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A Psicopatologia em Carl G.

Jung: Contribuições da Psicopatologia


Simbólica

SANTOS, Alan Ferreira dos [1]

SANTOS, Alan Ferreira dos – A psicopatologia em Carl. G. Jung: Contribuições da psicopatologia simbólica.
Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, Ano, 1, Vol.7, p. 77-90. Agosto de 2016.
ISSN:2448-0959

RESUMO

4 A psicologia analítica fundada por Carl G. Jung (1875 – 1961) é uma grande conquista científica, tanto ao que
concerne as descobertas monumentais sobre a esfera do inconsciente, como também sua visão sobre o
patológico, não obstante, a obra que nos foi legada esteve inconclusa, havendo alguns aprimoramentos por parte
dos alunos de Jung, aqui no Brasil o maior expoente da psicologia analítica, fez algumas revisões sobre as
conceituações teóricos metodológicas, além disso, Carlos Byington (1933 – presente) hoje com 83 anos, produziu a
partir das concepções Junguianas, uma Psicopatologia Simbólica , que agrega novas descobertas, que permitem
uma melhor articulação dos conceitos analíticos, e consequentemente, auxilia a comunidade científica a pensar
num melhor diagnóstico. Método: Este estudo foi produzido a partir de material bibliográfico, tendo-se feito uma
análise qualitativa dos dados recolhidos. Objetivos: Delimitar e analisar as reformulações da Psicopatologia
Simbólica. Compreender as principais contribuições e as continuidades produzidas no pensamento de Carl G. Jung.
Conclusão: Pode-se concluir que as reformulações feitas pela Psicopatologia Simbólica se deram no sentido, de
uma desconstrução da patologização do psiquismo, condições estas, que ao decorrer da história foram fixadas
como sendo inerentes a constituição humana. A guisa de conclusão, pode ser dizer que a psicologia analítica tem
seu em cerne, um olhar peculiar sobre a condição humana, saindo de uma estruturação vertical e declinando ao
decorrer do tempo, permanecendo numa horizontalidade, visando um olhar dinâmico sobre o sujeito
biopsicossocial.

Palavras Chaves: Psicopatologia em Carl G Jung. Psicologia Analítica e Psicopatologia. Psicopatologia Simbólica.

INTRODUÇÃO

Ao trabalhar com o patológico na dimensão da psique, Carl G. Jung (1875 – 1961) situa, a psicopatologia como
sendo uma variante, do desenvolvimento normal do arquétipo, segundo o psiquiatra as enfermidades são
distúrbios de processos normais, e nunca uma entidade por si dotados de uma psicologia autônoma (JUNG, 1935).
No entanto, ocorreram algumas deformações ao longo da história, do que seria normal ou patológico. Existem
diversos autores que se propuseram debates, um deles diz, que a doença seria o que perturba o exercício normal
da vida cotidiana a as ocupações do sujeito, fazendo-o sofrer (CANGUILHEM, 1978). Outros dizem, que o
diagnóstico tem sempre uma conotação culturalista, variando de sociedade para sociedade (HORNEY, 1966).

O propósito deste artigo, é trabalhar o pathos na vertente da psicologia analítica, se utilizando das reformulações
que foram feitas pelo maior expoente da abordagem no Brasil Carlos Byington, segundo o pesquisador, existiram

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algumas deformações históricas que patologizaram a dimensão psíquica normal (BYINGTON, 2006).

Nesse sentido, será feito um percurso pela obra do autor, tendo como objetivo circunscrever as características da
Psicopatologia Simbólica, visando extrair as descobertas na área e as novidades teóricos conceituais.

Sem a menor sombra de dúvida, Byington nos forneceu grandes contribuições no campo da Psicologia Analítica,
com o seu rigor metodológico abriu uma vasta área de saber, desconstruindo incongruências históricas e
revisionando conceitos deixando-os atualizados.

AO DECORRER DA HISTÓRIA.

