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SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL: TEORIA, NECESSIDADE DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A REALIDADE DO SETOR
INDUSTRIAL DA REGIÃO DO CARIRI CEARENSE.

Francisca Sabrina Fortaleza Pinheiro1; José Leonardo da Silveira Guimarães2


Departamento de Engenharia de Produção/URCA,
(sabrina_fortaleza@hotmail.com); (jleosilveira@hotmail.com).

Introdução/Objetivos

A gestão do meio ambiente tem sido um dos assuntos mais discutidos nas
últimas décadas. Normas, leis e procedimentos foram criados, e/ou discutidos,
na tentativa de se melhor gerenciar o uso dos recursos naturais e os resíduos
gerados pelas atividades produtivas. Atividades essas que têm o setor
industrial como um dos agentes de maior impacto no que se refere à
degradação do meio ambiente, o que dificulta o desenvolvimento sustentável,
que é de fundamental importância para que sejam garantidas condições de
vida satisfatórias para as gerações atuais e futuras. Precisa-se viver com
satisfação, porém, garantindo que, no futuro, as pessoas tenham as mesmas
condições ou melhores. (Fontenele et al; 2006)

De acordo com os autores, em estudo realizado no setor industrial do triangulo


Crajubar, no que se refere à aplicação da legislação ambiental,

“Verificou-se que a legislação não trata da prevenção da geração de


resíduos que possam provocar degradação ambiental. Pelo contrário,
trata do controle sobre os resíduos que podem ser gerados, contribuindo
para uma prática do tipo de tecnologia “fim de tubo” por parte das
empresas. Mesmo considerando que existem processos que, devido às
suas características, não têm como evitar a geração de resíduos, a
legislação poderia ser mais direcionada a evitar ao máximo a poluição.”

1
Aluna do curso de graduação em Engenharia de Produção da URCA, bolsista PIBIC/URCA/CNPq.
2
Orientador, Msc. Professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da URCA.
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A produção mais limpa entrou no cenário de discussão das questões


relacionadas à gestão ambiental como um viés a mais, um paradigma de
produção que conduz a uma forma de tratar o processo produtivo visando
aumentar a eficiência no uso de matéria-prima, água, energia e a não geração
de resíduos provenientes dessas atividades.

A adoção da produção mais limpa contribui para criar e manter condições


adequadas à sustentabilidade junto aos setores produtivos, contemplando
alterações nos hábitos e padrões de consumo e de produção (SPRINGER &
MOREIRA, 2007).

No entanto, segundo Mello (2002),

“...existe uma grande relutância para a prática de produção mais limpa.


Os maiores obstáculos ocorrem em função da resistência à mudança; da
concepção errônea (falta de informação sobre o programa e a
importância dada ao meio ambiente); a não existência de políticas
nacionais que dêem suporte às atividades de produção limpa; barreiras
econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e
barreiras técnicas (novas tecnologias).”

A produção mais limpa contribui para criar e manter condições adequadas à


sustentabilidade junto aos setores produtivos, contemplando alterações nos
hábitos e padrões de consumo e de produção (SPRINGER & MOREIRA,
2007).

O Triângulo Crajubar composto pelas cidades do Crato, Juazeiro do Norte e


Barbalha, localizado no sul do Ceará, possui um pólo industrial em franca
expansão e como em toda atividade industrial, esse pólo também gera efeitos
na região que precisam ser gerenciados para que não se repita erros
cometidos em outras partes do mundo e, se permita condições de vida e
preservação ambiental.

Esse meio de tratamento dos impactos ambientais negativos de setores


produtivos, torna-se desvantajoso tanto para as empresas industriais como
para o meio ambiente. A adoção de estratégias preventivas, como exemplo a
produção mais limpa, tem sido reconhecida como um passo a frente em
relação a adoção de medidas de fim-de-tubo, estando mais próximo ao
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conceito de desenvolvimento sustentável (Fontenele et.al; 2007).

