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Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Alternativa, integrante do 9º Encontro Nacional de
História da Mídia, 2013.
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Jornalista graduada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV – MG) e mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Comunicação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA – USP). E-mail: vivianfernandes86@gmail.com .
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Entrevista concedida à autora por Dennis de Oliveira, no dia 27 de março de 2013.
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projeto socialista, embora possa ter isso em seu bojo”. Para o pesquisador, o conceito de
contra-hegemonia se amplia na América Latina, diferente ao estritamente vinculado a
um projeto socialista presente na obra de Gramsci. Segundo Oliveira, isso ocorre devido
a uma tradição política conservadora das elites latino-americanas, que monopolizam os
meios de comunicação em distintos países. Nesse caso, experiências de mídia com
caráter democrático e até liberais clássicos (que atuam na defesa do Estado democrático
de direito) podem ser consideradas contra-hegemônicas, que defendem uma agenda
distinta à da pauta única dos grandes meios de comunicação comerciais.
Atrelado a isto, quando se adota a ideia de “alternativo” como uma “opção entre
duas coisas”, a intenção é a de abordar esses meios de comunicação como a opção
“frente aos grupos que usufruem, em proveito de setores privilegiados (econômicos e/ou
políticos) a propriedade e/ou controle dos meios de informação” (GRINBERG, 1987,
pp. 20-21). Outro elemento que se faz importante é a questão do conteúdo produzido
por esses veículos.
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Portanto, pode-se tomar como entendimento de que os meios alternativos
surgem em contextos específicos a partir da necessidade de expressão massiva que
chegue ao conjunto da sociedade, tendo em vista a falta de abertura para tal no espectro
midiático. Como salienta o jornalista argentino e pesquisador da Universidade Nacional
Autônoma do México (UNAM), Máximo Simpson Grinberg (1987), essas experiências
surgem da “própria práxis social, quando se faz necessário para gerar mensagens que
encarnem concepções diferentes ou opostas às difundidas pelos meios dominantes” (p.
24).
Vários formatos e processos produtivos cabem no leque dos alternativos, de
acordo com seu contexto e objetivos. Desde aqueles que possuem propriedade coletiva,
ampla participação, conteúdo antiautoritário, ambivalência entre emissor e receptor, e
multidirecionalidade das mensagens. Até os que possuem acesso mais restrito quanto ao
uso e participação, através de um discurso unidirecional mantendo um caráter
antiautoritário, mas com construção anti-hierárquica interna, com a produção de
mensagens de caráter contrário aos dominantes; entre outras possibilidades
(GRINBERG, 1987, pp. 25-28). Porém, em todas elas o conteúdo do discurso aparece
como elemento central de conformação de mídia alternativa, o que permite afirmar que,
nas palavras do mesmo autor “sem discurso alternativo não há meio alternativo” (pp.
29-30).
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criados e, posteriormente, acabaram deixando de existir, sendo que metade deles não
chegou a durar nem um ano. Eles se caracterizavam enquanto contra-hegemônicos no
âmbito político e ideológico, conformados como oposição à ditadura militar e ao
imperialismo, principalmente, estadunidense. Pode-se considerar que “os jornais
alternativos, criaram um espaço público alternativo” (KUCINSKI, 1991, p. XXII). Foi
nessa época que o termo “imprensa alternativa” começou a ser utilizado no país.
A literatura sobre o tema indica que as expressões mais marcantes desse período
no Brasil eram os jornais “políticos”, muitas vezes atrelados a organizações partidárias,
que dividiam espaço com os veículos “existencialistas”, de expressão contracultural. No
primeiro grupo, figuravam jornais como o Opinião e o Movimento; enquanto na outra
fileira estavam o Pasquim, o Bondinho e o EX (KUCINSKI, 1991).
A aglutinação e o fortalecimento dos grupos de esquerda e das suas experiências
de imprensa foram impulsionados tanto pela necessidade de resistir à opressão
provocada pelos regimes autoritários que se espalharam pela região latino-americana;
quanto pelo ideal revolucionário e pela perspectiva da possibilidade de conquista do
poder político, oriundos da Revolução Cubana de 1959. Esse imaginário coletivo entre
as esquerdas abriu caminho para um movimento semelhante ao brasileiro na imprensa
alternativa de diversos países da América Latina.
