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Leitura de Mensagem de Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 1888,1935) é o mais importante poeta português
do século XX. Aos sete anos, muda-se com a mãe para Durban, na África do Sul, onde é
alfabetizado na língua inglesa.

Em 1905, retorna definitivamente para sua cidade natal e ingressa na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Começa a publicar textos de crítica na revista A águia, em 1912, e a
colaborar em jornais e revistas, sendo a principal delas a Orpheu. Cria os heterônimos Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Durante sua vida publicou em livro apenas
Mensagem (1934). Trabalhou em Lisboa como tradutor e “correspondente estrangeiro” de
casas comerciais. Falece em Lisboa na decorrência de uma cirrose hepática aos 47 anos.
O livro Mensagem (1934) é o único livro de Fernando Pessoa em língua portuguesa, publicado
em vida, precisamente um ano antes da sua morte. O livro vê a luz do dia a 1 de dezembro de
1934, exatamente um ano antes da morte do poeta que ocorre a 30 de novembro de 1935. Os
poemas foram escritos ao longo de cerca de vinte e um anos- toda a sua carreira. A obra é
composta por 44 textos, que podem ser lidos independentemente, mas que, em conjunto,
formam um único poema dividido em três partes: “Brasão”, “Mar português” e “O Encoberto”.

A leitura de Mensagem é enriquecida pelo conhecimento da história de Portugal e de sua


epopeia “Os lusíadas”, de Camões. Por esse motivo, optamos por publicar, ao final da obra, um
“Glossário” de figuras históricas e mitológicas e uma seleção, chamada de “Intertexto”, com as
passagens de Os lusíadas que são referidas por Pessoa.
Apesar dos poemas terem sido escritos ao longo da sua vida, a sua organização, enquanto
produto final, obedece a uma lógica estruturada, e de acordo com o ciclo de vida:
nascimento/crescimento, realização e morte.

O livro é um poema épico-lírico dividido em 3 partes e constituído por 44 poemas, geralmente


de curta extensão de duas, três ou cinco estrofes, que apresentam, por sua vez, 4, 5, 6 ou 9
versos plenos de musicalidade conferida pela rima, pelo ritmo.

1. Nascimento – 1ª Parte “Brasão”


Fundação da nacionalidade, desfile de heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D.
Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastiao.

2. Realização – 2ª Parte “Mar Português”


Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no esforço heróico da luta com o mar.
Apogeu da acção portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como “O Infante”, “O
Mostrengo”, “Mar Português”.

3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”


Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo
representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto
Império.
A primeira parte, “Brasão”, remete para um estudo heráldico do escudo ou brasão

português, corresponde ao plano narrativo da História de Portugal, n’os Lusíadas.

Datado dos tempos das Cruzadas, o brasão português é encontrado na bandeira.

Na primeira parte fala-se do nascimento da pátria, da fundação da nacionalidade e da


construção da pátria e do império. Os poemas aludem aos fundadores e construtores,
heróis lendários ou históricos, convertidos em símbolos.
O brasão que serviu de modelo para Mensagem apresenta cinco partes (divisão dos
poemas da primeira parte):

I) Os campos (interno e externo)


• O dos Castelos

• O das Quinas

II) Os castelos
• Ulisses

• Viriato

• O Conde D. Henrique

• D. Tareja

• D. Afonso Henriques

• D. Dinis

• D. João o Primeiro

• D. Filipa de Lencastre

III) As Quinas
• D. Duarte, Rei de Portugal

• D. Fernando, Infante de Portugal

• D. Pedro, Regente de Portugal

• D. João, Infante de Portugal

• D. Sebastião, Rei de Portugal

IV) A coroa
• Nuno Álvares Pereira

V) O timbre
• A Cabeça do grifo
O Infante D. Henrique

• Uma Asa do Grifo


D. João o Segundo

• A Outra Asa do Grifo


Afonso de Albuquerque
No conjunto dos 18 poemas da primeira parte podemos encontrar referências a heróis míticos,
como Ulisses, Viriato, Conde D. Henrique, D. Tareja, D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I e
D. Filipa, D. Duarte, D. Fernando, Infante de Portugal, D. Pedro, Regente de Portugal, D. João,
Infante de Portugal, D. Sebastião, Infante D. Henrique.

O dos Castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;


O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,


O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

Fernando Pessoa, in Mensagem

Poema que localiza Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando atestar a sua
grandiosidade – Portugal como rosto de Europa - e o valor simbólico do seu papel na
civilização ocidental ao afirmar “O rosto com que fita é Portugal”.

A missão de Portugal está assinalada pela sua localização geográfica estratégica: conquistar o
que está para ocidente, o mar, criando um novo império que dará continuidade à supremacia
do restante império europeu.
O título do poema é uma alusão ao território português, protegido por os sete castelos que,
uma vez conquistados aos mouros, definiriam a geografia de Portugal.
A segunda parte corresponde ao tempo da ação épica – à ação central n’Os Lusíadas.

