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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo fazer uma breve análise dos gêneros
cinematográficos incidentes sobre os filmes vencedores da 83ª edição do Oscar 2011 da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, levando-se em conta a
obra “Géneros Cinematográficos” de Emundo Cordeiro. À luz da opinião corderiana,
abordar os conceitos que o levaram a distinguir tais gêneros e, assim, assinalar uma
possível classificação dos filmes apontados como finalistas da festa da Academia de
Cinema. Pretende-se com isto analisar como se comportam os gêneros apontados por
Cordeiro nos filmes contemporâneos. Busca-se um referencial teórico na obra referida.
O presente estudo utilizará a metodologia qualitativa com base documental,
bibliográfica e exploratória.
1
Trabalho apresentado como pré-requisito para a conclusão da Disciplina Gêneros Jornalísticos na
Sociedade Midiática: Teoria e Metodologia, ministrada pelo Professor Doutor José Marques de Melo no
Programa de pós-graduação em Comunicação Social (PosCom) da Universidade Metodista de São Paulo
– UMESP – no segundo semestre de 2011
2
Jornalista graduado pela FAI - Faculdades Adamantinenses Integradas. Pós-graduado em Comunicação
Empresarial pela Unitoledo Araçatuba. Mestrando em Comunicação Social pelo Programa de Pós-
Graduação da Universidade Metodista de São Paulo; Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - CAPES. E-mail: xagurgel@yahoo.com.br.
INTRODUÇÃO
Sempre que abordamos o estudo sobre gêneros, por sua vastidão, em determinado
momento podemos incorrer em falhas por excesso ou omissão.
Sabendo-se quase impossível versar sobre o tema de forma cabal, desde já fica ciente
que alguns aspectos poderão se apresentar de modo sobre e outros subvalorizados.
Objetivando-se uma breve análise dos gêneros cinematográficos dos filmes vencedores
da 83ª edição do Oscar 2011 da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de
Hollywood, utilizaremos a concepção de Edmundo Cordeiro.
Para o desempenho desta análise, Dividimos este estudo dos géneros numa parte
introdutória e outras quatro partes mais específicas.
Na primeira, propomos uma imersão na obra “Gêneros Cinematográficos” de Edmundo
Cordeiro com o intuito de compreender de maneira tão ampla quanto possível a sua
concepção sobre as questões pontuais sobre os gêneros cinematográficos: o que é um
gênero? Quais os critérios de identificação de um género cinematográfico? O que
permite distinguir os gêneros?
A segunda parte trata especificamente sobre os principais gêneros cinematográficos e
suas particularidades.
Em terceiro plano apresentamos a festa da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas de Hollywood e os Filmes vencedores do Oscar 2011 já com alguma
perspectiva dos gêneros cinematográficos.
Por fim, busca-se apresentar os gêneros caracterizados pela indústria da cultura, diga-se
também indústria do cinema, pelos produtores dos filmes do Oscar 2011, usando-se
como aporte fichas técnicas, sinopses e críticas, com a intenção de verificar como esses
gêneros se encaixam conforme a classificação de Edmundo Cordeiro.
Apresentar analogias e similitudes entre as principais características dos gêneros
apontados na obra em questão e os filmes explorados.
Nossa expectativa sobre o estudo é demonstrar de forma simples, objetiva e clara os
meandros dos gêneros cinematográficos e a classificação dos filmes vencedores do
Oscar 2011 com base na obra de Edmundo Cordeiro.
Intenta-se com isso dar uma humilde contribuição para o conhecimento do campo dos
gêneros, neste caso mais especificamente cinematográficos, tão importantes para a área
da comunicação.
EDMUNDO CORDEIRO E OS GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS
Esta primeira parte está fundamentada no aporte bibliográfico fornecido pelo livro
“Géneros Cinematográficos” sendo o último dos sete textos em cinema, vídeo e
multimídia apresentados pela Coleção Imagens, Sons, Máquinas e Pensamento das
Edições Universitárias Lusófonas.
O autor, Edmundo Cordeiro é doutor em Ciências da Comunicação/Teoria do Cinema
pela Universidade da Beira Interior (Portugal) e professor da licenciatura em Cinema
Vídeo, e Comunicação Multimédia da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias.
