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Denise Paiva/UFG
∗
Este trabalho é um dos resultados da pesquisa Bases Socieconômicas da Volatilidade Eleitoral no
Brasil 1982-2002, financiada pelo CNPq. Processo N. 401912/2004-3, Edital 032/2004.
Volatilidade Eleitoral e Desevolvimento do Sistema Partidário em Goiás
(1982-2002)
Denise Paiva∗
Introdução
∗
Professora da Universidade Federal de Goiás.
1 Uma discussão pormenorizada sobre o índice de volatilidade eleitoral pode ser encontrada em:
Przeworski (1975), Pedersen (1980) e Bartolini & Mair (1990).
2 Não se desconhece aqui que outros elementos como a incorporação de novos eleitores ou o
decrescimento do eleitorado podem interferir nos índices de volatilidade eleitoral. Além disso
variáveis políticas como a criação de novos partidos, desaparecimento ou fusão de agremiações
partidárias também exercem impacto sobre os índices de volatilidade eleitoral. Sobre essa
questão ver: Bartolini & Mair (1990) e Nicolau (1998)
2
patamares mais baixos a volatilidade eleitoral permanecer, mais
institucionalizado é o sistema partidário.
A estabilidade eleitoral indica não só que os partidos têm apoio e
enraizamento na sociedade mas que, também, são instrumentos de
canalização dos conflitos e demandas da sociedade. Outro elemento a
ser adicionado é que padrões mais estáveis conferem previsibilidade à
disputa eleitoral dificultando a ascensão de outsiders.3 Nessa perspectiva,
a manutenção das preferências eleitorais é um componente importante
do processo de institucionalização da democracia. Essa é uma das
premissas que norteiam os estudos sobre volatilidade eleitoral. 4
Nos últimos anos têm aumentado, no Brasil, as análises acerca da
estabilização do sistema partidário e da competição político-partidária,
utilizando o índice de volatilidade eleitoral. Entre outras, podem ser
mencionadas: Figueiredo (1996), Lima (1996), Nicolau (1998), Mainwaring
(1998), Cervi (2002), Peres ( 2002), Kinzo (2003), Braga (2003), Paiva e
Batista (2004), Paiva e Bohn (2006) Bohn(2006).
A maioria dos estudos acima mencionados aponta para um padrão
de declínio dos índices de volatilidade eleitoral, ainda que distante
daqueles observados nas democracias européias. Os dados
apresentados por Bohn (2006) permitem afirmar que o Brasil, após as
eleições de 2002, se tornou um dos países sul-americanos com os
menores níveis de volatilidade eleitoral, tanto no que se refere às eleições
presidenciais como para a Câmara dos Deputados ou para a
Assembléia Nacional, no caso de países unicamerais. Dessa forma, a
3 A incerteza quanto aos resultados finais certamente faz parte da democracia e é um dos
requisitos para que as eleições sejam livres, justas e competitivas. Ao mencionar os outsiders me
refiro àqueles partidos ou candidatos canditatos anti-sistema ou que utilizam estratégias e
discursos personalistas, populistas.
4 De acordo com Przeworski (1975, p.52):“Voters do not simply cast their ballots. In many societies
they vote for parties. To characterize the institutionalization of a party system, at least with regard
to voting, one can observe the extent to which the patterns of voting behavior are fixed in a
property of patterns of behavior. The more stable these patterns, the higher the institutionalization.
In the extreme case, perfect institutionalization occurs when everybody behaves the same way all
the time.” Ver também: Huckfeldt (1983), Bartolini &Mair (1990), Mainwaring (2006).
3
autora afirma que a despeito da explosão de ofertas partidárias, o
eleitorado brasileiro – ao contrário de eleitorados de outros países sul-
americanos - está cada vez mais consolidando suas escolhas eleitorais
em um número menor de partidos políticos.
Não obstante o já mencionado aumento dos estudos sobre
volatilidade eleitoral no Brasil, são relativamente escassos estudos que
investiguem o fenômeno em tela na arena subnacional.5 Num país com
alto grau de heteregeneidade entre estados e regiões como o Brasil,
análises de escopo regional se justificam sobremaneira. Essas últimas
permitem verificar, de forma mais acurada, processos distintos que
podem ser ofuscados se tomarmos como unidade de análise as médias
nacionais. Em segundo lugar, as regiões/estados têm dinâmicas e
processos específicos que não podem ser captados quando o país é a
unidade de análise. Em terceiro lugar, nos permite captar as conexões
entre regiões e o sistema político, bem como diversidades e/ou
confluências entre os planos nacional e estadual.
