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Diana C. Rodrigues1
Luciana R. Ferreira2
Mário Vasconcellos Sobrinho3
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Juazeiro do Norte/CE, 20 a 24 de Maio de 2018
Abstract: This article aims to discuss evaluation practices based on a social justice perspective
for policies and programs on Science and Technology (S&T). Our start point is the concept of
evaluation as a social practice, specifically focusing analytical attention to interactive aspects,
which are contextually situated and potentially debatable. The main concern is regarding
constitutive effects that managerialist or technocratic evaluation systems have on values such
as democracy and social justice in our society. The empirical research was guided by a
qualitative methodology, focusing on documental research and aided by interviews. The
analysis investigated state funding options to S&T in Pará, within the Brazilian subnational
context. The core object was 3 evaluation practices identified in the state foundation dedicated
to fostering research, namely: (1) assessment of proposals for S&T projects and events to be
selected for funding; (2) assessment of funded projects and events; and (3) annual institutional
assessment. The evaluation practices studied have confirmed a substantial centralization in the
research community members (found either in directly related by peer review or hierarchically
subordinated to them), as mentioned in the field literature. This situation hinder a broader
debate in society about S&T public value based on democratization processes, such as inclusion
and participation of other social actors. We believe such change needs to be carried out in a
space of reflection and construction among said research community members. They need to
be engaged in transforming these social practices in their everyday lives, both through research
itself and through S&T policies.
Keywords: Public Policy; Science and Technology Policy; Program Evaluation; Social Justice.
1. Introdução
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Entre diferentes usos de avaliações, pode-se destacar a utilização (1) instrumental para informar
a tomada de decisão (PATTON, 1997; FARIAS, 2005) e a (2) conceitual, correspondente a
aprendizados e novos entendimentos sobre o programa por parte das equipes implementadoras
(PATTON, 1997; FARIAS, 2005). Essas finalidades tendem a ser mais explicitadas na
literatura e comportam uma visão mais racional à avaliação.
Contudo, outros usos também devem ser reconhecidos como o uso (3) simbólico, que busca
legitimação para manutenção do status quo por meio da realização ritualística de processos de
avaliação, mesmo que não se tenha intenção de informar decisões ou promover quaisquer
mudanças (DAHLER-LARSEN, 2012). E (4) usos ditos políticos relacionados à utilização da
avaliação seja enquanto instrumento de persuasão a favor de posições já assumidas por
tomadores de decisão do programa; seja para nutrir processos de “esclarecimento” de
formadores de opinião e de advocacy coalitions, pela via do acúmulo de conhecimento oriundo
de diversas avaliações em determinado programa ou política (FARIAS, 2005).
Neste sentido, o desenvolvimento das atividades de avaliação de programas e políticas é
marcado por uma multiplicidade de definições, métodos, e propósitos, os quais, no entanto,
guardam relação com o contexto social, político econômico e cultural em que emergem.
Compreender o significado de uma atividade de avaliação posta em prática em uma
determinada realidade sociohistórica é a terceira forma de concepção de avaliação mencionada
por Dahler-Larsen (2012), e a que procuraremos adotar neste artigo.
Nesta perspectiva, por um lado, definições, métodos e usos de avaliação são produtos ou
práticas advindas de construções sociais em um dado momento histórico, assim, sujeitas a
distintas forças sociais e a possibilidades de mudanças no decorrer do tempo (DAHLER-
LARSEN, 2012). Entender a avaliação de programas e políticas enquanto prática social para
Spink (2001) é reconhecer que diferentes grupos sociais e profissionais podem selecionar
critérios bastante distintos para atribuir valor a algo, bem como escolher fazer tal atribuição
utilizando procedimentos igualmente diversos. Deste modo, a atribuição de valor (avaliação)
torna-se uma produção social e intersubjetiva (SPINK, 2001).
Ao seguir esta abordagem, a compreensão sobre as práticas sociais avaliativas de políticas
públicas e suas dimensões básicas requer a análise de como estas tornam-se demandadas,
formatadas e moldadas pelas relações e estruturas sociais, econômicas e organizacionais em
que se situam.