A obra em questão vem dividida em duas partes sendo que a primeira trata de gêneros
cinematográficos enquanto formas de criação, de experimentação e de comunicação,
colocando necessariamente em relação economia e poética, e a segunda parte, apresenta
os principais gêneros cinematográficos e suas características.
A intensão aqui é apresentar o pensamento do autor sobre os principais pontos do estudo
dos gêneros dando ênfase aos cinematográficos descritos na primeira parte da obra. O
conteúdo da segunda parte do livro servirá também de base para uma análise da
classificação dos gêneros nos filmes do Oscar na segunda parte do estudo em questão.
De início, o autor nos oferece uma definição de gênero que parece bem simplista:
Aqui o autor faz uma ressalva quando diz que o gênero é uma categorização, (entenda-
se classificação) dos filmes, mas ainda assim diz que alguns filmes não cabem bem
nessas categorias e que, por isso devem ser vistas como generalizações (coisas vagas,
imprecisas).
Para conceituar o gênero de forma cabal, o autor se utiliza da descrição do Dicionário
Houaiss:
Gênero: 1 – conceito geral que engloba todas as propriedades comuns que caracterizam um
dado grupo ou classe de seres ou de objetos. 2. P.ext. conjunto de seres ou objetos que possuem
a mesma origem ou que se acham ligados por similitudes de uma ou mais particularidades. 2.1
p.ext. tipo, classe, espécie, estilo” (Cordeiro, 2007, p. 14)
Explica que gênero não é um termo descritivo, mas “antes um conceito com as suas
configurações de problemas. Os Gêneros Cinematográficos também são assim”.
(Cordeiro, 2007)
Recorre a Rick Altman para apontar quatro domínios do cinema onde a noção de gênero
funciona de maneira específica, distinta em cada um deles: o domínio da produção, o
domínio da criação, o domínio da distribuição e exibição e o domínio da recepção:
Nos domínios acima citados, o gênero serve tanto para o classificar (troca linguística e
econômica) quanto para o gerar (produção do que se entrega, do que se expõe, do que se
coloca como objeto de troca). Cordeiro (2007) explica que o “Gênero concerne tanto
aos domínios da economia e da comunicação, quanto ao domínio da criação”.
O autor também defende a relação entre a economia e poética colocada pelos Gêneros
Cinematográficos citando que beleza de certos filmes está intrinsecamente ligada à
questões econômicas para a sua realização.
Em seguida, mostra o autor que há três ordens de razão que configuram a questão do
gênero no cinema e a relação entre poética e economia (e comunicação): razões
históricas e ontológicas, razões de espetáculo e mercado e razões de criação e recepção.
“Há razões históricas para que os filmes de cinema sejam agrupados em classes
distintas (gêneros cinematográficos), razões que remontam à distinção (anterior
ao cinema) das formas teatrais e das artes do espetáculo. Estas tiveram a sua
primeira fundamentação ontológica conhecida na Poética de Aristóteles com a
distinção entre tragédia e comédia. A tragédia é imitação das ações humanas
através do verso, destinada a ser representada por atores. O drama (seja trágico
ou cômico) é o que põe em cena agentes – no drama imitam-se agentes”.
(Cordeiro, 2007, p. 16-17)
“A meio caminho entre poética e economia, o gênero remete para um padrão, para um
conjunto de convenções até certo ponto partilhadas por produtores, realizadores, críticos
e público. Se um determinado gênero (ex: o western) permite caracterizar e distinguir
determinado conjunto de filmes existentes, as razões devem-se a isso mesmo. As
convenções podem incidir em vários aspectos do filme, seja em elementos do enredo,
seja no tema geral, seja em características técnicas, seja em elementos estilísticos, seja
na iconografia, seja em certos efeitos na audiência, etc.” (Cordeiro, 2007, p. 18)
Na visão corderiana, a distinção dos Gêneros passa por situações dramáticas globais,
tipologias específicas e tonalidades dominantes.
“Esta ultima é aquilo que mais orienta formalmente a realização de um filme de gênero
e a mais experimentada pelo espectador. Por exemplo: o patético de certos melodramas,
a fantasia no musical (ou em certo fantástico, ou em certa ficção científica), o medo no
terror, a inquietação ansiosa ou intelectual nos thrillers etc. É na tonalidade dominante
que se cumpre o jogo entre diferença e repetição que pode distinguir e valorizar cada
filme”. (Cordeiro, 2007, p. 18)
Ressalta ainda que à parte as questões formais e temáticas, as convenções de gênero,
inserem-se em processos de comunicação.
