que o hajam quedas de tesão entre a entrada e o capacitor.

Levando-se em conta o circuito de controle, que aciona a chave, deseja-se que haja pouca
ou nenhuma transferência de cargas elétricas para a saída da chave. Quando isto ocorre (em
função de capacitâncias parasitas), a tensão sobre o capacitor de armazenagem também sofre
influência do sinal de controle. Por fim, o capacitor deve ser de elevada qualidade, o que se traduz
em um dielétrico de baixa absorção.
8.4.1 Modos de operação
Como podemos ver na Figura 1.22 existem 4 momentos distintos no funcionamento de um
circuito amostrador. Quando o circuito está seguindo o sinal de entrada (modo track), quando ele
passa do modo track para o modo hold, quando ele está no modo hold e quando ele passa do modo
hold para o modo track. Em cada uma destas etapas uma série de fatores e acontecimentos
importantes estão presentes em todos os S&H. A Figura 1.23 mostra um gráfico com todos os
efeitos existentes durante cada um destes momentos.

Figura 1.22: Os quadro momentos de um amplificador amostrador: Dois estados fixos e duas
transições.

O modo track está em operação sempre que a chave do S&H está fechada. Nesta condição o
S&H comporta-se como um amplificador comum, onde a velocidade do amplificador vai depender,
principalmente, do capacitor de hold. Este capacitor colocado como carga do amplificador do
primeiro estágio insere mais um polo no amplificador e, desta forma, piora a sua resposta em
frequência. Neste momento também são importantes todas as características de frequência dos
AO, tais como offset; não linearidade; ganho; settling time; largura de banda (resistência da chave);
slew rate; e corrente de polarização.

Na transição para o modo hold a abertura da chave causa perturbações no S&H e, portanto,
altera o valor final armazenado no capacitor. A transição entre o modo track e o modo hold é
mostrada com mais detalhes na Figura 1.24. Nela podemos ver que existe um atraso entre o sinal
de controle e a real abertura da chave, que é chamado de atraso de controle. O tempo de abertura
da chave, transientes formados por efeito indutivo ou capacitivo durante a abertura da chave, a
incerteza do exato momento em que a chave abre e um offset por transferência de carga do
circuito de controle para o capacitor são os principais problemas associados a este momento.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 140


Como podemos perceber, todos estes problemas dizem respeito a chave e são listados abaixo:
atraso de controle; tempo de abertura (aperture time); atraso de abertura efetiva (effective aperture
delay); transiente de chaveamento; offset de sample to hold (causado pela capacitância parasita do
circuito de controle da chave – quando a chave abre, as cargas do gate do FET são transferidas
para o capacitor de hold e isto causa uma variação na tensão de hold, chamada de offset de sample
to hold); incerteza na abertura (aperture uncertainty).

Figura 1.23: Desenho representando os principais problemas existentes em cada um dos


momentos de um S&H.

Figura 1.24: Detalhe do modo track to hold.

Quando no modo hold a chave do S&H está aberta. Nesta condição o S&H comporta-se
como uma fonte DC. Os erros associados a este estado estão ligados ao capacitor que deve reter
cargas mantendo constante a tensão de saída do amplificador. Dos principais problemas
associados com este modo cita-se o decaimento que corresponde a perda de carga no capacitor
devido à fuga ou circuitos a ele ligados (R de fuga do capacitor, corrente de polarização do

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 141


operacional de saída e resistência da chave diferente de infinito); o feed through que é uma perda
causada pela capacitância espúria entre os dois lados da chave; e a absorção do dielétrico (deve-se
à redistribuição das cargas no capacitor após ter sofrido trocas rápidas de tensão).

E finalmente a transição para o modo track está relacionada com o tempo de aquisição:
tempo que o capacitor demora para carregar a informação. Entretanto este modo não influencia
nem causa nenhum tipo de erro durante o modo hold que é o modo principal de operação.

8.5 Arquitetura de conversores AD

Existem diversos circuitos para realizar a conversão AD dos quais podemos citar o sigma-
delta, dupla rampa, aproximação sucessiva (aritmética, delta e geométrica), pipeline e o conversor
flash. A escolha da arquitetura depende da aplicação, da frequência de amostragem e do número
de bits desejado (Figura 1.25).

Figura 1.25: Arquiteturas de conversores analógico para digital, sua frequência máxima de
amostragem e resolução.
8.5.1 Conversor flash
No conversor flash (Figura 1.26) um circuito analógico com diversos comparadores de
tensão produzem um sinal digital que, após ser fornecido a um codificador com prioridade, resulta
em um número digital proporcional a tensão analógica de entrada do circuito (Tabela 8.2). Esta é a
arquitetura de conversor AD mais rápida pois é puramente combinacional, entretanto a
complexidade do circuito cresce rapidamente com o número de bits (o número de entradas do
comparador é igual a 2 n, onde n é o número de bits do AD) e isso limita a resolução destes
conversores..
Tabela 8.2: Funcionamento do conversor flash da Figura 1.26.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 142


V entrada C3 C2 C1 D1 D0
0 1 1 1 0 0
1 1 1 0 0 1
2 1 0 0 1 0
3 0 0 0 1 1

Figura 1.26: Conversor flash

Resumindo estes conversores são muito rápidos, muito caros, e apresentam número
reduzido de bits.
8.5.2 Conversor por aproximação sucessiva
Em um conversor por aproximação sucessiva as estimativas do valor digital
correspondente a entrada analógica são produzidas internamente no conversor. Estas estimativas
são convertidas por um DA e comparadas analogicamente com o sinal de entrada até que o valor
digital estimado seja equivalente ao valor analógico de entrada. Um diagrama esquemático deste
tipo de conversor é apresentado na Figura 1.27.

No circuito da Figura 1.27 um sinal Iniciar dispara o início de uma conversão. A máquina
sequencial amostra o sinal de entrada, zera o registrador de aproximações sucessivas (SAR) e testa
a saída do comparador analógico. O SAR é atualizado em função da saída do comparador
analógico e um novo ciclo de comparação e atualização do SAR se inicia. O processo é repetido até
que o valor digital correspondente a entrada analógica seja determinado. Neste ponto a máquina
sequencial carrega o valor do SAR para saída.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 143


Figura 1.27: Conversor AD por aproximação. SAR é o registrador de aproximações sucessivas.

Diferentes algoritmos podem ser empregados para a atualização do SAR. O mais simples
zera o SAR e incrementar o seu valor até que a saída do comparador mude. Este algoritmo,
chamado de aproximação aritmética, é muito lento e não costuma ser implementado, mas uma
variação dele, aproximação por rastreio ou delta, ainda é encontrado em alguns conversores. Na
aproximação por rastreio o contador não é zerado e o contador do SAR é incrementado ou
decrementado para rastrear as mudanças na entrada. O algoritmo mais comum, entretanto, é o de
aproximação geométrica, onde o registrador SAR é inicializado com metade do seu valor máximo.
Dependendo do resultado da comparação a próxima atualização leva o SAR para a metade de cima
ou metade de baixo da sua faixa. O processo se repete para cada bit do AD. A aproximação
realizada assim tem número fixo de pulsos de clock (equivalente ao número de bits do SAR) e é
mais comum entre os AD, na verdade, é tão comum que normalmente é chamada apenas de
aproximação sucessiva.

Apesar do número de pulsos de clock necessários para a conversão ser fixo (aproximação
geométrica) o tempo para a conversão aumenta muito com o número de bits pois com o aumento
da resolução é necessário esperar mais tempo até que todos os sinais analógicos estabilizem com
um erro menor do que o da resolução. Por esta razão, quando o número de bits aumenta muito
uma outra topologia costuma ser empregada.
8.5.3 Conversor pipeline
Uma alternativa intermediária entre o conversor flash e o de aproximação sucessiva
(geométrica) é o conversor pipeline, que divide a conversão em diferentes estágios de poucos bits,
mas muito rápidos. Uma possível implementação é apresentada na Figura 1.28. No esquema, o
sinal analógico é convertido por um AD flash de poucos bits, rápido, e este valor digital é
reconvertido para analógico e subtraído do sinal original. O estágio seguinte de conversão usa
uma estrutura semelhante e melhora a aproximação com mais bits. Ao final, uma lógica de
correção e, eventualmente, uma tabela de calibração implementada em memória, são utilizadas
para corrigir os erros propagados nos diferentes estágios.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 144


Figura 1.28: Conversor analógico para digital pipeline.
8.5.4 Conversores sigma-delta
Um conversor sigma-delta sempre é implementado conforme indicado na Figura 1.29. Um
modulador sigma-delta (neste texto os termos sigma-delta ou delta-sigma são usados como
sinônimo) que transforma a entrada, seja ela o sinal analógico ou digital, em uma sequência de
bits 0 e 1 (bit stream). Esta sequência de bits passa por um filtro passa baixas para completar a
conversão. Se a entrada é analógica e a saída é digital, o modulador deve ser analógico e o filtro
passa baixas deve ser digital. Se a entrada é digital e a saída é analógica o modulador deve ser
digital e o filtro analógico. O filtro passa baixas funciona como um circuito calculador de valor
médio pois pode-se demonstrar matematicamente que a média do sinal bitstream é igual à média
do sinal de entrada.

Figura 1.29: Diagrama esquemático de um conversor sigma-sigma.

Como os valores de saída são obtidos após uma filtragem passa baixas (estimativa do valor
médio) é necessário obter muitas amostras do sinal no modulador sigma-delta antes de ter um
resultado da conversão, mas, mesmo assim, sempre existirá um ripple de saída (ruído). Uma
maneira de diminuir o ruído é aumentar a frequência do modulador sigma-delta. Estes
moduladores funcionam muito acima da frequência de Nyquist, fazendo o que se chama de
oversampling ou sobreamostragem. Moduladores de primeira ordem para um conversor AD e
outro para um conversor DA são apresentados nas (Figuras 1.30 e 1.31). Na verdade duas coisas
podem ser feitas para melhorar a razão sinal ruído, uma é o aumento da frequência do modulador
outra é o aumento das realimentações do conversor aumentando sua ordem de 1 para 2, 3, 4 ou 5.
Uma relação entre a frequência de amostragem, a ordem do conversor e a relação sinal ruído de
cada modelo de conversor sigma-delta pode ser visto na Figura 1.32.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 145


Figura 1.30: Conversor analógico para digital sigma-delta.

Figura 1.31: Conversor digital para analógico sigma-delta. MS bit é o bit mais significativo
(equivalente a comparação). DDC é um conversor digital para digital.

Figura 1.32: Relação sinal ruído versus frequência de amostragem. http://www.beis.de/Elektronik/


DeltaSigma/DeltaSigma.html
8.5.5 Dupla rampa
O conversor dupla rampa, usado em multímetros, é muito preciso, mas muito lento. Numa
primeira etapa este conversor integra a tensão desconhecida da entrada por um tempo fixo e
conhecido, determinado por um contador. Quando o bit mais significativo do contador é ativado
ele troca a posição de uma chave na entrada do circuito. Logo a seguir, é realizada uma integração
de uma tensão conhecida, interna ao conversor, num tempo desconhecido, mas tal que permita a

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 146


tensão na saída do integrador retornar a zero. Como resultado este tempo será proporcional a
tensão de entrada desconhecida. Um diagrama esquemático deste contador é apresentado na
Figura 1.33 e a forma de onda na saída do integrador é mostrada na Figura 1.34.

Figura 1.33: Diagrama esquemático do conversor dupla rampa.

Figura 1.34: Forma de onda na saída do integrador do conversor dupla rampa.

Com este procedimento é possível obter duas equações e duas incógnitas que nos
permitem equacionar o conversor da seguinte forma:

1
Δ V 1 =− ⋅(V in⋅2 n⋅Δ t ) (8.13)
R⋅C

1
Δ V 2=− ⋅(V ref⋅λ⋅Δ t) (8.14)
R⋅C

Δ V 1 + ΔV 2=0 (8.15)

1 1
⋅(V in⋅2n⋅Δ t)= ⋅(V ref⋅λ⋅Δ t) (8.16)
R⋅C R⋅C

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 147


V ref
V in =λ⋅ n (8.17)
2
8.5.6 Conversores por largura de pulso ou frequência
Circuitos para medida de tempo e de frequência também podem ser considerados, de uma
certa forma, conversores AD. Uma grandeza analógica proporcional a frequência de um sinal ou
ao intervalo de tempo em que um sinal permanece ativo pode ser convertidas para digital
utilizando-se os circuitos contadores e temporizadores. A precisão pode ser grande nestes
sistemas, mas a velocidade de conversão usualmente é pequena.

8.6 Exercícios

1) A figura abaixo mostra o espectro de potência de um sinal de EEG. As frequências de


interesse para o seu trabalho estão na faixa de 0 até 40 Hz. O sinal foi amostrado a 260 Hz. a) A
escolha da frequência de amostragem foi apropriada (não há uma resposta correta para esta
pergunta, discuta o problema)? b) Qual número de bits devemos escolher para fazer a conversão
AD de tal forma que tenhamos a melhor resolução possível do sinal sem que o ruído analógico
produza um ruído digital maior que ±1 LSB.

50

40
Espectro (dB)

30

20

10

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130


Frequência (Hz)

2) Deseja-se digitalizar um sinal de EMG (faixa de frequências de 10 Hz até 2 kHz) que
passou por amplificador e filtro. O ganho do condicionador varia de 0 até -3dB na banda de
passagem e chega a -18dB* em 25 kHz. O conversor AD possui resolução de 8 bits, faixa de
amplitude de entrada de ±5 V impedância de entrada de 50 kΩ e taxa máxima de amostragem de
50 kS/s. Especifique a frequência de amostragem mínima para o AD.

3) Para o sistema de aquisição de biopotenciais descrito abaixo, determine se é possível


utilizá-lo para aquisição de sinais de ECG (sinais com amplitude de 0,1 até 4  mVpp e SNR>32dB) e
EEG (sinais com amplitude de 10 a 400 μVpp e SNR>24dB). O sistema tem a seguintes
características: Universal Linear Amplifier – Gain 2x, 20x; Programmable Gain Amplifier – Gain 1x,
2x, 4x, 8x, 16x; Filter TBD; AD – Sample Rate – 10 kHz; AD – Resolution: 12 bit, ±0.8V (FS); System
power supply – 1.2V.

4) Um sinal de ECG cuja amplitude máxima, pico a pico, pode estar entre 1 e 20 mV foi
amostrado por um conversor AD de 16 bits. O sinal do ECG não foi amplificado. A faixa de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 148


entrada do AD vai de -0,5 até +0,5 V. Qual a maior razão sinal ruído que seria possível obter com
este sistema?

5) Um sinal apresenta espectro de amplitude de 1/(52+ω 2)0,5. Considerando que é aceitável


aliasing de frequências com amplitudes 100 vezes menores que a amplitude máxima, qual a menor
frequência que devemos usar para amostrar este sinal.

6) Um sinal de emissões otoacústicas era, há 15 anos, amplificado 10.000 vezes, até que sua
amplitude apresentasse faixa dinâmica de 24 V e era, então, lido por um conversor AD de 16 bits.
Percorrendo a Internet você encontrou um esquemático moderno onde foi empregado um
amplificador de 4 vezes e um conversor AD de 24 bits com faixa dinâmica de entrada de 2,4 V.
Supondo que não exista interferência externa e o sensor de captação de sinais seja o mesmo nos
dois circuitos, qual deles você escolheria baseado na qualidade do sinal amostrado (sinal/ruído)?

7) Para um amplificador de biopotenciais cujas características estão apresentadas na tabela


seguinte, informe: a) quantos bits seriam necessários para ler a saída do aparelho de forma que o
ruído não fosse maior do que 1 LSB (considere que o aparelho está configurado para filtrar sinais
entre 10 Hz e 500 Hz)? b) se as características deste aparelho são adequadas para amplificar sinais
de ECG e EMG (justificativa); c) qual deve ser a frequência de amostragem do sinal se aceitarmos
aliasing de frequências cuja amplitude tenham sido atenuadas pelo menos 100 vezes (considere
que os filtros do amplificador são de segunda ordem)?

8) Um colega interligou um medidor de ângulos feito com potenciômetro em uma placa de


aquisição de sinais da National Instruments, a USB6008 (o modo single ended significa um fio de
sinal e outro de terra). As especificações da placa estão apresentadas abaixo. Ele disse que um erro
da ordem de 0,2%FSO é aceitável. O potenciômetro é multivoltas de 10 kΩ e foi interligado
diretamente entre as alimentações e a entrada do AD. Os sinais têm componentes de frequência
até 5 Hz. A alimentação para o circuito vem da própria USB6008 (+5V e GND). a) O projeto do seu
amigo atende aos requisitos dele? b) A resolução desta placa é suficiente para as especificações
dele? c) Supondo que o sinal tenha ficado ruidoso, modifique o projeto anterior incluindo o filtro
de primeira ordem mais simples para reduzir os efeitos do ruído; d) Este filtro pode ser passivo? e)
Com que frequência você amostraria este sinal? Justifique suas respostas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 149


9) Agumas vezes encontramos circuitos cujo sinal analógico é amostrado sem ter sido
filtrado por um passa baixas. Isso pode ser feito? Quais cuidados devemos tomar? Que riscos
corremos?

10) Um osciloscópio digital está sendo usado para fazer uma medida. Você aperta no botão
“auto set” para obter um ajuste rápido. Você corre o risco ter amostra sinais com “aliasing”? Qual
deve ser o algoritmo do “auto set” para minimizar este risco, caso ele exista?

11) Em sistemas de baixo custo onde o sistema de aquisição conta com um MUX, um
sample & hold (S&H) e o AD é possível, para evitar problemas com aliasing, adicionar um filtro
passa baixas entre o MUX e o S&H? Se sim, quais vantagens e desvantagens do método?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 150


9 Componentes Passivos

Neste capítulo são apresentadas as características reais de resistores, capacitores e


indutores e como eles podem influenciar no desempenho de circuitos. O texto apresentado aqui
tem como base os exemplos e descrições contidas em Hardware and Housekeeping Techniques da
Analog Devices e são apresentados os problemas mais comuns envolvendo o uso de resistores e
indutores e capacitores. O livro Linear Circuit Design Handbook da Analog Devices também
apresenta as mesmas informações..

9.1 Resistores e potenciômetros

Resistores e potenciômetros podem ser feitos, entre outros, de compósitos de carbono,


filmes de carbono, metal, filme metálico e fios (indutivos e não indutivos) com características
específicas para diferentes aplicações. Bons textos sobre resistores, falando sobre suas
características e parâmetros pode ser obtido na Vishay e são o Resistors 101, How to select resistors
e o How to select resistors for precision applications.

Os resistores de compósito de carbono e filme de carbono são os resistores de uso geral


mais comuns e baratos. Os valores mais comuns variam entre 1 e 22 MΩ com tolerância de 2%
(filme) até 5 a 20% (compósito), podem dissipar entre 1/8 W e 2 W. Estes resistores costumam ter
um TC muito alto, da ordem de 5.000 ppm/℃ e, por esta razão, não são indicados para aplicações
de precisão que requerem pequenas variações de resistência com a temperatura. Estes resistores
apresentam uma resposta em frequência razoável, até 1 MHz, e seu uso em frequências muito
altas é limitado pelas suas características parasitas de indutância e capacitância.

Resistores de filme metálico são mais indicados para aplicações de precisão pois costumam
apresentar uma exatidão melhor, um TC mais baixo e menos ruído (ruído 1/f) que os resistores de
carbono. Normalmente estes resistores são feitos de Nichrome, óxido de estanho ou nitreto de
tântalo. A exatidão é da ordem de 0,1 até 1% com TC variando entre 10 e 100 ppm/℃ e faixa entre
10 e 301 kΩ com tolerâncias entre 0,5% e 1%. Estes resistores costumam apresentar uma ótima
resposta em frequência (até 100 MHz, nos melhores casos). A aplicação típica destes componentes
são osciladores e filtros ativos.

Os resistores de fio bobinado apresentam exatidão muito alta, da ordem de 0,05%, TC


menor que 10 ppm/℃ e resistências na faixa de 0,1 Ω até 1,2 MΩ. Devido as suas características
construtivas, mesmo aqueles que apresentam baixa indutância, funcionam bem até frequências da
ordem de 50 kHz (mesmo os não indutivos tendem a ter capacitância elevada). Estes resistores são
muito usados em circuitos de sintonia e atenuadores de precisão.

Redes de resistores, encapsulados juntos, também estão disponíveis e costumam ser


construídos com filmes finos e espessos. Por serem montados juntos apresentam melhor exatidão,
e melhor casamento de TC. Estes resistores costumam ser usados em DA e AD (redes R-2R) e
circuitos amplificadores híbridos. Os resistores de filme espesso apresentam TC maiores que os de
filmes finos (>100 ppm/℃ contra <100 ppm/℃) e casamento pior (0,1% contra 0,01%), mas podem
ser utilizados em aplicações de maior potência.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 151


9.1.1 Efeitos térmicos
Resistores reais são sensíveis a variação de temperatura o que pode alterar ganhos e
aumentar a propagação de erros. Os efeitos destas variações podem ser facilmente percebidos com
o uso de exemplos simples, como a escolha de resistores para um amplificador não inversor de
ganho 100.

R1
G=1+ (9.1)
R2

onde R1=9,9 kΩ, ¼ W com TC=25 ppm/℃ e R2=100 Ω, ¼ W com TC=50 ppm/℃. Neste exemplo,
uma variação de 10 ℃ leva a erros da ordem de 250 ppm/℃ (dez vezes a diferença entre os TC).
Observe que isto é equivalente a 1 LSB em um conversor de 12 bits. O uso de resistores com TC
iguais não significa que este problema está resolvido uma vez que alguns resistores, como os de
compósito de carbono, podem ter coeficientes térmicos bem elevados com TC=1.500 ppm/℃ ou
mais. Nestes casos qualquer pequena diferença nos TC pode ser significativa e mesmo uma
variação de 1% nestes TC resulta em uma diferença de 15 ppm/℃.

O autoaquecimento também pode ser um problema. Para o mesmo ganho do exemplo


anterior, considerando que os dois TC são iguais a 25 ppm/℃, quando a saída chegar a 10 V a
dissipação em R1 é de 9,9 mW e a de R2 é de 0,1 mW. Se a resistência térmica destes resistores é de
125 ℃/W, então R1 aquece 1,24 ℃ e R2 aquece 0,0125 ℃. Isto resulta em uma diferença de 31 ppm
no ganho, o que pode levar a um erro de ½ LSB num AD de 14 bits. Este autoaquecimento pode
causar efeitos de não linearidades ainda piores se o ganho for elevado. Neste caso o melhor a fazer
é dividir o ganho em mais de um estágio e usar resistores com resistência térmica menor
(resistores de maior potência).

Para o caso de resistores de pequeno valor (<10 Ω) o vilão pode ser a resistência de trilhas,
fios e interconexões, que passam a ter valor não desprezível. Ademais, o TC do cobre, por
exemplo, é de aproximadamente 3.900 ppm/℃, e mesmo que o resistor utilizado tenha TC baixo, o
TC do cobre adicionando resistência ao circuito faz com que o TC equivalente seja muito maior do
que o do resistor.

Para piorar ainda mais as coisas o TC dos resistores e o próprio valor das resistências pode
mudar após vários ciclos de calor e frio. O valor dos resistores também pode mudar com a tensão
aplicada por razões completamente diferentes do autoaquecimento.
9.1.2 Elementos parasitas
Resistores apresentam capacitâncias e indutâncias parasitas que podem ser pronunciadas
em altas frequências (Figura 1.1). Estes elementos parasitas são expressos em termos de erro
percentual da impedância com relação a resistência em corrente contínua. Os resistores de fio
bobinados são aqueles que apresentam os maiores erros. Mesmo para os resistores ditos não
indutivos pode ser encontrada indutância de 20 μH para valores menores que 10 kΩ, e 5 pF para
resistores com mais de 10 kΩ. Estas características levam ao surgimento de oscilações e aumento
no tempo de estabilização para respostas ao degrau, ou seja, alterações dinâmicas associadas a
resposta em frequência.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 152


Figura 1.1: Modelo de resistor de filmes finos para frequências acima de 0,1 GHz. Os componentes
R, L e C representam o resistor enquanto que LG e CG representam as interconexões.

Efeitos termoelétricos também podem ser importantes. Resistores de fio bobinado podem
gerar 2 μV/℃, este número sobe para 20 μV/℃ em resistores de filme metálico comuns, ou 400 μV/
℃ para resistores de carbono. Mesmo assim isto não costuma ser um problema muito grande pois
as tensões de cada terminal tendem a se cancelar se a temperatura nos terminais for a mesma.
Isto, entretanto, nem sempre acontece e vai depender da forma e local onde os componentes estão
conectados. Por exemplo, componentes deitados sobre a placa tendem a apresentar a mesma
temperatura em ambos os terminais, mas isto pode não ser verdadeiro caso os resistores sejam
colocadas na vertical como na Figura 1.2.

Figura 1.2: Efeitos termoelétricos e distribuição de calor nos terminais de resistores.


9.1.3 Falhas, variação com o tempo e ruído
Resistores podem queimar e abrir (filme de carbono) ou queimar e curto-circuitar (filme
metálico). Os resistores podem mudar com o tempo (ppm/ano) sendo necessário realizar ciclos de
aquecimento até a estabilização (resistores de filme metálico precisam de 4 a 5.000 horas para
estabilizar). O ruido gerado pelos resistores não necessariamente é o mesmo uma vez que alguns
resistores também apresentam ruído 1/f.
9.1.4 Potenciômetros
Quanto ao uso de potenciômetros e trim-pots estes podem se danificar com poeira,
solventes, umidade e uso, além de adicionarem ruído de contato ao circuito. De um modo geral o
uso destes componentes deve ser evitado ou minimizado e seu uso pode ser substituído por
potenciômetros digitais ou arranjos com conversores DA. Estas soluções evitam os problemas
mecânicos e permitem o ajuste automático dos componentes em circuitos realimentados. Alguns
autores recomendam que o uso de potenciômetros seja “usado com infinito cuidado e ajustado em
faixa infinitesimal para evitar infinita frustração”.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 153


9.2 Indutores

Indutores não são componentes comuns em circuitos eletrônicos nem em instrumentação


pois, na prática, estão longe de se comportar como seu modelo ideal e não são fáceis de fabricar
com dimensões reduzidas e estáveis (de um modo geral só são comercializadas indutâncias
estáveis e pequenas com valores de alguns nH até alguns μH). Mesmo assim os indutores são
componentes importantes em fontes de alimentação, filtros (incluindo filtro contra EMI), bobinas
choke, casamento de impedância e osciladores. Para caracterizar bem os indutores atuais,
pontuando as diferentes tecnologias e nomenclaturas empregadas, a Vishay disponibiliza dois
bons textos, o Inductors 101, e o Inductor and Magnetic Product Terminology.

Para se obter indutâncias maiores em um espaço menor é comum o uso de núcleos


magnéticos de ferro, ferrite, cerâmicas, mumetal, permalloy entre outros, porém estes materiais
podem saturar, tornando o indutor um elemento não linear. Adicionalmente a temperatura
também apresenta efeitos sobre os núcleos alterando as suas propriedades.

As espiras dos indutores se comportam como placas condutoras paralelas, conferindo ao


indutor características capacitivas. Como consequência o indutor real pode oscilar e apresenta
como um dos parâmetros de manual uma frequência de ressonância. Completando o cenário, os
fios que formam o indutor apresentam resistência não nula, nem sempre desprezível, e que, por
efeito skin, pode variar com a frequência. Indutores nunca terão impedância (paralela) elevada
(MΩ) pois a resistência da bobina e a capacitância parasita vão limitar estes valores. Desta forma o
Q dos indutores nunca é muito alto e vai limitar o Q de circuitos sintonizados a valores em torno
de 100, enquanto ressonadores cerâmicos podem chegar a 1.000 e cristais a 10.000 ou mais. Esta
limitação na seletividade, entretanto, não é necessariamente ruim. Núcleos e braçadeiras de ferrite
(ferrite beads) usados para filtros, por exemplo, apresentam baixo Q e por isso podem atuar
eliminando interferências em uma ampla banda de frequências.

9.3 Capacitores

Capacitores reais são produzidos com os mais variados dielétricos e, por isso, apresentam
características distintas tanto no que diz respeito ao valor da capacitância, quanto a faixa de
frequência em que podem ser utilizados, a tensão de funcionamento e outros. Assim, capacitores
reais estão longe do ideal. A Figura 1.3 apresenta um modelo equivalente para capacitores. Na
Figura C é o capacitor, Rp modela as perdas, ESR é a resistência de terminais e placas, ESL modela
a indutância de terminais e placas, RDA-CDA modela a absorção dielétrica (DA).
9.3.1 Absorção Dielétrica
A absorção dielétrica está associada a polarização do dielétrico. Capacitores que ficam
muito tempo carregado polarizam o dielétrico. Isto causa uma espécie de histerese ou efeito
memória no capacitor. Considerando que o modelo apresentado (Figura 1.3) está correto e que o
capacitor está carregado, parte da carga é armazenada em C e parte em CDA. Mesmo depois de
curto-circuitar os terminais do capacitor e esperar que a tensão em seus terminais caia a zero não
é possível garantir que a tensão sobre CDA será nula (há uma constante de tempo associada a esta
descarga). Isto significa que, ao abrir os terminais do capacitor, uma tensão residual pode aparecer
em seus terminais. O efeito pode ser visualizado na Figura 1.4.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 154


Figura 1.3: Modelo de um capacitor real. C é o capacitor, Rp representa as perdas no dielétrico, R DA
e CDA representam a absorção dielétrica (efeitos de polarização do dielétrico), ESR e ESL a
resistência e a indutância de terminais e placas.

Figura 1.4: Efeitos da absorção dielétrica em capacitores.

Este problema pode ser importante em integradores e comparadores além de ser


responsável pelo surgimento de offset ou não linearidades em conversores tensão frequência.
Também podem resultar em erros na tensão armazenada em amostradores (sample and hold)
quando há troca de canais com tensões muito diferentes, filtros e sistemas de controle (elevada
constante de tempo – vários ms ou mais). A solução para este problema passa pelo uso de
capacitores de boa qualidade (deve se evitar o uso de capacitores cujo fabricante não informa a
DA) ou sistemas realimentados com autozero. Na Tabela 9.1 são apresentados valores de DA
típicos para alguns capacitores.

Tabela 9.1: Absorção dielétrica para alguns tipos de capacitores


Material do dielétrico Absorção Dielétrica

Teflon, poliestireno, polipropileno 0,02%

Cerâmica 0,2% - 0,6%

Mica, vidro 5%

Eletrolítico, tântalo 10%


Um erro de 0,2% representa um erro de ½ LSB em conversores AD de 8 bits.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 155


9.3.2 Elementos parasitas (Rp, ESR e ESL)
Todos os elementos parasitas dos capacitores são informados pelos fabricantes. As perdas
que são modeladas pela resistência Rp costumam ser informadas pelo nome IR (insulation
resistance). Normalmente esta resistência é dependente da tensão de alimentação e pode ser
informada tanto como um valor de resistência quanto como uma contante de tempo (produto
Rp·C). Estes valores podem variar de 1 s para capacitores eletrolíticos até milhões de segundos
para capacitores de teflon, poliestireno e polipropileno. Isto significa que mesmo desconectado o
capacitor carregado pode descarregar em poucos segundos ou vários dias. Na Tabela 9.2 são
apresentadas as constantes de tempos típicas para alguns capacitores.

A indutância e a resistência de terminais e placas (ESL e RSL), por outro lado, afetam
diretamente o comportamento da resposta em frequência do capacitor. Assim, capacitores com
diferentes dielétricos e processos de fabricação serão recomendados para diferentes faixas de
frequência. Na Figura 1.5 observa-se o comportamento em frequência de dois capacitores
produzidos por processos diferentes. Para baixas frequências os capacitores se comportam como
tal, mas para altas frequências o capacitor se comporta como um indutor e para uma frequência
intermediaria apresenta ressonância série com impedância limitada ao valor de RSL.

Tabela 9.2: Constante de tempo para alguns tipos de capacitores


Material do dielétrico Constante de Tempo

Eletrolítico 1 s

Cerâmica 100 s

Vidro 1.000 s

Teflon e poliestireno e polipropileno 1.000.000 s

Figura 1.5: Resposta em frequências para dois tipos diferentes de capacitores.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 156


É este comportamento que restringe o uso de capacitores para frequências elevadas. De um
modo geral, capacitores eletrolíticos, de tântalo ou construídos com placas e dielétricos enrolados
apresentam ESL elevada e limitação maior de frequência. Por está razão é comum ver circuitos
onde um pequeno capacitor (∼100 nF) é colocado em paralelo com grandes capacitores
eletrolíticos ou de tântalo (∼10 μF). Este pequeno capacitor tem função apenas em frequências
elevadas, evitando que o circuito apresente característica marcadamente indutiva. Na Figura 1.6
são apresentadas as faixas de uso para diferentes tipos de capacitor.

Figura 1.6: Faixa de utilização de diferentes tipos de capacitores.

Todos estes elementos parasitas (ESR, ESL e Rp) são apresentados de forma conjunto por
meio de um parâmetro conhecido como fator de dissipação (DF). O DF é definido pela razão entre
resistências e reatâncias, ou seja, é um parâmetro que mede a ineficiência do capacitor
relacionando a energia perdida com a energia armazenada. Como uma aproximação Q≈1/DF.
9.3.3 Tolerância
Adicionalmente, a obtenção de capacitores de precisão não é fácil. Sob demanda é possível
encontrar capacitores com tolerância de 0,5 ou 1% (cerâmica NP0, alguns filmes finos) mas valores
comuns estão entre 5 e 10%. A temperatura e a frequência também influenciam a capacitância, a
DF e a DA. Coeficientes térmicos da ordem de 30 ppm/℃ (cerâmica NP0) e de 100 a 200 ppm/℃
são comuns (poliestireno e polipropileno). A faixa de operação também varia muito. Alguns
capacitores de filmes finos funcionam até 85 ℃ enquanto que os de teflon funcionam até 200 ℃.

Na Tabela 9.3 são apresentadas características de capacitores com diferentes dielétricos.


Outras tabelas comparativas podem ser obtidas nas páginas dos fabricantes como a AVX e a
HolyStone.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 157


Tabela 9.3: Comparação entre capacitores (Linear Circuit Design Handbook, 2008)
Tipo DA Vantagens Desvantagens

Pequeno, barato, boa estabilidade, DA geralmente baixa, mas pode não


NPO
<0,1% ampla faixa de valores, comum, ser especificada, valores baixos
Cerâmico
baixa indutância (<10 nF)

0,001% Barato, disponível com baixa DA,


Funciona até +85°C, grande, alta
Poliestireno to ampla faixa de valores, boa
indutância
0,02% estabilidade

0,001%
Barato, disponível com baixa DA, Funciona até +105°C, grande, alta
Polipropileno to
ampla faixa de valores indutância
0,02%

0,003% Disponível com baixa DA, boa


Um pouco caro, grande, alta
Teflon to estabilidade, funciona acima de
indutância
0,02% +125°C, ampla faixa de valores

Boa DA, pequeno, funciona acima Difícil de achar, só para pequenos


MOS 0,01%
de +125°C, baixa indutância valores

Grande, DA limitada a aplicações de


Policarbonato 0,1% Boa estabilidade, barato
8-bit, alta indutância

0,3%
Boa estabilidade, barato, baixa Grande, limitado a aplicações de 8
Poliéster to
indutância bits, alta indutância
0,5%

Cerâmica Baixa indutância, ampla faixa de


>0,2% Estabilidade e DA ruins
(alto K) valores

>0,003 Baixa perda em HF, baixa Grande, valores baixos (<10 nF),


Mica
% indutância, muito estável caros

Valores altos, altas correntes, Muitas perdas, polarizado, pobre


Eletrolítico Alta
baixas tensões, pequeno estabilidade e exatidão, indutivo.

Pequeno, valores altos, indutância Muitas perdas, polarizado, caro,


Tântalo Alta
média pobre estabilidade e exatidão
DA é a absorção dielétrica

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 158


10 Interferência, blindagem e aterramento

Neste capítulo são apresentados, modelos de acoplamentos capacitivos e indutivos para a


propagação de perturbações e interferências, e técnicas de guarda, blindagem aterramento e
isolação para evitar esta propagação. Este capítulo tem como base os livros Op Amp Applications
Handbook (capítulo Hardware and Housekeeping Techniques, de Walt Jung), Op Amp for Everyone
(capítulo Circuit Board Layout Techniques, de Mancini Ron), o clássico Noise Reduction Techniques
in Electronic Systems de Henry W. Ott, e as transparências Interferências de Carlos Reis.

10.1 Formas de propagação

Circuitos eletrônicos são susceptíveis a ruído de três formas principais: o ruído pode ser
recebido com o sinal que se deseja tratar, o ruído pode ser gerado internamente no circuito ou ele
se deve a uma interferência externa, devido a fatos naturais, como raios, ou a fontes artificiais,
como circuitos chaveados, motores, fontes de potência entre outros. Para a análise completa do
problema é necessário o uso das leis de Maxwell, porém é possível simplificar a análise do
problema, em muitos casos, empregando componentes R, L e C para modelar a forma como a
interferência se propaga. Esta aproximação é válida se considerarmos que todo o campo elétrico
está dentro dos capacitores, os campos magnéticos estão concentrados nos indutores e as
dimensões do circuito são muito menores que as dos comprimentos de onda em análise.

Com esta aproximação é possível determinar as formas de propagação para os ruídos e


interferências. Elas podem, então, ocorrer por acoplamento resistivo, indutivo ou capacitivo. O
acoplamento resistivo ocorre quando circuitos ruidosos e não ruidosos estão interconectados por
resistências comuns aos dois circuitos. Na verdade este não é um problema meramente resistivo,
pois as interconexões comuns aos dois circuitos são, na verdade, uma impedância complexa. O
acoplamento capacitivo ocorre sempre que existirem dois condutores com campo elétrico entre
eles ao passo que o acoplamento indutivo existe sempre que indutâncias mútuas e espiras
estiverem presentes nos circuitos. Esta análise nem sempre resulta em valores numéricos
confiáveis, mas a compreensão dos fenômenos envolvidos pode ser mais facilmente alcançada, ou
seja, apresenta bons resultados qualitativos e as técnicas de análise de circuitos podem ser
utilizadas livremente.

Alguns exemplos ajudam a entender melhor o que está acontecendo em cada caso. Um
exemplo comum é aquele onde o fio terra (retorno de corrente) e os fios de alimentação são
compartilhados entre as fontes, os condicionadores de sinal, os circuitos digitais, e outros circuitos
ruidosos conforme mostrado na Figura 1.1. Esta é uma situação comum, mas devido a impedância
de fios e trilhas o ruído gerado por um circuito se propaga para os demais. Isto ocorre porque
circula, pelo retorno, não apenas a corrente do sensor e do condicionador de sinais, mas também a
corrente de outros sistemas ruidosos (fontes, circuitos chaveados, sistemas digitais, motores entre
outros). Estas correntes podem ser elevadas e de alta frequência o que significa que fios e trilhas,
modelados como resistores e indutores, apresentam, na prática, potenciais diferentes em
diferentes pontos do circuito. Assim, o ruído pode se propagar para o circuito de captação e
condicionamento de sinais onde a informação apresenta amplitude, muitas vezes, menor do que a
do ruído gerado. De um modo geral este ruído pode ser diminuído reduzindo a impedância das
trilhas de terra e alimentação e usando terras distintos para circuitos de sinal e circuitos ruidosos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 159


Figura 1.1: Forma de propagação de ruído por acoplamento resistivo. As resistências R e as
indutâncias L representam características parasitas distribuídas.

O acoplamento entre os cabos também é um problema e pode ocorrer por meio de


indutâncias mútuas parasitas, como mostrado na Figura 1.2. A corrente que circula da fonte V1
para a carga R3 passa por um fio que apresenta acoplamento indutivo com um fio próximo. Neste
outro fio surge uma diferença de potencial proporcional a M·di/dt. Isto ocorre principalmente
quando circulam correntes elevadas por cabos próximos, como em transformadores, motores,
ventiladores e outros. Este também é um efeito que pode surgir em circuitos digitais uma vez que
a derivada da corrente necessária para os chaveamentos rápidos pode ser expressiva. De um modo
geral os efeitos deste acoplamento podem ser reduzidos com a separação dos fios e diminuição dos
seus comprimentos, o que reduz a indutância mútua M, e com o aumento da impedância da fonte
e da carga, o que reduz a corrente e, portanto, a tensão induzida no outro condutor.

Figura 1.2: Forma de propagação de ruído por indutância mútua entre fios próximos. Lfio1, Lfio2 e
M são indutâncias parasitas.

O acoplamento magnético também pode estar presente se grandes espiras se formarem no


circuito. Isto aumenta a área de captação e requer campos magnéticos menores para o mesmo
nível de ruído. Algumas vezes estes laços são formados por longos fios ou trilhas, mas alguns laços
são formados por arranjos como os mostrados na Figura 1.3, onde um condutor conduz o sinal e o
outro, normalmente oculto, costuma ser o fio terra. Variações de campo atravessando essas espiras
produzem tensões de ruído em série com os laços. Minimizar esses laços, tranças estes fios, afastar
os laços das fontes de ruído e orientar os cabos de forma apropriada são formas de minimizar os
efeitos deste tipo de acoplamento magnético.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 160


Figura 1.3: Forma de propagação de ruído por formação de laços (espiras) que envolvem variações
de campo magnético. As setas pequenas indicam a corrente de sinal, a área hachurada marca o
laço e as setas em zigue-zague representam o campo que atravessa a espira.

Finalmente o acoplamento também se dá por efeito capacitivo quando dois fios estiverem
separados entre si, mas com um campo elétrico entre eles (Figura 1.4). Este acoplamento parasita
(C1 e C2) pode formar um divisor de tensão propagando ruídos. O uso de malhas aterradas
(blindagem) pode evitar este divisor de tensão mas se a malha não envolver completamente o cabo
o divisor capacitivo continuará existindo. Acoplamentos capacitivos ocorrem principalmente em
sistemas de alta impedância, logo, a redução da impedância do sistema (R na Figura 1.4) reduz a
propagação de interferência por acoplamento capacitivo (tensão de ruído sobre R). Por outro lado
fios e peças metálicas não aterradas podem se tornar uma entrada para este tipo de interferência.
Este acoplamento pode ser reduzido com a diminuição do comprimento de fios e trilhas, uso de
trilha central aterrada em 1 lado (ou 2 lados se a frequência for elevada) e redução da impedância
de carga.

