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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

REVISTA
TRIMESTRAL
DE
JWRISPRUDE- NCIA

Volume 108* * (Páginas 455 a 922) Maio de 1984


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Ministro João Baptista CORDEIRO GUERRA (26-9-74),
Presidente
Ministro José Carlos MOREIRA ALVES (20-6-75), Vice-Presidente
Ministro DJACI Alves FALCÃO (22-2-67)
Ministro Pedro SOARES MUNOZ (8-8-77)
Ministro DECIO Meirelles de MIRANDA (27-6-78)
Ministro Luiz RAFAEL MAYER (15-12-78)
Ministro José NERI DA SILVEIRA (1-9-81)
Ministro ALFREDO BUZAID (30-3-82)
Ministro OSCAR Dias CORRÊA (26-4-82)
Ministro ALDIR Guimarães PASSARINHO (2-9-82)
Ministro José FRANCISCO REZEK (24-3-83)
COMISSÃO DE REGIMENTO

Ministro DJACI FALCÃO


Ministro SOARES MUNOZ
Ministro FRANCISCO REZEK
Ministro ALDIR PASSARINHO — Suplente
COMISSÃO DE JURISPRUDENCIA

Ministro MOREIRA ALVES


Ministro DECIO MIRANDA
Ministro RAFAEL MAYER
COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO

Ministro MOREIRA ALVES


Ministro RAFAEL MAYER
Ministro NERI DA SILVEIRA
COMISSÃO DE COORDENAÇÃO

Ministro SOARES MUNOZ


Ministro DECIO MIRANDA
Ministro OSCAR CORREA
PROCURADOR-GERAL DA REPUBLICA

Doutor INOCENCIO Mártires COELHO


COMPOSIÇÃO DAS TURMAS
Primeira Turma
Ministro Pedro SOARES MUNOZ, Presidente
Ministro Luiz RAFAEL MAYER
Ministro José NERI DA SILVEIRA
Ministro ALFREDO BUZAID
Ministro OSCAR CORREA

Segunda Turma
Ministro DJACI Alves FALCÃO, Presidente
Ministro José Carlos MOREIRA ALVES, Vice-Presidente
Ministro DECIO Meirelles de MIRANDA
Ministro ALDIR Guimarães PASSARINHO
Ministro José FRANCISCO REZEK

CONSELHO NACIONAL DA MAGISTRATURA


Ministro João Baptista CORDEIRO GUERRA, Presidente
Ministro José Carlos MOREIRA ALVES, Vice-Presidente
Ministro DJACI Alves FALCÃO
Ministro DECIO Meirelles de MIRANDA
Ministro Luiz RAFAEL MAYER
Ministro José NERI DA SILVEIRA
Ministro ALFREDO BUZAID
REVISTA
TRIMESTRAL
DE
JURISPRUDENCIA
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
CONFLITO DE ATRIBUIÇOES N? 12 — BA
(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Suscitante: Ministério Público Federal — Suscitado: Juiz Federal da 3?
Vara da Seção Judiciária do Estado da Bahia — Interessados: Luciano Men-
donça Diniz e Fernando Oliveira da Silva.
Conflito de atribuições. Juiz e MP Federal. Pedido de arquiva-
mento indireto (art. 28 do CPP). A recusa de oferecer denúncia por
considerar incompetente o Juiz, que no entanto se Julga competente,
não suscita um conflito de atribuições, mas um pedido de arquiva-
mento indireto que deve ser tratado à luz do art. 28 do CPP. Conflito
de atribuições não conhecido.
ACORDA() tes do Regimento Interno do STF,
considerando em choque ato de seu
Vistos, relatados e discutidos estes oficio com decisão do Meritíssimo
autos, acordam os Ministros do Su- Juiz Federal da 3? Vara da Secção
premo Tribunal Federal em Sessão Judiciária do mesmo Estado.
Plena, na conformidade da ata de
Julgamentos e notas taquigráficas, à Em inquérito resultante de pri-
unanimidade, em não conhecer do são em flagrante por infração dos
conflito, determinando a remessa arts. 12 e 14 da Lei n? 6.368/76 e arts.
dos autos ao Procurador-Geral da 330, 329 e'129 c/c art. 51 do CP, o Mi-
República. nistério Público requereu o relaxa-
Brasília, 1? de abril de 1982 — mento da prisão e o arquivamento
Xavler de Albuquerque, Presidente - por se tratar de flagrante preparado,
Rafael Mayer, Relator. sem prejuízo de apurada a responsa-
bilidade do agente policial.
RELATÓRIO O Juiz deferiu o pedido de arquiva-
mento. Suprido o inquérito de peças
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Ilus- complementares, mandou os autos
tre Procurador da República, no Es- com vista ao Órgão do Ministério
tado da Bahia, suscita conflito de Público que se manifestou no sentido
atribuições, com fulcro no art. 119, I, de que o arquivamento decretado fo-
f da Constituição e arts. 168 e seguin- ra abrangente “de todo o fato que re-
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sultou no flagrante preparado». Res- «Examina-se no incidente em


tava, apenas, diz o pronunciamento apreço, manifestação do ilustre
do Ministério Público, apurar a ação membro do Ministério Público Fe-
do policial que causou, com arma de deral na Bahia que, considerando
fogo, as lesões descritas no laudo, incompetente a Justiça Federal ao
mas, para isso era competente a processamento criminal de agente
Justiça Estadual a quem os autos de polícia federal, que no exercício
deveriam ser remetidos (fls. 78). de seu mister causou lesão corpo-
Entretanto, o Juiz entendeu Ser ral gravíssima em pessoa presa
competente pois a infração cometida em flagrante preparado, suscitou
por policial federal seria daquelas o conflito de atribuições — vide:
praticadas em detrimento do próprio fls. 97/98 — pois o MM. Juiz Fede-
serviço policial, que é federal. Por ral no Estado-membro declarou-se
isso retornou os autos do Ministério competente ao exame do evento
Público a fim de que este exercesse (vide: fls 79).
as suas atribuições, «ou seja, ofere- Em dias recentes, enunciando
cer denúncia, requerer diligências parecer no Conflito de Jurisdição n?
ou pedir o arquivamento, em relação 6.317, afloramos incidentemente es-
ao fato imputado ao Agente de ta questão, embora não fosse ela o
Policia Federal» (fls. 79v). ponto da controvérsia, então em
Após requerer diversas diligências estudo, e dissemos, verbis:
complementares do inquérito e, com
vista dos autos, o Representante do «O fato do magistrado dizer-se
Ministério Público suscitou o presen- competente, não acatando, por
te conflito de atribuições sob essa hipótese, a manifestação do Mi-
fundamentação: nistério Público por sua incompe-
tência não se constituiria em «a-
«6. Há, portanto, de um lado a to de dizer o que é de direito,
declaração de V. Exa., como órgão obrigando a observãncia do que
judiciário, afirmando a sua compe- enunciou», porque ele, magistra-
tência, e, de outro lado, a manifes- do, não poderia impor ao Promo-
tação do órgão do Ministério Públi- tor Público o ajuizamento da
co Federal que implica em negar a acusação — na procedat iudex ex
própria atribuição para oferecer officio — mas, no máximo,
denúncia em crime que data venia, considerando-se a afirmação da
estaria adstrito à esfera estadual. incompetência como pedido de
7. A divergência entre os ór- arquivamento indireto, no Juízo
gãos conflitantes não comporta a em que se perfaz, o magistrado
solução do art. 28 do Código de tão-somente poderia valer-se do
Processo Penal, uma vez que não é disposto no artigo 28, do CPP, a
caso de conflito entre órgãos do provocar a decisão definitiva do
Ministério Público ou pedido de ar- Procurador-Geral da Justiça que,
quivamento rejeitado, a ser resol- se ratificasse a manifestação de
vido pelo Procurador-Geral». incompetência determinaria o
envio dos autos do inquérito a ou-
O Juiz encaminhou os autos a esta tro Promotor que, se lhe fosse su-
Corte, onde a Procuradoria Geral da bordinado, haveria de propor a
República, em parecer do ilustre ação (não há qualquer conflito),
Doutor Claudio Lemos Fontelles, caso não o fosse, e o Promotor da
aprovado pelo eminente titular, outra unidade federativa, para
Prof. Inocêncio Mártires Coelho, as- onde foram remetidos os autos
sim se manifestou: também se pronunciasse pela in-

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competência do respectivo Juizo, anexaste conflito de atribuições, de


suscitaria o conflito de resto Impossível, até mesmo no
atribuições». plano lógico, de se reconhecer na
Por isso, não podemos aquiescer híbrida figura sugerida de conflito
com a conclusão do ilustre colega, «positivo-negativo». (vide: fls.98).
que menciona o artigo 28, do CPP Ou o conflito é positivo; ou é ne-
aos casos de «conflito entre órgãos gativo. Nunca «positivo-negativo».
do Ministério Público, ou pedido de Somos, então, porque não se co-
arquivamento rejeitado» (fls. 98). nheça do conflito, com a remessa
O conflito entre órgãos do Minis- dos autos à Procuradoria Geral da
tério Público é, efetivamente, de República, por força do disposto no
atribuições. Isto desenvolvemos no artigo 28, do CPP».
parecer em anexo. Lugar assim É o relatório.
não há a mencionar-se o artigo 28.
E o pedido de arquivamento rejei- VOTO
tado é, efetivamente, o sentido lite-
ral da prefalada norma processual. O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
Mas há que se entendê-la lator): Estou de acordo com o douto
compreensivamente, para que não parecer em que inocorre conflito de
se desnature a sistemática proces- atribuições, resultante das posições
sual. assumidas pelo Juiz e pelo Orgão do
Assim, se, como no caso, o acu- Ministério Público, a ser dirimido
sador federal admite o ilícito cri- por esta Corte.
minal, mas di-lo da esfera de com- Cuido correto o entendimento aí
petência de outra jurisdição, o que exarado de que a manifestação do
não é acatado pelo magistrado, Representante do Ministério Público,
que afirma a intenção de examinar dominus litis, eximindo-se de ofere-
a proposta acusatória, há, sem dú- cer denúncia por considerar incom-
vida, pedido de arquivamento petente o Juízo Federal, face a natu-
indireto, quando então, e por ine- reza do crime passível de prossecu-
xistir a pretensão deduzida em ção penal, está perfeitamente carac-
Juizo, e por não poder constituí-ia, terizada como um indireto pedido de
ex offlclo, o Julgador, confere-lhe a arquivamento, face ao Juiz que se
lei processual unicamente manifes- dá por competente.
tação fiscalizadora, no sentido de
provocar a decisão final da Chefia- A providência cabível, no caso, é a
Maior do Ministério Público. que vem indicada no art. 28 do CPP,
conforme cuida o parecer, tendo nes-
Assim, preserva-se o sistema sa opinião o beneplácito do ilustre
acusatório, em sua inteireza, pois processualista-penal Tourinho Filho
que a instituição do Estado, que («Processo Penal», 5? ed., 11/524).
não o Poder Judiciário, atribui-se,
exclusivamente, a tarefa de acu- De outro modo, se quebrantaria a
sar, ou não. Por isso, diz-se que no titularidade da ação penal pública, e
momento pré-processual o Ministé- estaria o Judiciário «invadindo seara
rio Público é o dominus litis. alheia, pois exerceria, de maneira
oblíqua, o poder de ação» (Ob. cit.
Se neste instante não tem o ma- 1/398).
gistrado atribuições conclusivas,
mas a possibilidade de invocar a Sem configurar-se, portanto, con-
•tittilaçâo maior de quem tem a es- flito de atribuições, de acordo com o
pecifica atribuição de acusar o — douto parecer e tendo em vista a
Procurador-Geral —, é óbvio que analogia com o precedente do CJ
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6.317, Relator o eminente Ministro Decisão: Não se conheceu do con-


Firmino Paz, dele não conheço e re- flito, determinando-se a remessa dos
meto os autos ao Senhor Procurador- autos ao Procurador-Geral da Repú-
Geral da República, para o efeito do blica, unanimemente.
art. 28 do CPP. Presidência do Senhor Ministro
Xavier de Albuquerque. Presentes à
Sessão os Senhores Ministros Djaci
EXTRATO DA ATA Falcão, Cordeiro Guerra, Moreira
Alves, Soares Mufioz, Decio Miran-
da, Rafael Mayer, Firmino Paz, Ne-
CA 12-BA — Rel.: Min. Rafael Ma- ri da Silveira e Alfredo Buzaid.
yer. Suste.: Ministério Público Fede- Procurador-Geral da República,
ral. Susdo.: Juiz Federal da 3? Vara Professor Inocêncio Mártires Coe-
da Seção Judiciária do Estado da lho.
Bahia. Interessados.: Luciano Men- Brasília, 1? de abril de 1982 —
donça Diniz e Fernando Oliveira da Jonas Célio Monteiro Coelho, Secre-
Silva. tário.

