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ORMAS DE NIILISMO

Como negar a vida? Ou melhor, como fazer da negação uma forma de vida?
O niilismo é o caminho que leva o homem para o abismo, e hoje lentamente
marchamos entorpecidos para nosso destino final. O niilista é o acusador: dos outros,
de si, da existência, de tudo. O sacerdote, o utópico, o sonhador, o crente, o fascista,
o iludido, todos criam ficções para justificar suas acusações a este mundo e assim
tornar a vida mais (in)suportável.
Pobres negadores, eles preferem querer o nada à nada querer! Ou seja, o niilista quer
viver, mas só pode fazê-lo de modo doentio, impotente, estendendo uma grande
cortina negra sobre a realidade para não encará-la.
Não é a vontade que se nega nos valores superiores, são os valores superiores
que se referem a uma vontade de negar, de aniquilar a vida “
– Deleuze, Nietzsche e a Filosofia
Nietzsche mergulhou na doença europeia para entender o niilismo até sua medula.
Platão, Kant, Schopenhauer e outros não conseguiram ir tão longe, porque só
filósofo do martelo retornou com saúde, mais forte, capaz de criar valores dentro
deste Plano de Imanência.
Esta é a questão! Transvalorar o niilismo, se utilizar dele como meio para tornar-se
mais potente! É preciso filosofar à sombra do niilismo, sem se afogar em suas águas
traiçoeiras, só podemos superar o niilismo dentro dele. Se o filósofo alemão
diagnosticou seu tempo, foi Deleuze quem posteriormente lendo sua obra
sistematizou suas proposições em quatro formas de niilismo:
N i i l i s m o Ne ga t i v o :
 Aqui, nega-se o mundo em nome de outros valores. Mas o niilista engana a si
próprio, ele nunca diz negar o mundo, pelo contrário, ele se diz afirmando
Deus, uma utopia, o que quer que seja. Divisão de dois mundos, um debaixo:
sensível, mutável, corporal, imperfeito, temporal; outro supra-sensível:
imutável, ordenado, perfeito, atemporal. O niilista negativo cria outros
mundos para poder suportar este. Este mundo é ruim, portanto, o niilista deve
provavelmente ser o escolhido de Deus (um deus dos fracos, oprimidos, que
sofrem), esta é a figura do ressentimento;
N i i l i s m o Re a t i v o :
 O homem iluminista e racional não nega o niilismo negativo, ele dá um passo
adiante: a morte de Deus. Ah, somos todos ateus! Sim, matamos Deus e ele
mereceu, mas agora o homem é sagrado. Viva os direitos do homem! De que
adianta? O além agora é o futuro, “no dia da revolução todos serão
redimidos“. Trabalhe por um mundo melhor, sirva à sociedade, faça o bem
para os seus filhos. A ciência dará todas as respostas. Enfim, ainda somos
religiosos, o homem matou a verdade fora deste mundo, mas ainda acredita
numa verdade metafísica neste mundo, um mundo melhor por vir.
Niilismo Passivo:
 Aos poucos, a Vontade de Potência se esgota no niilismo, ela vaza, escoa,
procura afirmar-se em outros lugares. O homem cada vez mais doente tem
cada vez menos capacidade de afirmar-se. O niilismo passivo é o dos últimos
dos homens (Zaratustra, parte IV). “Onde está o mar para que eu possa me
afogar?”, mas o mar secou! Estamos chegando perto do fim… a chama se
apaga, surge a escuridão sem fim. Mortos-vivos, não encontram vida dentro
de si (mesmo ela estando lá), mas ainda se movem… perdidos…
entorpecidos…
N i i l i s m o At i v o :
 A última forma de niilismo nega a si mesmo e se torna ativo! Há um
rompimento, uma enorme mudança na capacidade de valorar. Se destruir
ativamente, eis o objetivo! Destruir o niilismo dentro de si! Como podemos
acelerar a roda do devir? Negando as forças de negação. O que vem depois
do homem moderno? O que está além do homem? Para isso é necessário criar
novos valores!

Niilismo Negativo – Platonismo e Cristianismo


Niilismo Reativo: a falsa morte de Deus
Niilismo Passivo: Nada de Vontade
Niilismo Ativo – Transvaloração de Todos os Valores

F i l ó s of os Ni i l is t a s
Além da pergunta anterior, precisamos pensar também: como viver à sombra do
niilismo? Esta é uma pergunta difícil de responder, pois cada um pode reagir de uma
maneira.
Ou seja, o niilismo tem seus personagens. E toda filosofia é pensada por um corpo,
é secreção de um estado de saúde. Alguns filosofam por desespero, patologia,
indigência, procurando apoio e tranquilização. Chamaremos estes de niilistas
fracos: eles procuram descanso, céu, eternidade. Já outros filosofam por saúde
transbordante, luxo, adorno, abundância, excesso. Chamaremos estes de niilistas
fortes: pois descansam apenas como meio para novas lutas!
Estes estados de saúde são a porta de entrada para entendermos nosso mundo e a nós
mesmos! Deste modo, Nietzsche nos convida a percorrer toda a geografia da alma
humana, como bons psicólogos, para encontrar as forças que nos habitam e encontrar
os modos de se viver neste mundo. O niilismo é o solo de onde nascem várias
filosofias! Nossos personagens serão: Platão, Kant, Schopenhauer e, claro, o
próprio Nietzsche. Cada um enfrenta o niilismo à sua maneira, e cada qual encontra
as suas soluções.
O niilismo é uma maneira de viver e de encarar a vida. Toda filosofia pode ser vista,
segundo Nietzsche, como uma maneira de viver e, segundo Deleuze, de resolver
problemas.
O niilismo será nosso palco, os filósofos serão os atores e os conceitos,
ferramentas. Podemos pensar em uma enorme arena onde lutadores empunham
armas para enfrentar um problema imposto pelo próprio ato de existir: “como viver
à sombra do niilismo?”. Encontraremos aqui modos de valorar que dizem respeito à
capacidade de cada um de habitar este Plano de Imanên

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