De acordo com Schneider et al (2000), os resíduos sólidos industriais, tóxicos e


perigosos, correspondem aos resíduos gerados pelos mais diversos tipos de
indústrias de processamento. Pertencem a uma área altamente complexa,
devem, portanto, ser estudados caso a caso, para que se tenha uma solução
técnica e economicamente adequada. A maioria das indústrias, ainda utiliza
medidas reativas, que corrigem ao final do processo produtivo o controle da
poluição, técnica essa denominada “fim-de-tubo”.

Diante da problemática acima e, considerando a importância sócio-econômica


do setor industrial para a região do Cariri- CE, é que esse trabalho apresenta
os resultados do projeto de pesquisa que -se propôs à realização de um estudo
junto às indústrias da região do cariri cearense, buscando esclarecer a
realidade local, no que se refere às estruturas existentes em relação aos
aspectos relacionados a procedimentos utilizados no sentido de gerir os
processos produtivos de forma a garantir o desenvolvimento sustentável. Para
tanto, o objetivo principal, neste trabalho, é traçar um comparativo entre a
teoria e a realidade das empresas, de forma a fazer um diagnóstico que venha
contribuir para o desenvolvimento e a qualidade do meio ambiente.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada junto ao setor industrial da região do Cariri-CE, mais


precisamente no Triângulo Crajubar, que reúne as cidades de Crato, Juazeiro
do Norte e Barbalha, sendo os levantamentos realizados em uma amostra do
total de indústrias. São utilizados, também, dados obtidos a partir de origem
documental e/ou de entrevistas, em instituições cujas atividades se relacionam
com o funcionamento do setor industrial e, ao tema da pesquisa.

As atividades necessárias à pesquisa seguiram as seguintes fases:

1- Pesquisa bibliográfica - Consulta a bibliografias especializadas, tais como:


livros, teses, dissertações, Anais, revistas, fontes de estatísticas, legislação,
documentos etc.
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2- Preparação de questionários - preparação dos documentos que serão


utilizados na etapa da pesquisa de campo para orientar e registrar as
informações necessárias.

3- Pesquisa de campo - levantamento das informações junto às empresas e


instituições oficiais relacionadas ao problema., por meio da aplicação dos
questionários.

4- Avaliação dos dados - organização e tratamento das informações obtidas


para que sejam tiradas as conclusões.

5- Proposta de ações – elaborar, com base nas conclusões, um conjunto de


ações que venham contribuir para a busca do desenvolvimento sustentável.

6- Redação e confecção do relatório final - apresentação dos resultados finais


da pesquisa através de um relatório dentro dos padrões científicos.

Resultados Conclusivos e discussão

De acordo com dados disponibilizados pela Secretaria da Fazenda - SEFAZ, o


triângulo Crajubar possui um total de 939 indústrias de micro e pequeno porte,
distribuídas nas três cidades, com grandes diversificações nas atividades
industriais, sendo que a cidade de Juazeiro do Norte possui 76% do total de
indústrias distribuídas; o restante situa-se em Crato(17%) e Barbalha(7%).

As atividades produtivas que compõem o setor industrial do Triângulo Crajubar


estão caracterizadas na TAB. 1 de acordo com os seus respectivos resíduos
sólidos padronizados levando em consideração a NBR10004 – “Resíduos
sólidos – Classificação”, onde são mostradas a quantificação e classificação do
tipo de processo e, os resíduos gerados nas atividades mais encontradas nas
três cidades da região em estudo.

O setor possui 13,31 % dos seus processos gerando predominantemente


resíduos perigosos, 36,31% resíduos não inertes e 28,32% resíduos inertes, o
restante que equivale a 22,04% são atividades industriais não especificadas.

Observa-se, segundo estes dados, que, nas atividades produtivas, na região do


cariri cearense, são gerados resíduos que podem comprometer as condições
ambientais e que devem ser tratados com cuidado.
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Tabela 1. Quantificação de empresas, caracterização de resíduos e tipo de processo.