AÇÃO PENAL N? 276 — DF


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alv es.
Autor: Ministério Público Federal — Réu: Domingos de Freitas Diniz
Neto.
ACORDÃO dorico de Assis Ferraço, da pre-
sente Legislatura, e Domingos An-
Vistos e discutidos estes autos, tonio Freitas Diniz e Gérson Cama-
quanto à questão de ordem levanta- ta, da Legislatura anterior.
da pelo relator da presente ação, Art. 2? Esta resolução entra
acordam os Ministros do Supremo em vigor na data de sua publica-
Tribunal Federal, em Sessão Plená- ção, revogadas as disposições em
ria, por unanimidade, em declarar contrário.»
inconstitucional a Resolução n? 13/83 A propósito, foram ouvidos o Mi-
da Cãmara dos Deputados, na parte nistério
atinente ao ex-deputado Domingos primeiroPúblico Federal e o réu: o
de Freitas Diniz, e em determi- de do § 3? sustentoudo artigo
a inaplicabilida-
32 da Constituição
nar, em conseqüência, o prossegui- a ex-deputado, fazendo, em seguida,
mento da ação penal movida contra considerações sobre o conceito de
ele. crime comum, para, afinal concluir
1. Trata-se de questão de ordem, no sentido do prosseguimento da
que diz respeito à aplicação da Reso- ação penal; o segundo defendeu a
lução n? 13/83 da Cãmara dos Depu- aplicação do referido dispositivo a
tados, a qual dispõe: ex-deputados, bem como a abran-
«Art. 1? Ficam sustados, nos gência do crime por que está sendo
processado na expressão crime co-
termos do art. 32, § 3?, da Consti- mum empregada no parágrafo em
tuição Federal, os processos em causa.
curso perante o Supremo Tribunal
Federal contra os Deputados João 2. Examinada essa questão de
Orlando Duarte da Cunha e Theo- ordem, o Tribunal, por unanimidade

R.T.J. — 108 959

de votos, decidiu que a Resolução co Federal. Réu.: Domingos de Frei-


n? 13/83 da Câmara dos Deputados, tas Diniz Neto (Advs.: Luis Eduardo
no que diz respeito ao réu, é incons- Greenhalgh e Mário Honório Teixei-
titucional, devendo prosseguir a ra Filho e outros).
ação penal contra ele movida.
Para assim decidir, entendeu a Decisão: Por unanimidade foi de-
Corte que a faculdade a que alude o clarada a inconstitucionalidade do
§ n? 3? do artigo 32 da Constituição art. 1? da Resolução n? 13, de 4 de
Federal não se aplica a ex- maio de 1983, da Câmara dos Depu-
deputados, porquanto, dizendo ela tados, na parte em que deliberou
respeito a imunidade de natureza sustar o processo Criminal em curso
processual, é — por sua própria no STF, contra o ex-deputado Do-
índole — provisória, e se destina a mingos Antonio de Freitas Diniz, de-
defender o regular funcionamento do signado nos autos da ação penal n?
Poder Legislativo, razão por que só 276-O-DF, como Domingos de Freitas
protege o parlamentar em exercício Diniz Neto.
de seu mandato como, aliás deflui do
disposto no § 1? do mesmo dispositi- Presidência do Senhor Ministro
vo constitucional — Cordeiro Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão
Guerra, Presidente — Djaci Falcão, os Senhores Ministros Djaci Falcão,
Moreira Alves, Soares Mufloz, Decio Moreira Alves, Soares Mufloz, Dedo
Miranda, Rafael Mayer, Néri da Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
Silveira, Alfredo Buzaid, Oscar veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
Corrêa, Aldir Passarinho, Francisco Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
Rezek. Procurador-Geral da República,
Professor Inocêncio Mártires Coelho.
EXTRATO DA ATA
APn. 276-DF — Rel.: Ministro Mo- Brasília, 08 de setembro de 1983 —
reira Alves. Autor.: Ministério Públi- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

AÇÃO MEL ORIGINARIA N? 319 — MT


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Autor: José Silva Filho — Litisdenunciado: Estado do Mato Grosso —
Réus: Fundação Nacional do Indio — FUNAI e União Federal.

Ação cível originária. Particular contra a União Federal e a FU-


NAI. Denunciação à lide, pela segunda ré, do Estado de Mato Grosso,
como denunciado do autor (impossibilidade). Incompetência do STF.
O Estado de Mato Grosso não pode figurar na lide como denuncia-
do porque:
1 — não houve pedido do autor nesse sentido (CPC, art. 71);
II — não é licito ao réu denunciar à lide terceiro, para figurar co-
mo denunciado do autor;
III — a denunciação à lide não se faz per saltem e, no caso, não
foi o Estado de Mato Grosso que alienou ao autor a área em litígio
(CPC, art. 73). Precedente: ACOr 299-MT (RTJ 104/932).
Incompetência do Supremo Tribunal, diante da exclusão do Esta-
do de Mato Grosso da relação Jurídica processual.

460 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO nação desta última ao pagamento


de uma justa indenização, com os
Vistos, relatados e discutidos estes consectários legais expressamente
autos, acordam os Ministros do Su- arrolados ao final do pedido inau-
premo Tribunal Federal, em Sessão gural (fls. 3/7).
Plenária, de conformidade com a Citada, requereu a FUNAI, em
ata de julgamentos e as notas taqui- preliminar, a citação do Estado de
gráficas, à unanimidade de votos, Mato Grosso como litisconsorte ati-
excluir-se da relação jurídica pro- vo, tendo ainda, com arrimo no
cessual o Estado de Mato Grosso, art. 5? do CPC, pedido a nulidade,
dar-se por incompetente o Supremo em ação declaratória incidental,
Tribunal Federal para julgar a cau- do titulo de domínio do autor. No
sa e ordenar-se a remessa dos autos mérito, sustentou a improcedência
para a Seção Judiciária da Justiça da demanda (fls. 27/35).
Federal de Mato Grosso.
Brasília, 13 de outubro de 1983 — Entre as preliminares suscitadas
Cordeiro Guerra, Presidente — pela União, lembrou ela sua ilegiti-
Francisco Rezek, Relator. midade passiva ad causam, por-
quanto teriam sido delegados pode-
RELATÓRIO res à FUNAI para, em seu nome,
efetuar as desapropriações neces-
O Sr. Ministro Francisco Reza: O sárias à consecução dos seus obje-
parecer da Procuradoria Geral da tivos (fls. 43).
República, proferido pelo Dr. Walter O MM. Juiz Federal da Seção Ju-
Medeiros, resume a controvérsia e diciária do Distrito Federal, Dr.
sobre ela opina nestes termos (fls. José Alves de Lima, deu-se por in-
108/113): competente, ao fundamento de
«José Silva Filho, devidamente que, tratando-se de ação real co-
qualificado na inicial, propôs, con- mo tal considerada a desapropria-
tra a União Federal e a Fundação tória indireta, a demanda deveria
Nacional do índio, ação ordinária ter sido proposta no foro da situa-
de desapropriação indireta, peran- ção da coisa (fls. 84 v.).
te o foro da Justiça Federal em Remetidos os autos à Justiça Fe-
Brasília alegando que adquirira deral de Mato Grosso, determinou
uma gleba de terras rurais no Mu- o MM. Juiz a citação do Estado de
nicípio de Barra do Garças, Estado Mato Grosso (fls. 88), que compa-
de Mato Grosso, no lugar denomi- receu aos autos para dizer que não
nado Lago Grande, como área cor- poderia figurar na relação proces-
respondente a 3.993,00 hectares, cu- sual como denunciado à lide, por-
ras características e confrontações quanto não era ele o alienante do
constam do título de domínio regu- imóvel objeto da ação (fls. 93).
larmente transcrito no competente
registro de imóveis. Ocorre que o O MM. Juiz Federal de Mato
Governo Federal, por decretos su- Grosso, considerando que o título
cessivamente baixados, declarou dominai havia sido originariamen-
toda a região do Lago Grande, em te emitido pelo Estado e que a
que está encravada a propriedade União afirmara seu domínio sobre
do autor, área de reserva indígena, as terras em litígio à luz do art.
o que constituiria, segundo alega, 198 da Constituição Federal, entre-
autêntica expropriação do seu bem viu conflito de interesses entre as
imóvel. Pediu por isso a citação da duas referidas entidades políticas,
União e da FUNAI, com a conde- ordenando, em conseqüência, a re-
— 108 461

massa dos autos a esta Suprema so na lide do assistente qualificado


Corte, a competente, a seu ver, pa- não reveste maior dificuldade, ex-
ra decidir a causa (fls. 97). plicitando o eminente Professor:
A nós, entretanto, do Ministério «Basta a demonstração de que
Público Federal, não nos parece terceiro é co-titular do direito
seja o Supremo Tribunal Federal em litígio, para que ele fique evi-
competente para, originariamente, denciado, realmente, se o tercei-
processar e julgar a presente de- ro poderia reclamar sozinho o di-
manda (CF, art. 119, d). reito em litígio, nada mais natu-
ral do que poder ingressar no
Foi a ação proposta, em litiscon- processo em que outro titular o
sórcio passivo, contra a União e a está discutindo» (Comentários ao
FUNAI, pouco importando haja o Código de Processo Civil, Foren-
autor pedido a condenação apenas se, Vol: I, Tomo I, 19 Ed., 1975,
da última, consoante os termos da pág. 293).
inicial e lembrado em petição pos- Ora, no caso em comento, como
terior, onde se afirma que a União a União figura como mandante, e a
integra a lide apenas na qualidade FUNAI como mera mandatária,
de assistente (fls. 76 In tine). tem a primeira, mais do que a se-
O argumento não tem maior va- gunda, legitimação para, em nome
lia, por isso que a FUNAI age co- próprio, responder à imputação
mo simples mandatária da União, feita na demanda.
que implica dizer que a condena- Composto por essa forma o pólo
ção daquela trará reflexos diretos passivo da relação jurídica proces-
no patrimônio da mandante. Tem sual, cumpre verificar se, no ativo,
esta, portanto, titularidade para fi- deve ingressar o Estado de Mato
gurar na ação, não na qualidade de Grosso, de modo que, colocado em
mera assistente adesiva, mas co- contraposição à União, se justifi-
mo litisconsorte da parte principal. que o processamento da ação no
foro originário do Supremo Tribu-
Segundo a conhecida dicotomia nal Federal
adotada entre nós e por diversas
legislações estrangeiras, como a Na inicial da ação, ajuizada por
italiana, a alemã e a austríaca, pessoa física, não se requereu, em
distinguem-se dois tipos de assis- momento algum o ingresso de Ma-
tência: a simples ou adesiva (Nebe- to Grosso, quer como litisconsorte
nintervention; intervento adesivo) ativo, quer como litisdenunciado. A
a qualificada, também denomi- citação do Estado foi requerida pe-
nada litisconsorcial, a primeira re- la FUNAI, como lembrou em seu
gulada no art. 50 e a segunda ao despacho o MM. Juiz Federal (fls.
art. 54, ambos do Código de Pro- 88) ).
cesso Civil. A nosso ver, em nenhuma de tais
Dá-se a assistência litisconsor- posições, pode a referida Unidade
cial quando o direito objeto da con- Federativa figurar na ação.
trovérsia é não apenas do assisti- Não pode, evidentemente, o réu
do, como também do assistente, de uma demanda eleger terceiro
tendo este último legitimação pa- para figurar como litisconsorte do
ra, em nome próprio discuti-lo em autor, obrigando-o a litigar contra
ação autônoma. Dai afirmar Celso sua vontade. Poderia o Juiz fazê-
Agrícola Barbi que a conceituação lo, se se cuidasse de litisconsórcio
do interesse jurídico para o Ingres- necessário, o que em absoluto não

962 R.T.J. - 108

é o caso dos autos, onde sequer se mesmo a nós para a formação es-
poderia falar em assistência litis- trutural do processo. E essa não é,
consorciai, porque aqui o Estado com efeito, a ratio legis, pois o art.
jamais teria legitimação para, em 71 do CPC, quando se refere ao de-
nome próprio, sustentar a mesma nunciado, fala em citação, isto é,
pretensão deduzida pelo autor. passa ele a compor a relação
Cumpre então indagar se Mato jurídica processual e material. Ao
Grosso poderia ser admitido na li- passo que, no art. 73, quando men-
de como denunciado. Entendemos ciona os demais interessados, fala
que não. o Código em intimação deles, o que
Primeiramente, não houve pedi- dá bem a idéia da diferença de tra-
do do autor nesse sentido. Reza, a tamento entre o alienante e os seus
a propósito, o art. 71 do CPC, que a antecessores.
citação do denunciado será reque- Pelas razões expostas, não deve,
rida, juntamente com a do réu, se a nosso ver, figurar o Estado de
o denunciante for o autor. Na espé- Mato Grosso na lide, ficando , em
cie, não se fez tal requerimento. conseqüência, afastada a compe-
Matéria, por conseguinte, preclu- tência originaria do Supremo Tri-
sa. bunal para processar e julgar a
Em segundo lugar, não seria líci- causa».
to ao réu denunciar a lide a tercei- E o relatório preliminar, para exa-
ro para figurar como denunciado me da competência do Tribunal, cu-
do autor. A este, evidentemente, jas cópias se farão presentes a todos
cabe dizê-lo de tal interesse. Se os integrantes do Plenário, na forma
não o fez em tempo oportuno, falta regimental.
legitimação ao réu para fazê-lo em Brasília, 4 de outubro de 1983.
nome do autor. E de resto o que se
deduz da parte final do art. 71 do VOTO
CPC, quando diz que, no prazo da
contestação, o réu requererá a ci- O Sr. Ministro Francisco Rezek
tação do seu denunciado. (Relator): A Procuradoria Geral da
Ainda por uma terceira razão República opina no sentido de que se
não poderia Mato Grosso figurar exclua do feito o Estado de Mato
Grosso, julgando-se incompetente o
na lide como denunciado. E que o Supremo Tribunal Federal, com a
art. 70, I, do CPC, dispõe que a de- conseqüente remessa dos autos à
nunciação à lide é obrigatória ao Justiça Federal.
alienante. Ocorre, no entanto, que
aqui o Estado não alienou a área Adoto suas razões, acrescentando
objeto do litígio ao autor. Este, que este Tribunal, ao julgar o Agra-
conforme ele próprio o diz na ini- vo Regimental na Ação Civel Origi-
cial, a obteve de outrem, a quem, nária n? 299-MT, orientou-se no senti-
este sim, deveria ter sido denun- do de que a denunciação à lide não
ciada a lide. se faz per saltum. Ao contrário, obe-
Como reforço ao argumento de dece a uma sucessão nos títulos, de
que a denunciação só cabe ao alie- acordo com o que preceitua o artigo
nante, traz o Estado de Mato Gros- 73 do Código de Processo Civil.
so a lição de Arruda Alvim, que Ante o exposto, excluo da relação
quem a solução mais correta é cir- jurídica processual o Estado de Ma-
cunscrever a denunciação a uma to Grosso, dando por incompetente o
primeira geração, pois, a não se Supremo Tribunal para julgar a cau-
entender assim, levar-se-iam até sa — por não configurado o pressu-
R.T.J. —108 463