No Uruguai, projetos de jornais ligados a partidos construíram uma forte
tradição; e na Argentina, houve também expressão dos grupos políticos organizados, a
exemplo do diário Notícias5, desenvolvido pela organização política Montoneros, que,
apesar de circular antes do golpe de 1976, foi expressivo nesse período anterior à
ditadura militar, que já se caracterizava como um momento de combate aos grupos de
esquerda revolucionários e de fechamento político, durante o segundo mandato de Juan
5
Sobre o tema, consultar ESQUIVADA, Gabriela. Noticias de los Montoneros – La historia del diario
que nunca pudo anunciar la revolución. Buenos Aires: Sudamerica, 2009.
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Domingos Perón. O Noticias foi fechado por motivos políticos pela sua sucessora
peronista e esposa Isabel de Perón (governo fortemente influenciado por grupos de
direita anticomunistas). Ainda no caso argentino, uma das expressivas experiências
jornalísticas do período ditatorial (marcado por forte repressão e extermínio de grupos
de esquerda) foi a Agência de Notícias Clandestina, conhecida como ANCLA, criado
por antigos jornalistas e militantes do Noticias, que passaram a ter um trabalho de
plantar informações de denúncias de crimes contra os direitos humanos cometidos pelos
militares na imprensa local e internacional6.
Atualmente, a imprensa alternativa atua de forma a aliar a sua versão impressa
com páginas na internet. Este é o caso da revista mensal Caros Amigos, que é uma das
experiências nacionais pioneiras no período pós-democratização do Brasil. Lançada em
abril de 1997, sob direção de Sérgio de Souza, a revista reuniu um grupo de
profissionais da área da comunicação para “criar um veículo que se contrapusesse ao
jornalismo dominante. Buscavam um conteúdo questionador, mais crítico e
progressista”. Dessa época para a atualidade, a Caros Amigos “se tornou referência de
publicação contra-hegemônica, alternativa e de reflexão crítica do pensamento
neoliberal”, além da procura por “praticar um jornalismo independente, crítico e
comprometido com a transformação da sociedade brasileira”7.
Mais uma publicação do campo alternativo é a Revista Fórum, de circulação
mensal em todo o país, além da página na internet, “com análises e informações sobre
eventos políticos, econômicos e sociais”. A publicação foi lançada em janeiro de 2001,
com a cobertura do primeiro Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul. Entre seus principais leitores estão os profissionais liberais da educação,
economia, jornalismo, direito e sociologia; além de estudantes, sindicalistas e ativistas
políticos. A revista Fórum também possui em seu projeto “um Conselho Editorial
formado por representantes de diferentes segmentos da sociedade civil brasileira” 8.
Outras experiências abordadas a seguir também têm como conjuntura de criação o
Fórum Social Mundial.
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Sobre o tema, consultar VINELLI, Natalia. ANCLA – Una experiencia de comunicación clandestina
orientada por Rodolfo Walsh. Buenos Aires: Editorial El Colectivo, 2008.
7
Trechos da apresentação do site da revista Caros Amigos em: http://carosamigos.terra.com.br/. Acesso
em 1º de abril de 2012.
8
Informações do site da revista http://revistaforum.com.br/sobre-a-revista/. Acesso em 1º de abril de
2012.
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Um dos mais importantes projetos de comunicação do campo popular do último
período, o jornal semanal Brasil de Fato foi lançado em 2003 é uma experiência de
mídia impressa construída pelos movimentos sociais, sindicatos, jornalistas, intelectuais
e militantes de esquerda “que acreditaram na importância de ter um veículo próprio de
informação, unitário entre esses coletivos e pessoas”. Também, que “levasse ao povo os
fatos e acontecimentos da classe trabalhadora e daqueles que estão construindo
alternativas ao atual sistema social (capitalismo), construindo formas e ações que
buscam transformá-lo” (FERNANDES, 2008, p. 7).
Como iniciativas mais recentes, pode-se trazer ao debate as experiências de
comunicação alternativa se circulação exclusiva via internet. As novas tecnologias da
comunicação e informação são utilizadas, nesse contexto de globalização midiática e
estrutura em rede, além da disputa por hegemonia, para dar voz aos movimentos sociais,
setores marginalizados da sociedade e organizações políticas.
Uma das experiências mais difundidas nesse sentido foi a do Centro de Mídia
Independente (Independent Media Center - Indymedia), que surgiu a partir das
articulações do Fórum Social Mundial, com seu slogan “Um outro mundo é possível”,
na sua primeira edição em 2001, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Ele
“consiste na estrutura e no uso da comunicação interativa e no processo de informação
na Internet, onde qualquer leitor também pode ser o escritor, o conteúdo produzido é
público e pode ser modificado antes, durante e depois da publicação” (GÓES, 2006).