Figura 1.4: Forma de propagação de ruído por acoplamento capacitivo. Uma fonte V1 produz ruído
sobre uma carga R em um fio distante e não interconectado. C1 e C2 correspondem as
capacitâncias parasitas do circuito.

Nas próximas seções serão apresentadas as formas mais comuns para minimizar estes
problemas com aterramento, cabeamento e blindagem. Apesar de não estar explícito, sempre que
se analisam acoplamentos capacitivos, indutivos e laços de terra é importante levar em conta as
impedâncias da fonte de sinal e cabos. Costuma-se utilizar resistências concentradas para os
cabos, junto as fontes, e uma resistência muito menor para malhas em acoplamentos indutivos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 161


10.2 Aterramento

A impedância dos fios utilizados para a distribuição de alimentações e terras provoca


quedas de tensões que podem ser significativas. Para se entender os efeitos causados por
diferentes aterramentos e a ordem de grandeza do problema um exemplo numérico é útil. Uma
trilha de circuito impresso de cobre, por exemplo, com resistividade ρ=1,72 μΩcm e espessura de
0,0035 cm, apresenta uma resistência de 0,49 mΩ para cada 1 mm de largura e 1 mm de
comprimento. Esta resistividade, aparentemente pequena, pode influenciar em medidas cuja
exatidão é alta. Uma trilha de circuito impresso com 5 cm de comprimento e 0,3 mm de largura
apresenta resistência de 0,082 Ω. Se ela for ligada em série com um resistor de 5 kΩ as duas
resistências formam um divisor de tensão de aproximadamente 0,082/5.000. Este erro, de
aproximadamente 0,0016%, é da ordem de grandeza do erro de quantização de um conversor AD
de 16 bits. Para evitar este problema da queda de tensão pode se utilizar uma medida com 4 fios ou
uma estratégia semelhante a utilizada nas pontes de Wheatstone com fios sense e realimentação da
tensão. Esta estratégia, entretanto, só funciona para uma carga. Ademais, este problema da
resistência não leva em conta a resistência entre os diferentes pontos de terra nem da corrente que
flui por ele.

Um outro exemplo do livro Op Amp Applications Handbook é mostrado na Figura 1.5. Nela
um amplificador chopper estabilizado (AD8551) com tensão de offset da ordem de 1 μV amplifica
um sinal V1, e a saída é medida entre vo e G2. A corrente de polarização do amplificador, ao passar
pela resistência de terra (RGND), produz um erro de offset maior que o do amplificador. Se este
mesmo segmento de trilha entre G1 e G2 for percorrido por outras correntes o erro será ainda
maior. Uma mudança de layout na placa conectando R2 diretamente a G2 poderia resolver o
problema. Uma alternativa seria modificar a configuração do amplificador de não inversor para
subtrator. Desta forma as diferenças de tensões entre G1 e G2 seriam atenuadas como tensões de
modo comum. Mais uma vez, está é uma solução pontual que só resolve o problema deste
amplificador. Assim, uma solução geral para minimizar os problemas referentes as impedâncias
entre diferentes pontos de terra costuma ser implementada separando os fios terras dos circuitos
ruidosos e não ruidosos. Normalmente esta solução é relatada apenas para o fio terra, pois é nele
que se concentram as correntes e estes problemas, mas o mesmo ocorre com as alimentações.

Figura 1.5: Problemas de aterramentos em circuitos de precisão. O erro causado por Rgnd e a
corrente de polarização do AD8551 é maior que a tensão de offset do integrado.

Existem basicamente três tipos diferentes de aterramento (Figura 1.6): um aterramento


série, um aterramento em estrela, feito em um único ponto, e um aterramento com plano de terra.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 162


No caso do aterramento em série uma única trilha é usada para coletar as correntes de terra de
todo o circuito. Assim, os ruídos gerados por circuitos digitais, fontes de potência, chaveamento e
outros se propagam para os demais circuitos. Este caso deve ser evitado. Na ligação em estrela os
ruídos gerados não são propagados para os demais circuitos. No caso do plano de terra, uma
forma mista entre as anteriores, se consegue uma redução das impedâncias que é aconselhada
para circuitos com frequências acima de 10 MHz.

Figura 1.6: Tipos de aterramento. De cima para baixo: em série, em estrela e com plano de terra.
As resistências R e as indutâncias L são parasitas.

Em circuitos mistos, com secções digitais ruidosas e analógicas é possível manter os


pontos de terra separados e interconectá-los em um único ponto, ou suprir diferentes caminhos
para a interconexão final diretamente na fonte de alimentação. Isto evita que a corrente dos
circuitos ruidosos interfiram nos circuitos de pequenos sinais ou analógicos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 163


Atenção especial, porém, deve ser dada para circuitos integrados que apresentam duas
conexões para terra, um terra analógico e outro digital. Isso é comum em conversores AD e DA,
pois internamente eles possuem ambos os circuitos. De forma aparentemente estranha a
recomendação dos fabricantes é que os dois pinos sejam ligados juntos, o mais próximo possível
do encapsulamento. No caso dos AD os fabricantes recomendam que estes pinos sejam ligados ao
terra analógico da placa. Com este arranjo o sinal analógico só é contaminado pelas correntes
digitais do AD quer circulam por fora do AD e retornam pelo terra analógico. Neste caso é
importante reduzir as correntes digitais na saída do conversor ligando-o a circuitos de baixo
consumo como registradores CMOS, por exemplo. Para melhorar ainda mais o desempenho é
possível isolar a alimentação do restante do circuito com um pequeno resistor em série com a
fonte e um capacitor de 100 nF em paralelo com o AD (Figura 1.7). Neste arranjo as correntes
digitais ficam confinadas e supridas pelo capacitor (que deve ficar muito próximo da alimentação
do integrado).

Figura 1.7: Terra em sistemas mistos, como em conversores AD.

Os planos de terra são alternativas muito usadas em placas de circuito impresso. Se bem
utilizados eles minimizam a impedância de retorno (quando a área do plano de terra é elevada e
não existem estrangulamentos) e área de laços que captam interferência por acoplamento indutivo
(Figura 1.8). Assim, boas práticas recomendam que se evite a concentração de conexões cortando
um plano terra, que se mantenha pelo menos 75% de área para o plano. De um modo geral o uso
do plano de terra é vantajoso e, em placas multicamadas, planos para as demais alimentações
também são recomendados (é da alimentação que saem todas as correntes que retornam pelo
terra). Adicionalmente podem ser implementados diferentes planos de terra atendendo a sinais
ruidosos e não ruidosos que depois devem ser interligados como numa ligação estrela.

Isso também pode ser feito entre placas que se unem a um barramento comum ou que
formam painéis ou gabinetes. A Figura 1.9 mostra dois destes casos. No exemplo correto o retorno
usado pelos circuitos está diretamente conectado ao terra principal enquanto que no outro o terra
é conectado ao gabinete, um dos lugares mais ruidosos que se pode encontrar num equipamento.

Adicionalmente a todos os problemas mencionados, em frequências muito altas o efeito


skin domina a condução (a condução ocorre na superfície). Uma aproximação para o cobre é que a
profundidade do efeito skin é de 6,61/√f cm. A resistência skin é de 0,26·√f μΩ para cada 1 mm de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 164


largura e 1 mm de comprimento da trilha (esta fórmula não é válida se a profundidade for maior
que a espessura da trilha). O efeito skin, então, passa a ser importante quando a profundidade for
menor que 50% da espessura do condutor. Em trilhas de circuito impresso isto deve começar a
fazer diferença em 12 MHz. Em altas frequências (VHF ou mais) também é necessário considerar
que as trilhas podem se comportar como linhas de transmissão. Nestes casos até o material da
placa deve ser escolhido.

Sinal Sinal Sinal

Área Área

Plano de Plano de
Terra Terra
Terra
Figura 1.8: Efeitos do plano de terra sobre a redução de área em laços.

Rack 1 Painel Painel Rack 2

Correto Errado

Terra eletrônico

Terra da rede
Figura 1.9: Interligação de terras em painéis e gabinetes.
10.2.1 Laços de terra
Laços de terra são um problema comum entre circuitos distintos separados por uma
distância grande e alimentados pela rede ou em circuitos analógicos com baixa tensão de entrada.
Ao se interconectar terras que estão em potenciais distintos se formam os chamados laços de
terra, ou seja, um laço por onde circulam correntes de ruído e interferência (Figura 1.10). Quanto
menor for a razão entre o sinal e o ruído mais importante será quebrar estes laços. Isto pode ser
feito com o correto aterramento dos cabos, usando amplificadores isoladores, choques de modo
comum (choque ou balun – Figura 1.11), anéis de ferrite nos cabos (ferrite beads – Figura 1.12),
caixas blindadas e flutuantes e circuitos balanceados (equilibrando as correntes de modo comum –
Figura 1.13). Se o acoplamento dos dois circuitos for feito de forma diferencial é possível usar par
trançado e cabos blindados.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 165


Observa-se que a isolação com transformador impede a transmissão de sinais de corrente
contínua, apresentam resposta limitada em frequência, são grandes e caros. Se múltiplos sinais são
conectados seria necessário múltiplos transformadores. Se o acoplamento capacitivo entre
primário e secundário for elevado a redução da interferência pode não ser tão elevada. Nestes
casos transformadores com enrolamentos blindados podem ser empregados (reduzem o
acoplamento capacitivo). O uso do choque de modo comum, por outro lado, permite a
interconexão de vários sinais, não bloqueia a corrente contínua e não afeta os sinais de modo
diferencial.

Figura 1.10: Laços de terra e formas de quebrá-lo. Com transformador isolador, isolação óptica e
choque de modo comum.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 166


Figura 1.11: Choque de modo comum.

Figura 1.12: Anéis de ferrite.

Figura 1.13: Acoplamento entre circuitos com entrada e saída balanceadas.

O uso de acopladores óticos permite a isolação completa mesmo com tensões diferenciais
elevadas entre os terras, mas seu uso apresenta melhor resultado quando o sinal é transmitido
digitalmente, uma vez que sua linearidade não é boa. Circuitos balanceados também são uma
alternativa viável uma vez que as correntes de modo comum podem produzir tensões facilmente
eliminadas por amplificadores diferenciais.

A isolação provida por transformador ou por acoplador óptico pode ser genericamente
obtida com os chamados amplificadores isoladores. Estes amplificadores também servem quando
se deseja isolação galvânica (impedância infinita para corrente contínua) entre locais diferentes do

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 167


circuito. A relação de ganho e a pinagem varia de amplificador para amplificador, mas o símbolo é
comum a todos e pode ser visto na Figura 1.14.

Figura 1.14: Símbolo do amplificador isolador.

As principais aplicações para este tipo de amplificador encontram-se na área médica


(isolação galvânica), na quebra de laços de terra e na diminuição dos efeitos causados por elevadas
tensões de modo comum. Exemplos de amplificadores isoladores são o AD215 e o AD210 (com
transformadores) da Analog Devices, o ISO124 e o ISO122 (com capacitores) da Texas Instruments
e o HCPL-7850, HCPL-7851 da Avago. Outros integrados clássicos são o IS0103 e o ISO100 da
Burr-Brown (ambos obsoletos e não recomendados para novos projetos). Os diagramas de blocos
para estes amplificadores são apresentados nas figuras 1.15 e 1.16.

Figura 1.15: Diagrama de blocos do AD215.

Os fabricantes fornecem duas tensões de isolação, uma para tensões continuamente


aplicadas e outra para tensões aplicadas por um curto período de tempo. A primeira tensão é
menor do que a segunda e ambas podem variar em função da frequência e temperatura. A
impedância de barreira situa-se em torno de 1012 Ω.

Note que alguns destes amplificadores apresentam transformadores e portanto não são um
simples circuito integrado. Muitas vezes estes circuitos são modelos híbridos ou construídos com
componentes discretos e encapsulados em um único invólucro. Observe também que os
amplificadores isoladores necessitam de fontes de alimentação independentes para o lado isolado.
Isto significa, inclusive, dois terras diferentes e não conectados. Estes amplificadores estão caindo
em desuso e estão sendo substituídos por isoladores digitais, mais fáceis de serem produzidos. Leia
mais em Move Over Iso Amp—Make The Switch To Digital Isolation.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 168


Figura 1.16: Diagrama de blocos do amplificador IS0124.

Com os novos isoladores cada vez mais simples e com menos recursos se torna necessário
investir também em fontes de alimentação isoladas. Exemplos de conversores CC/CC são os E_T e
F_T da Mornsun, com isolação de 3.000 Vdc em encapsulamento SMD, os AY_D e BY_D, da
mesma fabricante, com isolação de até 12.000 Vdc, o 722 da Texas com isolação de 3.500 Vdc, ou o
ADUM6000, da Analog Devices, com isolação de 5.000 Vdc.

10.3 Cabeamento

Nesta seção são apresentadas algumas formas de reduzir a propagação de interferências e


propagações de ruído fazendo uso de cabos. Vale lembrar que as considerações feitas aqui devem
ser utilizadas com cautela e conscientemente. Mesmo que algumas considerações aqui
apresentadas sejam regras gerais elas não devem ser utilizadas aleatoriamente. Os conceitos
apresentados são mais importantes que as regras e cada caso deve ser analisado antes que se
decida por uma ou outra estratégia, pois em alguns casos especiais a aplicação das regras gerais
pode não ter efeito ou pode piorar os problemas existentes.
10.3.1 Acoplamento capacitivo
Quando o acoplamento é capacitivo a blindagem, então, é obtida envolvendo um ou mais
condutores de forma a impedir que a interferência penetre neste condutor. A Figura 1.17 mostra
isto com um cabo coaxial.

Observe, nesse exemplo, que a malha do cabo coaxial não está aterrada (chave aberta) e o
ruído propagado pela fonte V1 sobre uma carga R1 é resultado do divisor de tensão entre os
capacitores C1, C3 e C2 (de alguns pF até centenas de pF) e a própria carga. Por outro lado se a
malha for aterrada (chave fechada) este divisor é quebrado evitando que a fonte V1 contamine a
carga R1. É claro que para que isso aconteça é necessário que a blindagem envolva todo o cabo, o
que nem sempre acontece nas extremidades. Além do mais, o divisor de tensão depende de

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 169


resistores (das fontes e fios) e capacitores, o que resulta em uma resposta em frequência do tipo
passa altas para o ruído.

Figura 1.17: Uso de cabo coaxial para redução de interferência por acoplamento capacitivo. Todas
as capacitâncias do circuito são parasitas e a fonte V1 representa a fonte de interferência.

De um modo geral, reduzir o comprimento dos fios e cabos, usar malhas aterradas de um
só lado (dos 2 lados em casos de alta frequência), reduzir o valor das cargas e os pontos metálicos
não aterrados reduz os efeitos de acoplamento capacitivo.
10.3.2 Acoplamento indutivo
Todo o fio é uma indutância e em altas frequências a reatância indutiva destes fios pode ser
não desprezível. As fórmulas apresentadas em (10.1) e (10.2) servem apenas para fios cilíndricos e
trilhas retangulares de circuito impresso, mas dão uma boa ideia dos valores envolvidos. Assim,
1 cm de fio com diâmetro de 0,5 mm, em 10 MHz pode ter uma impedância de 0,46 Ω (7,26 nH).
Trilhas de circuito impresso com 1 cm de comprimento, 0,25 mm de largura e 0,038 mm de
espessura tem resistência de 19 mΩ/cm e indutância de 9,59 nH/cm o que resulta em reatâncias
indutivas da ordem de 2 Ω para uma frequência de 150 MHz. Estas impedâncias se somam as
resistências das trilhas criando uma impedância elevada em altas frequências que pode estragar
um aterramento.

L WIRE =0,00020⋅l⋅ln ( 2⋅lr )⋅0,75[μ H ] (10.1)

onde l é o comprimento do fio (mm) e r o seu raio (mm).

[
L TRILHA =0,00020⋅l⋅ ln
2⋅l
w +h
+0,22350⋅ ( )
w +h
l ]
+ 0,5 [μ H ] (10.2)

onde l é o comprimento, w é a largura e h é a espessura da trilha.

Laços e indutâncias mútuas também podem ser reduzidos com o uso apropriado de cabos
blindados ou trançados. (Figura 1.18). No primeiro caso (A), sem o cabo coaxial, um grande laço se
forma captando interferência. Em (B), com a malha aterrada de um só lado, a corrente flui pelo
caminho original mantendo uma grande área de laço. No caso (C) a corrente flui parte pela malha
parte pelo caminho original reduzindo o efeito de laço efetivo, mas o melhor resultado é obtido no
caso (D), onde a área do laço formada pelos dois condutores é mínima. Observe que os efeitos

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 170


obtidos não se devem a blindagem magnética mas a redução dos laços que captam interferências
externas e é frequência dependente.

Para o caso de irradiação, os circuitos (C) (D) também são os que menos geram ruído.
Nestes casos o que ocorre é que a malha é percorrida por uma corrente em intensidade
semelhante à do condutor interno (mas com direção oposta). Em altas frequências o acoplamento
magnético entre os dois condutores faz com que a corrente flua pela malha e não pelo terra (a
corrente no centro do cabo é igual a corrente na malha) tornando o caso (C) idêntico ao caso (D).
Desta forma as correntes em sentidos opostos geram campos que se anulam e o cabo coaxial se
comporta como um choque de RF, mas se houver um desequilíbrio entre as correntes este efeito
fica reduzido e o circuito passa a gerar algum ruído. Para baixas frequências os efeitos são
limitados pois parte da corrente circula pelo terra e não pela malha.

Figura 1.18: Formas de aterramento de malha em cabos coaxiais. As duas figuras de cima
apresentam laços grandes enquanto que as duas de baixo laços pequeno.

Nos casos em que a corrente não circula pelo condutor central (Figura 1.19) o aterramento
dos dois lados pode gerar uma tensão de ruído no laço de terra que aparece como tensão de
entrada do amplificador (a tensão no indutor acoplado se cancela, mas a tensão sobre a resistência
RS se mantém).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 171


Figura 1.19: Aterramento de malha em dois pontos gerando uma corrente por ela e uma tensão de
ruído para o amplificador.

Na Figura 1.20 são apresentados os resultados de testes feitos com diversas configurações
de cabos coaxiais e cabos trançados com relação ao ruído (Noise Reduction Techniques in Electronic
Systems de Henry W. Ott). Um sinal de 50 kHz e 0,6 A foi aplicado a uma bobina de 10 espiras com
23 cm de diâmetro. Foram avaliados 12 cabos, cada um formando 3 espiras de 17,8 cm de diâmetro,
colocados envoltos no campo magnético da primeira espira. O ruído foi medido sobre o resistor de
1 MΩ. O resistor de 100 Ω representa a fonte. Apesar dos ensaios enfatizarem a interferência por
acoplamento magnético, campos elétricos também estavam presentes. Por esta razão estes
resultados não podem ser generalizados indistintamente mas mostram tendências.

Normalmente a blindagem está associada ao uso de cabos coaxiais com malha externa (até
100 MHz), mas este não é um requisito fundamental nem garante a eficiência. Por exemplo, se os
cabos coaxiais não forem terminados com uma conexão de 360°, para evitar acoplamentos
capacitivos onde a malha não protege o condutor interno, o efeito da blindagem fica reduzido. Da
mesma forma, pares trançados (até 100 kHz) podem ser utilizados com bom resultado caso as
voltas sejam menores do que 1/20 da distância até a fonte de interferência ou menores do que 1/8
do menor comprimento de onda do sinal que está sendo transmitido. Cabos flat também podem
ser utilizados para transmissão de dados até 150 MHz. Acima disto o cross-talk pode produzir, por
efeito capacitivo, interferência nos cabos laterais. Nesses casos o uso de terras intercalados
(terra-sinal-terra-sinal ou terra-sinal-sinal-terra) pode ajudar a melhorar a qualidade do sinal.
Alguns cabos flat também apresentam uma malha abaixo ou em torno dos fios, mas para máximo
efeito toda esta malha deve ser ligada a uma conexão plana de terra. A Figura 1.21 mostra
exemplos de cabo coaxial e seus conectores, cabo flat, e pares trançados com blindagem.

De um modo geral devemos reduzir os laços e separar cabos em grupos de fios: 1) fios de
alimentação CA, retorno CA, aterramento de chassi; 2) fios de alimentação CC, retorno CC, e
referência; 3) sinais digitais e retornos; 4) sinais analógicos e retornos. Para reduzir radiação
manter pequenas as áreas, usar frequência mais baixa possível, tempos de chaveamento não
menor do que o necessário e baixas correntes. Manter os cabos de sinais longe de aberturas, cabos
CA e CC, transformadores, motores e solenoides. Par trançados funcionam bem até 100 kHz,
cabos coaxiais até 100 MHz e gias de onda para frequências acima de 1 GHz. Também podemos
considerar que cabos longos se transformam em linhas de transmissão.

Em altas frequências (quando o comprimento dos cabos é maior do que 1/20 do


comprimento de onda que por eles passam) se aterrar a malha em apenas um lado (como tem sido
recomendado) as capacitâncias parasitas podem fechar um laço de terra. Nestes casos pode ser
melhor aterrar dos dois lados da malha para reduzir a diferença de potencial entre estes pontos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 172


Figura 1.20: Efeitos de blindagem e aterramento em cabos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 173


Figura 1.21: Cabos coaxiais e seus conectores macho e fêmea, cabos flat e pares trançados com
blindagem.
10.3.3 Ruídos em circuitos de alta frequência
Em circuitos de alta frequência as impedâncias das trilhas, principalmente devido as
reatâncias indutivas e capacitivas, criam efeitos indesejados em diferentes partes do circuito. O
principal efeito indutivo ocorre nas linhas de alimentação enquanto que os efeitos capacitivos
fazem o acoplamento entre linhas. A indutância das linhas de alimentação causam problemas
semelhantes aos do aterramento e se propagam pela variação da alimentação de cada circuito
(Figura 1.22). A solução para este problema passa pelo uso de capacitores de desacoplamento que
suprem localmente as correntes necessárias a cada integrado e adição de resistores de baixo valor
que reduzem a seletividade do circuito LC (Figura 1.23). A redução da seletividade também pode
ser usada localmente para evitar rings em saídas digitais (Figura 1.22).

Figura 1.22: Propagação de ruído em sistemas chaveados.

Os chaveamentos rápidos que demandam correntes elevadas propagam variações na


tensão de alimentação (queda de tensão sobre XL) para o restante do circuito. Os capacitores de
desacoplamentos que minimizam este efeito só funcionam se estiverem realmente perto da
alimentação dos integrados (Figura 1.23).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 174


c

c
Desacoplamento ruim Desacoplamento bom
Figura 1.23: Propagação de ruído pela fonte de alimentação em circuitos chaveados.

Amplificadores operacionais têm uma capacidade limitada de filtrar variações de tensões


nas alimentações. Este parâmetro é conhecido como PSRR (power supply ratio rejection) e é função
da frequência. Em corrente contínua este valor é bastante elevado, da ordem de 120 dB, mas ele
decresce rapidamente com a frequência podendo até se tornar negativo, ou seja, as variações
rápidas na tensão de alimentação passam a ser amplificadas. Em alguns casos extremos o AO pode
oscilar. Normalmente são recomendados dois capacitores de desacoplamento. Um capacitor
eletrolítico ou de tântalo, de uns 10 μF, que apresenta impedância muito baixa nas baixas
frequências, e um capacitor cerâmico da ordem de 100 nF, que funciona melhor em altas
frequências. O capacitor eletrolítico normalmente é colocado próximo da fonte e o capacitor
cerâmico próximo do integrado.

10.4 Gabinetes

A última opção para reduzir interferências é a blindagem de gabinetes, caixas e salas.


Blindagens deste tipo são caras e devem ser evitadas com planejamento dos circuitos
antecipadamente. Isolar circuitos de potência, transformadores, afastar cabos, reduzir laços e todas
as dicas anteriores devem ser aplicadas antes. Para evitar interferências por acoplamento
capacitivo manter o circuito longe de alta-tensão e cargas elevadas. Para evitar interferências por
acoplamento indutivo manter o circuito longe de alta corrente e evitar cargas baixas. Procure fazer
um bom projeto para ter uma solução de baixo custo e minimizar os problemas de interferência.

A blindagem de objetos e lugares ocorre por absorção e perdas ou por reflexão. Quando
uma onda eletromagnética atravessa um meio a amplitude dela decai exponencialmente. A
profundidade para que a amplitude caia a 63% do valor inicial é chamada de skin depth e é
dependente da frequência, do material e de seu coeficiente de atenuação. Bons materiais são
mumetal e aço, mas alumínio e cobre também oferecem proteção, porém em menor intensidade.
Para que exista reflexão, por outro lado, é necessário uma diferença de impedância entre os meios.
Para campos elétricos a reflexão ocorre na primeira superfície enquanto que os campos
magnéticos são refletidos na segunda superfície. Isto requer materiais mais grossos para atenuar
campos magnéticos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 175


As Figuras 1.24 e 1.25 mostram formas de obter esta blindagem em caixas e gabinetes.
Observa-se que a blindagem sempre tenta vedar todas as frestas com partes metálicas ou guias de
onda, evitando que a interferência entre ou saia do gabinete.

Figura 1.24: Tampas, emendas e furos em caixas blindadas.

Figura 1.25: Cantos e aberturas em caixas blindadas.

Recursos como caixas metálicas, caixas plásticas com carga condutiva, encaixes
condutores, tampas de ventilação, vidros e LCD condutivos devem ser empregados sempre que
necessários, impedindo que campos elétricos entrem ou saiam da caixa. O tamanho das aberturas
também deve ser avaliado para que impeçam a onda de entrar na caixa (dimensões das aberturas
proporcionais aos comprimentos de onda, servindo como um guia de onda). Conexão dos cabos e
filtros de linha também devem ser avaliados.

10.5 Peças

Para comprar capacitores e filtros http://www.avx.com/ e http://www.syfer.com. Para


comprar ferrites em http://www.ferroxcube.com.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 176


10.6 Exercícios

1) É comum escutar que um capacitor de 100nF em paralelo com a alimentação de circuitos


digitais e analógicos minimiza problemas de ruído. Explique se isto é verdade, se vai funcionar
sempre ou apenas em condições específicas e se requer cuidados especiais ou não, se pode piorar
as coisas... Justifique sua resposta utilizando modelos.

2) Para o esquema a seguir, onde as capacitâncias são parasitas e as fontes Vg 1 e 2 são


fontes de ruído, mostre qual a melhor forma de blindagem dos cabos (ligações tracejadas A, B, C
ou D).

3) Mostre (com modelos e equações) como interligar uma célula de carga em um lugar
distante (1 metro) e imerso em campo eletromagnético de 60Hz.

4) Cabos coaxiais podem ser utilizados para evitar a irradiação de campos magnéticos. Isto
acontece quando a corrente fluindo pelo cabo (I1) é a mesma que flui pela malha (Is). Com base na
figura ao lado determine a frequência a partir da qual esta blindagem se torna eficiente. Considere
LMALHA=M, não adicione fontes de ruído, considere que o plano de terra tem resistência nula, mas a
malha não. Desenhe o modelo e equacione o problema.

5) Para o caso abaixo, onde Vs é uma fonte de sinal que se conecta ao amplificador Amp
por meio de um cabo coaxial, as capacitâncias são parasitas, Vt e Vcm são fontes de ruído e a
malha já está conectada a fonte Vs, (a) determine se vale a pena conectar a malha aos pontos A, B
ou C para minimizar a propagação de ruído pelo circuito. b) A conexão já existente entre a malha
e a fonte Vs ajuda na blindagem do circuito?

6) Mostre que se um equipamento transmite dados para outro usando corrente e não
tensão o sinal fica menos sujeito a interferências por acoplamento indutivo. Use modelos para
explicar o fato.

7) Mostre como um amplificador isolador pode ser usado para quebrar laços de terra,
minimizando a propagação de ruídos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 177


8) Mostre como o uso de blindagem no condutor 2 pode impedir a propagação de ruído do
condutor 1 para o condutor 2. V1 é uma fonte de ruído. Mostre os modelos e calcule a intensidade
do ruído sobre a carga R antes e depois do uso da blindagem.

9) Para medida da atividade elétrica do coração (ECG) os livros costumam indicar o


esquema abaixo (só a etapa de entrada). Os cabos que interligam o circuito ao paciente costumam
ter 1 m ou mais de comprimento. Depois de montado, entretanto, este circuito costuma ter muitos
problemas com interferência de 60 Hz. Especificamente com relação ao 60 Hz: a) mostre duas
formas pelas quais essa interferência pode entrar no circuito e formas de minimizar estes efeitos;
b) mostre uma interferência que não pode ser removida. Com relação ao circuito: c) O uso de
capacitores de 100 nF na alimentação (usado em muitos circuitos) é recomentado para essa
aplicação? Use modelos para explicar todas as suas respostas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 178


11 Ruído e incertezas

Ruído elétrico é todo o tipo de perturbação que se sobrepõe a uma informação elétrica.
Para evitar confusão, a partir deste momento, a palavra sinal passa a representar a informação útil
ao passo que a palavra ruído será utilizada para referenciar qualquer tipo de perturbação elétrica
sobre um determinado sinal. O ruído elétrico nos operacionais se deve ao ruído inerente a cada
dispositivos que o compõe (transistores, resistores, etc.).

Existem várias formas de ruído elétrico sendo que cada uma destas formas está associada a
algum evento físico ou a alguma característica de confecção do componente. A seguir, são listados
os principais tipos de ruído, suas fontes e seus efeitos e sua representação. A Texas Instruments
tem dois bons textos sobre o assunto, o Op Amp Noise Theory and Applications e o Noise Analysis
In Operational Amplifier Circuits.

11.1 Ruído térmico

Este ruído é causado pela agitação térmica dos elétrons em uma resistência. O ruído
térmico é constante ao longo de todo o espectro de frequências e no osciloscópio apresenta um
formato semelhante ao da Figura 1.1. Por conter todas as frequências este ruído também é
chamado de ruído branco. A tensão eficaz gerada pelo ruído térmico pode ser calculada com a
equação 11.1.

VT RMS = √4⋅k⋅T⋅B⋅R (11.1)

onde k é a constante de Boltzman (1,38·10 -23 J/K), T é a temperatura em Kelvin, B é a banda


passante em Hz e R é a resistência em Ω.

Figura 1.1: Aparência do ruído térmico.

11.2 Shot noise

Este ruído está associado com uma corrente fluindo através de uma barreira de potencial.
Isto significa que ele é formado pela flutuação instantânea de corrente elétrica, causada pela
emissão aleatória de elétrons e lacunas. Schottky, em 1918, mostrou que este ruído tem densidade
de potência constante com a frequência e que pode ser estimado conforme (11.2).

I SN RMS =√ 2⋅q⋅I CC⋅B (11.2)

onde q é a carga do elétron (1,6·10-19  C), ICC é a corrente média em Ampere e B é a banda passante
em Hz.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 179


11.3 Ruído de contato

Também conhecido por Excess Noise, Flicker Noise, ruído 1/f e ruído de baixa frequência, o
ruído de contato é causado, dentre outras coisas, pela variação da condutividade devido ao contato
imperfeito entre dois materiais (por exemplo, silício e alumínio). Este tipo de ruído aparece
sempre que existe junções entre materiais de qualquer tipo, como em semicondutores, chaves e
pontos de solda, e está sempre associado a passagem de corrente elétrica. A equação 11.3 mostra a
intensidade da corrente que modela este ruído.

K M⋅I CC⋅√ B
If RMS = (11.3)
√f
onde KM é uma constante que depende do material, ICC é a corrente média em Amperes, B é banda
passante em Hz e f é a frequência.

Nota-se que o ruído de contato aumenta com a diminuição da frequência o que pode
torná-lo preponderante nesta região, porém, se a corrente for mantida baixa o ruído térmico pode
ser tornar dominante. A Figura 1.2 mostra a aparência deste ruído no osciloscópio. Para dois
resistores de 1 kΩ, um de carbono e outro de fio, o ruído térmico é o mesmo e proporcional a
resistência. Porém, com a passagem de corrente elétrica o resistor de carbono apresenta mais
ruído que o resistor de fio devido a variação de condutividade no contato imperfeito do resistor.

Figura 1.2: Aparência do ruído 1/f no osciloscópio.

11.4 Soma de ruídos

Várias são as fontes de ruído e todas podem estar presentes ao mesmo tempo em um
mesmo circuito. Quando isto ocorre e os ruídos não são correlacionados, ou seja, são
independentes, a soma das fontes de ruído produz uma potência total que é igual a soma da
potência de cada fonte, de acordo com a equação 11.4. Em outras palavras o ruído RMS total é
obtido pela raiz quadrada da soma dos quadrados dos demais ruídos RMS (11.5). Isto acontece
porque o valor RMS de um ruído de média zero corresponde ao desvio padrão da sua distribuição
de probabilidade (Figura 1.3) e ruído nada mais é do que uma incerteza. Algumas vezes,
entretanto, é mais fácil obter o valor pico a pico do ruído. Nestes casos, é comum dividir este valor
por 6 para se obter uma informação RMS de corrente ou tensão (Figura 1.3).

P Tot =P 1 + P 2 +...+P n (11.4)


V Tot (RMS )= V 21 RMS +V 22 RMS +... +V 2nRMS (11.5)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 180


Figura 1.3: Relação entre ruído de pico a pico e RMS.

11.5 Espectro de ruído

Para outros dispositivos ou amplificadores um gráfico de ruído equivalente pode ser


construído com auxílio de filtros passa faixa sintonizados ou de processamento digital de sinais. A
representação do ruído sempre é feita no domínio da frequência.

A curva de tensão e corrente de ruído para um AO típico é mostrada na Figura 1.4. Nota-se
as unidades nV/√Hz e pA/√Hz para cada frequência específica. Se desejarmos conhecer o ruído
para uma faixa de frequências basta integrar este ruído na faixa de frequência desejada. Observe
também que há um ruído 1/f preponderante para as baixas frequências, mas que fica praticamente
constante a partir da chamada frequência de corte. Quando a faixa de interesse não inclui a
frequência de corte, ou é três décadas maior que ela, o efeito deste ruído de baixa frequência pode
ser desprezado. Quando esta faixa for importante a integral pode ser calculada como

V N (RMS )=V Nplano⋅ f


√ NC ⋅ln
( )
f Máx
f Min
+( f Máx −f Min ) (11.6)

onde fMáx e fMin são as frequências máximas e mínimas da faixa de interesse, VNplano a tensão de
ruído na faixa plana, e fNC a frequência de corte do ruído 1/f. Se fNC não for dada ou não puder ser
obtida pelo gráfico ela pode ser calculada como

( V 2N ( f )|f = fx – V 2Nplano )⋅ fx (11.7)


f NC =
V 2Nplano

onde VN(f) é uma tensão de ruído na região 1/f para uma frequência fx.

Na faixa plana a integral apresentada corresponde a um retângulo, mas como os filtros


destas bandas de frequência não são ideais, é necessário aplicar uma correção aos valores
calculados. Para filtros de primeira ordem é necessário multiplicar o resultado por 1,57. Para filtros
de segunda, terceira e quarta ordem os multiplicadores são 1,11, 1,05 e 1,025 respectivamente.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 181


Figura 1.4: Corrente e tensão de ruído para um AO típico (National, AN 104, May 1974).

Exemplo: Calcular o ruído total equivalente na entrada de um amplificador cujo espectro


de ruído é apresentado na Figura 1.4 e que esteja operando na faixa de 10 Hz até 10 kHz.

2 2
[(110 nV / √ Hz ) −(9,5 nV / √ Hz ) ]⋅10
f NC ≈ 2
=1330 Hz
(9,5 nV / √ Hz )


V N (RMS )=9,5 nV / √ Hz⋅ 1330⋅ln ( 10000
10 )
+(10000−10)=1,315μ V

Exemplo: Mostrar que a integral do ruído branco (vN) numa banda determinada por um
filtro passa baixas de primeira ordem é equivalente a integral de um retângulo nesta mesma banda
multiplicada por 1,57.

√ | |
f2 2
1
v Ntot = ∫|v N |2⋅ 1+ j⋅2⋅π⋅f ⋅R⋅C
⋅df
f1



1
v Ntot =v N ⋅ ∫ ⋅df
2
1+ ( 2⋅π⋅f ⋅R⋅C )
RMS
0

v Ntot =v N ⋅
RMS
√ 1
( 2⋅π⋅R⋅C )
2

⋅[ tan−1 ( 2⋅π⋅f ⋅%R⋅C ) ]0

v Ntot =v N ⋅
RMS
√ 1
( 2⋅π⋅R⋅C )
2

⋅[ tan−1 ( 2⋅π⋅f ⋅%R⋅C ) ]0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 182


v Ntot =v N ⋅
RMS
√ 1
2
⋅π
( 2⋅π⋅R⋅C ) 2

onde vNRMS é o ruído em V/√Hz e a banda de integração corresponde a frequência de corte do filtro
multiplicada por 1,57.

11.6 Equivalente Elétrico

Todos os ruídos apresentados podem ser modelados por fontes de tensão ou corrente
associadas ao elemento gerador de ruído. Um resistor, por exemplo, será representado por uma
associação série entre o resistor e uma fonte de ruído térmico. Para os circuitos mais complexos e
amplificadores operacionais as tensões e correntes de ruído são inseridas nas entradas do circuito,
como as fontes de tensão de offset e correntes de polarização dos AO. A Figura 1.5 mostra estes
modelos para um amplificador operacional.

Figura 1.5: Modelo do AO com fontes de ruído.

11.7 Razão sinal ruído e figura de ruído

Para avaliação da qualidade de um sinal também se utiliza a chamada razão sinal ruído
(SNR), definida conforme equação 11.8. Quanto maior a razão SNR melhor a qualidade do sinal.

SNR=20⋅log
( v Sinal
v Ruído
RMS

RMS
) (11.8)

Já a figura de ruído corresponde a razão entre as SNR na entrada do amplificador (como se


ele não existisse) e na sua saída. Note que para esta medida é importante que os valores da
impedância da fonte de entrada (o gerador de sinais) sejam consideradas.

NF =10⋅log
( )SNR in
SNR out
(11.9)

NF =10⋅log
( Sinal in⋅Ruído out
Sinal out⋅Ruídoin ) (11.10)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 183


NF =10⋅log
( Sinal in⋅Av⋅V 2NA
Sinal in⋅Av⋅V 2NS ) (11.11)

onde Av é o ganho de tensão do amplificador, VNA é a tensão de ruído total na entrada do


amplificador, VNS é a tensão de ruído da fonte.

NF =10⋅log
( )
V 2NA
V 2NS
(11.12)

NF =10⋅log
( v 2T +v 2N +i 2N⋅R S
V 2NS ) (11.13)

Exemplo: Para o amplificador cuja tensão e corrente de ruído são apresentadas na Figura
1.4, supondo que ele está conectado a um gerador com impedância de 2 kΩ (National
Semiconductor, Application Note 104, May 1974). a) Calcular o ruído equivalente total na entrada
do amplificador operando a 1 kHz (por unidade de frequência); b) Calcular o ruído equivalente
total na entrada do amplificador operando entre 1 kHz e 10 kHz; c) Calcular a relação sinal ruído
na entrada do amplificador, supondo que o sinal do gerador possui apenas 4 mVRMS.

a) No resistor da fonte (para 1 Hz de banda):

V T =√ 4⋅k⋅T⋅R⋅B=5,7 nV/ √ Hz

Da Figura 1.4 vem que

v N |1 kHz =9,5 nV / √ Hz

i N | 1kHz =0,68 pA/ √ Hz


V TN = v 2N +v 2T +i 2n⋅R 2S =11,16 nV / √ Hz

b)

V TN =11,16[nV / √ Hz]⋅√ 10 kHz – 1 kHz=1,1μ V RMS

c)

SNR=20⋅log
( )
VS
V TN
=71 dB

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 184


11.8 Tabela de erros

Como a análise realizada neste capítulo sempre trata de tensões e correntes muito
pequenas nem sempre é fácil ter uma noção clara da ordem de grandeza dos erros que estão sendo
discutidos. Em sistemas digitais, a resolução de equipamentos é sempre mais facilmente
compreendida pois a medida é quantizada em um número finito de possibilidades. Nesta secção é
calculado o erro total em um sistema de aquisição de sinais com medida em ponte e o resultado é
comparado com a resolução equivalente de um AD, de forma que fique mais simples de se
entender as preocupações apresentadas anteriormente.

Um problema comum, descrito em In-Amp Bridge Circuit Error Budget Analysis, consiste
em determinar os erros (ou incertezas) de uma circuito composto por uma ponte de Wheatstone
ligada ao amplificador de instrumentação (um AD620B no problema em questão). A saída do
amplificador é conectada a um conversor AD e deseja-se saber qual a resolução do conversor para
que a saída fique estável.

Figura 1.6: Circuito de medida em ponte.

Neste exemplo a impedância equivalente da ponte é de 350 Ω com saída máxima de


100 mV e excitação de 10 V. O ganho do amplificador de instrumentação foi programado para ser
de 100 vezes (para produzir um sinal de saída de 10 V). As especificações do AD620 para 25 ℃ são
vos=55 μV, ios=0,5 nA, erro de ganho igual a 0,15%, não linearidade de 40 ppm, ruído de 0,1 até
10 Hz de 280 nVpp e CMR=120 dB em 60 Hz. Com estes dados é possível montar uma tabela de
erros e incertezas (Tabela 11.1).

Observa-se que foi calculado o erro de CMR para o sinal de modo comum em CC (obtido
na ponte alimentada com 10 V). Este erro resulta em um offset na saída do amplificador. Não foi
calculado quanto pode resultar de ruído de 60 Hz devido ao CMR do amplificador. Observa-se
também que todos os erros de offset ou ganho podem ser compensados mas os erros relativos a
ruído e não linearidade do amplificador não. Assim, todos os erros que podem ser compensados
são usados para a estimativa do pior caso, mas não do melhor. A soma das incertezas foi feita de
forma direta considerando-se apenas a sua contribuição relativa. Esta é uma forma simples que
superestima os erros e pode ser considerada como uma estimativa do erro limite.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 185


Tabela 11.1: Tabela de erros para o amplificador de instrumentação ligado na ponte de Wheatstone
Parâmetro Cálculo Contribuição Compensar

vos 55 μV / 100 mV 550 ppm sim

ios (350 Ω·0,5 nA) / 100 mV 1,8 ppm sim

Erro de ganho 0,15% 1.500 ppm sim

Erro de CMR 120 dB: (1 ppm·5 V) / 100 mV 50 ppm sim

Ruído (0,1 até 10 Hz) 280 nV / 100 mV 2,8 ppm não

Erro de linearidade 40 ppm 40 ppm não

Erro total (pior caso) ≈9 bits exatidão 2.145 ppm (tudo)

Erro total (melhor caso) ≈14 bits exatidão 42 ppm (linearidade+ruído)

11.9 Exercícios

1) Apresente uma planilha de erros para um amplificador diferencial levando em conta


ruído do amplificador e ruído térmico. O amplificador tem produto ganho banda constante de
8 MHz. Considere que o ganho da configuração é 200 com resistores de 1 k e 200 k. O
operacional é um OP27A com en=3,8nV/ÖHz, in=0,6pA/ÖHz, en(0,1-10Hz)=0,18mVpp e voMÁX=±5V.
Expresse a resolução deste circuito em função do número de bits de um conversor AD. Considere
T ambiente.

