ARTIGO DE REVISÃO

ERGOESPIROMETRIA: INTERPRETAÇÃO DAS VARIÁVEIS PARA

IDENTIFICAÇÃO DOS LIMIARES METABÓLICOS
Ergospirometry: interpretation of variables for identification of metabolic
thresholds
ISSN: 2178-7514
Thiago Gomes Figueira1,2, Rodrigo Ferro Magosso2,3,4, João Paulo Costa de Carli2,3, José
Vol. 10| Nº. 1| Ano 2018
Campanholi Neto2,3, Cássio Mascarenhas Robert-Pires4,5,6

RESUMO

Ergoespirometria é um teste de avaliação funcional dos sistemas respiratório, cardiovascular

e neuromuscular. Ela permite ao avaliador diagnosticar sintomas, funções importantes desses
sistemas e a reserva funcional do indivíduo, além de consistir em uma ferramenta para melhor
compreender o papel do sistema cardiorrespiratório como participante principal da integração
dos sistemas fisiológicos. Mudanças no padrão das variáveis ergoespirométricas durante um
teste de esforço incremental permitem a identificação dos limiares metabólicos. O Limiar
Anaeróbio pode ser identificado através de ajustes na ventilação, produção de CO2, equivalente
de O2 e pressão “end tidal” de O2, enquanto o Limiar de Compensação Respiratória pode ser
identificado pela ventilação, produção de CO2, equivalente de CO2 e pressão “end tidal” de CO2.

Palavras Chave: Limiar anaeróbio. Testes respiratórios. Acidose. Consumo de oxigênio.

ABSTRACT

Ergospirometry is a functional evaluation test of the respiratory, cardiovascular and

neuromuscular systems. It allows the evaluator to diagnose symptoms, important functions
of these systems and an individual’s functional reserve, and also consists of a tool to better
understanding the major role of the cardiorespiratory system in integrating physiological
systems. Changes in the pattern of ergospirometry variables during an incremental exercise
test allow identifying the metabolic thresholds. The anaerobic threshold can be identified by
changes in ventilation, CO2 production, VE/VO2 slope, and end tidal O2, and the respiratory
compensation threshold can be identified by changes in ventilation, CO2 production, VE/
VCO2 slope and end tidal CO2.

Keywords: Anaerobic Threshold. Breath tests. Acidosis. Oxygen consuption.

1 – Programa de Pós Graduação Interunidades Bioengenharia – USP/São Carlos-SP.
2 – Laboratório de Fisiologia do Exercício – Departamento de Ciências Fisiológicas – Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar / São Carlos-SP.
3 – Programa de Pós Graduação em Ciências da Motricidade – UNESP/Rio Claro - SP.
4 – CEFEMA – Centro de Estudos em Fisiologia do Exercício, Musculação e Avaliação Física /
Araraquara-SP.
5 – Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP / Ribeirão Preto-SP
6 – Universidade de Araraquara – UNIARA / Araraquara-SP

