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Ética e Meio Ambiente

Elisangela Menezes
Juliana Hermont de Melo
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales
Wilma Pereira Tinoco Vilaça
Virgínia Granja Silva Machado de Lima
Shayra Pinheiro do Altíssimo
Elisangela Menezes
Juliana Hermont de Melo
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales
Wilma Pereira Tinoco Vilaça
Virgínia Granja Silva Machado de Lima
Shayra Pinheiro do Altíssimo

ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Belo Horizonte
Julho de 2016
COPYRIGHT © 2016
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação

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empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.

Edição
Grupo Ănima Educação

Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo

Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira

Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar

Equipe EaD
Conheça
a Autora
Wilma Pereira Tinoco Vilaça, Doutora em
Comunicação, com ênfase em Interfaces
Sociais da Comunicação, pela ECA/USP;
Mestre em Administração, com ênfase
em Inovação e Tecnologia, pela PUC-MG/
Fundação Dom Cabral; especialista em
Comunicação e Gestão Empresarial, pelo
IEC/PUC-MG; Bacharel em Comunicação
Social, habilitação Relações Públicas pela
FAFI-BH (atual UNIBH). Atualmente leciona
Técnicas e Métodos de Pesquisa, no curso de
Administração; Planejamento Estratégico, no
curso de Gestão de Recursos Humanos; Gestão
da Comunicação, no curso de Publicidade e
Propaganda, todos do UNIBH. Atuou como
coordenadora do curso de Relações Públicas
da UNA, em 2005. Professora convidada no
MBA da Ciências Médicas, com a disciplina
Metodologia Científica. Sócia-diretora da
WV Comunicação Empresarial Ltda. Tem
interesse nas áreas de Ética, Comunicação
Interna, Comunicação Organizacional,
Sustentabilidade, Planejamento e Pesquisa.
Conheça
a Autora
Elisângela Menezes é jornalista, advogada e
perita judicial especializada em propriedade
intelectual. Mestre em Direito Privado pela PUC
Minas e Doutoranda em Ciências Jurídico-
civis pela Universidade de Lisboa. Professora
de graduação e pós-graduação dos centros
universitários UniBH e UNA. Membro da
Comissão de Propriedade Intelectual da OAB-
MG. Autora do livro “Curso de Direito Autoral”,
da Editora Del Rey, e coautora de outros três
livros sobre direitos autorais.
Conheça
a Autora
Virgínia Granja Silva Machado de
Lima é advogada atuante no âmbito da
Justiça Comum e Trabalhista, formada
na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), possui especialização Latu Sensu em
Metodologia do Ensino Superior (CEPEMG)
e graduação no Curso de Formação de
Professores pelo Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG).
Funcionária pública federal aposentada, a
autora é professora nas instituições Centro
Universitário UNA e Faculdade de Sabará,
lecionando, principalmente, as disciplinas:
Instituições do Direito Público e Privado;
Direito Trabalhista; Políticas Públicas e
Sustentabilidade; Direito do Ambiente; Gestão
Pública Contemporânea; Direito Empresarial;
Relações Trabalhistas; Ética; Direito Tributário;
Direito Administrativo.
Conheça
a Autora
Juliana Hermont de Melo: graduada em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (2000), especialista em Bioética,
Direito e Aplicações pelo IEC-PUC-MINAS
(2002), mestre em teologia pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia com ênfase em
Teologia moral e bioética (2007) e doutoranda
em Medicina pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Atualmente professora
de sociologia, bioética e direitos humanos
para os cursos da área da saúde, exatas e
humanas no UNIBH. Atua, há 15 anos, como
docente, tanto na graduação quanto na pós-
graduação, principalmente na área da saúde,
sempre na interface entre direito, saúde
e bioética. Temas de pesquisa: bioética/
biodireito, tanatologia, relação profissional-
paciente, direitos humanos, sociologia e ética
em pesquisa clínica.
Conheça
o Autor
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales: Estágio
pós-doutoral realizado junto à Universitat
de Barcelona - España, como bolsista do
Programa de Pesquisa Pós-doutoral no
Exterior da CAPES. Investigação desenvolvida
com a colaboração do filósofo Santiago
Zabala a partir do pensamento pós-metafísico
de Gianni Vattimo, com ênfase para a relação
entre hermenêutica filosófica e estética;
niilismo e ontologia da atualidade. Doutor
em Teologia Sistemática (2012) e mestre
em Teologia Moral (2007), pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia. Licenciatura
plena em Filosofia (2011) e bacharelado em
Filosofia (2010), pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais. Bacharel em
Teologia pelo Centro de Ensino Superior de
Juiz de Fora (2004). Doutorando em Filosofia
pela Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de Minas
Gerais. Experiência nas áreas de Filosofia
Contemporânea; Hermenêutica filosófica e
estética; Teologia e Ciências da religião, com
ênfase nos seguintes temas: Pós-modernidade,
ontologia da atualidade e niilismo; estética
ontológica, arte e verdade; globalização e fé
cristã; secularização e emergência de nova
sensibilidade para o campo religioso; Filosofia
e Teologia da Libertação Latino-americana.
Experiência docente nas disciplinas Filosofia,
Razão e Modernidade; Filosofia Antropologia e
Ética; e Lógica aplicada ao Direito.
Apresentação
da disciplina
Ética e responsabilidade social são temas atuais e relevantes
na formação de todo profissional, mas principalmente daqueles
que almejam cargos de gestão nas empresas. Na condição de
disciplina, assume como fundamentais as discussões que tratam
o desenvolvimento, nos últimos anos, da responsabilidade social
corporativa e seus impactos nas empresas que aderiram a modelos
de gestão com vistas à sustentabilidade. Nesse sentido, Ética é
tema central e traz como temas transversais as questões dos
valores empresariais, da disseminação de boas práticas e também
da importância de uma reflexão sobre as relações de trabalho e os
conflitos que lhes são inerentes.
UNIDADE 1  002
Ética e o panorama social, ambiental econômico  003
Papel, presença e efeito das organizações na sociedade  004
Os seres humanos e os processos produtivos  006
As empresas e as carências sociais e ambientais  008
Revisão  012

UNIDADE 2  015
Desenvolvimento Sustentável 016
Do Conceito de Desenvolvimento, Crescimento, Progresso 018
Conceito de Sustentabilidade 026
Conceito de Qualidade de vida e Desenvolvimento Sustentável 032
Políticas Públicas e Pertencimento 034
Revisão 038

UNIDADE 3  040
Relações Étnicoraciais 041
Identidade, cultural e etnia 043
Etinicidades brasileiras 051
Indigeneidades 057
Revisão 063

UNIDADE 4  065
Cultura Brasileira e Afrodescendente  066
A Presença da Cultura Afrodescendente na Constituição da Identidade 068
Racismo Científico, Racismo Institucional e Racismo Cultural 071
Racismo X Injúria Racial 078
Revisão 083

REFERÊNCIAS  086
Ética e o panorama
social, ambiental e
econômico
Introdução

A construção da ética tem sido influenciada pelas transformações


sociais, econômicas e ambientais de nossa sociedade. Nesse
contexto, as empresas se destacam como verdadeiros agentes de
transformação social. Nessa unidade, vamos falar sobre os diversos
desafios éticos enfrentados hoje pelas organizações produtivas,
tais como os avanços tecnológicos, a exclusão social e a escassez
de recursos ambientais.

Pretendemos, com isso, facilitar sua compreensão sobre a inserção • Papel, presença
e efeito das
necessária das organizações produtivas na realidade social da qual elas organizações na
são sempre importantes agentes. Além disso, ao abordar as relações que sociedade
as empresas têm mantido com os problemas sociais e com as questões • Os seres
ambientais, veremos que, para a tarefa de inserir a empresa no âmbito da humanos e
os processos
ética empresarial, a implicação de todos os integrantes é fundamental.
produtivos
• As empresas
Por fim, vamos apontar algumas posturas éticas a serem adotadas e as carências
diante desses desafios, como o desenvolvimento de uma visão global, sociais e
ambientais
de um senso crítico humanizado e do constante aprimoramento
de técnicas e conhecimentos. Leia atentamente as propostas de • Revisão

discussão, acrescente suas próprias observações sobre a realidade


atual e procure refletir a respeito dos desafios que as condições
sociais, econômicas e políticas, já criadas há bastante tempo,
representam para a nossa participação nas organizações produtivas.

Bons Estudos!
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Papel, presença
e efeito das organizações
na sociedade
O avanço das tecnologias digitais conferiu ao mundo um sentido de
unidade jamais experimentado em períodos históricos anteriores.
Romperam-se limites e fronteiras aparentemente intransponíveis,
colocando-se em contato culturas diferentes, credos, etnias e
tipos humanos, que passam a ter acesso a informações e notícias
instantaneamente. Recentemente, as redes sociais via internet
têm definido laços sociais que se constituem com grande rapidez
e muita efetividade, chegando à instantaneidade na troca de
informações entre as pessoas.
O avanço das
tecnologias digitais
Neste contexto, as organizações produtivas aparecem como
conferiu ao mundo
agentes diretos das transformações. Ao se delinearem novos modos um sentido de
de relacionamento entre as pessoas, principalmente por meios unidade jamais
experimentado em
eletrônicos e digitais que exigem maior qualificação e agilidade
períodos históricos
dos interlocutores, modifica-se o compromisso das empresas com anteriores.
seus colaboradores, seus clientes e as comunidades. Os modos
do trabalho e os modos dos negócios devem considerar os efeitos
diretos da modernização, iniciada desde os séculos anteriores e que
em nossos dias toma uma velocidade assombrosa.

Mas, alguns aspectos da realidade das relações sociais vividas nas


empresas não se modificam por efeito das formas tecnológicas
de comunicação. Ao contrário, elementos como valores, cultura e
relações pessoais são somente facilitadas pela inserção das novas
tecnologias. A responsabilidade das empresas em relação aos
efeitos das mudanças sobre seus processos, estrutura e cultura,
em relação aos efeitos de suas atividades sobre as pessoas,
internas e externas e sobre o meio ambiente, continuam sendo foco
de reflexões importantes que servem para pensarmos o papel das
empresas rumo à contemporaneidade.

004
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

As organizações empresariais têm a liberdade de investimento


nos setores que julgarem melhor, entretanto, esses investimentos
podem esbarrar no direito das comunidades (e da sociedade em
geral) e das demais pessoas envolvidas.

No Estado de Direito, como é o caso de nossas sociedades, as leis


estabelecem os limites entre as liberdades e os deveres de todos
os integrantes do sistema social. Um exemplo disso são as leis
trabalhistas, que visam equilibrar as relações entre os donos das
empresas e os trabalhadores. Assim, a lei garante direitos aos
empregados como forma de garantir a justiça nas relações de
trabalho. Do mesmo modo, as leis de defesa do consumidor visam
regular a relação das organizações produtivas com seu público.

Todas essas
Todas essas regulações partem do suposto de que, no processo
regulações partem do
histórico, paralelamente aos benefícios do avanço das nossas formas suposto de que, no
de vida, há um risco social nas relações entre empresas e pessoas. processo histórico,
paralelamente aos
benefícios do avanço
Como apontam as análises estruturais, o avanço do capitalismo das nossas formas
ao longo dos últimos séculos criou uma inegável disparidade de vida, há um risco
social referida nos meios de comunicação, ora como diferença social nas relações
entre empresas e
entre “pobres” e “ricos”, ora entre “países desenvolvidos” e “países
pessoas.
atrasados” ou “primeiro mundo” e “terceiro mundo”.

Essa discrepância, que em resumo não é entre “países” ou


“pessoas” individuais e sim entre classes sociais (capital e
trabalho), encerra historicamente uma acumulação irrevogável dos
meios de produção (matéria-prima, prédios, dinheiro, máquinas,
equipamentos, mobiliário) sob a propriedade privada de uma das
classes sociais (a classe do capital).

Assim, tem crescido a ideia de que, junto ao avanço tecnológico


e junto ao acompanhamento da modernização, as organizações
produtivas precisariam se haver também com a construção de uma
justiça social. Elas estarão inseridas na medida em que adotam
posturas de responsabilidade, isto é, posições éticas.

005
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Tais posições éticas referem-se não somente ao futuro, mas


também à necessidade de um resgate ou amenização da
disparidade histórica entre as condições sociais, que fazem a base
da produção de bens e serviços no capitalismo contemporâneo.

Neste sentido, a justiça social, como resultado de uma economia


sustentável, é sempre uma proposição ideal a ser perseguida a
médio e a longo prazos, sendo o esforço da ética empresarial a
materialização desse ideal.

Os seres humanos e os
processos produtivos
Os stakeholders
A tendência de se considerar as empresas como agentes de (grupos de
uma postura ética levou, nos últimos anos, à adoção de uma interesse) são os
denominação específica para os vários grupos de pessoas e
colaboradores,
os fornecedores,
instituições ligadas ao processo produtivo. É nessa direção que se os consumidores,
adota a noção de “grupos de interesse” da empresa, tradução do a comunidade,
termo stakeholders, uma expressão inglesa que designa as partes o governo, os
acionistas, etc.
interessadas em um negócio ou empreendimento. Estão incluídos
neste conceito de “grupos de interesse” quaisquer indivíduos ou
grupos cuja ação, opinião ou atitude possa afetar o negócio ou ser
por ele afetado.

Como se vê, os stakeholders (grupos de interesse) são os


colaboradores, os fornecedores, os consumidores, a comunidade,
o governo, os acionistas, etc. É comum nas empresas inseridas na
preocupação com a ética empresarial a dedicação e o mapeamento
dos stakeholders a elas atrelados.

Nessa noção, são importantes desde as questões trabalhistas (que


interessam aos funcionários), até as preocupações com o meio
ambiente (que interessam à vida no planeta), o que define a ética

006
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

empresarial como ética voltada para o outro, em detrimento da


ética do interesse próprio.

A ética orientada para os outros visa, exatamente como ponto de


referência da empresa, a valorização do benefício do todo. Em uma
analogia às relações pessoais, podemos dizer que a ética voltada
para o outro tem por princípio a ideia de que “é fazendo o outro feliz
que eu vou me realizar e me sentir feliz”.

No crescimento dos outros, pela implicação deles com o negócio


da empresa, a organização pode crescer, por meio de suas equipes.
Assim, pode-se dizer que o respeito aos stakeholders é mais do que
um meio para a realização dos objetivos da empresa, representando
um fim em si mesmo, que se atrela socialmente a esses objetivos.

Na perspectiva dos negócios, o valor agregado pelos serviços é, em A ética orientada


primeiro lugar, a referência da posição da empresa. Assim pode-se para os outros visa,
esperar a obtenção de ganhos financeiros, que ocorrerão a médio
exatamente como
ponto de referência
e longo prazos, como efeito do posicionamento ético da empresa. da empresa, a
Como se vê, essa “riqueza simbólica” da empresa não se resume ao valorização do
seu objetivo de obter resultados econômicos. benefício do todo.

A empresa dispõe de muitos recursos para gerir seu conjunto


de valores, fundamentos de sua ética empresarial, tais como os
códigos de ética, as cartas de valores e as políticas de gestão. A cada
realidade pode-se encontrar mais vantagens do entrelaçamento
entre esses documentos, mas o importante é que em todos eles a
empresa seja vista como um conjunto de pessoas.

Isso implica admitir que as tomadas de decisão sejam de


pessoas sobre pessoas, visando os objetivos da empresa; que os
instrumentos de regulação sejam instrumentos de ordenamento
da ação de pessoas, com todas suas características de falibilidade;
que as políticas de gestão não sejam somente gestão das pessoas,
sejam políticas para gestão com as pessoas, feitas por sujeitos com
capacidade de analisar e criticar a realidade à sua volta.

007
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Para que essa humanização das relações de trabalho aconteça é


necessário admitir as diferenças internas entre as pessoas como
diferenças que tocam a liberdade de cada um. Assim, o empresário
não terá o mesmo interesse no lucro do que o funcionário que
dele participa somente em pequena parcela. O esforço voluntário
de inserção dos funcionários nos objetivos da empresa, a
automotivação e as resistências a determinados aspectos da
cultura da empresa dependem da absorção ou não dos diversos
objetivos de vida das pessoas.