Ao longo da história ocorreram diversas deformações com relação, ao que seria normal ou patológico, no entanto
isto pode ser evidenciado, como uma espécie de arquétipo, que ocorreu historicamente, segundo Byington “Quatro
deformações históricas patologizaram indevidamente a dimensão psíquica normal” (BYINGTON, 2006, p.5).

Segundo o autor “A primeira, mítica, origina-se na Gênese. A ampliação da Consciência de Adão e de Eva é
considerada tão má que justifica sua expulsão do Paraíso” (BYINGTON, 2006, p.5).

Com o passar dos anos e o advento da revolução francesa (1789) em consonância com era do Iluminismo, se
instala uma nova concepção de mundo, que bani por si só a religião e qualquer tipo de “misticismo”, se até então,
estávamos nos redimindo do pecado original, agora banimos por completo a esfera do sagrado:

Ao vencê-la e expulsar a Inquisição, no final do século dezoito, a ciência consagrou a objetividade e baniu o
subjetivo e a religião. Instalou-se a dissociação subjetivo-objetivo na Cultura Ocidental, origem do materialismo do
século dezenove. O subjetivo levou com ele as funções do sentimento (da ética), da intuição, da introversão e da
relação emocional com o universo, pejorativamente associados à supertição, ao dogmatismo, fanatismo,
charlatanismo e ao erro no método científico (ibid., p. 6).

Em seguida redescobrimos o subjetivo, por meio da medicina “A descoberta do normal através da doença até hoje
dificulta perceber a transição do normal para a patologia (ibid., p.6). Nessa direção Pinel e o magnetismo animal
de Mesmer resgata a subjetividade, este por sua vez iniciou o estudo do subjetivo normal, que se desenvolveu
posteriormente com a hipnose no tratamento de histéricos, e:

Esta porta serviu para Liebault e Bernheim entrarem na dimensão subjetiva inconsciente normal e patológica,
fechando-se outra vez para o subjetivo inconsciente normal, quando Charcot ignorou o trabalho deles e afirmou na
Academia de Ciências de Paris que somente pacientes histéricos eram hipnotizáveis (ibid., p. 6).

E por fim, a última ocorre quando “Freud descreveu a formação do Ego através do Id e reduziu as relações
primárias ao complexo de Édipo, o inconsciente ao inconsciente reprimido e a criança ao perverso-polimorfo”

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(ibid., p. 7).

Até aqui decorremos sobre a patologização do normal ao longo da história, tendo o seu apogeu em Freud, como a
última deformação histórica arquetípica. Passaremos agora, a patologização do normal pela psicanálise, e como
esta fez uma revolução na percepção humana e no modo como nos percebemos, mas também produziu
consequências negativas ao desenvolvimento do próprio saber, se influenciou positivamente, à assertiva antípoda
também é correta, vejamos:

As descobertas geniais de Freud da formação da identidade desde a infância, sexualidade infantil, inconsciente
reprimido, complexo de Édipo, mecanismos de defesa do Ego, compulsão de repetição, complexo de castração,
resistência e transferência defensiva teriam sido um avanço espetacular para descrever a Psique normal e
protegê-la da deformação patológica. Porém, ao acreditar que a patologia descoberta configurava características
normais das crianças, que necessitariam da repressão para sublimar-se e compatibilizar-se com o convívio social, a
Psicanálise tornou-se fonte exuberante de deformação psicológica pela patologização. Ao denunciar a repressão
sexual puritana da Era Vitoriana, e “descobrir” o “perverso-polimorfo normal”, patologizou a Psique, justificou sua
repressão e negou qualquer possibilidade de desenvolvimento livre e criativo para realizar o potencial genético. O
ser humano foi considerado instintiva e “cientificamente” homicida e perverso, e necessitado da repressão para
civilizar-se (ibid., p. 7).

