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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

LATIM

CASAMENTO ROMANO E A AULULARIA

Professora: Conceição

Alunas(o):

Anna Beatriz Jordão. DRE: 118021427.

Anna Carolina L. da Silveira. DRE: 118060528.

Cristian Quintanilha Ferreira. DRE: 118069792.

Maíra Câmara de Araújo. DRE: 118022180.

2018
CASAMENTO ROMANO

O casamento na Roma Antiga era um ato muito estimado. Por ser a família a base
da sociedade e sua estabilidade, a segurança do povo, foi a primeira instituição
estabelecida pela religião doméstica. O casamento romano respeitava algumas
tradições, sendo considerado, além da união entre duas pessoas, um dever civil de
gerar descendentes e transmitir uma herança.

A decisão acerca do matrimônio partia do homem ou dos pais dos futuros noivos,
sendo um acordo que visava benefícios mútuos. Com aproximadamente 14 anos, o
rapaz já estava em condições legais de se casar; no entanto, um casamento em que o
homem fosse tão jovem não era tão corriqueiro quanto o da jovem, que aos 12 anos já
estava à disposição para se casar - e não demorava muito para que acontecesse.

Existiam uniões tradicionais e não tradicionais, porém apenas as tradicionais


legitimavam os filhos perante a lei, que não permitia a poligamia. Muitas vezes, as
crianças romanas já eram prometidas a seus cônjuges e eram criadas pelos pais até a
idade do matrimônio. Esse acordo feito entre os pais fazia parte do patria potesta. Os
noivados duravam muito tempo antes da concretização do casamento, que
compreendia três atos: traditio, deduction in domum e fonfarreatio.

A patriarcal cultura Romana punha o poder nas mãos do homem da família,


chamado pelos romanos de pater familias (patriarca). O homem não era só responsável
pelo seu núcleo familiar (animais falantes), como também por seus animais
(semifalantes ou mudos) e seus bens materiais (coisas). O poder e a autoridade do
patriarca só eram transferidos a outro homem do núcleo familiar caso o patriarca
morresse; por isso, mesmo casando, o rapaz devia respeito e submissão a seu
patriarca.

Existiam três tipos de casamento na Roma Antiga: comunhão (confarreatio), pela


compra(coemptio) ou pelo uso(usus).

Confarreatio- Era realizado entre os patrícios, sendo um ato religioso oferecido


à Júpiter pelos noivos. Seguia-se ritos delimitados diante de testemunhas. O pão e o
trigo eram símbolos religiosos na cerimônia.

Coemptio- Acontecia quando a mulher plebeia era vendida simbolicamente ao


seu futuro marido. Realizava-se uma cerimônia diante de testemunhas.
Usus- Ocorria quando o casal, antes mesmo de se casar, coabitava por um ano.
Caso a noiva não dormisse fora de casa por três noites seguidas, findado o ano, o
homem a desposava.
Existia na época uma característica peculiar no casamento, conhecida como sine
manus; quando a mulher detinha poder na sociedade e dinheiro, esta poderia se manter
debaixo do poder de seu pai mesmo depois de casar. Tal ato fazia com que a mulher
não se subjugasse a seu futuro esposo, e que, por conseguinte, seu dote não fosse de
uso do seu marido e sim dela mesma, fazendo com que essa mulher tivesse a mesma
posição social que o homem. Era realizada apenas uma cerimônia simbólica.

AULULARIA E O CASAMENTO

Na comédia Aulularia, de Plauto, podemos observar, por parte do deus Lar, a


preocupação com Fedra - filha do personagem principal, Euclião – e a provisão de um
possível dote para que a jovem pudesse ser desposada. O dote era uma doação feita
pela família da noiva ao noivo, como uma ajuda nas despesas do casamento - era o
valor referente a compra de um marido. Como Euclião se tornou pobre após a morte de
seu pai, por misericórdia à jovem, o deus do lar o guiou a achar a panela de ouro outrora
escondida de seu pai pelo seu avô; o dote seria para a Fedra uma chance de abençoá-
la com um possível casamento.

Vizinho de Euclião, Megadoro era um homem rico e solteiro. Ao analisar sua vida,
decide casar-se com Fedra, uma jovem pobre, para garantir herdeiros. A primeira atitude
que toma é acordar com Euclião o casamento, abrindo mão do dote e arcando com
todas as despesas do evento. No caso de Megadoro e Fedra, não houve um longo
noivado como era costume na época, pois Megadoro já era um homem adulto e tinha
pressa em se casar, marcando o casamento para aquele mesmo dia.

Era comum que homens ricos na faixa entre 30 e 40 anos, ou até mais,
desposassem jovens entre 12 e 18 anos; a cerimônia seria realizada sem que os futuros
cônjuges tivessem contato um com o outro. Ao homem era permitido o casamento com
uma mulher menos afortunada, porém, caso uma mulher casasse com um homem de
classe inferior à sua, a união não a conferia como noiva legítima, e sim como concubina.
CERIMÔNIA

Na cerimônia do casamento por aquisição, que aparentemente é o caso do


acordo feito entre Euclião e Megadoro, exigia-se a realização de ritos, e tornava o noivo
proprietário da noiva. O que se supõe como cerimônia, seria que, no dia anterior a festa
de casamento, os noivos dedicassem aos deuses da casa seus brinquedos, como uma
forma de gratidão por uma infância abençoada. No dia da celebração, a casa era
ornamentada com flores, busto dos ancestrais; a noiva vestia uma vestimenta feita com
apenas um tecido branco, cor que simbolizava pureza e castidade, um cinto com nó que
representava Hércules, usava um penteado com seis tranças em volta de sua cabeça e
realizava diversos preparativos, seu rosto era coberto por um véu e uma coroa em sua
enfeitava a cabeça.