Por outro lado, sendo as avaliações de programas e políticas práticas sociais, estas também
produzem efeitos constitutivos na sociedade. Uma avaliação ao promover e buscar legitimar
determinados valores, classificações e indicadores sobre uma ação pública acaba por
socialmente produzir significados e rótulos, pelos quais nos propõem como devemos ler e
interpretar os programas e as pessoas neles envolvidos. Por conseguinte, avaliações
estabelecem enquadramentos de conteúdo, prazos, formas de interação e identidade social
envolvidos no programa ou política pública (DAHLER-LARSEN, 2012).
Tais efeitos da avaliação sobre os programas e políticas públicas também foram ressaltados por
Greene (2015), para quem a avaliação constitui-se enquanto uma intervenção na esfera pública.
Esta autora destaca três formas pelas quais esta intervenção ocorre, considerando que a
abordagem de uma avaliação de política pública influência sobre: (1) quem participa das
práticas avaliativas, (2) qual o escopo e conteúdo focal (questões centrais) das práticas
avaliativa, e (3) quais as relações sociais e formas de interação estabelecidas entre os
participantes nas práticas avaliativas.
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Assim, compartilhamos do entendimento proposto por Carvalho (2003) que a avaliação é parte
constitutiva do processo de política pública. A avaliação configura-se como atividade que
ocorre constantemente ao longo do processo de política pública, sobrepondo-se e influenciando
sobre a definição de agenda, a formulação, a implementação e a verificação de seus produtos e
impactos.
Ao considerarmos a avaliação de programas e políticas como uma intervenção situada
sociohistoricamente, sendo constituída e constitutiva de relações e estruturas sociais, terá
práticas distintas tanto no decorrer do tempo, quanto entre diferentes domínios e comunidades
de políticas públicas.
Vários autores buscaram reconstituir trajetórias de práticas avaliativas em programas e políticas
públicas (GUBA; LINCOLN, 1989; HOUSE, 2005; DAHLER-LARSEN, 2012). Dahler-
Larsen (2012) propôs a existência de três dinâmicas sociohistóricas na constituição de práticas
de avaliação dentro da noção de modernidade. O primeiro contorno que toma forma a avaliação
no projeto de sociedade moderna na leitura deste autor era caracterizado por pressupostos de
racionalidade, individualismo e autonomia na tomada de decisão e linearidade de processos.
Enraizado em uma crença otimista das possibilidades de melhorias sucessivas na sociedade
com a ideia de progresso, o qual seria direcionado por uma produção de conhecimento por meio
de um método científico que forneceria questões e respostas técnicas e objetivas (primado da
razão livre de valores) e, consequentemente, reduziria às questões e respostas políticas, vistas
como marcadas pelo subjetivismo.
Esta configuração de práticas avaliativas incorpora os movimentos das três primeiras gerações
elaboradas por Guba e Lincoln (1989) e o processo de institucionalização de avaliações
enquanto um conjunto de procedimentos formais em programas e políticas ocorrido
originalmente na década de 1960 nos Estados Unidos da América (HOUSE, 2005). A pesquisa
avaliativa, sob predomínio de métodos experimentais e quasi-experimentais, era considerada
instrumento à tomada de decisão de formuladores de políticas e equipes de alta gestão pública
(HOUSE, 2005).
No entanto, por um lado, um conjunto de frustações às promessas deste modelo racionalista de
avaliação se avolumou principalmente quanto à reflexão que a utilização instrumental dos
resultados das avaliações para a suposta melhoria de tomada de decisão demonstrava-se
escassa, e cercada de conflitos, sendo frequentemente obstruída (FARIAS, 2005; DAHLER-
LARSEN, 2012). Por outro lado, uma visão com maior preocupação sobre os princípios
democráticos relacionadas a ideia de pluralismo de valores, incrementalismo e imperfeição de
processos de democratização também levantou questionamentos em relação ao potencial
autoritário e de reprodução de desigualdades das práticas avaliativas então moldadas
(DAHLER-LARSEN, 2012).
Para além do campo das pesquisas avaliativas, Dahler-Larsen (2012) relaciona estes
questionamentos ressoando no âmbito mais geral da ideia de modernidade reflexiva e do
reconhecimento da complexidade na sociedade contemporânea. Este contexto emerge outro
conjunto de configuração de práticas avaliativas que assume uma postura de maior
reflexividade científica e sociopolítica, na qual inclui-se a ideia da quarta geração de avaliação
de Guba e Lincoln (1989).