Como sabemos Carl G. Jung rompe com Freud por conta de algumas dissidências conceituais, por não aceitar
algumas formas de reducionismo, com isto inicia um movimento de libertação da psicologia, que ocorre quando se
faz a descoberta do inconsciente coletivo e o processo de individuação. A única falta cometida por Jung, foi não ter
concebido a formação arquetípica do Ego, que foi descoberta, mas patologizada por Freud. Posteriormente os pós-
junguianos iram descrever a formação e a evolução arquetípica do Ego, no entanto, deixam de descrever como e
quando o processo de desenvolvimento se torna patológico (BYINGTON, 2006).

A Psicologia Simbólica Junguiana de Byington, é uma formulação teórica, que visa dar continuidade ao trabalho de
Jung e Erich Neumann (1905 – 1960), mas fazendo uma delimitação do que seria o normal e o patológico,
desconstruindo as incongruências históricas e construindo novas pontes de se pensar o pathos, dentro de uma
perspectiva da psicologia analítica, desenvolvendo o que ele denomina de simbólico-arquetípico.

Para isto, teve de criar algumas conceituações, uma delas é o símbolo, que quando formulado por Jung, consistia
em unificação de consciente e inconsciente, para Byington o símbolo torna-se:

Inclusive as representações subjetivas e objetivas e as pessoais e coletivas. Assim, os símbolos passam a incluir,
junto com a imagem, também palavra, número, som, ideia, emoção, conduta, natureza, corpo e sociedade.
Acredito que a equiparação feita por Jung de libido com energia psíquica só pode ser realmente implementada
quando assumimos que tudo na Psique é símbolo, cujos significados ligam a parte com o Todo (ibid., p. 10).

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O self que é a totalidade psíquica consciente e inconsciente e o principal arquétipo em Jung, é denominado por
Byington como sendo as instancias psíquicas consciente e inconsciente e o Arquétipo Central, torna-se o principal
dos arquétipos, portanto há uma ruptura na conceituação, pois antes era o conceito de Self denominando o todo,
mas por haver uma complicação teórica (em específico um imbróglio), fez-se essa alteração para uma melhor
articulação conceitual (BYINGTON, 2006).

A consciência ou o Ego, é formado a partir das funções, que é toda e qualquer força operativa na psique, esta, por
sua vez, tem como propriedade uma força motriz, produtora de elaborações simbólicas, nesse sentido o Arquétipo
Central (principal dos arquétipos) transforma o processo de elaboração simbólica, na principal atividade psíquica,
formando a consciência (BYINGTON, 2002).

Todo processo de elaboração simbólica emerge do arquétipo central, seus desfilamentos provem de seu cerne, o
que torna todos os símbolos e funções estruturantes expressões permanentes da totalidade. As polaridades são
integradas por meio do arquétipo central, de modo a reunir as suas antípodas: consciente e inconsciente, normal e
patológico, individual e coletivo, homem e mulher, vida e morte.

Devemos compreender que existem arquétipos primordiais, como o do Pai (Patriarcal) e o da Mãe (Matriarcal)
(BYINGTON, 2004). Ambos existem em homens e mulheres, a denominação dada, é que o patriarcal está
relacionado as funções de organização (lógica) enquanto que o matriarcal, a sensualidade e o desejo, podendo ser
associado ao:

[…] ao hemisfério cerebral direito, ao sistema límbico e ao sistema neuroendócrino-vegetativo, enquanto que o
Arquétipo Patriarcal, como o arquétipo dominante da organização, do poder e da abstração, pode ser relacionado
ao hemisfério cerebral esquerdo e aos sistemas volitivo-sensório-motor e associativo cortical (BYINGTON, 2006, p.
13).

As relações entre o Ego e Outro, se desenvolve a partir de polaridades, a primeira é denominada de posição
indiferenciada (Arquétipo Central), este símbolo é representado por círculos, como Ouroboros (dragão que morde a
própria cauda), significando a continuidade entre o início e o fim.