Constituída por 12 partes, procura simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado
para o mar e para o sonho.

As 12 partes/poemas são dedicados à conquista, à posse dos mares, com destaque para as
figuras históricas do Infante, de Diogo Cão (“Padrão”), de Bartolomeu Dias, dos Colombos, de
Fernão de Magalhães, de Vasco da Gama e, novamente, D. Sebastião – com destaque,
igualmente, para a ilha de sonho figurada em “Horizonte” – e para o mar, local de todos os
medos, dores e coragens, figurados em “O Mostrengo” e “Mar Português”.

Esta parte termina com um poema que abre para a terceira parte – “Prece”.

Divisão dos são dos poemas da Segunda Parte:

I) O Infante

II) O Horizonte

III) Padrão

IV) O Mostrengo

V) Epitáfio de Bartolomeu Dias

VI) Os Colombos

VII) Ocidente

VIII) Fernão de Magalhães

IX) Ascensão de Vasco da Gama

X) Mar Português

XI) A Última Nau

• Prece
Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa, in Mensagem

O poeta dirige-se ao mar, um mar responsável pelo sofrimento das mães, dos filhos, das
noivas, de todos aqueles que ousaram cruzar as suas águas com o intuito de o dominarem –
“para que fosses nosso, ó mar!”.
Terá valido a pena tanto sofrimento? “Tudo vale a pena/Quando a alma não é pequena” – é
mais uma maneira de o poeta afirmar a importância da vontade da alma humana, vontade
sempre insaciável.

No poema “Mar Português”, esta consciência do perigo, que também provoca dor e
sofrimento, é eivada de otimismo, por a dor é encarada como um meio necessário para
alcançar o sonho, é uma fase do caminho para atingir o absoluto.
A terceira, O Encoberto, é a parte mais marcadamente simbólica e sebastianista, voltando,
ainda a falar de outras figuras da história de Portugal. O termo "O Encoberto" é uma
designação ao antigo rei de Portugal D. Sebastião I, o que demonstra sebastianismo.

Sendo também uma desintegração, mas também toda ela cheia de avisos, fortes
pressentimentos, de forças latentes prestes a virem à luz: depois da noite e tormenta ,vem a
calma.

Divisão dos poemas da Terceira Parte

I) Os Símbolos:

• D. Sebastião

• O Quinto Império

• O Desejado

• As Ilhas Afortunadas

• O Encoberto

II) Os Avisos:

• O Bandarra

• António Vieira

III) Os Tempos:

• Noite

• Tormenta

• Calma

• Antemanhã

• Nevoeiro
Horizonte
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul-siderio
'Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa –


Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe, a abstrata linha.

O sonho é ver as formas invisíveis


Da distancia imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa, in Mensagem

O horizonte é símbolo do indefinido, do longe, do mistério, do desconhecido, do mundo a


descobrir, do objetivo a atingir.
Através da apóstrofe inicial, "Ó mar anterior a nós", o sujeito poético dirige-se ao mar
desconhecido, ainda não descoberto/navegado.
A expressão "naus da iniciação" é uma referência às naus portuguesas que, empurradas pelos
ventos do "sonho", da "esp'rança" e da "vontade", abriram novos caminhos e deram início a
um novo tempo.
O título "Horizonte" evoca um espaço longínquo que se procura alcançar funcionando, assim,
como uma espécie de metáfora da procura, como um apelo da distância, do "Longe", à eterna
procura dos mundos por descobrir. Assim, este é um dos poemas que demonstram um Pessoa
nacionalista místico, que respira um patriotismo de exaltação e de incitamento.
Com este trabalho conclui-se que a “Mensagem” foi a obra-prima do percurso criativo de
Fernando Pessoa.

A estrutura da “Mensagem” representa um ciclo de nascimento, vida e morte da pátria.

Esta obra veio trazer esperança alegria aos portugueses, relembrando os feitos, mostrando
como foram corajosos e exaltando de novo, como em “Os Lusiadas”, mas de uma maneira
difente.
Nos sites:

http://josophiee.blogspot.pt/

http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/12portofolio1/
12portofolio1aw.htm

http://discportugues.blogspot.pt/2012/10/modulo-10-mensagem-fernando-pessoa.html

http://pt.slideshare.net/pvitorino5/intertextualidade-entre-os-lusadas-e-
mensagem?related=2

http://pt.slideshare.net/valatao/mensagem-raiz-ed?related=4

http://pt.slideshare.net/antonius3/fernando-pessoa-ortnimo-heternimo-biografia-e-
caractersticas

https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/02/Mensagem.pdf

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