Note que na ética empresarial, a dimensão humana, tanto na


instância interna como externa à empresa, é o fator primordial. Em
síntese, é das pessoas em suas relações dinâmicas entre si que
se sedimentam os elementos (hábitos, costumes, interditos) que
formam o ethos humano, do qual a empresa participa.
O efeito mais direto
do debate sobre a
ética empresarial
nas empresas
As empresas e as é a correção
da projeção
carências sociais e pessimista quanto
aos rumos do
ambientais capitalismo.

O efeito mais direto do debate sobre a ética empresarial nas


empresas é a correção da projeção pessimista quanto aos rumos
do capitalismo. Se na infraestrutura, como definia Marx, nada se
modificou quanto à divisão de classes, na discussão ideológica, a
emergência nos últimos anos de relatórios mais severos sobre o
esgotamento dos recursos ambientais e as notícias diárias sobre as
mazelas da exclusão social, têm sido sinais de alerta importantes.

A chamada “economia pura”, entendida como economia dissociada


de seu caráter social, é invadida por uma preocupação que pretende
enfrentar os desafios do capitalismo, ao menos exigindo daqueles
que antes somente pensavam em maximizar a riqueza, que se

008
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

justifiquem do ponto de vista de sua contribuição para a invenção


de um ethos humano do futuro.

O que a ética empresarial preconiza é a reflexão levada a efeito em


formas objetivas de inserir a empresa em seu ethos, levando em
conta o bem a ser garantido como abrigo protetor (como é o sentido
do termo ethos para os gregos) a todos, o que implica também a
conservação dos recursos naturais.

As empresas, principalmente as de grande porte, têm grande


responsabilidade na comunidade global justamente por serem elas
a instância local que pode permitir uma resistência ao aniquilamento
As empresas,
dos valores humanos e o descaso com a natureza. principalmente
as de grande
porte, têm grande
É necessário reconhecer que a pressão exercida pelos vários
responsabilidade
mercados que compõem a globalização força as empresas e suas na comunidade
equipes a se autoanalisarem continuamente. E é exatamente esse global justamente
autoexame, principalmente se ele for baseado em padrões de crítica por serem elas
a instância local
racional, a exemplo daquela que os filósofos gregos fizeram de seu
que pode permitir
tempo, que cria a consciência necessária de que no movimento uma resistência ao
global contemporâneo se constrói um novo ethos. aniquilamento dos
valores humanos
e o descaso com a
Para essa construção contribui imensamente a maneira como as natureza.
empresas, em todo o mundo, propiciam a suas equipes o acesso
a um nível de compreensão mais profundo do lugar da empresa.
As empresas, assim como o Estado, tiveram seu papel alterado nos
últimos anos. Hoje, é bem mais amplo o papel das empresas na
sociedade, enquanto o próprio Estado, como garantidor da ordem
social, tem sido forçado a redimensionar o seu papel.

A administração superior de uma empresa, ao definir os campos


de formação continuada de seus colaboradores, pode ter um papel
fundamental se inserir as questões sociais e ambientais como
objetivos de construção de saber para a empresa. Os funcionários
da organização podem focalizar seus esforços educativos não
somente na clarificação da estratégia empresarial e na definição

009
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

de metas financeiras desafiadoras e motivantes. A isso, pode-


se acrescentar a investigação a respeito das formas de tornar
a empresa também competitiva na responsabilidade social e
ambiental.

Essa operação somente terá efeitos sobre o desenvolvimento


da cultura organizacional se junto aos objetivos de inovação,
experimentação, aprendizado contínuo e comprometido com
os resultados de longo prazo, forem inseridos os esforços por
desenvolver um saber ético.

Em síntese, se o saber é o grande elemento da nova era das


empresas, o saber sobre a otimização de todas as áreas da empresa
deve incluir suas relações com as pessoas, como responsabilidade
social, e as relações dos seus processos produtivos sobre a A diversidade
natureza, como responsabilidade ambiental. Essa deve ser uma das dos mercados
e a diversidade
preocupações fundamentais da alta administração.
de soluções que
eles exigem não
No mundo globalizado, a organização empresarial ganha um podem obscurecer
a unidade do papel
intenso papel de instância de transformação (ou de estagnação)
das empresas na
das sociedades. Aquilo que as empresas lançam aos mercados instituição do ethos
do qual participam têm efeitos não somente financeiros. Se elas contemporâneo.
disponibilizam ao mercado negociantes com capacidade limitada
de análise da realidade, isso se reverterá em um conjunto de
relações sociais alienantes. Se, por outro lado, elas estruturam
sua produção, seu gerenciamento e a relação com a sociedade de
maneira mais consciente, o efeito é um aumento da consciência em
geral sobre a realidade.

A diversidade dos mercados e a diversidade de soluções que eles


exigem não podem obscurecer a unidade do papel das empresas na
instituição do ethos contemporâneo.

Em resumo, teríamos que acrescentar a esse objetivo a consciência


do efeito e responsabilidade da empresa pela efetivação criativa
de novos elementos do ethos humano para os próximos séculos.

010
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

A empresa, mais do que o papel defensivo de não causar


prejuízo, como era a preocupação no início do movimento pela
responsabilidade ambiental, deverá fornecer em sua cultura e seus
objetivos condições deliberadas para a invenção desse novo ethos.

A influência desse novo papel da empresa sobre os sujeitos


humanos nas organizações empresariais e sobre os efeitos da
produção sobre o meio ambiente é notória. As habilidades e
competências que capacitam os profissionais para o contexto
globalizado vão depender da inserção das pessoas nas exigências
sociais e ambientais feitas à empresa.

As seguintes características ou habilidades são necessárias ao


novo administrador: formação humanística e visão global; formação
técnica e científica; internalização de valores de responsabilidade
social, justiça e ética profissional; competência para empreender
ações e para analisar criticamente as organizações e seus
efeitos sociais e ambientais; compreensão da necessidade do
contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento de
autoconfiança; atuação de forma interdisciplinar.

Mais do que lideranças técnicas ou de referências operacionais,


esse perfil indica a necessidade das empresas, em obter em seus
quadros funcionais lideranças éticas. Isto é, líderes com percepção
suficiente do lugar da empresa na construção do ethos e com
capacidade de traduzir essas exigências para os negócios da
empresa. Esse novo líder, com apurado senso crítico quanto aos
processos produtivos, deve primar pela capacidade de agir sobre a
cultura da empresa influenciando-a na direção da atualização.

011
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Dados científicos muitas vezes nos ajudam a compreender melhor a

realidade. A chamada “Pesquisa Ação Social das Empresas”, realizada

pelo Ipea pela segunda vez em todo o Brasil, aponta um crescimento

significativo, entre 2000 e 2004, na proporção de empresas privadas

brasileiras que realizaram ações sociais em benefício das comunidades.

Neste período, a participação empresarial na área social aumentou dez

pontos percentuais, passando de 59% para 69%. São aproximadamente

600 mil empresas que atuam voluntariamente. Em 2004, elas aplicaram

cerca de R$ 4,7 bilhões, o que correspondia a 0,27% do PIB brasileiro

naquele ano. A partir da realização desta segunda edição da pesquisa,

tornou-se possível iniciar a construção, de maneira inédita de uma série

histórica que permite o acompanhamento da evolução do comportamento

da iniciativa privada na área social desde finais da década de 1990.

A pesquisa ouviu, também, a percepção dos empresários sobre o seu papel na

realização de ações voluntárias em benefício das comunidades. A grande

maioria (78%) acredita que é obrigação do Estado cuidar do social e que a

necessidade de atuar para as comunidades é maior hoje do que há alguns

anos (65%). Há, portanto, uma compreensão, no mundo empresarial,

de que a atuação privada não deve substituir o poder público, tendo um

caráter muito maior de complementaridade da ação estatal.

Embora a pesquisa não pretenda estabelecer um ranking dos estados que

têm ações voluntárias para a comunidade, apresenta a seguinte ordem:

Minas Gerais (81%) continua em primeiro lugar, sendo seguido por Santa

Catarina (78%), Bahia (76%), Ceará (74%), Pernambuco (73%) e Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul (72%).

Se estes dados já eram significativos na década passada, imagine agora.

Quais serão as novas posições no ranking? Coloque sua curiosidade em

dia e procure na internet novas informações sobre isso.

Fonte: BRASIL – RESULTADOS FINAIS – SEGUNDA EDIÇÃO (2006). In: “Site


IPEA”. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/acaosocial/articledcd2.html?id_
article=244>. Acesso em: 06 de jan. 2015.

012
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Revisão
Para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, a ética
empresarial deverá envolver toda a organização, desde os objetivos
estratégicos da alta administração até a mais simples das funções,
não devendo se restringir à adoção de normas de comportamento.

Em sentido amplo, a ética empresarial implica na participação das


pessoas e é de suma importância a presença, nas empresas, de
lideranças éticas. É preciso também que a comunicação com as
equipes privilegie o modo singular de cada integrante da empresa,
para a construção de um ethos organizacional próprio, condizente
com os desafios contemporâneos.

Dentre esses desafios, se destacam a exclusão social e a escassez


de recursos ambientais, além do uso exagerado das tecnologias em
detrimento do valor humano das relações.

Nesse contexto, é preciso pensar em lideranças que busquem o


desenvolvimento de uma visão global de mundo e que, por meio
de um senso crítico humanizado, sejam capazes de promover o
constante aprimoramento de técnicas e conhecimentos.

Em artigo publicado no site do Sebrae, o professor Alfredo Passos destaca que

leveza, rapidez e exatidão são alguns dos hábitos do líder contemporâneo. O

autor analisa o livro “Seis Propostas para o próximo milênio”, de Ítalo Calvino,

e faz uma comparação entre os valores literários destacados por Calvino e as

características do líder do futuro. Resumidamente, conheça os seis valores.

1 – Leveza

Líder que sabe agir de forma leve e sutil, sem impor poder e sem pesar na

estrutura organizacional da empresa.

013
unidade 1
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

2 – Rapidez

Líder que reconhece a necessidade de treinamento e reciclagem

constantes, pois produtos, mercados e consumidores também estão em

constante mudança.

3 – Exatidão

Líder que é preciso no atendimento às reais necessidades e expectativas

dos seus clientes. Estruturas menores tendem a personalizar os serviços e

deixar os clientes mais satisfeitos.

4 – Visibilidade

Líder que se faz ouvir dentro da empresa e que desenvolve comunicação

eficaz com o cliente.

5 – Multiplicidade

Líder com capacidade de desenvolver análises econômicas para fazer o

empreendimento crescer e ter lucro.

6 – Consistência

Infelizmente, aos 62 anos Ítalo Calvino faleceu e não desenvolveu este

tema. Fica então para a nossa imaginação esta conclusão, a partir das

informações anteriores.
Fonte: PASSOS, Alfredo. Os hábitos do empreendedor eficaz. In:
“BIS – Biblioteca Interativa SEBRAE.” Disponível em: <http://www.
bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/44D9BEDE2E0DFB7003256D520059C0A7/$File/NT00001F6A.pdf> Acesso
em 25 de Jul. 2016.

014
unidade 1
Desenvolvimento
Sustentável
Introdução

Nesta unidade, serão tratados os principais conceitos de


desenvolvimento, crescimento, progresso, sustentabilidade,
qualidade de vida, desenvolvimento sustentável relacionados
às políticas públicas e à questão do pertencimento das causas
ambientais propostas na sociedade.

Esses temas devem ser analisados pela sociedade contemporânea


para promoção de uma atuação mais efetiva da população mundial,
tendo em vista que os fatores ambientas indicam a necessidade
de implementar políticas públicas ambientais que auxiliem na
recuperação do meio ambiente degradado • Do Conceito de
Desenvolvimento,
Crescimento,
A geração atual, ao tomar conhecimento dos fatores que vem Progresso
degradando o meio ambiente devido às transformações feitas • Conceito de
pela ação humana e à forma de desenvolvimento, crescimento, Sustentabilidade

progresso da população mundial, percebeu que mudanças precisam • Conceito de


Qualidade
ser realizadas em prol de uma melhora ambiental.
de vida e
Desenvolvimento
Atualmente, todas as nações buscam realizar as medidas, Sustentável
propostas pela Agenda 21 Global, para o equilíbrio da produção e • Políticas
Públicas e
do consumo de modo a construir uma nova visão ambiental que
Pertencimento
garanta a sustentabilidade do planeta.
• Revisão

De acordo com os inúmeros estudos ambientais apresentados nos


encontros internacionais, a Terra já demonstra alguns nítidos sinais
de esgotamento dos recursos naturais, o que afeta todo o equilíbrio
da natureza e a sobrevivência de todos os seres que aqui habitam.
Desenvolver, crescer, progredir são verbos que estão ligados aos
comandos, às atitudes estruturantes do homem em trajetória
na Terra em sua busca por melhor viver, fato que implica em
transformar a Terra e todos os seus recursos para o atendimento
de suas necessidades.

A sociedade pós-moderna, na busca de sua evolução, utiliza o meio


ambiente natural, artificial e cultural de forma tal que a degradação
é intensa e despercebida por grande parte da população que vive
em condições muito precárias, excluídos da sadia qualidade de vida.

A proposta da unidade é colocar a utilização do desenvolver,


do crescer e do progredir de acordo com os novos paradigmas
ambientais que atentam para a construção conjunta de todos para
a sustentabilidade.

Os conceitos, ao serem devidamente entendidos e ressignificados,


farão com que os cidadãos e o Estado apliquem os conhecimentos
da Ecologia e das demais Ciências Ambientais que conduzirão
a gestão ambiental para a proteção do meio ambiente e a gestão
dos impactos ambientais que, gradativamente, tornarão as
comunidades sustentáveis

A união de todos, sociedade e poder público, no mesmo propósito


ambiental, propicia a gestão ambiental com políticas públicas
ambientais visando à conservação dos recursos ambientais, ao
uso adequado dos bens patrimoniais ambientais com a redução do
desmatamento, à produção mais limpa, etc., produzindo soluções,
criadas em conjunto com a comunidade e a governança local, para
as causas dos problemas ambientais.
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Do Conceito de
Desenvolvimento,
Crescimento, Progresso
Desenvolvimento, conforme o dicionário da língua portuguesa,
significa:

“1 Ato ou efeito de desenvolver. 2 Crescimento ou


expansão gradual. 3 Passagem gradual de um
estádio inferior a um estádio mais aperfeiçoado.
4 Adiantamento, progresso. 5 Extensão,
prolongamento, amplitude6 ”.

Já crescimento, é:

“1 Ação ou efeito de crescer. 2 pop Febre intermitente


cotidiana (mais usado no plural). C. econômico:
aumento da capacidade produtiva da economia de
determinado país ou área econômica. C. sustentado:
desenvolvimento econômico monitorado por uma
política que estabelece parâmetros seguros de
crescimento, os quais visam impedir oscilações ou alta
inflacionária7”.

O dicionário define progresso como: “1 o ato de proceder ou


de andar; 2 sucessão sistemática de mudanças numa direção
definida; 3 concatenação ou sucessão de fenômenos; seguimento,
decurso8 ”.

Esses conceitos serão utilizados aqui com o foco no meio ambiente


natural, artificial e cultural, na tentativa processar a sustentabilidade

6 DESENVOLVIMENTO. In: DICIONARIO Michaelis da Língua Portuguesa. São Paulo:


Editora Melhoramentos, 1998-2007. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/
moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=desenvolvimen
to>. Acesso em: 24 abr. 2016.
7 CRESCIMENTO. In: DICIONARIO Michaelis da Língua Portuguesa. São Paulo:
Editora Melhoramentos, 1998-2007. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/
moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=crescimento>.
Acesso em: 25 abr. 2016.
8 PROGRESSO. In: DICIONARIO Michaelis da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora
Melhoramentos, 1998-2007. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/
portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=progresso

018
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

ambiental, a partir da qual nossas ações deverão ser construídas


para viabilizara economia, o social, o político e o ambiental visando
o bem-estar e o bem viver.