posto do art. 119-1 d da Constituição to Grosso, deu-se por incompetente o


— e ordenando a remessa dos autos Supremo Tribunal Federal para Jul-
à Seção Judiciária da Justiça Fede- gar a causa e ordenou-se a remessa
ral em Mato Grosso. dos autos à Seção Judiciária da Jus-
tiça Federal em Mato Grosso. Deci-
EXTRATO DA ATA são unânime. Votou o Presidente.
Presidência do Senhor Ministro
ACOr 319-MT — Rel.: Ministro Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão
Francisco Rezek. Autor: José Silva os Senhores Ministros Moreira Al-
Filho (Adv.: Leodito Luiz de Faria). ves, Soares Mufloz, Dedo Miranda,
Litisdenunciado: Estado de Mato Néri da Silveira, Alfredo Buzaid, Os-
Grosso (Adva.: Maria do Carmo Ar- car Corrêa, Aldir Passarinho e Fran-
ruda). Réus: Fundação Nacional do cisco Rezek. Ausentes, Justificada-
Indio — FUNAI (Advs.: Gerardo Wi- mente, os Srs. Ministros DJaci Fal-
lames Fonseca e Silva e Júlio Augus- cão e Rafael Mayer. Procurador-
to Sousa Camacho Crespo) e União Geral da República, Professor Ino-
Federal. cêncio Mártires Coelho.
Decisão: Excluiu-se da relação Brasília, 13 de outubro de 1983 —
Jurídica processual o Estado de Ma- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

AÇÃO RESCISORIA N? 948 (AgRg) —


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Cordeiro Guerra.
Agravante: União Federal — Agravados: Gilda Miranda Santos Neves e
outros.
É licita a atualização complementar do cálculo da condenação,
quando há demora no pagamento devido.
A Constituição da República no art. 117, 1? e 2?, estabelece o
modo por que devem ser processados os precatórios a fim de assegu-
rar a igualdade entre os credores e a inatastabilidade da obrigação do
Estado pelos seus débitos Judicialmente reconhecidos.
Não o beneficia com a desvalorização da moeda.
4. AgRg irnprovido.
ACÓRDÃO RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Cordeiro Guerra:
autos, acordam os Ministros do Su- Em execução de Julgado em ação
premo Tribunal Federal, em sessão rescisória que restabeleceu a senten-
Plenária, na conformidade da ata de ça de primeiro grau, foi a União Fe-
Julgamentos e das notas taquigráfi- deral condenada a pagar aos autores
cas, à unanimidade de votos, em ne- a importância de Cr$ 1.794.773,51
gar provimento ao agravo regimen- (um milhão, setecentos e noventa e
tal. quatro mil, setecentos e setenta e
Brasília, 23 de novembro de 1983 — três cruzeiros e cinqüenta e um cen-
Cordeiro Guerra, Presidente e Rela- tavos) de acordo com a conta homo-
tor. logada e que incluíra a correção mo-

464 R.T.J. — 108

netária do débito a partir da vigên- setenta e três cruzeiros e cinqüenta


cia da Lei n? 6.899, de 8 de abril de e um centavos) conforme recibo de
1981. 1? de agosto de 1983, fls. 440.
O cálculo foi homologado por sen- Em 1? de agosto de 1983, requere-
tença de fls. 408, em 26 de abril de ram os exeqüentes a elaboração de
1982. novo cálculo para requisição do pa-
gamento da diferença entre o recebi-
Em 30 de junho de 1982, os autores do e o seu valor atualizado, de acor-
pediram reconsideração do despacho do com a variação dos índices das
que ordenou a citação da União, fls. Obrigações Reajustáveis do Tesouro
411, sem êxito, fls. 412. Nacional, fls. 442.
A União citada concordou com a Deferi o requerimento, a 2 de se-
conta, fls. 420. tembro de 1983, fls. 443, como se vê
do cálculo de fls. 446.
Em 9 de setembro de 1982, foi re- Inconformada a União Federal, to-
quisitado o pagamento por meu ilus- mando conhecimento do cálculo,
tre antecessor, fls. 421. apresentou a seguinte petição, ler
fls. 448/452.
A 17 de setembro de 1982, foi expe-
dida mensagem requisitando o paga- Mantive o despacho e trago a ple-
mento ao Exmo. Senhor Presidente nário o agravo interposto.
da República, fls. 423. E o relatório.
A 22 de setembro de 1982, o
Ministro-Chefe do Gabinete Civil en- VOTO
caminhou ao Ministro-Chefe da Se-
cretaria de Planejamento a requisi-
ção do pagamento, fls. 427.
O Sr. Ministro Cordeiro Guerra
A 5 de novembro de 1982, o Exmo. (Relator): O cálculo da condenação
Sr. Ministro do Planejamento enca- foi homologado em 26 de abril de
minhou o seguinte oficio ao Ministro- 1982, fls. 408.
Chefe do Gabinete Civil, ler fls.
430/431. A 9 de setembro de 1982, foi requi-
sitado o pagamento, que se efetuou
em 1? de agosto de 1983.
Dele teve ciência o meu ilustre an-
tecessor, que mandou dissessem as Houve, pois, um lapso de tempo,
partes, em 23 de novembro de 1982, de 9 de setembro de 1982 a 1? de
fls. 433. agosto de 1983, de quase 10 meses.
Nesse interregno a inflação corroeu
Os exeqüentes assim se manifesta- o valor da condenação.
ram, ler fls. 435, em 6-12-1982.
E evidente que os exeqüentes não
De conformidade com a Nota Or- podem sofrer com a demora no pa-
çamentária n? Destaque 212, de 8 de gamento.
junho de 1983, receberam os autores
exeqüentes a importância de Cr$ A Constituição da República no
1.794.773,51 (um milhão, setecentos e art. 117, §§ 1? e 2?, estabelece o modo
noventa e quatro mil, setecentos e Por que devem ser processados os

R.T.J. — 108 465

precatórios a fim de assegurar a 8 de abril de 1981, que foi considera-


igualdade entre os credores e a ina- da pelo julgado exeqüendo que man-
fastabilidade da obrigação do Estado dou aplicá-la a partir de sua vigên-
pelos seus débitos judicialmente re- cia, que é expressa:
conhecidos.
«Art. 1? A correção monetária
Não o beneficia com a desvaloriza- incide sobre qualquer débito resul-
ção da moeda. tante de decisão judicial, inclusive
Assim tem esta Corte decidido nos sobre custas e honorários advo-
casos de desapropriação: c aticlos.»
«Súmula 561 — Em desapropria- Não excluiu, portanto, as condena-
ção, é devida a correção monetária ções judiciais do Estado.
até a data do efetivo pagamento da Em conseqüência, não encontro no
indenização, devendo proceder-se a art. 117, §§ 1? e 2?, da Constituição
atualização do cálculo ainda que Federal, obstáculo ao pagamento da
por mais uma vez.» correção monetária devida pela de-
No RE n? 86.970 — SP, de que fui mora no pagamento da condenação,
relator, decidiu a egrégia 29 Turma, pois, como salientei, o que a Consti-
RTJ 83/609: tuição visa é tão-somente tornar efe-
tivo o pagamento das condenações
«Desapropriação. E lícita a atua- do Estado e assegurar a par condido
lização complementar do cálculo, creditorum.
quando há demora no pagamento Nessa conformidade, nego provi-
da diferença resultante de anterior mento ao agravo.
atualização.»
No Agravo n? 82.122 — ES, DJ 24-3-
81, pág. 2.346, assim me manifestei: EXTRATO DA ATA
«Ao condenar o Estado ao paga-
mento de pensão com base no salá- AR 948 (AgRg) — RJ — Rel.: Mi-
rio mínimo, em ação de indeniza- nistro Cordeiro Guerra. Agte.: União
ção, pressupôs o julgado o pronto Federal Agda.: Gilda Miranda San-
pagamento do determinado, o que tos Neves e outros (Advs.: Cláudio
não ocorreu por longos anos. Não Lacombe e outros).
houvesse a atualização do valor
monetário, e, assim, haveria des- Decisão: Negou-se provimento,
cumprimento do julgado. A corre- unanimemente.
ção monetária nada mais é do que Presidência do Senhor Ministro
a Identidade da moeda no tempo. Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão
Não tivesse sido deferida na exe- os Senhores Ministros Djaci Falcão,
cução, o agravante, por ato seu, Moreira Alves, Soares Mufioz, Decio
nulificaria os efeitos da condena- Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
ção.» veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari-
Esse despacho foi comentado favo- nho e Francisco Rezek. Ausente, li-
ravelmente pelo ilustre juiz Lauro cenciado, o Senhor Ministro Alfredo
Paiva Restiffe, em sua Monografia Buzaid. Procurador-Geral da Repú-
Tratado da Correção Monetária blica, Professor Inocêncio Mártires
Processual RT 1983, págs. 152/153. Coelho.
De fato o legislador sentiu essa ne- Brasília, 23 de novembro de 1983 —
cessidade ao editar a Lei n? 6.899, de Alberto Veronese Aguiar, Secretário
466 R.T.J. — 108

REPRESENTAÇÃO N? 1.114 — RS
(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Representante: Procurador-Geral da República — Assistente: Estado do
Rio Grande do Sul — Representada: Assembléia Legislativa do Estado do
Rio Grande do Sul.
Representação.
Emenda Constitucional n? 17, de 27 de novembro de 1980, à Consti-
tuição do Estado do Rio Grande do Sul, de iniciativa legislativa, esta-
belecendo normas quanto a limite de idade para inscrição em concurso
público, ou readmissão, e para seu deferimento.
Inconstitucionalidade, em face dos artigos 13, I, III e V; 10, VII, c;
57, V; 97, 11 1?; 108 e 200 da Constituição Federal, por invadir órbita de
competência exclusiva de iniciativa do Chefe do Poder Executivo,
além de dispor sobre matéria reservada, na Constituição Federal, à
fixação em parâmetros federais obrigatórios.
Representação procedente, declarada a inconstitucionalidade da
Emenda Constitucional 17/80 à Constituição do Estado do Rio Grande
do Sul.
ACÓRDÃO tados dois parágrafos ao artigo 89 da
Constituição Estadual, que passou a
Vistos, relatados e discutidos estes ter a seguinte redação: (fls. 3/4):
autos, acordam os Ministros do Su- «Art. 89. A primeira investidu-
premo Tribunal Federal, em Sessão ra em cargo público dependerá de
Plenária, na conformidade da ata do aprovação prévia em concurso pú-
julgamento e das notas taquigráfi- blico de provas, ou de provas e
cas, por unanimidade de votos, em títulos, salvo os casos indicados em
julgar procedente a Representação e
declarar a inconstitucionalidade da lei.
Emenda Constitucional n? 17, de 27 Para efeito de inscrição
de novembro de 1980, do Estado do em concurso público ou readmis-
Rio Grande do Sul. são, serão observados os limites de
Brasília, 13 de outubro de 1983 — idade vigentes para cargos de atri-
Cordeiro Guerra, Presidente — buições iguais ou semelhantes ao
Oscar Corrêa, Relator. Serviço Público Federal salvo se a
lei estadual for menos restritiva.
Atendidos os requisitos exi-
RELATÓRIO gidos para a participação em con-
curso, nenhum candidato poderá
ter sua inscrição indeferida, salvo
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. O conduta comprovadamente preju-
Exmo. Procurador-Geral da Repú- dicial ao exercício da atividade
blica, Professor Inocênclo Mártires correspondente ao cargo, caso em
Coelho argúi a inconstitucionalidade que terá prazo para recurse.»
da Emenda Constitucional n? 17, de
27-11-1980, promulgada pela Assem- 2. Segundo assinala o então Go-
bléia Legislativa do Rio Grande do vernador do Estado, com a Emenda
Sul e a teor da qual foram acrescen- 17 ofenderam-se «os artigos 13, I

