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Artigo Científico
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar a inter-relação existente entre a área da Ciência
Cognitiva e a área da Ciência da Computação, fazendo um paralelo entre suas concepções. Foram
abordados aspectos históricos de cada ciência, suas definições, aplicações e críticas. Constatou-se a
permanente investigação sobre os processos da mente em ambas áreas de conhecimento, criando uma
intersecção de visões onde a mente segue o funcionamento do computador e o computador busca
imitar as funções da mente. Nesse contexto, a Ciência Cognitiva, por ser multidisciplinar, busca
encontrar uma teoria unificada de cognição, integrando as diversas áreas do conhecimento em torno
do estudo da mente. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 150-155.
Abstract
The aim of the present paper was to present the relations between the Cognitive Science Area and the
Computer Science Area, making a parallel between their conceptions. Historical aspects of each sci-
ence were approached, as well as their implications, censures and definitions. It was identified evi-
dences of a great search on the processes of the mind in both knowledge areas, creating a correlation
of views, in which the mind follows the functioning of a computer and the computer recreates mind’s
functions. In this context, the Cognitive Science, intends to find a unificated Cognition theory, putting
all the knowledge areas together around mind's study. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 150-
155.
Key Words: cognitive science; computer science; artificial inteligence; neural nets;
conexionism.
- C.A.E. Saraiva é Bacharel em Informática (PUC-RS), com MBA em Tecnologias da Informação e da Comuni-
cação em Educação (PUC-RS) e Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Psicologia (PUC-RS). Atua no ensino
de informática para idosos. E-mail para correspondência: caroline@atividadepoa.com.br. I.I.L. Argimon é Doutora
em Psicologia. Atualmente é Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Avaliação e Intervenção no Ciclo Vital” do Pro-
grama de Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia (PUC-RS). E-mail para correspondência: argimoni@pucrs.br.
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rupestres, o homem primitivo já trocava idéi- especialmente importante por dois fatores: a
as, demonstrando sentimentos e preocupações ligação que fez entre cérebro e o computador
cotidianas. Na antiga Mesopotâmia, com a e o desafio implacável que lançou ao Behavi-
invenção da escrita, iniciou-se o processo de orismo.
tratamento da informação que incluía não a- O Behaviorismo de orientação positivis-
penas escrever, mas armazenar, combinar e ta, cuja idéia principal baseia-se na análise de
transmitir o que estava sendo produzido. condutas observáveis, ou seja, evitando con-
Segundo Levy (1993), o advento da ceitos “mentais”, teve lugar durante as déca-
imprensa, por Gutemberg, em 1445, foi um das de 20 a 40. Por não tentar explicar os pro-
grande marco para os meios de comunicação, cessos cognitivos, Eysenck e Keane (1994)
iniciando o período denominado de “oralidade destacam sua falha no sentido de ser superfi-
secundária”, quando a oralidade cedeu espaço cial, o que deu lugar ao surgimento de novas
à objetividade da palavra escrita. Desde então, idéias. No Simpósio de Hixon, alguns inputs
houve um processo evolutivo intenso em toda teóricos foram lançados por John Von
a forma de comunicação, com o aparecimento Neumman - matemático, por Warren McCul-
das transmissões de voz, em seguida de ima- loch – neurologista e Karl Lashley – psicólo-
gens e culminando com a transmissão de da- go, estabelecendo comparações sistemáticas
dos. Para esta, o computador apresenta-se entre o funcionamento do cérebro humano e
como condutor mestre de um processo de fa- máquinas do tipo computador eletrônico.
cilitação de tratamento de informação, pois Na metade do século XX, nos Estados
armazena, classifica, compara, combina e Unidos, surgiram os primeiros computadores
compartilha dados, de forma eficiente e com eletrônicos, criados para operarem com a
grande velocidade. grande quantidade de números da Guerra
Em razão da capacidade dessas má- Mundial. Conforme cita Hodges (2007), Alan
quinas para lidar com materiais simbólicos, Turing, em 1936, concebeu a idéia de uma
muitos pesquisadores se convenceram de que máquina simples que utilizava a lógica para
uma ciência da cognição poderia ser moldada executar cálculos. Mais adiante, Turing suge-
à imagem do computador (Gardner, 2003). riu a avaliação de uma máquina que simulasse
Na primeira metade do século XX, o pensamento humano, implementada por
tem início, então, a ciência cognitiva que, por Neumann com o armazenamento de um pro-
sua conceituação, estuda o funcionamento grama em memória. Com isso, as operações
mental baseado no modelo computacional, podiam ser preparadas e executadas interna-
sendo caracterizada como uma área de estu- mente, sem que fosse necessário reprogramar
dos interdisciplinar que se inter-relaciona com as tarefas a cada vez que era ligado o compu-
a Psicologia, a Lingüística, a Ciência da tador.