Os termos acima definidos estão interligados no âmbito das


Ciências Sociais Aplicadas, pois o crescimento econômico deixou
de ser o único objetivo a ser alcançado pelas potências mundiais e
demais países, tendo em vista os novos parâmetros trazidos pelos
encontros internacionais sobre o meio ambiente:

Sob uma perspectiva histórica, é possível argumentar


que, ao longo dos anos 1950 e 1960, a teoria do
crescimento esteve associada primordialmente
ao modelo neoclássico nas linhas e modelos
desenvolvidos por Ramsey (1928), Solow (1956),
Swan (1956), Cass (1965) e Koopmans (1965). Tais
modelos tinham por base a chamada propriedade de
convergência, cuja ideia era de que para economias
com níveis mais baixos de PIB per capita, maiores
seriam as taxas de crescimento previstas, sendo
essa propriedade associada ao suposto de retornos
decrescentes do capital. A partir dos anos 1980, o
conceito de capital nos modelos neoclássicos foi
ampliado para incorporar não apenas capital físico,
mas também capital humano, como pode ser visto
através dos modelos desenvolvidos por Lucas (1988) e
Rebelo (1991) (VIEIRA; VERÍSSIMO, 2009, p. 515).

Deste modo, se antes as potências mundiais eram medidas pela sua


economia crescente, priorizando-se os fatores econômicos nestas
medições, com as reflexões a respeito dos novos sujeitos de direito
(nascendo o direito coletivo, difuso e metaindividual) e da inserção
de valores humanos no âmbito das Ciências Econômicas, o foco
em crescimento foi substituído pelo foco em desenvolvimento.

O termo desenvolvimento abarca e compatibiliza a reflexão pelo


equilíbrio entre o econômico, o social, o político e o ambiental, rumo
ao atendimento da melhoria da qualidade de vida:

Há autores contemporâneos que, convencidos do


esgotamento de um estilo de desenvolvimento que
se mostraria socialmente perverso, politicamente
injusto e ecologicamente predatório, têm referido
ao desenvolvimento como um estágio no qual os
frutos do crescimento econômico são distribuídos

019
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

igualmente, e, assim, se atingiria a elevação de todas


as formas de renda, o aumento da produtividade do
trabalho e a redução da pobreza, bem como a melhoria
nas condições de trabalho e de qualidade de vida,
envolvendo questões como as condições habitacionais,
ao maior acesso à saúde e à educação, ao acesso
ao lazer, à melhoria da dieta alimentar, o dispor de
segurança, os baixos níveis de poluição, dentre outros
fatores, que teriam, no centro do conceito, o homem e a
busca da paz e justiça. Nessa visão, o desenvolvimento,
perdendo sua qualificação de “econômico”, avança
também para as dimensões política, social e ambiental,
havendo, entretanto, alertas de que, nessa perspectiva,
o conceito de desenvolvimento tem se tornado cada
vez mais complexo e, talvez, intangível. (CHAVES, 2012,
128).

Na atualidade, preservar a natureza e os seus recursos é uma


realidade em virtude da consciência da sociedade mundial que
se preocupa com as gerações futuras, para que elas venham a
usufruir dos bens naturais hoje existentes e, consequentemente,
das construções humanas desenvolvidas a partir do gozo dos bens
naturais dispostos no planeta.

Portanto, os conceitos de crescimento, desenvolvimento e


sustentabilidade foram relacionados e reformulados para que a
sociedade transforme suas ações em ações que não impactem
negativamente na continuidade da existência humana e dos demais
seres que aqui habitam.

O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu com o nome

de ecodesenvolvimento nos anos 1970. Foi fruto do esforço para

encontrar uma terceira via opcional àquelas que opunham, de um

lado, desenvolvimentistas e, de outro, defensores do crescimento zero

(ROMEIRO, 2012, p. 68).

Conceitua-se desenvolvimento sustentável como:

a investida encoberta do capital sobre a natureza, à


economia verde, entendida como a investida radical

020
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

e aberta do capital sobre a natureza, tomando como


marcos as Conferências Eco-92 e Rio+20 (MISOCZKY;
BÖHM, 2012, p. 547).

Em 1992, a Organização das Nações Unidas realizou, na cidade


do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, comumente chamada como
Rio 92 ou Cúpula da Terra. Nesse evento, foram reunidos 179
representantes de Estados que acordaram e assinaram a Agenda
21 Global, programa de ação que estabeleceu, em 40 capítulos,
o padrão de desenvolvimento sustentável, a fim de construir
sociedades sustentáveis, estabelecendo meios e procedimentos
para alcançar a proteção ambiental, justiça social e eficiência
econômica.

Deste modo, considerando-se o estabelecido na Agenda 21


Global, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil desenvolveu a
Agenda 21 Brasileira, criando a oportunidade de mudar e renovar o
desenvolvimento do país. Há em sua composição, dois documentos
que foram gerados para a construção de políticas públicas: “Agenda
21 Brasileira – Ações Prioritárias” nas quais se estabelecem
caminhos preferenciais para viabilizar a sustentabilidade no nosso
país e, no outro, a “Agenda 21 Brasileira – resultado da Consulta
Nacional”, no qual foram feitos encontros e discussões em prol
de medidas diante de problemas ambientais, sociais, políticos e
econômicos.

Foi criada uma Comissão de Políticas de Desenvolvimento


Sustentável e da Agenda 21 Nacional – CPDS, que relacionou
os desafios emergenciais a serem enfrentados pela sociedade
brasileira, para a realização da proposta com o desígnio do novo
desenvolvimento.

As propostas apresentadas foram organizadas em ações a serem


desenvolvidas com um olhar sobre: a economia da poupança na
sociedade do conhecimento, a inclusão social por uma sociedade

021
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

solidária, a estratégia para a sustentabilidade urbana e rural, os


recursos naturais estratégicos - água, biodiversidade e florestas, e a
governança e ética para a promoção da sustentabilidade.

O “Resultado da Consulta Nacional” apresentou diversas propostas


que foram abordadas em discussões realizadas em todo o território
no processo da construção da Agenda 21 Brasileira.

Trata-se de uma visão que foi colhida de cada parte do Brasil e


desenvolvida pelos seus representantes que ali registraram a
preocupação sobre os problemas do país dentre eles: as minorias
tão abandonadas pela governança, a pobreza enorme produzida
pelo alto nível de desigualdade socioeconômica que gera a violência
e a exclusão social como uma forte realidade brasileira.

A ação de desenvolver, crescer e progredir depende do conhecimento


acerca dos bens ambientais tutelados e da consciência sobre
o potencial do meio ambiente, tendo em vista as riquezas de
todas as ordens existentes, caso contrário, será estabelecido um
crescimento desenfreado e desequilibrado, que produz lucro e
alimenta o mercado, mas prejudica a vida humana e a do próprio
aluno.

A sociedade brasileira é ativa, participativa e registra potencial


criativo e inovador para ações que impulsionem o desenvolver,
o crescer, e o progredir em todos os setores da vida moderna.
Entretanto, não há cultura disseminada acerca da sustentabilidade
e dos impactos dos atos individuais para com a coletividade.

Destarte, reivindicam-se investimentos em educação e


infraestrutura, para que a economia seja competitiva e melhore
as condições dos intercâmbios que se fazem necessários para o
progresso.

Reivindica-se uma agenda política de melhor qualidade para


a implementação das políticas públicas de acordo com o

022
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

restabelecimento da economia, para a geração do bem-estar social


e do bem-viver.

Desse modo, a gestão pública contemporânea deve considerar


todos os fatores que suas decisões abrangem, tendo em vista que
os atos públicos visam à coletividade e são executados por meio
dos bens e patrimônios públicos.

A agenda política deve propiciar meios sustentáveis ao indivíduo e


à sociedade para que usufruam dos direitos garantidos, tais como
o direito de ir e vir, propiciando bons aeroportos e boas estradas
que resultam em melhor mobilidade urbana e, ainda que se invista
em ferrovias que geram custos mais baixos, apresente também
alternativas que sejam economicamente viáveis e que gerem
os menores impactos ao meio ambiente, à saúde e à segurança
dos indivíduos. Deve haver uma análise completa da situação, da
demanda e da realidade econômico-político-social-ambiental da
localidade.

Reivindica-se pela continuidade e efetividade da reforma


administrativa que devido a fatores políticos sofre quedas em sua
qualidade com a ausência de investimentos e de transparência de
seus atos pelos agentes públicos.

A agenda política deve apresentar a reformulação da confiança com


os investidores internos e externos, em uma parceria entre entes
públicos e privados para agir no controle da inflação, um agir que
incremente a estabilidade cambial na qual a competitividade venha
a resultar em projetos que assegurem o devido retorno para aqueles
que firmaram compromissos ao investirem em nossa produtividade
e em nossa gente.

Fatores como o desemprego e o subemprego, o reforço da


desigualdade, o descaso com a educação, o descaso com a
saúde, o descaso com a moradia, fazem com que haja a geração
de violência, de conflitos sociais de várias ordens que produzem

023
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

instabilidade na sociedade e impedem concretamente o progresso


da melhoria continua das condições de vida que estão estabelecidas
como dever primordial do Estado e da coletividade brasileira.

A preocupação do mundo quanto às questões de ordem ambiental


e o desenvolver com sustentabilidade fazem com que o nosso país
seja alvo de muitos interesses internacionais pela riqueza existente
em nosso território.

Promover o desenvolvimento econômico para a realização dos interesses

da geração presente sem comprometer a geração futura deve significar

aqui renovar atitudes para uma reforma geral do Estado e da sociedade no

sentido de atentar ao prescrito em nossa Constituição que dita diretrizes

claras para o restabelecimento das potencialidades de nosso país.

Todo o movimento que visa atender às demandas atuais ambientais


tem por base cuidar da conservação e preservação da natureza, ao
desenvolver um gerenciamento que conheça toda a potencialidade
dos recursos ambientais por meio dos conhecimentos técnicos e
científicos, valorando e utilizando a ciência ecológica para melhor
entender e processar a busca por solução dos problemas que
impactam negativamente o meio ambiente e seus recursos tão
necessários à continuidade da vida.

Para que haja o desenvolvimento sustentável, nos termos


estabelecidos pela Agenda 21, é necessário repensar a distribuição
da riqueza aqui gerada que não é distribuída para o bem comum
de todos. A exploração dos recursos naturais sem, contudo, a
geração equânime da distribuição nas comunidades compromete
a infraestrutura: as cidades estão afetadas pelo desequilíbrio social,
ambiental, político e econômico.

024
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Apenas por meio da educação, da saúde, da alimentação, do trabalho,

há a possibilidade de que a dignidade humana, assegurada em nossa

Constituição como direito fundamental e humano, seja alcançada.

O ressignificado do desenvolver, do crescer e do progredir na


proposta atual é o resultado da sadia qualidade de vida da
população como meta do Estado brasileiro que se comprometeu a
cumprir com a promulgação da Constituição de 1988.

A Administração Pública existe para atuar em benefício da sua


população, para as pessoas e os demais elementos que a formam:
o dever de gerar o bem-estar e o bem viver é compromisso de sua
essência.

Os resultados da atuação do Estado para o progresso, para a


qualidade de sua industrialização e para o crescimento econômico
consistem em realizar uma melhor distribuição econômica para a
população que espera melhoria das condições de vida.

Há propósitos sociais, econômicos, ambientais e políticos para o


avanço da atuação eficaz do Estado na continuidade de cumprir o
interesse público e ser razão de melhorias na gestão/administração
pelos agentes públicos e pelos representantes da sociedade,
que são eleitos para o cumprimento do ordenamento jurídico,
objetivando o bem comum.

Há necessidade do desenvolver econômico em razão do


desenvolvimento humano, causa e razão da vida do homem, que
na atualidade se vê como o maior responsável pela degradação do
planeta.

Todas as nações se comprometem com o desenvolvimento


humano, porém fatores humanos e políticos impedem a viabilização

025
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

de medidas de distribuição da riqueza, de forma que não seja


ampliada a oportunidade do desenvolver de cada indivíduo.

A geração de emprego e a remuneração justa não ocorrem, o


que compromete o crescimento e a inclusão de todos na sadia
qualidade de vida.

Percebe-se um vicioso ciclo no qual, em busca de uma posição


social melhorada, degrada-se o meio ambiente, prejudicando a
população, que vivencia a precariedade dos serviços públicos e
direitos constitucionalizados.

A preocupação da gestão pública deve ser a de quebrar o paradigma


de que crescimento é desenvolvimento e que meio ambiente se
limita à flora e à fauna, sendo bens diretamente ligados à existência
humana e devem ser considerados nas práticas cotidianas, com o
fim de assegurar o futuro da humanidade.

Conceito de
Sustentabilidade
Sustentabilidade é uma nova proposta mundial, que foi amplamente
discutida pelas nações, diante do reconhecimento de que o estilo de
vida adotado pela comunidade mundial traz o impacto ambiental
que possivelmente extinguirá a vida saudável dos humanos e
demais seres vivos na Terra.

Por meio da sustentabilidade, objetiva-se promover a gestão


das demandas e dos recursos de forma com que os interesses
econômicos, sociais, políticos e ambientais, muitas vezes
conflitantes entre si, sejam equilibrados com o fim de atender as
demandas coletivas e a manutenção da saúde do planeta.

026
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Barbosa (2008) afirma que “a sustentabilidade consiste em


encontrar meios de produção, distribuição e consumo dos recursos
existentes de forma mais coesiva, economicamente eficaz e
ecologicamente viável” (BARBOSA, 2008, p. 10).

Leonardo Boff9 , em seu blog, disseca o termo sustentabilidade


apresentando seus significados:

Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as


condições energéticas, informacionais, físico-químicas
que sustentam todos os seres, especialmente a Terra
viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando
a sua continuidade e ainda a atender as necessidades
da geração presente e das futuras de tal forma que
o capital natural seja mantido e enriquecido em sua
capacidade de regeneração, reprodução e coevolução.

Expliquemos, rapidamente, os termos desta visão


holística:

Sustentar todas as condições necessárias para


o surgimento dos seres: estes só existem a partir
da conjugação das energias, dos elementos físico-
químicos e informacionais que, combinados entre si,
dão origem a tudo.

Sustentar todos os seres: aqui se trata de superar


radicalmente o antropocentrismo. Todos os seres
constituem emergências do processo de evolução
e gozam de valor intrínseco, independetente do uso
humano.

Sustentar especialmente a Terra viva: a Terra é mais


que uma “coisa” (res extensa), sem inteligência ou
um mero meio de produção. Ela não contém vida. Ela
mesma é viva, se autorregula, se regenera e evolui.
Se não garantirmos a sustentabilidade da Terra viva,
chamada Gaia, tiramos a base para todas as demais
formas de sustentabilidade.

Sustentar também a comunidade de vida: não existe,


o meio ambiente, como algo secundário e periférico.
Nós não existimos: coeexistimos e somos todos
interdependentes. Todos os seres vivos são portadores
do mesmo alfabeto genético básico. Formam a rede

9 LEONARDO BOFF. Sustentabilidade: tentativa de definição. 15 jan. 2012. Disponível


em: <https://leonardoboff.wordpress.com/2012/01/15/sustentabilidade-tentativa-
de-definicao>. Acesso em: 24 mar. 2016.

027
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

de vida, incluindo os microorganismos. Esta rede cria


os biomas e a biodiversidade e é necessária para a
subsistência de nossa vida neste planeta.

Sustentar a vida humana: somos um elo singular da


rede da vida, o ser mais complexo de nosso sistema
solar e a ponta avançada do processo evolutivo por
nós conhecido, pois somos portadores de consciência,
de sensibilidade e de inteligência. Sentimos que somos
chamados a cuidar e guardar a Mãe Terra, garantir a
continuidade da civilização e vigiar também sobre
nossa capacidade destrutiva.

Sustentar a continuidade do processo evolutivo: os


seres são conservados e suportados pela Energia de
Fundo ou a Fonte Originária de todo o Ser. O universo
possui um fim em si mesmo, pelo simples fato de
existir, de continuar se expandindo e se autocriando.

Sustentar o atendimento das necessidades humanas:


fazemo-lo através do uso racional e cuidadoso dos
bens e serviços que o cosmos e a Terra nos oferecem
sem o que sucumbiríamos.