Autor de correspondência
Thiago Gomes Figueira
Rua Libório Marino, 231 –
apartamento 01 – São Carlos/SP
Fone: (16) 99747 4428
thiago.gfigueira@hotmail.com
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
INTRODUÇÃO
Uma das funções dos sistemas
cardiovascular e pulmonar é contribuir com o
processo de respiração celular dos tecidos, entre
eles o muscular, tanto em repouso quanto em
exercício. Uma das maneiras de avaliar os sistemas
respiratório, cardiovascular e muscular é por meio
da análise das variáveis ergoespirométricas e sua
resposta em relação à intensidade do exercício (1).
O teste de esforço físico ou teste
ergométrico é um procedimento não invasivo, que
permite obter diagnósticos e prognósticos, bem
como avaliar a capacidade aeróbia para exercícios
dinâmicos e a reserva funcional de um indivíduo.
Em um teste ergométrico em que são avaliados de
maneira direta o consumo de oxigênio (VO2) e a
produção de dióxido de carbono (VCO2), com o
auxílio de um analisador de gases, é denominado
ergoespirometria (2). A ergoespirometria, por ser
mais completa, infere a integridade dos sistemas
respiratório, cardiovascular e muscular e ainda
suas adaptações após um período de treinamento
físico ou outras intervenções sobre estes
sistemas(3).
Em um teste ergométrico convencional,
busca-se análise de respostas clínicas do
avaliado (eletrocardiográfica e hemodinâmicas),
porém quando o objetivo for analisar variáveis
ergoespirométricas, entender os motivos
da interrupção do teste e quantificar essa
limitação, é necessário que seja realizada uma
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ergoespirometria, devido às informações
detalhadas que o teste pode fornecer . Neste
(4)
caso, a diferença entre um teste ergométrico e
um teste ergoespirométrico está na análise de
parâmetros ventilatórios, tornando o teste mais
completo. Estes parâmetros serão descritos
adiante.
A vasta utilização da ergoespirometria
está, entre outros, na determinação da capacidade
funcional e potência aeróbia, pela determinação
do consumo máximo de oxigênio (VO2máx),
do limiar anaeróbio (LAn) e do limiar de
compensação respiratória (LCR). Diante disso,
a ergoespirometria proporciona a avaliação de
atletas, indivíduos fisicamente ativos, sedentários,
cardiopatas, pneumopatas, etc (5,6).
Dada a importância da identificação do
VO2máx e limiares metabólicos para a avaliação de
pacientes, indivíduos fisicamente ativos e atletas,
este trabalho tem como objetivo descrever os
ajustes das principais variáveis ergoespirométricas
e sua aplicação na identificação dos limiares
metabólicos durante teste de esforço físico
incremental.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Ergômetro
O ergômetro é um equipamento que
permite a quantificação da intensidade do
exercício, durante a ergoespirometria, em watts,
velocidade, etc. Para a execução de um teste
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
ergoespirométrico é necessário que se escolha
com cuidado o ergômetro a ser utilizado e este
deve, preferencialmente, estar interfaceado com
um computador. Para uma boa aplicabilidade do
teste, os ergômetros devem ser eletrônicos ou
eletromagnéticos, pois estes permitem melhor
controle da intensidade de trabalho físico. Dentre
os principais ergômetros utilizados estão a esteira
rolante, o cicloergômetro e o ergômetro de braço
(2,4)
. A escolha do ergômetro deve ser feita levando
em consideração a especificidade do gesto motor
e a população estudada (7).
A esteira deverá ser controlada
eletronicamente e ser apta para suportar
indivíduos com diferentes massas corporais,
deve oferecer a possibilidade de regulagem da
velocidade, inclinação e tempo. A área de trabalho
deve permitir tanto a caminhada quanto a corrida
(8)
. Quanto maior a capacidade de trabalho da
esteira, em termos de velocidade e inclinação,
maiores são as possibilidades de aplicação de
protocolos e de populações a serem avaliadas.
O cicloergômetro pode ser uma alternativa
à esteira quando se realiza a ergoespirometria
em indivíduos com limitações ortopédicas,
neurológicas ou vasculares periféricas e ainda
para a avaliação de ciclistas, pois este é específico
da modalidade do avaliado. Devido a menor
quantidade de massa muscular atuante durante a
ergoespirometria em ciclo ergômetro, comparada
à ergoespirometria em esteira, o VO2máx é cerca
de 5 a 20% mais baixo em ciclo ergômetro (2,9,10).
Dois tipos de cicloergômetros, com relação ao
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sistema de determinação da frenagem, estão
disponíveis no mercado: com frenagem mecânica
ou eletromagnética. Os cicloergômetros com
frenagem mecânica são financeiramente mais
acessiveis, entretanto é necessário que o avaliado
mantenha uma cadência fixa de pedaladas para
manter a potência constante. Por outro lado, os
cicloergômetros com frenagem eletromagnética
são mais caros, mas possuem ajuste interno da
potência, possibilitando mantê-la constante
mesmo que haja alterações na cadência de
pedaladas (11).
O ergômetro de braço representa
uma alternativa para a realização de testes em
indivíduos com incapacidade funcional de
membros inferiores ou na avaliação ocupacional
de indivíduos cujo trabalho exija, basicamente,
movimentação dos membros superiores e porção
superior do tronco . Porém, sua sensibilidade
(12)
para o diagnóstico de doença arterial coronariana
é menor que a dos testes realizados em esteira.
O ergômetro de braço também pode ser de
frenagem mecânica ou eletromagnética (11,12).
2.2 Limiares metabólicos
Existe uma relação bem ordenada
entre trabalho muscular e a fonte de energia
oxidativa. Em intensidades baixas a moderadas,
o metabolismo aeróbio é capaz de suprir a
demanda energética do exercício. A partir de
uma determinada intensidade do exercício físico,
o metabolismo aeróbio é suplementado pelo
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
metabolismo anaeróbio lático para atender a
demanda de energia exigida, resultando em um
aumento abrupto na concentração de lactato
no sangue . Este momento indica o limiar
(13)
anaeróbio (LAn), definido como o momento
em relação à intensidade do esforço físico ou
consumo de oxigênio, quando a produção
de energia é suplementada pelo metabolismo
anaeróbio lático, aumentando de
significativa a concentração de lactato no sangue.
Portanto, durante um
ergoespirométrico crescente, em intensidades
de esforço acima do LAn, o lactato produzido
pelos músculos ativos é transportado para a