A posição insular (Arquétipo Matriarcal) faz com que o Ego se relacione com o Outro, sendo mediado pelo desejo,
pela sensualidade e fertilidade. Tal relação se dá binariamente, o indivíduo pode produzir projeções de afetos
positivos, como também negativos no mesmo objeto. O movimento psicológico das alterações das ilhas na
consciência, faz-se por meio, da satisfação (prazer) ou frustração (desprazer), sempre se relacionando com apenas
um polo, positivo ou negativo e nunca com ambos.

A posição polarizada (Arquétipo Patriarcal) tem como característica movimentos ternários, pois o ego mantém
contato, tanto com o polo positivo, quanto o negativo, isto é, bonito e feio, vida e morte, certo e errado, sua
característica central é a reflexão.

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A posição dialética (Arquétipo da Alteridade) contém em si movimentos quaternários, a complexidade de tal


posição é abrangente, envolvendo não apenas aspectos, emocionais (matriarcal) e racionais (patriarcal), mas
também a imprevisibilidade da vida (sincronicidade), ou seja, o indivíduo torna-se apto a relacionar-se com o
outro, de modo a considerar o desejo de ambos, considerando os aspectos cotidianos como um fator a ser levado
em conta, sendo assim uma relação simétrica de ponderações.

A posição contemplativa é o arquétipo da totalidade, onde ocorre a integração entre o Ego e Outro, tornando-se
unidade:

As cinco posições arquetípicas da relação Ego-Outro descrevem a mandala evolutivo-estrutural que a lendária
alquimista Maria Profetissa, famosa pelo “banho-maria”, formulou: “O um se transforma no dois, o dois no três, o
três no quatro, e este, novamente no um” (BYINGTON, 2006, p. 19).

A psicopatologia em Carl G. Jung, tornou-se insatisfatória, pelo fato do autor ter produzido o conceito de sombra
ambiguamente, sendo espaço concomitante do patológico e do normal. Posteriormente irá introduzir a categoria
de arquétipo à sombra, fornecendo uma terceira função. Por conta disso, o conceito acabou tornando-se de difícil
aplicação, pois na obra do autor, o mesmo tem variados sentidos, tendo de ser interpretado conforme o contexto.

Apoiado na conceituação Freudiana, Byington irá reformular a categoria de sombra, se utilizando de duas
descobertas: a fixação e os mecanismos de defesa. A primeira será uma disfunção na elaboração simbólica,
gerando o inconsciente reprimido “cujos símbolos passam a ser expressos por defesas” (BYINGTON, 2006, p. 21).

As defesas em Freud, eram utilizadas para expressar o desenvolvimento normal e o inconsciente reprimido, que
por sua vez, era reconhecidamente patológico. Assim ocorre uma separação entre normal e patológico, o segundo
sendo as fixações e os mecanismos de defesa, para que assim possamos entender o desenvolvimento em níveis
positivos e negativos.

Antes Jung situava o “mal” como sendo arquetípico, Byington, irá trazer tal fenômeno como provindo das fixações
e da defesa, isto é, da Sombra:

Quando abordamos a ética como uma função estruturante presente em toda elaboração simbólica, percebemos
que a fixação que cria as defesas e a Sombra é também um conceito especialmente apropriado para descrever a
fonte do Mal, pois a função ética também é fixada, em grau maior ou menor, com os símbolos, complexos funções
e sistemas estruturantes. Assim, a Consciência é a expressão normal, enquanto que a Sombra é a expressão
defeituosa da elaboração simbólica, ambas coordenadas pelo Arquétipo Central. Quando normal, a elaboração
simbólica expressa o caminho do Bem; quando defensiva, o caminho do Mal. Desta maneira, podemos considerar
que o Bem e o Mal são de origem arquetípica, como Jung sempre intuiu, sem, contudo, situá-los com estruturas
primárias, como fez Freud com a polaridade instintiva das pulsões Eros e Tanatos (BYINGTON, 2006, p. 27).