2) Monte uma tabela de erros para o circuito medidor de corrente com o AD629. A linha de
60 Hz induz um ruído de 1 Vpp. O erro de ganho é de 0,05%, e o drift de ganho é de 10 ppm/℃ , o
erro de não linearidade é de 10 ppm, a tensão de offset é de 1 mV, o drift de offset é de 20 μV/℃, o
CMR para DC é de 77 dB e para AC é de 141·10- 6, o ruído entre 0,01 e 10 Hz é de 15 μVpp.
Considere os valores para 25℃ e uma variação de temperatura de 60℃. Qual a melhor resolução
para um conversor AD permanecer insensível a todos estes erros?

3) Para um amplificador de instrumentação (AD620) ligado a uma ponte de Wheatstone:


Mostre a tabela de erros considerando que o AD620, para 25℃, tem Vos=55 μV, Ios=0,5 nA, Erro de
Ganho=0,15%, Não linearidade de 40 ppm, ruído de 0,1 até 10 Hz de 280 nVpp e
CMR=120 dB @ 60 Hz. Se não compensarmos nenhum destes erros, qual seria a resolução teórica
deste circuito?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 186


12 Transdutores reativos

Assim como os resistores, capacitores e indutores também podem ser utilizados como
sensores ou transdutores. Por serem ativos requerem uma fonte de excitação externa,
normalmente uma fonte de corrente alternada. O sinal de saída também costuma ser um sinal
alternado e os circuitos de condicionamento de sinal normalmente requerem alguma forma de
demodulação. Como a excitação é alternada a faixa de frequência dos sinais de interesse fica
limitada a uns 10% da frequência de excitação.

12.1 Transdutores capacitivos

Os transdutores capacitivos são formados por elementos condutores separados por um


dielétrico. Nos casos mais simples estes condutores são placas paralelas cuja capacitância depende
tanto das características geométricas dos condutores quanto das propriedades elétricas do
isolante(12.1).

A
C d =ε0⋅εR⋅ (12.1)
d

onde ε0 =8,85⋅10−12 é a permissividade do ar, εR é a permissividade relativa do material, A é área


das placas e d é a distância entre as placas.

Sendo assim, qualquer arranjo que modifique A, d, ou εR pode ser transformado em um


transdutor capacitivo. Um número expressivo de arranjos pode ser utilizado na construção de
transdutores capacitivos. Alguns exemplos podem ser vistos na Figura 1.1.

Figura 1.1: Alguns arranjos possíveis para transdutores capacitivos. As variações de área são
produzidas pelo deslocamento relativo entre as placas.

Um dos primeiros transdutores capacitivos foi um microfone, cuja base de funcionamento


é a variação da distância d. A variação de características de dielétricos também é muito comum e
bastante empregada em medidores de umidade, por exemplo, pois a permissividade relativa do ar

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 187


é de aproximadamente 1 enquanto que para a água a permissividade relativa pode variar de 88 (a
0 ℃) até 55,33 (a 100 ℃). Como visto, não apenas mudanças de materiais alteram a permissividade
relativa dos sensores, a temperatura também altera a permissividade dos materiais, e para os
ferroelétricos está alteração é proporcional ao recíproco da temperatura (12.2)

k
ε= (12.2)
T −T C

onde k é uma constante, T é a temperatura e TC é a temperatura Curie.

Sensores capacitivos sofrem com diversos problemas. O dielétrico pode apresentar


variação de condutividade com a temperatura ou umidade, alterando a impedância do capacitor
mesmo sem alterações de capacitância. Este problema só pode ser contornado com a escolha
apropriada do dielétrico para a aplicação desejada. Ainda do ponto de vista construtivo, os efeitos
de borda produzem dispersão do campo elétrico. Esta dispersão frequentemente é compensada
com um anel de guarda ligado a um potencial fixo que mantém o campo confinado. Interferências
por acoplamento capacitivo também são um problema, mas podem ser reduzidas utilizando-se as
técnicas estudadas anteriormente. Cabos longos adicionam capacitâncias parasitas reduzindo a
sensibilidade e faixa de frequência do sensor. A variação no posicionamento dos cabos produz
variação de capacitância que pode ser confundida com a uma variação no mensurando.

A frequência de excitação do sensor também é importante. Normalmente as capacitâncias


estão na faixa de 1 a 500 pF de tal forma que em baixas frequências a impedância é muito elevada
e em altas frequências as capacitâncias parasitas ajudam a reduzir significativamente a
impedância do sensor. Frequências de excitação da ordem de 10 kHz são as mais comuns, mas,
dependendo do caso, é possível a excitação com frequências tão altas quanto 10 ou 100 MHz..

Apesar destes problemas os sensores capacitivos podem apresentar muitas vantagens


sobre os resistivos. Os efeitos de drift com o tempo e temperatura (se o dielétrico for o ar) são
bastante reduzidos o que os torna muito estáveis e reprodutíveis. Mesmo se o dielétrico sofrer
alterações com a temperatura elas costumam ser muito menores do que nos condutores. Para
sensores de deslocamento não há atrito entre peças. Estes transdutores também não apresentam
contato mecânico nem histerese. Como medidas de elevada resolução são possíveis (medidas de
deslocamento da ordem de 10 -12 m) muitos destes transdutores têm sido fabricados em circuitos
integrados como, por exemplo, os acelerômetros e sensores de pressão usados em celulares e
dispositivos sensíveis ao toque.

Além das aplicações como medidores de umidade também são muito comuns os sensores
de proximidade e deslocamento (para faixas menores que 1 mm a resolução pode ser
subnanométrica), sensores de pressão (em conjunto com diafragmas), como nos microfones, ou
sensores de ou força (em conjunto com elementos elásticos). Aplicações menos comuns empregam
variações no dielétrico para medidas de espessura, nível, produtos químicos, ou temperatura.
12.1.1 Variações dimensionais
Normalmente as variações dimensionais dos sensores capacitivos estão restritas as
variações de área ou de distância ente as placas. Estas variações podem tornar o sensor linear ou
não dependendo de como se faz a medida (impedância ou admitância). A avaliação rápida destas
eventuais não linearidades e da sensibilidade obtida com cada arranjo é interessante para a

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 188


otimização do desempenho de cada transdutor e pode ser feita expandindo a função de
sensibilidade por séries de Taylor. Supondo, por exemplo, um sensor de espessura capacitivo, com
gap variável entre suas placas e o elemento dielétrico conforme apresentado na Figura 1.2.
Observa-se neste arranjo que existem dois capacitores conectados em série, um com dielétrico fixo
(ld) e outro com gap variável (lg)

Figura 1.2: Transdutor capacitivo de gap variável.

A capacitância do gap é dada por

A⋅ε0
C g= (12.3)
lg

e a capacitância do dielétrico pode ser escrita como

ε ⋅ε
C d =A⋅ R 0 (12.4)
ld

Uma vez que as duas capacitâncias estão em série a capacitância equivalente é calculada
como

1
C=
1 1 (12.5)
+
Cd C g

A⋅εR⋅ε0 A⋅ε 0

ld lg
C= (12.6)
A⋅εR⋅ε0 A⋅ε0
+
ld lg

A 2⋅ε R⋅ε20
l d⋅l g
C= (12.7)
A⋅ε0⋅(ε R⋅l g +l d )
l d⋅l g

A⋅ε 0
C=
l (12.8)
l g + εd
R

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 189


Considerando que o gap sofre pequenas variações em torno de um ponto central de
repouso

l g =l g 0 +Δ l g (12.9)

A⋅ε0
C=
l (12.10)
l g 0+ Δ l g + εd
R

Esta é a equação da capacitância em função de variações do tamanho do gap. Para


representar melhor este transdutor podemos calcular a variação relativa de capacitância com
relação a capacitância de repouso (semelhante ao que foi feito com o strain gauge). Esta razão
define uma sensibilidade relativa, adimensional,

dC Δ C C−C 0 C
= = = −1 (12.11)
C0 C0 C0 C0

No presente exemplo

b
C 0= (12.12)
x 0 +c

onde b=A⋅ε0 , c =l d / K e x 0 =l g 0 , então

b
dC C x +c
= −1= −1 (12.13)
C0 C0 b
x 0 +c

dC x 0 +c
= −1 (12.14)
C 0 x +c

Como o gap varia entorno de um ponto central x =x 0 +dx

dC x 0+ c
= −1 (12.15)
C 0 x 0 +dx + c

que pode ser reescrita como

dC 1
= −1
C0 dx (12.16)
1+
x 0 +c

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 190


1
Como =1−A +A 2 +.. . , então
1+ A

dC dx dx 2
=1− + −1 (12.17)
C0 x 0 +c (x 0 +c )2

( ) ( )
2
dC −1 dx 1 dx
= ⋅ + ⋅

( ) ( )
2
C0 c x0 c x0 (12.18)
1+ 1+
x0 x0

que é da forma

( ) ( )
2
dC dx dx
=α1⋅ +α 2⋅ (12.19)
C0 x0 x0

Por comparação encontramos

1 1
α1 = e α2= (12.20)

( ) ( )
2
c c
1+ 1+
x0 x0

Fazendo as substituições de b, c e x

( ) ( )
2
dC −1 dl 1 dl g
= ⋅ g + ⋅ (12.21)

( ) ( )
C0 l l g0 ld 2 l g 0
1+ d 1+
εR⋅l g 0 ε R⋅l g 0

onde

−1 1
α1 = e α2= (12.22)

( ) ( )
2
l l
1+ d 1+ d
εR⋅l g 0 ε R⋅l g 0

Uma medida de não linearidade pode ser obtida pela relação

α2
|α |= 1
(12.23)

( )
1 l
1+ d
εR⋅l g 0

Observa-se que todas as coisas que reduzem a não linearidade também reduzem a
sensibilidade relativa, ou seja, para este arranjo não é possível otimizar a não linearidade do

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 191


transdutor escolhendo um valor específico de capacitância. Observa-se porém, que o dielétrico,
apesar de reduzir a sensibilidade relativa reduz também a não linearidade do transdutor.

A variação de capacitância com relação a variação do gap também pode ser avaliada da
mesma forma.

A⋅εR⋅ε0
C= (12.24)
l g⋅εR +l d

dC εR⋅ε0⋅A ε2R⋅ε0⋅A 1
=− ⋅ε =− ⋅ (12.25)

( )
2 R
dl g (l d +εR⋅l g ) l 2d εR⋅l g 2

1+
ld

dC
dl g
C0
[ lg
≈− ⋅ε R⋅ 1−2⋅ε R⋅ +3⋅ εR⋅
ld ld
lg 2
ld
−... ( ) ] (12.26)

12.1.2 Capacitores diferenciais


Medidas diferencias também são usadas com frequência. Na Figura 1.1 (no centro, em
cima) é apresentado uma montagem com um capacitor diferencial. Considerando que no repouso
lg0=lg1=lg2 a tensão sobre cada capacitor será não linear com relação ao deslocamento do
terminal central porém a diferença entre as tensões será linear com relação ao deslocamento.
Neste exemplo a sensibilidade é independente da frequência de excitação e bem maior do que
seria possível obter com um arranjo de um só capacitor.

XC 1
V 1 =V FONTE⋅ (12.27)
XC 1 + XC 2

XC 2
V 2 =V FONTE⋅ (12.28)
XC 1+ XC 2

εR⋅ε0⋅A
XC 1 = (12.29)
l g 0+ Δ l g

εR⋅ε0⋅A
XC 2 = (12.30)
l g 0 −Δ l g

l +Δ lg
V 1 =V FONTE⋅ g 0 (12.31)
2⋅l g 0

l −Δ l g
V 2 =V FONTE⋅ g 0 (12.32)
2⋅l g 0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 192


Δl
V 1 −V 2 =V FONTE⋅ g (12.33)
lg 0

12.2 Transdutor Indutivo

Os indutores são formados por espiras condutoras e podem estar associados a elementos
ferromagnéticos ou outras bobinas que modificam o comportamento global do indutor. Esta
versatilidade permite muitos arranjos para os transdutores indutivos. Neste texto serão
apresentados transdutores que funcionam por alteração da relutância magnética ou por
indutância mútua.
12.2.1 Transdutores de relutância variável
A indutância pode ser expressa como

ϕ
L =N⋅ (12.34)
i

onde N corresponde ao número de espiras, ϕ é o fluxo magnético e i é a corrente. O fluxo


magnético, por sua vez, se relaciona com a força magnetomotriz e a relutância magnética tal que

Fmm N⋅i
ϕ= ℜ = ℜ (12.35)

de forma muito semelhante a lei de Ohm. Observe que é possível fazer uma analogia entre a Fmm
e a tensão elétrica, ϕ e a corrente elétrica e ℜ e resistência elétrica. Esta analogia é válida
inclusive para o cálculo da relutância equivalente quando o caminho do fluxo inclui elementos
com diferentes características magnéticas. Para bobinas circulares cujo comprimento é bem maior
que a área, a relutância magnética equivale a

1 l
ℜ= μ0⋅μ R⋅ (12.36)
A

−7
onde μ 0=4⋅π⋅10 H/m é a permeabilidade magnética do vácuo, μR é a permeabilidade
magnética relativa do meio, l é o comprimento da bobina e A a área de secção reta.

Assim, para uma bobina linear,

μ 0⋅μ r⋅N 2⋅A


L= (12.37)
l

e qualquer alteração na permeabilidade magnética, no número de espiras, na área ou no


comprimento pode ser usada para transformar o indutor num sensor (Figura 1.3). Sensores que
alteram o número de espiras funcionam de forma muito semelhante aos potenciômetros ou, mais

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 193


especificamente, os autotransformadores. Os sensores de relutância variável atuam sobre A, l ou μ
sendo as duas últimas as mais comuns.

Assim como acontece com os sensores capacitivos os sensores indutivos também


apresentam alguns problemas que devem ser levados em conta. Campos magnéticos externos
influenciam nas medidas e podem alterar o valor da indutância do sensor. Nestes casos talvez seja
necessária uma blindagem especial para o sensor. A permeabilidade magnética não é constante
com relação a intensidade de corrente elétrica e saturações e histerese são os principais
problemas. Além disto perdas por correntes parasitas nos núcleos podem ser um problema e, neste
caso devem ser reduzidas ao máximo. Estas características normalmente limitam a tensão máxima
de alimentação destes sensores a uns 15 V quando os núcleos são ferromagnéticos e as frequências
de excitação a uns 20 kHz (os sensores com núcleo ferromagnético apresentam indutâncias da
ordem de 1 a 100 mH). Núcleos de ar podem ser utilizados minimizando estes efeitos, mas a
sensibilidade do dispositivo fica reduzida e o caminho magnético é menos definido e o dispositivo
fica mais sensível ao entorno. A relação entre a indutância e a relutância magnética também não é
constante se o fluxo não for uniforme. Os principais problemas costumam ocorrer nas bordas do
dispositivo. Por razões óbvias a faixa de temperatura está limitada pela temperatura de Curie de
material ferromagnético (temperatura acima da qual o material perde suas características
magnéticas). Devido a forma como são construídos os indutores são muito artesanais e volumosos
e não é fácil encontrar sensores indutivos miniaturizados.

Figura 1.3: Sensores indutivos de relutância variável.

Como vantagens os sensores indutivos são muito pouco sensíveis a variações de umidade e
outros contaminantes como poeira e fuligem, não apresenta atrito e são muito sensíveis. Da
mesma forma que nos sensores anteriores, medidas diferenciais costumam ser menos sensíveis a
campos externos, temperatura, variações na tensão de alimentação e frequência da fonte. As
principais aplicações para este tipo de sensor são as medidas de deslocamento e posição e sensores
de proximidade para objetos metálicos (principalmente em ambientes sujos e úmidos), mas podem
fazer parte de uma gama maior de transdutores para medida de pressão, força, nível, contagem de
carros e outros.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 194


Uma aplicação típica consiste no detector de proximidade. Supondo o arranjo da Figura
1.4, com transdutor de relutância variável, núcleo ferromagnético de comprimento total lm,
tamanho do gap lg, áreas Am e Ag para o núcleo e o gap e permeabilidade magnética μ M =μ R⋅μ0

Figura 1.4: Transdutor indutivo de gap variável.

Pode ser demonstrado que neste caso a indutância do transdutor é dada por:

μ0⋅Ag⋅N 2
L= (12.38)
lg +
(Ag⋅lm
Am⋅μ R )
que tem forma

b
L0= (12.39)
x 0 +c

onde b=μ 0⋅Ag⋅N 2 , c =( Ag⋅lm)⋅(Am⋅μ R )−1 e x 0 =l g 0 . Desta forma, assim como no exemplo do
sensor capacitivo, é possível calcular uma sensibilidade relativa para este sensor e avaliar sua
sensibilidade e sua não linearidade empregando expansão por séries de Taylor. Como o formato
das equações é o mesmo é possível aproveitar os cálculos anteriores tal que

dL 1
= −1 (12.40)
L0 dx
1+
x 0 +c

1 2
e como =1−A +A +.. . , então
1+A

( ) ( )
2
dL −1 dx 1 dx
= ⋅ + ⋅ (12.41)
( ) ( )
2
L0 c x 0 c x0
1+ 1+
x0 x0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 195


Assim como ocorre com transdutores capacitivos, o uso de cabos com elevada capacitância
também afeta a sensibilidade dos transdutores indutivos. Considere inicialmente o modelo para
um indutor real da Figura 1.5, onde R modela as perdas resistivas do fio, as perdas de corrente de
fuga pelo núcleo e também as perdas de histerese e C modela a capacitância parasita associada ao
enrolamento e cabos.

Figura 1.5: Modelo de indutor real.

Como todo circuito RLC o indutor real é regido por uma equação diferencial de segunda
−1/2
ordem tal que a frequência de ressonância é ω0 =(L⋅C ) e o fator de qualidade

Q=ω 0⋅L⋅R−1 .

Sendo assim, no circuito RLC proposto, a resistência R pode ser escrita em função de Q

ω⋅L
R= (12.42)
Q

Analisando a impedância do circuito equivalente para o indutor real temos que

Z L =( R+ X L )// X C (12.43)

Z =
( ω⋅L
Q
+ j⋅ω⋅L )⋅
1
j⋅ω⋅C
(12.44)
L
ω⋅L 1
+ j⋅ω⋅L +
Q j⋅ω⋅C

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 196


Z =
( ω⋅L
Q
+ j⋅ω⋅L )⋅
1
j⋅ω⋅C
(12.45)
+ j⋅( ω⋅L −
ω⋅C )
L
ω⋅L 1
Q

−j
Z L=( ω⋅LQ + j⋅ω⋅L )⋅ ω⋅L + j⋅ ω ⋅L⋅C −1 ω⋅C
(12.46)
( )
2

Q ω⋅C

− j⋅ω⋅C
Z L=(ω⋅L
Q
+ j⋅ω⋅L ⋅ 2
ω ⋅L⋅C )
ω⋅C

+ ( ω ⋅L⋅C −1 )
2
(12.47)

( ω2⋅L⋅C )
Supondo que Q ≫1 (R é baixo), então ≪( ω2⋅L⋅C −1 ) e
Q

Z L= ( ω⋅LQ + j⋅ω⋅L )⋅ω ⋅L⋅C


−1
2
−1
(12.48)

ω⋅L j⋅ω⋅L
Z L= + (12.49)
Q⋅( 1−ω ⋅L⋅C ) ( 1−ω2⋅L⋅C )
2

Se a capacitância parasita fosse desconsiderada (C=0), então

ω⋅L
Z L= + j⋅ω⋅L (12.50)
Q

Comparando-se as duas expressões de ZL podemos concluir que a capacitância parasita


diminui o fator de qualidade, uma vez que

Q EFETIVO =Q⋅( 1−ω2⋅L⋅C ) (12.51)

Esta expressão vale até que ω=(L⋅C )−1/ 2 e nestas condições Q efetivo <Q . Além
disso, há, também, um efeito de aumento da indutância efetiva, uma vez que esta pode ser
entendida como

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 197


L
L EFETIVO=L EQ = (12.52)
(1−ω2⋅L⋅C )

Derivando-se esta última expressão temos

∂L EQ 1−ω 2⋅L⋅C −L⋅(ω2⋅C )


= (12.53)
∂L (1−ω2⋅L⋅C )2

∂L EQ 1
= (12.54)
∂ L (1−ω2⋅L⋅C )2

∂L
∂ L EQ = (12.55)
(1−ω2⋅L⋅C )2

de onde

∂L
∂L EQ (1−ω 2⋅L⋅C )2
= (12.56)
L EQ L
(1−ω2⋅L⋅C )

∂L EQ ∂L 1
= ⋅ (12.57)
L EQ L (1−ω2⋅L⋅C )

Tal expressão indica que na construção de um transdutor de indutância variável, a


capacitância parasita tende a aumentar a sensibilidade do transdutor (em relação ao caso ideal). Os
efeitos anteriormente mencionados, de capacitância parasita do enrolamento, podem ser somadas
aos efeitos das capacitâncias parasitas associadas aos cabos coaxiais ligados aos transdutores. Por
esta razão, cuidado especial deve ser tomada na escolha do cabo coaxial a ser utilizado para
interligar este tipo de transdutor.
12.2.2 Transdutores de indutância mútua
O transdutor indutivo baseado em indutância mútua mais conhecido é o chamado Linear
Variable Differential Transformers (LVDT). O LVDT é um transformador com acoplamento
magnético variável produzido pelo movimento de um núcleo ferromagnético colocado entre os
enrolamentos (Figura 1.6). Na configuração tradicional o LVDT conta com um enrolamento
primário por onde o transdutor é energizado e dois enrolamentos secundários por onde se obtém
um sinal proporcional ao deslocamento do núcleo. Normalmente os secundários são ligados em
série com polaridades opostas de modo a zerar a saída na situação de deslocamento mecânico nulo
do núcleo.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 198


Figura 1.6: Linear Variable Differential Transformers (LVDT).

A tensão de saída é proporcional a diferença entre as indutâncias mútuas do primário para


cada uma das bobinas do secundário, da tensão e da frequência de excitação e da carga. As
resistências dos enrolamentos também influenciam na resposta em frequência do sistema de tal
forma que o LVDT apresenta comportamento semelhante a um filtro passa faixa. Por esta razão a
escolha da frequência de excitação otimiza a sensibilidade e reduz o deslocamento de fase entre a
corrente de excitação e a corrente do secundário. Variações de temperatura resultam em variações
nas resistências dos enrolamentos o que acarreta alterações de sensibilidade e na frequência ótima
de excitação. A excitação com fonte de corrente torna o transdutor mais imune a variações de
temperatura. Os efeitos não lineares começam a ser sentido com deslocamentos acima de 30% do
máximo, mas LVDT especiais são construídos permitindo deslocamentos de até 80% do máximo.

Os erros de offset costumam ser menores do que 1%, problemas de distorção harmônica por
saturação do núcleo podem ser mantidos tão baixos quando o desejado, mas se isto não for
possível uma filtragem passa baixas para o terceiro harmônico frequentemente resolve o
problema. Uma resolução de 0,1% é facilmente obtida, o sistema não tem atrito e o tempo médio
de falhas de alguns dispositivos chegam a ser de centenas de anos. Além disto os LVDT oferecem
isolamento elétrico entre o mensurando o circuito evitando a formação de laços de terra. LVDT
também são famosos pela repetibilidade, especialmente do zero (o que os torna ótimo para esta
finalidade), elevada sensibilidade e linearidade (usualmente melhor do que 0,05%).

Os LVDT são usados para medidas de deslocamentos de centenas de μm até vários cm,
podendo obter resoluções de 0,1 μm. São comuns as excitações de 1 até 24 V e frequências de
excitação de 50 até 20 kHz.
12.2.3 Outros transdutores indutivos
Outros transdutores indutivos comuns são os sensores de corrente de Foucaut (eddy
current) ou correntes parasitas (relutância variável), os synchros, resolvers, e os inductosyn
(indutância mútua) além dos magnetoelásticos, magnetoestritivo.

Os sensores de corrente de Foucaut ou parasita induzem uma corrente em um material


condutor próximo. Esta corrente gera um campo magnético que tende a cancelar o campo que
gerou a corrente, reduzindo a indutância do sensor. Estes sensores são utilizados para medidas de
proximidade.

Os synchros e os resolvers são transformadores rotativos, semelhantes a motores, onde a


amplitude da tensão de saída é proporcional ao ângulo de rotação do rotor. Nos synchros são
usados bobinas com ângulos de 120 o enquanto que no resolver as bobinas são defasadas 90 o
fisicamente. O inductosyn, por outro lado, consiste de duas bobinas planas (com formato de onda

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 199


quadrada) estampadas em superfícies que deslizam uma sobre a outra. No caso linear são
utilizados os nomes estator e régua para designar as partes móveis e fixas. No caso do dos
synchros e resolvers são empregados os nomes tradicionais estator e rotor.

Os sensores magnetoelásticos modificam sua permeabilidade magnética em função de uma


tensão mecânica, os magnetoestritivos têm como base a deformação (mudança de dimensão) de
um material ferromagnético quando submetido a um campo magnético.

12.3 Exercícios

1) Mostre a melhor maneira de conectar dois transdutores capacitivos em uma ponte AC.
Calcule a tensão na saída da ponte. a) Qual a condição necessária para linearidade? b) A fonte de
alimentação pode ser contínua ou alternada? Justifique. c) Mostre, com um diagrama em blocos,
como obter um sinal contínuo na saída da ponte, mesmo se a fonte de alimentação for alternada.
d) Se a fonte de alimentação for alternada, qual a influência da frequência do sinal de entrada
(mensurando) sobre a tensão de saída no item c.

2) Um transdutor capacitivo de proximidade é construído de tal forma que, para distâncias


h menores que metade do diâmetro do sensor, a capacitância pode ser modelada como na equação
abaixo. a) Estime ΔC/C e ΔXC/XC. b) Estime linearidade e sensibilidade

ε⋅A
C 1=
h

3) A figura a seguir mostra a estrutura simplificada de um acelerômetro capacitivo, onde o


eletrodo central é móvel. a) Obtenha a expressão para os sinais V 1–V2 e V2/V1. b) Qual opção
(diferença ou razão) deve ser utilizada para aumentar a linearidade da variação do sinal com a
variação de x? Considere que os capacitores diferenciais estão sob a mesma variação do terminal
central, porém, em direções opostas, sendo que

ε⋅A ε⋅A
C 1= e C 2=
d +x d −x

4) A ponte de Schering, uma das mais importantes pontes CA, é muito utilizada para
medições de capacitores e também para a medição de propriedades isolantes, isto é, em condições
com ângulos de fase muito próximos de 90 0. Calcule os valores de C3 e R3 (figura a seguir) em
função dos demais componentes da ponte.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 200


R. Rodrigues, Medidas Elétricas Ia - ESP314, UFSM,. World Wide Web,
http://www.ufsm.br/medidasonline/tutorial/resposta_pontescc.html

5) Quais as topologias das pontes de Maxwell, Hay e Wien? Determinar para que servem e
como funcionam (equacionando) estas pontes.

6) Determinar a temperatura da junta quente para: a) Um termopar de Chromel-Alumel


gera uma tensão de 5 mV. A junção fria está a 15 oC e a sensibilidade do termopar é de 0,04mV/ oC;
b) Um termopar de Platina-Platina/Rodio gera 7,5 mV. A temperatura da junta fria é de 20 oC e a
sensibilidade do termopar é de 6 V/oC.

7) A força eletromotriz de um termopar metal(A) – chumbo(B) é calculada pela fórmula


1
E AB=α⋅t+ ⋅β⋅t 2 , onde  e  são constantes cujos valores encontram-se na tabela abaixo e t é a
2
diferença de temperatura da junção sob teste, em relação a 0 °C. Considerando a medida efetuada
em uma junção a 100 °C com um termopar alumínio-ferro (EAl-Fe), de quanto será a força
eletromotriz, em mV? (ENADE, 2008)

Metal  (V/°C)  (V/°C2)

Alumínio -0,47 0,003

Cobre 2,76 0,012

Platina -1,79 -0,035

Ferro 16,6 -0,030

8) Um sensor de força piezoelétrico tem uma sensibilidade de 0,3pC/N e uma capacitância


de 500pF. Que saída este sensor proporciona em relação a aplicação de uma força de 20N? Qual a
saída produzida se for empregado um amplificador de ganho 100 cujo equivalente de entrada é
uma resistência de 1000MΩ e é conectado com um cabo de 12pF? (Instrumentação A, UFRGS*)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 201


13 Comparadores

Comparadores são usados para discriminar se um determinado sinal analógico é maior ou


menor que um sinal de referência. A saída do comparador é, portanto, digital. Eles podem ser
construídos com AO ou com integrados específicos conhecidos como comparadores de tensão. A
solução empregando AO é comum, mas de desempenho significativamente pior que aquela
usando comparadores. Mesmo assim, é bastante comum ver este tipo de erro, muitas vezes porque
o circuito tem disponível um AO que não foi usado. Para estes casos e possível usar integrados
mistos como os LM392, TLV2302 e TLV2702 da Texas Instruments, o LTC1541 da Linear
Technology.

Os comparadores são construídos especialmente para realizar esta função gerando em sua
saída um sinal com características digitais. O símbolo do comparador é o mesmo do AO, os
estágios de entrada e intermediários são construídos da mesma forma, mas o estágio de saída é
projetado para trabalhar saturado ou cortado, muito parecido com uma porta lógica. Eles não
possuem compensação de frequência, não apresentam boas características de offset, drift, ruído,
enfim, eles não são feitos para funcionar como amplificador. Por outro lado apresentam baixo
tempo de propagação, baixo rise e fall time, a tensão de saída chega muito próxima a tensão de
alimentação, tem as entradas protegidas contra elevada diferença de tensão, apresentam baixo
consumo e melhor estabilidade. Mais detalhes podem ser encontrados no Using Op Amps as
Comparators da Analog Devices e no Op Amp and Comparators – Don’t Confuse Them! da Texas
Instruments.

13.1 Símbolo

O símbolo mais comumente utilizado para representar um comparador é apresentado na


Figura 10.1.

Figura 10.1: Símbolo do comparador.

13.2 Características

Apesar de possuir o mesmo símbolo do amplificador operacional, e ser tratado da mesma


forma, para cálculo, os comparadores possuem uma série de características práticas que visam a
melhora no desempenho do AO como comparador. Em contrapartida, muitos dos circuitos
internos presentes nos AOs são retirados para baratear o custo de produção e o estágio de saída é
modificado para otimizar o comportamento de comparador.

Normalmente os comparadores possuem ganho menor que um amplificador operacional e


a sua linearidade não é garantida, principalmente no estágio de saída, projetado para funcionar

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 202


em saturação. Os comparadores não possuem compensação em frequência e apresentam piores
características de corrente contínua. A corrente de polarização IB e o VOS são muito maiores que os
de um AO. Características como drift e CMR também são muito piores. Os projetistas, entretanto,
implementam melhoras nas características de slew-rate, settling time e delay indicando
diretamente rise time e fall time.

Diferente do AO, que é projetado para funcionar com realimentação negativa, em região
linear, e tensões iguais nas entradas inversora e não inversora, o comparador é feito para trabalhar
em malha aberta ou com realimentação positiva. Assim, sua saída é digital no sentido de que pode
operar em apenas dois níveis estáveis de tensão. Por esta razão, muitas vezes os comparadores
estão prontos para interfacear com circuitos digitais e de potência e não raro apresentam
alimentações diferentes para o estágio de saída, que também pode estar em coletor ou dreno
aberto (open collector ou open drain). Um exemplo de comparador com tensões de saída diferentes
das tensões de alimentação do comparador é o clássico LM311 (Figura 10.2), onde um transistor
está conectado a saída do comparador. Neste transistor tanto o emissor quanto o coletor não estão
conectados o que permite escolher livremente a alimentação deste estágio inclusive com tensões
maiores do que a máxima permitida para alimentar o integrado. Nos casos de coletor ou dreno
aberto é necessário o uso de um resistor de pull-up calculado de acordo com as características do
circuito que se deseja montar (velocidade, consumo, capacidade de fornecer corrente, tensão de
saída ...).

Figura 10.2: Alimentações do LM311 para interface com circuitos TTL.

Como os comparadores foram projetados para não usar realimentação negativa a máxima
tensão diferencial de entrada (Vd) torna-se um parâmetro importante no projeto. Para evitar
problemas por excesso de tensão diferencial, o circuito de proteção apresentado na Figura 10.3
pode ser adotado, caso não esteja implementado no integrado. Em alguns comparadores,
entretanto, a entrada pode chegar até a tensão de alimentação.

Figura 10.3: Circuito de proteção contra excessiva tensão diferencial.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 203


De um modo geral, então, AO podem ser empregados como comparadores se as
características de corrente contínua forem muito importantes, se os sinais de entrada forem lentos
e se o atraso entre entrada e saída for de pouca importância. Se as características temporais, por
outro lado, forem mais importantes, então o uso de comparadores é fundamental. Uma boa
discussão sobre estas questões pode ser lida em Amplifiers as comparators? da Analog Devices. A
Tabela 13.1 mostra uma comparação entre as características de amplificadores operacionais e de
circuitos comparadores de tesão. Repare nas diferenças elevadas entre os valores encontrados para
cada um dos componentes.
Tabela 13.1: Comparação entre características de um LM741 e alguns comparadores
LM741 LM339 LM311 LM319 LM361
Av (V/mV) 200 200 200 40 3
IB (mA) 80 25 100 250 10.000
VOS (mV) 2 2 2 2 1
SR (V/s) 0,5 60 150 80 -
ST (ns) - 1.300 200 80 14
IS (mA) - 2 7,5 12,5 25
Is é corrente de alimentação.

13.3 Configurações típicas


13.3.1 Detetor por cruzamento de zero
A configuração mais simples de um comparador consiste em utilizar uma tensão de
comparação em uma de suas entradas e a tensão a ser comparada na outra, conforme pode ser
visto na Figura 10.4.

Figura 10.4: Comparador simples.

O circuito da Figura 10.4 consiste de um comparador em malha aberta. Desta forma, uma
pequena diferença de tensão entre as entradas já é suficiente para saturar o comparador com a
tensão positiva ou negativa de alimentação. Este tipo de comparador pode ser utilizado para
detectar a passagem de um sinal por qualquer valor de tensão basta alterar a fonte usada para a
comparação. Nestes casos o gráfico de saída, apresentado na Figura 10.5, desloca-se para a direita
ou esquerda de acordo com a tensão aplicada. Note que para representar o funcionamento do
circuito foi utilizado um gráfico onde é desenha a saída em função da entrada.

O gráfico da Figura 10.5, representa uma simulação com uma entrada senoidal de
frequência igual a 10 Hz no circuito comparador de tensão do tipo detetor de passagem por zero.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 204


Observe que, como as características dinâmicas do comparador não são ideais, a curva real
apresenta atrasos e inclinações. Se a derivada da tensão de entrada diminuir o comportamento do
comparador se aproxima do ideal. Isto pode ser um problema quando se trabalha com frequências
elevadas. Neste caso devemos escolher um comparador rápido.

Figura 10.5: Simulação de um comparador por cruzamento de zero (comparador simples com
tensão de comparação 0 V).
13.3.2 Limitação da tensão de saída
Algumas vezes deseja-se que a tensão na saída do comparador não seja a tensão de
alimentação. Muitos comparadores, como dito, apresentam estágios de saída com alimentação
diferente que permite adequar facilmente os níveis de tensão necessários na saída do comparador.
Se o comparador estiver sendo realizado com um AO, entretanto, este recurso não está disponível.
Nestes casos, um pouco mais complexos que o anterior, é necessário que o comparador tenha
realimentação negativa em algumas situações. Como se este fator complicador da análise não
fosse suficiente, a realimentação normalmente não é implementada com componentes lineares
tendo sua parcela modificada como uma chave (existe ou não existe realimentação) ou
progressivamente de forma a manter constante certos parâmetros (como se fosse um regulador de
tensão). Este é o caso típico do circuito mostrado na Figura 10.6.

Figura 10.6: Comparador com limitador de amplitude.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 205


Como podemos ver (Figura 10.7), este circuito é um detector de passagem por zero (a fonte
ligada na entrada não inversora é zero) com uma realimentação negativa formada por um diodo
zener. Ora, sempre que o zener estiver conduzindo mudará sua resistência interna para que a
tensão sobre ele fique constante (polarizado direta ou reversamente). Isto faz com que a tensão na
entrada negativa fique igual à tensão na entrada positiva (realimentação negativa). Como a tensão
na entrada positiva é zero, então a tensão de saída corresponde a tensão sobre o zener.

Figura 10.7: Simulação: Vz=4,7 V, R1=1 kΩ.

13.3.3 Detetor de nível com limitação de tensão de saída.


O detector de nível com limitação de tensão não pode ser implementado modificando-se a
tensão de comparação aplicada a entrada positiva, pois se isto altera a tensão de saída (soma da
tensão sobre o zener com a tensão de comparação). Uma alternativa para este problema consiste
em adicionar um somador com resistores na entrada negativa (Figura 10.8). Desta forma é possível
mudar o valor da tensão de comparação sem alterar a tensão da saída.

Figura 10.8: Comparador de nível com limitador de saída.

Este detector funciona basicamente como o anterior porém, agora, a tensão de comparação
se deve não apenas a uma tensão mas a um somatório de tensões. O resultado deste somatório é
que mudará a saída do comparador (Figura 10.9). O equacionamento do problema pode ser feito

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 206


em função das correntes. O ponto de comparação ocorre quando as correntes por R1 e R2 são
iguais. Dependendo de qual corrente for maior, o zener estará direta ou reversamente polarizado.

Figura 10.9: Simulação: Vz=4,7 V, R1=R2=1 kΩ, Vref=2 V.


13.3.4 Comparador de janela
Um exemplo bastante interessante do uso de comparadores com saída em coletor aberto é
mostrado na Figura 10.10. Ele consiste de um comparador em janela, ou seja, um comparador que
cria uma janela de tensão onde a saída do comparador assume um determinado valor. Neste
circuito a comparação não é feita com apenas um nível lógico mas com dois. Se a entrada estiver
entre estes dois níveis lógicos, então a saída será a tensão de alimentação positiva. Note que a
saída de ambos os comparadores são ligadas a um só ponto, isto se deve justamente ao fato da
saída de cada comparador estar em coletor aberto.

Figura 10.10: Comparador em janela e um gráfico (em função do tempo) demonstrando seu
funcionamento.

Com este tipo de saída (coletor aberto), o comparador só pode fornecer a tensão de
alimentação negativa pois não possui o circuito que o liga com alimentação positiva. Isto deve ser

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 207


feito externamente. Então se um comparador deve fornecer um valor positivo de tensão de saída,
isto só ocorre através do resistor externo (o transistor de saída do comparador está cortado). O
outro comparador pode estar com sua saída em nível baixo que não haverá problemas de curto
circuito por causa do resistor externo que limita a corrente pelo comparador. Como podemos ver
esta configuração com as saídas dos comparadores ligadas juntas funciona como uma porta lógica
OR e por tanto esta configuração é conhecida como wired OR.
13.3.5 Comparador de declividade
Diferente dos demais circuitos comparadores, o comparador de declividade não compara
níveis de tensão, mas sim a derivada do sinal de entrada, ou seja, a sua declividade. O circuito é
apresentado na Figura 10.11. O ponto de comparação pode ser calculado da mesma forma que para
o comparador de nível com limitação de tensão de saída, ou seja, igualando as correntes em C1 e
R1.

Figura 10.11: Comparador de declividade.

Figura 10.12: Simulação com Vz=4,7 V, Vref=2 V, C1=47 nF, R1=1 kΩ, Freq=1000 Hz.

i R 1=i C 1 (13.1)

v REF dv
=C 1⋅ i (13.2)
R1 dt

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 208


dv i v REF
= (13.3)
dt R 1⋅C 1

Se a corrente iC1 < iR1 o diodo zener está polarizado diretamente, neste caso a tensão de
saída é aproximadamente igual 0,7 V. Se iC1 > iR2 então o zener está polarizado reversamente e a
tensão de saída corresponde a tensão de zener. A aplicação mais comum para este circuito é como
trigger em osciloscópios analógicos.
13.3.6 Comparador com histerese
O comparador de nível, ou comparador simples, mostrado no início deste capítulo, pode
oscilar quando o sinal está próximo do nível de comparação. Isto ocorre porque o ruído
adicionado ao sinal faz com que o comparador seja acionado várias vezes.

Para evitar este tipo de problema foram criados os circuitos comparadores com histerese. A
histerese nada mais é do que a mudança automática do nível de comparação logo após uma
comparação bem-sucedida, criando uma região, ao redor do ponto de comparação, onde o ruído
existente sobre o sinal não consegue afetar a saída do comparador. Para isso são criados dois
níveis diferentes de comparação, comutados entre si automaticamente, para que o ruído não
interfira na comparação. Quando o nível mais baixo do limiar de comparação está ativo, por
exemplo, o nível mais alto esta desligado. Se um sinal vencer este nível mais baixo de comparação,
então o nível de comparação é modificado para o nível mais alto impedindo que o ruído comute o
comparador novamente.

Alguns comparadores já possuem histerese internamente, mas, caso necessário, esta


característica pode ser facilmente implementada com uma malha de realimentação positiva
(Figura 10.13). O comparador de nível, agora imune a ruído, fornece informação com uma pequena
defasagem com relação ao sinal real, mas com muito menos problemas de ruído (Figura 10.14).

Figura 10.13: Comparador com histerese.

Para que o nível de comparação seja alterado automaticamente ele é escolhido em função
da tensão de saída. Para o circuito da Figura 10.13 os níveis de comparação são

Vcc⋅R 2
P 1= (13.4)
(R 1 + R 2 )

−Vcc⋅R 2
P 2= (13.5)
(R 1 + R 2 )

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 209


e o gráfico da histerese correspondente pode ser visto na Figura 10.15.