As práticas de avaliação tornam-se uma interface entre produção de conhecimento científico e
processo político, na qual a possibilidade de controvérsia e contestação torna-se regra nas
distintas dimensões de uma avaliação. Neste contorno prevalece uma pluralidade de abordagens
analíticas e metodológicas dentro de perspectivas contingenciais de acordo com fatores
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a Organização das Nações Unidas, seja por meio de assistência técnica, financiamento ou
exigências contratuais.
Tal processo de institucionalização da chamada “função avaliativa”, portanto, ocorre
tardiamente no Brasil em relação aos países de capitalismo avançado, e fortemente associado a
reforma neoliberal do Estado. Assim, a política de avaliação no país tende a reunir
características de concepção gerencialista, cujo foco estava direcionado à redução de gastos
públicos e a melhoria da eficiência e da produtividade pública nos moldes de empreendimentos
privados, promovendo a responsabilização dos gestores e uma visão do cidadão revestida de
consumidor (FARIAS, 2005).
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O quarto legado de orientação democrática vem de estudos de avaliação crítica que enfatizam
o direcionamento de conteúdos e processos de avaliação para a reflexão sobre injustiças e
desigualdades estruturais na sociedade, com vistas a contribuir para transformações sociais
nesta (GREENE, 2006). O foco desta abordagem está em compreender como aspectos de
clivagens sociais (como classe, gênero, origem étnica/cor, orientação sexual, deficiências, entre
outras) intervêm em práticas avaliativas, nos programas e políticas em avaliação e nos contextos
mais amplos em que estes operam (EVERITT, 1996).
Embora essas quatro perspectivas ressaltem aspectos distintos relacionados a ideais
democráticos, é possível identificar uma preocupação comum entre elas em promover alguma
forma de justiça social e equidade. Para House (2005) exames substantivos de programas e
políticas públicas envolvem concepções de direitos e deveres sociais, necessidades e méritos
em uma sociedade, os quais, por sua vez, são diretamente associados a princípios de justiça
social. Princípios de justiça social são fundamentais para orientar avaliações sobre a
distribuição de custos e benefícios de um programa ou política pública entre os membros de
uma sociedade (HOUSE, 2005).
Portanto, concepções de avaliação e de justiça social são articuladas (por vezes somente
implicitamente ou não conscientemente) de forma a habilitar a atribuição de valor a programas
e políticas públicas na sociedade. Abordagens de avaliação orientadas democraticamente
tendem a tratar mais explicitamente os princípios e normas de justiça social incorporados em
seus critérios e processos avaliativos e, portanto, também propiciar possibilidades de diálogos
entre atores sociais com diferentes concepções de valores de justiça social.
Como nos lembra Spink (20010, a atribuição de valor é um processo social e intersubjetivo.
Portanto, importa ao resultado (valor atribuído) quem serão os sujeitos incluídos ou excluídos,
e como o processo avaliativo se dará, seja em termos de modos de interação do desenho da
prática avaliativa, seja considerando-se as relações e estrutura social constituídas no contexto
geral de vida destes sujeitos. Isso porque avaliações democráticas buscam estabelecer critérios
de pluralidade e alteridade, sem, contudo, ignorar as diferenças de poder e outras assimetrias
entre os participantes (SPINK, 2001).
Assim, práticas de avaliação democráticas tendem a incorporar valores de múltiplos
posicionamentos sociopolíticos e representações de mundo, sem, contudo, eliminar as tensões
e ambiguidades entre estes (DAHLER-LARSEN, 2012). Ao reconhecer a existência desta
pluralidade de valores, Greene (2015) considera que os valores democráticos seriam os mais
defensáveis ou de primazia em virtude de que nos habilitam a lidarmos nas práticas avaliativas
com diferentes posições sociopolíticas e concepções de justiça social dos membros de uma
sociedade, com um potencial (não necessariamente realizado) de questionar o status quo.