R.T.J. —108 467

(combinado com o artigo 97) e V re dentro do denominado processo


(combinado com o art. 57, inciso V, e legislativo que a Constituição Fe-
artigo 108) e 200 da Constituição da deral determinou fosse respeitado
República» (fls. 4). pelos Estados em sua organização
O Ilustre Procurador Walter José política, pelo que é do Chefe do
de Medeiros assim resume os funda- Executivo estadual a competência
mentos da argüição, em seu douto privativa para a iniciativa de leis
parecer de fls. 101/109: que disponham sobre provimento
«Argumenta-se em resumo que, de cargos públicos, matéria de que
estabelecido por disposição hetero- tratam os dois parágrafos cuja in-
nômica, contida na Constituição constitucionalidade é arguida.
Federal, que tal ou qual matéria só Invoca-se, em seguida, o art. 108
poderá ser regrada por lei ordiná- da Carta Magna, que manda apli-
ria, outro não deverá ser o proces- car o disposto na seção relativa
so legislativo, sendo indevida a aos funcionários públicos aos servi-
substituição da lei ordinária pela dores dos 3 Poderes da União e aos
Emenda Constitucional. Assim, ao funcionários em geral dos Estados,
dispor o art. 97 da Lei Fundamen- do Distrito Federal, dos Territórios
tal que os cargos públicos serão e dos Municípios. Afirma-se então
acessíveis a todos os brasileiros que, relativamente a essa matéria,
que preencham os requisitos esta- não pode o legislador estadual re-
belecidos em lei», esta lei a que se correr à Emenda à Constituição,
refere a cláusula constitucional é a «porque isso importaria em frau-
ordinária federal, para os cargos dar o processo legislativo estabele-
públicos federais; lei estadual, pa- cido para a lei ordinária» (fls. 15).
ra os cargos públicos estaduais; e Por outro lado — acrescenta-se
a lei municipal, para os cargos pú- — a disciplina dada ao assunto nas
blicos municipais. normas estaduais impugnadas im-
Trata-se, ademais, de regra de portou em devolver à União com-
cumprimento obrigatório pelos Es- petência que a Constituição da Re-
tados, a teor do art. 13, V, da Cons- pública deferira ao Estado-
tituição Federal, cujo I 1? reserva membro, subtraindo a este, em úl-
àqueles apenas os chamados pode- tima análise, o poder de legislar
res remanescentes, a saber, todos sobre questões relativas aos fun-
os que o Estado-membro poderá cionários públicos estaduais, jungi-
exercer sem ofensa explicita ou dos assim ao que dispuser a lel fe-
implícita à Lei Fundamental. dera l.
Diz-se também que as disposi- Teria, por conseguinte, o Cons-
ções impugnadas infringiram a le- tituinte estadual, usurpando com-
tra expressa do art. 57, V, da Cons- petência do Executivo para a ini-
tituição, que confere ao Chefe do ciativa de lei relativa a funcionário
Executivo competência exclusiva estadual e provimento de cargo pú-
para a iniciativa das leis que dis- blico, malferido também o
ponham sobre servidores públicos princípio constitucional da harmo-
e provimento de cargos públicos, nia e independência dos Poderes,
dentre outras matérias, norma por inscrito no art. 10, inciso, VII, letra
sua vez incorporadora ás Constitui- c, do Estatuto Político.
ções dos Estados-membros por for- Passa-se em seguida à colação
ça da Emenda n? 1, de 1969. de vasta jurisprudência oriunda do
Supremo Tribunal, abonadora da
A iniciativa para o desencadea- tese sustentada na representação
mento da elaboração da lei se inse- em exame.»
468 R.T.J. — 108

3. Solicitadas informações à Au- e a expressão «no que couber,» ins-


gusta Assembléia Legislativa (fls. crita no artigo 200, é disso cabal
60), prestou-as seu Presidente, sa- reconhecimento.»
lientanto, em síntese, que (fls. 66/67) 4. Após diligência da douta
«A Constituição Federal, com Procuradoria Geral da República,
efeito, estabeleceu, na Seção VIII, requerendo o inteiro teor oficial da
apenas as normas que considerou Emenda, opinou ela, como visto, as-
fundamentais e que desejou ver ob- severando, em favor da procedência
servadas pelos Estados-membros, da Representação (fls. 105/109):
no que concerne aos funcionários «Reza, com efeito, o § 1? do
públicos, embora desça a detalhes art. 89 da Constituição sul-rio-
que melhor seria ficassem fora do grandense que, para efeito de ins-
texto constitucional, porque maté- crição em concurso público, serão
ria de caráter nitidamente estatu- observados os limites de idade vi-
tária. gentes para os cargos de atribui-
Mas, assim procedendo, por cer- ções iguais ou assemelhadas ao
to ensejou aos Estados a oportuni- serviço público federal, salvo se a
dade de lhe seguirem os passos.» lei estadual for menos restritiva.
Essa última ressalva é desinfluen-
Lembra que, na Representação te para o julgamento da represen-
749, a Corte validou o artigo 77, I, le- tação, porque estará sempre em
tra a, que tratava da licença-prêmio causa — seja mais ou seja menos
e da sua conversão em tempo de ser- restritiva a lei estadual — o parã-
viço dobrado; e ao apreciar o RE metro federal, cuja constitucionali-
20.305 decidiu que «os Estados po- dade deve ser examinada, quando
dem ampliar, em favor de seus ser- estabelecido, como no caso, por
vidores, as garantias constitucionais; Emenda à Constituição do Estado-
o que estão impedidos de fazer é membro.
restringi-las, ou dispensar requisitos O § 2? do artigo 89 acima mencio-
de investidura» (RDA 42/123/125) nado contém, por sua vez, norma
(fls. 67). consequente do parágrafo anterior,
Sustenta que a Assembléia exer- pelo que deve, a nosso ver, ter a
ceu «competência recebida pela uni- sorte que ao primeiro for reserva-
dade federada, não configurando da.
qualquer devolução dessa competên- Como o § 1? é, para nós, inconsti-
cia»; e que se a estrutura da Consti- tucional, não há como subsistir o §
tuição Federal «tem que ser respei- 2?, estando ambos fulminados pela
tada e ela o é no caso da Emenda n? mesma mácula.
17, que não fere essa estrutura», a Limite de idade para inscrição
Constituição Estadual não deve ser em concurso público é, sem dúvi-
dela adaptação» meramente mecâni- da, matéria pertinente a provimen-
ca» (fls. 69/70), concluindo: to de cargos públicos e que a Cons-
«O artigo 200 não manda copiar tituição Federal, para a iniciativa
servilmente, não determina a das leis, reservou ao Sr. Presiden-
adaptação rigorosa, ao texto das te da República (CF, art. 57, V).
Cartas Estaduais, de tudo o que se A iniciativa das leis, por sua vez,
contém na Constituição Federal.
diz com o processo legislativo,
Não o fez porque a autonomia principio de observância obrigató-
dos Estados está vigente. A carta ria para os Estados Federados, em
de 1969 proclama essa autonomia, cujo âmbito a competência para

R.T.J. — 108 469

leis de tal natureza é exclusiva do Constituição Federal. Não afasta


respectivo Governador (CF, arti- o vicio de iniciativa, na ordem
gos 13, III, e 200). estadual, o fato da criação da
De outro lado, a regra constitu- norma por via de emenda consti-
cional que diz serem os cargos pú- tucional e não de lei ordinária. A
blicos acessíveis a todos os brasi- vedação posta na Emenda Cons-
leiros que preencham os requisitos titucional impugnada importa em
estabelecidos em lei, só pode subtrair a matéria à disciplina
referir-se à lei ordinária emanada de lei ordinária, retirando, em
de cada qual das três esferas de decorrência, o poder de iniciativa
pessoas jurídicas de direito público atribuído com exclusividade, na
que compõem a organização políti- espécie, ao Chefe do Poder Exe-
ca do País (CF, art. 97). cutivo. Representação proceden-
Ora, se o Legislativo estadual te para declarar inconstitucional
a Emenda Constitucional n? 15,
usurpa, por emenda à Constituição de 25-4-1980, do Estado de São
do Estado, competência que a Paulo» (RTJ 102/474).
Constituição Federal reservou ao
Chefe do Executivo para a iniciati- Na sessão de julgamento, o rela-
va de leis sobre matérias especifi- tor originário, Sr. Ministro Clóvis
camente arroladas no próprio texto Ramalhete, assinalou, a propósito
constitucional, parece lógico que da inconstitucionalidade da Emen-
houve também clara infringência da n? 15 à Constituição de São Pau-
do princípio da independência e lo, que vedava a estipulação de li-
harmonia dos poderes, de obser- mite máximo de idade para ingres-
vância obrigatória pelas Unidades so no serviço público, que, além de
Federais (CF, art. 10, VII, c, e art. inibir a competência privativa do
13, I). Chefe do Executivo Estadual para
Sobre a quaestlo 'uris tem a Su- a iniciativa da lel, mencionada
prema Corte precedente específico, emenda era infringente do preceito
recentemente Julgado, a Represen- constitucional que, ao referir-se à
tação n? 1.061, de São Paulo, de lel, remete à legislação ordinária o
que se tornou relator para o acór- estabelecimento de condições para
dão o Sr. Ministro Néri da Silveira, acesso a cargos públicos. Disse S.
que o resumiu nestes preciosos ter- Exa.:
mos: «Inconstitucional porque inibe
a competência, que é privativa
«Representação. Emenda do Chefe do Poder Executivo, pa-
Constitucional estadual, de ini- ra a iniciativa de lei que dispo-
ciativa legislativa, que veda a es- nha sobre servidores públicos,
tipulação de limite máximo de seu regime jurídico e provimento
idade, para o ingresso no serviço de cargos públicos (CF art. 57,
público estadual, respeitando-se, V); privativa do Chefe do Execu-
apenas, o limite máximo de ida- tivo estadual porque tal disposi-
de para a aposentadoria compul- ção constando da Constituição
sória e os requisitos estabeleci- Federal encontra-se incorporada
dos em lel para a forma e as con- ao direito constitucional a ser le-
dições de provimento de cargos. gislado pelos Estados (CF art.
Emenda Constitucional n? 15, de 200).
25-4-1980, à Constituição do Esta-
do de São Paulo. Sua inconstitu- Ademais é claramente referên-
cionalidade, em face dos arts. 57, cia à legislação ordinária, mas
V; 97; 13, I e 10 VII, alínea c, da não a Constituição, a norma que

470 R.T.J. — 108

remete à lei o estabelecimento de As deformações da nossa estrutura


condições para acesso a cargos organizacional levaram a um federa-
públicos (CF art. 97)» (RTJ lismo no qual, desconfiando da capa-
102/479). cidade dos Estados de bem adminis-
Do mesmo teor foi a observação trarem sua autonomia, impõe-lhes a
do Sr. Ministro Néri da Silveira, na União normas rígidas, em todas as
seguinte passagem do seu voto, em órbitas de atuação, vedando-lhes,
que lembrou a jurisprudência da quase sempre, transpô-las, ou mes-
Corte: mo divergir, ainda que em parte me-
nor.
«O Tribunal já tem firme sua
jurisprudência, no sentido de não Não renovaremos as críticas com
poder a Assembléia utilizar a que temos objurgado essa tendência,
Emenda Constitucional, em subs- que, de tal modo, se consubstanciou
tituição à Lei, em todos aqueles nas constituições com que, periodi-
casos em que a Constituição re- camente, se tem fixado os lineamen-
serva iniciativa do processo le- tos da organização nacional, que
gislativo ao Poder Executivo» acabaram por transformar-nos em
(RTJ 102/480). federalismo centralizado e unitário
se é possível assim o classificar,
Nessas condições, quer sob o as- sem contradição nos próprios termos
pecto formal, quer sob o ponto de e que pouco deixa à pseudo-
vista material a Emenda n? 17, de autonomia estadual.
27 de novembro de 1980, que acres-
centou os ¢§ 1? e 2? ao art. 89 da 2. A Emenda Constitucional n? 17,
Constituição, deve, a nosso ver, ser aprovada pela Assembléia Legislati-
declarada inconstitucional, por in- va do Rio Grande do Sul, por isso,
fringente dos artigos 13, I e III; 10, padece dos mesmos vícios pelos
VII, c; 57, V; 108 e 200, todos da quais iniciativas semelhantes têm si-
Constituição Federal.» do fulminadas de inconstitucionali-
dade.
5. O Estado do Rio Grande do
Sul, não lhe tendo sido deferida a É verdade que os termos em que
medida cautelar pleiteada, em vista se equacionou a proposta não lhe fa-
de não ratificada pelo Exmo. vorecem a pretensão; a começar da
Procurador-Geral da República na vinculação de dependência, em que
linha da inteligência da Corte — re- se colocou, das normas federais, ex-
quereu, «dentro das possibilidades plicável, talvez, pelo temor reveren-
da pauta» da Corte, o seu julgamen- ciai que a todos inspira a legislação
to (fls. 112/114); e, logo depois, ad- com que a União cobre todas as
missão como assistente (fls. 143), áreas, as que lhes são próprias e as
que deferi. que, inapelavelmente, invade.
o Relatório, a ser distribuído aos Aqui, por estranho e paradoxal
Exmos. Senhores Ministros. que pareça, as razões do Senhor Go-
vernador do Rio Grande do Sul afir-
VOTO mam a inconstitucionalidade do 1?
da Emenda Constitucional 17, «por
Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re-
devolver à União Federal a compe-
lator): 1. A matéria suscitada na Re- tência para legislar sobre a matéria
presentação tem sido, nos seus as- relativa aos funcionários públicos es-
pectos gerais, examinada, em outras taduais, retirando-a do Estado-
oportunidades, pela Corte, como as- membro» (fls. 8).
sinalado no douto parecer da Ora, a Constituição Federal impôs
Procuradoria Geral da República. aos Estados os princípios que, a res-
R.T.J. — 108 471