Por fim, análises de âmbito regional bem como comparações
inter-regionais ajudam a rever algumas assertivas apressadas ou mesmo
estereotipadas acerca das regiões menos desenvolvidas e que não se
sustentam empiricamente. Por exemplo que as regiões mais pobres e/ou
menos desenvolvidas apresentam índices mais altos de volatilidade em
razão de seus eleitores serem mais clientelistas ou votarem de forma mais
personalista.6 Os dados encontrados por Paiva e Bohn (2006) se chocam
com tais afirmações e mostram que a região Norte, numa perspectiva
comparada, apresenta a menor volatilidade média em todas as eleições
no período 1982-2002.
subnacional no Brasil e menciona que poderiam contribuir para compreender melhor a dinâmica
política no âmbito mencionado e suas diferenças ou similaridades com a atuação dos partidos
na arena nacional .
6 A título de ilustração, Maniwaring (1998) faz essa afirmação ao analisar o declínio do PDS nas
4
Outro fator que merece ser mencionado é que a dinâmica política
regional é um componente importante da política brasileira. Como se
sabe, as variações entre estados e regiões no Brasil não se referem
apenas a estágios ou questões sócioeconômicas como também ao
processo de desenvolvimento e padrões de competição do sistema
partidário. Braga (2003) destaca que o processo de implementação do
multipartidarismo se deu forma diferenciada e em ritmos que variaram
em termos de estados e/ou regiões.7
Diante dessas questões, esse trabalho analisa o padrão da
volatilidade eleitoral em Goiás. Além disso para que se possa verificar em
que medida existem especificidades ou homogeneidades no caso
goiano será feita uma comparação entre o plano estadual e o nacional.
Só assim será possível verificar se existem peculiaridades, no caso de
Goiás ou se este obedece ao padrão geral observado nas médias
nacionais.
1. Volatilidade Eleitoral em Goiás: Padrão Regional X Nacional
7 Vários entre autores têm destacado o papel do componente regional na política brasileira, ver
entre outros: Lima Jr (1983, 1997), Soares (1973, 2001), Abrucio (1998) e Samuels (2003). Sobre a
importância dos estudos âmbito regional numa perspectiva mais geral ver: Linz (1996), Snyder
(2001), Mainwaring &Liñan-Perez (2005).
8 Não foi possível obter no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os dados completos para as eleições
liderava a mesma.
5
criação e extinção de novos partidos foram incorporadas ao cálculo a
partir da adoção dos critérios propostos Bartolini & Mair (1990). 10
primeira etapa, computa-se a diferença entre o percentual de votos obtidos por cada um dos
partidos entre duas eleições consecutivas. Depois, soma-se todos esses valores e, a seguir, divide-
se essa soma por dois. Para uma discussão metodológica mais detalhada ver: Przeworski (1975),
Pedersen (1980), Bartolini e Mair (1990) e Nicolau (1998).
6
Estaduais. Todavia os resultados para o legislativo estadual mas a
tendência observada é de menor queda da volatilidade nas Assembléias
Legislativas, o oposto do que se observa aqui no caso de Goiás.
A maior variação nos índices de volatilidade eleitoral ocorre na
disputa para o executivo estadual. Conforme mostra a tabela 1, a
volatilidade eleitoral apresentou níveis bastante baixos nos períodos 1986-
1990 e 1998-2002. Por outro lado, chegou a 42,1 no par 1982-1986 e
alcançou níveis superiores a 50% nos dois outros pares de eleições
analisadas (1990-1994 e 1994-1998). Dessa forma, nas eleições para
governador os dados que mais se destacam são as baixas taxas de
volatilidade eleitoral no segundo e último par de eleição analisados (com
destaque para o segundo) e a grande oscilação.
Os dados (tabela 1) mostram que as eleiçõe senatoriais são
bastante volatéis - a média chega a praticamente 40%. Estas não
apresentam as mesmas oscilações observadas no pleito para
governador. Porém a análise fica prejudicada já que não foi possível
obter dados para os dois pares de eleições iniciais.