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Aqui se coloca os termos para a constituição de uma psicopatologia analítica, tendo como característica central a
dinâmica dos quadros clínicos, em função da sua natureza e gravidade, sejam eles funcionais ou orgânicos. Mas
para isto, é necessário ter delimitado, o conceito de defesa, que varia dos casos mais leves, até os mais graves, do
conceito de personalidade patológica, que é extremamente grave. A defesa psicopática, poderia ser delimitado
como leves e elevadas fixações, está margem entre “leve e elevado” seria uma defesa psicopática, exemplos
disto, poderia ser no primeiro caso, o “ato de mentir constantemente” no segundo “estelionato”, no último há uma
nomenclatura “personalidade psicopática”, na qual a defesa psicopática abrange parte dominante do self
individual. Isto permite, visualizar o percurso do desenvolvimento, do normal ao patológico, podendo assim traçar
elementos “sinais ou sintomas” que facilitem o diagnóstico e uma possível profilaxia, pois, compreendendo o
desenvolvimento precoce, podemos logo em seguida ativar os dispositivos necessários de tratamento, por
sabemos de antemão no que irá desembocar à evidencia de tais sinais:

O diagnóstico da esquizofrenia estabelecido por Kraepelin, por exemplo, inclui a incurabilidade, o que contraria,
até mesmo, o progresso da Medicina. Guggenbühl (1980) faz o mesmo com a psicopatia. Isso é lastimável, porque
impede a percepção de casos menos graves, que são muito mais numerosos e permitem estudar seu
desenvolvimento a partir do normal, condição essencial para sua profilaxia e tratamento precoce. Imagine-se o
diagnóstico do câncer sendo descrito exclusivamente em pacientes com metástases, o quanto prejudicaria o seu
tratamento precoce (BYINGTON, 2006, p. 28).

Neste momento, iremos trabalhar algumas formas de defesa, já que compreendemos que o normal e o patológico,
pode ser localizado, de acordo com as descobertas das fixações e dos mecanismos de resistência, que nada mais
é, do que a sombra desprendida, de sua conceituação original fundamentada por Jung, mas que segregada
permite articulação conceitual e a localização dos estágios de desenvolvimento do pathos.Teremos quatro tipos
fundamentais de defesas que estarão relacionadas com determinados transtornos psíquicos: Defesa neurótica,
defesa psicopática, defesa borderline e defesa psicótica. Tal circunscrição, concebe características peculiares,
sendo quadros gerais e tendo suas subclassificações, que podem ser denominado por meio dos sintomas
decorrentes, é importante salientar, que as constituições etiopatogenicas por serem dinâmicas, decorrentes de
aspectos orgânicos, sociais e psicológicos, podem ser mesclar, tendo uma sintomatologia, não tão definida, mas
que varia de caso a caso, os quadros patológicos são a bússola do psicopatólogo, para que o mesmo possa se
orientar e ao mesmo tempo, não enrijecer ou projetar as grades no indivíduo, pois sabemos que cada constituição,
é uma constituição, e cada ser humano é ser humano, tendo características singulares e particulares, e
consequentemente modos de tratamento específicos, que podem ser verificados a partir das reações do sujeito.

Comecemos pela defesa neurótica. A sombra aqui se expressa de modo inconsciente, geralmente os indivíduos
que estão ao arredor do sujeito acometido de uma atuação defensiva desse porte, são os que percebem os
primeiros vestígios e os sofrem, antes mesmo do sujeito portador. O processo de sublimação ocorre devido as
funções estruturantes normais, como também as funções estruturantes fixadas, que mesmo defensivas, podem
canalizar-se para o trabalho criativo (BYINGTON, 2006).