corrente sanguínea. Nesta condição, ocorrem as
reações de equilíbrio ácido-base, onde o lactato
é tamponado pelo bicarbonato de sódio
conforme representado na Equação 1.
Equação 1:
H-Lactato + NaHCO3 a NaLactato + H2CO3.
Sendo H-Lactato o ácido lático, NaHCO3 o
bicarbonato de sódio, NaLactato o lactato de
sódio (sal) e H2CO3 o ácido carbônico.
O ácido carbônico, resultante
tamponamento do ácido lático pelo bicarbonato
de sódio, posteriormente se dissocia em
água e dióxido de carbono (CO2), conforme
representado na equação 2. Devido à natureza
de produção deste CO2 ser o tamponamento
do ácido lático, ele é denominado de CO2
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metabólico.
Equação 2:
H2CO3 a H2O + CO2.
O esforço realizado acima do LAn resulta
no aumento progressivo da quantidade de lactato
produzido nos músculos e lançado na corrente
forma sanguínea. Desta maneira, a concentração
plasmática de bicarbonato decai no mesmo ritmo
teste em que a lactacidemia aumenta. A partir deste
ponto, a acidose metabólica provocada pelo
exercício é acentuada e o sistema respiratório atua
na regulação da pressão parcial de CO2 arterial
(pCO2), por meio de uma hiperventilação, como
mecanismo de compensação (15). Porém, durante a
,
(6,14)
ergoespirometria, a intensidade do esforço físico é
incrementada com o passar do tempo, desta forma
é exigida maior participação do metabolismo
anaeróbio lático e, como consequência, maior
produção de lactato. Este será tamponado na
corrente sanguínea pelo bicarbonato de sódio
resultando em maior pCO2 até um ponto onde
o sistema respiratório não consegue atuar no
equilíbrio ácido-base de forma eficiente. Assim,
ocorre o segundo limiar metabólico, denominado
do limiar de compensação respiratória (LCR),
definido como o ponto do esforço até onde o
sistema respiratório consegue corrigir a acidose
metabólica induzida pelo exercício (16).
A figura 1 representa as alterações da
lactacidemia e da concentração de bicarbonato de
sódio no plasma durante um teste de esforço físico
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
incremental. Até a intensidade correspondente ao
LAn, a lactacidemia permanece constante devido
ao equilíbrio dinâmico entre produção e remoção
do lactato. Acima do LAn, com o acúmulo
de lactato sanguíneo e seu tamponamento
plasmático, começa a ocorrer queda
concentração plasmática de bicarbonato. Em
intensidades acima do LCR, a produção de
lactato é mais rápida e as reservas de bicarbonato
são insuficientes para corrigir adequadamente a
acidose metabólica.
Figura 1. Imagem espelhada das curvas de
bicarbonato de sódio (NaHCO3-) e a concentração
lactato durante um teste incremental.
2.3 Parâmetros Mensurados
Em um teste de esforço
incremental, seja para indivíduos sedentários ou
fisicamente ativos, a ergoespirometria permite
identificar a intensidade de exercício aeróbio a
ser prescrita, levando em conta as informações
da ergometria tradicional, referentes ao esforço
físico, associadas às informações sobre os gases
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analisados (17). A partir destas mensurações, tem-
se os chamados parâmetros ergoespirométricos,
que são utilizados no laudo da ergoespirometria,
no diagnóstico do indivíduo, na prescrição de
treinamento e na análise da reserva funcional.
na A ergoespirometria mensura de forma
direta alguns dados que são de suma importância
na avaliação funcional do indivíduo. O VO2máx,
o LAn e o LCR são dados de extrema importância
clínica e ainda para a prescrição de treinamento
físico (18).
Para a interpretação adequada de um
teste ergoespirométrico é necessário que se
avalie os parâmetros ventilatórios e metabólicos,
que são mensurados em um período de tempo
determinado ou a cada ciclo respiratório. Os
principais parâmetros envolvidos são: Ventilação
(V), VO2, VCO2, quociente respiratório (QR),
equivalentes ventilatórios de oxigênio e dióxido de
carbono (EqVO2 e EqVCO2), frações expiradas
de oxigênio e dióxido de carbono (FeO2 e
FeCO2) ou pressão end tidal de oxigênio (PET
O2) e pressão end tidal de dióxido de carbono
(PET CO2) (1). Cada um destes parâmetros será
descrito individualmente a seguir.
físico 2.3.1 Consumo de Oxigênio
O consumo de oxigênio é a mais
importante variável da avaliação da condição
aeróbia e da reserva funcional do indivíduo .
(17)
Esse parâmetro mostra a capacidade do organismo
em captar, transportar e utilizar o oxigênio para
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
a síntese de trifosfato de adenosina (ATP) de
forma aeróbia. O ATP é uma molécula rica em
energia utilizada nos processos fisiológicos do
organismo, entre eles, na contração muscular (19).
As duas maneiras de se quantificar o
VO2 são o seu valor absoluto, dado em litros de
oxigênio por minuto (l/min) e o valor relativo
ao peso corporal, dado em mililitros de oxigênio
por kg de massa corporal por minuto (ml(kg.
min)-1) . O valor absoluto, como sugere sua
(20)
denominação, indica o volume de O2 consumido
pelo organismo, independente da massa corporal
do indivíduo, já o valor relativo corrige o absoluto
para cada kg de massa corporal, sendo assim
Figura 2: Alteração do consumo de
oxigênio (VO2) em relação ao tempo em um
exercício incremental em cicloergômetro, com
incrementos de 20 Watts a cada 2 minutos. Fig. A
expressa em valor absoluto e Fig. B expressa em
valor relativo à massa corporal.
Resultados de VO2máx são indicativos
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mais adequado à análise da verdadeira capacidade
funcional do sistema cardiorrespiratório de um
indivíduo (Figura 2). Nas partes A e B da Figura
2, a resposta do consumo de oxigênio é igual,
apenas as escalas são diferentes.
O VO2 aumenta linearmente em um teste
físico de intensidade crescente, sendo considerado
máximo (VO2max) quando apresenta uma
estabilização, mesmo com o incremento da
carga de trabalho, o que é denominado de platô.
Quando não há ocorrência do platô, considera-se
que o resultado encontrado é de pico (VO2pico)
.
(21,22)
de que a limitação do teste é cardíaca, ao passo
que o VO2pico geralmente indica que a limitação
do teste foi periférica (por exemplo, devido à
fadiga muscular) (Figura 3). O VO2máx é um
importante índice de aptidão física, além de ter
grande valia na avaliação funcional, porém não
permite a identificação dos limiares metabólicos
por não participar do equilíbrio ácido-base (23).
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos

Figura 3: Diferença entre VO2pico primeira mudança na curva do VCO2 durante o

(A) e VO2máx (B), em relação ao tempo em exercício incremental, que indica o LAn (13).
um exercício incremental em cicloergômetro, Com a continuidade do esforço físico
com incrementos de 20 Watts a cada 2 minutos. acima do LAn, a acidose metabólica provocada
Valores de VO2 expressos em ml(kg.min)-1. pelo exercício se torna cada vez mais severa,
até o ponto onde o bicarbonato de sódio não
2.3.2 Produção de Dióxido de Carbono consegue mais corrigi-la, conforme demonstrado
na figura 1. Este ponto do exercício caracteriza
O volume de dióxido de carbono o LCR. Acima deste segundo limiar metabólico,
produzido pelo organismo (VCO2) durante o o sistema respiratório elimina maior quantidade
exercício, expresso em litros por minuto, advém de CO2, para promover uma alcalose
de duas fontes. A primeira, o CO2 respiratório, é respiratória, na tentativa de compensar a acidose
produzido no ciclo de Krebs. A segunda fonte é metabólica induzida pelo exercício (Figura 4) (25).
o CO2 metabólico que resulta do tamponamento
do ácido lático pelo bicarbonato, conforme
descrito anteriormente nas equações 1 e 2 (24).
Até a intensidade do LAn, ocorre
aumento no VCO2 apenas devido ao processo de
respiração mitocondrial. Acima do LAn, com o
aumento da concentração de lactato na corrente
sanguínea e seu consequente tamponamento pelo
bicarbonato de sódio, ocorre o aparecimento do
CO2 metabólico. Devido à maior produção de
CO2, vinda da combinação do CO2 respiratório
e do CO2 metabólico, é possível observar uma