As eleições majoritárias apresentam maior flutuação do que
aquelas para o legislativo, tendência mais nítida no caso do cargo para
governador. É possível que tal diferença possa ser explicada pela
dinâmica da competição nas eleições majoritárias. Nessas últimas o
formato da campanha eleitoral centrada basicamente no candidato,
especificamente em seus atributos políticos ou individuais e qualidades
pessoais. Esses elementos podem ser mais decisivos para conformar a
decisão do eleitor. No caso das disputas para as eleições proporcionais,
dado o grande número de candidatos, o eleitor orientaria sua escolha
em termos partidários. Porém, os dados disponíveis não permitem fazer
essa afirmação de maneira conclusiva. Um estudo de survey poderia
7
oferecer subsídios interessantes para confirmar, ou não, as hipóteses
acima levantadas.
Para verificar em que medida o padrão de volatilidade eleitoral
em Goiás apresenta peculiaridades passíveis de serem explicadas, pelo
menos em parte, pela dinâmica da disputa política regional será feita
uma comparação com os índices de volatilidade eleitoral encontrados
no plano nacional.
Gráfico 1: Volatilidade Total/ Goiás 1982-2002
60
50
40 Câmara de Deputados
Senado
30
Governador
20 Ass. Legislativa
10
0
1982- 1986- 1990- 1994- 1998- Média
1986 1990 1994 1988 2002
80
70
60
50 Câmara de Deputados
Senado
40
Governador
30 Ass. Legislativa
20
10
0
1982- 1986- 1990- 1994- 1998- Média
1986 1990 1994 1988 2002
8
O gráfico 2 permite visualizar, de forma nítida, uma tendência
geral de declínio nos índices de volatilidade eleitoral em âmbito
nacional. Outros autores também têm chamado atenção para essa
tendência ao analisar a volatilidade eleitoral na Câmara de Deputados
ou Assembléias Legislativas dos estados (Mainwaring, 1998; Peres, 2002;
Braga 2003).Os dados acima mostram que esse é um movimento mais
geral que não se circunscreve apenas ao legislativo. Além disso permitem
afirmar que as eleições para as Assembléias Legislativas Estaduais estão
se tornando cada vez mais estáveis. O mesmo vem se passando com os
pleitos para governador que, desde 1990, apresentam um declínio
constante. Já as eleições para o senado são bastante voláteis em todo o
período e, num patamar bastante alto, a média nacional é 65,1.
Tabela 2: Volatilidade Total/Brasil 1982-2002
Cargo/Eleição 1982-1986 1986- 1990- 1994- 1998- Média
1990 1994 1988 2002
Câmara de 49,27 43,39 35,66 32,33 33,02 38.6
Deputados
Senado 65,88 64,94 64,76 65.1
Governador 38,05 57,77 68,93 52,45 48,77 54.8
Ass. Legislativa 46,82 42,14 28,38 29,84 26,20 34.8
Fonte: Bohn & Paiva (2006) e Paiva & Bohn (2006)
9
da mesma (30,79). O declínio nos índices de volatilidade eleitoral é maior
no âmbito nacional assim como a tendência à estabilidade também é
mais acentuada.
No caso das eleições para o senado, em ambos os planos,
nacional e regional, os índices de volatilidade eleitoral são altos. Porém
em Goiás, são mais baixos e menos estáveis já que nas eleições de 1994-
1998 houve um declínio da volatilidade eleitoral. Outro fato a ser
destacado é que a média nacional (65.1) é bem superior àquela
encontrada para o plano estadual (39,87).
Por seu turno, no pleito para o executivo estadual a flutuação na
volatilidade eleitoral é bem mais acentuada. Acrescente-se também que
no que diz respeito às taxas de volatilidade eleitoral, essas se mantém em
patamares mais baixos que no plano nacional. A média estadual está
bem abaixo o que indica mais estabilidade das preferências eleitorais no
caso de Goiás.
Portanto, em relação às eleições majoritárias o padrão
apresentado pelos índices de volatilidade em Goiás eleitoral difere
daquele encontrado no âmbito nacional. A volatilidade eleitoral média
em Goiás, nas diferentes eleições aqui discutidas, está abaixo daquela
encontrada no plano nacional. Essa diferença é mais nítida no caso das
eleições majoritárias.