O caráter permanentemente incompleto do alcance da ambição democrática em nossas
sociedades empresta similar sentido às propostas de avaliações democráticas, para as quais
Dahler-Larsen (2012) prefere denominar de processos democratizantes em avaliações, de modo
a destacar a ideia de constante construção inacabada sobre estas.
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ciência amparada na crença que os avanços do conhecimento científico poderiam ser o motor
para o progresso ao superar limitações e resolver problemas das sociedades (VELHO, 2011).
Concernente a tal movimento de institucionalização, Neal, Smith e McCormick (2008)
mencionam um duplo enfoque de orientação ao escopo do domínio desta política pública: a da
Ciência para Política (Science for Policy) e a da Política para a Ciência (Policy for Science). O
primeiro enfoque confere um sentido de política meio à C&T, ao focar no uso do conhecimento
científico para melhorar a tomada de decisão pública e superar problemas em outras áreas de
políticas e de interesses públicos, como saúde, meio ambiente e energia. Este conferiria, assim,
um valor público à C&T, o qual justificava o segundo enfoque que corresponde à aplicação da
política para regular, financiar e supervisionar o desenvolvimento da ciência, para que gerasse
os benefícios públicos esperados pela sociedade.
Velho (2011) propõe que as diferentes conformações que a política de C&T têm assumido
desde sua institucionalização aos dias atuais em termos de foco, instrumentos e formas de
gestão estão associados com o conceito predominante de ciência e de fazer científico e
tecnológico nos distintos períodos. Esta associação remete a forte influência da racionalidade e
modelos cognitivos da comunidade científica e de pesquisadores nos processos de políticas de
C&T (DAGNINO, 2007).
Em termos internacionais, os contornos das práticas de avaliação na política de C&T até a
década de 1970 eram centrados na comunidade de pesquisa e ocorria em nível micro, sendo
que seu padrão mais difundido era a revisão por pares, principalmente em dois momentos: ex-
ante pela análise e seleção de propostas de projetos de pesquisa; e expost na análise de
publicações geradas (VELHO, 2011).
Neste desenho, a comunidade científica gozava de considerável autonomia para distribuição de
fundos e direcionamento de temas e prioridades, na esteira de uma concepção de ciência
enquanto instituição regida por um ethos científico próprio, que seria capaz de prover um
conhecimento verificado (objetivo e neutro de valores) à sociedade (SISMONDO 2010;
VELHO, 2011).
Embora as décadas de 1960 e 1970 tenham sido palco para diversos questionamentos sobre a
visão ingênua e unicamente positiva dos impactos da C&T na sociedade 4 e, portanto,
estabelecendo um contexto de problematização e reflexividade da relação entre C&T e
sociedade, mudanças mais expressivas nas práticas avaliativas da política de C&T foram
ocorrer a partir de 1980.
No entanto, cabe reconhecer que as iniciativas regulatórias, principalmente nos EUA a partir
da década de 1960, para o estabelecimento de práticas avaliativas em políticas públicas também
se aplicaram aos arranjos da política de C&T (GODIN, 2003). Contudo, dada a posição de
poder que a comunidade de científica apresentava na configuração desta política específica,
este impulso avaliativo teve um impacto reduzido e foi direcionado para composição de
relatórios institucionais periódicos e estudos para construção de indicadores elaborados por
pesquisadores, que eram pertencentes a própria comunidade científica, mantendo, assim,
substancial compatibilização ao status quo.
Na década de 1980, a vigorosa emergência neoliberal e processos de reformas amplas de
Estado, focados no aumento da preocupação com eficiência e controle de gastos públicos, com
4
Entre os questionamentos estavam a intensificação da poluição e degradação ambiental por diversos produtos e
intervenções tecnológicas, o desenvolvimento e uso de armas químicas em conflitos de guerra, o avanço do
desemprego pela intensificação tecnológica industrial.
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Uma forma de evitar que valores públicos sejam subvertidos durante o processo de política de
C&T, Bozeman e Sarewitz (2011) propõe o desenvolvimento de uma prática avaliativa neles
baseada. Todavia, a análise de resultados sociais e públicos da C&T são, em geral,
sobredeterminados por outros elementos sociais, econômicos, políticos e culturais, implicando
em considerável complexidade e potencial contradição, por exemplo, ao ter efeito positivo em
uma dimensão analítica, e negativo em outra, ou ainda efeitos divergentes em uma mesma
dimensão para diferentes pessoas (BOZEMAN; SAREWITZ, 2011).