Fixa um quadro de determinações que organizam a existência dos gêneros que remetem
para: a diferenciação dos gêneros; a inclusão nos gêneros, a mistura dos gêneros; a
hierarquia dos gêneros e o valor; a história e evolução dos gêneros.
“Os gêneros podem distinguir-se pelos temas e pela iconografia (tipologias ou motivos).
A guerra, a lei, o amor, a amizade, o trabalho e as relações sociais, a família etc. quanto
aos temas. Os espaços naturais, sociais ou culturais, os objetos, as personagens, as
situações dramáticas, etc. quanto à iconografia”. (Cordeiro, 2007, p. 24)
“Os gêneros distinguem-se pelos elementos formais: a técnica de feitura do filme (pode
definir o filme de animação); a alternância entre diálogos não cantados e cantados (pode
definir o musical); certos aspectos de narração por exemplo, como uso do flash-back
(como no filme noir ou no filme psicológico) ou de construção do ponto de vista por
intermédio de movimentos e câmera (como nos filmes de suspense), ou de montagem
alternada convergente (como nos thrillers e filmes de suspense)”. (Cordeiro, 2007, p.
24)
Sobre a inclusão nos gêneros, Cordeiro cogita que há categorias mais gerais e outras
mais precisas. Citando como exemplo o drama e comédia como gêneros largos ainda
que seus conceitos sejam precisos, o autor diz que em comédia romântica ou em drama
histórico, estas categorias são evidentemente mais estreitas, sem que por isso sejam
consideradas outros gêneros.
Consideram-se também as especificações, tanto do ponto de vista da criação quanto do
ponto de vista do público particularmente interessado em determinado gênero. Cordeiro
(2007) reflete que “... aquilo que, para o público em geral é simplesmente um filme de
terror, para um público consumidor e conhecedor do gênero, essa categoria requer
especificações”.
Outra consideração retrata as categorias culturais onde certos gêneros são específicos da
produção em determinados países e culturas ditando uma relação distinta com o público
que pertence ou não a essa cultura, como no caso dos filmes de artes marciais, kung-fu,
melodrama indiano, etc.
Sem usar a palavra hibridismo o autor se refere à mistura de gêneros:
“É preciso ter bem em conta que os gêneros não são estanques, que muitas vezes de
cruzam, havendo filmes que tomam explicitamente por objeto certos cruzamentos.
Outros há, também, que se posicionam enquanto metagênero: reajustam, criticam,
rejeitando ou parodiando certas convenções de gênero.Por conseguinte, os gêneros não
são puros: por exemplo ninguém pode dizer que não haja elementos de drama numa
comédia e vice-versa”. (Cordeiro, 2007, p. 26)
Como exemplo, no caso da relação drama-comédia, o autor aponta Charles Chaplin que,
segundo ele, criou o modo como o riso se distingue e se mistura com uma emoção
intensa, ao ponto de se tornarem indiscerníveis.
Outros conceitos abordados por Cordeiro dizem respeito aos filmes genericamente
formatados, genericamente marcados onde os primeiros seriam condicionados em
último grau pela produção e recepção e os segundo vivem uma relação ao gênero,
necessária embora, mas supostamente livre e autoral. Embora aceitando a distinção,
Cordeiro (2007) ressalta que “há que dizer que nem sempre a fronteira é nítida entre
filmes Genericamente Formatados e filmes Genericamente Marcados”.
Sobre a hierarquia dos gêneros o autor conceitua que eles não têm o mesmo valor, tanto
do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista cultural e completa:
“Há muitos fatores que hierarquizam os gêneros: fatores econômicos (os mais e menos)
rentáveis, fatos socioculturais (os de mais alto e mais baixo prestígio), fatores étnico-
culturais (os mais e menos ligados a uma tradição ou identidade). Há dinâmicas de
produção que levam a que se invista em filmes de determinado gênero, sendo muitas
vezes ambígua a relação entre o valor estritamente econômico e o valor cultural e
político”. (Cordeiro, 2007, p. 27)
Como exemplos dessa relação, o autor cita os filmes de ficção científica depois da
chegada à Lua, filmes de guerra durante e posteriormente a Segunda Grande Guerra, os
musicais entre 1945 e 1955 após a Guerra e os filmes de Kung-fu em países da Ásia.