peito, traçou para os seus servido- Desta forma, regulando por


res, nos artigos 13, V e 108, Emenda Constitucional, a matéria,
reservando-lhes apenas os poderes subtraiu o Legislativo sul riogran-
que, implícita ou explicitamente, não dense, da esfera do Executivo, com-
lhes tenham vedado pela Constitui- petência que era sua, por determina-
ção — poderes remanescentes que, ção da Constituição Federal, não es-
na realidade, não remanescem. tando dentro dos limites de sua auto-
Assim entendido o texto constitu- nomia, para adaptar-se aos ditames
cional, é induvidoso que dele diverge federais (conferido pelo artigo 200 —
o texto impugnado da Emenda Cons- no que couber), afastar-se daqueles
titucional 17. E, como salientado no parãmetros.
douto parecer da Procuradoria Isto salientou o douto parecer da
Geral da República, a ressalva é de Procuradoria Geral da República,
ter-se como «desinfluente para o jul- lembrando não apenas a infringência
gamento da representação, porque do principio da independência e har-
estará sempre em causa — seja monia dos poderes, obrigatoriamen-
mais ou menos restritiva a lel esta- te posto aos Estados (artigo 10, VII,
dual — o parámetro federal, cuja c, e art. 13, I), como também o pre-
constitucionalidade deve ser exami- cedente especifico da Corte, no jul-
nada, quando estabelecido, como no gamento da Representação 1.061 —
caso, por Emenda à Constituição do São Paulo, do qual transcreve tre-
Estado-membro» (fls. 105). chos expressivos, que se aplicam à
3. Da mesma forma a fixação de hipótese.
limite de idade para inscrição em Nestes termos, não há porque nos
concurso público, ou readmissão, estendermos mais, em observações
matéria pertinente a provimento de conhecidas, e que o douto parecer,
cargos públicos e reservada, pela lembrando a jurisprudência do Tri-
Constituição Federal, à iniciativa do bunal, sumaria.
Presidente da República (Constitui- Pelo que julgo procedente a Repre-
ção Federal, artigo 57, IV) e, pois, sentação, declarada a inconstitucio-
insuscetível de estabelecimento pela nalidade da Emenda Constitucional
Emenda, de iniciativa legislativa. n? 17, de 27 de novembro de 1980, do
E aqui o vicio mais grave de que Estado do Rio Grande do Sul, que,
se acusa a Emenda Constitucional acrescentando ao artigo 89 da Cons-
17: o de invasão das atribuições do tituição Estadual, os fell 1? e 2?,
Chefe do Poder Executivo, quando, contrapôs-se aos artigos 13, I, III e
por emenda constitucional, regula V; 10, VII, c; 57, V; 97, 1?; 108 e 200
matéria que a Constituição Federal, da Constituição Federal.
expressamente, defere à sua iniciati- o voto.
va, em lei.
Com efeito, assim dispõe o artigo EXTRATO DA ATA
97, 1?, da Constituição Federal,
combinado com o artigo 57, V, in- Rp 1.114-RS — Rel.: Ministro Os-
cluindo este, na competência exclusi- car Corrêa. Repte.: Procurador-
va do Chefe do Executivo, a iniciati- Geral da República. Assistente: Es-
va de leis que disponham sobre ser- tado do Rio Grande do Sul (Advs.:
vidores públicos, seu regime Jurídi- Ney Sá e outros). Repda.: Assem-
co, etc., normas que repetimos, por bléia Legislativa do Estado do Rio
força dos artigos 13, V e 108, regem Grande do Sul.
a organização dos Estados, à qual se Decisão: Julgou-se procedente a
aplicam. Representação e declarou-se a in-
472 — 108

constitucionalidade da Emenda Néri da Silveira, Alfredo Buzaid, Os-


Constitucional n? 17, de 27 de novem- car Corrêa, Aldir Passarinho e Fran-
bro de 1980, do Estado do Rio Gran- cisco Rezek. Ausentes, justificada-
de do Sul. Decisão unânime. Votou o mente, os Srs. Ministros Djaci Fal-
Presidente. cão e Rafael Mayer. Procurador-
Presidência do Senhor Ministro Geral da República, Professor Ino-
Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão cêncio Mártires Coelho.
os Senhores Ministros Moreira Al- Brasília, 13 de outubro de 1983 —
ves, Soares Mufioz, Decio Miranda, Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.132 — SP
(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Representante: Procurador-Geral da República — Representada: As-
sembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
Representação. Argüição de inconstitucionalidade da Lei n? 3.067,
de 9.11.81, de iniciativa da Assembléia Legislativa e promulgada pelo
seu Presidente, elevando valores de gratificações pro labore, concedi-
das a militares postos à sua disposição.
Afronta ao princípio da iniciativa do processo legislativo consubs-
tanciado no art. 57, inc. II, da Constituição da República, aplicável à
espécie em combinação com o art. 13, Inc. III, do referido diploma.
Procedência.
ACORDA() art. 119, inc. I, letra 1, da Constitui-
ção Federal, submete à considera-
Vistos, relatados e discutidos estes ção do Supremo Tribunal Federal a
autos, acordam os Ministros do Su- argüição de inconstitucionalidade da
premo Tribunal Federal, em sessão Lei n? 3.067, de 9-11-81, de iniciativa
plenária, à unanimidade de votos e da Assembléia Legislativa do Estado
na conformidade da ata do julga- de São Paulo, e promulgada pelo seu
mento e das notas taquigráficas, em Presidente.
julgar procedente a Representação,
e declarar a inconstitucionalidade da Segundo a solicitação formulada
Lei n? 3.067, de 9-11-81, de iniciativa pelo Senhor Governador do Estado, o
da Assembléia Legislativa do Estado referido diploma legal prevê a eleva-
de São Paulo, e promulgada pelo seu ção dos valores das gratificações pro
Presidente. labore concedidas a servidores da
Brasília, 28 de setembro de 1983 — Secretaria de Segurança Pública à
Cordeiro Guerra, Presidente — disposição da Assembléia Legislati-
Djaci Falcão, Relator. va, estabelecendo em seu art. 1? que
tais valores serão calculados, per-
RELATORIO centualmente, sobre o quantum do
padrão 1-A da Tabela da Escala de
O Sr. Ministro Djaci Falcão: O Vencimentos 4, da Lei Complemen-
Prof. Inocêncio Mártires Coelho, tar n? 247/81, na conformidade do
Procurador-Geral da República, no disposto nos incisos I a V do mesmo
uso das atribuições que lhe confere o art. 1?, a saber:

R.T.J. — 108 473

«I — em 23% as do Comandante que atende, fazem dela uma retri-


do Destacamento da Polícia Mili- buição que não pode ser apanhada
tar, do Comandante do Destaca- pelo principio da paridade. Não fo-
mento de Bombeiros e do Encarre- ra assim, desapareceria por com-
gado de Setor (Telecomunicações pleto a independência do Poder,
Policial) ou Encarregado de Setor que sequer poderia atender às suas
(Telecomunicações); necessidades e peculiaridades.
II — em 14% as do Subcoman- 4.1 Isso se torna tanto mais evi-
dante do Destacamento da Polícia dente, quando se atenta para o fato
Militar e do Operador de Teleco- de que a Lei n? 3.067/81 é perfeita-
municações Policial ou Operador mente genérica e abstrata. E apli-
de Telecomunicações; cável a todos quantos vierem a se
III — em 10% as dos Subtenen- colocar na situação fática do pres-
tes e Sargentos; suposto legal ( = estar à disposição
IV — em 8% as dos Cabos; da Assembléia Legislativa).
V — em 6% as dos Soldados». Assim, o princípio da parida-
(Fls. 4/5). de não está em causa, ao contrário
do que afirma o Poder Executivo.
Alega-se afronta aos arts. 98 e 108, Primeiro, porque não se trata de
combinados com o art. 13, Inc. V, da funcionários de Poderes diversos,
Constituição da República (fls. 3/12). mas, sim, de funcionários de um
Pelo Exmo. Sr. Presidente da As- Poder (Executivo) postos à dispo-
sembléia Legislativa foram presta- sição de outro (Legislativo), fal-
das informações que, na sua parte tando, pois, o pressuposto tático de
essencial, dizem o seguinte: aplicabilidade do próprio princípio.
Segundo, porque a gratificação é
«3. O princípio da paridade tem conferida st et In quantum estive-
como pressuposto inequívoco o rem à disposição e a serviço da As-
tratar-se de funcionários de dois sembléia Legislativa tais funcioná-
Poderes diversos: um deles, neces- rios do Executivo.
sariamente, o Executivo.
As demais argüições, quais
3.1 Ora, os componentes da sejam a de que a Lei Complemen-
Polícia Militar não deixam de ser tar n? 255/81 não prevê essa grati-
do Executivo pelo só fato de esta- ficação, pelo que lei ordinária não
rem destacados para servir no Po- a poderia estabelecer, e a de que
der Legislativo. Não há, pois, como essa gratificação, nos termos da
falar em princípio da paridade. Lei n? 10.168, de 10 de julho de
4. De outra parte, a Assembléia 1968, só é atribuível a funções de
Legislativa não legislou (ao elabo- chefia e direção sem cargo corres-
rar a Lei n? 3.067/81) própria e di- pondente, pelo que não poderia ser
retamente sobre os componentes conferida fora desses casos, pecam
da Policia Militar, para elevar-lhes pela base.
os vencimentos. Legislou, sim, so- 6.1 Como já se disse, com a de-
bre o valor da gratificação pro vida vênia, a Lei n? 3.067/81 não le-
labore que a Assembléia Legislati- gisla diretamente sobre integran-
va poderá atribuir a elementos da tes da Polícia Militar, para consti-
Corporação se e enquanto estive- tuir nova situação jurídica, perma-
rem prestando serviços na sede do nentemente, pelo fato de serem da
Legislativo paulista. A transitorie- Policia Militar. Se o tivesse feito,
dade, pois, da gratificação, assim teria invadido competência do
como a especialidade da situação a Executivo, o que evidentemente

474 R.T.J. — 108

não ocorreu. Aliás, nem mesmo o serviços e, pois, de configurar di-


Executivo alegou essa circunstân- versamente essa gratificação».
cia como fundamento da sua pre- (fls. 21 a 23).
tensão. A questionada lei dispõe, Manifestou-se, por último, a
sim, sobre o valor da gratificação Procuradoria-Geral da República,
pro labore a integrantes da Corpo- nos seguintes termos:
ração, se e enquanto estiverem à
disposição e a serviço da Assem- «Argúi-se, no caso, a inconstitu-
bléia Legislativa, fazendo-o no uso cionalidade da Lei n? 3.067, de 9 de
da competência constitucional, que novembro de 1981, decretada pela
lhe é assegurada, de organizar os Assembléia Legislativa do Estado
seus próprios serviços. Se assim é, de São Paulo e promulgada pelo
pouco importa que a Lei Comple- respectivo Presidente, em razão da
mentar n? 255/81 não contemple es- qual foram majoradas, em percen-
sa gratificação como forma de re- tuais variáveis, as gratificações
muneração, permanente ou transi- pro labore, pagas ao pessoal mili-
tória, porque a situação de fato tar posto a serviço daquela Casa
pressuposta para a aplicação da lei Legislativa, desde comandantes e
escapa à vida própria da Corpora- subcomandantes, até subtenentes,
ção. sargentos, cabos e soldados.
Sustenta o Sr. Governador, em
6.2 De outro lado, a Lei n? síntese, que o referido diploma le-
10.168, de 10 de junho de 1968, a gal' propiciou situação retribuitória
que se reporta o Executivo, ne- diversificada para seus beneficiá-
nhum efeito impeditivo pode pro- rios, em relação aos demais servi-
duzir sobre a competência da As- dores de igual hierarquia, ferindo
sembléia Legislativa. Mencionada em conseqüência o principio da pa-
lei diz respeito a situações do Exe- ridade de vencimentos, inscrito no
cutivo, dos Tribunais de Justiça, art. 98 da Constituição Federal,
de Alçada, da Justiça Militar e de complementado pela regra do art.
Contas (ex vl do seu art. 36), não 108 do mesmo texto constitucional.
se aplicando, pois, ao Legislativo.
Acrescenta, ainda, que lei com-
6.3 De se notar que outra lei, a plementar estadual dispondo sobre
Lei n? 10.261, de 28 de outubro de vencimentos e vantagens pecuniá-
1968, esta, sim, aplicável ao Legis- rias dos integrantes da Policia Mi-
lativo (por força do seu art. 1?, pa- litar paulista não prevê a aludida
rágrafo único, que, no entanto, res- gratificação pro labore entre aque-
salva a legislação especial), per- las a que fazem jus, o que torna in-
mite, no art. 135, V, que sejam viável sua concessão por via da lei
criadas, por leis, outras gratifica- ordinária.
ções, inclusive para atender, por- Prestadas as informações, sus-
tanto, a situações da Assembléia tentou a Assembléia que, ao editar
Legislativa. a lei impugnada, fê-lo no uso da
6.4 O fato de, pela Lei n? competência constitucional que lhe
10.168/68, apenas as funções de é assegurada, de organizar seus
chefia e direção sem cargo corres- próprios serviços.
pondente poderem perceber a gra- Repeliu, outrossim, a argüição
tificação pro labore ali prevista, não de ofensa ao principio da paridade,
tolhe, à evidência, ao Legislativo o ao argumento de que, embora à
exercício da sua competência cons- disposição da Assembléia, os mili-
titucional para organizar os seus tares contemplados pela lei malsi-
R.T.J. —108 475