Esta condição complexa e possivelmente contestável da discussão de valores públicos da
política de C&T, habilita-se como favorável a uma prática avaliativa de inclinação
democratizante e com enfoque de justiça social, pelo seu maior potencial de avaliação
distributiva. Bozeman e Sarewitz (2011) em algumas experiências de casos em que foi aplicado
o mapeamento de valor público como prática avaliativa de pesquisas de C&T, os critérios de
valor público funcionaram como heurísticas para deliberação coletiva sobre o valor do
conhecimento pelo desenvolvimento de distintas cadeias de valor a este relacionado.
Embora esta prática avaliativa baseada no mapeamento de valores públicos apresente-se como
uma perspectiva de justiça social no horizonte da política de C&T, a preponderância dos
processos avaliativos nesta política permanece mais próximo da noção de máquinas de
avaliação de Dahler-Larsen (2012) com o aprofundamento de indicadores de desempenho de
ênfase em métricas científicas individuais e econômicos agregados.
No Brasil, a governança da política de C&T, e suas práticas avaliativas, mantém-se sob forte
predominância da comunidade de pesquisa (DAGNINO, 2007). Sob significante influência
internacional, a constituição de sistemas de indicadores de C&T no âmbito nacional iniciou na
década de 1990, localizado principalmente em duas agências de fomento federais (CAPES e
CNPq), e passou a ganhar força a partir da década de 2000, contando com esforços também
angariados pela pasta ministerial de C&T (VIOTTI; MACEDO, 2003), conquanto no decorrer
do tempo venha a sofrer momentos de instabilidade.
projetos e eventos de C&T para seleção de fomento; (2) avaliação de projetos e eventos
fomentados; e, (3) avaliação institucional anual. O foco temporal referiu-se ao período do plano
plurianual (PPA) de 2012-2015.
Cabe esclarecer que a estrutura institucional estadual de C&T no Pará é relativamente recente,
sendo que sua fundação de amparo à pesquisa (Fundação Amazônia Paraense de Amparo a
Estudos e Pesquisa – FAPESPA) foi criada no ano de 2007. No período de 2012 a 2014, os
dispêndios estaduais em C&T foram respectivamente de: R$182.889.000 (2011); 238.707.000
2012); 199.703.000 (2013); e, 211.880.000 (2014)5.
A seguir, faremos uma descrição das práticas avaliativas sob análise e teceremos algumas
considerações em cotejo à discussão de processos democratizantes e de justiça social na
avaliação de políticas públicas.
5
Dados referentes a 2015 não estavam disponibilizados no material consultado (FAPESPA, 2017).
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processo, não podemos ignorar o fato deste assumir uma posição dominante a ponto de
inviabilizar implicitamente a participação de outros atores por estarem fora do modelo
cognitivo aplicado de avaliação, independente do direcionamento de valores públicos e
públicos alvos dos editais.
A possibilidade de abertura à participação de outros atores, seja nas fases já estabelecidas, seja
pela inclusão de fase suplementar com dinâmica específica, não pode ser a priore renunciada
como inviável ou inapropriada. Como no caso de edital lançado para desenvolvimento de
tecnologias assistivas, cujo foco estava voltado ao atendimento de necessidade de pessoas com
deficiência, idosos e com mobilidade reduzida. Tal direcionamento nos sugere a plausibilidade,
por exemplo, de participação de entidades sociais ou associações civis de apoio a estes públicos
alvos, que agregaria conhecimento social prático de atendimento a necessidades e valores a
estes engajados.
A prática avaliativa sobre projetos e eventos fomentados referia-se a uma avaliação ex-post com
o objetivo de assegurar o cumprimento de obrigações de ênfase jurídico-administrativa
advindas do financiamento público dos projetos e eventos via contrato ou convênio.