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A defesa psicopática, se origina em contextos de abandono, abuso, permissividade exagerada e faltas de limites,
encontrando-se na maioria das vezes em crianças de rua e em jovens de famílias abastadas com pais ausentes ou
que as mimam frequentemente. A dinâmica de tal defesa, se dá no seguinte sentido:

As fixações da polaridade Ego-Outro da Sombra englobam em grau acentuado tanto a função estruturante volitiva
quanto a da ética. Assim, o que diferencia a defesa psicopática da neurótica é a intenção. A defesa psicopática
caracteriza-se pela atuação intencional, dolosa, da Sombra. Dependendo da dimensão simbólica em que ela atue,
encontramos defesas psicopáticas perversas, delinquenciais, de distúrbios alimentares, de drogadição e outras
(BYINGTON, 2006, p. 30).

Portanto, tal defesa tem como característica central, a intencionalidade da execução do ato. Numa relação entre
psicoterapeuta e paciente, é possível notar o senso ético, por meio da empatia, não obstante, por conta das
fixações e o seu desenvolvimento exacerbado, eleva-se o grau volitivo, fazendo com que o indivíduo autorize a si
próprio à prática da agressividade, transgressão e perversidade. Nessa direção recomenda-se a prevenção,
principalmente ao que concerne as alterações ambientais, na relação do sujeito e o mundo, do indivíduo e família.

O paciente de defesa borderline, tem relações profundas com o estado psicótico, não chegando a ser. Na verdade
a defesa borderline é uma reação a este, isto é, o sujeito se defende do transtorno psicótico. A criatividade que
emana de tais pessoas, frequentemente é de alta qualidade, por conta da intensa produção de mecanismos de
defesa, que criam, como reação a um transtorno secundário.

O tratamento com antipsicóticos diminuem a intensidade dos sintomas, podendo ser uma ferramenta basilar no
tratamento psicoterápico, permitindo a elaboração simbólica.

A defesa psicótica tem como característica a irrupção da polaridade Ego-Outro da Sombra, dominando em maior
ou menor grau as funções estruturantes normais. Em estado agudo e crônico, se manifesta como esquizofrenia, o
tratamento pode ser feito com psicofármacos, principalmente ansiolíticos, mas são imprescindíveis o acolhimento
e a empatia, pois, esses fornecem os subsídios necessários para o desenvolvimento da capacidade de relacionar-
se com outro:

A empatia simbólica é insubstituível para tentar compreender o mundo individual extraordinário construído pelo
paciente e buscar mantê-lo humanizado e minimamente medicado para evitar a impregnação medicamentosa
exagerada. Como demonstrou a Dra. Nise da Silveira, o emprego de técnicas expressivas como parte da terapia
ocupacional simbólica possui valor inestimável para continuar a elaboração simbólica do processo de individuação,
mesmo que seja dentro de um universo paralelo (BYINGTON, 2006, p. 32).

Nos detemos até aqui, as características individuais e os tratamentos específicos de cada sujeito. Iremos relatar
agora em diante o processo de elaboração terapêutica das defesas. A primeira fase é o confronto do indivíduo com
as suas resistências:

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Uma defesa caracteriza-se pela dificuldade de o paciente perceber que seus sintomas, seus complexos
patológicos, aos quais ele e o terapeuta se referem, funcionam na sua vida psíquica, dominando
inconscientemente sua Consciência contra sua própria vontade nos casos de defesas neurótica, borderline e
psicótica (BYINGTON, 2006, p. 33).

A partir do momento, que ocorre a identificação dos complexos patológicos e das resistências, ocorre o processo
dialético, entre a consciência e a sombra, tendo o intuito a integração da função ética paralisada pela fixação, isto
é, o sujeito deve desenvolver a capacidade de se responsabilizar pelo o seu consciente e ser consciente de suas
dependências psicológicas “Estabelecida alguma clivagem entre as duas polaridades Ego-Outro, inicia-se a
segunda fase da elaboração da defesa: o confronto dialético entre a Consciência e a Sombra e o resgate da função
ética paralisada pela fixação (BYINGTON, 2006, p. 33).