Figura 10.14: Simulação dos comparadores de nível com e sem histerese na presença de ruído:
v(o1) é a saída do comparador com histerese com R1=3·R2, e v(o2) é a saída do comparador
simples.

Figura 10.15: Saída do comparador com histerese em função do sinal de entrada. Simulação com
R1=3·R2.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 210


14 Retificadores de precisão e detectores de pico

Um circuito retificador convencional, construído com diodos, como mostrado na Figura


1.1, produz uma queda de tensão na onda retificada devido à tensão de polarização do diodo no
sentido direto. Para sinais muito pequenos (menores que a queda de tensão direta do diodo) a
retificação se torna impossível. Além disto o diodo não tem um comportamento linear mesmo na
região de condução. Então, mesmo que o sinal tenha amplitude suficiente para fazer o diodo
conduzir, haverá uma distorção no sinal de saída.

Figura 1.1: Retificador de meia onda convencional.

Para resolver este tipo de problema foram criados circuitos retificadores ativos, a base de
amplificadores operacionais. A vantagem destes circuitos é que todas as deficiências do diodo são
compensadas pelo AO sendo possível montar um circuito com características bem próximas da
ideal. Para mais detalhes de cálculo e escolha dos componentes leia Op Amp Rectifiers, Peak
Detectors and Clamps da Microchip.

14.1 Retificador de ½ onda

O retificador de meia onda inversor é apresentado na Figura 1.2. Para um sinal negativo na
entrada (vi) o diodo conectado entre a saída do circuito e a saída do AO (D2) está diretamente
polarizado, fechando a malha de realimentação negativa através do resistor. A queda de tensão
sobre o diodo, o que inclui todas as suas não linearidades, é compensada na saída do AO. Para
tensões de entrada de valores positivos o diodo que está diretamente polarizado é aquele que
realimenta o AO (D1) de forma a transformá-lo em um buffer. Neste caso como o outro diodo (D2)
está cortado, a saída do circuito é nula. Para reduzir problemas com as correntes de polarização do
operacional é possível inserir um resistor na entrada positiva com valor R/2. As formas de onda na
saída do circuito e na saída do AO são apresentadas na Figura 1.3.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 211


Figura 1.2: Retificador de meia onda, inversor, de precisão.

Figura 1.3: Formas de onda do retificador de meia onda de precisão. A entrada é senoidal, a saída
do AO apresenta degraus e a saída do circuito apresenta apenas a entrada retificada.

Como o AO demora para sair da saturação e possui um slew rate finito, o tempo de descida
ou subida no semiciclo negativo é maior que zero. Colocando o diodo de realimentação (D1) o
operacional não estará saturado em -VCC durante o semiciclo positivo da onda de entrada e
portanto será muito mais rápido para acompanhar o sinal vi.

14.2 Retificador de onda completa

Três exemplos de retificadores de onda completa são apresentados na sequência.

No primeiro circuito (Figura 1.4) um retificador de meia onda inversor é conectado na


entrada de um somador inversor. Quando a entrada do circuito é negativa o somador soma a
tensão de entrada com o dobro da tensão na saída do retificador. Como resultado a saída tem a
mesma amplitude e a mesma polaridade da tensão de entrada. Quando a entrada do circuito é
positiva, o retificador de meia onda fornece saída nula e o sinal de entrada é amplificado uma vez
pelo somador. Como resultado a saída inverte de polaridade. As formas de onda na entrada e saída
do circuito são apresentadas na Figura 1.5.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 212


Figura 1.4: Retificador de onda completa, inversor, de precisão.

Figura 1.5: Formas de onda para o retificador de onda completa, inversor, de precisão.

No segundo exemplo (Figura 1.6) o retificador de meia onda é novamente utilizado.


Quando a entrada é positiva, a saída do retificador é nula e o circuito de buffer, em baixo,
realimentado pelo resistor R e D4, é responsável por fazer com que a saída seja positiva. Quando a
tensão de entrada é negativa a saída do retificador é positiva e está conectada diretamente sobre a
saída. A saída do buffer, em baixo, está aberta e a resistência R impede que a tensão negativa em
sua entrada inversora se propague para a saída do circuito. Como resultado a saída do retificador é
positiva. As formas de onda de entrada e saída são apresentadas na Figura 1.7.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 213


Figura 1.6: Retificador de onda completa, não inversor, de precisão.

Figura 1.7: Formas de onda para os retificador de onda completa, não inversores, de precisão.

O terceiro exemplo, mostrado na Figura 1.8 utiliza o retificador de meia onda conectado a
entrada de um amplificador subtrator. Este circuito apresenta como característica favorável o fato
de apresentar elevada impedância de entrada. Para tensões de entrada negativas o retificador de
meia onda e o sinal de entrada aparece multiplicado por dois no anodo de D6. Nesta situação o
segundo amplificador multiplica esta tensão por -2 e a entrada vi por 3. O resultado é que o sinal
de entrada aparece invertido na saída do segundo operacional ( vo=−2⋅2⋅vi +3⋅vi ). Quando a
entrada é positiva a tensão no catodo de D5 é uma cópia da tensão de entrada e neste caso a saída
é positiva e com a mesma amplitude da entrada ( vo=−1⋅vi +2⋅vi ).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 214


Figura 1.8: Retificador de onda completa, não inversor, de precisão.

14.3 Detetor de pico

O detetor de pico é um circuito bem simples que pode ser implementado conforme
mostrado na Figura 1.9. Neste circuito, sempre que a tensão de entrada for maior que a tensão
sobre o capacitor, o diodo conduz e o capacitor se carrega com o valor presente na entrada. São
dois os inconvenientes desta configuração: 1) a queda de tensão no diodo (impede o uso com
sinais de baixa amplitude) e 2) o fato de não haver como reinicializar o circuito com uma tensão
baixa no capacitor.

Figura 1.9: Circuito do detetor de pico e gráfico exemplificando seu funcionamento.

Para solucionar o primeiro problema podemos usar detetores de pico ativos como os
mostrados na Figura 1.10. O detetor ativo emprega dois amplificadores operacionais, um para
substituir o diodo e outro para evitar que a carga descarregue o capacitor. O segundo AO deve ter
baixa corrente de polarização e as duas realimentações ajudam a compensar perdas e acumulo de
erros. O resistor R e o diodo D servem para reduzir as correntes de fuga que podem descarregar
C1. Quando D2 está cortado R traz para o anodo de D a tensão vo (igual a vC1), mantendo o diodo D
com tensão nula sobre ele, porém cortado e sem corrente de fuga. Para o segundo problema
podemos usar uma chave analógica para descarregar o capacitor quando desejarmos ou um
resistor em paralelo com o capacitor, o que confere um efeito de memória ou filtro ao detetor.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 215


Figura 1.10: Circuito do detetor de pico ativo: Topologia básica e prática respectivamente.

14.4 Sobre a escolha dos diodos

Tanto para os retificadores quanto para os detetores de pico a escolha dos diodos é
importante. Todo o diodo apresenta características não lineares e capacitâncias parasitas que
interagem com o restante do circuito e limitam a frequência de operação do mesmo. Efeitos
estranhos devido a distorção harmônica podem ocorrer principalmente em altas frequências. Para
a maioria das aplicações diodos de sinal como o 1N4148 é suficiente. Quando o offset e a corrente
de leakage tornarem-se importantes é possível construir um diodo curto-circuitando dreno e fonte
de transistores FET como o 2N4117A. Em aplicações onde a velocidade é mais importante talvez
seja necessário recorrer a diodos rápidos como o Schottky.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 216


15 Integradores e derivadores

15.1 Integrador

O circuito do amplificador integrador é mostrado na figura abaixo. O capacitor é utilizado


para integrar corrente e o resistor é utilizado para transformar a tensão de entrada em corrente.
Desta forma a saída do circuito será proporcional a integral da tensão de entrada.

Figura 12.1: Circuito integrador básico.

Resolvendo o problema pelo domínio do tempo

vi – v–
i= (15.1)
R1

1
v – – v o= ⋅∫ i dt (15.2)
C1

1
v – – v o= ⋅∫ (v i −v – )dt (15.3)
R 1⋅C 1

como v – =0.

1
v o (t )=− ⋅∫ v i (t )⋅dt (15.4)
R 1⋅C 1

Resolvendo o problema pelo domínio da frequência

1
vo (S ) C ⋅S (15.5)
=− 1
vi (S ) R1

1 1
v o (S )=− ⋅v i (S )⋅ (15.6)
R 1⋅C 1 S

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 217


1
v o (t )=− ⋅∫ v i (t )⋅dt (15.7)
R 1⋅C 1

Exemplo: Qual a forma de onda na saída de um integrador com R1=10 kW e C1=0,1 mF


quando a excitação deste circuito é uma onda quadrada com período de 1  ms (supor que a onda
inicie em -5 V por 0,25 ms, mude para 5 V por 0,5 ms, retorne a -5 V por 0,5 ms e assim por
diante).

Neste exemplo o sinal de entrada vi é constante em determinados intervalos de tempo.


Dentro de cada intervalo, a expressão da saída vo é

1 vi vi
vo=− ⋅∫ vi dt =− ⋅(t final – t inicial )=− ⋅Δ t
R 1⋅C 1 R 1⋅C 1 R 1⋅C 1

Para o primeiro intervalo, com Dt=0,25 ms voMÁX=1,25 V. Para os intervalos subsequentes,


com Dt=0,5 ms, voMÁX=2,5V. O gráfico a seguir mostra as formas de onda.

15.1.1 Integrador prático


Se levarmos em consideração IB e VOS do AO o amplificador integrador pode ser modelado
como mostra a Figura abaixo.

Figura 12.2: Circuito integrador básico. Vos é a tensão de offset e IB a corrente de polarização.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 218


1 1 1
v o =− ⋅∫ v i dt + ⋅∫ v OS dt + ⋅∫ I B dt +V OS (15.8)
R 1⋅C 1 R 1⋅C 1 C

Teoricamente o ganho do integrador para frequência zero tende a infinito. Desta forma os
efeitos de IB e VOS impedem que a integração seja feita por longos períodos de tempo, pois nestas
condições o AO satura. Podemos minimizar este problema usando AO com entrada FET, que
reduzem a corrente IB. Uma alternativa é apresentada no circuito abaixo. A inserção de R2 diminui
o ganho DC do integrador para

vo R2
=− (15.9)
vi R1

Isto reduz sensivelmente a contribuição final de Vos na saída do integrador de ∞ para

R2
vo( V OS )= ⋅|V | (15.10)
R 1 OS

Figura 12.3: Circuito integrador com perdas.

Para minimizar os erros com IB neste novo circuito podemos usar as técnicas já estudadas
inserindo um resistor entre terra e a entrada não inversora do AO

R2
R 3= (15.11)
R1

1
assim ficamos com erro reduzido a ⋅∫ I OS⋅dt
C1

Altenativamente podemos equacionar o circuito pelo domínio frequência

1
// R 2
vo C 1⋅S R 1 (15.12)
=− =− 2⋅
vi R1 R 1 R 2⋅C 1⋅S + 1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 219


Como podemos ver no desenho abaixo, o integrador com R2 só possui comportamento
semelhante ao do integrador ideal para frequências acima de (R2·C1)-1 rad/s. A diferença entre a
reta do integrador puro e com R2 deve-se apenas a diferença de ganhos nas curvas desenhadas. Se
aumentarmos o ganho do integrador puro, sua curva subirá até coincidir com a reta inclinada do
circuito integrador com R2. Isto significa que esta é a região de integração, antes disso este circuito
apresenta apenas características de ganho.

Para termos um a precisão de pelo menos 5% a frequência de operação do circuito é dada


por:

3
f operação = (15.13)
2⋅π⋅R 2⋅C 1

Figura 12.4: Curvas de resposta em frequência do integrador puro e do integrador com perdas.

Quando a frequência de operação aumenta, aumenta também a precisão do circuito, pois a


reatância de C1 diminui e a influência de R2 no circuito também.

Uma aplicação muito comum para o integrador com perdas consiste no cálculo do valor
médio da tensão de entrada. A média da tensão na saída do integrador com perdas corresponde a
média da tensão de entrada multiplicada pelo ganho CC do circuito.

Exemplo: O circuito da figura a seguir foi simulado com excitação de frequências 200 Hz e
2 kHz, ambas com formato senoidal de amplitude unitária e 1 V de offset. Qual a tensão de saída
para cada uma destas exitações?

O ganho do circuito para DC (valor médio)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 220


v o −R 1
Av = =
vi R3

v o 500
Av = = =10
v i 50

A frequência de corte do polo do integrador com perdas é

1 1 1
p 1= = = =200 rad/s
R 1⋅C 1 500 k⋅0,01μ F 0,005

200
p 1= =31,8 Hz
2⋅π

Como as duas frequências de excitação estão bem acima da frequência de corte do


integrador o circuito funciona como um integrador com perdas.

v o =Av⋅v i

Tempo de estabilização

1 5
t =5⋅τ=5⋅ = =0,025 s
p 1 200

Ripple para 200 Hz:

vo
vi
R
=− 2⋅
1
R 1 R 2⋅C⋅S +1 | s =1256 rad/s

vo
=1,37 V p =2,74 V pp
vi

Ripple para 2.000 Hz:

vo
vi
R
=− 2⋅
1
R 1 R 2⋅C⋅S +1 |
s =12560 rad/s

vo
=0,15V pico =0,30 V pp
vi

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 221


15.2 Derivador

O circuito do derivador é apresentado na Figura 12.5. A corrente no capacitor é


determinada pela variação de tensão sobre ele. Esta corrente, ao passar por R1 produz na saída do
circuito uma tensão proporcional a derivada da tensão de entrada.

Pelo domínio do tempo temos que

dv
i C =C 1⋅ C (15.14)
dt

v C =v i (15.15)

dv
i C =C 1⋅ i (15.16)
dt

v o =−R 1⋅i C (15.17)

dv
v o =−R 1⋅C 1⋅ i (15.18)
dt

Figura 12.5: Circuito derivador.

Pelo domínio da frequência a solução seria

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 222


v o( S ) R1
=−
v i (S ) 1 (15.19)
C 1⋅S

v o (S )=−R 1⋅C 1⋅v i (S )⋅S (15.20)

dv
v o =−R 1⋅C 1⋅ i (15.21)
dt

Exemplo: Desenhe a forma de onda de saída de um derivador com R1=10 kW e C1=0,1 mF.


Considere a entrada uma onda triangular com período de 1 ms, inciando em zero, subindo até
1,25 V em 0,25 ms e descendo até -1,25 V em mais 0,5 ms.

dv
dt
V
(
v o =−R 1⋅C 1⋅ i =−R 1⋅C 1⋅ final
−V inicial
t final −t inicial )
Para um Dt=0,25 ms e um Dv=1,25 V, vo=–5 V. Para Dt=0,5 ms e um Dv=2,5 V, vo=+5 V.
15.2.1 Derivador prático
Teoricamente, em altas frequências o ganho do derivador tende a ∞ . Isto torna o
derivador muito sujeito a ruídos e problemas de estabilidade. Na prática, este circuito sem polos é
impossível de ser realizado, pois o capacitor e o AO ideal não existem. Mesmo assim, com os polos
que o capacitor e o AO real inserem no circuito, a faixa de operação deste circuito continua sendo
muito ampla e os problemas de ruído e instabilidade não desaparecem. Os derivadores práticos
utilizam um limitador de ganho em altas frequências como mostrado na Figura 12.6.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 223


Figura 12.6: Resposta em frequência do AO e dos derivadores ideal e prático.

Esta redução de ganho em altas frequências pode ser obtida pela inserção de um resistor R2
ao circuito original, tal como indicado na Figura 12.7.

Figura 12.7: Derivador prático.

O ganho em altas frequências pode ser calculado da seguinte maneira

v o −R 2
= (15.22)
v i R2

ω p=R 2⋅C 1 (15.23)

Altenativamente podemos equacionar o circuito pelo domínio frequência

vo −R 1 C 1⋅S R S
= =−R 1⋅ =− 1⋅
vi 1 R 2⋅C 1⋅S +1 R2 1 (15.24)
+R 2 S+
C 1⋅S R 2⋅C 1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 224


16 Conversor logarítmico e antilogarítmico

16.1 Introdução

A tensão VBE do transistor bipolar de silício é uma função logarítmica da corrente de


coletor, para correntes na faixa de valores que vão desde poucos pico amperes até poucos
miliamperes. Essa característica do transistor é utilizada na construção de conversores
logarítmicos e antilogarítmicos, que possibilitam executar muitas funções úteis, tais como: 1)
operações matemáticas (multiplicação, divisão, raiz quadrada…); 2) transmissão de informação; 3)
compressão e descompressão de sinais analógicos (a operação logaritmo reduz valores elevados e
amplifica os pequenos permitindo o máximo aproveitamento da faixa de amplitudes, por exemplo,
um conversor analógico digital de 12 bits precedido de um amplificador logaritmo apresenta uma
faixa dinâmica equivalente à de um conversor de 20 bits, porém não linear); 4) medidores de
intensidade (sonora, luminosa…) e absorção luminosa.

Os modelos de conversores logarítmicos que serão apresentados utilizam transistores. Na


maioria dos exemplos os transistores precisam ser perfeitamente casados. Isto pode ser obtido
com arrays de transistores integrados como o LM394 ou o LM3046. Alternativamente estão
disponíveis circuitos que implementam um conversor deste tipo e que requerem apenas alguns
resistores e capacitores externos. Exemplos são o LOG102, LOG112, LOG2112.

16.2 Modelo de Ebers Moll do transístor NPN

Quando se trabalha com pequenos sinais se utiliza um modelo linear do transistor


conhecido como modelo de pequenos sinais, ou modelo pi ou modelo pi-híbrido, porém quando se
trabalha com sinais elevados ou quando a linearização não é desejada, é mais conveniente utilizar
o modelo de Ebers Moll (Figura 13.1) de forma que fiquem explícitas as relações não lineares entre
correntes e tensão.

Figura 13.1: Modelo de Ebers Moll do TJB NPN.

As equações do modelo de Ebers Moll, considerando a tensão térmica V T = K⋅T ⋅q−1 , são

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 225


I C =αF⋅I ED −I CD (16.1)

I ED=I ES⋅(e V −1 )
/V T
BE
(16.2)

I CD =I CS⋅( e V BC /V T
−1 ) (16.3)

I C =αF⋅I ES⋅( eV −1 )−I CS⋅( e V −1 )


/VT /V T
BE CB
(16.4)

I E =I ED −α R⋅I CD (16.5)

I E =I ES⋅( e V −1 )−α R⋅I CS⋅( e V −1 )


/VT /VT
BE CB
(16.6)

onde IES e ICS são correntes reversas de saturação (da ordem de 10 - 11 A); αF é o ganho direto (da
ordem de 0,99 a 0,999); αR é o ganho reverso (da ordem de 0,01 a 0,001); m é uma constante
empírica (depende do tipo de transistor: Ge=1 e Si=2); K é a constante de Boltzman (1,381·10- 23 J/
K); T é temperatura absoluta (Kelvin); q é a carga do elétron (1,602·10- 19 C)

16.3 Conversor logarítmico

Com as relações exponenciais entre as tensões e as correntes dos transistores é possível


implementar um conversor logarítmico. A Figura 13.2 mostra o circuito básico para
implementação do amplificador logarítmico. Para seu perfeito funcionamento é necessário que
vi>0, mas para se obter melhores resultados 100·IB<IC<10 mA. Com o uso do transistor na
realimentação a aproximação do modelo de Ebers Moll é válida por umas 9 decadas

Figura 13.2: Circuito básico para o amplificador logarítmico.

vi
=α F⋅I ES⋅(e −1 )−I CS⋅( e −1 )
V /V T −V CB / V T
iC = BE
(16.7)
Ri

vi
=α F⋅I ES⋅( e −1 )−I CS⋅( e −1 )
−vo /V 0 T
(16.8)
Ri

que pode ser aproximado para

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 226


vi
=α F⋅I ES⋅e−vo / V T
(16.9)
Ri

pois

q⋅V BE 1,602⋅10−19⋅0,7
=
m⋅K⋅T 1⋅1, 381⋅10−23⋅300
=27 , 07 (16.10)

e e V / V >>1 . Esta aproximação implica em erros que podem ser estimados facilmente. Por
BE T

exemplo, para VBE=100 mV o erro é de +2,1% e para VBE=200 mV o erro é de +0,04%.

Isolando vo na equação 16.9, obtêm-se

v o =−V T⋅ln
( vi
R i⋅α F⋅I ES ) (16.11)

v o =−k 1⋅ln
() vi
k2
(16.12)

onde k 1=V T e k 2 =R i⋅α F⋅I ES . Esta relação logarítmica entre a corrente de coletor e a tensão de
saída é válida por 9 décadas da corrente IC. Na prática, entretanto, a topologia apresentada na
Figura 13.2 é muito suscetível a variações de temperatura, e uma faixa de variação de IC muito
menor é conseguida. Mesmo após todas as compensações possíveis (Figura 13.3) apenas 6 décadas
costumam ser viáveis para esta aplicação. Na equação 16.11 as dependências com a temperatura
são:

K⋅T
VT= (16.13)
q

I ES =B⋅T 3⋅e −V /VT


G
(16.14)

onde VG é uma tensão dependente da tensão de gap do transistor (o chamado potencial de Band-
Goy – da ordem de 1,11 V) e B é uma constante dependente dos níveis de dopagem e da geometria
utilizada na confecção do transistor. Desta forma, para uma corrente de emissor constante, IES
dobra a cada 10 Kelvin, ou seja, para uma variação de temperatura de 100  ℃ IES aumenta 1.000
vezes. Por esta razão este circuito simples não costuma ser usado. No circuito da Figura 13.3, o
transistor Q3 injeta uma corrente IREF na base de Q2. D1, D2, Cc e Rc são utilizados apenas para
proteção dos transistores e compensação em frequência.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 227


Figura 13.3: Circuito amplificador logarítmico com compensação térmica. R(T) é um RTD.

Neste circuito V C 2 =V BE 2 – V BE 1 e I C 2≈I REF (considerando que o hfe de Q2 seja elevado e,


portanto, IB2=0), então

/V T
i C 2 ≈α F 2⋅I ES 2⋅eV BE 2
(16.15)

V BE 2 =V T 2⋅ln
( I REF
α F 2⋅I ES 2 ) (16.16)

como V BE 1=– v o 1

v o 1=−V T 1⋅ln
( vi
R i⋅α F 1⋅I ES 1 ) (16.17)

então

V C 2 =−V T 2⋅ln
( vi
R i⋅α F 1⋅I ES 1 )
+V T 2⋅ln
I REF
α F 2⋅I ES 2( ) (16.18)

Se os transistores forem iguais e estiverem próximos, então é possível considerar que


T 1=T 2=T , α F 1 =α F 2 =α F , I ES 1=I ES 2=I ES . Desta forma a equação 16.18se reduz a

V C 2 =−V T⋅ ln
[( vi
R i⋅α F⋅I ES
−ln
) ( )]
I REF
α F⋅I ES
(16.19)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 228


V C 2 =−V T⋅ln
( vi α ⋅I
⋅ F ES
R i⋅α F⋅I ES I REF ) (16.20)

V C 2 =−V T⋅ln
( vi
R i⋅I REF ) (16.21)

(
v o =v o 2 = 1+
R
R (T ) )
⋅V C 2 (16.22)

Desta forma o erro devido a IES fica eliminado e o erro devido a T é compensado no
amplificador de saída que tem o ganho variável com a temperatura. Os valores de R2 e R(T) podem
ser escolhidos de tal forma que a temperatura seja compensada em uma ampla faixa de valores
(normalmente entre -25 ℃ e +100 ℃). R(T) normalmente é um RTD com variação de 3.500 a
3.700 ppm/K. Erros de 1% ou menos são obtidos para uma faixa dinâmica de 6 décadas na corrente
IC.

Várias outras topologias são possíveis. Uma solução simples emprega dois amplificadores
logarítmicos (Figura 13.2) ligados a um amplificador subtrator. Este processo também elimina os
erros devidos as variações IES. A compensação de temperatura pode ser feita nos resistores de
entrada do subtrator, usando RTD com o mesmo coeficiente térmico usado no exemplo anterior.
Com esta topologia é possível usar a segunda entrada com uma corrente de referência ou como
outro sinal. Se um segundo sinal for utilizado o circuito calcula o logaritmo da razão entre os dois
sinais. Qualquer que seja a solução será sempre necessário usar transistores casados e na mesma
temperatura do resistor de compensação. O melhor desempenho costuma ser obtido com circuitos
integrados, mas resultados bastante satisfatórios podem ser obtidos com amplificadores
operacionais e transistores integrados. A resposta em frequência fica limitada aos ganhos, a faixa
de tensão de entrada, ao transistor, ao amplificador operacional e outras. Para o cálculo do
logaritmo em outra base basta ajustar o ganho da configuração. O uso de transistores PNP não é
comum, pois suas características construtivas são piores o que leva a erros maiores.

16.4 Conversor Antilogarítmico

A operação inversa do logaritmo também é possível de ser implementada. O circuito básico


é apresentado na Figura 13.4. Para o perfeito funcionamento do circuito a tensão de entrada deve
ser menor do que zero. Para que seja garantida a característica logarítmica do transistor devem ser
respeitadas as mesmas diretrizes mencionadas para os amplificadores logarítmicos.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 229


Figura 13.4: Circuito básico do amplificador exponencial ou antilogarítmico.

vo
iC = (16.23)
R

i C =α F⋅I ES⋅( e V −1) −I ES⋅( eV −1 )


/VT /V T
BE CB
(16.24)

i C =α F⋅I ES⋅( e vi /V −1 )−I ES⋅( e 0−1 )


T
(16.25)

vo
=α F⋅I ES ( e −vi /V T
) (16.26)
R

v o =R⋅α F⋅I ES⋅e−vi /V T


(16.27)

Novamente a saída é dependente da temperatura e circuitos especiais de compensação


devem ser implementados. Mais uma vez dois transistores são necessários para cancelar os efeitos
de IES e um RTD pode ser utilizados para cancelar os efeitos de VT.

Figura 13.5: Circuito do amplificador exponencial ou antilogarítmico com compensação


térmica.

v i⋅R 2
=v BE 1−v BE 2 (16.28)
R 1+ R 2

Considerando que V CB ≈0 para os dois transistores, iguais e na mesma temperatura, então

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 230


v i⋅R 2
R 1+ R 2 [(
=−V T⋅ ln
v 0 /R 0
α F 2⋅I ES 2 ) (
−ln
V REF /R 3
α F 1⋅I ES 1 )] (16.29)

v i⋅R 2
R 1+ R 2 (
R v
=−V T⋅ln 3⋅ 0
R 0 V REF ) (16.30)

R ⋅V
v 0 = 0 REF ⋅e

( ⋅
R2
R +R V
1 2
vi
T
) (16.31)
R3

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 231


17 Outras operações com circuitos analógicos

17.1 Multiplicação

Os multiplicadores são circuitos capazes de multiplicar duas ou mais entradas. Estes


circuitos estão sendo substituídos, com vantagens, por implementações digitais com circuitos
dedicados ou processadores de sinais. Apesar disto é comum encontrar multiplicadores analógicos
como parte de outros circuitos como os PLL e demoduladores ou na forma discreta em aplicações
de frequências elevadas, controle de ganho, amplificadores com ganho controlado por tensão,
osciladores com frequência controlada por tensão entre outros. Alguns exemplos comerciais de
multiplicadores são o AD834 e o AD633 da Analog Devices e o MPY634 da Texas Instruments.

O multiplicador analógico ideal tem impedância de entrada infinita, impedância de saída


nula e responde a todas as frequências indistintamente. O símbolo do multiplicador ideal é
apresentado na Figura 17.1 e sua função de transferência na equação 17.1.

Figura 17.1: Símbolo do multiplicador ideal.

x⋅y
v o= (17.1)
k

Os multiplicadores reais são alimentados, normalmente, por tensões de ±15 V e valores


típicos para x e y estão na faixa de ±10 V. O valor de k é escolhido de forma a não saturar a saída
do multiplicador. Normalmente k=10 (17.2) o que permite o produto dos maiores valore de x e y
simultaneamente sem saturar o multiplicador.

k=√ x MAX⋅y MAX =√ 10⋅10=10 (17.2)

O multiplicador real também apresenta uma série de erros que são causados por offsets e
não linearidades ().

(x +x OS )⋅(y +y OS )
v o =(1+k E )⋅ +v OS +h (x ,y ) (17.3)
10

onde: kE é o erro de ganho; h(x,y) são não linearidades (termos como x2, y2, x2y, xy2, …); xOS e yOS
correspondem a tensão de offset das entradas (multiplicadores reais apresentam uma saída
diferente de zero quando ao menos uma das entradas está em zero volts. Este valor na saída é
chamado de feed through); vOS é a tensão de offset na saída quando x=y=0.

Desenvolvendo-se a equação e desprezando alguns termos, temos

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 232


x⋅y k E⋅x⋅y x⋅y OS y⋅x OS
v o= + + + +v os +h (x , y ) (17.4)
10 10 10 10

a última parcela desta fórmula, representa não linearidades. Este termo pode ser quantizado se
deixarmos uma das entradas do multiplicador fixa e variarmos a tensão na outra entrada. Se
levantarmos a curva vo versus vi não teremos uma reta (resposta do multiplicador ideal). Uma
análise da equação 17.4 revela que, mesmo com os offsets e erros na variável k, a saída deveria ser
uma reta. Esta distorção é função de uma série de outros fatores que dependem do método
utilizado para a multiplicação e são agregados neste fator único. Além dos problemas com offset os
multiplicadores reais apresentam uma série de limitações CA como, settling time diferente de zero,
slew rate finito, frequência de corte finita, xOS e yOS em função da frequência, não linearidade em
função da frequência entre outros.
17.1.1 Multiplicador por transcondutância variável
O multiplicador de transcondutância variável pode ser implementado com OTAs ou com
transistores utilizando as características favoráveis do par diferencial. Circuitos muito simples,
entretanto, como o da Figura 17.2, apresentam problemas com variações de IE devido a tensão vY.
Estas variações causam uma grande excursão da tensão de modo comum de vo. No exemplo, a
tensão VBE do transistor da entrada vy foi desconsiderada, mas isso nem sempre pode ser feito. O
circuito multiplicador integrado mais comum é uma evolução do multiplicador apresentado e
emprega a chamada célula de Gilbert, onde mais de um par diferencial com acoplamento cruzado
são utilizados para melhorar o desempenho do multiplicador. Um bom material sobre o assunto
pode ser encontrado com facilidade no manual do já obsoleto MPY100 da Burr Brown e no
Tutorial Analog Multipliers da Analog Devices.

Figura 17.2: Multiplicador usando par diferencial.

Para o par diferencial, a tensão de saída corresponde a

v o =gm⋅R L⋅v x (17.5)

IE
v o= ⋅R ⋅v (17.6)
VT L x

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 233


vy
v o= ⋅R ⋅v (17.7)
R E⋅V T L x

RL
v o= ⋅v ⋅v (17.8)
R E⋅V T x y

onde VT é a tensão térmica.


17.1.2 Multiplicador com conversor logarítmico
Amplificadores logarítmicos combinados com circuitos antilogarítmicos, são uma
alternativa para a multiplicação de duas variáveis. O circuito da Figura 17.3 mostra como isso
pode ser realizado.

Figura 17.3: Circuito multiplicador com amplificador logarítmico.

V BE 1=v 1 =−V T 1⋅ln


( )v x / Rx
I ES 1
(17.9)

V BE 2 =v 1 −v 2 =V T 2⋅ln
( )
v y / Ry
I ES 2
(17.10)

V BE 3=v 3 =−V T 3⋅ln


( )v z /R z
I ES 3
(17.11)

V BE 4 =v 3−v 2 =V T 4⋅ln
( )
v o /R o
I ES 4
(17.12)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 234


Subtraindo-se 17.9 de 17.11 e considerando que todos os transistores estão na mesma
temperatura

v 3−v 1=−V T 3⋅ln


( )
v z /R z
I ES 3
+V T 1⋅ln
( )
v x / Rx
I ES 1
(17.13)

v 3−v 1=V T⋅ln


( )
v x /R x
v z /R z
(17.14)

Subtraindo-se 17.10 de 17.12 e considerando que todos os transistores estão na mesma


temperatura

v 3−v 1=V T 4⋅ln


( )
v o /R o
I ES 4
−V T 2⋅ln
( )
v y /R y
I ES 2
(17.15)

v 3−v 1=V T⋅ln


( )
v o /R o
v y /R y
(17.16)

Igualando 17.14 e 17.16

( )( )
v x/ Rx
v z / Rz
v /R
= o o
v y /R y
(17.17)

v x⋅v y R o⋅R z
v o= ⋅ (17.18)
v z R x⋅R y

Se todas as resistências têm o mesmo valor e vZ=10 V então

v x⋅v y
v o= (17.19)
10

O multiplicador logarítmico, entretanto, só multiplica sinais do terceiro quadrante (as duas


entradas devem ser negativas). Para obter um multiplicador de 4 quadrantes a partir do
multiplicador logarítmico apresentado, podemos utilizar o circuito da Figura 17.4.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 235


Figura 17.4: Multiplicador logarítmico de quatro quadrantes.

x =10−v x (17.20)

y =10−v y (17.21)

A saída do multiplicador é

x⋅y 1 v ⋅v
= ⋅(100 – 10⋅v x – 10⋅v y +v x⋅v y )= x y + 10−v x−v y (17.22)
10 10 10

Último estágio do circuito é um somador que adiciona –10V, vX e vY a saída do


multiplicador, de forma que

v x⋅v y
v o= (17.23)
10

17.2 Divisão

Um divisor analógico pode ser obtido a partir de um multiplicador conforme apresentado


no circuito da Figura 17.5.

Figura 17.5: Circuito divisor.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 236


v x⋅v o
10 −v (17.24)
= y
R R

v x⋅v o
=−v y (17.25)
10

v
v o =−10⋅ y (17.26)
vx

17.2.1 Raiz quadrada


Um extrator de raiz quadrada pode ser implementado a partir do circuito multiplicador
conforme apresentado na Figura 17.6.

Figura 17.6: Circuitos para o cálculo da raiz quadrada.

Para o circuito da esquerda, a tensão de entrada deve ser negativa pois

v 2o −v x
= (17.27)
10⋅R R

v 2o =−10⋅v x (17.28)

v o =√ −10⋅v x (17.29)

Para o circuito da direita, que funciona com tensões de entrada positivas

v
v o =10⋅ x (17.30)
vo

v o =√ 10⋅v x (17.31)
17.2.2 Circuito conversor RMS-DC
Um conversor dito explícito de valor RMS para DC pode ser obtido pelo circuito da Figura
17.7 superior. Para o circuito da Figura 17.7 inferior o conversor é dito implícito.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 237


Figura 17.7: Circuitos para o cálculo de valor eficaz.

Para o conversor explícito


T
1
v oRMS = ⋅∫ v 2x (t )⋅dt (17.32)
T 0

Para o conversor implícito

1 v 2x
R⋅C ∫ v o
v oRMS =− ⋅ − ⋅dt (17.33)

Para o funcionamento do circuito acima é necessário que o AO esteja funcionando como


um integrador. Se isto acontecer a tensão eficaz, que é a tensão de saída deste circuito, é um valor
constante e pode ser retirada da integral.

1
v 2o = ⋅∫ v 2x⋅dt v 2O =
1
R⋅C ∫ X
⋅ v 2 ⋅dt (17.34)
R⋅C

v o=
√ 1
R⋅C
⋅∫ v 2x⋅dt (17.35)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 238


18 Geradores de função

18.1 Introdução

Geradores de função são circuitos capazes de gerar formas de onda de tensão


(normalmente) em formatos variados e com baixa amplitude e potência. As formas de onda mais
comuns, disponíveis em quase todos os geradores são a senoidal, a triangular e a retangular.
Minimamente cada uma destas formas de onda tem aplicação na verificação de resposta em
frequência, linearidade e resposta transitória respectivamente. Além destas, também são comuns
os pulsos, rampas, salvas (burst) e composição de funções. Em instrumentação estas formas de
onda encontram várias outras aplicações como a excitação de sensores, o sincronismo de sinais,
disparo de eventos e outros.

Existem integrados prontos para geradores de função. Exemplos são o MAX038, o ICL8038
e o XR2206. Estes integrados estão todos obsoletos. Um dos poucos circuitos que sobraram para
esta função foi o NTE864. Novos circuitos para estas funções utilizam técnicas digitais para a
geração de formas de onda assim como o AD5932 e o AD9833.

18.2 Osciladores harmônicos

Os osciladores harmônicos são circuitos lineares que produzem senoides com baixa
distorção harmônica. Para que eles funcionem é necessário que os polos da função de
transferência estejam sobre o eixo jω. Quando isto acontece a solução para a equação diferencial
que rege o circuito apresenta como solução uma senoide não amortecida. A teoria de sistemas
lineares diz que um sistema realimentado pode oscilar e a condição fundamental para que isto
ocorra é que o ganho de malha seja igual a -1180o, ou seja, haja uma rotação de fase de 360o. Os
osciladores mais comuns nesta categoria são os de deslocamento de fase, Hartley e Colpitts que
apresentam um giro completo de fase ou aqueles formados por sistemas com avanço e atraso de
fase como os osciladores em ponte de Wien e Sallen-Key.

Quando tentamos variar a frequência de oscilação de um oscilador harmônico o ganho de


malha frequentemente é afetado, e como consequência ele pode parar de oscilar ou distorcer o
sinal gerado. Para corrigir este problema é possível empregar um controle automático de ganho
(CAG). O CAG pode ser construído com circuitos a base de diodos para alterar o ganho do
amplificador em função da amplitude da onda ou com circuitos onde uma tensão pode ser
controlada por outra, como nos multiplicadores ou OTA.

18.3 Osciladores não harmônicos

Osciladores não harmônicos são aqueles onde técnicas não lineares são empregadas para
produzir uma oscilação. Os modelos apresentados neste capítulo empregam comparadores e
integradores para gerar ondas quadradas e triangulares como apresentado no diagrama de blocos
da Figura 1.1. A saída de um comparador com histerese é entrada para um circuito integrador,
responsável por alterar a tensão de entrada do comparador, fazendo-o trocar de estado. Para
produzir sinais senoidais a saída triangular é distorcida por circuitos conformadores. A distorção

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 239


harmônica total é maior que no caso dos geradores harmônicos, mas o controle da forma de onda
(amplitude e frequência) é bem mais simples. Outras alternativas apresentadas são os PLL lineares
e os sintetizadores digitais.

Figura 1.1: Diagrama esquemático de um oscilador não harmônico.


18.3.1 Gerador de onda retangular
Um dos geradores de onda retangular mais simples é apresentado na Figura 1.2. A saída de
um comparador com histerese é usada para carregar um capacitor e disparar o comparador para o
seu outro estado estável.

Figura 1.2: Gerador de onda quadrada.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 240


Figura 1.3: Formas de onda do gerador de onda quadrada da Figura 1.2. Para este exemplo foram
usados os seguintes valores de componentes: R=10 kΩ, C=0,1 uF, R1=5 kΩ, R2=10 kΩ, Vcc=15 V.
VH e VL são as tensões de comparação. Vom é a tensão máxima de saída.

Para calcular a frequência de oscilação do circuito basta determinar o tempo necessário até
que o capacitor se carregue com cada uma das tensões de comparação. O integrador deste circuito
apresenta perdas e a onda obtida sobre o capacitor não é perfeitamente triangular. Quando menor
for a histerese mais triangular será a onda sobre o capacitor.

R1
V H =V OM⋅ (18.1)
R 1+ R 2

R1
V LH =−V OM⋅ (18.2)
R 1 +R 2

Como

v C (t )=v 0 + ( v ∞ −v 0 )⋅( 1−e −t / τ ) (18.3)

onde τ é a constante de tempo, vo a tensão inicial e v∞ a tensão final no capacitor (supondo que ele
pudesse se carregar eternamente). Então, o tempo para carregar o capacitor com vF é

T =−τ⋅ln
( v∞ – v F
v∞ – v0 ) (18.4)

Aplicando isto ao problema e considerando o início da oscilação com a menor tensão sobre
o capacitor, podemos calcular o tempo de carga do capacitor (T1)

v ∞ =V OM (18.5)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 241


R1
v 0 =−V OM⋅ (18.6)
R 1 +R 2

R1
v F =V OM⋅ (18.7)
R 1 +R 2

( )
R1
1−
R 1+ R 2
T 1 =−τ⋅ln (18.8)
R1
1+
R 1+ R 2

T 1=−τ⋅ln
( R2
2⋅R 1 + R 2 ) (18.9)

T 1=τ⋅ln
( 2⋅R 1
R2
+1
) (18.10)

e como o tempo de descarga (T2) é igual, pois o sistema é simétrico

T =2⋅R⋅C⋅ln
( 2⋅R 1
R2
+1
) (18.11)

18.3.2 Gerador de onda triangular


Um gerador de onda triangular com a mesma topologia apresentada anteriormente pode
ser obtido se o integrador for melhorado, conforme apresentado na Figura 1.4.

Figura 1.4: Gerador de ondas quadrada e triangular.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 242


Figura 1.5: Formas de onda do gerador de ondas quadrada e triangular da Figura 1.4. Esta
simulação foi realizada com os seguintes valores de componentes: Ra=Rb=10 kΩ, Da=Db=1N4148,
C=0,1 uF, R1=5 kΩ, R2=10 kΩ, Rz=1 kΩ, Vz=6,2 V. VH e VL são os níveis de comparação.

O cálculo do circuito continua sendo realizado da mesma forma. É necessário determinar


as equações de carga e descarga do capacitor e as tensões de comparação. As equações podem ser
escritas para cada trecho da onda triangular separadamente.

1
v oTRI (t )=−v oQUA⋅ ⋅t +v oTRI (t 0 ) (18.12)
R a ,b⋅C

A saída do comparador se altera quando v+=0, e como

+ v oQUA⋅R 1+v oTRI⋅R 2


v = (18.13)
R 1+ R 2

então a comparação ocorre quando

R1
v oTRI =−v oQUA⋅ (18.14)
R2

onde

v oQUA =v Z +0,7 (18.15)

Assim, levando em conta que o capacitor inicia o ciclo carregado com seu menor valor, a
equação 18.12 pode ser reescrita para encontrarmos o tempo de carga do capacitor (T1)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 243


R1 1 R1
+v oQUA⋅ =v oQUA⋅ ⋅T 1 −v oQUA⋅ (18.16)
R2 R a⋅C R2

e o tempo para a carga do capacitor é

2⋅R 1
T 1= ⋅R ⋅C (18.17)
R2 a

Considerando que R=Ra=Rb, então T1=T2 e o período total da onda (T) é calculado como

4⋅R 1⋅R⋅C
T= (18.18)
R2

Algumas alterações simples podem ser feitas neste circuito permitindo o controle de
diversos parâmetros da onda. Alterações em Ra ou Rb alteram o duty cycle e a frequência da onda.
Para alterar apenas a frequência, sem modificar o duty cycle, é possível usar o circuito da Figura
1.6.