Já sobre a história e evolução dos gêneros, Cordeiro observa que:
“Os gêneros não existem sem uma relação ao tempo. O seu ‘nascimento’ tem de ser
proclamado e, por conseguinte, situado. A sua vida, o seu evoluir, faz com que o tempo,
de outra forma ainda, se misture neles. Há, por isso, gêneros que tem um
posicionamento a que podemos chamar de trans-histórico: mantém-se invariavelmente
‘vivos’ ao longo dos tempos, mas essa invariabilidade tem de incluir certas diferenças- o
jogo entre diferença e repetição [...]” (Cordeiro, 2007, p.28)
Conclui que há gêneros que morrem e ressuscitam e outros ainda cuja existência está
mais fixada historicamente, seja em termos temáticos, sejam em termos iconográficos.
Tratando o gênero enquanto problema e enquanto prática do cinema, o autor explica
que, neste contexto, ele tem um valor que excede as três ordens de razões que
configuram a questão do gênero no cinema e a relação entre poética e economia (e
comunicação), quais sejam: razões históricas e ontológicas, razões de espetáculo e
mercado e razões de criação e recepção.
Pensando assim, o autor retrata a idéia de que há qualquer coisa nas imagens do cinema
que as liga por si mesmas, a uma questão de gênero. Formula uma hipótese e responde.
“Sendo o gênero um problema e uma prática do cinema, de que forma é que estes estão
desde logo presentes nas primeiras imagens dos irmãos Lumière? O que são essas
imagens? Resposta: elas são, por um lado, documento, mas também, falso documento
(as duas versões conhecidas da saída dos operários da fábrica dos Lumière apresentam a
questão explícita e como que pedagogicamente – mas todos os filmes são isso,
documento e falso documento); elas são constituídas, por outro lado, pela diversidade
do espetáculo que se dá a ver, mas também pela diversidade de sua composição. Por
conseguinte, as imagens surgem marcadas por esta ambiguidade essencial, resultante de
o mundo (documentado) se tornar espetáculo (ficcionado)”. (Cordeiro, 2007, p.31)
Conclui então que as imagens dos irmãos Lumiére são documento, ficção e espetáculo.
Tudo isto junto, sempre indiscernivelmente misturado. Cordeiro infere também que tais
imagens visaram desde logo diferentes espécies de emoções e diferentes formas de
recepção.
De outra maneira, Cordeiro (2007) relata que as relações com o que era registrado
assumiram características diversas “sendo as imagens do cinema uma composição e
uma recomposição sem descanso da história, imaginação e emoção, elas apelam a uma
decifração global a que a noção de gênero (os diferentes gêneros) procura dar resposta
[...]”.
Para finalizar a primeira parte do livro, o autor relata que, quanto à enunciação, os
gêneros cinematográficos distinguem-se dentro de três categorias principais: ou são
documentários, ou são ficções, ou são experimentais. Porém alerta:
O autor passa então em revista cada uma das categorias e, para tanto, entende o cinema
narrativo enquanto cinema de ficção. Usa então o sistema de invariantes de Bordwell
para dar conta da ficção e, a partir daí conclui:
“Temos portanto, heróis definidos, as suas ações orientadas, e o resultado destas. Ora,
primeiro ponto: estas personagens, estas ações e estes desenlaces são, evidentemente,
inventados. E, segundo ponto: têm que suscitar o interesse da parte do espectador:
desencadeando emoções, fazendo pensar, informando, etc. Tudo isso pertence ao reino
da ficção, isto é, do fingido, ou em sentido etimológico, da formação ou criação [...]”.
(Cordeiro, 2007, p.37-38)
Considera que a teoria da ficção vem de Aristóteles com sua Poética e, nela, a definição
do efeito genérico da ficção (mimésis) pela emoção sentida de forma delegada.
Já sobre a enunciação documental, Cordeiro (2007) relata que esta “trabalhava a matéria
filada em função das ideias de reprodução e registro, mas também de prova e de tese
relativamente a um real”.
Apropria-se da definição de Bordwell “Um documentário propõe-se explicitamente
apresentar informação factual acerca do mundo fora do filme”.