Sustentar a nossa geração e aquelas que seguirão à


nossa: a Terra é suficiente para cada geração desde
que esta estabeleça uma relação de sinergia e de
cooperação com ela e distribua os bens e serviços
com equidade. O uso desses bens deve se reger pela
solidariedade generacional. As futuras gerações
têm o direito de herdarem uma Terra e uma natureza
preservadas.

A sustentabilidade se mede pela capacidade de


conservar o capital natural, permitir que se refaça e
ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido
para as futuras gerações. Esse conceito ampliado e
integrador de sustentabilidade deve servir de critério
para avaliar o quanto temos progredido ou não rumo
à sustentabilidade e nos deve igualmente servir
de inspiração ou de idéia-geradora para realizar a
sustentabilidade nos vários campos da atividade
humana. Sem isso a sustentabilidade é pura retórica
sem consequências. (LEONARDO BOFF, 2012).

Elimar Pinheiro do Nascimento (2012) leciona que a


geração da consciência ambiental resultou na proposta pelo
Ecodesenvolvimento implantada na Conferência de Estolcomo,
em 1972, com base na existência do eixo ambiental global que
foi devidamente registrado diante da poluição nuclear provocada
pelos países detentores de poder atômico; do uso de pesticidas

028
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

e inseticidas químicos largamente utilizados e as chuvas ácidas


sobre os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e
Suécia) e, mais tarde, devido à crise do petróleo.

Diante das definições do termo sustentabilidade é possível


perceber que o ecodesenvolvimento envolve a reconciliação da
sociedade moderna com a preservação do meio ambiente natural
e com a melhoria da qualidade de vida e, ainda que o crescimento
econômico deve ser replanejado para atender, primeiramente, às
diretrizes acerca da sadia qualidade de vida e, depois, às inúmeras
razões pelas quais foi potencializado:

O Relatório Brundtland reconheceu que para buscar


soluções para o desenvolvimento sustentável seria
imprescindível tomar consciência do fato de que os
problemas sociais e ambientais são interconectados
e reconhecer que as perturbações ambientais não
são restritas a propriedades particulares ou limites
geográficos, que catástrofes experimentadas em uma
determinada região do mundo, consequentemente,
afetam o bem-estar de pessoas em todas as localidades
e que apenas sobre abordagens sustentáveis
do desenvolvimento se poderá proteger o frágil
ecossistema do planeta e promover o desenvolvimento
da humanidade. O documento ainda propôs algumas
medidas a serem adotadas pelas nações: limitação
do crescimento populacional; garantia de alimentação
em longo prazo; preservação da biodiversidade e dos
ecossistemas; diminuição do consumo de energia e
desenvolvimento de tecnologias que possibilitem o
uso de fontes energéticas renováveis; aumento da
produção industrial nos países não industrializados à
base de tecnologias ecologicamente viáveis; controle
da urbanização e integração entre campo e cidades
menores; e satisfação das necessidades básicas.
(IPEA, 2010, p. 28)

As políticas públicas ambientais não podem ser entendidas pelo homem

moderno como obstáculos ao desenvolvimento das sociedades atuais e,

sim, devem ser vistas como recurso/meio de solução para os problemas

ligados ao meio ambiente, já que a gestão ambiental racionaliza

tecnicamente e cientificamente a exploração dos recursos naturais do qual

029
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

o homem retira todo o crescimento econômico sem, contudo, impactar

negativamente o meio ambiente.

O Meio Ambiente é patrimônio da geração presente e das futuras


e, por constituir um bem essencial à sadia qualidade de vida e à
manutenção do ecossistema existente, faz-se necessário elaborar
um registro significativo de mudanças na atitude da sociedade
moderna em relação ao quadro da degradação ambiental.

Ainda não houve a internalização das informações fornecidas pelos


líderes e/ou governantes a respeito do desenvolvimento sustentável
por apresentarem incertezas e gerarem muitas contradições. A
mutilação ao meio ambiente natural continua a ocorrer em todo
o mundo, desde a industrialização, já que a dimensão política do
desenvolvimento sustentável não foi considerada, assim, as formas
de degradação continuam gerando impactos negativos ao meio
ambiente, impedindo a equidade social e, ainda, gerando mais
desigualdades e mazelas sociais.

Na realidade atual, os projetos de desenvolvimento não comungam


com as políticas públicas ambientais implantadas na gestão
ambiental, pois priorizam o crescimento econômico, sem
observarem o desequilíbrio ecológico que produzem e o grande
número de problemas sociais que geram.

A manutenção do ambiente saudável só é possível com o equilíbrio


do ecossistema que é meta do ecodesenvolvimento, mas que não é
priorizado devido à própria dinâmica mundial que estabelece valores
econômicos, sem assegurar a observância dos princípios e valores
humanos. Há o discurso e defesa teórica da vida, mas no cotidiano
prático se destaca e se prioriza- o crescimento econômico.

Para haver sustentabilidade, as comunidades mundiais precisam


estar atentas para o desenvolvimento de atitudes que registrem
o consenso de que a população mundial é solidária na busca da
resolução dos problemas considerados comuns e que unirá forças

030
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

para gerar iniciativas em prol da resolução das causas de seus


problemas existenciais tão afetados por decisões que priorizam
o econômico sem gerar o equilíbrio dos demais fatores sociais,
políticos e ambientais.

As comunidades serão sustentáveis se houver mobilização


para assegurar que os direitos sejam aplicados de acordo com
os tratados estabelecidos mundialmente e como previsto no
ordenamento jurídico, com a efetiva participação da comunidade
nas decisões dos Estados. As políticas públicas precisam ser
implantadas para que atendam aos interesses públicos e para que
haja uma melhor distribuição da riqueza produzida no mundo.

As políticas públicas devem ser vistas como ações praticadas


pelos Estados em suas áreas de atuação para que o meio ambiente As políticas
receba o devido tratamento como bem público de uso comum e públicas precisam
ser implantadas
para defesa da qualidade de vida como meta que compatibilize os
para que atendam
objetivos de desenvolvimento político-econômico-social-urbano e aos interesses
tecnológico, impedindo a má utilização dos recursos ambientais e, públicos e para que
ainda, a busca por inovações que beneficiem a qualidade de vida.
haja uma melhor
distribuição da
riqueza produzida
no mundo.

O compromisso prescrito na Carta Magna do país é o de gerar a sadia

qualidade de vida para a população diante do desafio atual que é o de

desenvolver de forma sustentável, já que a finitude dos recursos ambientais

é possível diante do tipo de industrialização da produção realizada pela

sociedade moderna, que consome sem medida e desperdiça em grandes

proporções afetando, significativamente, o meio ambiente.

Diante das incertezas e das contradições firmadas pela interrelação


humana em nosso país, a nova proposta apresentada pela
Constituição Federal traz esperanças de firmar o desenvolvimento
sustentável e participarmos das decisões mundiais para
contribuição e discussão dos problemas comuns na tentativa de

031
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

alcançar a sadia qualidade de vida todos com o respeito ao meio


ambiente.

Conceito de
Qualidade de Vida
e Desenvolvimento
Sustentável
Em conformidade com a prescrição constitucional contida no caput
do artigo 225, sabemos da importância do entendimento por parte
da sociedade quanto ao conceito de qualidade de vida.

A Constituição
A qualidade de vida tornou-se assunto recorrente na sociedade Federal não
contemporânea, pois, passou a ser a “sadia qualidade de vida” objetiva apenas
uma proposta constitucional que garante a dignidade humana, ou à qualidade, mas
inova ao buscar
seja, se estabeleceu o novo padrão sadio como guia de nossas
um padrão
atitudes e comportamentos para alcançar a qualidade de vida, elevado, firmado
que é conceituada de diversas formas pelas várias áreas do por meio do termo
“sadia”.
conhecimento humano. A Constituição Federal não objetiva apenas
à qualidade, mas inova ao buscar um padrão elevado, firmado por
meio do termo “sadia”.

O conceito de qualidade de vida abrange variáveis que podem ser


distintas quando o foco da análise do conceito é alterado:

Suas definições na literatura especializada apresentam-


se, tanto de forma global, enfatizando a satisfação
geral com a vida, como dividida em componentes,
que, em conjunto, indicariam uma aproximação
do conceito geral. A forma como é abordada e os
indicadores adotados estão diretamente ligados aos
interesses científicos e políticos de cada estudo e
área de investigação, bem como das possibilidades de
operacionalização e avaliação. Dependendo da área de
interesse o conceito, muitas vezes, é adotado como
sinônimo de saúde (MICHALOS, ZUMBO & HUBLEY,
2000; SCHMIDT, POWER, BULLINGER & NOSIKOV,

032
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

2005), felicidade e satisfação pessoal (RENWICK


& BROWN, 1996), condições de vida (BUSS, 2000),
estilo de vida (NAHAS, 2003), dentre outros; e seus
indicadores vão desde a renda até a satisfação com
determinados aspectos da vida (2012, 241)

Sob o aspecto da política pública ambiental, há necessidade da


realização da gestão ambiental, pelo fomento das políticas públicas
ambientais, no sentido trazido pelo legislador pátrio que interligou
a sadia qualidade de vida com a integração do homem com o meio
ambiente ecologicamente equilibrado.

De tal maneira, o ordenamento jurídico firmou que o Estado e a


coletividade possuem o dever de aplicar a gestão ambiental para o
alcance do bem-estar e do bem viver.

Em nosso país,
Inúmeros são os estudos e as pesquisas desenvolvidas que
firmou-se o direito
comprovam a necessidade do homem moderno transformar os fundamental e
seus valores humanos universais, oportunizando a construção da humano de que
o meio ambiente
qualidade de vida no planeta Terra que acolhe a nossa existência.
é o novo bem, o
novo patrimônio
Em nosso país, firmou-se o direito fundamental e humano de que o de uso comum e
meio ambiente é o novo bem, o novo patrimônio de uso comum e essencial à sadia
qualidade de vida.
essencial à sadia qualidade de vida. Firma-se o reconhecimento do
bem comum nos esforços das governanças, no sentido de aplicar
a gestão ambiental para reconstrução de nossas comunidades/
cidades para cidades sustentáveis como está estabelecido na Lei
do Estatuto das Cidades de nº 10.257/2001.

Nahas (2003) afirma ser qualidade de vida

“a condição humana resultante de um conjunto


de parâmetros individuais e socioambientais,
modificações ou não, que caracterizam as condições
em que vive o ser humano” (NAHAS, 2003, p.14).

No Glossário Temático desenvolvido pelo Ministério da Saúde


(BRASIL, 2012), define-se “qualidade de vida” como:

033
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Grau de satisfação das necessidades da vida humana


– como alimentação, acesso à água potável, habitação,
trabalho, educação, saúde, lazer e elementos materiais
– que tem como referência noções subjetivas de
conforto, bem-estar e realização individual e coletiva.
Notas: i) Deve-se levar em consideração três aspectos:
Histórico – uma determinada sociedade tem um
parâmetro de qualidade de vida diferente da mesma
sociedade em outro momento histórico; Cultural
– os valores e necessidades são construídos e
hierarquizados diferentemente pelos povos, revelando
suas tradições; Estratificações ou classes sociais
– em sociedades em que as desigualdades e as
heterogeneidades são muito fortes, os padrões e as
concepções de bem-estar são também estratificados.
Assim, a ideia de qualidade de vida está também
relacionada ao bem-estar das camadas superiores e à
passagem de um limiar a outro. ii) Na concepção da
qualidade de vida, é importante levar em consideração,
também, valores não materiais, como: amor, liberdade,
solidariedade, inserção social, realização pessoal,
felicidade (BRASIL, 2012, p. 29)

A proposta do desenvolvimento sustentável trazida aqui objetiva


o alcance da reconstrução do meio ambiente com a gestão
ambiental, para que se efetive o equilíbrio ambiental que propicia
bens essenciais aos seres que na Terra habitam.

Políticas Públicas e
Pertencimento
As políticas públicas são decisões de governo que refletem na vida
dos cidadãos em várias áreas da vida em sociedade, sendo, então,
consideradas como o governo em ação em prol da sociedade.

A política pública resulta do compromisso político-econômico-


social e ambiental das decisões da governança em articulação
com a sociedade civil, que ao registrar os seus interesses e suas
necessidades, faz com que o governo atue para selecionar a
construção das ações, metas e projetos a serem implementados.

034
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

É atribuição do Estado implementar e dar continuidade aos


projetos denominados políticas públicas, objetivando cumprir as
determinações prescritas no ordenamento jurídico e realizar ações
para atender às necessidades da população que serão fomentadas
e implantadas como políticas públicas, por serem traçadas em
parceria com a população que se mobiliza para pleitear a ação
eficaz do Estado.

As políticas públicas possuem as seguintes características:

• resultam sempre da articulação política da governança/


governabilidade e a sociedade civil organizada;

• possuem caráter imperativo;

• são revestidas do poder das autoridades que representam


o poder legítimo e advém como resultado da vontade do
Estado e da sociedade civil organizada.

A Constituição Federal, ao nomear o meio ambiente como


patrimônio comum do povo, faz com que o Poder Público venha
a oportunizar a mobilização popular no sentido de fazer com que
a sociedade civil reveja os seus valores quanto à exploração dos
recursos ambientais para a construção de um desenvolvimento
nos moldes sustentáveis ditados para a construção de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado.

Há o reconhecimento de modernização dos valores culturais


ambientais no sentido de que o cidadão se apodere do novo bem,
do novo patrimônio – o meio ambiente, e o valore, porque se trata
de um bem que é essencial para a sadia qualidade de vida.

A consciência ecológica no traz a necessidade de refletir sobre o


pertencimento e o apoderamento, nos saberes implantados na
Educação Ambiental, conforme aponta Cousin (2013):

Para Sá (2005) os homens perderam a capacidade


de pertencimento, em função do atual modelo
de sociedade construído pela lógica capitalista

035
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

globalizada. Segundo essa autora, a transformação


desse padrão é um problema educacional, pois se
trata de fazer emergir do inconsciente coletivo da
humanidade, suas experiências de pertencimento,
trazer para a luz da consciência os conteúdos ocultos
na sombra de nossa solidão como partes desgarradas
de um mundo partido. Diz-nos que: A construção da
noção de pertencimento humano exige um passo além,
que permita inscrever a lógica da vida nas condições
específicas do modo de organização da sociedade
humana. Para não cair no reducionismo biológico,
temos que pensar o pertencimento humano ao oikos
e ao socius naquilo que lhe é inerentemente específico,
ou seja, na condição propriamente humana de nossa
identidade cultural. (SÁ, 2005). Para essa autora, o
princípio do pertencimento parece traduzir-se como
uma dialógica entre semelhança e estranhamento.
Traz em seu bojo a questão da subjetividade como uma
dimensão intrínseca do conhecimento vivo e humano,
e que integrá-la é condição de acesso à objetividade,
isto é, à possibilidade de um conhecimento que se sabe
pertencente e se quer compatível com a complexidade
do vivido. O pertencimento pode ser compreendido
como uma crença ou ideia que une as pessoas, e
é expresso por símbolos e valores sociais, morais,
estéticos, políticos, culturais, religiosos e ambientais
dentre outros de um lugar (COUSIN, 2013, p. 10).

O ser humano deve apoderar-se por meio da educação ambiental,


tomando consciência da importância de seus atos para a
coletividade e para a sustentabilidade ambiental. Destaca-se que:

embora a evolução histórica da capacidade das


sociedades humanas de transformar a natureza
tenha sido marcada cada vez mais por desastres
ecológicos, isto não é inevitável. É possível transformar
radicalmente a natureza, sem, no entanto, desrespeitar
as regras ecológicas básicas. Enfatiza-se, nesse
sentido, a necessidade de não apenas buscar uma
melhor eficiência na utilização dos recursos naturais,
reduzindo drasticamente e/ou eliminando a poluição,
como também a necessidade estabilizar os níveis de
consumo de recursos naturais per capita dentro dos
limites da capacidade de suporte do planeta. Segundo
May (2010), isso só ocorrerá se houver uma mudança
de valores – movimento de educação ambiental
visando esta mudança de valores com base, em última
instância, em considerações de ordem ética. Outros,
entretanto, acreditam que é necessário se repensar
a filosofia do atual sistema econômico vigente
considerando-se a escassez dos recursos naturais, que
ameaça o próprio alcance do crescimento econômico
ilimitado versus a obtenção de um desenvolvimento

036
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

econômico sustentável. No entanto, a determinação


de uma escala sustentável, da mesma forma que uma
distribuição justa da renda, envolve valores outros que
a busca individual de maximização do ganho ou do
bem-estar, como a solidariedade inter e intragerações,
valores estes que têm que se afirmar em um contexto
de controvérsias e incertezas científicas decorrentes
da complexidade dos problemas ambientais globais.
(SANTOS; SANTOS; CARVALHO; 2010, p. 14).