Outro exemplo é a agência Adital, que surgiu para divulgar notícias da América
Latina e Caribe “a partir do interesse de três entidades italianas: a Fondazione Rispetto e
Paritá (FRP), a Agenzia di Stampa (Adista), a Rete ‘Radiè Resch’ (RRR)” (GÓES,
2006), que apresentaram o projeto ao religioso dominicano, militante dos direitos
humanos e escritor Frei Betto. Logo no início do ano 2000, começou a ser articulado o
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projeto, sediado na cidade de Fortaleza, no Ceará. Em março de 2001, a Adital foi
oficialmente lançada. Esta agência se apresenta “como canal de comunicação para a
inserção da agenda social latino-americana e caribenha na mídia nacional e
internacional, através de cobertura jornalística profissional” (GÓES, 2006). Participam
de sua construção diversos colaboradores e jornalistas ligados a movimentos sociais,
ONGs, do meio universitário e setores da Igreja Católica.
Na conjuntura de articulação de diversos movimentos sociais e diversas
organizações do Terceiro Setor, foi lançada em 2001, durante o Fórum Social Mundial
de Porto Alegre, a Agência Carta Maior. Esta “publicação eletrônica multimídia”
possui jornalistas atuando em diversas capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília. Também possui colaboradores, comentaristas e parcerias com outros
meios de comunicação alternativos nacionais e estrangeiros. Como se autodefine, a
Carta Maior é “especializada em temas como direitos humanos, meio ambiente, política,
economia e movimentos sociais” e um dos seus principais focos, “em função mesmo de
sua origem, é o processo do Fórum Social Mundial e de integração da América Latina”9.
9
Informação do site da Agência Carta Maior. Disponível em:
http://www.cartamaior.com.br/templates/quemSomosMostrar.cfm?idioma_id=1. Acesso em 1º de abril de
2012.
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Associação Latino-americana de Educação Radiofônica (ALER), em 1972
(PULLEIRO, 2012).
Outra grande vertente desse período, que também passa pelo uso do rádio em
processos políticos de resistência e reivindicação social, tem como exemplo as rádios
protagonizadas por trabalhadores em mineração da Bolívia. As rádios mineiras
bolivianas foram realizadas em uma situação histórica de intensa organização,
mobilização e lutas dos trabalhadores do país, que necessitavam de meios de
comunicação para estruturar e expandir seu movimento. Ou seja, a mídia alternativa
acompanhou o movimento da luta dos setores populares nos enfrentamentos sociais com
a classe dominante, na disputa por hegemonia (PULLEIRO, 2012).
Há, também, o rádio alternativo dentro de processos revolucionários
guerrilheiros, como no caso de Cuba, da Radio Rebelde, a partir de 1958, que mostrou
“a importância do rádio no combate e sua estratégia no plano político-militar”
(MACHADO et al., 1986, p. 97), e que foi usada pelos guerrilheiros como arma de
contrainformação e diálogo com a população. Também, da Nicarágua com a Radio
Sandino, nos anos 70; e de El Salvador na Radio Venceremos e na Radio Farabundo
Martí, nos anos 80.
Outra fase do rádio alternativo latino-americano toma forma a partir dos veículos
populares, livres e comunitários dos anos de 1980 (época de redemocratização em
muitos países após regimes ditatoriais). Como uma das vertentes, estão as rádios livres,
que se pautam por uma “perspectiva inteiramente oposta ao culto da especialização e da
competência” das comerciais, não buscando licenças estatais para transmissão legal de
seu sinal, nem um padrão profissional radiofônico (MACHADO et al., 1986, p. 32).
De acordo com a pesquisadora e professora da Universidade Metodista de São
Paulo, Cicilia Peruzzo (1999), a primeira experiência brasileira de rádio livre foi a
Rádio Paranoica, na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, de 1970 a 1971.
Outros exemplos brasileiros desse movimento de emissão radiofônica são as pioneiras
de São Paulo: a Rádio Spectro (1976), de Sorocaba, a Rádio Pirata de Guararema
(1984) e a Rádio Xilik (1985). Após a inauguração desta última, se sucederam diversas
rádios livres paulistanas, entre elas a Rádio Totó Ternura, que funcionou na zona oeste
da capital; a Rádio Tereza; a Rádio Ítaca; a Molotov; a Ilapso; a Trip; e a Se Ligue
Suplicy.