Diante das semelhanças e diferenças acima mencionadas entre as
taxas de volatilidade em Goiás e no âmbito nacional, outro dado que
chama atenção é a simetria entre os índices de volalitidade média em
Goiás , nas diferentes eleições (ver tabela 1). A única discrepância são as
eleições para o senado cuja média apresenta uma diferença em
relação ás demais.
10
Gráfico 3:
60,00
50,00
40,00
Goiás
30,00
Brasil
20,00
10,00
0,00
82-86 86-90 90-94 94-98 98-02
11
Essa situação é paradoxal, uma vez que os níveis de identificação
partidária no país não estão aumentando. De acordo com Carreirão e
Kinzo (2004), aqueles apresentam uma trajetória oscilante, com variações
ascendentes e descentes. Por outro lado, os autores afirmam que
aproximadamente 46% do eleitorado, quase a metade, quando
estimulado declara algum algum tipo de preferência partidária. Esse
dado deve ser incorporado a agenda de pesquisas sobre o tema para
explicar o que aqui parece ser uma contradição.
12
Portanto a variação na volatilidade eleitoral em Goiás não pode
ser explicada pelo aumento da número de partidos na competição
eleitoral, é preciso buscar outras explicações para o fenômeno. Bartolini
& Mair (1990) e Mainwaring (2006), destacam que a volatilidade eleitoral
pode ser explicada pela expansão das opções partidárias, isto é, ao
número de competidores. Os primeiros destacam que essa é uma
relação linear, no entanto não é possível definir um patamar a partir do
qual o incremento no número de competidores seja relevante para
explicar a flutuação dos índices de volatilidade eleitoral.
Tabela 3: Volatilidade Eleitoral e Número de Partidos em Goiás 1982-2002
Número de Partidos Efetivos
Coeficiente
de
Eleição/Cargo 1982 1986 1990 1994 1998 2002 Correlação
Câmara de
Deputados 1,84 2,25 3,91 4,84 3,99 5,69 0,81
Senado 1,83 2,43 2,68 1,88 3,84 0,46
Governador 1,81 2,22 2,28 3,25 2,19 2,55 0,26
Ass. Legislativa 1,84 2,62 5,07 7,4 5,41 7,81 -0,44
13
Nesse sentido os dados expressam, de maneira clara, que Goiás expressa
um padrão de volatilidade eleitoral diferente dos demais estados.
Essa tendência pode ser explicada por três efeitos concomitantes
e que guardam relação entre si. Primeiro a prepoderância do PMDB em
Goiás e que o torna distinto dos demais estados da federação. Em
segundo lugar o declínio longitudinal da força eleitoral do partido
mencionado. Por fim os traços de continuidade do sistema partidário
anterior, como conseqüência o processo de implementação do
multipartidarismo no plano estadual mais tardio.
Em relação ao primeiro aspecto é preciso mencionar que após a
reforma partidária de 1979, que restituiu o pluripatidarismo no país,
diversas legendas partidárias totalmente novas foram criadas.11 O fim do
bipartidarismo foi uma estratégia deliberada do regime autoritário para
fragmentar a oposição nos estágios finais do processo de transição.
Nesse novo cenário foram criados partidos políticos totalmente novos,
como PT, PTB e PDT, além dos já existentes (P)MDB e PDS. Este último
sucedâneo da Arena, o partido do governo durante o regime autoritário.
Do ponto de vista dos partidos, 1982 representou o início de um
novo ambiente competitivo no qual diversos grupos políticos tiveram que
lutar para se transformar em agremiações partidárias – o que, na maioria
das vezes, envolveu o esforço de criar uma organização, de tornar a
legenda partidária conhecida e de se expandir para as mais diversas
unidades da federação.
A contraface desse processo foi a recepção do sistema partidário
por parte da cidadania. Isso porque do ponto de vista do eleitorado,
tratou-se de observar as novas ofertas eleitorais, entender minimamente
agregada no MDB – foi a Lei No. 6767, promulgada em 1979. Ao relaxar drasticamente os
requisitos mínimos necessários à formação de partidos políticos, o bloco dirigente autoritário
deliberadamente criou um arcabouço legal que favoreceu a fragmentação do sistema
partidário.