O contexto do Brasil atual é o de implantar em todas as


comunidades a gestão democrática onde a sociedade civil e a
governança possam articular apoderando o pertencer para agir nos
moldes do ecodesenvolvimento, de forma a buscar nas políticas
públicas ambientais alternativas para as soluções dos problemas
que afetam a sadia qualidade de vida.

Captar águas pluviais através dos telhados das casas é uma prática

ecossustentável, que acarreta inúmeras vantagens, dentre elas:

• baixar o custo do fornecimento da água da rede pública;

• reduzir o consumo da água tratada;

• armazenar água em tempos de crise de disponibilidade d’água;

• ajudar a conter as enchentes;

• controlaro desperdício e reutilização da água.

Trata-se de atitudes individuais que produzem diferenças no alto consumo

de água da sociedade moderna.

A captação da água da chuva é uma das formas sustentáveis para a

sociedade resolver o problema da água, considerando o alto custo da

água potável e as baixas dos reservatórios de água na atualidade – que

geram crises cotidianas em cidades inteiras. Trata-se de uma solução que

ataca não só a questão ambiental, mas também é uma ação de economia

financeira ao usuário cidadão.

037
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

A prática traz a possibilidade de as pessoas experimentarem vivenciar

de que a economia da água, por meio de prática barata e sustentável, é

possível e que é benéfica não só para o meio ambiente, mas também para

o bolso do indivíduo.

Revisão
A reflexão quanto aos temas definidos, desenvolvimento,
sustentabilidade, progresso, crescimento, qualidade de vida,
políticas públicas e pertencimento se faz necessária para que seja
feita a verificação da aplicação da lei ambiental brasileira em toda a
sua esfera, que prescreve na gestão ambiental a atuação do Poder
Público e da sociedade civil.

O Estado e a sociedade civil organizada ao articularem diálogos


devem visar à construção do consenso político e, ainda, realizar
a reflexão quanto às práticas reais exercidas pelo cidadão. As
comunidades devem fomentar a criação das políticas públicas
ambientais em cada localidade com a implantação da gestão
ambiental para que haja a concretização por parte de cada cidadão
na implantação de atitudes que venham a ser atendidas em prol do
desenvolvimento sustentável em todo o nosso território.

Ocorrendo a instalação da gestão ambiental em todas as


comunidades do nosso país efetivar-se-á a valoração de nossas
riquezas ambientais e haverá o apoderamento sobre o dever de se
buscar a exploração de nossos ricos dentro das regras normativas
ambientais que visam à realização do ecodesenvolver de maneira
sustentável.

038
unidade 2
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

• A ERA da Estupidez. Filme. Direção: Franny Armstrong. Produção:

Lizzie Gillett. Reino Unido. 2009. DVD (89 min).

• BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Belo

Horizonte: Vozes, 2012.

• BAUMAN, Zygmunt. A Sociedade Individualizada. Rio de Janeiro:

Zahar, 2001.

• FLOW: AMOR pela água. Documentário. Direção: Irena

Salina. EUA. 2008. DVD (83 min). Disponível em: http://www.

cineclubesocioambiental.org.br/filmes/view.php?id=9.Acesso

em: 23 abr. 2016.

039
unidade 2
Relações
étnico-raciais
Introdução

A temática das relações étnico-raciais tem sido frequentemente


abordada pelos mass media, visto que no mundo globalizado
cada vez mais há o confronto de povos e culturas distintas, assim
como se acirram preconceitos e desigualdades dos mais diversos
níveis, tais como: xenofobias, problemas imigratórios e ataques
terroristas.

Situar o tema das relações étnico-raciais no Brasil implica o


reconhecimento da “mistura” que caracteriza a constituição do
que hoje compreendemos como povo brasileiro e desvela as
ideologias subjacentes ao processo de colonização, de ocupação • Identidade,
cultural e etnia
e de constituição identitária de um país marcado pela extensão
• Etinicidades
territorial de dimensões continentais.
brasileiras
• Indigeneidades
Nesse universo multifacetário de ideias, valores e conceitos, cabe
• Revisão
demarcar as principais categorias que iluminam a compreensão
do tema. Assim sendo, no primeiro momento, a presente unidade
dedica-se à explicitação dos conceitos de identidade, cultura e
etnia versus etnicidade. Discernir etnia de raça permite desfazer
uma verdadeira confusão dos espíritos que fomentam a discussão
tanto no meio acadêmico como no cotidiano acerca das relações
estabelecidas pelos indivíduos.

Uma vez lançadas as bases teóricas conceituais, propõe-se discutir


acerca do desafio da convivialidade pacífica e produtiva da rica
diversidade étnico- cultural que constitui o Brasil. Três etnicidades
principais foram eleitas para nortear a presente reflexão, a saber:
a indígena, a branca e a negra. Tal ordem contempla o processo
histórico de ocupação territorial que se efetivou de modo violento
em nosso solo. Somos a expressão étnico-cultural de diversas
violências aqui concretizadas e legitimadas desde os idos dos anos
1.500 d.C.

Por fim, a abordagem crítica do que aqui se denomina


“indigeneidades” possibilita um olhar reconciliador para com o
passado no intuito de se questionar e se estipular parâmetros
éticos comprometidos com a manutenção da diversidade que nos
caracteriza ainda hoje. Aqui recebe destaque a abordagem acerca
do rico legado indígena que compõe o DNA de nossa brasilidade.

Esperamos que você tenha a abertura crítica e curiosa para


empreender uma rica viagem pelo universo múltiplo e, por vezes,
paradoxal e provocativo de todos os encontros e desencontros
responsáveis por tudo o que hoje nos constitui nas perspectivas
identitárias, étnicas e culturais.
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Identidade,
cultura e etnia
Delimitar conceitos destinados à análise das relações humanas
constitui um exercício antropológico-sociológico de se mudar as
lentes de nossos óculos interpretativos e situar historicamente
problemas, modus vivendi e visões de mundo.

A presente exposição propõe o questionamento de alguns


conceitos que, embora já consolidados, carecem de nova aplicação
prática. Acredita-se que esse caminho possibilita uma maior
provocação para que você possa refletir sobre esses assuntos.
Você não precisa necessariamente concordar com as ideais aqui
trabalhadas. Antes importa que compreenda e seja capaz de se Uma rápida
posicionar criticamente perante os temas propostos, desde que consulta aos
dicionários de língua
apresente uma argumentação fundamentada.
portuguesa conduz
à compreensão
Delimitação conceitual Identidade de identidade
como o conjunto
de características
Uma rápida consulta aos dicionários de língua portuguesa conduz próprias e exclusivas
à compreensão de identidade como o conjunto de características de uma pessoa.
próprias e exclusivas de uma pessoa. Essas características são
responsáveis pelo processo denominado pela psicologia como
“individuação”. Nesse processo, a constituição original e originária
do eu perante o outro possibilita as relações, uma vez que situar-
se diante de outro implica o reconhecimento de uma diferença
fundamental, sem a qual não haveria o outro, e sim uma mera
réplica e/ou extensão do próprio eu. Tal conceito remete ainda à
consciência de que o sujeito possui acerca de si mesmo enquanto
identidade pessoal e modo de se dar cotidianamente nas relações
que estabelece à sua volta. De outro modo, a identidade pode remeter
ainda a grupos e a coletividades unidos pelo reconhecimento da
mesma racionalidade que coordena e orienta gostos e ações. Nessa
linha de pensamento, pode-se considerar “identidade” sob diversas

043
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

perspectivas, tais como: identidade de gênero, identidade cultural,


identidade sexual, identidade político-partidária, etc.

FIGURA 1 - A identidade como “marca registrada” constitutiva da


especificidade do indivíduo e das coletividades

Fonte: Arquivo Institucional.

Uma vez que a sociedade muda constantemente, assim também a


identidade sofre contínuas mutações e construções, por meio das
quais indivíduos e grupos vão se definindo a si mesmos na limítrofe
relação e interação simbólico-existencial com outras pessoas.
Curiosamente, o indivíduo faz experiência de si mesmo, não de modo
direto, mas indiretamente ao se situar como alvo analítico de sua
própria reflexão (o que filosoficamente se denomina “a capacidade
de inflexão do sujeito”). Nessa perspectiva hermenêutica, a
construção e o reconhecimento da identidade se fundamentam
na capacidade de o sujeito situar-se perante si mesmo enquanto
caminho e processo de construção de sua narrativa pessoal.

No plano étnico-racial, emerge a tarefa de o indivíduo voltar-se


para si enquanto coletividade e realizar uma leitura crítica da
narrativa que tece a rede das relações formativas e constitutivas
da própria identidade e da cultura, conceito que será explicado
no próximo subtópico. Em resumo, compreende-se “identidade”
como os costumes, os valores e as tradições de um povo, os quais

044
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

reforçam os laços de pertença e de unidade dos membros de uma


comunidade.

Cultura

A literatura atribui a Edward Taylor a criação do conceito de cultura


tal qual como é conhecido hoje. Taylor cunhou a cultura como o
conjunto de crenças, valores, costumes, arte, moral, leis, ou seja,
qualquer capacidade ou habilidade desenvolvida pelo indivíduo em
meio a coletividade. Assim sendo, a cultura representa todas as
atividades e/ou habilidades criadas pelos seres humanos dentro de
uma comunidade. Daí se justifica a afirmação popular, segundo a
qual “gente junta cria cultura”. Isso porque, justamente no jogo das
relações humanas é que a cultura se desenvolve, se solidifica, sofre
transformações e segue transmitida ininterruptamente.

A cultura representa
A cultura representa os elos materiais e simbólicos de união dos
os elos materiais e
povos e como tal deve ser transmitida e preservada. Dessa forma, simbólicos de união
todos os dados culturais, além de elo de inserção social, constituem dos povos e como tal
pontos de difusão e de reforço dos costumes e práticas dos
deve ser transmitida
e preservada.
grupamentos humanos. Integrar determinada cultura significa
conhecer, reconhecer e praticar os valores, os ritos e a rede de
símbolos da coletividade. Por conseguinte, a cultura emerge como
fruto da criação humana expressa por meio de símbolos. Vale
ressaltar que o fato de ser capaz de conferir valor simbólico a
coisas, às situações e/ou às circunstâncias presentes à sua volta
compõe o rol de características fundamentais que diferenciam o ser
humano dos demais animais.

De modo mais abrangente, segundo a clássica definição da


UNESCO:

a cultura deve ser vista como um conjunto de


características espirituais, materiais, intelectuais e
emocionais diferenciadoras de uma sociedade ou de
um grupo social, e que compreende, para além da arte
e da literatura, os estilos de vida, as formas de viver
em conjunto, os sistemas de valores, as tradições e as
convicções (DECLARAÇÃO..., 2012)

045
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Diante do exposto, compreende-se o fato de o conceito de cultura


encontrar- se imbricado à reflexão contemporânea sobre identidade,
diversidade, tolerância e diálogo. Daí o uso comum do termo como
adjetivo ao se falar de identidade cultural, diversidade cultural e
diálogo intercultural, por exemplo. No âmbito político, há amplo
consenso entre as nações de se considerar o respeito à diversidade
cultural, assim como promover o diálogo e a tolerância para com a
diversidade cultural, condição sine qua non de garantia da paz e da
segurança entre as nações do globo.

FIGURA 2 - “Gente junta cria cultura”

Fonte: Arquivo Institucional.

Para finalizar, é importante evidenciar o fato de a cultura assumir


uma diversidade de formas ao longo do tempo e do espaço no qual
atua e se desenvolve. A pluralidade das identidades dos grupos a
constituir a humanidade exerce grande influência nesse processo.
Assim como na natureza, a biodiversidade deve ser preservada,
também a diversidade cultural há de ser protegida e reconhecida
como importante para o desenvolvimento das gerações futuras.

Etnicidade

Paralelamente aos conceitos de identidade e de cultura, propõe-se


refletir criticamente sobre a noção de etnicidade. Para tanto, cabe

046
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

estabelecer e demarcar a distinção aqui apregoada entre etnia e


etnicidade.

Comumente o termo “etnia” é usado para designar grupos sociais


que apresentam características culturais e biológicas homogêneas.
Nesse horizonte, pode ser considerado equivalente à ideia de nação.
Enquanto dispõe de similaridade com o termo nação, etnia implica
a comunhão de tradições, língua, religião, história, características
físicas e cultura. Tal comunhão caracteriza os indivíduos como
participantes de uma comunidade de vida e de valores que se
projetam para o futuro. Nessa digressão, há ainda a necessidade
de se distinguir o conceito de etnia do conceito de raça. O termo
“etnia” deriva do grego ethnikos (adjetivo de ethos) e refere-se a
povo ou à nação. Na contemporaneidade, etnia ainda preserva o
seu valor originário no sentido de descrever e qualificar um grupo
detentor de algum tipo de solidariedade. Nessa perspectiva, um Paralelamente
grupo étnico não se resume à mera congregação de pessoas ou de aos conceitos de
setores populacionais, mas uma congregação de pessoas unidas
identidade e de
cultura, propõe-se
ou efetivamente relacionadas por experiências compartilhadas refletir criticamente
(CASHMORE, 2000). sobre a noção de
etnicidade.

Cabe ressaltar que o conceito de raça, dentro da história da humanidade,

serviu ao propósito de dominação entre seres humanos, “pois a raça é fruto

do poder do Estado que rejeita o princípio da igualdade entre os cidadãos”

(MAGNOLI, 2009, p.16). Assim, o conceito de raça nasce com o objetivo de

justificar a dominação do branco europeu sob os demais povos colonizados,

e, por vezes, escravizados e explorados. A ciência hoje demonstra que não

temos diferenças genotípicas justificáveis para dividir a humanidade em

raças, por isso, somos uma única espécie com várias etnias.

Diante do exposto, consideremos a seguinte situação: no continente

africano, se fala da coexistência de várias etnias com suas tradições e

valores específicos. Por sua vez, no Brasil, paralela a tal noção de etnia

caminha a já consolidada ideia de “raça negra”, enquanto expressão

047
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

comumente utilizada para designar uma coletividade marcada por

conjunto de identidade cultural e de traços físicos mais aproximados. Pela

força histórico-cultural do uso da expressão em um Brasil marcado pela

entrada forçada de várias etnias negras (do séc. XVI ao séc. XIX – período

escravocrata), considera-se legítimo falar de uma raça negra.

Por sua vez, ao se estender o uso de raça para outros grupos sociais

percebe-se o problema contido nessa expressão, como é o caso presente

ao se empregar raça para designar o modo de ser cigano (raça cigana?).

Nesse caso, o correto é dizer etnia cigana, assim como etnias orientais e

não raças orientais, etc.

Ainda problematizando essas questões, a noção de raça se ancora em um

alicerce fundado sobre construções político-sociais e ideológicas em sua

maioria destinadas a advogar a primazia de determinada raça sobre outra e,

desse modo, justificar a dominação da raça considerada superior sobre as

demais.

No intuito de se escapar das amarras semânticas do conceito de raça

deveras já desgastado, opta-se por estabelecer distinção entre etnia e

espécie humana e não raça humana, conceito este mais difundido, porém

caracterizado por albergar o clássico dilema hierárquico entre “raças”.

Espécie humana, por sua vez, refere-se a todos os indivíduos dotados de

racionalidade, noção do certo e do errado e consciência de seu ser-para-a-

morte e pertencente ao mesmo conjunto, à mesma espécie. Ademais, a

ideia de espécie humana favorece a concretização prática do esforço teórico

de, em nome da adoção de práticas comprometidas com a sustentabilidade

da vida, se retirar o ser humano de sua zona de conforto demasiadamente

antropocêntrica. Assim, pode-se falar de uma espécie humana a coexistir

com a espécie animal e a espécie vegetal. Dizer raça humana perante a

espécie animal e ou vegetal fortalece o decadente ideal de supremacia do

ser humano perante os demais seres vivos. Peter Singer, filósofo e bioeticista

australiano, defende que todo animal senciente (capaz de sentir dor) deve

ter seus direitos protegidos, ou seja, uma espécie não deve subjugar a outra

como a humanidade tem feito há séculos em relação a mamíferos e aves,

por exemplo. Singer (2004) ensina que privilegiar a spécie humana em

relação às demais representa uma discriminação injustificada e cruel.