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Outro modelo que surgiu entre os anos de 1980 e 1990 é o das rádios
comunitárias. Nesse contexto, um marco é a formação da Associação Mundial de
Rádios Comunitárias (AMARC), em 1983 no Canadá, e com um escritório na América
Latina na década de 1990. No Brasil, o termo “rádio comunitária” se institucionalizou
em 1995, no I Encontro Nacional de Rádios Livres Comunitárias. Peruzzo (1999)
destaca que o entendimento de “comunitário” era atribuído às rádios que “tendo como
finalidade primordial servir à comunidade, podem contribuir efetivamente para o
desenvolvimento social e a construção da cidadania” (p. 253). Já em 1996, surge a
Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço).
Nessa fase, na América Latina, surgem modelos como o da FM La Tribu,
fundada por jovens universitários de Buenos Aires, Argentina; da Rádio Favela, de uma
comunidade periférica da cidade de Belo Horizonte, Brasil; da Radio Stereo Villa, de
jovens da periferia de Lima, Peru; e, também as impulsionadas por grupos feministas,
como a Radio Tierra, no Chile, e a Radio Internacional Feminista, na Costa Rica.
Passando para os anos 1990 na América Latina, a marca do rádio alternativo
torna-se a busca pela massificação, pluralidade e competitividade por público com os
meios comerciais, no que pode ser chamado de “rádios cidadãs” (PULLEIRO, 2012). A
década foi marcada pela implantação do modelo neoliberal na região, o que causou uma
liberalização da economia, privatizações, flexibilização dos direitos sociais e
trabalhistas, e uma maior concentração dos meios de comunicação, em um contexto de
rápidas transformações tecnológicas. Para sobreviver nesse cenário, os veículos
radiofônicos populares também tiveram que se reinventar, gerando uma corrente de
construção do “rádio popular massivo”.
Essas emissoras trouxeram aspectos da participação cidadã nas esferas de
decisão política para além da comunidade, como conselhos gestores ou câmaras de
vereadores. Também, passaram a elaborar uma programação mais ampla, que não
tratasse apenas de temas políticos, econômicos ou de denúncias, mas que abrisse espaço
em sua grade para transmissões esportivas, eventos culturais e artísticos, e
entretenimento no geral. Alguns exemplos de rádios desse período são a Teocleo, do
México; Radio ACLO, da Bolívia; a Radio Santa Clara, da Costa Rica; e, a Radio
Marañon, do Peru. (PULLEIRO, 2012, p. 106).
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Para trazer um último enfoque da trajetória do rádio alternativo na América
Latina, vale ressaltar alguns apontamentos quanto às experiências radiofônicas que
utilizam o suporte da internet, com maior ênfase nos anos 2000 em diante.
Possibilitadas pela ampliação e disseminação desse acesso da internet surgem
experiências de rádios web, muitas com formato exclusivo via internet ou vinculadas a
emissoras que também transmitem no dial, como são os casos das emissoras alternativas
argentinas FM La Tribu (www.fmlatribu.com/), Radio Gráfica
(www.radiografica.org.ar/) e La Colectiva FM (www.lacolectiva.org.ar/). Também, da
brasileira Rádio Brasil Atual (www.redebrasilatual.com.br/radio).
Os usos possíveis do rádio na internet vão desde a transmissão que acompanha
em tempo real a emissão via FM ou AM, através da forma de distribuição dos arquivos
de áudio em fluxo contínuo chamada de streaming; até a disponibilização de produtos e
materiais em páginas da internet, onde é possível realizar o download e obter o arquivo
de áudio. Incluem-se na gama dessas experiências na internet as agências de notícias
voltadas para rádio, como é o caso da Agencia Púlsar, construída pela AMARC em
nível latino-americano – que no Brasil é responsável pela Pulsar Brasil –, e a
Radioagência NP, parte integrante do projeto do jornal Brasil de Fato.
No caso da TV e do vídeo popular e alternativo na América Latina uma
referência inicial marcante é o Noticiero ICAIC Latinoamericano, produzido pelo
Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficas (ICAIC), logo nos primeiros
momentos da revolução cubana de 1959. Criado com uma proposta internacionalista e
de contrainformação perante os meios de comunicação internacionais e do antigo
regime cubano (de Fulgêncio Batista), o Noticiero “desempeñó un papel estratégico en
la consolidación de la identidad cultural cubana”, além de possuir “una amplia cobertura
nacional e internacional que recorrió noventa países” (BUSTOS, 2011, pp. 156-157).