Por conseguinte, um documentário tem a ver com fatos e não com ficção, sendo a sua
autenticidade definida externamente (ao contrário da ficção, que seria definida
internamente ao filme), sendo marcado por um desejo de autenticidade, de prova de um
exterior, por oposição, por exemplo, ao desejo de drama...”. (Cordeiro, 2007, p. 44)
Fechando a questão das categorias, Cordeiro (2007) diz que “[...] no caso do
experimental ele a matéria é trabalhada pela ideia de des-construção dos procedimentos
do filme ou do processo fílmico”. Relata que o Cinema Experimental, no primeiro terço
de Séc. XX – esteve ligado a exercícios artístico restrito ou de autores ligados à pintura,
escultura, fotografia etc... Por fim relata a experiência do Underground:
“Underground foi um termo que Marcel Duchamp usou para caracterizar o futuro da
arte e que veio a servir de lema e de caracterização do trabalho conjunto de artistas nos
anos 60 nos EUA (Nova Iorque sobretudo) ligados à poesia beat, à música pop e a
“Factory” de Andy Warhol”. (Cordeiro, 2007, p.48)
Com este aporte teórico sobre a construção dos gêneros cinematográficos na ótica de
Edmundo Cordeiro, finalizamos a questão e passaremos ao próximo capítulo para uma
breve análise dos principais gêneros na sétima arte.
“[...] remete etimologicamente para canto, música, dança (ou sentimento musical) e
drama (representação de ações humanas). Significa a junção da atração musical ao
drama ou narrativa teatral. Sendo a paixão amorosa o tema principal dos espetáculos
teatrais populares (séc. XIX), com cenas cantadas e encenadas musicalmente,
procurando intensificar espetacularmente os seus efeitos, misturando aspectos cômicos
com aspectos trágicos, melodrama acaba pura e simplesmente por via a qualificar as
ações humanas ligadas à paixão amorosa e à sua instabilidade e intensidade próprias”.
(Cordeiro, 2007, p. 69)
“Quando surge o cinema, o filme torna-se a forma que substitui o melodrama teatral
enquanto espetáculo popular”, diz Cordeiro (2007), para quem “o filme porém, só vem
efetivamente a substituir o melodrama teatral no início da segunda metade do século
XX.”. Como características o autor nos aponta certas linhas de ação do melodrama tais
como:
“A linha do destino” marcada por uma “sina” com um sentido de “queda”; o “mau
encontro” e “o auxílio involuntário”; “a obstinação” e “a recompensa, o remédio ou a
redenção”; finalmente “o happy-end”, ainda que nem sempre. O melodrama pode
aparecer por vezes caracterizado por uma linha simples de ação do tipo: inocente
maltratado pelos encontros do destino, ou persistentemente por alguém
manifestadamente mau, que, ajudado por alguém e buscando forças no mais fundo de si,
logra finalmente repor a situação”. (Cordeiro, 2007, p.71-72)
“O burlesco trabalha efeito (gags) de forte comicidade, jogando com um certo absurdo e
irracional, inseridos no meio de uma narrativa ligeira, ligada a uma situação simples [...]
executadas por uma personagem que não as desempenha convenientemente, residindo o
cômico nisso mesmo, no ridículo, na insensatez, no delírio, na associação entre
pertinácia e malogro, na indistinção entre adequado e não adequado”. (Cordeiro, 2007,
p.79)
“Um filme é musical quando a relação entre o som e a imagem se inverte: enquanto que
numa cena dialogada, o som parece seguir a imagem (fazendo-nos ouvir o que as
personagens dizem), na cena seguinte, subitamente ou gradualmente, os movimentos
das personagens quando dançam, ou o seu canto, parecem deixar-se engendrar pela
música” (Cordeiro apud Rick Altman, 2007, p. 89)
Para explicar o conceito deste gênero, Cordeiro (2007) diz que “normalmente, nos
filmes de ficção-científica, ou se está no futuro, ou o futuro já está aqui., no presente,
entre nós. É uma questão de tempo (s), como sempre”.
A caracterização da ficção científica é entendida pelo autor a partir do conceito de que
“o terreno da previsão e da antecipação é científico, por conseguinte, tratam-se de
ficções feitas a partir da capacidade de projeção e antecipação da ciência”. (Cordeiro,
2007)
E, para finalizar, o autor aborda o gênero suspense dizendo que:
“De Hitchcock se pode dizer que, tendo praticado vários gêneros cinematográficos,
criou o seu próprio gênero: O filme de suspense, cujos elementos são a morte e o crime.