nada não deixavam de pertencer Nem se pode, de outra forma,


ao Executivo, inexistindo assim compreender a liberalidade em
parâmetro a ser confrontado, em que incorreu a augusta Assembléia
relação a servidor de outro Poder. Legislativa do Estado de São Pau-
A nosso ver, procede esse útlimo lo, porquanto, a vingar a outorga
fundamento, quando repele a pre- de gratificação pro labore a poli-
tensa contrariedade à regra consti- ciais militares, no cumprimento de
tucional da paridade de vencimen- sua missão específica de policia-
tos, pois em verdade os referidos mento em dependências daquela
militares pelo só fato de estarem a Casa de Leis, não se saberia por
serviço de Assembléia não deixa- que não contemplar amanhã, tam-
ram de pertencer aos quadros do bém, policiais em serviço em ou-
Executivo. Por conseguinte, não há tras repartições públicas, ou mes-
falar em afronta à norma do art. mo fora delas.
98 da Constituição, cujo pressupos- O Chefe do Poder Executivo, a
to, inexistente no caso, é a retribui- que estão subordinados ditos servi-
ção de vencimentos de cargos do dores, é, a nosso ver, o único árbi-
Legislativo ou do Judiciário em tro da iniciativa de leis que impli-
níveis superiores aos pagos pelo quem aumento de seus vencimen-
Executivo. Na espécie, os servido- tos e da despesa pública em geral.
res são unicamente deste último Nessas condições, por ofensa ao
Poder, sem correlação com cargos art. 57, II, c/c o art. 13, III, da Car-
de qualquer dos dois outros Pode- ta Magna, o parecer é pela proce-
res. dência da representação.
Mas, desse mesmo fundamento, Brasília, 14 de março de 1983 —
quanto a continuarem tais milita- Walter José de Medeiros, Procura-
res subordinados aos quadros do dor da República». (Fls. 31/33).
Executivo, extrai-se, a nosso ver,
outra conclusão, esta sim suficien- Distribua-se cópia deste relatório
te à declaração de inconstituciona- aos Senhores Ministros.
lidade do diploma legal aqui ques- Brasília, 27 de abril de 1983 — Mi-
tionado. nistro Moei Falcão — Relator.
E que, como ao Poder Legislati-
vo, segundo dito nas próprias infor- VOTO
mações, só compete organizar os
próprios serviços, falecia-lhe com- O Sr. Ministro Eflui Falcão (Rela-
petência para, mediante lei, atri- tor): A Lel n? 3.067, de 9 de novem-
buir vantagem pecuniária a servi- bro de 1981, de iniciativa da Assem-
dores de outro Poder, reconhecido bléia Legislativa e promulgada pelo
como ficou que os Militàres postos seu Presidente, estabelece a eleva-
à sua disposição continuam a per- ção dos valores das gratificações pro
tencer aos quadros do Executivo. labore concedidas ao pessoal militar
posto à disposição daquela casa le-
E isso porque a iniciativa do pro- gislativa, nos seguintes termos:
cesso legislativo para aumento da
despesa pública está, no plano fe- «Art. 1? As grafificações pro la-
deral, afeta ao Presidente da Re- bore instituídas pelo artigo 26 da
pública e, no estadual, ao respecti- Resolução n? 210, de 13 de janeiro
vo Governador, de acordo com o de 1957, e pelo artigo 27 da Resolu-
disposto no art. 57, II, combinado ção n? 574, de 13 de agosto de 1968,
com o art. 13, III, ambos da Consti- modificadas pelo artigo 1? da Lei
tuição Federal. n? 1.637, de 10 de maio de 1978,

476 R.T.J. — 108

passam a ser as seguintes, calcula- ficou que os militares postos à sua


das percentualmente sobre o valor disposição continuam a pertencer
do padrão 1-A da Tabela I da Esca- aos quadros do Executivo.
la de Vencimentos 4: E isso porque a iniciativa do pro-
I — em 23% (vinte e três por Cesso legislativo para aumento da
cento) as do Comandante do Desta- despesa pública está, no plano fe-
camento da Polícia Militar, do Co- deral, afeta ao Presidente da Re-
mandante do Destacamento de pública e, no estadual, ao respecti-
Bombeiros e do Encarregado de vo Governador, de acordo com o
Setor (Telecomunicações Policial) disposto no art. 57, II, combinado
ou Encarregado de Setor (Teleco- com o art. 13, III, ambos da Consti-
municações); tuição Federal.
II — em 14% (quatorze por cen- Nem se pode, de outra forma,
to) as do Subcomandante do Desta- compreender a liberalidade em
camento da Polícia Militar e do que incorreu a augusta Assembléia
Operador de Telecomunicações Po- Legislativa do Estado de São Pau-
licial ou Operador de Telecomuni- lo, porquanto, a vingar a outorga
cações; de gratificação pro labore a poli-
ciais militares, no cumprimento de
III — em 10% (dez por cento) as sua missão específica de policia-
dos Subtenentes e Sargentos; mento em dependências daquela
Casa de Leis, não se saberia por
IV — em 8% (oito por cento) as que não contemplar amanhã, tam-
dos Cabos; bém, policiais em serviço em ou-
V — em 6% (seis por cento) as tras repartições públicas, ou mes-
dos Soldados». mo fora delas.
A meu ver não procede a alegação O Chefe do Poder Executivo, a
de que a lei em causa viola o que estão subordinados ditos servi-
princípio da paridade de vencimen- dores, é, a nosso ver, o único árbi-
tos, previsto no art. 98 da Constitui- tro da iniciativa de leis que impli-
ção da República. Com efeito, os mi- quem aumento de seus vencimen-
litares beneficiados pela lei em cau- tos e da despesa pública em geral.
sa postos à disposição da Assembléia Nessas condições, por ofensa ao
Legislativa, continuam a pertencer art. 57, II c/c o art. 13, III, da Car-
ao Poder Executivo, não podendo se ta Magna, o parecer é pela proce-
estabelecer um confrofito com servi- dência da representação» (fls. 33).
dor de outro Poder. Aqui não se trata de organização
Todavia, impõe-se a declaração da dos serviços administrativos do Po-
inconstitucionalidade da Lei n? 3.067, der Legislativo (art. 57, parágrafo
de 9-11-81, na linha das considera- único, letra b, da Constituição).
ções desenvolvidas no parecer do Acolhendo o parecer da douta
Dr. Walter José de Medeiros, is Procuradoria Geral da República
verbis: julgo procedente a representação.
«... como ao Poder Legislativo, EXTRATO DA ATA
segundo dito nas próprias informa-
ções, só compete organizar os pró- Rp. 1.132-SP — Rel.: Ministro
prios serviços, falecia-lhe compe- Djaci Falcão. Repte.: Procurador-
tência para, mediante lei, atribuir Geral da República. Repda.: Assem-
vantagem pecuniária a servidores bléia Legislativa do Estado de São
de outro Poder, reconhecido como Paulo.

R.T.J. — 108 477

Decisão: Julgou-se procedente a os Senhores Ministros Djaci Falcão,


Representação, e declarou-se a in- Moreira Alves, Soares Muzioz, Decio
constitucionalidade da Lel n? 3.067, Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
de 9-11-81, de iniciativa da Assem- veira, Alfredo Buzald, Oscar Corrêa,
bléia Legislativa do Estado de São Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
Paulo, e promulgada pelo seu Presi- Procurador-Geral da República,
dente. Decisão unânime. Votou o Mi- Professor Inocêncio Mártires Coelho.
nistro Presidente.
Presidência do Senhor Ministro Brasília, 28 de setembro de 1983 —
Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
REPRESENTAÇÃO N? 1.155 — DF
(Tribunal Pleno)
(Questão de Ordem)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mufioz.
Representante: Procurador-Geral da República — Representado: Presi-
dente da República.
Interpretação de lei em tese. Assistência.
— Não cabe a intervenção de terceiro, como assistente, em repre-
sentação para interpretação de lei em tese, pois a legitimidade para
propõ-la é privativa e exclusiva do Dr. Procurador-Geral da Repúbli-
ca. Ninguém tem o direito subjetivo à prestação jurisdiclonal para
obter a interpretação abstrata da lei. A Interpretação do Supremo
Tribunal Federal expressa a própria lei e, por isso, tem força vincu-
lente (art. 187 do R.I.-S.T.F.). Sobreleva notar que, no caso «sub judi-
ce», os terceiros, embora requeiram sua intervenção como assisten-
tes, não pretendem assistir o Dr. Procurador-Geral da República;
mas a ele se opor, pugnando por outra Interpretação da lei em tese,
que equivale, em verdade, a uma se gunda representação, oferecida
por quem não tem legitimidade para provia-ia. Pedido de assistência
Indeferido.
ACÓRDÃO no usq das atribuições que lhe confe-
rem o art. 119, item I, alínea 1, da
Vistos, relatados e discutidos estes Constituição Federal e o arfa 179 do
autos, acordam os Ministros do Su- Regimento Interno do Supremo Tri-
premo Tribunal Federal, em sessão bunal Federal, submete ao exame da
Plenária, na conformidade da ata do Corte, mediante Representação, o
julgamento e das notas taquigráfi- texto do Decreto-Lei n? 2.019, de 28
cas, por unanimidade de votos. inde- de março de 1983, expedido pelo Sr.
ferir o pedido de assistência. Presidente da República, para que
Brasília, 13 de outubro de 1983 — se lhe fixe a exata interpretação no
Cordeiro Guerra, Presidente — sentido de que o diploma legal em
Soares Mudos, Relator. tela tem como destinatários específi-
cos os magistrados remunerados pe-
la União, a quem compete arcar
RELATORIO com as despesas correspondentes.
Assim, ao referir-se a «magistrados
O Sr. Ministro Soares Mudos: O de qualquer instância», somente po-
Dr.' Procurador-Geral da República, derá ter em vista os magistrados de
478 R.T.J. — 108

qualquer instância federal, desde a lei, como na espécie, só é possível


primeira até a Suprema Instância, para servidores federais ou para
como tais relacionados no Anexo a magistrados pagos pela União; com
que se refere o art. 1?, 2?, do respeito às finanças públicas, a isen-
Decreto-Lei n? 1.985, de 28 de dezem- ção do imposto de renda relativa à
bro de 1982. verba de representação dos magis-
Em prol da interpretação que pro- trados, por ser matéria de finanças
pugna, expende o Chefe do Ministé- públicas, concernente a tributo fede-
rio Público vários argumentos, entre ral, nada impede a sua extensão aos
os quais o de que nem poderia ser di- magistrados estaduais; muito ao
ferente, porquanto a competência do contrário, tudo recomenda sua
Sr. Presidente da República, para a abrangência, ainda que por respeito
criação de cargos públicos e fixação ao princípio da isonomia.
de vencimentos, está restrita ao âm- Requereram sua intervenção no
bito federal, em face do rígido es- processo, como assistentes, a
quema constitucional de repartição Associação dos Magistrados do Anti-
de competências, decorrência do go Estado da Guanabara e seu Pre-
próprio regime federativo por nós sidente, Desembargador Vivalde
adotado. Nos Estados, essa compe- Brandão Couto (fls. 37/99); a
tência para a iniciativa da lei que Associação dos Magistrados
aumente vencimentos é exclusiva do Fluminenses, através de seu Presi-
respectivo Chefe do Poder Executi- dente em exercido, Juiz Emílio Car-
vo, consoante a regra do art. 57, II, mo (fls. 108/112); o Juiz de Direito
da Carta Magna, de aplicação obri- Gusmar Alberto Visconti de Araujo e
gatória pelas Unidades Federadas, outros do Estado do Rio de Janeiro
como manda o art. 13, III, da mes- (fls. 140/160); os magistrados Paulo
ma Constituição. De outra parte, se- Cesar Dias Panza e outros, também
ria impensável que a União viesse a do Estado do Rio de Janeiro (fls.
arcar com as despesas de pagamen- 160/169); a Associação dos Magistra-
to da gratificação por tempo de ser- dos Acreanos e seu Presidente, De-
viço a magistrados estaduais, por- sembargador Lourival Marques de
quanto estas não são despesas que Oliveira; a Associação dos Magistra-
possam ser contabilizadas no orça- dos de Alagoas e seu Presidente,
mento federal, restrita que se acha a magistrado Danilo Antônio Barreto
competência constitucional do Sr. Accioly; a Associação dos Magistra-
Presidente da República à iniciativa dos do Amazonas e seu Presidente,
do processo legislativo para aumento Desembargador Manuel Neuzimar
de vencimentos dos servidores fede- Pinheiro; a Associação dos Magistra-
rais. dos do Estado do Ceará e seu Presi-
Solicitadas informações ao Sr. dente, Desembargador Julio Carlos
Presidente da República, encami- de Miranda Bezerra; a Associação
nhou S. Exa: as prestadas pelo Sr. dos Magistrados do Estado do
Ministro de Estado Chefe da Secre- Espirito Santo e seu Presidente, De-
taria de Planejamento, inteiramente sembargador José Eduardo Grand!
concordantes com a interpretação do de Oliveira; a Associação dos Magis-
Decreto-Lei n? 2.019/83, como a pre- trados do Estado de Goiás, a
tende o Dr. Procurador-Geral da Re- Associação dos Magistrados do Esta-
pública, visto que tem a sustentá-la do do Maranhão e seu Presidente,
a compreensão do texto constitucio- Desembargador José Joaquim Ra-
nal. A fixação de vencimentos ou o mos Fllgueiras; a Associação Mato-
aumento da gratificação adicional grossense de Magistrados e seu Pre-
por tempo de serviço, via de decreto- sidente, Juiz de Direito Manoel Ri-