Computação, as Ciências do Cérebro e a Filo- A partir destes estudos, Claude Elwood
sofia, entre outras (Lima, 2003). Shannon, matemático norte-americano, no
final dos anos 30, formalizou o conceito da
2. Uma breve história da Ciência Cognitiva teoria da informação. Shannon considerou a
utilização de duas alternativas possíveis de
Os primeiros movimentos rumo a uma resposta através da ocorrência de bits (binary
nova ciência, denominada ciência cognitiva, digit em inglês), baseado nos estados dos re-
aconteceram em 1948, no Congresso sobre lés eletromecânicos, ligado e desligado. Pela
Mecanismos Cerebrais do Comportamento, teoria da informação de Shannon, a informa-
também chamado de Simpósio de Hixon, no ção poderia ser reduzida, assim como os ter-
Califórnia Institute of Technology, onde a mos verdadeiro e falso do cálculo proposicio-
questão clássica de discussão foi a forma pela nal, a um dígito binário, que é a quantidade
qual o sistema nervoso central controla o mínima de informação necessária para esco-
comportamento. Além dessa abordagem, co- lha de uma mensagem afirmativa ou negativa,
mo cita Gardner (2003), esse Congresso foi 1 ou 0.
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Foram os insights de Wiener que leva- Nas décadas seguintes, houve vários
ram Shannon à proposição de dissociação da movimentos no sentido de estudar a ciência
informação e seu meio transmissor. “Informa- cognitiva, com muitas publicações de livros
ção é informação, não matéria ou energia. sobre o assunto. Em Harvard, um grupo de
Nenhum materialismo que não admita isto doze estudiosos, com o objetivo de descobrir
pode sobreviver nos dias atuais” (Wiener, as habilidades representacionais e computa-
1961). cionais da mente e sua representação funcio-
Posteriormente a esses fatos, Warren nal e estrutural do cérebro, elaborou o hexá-
McCulloch e Walter Pitts, no início dos anos gono cognitivo – um hexágono que mostra as
40, defenderam a tese de que uma rede neural inter-relações entre os seis campos constituin-
formada pelas conexões dos neurônios pode- tes da ciência cognitiva, que são as áreas da
ria ser modelada em termos da lógica, ou seja, Filosofia, Lingüística, Antropologia, Neuroci-
um neurônio sendo ativado impulsionaria ou- ência, Inteligência Artificial e Psicologia. A
tro neurônio e isso implicaria numa proposi- reação da comunidade científica foi extrema-
ção. Uma analogia entre neurônios e lógica mente negativa a essa proposição, causando a
poderia ser pensada em termos elétricos – não publicação desse documento.
como sinais que passam ou deixam de passar
através de circuitos. Em função disso, a ciên- 3. Uma breve história da Ciência da Com-
cia da computação recorreu às pesquisas so- putação
bre neurônios e suas conexões para projetar
máquinas ou programas cada vez mais pare- A Ciência da Computação ensaiou
cidos com o cérebro humano. seus primeiros passos através da máquina de
Mas a consolidação do reconhecimento Turing, criada nos meados dos anos 30, que
da ciência cognitiva, por um consenso quase serviu de referência para John Von Neumann,
unânime, deu-se a partir do Simpósio sobre dez anos mais tarde, na construção dos pri-
Teoria da Informação realizado no Massachu- meiros computadores. Neumann revolucionou
setts Institute of Technology em setembro de a concepção do funcionamento de um compu-
1956. Gardner (2003) cita as publicações que tador, quando afirmou que era possível colo-
tiveram fundamental importância para tal fa- car no mesmo plano, instruções e dados, não
to: sendo necessário o uso de duas memórias. Na
área da computação o termo “arquitetura de
• “The Magical Number Seven”, de George von Neumann” é muito conhecido, o que de-
Miller: um artigo que discutia a capacida- fine que a arquitetura permite autonomia entre
de da memória humana de curto prazo li- hardware e software (Teixeira, 1998).
mitar-se a aproximadamente sete itens; Ao mesmo tempo, Norbert Wiener a-
• “Logic theory machine”, de Newell e Si- presentava o termo “cibernética”, definindo
mon: a primeira prova concreta de um teo- em modelos matemáticos toda a atividade
rema executada em uma máquina compu- psicológica humana. Enfatizou a necessidade
tadora; das máquinas seguirem o funcionamento do
• “A study of thinking” de Bruner, Good- organismo vivo no controle de suas próprias
now e Austin: obra capital da psicologia atividades.
do pensamento que abordou também con- Passados os anos cibernéticos, a pos-
ceitos artificiais; sibilidade de elaborar programas que simulas-
• “Syntatic Structure” de Noam Chomsky: sem o comportamento inteligente, tomou
versava sobre suas idéias a respeito da no- forma através da expressão “inteligência arti-
va lingüística, baseada em regras formais ficial”, cunhada por John McCarthy no cam-
e sintáticas, próximas às formalizações pus do Dartmouth College, em Hanover. Se-
matemáticas. gundo Eysenk e Keane (1994), o homem era
visto como um processador de informações,
criando uma proximidade na relação entre a
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