048
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Insiste-se que a diferença existente entre os seres humanos e os demais

seres vivos incute responsabilidade ímpar e intransferível à espécie humana,

a qual deve cuidar, zelar e promover a sustentabilidade da continuidade da

vida.

Em torno do conceito de etnia, edificaram-se posicionamentos críticos que

argumentam que tal conceito não se apresenta devidamente apropriado

para descrever grupos humanos, pelo fato de refletir uma noção arcaica

de “raça” não existente. Nessa perspectiva divergente, a noção de etnia

comporta certa confusão e deve ser abandonada. Em sintonia com a

proposta dos professores Alfonso García Martínez e Juan Saéz Carrera

(1988), prioriza-se aqui a ideia de etnicidade em detrimento da noção de

etnia. Isto porque etnicidade pode ser caracterizada como “o conjunto

de traços físicos e mentais que caracteriza os membros de um grupo,

produto de sua herança comum e de tradições culturais que, por sua

vez, os diferenciam dos indivíduos de outros grupos” (Martinez; Carreras,

1998). A defesa da noção de etnicidade, como aqui se propõe, configura-se

como possibilidade de crítica e de resistência aos ideais que justificam o

etnocentrismo. Para além de mera distinção teórica, encontra-se implícita

uma disputa prática que evoca a implementação de ações comprometidas

com a etnicidade de povos e nações.

FIGURA 3 - A circularidade dos conceitos:


cultura, nação e etnicidade

Fonte: Arquivo institucional.

049
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Como se pode depreender do exposto até o momento, há grande


diversidade de racionalidades culturais, tradições e modos de
ser a interagir. Se, por um lado, a diversidade implica riqueza de
possibilidades; por outro, pode constituir fonte de conflito e de
intolerância.

FIGURA 4 - Todos nós pertencemos a uma única espécie, a


espécie humana que congrega rica diversidade

Fonte: Arquivo institucional.

A abertura pacífica à
diversidade como grande desafio
da pós-modernidade
O complexo universo da pós-modernidade desconcerta o mundo
de certezas que caracterizou a pré-modernidade. O filósofo Hans
Blumenberg, utiliza a imagem do naufrágio para ilustrar a situação
na qual se encontra o sujeito contemporâneo. Para o autor:

O período clássico foi marcado pela experiência da


posse do porto seguro, do contato com a terra firme,
a partir da qual se olhava à distância as intempéries do
mar. A crise da modernidade diminui gradativamente
a distância entre a terra firme e o mar intempestivo.
Inicia-se o processo de dissolução da segurança de

050
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

outrora a ceder cada vez mais espaço à incerteza


(BLUMENBERG, 1985 citado por SALES, 2012, p. 27-
28).

A crise da modernidade conduz à instalação da incerteza


pós-moderna assinalada pela existência de multiplicidade de
interpretações conflitivas. Daí a pós-modernidade caracterizar-se
como período em que o sujeito atual encontra-se em alto-mar, agora
não mais como longínquo espectador (período clássico), mas sim
desafiado a exercer um posicionamento crítico perante o naufrágio
da própria existência. Diante desse cenário, urge construir nova nau
no intuito de se seguir adiante.

A emergência das incertezas afeta a compreensão do ser humano


acerca da realidade e reconfigura a noção de verdade. Enfraquece a
crença em uma verdade dita absoluta.

O complexo universo
da pós-modernidade
Etnicidades desconcerta o
mundo de certezas
brasileiras que caracterizou a
pré-modernidade.

Poucos países do globo possuem composição humana tão


complexa e variada quanto o Brasil. Inicialmente, o povo brasileiro
formou-se de três grandes movimentos e encontros populacionais:

1. a presença dos índios (nativos) que aqui já habitavam;

2. o “descobrimento” e a colonização da América de onde


vieram os brancos europeus;

3. a instalação da sociedade brasileira que acarretou a vinda


dos negros africanos como mão de obra escrava para o
país.

051
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Do encontro das três etnicidades (índios, brancos e negros) formaram-se

as chamadas etnicidades híbridas, isto é, fruto da miscigenação. Assim

temos: os cafuzos (fruto da união entre negros e índios), os caboclos

(união de índios e brancos), os mulatos (resultado da mistura de negros e

brancos) e os pardos (etnicidade oriunda da mistura de brancos, negros e

índios).

FIGURA 5 - Rostos do Brasil

Fonte: Arquivo institucional.

No Brasil, a demarcação da etnicidade da população implica a


autodeclaração do sujeito, ou seja, como este se reconhece. Desse
modo, os pesquisadores/recenseadores do censo (IBGE) perguntam
durante a visita domiciliar qual a cor da pele do entrevistado.

Pela primeira vez em 2011, o censo revelou que a população negra e


parda é maioria no país, compreende cerca de 50,7% da população.
Por sua vez, algumas pessoas acreditam que a população negra

052
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

é ainda maior, dada certa confusão presente no momento da


autodeclaração. Um entrevistado relata o diálogo que desenvolveu
com o pesquisador do censo:

“- Qual a sua cor?

Eu perguntei o que ele achava e ele respondeu que eu é que tinha


que responder qual cor eu preferia, respondi que preferia AZUL, ele
então mudou a pergunta…

– Qual é a sua raça?

Respondi que era negro; ele me olhou de cima abaixo e indagou:

– Mas o senhor... é branco!!!

Eu irritado respondi: Meu amigão, sei que não tem culpa, mas vou
lhe explicar uma coisa…. Sou neto de NEGRA, filho de NEGRA, irmão
de NEGRA e meu tio avó era tão PRETO que chegava a ser AZUL
(cor que tinha dito a ele que mais gostava) e você ainda acha que
sou branco”? A seguir, propõe-se uma breve abordagem acerca
das três principais etnicidades a partir das quais se originou a
população brasileira.

O índio: o primeiro habitante do Brasil


A ideia de um “descobrimento do Brasil” tem sido cada vez
mais rebatida e criticada. Os livros didáticos têm optado pela
substituição do título de “O descobrimento do Brasil” por “A chegada
dos portugueses no Brasil”. Cada vez mais tem se difundido a
consciência das ideologias de dominação e de justificativa da
colonização subjacentes à clássica noção de descobrimento.
Falar de um descobrimento pressupõe o encobrimento e a
negação da existência de povos nativos, os quais aqui habitavam
e desenvolviam valores, cultura, identidade, religiosidade e se
organizavam socialmente.

Por ocasião da chegada dos portugueses ao Brasil, os historiadores


acreditam que existiam aqui “entre 3 milhões e 5 milhões de

053
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

índios, divididos em 1.400 tribos. Havia três grandes áreas de


concentração: litoral, bacia do Paraguai e bacia Amazônica”
(GOULART, 2016). Estima-se também que havia no Brasil cerca
de 1.000 línguas faladas pelos povos indígenas (INTRODUÇÃO...,
2016). Hoje restam apenas cerca de 150 línguas indígenas. O antigo
tupi foi uma das línguas que desapareceram por completo. Isso
porque, “em 1758, o marquês de Pombal, interessado em acabar
com o poder da Companhia de Jesus no Brasil e em aumentar o
domínio da metrópole portuguesa sobre a colônia, proibiu o ensino
e o uso do tupi” (GOULART, 2016).

Apesar de extermínio maciço da população e dos idiomas


indígenas, o legado cultural dos primeiros habitantes de nosso país
se faz presente por meio de hábitos de higiene pessoal, da culinária
marcada pela utilização do milho e da mandioca, do emprego de
inúmeras palavras de origem tupi-guarani e do manuseio de ervas e
plantas medicinais.

FIGURA 6 - O índio

Fonte: Arquivo institucional.

Ainda nesta unidade serão oportunamente abordadas questões


mais específicas sobre estes primeiros habitantes do Brasil e
questões também relevantes para a discussão das relações étnico-
raciais em nosso país.

054
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

A chegada do branco: da colonização à


miscigenação
Tão logo os portugueses chegaram ao Brasil, iniciou-se o processo
de miscigenação, fruto do encontro sexual do homem branco com
a mulher indígena. Inclusive, logo depois da vinda dos negros para o
trabalho escravo, a miscigenação continuou por meio do encontro
do homem branco com a mulher negra. Daí se pode depreender que
as etnicidades brasileiras se constituíram a partir do predomínio
maciço do encontro do homem branco com as mulheres índias e
as mulheres negras. Justamente por dispor de lugar hierárquico
privilegiado na nova sociedade que se formava, o homem branco
podia dispor dos corpos femininos. Tem-se aí a instauração do
machismo e do sexismo no Brasil, evidentemente legitimado e
difundido por meio da propagação da racionalidade judaico-cristã.
Donde se conclui que o cromossomo Y europeu foi o grande
responsável pelo processo inicial de miscigenação no Brasil.

FIGURA 7 - Cristóvão Colombo e a “descoberta” do Novo Mundo

Fonte: Arquivo institucional.

O negro: da escravidão à luta pela


igualdade
O Brasil amarga o fato de ter sido o último país das Américas a
decretar a abolição de seus escravos. Mesmo com a lei de 1831, a

055
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

qual proibia o tráfico de negros para o Brasil, a chegada de navios


com os futuros escravos continuou a todo o vapor, mediante o
conhecimento e a permissividade das autoridades.

Com esse gesto inaugural de impunidade, que viria a se incrustar a


posteriori na sociedade brasileira, o governo brasileiro anistiava, a
partir de 1850, os culpados pelo crime de sequestro de africanos,
fazendo vista grossa ao crime correlato de escravização de pessoas
livres. Com isso, os quase 800 mil africanos desembarcados até
1856 — e a totalidade de seus descendentes — continuaram sendo
mantidos ilegalmente na escravidão até 1888, ao mesmo tempo
em que aumentava o tráfico interno em direção ao Sudeste e ao
Sul, que ganhavam novo dinamismo econômico em detrimento do
Nordeste. Assim, boa parte das últimas gerações de seres humanos O Brasil foi
escravizados no Brasil não era escrava de jure (FABBRI; RIBEIRO, construído e se
2016). desenvolveu
(lavouras,
edificações,
O Brasil foi construído e se desenvolveu (lavouras, edificações, cidades) pelas mãos
cidades) pelas mãos e pelo suor dos povos africanos, considerados e pelo suor dos
os braços e as pernas dos senhores de engenho. Não houve, na
povos africanos,
considerados os
época da escravidão, a preocupação para a ocupação do solo, braços e as pernas
para os estudos/alfabetização e para as políticas de natalidade. As dos senhores de
próprias escolas nas fazendas de engenho eram muito precárias e engenho.
a educação formal estava acessível a uma pequena elite. Assim, o
país continental favoreceu a existência de uma leva de analfabetos,
fato que ainda persiste nos dias de hoje.

O Brasil, em razão de sua dimensão e da ausência de preocupação


com a reprodução biológica dos negros, foi o maior importador
de escravos das Américas. Estudos recentes estimam em quase
10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo,
entre os séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de
3.650.000 (V.V.A.A., 1988). Todo esse contingente humano viu-
se desempregado e desamparado após a abolição da escravidão
em 1888. A conquista da liberdade trouxe à tona outra questão:
liberdade para quê? Configurou-se desde aí certa liberdade para

056
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

lutar por efetiva liberdade e igualdade de direitos e de deveres


perante o Estado.

FIGURA 8 - A luta pela igualdade!

Fonte: Arquivo institucional.

O Brasil amarga
A dificuldade de acesso ao ensino superior, o recebimento de o fato de ter sido
o último país das
menores salários e a ocupação de postos de trabalho menos
Américas a decretar
importantes constituem a mola propulsora da ainda vigente luta a abolição de seus
pela igualdade, mesmo após mais de um século de “libertação”. escravos.

Indigeneidades
As populações indígenas no Brasil, à época do “descobrimento”,
variavam em torno de 3 a 5 milhões de habitantes divididas em 5
grandes povos, a saber: xavantes, caraíbas, tupis, jês e guaranis.
Tais povos se encontravam distribuídos por todo o território
nacional e apresentavam existência predominantemente nômade,
migrando sempre que se tornavam escassos os recursos naturais
à sua volta. Dada à riqueza de recursos naturais e ao clima tropical
típicos do Brasil, nossos indígenas não tiveram preocupação
com o desenvolvimento de técnicas de plantio, cultivo do solo,
armazenagem de alimentos e construção de edificações dedicadas
que suportavam o frio e os abalos sísmicos (não frequentes no

057
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Brasil). Tal foi o caso dos indígenas habitantes do Peru, nosso país
vizinho, os quais foram forçados a enfrentar o frio, terremotos e
escassez de água em determinados lugares. Tais adversidades
demandaram a criação de técnicas de irrigação, construção de
celeiros e de edificações de pedra.

FIGURA 9 – Pintura corporal, uso de diversidade de adereços e


variedade de modificações corporais constituem o modo de ser
dos índios, nossos ancestrais

Fonte: Arquivo institucional.

A sociedade indígena aqui no Brasil encontrava-se organizada


em torno de duas figuras de autoridade: o cacique (o chefe
administrativo e político da comunidade) e o pajé (liderança religiosa
e curandeiro da tribo). A divisão do trabalho obedecia a questões de
gênero e etárias. Às mulheres cabiam a criação dos filhos, o plantio
e o preparo dos alimentos; já aos homens recaía o dever de caçar
e de proteger a tribo. A alimentação era à base de peixes, frutos
(coletados da floresta) e agricultura de subsistência, baseada no
cultivo de mandioca e de milho.

A herança indígena brasileira


A alquimia medieval utilizava o conceito de afinidade para explicar a
atração e a fusão a se dar entre os corpos. O sociólogo Max Weber

058
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

difunde o conceito de afinidade eletiva, compreendendo afinidade


como “a força em virtude da qual duas substâncias diversas ‘se
procuram, unem-se e se encontram’ em um tipo de casamento”
(WEBER citado por LÖWY, 2011, p. 30).

A cultura brasileira atual apresenta-se devedora do modo de ser


dos povos indígenas. Diante do exposto, cabe falar da presença
de uma afinidade eletiva entre o que somos hoje e como eram
os indígenas aqui residentes. Tal afinidade pode ser percebida na
língua por nós falada, a qual herdou várias palavras das línguas
indígenas, como por exemplo: “abacaxi”, “arapuca”, “arara”, “capim”,
“catapora”, “cipó”, “cuia”, “cumbuca”, “cupim”, “jabuti”, “jacaré”,
“jiboia”, “jururu”, “mandioca”, “mingau”, “minhoca”, “paçoca”, “peteca”,
“pindaíba”, “pipoca”, “preá”, “sarará”, “tamanduá”, “tapera”, “taquara”,
“toca”, “traíra”, “xará”. Alguns nomes de Estados e cidades também
conservam tal afinidade. Dentre as cidades tem-se: “Araçatuba” (SP),
A cultura brasileira
“Araraquara” (SP), “Araguari” (MG), “Gravatá” (PE), “Gravataí” (RS). atual apresenta-se
Na culinária, a presença indígena mostra-se muito forte e marca devedora do modo
presença em todo o país. A mandioca é um grande exemplo dessa
de ser dos povos
indígenas.
herança, a qual compunha a base do cultivo agrícola e da culinária
indígena e hoje marca presença em vários pratos tradicionais
brasileiros como bolos, pães, doces,farinhas, etc. Acrescente-se
ainda o uso do milho, do guaraná e do amendoim.

Em termos de higiene pessoal, os brasileiros herdaram dos índios o


hábito de se banharem, eventualmente mais de uma vez ao dia. Os
indígenas possuíam grande afeição para com as águas. Nadavam,
pescavam e se banhavam diariamente, comportamento tipicamente
original das populações das regiões tropicais. O encontro do índio
com o português ocasionou grande estranhamento por parte dos
índios, os quais repugnaram o odor exalado pelos corpos dos
europeus, pouco afeitos ao banho.