A última etapa, se dá por meio do processo de integração, das funções antes fixadas, como estruturas normais, já
que passaram pelo processo de elaboração simbólica. No entanto, pode ocorre regressão, mas caso o sujeito
esteja ciente de tal fenômeno, poderá reelaborar o sintoma, tendo uma remissão do mesmo, em menos tempo,
por já ter sido exposto ao estímulo anterior:

Com o passar do tempo, em momentos de stress, nos quais são ativados os símbolos que foram fixados e
defensivamente condicionados, pode ocorrer uma regressão e a atuação defensiva da Sombra. O conhecimento
deste fenômeno, porém, evita a cura onipotente e presta-se à nova elaboração do sintoma, geralmente muito mais
rápida e produtiva que a anterior (BYINGTON, 2006, p.33).

A elaboração simbólica envolve regressão nas fixações, pois algumas defesas patológicas, encobrem quadros
psicopatológicos graves, mas que apenas desencadeiam- se a partir do momento, que se trabalha as resistências
primeiras, tendo como corolário quadros secundários:

Toda a elaboração simbólica de defesas envolve, em maior ou menor grau, uma regressão. Por existirem defesas
menos patológicas, que encobrem outras mais graves, a elaboração de uma fixação dentro da regressão pode
desencadear um agravamento do quadro clínico, ativando complexos fixados que não estavam na avaliação
diagnóstica (BYINGTON, 2006, p. 34).

O aspecto patológico do arquétipo de regência matriarcal, está estritamente ligado a esfera do instinto, do
emocional, sua modalidade se constitui principalmente, no sentido, de fazer uma ligação afetiva com o outro:

A dominância matriarcal na relação terapêutica lhe dá um colorido particular, pois a intuição empática, e até
mediúnica, que lhe é característica, adivinha e desempenha dramaticamente o quadro clínico que está em moda e
que assegurará ao paciente atenção, valorização, dependência, assistência permanente e acolhida emocional,
expressando-se defensivamente pela sedução para ocultar núcleos de carência afetiva, vivências de abandono,
autoestima baixa e até mesmo de sexualidade reprimida (BYINGTON, 2006, p. 38).

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Nesses casos, é necessário que haja um modo pelo qual o terapeuta deva abordar tal paciente, se guiando pelas
funções de sensação e intuição:

A empatia para com o sofrimento humano é a principal condição para se restabelecer um relacionamento
produtivo (rapport) e apreender pela sensação e pelo pensamento a organização dos sistemas defensivos destes
quadros clínicos. Sem isto, a dimensão matriarcal ferida pela incompreensão, rejeição, prepotência e abandono
continua a atuar de forma sócio-sintônica, absorvendo e neutralizando defensivamente, pela complementaridade,
as várias formas de terapia, principalmente, hoje, a terapia psicofarmacológica e a terapia cognitivo
comportamental (BYINGTON, 2006, p. 41).

Interessante notar que o processo carente de empatia, de um “colocar-se no lugar do outro” torna-se encobridor
de sintomas, fazendo com que o indivíduo incorpore soluções ineficazes e muitas vezes, mais danosas, pelo fato,
de ao invés esclarecer as fixações, às intensifica. Já no arquétipo patriarcal, sua principal defesa se dá pela
racionalização:

Um dos extremos da disfunção da organização patriarcal é o distúrbio obsessivo compulsivo, no qual o quadro
clínico se caracteriza pela estruturação de um sistema de defesas para controlar uma ideia fixa ameaçadora.
Trata-se de um quadro policialesco kafkaniano, no qual o pensamento defensivo é encarregado compulsivamente
de controlar a Sombra, sem jamais consegui-lo, como bem ilustra o sofrimento de Sísifo, punido por querer,
obsessiva e inutilmente, controlar a morte. Essa exacerbação do controle da conduta pode ocorrer no
enfraquecimento orgânico por comprometimento dos núcleos da base do cérebro ou ser decorrente de condições
psicodinâmicas defensivas com intensa repressão característica do autoritarismo (Byington, 1996 apud BYINGTON,
2006, p. 42).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com isto, podemos concluir que a Psicopatologia Simbólica Junguiana concebe a esfera do pathos diferente de
Freud, na qual a agressividade é sempre destrutiva e oposta ao Eros, sendo uma ramificação da pulsão de morte
(FREUD, 1920). Nesse sentido a psicanálise compreende a natureza humana, tendo uma tendência a destruição, e
a benevolência e criatividade advém de sua repressão e sublimação (FREUD, 1923). Na teoria simbólica,
afetividade ou agressividade, bem como o par, vida e morte constelados por arquétipos, podem ser criativos ou
defensivos, desse modo operam em prol da consciência ou da sombra (BYINGTON, 1996).

Tais concepções reelaboradas por Byington, daquilo que Carl G. Jung nos deixou, faz com que pensemos as
conceituações da Psicologia Analítica, sobre um escopo antirreducionista, pois não se reduz o sujeito aos instintos
primitivos, muito menos toda criança como sendo, perversa polimorfa ou até mesmo, tendo em si o complexo de
Édipo desde do nascimento. Pensa-se o patológico a partir dos processos normais, tenta-se nessa via delimitar a
normalidade a partir das observações, encontrando a lei geral e não as exceções, para daí em diante situar o
psicopatológico. Considera-se também nessa perspectiva os aspectos biológicos, pois a estruturação do sistema

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nervoso, se dá a partir das relações sociais, e é natural do próprio ser humano se relacionar, tais construções tem
impactos biológicos, tanto ao longo da história como, na própria relação entre paciente e terapeuta, na qual a
transformação advinda das elaborações simbólicas produz uma multiplicidade de reações no organismo humano.
As influências recebidas das várias dimensões do Self, relacionam-se dinamicamente umas com as outras, de tal
modo, que tudo é armazenado na memória (lembranças, afetos, experiências) reproduzindo-se no comportamento,
assim sendo o sistema nervoso nunca é, exclusivamente orgânico, mas sim também simbólico, posto que
inundado de símbolos, significados e representações (BYINGTON, 2003).

O embasamento de tal fundamentação está totalmente calcado nos arquétipos, nas funções estruturantes, nas
posições arquetípicas do binômio Ego-Outro e sua condição ativa ou passiva, como também nas atitudes de
introversão e extroversão, funções da consciência e as dimensões simbólicas, a seguir teremos um diagrama para
exemplificação da estruturação da psique e como tal ilustração, pode melhor nos orientar análise do paciente e o
diagnóstico e prognóstico, segue o diagrama:

Fonte: BYINGTON, C. A. B. (2006).

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Por fim, podemos concluir que as contribuições do Carlos Byington (1933 – presente) hoje com 83 anos e uns dos
fundadores da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, grande estudioso da obra de Carl G. Jung, nos lega a
partir deste último, reformulações necessárias, principalmente ao que concerne à sua pesquisa sobre os aspectos
históricos da patologização, que nos faz ter um panorama imprescindível, ao decorrer da história de como os
arquétipos regentes, interagem com os sujeitos, produzindo e reproduzindo representações sociais e formas de
experienciar o mundo, é inconcebível ao analista, não ter ao menos tal visão, que propicia não só um olhar macro
sócio-histórico, como também uma compreensão do patológico e do normal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.

BYINGTON, C. A. B. A Conceituação da Neurologia Simbólica para Estudar a Droga-Adição. Prefácio do livro


de Nassif, Suely e Rosa, José Tolentino. Psiconeurologia na Dependência Química: Álcool e Drogas, 2003.

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JUNG, C. G. The Tavistock Lectures. Princeton: Princeton University Press, 1935.

[1] Graduando em Psicologia pela Universidade Paulista. Email – autor@nucleodoconhecimento.com.br

ISSN 2448-0959 | www.nucleodoconhecimento.com


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