Figura 1.6: Controle da frequência do gerador de ondas quadrada e triangular.

Considerando que R≪PR (ou usando um buffer para isolar os estágios)

v oQUA ' =x⋅v oQUA (18.19)

onde 0≤x≤1, então o tempo de carga do capacitor pode ser recalculado como

R1 1 R1
+v oQUA⋅ =x⋅v oQUA⋅ ⋅T 1−v oQUA⋅ (18.20)
R2 R⋅C R2

2⋅R 1 R⋅C
T 1= ⋅ (18.21)
R2 x

Desta forma o período total depende do recíproco de x

4⋅R 1⋅R⋅C
T 1= (18.22)
R 2⋅x

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 244


Um OTA ou um multiplicador também podem ser utilizados para controlar a frequência do
oscilador em função de uma corrente ou tensão de entrada. Neste caso o circuito transforma-se
num oscilador controlado por tensão ou VCO. A Figura 1.7 mostra um exemplo com OTA.

Figura 1.7: Gerador de ondas quadrada e triangular usando OTA.

O equacionamento do problema é muito semelhante ao anterior porém a corrente


integrada pelo capacitor depende da tensão na entrada e da transcondutância do OTA. A
transcondutância pode ser controlada pela corrente de polarização IB. O integrado CA3086, por
exemplo, permite variar a transcondutância linearmente ao longo de 3 décadas (1.000 vezes) pela
simples alteração do valor de IB. Isto permite fazer um VCO de 10 Hz até 10 kHz sem nenhuma
outra alteração no circuito.
18.3.3 Gerador de rampa ou dente de serra
Rampas podem ser geradas com o uso de uma chave controlada por tensão (transistor)
para curto-circuitar o capacitor do integrador toda vez que a tensão de comparação for atingida.
Este curto circuito faz com que o tempo de descarga seja quase zero. Um exemplo pode ser visto
na Figura 1.8.

Figura 1.8: Gerador de onda dente de serra.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 245


Figura 1.9: Formas de onda do gerador de onda dente de serra. Para esta simulação foram usados
os seguintes valores para os componentes: R1=5 kΩ, R2=10 kΩ, Vref2=6 V, Vref1=-1 V, R=10 kΩ,
C=0,1 uF, VCC=10 V, ChaveOn=200 Ω, ChaveOff=1 MΩ.

Neste exemplo a chave fecha quando a tensão da onda quadrada é negativa.

1
v subida =v REF 1⋅ ⋅t (18.23)
R⋅C

−t / ( R chON⋅C )
v descida=v REF 2⋅e (18.24)

Uma outra possibilidade é mostrada na Figura 1.10. Note que este circuito também
apresenta uma chave para descarregar rapidamente o capacitor e um comparador para o
acionamento da mesma.

Figura 1.10: Gerador de onda dente de serra com um só amplificador operacional.

Neste exemplo o comparador apresenta saída em coletor aberto, a chave fecha com
controle em zero e R4 muito maior do que R3, R2 e R1.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 246


I
v subida = ⋅t (18.25)
C

R3
v MAX =V⋅ (18.26)
R 1+ R 2+ R 3

v MIN =V⋅
( R 2 // R 3) (18.27)
R 4 + ( R 2 // R 3 )

R3 −t / ( R ⋅C )
v descida=V⋅ ⋅e chON
(18.28)
R 1+ R 2+ R 3

18.4 Gerador de onda senoidal por conformação de triangular

Além dos geradores harmônicos uma forma simples de se obter uma onda senoidal é
através da conformação de uma onda triangular. Três alternativas para fazer isto são a utilização
da característica logarítmica de um par diferencial ou de circuitos com ganho variável
(construídos com diodos atuando como chave) e o uso funções matemáticas e de expansão em
séries. Filtros não costuma ser utilizados para esta tarefa pois não é fácil sintonizar um passa
faixas em diferentes frequências modificando-se apenas um componente. Ademais, um gerador
em ponte de Wien é tão complexo quanto um filtro passa faixas. Estas e outras alternativas são
bem exploradas no Application Note AN263 - Sine Wave Generation Techniques da National
Semiconductor.
18.4.1 Conformação usando par diferencial
O amplificador diferencial com transistores não pode ser considerado linear se o sinal
aplicado a sua entrada for de grande amplitude, ou seja, muito maior do que 25 mV. A Figura 1.11
mostra um par diferencial e a sua curva de tensão de saída versus entrada para tensões de entrada
até ±100 mV.

Figura 1.11: Característica logarítmica de par diferencial.

Nestes casos a corrente de emissor deve ser aproximada por

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 247


1
[ ( R
i E = ⋅i o⋅tanh 20⋅v i−40⋅i E⋅ R E + B
2 β )] (18.29)

onde RB representa eventuais impedâncias da base.

Considerando que as séries de Taylor para o seno e para a tangente hiperbólica são muito
semelhantes

x 3 x5
Taylor [ sen (x ) ] =x – + −... (18.30)
3 ! 5!

x 3 2⋅x 5
Taylor [ tanh (x ) ] =x− + −... (18.31)
3 15

essa característica não linear do par diferencial pode ser utilizada para transformar uma onda
triangular em uma aproximação para a senoide. Esta abordagem permite valores de tensão de
entrada da ordem de 200 mVpp com distorção harmônica total (THD) de 1 a 0,1%. Com circuito da
Figura 1.12 obtém-se 0,6% de distorção com o ajuste dos potenciômetros. O de 10 kΩ é utilizado
para ajuste de simetria e o de 5 kΩ para ajustar o formato da onda senoidal.

Figura 1.12: Circuito conformador de onda triangular em senoidal usando par diferencial.
18.4.2 Conformador com diodos
Um conformador com diodos pode ser construído de forma a chavear resistores que
modificam a relação entre entrada e saída do conformador a cada novo chaveamento (Figura 1.13).
O circuito comporta-se como se diferentes ganhos fossem aplicados ao sinal de entrada
dependendo da sua amplitude. Se a entrada é uma onda triangular ganhos cada vez menores são
aplicados a medida que a tensão de entrada aumenta (Figura 1.14). No exemplo da Figura 1.13,
onde V1, V2, V3 e V4 são tensões positivas, os diodos D1, D2, D3 e D4 estão normalmente cortados. A

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 248


medida que vi aumenta estes diodos gradativamente entram em condução criando um divisor
resistivo.

Este divisor resistivo atenua a transferência do sinal de entrada para a saída. Observando a
Figura 1.14 observa-se que a medida que os diodos entram em condução a inclinação da curva vo
contra vi diminui. A curva da Figura 1.14 deve ser construída de forma a transformar uma reta (vi)
numa aproximação de senoide (vo).

Figura 1.13: Conformador com diodos.

A partir do desenho da tensão de entrada (triangular) e de saída (senoide) marcam-se os


pontos utilizados para aproximar a senoide por segmentos de reta. O processo é aproximado e
iterativo. Quando o erro se tornar grande um novo segmento deve ser utilizado. Uma vez
determinados os valores das ordenadas ou das abcissas calculam-se os valores faltantes, ou
determina-se tudo no processo.

Por exemplo, para uma onda triangular com tensão entre 0 e 9V é possível criar ¼ de
senoide com as tensões de saída estipuladas em 3,0, 4,2, 5,2, 5,8 e 6,0 V. Usando a equação 18.32
podemos calcular os valores de vi correspondentes. Se os pontos de quebra tivessem sido
determinados a partir da entrada então a equação 18.33 pode ser usada para determinar as tensões
de saída correspondentes.

Figura 1.14: Conformação de onda triangular para senoidal.

v ix ≈v oMAX⋅sen−1
( )
v ox
v oMAX
(18.32)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 249


v ox =v oMAX⋅sen
( )
v ix
v oMAX
(18.33)

Os valores para as fontes de tensão devem ser obtidas a partir de vox descontando-se as
quedas de tensão sobre os diodos. Considerando-se uma queda de 0,6 V sobre os diodos as fontes
deveriam assumir os seguintes valores: V1=2,4 V, V2=3,6 V, V3=4,6 V, V4=5,2 V e V5=5,4 V. A
implementação prática das fontes pode ser realizada com o divisor de tensão apresentado na
Figura 1.15.

Figura 1.15: Conformador com diodos para transformar onda triangular em senoidal.

Neste circuito R≫RF (para que os resistores das fontes não interfiram nas associações de
resistores do conformador). Alternativamente podem ser utilizados buffers para isolar as fontes do
circuito do conformador. A tensão de 10 V, em ambos os casos deve ser bem regulada.

Uma vez determinados os valores de tensão de entrada e saída para os pontos de quebra
(pontos de condução dos diodos) determinam-se os resistores. De maneira geral, quando os diodos
conduzem anexam mais um resistor ao circuito, transformando-o no equivalente da Figura 1.16
onde Ra=R e Rb é o paralelo dos resistores que estiverem conduzindo no momento (R1, R2, R3 e R4).

Figura 1.16: Circuito equivalente do conformador quando um diodo está conduzindo.

Δv i Ra
=1+ (18.34)
Δ vo Rb

Para o primeiro segmento de reta

Δv i
=1 (18.35)
Δ vo

Para o segundo segmento de reta

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 250


Δv i v i 2 −v i 1 Δ vi R
= =1,167 ; =1+ ; R 1 =6⋅R (18.36)
Δ v o v o 2 −v o 1 Δ vo R1

Para o terceiro segmento de reta

Δv i v i 3 −v i 2 Δ vi R
= =1,6 ; =1+ ; R 1 // R 2 =1,67⋅R ; R 2 =2,31⋅R (18.37)
Δ v o v o 3 −v o 2 Δ vo R 1 // R 2

Para o quarto segmento de reta

Δv i v i 4 −v i 3 Δ vi R
= =2,5 ; =1+ ; R 1 // R 2 // R 3 =0,667⋅R ; R 3=1,11⋅R (18.38)
Δ v o v o 4 −v o 3 Δ vo R 1 // R 2 // R 3

Para o quinto segmento de reta

Δv i v i 5 −v i 4 Δ vi R
= =7,5 ; =1+ ; R 1 // R 2 // R 3 // R 4 =0,154⋅R ; R 4 =0,2⋅R (18.39)
Δ v o v o 5 −v o 4 Δ vo R 1 // R 2 // R 3 // R 4

O circuito completo pode ser visto na Figura 1.17 e as tensões de entrada e saída na Figura
1.18, que também mostra uma tensão senoidal pura para referência (o desenho mais arredondado).
Se as fontes de referência forem ideais ou forem isoladas com buffers a tensão de saída ficará
ainda melhor.

Figura 1.17: Conformador completo de onda triangular em senoidal usando diodos

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 251


Figura 1.18: Onda triangular, senoidal e senoidal obtida a partir da conformação de onda
triangular.

Este circuito serve apenas para conformar o semiciclo positivo da senoide. Para obter a
senoide completa é necessário duplicar o circuito para o semiciclo negativo.
18.4.3 Conformador por série de Taylor
Uma função do tipo sen(x) pode ser expandida em uma série de potências como a série de
Taylor. Cada elemento da série pode ser implementado eletronicamente resultando em uma boa
aproximação para a senoide. A expansão de Taylor para o seno é

x 3 x5
Taylor [ sen (x ) ] =x – + −... (18.40)
3 ! 5!

que pode ser truncada nos dois primeiros termos com erro de aproximadamente 0,6%. Esta função
pode ser implementada com multiplicadores como na Figura

x3
sen(x )≈x − (18.41)
6

Figura 1.19: Conformador de triangular para seno usando multiplicadores e expansão por série de
Taylor.

A aproximação pode ser melhorada utilizando-se métodos de cálculo numérico. Uma


aproximação melhor para a série truncada, com erro da ordem de 0,23%, é apresentada em 18.42.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 252


x 2,827
sen(x )≈x − (18.42)
6,28

Esta função precisa ser manipulada para que possa ser implementada com os circuitos
apresentados. Uma solução é mostrada em 18.43 cuja implementação em diagrama de blocos é
mostrada na Figura 1.20.

x 2,827
sen(x )≈x − =x −0,15924⋅e 2,827⋅ln(x ) (18.43)
6,28

Figura 1.20: Conformador de onda triangular para senoidal usando expansão em séries.

Os circuitos mostrados aqui valem apenas para sinais positivos. Para contornar o problema
o circuito deve ser aumentado com o uso de retificadores e amplificadores inversores.

18.5 Geração de senoides por síntese digital direta (DDS)

Hoje em dia uma das melhores maneiras de produzir um sinal senoidal de frequência
variável emprega circuitos conhecidos como Direct Digital Synthesis (DDS). No DDS os valores de
amplitude do sinal senoidal são gravados em memória (conversor fase amplitude na Figura 1.21)
que é endereçada por um contador (acumulador de fase na Figura 1.21). No caso da Figura 1.21 o
contador implementado é incrementado de acordo com a palavra de controle, assim é possível
controlar a frequência do sinal senoidal ajustando tanto a palavra de controle como o clock do
circuito. Em circuitos como este se obtém com certa facilidade frequências entre 1 Hz e 20 MHz
com incrementos de 0,004 Hz e THD menores do que 0,01%. Um filtro passa baixas pode ser
utilizado para melhorar a qualidade da senoide reconstruída. O cuidado com filtro passa baixas
nestes casos é que ele deve ter frequência de corte variável. Caso isto não aconteça a amplitude do
sinal senoidal diminui a medida que a frequência aumenta. Um bom texto sobre DDS é o A
Technical Tutorial on Digital Signal Synthesis da Analog Devices.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 253


Figura 1.21: Diagrama em blocos de um DDS.

18.6 Exercícios

1) Desenhe o gráfico vo x vi para o circuito abaixo. Os diodos têm queda de tensão de 0,7V.
Para que serve este circuito?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 254


19 Circuitos condicionadores para sensores reativos

19.1 Introdução

Para a leitura e condicionamento de sensores reativos é comum o uso de uma excitação de


corrente alternada, sem a qual os capacitores se comportariam como circuito aberto e os indutores
como curto circuito. Com esta abordagem capacitores e indutores passam a ser impedâncias que
modulam em amplitude o sinal de excitação, e por esta razão, estratégias de medição tetrapolares,
diferenciais e em ponte continuam sendo usadas. Se o sistema incluir conversores AD também é
necessário converter os sinais modulados de corrente alternada em sinais de corrente contínua, o
que requer demodulação, ou medida de valor de pico, médio retificado ou RMS. Alternativamente
também é possível converter os valores de capacitância ou indutância em frequência ou largura de
pulso o que permite a medida usando sistemas digitais muito precisos. De qualquer forma o
desempenho final da instrumentação continua sofrendo influência de cabos e conexões,
temperatura, umidade, sinais ou interferências de modo comum, escolha dos componentes,
qualidade das fontes de referências e outros., mas existem particularidades importantes que devem
ser observadas para o sucesso do projeto.

19.2 Circuitos em ponte

Circuitos em ponte, para medidas em nulo, similares a ponte de Wheatstone, estão


disponíveis para medidas de capacitores e indutores, mas não são discutidas aqui, por serem
métodos muito lentos e normalmente empregados em laboratórios para medidas de grande
exatidão. Estas são técnicas bem antigas, que requerem a alteração no valor dos componentes para
a obtenção do equilíbrio da ponte e geralmente não são utilizadas em processos automáticos. Para
medidas de capacitância podemos citar as pontes de razão de resistências, capacitores em paralelo,
Schering e De Sauty (Figura 1.1). Com exceção da De Sauty, utilizada para medidas de variação de
capacitância, todas as demais estimam o capacitor como uma associação RC série ou paralela. Para
medidas de indutância existem as pontes de indutâncias paralelas, Maxwell, Hay, Owen (Figura
1.1) e Anderson. As pontes para medidas de indutância apresentadas estimam o indutor como um
circuito LC série ou paralelo. Finalizando a lista existem pontes para medidas de indutância mútua
como as pontes de Heaviside (Figura 1.1) e Heydweiller. Esta não é uma lista completa, mas dá
uma ideia da variedade e especificidade dos circuitos em ponte.

Mesmo quando não são utilizadas para medidas em nulo circuitos em ponte continuam
apresentando características interessantes que os tornam uma boa alternativa para interfacear
sensores capacitivos e indutivos. Com uma excitação em corrente alternada uma ponte de
capacitores, indutores ou resistores torna-se uma generalização da ponte de Wheatstone onde
cada braço da ponte é formado por uma impedância.

Sensores indutivos, por exemplo, apresentam indutâncias da ordem de 1 a 100 mH e


quando excitados com frequências entre alguns kHz e alguns MHz apresentam reatância da
mesma ordem de grandeza de um sensor resistivo. Como o fator de mérito destes sensores
costuma ser elevado a resistência deles costuma ser muito baixa e, em muitos casos, podem ser
desconsideradas. Variações de resistência devido a pequenas variações construtivas têm ainda
menos importância.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 255


Figura 1.1: Algumas pontes para medidas de capacitância, indutância e indutância mútua. As
capacitâncias ou indutâncias sob medida são representadas pelos valores Cx e Lx em associação
com Rx. Vs é uma fonte senoidal. Os elementos variáveis representam os componentes usados
para ajustar o equilíbrio da ponte.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 256


Então, quando deseja-se medir variação de indutância, a ponte pode ter um braço indutivo
e ser balanceada por um braço resistivo (Figura 1.2). Apesar da aparente simplicidade existem
alguns problemas que devem ser levados em conta. Quando a seletividade do sensor não for
elevada (a resistência é significativa) os sinais de tensão e corrente sobre o indutor não estão
defasado 90o. Nestes casos a medida de fase pode ser importante. Além disso o uso de cabos
adiciona capacitâncias parasitas ao circuito o que pode modificar a sensibilidade do sensor.

Sensores capacitivos, por outro lado, costumam apresentar capacitâncias menores do que
500 pF, e para que elas apresentem reatâncias de valores razoáveis a excitação deve ter frequência
entre 10 kHz e 100 MHz. Se estas reatâncias forem baixas as pontes também poderiam ser
balanceadas com resistências de valor semelhante. Se as reatâncias capacitivas forem muito
elevadas pode ser necessário usar resistências de valores elevados que podem ser da mesma ordem
de grandeza de outras impedâncias parasitas ou indesejadas.

Para contornar o problema das reatâncias elevadas pode-se lançar mão do uso de quatro
sensores capacitivos ou de transformadores. O uso dos transformadores com o terminal central
aterrado também reduz o efeito das capacitâncias parasitas do sensor ou cabo para o nó terra
(Figura 1.2), não requer amplificação diferencial, permite a isolação galvânica da medida e quebra
laços de terra. A capacitância parasita entre terminais do sensor também pode ser reduzida com
blindagem dos mesmos. Estas pontes são chamadas de Blumlein ou pontes com transformadores,
mas apesar das muitas vantagens não funcionam bem para frequências elevadas devido as
saturações e perdas no núcleo. Frequências até 20 kHz são comuns, mas com a escolha correta do
núcleo e algum esforço é possível chegar até 100 kHz.

O uso de frequências elevadas também poderia ser uma alternativa para reduzir as
reatâncias, entretanto, isso torna o projeto mais difícil. Com frequências elevadas a banda de
passagem e a capacitância de entrada dos amplificadores, o efeito de linha de transmissão, e outros
efeitos parasitas ou indesejados devem ser levados em conta no projeto. Por esta razão, as vezes é
preferível trabalhar com frequências mais baixas e aceitar que a impedância destes sensores é alta.
Para corrente contínua, por exemplo, a impedância muito elevada destes sensores requer
resistências adicionais no circuito para polarização dos AO que, por sua vez, precisam apresentar
impedância de entrada muito elevada. As perdas nos capacitores também são um problema que
deve ser avaliado.

Figura 1.2: Circuitos em ponte para medidas de sensores diferenciais reativos. Cp são
capacitâncias parasitas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 257


19.2.1 Circuitos para sensor simples ou diferencial
Para sensores capacitivos simples é possível empregar o circuito da Figura 1.3, onde Cx é o
elemento sensor e Cp são as capacitâncias parasitas. Cp1 e Cp3 tem pouca influência nas medidas
(estão com tensão zero ou em paralelo com fontes de tensão), mas podem afetar a estabilidade do
circuito. O resistor R1 evita que o ganho seja infinito para corrente contínua. O circuito da
esquerda é conhecido como amplificador de carga, pois pequenas variações de carga em Cx
(ΔQ=ΔC·Vi) são amplificadas por C1 (no amplificador de carga o resistor não deve ter influência no
ganho da banda passante – ele é usado para polarizar o amplificador e filtrar o sinal). Neste
circuito a capacitância Cp2 influencia a tensão de saída com um offset, uma vez que a corrente por
ela é constante. O circuito da esquerda apresenta saída linear para variações de distância entre as
placas do sensor capacitivo e o da direita para variações de área ou permissividade. Os dois
circuitos podem ser ampliados para funcionar com uma topologia de amplificador subtrator o que
se assemelha a uma ponte aberta e também apresenta características de cancelamento de ruído.

Figura 1.3: Circuito de condicionamento para sensores capacitivos simples. Cp são capacitâncias
parasitas, Cx o sensor.

Amplificadores não inversores podem ser empregados, mas em altas frequências as


capacitâncias parasitas para o nó terra degradam a impedância de entrada dos amplificadores.
Capacitâncias da ordem de 3 pF, comuns entre terminais de um componente, em 1 MHz
apresentam impedância da ordem de 50 kΩ. Soquetes para os integrados, disposição das trilhas em
uma placa de circuito impresso, e cabos reduzem ainda mais esta impedância. Nos circuitos
inversores a impedância de entrada não é degradada pelas capacitâncias parasitas, mas a faixa de
passagem pode ficar comprometida. Resistores de alguns MΩ que apresentam capacitância entre
terminais de 1 pF podem reduzir a banda de passagem a algumas centenas de kHz. O aumento da
capacitância de entrada de amplificadores inversores também podem levar a oscilações (devido a
realimentação a saída do AO deve ser capaz de carregar rapidamente estes capacitores). Assim, a
banda de passagem pode ficar limitada não apenas pelo slew rate e pelo produto ganho faixa, mas
também pela capacitância. De um modo geral a maior frequência de trabalho para um AO pode
ser estimada como

SR
f MAX = (19.1)
2⋅π⋅V MAX

Para um arranjo diferencial de capacitores, onde uma capacitância aumenta e a outra


diminui, como acontece nos acelerômetros semicondutores, por exemplo, pode ser utilizado um

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 258


simples divisor de tensão ou o circuito da Figura 1.4. Nos dois casos obtêm-se uma relação linear
entre tensão de saída e a diferença entre as capacitâncias.

Figura 1.4: Circuito para medidas de capacitâncias diferenciais.

Considerando que a tensão va é aquela entre os capacitores C1, C2 e C3, então

j⋅ω⋅C 1⋅( v a−v i )+ j⋅ω⋅C 3⋅v a + j⋅ω⋅C 2⋅( v a – ( −v i ))=0 (19.2)

C 1 – C2
v a=v i⋅ (19.3)
C 1 +C 2 +C 3

C1 – C2 C3
v o =v i⋅ ⋅ (19.4)
C 1 +C 2 +C 3 C 4

19.3 Blindagem

Sensores capacitivos costumam ter impedância tão elevada que as capacitâncias parasitas e
do ambiente tem influência significativa no desempenho do sensor. Como estas capacitâncias
mudam com o movimento relativo do sensor eles costumam ser blindados, ou seja, envoltos em
uma caixa metálica lacrada que se conecta a um dos terminais do sensor (Figura 1.5). Assim, a
capacitância do outro terminal para a blindagem é constante. Esta estratégia funciona bem se o
terminal conectado a blindagem for aterrado, caso contrário a capacitância parasita para o nó
terra pode afetar a medida. Um sistema de dupla blindagem, com uma segunda caixa não
conectada a nenhum terminal pode ser utilizado para os casos onde nenhum terminal do sensor é
aterrado. A segunda caixa é aterrada de forma que tanto a capacitância para a blindagem quanto a
capacitância para o nó terra são mantidas constantes, afetando apenas a sensibilidade do sensor (o
mensurando só afeta a capacitância do sensor que é apenas uma parcela da capacitância total).

Uma alternativa para reduzir o efeito destas capacitâncias é aumentar o potencial das
caixas para um valor próximo ao do condutor, assim a tensão sobre as capacitâncias parasitas é
nula e o efeito delas também. Esta técnica se chama blindagem ativa e requer um amplificador
adicional para elevar o potencial da blindagem. A Figura 1.6 mostra como isto é feito em cabos
coaxiais. O modelo para análise leva em conta as impedâncias de entrada do amplificador
(diferenciais e de modo comum) e seu ganho finito. Considerando-se as impedâncias de modo
comum iguais, observa-se que a impedância de entrada do circuito com blindagem ativa continua
dependendo da capacitância de cabos (ZCp) porém agora a impedância é multiplicada pelo ganho
de malha aberta do amplificador operacional (19.8).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 259


Figura 1.5: Capacitor com uma e duas blindagens (caixas com linhas tracejadas). Cx é o sensor. Cs
são as capacitâncias para as blindagens e Cg as capacitâncias para o nó terra.
O resultado da blindagem ativa depende diretamente do ganho de malha aberta do AO e da
sua banda de passagem, quanto maiores menor serão os efeitos da capacitância parasita dos cabos.
A impedância de saída do AO associada a capacitância parasita na entrada negativa do AO produz
um filtro que atrasa a realimentação negativa do buffer. Com isto a realimentação positiva para a
blindagem pode oscilar. Para evitar este problema é comum realimentar apenas uma fração de vo
para a blindagem (um divisor de tensão e um outro buffer costumam resolver o problema).

Figura 1.6: Blindagem ativa de cabos. Acima e a esquerda blindagem passiva, a direita blindagem
ativa, abaixo modelo para blindagem ativa. Vs e Zs são o equivalente Thévenin do sensor e sua
alimentação, Cpp é a capacitância de cabo. Zd é a impedância diferencial de entrada do
amplificador e Zcn e Zcp são as impedâncias de modo comum das entradas negativa e positiva do
amplificador operacional.

( ) ( )
1 1 1 1 v 1 1
v a⋅ + + + − s – v o⋅ + =0 (19.5)
Z s Z Cpp Z d Z Cp Zs Z Cpp Z d

v o =Ad⋅( v a −v o ) (19.6)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 260


vs – va
is = (19.7)
Zs

vs
=( A d +1 )⋅( Z d // Z Cpp // Z Cp ) (19.8)
is

19.4 Demoduladores

Demoduladores são circuitos que vão transformar os sinais alternados da excitação (ωp), e
que foram modulados em amplitude pelo sensor, no sinal original de baixa frequência (Figura 1.7).
Para que tudo funcione de forma correta a maior frequência não desprezível do sinal de entrada
(ωm) deve ser menor que a frequência da portadora, ou seja, da excitação. Na prática, para se obter
um sinal com baixo ripple ao final do processo, ωp deve ser umas 10 vezes ou mais o valor de ωm.
Se for importante a informação de fase então a demodulação deve ser síncrona caso contrário
circuitos que calculam o valor médio retificado, RMS ou valor de pico podem ser usados. Com a
demodulação síncrona é possível obter a fase do sinal, que pode indicar o sentido do mensurando,
como no caso do LVTD.

O processo de demodulação consiste basicamente da multiplicação do sinal modulado por


um sinal sincronizado com a excitação. Circuitos que fazem isto são, por exemplo, o AD598 e
AD698 da Analog Devices (Figura 1.8) e o 5521 da Signetics. Os dois circuitos da Analog Devices
apresentam um oscilador para alimentar o transdutor, um demodulador para detectar a envoltória
do sinal de saída e um filtro para suavizar o sinal de saída. O AD598 apresenta também uma
estratégia de demodulação que emprega a medida da subtração e da soma das tensões no sensor
diferencial. Esta estratégia torna a demodulação mais insensível a variações de temperatura,
corrente e frequência de excitação.

Os demoduladores também podem ser construídos com componentes discretos. Neste caso
a estabilidade e baixa distorção do sinal de excitação são importantes. Para esta tarefa podem ser
utilizados osciladores com DDS ou circuitos específicos para interface com sensores reativos como
o AD2S99 da Analog Devices ou o 4423, da Burr Brown, e os SWR200 e SWR300 da Thaler que
geram senos e cossenos em frequências selecionáveis. A demodulação propriamente dita pode ser
realizada por qualquer circuito multiplicador e um filtro passa baixas para o cálculo do valor
médio do sinal. Para simplificar a etapa de multiplicação é muito comum transformar o sinal
senoidal do oscilador em uma onda quadrada. Desta forma o sinal modulado é multiplicado por +1
ou por -1, o que pode ser implementado por chaves que comutam circuitos de ganho, ou por
circuitos retificadores de precisão onde os diodos que fazem a retificação são substituídos por
chaves. Desta forma a pseudo retificação é feita no semiciclo positivo ou negativo. Um exemplo
deste demodulador empregando chaves é o AD630 da Analog Devices.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 261


Modulador Demodulador

t t t

ωm ω ωp ω ωm 2ωp ω
Sinal Sinal

t t
Oscilador

ωp ω ωp ω

Figura 1.7: Modulação e demodulação de sinais.

Figura 1.8: Circuitos integrados para condicionamento de sinais de LVDT.

Para os casos onde se deseja medir o ângulo de fase de uma impedância é possível usar
demoduladores em quadratura (Figura 1.9). Neles o oscilador do demodulador deve estar em fase
ou 90º defasado do oscilador que excita os sensores. O sinal obtido na saída do d emodulador
corresponde, então, ao sinal em fase e quadratura ou parte real e imaginária de uma impedância.
Alternativamente é possível empregar um circuito série de uma impedância desconhecida com
uma resistência conhecida. A tensão sobre as duas impedâncias é medida. Uma serve como
referência de corrente a outra de tensão. A demodulação, neste caso pode ser feita digitalmente.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 262


Figura 1.9: Diagrama em blocos de um demodulador em quadratura.

19.5 Exercícios

1) Deseja-se utilizar o circuito a seguir como parte de um condicionador de sinais para


LVDTs. Mostre como utilizá-lo, interligue-o ao LVDT, complete o circuito com o que for
necessário para que a saída seja uma tensão CC proporcional ao movimento do LVDT. Projete o
circuito e desenhe as formas de onda nos pontos chaves. Qual a função de C1, R6 e R7?

2) Um transdutor com quatro sensores capacitivos ligados em ponte é usado para medidas
de pressão. Cada sensor apresenta uma resposta Z±ΔZ de tal forma que ΔZ é uma variação linear
com relação a pressão. O circuito é excitado por uma fonte de 10 kHz. a) A excitação CA impõe
alguma limitação na banda de frequências ao sinal de entrada? b) Mostre o circuito para o
condicionamento de sinais de forma que na saída tenhamos um sinal de corrente contínua
proporcional a pressão aplicada. Para este caso a banda do sinal de entrada é de 10 Hz. c) Como
podemos determinar se a pressão é positiva ou negativa? d) Há alguma vantagem na utilização
deste tipo de sensor (capacitivo) em vez de strain-gauges?

3) O circuito a seguir deve ser usado com sensores reativos e excitação CA. A) determine
uma expressão para a tensão de saída; B) mostre como interligar este circuito a um LVDT (mostre
as conexões – primário e secundários); C) mostre como interligar a entrada SYNC na fonte Vo
para fazer o circuito funcionar (use circuitos, desenhos e cálculos); D) explique se este circuito tem
ou não a capacidade de detectar o sentido do deslocamento medido (use gráficos, formas de onda e
cálculos); E) explique quais componentes e suas características são críticas para o circuito

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 263


(justifique com números ou equações); F) explique o que mudaria se o sinal SYNC fosse conectado
a fonte de excitação do LVDT.

4) O circuito a seguir é um amplificador para um LVDT. a) como funciona? b) o que deve


fazer o LTC1967? c) como funciona o circuito com a porta lógica XOR? d) como deve ser ajustado
o circuito “phase lag”?

5) Vasculhando a Internet você encontrou o diagrama de blocos abaixo indicado para uso
com LVDT. a) Explique como funciona. b) Diga como são feitos os blocos DA, AM e LPF (mostre
os esquemáticos). c) O Bloco AM pode ser substituído por uma chave? Como? d) Como devemos
projetar LPF? e) Para esta aplicação é necessário algum cuidado especial com os componentes ou
layout de placa e cabos?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 264


Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 265
20 Transdutores autogeradores

20.1 Transdutores termoelétricos

Em 1822 Seebeck descobriu que dois metais diferentes conectados em um circuito com as
junções em temperaturas diferentes (Figura 1.1), é percorrido por uma corrente elétrica. Se o
circuito for aberto uma diferença de potencial aparece entre os terminais. A força eletromotriz de
Seebeck, responsável pela corrente circulante depende dos tipos dos metais envolvidos e é
aproximadamente proporcional a diferença de temperatura entre as duas junções. O coeficiente
Seebeck SAB define que a diferença de potencial em função da temperatura dependa da diferença
de potencial termoelétrico (SA e SB) tal que

dV AB
S AB= =S A −S B (20.1)
dT

Material A
i

T2 T1
T2>T1 Material B
Figura 1.1: Efeito Seebeck.

Peltier, em 1834, demonstrou o efeito inverso, introduzindo uma bateria no circuito


composto por dois metais diferentes e observando que o calor era absorvido em uma das junções e
irradiado na outra (Figura 1.2). Invertendo-se a polaridade da bateria invertem-se as junções que
absorvem e irradiam calor. Tal efeito é a base da refrigeração Termoelétrica e é empregado em
coolers de microprocessadores e geladeiras automotivas, por exemplo. O coeficiente de Peltier (πAB)
é definido como a variação de calor (Q) gerado na junção para cada unidade de carga fluindo por
ela (20.2). Relacionando os efeitos Seebeck e Peltier pode ser mostrado que πAB(T)=T·(SB–SA).

dQp=π AB⋅I⋅dt (20.2)

Material A

Calor Calor
Absorvido Liberado
+V-

Material B
Figura 1.2: Efeito Peltier.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 266


Entre 1847 e 1854, William Thomson descobriu que um condutor, que atravessa um
gradiente de temperatura, ao ser percorrido por corrente elétrica pode aquecer ou esfriar e que
este efeito era proporcional a corrente elétrica passando pelo fio. O aumento ou redução da
temperatura dependem do sentido dos fluxos de calor e corrente. Quando estão em sentido oposto
o calor é absorvido. O fluxo de calor por unidade de volume (q) em um condutor de resistividade ρ
que sofre um gradiente de temperatura dT/dx por onde passa uma corrente com densidade J é

2 dT
q=J ⋅ρ – J⋅σ⋅ (20.3)
dx

Os efeitos Seebeck, Peltier e Thomson são reversíveis e se a corrente circulando pelos


condutores metálicos for nula ou muito baixa o efeito Joule nos fios pode ser desconsiderado. Os
três efeitos se complementam e formam as bases da termoeletricidade. Assim a forma mais
simples de usar estes efeitos para medida de temperatura consiste no termopar, um arranjo onde
dois metais homogêneos e diferentes apresentam uma ou duas junções (Figura 1.3)

T2 T1
+ V -

+
T2 T1 V
-
Figura 1.3: Uso simples de um termopar.

A relação entre tensão nos terminais do termopar e diferença de temperatura entre as


junções não é linear e pode ser aproximada por (20.4) onde α e γ são constantes associadas ao tipo
de termopar e as temperaturas T2 e T1 são absolutas (K).

V =α⋅( T 2 – T 1 ) + γ⋅(T 22−T 21 ) (20.4)

Normalmente o valor de γ não é tão elevado, de modo que para uma boa faixa de
temperatura o comportamento pode ser descrito como praticamente linear. A sensibilidade do
termopar, para uma dada temperatura T2 é dada por (20.5)

∂V
S= =α+2⋅γ⋅T 2 (20.5)
∂T 2

Para a escolha dos materiais que formam os termopares comerciais considera-se que o
valor de γ deve ser baixo, os metais devem ser resistentes a oxidação, mesmo em altas
temperaturas e devem ter baixa variação de resistividade com a temperatura. Isto limita as
possibilidades de metais ou ligas. A escolha do tipo de termopar deve ser feita em função da faixa
de uso, da linearidade e do ambiente (agressivo ou não). De um modo geral os termopares
apresentam uma boa estabilidade temporal, confiabilidade, são mais exatos do que os RTD para
baixas temperaturas. O pequeno tamanho permite respostas temporais rápidas, da ordem de mili
segundos, não sofrem com autoaquecimento e podem ter fios longos sem maiores problemas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 267


Os tipos de termopares são dependentes das ligas metálicas usadas para sua fabricação,
onde normalmente o primeiro elemento do par corresponde ao elemento positivo. Observa-se que
existem diferentes normas com código de cores diferentes para termopares iguais e isto causa
alguns problemas. A melhor maneira de se referir aos termopares é pelo seu nome (letra) ou pelos
materiais dos quais é feito. Sua caracterização normalmente é feita com tabelas de diferenças de
temperatura e correspondentes valores de tensão. Normalmente a temperatura de referência T1
corresponde a 0 ℃. Para os pontos não tabelados é necessário interpolar. Alguns fabricantes
fornecem os valores de α e γ e, as vezes, de outros coeficientes para polinômios de maior grau. Na
Tabela 20.1 são apresentados alguns termopares com seus respectivos coeficientes α e na Figura
1.4 os códigos de cores para as diferentes normas.
Tabela 20.1: Características de alguns termopares.
Faixa Sensibilidade
Nome Material Erro
(℃) (μV/℃)

B Platina 30% Rodio/ [0,1.800] 3 0,5%


Platina 6% Rodio

E Cromel/Constantan [-200, 1.000] 63 ±1,7 ℃ ou 0,5%

J* Ferro/Constantan [-200, 900] 53 ±2,2 ℃ ou 0,75%

K* Cromel/Alumel [-200,1.300] 41 ±2,2 ℃ ou 0,75%

N Nirosil/Nisil [-200/1.300] 28

R Platina/Platina 13% [0 1.400] 6 ±1,5 ℃ ou 0,25%

S Platina/Platina 10% [0 1400] 6 ±1,5 ℃ ou 0,25%

T* Cobre/Constantan [-200, 400] 43 ±1 ℃ ou 0,75%


Os tipos mais comuns são J, K e T
Como os termopares são medidores de temperatura diferencial é necessário definir ou
medir a temperatura de referência. Isto pode ser feito colocando-se uma das junções em uma
temperatura conhecida (por exemplo, gelo) ou medindo a temperatura de junta fria com outro
medidor de temperatura. A princípio isto pode não fazer sentido, mas os termopares podem ser
utilizados para medidas de temperaturas elevadas que não seriam possíveis com outros medidores.

Os circuitos mais simples para a medição podem ser vistos na Figura 1.5. A tensão do
transdutor é aquela estabelecida somente entre os metais contidos entre a região quente ( T2) e a
região que define a temperatura de referência T1 (normalmente o banho ou a posição onde o
sensor de junta fria é colocado). A partir daí dois condutores de cobre levam tal tensão para o
voltímetro (que é considerado estar na temperatura ambiente). Nesta condição a tensão medida
pelo voltímetro é proporcional a diferença de temperatura T2-T1.

Para medidas distantes estão disponíveis extensões. Estas extensões são fabricadas com os
mesmos materiais dos termopares e devem ser ligadas respeitando-se a polaridade dos mesmos,
ou seja, materiais iguais devem ser ligados juntos. Também estão disponíveis conectores
específicos para placas de circuito impresso e gabinetes.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 268


Algumas vezes os termopares são conectados em série (sempre entre as mesmas
temperaturas de junta fria e quente) para aumentar a sensibilidade do transdutor, ou em paralelo,
(com a mesma temperatura de junta fria, mas em diferentes temperaturas de junta quente) o que
permite a medida de uma temperatura média de junta quente. Nestes casos os termopares devem
ser iguais e com a mesma resistência. Para a maioria das aplicações, entretanto, o modelo do
termopar é apenas uma fonte de tensão controlada por temperatura.

Figura 1.4: Nome, composição, código de cores e erro de alguns termopares.

T2 T1 Tamb

T1 0 ºC Tamb

Figura 1.5: Formas de utilização de termopares.

20.2 Transdutores Piezoelétricos

Outro tipo bastante utilizado de transdutor passivo é o transdutor piezoelétrico, que


produz um sinal elétrico de saída quando excitado mecanicamente. Além disto, estes transdutores
são recíprocos o que significa que se for aplicada ao transdutor uma certa tensão elétrica eles são

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 269


capazes de produzir uma vibração mecânica. Devido a esta característica, tais transdutores podem
ser utilizados como microfones, acelerômetros, sensores de pressão, sensores ultrassônicos e
outros.

A piezoeletricidade é um fenômeno associado a geração de cargas elétricas na superfície de


um material quando a ele é aplicada uma certa tensão mecânica capaz de deformá-lo, ou a
correspondente mudança da forma do material quando uma certa tensão elétrica é aplicada em
algumas de suas superfícies (Figura 1.6). Os primeiros materiais piezoelétricos estudados foram o
quartzo, a turmalina e os sais de Rochelle. Os materiais piezoelétricos são sempre materiais
anisotrópicos, boa parte apresenta estrutura cristalina, mas os materiais sintéticos são cerâmicas
como o titanato de bário, o titanato de zircônio e o titanato zirconato de chumbo ou PZT, e alguns
polímeros como o polivinilo de flúor ou PVDF. A piezoeletricidade é, então, uma maneira de
converter energia mecânica em energia elétrica, e vice-versa.

Figura 1.6: Estrutura cristalina de um sensor piezoelétrico e seu comportamento quando


deformado em duas direções.