O sacerdote iniciava os ritos para saber se o futuro casamento seria ou não


abençoado e o melhor dia para a realização do mesmo. Caso fosse propício, o futuro
casal assinava um registro e, diante das testemunham, juravam seus votos. A mulher
participava do culto realizado, assistindo aos atos religiosos de seu pai. Por existirem
diversos deuses e cada família cultuar o seu, era de certo que a jovem dedicasse sua
reverência ao deus da casa de seu pai; ali, diante de todos, o patriarca oferecia o
sacrifício e a declaração de entrega da sua filha ao futuro marido, desfazendo assim a
ligação que outrora a jovem tinha com sua religião e seu deus, sendo permitido com
isso que ela adotasse a religião do marido e o deus da casa dele.

A celebração era feita primeiro na residência da família da noiva, com a realização


de um banquete e rito sacrificial mencionado anteriormente. Depois, seguia um cortejo
à residência da família do noivo; em alguns casos, o próprio noivo acompanhava a noiva
à sua casa; em outros, um sacerdote chamado arauto a levava de carro. À frente da
noiva seguia alguém levando o archote nupcial.

Cercados de muita comida, música, familiares e amigos, era feita uma grande
cerimônia; ao chegar na residência do noivo, ele deveria carregar a esposa no colo – o
que antes simulava um rapto da donzela -, e as mulheres que seguiam o cortejo também
simulavam uma proteção à noiva. Após o ato, como uma luta, ele a levanta em seus
braços para que seus pés não tocassem o chão ao entrar na casa; entrando, a noiva é
apresentada ao deus do lar, e, sendo aspergida com água lustral, toca o fogo sagrado.
Após o ato, estavam livres para dividir uma refeição, que se compunha de pães, frutos
e bolo; seguia-se a oração simbolizando a união do casal e a apresentação da união ao
deus, desligando de vez a noiva dos deuses de seus pais, tornando-a participante da
religião e culto de seu marido. (COULANGES, 1971, p.51 e 53)
Megadoro apressou-se a iniciar os preparativos para a festa de casamento; sem
a menor preocupação e fugindo à regra, arcou com as despesas de comida, músicos e
tudo o que fosse necessário para a realização do matrimônio, não esperou o momento
propício e decidiu realizar a cerimônia no mesmo dia. No entanto, sua futura esposa
esperava em seu ventre um filho e, estando prestes a dar à luz, Fedra seria motivo de
grande escândalo, uma vez que havia sido violada pelo sobrinho do futuro noivo. Alguns
escritores relatam que a sociedade romana era a “sociedade do estupro”.

A MULHER ROMANA

A sociedade romana dividia as mulheres em duas classes: uma era a classe das
castas - mulheres consideradas puras, destinadas a gerar descendentes legítimos,
eram chamadas de masterfamilias. Os homens que violassem a pureza delas ou de
viúvas e divorciadas dessa classe, antes de legitimar o matrimônio, praticavam um ato
considerado stuprum consensual, porém não havia legislação que punisse o abusador
a restituir a vítima o mal feito, pelo contrário, a mulher era considerada suspeita, culpada
por corromper o homem ao desejo sexual. Outra classe de mulheres romanas eram as
concubinas, amantes, escravas ou livres que eram ligadas as satisfações sexuais dos
homens - não havia interesse de que fossem mães de filhos legítimos, para os romanos
elas eram consideradas imorais.

A virgindade na época de Fedra era algo muito estimado. Relações sexuais antes
do casamento eram consideradas imorais, ofendiam a honra do futuro marido e
dificultava a busca dos pais por um esposo, pois poucos se dispunham a aceitar a noiva
desonrada. Estáfila, a serva de Euclião, muito preocupada com a desonra e gravidez de
Fedra, a esconde do pai por bastante tempo; a jovem passa uma gestação inteira sem
que seu pai desconfiasse de nada. No texto a menção do ocorrido é de uma violação à
jovem; Licônidas, em um excesso de embriaguez, desonra Fedra e a engravida. Como
forma de reaver o mal feito a menina, pede para que sua mãe Eunômia clame ao irmão,
futuro noivo, a jovem como esposa.

Depois de saber do fato ocorrido, Megadoro abre mão do casamento e permite


que seu sobrinho tome por noiva Fedra, indo ao encontro de Euclião para pedir
desculpas ao futuro sogro e a mão da jovem em casamento; muito confuso, Euclião,
após cair em si, lastima o mal feito a filha - em Roma, o stuprum não causava mal
apenas a mulher, e sim a toda a sua família. Depois de encontrar sua panela de ouro
com ajuda do futuro genro, Euclião a entrega como dote pelo casamento da filha, sendo
aceito por Licônidas como parte da família.
BIBLIOGRAFIA

AGUIAR, Lilian Maria Martins de. "Casamento e formação familiar na Roma


Antiga”; Brasil Escola. Disponível em
<https://brasilescola.uol.com.br/historiag/casamento-formacao-familiar-na-roma-
antiga.htm>. Acesso em 23 de maio de 2018.

ARIES, Philippe; DUBY, Georges. História da Vida Privada 1: Do Império Romano ao


Ano Mil. 19. ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 1989

CANELA, Kelly Cristina. O “stuprum per vim” no direito romano. São Paulo: USP, 2009.

COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. 10. ed. Porto: LCE, 1971.

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2018.

PLAUTO. Aulularia. Trad. De Agostinho da Silva. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967.

TSUTSUI, Priscila Fialho. Paterfamilias, casamento e divórcio na Roma antiga.


Conteúdo Jurídico. Brasília: 19 nov. 2013. Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.45892&seo=1>. Acesso em: 23
maio 2018.

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