O suspense é desencadeado pela antecipação e pelo seu protelamento, implicando com
isso o espectador no próprio filme, levando-o a desejar o que sabe iminente, e na
medida em que o espectador sabe sempre um pouco mais do que as personagens”.
(Cordeiro, 2007, p-.11)
“Drama, ficção científica, animação, faroeste: todos os gêneros nas indicações ao Oscar
2011. Nas dez indicações ao prêmio de Melhor Filme, uma vasta gama de formatos e
emoções. O rol de indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2011 é variado como há
muito não se via” (www.veja.abril.com.br, 2011)
Dos dez indicados ao prêmio de melhor filme, somente quatro não conseguiram ganhar
o Oscar em nenhuma das categorias em disputa. De acordo com a ficha técnica de cada
um dos filmes nos sites especializados www.omelete.uol.com.br e
www.adorocinema.com, os filmes figuram com a seguinte classificação de gênero -
Minhas mães e meu pai: comédia/drama; 127 horas: Drama; Bravura Indômita: Faroeste
e, Inverno da Alma: Policial (omelete) Drama (adorocinema).
A lista completa dos filmes vencedores de alguma categoria do Oscar 2011 por si só já
demonstra uma diversidade de gêneros:
“Melhor filme: “O discurso do rei”; Melhor diretor: Tom Hooper – “O discurso do rei”;
Melhor ator: Colin Firth – “O discurso do rei”; Melhor roteiro original: “O discurso do
rei”; Melhores efeitos visuais: "A origem"; Melhor mixagem de som: "A origem";
Melhor edição de som: "A origem"; Melhor fotografia: "A origem"; Melhor edição: "A
rede social"; Melhor trilha sonora origina: "A rede social" - Trent Reznor e Atticus
Ross; Melhor roteiro adaptado: “A rede social”; Melhor ator coadjuvante: Christian
Bale – “O vencedor”; Melhor atriz coadjuvante: - Melissa Leo – “O vencedor”; Melhor
canção original: "We belong together", de "Toy story 3"; Melhor longa-metragem de
animação: "Toy story 3"; Melhor direção de arte: "Alice no País das Maravilhas";
Melhor figurino: "Alice no País das Maravilhas"; Melhor atriz: Natalie Portman –
“Cisne negro”; Melhor maquiagem: "O lobisomem"; Melhor filme de língua
estrangeira: "Em um mundo melhor" (Dinamarca); Melhor curta-metragem de
animação: "The lost thing", de Shaun Tan, Andrew Ruheman; Melhor documentário em
curta-metragem: "Strangers no more"; Melhor curta-metragem: "God of love"; Melhor
documentário (longa-metragem): "Trabalho interno"” (Portal G1, 2011)
Cabe ressaltar que, desta lista, para o desenvolvimento do trabalho sobre gêneros
cinematográficos, tomamos a liberdade de suprimir os filmes: Melhor curta-metragem
de animação: "The lost thing", de Shaun Tan, Andrew Ruheman; Melhor documentário
em curta-metragem: "Strangers no more"; Melhor curta-metragem: "God of love" e
Melhor documentário (longa-metragem): "Trabalho interno"”, ficando com os filmes
vencedores das principais categorias do Oscar 2011.Assim, dos treze vencedores do
Oscar 2011, trabalharemos a questão dos gêneros em nove filmes das principais
categorias e, excepcionalmente, um filme que foi apenas indicado.
“Desde os quatro anos, George (Colin Firth) é gago. Este é um sério problema para um
integrante da realiza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George
procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando sua
esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush),
um terapeuta de fala de método pouco convencional, George está desesperançoso.
Lionel se coloca de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de
forma a tornar-se seu amigo. Seus exercícios e métodos fazem com que George adquira
autoconfiança para cumprir o maior de seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação
de seu irmão David (Guy Pearce)”. (www.adorocinema.com, 2011)
“Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), analista de
sistemas graduado em Harvard, se senta em seu computador e começa a trabalhar em
uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se
torna o mais jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook. O
sucesso, no entanto, o leva a complicações em sua vida social e profissional”.