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 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos

Figura 4: Comportamento da varável corpo da carótida a aumentar a V . Ademais,

(27)

produção de dióxido de carbono em relação
ao tempo em um exercício incremental em
cicloergômetro, com incrementos de 20 Watts a
cada 2 minutos.
Assim, durante um teste físico de
intensidade crescente, o VCO2 apresenta um
primeiro ponto de inflexão na curva, causado pelo
o CO2 exerce um efeito indireto sobre a área
quimiossensível do centro respiratório central,
localizada no bulbo. Com o aumento na
concentração de CO2, parte do gás ultrapassa
a barreira hematoencefálica e reage com a água
formando o ácido carbônico, que se dissocia
em hidrogênio e bicarbonato . O hidrogênio
(28)

aparecimento de CO2 metabólico, que permite estimula os neurônios quimiossensíveis

identificar o LAn e um segundo ponto causado resultando em um novo aumento na ventilação,
pela ineficiência do sistema respiratório em no intuito de eliminar maior quantidade de CO2
compensar a acidose metabólica que representa e causar uma alcalose respiratória para compensar
o LCR (13,24). a acidose metabólica do exercício, ponto onde
se identifica uma segunda mudança na curva.
2.3.3. Ventilação Pulmonar Assim, a V permite a identificação do LAn e do
LCR, com dois aumentos abruptos em sua curva
A ventilação pulmonar (V) é o volume de (Figura 5) (6,15,16).
ar mobilizado pelos pulmões, expresso em litros
por minuto. Este parâmentro é a resultante do
produto da frequência respiratória pelo volume
corrente. Em esforço, a V pode atingir valores
acima de 100 l/min, em atletas, sendo limitada em
cardiopatas e principalmente em pneumopatas.
.
(26)

A V aumenta linearmente até a

intensidade correspondente ao LAn, para captar
O2 e eliminar o CO2 respiratório, conforme a
demanda metabólica. Em intensidades acima
do LAn, a V aumenta desproporcionalmente ao
VO2 devido à presença de CO2 respiratório e
metabólico. (1). Acima do LCR, o aumento na
concentração de hidrogênio sanguíneo (redução Figura 5: Comportamento da variável
do pH) estimula os quimiorreceptores do ventilação em relação ao tempo em um exercício

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 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos

incremental em cicloergômetro, com incrementos tamponamento do ácido lático, descrito no item

de 20 em 20 Watts a cada 2 minutos.
2.2, leva à produção de CO2 metabólico, o que
2.3.4 Equivalentes Respiratórios de
promove um aumento mais rápido na V, ao passo
Oxigênio e Dióxido de Carbono
que o VO2 continua aumentando linearmente em

Os equivalentes respiratórios de oxigênio relação à intensidade de esforço (26). Já o EqVCO2

e dióxido de carbono (EqVO2 e EqVCO2) permite somente a identificação do LCR, pois

representam o volume de ar que deve ser ventilado entre o LAn e o LCR, a V aumenta em proporção

para consumir 1 litro de oxigênio ou produzir ao VCO2 mas, acima do LCR, devido à severa

1 litro de dióxido de carbono, respectivamente. acidose metabólica induzida pelo exercício, o

Matematicamente, nesta relação, a unidade de sistema respiratório é estimulado a eliminar o

medida é adimensional, pois tanto o consumo de CO2 em excesso, para intensificar a alcalose

oxigênio e a produção de dióxido de carbono, que respiratória, com objetivo de compensar a acidose

estão no numerador, quanto a ventilação, que está metabólica (Figura 6).