Sua primeira edição data de 6 de junho de 1960, tendo permanecido em atividade até 19
de julho de 1990, que terminou no contexto de desmoronamento do campo de países
socialistas do leste europeu e início do “período especial” em Cuba.
Além disso, o projeto se soma ao movimento do Novo Cinema Latino-
americano, que foi um fenômeno dos anos 60 de expressão do cinema militante na
região, com influências da contracultura estadunidense, o maio de 1968 francês e as
movimentações de libertação do Terceiro Mundo. Esse movimento foi constituído
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oficialmente na cidade chilena de Viña Del Mar, em 1967, com uma reunião dos
cineastas do continente. O Novo Cinema Latino-americano foi uma das bases de
influência de muitas experiências alternativas e populares de vídeo e TV, que acabaram
por ganhar maior força após as ditaduras militares, no período de redemocratização.
Além do fator político, a década de 1980 possibilitou uma maior disseminação e acesso
a tecnologias de vídeo.
No Chile, a primeira experiência de TV alternativa é proveniente do rádio, com a
clandestina Radio Liberación (veículo do Movimiento de Izquierda Revolucionario -
MIR), que em meados dos anos 80, começa a desenvolver constantes intervenções nos
sinais da televisão oficial.
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agrupaban documentalistas como ADOC [Asociación de Documentalistas
Argentinos], y aquellos que agruparon periodistas, fotógrafos, camarógrafos
y activistas […]. El trabajo en comisiones permitió la producción y
realización en forma periódica de los llamados Videoinformes de Argentina
Arde, […]. Estos videoinformes, que ponían en circulación
contrainformación desde diferentes miradas y perspectivas, son uno de los
antecedentes de la televisión alternativa, popular y comunitaria que viene
creciendo de a poco en los últimos años. (GUZZO, 2011, p. 39)
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A origem das experiências populares e alternativas de TV no Brasil teve seu
alicerce também no vídeo popular e, de forma mais tímida, na mudança legal de 1998,
ainda reflexo do período de redemocratização do país, com a criação de canais de
radiodifusão comunitária. Esta mudança ao mesmo tempo em que legaliza essas
emissoras, impõem uma série de barreiras para sua emissão, sobrevivência e
crescimento; além de não garantir que elas mantenham seu caráter realmente
comunitário.
Enquanto uma das importantes iniciativas brasileiras no âmbito do audiovisual
alternativo está a criação da Associação Brasileira de Vídeo no Movimento Popular, em
1984, fruto de um encontro que reunia ativistas na área de todo o Brasil.
Nessa época, surgiram diversas experiências televisivas populares no país, como
a TV Bixiga, criada na cidade de São Paulo, em 1986. Ela é pioneira da televisão de
bairro, em que “foram instalados seis monitores de vídeo que passaram a transmitir
regularmente, nos finais de semana, cenas de ruas, de seus habitantes, sua cultura”.
Outra iniciativa é a TV dos Bancários, surgida em 1986 pelo Sindicato dos Bancários de
São Paulo, com produção de “videojornais, vídeos de formação sindical e
documentação audiovisual das lutas da categoria” (SANTORO, 1989, pp. 76-77).
Atualmente, duas emissoras que estão no ar são a TV Comunitária de Curitiba,
acessível na TV a cabo ou no endereço eletrônico www.cwbtv.net; e a TV Cidade Livre,
comunitária do Distrito Federal, www.tvcomunitariadf.com.br/tvcidadelivredf.
Considerações Finais
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histórico-dialético auxilia, assim, a formular a respeito da trajetória de projetos de mídia
alternativa, acompanhada da história da região e dos países latino-americano, em
especial das classes subalternas e dos movimentos populares.
Referências bibliográficas
GÓES, Laércio Pedro Torres de. A mídia alternativa dos movimentos sociais na
Web. Trabalho apresentado no I Congresso Anual da Associação Brasileira de
Pesquisadores de Comunicação e Política, ocorrido na Universidade Federal da Bahia –
Salvador-BA, 2006.
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LLOREDA, Oscar. Televisión Comunitaria en Venezuela – Una Mirada en Perspectiva.
In: VINELLI, Natalia (Comp.). Comunicación y televisión popular. Buenos Aires:
Editorial El Río Suena, 2011.
MACHADO, Arlindo et al. Rádios Livres – A reforma agrária no ar. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1986.
SANTORO, Luís Fernando. Imagem nas mãos - O vídeo popular no Brasil. São
Paulo: Ed. Summus, 1989.
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