R.T.J. — 108 479

beiro Filho; a Associação dos Magis- cance do mencionado decreto-lei.


trados do Estado de Minas Gerais e Basta o inegável interesse jurídico
seu Presidente, Desembargador Lin- em que o Supremo Tribunal Federal
coln Rocha; a Associação dos M agis interprete aquele ato.
a-tradosE Pá, Não concordam os requerentes
Associação dos Magistrados do com o entendimento propugnado na
Paraná e seu Presidente, Desembar- representação, conforme o qual a lo-
gador Lauro Lima Lopes; a cução «em relação aos magistrados
Associação Paulista de Magistrados de qualquer instância» só abrange os
e seu Presidente, Desembargador juizes remunerados pelos cofres da
Francis Selwin Davis; a Associação União, porque, data venta, essa in-
dos Magistrados do Piauí e seu Pre- terpretação consubstancia afronta
sidente, Desembargador Paulo de ao dispositivo da Constituição que,
Tarso Mello e Freitas; a Associação na esteira de vetusta doutrina e da
dos Magistrados do Rio Grande do própria evolução do Direito Constitu-
Norte e seu Presidente, magistrado cional brasileiro, adotou o sistema
Carlos Roberto Coelho Mala; a da Unidade do Poder Judiciário, ao •
Associação dos Magistrados do Rio estatuir, no art. 112, que o Poder Ju-
Grande do Sul e seu Presidente, De- diciário é exercido pelo Supremo
sembargador Milton dos Santos Mar- Tribunal Federal, pelo Tribunal Fe-
tins; a Associação dos Magistrados deral de Recursos e juizes federais,
de Sergipe e seu Presidente, Juiz Jo- pelos Tribunais e juizes militares,
sé António de Andrade Goes. eleitorais e do trabalho, e pelos
Alegam os requerentes que não po- juizes e Tribunais estaduais.
de haver dúvida de que eles têm in- A interpretação proposta pelo Dr.
teresse Jurídico em ingressar no pro- Procurador-Geral da República na
cesso, porque tanto as associações, representação é, segundo os candi-
como entidades de classe, quanto os datos à habilitação como assistentes,
magistrados ficarão sujeitos á inter- manifestamente errônea, pois, con-
pretação que o Supremo Tribunal forme salientam os pareceres que
Federal vier a dar ao Decreto-Lei n? anexaram à sua petição, de autoria
2.019, de 28 de março de 1983, pois, dos juristas Calo Tácito, Calo Mário
como explicita o art. 187 do seu Re- da Silva Pereira, Hely Lopes Melrel-
gimento Interno, «a partir da publi- les e Victor Nunes Leal, o Decreto-
cação do acórdão, por suas conclu- Lei n? 2.019/83 limitou-se a eviden-
sões e ementa, no Diário da Justiça ciar, com maior clareza e objetivida-
da União, a interpretação nele fixa- de, o teor do art. 65 da Lei Orgânica
da terá força vinculante para todos da Magistratura, norma complemen-
os efeitos.» tar da qual deriva para seus destina-
tários o beneficio a ser auferido em
O interesse dos requerentes é o de razão do tempo de serviço, e cuidou
que o Supremo Tribunal Federal in- de promover a técnica executória do
terprete o Decreto-Lei n? 2.019/83. cálculo da gratificação.
Por isso, há coincidência entre esse
interesse e o interesse manifestado Depois de outras considerações,
pelo ilustre Procurador-Geral da Re- tendentes a demonstrar o desacerto
pública. Ë irrelevante, para o efeito da interpretação pleiteada pelo Dr.
de aferir o interesse assistencial, a Procurador-Geral da República, os
parcial distonia, quanto ao conteúdo intervenientes concluem que o
da interpretação. Não importa que decreto-lei em causa é norma inter-
assistentes e assistido não se harmo- pretativa do art. 65 da Lei Comple-
nizem por inteiro, no tocante ao al- mentar n? 35, não comportando ou-

480 R.T.J. — 108

tra interpretação do que aquela com- gularmente constituída, e seu res-


patível com a Constituição, no senti- pectivo Presidente, Desembarga-
do de que vincula tanto a União Fe- dor Vivalde Brandão Couto, como
deral quanto os Estados, vale dizer, pessoa física, com pedido de inter-
a gratificação em tela é devida aos venção nos autos, na qualidade de
juízes de qualquer instância, inclusi- assistentes, alegando para tanto a
ve os que exercerem a jurisdição nos existência de interesse jurídico de
Estados, devendo o eventual aumen- ambos, em face da sujeição a que
to das despesas recair sobre a pes- ficarão em decorrência da inter-
soa jurídica de direito público que ti- pretação a ser dada ao diploma le-
ver o ónus de pagar os vencimentos gal em referência, exegese da qual
aos magistrados. sobrevirá força vinculante para to-
Como pedido substitutivo do for- dos os efeitos (fls. 37).
mulado na representação, a petição Afirmam haver identidade de in-
dos candidatos à assistência requer teresses entre a pretensão mani-
que a Corte: festada pelo Procurador-Geral e a
se digne fixar a interpretação por eles agora veiculada, sendo ir-
do Decreto-Lei n? 2.019, de 18 de relevante, segundo eles, a parcial
março de 1983; distonia quanto ao conteúdo da in-
decida, interpretando o seu art. terpretação (fls. 39).
1?, que o modo de computar a grati-
ficação a que se refere o mencionado O pedido, contudo, não merece
dispositivo deve ser observado, ao se acolhido, por falta de legitimidade
efetuar o cálculo dos adicionais devi- ativa de qualquer dos requerentes.
dos, indistintamente, os integrantes A iniciativa da representação pa-
do Poder Judiciário, sem considerar ra interpretação de lei ou ato nor-
a pessoa jurídica de direito público mativo federal ou estadual está as-
que os remunera; segurada, constitucionalmente, em
decida que as eventuais despe- caráter privativo, ao Sr. Pro-
sas, decorrentes do pagamento de curador-Geral da República, (CF,
gratificação adicional por tempo de art. 119, I, 1), acrescentando
serviço, correrão à conta da pessoa o Regimento Interno desta Supre-
jurídica de direito público à qual ma Corte (art. 180) que a S. Exa.
couber o pagamento dos vencimen- cabe dizer os motivos que justifi-
tos do magistrado, e cam a propositura da ação, bem
decida que o art. 2? daquele assim adiantar seu entendimento a
decreto-lei é de aplicação irrestrita, respeito da matéria sujeita ao exa-
alcançando, indistintamente, todos me do Tribunal.
os integrantes do Poder Judiciário. A orientação pela qual propug-
Com vista o Dr. Procurador-Geral nam os peticionários, consoante
da República para pronunciar-se so- eles próprios o afirmam, está em
bre os pedidos de intervenção no parcial distonia com aquela defen-
processo como assistentes, S. Exa. dida pelo Representante em sua
aprovou o parecer emitido pelo ilus- peça inaugural, por isso que, en-
tre Procurador Dr. Walter José de quanto o último sustenta deva o ar-
Medeiros, contrário à aludida pre- tigo 1? do Decreto-Lei n'? 2.019, de
tensão, verbis: 28-3-83, ser entendido restritiva-
mente aos magistrados remunera-
_ «Ingressam, agora, a Associação dos pelos cofres da União, postu-
dos Magistrados do Antigo Estado lam os primeiros seja ao mesmo
da Guanabara, sociedade civil re- dispositivo dada compreensão am-
R.T.J. — 108 981

pliativa, para sob seu pálio tam- O que também ensina Celso
bém ser englobada a magistratura Agrícola Barbi:
estadual. «Quando existe uma causa em
Esta antinomia interpretativa andamento entre duas ou mais
pretendida para o mesmo preceito pessoas, pode acontecer que um
legal não pode abrigar, no mesmo terceiro tenha interesse em que a
pólo da relação jurídica proces- sentença seja favorável a uma
sual, partes visceralmente antagô- das partes, de modo que lhe será
nicas, sob pena de grave subversão conveniente ingressar no proces-
do conceito doutrinário da assistên- so para auxiliá-la na obtenção
cia, instituto entre nós regulado pe- dessa vitória» (Comentários ao
lo art. 50 do Código de Processo Ci- Código de Processo Civil, Foren-
vil. se, vol. I, tomo I, pág. 289).
Diz-se ali que, pendente a ação, o Os peticionários, por pretende-
terceiro que tiver interesse jurídi- rem orientação diversa da postula-
co em que a sentença seja favorá- da pelo Procurador-Geral, não po-
vel a urna das partes poderá inter- dem evidentemente ser tidos na
vir no processo para assisti-la. qualidade de seus assistentes, por-
quanto em posição contrária àque-
Segundo Moacyr Amaral Santos, la defendida pelo Representante.
o assistente intervém em auxilio Não lhe querem emprestar auxílio;
de uma das partes contra a outra, Impugnam simplesmente a exege-
em razão do interesse que tem na se por ele sustentada.
vitória daquela e na derrota desta»
(Direito Processual Civil, 4t ed., A não se entender assim, qual-
Max Limonad, 2? vol.. pág. 48). E quer do povo se legitimaria para,
acrescenta o festejado processua- como assistente, pretender dar ao
lista: texto legal em exame a interpreta-
ção que melhor lhe conviesse.
«O interesse, que legitima o Cair-se-la então naquela situação
terceiro a agir como assistente descrita por Carnelutti e lembrada
de tuna das partes, conquanto em voto ainda recente do eminente
não seja um simples interesse de Ministro Rafael Mayer, ao refutar
tato, mas um interesse jurídico, a existência de interesse jurídico
não se confunde com direito seu, para admissão de litisconsorte na
que não está em lide. O assisten- Representação n? 1.088, por incons-
te Intervém fundado no interesse, titucionalidade de lei. Escreveu S.
que tem, de que a sentença não .Exa. com a elegãncia de sempre:
seja proferida contra o assistido,
Porque proferida contra este po- «Sendo esse interesse do terceiro
deria influir desfavoravelmente o pressuposto para a intervenção
na sua situação jurídica» (Id., na causa, lembrava Carnelutti,
_ lb., pág. 48). diante dos termos genéricos do an-
tigo código de processo civil italia-
Ora, o interesse antagônico ma- no, que não é qualquer interesse
nifestado pelos peticionários não se que a justifica, pedindo uma inter-
compadece com a índole do institu- pretação restritiva, sem a qual, diz
to da assistência, pois nesta o as- com certa ironia, se «abriria, por
sistente só Intervém para ajudar, exemplo, as portas do processo a
auxiliar o assistido, aderindo à todos os parentes e amigos de cada
pretensão deste. Dai a conhecida uma das partes, assim como a to-
qualificação da assistência como dos aqueles a quem convenha que
ad adjuvandum. sobre as questões a resolver se
482 R.T.J. — 108