14
sua plataforma programática, seu perfil ideológico, seu posicionamento
vis-à-vis outros partidos e o significado de suas propostas concretas de
políticas públicas. Ou seja, não só os partidos tiveram que se organizar
para conquistar o apoio dos eleitores, como também, por outro lado, os
próprios eleitores tiveram que se adaptar às novas agremiações
partidárias.
No contexto acima mencionado o (P)MDB contava com um trunfo
em relação aos demais partidos então recém-criados já era conhecido
pelo eleitorado. Além disso, havia se credenciado como o esteio das
oposições de todos os matizes, tendo sido um dos principais atores
durante o processo de transição política. Ademais o partido contava
com uma extensa organização e implementação em todo o país, em
detrimento dos demais partidos de oposição criados em 1979. Esses
fatores lhe conferiram um importante capital político e eleitoral, haja vista
os bons resultados alcançados nas eleições de 1982.12
Em virtude dessas características o PMDB emergiu com uma
grande força política após a restauração do pluripartidarismo e no
primeiro governo após a transferência do poder aos civis. Os dados da
abaixo (tabela 4) mostram que nas duas primeiras eleições analisadas o
partido foi uma força política quase preponderante, elegeu 40,9% dos
governadores em 1982 e 95,7% em 1986, além de grandes bancadas no
Congresso Nacional.
No entanto, quando sistema multipartidário começou a se enraizar,
o fôlego eleitoral do PMDB começou a arrefecer. Essa tendência se
iniciou basicamente a partir do final dos anos oitenta quando houve
também um grande aumento da oferta eleitoral.13 Entre 1990 e 2002, o
12 Sobre a trajetória do MDB e do PMDB ver, entre outros: Kinzo (1988), Kinzo & Silva (1996) e
Ferreira (2002).
13 De acordo com os dados de Paiva e Bohn (2006) entre 1985 e 1990 foram criados 46 novos
partidos, a maioria deles teve curta duração. Essa explosão da oferta partidária foi permitida a
partir de mecanismos legais que tornaram mais permissiva a criação de novos partidos. Uma
15
partido continuou extremamente forte no plano estadual, mas num grau
significativamente menor: conquistou 25,9% das eleições para
governador. Embora ainda mantenha bancadas expressivas no
Congresso Nacional os percentuais são bem mais modestos que aqueles
do início do período investigado.
Tabela 4: Porcentagem de cadeiras controladas pelo PMDB 1982-2002
Cargo/Eleição 1982 1986 1990 1994 1998 2002
Deputado Estadual 65,4 58,4 38,8 26,8 39 22
Goiás
Deputado Estadual 42,7 47 20,4 19,6 16,6 12,5
Brasil
Deputado Federal 68,8 70,6 58,8 41,2 47,1 23,5
Goiás
Deputado Federal 59,4 53,4 21,5 20,9 16,4 14,4
Brasil
Senado 100 100 100 100 100 0
Goiás
Senado 36 77,6 25,8 25,9 22,2 16,7
Brasil
Fonte: http://jaironicolau.iuperj.br/database/deb/port/index.htm
16
padrão único em termos de eleições governatoriais. Somente o caso da
Paraíba se assemelha ao de Goiás, todavia, em 1982 o governador eleito
pertencia ao PDS. Por último, os dados em anexo permitem verificar os
altos percentuais de votação recebidos pelo PMDB em Goiás. 16
Por conseguinte o padrão de volatilidade eleitoral observado na
política goiana, mais baixo em comparação com a média nacional, e
com médias bastante próximas entre si é explicado em grande medida
pelo desempenho eleitoral do PMDB. É interessante observar que a partir
de 1990, quando o partido inicia uma trajetória de declínio, como
mostram a tabela 1 e o gráfico 1. Desse modo, a votação no PMDB
atuou como um vetor que manteve as taxas de volatilidade eleitoral
mais baixas em relação às médias nacionais.
16
Paiva e Campos (1992) e Carreirão, Paiva e Zorzal (1996) demonstram que nas eleições locais
entre 1982 e 1996 o PMDB também foi o partido que obteve a maior votação em Goiás.
17
acepção de Sartori (1982), demonstra estar se consolidando em Goiás..