(www.adorocinema.com, 2011)
A ficha técnica de “A Rede Social” o classifica como um drama e sua crítica, ao retratar
“A trilha sonora executada como extensão do conturbado fluxo de consciência de
Zuckerberg” , parece corroborar com essa classificação. (omelete.uol.com.br, 2011)
A sinopse de “O vencedor” também agrega elementos que podem direcionar a uma
classificação de gêneros:
“1993. Dicky Ecklund (Christian Bale) teve seu auge ao enfrentar o campeão mundial
Sugar Ray Leonard em uma luta de boxe, colocando a pequena cidade de Lowell no
mapa. Até hoje ele vive desta fama, apesar de ter desperdiçado a carreira devido às
drogas. Micky Ward (Mark Wahlberg), seu irmão, tenta agora a sorte no mundo do
boxe, sendo treinado por Dicky e empresariado por Alice (Melissa Leo), sua mãe. Só
que a família sempre o coloca em segundo plano em relação à Dicky, o que impede que
Micky consiga ascender no esporte. A situação muda quando ele passa a namorar
Charlene Fleming (Amy Adams), que o incentiva a deixar a influência familiar e tratar a
carreira de forma mais profissional”. (www.adorocinema.com, 2011)
O crítico Marcelo Hessel ao se referir ao filme “O vencedor” dizendo que “Os versos de
"I Started a Joke", do Bee Gees, dão a dimensão do drama que o outrora”, concorda
com a ficha técnica que classifica o filme como drama.
O filme “Toy Story 3” tem em sua sinopse ações que podem indicar uma possível
classificação de gênero.
“Andy (John Morris) tem 17 anos e está prestes a ir para a faculdade. Desta forma,
precisa arrumar o quarto e definir o que irá para o lixo e o que será guardado no sótão.
Seus antigos brinquedos, entre eles Buzz Lightyear (Tim Allen), Jessie (Joan Cusack) e
o Sr. Cabeça de Batata (Don Rickles), são separados para serem guardados no sótão.
Entretanto, uma confusão faz com que a mãe de Andy os coloque no lixo. Woody (Tom
Hanks), que será levado por Andy para a faculdade, decide salvá-los. O grupo escapa,
mas acaba no carro da mãe de Andy. Ela leva a uma creche diversos brinquedos, entre
eles Barbie (Jodi Benson). Ao chegarem, os amigos encontram um universo até então
inimaginável, onde os brinquedos sempre têm crianças para brincarem com eles”.
(www.adorocinema.com, 2011)
“Alice (Mia Wasikowska) é uma jovem de 17 anos que passa a seguir um coelho branco
apressado, que sempre olha no relógio. Ela entra em um buraco que a leva ao País das
Maravilhas, um local onde esteve há dez anos apesar de nada se lembrar dele. Lá ela é
recepcionada pelo Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) e passa a lidar com seres
fantásticos e mágicos, além da ira da poderosa Rainha de Copas (Helena Bonham
Carter)”. (www.adorocinema.com, 2011)
A ficha técnica do filme Alice no País das Maravilhas classifica-o como sendo
Aventura / Fantasia e, a crítica, também corrobora para a classificação relata que Alice
“vê um certo coelho branco de colete e relógio na mão e decide segui-lo. Cai, então, em
um buraco e vai parar no País das Maravilhas”.
A seguir a sinopse do filme o Cisne Negro também aponta problemas que podem servir
de base para classificação de gênero.
“Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina de uma companhia, está prestes a
se aposentar. O posto fica com Nina (Natalie Portman), mas ela possui sérios problemas
interiores, especialmente com sua mãe (Barbara Hershey). Pressionada por Thomas
Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, ela passa a enxergar uma
concorrência desleal vindo de suas colegas, em especial Lilly (Mila Kunis)”.
(www.adorocinema.com, 2011)
Quando a crítica diz “O problema de Cisne Negro é que Aronofsky está fora de seu
território seguro. Suspense é um gênero difícil e o diretor foi bem sucedido nele no
passado [...]”, já o classifica também de acordo a indicação de sua ficha técnica.
(omelete.uol.com.br)
A sinopse do filme O Lobisomem também aponta para pista sobre gênero.