Em capacitores comuns o dielétrico obedece a lei de Hook (20.6), em termos mecânicos,


que relaciona deformação (S) com tensão (T) por meio da constante de elasticidade ou módulo de
Young (Y0), e quando uma tensão é aplicada às suas placas estabelece um campo elétrico (E) cujo
deslocamento elétrico (D) é (20.7)

1
S= ⋅T (20.6)
Y0

D =ε⋅E (20.7)

Em materiais piezoelétricos, por sua vez, há uma contribuição na deformação mecânica


gerada pelo campo elétrico, assim como uma contribuição na densidade de fluxo gerado pela
tensão mecânica. Estas interações ocorrem por meio da constante piezoelétrica (dp) tal que

1
S= ⋅T +dp⋅E (20.8)
Y0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 270


D =ε⋅E +dp⋅T (20.9)

Umas das formas mais simples de modelar um transdutor piezoelétrico é considerar que
ele é primariamente um capacitor com dielétrico polarizável e que se deforma. Assim, este sensor
apresenta uma parte elétrica equivalente a um capacitor e uma parte mecânica que se movimenta.
A parte mecânica pode ser modelada como um sistema massa mola amortecedor cujo análogo
elétrico é um circuito RLC série. Desta forma um sensor piezoelétrico pode ser primeiramente
modelado como o circuito da Figura 1.7.

Figura 1.7: Modelo equivalente de um sensor piezoelétrico.

Z AB=
1
j⋅ω⋅C E (
// R M +
1
j⋅ω⋅C M
+ j⋅ω⋅L M
) (20.10)

Z AB=
(
R M + j⋅ ω⋅L M –
1
ω⋅C M ) (20.11)
C
1−ω2⋅L M⋅C E + E + j⋅ω⋅R M⋅C E
CM

Z AB=
(
R M + j⋅ ω⋅L M –
1
ω⋅C M
−ω3⋅L 2M⋅C E +
2⋅ω⋅L M⋅C E
CM

CE
2
ω⋅C M
−ω⋅R 2⋅C E
) (20.12)
C 2E 2 2⋅C E 2 2 2 2⋅ω⋅L M⋅C 2E
2
+1−2⋅ω ⋅L M⋅C E + +ω ⋅R M⋅C E − + ω4⋅L 2M⋅C 2E
CM C M C M

que apresenta duas ressonâncias, uma série (dependente de CM e LM) e outra paralela (dependente
de CE, CM e LM). Para determinar as ressonâncias basta igualar a parte imaginária de ZAB a zero

2 2 4 2 2 2 2
ω ⋅L M⋅C M – C M −ω ⋅L M⋅C M⋅C E +2⋅ω ⋅L M⋅C M⋅C E – C E −ω ⋅R M⋅C M⋅C E =0 (20.13)

considerando que a resistência RM é baixa a solução para a equação biquadrática é

1 1
ω2A = + (20.14)
L M⋅C M L M⋅C E

2 1
ωR = (20.15)
L M⋅C M

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 271


cuja curva em frequência pode ser vista na Figura 1.8.

Figura 1.8: Resposta em frequência de um sensor piezoelétrico.

Observa-se que para baixas e altas frequências o sensor piezoelétrico se comporta como
um capacitor e para frequências intermediárias apresenta duas ressonâncias. Para a maioria das
aplicações o sensor será usado nas frequências abaixo da ressonância, mas para osciladores e
aplicações em ultrassom, por exemplo, deseja-se justamente a ressonância. Mesmo com um
comportamento predominantemente capacitivo, em baixas frequências, as perdas não são nulas e
o sensor acaba se descarregando e não sendo utilizado em corrente contínua. As características do
sensor são dependentes da temperatura e desaparecem acima da temperatura de Curie de cada
material (que está na ordem de 150 a 700 ℃). Como a impedância do sensor normalmente é muito
alta (baixo valor de capacitância e elevada resistência de perdas) costuma ser necessário o uso de
amplificadores especiais como os eletrômeros ou amplificadores de carga. Sensores piezoelétricos,
entretanto, costumam ser muito sensíveis (chegam a ser 1.000 vezes mais sensíveis do que um
strain gauge), são de baixo custo, dimensões reduzidas, respondem em frequências elevadas e
podem ser construído de forma a responder a estímulos em direções bem definidas o que os torna
interessantes para medidas de vibração, força e pressão.

Como sensor, atuando em baixas frequências, e comportamento majoritariamente


capacitivo (C), pode-se considerar que há uma geração de cargas (q) proporciona a aplicação de
uma força (F) tal que

q=dp⋅F (20.16)

onde dp é a constante piezoelétrica (C/N), e

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 272


q
V= (20.17)
C

O modelo que representa este comportamento corresponde a uma fonte de corrente


(interação mecânica) em paralelo com um capacitor. As perdas do capacitor são representadas por
um resistor de valor elevado em paralelo (Figura 1.9). No modelo com fonte de corrente ela é
calcula como a derivada da carga, o que não é comum em eletrônica e frequentemente causa
confusão naqueles que não estão acostumados. Uma alternativa mais intuitiva, do ponto de vista
matemático, transforma o modelo Norton no Thevenin com uma fonte de tensão em série com o
capacitor.

Figura 1.9: Modelo de sensor piezoelétrico.

20.3 Transdutores Fotovoltaicos

Junções semicondutoras de materiais tipo P e tipo N apresentam uma região de


recombinação de cargas, devido a difusão de portadores, onde os elétrons livres do material N
migram para o material P e lacunas do material P passam a existir em abundância no material N.
Estes íons negativos na região P e positivos na região N criam um campo elétrico que se opõe a
difusão. Desta forma a junção alcança um equilíbrio dinâmico e cessam as migrações de
portadores, ou seja, de corrente na junção. O efeito fotovoltaico consiste no aparecimento de uma
diferença de potencial na junção quando esta é exposta a radiação eletromagnética com energia
superior à da barreira de potencial, o que ioniza a região de depleção criando novos pares de
portadores. Esta tensão de circuito aberto ou, alternativamente, a corrente de curto circuito do
dispositivo aumentam com o aumento da intensidade de radiação até uma saturação.

Para que o efeito fotovoltaico exista é necessário que exista uma barreira de potencial.
Além dos semicondutores existem outras formas de criar esta barreira mas os semicondutores são,
sem dúvida, a forma mais comum. Dependendo do comprimento de onda são utilizados materiais
diferentes e, algumas vezes, camadas extras de semicondutores não dopados são empregadas para
melhorar o desempenho do sensor. Filtros e lentes óticos também são empregados. Os sensores
fotovoltaicos são mais lineares, mais rápidos e apresentam menos ruído do que os fotocondutores,
mas para cargas de impedância alta a linearidade diminui e o tempo de resposta aumenta.

Fotodiodos funcionam pelo mesmo princípio das células fotovoltaicas, mas são
modificados internamente e otimizados para trabalhar com polarização reversa da ordem de 5 a
30 V, normalmente. Isto alarga a região de depleção e permite uma resposta mais rápida do sensor,
uma vez que os portadores criados na região de depleção são acelerados e rapidamente coletados
nos terminais. Fotodiodos especiais, de avalanche, são ainda mais sensíveis, mas frequentemente
requerem ajustes individuais de polarização. Atuando desta maneira, com uma polarização reversa

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 273


sobre o diodo, formalmente o sensor deixa de ser fotovoltaico e passa a ser fotocondutivo. Na
Tabela 20.2 são apresentadas as principais diferenças entre os dois modos de operação.

O modelo de um fotodiodo é apresentado na Figura 1.10. O resistor Rsh representa a


impedância CC do fotodiodo podendo variar de centenas de kΩ até centenas de GΩ. Esta
resistência diminui pela metade a cada aumento de 10 ℃ na temperatura do diodo. Cj é a
capacitância da junção que assume valores da ordem de 50 pF para diodos de pequena área até
300 pF para diodos de área grande. Assim, a impedância do fotodiodo varia com a frequência
sendo determinada pela resistência em baixas frequências e pela sua capacitância em frequências
elevadas.

A corrente de curto circuito gerada por um fotodiodo, no modo fotovoltaico, pode ser
muito pequena mas pode variar significativamente em função da intensidade de luz sobre o
fotodiodo sendo linear numa faixa de 6 a 9 décadas de intensidade de luz. A Tabela 20.3 apresenta
valores para o diodo SD-020-12-001, cuja sensibilidade é de aproximadamente 0,03 μA/fc (fc
significa foot-candles ou pé candela) tem área de 0,2 mm2, Cj=50p F, Rsh=1 GΩ @ 25 ℃ e máxima
corrente de saída linear de 40 μA.
Tabela 20.2: Diferenças entre os modos fotovoltaico e fotocondutivo
Fotovoltaico Fotocondutivo

Sem polarização do diodo Com polarização reversa do diodo

Sem corrente de escuro Com corrente de escuro

Linear Não linear

Baixo ruído (Térmico) Alto ruído (Térmico + Shot)

Aplicações de precisão Aplicações que requerem velocidade

Figura 1.10: Modelo de um fotodiodo. A fonte de corrente inclui a corrente de sinal e de ruído. No
modo fotocondutivo I corresponde a corrente de sinal e ruído subtraída da corrente de escuro.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 274


Tabela 20.3: Correntes de curto circuito para o fotodiodo sd-020-12-001 (Sensor signal
conditioning, Analog Devices)
Sensação Luminosa Iluminação Corrente de curto circuito

Luz do sol 1.000 fc 30 μA

Nublado 100 fc 3 μA

Crepúsculo 1 fc 0,03 μA

Lua cheia 0,1 fc 3000 pA

Noite clara 0,001 fc 30 pA

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 275


21 Condicionamento para sensores autogeradores

Sensores autogeradores são bem diferente dos sensores resistivos ou reativos que
basicamente requerem medidas de impedância. Estes sensores têm características muito variadas
que vão desde o caso onde o sensor é basicamente uma fonte de tensão com baixa impedância de
saída e operam em baixas frequências, até os casos onde os sensores apresentam impedância de
saída bastante elevada e requerem amplificadores de banda larga. Neste capítulo são apresentadas
algumas características importantes para o condicionamento de sinais destes sensores
empregando exemplos numéricos para ajudar a esclarecer aspectos importantes. Basicamente é
dada atenção as questões de offset e drift, importante para os sensores termoelétricos, e as
questões relativas aos eletrômeros, amplificadores especiais com impedância de entrada que
podem chegar a alguns TΩ e apresentam correntes de polarização inferiores a pA. Os eletrômeros
são importantes para sensores de alta impedância, mas o nome pode ser usado para determinar
um tipo de AO ou uma configuração de amplificação de tensão.

21.1 Offset e drift em amplificadores operacionais

Idealmente a saída de um amplificador é zero quando a sua entrada também é zero, mas
isto não acontece na prática devido as inúmeras fontes de erro ou simplificações que são feitas
para o modelo ideal do amplificador. A Figura 1.1 mostra um amplificador inversor com suas
fontes de tensão de offset e correntes de polarização. Considerando, também, que o AO apresenta
resposta em frequência equivalente a um polo simples, então

[
v o= −
R2
R1 ( ) R
R1 ( )] R
⋅v in + 1+ 2 ⋅v os +i BN⋅R 2−i BP ⋅R 3⋅ 1+ 2 ⋅
R1
1+
1
1
Ad⋅β
(21.1)

onde R1 representa a soma da resistência de entrada do amplificador com a resistência da fonte,


β=R1/(R1+R2), Ad=Ad0·ωa/(s+ωa).

Figura 1.1: Amplificador não inversor e fontes de erro.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 276


Em baixas frequências o ganho do amplificador é tão grande que a parcela fora dos
colchetes pode ser desconsiderada, porém, em altas frequências ela limita a banda de passagem do
AO. Se as fontes que representam as correntes de polarização estivessem representando correntes
de ruído então quanto maior o ganho maior seria o ruído na saída do amplificador. A resistência
R3, que a primeira vista não tem nenhuma utilidade, se for escolhida de tal forma que R3=R1//R2
reduz os erros, na saída do AO, devido as correntes de polarização.

[
v o= −
R2
R1 ( ) R
R1 ]
⋅v in + 1+ 2 ⋅v os +i os ⋅
1+
1
1
Ad⋅β
(21.2)

onde ios é a diferença entre as correntes de polarização.

Para o amplificador não inversor valem as mesmas considerações. Neste caso os resistores
R1 e R2 devem ser escolhidos para minimizar os efeitos das correntes de polarização (Rfonte=R1//R2 ).
Alternativamente é possível adicionar um resistor onde está a fonte de vos com valor Rx=Rfonte-R1//
R2). Isto é feito para balancear a impedância vista pelo AO em cada entrada e reduzir o efeito das
correntes de polarização. Em aplicações de alta frequência ou banda larga pode ser interessante
usar capacitores em paralelo com estes resistores para filtrar o ruído térmico.

Para reduzir os efeitos de ios e vos é necessário escolher apropriadamente o amplificador


operacional. Via de regra amplificadores com tecnologia bipolar na entrada apresentam tensões de
offset e drift menores, amplificadores com entrada FET tem as menores correntes de polarização e
offset, e amplificadores com entrada CMOS tem baixa corrente de polarização, mas drift elevado,
principalmente em altas temperaturas. Correntes de polarização e tensões de offset dependem da
tensão de alimentação e tensões de modo comum. Amplificadores bipolares comuns apresentam
correntes de offset que podem ser 10 vezes menores que as correntes de polarização, mas
amplificadores ajustados de fábrica para apresentarem correntes de polarização pequena podem
apresentar correntes de offset da mesma ordem de grandeza. Alguns amplificadores apresentam
terminais para compensar o offset. Muitas vezes esta compensação leva a um aumento no drift da
ordem de 3 ou 4 μV/℃ em operacionais com entrada bipolar, então o manual deve ser lido antes
que este recurso seja utilizado. Se o drift piorar com este ajuste de offset pode ser necessário usar
circuitos externos para cancelar tal offset, o que leva a circuitos somadores de tensão com o uso de
potenciômetros.

Amplificadores de baixo drift podem ser obtidos com amplificadores monolíticos especiais
ou com amplificadores chopper ou de autozero. Contatos de metais diferentes em diferentes
temperaturas devem ser evitados. Sensores com sinais de baixa tensão devem ser soldados
diretamente nas placas evitando ruídos de contato ou termoelétricos.

21.2 Eletrômeros, amplificadores de transimpedância e de carga

Sensores de elevada impedância requerem o uso de condicionadores de sinais especiais


chamados eletrômeros. Estes são circuitos apropriados para sinais em corrente ou sensores de alta
impedância, como sensores piezoelétricos (acelerômetros, hidrofones, …), medidores de umidade,
pH, sensores químicos, detectores de fumaça, CCD e outros. Dependendo da fonte podem ser
empregados amplificadores de trans condutância (conversores de corrente em tensão),

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 277


amplificadores de carga ou amplificadores de tensão. Exemplos destes amplificadores são
apresentados nas próximas seções e focam em um ou outro sensor específico, mas as
considerações podem ser generalizadas para os demais sensores com características semelhantes.
21.2.1 Amplificador para fotodiodo no modo fotovoltaico
Nesta seção é apresentado um amplificador de transcondutância para sensores de alta
impedância de saída. São discutidos aspectos de ganho, faixa de passagem, ruído, técnicas de
blindagem, compensação em frequência e escolha dos componentes. Todos os assuntos são
abordados em um exemplo prático com valores numéricos apresentado no texto Sensor signal
conditioning da Analog Devices.

Um fotodiodo ligado a um amplificador operacional no modo fotovoltaico é apresentado na


Figura 1.2. Para este circuito, considera-se que o diodo seja o SD-020-12-001, cuja impedância pode
ser modelada por um circuito RC paralelo com Rsh=1 GΩ @ 25 ℃ e Cj=50 pF. Deseja-se amplificar
correntes de 30 pA até 10 nA (iluminação de 0,001 fc até 0,3 fc – seção sobre transdutores
fotovoltaicos). Para correntes de entrada tão baixas o ganho deve ser muito elevado. O maior valor
prático de resistência para o amplificador é de 1.000 MΩ. Isto faz a tensão de saída variar entre
30 mV e 10 V o que corresponde a uma variação de 60 dB com apenas um estágio de ganho.

Figura 1.2: Amplificador para fotodiodo no modo fotovoltaico e seu modelo equivalente.

O resistor elevado, entretanto traz alguns problemas. O primeiro é a quantidade


significativa de ruído térmico. Esta, entretanto, é uma configuração que não pode ser evitada. Caso
o ganho total seja dividido em dois estágios, dividindo o resistor de realimentação por dois, o
ganho fica dividido linearmente mas o ruído térmico diminui de apenas √2. A divisão do ganho
em dois estágios é, portanto, pior que o uso deste resistor de valor elevado. Dividir este resistor
em dois ligados em série resultaria no mesmo ruído térmico e usando uma malha de
realimentação em T com resistores de menor valor resultaria (geralmente) em um ganho maior
para o ruído devido a configuração da malha. Por estas razões a configuração apresentada
costuma ser a configuração indicada na maioria das vezes.

A escolha do operacional também deve ser criteriosa. Bons amplificadores bipolares como
o OP07 apresentam VOS muito baixo, mas as correntes de polarização são muito maiores que as
correntes do fotodiodo. O OP07, por exemplo, tem VOS=10 μV e IB=4.000 pA! Mesmo um OP97
(superbeta com compensação de IB) tem IB=100 pA. Ainda é um valor elevado, mas a corrente de
polarização é insensível a variações de temperatura, enquanto nos amplificadores FET IB dobra
para cada 10 °C. Então, em função das correntes de entrada muito baixas devemos escolher um
amplificador operacional adequado para este condicionador. A Tabela 21.1 apresenta alguns
possíveis amplificadores JFET, o que é uma boa escolha se a temperatura não variar muito durante
a medida. Os amplificadores AD são BiFET de canal P com entrada JFET e transistores bipolares

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 278


para as demais etapas de amplificação. O OPA é de tecnologia Difet®. Estes amplificadores
apresentam correntes de entrada muito baixa o que é necessário para o projeto, mas, mesmo
assim, seu uso requer atenção especial.
Tabela 21.1: Comparação entre amplificadores para o condicionador de sinais
AO VOS MÁX TC VOS típico IB Máx Ruído 01-10 Hz Encapsulamento

AD549K 250 μV 5 μV/℃ 100 fA 4 μVpp TO99

AD795K 250 μV 3 μV/℃ 1 pA 2,5 μVpp TO99 e DIP

AD795JR 500 μV 3 μV/℃ 3 pA 1 μVpp SOIC

AD820 1.000 μV 2 μV/℃ 10 pA 2 μVpp SOIC e DIP

OPA129 2.000 μV 10 μV/℃ 100 fA 4 μVpp TO99

Para entender o que significa uma corrente de alguns pA basta estudar as correntes em
uma PCB (placa de circuito impresso). A isolação entre duas trilhas paralelas de 2,54 cm de
comprimento, afastadas de 12,7 mm em uma placa limpa de epóxi e vidro, é de aproximadamente
1011 Ω a 125 ℃. Se 15 V forem aplicados a estas duas trilhas circula pela placa uma corrente de
150 pA. Por esta razão é necessário dedicar muita atenção a montagem deste circuito. A placa de
circuito impresso deve ser de boa qualidade (vidro e epóxi) sem resíduos, limpa, selada contra
umidade. Cabos e conexões até o sensor devem ser curtos e de baixa capacitância ou elas devem
ser modeladas com o sensor. A resistência de interconexão deve ser elevada, feita com blocos
maciços de teflon, ou as trilhas da PCB, que levam às entradas inversora e não inversora, devem
ser protegidas com um circuito de guarda (Figura 1.3) permanecendo distantes das tensões de
alimentação e ajuste de offset.

O circuito de guarda evita que correntes de fuga fluam pela PCB em direção as entradas
inversora e não inversora contaminando a medida. A guarda é um pouco mais difícil de ser feita
em encapsulamento SOIC, mas, mesmo assim, é possível obter resultados razoáveis com o layout
apresentado (Figura 1.3). Para o integrado escolhido (AD795JR) os pinos 1, 5 e 8 não são
conectados, mas podem ser utilizados para ajudar a criar o circuito de guarda. Mesmo assim na
configuração não inversora o circuito de guarda envolve a tensão de alimentação e os resultados
da guarda podem não ser satisfatórios. Se isto ocorrer é possível usar outros integrados, como o
AD549K, que tem encapsulamento TO99. O TO99 permite que o circuito de guarda seja feito em
torno dos pinos de entrada envolvendo-os completamente. Outra opção é o uso de isolador e
conexão direta entre o sensor e os terminais do amplificador (Figura 1.3). Este isolador é
obrigatório para amplificadores onde a ordem de grandeza de IB é de fA. O isolador deve ser de
teflon sem uso, limpo e sólido. Para minimizar ainda mais as correntes de fuga todo o circuito
pode ser blindado com metal aterrado para evitar a contaminação com sinais parasitas.

No que diz respeito ao circuito, o resistor de realimentação deve ser especial (filmes finos,
cerâmica ou vidro como isolante) com baixa tolerância (1% ou menos) e coeficiente térmico
(TC≤50 ppm/℃). Se for utilizado um capacitor em paralelo com este resistor, para filtrar altas
frequências, este capacitor deve ter baixas perdas no dielétrico (teflon, polipropileno ou
poliestireno, por exemplo).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 279


Figura 1.3: Conexão direta entre terminais do sensor e do amplificador e circuitos de guarda.
Package N é um encapsulamento DIP e package R é um encapsulamento SOIC. O encapsulamento
circular é o TO99 selado com vidro.

A tensão de offset e as correntes de polarização podem ter um efeito importante na saída


do amplificador para fotodiodo no modo fotovoltaico. Os efeitos destas fontes e as características
não ideais do fotodiodo são apresentadas na Figura 1.4. O fotodiodo utilizado para o exemplo é o
mesmo (SD 020-12-001, Cj=50 pF e Rsh=1 GΩ).

Figura 1.4: Influência da tensão de offset e correntes de polarização no amplificador para fotodiodo
no modo fotovoltaico.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 280


Com uma variação de temperatura de 70°C há uma alteração grande da tensão devido a IB,
na saída do AO e nos valores de Rsh com consequente variação do ganho. Isto ocorre pois para um
AO com entrada FET a corrente de polarização IB dobra para cada 10 ℃, e para o fotodiodo a
resistência Rsh cai a metade para cada aumento de 10 ℃ na temperatura. Isto significa que se
Rsh=1.000 MΩ em 25 ℃ ele será de 43 MΩ em 70 ℃. O ganho para VOS, que é de 2 em 25 ℃ (1+
R/Rsh) passa para ∼24 em 70 ℃. A tensão de saída devido a IB (R·IB), passa de 3 mV para 72 mV.

A compensação de IB com um resistor RX=Rsh//R (da entrada positiva para o terra) poderia
ser feita, mas como Rsh varia com a temperatura, esta compensação não tem efeito. Além do mais
a tensão sobre RX polariza o fotodiodo no modo fotovoltaico aumentando a não linearidade do
sensor. A presença de RX também introduz mais uma parcela de ruído térmico no sistema. Por
todas estas razões este resistor normalmente não é utilizado neste circuito. Os erros devidos a VOS
e IB são apresentados na Tabela 21.2. Observa-se que os erros mais importantes se devem
especificamente a IB, principalmente para temperaturas acima da temperatura ambiente.
Tabela 21.2: Erros de offset para o amplificador com AD795K
0 ℃ 25 ℃ 50 ℃ 70 ℃

VOS 0,325 mV 0,250 mV 0,325 mV 0,385 mV

Ganho (ruído) 1,1 2 7 24

VOS Saída 0,358 mV 0,500 mV 2,28 mV 9,24 mV

IB 0,2 pA 1,0 pA 6,0 pA 24 pA

VIB 0,2 mV 1 mV 6,0 mV 24 mV

Erro Total 0,558 mV 1,50 mV 8,28 mV 33,24 mV

Efeitos termoelétricos devem ser minimizados para este amplificador pois os valores de
tensão gerados podem inviabilizar a medida. Um termopar formado pela interconexão de fios de
cobre com Kovar (utilizado nos terminais dos encapsulamentos TO99) pode gerar tensões de
aproximadamente 35 μV/℃ e termopares formados pela junção de cobre com solda pode gerar
tensões de 1 até 3 μV/℃. Nestes casos é necessário assegurar que os pontos de formação de
termopares mantenham-se a mesma temperatura.

Devido as elevadas impedâncias e baixa amplitude do sinal, é importante analisar a


contribuição do ruído na medida e avaliar a SNR na saída do amplificador. No circuito, além da
fonte de sinal existem as fontes de ruído térmico e do operacional (Figura 1.5).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 281


Figura 1.5: Fontes de ruído no amplificador para fotodiodo no modo fotovoltaico.

O ruído de tensão do AO é amplificado com ganho GVN.

R
R⋅C⋅S +1
G VN =1+ (21.3)
Rsh
Rsh⋅Cj⋅S +1

Rsh R
+
Rsh⋅Cj⋅S +1 R⋅C⋅S +1
G VN =
Rsh
Rsh⋅Cj⋅S + 1

Rsh⋅( R⋅C⋅S +1)+ R⋅(Rsh⋅Cj⋅S +1) (Rsh⋅Cj⋅S +1)


G VN = ⋅
(R⋅C⋅S +1)⋅( Rsh⋅Cj⋅S + 1) Rsh

( Rsh⋅R⋅C + Rsh⋅R⋅Cj )⋅S +(Rsh + R) 1


G VN = ⋅
(R⋅C⋅S +1) Rsh

G VN =
Rsh +R

( Rsh+ R Rsh+ R )
Rsh⋅R⋅C Rsh⋅R⋅Cj
+ ⋅S +1

Rsh (R⋅C⋅S +1)

(
G VN = 1+
R
Rsh)(τ ⋅S + 1
⋅ D
τ⋅S +1 ) (21.4)

onde

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 282


Rsh⋅R
τ D= ⋅( Cj +C ) (21.5)
Rsh +R

τ=R⋅C (21.6)

Para um circuito onde Rsh=1.000 MΩ, R=1.000 MΩ, Cj=50 pF, C=10 pF e o GB (produto


ganho faixa) do amplificador é de 1 MHz, o ganho do ruído em baixas frequências é 2, e em altas
frequências é 6. O zero se localiza em 5,3 Hz e o polo em 16 Hz. A frequência de corte superior
(fCL), limitada pelo ganho do amplificador, é de 167 kHz. O capacitor C ajuda a estabilizar o circuito
e reduz o ganho do ruído em altas frequências (Figura 1.6).

Figura 1.6: Ganho em malha aberta do AO e para a tensão de ruído do AO.

Para determinar a densidade de ruído na saída do AO em função do ruído que ele introduz
no circuito é necessário utilizar as curvas de densidades de ruído do amplificador (Figura 1.7, a
esquerda) e multiplicá-la pelo ganho GVN (Figura 1.8).

V VN =V N⋅G VN (21.7)

V IN =I N⋅R⋅
( 1
R⋅C⋅S +1 ) (21.8)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 283


Figura 1.7: Densidade de ruído para o AD795JR

O efeito das demais fontes também deve ser calculado. A amplitude total de ruído na saída
do amplificador pode ser estimada somando-se os efeitos de cada fonte em separado. Vale lembrar
que a soma é feita com a raiz quadrado da soma dos quadrados (valor RMS de ruídos
independentes). A tensão de ruído térmico (VTR e VTRsh) dos resistores é de 4 μV/√Hz.

( )(
V VTR =
V TR
R

R
R⋅C⋅S +1 ) (
=V TR⋅
1
R⋅C⋅S +1 ) (21.9)

( )(
V VTRsh =−
V TRsh
Rsh

Rsh

)( ) (
R
Rsh⋅Cj⋅S +1 Rsh

Rsh⋅Cj⋅S +1
R⋅C⋅S +1
V
)
=− TRsh⋅R⋅
Rsh
1
(
R⋅C⋅S +1 ) (21.10)

( )
R

(
V Sinal =−I⋅
Rsh
Rsh⋅Cj⋅S +1
⋅ )R⋅C⋅S +1
Rsh
(21.11)
Rsh⋅Cj⋅S +1

(
V Sinal =−I⋅R⋅
1
R⋅C⋅S +1 ) (21.12)

As densidades de ruído foram integradas considerando que todas foram filtradas por um
passa baixas de primeira ordem na frequência de corte 1/τ (Figura 1.8). Isto é verdade para todas
as fontes de ruído com exceção de VN e IN. O ruído 1/f tem influência predominante até 12 Hz, mas,
aceitando um pequeno erro de estimativa, pode ser considerado constante, pois a integração é
feita até 167 kHz. IN, por outro lado, aumenta para frequências acima de 50 kHz, mas como o
amplificador limita sua banda a (R·C)-1 o erro desta aproximação também é pequeno. Assim, cada
integral foi feita por retângulos, considerando o ruído constante na banda de passagem para cada
fonte de ruído, e multiplicando o resultado por 1,57. A influência de cada componente sobre o
ruído total na saída do amplificador é apresentada na Tabela 21.3.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 284


Figura 1.8: Contribuição de cada fonte de ruído na tensão de saída.
A análise da Tabela 21.3 revela que a maior influência no ruído total de saída é do AO e se
deve a ampla faixa de frequência para a qual ele é amplificado (muito maior que a frequência com
que o sinal é amplificado). Mesmo assim este ruído é da mesma ordem de grandeza dos ruídos
térmicos de cada resistor. Se o ruído do amplificador for reduzido a zero, o ruído na saída do
operacional fica em torno de 28,5 μVRMS. Isto é o que acontece se, após o amplificador, for
introduzido um filtro passa baixas de primeira ordem (em 20 Hz). Se, por outro lado, a banda de
passagem do sinal for reduzida (modificando o polo formado por R e C) pode-se conseguir o
mesmo efeito de redução de ruído, porém as custas de uma redução significativa na banda de
passagem. O aumento da banda, por outro lado, só pode ser conseguido com redução de C, mas
valores abaixo de 1 ou 2 pF estarão na mesma ordem de grandeza das capacitâncias parasitas.
Tabela 21.3: Contribuição das fontes de ruído sobre a tensão de saída do condicionador
Fonte de ruído Ruído na saída Integração (BW) Valor

VN VN·GVN 1,57·fCL 24,6 μVRMS

IN IN·R2 1,57·(Banda do Sinal) 3 μVRMS

VTRsh VTRsh·(R2/R1) 1,57·(Banda do Sinal) 20 μVRMS

VTR VTR 1,57·(Banda do Sinal) 20 μVRMS

Total 37,6 μVRMS

Para este circuito a faixa dinâmica ou razão sinal ruído é de 20·log(10V/37,6μV)=108 dB.


Outro bom texto sobre este tipo de amplificador e sua análise de ruído pode ser encontrado em
Noise Analysis of FET Transimpedance Amplifiers da Burr Brown.
21.2.2 Condicionador para fotodiodo operando no modo fotocondutivo
Fotodiodos utilizados em circuitos de alta velocidade devem preferencialmente operar no
modo fotocondutivo (Figura 1.9). Neste modo as características do amplificador ficam

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 285


significativamente diferentes das características obtidos no modo fotovoltaico. O diodo de alta
velocidade HP 5082-4204 (um diodo PIN) cuja área também é de 0,2mm 2, apresenta Cj=4 pF @
10 V de polarização reversa, RSH=100 GΩ @ 25 ℃ e corrente de escuro de 600 pA @ 10 V
polarização reversa e máxima corrente de saída linear de 100 μA. Comparando com o modo
fotovoltaico espera-se uma banda de passagem muito maior, a corrente no diodo é muito maior, a
capacitância Cj é muito menor e a resistência RSH é muito maior, pois o diodo está polarizado
reversamente. Isto impõe outras restrições ao circuito do condicionador de sinais.

Figura 1.9: Amplificador para fotodiodo no modo fotocondutivo.

A primeira coisa a observar é que apesar da polarização, do ponto de vista de sinal este
amplificador é idêntico ao anterior, e todas as equações e gráficos apresentados antes continuam
sendo válidas. Ajustes devem ser feitos apenas para os valores dos componentes, mas algumas
considerações podem ser feitas por comparação com o modo fotovoltaico. Como a corrente é bem
maior a resistência R é bem menor. A capacitância Cj é da ordem de grandeza da capacitância de
entrada do AO e, por isso, as duas devem ser computadas juntas. A resistência Rsh é muito maior
que R e na maioria das aplicações pode desconsiderada. A banda de frequências deve ser
aumentada com a redução de R e C. O valor de R fica limitado pelo ganho requerido do circuito e o
valor de C deve ser escolhido de forma a maximizar a banda, mas deve manter o circuito estável.
Assim, as constantes de tempo 21.5 e 21.6 podem ser aproximados por τD=R·Cj (considerando C
bem menor do que Cj) e τ=R·C.

Figura 1.10: Ganhos de malha aberta e de ruído do amplificador operacional.

A escolha do capacitor C pode ser feita na média geométrica entre fD e fU (frequência do


zero definido por τD e a frequência de ganho unitário do AO). Esta escolha mantém o circuito
estável com margem de ganho aproximada de 45º.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 286


f =√ f ⋅f U (21.13)

C=
√ Cj
2⋅π⋅R⋅f u
(21.14)

A escolha do amplificador deve prever entrada FET (por causa das baixas correntes do
sensor), capacitância de entrada (Cin) baixa (para não piorar a resposta do sensor) e frequência de
ganho unitário elevada (GB ou fU). Uma boa figura de mérito é a razão entre GB e Cin. Na Tabela
21.4 são apresentados alguns possíveis amplificadores para esta tarefa. O AD823 apresenta a
menor razão GB/Cin e se configura numa boa escolha.
Tabela 21.4: Amplificador operacionais para o circuito de condicionamento do fotodiodo no modo
fotocondutivo.
AO GB (MHz) Cin (pF) GB/Cin IB (pA) VN (nV/√Hz)

AD823 16 1,8 8,9 3 16

AD843 34 6 5,7 600 19

AD744 13 5,5 2,4 100 16

AD845 16 8 2 500 18

OP42 10 6 1,6 100 12

AD745* 20 20 1 250 2,9

AD795 1 1 1 1 8

AD820 1.9 2,8 0,7 2 13

ADA4627 19 8 2,4 1 6,1


*AD745 é estável para ganho maior que 5 (normalmente este é o caso uma vez que o ganho
de ruído em altas frequências é determinado por 1+Cj/C e, normalmente, Cj>4·C).
Para compensar a corrente de escuro, é possível utilizar outro diodo com as mesmas
características, porém ligado a entrada não inversora. A Figura 1.11 ilustra esta solução.

Considerando que se deseje um fundo de escala de 10 V para uma corrente de 100 μA,
então R=100 kΩ. O AD823 possui fU=16 MHz e Cin=1,8 pF que somada a capacitância de 4 pF do
fotodiodo resulta numa capacitância Cj equivalente de 5 pF. Com estes valores fD=274 kHz,
C=0,76 pF e f=2,1 MHz. Capacitores cerâmicos variáveis podem ser utilizados para o ajuste final de
C. Capacitores ligados em T também podem ser utilizados. O resistor R pode ser substituído por 3
resistores de filme de 33,3 kΩ, para reduzir capacitâncias parasitas. Para simetria do circuito R2
deve ser adicionado com o mesmo valor de R. O capacitor C2 filtra ruídos em R2, mas deve ter
baixas perdas (polipropileno, por exemplo).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 287


Figura 1.11: Circuito para compensação de corrente de escuro.
21.2.3 Amplificadores de Carga
Amplificadores de carga são aqueles onde a impedância de entrada é capacitiva e oferece
impedância extremamente elevada para baixas frequências. Sua configuração básica consiste de
um amplificador não inversor com um só capacitor de realimentação, responsável pelo ganho.
Para polarizar o amplificador é necessário o uso de resistores em paralelo com o capacitor de
ganho, mas o resistor tem apenas limita o ganho em CC e limita a banda de atuação do
amplificador. A configuração final é muito semelhante à do amplificador de transcondutância, mas
os componentes são calculados com outro enfoque. O nome, amplificador de carga, vem do fato de
que variações de carga na entrada são transformadas em tensão na saída do operacional. Seu uso é
comum com sensores capacitivos e piezoelétricos. Na Figura 1.12 é apresentado o esquema básico
de um amplificador de carga, considerando a fonte de sinal, o cabo e o resistor de polarização da
realimentação.

Figura 1.12: Amplificador de carga. A fonte de corrente Cs e Rs representam a fonte. Cc e Rc são o


cabo.

Para o amplificador de carga ideal, com a fonte de corrente em paralelo com o capacitor
Cs, e o amplificador contendo apenas o capacitor C a tensão de saída é

1
1 C⋅S q
v o =−( q⋅S )⋅ ⋅ =− (21.15)
Cs⋅S 1 C
Cs⋅S

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 288


Como a tensão depende apenas da carga e do capacitor de realimentação ela se torna
insensível a capacitância do cabo e da entrada do amplificador. As limitações começa a ocorre
apenas em altas frequências quando o ganho do amplificador deixa de ser muito alto ou quando C
é muito baixo e o ganho da configuração fica muito elevado. O capacitor C deve ter baixas perdas
e alta estabilidade.

Levando em conta as demais impedâncias observa-se que o circuito apresenta um


comportamento passa altas que impede seu uso em CC. Como os valores de R costumam ser
muito elevados e os de C muito baixos a frequência de corte frequentemente é muito baixa (bem
menor que 1 Hz). Isto permite medidas em frequências bem baixas, mas não CC. Filtros passa altas
com frequências de corte tão baixa, porém, são muito lentos para se recurarem de eventuais
saturações.

( )
R

(
v o =−(q⋅C )⋅
RS
)
R S ⋅C S ⋅S +1

R⋅C⋅S +1
RS
=−q⋅
R⋅S
R⋅C⋅S +1
(21.16)
R S ⋅C S ⋅S +1

vo R⋅S
= (21.17)
q R⋅C⋅S +1

Para sensores de quartzo, a resistência de fuga do capacitor C fica entre 10 GΩ e 10 TΩ,
com capacitâncias entre 10 pF e 100 nF. Para sensores cerâmicos as capacitâncias variam entre
10 pF e 1 nF e a resistência de fuga varia de 100 MΩ até 10 GΩ. Por esta razão é comum o uso de
um resistor R que ajuda na polarização do amplificador.

O circuito tem banda limitada basicamente pelo AO. O aumento do capacitor C reduz a
banda.

( )
q 1
v o =− ⋅
C j⋅f (21.18)
1+
fH

O uso de uma resistência série entre a fonte e a entrada inversora ajuda na estabilidade do
circuito, e adiciona um polo de altas frequências tornando o circuito mais independente do AO.
Ele também protege o AO contra correntes elevadas que possam surgir em virtude de altas-
tensões. Este resistor costuma ter valores entre 1 kΩ e 10 kΩ.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 289


21.3 Exercícios

1) O circuito abaixo mede temperaturas entre 400 oC e 600oC com um termopar tipo J e
compensação eletrônica de junta fria. O LM134 é uma fonte de corrente cuja saída depende
linearmente da temperatura: I (μ A)=227⋅[273+Tamb ( o C )]/ R8 (com o sentido indicado). O
termopar apresenta saída ET(T) tal que ET(400oC)=21,846mV e ET(600oC)=33,096mV. A
compensação de junta fria deve funcionar para temperaturas entre 10 e 40 oC. a) Determine a
expressão da tensão na saída do amplificador operacional. b) Determine os valores dos
componentes para que a saída seja de ±10V na faixa de operação do circuito.

2) Quais cuidados devemos ter com a montagem (layout de placa, escolha dos
componentes e cabeamento) de um circuito condicionador de sinais com elevada impedância de
entrada e alto ganho (como nos amplificadores para fotodiodos em modo fotovoltaico). Justifique
sempre, use desenhos se necessário.

3) Explique o funcionamento do circuito ao lado. Mostre como foram calculados os


componentes. Qual a faixa de tensões de saída? Considere que o termopar K tem coeficiente
Seebeck de aproximadamente 41V/°C e o TMP35 é um sensor de temperatura com coeficiente
térmico de 10mV/°C.

4) Um acelerômetro piezoelétrico de sensibilidade 1pC/(m/s 2) apresenta uma capacitância


de 1nF em paralelo com uma resistência muito alta. Para utilizá-lo em medições entre 0,1Hz e
1kHz o mesmo foi conectado ao circuito ao lado (amp. op. ideais). A banda passante se determina
com um filtro que não está incluído na figura. Projete o circuito para que a sensibilidade seja
ajustável entre 1 e 100mV/(m/s2).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 290


5) Liste ao menos 1 cuidado especial com cada um dos seguintes itens que compõe um
amplificador para fotodiodo (baixa corrente de entrada, elevado ganho): a) amplificador
operacional; b) lay out de placa e; c) resistor de realimentação.

6) Projetar o circuito de um amplificador para termopar do tipo K (Chromel-Alumel), cujo


coeficiente Seebeck é de 40µV/ºC. Use um AD620 (G=49,4kΩ·RG–1 +1), um PT100 (R=100Ω @
0ºC), cujo coeficiente de temperatura é de 3907·10–6Ω/Ω/K, e um REF102 (10V para referência). A
saída do circuito deve ser ligada a um multímetro na escala de 2V e a temperatura máxima deste
termômetro deve ser de 250ºC. Mostre cuidados com cabos e alimentação.

7) O circuito abaixo é usado como um condicionador para sensores piezoelétricos. A)


Calcule a função de transferência; B) explique qual a função de Rb (supondo Rp infinito) e da
tensão de 1/2Vcc; C) explique se este circuito funciona ou não como um amplificador de carga; D)
explique, usando modelos, se o cabo de interligação (do sensor ao circuito) pode ou não afetar o
desempenho deste circuito; E) explique se esta configuração não inversora apresenta vantagens ou
desvantagens com relação a configuração inversora; F) liste as características importantes para o
amplificador operacional (inclua uma breve justificativa com exemplos numéricos).