059
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

FIGURA 10 - A vida indígena em sintonia com a natureza

Alguns valores
indígenas hoje
carecem de ser
resgatados, como é
o caso do cuidado
do índio para com a
Fonte: Arquivo institucional. natureza.

Alguns valores indígenas hoje carecem de ser resgatados, como


é o caso do cuidado do índio para com a natureza. Os índios não
matavam para acumular riquezas, pescavam apenas o necessário
para a subsistência, deixavam descansar o solo cultivado por anos
seguidos e confeccionavam seus cocares com penas recolhidas do
chão das florestas. Atitudes extremamente sustentáveis que hoje
devem orientar o agir do ser humano.

A situação do índio no Brasil de hoje


Atualmente há no Brasil somente cerca de 400 mil índios, pois a
maioria foi ao longo do tempo dizimada, escravizada e massacrada
mediante o contato com o homem branco. Grande parte dos
indígenas remanescentes integrou-se à vida atual e já incorporaram
muitos hábitos das cidades. Assim sendo, os índios sobreviventes
em sua maioria encontram-se marcados pela mescla de culturas
e já distantes de sua identidade originária. Muitos só falam o
português e vivem totalmente adaptados à vida na cidade.

060
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

FIGURA 11 - Os índios ontem e hoje

Fonte: Arquivo institucional.

Por sua vez, alguns indígenas brasileiros ainda seguem suas vidas
isolados nas entranhas da floresta amazônica e sem nenhum
contato com o mundo exterior. “Acredita-se que existam pelo
menos 77 grupos de índios isolados na parte brasileira da floresta
amazônica” (OS INDIOS..., 2016).

Infelizmente tais povoamentos encontram-se ameaçados de


extinção pela extração ilegal de madeira e pela invasão de terras
protagonizada por fazendeiros. Assim como por ocasião da
chegada dos portugueses, nos dias de hoje o contato com os
madeireiros, os fazendeiros e o turismo ilegal expõe os indígenas ao
contato com doenças para as quais seu sistema imunológico não
possui anticorpos e não foi treinado para se defender.

A vida indígena segue ameaçada, apesar da existência de legislação


protetiva e de órgãos como a FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Há de se resgatar o imperativo ético do cuidado para com a vida
como norteador de práticas e ações comprometidas com nossos
ancestrais. Um país sem respeito à sua história e sem valorização
de sua memória demonstra a carência de uma educação eficiente
na difusão de valores críticos capazes de limitar a expansão da
lógica capitalista a negar a vida em detrimento do lucro.

061
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Desvendar as matrizes originárias do que somos hoje e nos constitui

em termos de etnicidade, cultura e demais identidades possibilita a

autocompreensão da complexa e rica mistura que nos caracteriza. Na

prática, provoca as etnicidades brasileiras de hoje a lançarem novo olhar

sobre as danças, músicas, festas, comidas, religiosidades e práticas de

expressão e de adornos corporais.

FIGURA 12 - As diversas etnicidades e faces culturais a compor


um único país

Fonte: Arquivo institucional.

A possibilidade de abertura à convivência harmoniosa com a

diversidade implica necessariamente o reconhecimento de uma herança

identitária comum a todas as etnicidades hoje existentes no Brasil.

Tal reconhecimento pode ser a base para a superação de estigmas e

de preconceitos a apregoar, ainda hoje, a supremacia de determinada

etnicidade sobre outra. Tal afirmação também se aplica ao campo das

artes, da cultura, da culinária, etc. Vale ressaltar que muitas práticas e

hábitos agora considerados marginais, se considerada a cultura dominante

como referência, já foram um dia expressões humanas majoritárias/

aceitas e hoje circulam no âmago do DNA constitutivo de todo o povo

brasileiro.

062
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Revisão
Conceitos fundamentais:

• identidade: os costumes, os valores e as tradições de um


povo, os quais reforçam os laços de pertença e de unidade
dos membros de uma comunidade;

• cultura: elos de pertença de um povo expressos por meio


de símbolos e de representações sociais;

• etnicidade: o conjunto de traços físicos e mentais que


caracteriza os membros de um grupo, produto de sua
herança comum e de tradições culturais que, por sua vez, o
diferencia dos indivíduos de outros grupos.

Etnicidades originárias do povo brasileiro:

• o indígena;

• o branco;

• o negro.

Indigeneidades:

• as populações indígenas, na época do descobrimento,


variavam em torno de 3 a 5 milhões de habitantes divididas
em 5 grandes povos: xavantes, caraíbas, tupis, jês e
guaranis distribuídos por todo o território nacional;

• legado transmitido: afinidade eletiva presente na língua, na


cultura, nos hábitos e costumes e na culinária.

063
unidade 3
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

BARBUJANI, G. A invenção das raças. São Paulo: Contexto, 2007.

CARVALHO, J. J. Inclusão étnica e racial no Brasil: a questão das cotas no

ensino superior. São Paulo: Attar Editorial, 2005.

FLORESTAN, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo:

Ática, 1978.

SOARES, S.; OSÓRIO, R. G.; JACCOUD, L. As políticas públicas e a

desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Brasília: IPEA,

2008.

OBAMA, B. A audácia da esperança. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.

ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense:

1994.

ZARUR, G. de C. L. A utopia brasileira: povo e elite. Brasília: Abaré/Flasco,

2003.

064
unidade 3
Cultura
Brasileira e
Afrodescendente
Introdução

Os caminhos de construção da identidade e da alteridade (o “eu”


perante o “outro”) no contexto histórico-político-social brasileiro
apresentam-se bastante complexos e orientados para gerar e para • A Presença
da Cultura
legitimar desigualdades. Afrodescendente
na Constituição
da Identidade
No intuito de se compreender de modo crítico a exclusão das
etnicidades afrodescendentes e os esforços de homogeneização, • Racismo
Científico,
ou segregação étnico- cultural-racial, faz-se necessário situar essas Racismo
questões junto ao seu processo constitutivo. Institucional e
Racismo Cultural

Para início de conversa, algumas delimitações teóricas se • Racismo X


Injúria Racial
apresentam necessárias. O conceito de “raça” encontra-se deveras
• Revisão
inadequado, como já se tem insistido. Os avanços da biologia
demonstraram que as diferenças genotípicas não permitem que
se fale de diversidade de raças. Há na verdade uma única raça, a
raça humana, a qual aqui se opta por nomear de espécie humana,
já que se intenta um distanciamento concreto do radical a remeter
ao racismo (raça). Por sua vez, esta unidade, destinada a discutir a
questão da etnicidades negras no Brasil, reconhece e não se opõe
ao uso do termo “raça” para referir-se às etnicidades africanas
(comumente nomeada como raça negra). Isso porque, em nosso
país constitui motivo de orgulho o uso da expressão “raça negra”
no intuito de se caracterizar pertença a uma identidade específica
quando para se referir aos cidadãos de origens afrodescendentes. O
uso corrente da junção destas duas palavras (“raça” + “negra”) pelos
próprios afrodescendentes no esforço de narrarem a si mesmos
enquanto cultura, religiosidade e identidade conferiu sentido
positivo à expressão e valor semântico desprovido de preconceitos,
ou prejuízos para a compreensão do que constitui ser negro no
Brasil. A expressão “raça negra” evoca a afirmação positiva de uma
identidade na luta ininterrupta por respeito e reconhecimento.

Ao se falar de “etnicidades afrodescendentes”, utiliza-se o plural


pelo fato de terem desembarcado no Brasil negros oriundos de
diversas regiões da África. Todos pertencentes à mesma espécie,
a espécie humana, porém distintos entre si por alguns atributos
físico-biológicos, pelos costumes e pela cultura.

Diante do exposto, a presente viagem tem início com a afirmação


da presença da cultura afrodescendente na constituição da
identidade brasileira. Em seguida, problematiza-se a reação
da etnicidade dominante perante os afrodescendentes e a
consequente propagação do racismo. Conceituar o racismo e as
subdivisões mais conhecidas como o racismo científico, o racismo
institucional e o racismo cultural permitem a realização de uma
crítica sistemática à realidade ainda presente nos dias de hoje. Por
fim, delimita-se a distinção entre racismo e injúria racial, no dúplice
intuito de se denunciar problema persistente e de se educar para a
superação de preconceitos e de discriminações.
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

A Presença da Cultura
Afrodescendente
na Constituição da
Identidade Brasileira
Os povos indígenas foram os habitantes nativos e originários das
terras do pau-brasil, e os europeus desbravaram os mares e aqui
chegaram para colonizar, cristianizar e dominar.

Os negros, capturados e vendidos como animais, foram trazidos


pela força coercitiva do branco e aqui chegaram para serem
escravizados. As etnicidades procedentes do continente africano
logo se tornaram as mãos e os pés dos senhores de engenho e a
força motora da extração de pedras preciosas e da construção de
vias e cidades do Brasil colônia.

Dos navios negreiros às senzalas; das senzalas à casa grande; da


casa grande à senzala; da casa grande e da senzala para todas as
partes do Brasil.

Nesse trânsito marcado por exploração, a negação da dignidade e


a negação de direitos, deu-se o encontro do negro com o branco e
com índio. Mistura e miscigenação de identidades, culturas, valores
e etnicidades que configuraram a constituição do povo brasileiro.

O universo de valores, de crenças e de identidades dos grupos


populacionais advindos da África, como: religiosidade (candomblé,
umbanda, sincretismo), capoeira, músicas (afoxé, samba), danças,
etc. adentraram as entranhas do que culminou por constituir a
miscigeneidade do DNA da identidade brasileira.

068
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Para saber mais acerca da presença da cultura afrodescendente junto à

formação e constituição da cultura brasileira consulte: MATTOS, R. A. de.

História e cultura afro-brasileira. 2. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

Como reação negativa ao encontro com as etnicidades afrodescendentes,

afloraram e se enraizaram preconceitos e discriminações em terras

brasileiras. Acirraram-se desigualdades e hierarquização de etnicidades

e modos de ser. Consolidaram-se formas dominadoras de garantia da

primazia de determinados grupos sobre outros e da manutenção do

status quo da sociedade recém-esboçada e ainda por ser definida e

desenhada. Historicamente, acumulou-se um débito impagável para com

as etinicidades africanas e o país amarga até hoje o fato de ser a última

nação latino- americana a dar cabo da escravidão.

FIGURA 13 - Abolição? No Brasil?

Fonte: Arquivo institucional.

Ainda que oficialmente a escravidão tenha sido abolida no Brasil


em 1888, até hoje as etnicidades afrodescendentes carecem
de real garantia de direitos e de condições igualitárias de acesso
à educação, aos postos de trabalho e ao reconhecimento de sua
dignidade perante a sociedade.

069
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Pelo fato de ainda hoje constituir dilema a tecer a rede de relações


sociais no Brasil, esta unidade opta por dar maior ênfase à questão
da negação da alteridade encarnada em nosso meio mediante a
degradação e redução da dignidade do outro pelo simples dado de
uma diferença de pigmentação da pele.

Lançar luzes sobre as relações de conflito existentes entre as


etnicidades branca e afrodescendente não significa aqui reduzir
o valor da riqueza emergente do legado das etnicidades africanas
a percorrer as veias do Brasil. Antes, implica trazer à tona um
problema que carece de ser devidamente situado e superado, se se
pensa em uma educação comprometida com a práxis de libertação
e de transformação da sociedade, bem como com a formação da
consciência crítica e cidadã.

Em memória à escravidão, ao comércio transatlântico de escravos e à luta

pelo reconhecimento da igualdade e da dignidade entre os seres humanos,

a Organização das Nações Unidas (2011) propôs a Década Internacional

dos Povos Afrodescendentes: “Povos afrodescendentes: reconhecimento,

justiça e desenvolvimento” (2015-2024).

Ao declarar esta Década, a comunidade internacional


reconhece que os povos afrodescendentes
representam um grupo distinto cujos direitos humanos
precisam ser promovidos e protegidos. Cerca de
200 milhões de pessoas autoidentificadas como
afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros
milhões vivem em outras partes do mundo, fora do
continente africano (ONU, 2011).

A difundida atitude de marginalização e de diminuição do negro como ser

humano convencionou-se chamar de “racismo”. O termo “racismo” origina-

se de raça enquanto categoria utilizada até recentemente para designar as

diferenças biológicas, étnicas e culturais entre povos. A compreensão do

que se define como racismo possibilita a demarcação da situação ainda


vivenciada hoje. Nesse intuito, propõe-se a conceituação de racismo e

apresenta-se uma subdivisão do racismo já bastante consolidada no meio

acadêmico.

070
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Racismo Científico,
Racismo Institucional e
Racismo Cultural
O racismo (ou discriminação racial) pode ser classificado como
o resultado de diferentes teorias pseudocientíficas (regadas por
ideologias não comprovadas), as quais afirmam a existência de
diversas “raças” a compor a espécie humana e as classificam em
vistas do estabelecimento de uma determinada ordem hierárquica
a satisfazer os ditames da ideologia dominante, a qual determina
o que há de ser considerado como paradigma dentro de uma
sociedade.

Por racismo compreende-se a atitude ou ação do indivíduo ao afirmar a

superioridade moral, intelectual ou biológica da etnicidade à qual pertence

sobre as demais etnicidades em jogo. O racismo tem

profundas raízes cultivadas no colonialismo e na


escravidão, e se nutre diariamente com o medo, a
pobreza e a violência. São raízes que se infiltram de
forma agressiva em cada aspecto da vida – desde
o acesso à educação e alimentos até a integridade
física e a participação nas decisões que afetam
fundamentalmente a vida de cada pessoa (ONU, 2011).

O racismo sofrido pelos negros no Brasil vem sendo praticado desde


a chegada forçada das etnicidades afrodescendentes em nosso
país, já que aqui aportaram para serem escravizados. Assim sendo,
a escravidão negra constitui a mais extrema das manifestações de
opressão racial ao longo da história brasileira.

A profunda desigualdade racial entre negros e brancos em


praticamente todas as esferas sociais brasileiras é fruto de mais
de quinhentos anos de opressão e/ou discriminação racial contra

071
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

os negros, algo que não somente os conservadores brasileiros, mas


uma parte significativa dos progressistas recusam-se a admitir.

Assim, a discriminação racial e seus efeitos nefastos construíram


dois tipos de cidadania neste país, a negra e a branca (SALES, 2015,
p. 13).