Tipo de Atividade Classe Barbalha Crato Juazeiro do Norte


Resíduos sólidos
Ind. Têxtil Resíduos não inertes 5 17 136
Galvanoplastia e Resíduos perigosos 1 0 27
bijuterias
Calçados e borrachas Resíduos inertes 14 11 133
Ind. De artefatos de couro Resíduos perigosos 0 6 43
Ind. Com alumínio e Resíduos não inertes 5 11 65
artefatos de metal
In. Química Resíduos perigosos 4 11 31
Ind. De artefatos da Resíduos não inertes 6 11 28
madeira
Ind. artefatos de papel Resíduos não inertes 0 3 7
Abate de animais para Resíduos perigosos 1 0 1
beneficiamento de carnes
Ind. de extração mineral Resíduos inertes 2 1 3
Fab. E preparação de Resíduos não inertes 2 8 16
material para construção
civil
Cerâmica Resíduos inertes 1 14 1
Ind. de produtos Resíduos inertes 7 32 47
alimentícios
Ind. De artefatos de Resíduos não inertes 1 1 19
plásticos
Outras atividades não ----- 17 30 160
especificadas
TOTAL 66 156 717
Fonte: pesquisa documental.
A FIG. 1 mostra o percentual, aproximado, da situação das empresas da região
de acordo com o licenciamento ambiental, sendo os dados fornecidos pela
Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE.

10%

30%
60%

1 2 3

Figura 1 – Situação das Indústrias quanto ao Licenciamento Ambienta


Fonte: Adaptado de SEMACE, 2007.
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Um elevado percentual das indústrias, cerca de 60%, apresentam-se


licenciadas e outras 30% estão em processo de licenciamento e, nas vistorias
realizadas pela Semace, os sistemas produtivos têm se mostrado „regulares‟,
em geral, com relação a efeitos ambientais causados. Contudo, a grande
maioria, quase 100% destas indústrias, procura atender aos requisitos legais
da legislação para evitar serem autuadas, multadas ou fechadas e, apenas 5%
possuem preocupações e/ou ações de caráter ambiental responsável.

Verificou-se que 58,62% das empresas que estão atuando com processo de
galvanoplastia possuem licença de operação. Do total de estabelecimentos em
funcionamento, 29 unidades, 16 (55,17%) solicitaram coleta e análise de
efluentes na SEMACE.

As TABELAS 2 e 3 apresentam, respectivamente, a situação das empresas


licenciadas e das empresas não licenciadas.

Tabela 2 – Caracterização das empresas licenciadas

Condição das unidades Quantidade Percentual (%)


produtivas

Devidamente licenciadas 11 64.7


Em processo de 2 11.8
regularização da licença de
operação
Em processo de renovação 3 17.62
da licença de operação
Em processo de finalização 1 5.88
das atividades
Total 17 100

Fonte: Adaptado de SEMACE, 2007.

Grande quantidade das indústrias de galvanoplastia licenciadas, 82,35% (14


unidades), solicitou coleta e análise de efluentes ao órgão ambiental, o que é
consideravelmente relevante, quando se observa que os principais agressores
do ambiente são os resíduos líquidos contendo substâncias químicas, metais
leves e pesados utilizados nos processos deste tipo de indústria.

Do total das 46 unidades industriais visitadas, 26.08% (12 unidades) encontra-


se em processo de licenciamento (50% das 12 unidades) e 16,7% em processo
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de análise do licenciamento. Apontando 16.7% em processo de regularização


da licença, tem-se cerca de 80% das indústrias procurando regularizar suas
atividades perante o órgão ambiental.

Tabela 3 - Caracterização das indústrias em processo de licenciamento

Condição das unidades Quantidade Percentual (%)


produtivas
Em processo de
6 50
licenciamento ambiental
Em processo de 1 8.3
regularização da atividade
para posterior finalização
Em processo de análise do 2 16.7
licenciamento ambiental
Em processo de 2 16.7
regularização da licença
Em processo de desativação 1 8.3
Total 12 100
Fonte: Adaptado de SEMACE, 2007.