Ao centro PMDB e PSDB se mantém como forças políticas relevantes com
uma tendência a concentrar os maiores percentuais de cadeiras em
torno de si, à esquerda o PT e, à direita PFL e PDS/PPR/PPB. Por sua vez
PDT e PTB, ainda que de forma mais modesta que os demais, têm
ocupado espaço na Câmara Federal e Assembléia Legislativa Estadual,
(ver anexos). É bem provável que passado o realinhamento do
eleitorado ocorrido no início dos anos noventa as opções eleitorais se
estabilizar. Para analisar melhor esse perfil a próxima tarefa e calcular a
volatilidade ideológica bem como em que medida variáveis como
idade dos partidos, tamanho do eleitorado e socieonômicas concorrem
para explicar de maneira mais aprofundada a volatilidade eleitoral no
plano estadual.
Considerações Finais
Por último os apresentados mostram que a se manter a tendência
esboçada de declínio das taxas de volatilidade eleitoal começa a se
configurar um quadro de maior establidade da competição político-
partidária tanto no âmbito nacional como em Goiás. No decorrer de
duas décadas o eleitorado sinaliza que está se adaptando ao sistema
18
eleitoral em vigor. Assim poderíamos falar numa tedência mais estável
em termo de escolhas no mercado da competição partidária e declínio
da volatilidade eleitoral. Contudo não se pode desconsiderar que as
taxas de volatilidade eleitoral se mantêm altas, principalmente se
comparada às democracias mais longevas.
Em relação esse aspecto é preciso considerar que diante do
enorme cardápio de opções eleitorais existentes é provável que a
volatilidade eleitoral se mantenha em patamares elevados.17 Atualmente
estão registrados 29 partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No
entanto preciso investigar, empiricamente, em que medida a oferta
eleitoral contribui sozinha para explicar a volatilidade eleitoral ou se
outras variáveis institucionais e/ou socieconômicas oferecem explicações
mais consistentes ou complementares.
19
Referências
20
Lima Jr. O. B. (1997). O Sistema Partidário Brasileiro: Diversidades e Tendências (1982-
1994). Rio de Janeiro: Ed. FGV.
_______. (1983), Partidos Políticos Brasileiros: a experiência federal e regional 1945-64. Rio
de Janeiro: Edições Graal.
Lima, M. C. (1996). Volatilidade Eleitoral em São Paulo (1985-92). Novos Estudos Cebrap,
n. 46.
Linz, J. (1996) Within-Nation Differences and Comparisons: The eight Spains. In: Rokkan, S.
& Merrit, R. L. (eds.) Comparing Nations: The use of quantitative data in cross-national
research. New Haven: Yale University Press.
Mainwaring, S. (1998). Electoral Volatility in Brazil. Party Politics. V.4, n.4. pp. 53-45.
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ANEXOS
Percentual de Votos Conquistadas pelos Partidos em Goiás 1982-2002
Câmara de Deputados
Partidos/Eleição 1982 1986 1990 1994 1998 2002
22
Assembléia Legislativa
Partido/Eleição 1982 1986 1990 1994 1998 2002
PMDB 65,4 58,4 38,8 26,1 37,3 19,6
PDS/PPR/PPB 33,9 3,9 3,1 11,3 6 8,7
23
Senado18
Partidos/Eleições 1994 1998 2002
Governador
1994 1998
Partido/Eleição 1982 1986 1990 1º 2º 1º 2º 2002
Turno Turno Turno Turno
PMDB 66,7 57,2 56,4 42,5 56,4 46,9 46,7 32,8
PDS/PPR/PPB 32,5 - - - - - - -
PDT 0,1 - 4 - - - - -
PT 0,7 7,8 5,6 8,8 - 3,2 - 15,2
PSDB - - - - 48,6 53,3 51,2
PFL - - - 23,2 - - -
PTB - - - - - - - 0,3
PCdoB - - - - - - - -
PDC - 34,1 34 - - - - -
PH - 0,3 - - - - - -
PCB - 0,6 - - - - - -
PP - - - 25,5 43,6 - - -
PSTU - - - - - 0,6 - 0,1
PV - - - - - 0,4 - -
PMN - - - - - 0,3 - -
PGT - - - - - - - 0,4
Fonte: http://jaironicolau.iuperj.br/database/deb/port/index.htm
18 Nas eleições entre 1982-1998 todos os senadores eleitos eram filiados ao PMDB. Não foi possível
obter os dados para as eleições entre 1982-1994 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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