A não admissão da existência do racismo ou da discriminação


racial no Brasil conduz à inconteste ideologia da democracia racial,
já consolidada no imaginário da população brasileira. Tal ideologia
baseia-se na crença segundo a qual o Brasil não vivencia o racismo
e a discriminação racial já manifestados em outros países, como
nos Estados Unidos. Camufla a relação de poder existente entre a
população considerada branca e a população considerada negra. A não admissão
da existência do
A tese de fundo aqui é a seguinte: “não há racismo no Brasil, pois
racismo ou da
todos somos mestiços”. Com essa atitude, tende a tornar natural discriminação
e legitimar o lugar de subordinação ocupado pelos negros e pelos racial no
indígenas na sociedade. Com essa transfiguração da realidade Brasil conduz
à inconteste
emerge a consequente afirmação a apregoar o fato de no Brasil
ideologia da
o racismo e as desigualdades sociais parecerem não existir, ou democracia racial,
mesmo não existirem e, desse modo, não carece de debate, de já consolidada
no imaginário
discussão e de criminalização.
da população
brasileira.
Dentre as práticas e manifestações racistas presentes à nossa volta
propõe-se a abordagem de três já amplamente debatidas, a saber:
o racismo científico, o racismo institucional e o racismo cultural –
explicitados a seguir.

a) Racismo científico

O racismo científico afirma a superioridade biológica do branco


sobre as demais etnicidades. O fundamento de tal ideologia
ancora-se na ideia de que a civilização ocidental reconhece como
valor paradigmático os atributos físicos, culturais e os valores
identitários do colonizador branco enquanto derivados – fruto –
de uma (pretensa) superioridade biológica. Nesse caso, o racismo

072
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

se configura como a redução da dimensão cultural do humano


ao âmbito biológico. Reduzir o cultural ao biológico pressupõe
a subordinação da cultura aos caracteres genéticos e configura
a busca de se justificar determinado dado social como inerente
e advindo de uma característica natural. Tal racismo apresenta-
se, desse modo, visão retrógada e determinista a excluir o fato
do constante processo de produção cultural e de transformação
das sociedades. O racismo científico defende, desde diversas
perspectivas, a existência de uma “raça” cuja capacidade psicológica
e intelectual a ser tomada como válida para cada indivíduo e toda a
sociedade encontra-se determinada pelo caráter biológico ou físico.
Em síntese, configuram-se “racismo científico” os sistemas de
crenças que advogam a separação dos indivíduos baseando-se na
herança genética, ou outras em características físicas. Um exemplo Configuram-se
de racismo científico pode ser identificado no texto a seguir: “Em “racismo científico”
um salão de beleza no Distrito Federal, mulher não quis ser atendida os sistemas
de crenças
por uma manicure negra e disse que não queria ser tocada por
que advogam
uma ‘raça ruim’; a PM foi acionada e a mulher presa por racismo” a separação
(INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS, 2016). Tal fato, ocorrido em dos indivíduos
2014, choca pela violência presente até os dias de hoje.
baseando-se na
herança genética,
ou outras em
características
físicas.
A reportagem completa pode ser lida no site do Instituto Unisinos. O link se

encontra na bibliografia deste livro.

b) Racismo institucional

O papel do Estado perante a configuração e reconfiguração dos


arranjos e rearranjos sociais deve ser evidenciado, sobretudo
quando se pensa acerca do papel do Estado perante os recém-
libertos negros, abandonados à própria sorte sem escolaridade e
sem qualificação profissional. Por vezes, as pessoas ainda

não dão conta da dimensão objetiva que representou


a presença do Estado na configuração sociorracial

073
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

da força de trabalho no momento da transição do


trabalho escravo para o trabalho livre, nem da ausência
de qualquer política pública voltada à população ex-
escrava para integrá-la ao novo sistema produtivo. Daí
poder afirmar que a presença do Estado foi decisiva na
configuração de uma sociedade livre que se funda com
profunda exclusão de alguns de seus segmentos, em
especial da população negra (SILVÉRIO, 2002, p. 225).

Nesse horizonte, o racismo instituído no Brasil apresenta também


configuração institucional quando o Estado apoia e legitima
historicamente a discriminação e o preconceito para com as
etnicidades dos grupos considerados inferiores. Ainda que tal
discriminação e preconceito se apresentem implicitamente
mediante a forma de conivência ou de omissão, a responsabilidade
do Estado não pode ser minimizada ou mesmo esquecida.

FIGURA 14 - A mão “invisível” do Estado e a legitimação do


racismo

Fonte: Arquivo institucional.

Com o objetivo de sanar ou, ao menos, de equacionar essas


responsabilidades não assumidas devidamente, tem-se implantado
no Brasil políticas públicas de ações afirmativas destinadas a corrigir
um longo percurso de desigualdades e mesmo desvantagens
impostas a um ou mais grupos de etnicidades perante o poderio
do Estado que permite ou possibilita a discriminação, e mesmo
também comete preconceito. Diante do reconhecimento dessa falta

074
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

e da existência de um débito para com determinadas populações,


propõe-se a implementação de políticas públicas destinadas a
romper o círculo de perpetuação de desigualdades, este garantido
pela continuidade de princípios considerados universais e
imbricados às classes dominantes, detentoras do poder, da verdade
e do capital.

Ainda que tais princípios sejam considerados universais, acabam


por favorecer apenas determinada parcela da sociedade justamente
por operar de modo desigual e discriminatório. Por exemplo, tem-se
a atitude de empresas e organizações que colocam como critério
para seleção ter boa aparência e raramente culminam por contratar
negros.

Na contemporaneidade, dentre as políticas públicas de ações


afirmativas podem ser citadas:

• as políticas de acesso de estudantes afrodescendentes nas


universidades públicas;

• a recomposição da matriz curricular de determinados


cursos e disciplinas agora a contemplar a história e a
cultura afrodescendente e afro-brasileira;

• a prática de educação contra o preconceito racista nas


instituições de ensino voltadas para a Educação Básica e
para o Ensino Médio, amparada pela Lei Federal 10639/03;

• o amparo legal, econômico e garantia de preservação das


comunidades reconhecidas como remanescentes de povos
quilombolas.

Tais políticas mencionadas acima intentam equacionar e reverter as


desigualdades instituídas e cometidas em diversos campos sociais
ao longo dos tempos.

075
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

c) Racismo cultural

O racismo cultural caracteriza as atitudes referentes às concepções


que consideram certa superioridade de cunho histórico-cultural de
um grupo em detrimento de outros, não no tangente aos aspectos
biológicos, mas baseada em traços culturais subvalorizados pelo
grupo dominante. Trata-se de elementos que desagradam o gosto
visual, tais como: indumentária, acessórios, ritos de passagem,
adesões religiosas, a utilização do espaço público, hábitos
alimentares e de higiene pessoal, etc. Considerar tais gostos ou
identificações culturais como de menor valor, ou efetivamente
desqualificadas, reforça o abismo já existente entre o universo do
dominador e o do dominado.

O racismo
O racismo construído sobre as diferenças biológicas e em uma construído sobre
suposta superioridade genética de umas etnicidades sobre outras as diferenças
biológicas e em
tem aos poucos se deslocado para o campo cultural. As recentes
uma suposta
descobertas no campo da genética possibilitaram a compreensão superioridade
de que todos os seres humanos compartilham do mesmo padrão genética de
genético. Assim sendo, as diferenças são de caráter fenotípico, ou
umas etnicidades
sobre outras tem
externo, caracterizadas pelas variações desenvolvidas e adaptadas aos poucos se
ao longo dos tempos. Dessa lógica advém a ideia de “segregação deslocado para o
étnica”. campo cultural.

Como se pode depreender, o racismo cultural, ou racismo sem


“raça”, consiste em se considerar a impossibilidade da convivência
harmoniosa no mesmo território de sujeitos sociais diversos, pelo
fato de se eleger determinada noção de identidade cultural como
autêntica e preferencial. Trata-se de argumentação carente de
argumentos plausíveis, como se existissem identidades ou modos
de ser mais civilizados, mais aceitos ou mais aceitáveis que
outros. Trata-se aqui de racismo perversamente implícito e não
demonstrado de modo direto.

Dentro dessa dinâmica, a maioria das pessoas nega o racismo por


vezes recorrente em suas atitudes e posicionamentos.

076
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

De modo bastante direto, o racismo cultural deságua na ideologia da


impossibilidade de se conviver no mesmo território com indivíduos
considerados “bárbaros”, ou filosoficamente o “não-ser”. Essa
atitude dualista de contraposição entre grupos sociais que tenciona
o confronto entre o “nós” e o “eles”, em que o “nós” apresenta-se
superior, desemboca na base fundamental para a construção do
que aqui se expõe como racismo cultural. E aquilo que constitui
as diferenças culturais entre tais grupos são transfiguradas
constantemente em desigualdades.

Veja alguns exemplos de frases ditas por vezes a nossa volta que

encarnam o racismo cultural. Elas sempre se iniciam com o mantra: “Não

sou racista, mas...

... você viu o cabelo pixaim dela?”

... cabelo bom é cabelo liso”.

... como nasceu um bebê branco daquele casal?”

... pessoas brancas podem vestir qualquer cor de roupa”.

... não namoro caras morenos”.

... bem que fulano nasceu com um pezinho na África”.

O bordão “não sou racista, mas...” demonstra o quanto o brasileiro tem

vergonha de ter preconceito ou de assumir o próprio preconceito.

Como atitude que aponta o caminho de superação do racismo


cultural emerge a necessidade de se refletir profundamente e
com o auxílio das diversas áreas do saber sobre como nós nos
situamos cotidianamente perante os outros. Em outras palavras,
em que medida tudo aquilo que constitui o que sou abre passagem
para a concretização do racismo cultural. Há de se insistir
continuadamente na valorização dos direitos fundamentais de todo
ser humano independente de sua etnicidade, cultura, religião, etc.

077
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Não basta negar o “racismo nosso de cada dia”, mas sim importa
praticar atitudes de respeito e de reconhecimento positivo da
diversidade de crenças, traços particulares e de manifestações
culturais.

Racismo x
Injúria Racial
No Brasil, a primeira regulamentação sobre preconceito racial
acontece somente em 3 de julho de 1951 na Lei Afonso Arinos1.
Cabe ressaltar que desde o Império esse assunto passa
despercebido pelo arcabouço jurídico brasileiro. Desta feita, a Lei
Afonso Arinos mostra-se de grande importância, pois representa o
a Lei Afonso
primeiro marco legal sobre a discriminação racial no país. Arinos mostra-
se de grande
Todavia, a lei supramencionada estipulava penas leves, pois as importância,
pois representa
condutas delitivas resumiam-se em contravenções penais (crime
o primeiro marco
de menor potencial ofensivo), que recebiam uma punição leve (a legal sobre a
pena máxima cominada era de três meses de detenção). discriminação
racial no país.

Assim, apesar da nobre iniciativa, a Lei Arinos mostrou-se ineficaz


para práticas preconceituosas e discriminativas dentro da
sociedade brasileira.

a) Racismo

O crime de racismo, previsto na Lei n. 7.716/1989 (legislação


especial), refere-se à conduta discriminatória dirigida a determinado
grupo ou coletividade. Assim, no crime de racismo o agente (autor da
conduta delitiva) impede dolosamente o exercício de direito líquido
e certo de uma pessoa, devido a motivações preconceituosas e
discriminativas. O impedimento tem como base questões de ordem
étnica (raça), cor, religião, nacionalidade e/ou origem.

078
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

FIGURA 15 - Chega de racismo!

Fonte: Arquivo institucional.

Esse crime é de previsão constitucional, estabelecido na


Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XLII. Trata-se de crime
imprescritível, inafiançável e de ação pública incondicionada. Deve-
se ressaltar que o crime de racismo só ocorre quando as ofensas
atingirem toda uma etnia, religião ou origem, ou seja, não há como
determinar o número de vítimas (polo passivo da ação).

Exemplos:

• não permitir a entrada de negros em determinado


estabelecimento comercial;

• negar emprego a descendentes de indígenas e de negros.

079
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

b) Injúria racial ou injúria qualificada

A injúria racial ou qualificada encontra previsão legal no artigo 140,


parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de reclusão
de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência
para quem cometê-la.

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade


ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses,
ou multa. § 3º Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa
(BRASIL, 1940).

Injuriar alguém significa ofender a dignidade, a honra e/ou o decoro


de determinada pessoa, utilizando, para tal ação, elementos de
cor, etnia (raça), religião, origem ou condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência.

Desta forma, o crime de injúria associa-se ao uso de palavras


depreciativas referentes à etnia ou cor com a intenção de agredir, de
depreciar, a honra da vítima.

FIGURA 16 - O desafio do respeito às diferenças e da


convivialidade

Fonte: Arquivo institucional.

080
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Diferente do crime de racismo, a ação penal aplicável da injúria


racial está condicionada à representação do ofendido e possui
prescrição e o acusado pode ser solto mediante o pagamento de
fiança.

Exemplos:

• Episódio do goleiro Aranha, jogador do Santos, time de


futebol paulista. Sobre esse caso, acesse: AZEVEDO, L.
Quatro são indiciados por injúria racial no caso do goleiro
Aranha. Estadão. Disponível em: <http://esportes.estadao.
com.br/noticias/futebol,quatro-sao-indiciados-por-injuria-
racial-no-caso-do-goleiro-aranha,1568504>. Data de
acesso: 13 abr. 2016.

Apresentadora do tempo do Jornal Nacional, da TV Globo, Maria


Júlia Coutinho foi ofendida por internautas pelo Facebook. Para
entender o caso, leia: MP pede rigor em investigação sobre caso de
injúria racial contra Maria Júlia Coutinho. Diário Gaúcho. Disponível
em: <http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/
noticia/2015/07/mp-pede-rigor-em-investigacao-sobre-caso-de-
injuria-racial-contra-maria-julia-coutinho-4794999.html>. Acesso
em: 14 abr. 2016.

Ideologia do branqueamento

Conjunto de ideias que defendiam a miscigenação, com o objetivo de,

por intermédio dos casamentos interraciais, transformar o Brasil em um

país branco e, consequentemente, promover um processo de extinção da

raça negra. Esta ideologia teve grande aceitação pelas elites brasileiras,

de 1870 a 1930. Transformar o Brasil, que era negro e mestiço, em um

país branco foi um projeto implementado seriamente pelos cientistas e

políticos daquela época (ROCHA, 2006, p. 27).

081
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

Trata-se de ideologia, sustentada no imaginário segregacional, segundo a

qual existe uma “raça” ou gene superior, tese aqui já bastante rebatida.

FIGURA 17 - A ideologia “eugênica” brasileira

Fonte: Arquivo institucional.

O título desta unidade propõe a discussão acerca da “Cultura brasileira e

afrodescendente”. Dentre as possíveis abordagens que aqui se poderia

eleger, optou-se por privilegiar a discussão acerca da problemática

em torno das relações de preconceito e de discriminação advindas do

processo de formação da identidade multifacetária brasileira. Ao se passar

à margem de questões de cunho culinário, musical, artístico (por vezes

mais caracterizadas como culturais), propõe-se o resgate da noção de

cultura. Daí explicitou-se o que de mais tenso e conflitivo surgiu, como algo

cultivado e transmitido, desde um encontro propiciado por circunstâncias

coercitivas e não respeitosas à liberdade dos afrodescendentes.

Evidentemente, o intercâmbio das ideias, dos costumes e do idioma deu-

se de modo a incorporar e a entretecer experiências e vivências das partes

envoltas. Por sua vez, ao se trazer à baila questões como racismo e injúria

082
unidade 4
ÉTICA E MEIO AMBIENTE

racial, propõe-se a reflexão acerca de situações que envolvem o campo

da ética e das relações humanas, o campo dos direitos e dos deveres e,

portanto, que congregam instâncias evocativas de posicionamento crítico

e de ações práticas.

No campo da dimensão prática do uso da liberdade e da responsabilidade

humana é que se comprova a aplicação efetiva de tudo o que teoricamente

foi tratado e inclusive exemplificado por meio de casos que demonstram

a dimensão das questões em jogo. O devido conhecimento conceitual, as

noções (ainda que preliminares) da legislação e a compreensão da gama

de questões éticas antropológicas e culturais implicadas, possibilita a

tomada de postura consciente diante da realidade.

Revisão
Racismo: por “racismo” compreende-se a atitude ou ação do
indivíduo ao afirmar a superioridade moral, intelectual ou biológica
da etnicidade à qual pertence sobre as demais etnicidades em jogo.

O não racismo brasileiro: a não admissão da existência do racismo


ou da discriminação racial no Brasil conduz à inconteste ideologia
da democracia racial, já consolidada no imaginário da população
brasileira.

Racismo científico: sistemas de crenças que advogam a separação


dos indivíduos, baseando-se na herança genética ou outras
características físicas.

Racismo institucional: trata-se do apoio do Estado à discriminação


e ao preconceito para com as etnicidades dos grupos considerados
inferiores.

Racismo cultural: concepções que consideram certa superioridade


de cunho histórico-cultural de um grupo em detrimento de outros,

083
unidade 4
não no tangente a aspectos biológicos, mas baseada em traços
culturais subvalorizados pelo grupo dominante.

Crime de racismo: previsto na Lei n. 7.716/1989 (legislação


especial), refere-se à conduta discriminatória dirigida a determinado
grupo ou coletividade. O impedimento terá como base questões de
ordem étnica (raça), cor, religião, nacionalidade e/ou origem.

Injúria racial ou injúria qualificada: encontra previsão legal no


artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de
reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à
violência, para quem cometê-la.

Ideologia do branqueamento: conjunto de ideias que defendem


a miscigenação, com o objetivo de, por intermédio dos
casamentos interraciais, transformar o Brasil em um país branco
e, consequentemente, promover um processo de extinção da raça
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MISSISSIPI em Chamas. Filme. Direção: Alan Parker. Produção: Robert F.

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