No pólo do Triângulo Crajubar quando se têm uma ação para reduzir os


impactos causados pelas indústrias ao meio ambiente, ainda é do tipo
convencional, ou seja, controla no final do processo produtivo a poluição,
técnica conhecida como fim – de – tubo, atuando de forma a remediar os
efeitos da produção, agindo de maneira insustentável. Vale ressaltar que a
grande maioria das micro e pequenas empresas distribuídas nesta região não
possuem nenhum tipo de técnica para minimizar o impacto ambiental,despeja
sem nenhum tratamento os resíduos industriais no solo e águas superficiais.

Mesmo nas pequenas empresas é possível instituir a eco eficiência e a


sustentabilidade ambiental, mudanças simples no processo produtivo evitam o
desperdício e, conseqüentemente a diminuindo a poluição.

A cultura dos empresários caririenses ainda está enraizada nas medidas


reativas, assim como a nossa legislação, em apenas tratar os resíduos que já
foram gerados, conhecida como medida fim-de-tubo, agindo de maneira
insustentável. Por tanto é traçando um comparativo entre a teoria e a realidade
local que se pode conhecer e propor ações que possam contribuir para a
qualidade de forma que se possa chegar mais próximo do que seria o
desenvolvimento sustentável.
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As empresas, desconhecendo ou não reconhecendo as técnicas, tecnologias e


ferramentas para a melhoria simultânea das gestões socioeconômica e
ambiental, tornam o processo mais custoso. Existe essa relutância em relação
prática de produção mais limpa, justificando-se tanto pela falta de informação,
resistência à mudança, barreiras técnicas, econômicas e pela própria
legislação que preocupa-se em tratar aquilo que já foi gerado, onde o
verdadeiro ensejo deveria estar em evitar a geração desses resíduos.

Agradecimentos

Ao CNPq, pelo fomento a pesquisa através da bolsa de iniciação científica. À


Universidade Regional do Cariri – URCA, pelo apoio da Pró-Reitoria de Pós-
Graduação e pesquisa – PRPGP, através datravés do Programa de Iniciação
Científica – PIBIC/CNPq.

Referências

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR – 10.004 – Resíduos


Sólidos – Classificação. 1987.
CEARÁ–SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Inventário de
resíduos sólido industriais – CE. 106 p, 2004.
CORREIA, B. R. de B., Fontenele, S. de B., Guimarães, J. L. da S., Sabiá, R. J.
Tecnologia limpa para o desenvolvimento regional sustentado: Uma discussão sobre o
setor industrial do Triângulo Crajubar – CE. In: Encontro Nacional de Engenharia de
Produção, XXVII, 2007, Anais. Foz do Iguaçu, ABEPRO, 2007.
FONTENELE, S. de B., GUIMARÃES, J.L. da S. & SABIÁ, R. J. Legislação
Ambiental versus Tecnologia Limpa: Uma reflexão junto ao setor industrial do
Triângulo CRAJUBAR – CE. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, XXVI,
2006, Anais. Fortaleza, p.342, 2006.
Fontenele, S. de B., Guimarães, J. L. da S., Sabiá, R. J. Proposta de ações para
implantação de sistema de gestão de setor ambiental baseado nos princípios da
produção mais limpa – caso industrial do triângulo crajubar-CE. 24º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental – CBESA. Brasília: ABES, 2007.
MELLO, M. C. A. de. Produção mais limpa: um estudo de caso na AGCO do Brasil.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul para a obtenção do título de Mestre em
Administração, 2002.
SCHNEIDER, V. E., BETTIN, F. & JÚNIOR F. P. Situação das indústrias galvânicas
na região Nordeste do estado do rio grande do sul quanto ao passivo Ambiental de
lodos de estações de tratamento de Efluentes. In: Congresso Interamericano de
Engenharia Sanitária e Ambiental, XXVII, 2000.
SPRINGER, H. & MOREIRA, M. V. A Produção Mais Limpa no contexto do
Desenvolvimento Sustentável da indústria do Couro. Disponível em:
http://www.aaqtic.org.ar/congresos/brasil2005/pdf/APRODUCAO.pdf . Acesso em: 23
Abr. 2007.

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