“O ator Lawrence Talbot (Benicio Del Toro), quando criança, sofreu com a morte de sua
mãe e nunca mais voltou a morar com o pai (Anthony Hopkins). Mais de duas décadas
depois do ocorrido, ele é chamado por sua futura cunhada Gwen Conliffe (Emily Blunt)
para ajudá-la a encontrar o noivo desaparecido. Ao retornar para a casa do pai, Talbot
acaba se envolvendo numa investigação sobre violentas mortes que acontecem nas
noites de lua cheia, entrando em contato com o seu passado e descobrindo um segredo
que mudará para sempre a sua vida”. (www.adorocinema.com, 2011)
“O pai de Mattie Ross (Hailee Steinfeld), de apenas 14 anos, foi assassinado a sangue
frio por Tom Shaney (Josh Brolin). Em busca de vingança, ela resolve contratar um
xerife beberrão, Reuben J. Cogburn (Jeff Bridges), para ir atrás dele. Inicialmente ele
recusa a oferta, mas como precisa de dinheiro acaba aceitando. Mattie exige ir junto
com Reuben, o que não lhe agrada. Para capturar Shaney eles precisam entrar em
território indígena e encontrá-lo antes de La Boeuf (Matt Damon), um policial do Texas
que está à sua procura devido ao assassinato de outro homem”.
(www.adorocinema.com, 2011)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a conclusão deste estudo segue o agrupamento dos filmes pertencentes ao mesmo
tipo de gênero para, de acordo com as características fundamentadas na obra de
Edmundo Cordeiro, procurar similitudes, fazer analogias e traçar paralelos.
Em primeira análise detecta-se que, dos dez filmes analisados, nove vencedores e um
indicado, cinco filmes, ou seja, cinquenta por cento (50%) deles foram classificados
como drama. Sejam: “O discurso do rei”, “Rede social”, “O vencedor”, “Cisne negro” e
“Em um mundo melhor”.
A seguir vieram a ficção científica “A origem”; o filme de animação/aventura/comédia
“Toy Story 3”; o filme classificado como aventura/fantasia, “Alice no País das
Maravilhas”, o suspense/terror “O Lobisomem” e, excepcionalmente inserido à titulo de
ilustração do gênero western, “Bravura Indômita”.
A classificação elaborada através das fichas técnicas e de pistas ventiladas na crítica ou
na sinopse dos filmes por si só já dão pistas sobre os gêneros cinematográficos.
Especialmente sobre as sinopses dos filmes cabe ressaltar que, propositalmente, foram
apresentadas de maneira a não criar juízo de valor sobre gêneros, deixando então para
esta conclusão o fazer de acordo com a obra de referência.
Destarte, apresentamos então os filmes classificados como drama que, sem exceção,
figuraram dentro das principais características do gênero como a linha do destino
marcada por uma sina, o auxílio involuntário, a obstinação e a recompensa e, quicá,
finalmente o happy-end.
Todos os textos apresentando o filme de ficção científica “A Origem” foram de encontro
ao conceito base do gênero de que a área da previsão e da antecipação é científica,
porquanto, de ficções feitas a partir da capacidade de projeção e antecipação da ciência.
Quanto ao cinema de animação do filme “Toy Story 3”, não abordado especificamente
pelo autor nesta obra, e sua classificação como aventura/comédia, encontra respaldo na
indicação de que a comédia é um gênero compósito, com matizes muito variados que
podem ir do hilariante ao romance e mesmo ao drama, e concerne normalmente aos
costumes e às relações humanas.
Já “Alice no País das Maravilhas” classificado como aventura/fantasia, traz nos textos
de apresentação traços que remetem ao “thriller” que Cordeiro observou como sendo
caracterizado por um certo suspense, por uma certa expectativa dirigida.
Com todas as características do filme de terror, “O lobisomem” congrega o conjunto de
temas, personagens, locais e formas típicas do gênero como figuras que se dedicam a
metamorfoses malignas, lugares escuros e úmidos, castelos, cemitérios, a noite com
vento etc.
E, finalmente e excepcionalmente inserido, o filme “Bravura Indômita” que também
segue as características fundamentais do gênero com a ação humana conflituosa, a
desmesura dos espaços das pradarias, o deslocamento de cavalos, diligências, carroças
etc.
Resta concluir que os filmes do Oscar 2011 e sua classificação estão em consonância
com as características fundamentais dos gêneros cinematográficos observados na obra
Edmundo Cordeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Crítica e ficha técnica do filme Alice no País das Maravilhas disponível em:
http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-alice-no-pais-das-maravilhas/ - acesso em
24/11/2011 às 22:12
Crítica e ficha técnica do filme A Rede Social disponível em:
http://omelete.uol.com.br/cinema/rede-social-critica/ - acesso em 24/11/2011 às 21;53