no denominador desta relação, são medidos em

l/min. Os valores de normalidade permanecem

em torno de 30 litros de ar ventilado para 1 litro

de O2 consumido e de 35 litros de ar ventilado

para a produção de 1 litro de CO2. Durante um

exercício crescente, as relações V/VO2 e V/

VCO2 diminuem progressivamente, devido à

ação dos músculos esqueléticos respiratórios

que promovem um aumento da área de

ventilação e hematose, para depois aumentarem

até o final do esforço. A V/VO2 atinge valores Figura 6: Comportamento da varável

equivalentes respiratórios de oxigênio (EqVO2)
mínimos precedendo a relação V/VCO2 (2)
. O
e dióxido de carbono (EqVCO2) em relação
EqVO2 permite somente a identificação do
ao tempo em um exercício incremental em
limiar anaeróbio, pois a partir deste ponto, o cicloergômetro, com incrementos de 20 em 20

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Watts a cada 2 minutos.
2.3.5 Quociente Respiratório
O quociente respiratório (QR) expressa a
relação entre CO2 produzido e o O2 consumido
(Equação 3). O QR possui unidade adimensional
devido ao numerador e denominador, na relação,
possuírem a mesma unidade (l/min).
repouso, o QR varia entre 0,75 e 0,85.
Equação 3:
QR = VCO2/VO2
Devido ao fato do QR depender do tipo
de substrato utilizado (lipídios ou carboidratos),
ele pode fornecer um índice do metabolismo
destes substratos. Se os carboidratos forem
os exclusivos, o QR se iguala a 1,0 . Como
(29)
a composição química dos lipídios difere
dos carboidratos, uma vez que estes contêm
consideravelmente mais átomos de oxigênio em
proporção aos átomos de hidrogênio, quando um
lipídio é metabolizado para produção de energia o
oxigênio é requerido não apenas para oxidação de
carbono a dióxido de carbono, mas também para
oxidação de átomos de hidrogênio, portanto, mais
oxigênio é necessário para metabolizar gordura,
fazendo com que o QR permança com um valor
próximo de 0,7, conforme as equações 4 e 5 (5).
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Equação 4:
Oxidação da glicose (carboidrato)
C6H1206 + 6 O2 = 6 CO2 + 6 H2O
QR = 6 CO2 ÷ 6 O2 = 1
Em Equação 5:
Oxidação do palmitato (lipídeo)
C16H32O2 + 23 O2 = 16 CO2 + 16
H2O
QR = 16 CO2 ÷ 23 O2 = 0,7
Durante um teste incremental, o QR se
apresenta, antes do teste, nos valores de repouso.
Com o início do teste, o valor do QR diminui,
devido ao aumento da eficiência respiratória
e maior disponibilidade de oxigênio para os
músculos ativos . Em seguida, o QR aumenta
(30)
em relação à intensidade de esforço até que atinja
valores que variam normalmente entre 1,1 e 1,2
no exercício máximo (Figura 7).
Devido à diferente produção calórica
de carboidratos e lipideos, pelos valores do
QR também é possível obter a informação da
produção calórica do indivíduo, em Kcal/min (29).
Embora o QR seja a relação entre o VCO2
e o VO2, ele não permite identificar com exatidão
o LAn e nem o LCR, por isso este parâmetro não
tem sido utilizado com este objetivo.
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
Figura 7: Comportamento da varável
quociente respiratório (QR) em relação ao tempo
em um exercício incremental em cicloergômetro,
com incrementos de 20 em 20 Watts a cada 2
minutos.
2.3.6 Pressões “end tidal” e frações
expiradas de oxigênio e dióxido de carbono
O termo pressão “end tidal” remete ao
valor da pressão parcial de O2 e de CO2 no final
de um ciclo respiratório (ar alveolar expirado).
Por isso, como variável ergoespirométrica, ele
reflete um equilíbrio entre as pressões parciais
destes gases nos alvéolos e nos capilares
pulmonares, sendo uma medida indireta destes
valores na circulação arterial sistêmica. Em uma
ergoespirometria completa, que inclui gasometria
arterial, diferenças entre a pressão “end tidal” e
os valores arteriais de pressão parcial de O2 e
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CO2 refletem problemas de difusão desses gases
indicando, por exemplo, uma doença obstrutiva
.
(31)
A pressão “end tidal” de oxigênio (PetO2)
em repouso é de aproximadamente 100 mmHg o
que, em indivíduos saudáveis, se assemelha aos
valores da gasometria arterial desses indivíduos.
Em um exercício crescente, esse valor diminui
transitoriamente logo após o início do exercício,
isso se o aumento na ventilação for mais lento
que o aumento do consumo de oxigênio. Ao
atingir o LAn, a PetO2 inicia um aumento e pode
atingir valores de 10 a 15 mmHg maior que o de
repouso ao atingir o esforço máximo, devido à
hiperventilação provocada pela diminuição do
pH. A fração expirada de oxigênio (FeO2) tem
o mesmo comportamento, diminuindo no início
do esforço e atingindo um valor mínimo no LAn,
incrementando-se a seguir, porém com valores e
unidade de medidas diferentes, essa semelhança é
somente da curva gráfica em relação à intensidade
do exercício. Através deste parâmetro é possivel a
identificação do LAn (25,31).
A Pressão “end tidal” de Dióxido
de Carbono (PetCO2), ao nível do mar,
varia de 38 a 42 mmHg. Em um exercício
incremental, essa pressão aumenta em torno de
3 mmHg até atingir um ponto onde inicia uma
estabilização, denominada de tamponamento
isocápnico, seguida de uma queda, denominada
de tamponamento hipocápnico. O ponto
imediatamente antes desta queda permite
identificar o LCR. Este momento de diminuição
 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos

da pressão end tidal de CO2 reflete a redução do LAn e do LCR e a maneira de identificação de
na pCO2 arterial, a estratégia supramencionada cada um deles.
de alcalose respiratória que compensa a acidose Tabela 1. Identificação do limiar anaeróbio
metabólica provocada pelo esforço. A fração e do limiar de compensação respiratória por
expirada de Dióxido de Carbono (FeCO2) parâmetros ergoespirométricos
tem o mesmo comportamento gráfico durante
Limiar Parâmetro Maneira de
exercícios de carga crescente, porém com valores ergoespirométrico identificação
e unidades de medidas diferentes (Figura 8) (26).
Limiar Ventilação (V) Primeira quebra da
anaeróbio linearidade
(LAn)
Produção de dióxido Primeira quebra da
de carbono (VCO2) linearidade
Equivalente de LAn identificado pelo
oxigênio (EqVO2) ponto imediatamente
antes do aumento
Presão “end tidal” de LAn identificado pelo
oxigênio (PetO2) ou ponto imediatamente
Fração Expirada de antes do inicio do
Oxigênio (FeO2) aumento.
Limiar de Ventilação (V) Segunda quebra da
compensação linearidade
respiratória Produção de dióxido Segunda quebra da
(LCR) de carbono (VCO2) linearidade
Equivalente de Ponto imediatamente
dióxido de carbono antes do aumento
(EqVCO2)
Presão “end tidal” de Ponto imediatamente
dióxido de carbono antes da redução
(PetCO2) ou Fração
Expirada de Dióxido
de Carbono (FeCO2)

Figura 8: Comportamento da varável frações

expiradas de oxigênio (FeO2) e dióxido de
carbono (FeCO2) em relação ao tempo em um
exercício incremental em cicloergômetro, com
incrementos de 20 Watts a cada 2 minutos.
2.3.7. Resumo da identificação dos limiares
metabólicos em teste ergoespirométrico
crescente
A Tabela 1 resume as
ergoespirométricas que permitem a identificação
3. CONCLUSÃO
A ergoespirometria é uma ferramenta de
avaliação que permite a identificação de limiares
metabólicos durante teste físico de intensidade
crescente. O LAn pode ser identificado por meio
de modificações na ventilação, produção de CO2,
equivalente de O2, PetO2 e FeO2, enquanto
variáveis o LCR pode ser identificado pela ventilação,
produção de CO2, equivalente de CO2, pressão

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 Ergoespirometria: interpretação das variáveis para identificação dos limiares metabólicos
end tidal de CO2 e fração expirada de CO2.
A partir da análise destes dados, o avaliador
consegue determinar, de maneira precisa, a
intensidade correspondente a cada um destes
limares metabólicos para avaliação da reserva
funcional e/ou prescrição de treinamento físico.
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