8) Este circuito foi projetado para ser um termômetro. O manual informa que a
sensibilidade de saída é de 10mV/ºC e que a exatidão é de 1ºC para a faixa de 0ºC até 650ºC. O
manual também informa que o LT1025 deve ficar próximo das conexões do termopar. Sabe-se que
a sensibilidade do termopar tipo E (Cromel-Constantan) é de 60,9μV/ºC em 25ºC, e apresenta
variação de aproximadamente 75mV para a faixa de -270 a 1000ºC. Explique: A) como funciona o
circuito (use gráficos e determine valores importantes); B) quais as funções do LT1025 e do
LT1021; C) como devem ser escolhidos os operacionais (use valores para ajudar); D) se o uso de
circuito de guarda ajuda a melhorar o desempenho do circuito. E) Determine qual a sensibilidade
do termopar em temperaturas próximas de 650ºC;

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 291


9) O circuito abaixo é um amplificador para termopares do tipo K (Chromel-Alumel), cujo
coeficiente Seebeck é de 40µV/ºC. O INA128 queimou e deve ser substituído por um AD620 (G=1+
49,4kΩ/RG). O PT100 tem R=100Ω @ 0ºC, e coeficiente de temperatura de 3907·10-6Ω/Ω/K. O
REF102 é uma fonte de 10V para referência. O novo circuito deve funcionar até 250ºC e a saída
deve ser exibida em um voltímetro, na escala de 2V. A) como funciona o circuito? B) recalcule os
componentes para que o circuito funcione com o AD620. C) qual a função dos capacitores em
paralelo com a fonte e onde devem ser colocados quando o circuito for montado?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 292


10) O circuito abaixo é o modelo de um amplificador de carga. R1, C1 e ID formam o
modelo do sensor. Calcule o ruído na saída do amplificador. Considere R1=1000MΩ, R2=1000ΩM,
C1=50pF, C2=10pF. As características importantes do operacional são: GB=1MHz, VN=8nV/√Hz e
IN=0,6fA/√Hz. Desenhe as curvas de densidade de ruído em função da frequência. Marque os
ganhos e as frequências de corte. Monte a tabela com os níveis de ruído (RMS) gerados pelas
fontes (indique claramente as faixas de integração).

11) O circuito abaixo foi montado com um termopar do tipo K cuja sensibilidade é de
aproximadamente 41 μV/℃. O resistor R1 foi escolhido de forma que 200 mV de saída
correspondam a 200 ℃ de entrada. Apesar do banho de gelo o circuito não está funcionando. Os
componentes foram testados individualmente e não apresentam problemas. a) Se este é todo o
circuito, é necessário algum cuidado especial com o layout da placa para que ele funcione? b) Que
características são desejáveis para o amplificador de instrumentação? c) O que precisa ser feito
para que o circuito funcione? Justifique todas as suas respostas.

12) Descreva em poucas linhas quais são as diferenças e semelhanças entre um amplificador
de trans impedância e um amplificador de carga? Fale da resposta em frequência, do projeto dos
componentes, do efeito dos cabos e do ruído.

13) a) Projete um amplificador de carga para transdutor piezoelétrico (S=230 pC/Pa,


Rs=52 GΩ e Cs=20,4 nF) de forma que a sensibilidade final seja de -10 mV/Pa. b) Escolha os
componentes para que a frequência de corte inferior da banda de passagem não seja menor do que
se o transdutor estivesse ligado a um eletrômetro. c) Qual a amplitude do ruído térmico na saída
do amplificador? d) Quais cuidados devemos ter com o sensor, amplificador operacional,
resistores, capacitores, placa e layout?

14) Um amigo seu, da química, pediu para você fazer um amplificador para um sensor de
pH. O equivalente Thevenin do sensor é uma fonte de tensão controlada pelo pH, conforme
mostrado no gráfico abaixo, em série com um resistor de cujo valor típico varia entre 100MΩ e
1GΩ. O circuito precisa responder até frequências de 5Hz. a) mostre o circuito para que a saída
varie de 0 até 1,4V para pH de 0 até 14. b) aplique uma correção para temperatura, usando um
PT146 de 1kΩ @3500ppm/ºC. c) Tirando o RTD, diga se algum componente do seu circuito precisa

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 293


de características especiais. d) A placa de circuito impresso para este seu circuito precisa de algum
cuidado especial? e) Os cabos que interligam o sensor ao circuito precisam de cuidados especiais?
Justifique todas as suas respostas mostrando procedimentos ou explicando características.

15) Para o amplificador de termopares a seguir: a) como funciona? b) quais componentes


são usados para minimizar ruídos? c) qual a função do LTC1025? d) o termopar poderia ser ligado
diretamente no LTC2053, sem os resistores e capacitores a ele conectados? Quais vantagens e
desvantagens desta ligação?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 294


22 Filtros seletores de frequência

22.1 Introdução

Todos os sinais podem ser representados por um gráfico no domínio do tempo (função do
tempo) ou por um gráfico no domínio da frequência (função da frequência). Quando se fala em
frequência se fala dos infinitos cossenos que somados com amplitude, fase e frequência
apropriados são capazes reproduzir o sinal original. Este é o conceito por detrás da série e
transformada de Fourier e também de Laplace. Nesta representação, um seno ou um cosseno são
desenhados pelos gráficos de amplitude e fase em função da frequência (a frequência do seno ou
do cosseno). O desenho, portanto, corresponde a uma raia espectral indicando o módulo
(amplitude) e outra indicando a fase deste sinal na frequência deste seno ou cosseno. Para sinais
mais complexos, como ondas quadradas, triangulares e outras, uma soma de infinitos cossenos são
necessários. Cada sinal possui uma representação única que o distingue dos demais.

Sinais ainda mais complexos, não periódicos, como sinais de EEG, ECG ou EMG, por
exemplo, também podem ser decompostos por somas de senos e cossenos. Assim como para as
ondas periódicas, normalmente estes sinais apresentam amplitudes menores para as frequências
maiores. Também os ruídos podem ser decompostos por soma de senos e cossenos. Um ruído
brando, por exemplo, assim como um impulso, possui todas as infinitas frequências com a mesma
amplitude. A diferença entre eles está apenas no gráfico da fase. O termo ruído branco é uma
alusão a luz branca que é composta de todos os comprimentos de onda do espectro visível. Outros
ruídos coloridos também existem, em função da faixa de frequência que eles ocupam.

Sinais reais são uma mistura (soma) de informações com ruídos, offsets e drifts. Uma
análise em frequência destes sinais contaminados provavelmente mostrará amplitudes elevadas
para a frequência zero (offset) e próximas (drifts) além das frequências que compõe o sinal e o
ruído. Apesar de varições locais da amplitude a tendência mais comum é que as amplitudes
decaiam com a frequência até a amplitude do ruído.

Para lidar com estes sinais existem os filtros seletores de frequência. Estes filtros são
circuitos que amplificam de forma diferente sinais de diferentes frequências. Estes filtros estão
presentes em quase todos os circuitos, nem que seja para minimizar ruídos de alta frequência,
retirar o nível CC de sinais, selecionar uma faixa de frequências de interesse, retirar a
interferência de 60 Hz ou para evitar o aliasing em sinais amostrados (processamento digital de
sinais).

Hoje em dia muitos programas de computador estão disponíveis para auxiliar no projeto
de filtros. Alguns, como o MATLAB (ou OCTAVE), permitem o cálculo dos polinômios
(aproximações) para diferentes graus e frequências de corte, bem como o desenho da resposta em
frequência destes filtros. Outros, como o FilterCAD, da Linear Technology, o FilterPRO ou o
Webench Filter Design, da Texas Instruments, o Filter Wizard da Analog Devices, o FilterLAB da
Microchip, o Mr. Filter ou o Op Amp Filter Design permitem o projeto de filtros com
amplificadores operacionais (AO). Mesmo assim, a especificação dos filtros continua sendo uma
escolha do projetista e não há software que defina o melhor filtro para cada aplicação.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 295


Conhecer os tipos de filtro, as formas de especificar e implementar um filtro, os desenhos
de módulo e fase, assim como a aplicação de cada filtro é o alvo deste capítulo.

22.2 Unidades e nomenclatura

O estudo clássico dos filtros passa pela análise de suas funções de transferência. Nestes
circuitos as funções de transferência serão frações com polinômios no numerador e denominador.
Estas funções de transferência podem ser funções de ganho ou funções de atenuação (perdas).
Quando o módulo da função de ganho for maior que a unidade (1) a saída do filtro é maior que
sua entrada. Quando o módulo da função de ganho for menor que a unidade (1) a saída do filtro é
menor que sua entrada. Do ponto de vista da atenuação ocorre exatamente o oposto, uma vez que
a atenuação pode ser escrita como uma função do ganho, tal que

1
Atenuação= (22.1)
Ganho

A escolha pelo termo atenuação se deve ao fato de que os primeiros filtros apresentavam
ganho máximo igual à unidade (1) e, portanto, era mais sensato falar em atenuação. Além disto a
função de atenuação da maioria dos filtros era polinomial, o que tornava a análise da atenuação
mais simples (o ganho era uma constante dividida por um polinômio e a atenuação era um
polinômio dividido por uma constante). Neste capítulo serão abordados principalmente os filtros
polinomiais.

Para as amplitudes o mais comum é o uso do dB, pois facilita a análise de funções de
transferências e seu desenho no diagrama de bode. Quando se converte de ganho para atenuação e
vice versa basta trocar o sinal da grandeza que está em dB.

22.3 Funções de 1ª e 2ª ordens

A Tabela 22.1 mostra as funções de ganho que podem ser obtidas com os fatores de
primeira e segunda ordem. Na tabela observa-se nomes relacionados as frequências que são
amplificadas ou atenuadas. Os quatro principais tipos são o passa baixa (PB), o passa alta (PA), o
passa faixa (PF) e o rejeita faixa (RF ou notch, no seu caso mais conhecido).

Filtros de ordem mais elevada são formados pela ligação em cascata de filtros de primeira e
segunda ordem, mas o projeto deve ser feito todo de uma só vez. Ligar vários filtros iguais, em
cascata e com a mesma frequência de corte, por exemplo, faz com que a atenuação na frequência
de corte seja diferente da atenuação especificada para um só filtro (em dB as atenuações de cada
filtro se somam). Por esta razão foi preciso desenvolver uma metodologia para o projeto de filtros
de qualquer ordem. Esta metodologia passa pelo desenho do gabarito de cada filtro. A partir deste
gabarito determina-se a ordem dos filtros necessária para atender os requisitos de cada projeto.

22.4 Gabaritos

Os filtros seletores de frequência cujas funções de transferência de primeira e segunda


ordem foram apresentados na Tabela 22.1 são calculados a partir de gabaritos padronizados.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 296


(Figura 1.1). Costuma ser especificado, no projeto, a atenuação mínima (para região de frequências
a atenuar – região de atenuação), atenuação máxima (para região de frequências que não devem
ser atenuadas – região de passagem), frequências que delimitam a região de passagem (banda ou
faixa de passagem) e frequências que delimitam a região de atenuação (banda ou faixa de
atenuação). Estas especificações podem ser utilizadas diretamente por programas de computador
para o cálculo dos filtros (funções de transferência ou projeto dos circuitos), mas para o projeto
auxiliado por tabelas e gráficos os filtros devem ser convertidos em um filtro passa baixa
normalizado. Caso o filtro não seja um passa baixa também é necessário uma transformação em
frequência. Esta metodologia foi desenvolvida para facilitar o projeto antes dos computadores
terem se tornado populares. A normalização leva em conta a relação entre as frequências limites
da banda e passagem e rejeição bem como a diferença de atenuação entre elas. Estas relações
permitem o projeto de um filtro passa baixa normalizado (frequência de corte unitária) cujas
soluções são tabeladas. A partir deste filtro e de desnormalizações apropriadas é possível projetar
qualquer um dos demais filtros.
Tabela 22.1: Funções de primeira e segunda ordem
Tipo de filtro Função de transferência

K
Integrador
S
σ0
Passa baixa 1ª ordem K
S +σ 0
S
Passa alta 1ª ordem K
S +σ 0
2
ω0
Passa baixa de 2ª ordem K ω
S 2+ 0 S +ω20
Q

S2
K
Passa alta de 2ª ordem 2 ω0 2
S + S +ω0
Q
ω0
S
Q
Passa faixa (2ª ordem) K 2 ω0 2
S + S +ω0
Q

S 2 +ω 20
Rejeita faixa (2ª ordem) K 2 ω0 2
S + S +ω0
Q
Funções de maior ordem são obtidas pelo produto destas funções.
Nesta normalização a frequência limite da banda de passagem é ω̅p=1, a frequência limite
da banda de rejeição é ω̅s, a atenuação permitida na banda de passagem é Amáx e a mínima
atenuação exigida para a banda de rejeição Amin.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 297


Uma vez determinado o gabarito do filtro e do filtro normalizado escolhe-se a aproximação
(o tipo de polinômio que se pretende empregar). Para filtros com ordem maior do que 2 cada
aproximação apresenta características distintas pois aloca os polos em locais diferentes. Esta
alocação de polos confere a aproximação características especiais de amplitude, fase e resposta
temporal. Só depois da escolha da aproximação o filtro pode ser implementado em circuito e
normalmente isto é feito em secções de primeira e segunda ordem ligadas em cascata. A exceção
são os filtros que já vem prontos em circuitos integrados.

(A) (D)
Amin Amin

Amáx Amáx
wp ws w1 w3 w4 w2
(B) (C)
Amin Amin

Amáx Amáx
ws wp w3 w1 w2 w4

Figura 1.1: Gabaritos dos filtros seletores em termos de atenuação. (A) passa baixa, (B) passa alta,
(C) passa faixa, (D) rejeita faixa

22.5 Normalização e desnormalização em frequência


22.5.1 Transformação passa baixa para passa baixa normalizado
O filtro passa baixas é aquele que atenua as altas frequências (em comparação com as
frequências baixas) e, por isso, é muitas vezes utilizado para remover ou minimizar os efeitos de
ruído de alta frequência, assim como para produzir os filtros anti aliasing. Observando um sinal
no domínio do tempo percebe-se que ele apresenta componentes de alta frequência quando há
variações rápidas do sinal, como em transições abruptas ou em variações aleatórias. O gabarito
para o passa baixas é apresentado na Figura 1.2.

Amin

Amáx
wp ws
Figura 1.2: Gabarito de um filtro passa baixa.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 298


Para normalizar

ω p=1 (22.2)

ω
ω s=ω s (22.3)
p

Para desnormalizar basta substituir S̅ por S∕ωp na equação do filtro passa-baixa


normalizado ou fatorar o filtro em seções de primeira e segunda ordem e substituir σ0 ou ω0 por
ωp.

Exemplo 1: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅+1) em um passa baixas com frequência de


corte ωp.

Solução 1: Substituir S̅ por S∕ωp em

1
T ( S̄)=
S̄+1

1 ωp
T (S)= = .
S/ω p +1 S +ω p

Solução 2: Sabendo que um filtro passa baixa de primeira ordem tem função de
transferência T(S)=σ0∕(S+σ0) basta substituir σ0 por ωp.

ωp
T (S)=
S+ω p

Exemplo 2: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅2+0,707·S̅+1) em um passa baixa com


frequência de corte ωp.

Solução: Na função de transferência do passa baixa normalizado Q- 1=0,707. A função de


transferência de um filtro passa baixa de segunda ordem é T(S)=ω02∕(S2+ω0·Q- 1·S+ω02). Substituindo
os valores de Q e fazendo ω0=ωp resulta em

ω 2p
T (S)= 2
S +0,707 ω p S+ω 2p
22.5.2 Transformação passa alta para passa baixa normalizado
O filtro passa altas é aquele onde as baixas frequências são mais atenuados que as altas
frequências. Por esta razão este tipo de filtro é muito utilizado para a remoção de níveis de CC,
offsets e drifts. Como visto na Tabela 22.1, estes filtros apresentam a parcela S no numerador, o que
garante ganho 0 para ω=0 independentemente da ordem do filtro. Se um sinal não possui
componentes de CC e apresenta algum offset, este offset pode ser removido com um filtro passa
altas. Se o sinal possui componentes de CC e offset, este offset não pode ser removido com um
filtro passa baixas, caso contrário a componente CC do sinal será eliminada. Nestes casos é

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 299


necessário eliminar o offset com um somador ou subtrator. O gabarito para um passa altas padrão
é apresentado na Figura 1.3.

Para normalizar

ω p=1 (22.4)

ω
ω s=ω p (22.5)
s

Amin

Amáx
ws wp
Figura 1.3: Gabarito de um filtro passa alta.

Para desnormalizar basta substituir S̅ por ωp∕S na equação do filtro passa baixa
normalizado ou fatorar o filtro em seções de primeira e segunda ordem e substituir σ0 ou ω0 por
ωp.

Exemplo 1: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅+1)

Solução 1: Substituir S̅ por ωp∕S em T(S̅)=1∕(S̅+1) temos

1 S
T (S)= =
ω p /S+1 S +ω p

Solução 2: Sabendo que este filtro é um passa alta de primeira ordem ele tem equação
T(S)=σ0∕(S+σ0). Substituindo σ0 por ωp temos

S
T ( S )=
S +ω p

Exemplo 2: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅2+0,707·S̅+1).

Solução: Como o filtro é um passa alta de segunda ordem T(S)=S2∕(S2+ω0·Q-1·S+ω02), então


Q =0,707 e ω0 deve ser substituído por ωp. Assim,
-1

S2
T (S)=
S2 +0,707 ω p S+ω 2p

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 300


22.5.3 Transformação passa faixa para passa baixa normalizado
O filtro passa faixa é aquele onde as frequências centrais (uma faixa de frequência) é
menos atenuada do que as frequências baixas ou altas. Este filtro normalmente é empregado para
selecionar apenas uma faixa das componentes em frequência do sinal, como ocorre quando
desejamos estudar apenas as ondas β de um sinal de EEG, por exemplo. Quando desejamos
selecionar uma faixa de frequências muito grande, tipicamente bem maior que uma década, este
filtro é implementado como um filtro passa altas em cascata com um filtro passa baixas. Um
exemplo deste tipo de implementação ocorre quando filtramos um sinal de ECG, com um filtro
passa altas em 0,04 Hz para remover níveis CC e drifts, enquanto que um filtro passa baixas em
100 Hz pode ser utilizado para remover ruídos de alta frequência. O gabarito clássico do filtro
passa altas é apresentado na Figura 1.4.

Amin

Amáx
w3 w1 w2 w4
Figura 1.4: Gabarito de um filtro passa faixa.

Para normalizar o filtro é necessário fazer com que as atenuações Amín e Amáx sejam iguais
nas bandas de rejeição e passagem e que as frequências do filtro atendam a seguinte condição
ω0 =√ ω1⋅ω2= √ω 3⋅ω4 , com banda de passagem entre ω1 e ω2.

Quando as exigências forem atendidas a normalização é feita fazendo

ω p=1 (22.6)

ω −ω
ω s=ω 4−ω3 (22.7)
2 1

Para desnormalizar basta substituir S̅ por (S2+ω02)∕(B·S) na equação do filtro passa baixas
normalizado. Nesta equação B=ω2-ω1=ω0∕Q.

Exemplo 1: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅+1)

Solução: Substituir S̅ por (S2+ω02)∕(B·S) e B=ω0∕Q

ωp
S
1 BS Q
T (S)= 2 2 = 2 =
S + ωp S +BS+ ω2p S 2+ ω p S+ ω2p
+1 Q
BS

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 301


Exemplo 2: Devemos captar sinais na faixa de 300 Hz a 3,4 kHz. Uma interferência de
60 Hz está presente no sistema prejudicando o experimento. Deseja-se projetar um filtro passa
faixa tal que esta interferência seja atenuada em 15 vezes. Desenhe o gabarito do filtro desejado e
do passa baixas normalizado.

Atenuação Atenuação
Amin

Amáx

wp ws w3 w1 w2 w4

Solução: ω1=300 Hz, ω2=3,4 kHz, ω3=60 Hz, ω4=(ω1·ω2 )∕ω3 = 17 kHz,

ωp=1 rad/s, ωs= (ω4–ω3)∕(ω1–ω2)=5,46 rad/s.

Amáx=3 dB, Amín = 20·log(15) dB


22.5.4 Transformação rejeita faixa para passa baixa normalizado
O filtro rejeita faixa é aquele que atenua mais a faixa central de frequências do que as
baixas ou altas frequências. Este tipo de filtro não é muito comum com exceção do seu caso
particular o filtro notch. O filtro notch é um rejeita faixa muito seletivo, ou seja, com elevado Q.
Em outras palavras o filtro notch é aquele em que a faixa de frequências atenuadas é muito estreita
e a atenuação é muito grande. Este tipo de filtro é muito comum para retirar interferência de
60 Hz oriunda da rede elétrica. Apesar da sua aplicação corriqueira e eficiente, o filtro notch
distorce muito a fase do sinal e por esta razão deve ser utilizado com cautela. Como já foi dito,
modificações de fase alteram o formato do sinal, o que pode ser inaceitável caso a interpretação do
sinal dependa do seu formato.

Amin

Amáx
w1 w3 w4 w2
Figura 1.5: Gabarito de um filtro rejeita faixa.

Para normalizar o filtro é necessário fazer com que as atenuações Amin e Amáx sejam iguais
nas bandas de passagem e rejeição e que as frequências do filtro atendam a seguinte condição
ω0 =√ ω1⋅ω2= √ω 3⋅ω4 , com banda de passagem entre ω1 e ω2

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 302


Quando as exigências forem atendidas a normalização é feita fazendo

ω p=1 (22.8)

ω −ω
ω s=ω 2−ω1 (22.9)
4 3

Para desnormalizar basta substituir S̅ por (B·S)∕(S2+ω02) na equação do filtro passa baixas
normalizado. Nesta equação B=ω2-ω1=ω0∕Q.

Exemplo 1: Desnormalizar o filtro T(S̅)=1∕(S̅+1)

Solução: Substituir S̅ por (B·S)∕(S2+ω02) e B=ω0∕Q

1 S 2+ ω2p S 2+ ω2p
T (S)= = 2 =
B⋅S
+1 S +BS+ ω2p S 2+ ω p S+ ω2p
S 2+ ω2p Q

Exemplo 2: Projetar um filtro capaz de eliminar a frequência de 60 Hz, mantendo o ganho


aproximadamente unitário para DC e 2 kHz. Fazer o projeto para uma banda de rejeição de
±10 Hz.

Solução 1: É possível usar um filtro de segunda ordem, então T(S̅)=1∕(S̅+1)

A desnormalização é feita substituindo S̅ por (B·S)∕(S2+ω02) onde B=ω2-ω1=20 Hz e


ω0=2·π·60 Hz, logo

(2⋅π⋅20)2
S̄ =
s2 +(2⋅π⋅60)2

s 2+(2⋅π⋅60)2
T ( s)=
s 2 +( 2⋅π⋅20⋅s)+(2⋅π⋅60)2

Solução 2: A função do filtro rejeita faixa de segunda ordem é


T(S)=(S2+ω02)∕(S2+ω0·Q- 1·S+ω02) sendo que, neste caso, B=ω2-ω1=20 Hz e ω0=2·π·60 Hz. Logo

s 2+ ω20 s2 +(2⋅π⋅60)2
T (s)= 2 =
s + B⋅s+ω02 s2 +(2⋅π⋅20⋅s)+( 2⋅π⋅60)2

22.6 Escolha das frequências e atenuações

A determinação das frequências que definem as bandas de passagem e atenuação, assim


como as atenuações máxima e mínima corresponde a parte mais subjetiva do projeto de filtros.
Normalmente não há uma resposta única para cada problema e a determinação de todos estes

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 303


parâmetros vai depender do que cada projetista julga necessário ou razoável. Apesar disto existem
muitas respostas erradas para um mesmo problema. Saber o que pode e o que não pode ser feito é
fundamental e, por essa razão, existem alguns balizadores que auxiliam na escolha e tomada de
decisão. A primeira coisa para a qual devemos atentar é o fato de que filtros não possuem apenas
duas bandas, a de passagem e a de rejeição, e sim três, o que inclui uma região de transição. Isto
significa que os sinais fora da banda de passagem são atenuados em diferentes níveis dependendo
da sua frequência. Com isso em mente é mais fácil aceitar que nem a frequência de corte será
perfeitamente definida.

É necessário escolher sempre os piores casos. A frequência de corte é, no mínimo, aquela


que deixa a banda do sinal passar, isto é claro, o problema é definir exatamente quem é a banda de
passagem. Mesmo para sinais que estão bem estudados e relatados na literatura, como o EMG, por
exemplo, a banda de passagem depende do tipo de eletrodo e do músculo que está sendo
investigado. Um sinal vindo de uma célula de carga, por outro lado, nem sempre é um sinal bem
caracterizado na literatura. Nestes momentos é difícil ser preciso ou exato na determinação da
frequência de corte. Para piorar ainda mais as coisas suponha que você meça este sinal e estime
sua composição espectral usando técnicas de processamento de sinais. Você descobrirá que todos
os sinais possuem infinitas componentes de frequência com amplitude não nula, principalmente
se o seu gráfico estiver em dB (isto fica muito visível), então não é possível usar isto como critério.
O que ocorre, na verdade, é que em algum momento o nível de ruído se confunde com o nível das
componentes mais altas do sinal. O que devemos estabelecer é a partir de onde as componentes de
frequência tem amplitudes irrelevantes ou que se confundam com o ruído. Depois disto devemos
definir qual maior atenuação que aceitaremos na banda de passagem. Conservadoramente adota-
se o critério de meia potência (onde a potência do sinal cai pela metade) o que equivale ao ponto
de -3dB. Neste ponto as componentes de frequência já estão sendo multiplicadas por 0,707 (há
uma atenuação de 30% no sinal). Quando as componentes de frequência que compõe o sinal já tem
baixa amplitude na frequência de corte, este critério pode ser adotado sem muitos problemas, caso
contrário talvez seja mais interessante aumentar a faixa de passagem ou reduzir a atenuação
máxima aceita. Erros de fase também devem ser levados em conta.

Tão difícil quanto a escolha da frequência de corte e sua atenuação máxima é a definição
de onde inicia a banda de atenuação e qual a atenuação mínima desejada para esta frequência. Em
alguns poucos casos, como para o filtro notch, estes valores são bem determinados. Para o restante
é necessário alguma ponderação. O segundo caso mais simples é o caso do filtro anti aliasing, já
que a amplitude do sinal na metade da frequência de amostragem deve, ao menos, atender a
algum critério de razão sinal ruído (e o AD disponível ajuda a definir um ruído aceitável para a
instrumentação). Para os demais casos é possível, também, adotar critérios de razão sinal ruído. A
razão sinal ruído (SNR) é formalmente definida para sinais com aparência aleatória e média zero.
Nestes casos a SNR é definida como a razão entre a potência do sinal e a potência do ruído.
Novamente aqui é difícil definir qual é a potência do ruído e qual é a potência do sinal uma vez
que os dois estão misturados. A razão entre valores RMS (valor eficaz) também é usada para a
mesma definição e sofre dos mesmos problemas. Como estas estimativas são complexas e
requerem processamento de sinais nós, nesta disciplina, usaremos a amplitude dos sinais quando a
informação de potência ou valor RMS não estiverem disponíveis. Complicando ainda mais as
coisas a SNR pode ser calculada para toda a faixa de frequências ou para bandas mais estreitas
(caso da potência), ou para trechos específicos do sinal (caso das amplitudes). Por exemplo, num
sinal de ECG pode ser que as ondas P e T tenham amplitude muito menor do que o complexo
QRS, neste caso um ruído com valor fixo de amplitude, pode parecer pequeno no complexo QRS e
grande quando estiver nas ondas P e T.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 304


Exemplo 1: Minimizar o efeito de uma interferência de 60 Hz e tensão eficaz de 1 V sobre
um sinal com banda passante até 10 Hz e amplitude de 0,1 V. Admite-se 11% de atenuação máxima
do sinal na banda passante. Deseja-se uma relação sinal ruído de 100 vezes.

Solução: Filtro passa baixas (a opção mais simples)

Ganho Mínimo na Banda Passante: 20·log·(100%–11%)=–1 dB

Diferença de amplitude entre Sinal e Ruído: 20·log(0,1∕1)=–20 dB

Relação sinal ruído de 100 vezes: 20·log(100)=40 dB

Amáx=1 dB

Amin=40 dB+20 dB+1 dB=61 dB

Frequência de corte 10 Hz, frequência da banda de atenuação 60 Hz

22.7 Aproximações

Uma vez que os gabaritos tenham sido determinados é necessário encontrar um polinômio
que atenda as especificações do projeto. Existem vários tipos de funções de transferência, algumas
são polinomiais (Butterworth, Chebyshev I e Bessel) outras não polinomiais (Cauer e Chebyshev
II). Nos filtros não polinomiais, zeros sobre o eixo jω ajudam a obter uma atenuação mais rápida
na banda e transição, mas pioram as características de fase e de resposta temporal. Os filtros
polinomiais são aqueles em que o passa baixa normalizado apresenta ganho definido por uma
constante no numerador e um polinômio no denominador (apenas um polinômio de atenuação).

A seguir são apresentados alguns polinômios que podem ser empregados para o projeto de
filtros e algumas características de cada um destes polinômios. Nem todos são comuns, mas todos
podem ser utilizados para este fim. Ao final são apresentadas os principais critérios empregados
para a escolha das aproximações, uma tabela com os principais filtros e indicações sobre os mais
comuns.
Bessel – BS

Função monotônica na banda passante;


Quanto maior o grau do filtro mais linear a fase na banda de passagem;
Pior resposta em magnitude dentre os listados aqui;
Não preserva característica de fase quando se fazem desnormalizações em frequência;
Ordem muito alta, característica de fase muita boa.
Gauss – GS

Monotônico na banda de passagem;

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 305


Melhor resposta temporal (overshoot e atraso ao degrau) dentre os filtros polinomiais,
para um dado grau e Amáx;
Semelhante ao filtro de Bessel;
Ordem muito alta, característica de fase muito boa.
Multiplicidade “n”

Monotônico na banda de passagem;


Polos reais;
Ótimas características temporais (menor tempo de atraso e sem overshoot) e de fase;
Pobre característica de atenuação;
Ordem muito alta, característica de fase muito boa.
Butterworth – BT

Função monotônica mais planas possível;


Ordem alta, característica de fase boa.
Halpern – HA

Dentre os polinomiais com características monotônicas na banda passante é o de corte


mais abrupto dado um grau e Amáx;
Ordem média, característica de fase média.
Legendre – LG

Dentre os polinomiais com características monotônicas na banda passante apresenta a


maior inclinação na característica de magnitude em torno da frequência limite da
banda de passagem;
Ordem média característica de fase média.
Chebyshev (I) – CB

Equiripple na banda passante, função monotônica na atenuação;


Corte mais abrupto entre os polinomiais, para um dado grau e Amáx;
A fase, entretanto, vai piorando a medida que o grau aumenta;
Ordem baixa, característica de fase ruim.
Chebyshev (II) Inverso – CI (filtro não polinomial)

Monotônica na banda passante, portanto melhor característica de fase;


Equiripple na banda de rejeição;
Não polinomial, apresenta zeros sobre o eixo jω;
Ordem baixa, característica de fase boa.
Cauer ou Elíptico – CE (filtro não polinomial)

Equiripple na banda de passagem e de atenuação;

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 306


Menor ordem – zeros sobre o eixo jω ajudam;
Característica de fase pior que Chebyshev Inverso;
Ordem muito baixa.
Transicionais – FT

Melhor conjunto de características temporal, fase, e atenuação.

Pelo exposto acima, observa-se que, via de regra, melhores características de fase estão
associadas a melhores características temporais. Assim, os principais critérios (os mais comuns) de
escolha para estas aproximações são:
Ordem do filtro (Cauer, Chebyshev, Halpern, Legendre...);

Dificuldade de implementação (Cauer e Chebyshev II);

Sensibilidade – desvio na magnitude e fase;

Regularidade na curva de resposta (Butterworth);

Resposta temporal (Gauss, Bessel);

Característica de fase (Bessel e Gauss para PB, Multiplicidade n e Transicional... se for


utilizado um equalizador);

Uma síntese das principais características para os filtros mais comuns são listadas na
Tabela 22.2.
Tabela 22.2: Principais características das aproximações mais comuns
Polinômios Faixa de Passagem Faixa de Rejeição Fase Grau do Filtro

Butterworth Máxima planura Monotônico Boa Médio+

Chebyshev I Ondulado Monotônico Regular Médio–

Chebyshev II Monotônico Ondulado Regular Médio–

Bessel Plano Monotônico Ótima Grande

Elíptico (Cauer) Ondulado Ondulado Ruim Pequeno

Exemplos de gráficos de resposta em frequência e resposta temporal para os filtros Bessel,


Butterworth e Chebysehev de oitava ordem, são apresentados na Figura 1.6.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 307


Figura 1.6: Curvas de magnitude e resposta temporal (resposta ao degrau e ao impulso) de filtros
passa baixas de oitava ordem.

22.8 Cálculo das aproximações

As aproximações apresentadas anteriormente configuram algumas das possíveis


aproximações empregadas para os filtros. Existe um grande número de funções que satisfazem os
requisitos de um dado gabarito sendo que algumas são obtidas por métodos de otimização
puramente numéricos e outras por funções analíticas consagradas.

Antes de apresentar a solução para o cálculo de alguns filtros considere que a função de
atenuação H(ω) possa ser escrita como

|H (ω)|2=1+|K (ω)|2 (22.10)

onde K(ω) é a função característica

A(ω)=10⋅log ( 1+|K (ω)|2 ) (22.11)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 308


Definindo ε como a máxima distorção (variação de ganho ou atenuação – em alguns casos
ε é o ripple na banda de passagem) na banda de passagem da função característica K(ω), tem-se

K (ω p)=ε (22.12)

A (ω p)= A máx=10⋅log ( 1+ε2 ) (22.13)

[ ]
1
Amáx
10
2 (22.14)
ε= 10 −1

com Amáx em dB
22.8.1 Para aproximação de Butterworth
A aproximação de Butterworth é uma das mais simples e foi a primeira a ser sistematizada

n
K (ω)=ε ωω ( ) (22.15)
p

[ ]
1
2⋅n
ω
|H (ω)|= 1+ε2⋅ ω ( ) (22.16)
2
p

[ ]
2⋅n
ω
A (ω)10⋅log 1+ε2⋅ ω p ( ) (22.17)

A normalização de funções Butterworth pode ser feita para a frequência ωp e, diferente de


outras aproximações também para a atenuação ε com auxílio da equação

1
ω=ε ⋅ ω
ωp
n
( ) (22.18)

ou seja

1
ω=ε n⋅ ω
ω ( ) (22.19)
p

assim A(ω̅)=10·log(1+ω̅2·n) [dB], solução normalizada para ωp=1 e ε=1.

A determinação do grau do polinômio pode ser obtida

Amin ⩽A(ω s)=10⋅log [ 1+ε2⋅ω s2⋅n ] (22.20)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 309


n⩾
log
[ ( 100,1⋅Amin −1 )
( 100,1⋅Amáx−1 ) ] (22.21)
2⋅log ωs

onde Amáx e Amin estão em dB; ω̅s é calculado de quatro formas diferentes dependendo do tipo de
filtro que se esteja calculando (veja normalização dos filtros PB, PA, PF e RF).

A determinação da função de Butterworth pode ser obtida

|H (ω)|2=1+|K (ω)|2 (22.22)

H (S )⋅H (−S )=1+ K (S )⋅K (−S ) (22.23)

H(S̅)·H(−S̅)=1+(−S̅2·n), solução normalizada para ωp=1 e ε=1, H(S̅) apresenta todas as raízes sobre o
círculo de raio unitário.

H (S )=H 0+ H 1⋅S + H 2⋅S 2 +...+ H n⋅S n (22.24)

para construir o polinômio

H k=
cos
[ ( k −1 )⋅π
2⋅n ] (22.25)
sen
k⋅π
2⋅n ( )
para obter as raízes

S k =e
j π⋅
2 ( 2⋅k+ n−1
n ) (22.26)

onde k = 1, 2, ...

Para desnormalizar a atenuação máxima basta substituir S̅ por n√ε·(S̅) no filtro passa baixa
normalizado. Para desnormalizar em frequência bast a substituir S̅ por S∕ωp

Exemplo 1: Calcule o filtro Butterworth com ωp=10 kHz, ωs=15 kHz, Amáx=1 dB, Amin=25 dB

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 310


Diagrama de Bode

Exemplo: w p=10kHz (Amáx=1dB), w s=15kHz (Amin=25dB)


0

-10
Magnitude (dB)

-20

-30

-40

-50

0
Fase (graus);

-200
To: Y(1)

-400

-600
104 105

Freqüência (rad/seg)

Resposta do exemplo. No MATLAB: [b a]=butter(9,2*pi*10000,'low','s'); bode(b,a);


1

[ ]
Amáx
10
2 = 0,5088
ε= 10 −1

n⩾
log
[ ( 100,1⋅Amin −1)
( 100,1⋅Amáx −1 ) ] = 8,76 (usar 9)
2⋅log ω s

com ( ω s=
15000
10000 )
k=1, S k =−0.1736±0.9848 i , S̄ 2 +0,3472⋅S̄ +1

k=2, S k =−0.5000±0.8660 i , S̄ 2 + S̄ +1

k=3, S¯k =−0.7660±0.6428 i , S̄ 2 +1,532⋅S̄ +1

k=4, S k =−0.9397±0.3420 i , S 2 +1,8794⋅S +1

k=5, S k =−1 , S +1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 311


H ( S̄ )=( S̄+1)⋅( S̄ 2+1,8749⋅S̄+ 1)⋅( S¯2+ 1,532⋅S̄ +1)⋅( S¯2 + S̄ +1)⋅( S¯2 +0,3472⋅S̄+1)

T(S̅)=1∕H(S̅) e a desnormalização pode ser feita substituindo S̅ por n√ε·(S∕ωp), ou seja


S̅=S·1,4764·10-5 ou, utilizando as formas padrões de primeira e segunda ordem do filtro passa
baixa.

ω0 ω02 ω02
T ( S )= ⋅ ⋅ x
( S +ω 0) (S 2 +1,8794⋅ω0⋅S +ω 20) ( S 2 +1,5321⋅ω 0⋅S +ω02)
ω 20 ω20

(S 2 +ω0⋅S + ω20 ) ( S 2+ 0,3472⋅ω 0⋅S +ω20 )

onde ωp=ωp∕n√ε=6,773·104 rad/s.

Exemplo 2: Projetar um filtro Butterworth passa altas, com ordem não menor do que três e
que atenda as seguintes especificações: ganho máximo da banda de passagem igual a 0dB; ganho
mínimo na banda de passagem igual a -3 dB; ganho máximo na banda de atenuação igual a -
20 dB; frequência de passagem de 10 kHz; frequência de atenuação de 5 kHz.

ωp=1 rad/s, ωs=(10/5) rad/s.

Amáx=3 dB, Amín=20 dB

[ ]
Amáx
10
2 ≅1
ε= 10 −1

n≥
log
[ 100,1⋅Amin −1
100,1⋅Amáx −1
≥3,31
]
2⋅log ω̄S

S k =e
(
j π⋅
2
2⋅k+ n−1
n )

S1,2 = 0,3827 + j0,9239 (S̅2+0,7654·S̅+1)

S3,4 = 0,9239 + j0,3827 (S̅2+1,8478·S̅+1)

S2 S2
T ( S )= ⋅
S 2 +0,7654⋅ω0⋅S +ω 20 S 2 +1,84878⋅ω 0⋅S +ω02

onde ω0=2·π·10.000 Hz.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 312


22.8.2 Outras aproximações
Existem algoritmos para o cálculo de cada uma das aproximações. Alguns são deduzidos de
forma analítica, como no caso do Butterworth, enquanto outros são obtidos por programas de
computador e soluções iterativas ou numéricas. O processo de cálculos dos filtros é sempre
complicado e por esta razão usaremos sempre soluções tabeladas e programas de computador que
fazem este cálculo. Isto, entretanto, não nos exime da responsabilidade de especificar o filtro e
definir a aproximação que será usada.

Para estimar o grau do filtro é muito comum o uso de gráficos e para a determinação dos
polinômios costuma se utilizar tabelas. Em programas como o MATLAB ou o OCTAVE, por
exemplo, existem funções específicas que estimam a ordem de filtros (buttord, cheb1ord, cheb2ord
e ellipord) ou calculam seus coeficientes (besself, butter, cheby1, cheby2, ellip). Outros programas,
como o Filter Wizard da Analog Devices, fazem o projeto da parte eletrônica com base nas
informações dos gabaritos de ganho ou atenuação. Na sequência são apresentadas as soluções
tabeladas para alguns filtros e exemplos de gráficos utilizados para a determinação do grau dos
filtros.
22.8.3 Gráficos de resposta normalizados
Para determinar o grau de um filtro, sem usar as equações deste filtro, é muito comum o
uso de gráficos como o apresentado na Figura 1.7. Nela estão as respostas de filtros passa baixa
normalizados Butterworth, Chebyshev com ripple de 1 dB e Bessel, de graus 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e
10. Para determinar o grau apropriado basta desenhar sobre estes gráficos as atenuações máximas
e mínimas e a frequência de início da banda de rejeição.
22.8.4 Soluções tabeladas
Apesar de existirem algoritmos para o cálculo dos filtros é muito comum encontrarmos
tabelas com os polinômios normalizados. A seguir são apresentados algumas tabelas com os
polinômios mais comuns. Nelas a função de transferência é separada em seções de primeira e
segunda ordem. Estão indicados os graus dos filtros (N), o valor de ω e Q de cada seção. Para os
filtros de grau ímpar, uma das seções é de primeira ordem e não apresenta Q. Neste caso ω
corresponde a σ nas soluções padronizadas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 313


Figura 1.7: Curvas para filtros passa baixas normalizado Butterworth, Chebyshev e Bessel.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 314


Tabela 22.3: Parâmetros para filtros de Butterworth (3dB de ganho na frequência de corte)
N ω1 Q1 ω2 Q2 ω3 Q3 ω4 Q4

2 1,00000 0,707107

3 1,00000 1,00000 1,00000 -

4 1,00000 1,30656 1,00000 0,541196

5 1,00000 1,61803 1,00000 0,618034 1,00000 -

6 1,00000 1,93185 1,00000 0,707107 1,00000 0,517638

7 1,00000 2,24698 1,00000 0,801938 1,00000 0,554958 1,00000 -

8 1,00000 2,56291 1,00000 0,899977 1,00000 0,601345 1,00000 0,50599


*Ganho unitário
Tabela 22.4: Parâmetros para filtros de Bessel (desvio de fase de N / 4 rad na frequência de corte)
N ω1 Q1 ω2 Q2 ω3 Q3 ω4 Q4

2 1,00000 0,577350

3 1,07869 0,691047 0,985560 -

4 1,07890 0,805538 0,962319 0,5521935

5 1,08504 0,916478 0,962003 0,563536 0,928640 -

6 1,09270 1,02331 0,969010 0,611195 0,920141 0,510318

7 1,10034 1,12626 0,978443 0,660821 0,921478 0,522356 0,904336 -

8 1,10046 1,22567 0,982040 0,710853 0,921150 0,559609 0,894187 0,505991

Tabela 22.5: Parâmetros para filtros de Chebyshev (ripple de 0,5 dB na faixa de passagem)
N ω1 Q1 ω2 Q2 ω3 Q3 ω4 Q4

2 1,23134 0,863721

3 1,06885 1,70619 0,626456 -

4 1,03127 2,94055 0,5977002 0,70511

5 1,01774 4,54496 0,690483 1,17781 0,362320 -

6 1,01145 6,51283 0,768121 1,81038 0,396229 0,683639

7 1,00802 8,84181 0,822729 2,57555 0,503863 1,09155 0,256170 -

8 1,00595 11,5308 0,861007 3,46568 0,598874 1,61068 0,296736 0,676575

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 315


Tabela 22.6: Parâmetros para filtros de Chebyshev (ripple de 1 dB na faixa de passagem)
N ω1 Q1 ω2 Q2 ω3 Q3 ω4 Q4

2 0,8623 0,9564

3 0,9106 2,0173 0,04513 -

4 0,9433 3,5594 0,5019 0,7845

5 0,9614 5,5559 0,6337 1,3988 0,2800 -

6 0,9726 8,0036 0,7273 2,3462 0,3461 0,7608

7 0,9795 10,8982 0,7946 3,1558 0,4719 1,2971 0,2019 -

8 0,9842 14,2391 0,8395 4,2657 0,5762 1,9560 0,2616 0,7530

Exemplo 1: Calcule o filtro passa baixa, Chebyshev, com n=5, ωp=10 kHz, ωs=15 kHz,
Amáx=1 dB, Amin=25 dB

Diagrama de Bode

Exemplo: w p=10kHz (Amáx=1dB), w s=15kHz (Amin=25dB)


0

-10
Magnitude (dB)

-20

-30

-40

-50

0
Fase (graus);

-200

-400

-600
104 105

Freqüência (rad/seg)

Resposta do exemplo. No MATLAB: [b a]=cheby1(5,1,2*pi*10000,'low','s'); bode(b,a);


Solução, direto da tabela

0,12283⋅ω 5p
T (S)=
( S̄+ 0,2895⋅ω p )⋅( S̄ 2+ 0,4684⋅ω p⋅S̄ +0,4293⋅ω2p)⋅( S̄2 +0,1790⋅ω p⋅S̄+0,9883⋅ω2p)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 316


onde ω p =2⋅π⋅10 4

Exemplo 2: Projete um filtro que atenda as seguintes especificações: Tenha ganho de -1dB
nas frequências de 1.000 e 5.000 Hz; Tenha ganho de aproximadamente 2 dB na frequência de
2.000 Hz; Atenue 20 dB em 8 kHz; Tenha ganho nulo em DC.