De forma geral, os financiamentos concedidos pela Fapespa eram objeto de celebração de
Instrumento de Concessão e Aceitação de Apoio Financeiro (ICAAF) ou convênio. O
coordenador do projeto ou evento, e o representante da instituição de vínculo deste, comumente
era o responsável pelo cumprimento das obrigações associadas à concessão e uso de recursos
públicos, principalmente a realização e encaminhamento da prestação de contas e relatório de
execução final à FAPESPA.
Contudo, consequentemente a FAPESPA também mantinha obrigações vinculadas de análise
desta prestação de contas e relatório de execução, com emissão de laudo conclusivo, sujeito a
auditórias de órgãos de controle ou cofinanciadores. Tais procedimentos no período em estudo
eram realizados por servidores da Fundação, e submetidos à diretoria. Além da análise dos
documentos encaminhados, o procedimento de avaliação poderia eventualmente envolver
visitas técnicas e de fiscalização nos locais de execução dos projetos.
A principal preocupação deste processo avaliativo relatado por gestor do período relacionava a
assegurar a moralidade administrativa e positiva legal, notadamente no que se refere à
probidade na utilização dos recursos prestados contas. A análise da execução científica,
tecnológica ou inovativa, preponderantemente realizada com base em relatório de execução
emitido, tinha por premissa identificar produtos relatados (número de artigos, dissertações,
teses, livros, patentes, entre outros) e, quando o caso, compará-los aos previstos.
Entendermos que, do ponto de vista da prestação de contas, a prática avaliativa está amparada
em marcos regulatórios gerais da Administração Pública, com regulamentos e manuais
específicos no âmbito da FAPESPA, que seguem uma lógica de ênfase burocrata de efetividade
da responsabilização formalista dos gastos de recursos públicos.
Do ponto de vista da análise da execução, enquanto esperada vinculada à produção ou aplicação
de conhecimento científico, tecnológico ou de inovação, consideramos que o procedimento não
alcança uma avaliação qualificada ou substantiva dos resultados e impactos gerados pelo
projeto ou evento financiado. Talvez esteja mais próximo de um cumprimento acessório à
prestação de contas pela conferência de coerência formal de etapas e resultados previstos no
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No site da FAPESPA, foram localizados 3 relatórios institucionais anuais (2012, 2013 e 2015)
no período em foco. Apesar de ter ocorrido certa modificação na forma/estrutura de
apresentação dos relatórios ao longo do período, estes trazem informações gerais sobre a
estrutura, propósitos e organização interna das funções da Fundação, além de breves textos ou
listagens sobre editais lançados, estudos e projetos financiados.
A elaboração dos relatórios foi realizada internamente e seu conteúdo tem um enfoque sobre o
funcionamento interno da fundação, inclusive de explicações sobre funções meios e com alguns
destaques para projetos ou produtos de sua função finalística. Os projetos e produtos em
destaques, assim como diferentes critérios de listagens exibidos são distintos a cada ano. Em
geral, as informações são descritivas e ilustrativas dos fomentos ou projetos financiados, e não
há recurso analítico sofisticado ou uso de indicadores de desempenho científico bibliométricos
ou econômicos.
Podemos compreender que a elaborações destes relatórios segue uma lógica convencionalista
ou ritualística de avaliação (DAHLER-LARSEN, 2012), sendo realizada não necessariamente
para atender um propósito instrumental de informar a tomada de decisão ou de gerar
aprendizado sobre programas ou políticas. Mas, em virtude de ser uma atividade socialmente
esperada de ser cumprida por uma entidade pública governamental, compondo assim um
portifólio de ações de atendimento a accountability e controle social.
4. Considerações finais
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Verificamos que as práticas avaliativas examinadas nas políticas de C&T estadual no Pará
estavam centradas em membros da comunidade de pesquisa, seja por sua elaboração direta, seja
por execução de servidores hierarquicamente subordinados àqueles. Entendemos que um
debate sobre valor público direcionado a um enfoque de justiça social nos processos avaliativos
da política de C&T requer a adoção de práticas democratizantes, com a inclusão e valorização
da participação de outros atores sociais, além dos próprios cientistas. Acreditamos que tal
mudança precisa encontrar espaço de reflexividade e construção entre os membros da própria
comunidade de pesquisa, pelo engajamento à transformação de práticas sociais em seus
cotidianos do fazer científico e do fazer da política de C&T.
Referências
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