Solução: Encontrar o gabarito do filtro:

Filtro passa faixas com f1= 1.000 Hz, f2= 5.000 Hz, f4= 8.000 Hz. Este filtro é um passa faixa
onde f3 não foi informada. Então podemos ajustá-la de forma a deixar o filtro simétrico.

f0=(f1·f2)0,5=2236 Hz

f3=(f2·f1)∕f4=625 Hz.

Este filtro apresenta ganho de 2 dB, mas os gabaritos de filtros normalizados são para
ganho de 0 dB. A forma de resolver isto é com um amplificador após o filtro, assim, o ganho pode
ser implementado no final pois ele não influencia no formato da curva, porém, devemos ter
atenção. Se o ganho deve ser de +2 dB na faixa de passagem e de -1 dB em f1, há uma variação
permitida de 3 dB na faixa de passagem! Então, podemos alterar o ganho para 0 dB e a Amáx para
3 dB. Após o projeto, inserimos um ganho de 2 dB para ajustar os valores do projeto.

K=0 dB

Amáx=3 dB

Amín=20 dB

Determinar o passa baixa normalizado equivalente

ωp=1 rad/s

ωs=(ω4–ω3)∕(ω2–ω1)=1,84 rad/s

Determinar a aproximação

Como não há especificações que impeçam o uso de qualquer aproximação, podemos usar
um Butterworth.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 317


Observa-se pelo gráfico que um filtro Butterworth de quarta ordem é necessário. Pela
tabela determinamos o polinômio.

1 1
T ( S̄)= ⋅
1 1
( S̄+ ⋅S̄+1) ( S̄+ ⋅S̄+1)
1,30656 0,541196

Aplicar a desnormalização adequada em T(S̅)

S̄=(S 2+ ω20 )/(ω2 – ω 1)⋅S=(S 2 +140492)/( 2⋅π⋅4000⋅S) .

Exemplo 3: Um filtro deve atender, aproximadamente, as seguintes especificações:


Atenuação de 35 dB na frequência de 1.000 Hz; Atenuação de 3 dB na frequência de 3.500 Hz; A
oscilação máxima na banda de passagem não deve ultrapassar 3 dB; O filtro deve alterar
minimamente a fase do sinal na banda de passagem. Escolher entre as aproximações de
Butterworth e Chebyshev. Identifique o tipo de filtro, desenhe o seu gabarito e identifique os
pontos do gráfico.

Amin=35 dB, fs=3.500 Hz

Amáx=3 dB, fp=1.000 Hz

É um filtro passa altas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 318


Se o ripple máximo é 3 dB e a máxima atenuação na banda de passagem é 3 dB então a
menor atenuação da banda de passagem é 0 dB. Assim, o ganho na banda de passagem é 0 dB.

Se o filtro deve alterar minimamente a fase do sinal na banda de passagem, e só podemos


escolher entre Butterworth e Chebyshev, devemos escolher Butterworth.

Projetar o filtro

Pelo gráfico a seguir o grau do filtro é 4 e pela tabela

1 1
T PB ( S̄)= 2
⋅ 2
S̄ + 0,7653⋅S̄ +1 S̄ +1,8477⋅S̄+1

Desnormalizar

Usando as formas padrões de segunda ordem basta ajustar a frequência.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 319


S2 S2
T PB ( S)= 2 ⋅
S + 0,7653⋅ω0⋅S+ω 20 S2 +1,8477⋅ω 0⋅S+ ω20

onde ω0=2·π·3.500 rad/s

Suponha que após o projeto do filtro você percebeu que era necessário um ganho de x5.
Para fazer isto você adicionou um amplificador não inversor após o filtro. Nesta condição, diga
quanto será a atenuação na frequência de 3.500 Hz?

Ganho 5 corresponde a ganho de 13,97 dB. Então o ganho em 3.500 Hz será


aproximadamente 13,97 dB−3 dB=10,97 dB.

Outra forma de calcular é multiplicar o ganho em 3.500 Hz (0,707) por 5. O resultado é 3,53,
ou seja, 10,97 dB.

Também poderíamos ter calculado multiplicando a TPA(S) por 5 e substituindo S por


j(2·π·3.500). O resultado seria 3,53 que corresponde a 10,97 dB!

22.9 Etapas da síntese

Uma vez colocada as principais etapas para o projeto dos filtros seletores de frequência é
possível descrever em detalhes o mecanismo para o projeto de um filtro deste tipo. São necessárias
pelo menos 9 etapas descritas na sequência:

(1) Examinar o problema físico e determinar os requisitos necessários;

(2) Estipular as atenuações máximas e mínimas, determinar as frequências características;

(3) Normalizar as frequências do filtro (em alguns casos não precisa ser feito);

(4) Escolher aproximação e determinar o grau do filtro;

(5) Determinar a T(S) ou H(S);

(6) Escolher a técnica de implementação (um tipo de circuito);

(7) Desnormalizar as frequências do filtro (em alguns casos pode ser feito antes da etapa 6);

(8) Analisar o circuito com valores nominais;

(9) Testar o filtro.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 320


22.10 Síntese de filtros

Filtros analógicos seletores de frequência podem ser implementas em diversas tecnologias


como os filtros passivos RLC (particularmente as redes ladder LC), filtros a capacitor chaveado,
corrente chaveada, MOSFET-C, OTA-C e filtros ativos RC (os mais simples e comuns). Os filtros
ativos RC podem, por sua vez, ser implementados em cascata com redes de 1 ou vários AO, redes
multirealimentadas; redes ladder RLC com simulação de indutores; redes ladder RLC com
escalamento de impedância para uso com FDNR; redes ladder LC simuladas entre outras. Como
podemos observar o assunto é tão complexo quanto o estudo das aproximações e não é foco deste
curso.

Nesta disciplina serão estudados alguns filtros ativos RC ligados em cascata. Nestes
projetos devemos preferencialmente, dividir o filtro em seções de primeira e segunda ordem,
interligar as seções em cascata (esta característica que facilita o projeto também é responsável pela
maior sensibilidade destes filtros a variações nos componentes), evitar capacitores eletrolíticos, e
dar preferência a capacitores de polipropileno, mica e cerâmica, distribuir o ganho entre todas as
seções, utilizar um possível passa baixas como primeiro estágio de filtragem para eliminar as altas
frequências e diminuir problemas com slew-rate, colocar uma eventual seção passa altas como
estágio de saída para diminuir problemas com offset, manter a banda de passagem o mais plana
possível, sempre, manter polos e zeros próximos.
22.10.1 Filtros a capacitor chaveado
Uma abordagem bastante comum para a integração de filtros é a utilização da técnica de
capacitor chaveado. Diversos fabricantes produzem integrados com filtros a capacitor chaveado
como os MF100 da National, o TLC04 da Texas Instruments, o MAX7491 e os MAX7401/MAX7405
da Maxim, o LTC1062 da Linear Technology além de blocos de capacitor chaveado para uso
genérico como o LTC1043 da Linear Technology. Muitas vezes o filtro vem pronto dentro do
circuito integrado e nenhum componente externo é necessário. Nestes casos a aproximação e a
ordem do filtro devem ser escolhidos quando o circuito integrado é comprado. Cada modelo vem
com um filtro específico que não pode ser modificado. Nestes circuitos a frequência de corte
depende apenas da frequência de um clock (uma onda quadrada) que pode ser facilmente criada
usando as atuais placas de aquisição de sinais. Estes integrados costuma ser pequenos, com 1
entrada, 1 saída, 1 entrada para o clock e 1 ou 2 entradas para as fontes de alimentação.

Também existem modelos mais sofisticados onde todos os tipos de filtro estão disponíveis
(PB, PA, PF e RF) e as aproximações podem ser escolhidas (são os chamados filtros universais). Um
bom texto sobre este assunto pode ser encontrado em Take the Mystery Out of the Switched
Capacitor Filter da Linear Technology. A Cypress apresenta um texto sobre filtros de segunda
ordem a capacitor chaveado em PSoC1. Algumas páginas dizem respeito exclusivamente ao PSoC
mas há muita informação sobre estes filtros em Understanding Switched Capacitor Filters.

Neste abordagem um capacitor é chaveado com altas frequências de forma que a corrente
média que circula no capacitor pode ser modelada como a corrente de um resistor. A Figura 1.8
mostra como o resistor de um integrador é substituído por um capacitor chaveado.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 321


Figura 1.8: Esquema básico de um integrador com capacitor chaveado.

As chaves W1 e W2 são acionadas em instantes de tempo diferentes de forma que o


integrador pode ser analisado em dois momentos distintos. O primeiro quando W1 está fechada e
W2 está aberta. Nesta situação o capacitor recebe cargas da fonte vi, e a tensão acumulada no
capacitor C2 corresponde a tensão de saída do operacional.

Em um segundo instante a chave W1 está aberta e a chave W2 está fechada. Nesta condição
o capacitor C se conecta ao circuito com o AO fazendo circular corrente entre ele e o capacitor C2.

Se a frequência de chaveamento for muito elevada a corrente média que circula pelo
capacitor C pode ser modelada como

C⋅v i
iC = (22.27)
TC

por associação

vi
i= (22.28)
Req

então

TC
Req= (22.29)
C

vi
iC = (22.30)
Req

Esta relação é válida inclusive para o cálculo de constantes de tempo que, tanto no
integrador original quanto no integrador com capacitor chaveado é

=Req⋅C2 (22.31)

Esta relação é muito favorável para o uso destes filtros em circuitos integrados pois a
constante de tempo torna-se independente do valor dos capacitores do circuito. Na verdade a

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 322


constante de tempo depende apenas das relações entre os valores de capacitância o que pode ser
bem controlado em processos de integração.

C2
=T C⋅ (22.32)
C
22.10.2 Filtros variáveis de estado
Os filtros variáveis de estado apesar de necessitarem de no mínimo três AO apresentam
muitas vantagens que tornam atrativa a sua integração. Estes filtros podem ser utilizados em
funções de transferências com Q elevado (10<Q<500) e frequências de corte mais altas que aquelas
possíveis para as topologias de um só amplificador. Além do mais, uma mesma topologia de
circuito permite a implementação de filtros passa baixas, passa altas e passa faixa. O ajuste do Q e
de ω0 são simples e relativamente independentes além de permitirem sintonia (ajuste da
frequência de corte) controlada por tensão.

Por todas estas razões é muito comum encontrarmos esta topologia integrada em circuitos
como o UAF42 da Texas Instruments, o LTC1563 e o LTC1568 da Linear Technology e os MAX270
e MAX271, MAX274 e MAX275 da Maxim (estes últimos implementam em um só integrado filtros
de até oitava ordem – com seções de segunda ordem em cascata).

O desenho básico do filtro de variáveis de estado esta representado no diagrama em blocos


da Figura 1.9. O mesmo circuito, pode ser um passa altas, um passa baixa, ou um passa faixa,
dependendo apenas de onde é retirado o sinal de saída do filtro.

Figura 1.9: Diagrama em blocos de um filtro variáveis de estado.

Equacionamento da saída passa altas

A⋅ω0⋅v PA B⋅ω20⋅v PA
v PA =v i− − (22.33)
s s2

v PA s2
= (22.34)
v i s 2 + A⋅ω0 s+ B⋅ω02

Equacionamento da saída passa faixa

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 323


v i⋅ω 0 A⋅ω0⋅v PF B⋅ω20⋅v PF
v PF =− − − (22.35)
s s s2

v PF s⋅ω 0
= 2 (22.36)
v i s + A⋅ω 0⋅s+ B⋅ω20

Equacionamento da saída passa baixas

v PB⋅s 2 =v i⋅ω 20−B⋅ω 20⋅v PB −A⋅ω 0⋅s⋅v PB (22.37)

v PB ω 20
= (22.38)
vi s 2 + A⋅ω 0⋅s+ B⋅ω 20

Se A=Q-1 e B=1 as funções de transferência são idênticas as dos gabaritos apresentados


anteriormente. O circuito que implementa o diagrama de blocos pode ser facilmente obtido com o
circuito da Figura 1.10.

Figura 1.10: Circuito de um filtro variáveis de estado.

As equações para os parâmetros são

ω 0=
√ K3
R1⋅R 2⋅C 1⋅C 2
(22.39)

Q=
1+ K 3 √
1+ K 4 K 3⋅R1⋅C 1

R 2⋅C 2
(22.40)

K 4⋅( 1+ K 3 )
K PB= (22.41)
K 3⋅( 1+ K 4 )

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 324


K 4⋅( 1+ K 3)
K PA = (22.42)
1+ K 4

K PF =−K 4 (22.43)

Normalmente a escolha dos componentes é feita de forma que R1=R2, C1=C2, e K3=1.
Estes filtros permitem algumas modificações interessantes. Uma delas é o controle da frequência
de corte usando multiplicadores e controle por tensão (Figura 1.11).

Se as três saídas originais do filtro forem somadas de forma apropriada, para produzir uma
saída vo, pode-se obter, neste ponto, qualquer função de transferência de segundo grau, incluindo
aquelas com zeros complexo conjugados.

Figura 1.11: Circuito de um filtro variáveis de estado com sintonia feita por tensão.

2⋅K4
KPa=KPb= (22.44)
1+K4

Ec
ω 0= (22.45)
10⋅R⋅C

1 +K4
Q= (22.46)
2

Exemplo 1

A Burr Brown fabricava um integrado híbrido (UAF42), cujo diagrama em blocos está
desenhado abaixo. De posse deste integrado, de capacitores, AO e resistores, projetar um filtro de
3 ordem de Chebyshev, passa alto, com máxima atenuação na banda de passagem de 1 dB e
frequência de corte de 2 kHz. O filtro deve ter módulo 2 na frequência de passagem. Desenhar o
circuito indicando os pinos do circuito integrado. Usar a menor quantidade de componentes.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 325


Examinando o integrado nota-se que o é possível implementar com facilidade um filtro do
tipo variável de estado. Como o filtro é de 3ordem o AO adicional pode ser utilizado para
implementar a seção de 1 ordem.

Da tabela dos polinômios de Chebyshev com atenuação máxima de 1 dB e n=3. O filtro
passa baixas normalizado é:

0,99420 0,49417
T ( S )= ⋅
( S + 0,49417⋅S +0,99420 ) ( S +0,49417 )
2

Para desnormalizar o filtro substituir S por ω0∕S

ω 0 2⋅π⋅2000 12566
S= = =
S S S

Finalmente, precisamos considerar que o módulo do ganho, nas frequências de passagem,


deve ser 2.

0,99420 0,49417
T ( S )=2⋅ ⋅

( )( 12566
)
2
12566 12566 +0,49417
+0,49417⋅ + 0 , 99420
S 2 S S

0,99420⋅S 2 0,49417⋅S
T ( S )=2⋅ ⋅
2
(0,99420⋅S + 6210⋅S +157904356 ) ( 0,49417⋅S + 12566)

S2 S
T ( S )=2⋅ 2 ⋅
( S +6246⋅S + 158825544) (S +25428)

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 326


O filtro de variáveis de estado já vem praticamente montado no integrado. Faltam
interligar os integradores com resistores R 1 (da saída passa altas para o integrador do passa faixa)
e R2 (da saída passa faixa para o subtrator da entrada). A entrada do filtro corresponde ao pino
IN3.

Os parâmetros do filtro são

ω 0=
√ K3
R1⋅R2⋅C 1⋅C 2
, e Q=
1+ K 3


1+ K 4 K 3⋅R 1⋅C 1
R2⋅C 2

K 4⋅( 1+ K 3)
K PA = .
1+ K 4

onde C1=C2=1.000pF, K4=K3=1,

ω 0=√ 158825544=12602

ω0
Q= =2
6210

Podemos montar um sistema de 2 equações, 2 incógnitas (R1 e R2):

Q=2=
√ R1
R2

R1 =4⋅R2

1
ω 20=12602 2=
4⋅R22⋅(1000⋅10-12 )2

R2 =39676 Ω

R1 =158705Ω

Falta projetar o filtro de 1 ordem, com ganho 2. Isto pode ser realizado com o AO que está
sobrando no integrado. A função de transferência

2⋅S
T ( S )=
S +25428

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 327


pode ser implementado com

Rf S
T ( S )=− ⋅
Ri 1
S+
C⋅Ri

onde

1
=25428 .
C⋅Ri

Se C=1000 pF , Ri =39326 Ω

Rf =2⋅Ri=78562 Ω

22.10.3 Exemplo 2
Utilizando um filtro variáveis de estado, projete um equalizador de ganho que possua as
características da figura e tabela abaixo.

vc |T(S)|
+4V +12 dB
+1V 0 dB
+0,25 -12 dB

Este equalizador deve ter sua curva de ganho ajustável por tensão externa (v C). O desvio
máximo dos parâmetros é de 5%. Use valores comerciais para os componentes.

ω0
S 2+ K S + ω 20
Q
T ( S )=K 0⋅
2 ω0
S + S + ω 20
Q

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 328


Como o patamar é 0 dB, o ganho K0=1.

Nos extremos: K1=4 (12 dB), K2=0,25 (-12 dB).

Projeto do filtro

Fazendo

K 3 =K 4=1 , R3 =R4 , C=C 1 =C 2 , K PB =−K PF =K PA=1

então

1 1
ω 0= ⋅
C √ R1⋅R 2

Q=
√ R1
R2
=2

R1
=4
R2

R1 =4⋅R2

R2 =0 , 25⋅R1

Substituindo em ω0

1 1
ω 0= ⋅
C⋅R1 √0,25

−4
C⋅R1 =3,1831⋅10

C=6,8 nF , R1 =47 k Ω (C⋅R1 =3,196⋅10−4) .

Assim

R1
R2 = =11 , 75 k Ω
4

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 329


Comercialmente R2=12 kΩ

Conferindo os desvios

f 0 =985,5 Hz(−1,4 % ) , Q=1,979(−1 %) , K 0 =1(0 % )

Para obter o filtro controlado por vC é preciso somar

T ( S )=v PA +v C⋅v PF +v PB

Assim vc=Ki, ou seja, vc =4 V para K1=4, vc =1 V para K0=1, vc=0,25 V para K2=0,25.
22.10.4 Configurações de um único amplificador operacional
Filtros com um único AO normalmente não estão disponíveis em integrados mas podem
ser facilmente implementados de forma discreta. As duas configurações de filtros mais utilizadas
são a MFB e a Sallen Key. A topologia dos dois filtros é mostrada na figura a seguir.

Note que no desenho das topologias MFB e Sallen-Key estão representadas as impedâncias
de cada configuração. O filtro Sallen Key pode apresentar ganho se o buffer for trocado por um
amplificador não inversor. A medida que as impedâncias são trocadas por resistências ou
capacitores a função do filtro muda (próxima tabela).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 330


Para fazer o projeto destes filtros use um programa de computador como o FilterPRO ou o
Webench Filter Design, da Texas Instruments, o Filter Wizard da Analog Devices, o FilterLAB da
Microchip, o Mr. Filter ou o Op Amp Filter Design permitem o projeto de filtros com AO.

Sallen Key MFB

PB PA PF PB PA PF

Z1 R C R R C R

Z2 R C C C R -

Z3 C R R R C C

Z4 C R R R C C

Z5 - - C C R R

22.10.5 Passa baixas Sallen-Key


Circuito:

Função de transferência:

m
Vos  R1⋅C4⋅C3⋅R2
=
Vi s 
[
s 2 +s⋅
1

1

]
m−1

1
R1⋅C4 R2⋅C4 R2⋅C3 R1⋅R2⋅C3⋅C4

Função de transferência geral do filtro passa baixas de segunda ordem:

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 331


Vos  K⋅ω 20
=
Vi s  ω
s 2 +s⋅ 0 +ω20
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e T0. Uma solução para ajustar os componentes é:

C3 = C4 = C, e R1 = R2 = Rx

1
Rx=
ω0⋅C

Q ³ 0,5

1
m= 3−
Q

m=|K|

Uma das soluções de mínima sensibilidade para a maioria dos componentes é:

m=K=1

R1=R2=1

2Q
C4=
0

1
C3=
2 0 Q

Para esta solução, entretanto, a diferença entre os capacitores é proporcional a Q 2:

Outra solução muito conhecida e com um bom comprometimento entre sensibilidade e


facilidade no ajuste dos componentes é a solução de Saraga:

C3=1

C4= 3Q

1
R2=
3 0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 332


1
R1=
Q 0

4
m=K=
3

OBS.: Para qualquer uma das soluções podem ser realizados escalamentos de impedância.
Para isto basta multiplicar os resistores e dividir os capacitores simultaneamente por um fator “b”.
22.10.6 Passa baixas MFB
Circuito:

Função de transferência:

1
Vo (s ) R1⋅R3⋅C2⋅C5
=−
Vi( s )
s 2 +s⋅ [1
+
1
+
1
+
1
]
R1⋅C2 R3⋅C2 R4⋅C2 R3⋅R4⋅C2⋅C5

Função de transferência geral do filtro passa baixas de segunda ordem:

Vo (s ) K⋅ω20
=
Vi( s ) ω
s 2 +s⋅ 0 +ω02
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e ω0. Uma solução para ajustar os componentes é:

Fazer

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 333


C2 = C

C5 = X·C2

[ √ ]
2
1 4⋅Q ⋅(|K|+ 1)
R4 = ⋅ 1± 1−
2⋅Q⋅ω 0⋅C X

R
R1 = 4
|K|

1
R3=
ω02⋅R4⋅C2⋅C5

Bom para KQ>100 e ganho de malha aberta dos amp. op. > 80 dB
22.10.7 Passa altas Sallen-Key
Circuito:

Função de transferência:

Vo (s ) s 2⋅m
=
Vi( s )
[
s 2 +s⋅
1
+
1

m−1
+
1
]
R3⋅C2 R3⋅C1 R4⋅C1 R4⋅R3⋅C1⋅C2

Função de transferência geral do filtro passa altas de segunda ordem:

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 334


Vo (s ) K⋅s 2
=
Vi( s ) ω
s 2 +s⋅ 0 +ω02
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e T0. Uma solução para ajustar os componentes é:

Fazer C1 = C2 = C, e R3 = R4 = Rx

1
Rx=
ω0⋅C

1
m= 3− , para Q ³ 0,5
Q

m=|K|

As soluções alternativas, propostas para o filtro passa baixas Sallen-Key, podem ser
utilizadas e o filtro pode ser desnormalizado diretamente nos componentes.

Substituir Resistores por Capacitores de valor 1/ R ω 0

Substituir Capacitores por Resistores de valor 1/C ω 0


22.10.8 Passa altas MFB
Circuito:

Função de transferência:

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 335


C1
s 2⋅
Vo (s ) C4
=−
Vi( s )
s 2 +s⋅ [ 1
+
1
+
C1
+
1
]
C4⋅R5 C3⋅R5 C3⋅C4⋅R5 C3⋅C4⋅R2⋅R5

Função de transferência geral do filtro passa altas de segunda ordem:

Vo (s ) K⋅s 2
=
Vi( s ) ω
s 2 +s⋅ 0 +ω02
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e T0. Uma solução para ajustar os componentes é:

Fazer C1 = C3 = C

C1
C 4=
|K|

Q
R 5= ⋅( 2⋅|K|+ 1)
ω 0⋅C

1
R2 =
ω 0⋅Q⋅C⋅( 2⋅|K|+1 )

Bom para KQ>100 e ganho de malha aberta dos amp. op. > 80 dB
22.10.9 Passa Faixa Sallen-Key
Circuito:

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 336


Função de transferência:

m
s⋅
Vo (s ) R1⋅C5
=
Vi( s )
[
s 2 +s⋅
1
+
1
+
1

m−1
+ ]
R1+R4
R1⋅C5 R3⋅C2 R3⋅C5 R4⋅C5 R1⋅R3⋅R4⋅C2⋅C5

Função de transferência geral do filtro passa faixa de segunda ordem:

ω
K⋅s⋅ 0
Vo (s ) Q
=
Vi( s ) ω
s 2 +s⋅ 0 +ω02
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e T0. Uma solução para ajustar os componentes é:

Fazer C2 = C5 = C

R1 = R3 = R4 = Rx

Rx= √2
ω0⋅C

m= 4− √
2
Q

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 337


Q≥ √
2
3

K=
m
R 1⋅C 5 (
=ω 0⋅ 2⋅√ 2−
1
Q )
22.10.10 Passa faixas MFB
Circuito:

Função de transferência:

1
s⋅
Vo (s ) R1⋅C4
=−
Vi( s )
s 2 +s⋅[ 1
+
1
+ ] 1
C4⋅R5 C3⋅R5 C3⋅C4⋅R 1⋅R5

Função de transferência geral do filtro passa faixa de segunda ordem:

ω
K⋅s⋅ 0
Vo (s ) Q
=
Vi( s ) ω
s 2 +s⋅ 0 +ω02
Q

Comparando as duas equações podemos verificar como cada componente afeta os valores
de K, Q e T0. Uma solução para ajustar os componentes é:

Fazer C3 = C4 = C

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 338


Q
R1=
|K|⋅ω 0⋅C

2⋅Q
R5=
ω 0⋅C

K =−2⋅Q⋅ω 0
22.10.11 Rejeita faixa (ou Notch)
O filtro rejeita faixa também é chamado de notch pois muitas vezes é utilizado para
eliminar uma determinada frequência ou uma faixa de frequências muito estreita. Isto é muito
utilizado para reduzir a interferência de sinais de 60 Hz em instrumentos de precisão.
22.10.12 Rejeita faixa Sallen-Key (modificado – com rede duplo T)
Circuito:

A escolha dos componentes pode ser feita da seguinte maneira:

C1=C2=C, R1=R2=R

C4=2C, R5=R/2

1
 0=
R⋅C

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 339


1
Q= , Q>=0,25
4−2⋅m

K=m , m<2
22.10.13 Rejeita faixa MFB (modificado)
Circuito:

Observe que o circuito rejeita faixa MFB funciona como se fosse “1 - PF” MFB. O projeto
pode ser feito com as seguintes relações:

˙
C3=C4 , Rb=R5 , Ra=2 R1

R5
K=
R52⋅R1

1
 0=
C⋅ R1⋅R5

Q=

1 R5
2 R1
22.10.14 Exemplo 1
Projetar um filtro PA do tipo MFB com as seguintes características: fo=1,5kHz, Q=0,7,
K=20 dB. As características do filtro não podem sofrer desvio maior que 5%. Usar valores
comerciais para os componentes. Garantir que o filtro funcione até uma frequência de 100kHz.
Calcular o produto ganho-faixa do AO necessário para que esta especificação seja atendida.
Justificar o procedimento de cálculo.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 340


Usar: C 3=C 4 =C , C 1= A⋅C , R2=R , R5=B⋅R , K =−A , Q=
B e ω0 =
1
2A R⋅C⋅√ B

Solução:

K =−A=−10

Q= B
2A

Q=0,7= B
2 A

B=70,56

com valores de resistores com precisão de 10% uma boa escolha para os resistores é

R=R 2=4,7 k Ω , R5 =331,632 k Ω≈330k Ω .

A frequência de corte é

1
ω0 =2⋅π⋅f 0=
R⋅C⋅√ B

1
C= =2,694 nF
2⋅⋅ f 0⋅R⋅ B

Comercialmente C=2,7 nF ,C 3=C 4=2,7 nF ,C 1=27nF

Variação nos parâmetros do filtro pode ser avaliada na equação original dos parâmetros
(veja tabela de parâmetros para os filtros MFB):

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 341


f 0 =1 , 497 kHz , Δ f 0=−2,2%

Q=0,6983, ΔQ=−2,5%

K 0=−10, Δ K =0 %

A determinação do produto ganho faixa pode ser realizada se for encontrado o ganho da
malha de realimentação (ver revisão de amplificadores operacionais). O limite de funcionamento
deste filtro ocorre quando o ganho diferencial do AO se torna igual ao ganho de rede de
realimentação (nas altas frequências teremos um divisor de tensão entre C4 e C1 – veja figura
abaixo).

O ganho da rede é

| |
v 0( S )
v –( S )
=|A( S )|

GBW = A(S )⋅S

Para o PA MFB a rede de realimentação é

S 2+
1
[ (C + C + C ) C
⋅ 1 4 3 + 3 ⋅S +
] 1

( )
v 0 (S ) C C 3⋅(C 1 + C 4 ) R5 R2 C 3⋅(C 1 + C 4 )⋅R5⋅R2
= 1+ 1 ⋅

[ ]
v – (S ) C4 1 C1 1 1 1
S 2+ + + ⋅S +
R5 C 2⋅C 4 C 3 C 4 C 4⋅C 3 R5 R2

para frequências muito maiores que f0

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 342


v 0 (S )
v – (S ) ( ) C
≈ 1+ 1
C4

Este resultado também poderia ser obtido considerando que em altas frequências apenas os
capacitores são importantes. Nesta situação os resistores poderiam ser retirados do circuito e o
ganho do filtro seria

1 1
+
v 0 C 1⋅S C 4⋅S C
≈ =1+ 1
v– 1 C4
C 1⋅S

assim

( )
1+
C 1 2⋅π⋅GBW
C4
=
2⋅π ⋅ f 0

GBW= f máx⋅ 1+
( ) C1
C4
=1,1 MHz

A figura abaixo mostra uma simulação.

22.10.15 Exemplo 2
Para o circuito da figura abaixo mostre como: 1) Reduzir a metade o ganho da
configuração; 2) Dobrar o ganho da configuração. Utilize apenas componentes passivos. Não altere
os parâmetros w0 e Q. Mostre as equações que você utilizaria para estas alterações.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 343


Para diminuir o ganho da configuração é possivel substituir o capacitor C1 por um divisor
de tensão (um C1' na mesma posição que C1 e um C1'' em paralelo com R2). A capacitância
equivalente deve ser igual a C1.

Para aumentar o ganho é possível ligar a saída do amplificador operacional em um divisor


resistivo. Do centro deste divisor resistivo faz-se a conexão para C4 e R5. A saída do operacional
torna-se a saída do filtro. Se os resistores dividem a tensão por dois, então a tensão na saída do
operacional será duas vezes maior para manter a realimentação no mesmo nível.
22.10.16 Exemplo 3
Com o circuito passa baixas abaixo, implemente a função de transferência
7439,494
T  s= 2
s 5693,96 s7439,492  s 213745,95 s7439,49 2

Use componentes com valores práticos (não precisam apresentar valores comerciais)

C3=1,
C4= 3⋅Q ,
1
R2= ,
 30
1
R1= ,
Q 0
4
m=K=
3

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 344


A forma geral da função de transferência de um passa baixas de segunda ordem é:

ω 20
T ( s)= 2 ω
s + 0 s+ ω 20
Q

Então a função de transferência pode ser decomposta em:

7439,492 7439,492
T ( s)= ⋅
s 2 +5693,96 s +7439,492 s2 +13745,95 s+7439,49 2

Podemos implementar este filtro com dois circuitos passa baixas de segunda ordem ligados
em cascata.

Na primeira seção

K=1, w0=7439,49 e Q=1,3065

Então, aplicando as fórmulas para os cálculos dos componentes temos

C3=1, C4=2,263, R2=7,7610-5, R1=1,028810-4, m=K=1,3333

Para obter componentes com valores práticos podemos desnormalizar este Sallen Key
dividindo todos os capacitores por um fator  e multiplicando todos os resistores pelo mesmo
fator. Os resistores da realimentação (“R” e “R(m-1)”) não precisam ser escalonados pois não
influenciam em w0 nem em Q. Devemos respeitar, apenas, a relação entre eles, que determina o
ganho da configuração.

Fazendo =108

C3=10nF, C4=22nF, R2=7,7kW, R1=10,2kW, K=1,33333, R=10kW, R(m-1)=3,3kW

Para obter um ganho unitário podemos usar um divisor resistivo no lugar de R1.

R11//R12 = R1

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 345


R12/(R11+R12) = m-1

Então

R11= mR1 = 13,6kW

R12=(R1R11) / (R11-R1)=40,8kW

Na segunda parcela temos

K=1, w0=7439,49 e Q=0,541

Então, aplicando as fórmulas para os cálculos dos componentes temos

C3=1, C4=0,937, R2=7,7610-5, R1=2,484610-4, m=K=1,333333

Fazendo =108

C3=10nF, C4=9nF, R2=7,7kW, R1=24kW, R=10kW, R(m-1)=3,3kW

Para obter ganho unitário, podemos usar um novo divisor resistivo.

Então, R11= m@R1 = 32kW

R12=(R1R11) / (R11-R1)=96kW
22.10.17 Exemplo 4
Projetar um filtro rejeita faixa de 2 ordem com Q=5 e f 0=120Hz. É aceitável um erro
máximo de 10%. Utilizar apenas um filtro PF ativo e algum outro circuito ativo que não seja filtro
mas que empregue apenas 1 AO.

Um filtro RF subtrai do sinal de entrada, uma determinada faixa de frequências. Assim,


podemos implementá-lo subtraindo o resultado de um PF, do sinal de entrada.

T ( S )=K 1 −K 2⋅
S
=K 1⋅
(
S 2 + 1−
K2
K1)a⋅S +b

2
S +a⋅S +b S 2 +a⋅S +b

Se fizermos K2=K1

S 2 +b
T ( S )=K 1⋅ 2
S + a⋅S + b

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 346


que é a função de transferência de um RF.

Com filtro Sallen-Key, cujo ganho é positivo, o sinal original deve ser subtraído do sinal na
saída do filtro. Com filtro MFB, cujo ganho é negativo, o sinal original deve ser somado ao sinal na
saída do filtro.

22.11 Exercícios

1) Para o gráfico de atenuações a seguir (atenuações em dB): Obtenha o gabarito de


atenuação modificado (passa baixa normalizado) de modo que se possam aplicar as técnicas
convencionais de aproximação. Não altere os limites de 400 Hz e 900 Hz e justifique as alterações
efetuadas.

40
35

60 400 900 7000 [Hz]

2) Calcule o filtro Chebyshev que tem fp=1256 Hz, fs=3768 Hz, Amáx=0,5 dB, e


Amín=20 dB.

3) Sintetize o filtro passa baixas de segunda ordem Sallen Key com a solução de Saraga e
valores razoáveis de componentes.

158884000
T ( s)= 2
s + 1256⋅s+158884000

1 1 4
Use C3=1 , C4= 3Q , R2= , R1= , m= ganho= .
 0
3  Q 0 3

4) Projete o filtro passa baixas, sem ripple na banda de passagem e com Amáx=0,5 dB,
Amin=12 dB, ωp=1000 rad/s, ωs=3000 rad/s.

2Q 1
Para o projeto use um Sallen–Key: m= K=1 , R1=R2=1 , C4= ω , C3= 2 ω Q .
0 0

5) Supondo que o sinal de interesse está compreendido entre 0 e 5 Hz mas que um ruído de
60 Hz e seus harmônicos é 2 vezes maior do que o sinal presente na saída do AD620. Projete um
filtro para obter uma razão sinal ruído de 100 vezes (só a equação).

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 347


6) Você está fazendo o circuito de condicionamento para um amplificador de biopotenciais.
A banda de passagem do sinal vai de 0 até 40 Hz. A) Projete (gabaritos, equações e circuito) um
filtro notch para cancelar eventuais interferências de 60 Hz. B) Sabendo que o sinal biológico é
analisado pelo médico em função do seu formato, é recomendado que o circuito ofereça recursos
para desligar o filtro notch? C) O seu filtro notch foi testado no osciloscópio, com um sinal real, e
funcionou bem, mas quando você digitalizou o sinal, a uma taxa de 120 Hz, um ruído de 60 Hz
com amplitude elevada voltou a aparecer. A amplitude do 60 Hz captado não mudou. O que pode
estar acontecendo?

7) Você precisa fazer um filtro para um condicionador de sinais e optou por uma realização
com capacitor chaveado. Na loja onde você foi comprar o filtro haviam circuitos com
aproximações de Butterworth, Bessel, Chebyshev e Elíptico, todos com as mesmas características
de grau e frequências de corte. Qual aproximação você escolhe se o seu projeto privilegia: A) A
banda de passagem mais plana possível. B) A maior atenuação da banda de rejeição; C) A melhor
resposta ao degrau. D) A morfologia do sinal.

8) Apresente os gabaritos do filtro passa faixa e do correspondente passa baixa


normalizado tal que: em 1 Hz a atenuação mínima seja de 10 dB, em 20 Hz a atenuação máxima
seja de 2 dB, em 50 Hz a atenuação máxima seja de 3 dB e em 60 Hz a atenuação mínima seja de
20 dB. Usando assíntotas e as atenuações escolhidas estime a ordem do filtro.

9) A próxima figura mostra o espectro de potência de um sinal amostrado a 10 kS/s. A)


Supondo que as frequências de interesse estão entre 0 e 1 kHz, é possível garantir que nesta
amostragem não houve aliasing significativo? B) Considerando que o sinal foi bem amostrado,
projete o filtro para que as amplitudes das componentes acima de 1 kHz sejam menores do que
das componentes abaixo. C) Supondo qua a banda do sinal esteja limitada entre 0 e 1 kHz, seria
viável fazer a mostragem a 2 kS/s? D) Considerando a banda do sinal entre 0 e 1 kHz, cite
vantagens e desvantagens em aumentar a frequência original de amostragem (10 kS/s).

10) Um termômetro foi projetado com um PT100 de modo que a sua saída é linear com a
temperatura e insensível ao comprimento dos cabos. O coeficiente térmico do sensor é de
3907·μΩ/Ω/K e sua resistência é de 100 Ω em 0 ℃. A saída entre 0 e 2 V representa as temperaturas
entre 0 e 200 ℃. a) Supondo que a banda do sinal seja menor do que 1 Hz e um ruído de 60 Hz
esteja atrapalhando a medida. Projete (gabarito, PB normalizado, estimativa da ordem do filtro
usando as assíntotas do diagrama de Bode) o filtro para reduzir a interferência de 60 Hz em 1.000
vezes. b) Para, o filtro, quais aproximação poderiam ser usadas? Justifique suas respostas.

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 348


11) A figura abaixo corresponde ao espectro de amplitudes de um sinal de EEG
(eletroencefalograma) cuja bande de passagem vai de 0 a 50 Hz. a) Com o hardware como está,
qual a menor frequência para amostrar este sinal? b) Especifique (gabaritos e aproximação) um
filtro para remover os ruídos do sinal de EEG cuja amplitude estejam acima daquela em 50 Hz
(0,5·10-6).

12) Supondo que o espectro de frequências de um sinal seja dado pela função abaixo, e que
se aceita aliasing de frequências cujas amplitudes sejam menores do que 1% da máxima. a) qual a
menor frequência de amostragem para o sistema? b) Projete um filtro (até a equação) para que a
frequência de amostragem seja 70% do valor calculado sem desrespeitar o critério adotado para o
aliasing na letra a.

6282
|H (ω)|
√( 6282−ω2 )2+(888⋅ω)2
13) Um filtro passa baixas (0dB na banda de passagem) com frequência de corte em 70 Hz
(-3dB) foi utilizado para filtrar dois sinais simulados, sem ruído. O primeiro com frequências 10,
30, 50 e 70 Hz e o segundo uma onda quadrada com período de 3 s. No primeiro caso o sinal
filtrado parece estar atrasado e não parece uma cópia do sinal original, no segundo caso parece
que o ganho em CC não é 1. Dado que o filtro está bem calculado e não há erros de projeto diga: a)
Por que o ganho parece diferente de 1? b) Por que o sinal filtrado está diferente do sinal original,
mesmo estando as frequências do sinal dentro da faixa de passagem do filtro?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 349


14) O filtro passa baixas normalizado cuja equação é dada abaixo será usado para montar
um filtro passa altas com frequência de corte em 2 kHz. A secção de segunda ordem será
implementada com um filtro de variáveis de estado. Projete o circuito.

C1=C2; K4=K3=1.

15) A próxima figura mostra o espectro de amplitude, em dB, de um sinal amostrado a


10kS/s. a) projete um filtro passa baixas para que o sinal acima de 2kHz tenha amplitude 20x
menor do que o sinal até 1kHz (só os gabaritos). b) Se você tiver que escolher a aproximação mais
plana, a que leva para o menor grau de filtro, a que modifica menos a forma de onda ou que leva
para a melhor resposta ao degrau, quais aproximações você escolheria para cada um destes casos?

Instrumentação e Técnicas de Medida – UFRJ, 2017/2 350

You might also like