constitua um precedente judicial» Noutras representações admitiu-se


(Sistema, trad. esp. II/47)» (RTJ a assistência. Assim, na Representa-
102/922). ção n?627, Relator o saudoso Minis-
Na espécie, inexiste também in- tro Hanemann Guimarães, em que
teresse singularizado dos peticio- se discutia a constitucionalidade de
nários, senão o interesse comum a dispositivos legais que asseguravam
todo cidadão de ver fixada a inter- aos serventuários com mais de vinte
pretação da lei, o que não basta e cinco anos de serviço o direito à
entretanto para sua admissão co- efetivação, vários daqueles servido-
mo assistentes do representante. res pediram admissão como assis-
tentes equiparados a litisconsortes e
Nestas condições, por falta de le- foram admitidos (RTJ 33/ 46).
gitimação ativa dos suplicantes,
opina a Procuradoria-Geral pelo Como Relator da Representação
indeferimento do pedido de assis- 727, o eminente Ministro Prado Kelly
tência» (fls. 102/106). deferiu, com a anuência do Plená-
Resolvi, dada a relevância das ale- rio, a intervenção, no processo, de
gações produzidas sobre a admissão, desembargadores do Rio Grande do
ou não, de assistência em represen- Sul, sob a consideração de que «não
tação de interpretação de lei em te- a impugnou o Ministério Público e,
se, submetê-la ao Plenário, em ques- estando em causa, entre as normas
tão de ordem que, como Relator, criticadas, o art. 470 da Lei n? 5.276,
suscito, antes de pedir dia para o jul- que favorece os intervenientes, mili-
gamento do mérito. tam as mesmas razões que já deter-
minaram a extensão ao mandato de
R o relatório. segurança das regras disciplinado-
VOTO ras do litisconsórcio» (RTJ 42/632).
O Sr. Ministro Soares Mufioz (Re- Essa orientação foi mantida, entre
lator): O Supremo Tribunal Federal outras, nas Representações n?s 670,
tem admitido, na representação pa- 700, 890, 891, 931 933 e 961, sendo que
ra declaração de inconstitucionalida- numa delas, insta dizer, na Repre-
de de lei em tese, que terceiros in- sentação n? 700, o saudoso Ministro
gressem no processo e assumam po- Aliomar Baleeiro manifestou o pro-
sição ao lado do Procurador-Geral pósito de sugerir a inclusão no Regi-
ou da autoridade representada (Cf. mento Interno da figura do amicus
Reclamação n? 136, voto do Ministro curlae, como existe na Corte Supre-
Néri da Silveira). ma dos Estados Unidos, para funcio-
nar nos casos em que não é possível
Na Representação n? 976 fui configurar-se a intervenção de um
explicito, em meu voto, no sentido de interessado remoto, como assistente,
que, em processós anteriores, a Cor- opoente ou litisconsorte (RTJ 37/646,
te admitira que o argüente da in- 41/573, 42/632, 33/ 45 e 97/29).
constitucionalidade junto ao
Procurador-Geral da República tem A jurisprudência atual do Supremo
legitimidade para participar da rela- Tribunal Federal mantém-se favorá-
ção processual como assistente. E vel à admissão de assistente em Re-
nesse precedente, a assistência foi presentação de Inconstitucionalida-
admitida por unanimidade, apesar de, quer do Dr. Procurador-Geral da
de o eminente Ministro Moreira Al- República, quer da autoridade res-
ves ter lembrado, sem divergir, que, ponsável pela edição da norma im-
quando era Procurador-Geral da Re- pugnada. Entretanto, na Representa-
pública, houve dúvida se cabia a as- ção n? 1.050-3, em que o argüente da
sistência (RTJ 97/29 e 30). inconstitucionalidade, junto ao Dr.

R.T.J. — 108 483

Procurador-Geral da República, re- Civil, Tomo II, pág. 66, 2? ed.). «A


quereu sua admissão como litiscon- função de assistente não é a de ser
sorte ativo, indeferi o pedido, na parte, mas apenas a de assistir (ad
qualidade de relator, em despacho sidere)». Dai o artigo 50 estabelecer
no qual assinalei a inexistência, en- que o terceiro, que tiver interesse
tre o requerente e o Chefe do Minis- jurídico em que a sentença seja fa-
tério Público, de litisconsórcio, nos vorável a uma das partes, poderá in-
termos em que esse instituto é con- tervir no processo para assisti-la.
ceituado no art. 46 do Código de Pro- Exige-se, ainda, em relação ao assis-
cesso Civil, visto que o Procurador- tente qualificado ou litisconsorcial, a
Geral da República é o titular único capacidade de ser parte (ob. cit.
da representação por inconstitucio- pág. 81).
nalidade; não há que falar em Mis- Transplantada essa doutrina para
consorte ativo necessário (art. 47). o pedido de assistência em exame,
Esse despacho é de 07-05-81 e contra verifica-se, sem dificuldade, que ne-
ele não foi interposto agravo. nhum desses pressupostos se acha
Por igual, o Ministro Rafael Ma- configurado. Os candidatos à assis-
yer não admitiu, como assistente, o tência não pretendem assistir o
Deputado de cuja Iniciativa nascera Procurador-Geral da República,
a lei impugnada de inconstitucionall- nem mesmo ao Chefe do Governo
dade. O despacho em referência foi Federal, como autoridade que expe-
mantido em agravo regimental, me- diu o Decreto-Lei n9 2.019/83. Ao con-
diando acórdão unânime do Plená- trário, os intervenientes se opõem ao
rio, encimado por esta ementa: pedido formulado na representação,
pleiteando prevaleça interpretação,
«Representação de inconstitucio- frontalmente, colidente com a pro-
nalidade. Assistência. Interesse pugnada na petição inicial. Com esse
jurídico ( art. 50 do CPC). escopo, formularam pedidos autôno-
O interesse político ou moral do mos, assumindo a posição, quiçá, de
parlamentar pela sorte da lel, de opoentes em processo que não permi-
cujo projeto teve a iniciativa, sub- te essa forma de intervenção, visto
metida ao exame direto de sua que a ação direta de interpretação
constitucionalidade, não equivale da lei em tese é privativa do
ao interesse jurídico exigível para Procurador-Geral da República. So-
que figure como assistente no pro- mente ele, e mais ninguém, pode pe-
cedimento respectivo, eis que a sen- dir a interpretação da lei em tese. O
tença não reflete em sua esfera pedido formulado pelos intervenien-
jurídica individual. Agravo Regi- tes, no sentido de que prevaleça ou-
mental improvido.» tra interpretação da lei que não a
propugnada na representação equi-
O Código de Processo Civil disci- vale a representação paralela e em
plina, no art. 50, a figura do assis- oposição à ajuizada pelo Dr.
tente simples ou adesivo e, no art. Procurador-Geral da República.
54, o assistente qualificado ou li-
tisconsorcial. Ambos se arrimam na A interpretação que for dada ao
perfeita identidade entre o interesse Decreto-lei n? 2.019/83 terá sobre os
do assistente e do assistido. Se há di- intervenientes e sobre todos os ma-
reito do terceiro, observa Pontes de gistrados a mesma incidência da lei
Miranda, «que não é comum ao de em tese. A interpretação do Supre-
uma parte, ou que o Interesse sus- mo Tribunal Federal expressa a pró-
tenta em ser, e não de qualquer das pria lei e é, por isso, que ela tem for-
partes, o caso não é de assistência» ça vinculante (art. 187 do RI - STF).
(Comentários ao Código de Processo Assim como ninguém tem direito
R.T.J. — 108
484

subjetivo à promulgação da lei, as- da lei pode ingressar, no processo,


sim também ninguém tem direito ao lado desse titular; é tão rigorosa
subjetivo a esta ou àquela interpre- a regra que nem mesmo o interes-
tação In abstrato da lei. A propósito, sado que suscitou ao Procurador-
a Procuradoria Geral do Estado de Geral a representação pode ingres-
São Paulo, em parecer emitido em sar com ele no processo. Por outro
representação de inconstitucionali- lado, o processo especial estabele-
dade de lei municipal que tramitou cido na Lei n? 4.337/64 e nos arti-
no Tribunal de Justiça paulista, adu- gos 174 e seguintes do RI do Supre-
ziu considerações que me permito mo Tribunal Federal não pre-
reproduzir, verbis: viu a possibilidade de assistência,
«7. n que, em verdade, ninguém interveniência ou litisconsórcio de
tem direito subjetivo à existência qualquer espécie, no feito. O artigo
ou inexistência da lei, à validade 3? daquela lei declara:
ou invalidade da lei in abstracto. «O relator que for designado
Por isso é que ninguém tem direito ouvirá, em 30 (trinta) dias, os
subjetivo à formação da lei, tanto órgãos que hajam elaborado ou
que ninguém pode invocar a ativi- praticado o ato argüido, e, findo
dade jurisdicional visando a obter esse termo, terá prazo igual para
a promulgação da lei, como pode apresentar o relatório».
usar o direito de ação para obter O artigo 175 do Regimento Inter-
uma declaração de constitucionali- no do Supremo Tribunal Federal,
dade abstrata de uma lei ou de por seu lado, estabelece:
qualquer ato do poder público. Por
isso não é admissivel que alguém «O relator, sem prejuízo do dis-
ingresse em juizo, como parte posto no artigo 22, IV, pedirá in-
principal ou acessória ou assisten- formações à autoridade, da qual
cial ou como litisconsorte, para tiver emanado o ato, bem como
sustentar a constitucionalidade de ao Congresso Nacional ou à As-
lei, a não ser apenas os órgãos que sembléia Legislativa, se for o ca-
participaram da formação de lei so.» (Ação Direta de Inconstitu-
impugnada, mediante requisição cionalidade de Leis Municipais
de informações em representação em Tese, págs. 212-213).
promovida pelo Procurador-Geral. Do mesmo modo, o art. 184 do Re-
8. Por essas razões todas é que, gimento Interno do Supremo Tribu-
data venta, se manifesta absurda a nal Federal, tratando da representa-
pretensão dos requerentes de in- ção para a interpretação de lei em
gressar no processo como tese, dispõe que «recebidas as infor-
assistentes litisconsorciais, e pior mações, o Relator, lançado o relató-
ainda como litisconsortes rio do qual a Secretaria remeterá có-
necessários, Ora, admitir assisten- pia a todos os Ministros, pedirá dia
te ou litisconsorte passivos, como para julgamento». O dispositivo em
seria o como seria o caso, ter-se-ia referência não abre espaço nem
que admitir também o ativo. Quer oportunidade para participação de
dizer, então, que seria admissivel terceiro.
coadjuvantes também do autor. A intervenção pleiteada pelos re-
Mas a Constituição Federal como a querentes não é assistência simples
do Estado indicaram titulares da nem litisconsorcial, uma vez que
ação direta de inconstitucionalida- eles se opõem à interpretação pro-
de, que são os Procuradores-Ge- pugnada na representação e plei-
rais. Vale dizer que nenhum inte- teiam que outra exegese seja dada
ressado na inconstitucionalidade ao Decreto-Lei n? 2.019/83. Admitir

R.T.J. — 108 485

essa forma de intervenção seria pedimento subjetivo na representa-


abrigar, ao lado da representação e ção em geral, exceto para o Ministro
em colisão com ela, outra represen- desta Corte que tenha, a outro titulo,
tação de quem não tem legitimidade oficiado nos autos.
para propô-la. Assim, como o relator, inadmito a
Ante o exposto e pelos fundamen- assistência postulada.
tos do parecer transcrito no relató-,
rio, indefiro o pedido dos requeren- VOTO SOBRE QUESTÃO
tes de intervir no processo. DE ORDEM
Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.
VOTO SOBRE QUESTÃO Presidente, já há tempos, venho sus-
DE ORDEM tentando, nesta Corte, que tanto a
representação de inconstitucionali-
O Sr. Ministro Francisco Reza: dade quanto a representação de in-
Sr. Presidente, houve um momento, terpretação dizem respeito a ato
no passado, em que este Tribunal, político que o Tribunal pratica me-
vestido, sem dúvida, das melhores diante o emprego da ação como ins-
intenções, pela primeira vez admitiu trumento.
a assistência na representação por Tribunal, quer ao julgar a in-
inconstitucionalidade. Desse momen- constitucionalidade de uma lei em
to - não muito preciso - a esta parte, tese, quer ao interpretar autentica-
que se tem visto, com freqüência, mente uma lei em tese, na realida-
a perplexidade do próprio Tribu- de, não está prestando jurisdição,
nal, em razão de que, por se admitir mas, sim, no primeiro caso, fiscali-
a assistência, as regras a ela perti- zando os dois outros Poderes, e, no
nentes nas leis do processo vêm to- segundo caso, integrando-se no pro-
das à baila; e isso a cada dia se re- cesso legislativo, dando interpreta-
vela menos condizentes com a singu- ção autêntica, à semelhança, aliás,
laridade, com o caráter absoluta- do que o nosso direito anterior co-
mente original desta ação direta. nhecia com relação aos assentos da
Hoje, pela primeira vez, coloca-se Casa de Suplicação. Teixeira de
ante o Tribunal a questão de saber Freitas, no seu Vocabulário Jurídico,
se é admissivel a assistência na re- salientava: «assentos são interpreta-
presentação interpretativa. E por ções autênticas das nossas leis que
obra do acaso, em virtude da posi- tomavam outrora a extinta Casa de
ção que, segundo a norma regimen- Suplicação». Portanto, a meu ver,
tal o Procurador-Geral da República hão há como se aplicarem a proces-
assumiu na exegese do dispositivo sos dessa natureza normas proces-
interpretando, percebe-se uma curio- suais relativas a ações em que o Tri-
sidade a mais na pretensão dos soli- bunal, realmente, atua prestando ju-
citantes da assistência: desejam risdição a partes, em casos concre-
eles, na realidade, desassistir o tos.
Procurador-Geral da República na Dai a razão pela qual acompanho,
proposição que formulou sobre o en- integralmente, o voto do eminente
tendimento do dispositivo, Relator.
Acompanho na Integra o voto do VOTO SOBRE QUESTÃO
eminente relator, e chamo ainda, em DE ORDEM
favor subsidiário dessa tese, aqueles
mesmos princípios que, não faz mui- Sr. Ministro Cordeiro Guerra
to tempo, levaram o Tribunal, em (Presidente): Sintonizo com o Plená-
Conselho, a entender que não há im- rio, pelo fundamentos do voto do

496 R.T.J. — 108

eminente Ministro Relator, já agora da República. Repdo.: Presidente da


suplementados pelo voto do eminen- República.
te Ministro Moreira Alves. Entendo, Decisão: Indeferiu-se o pedido da
realmente, que na representação de assistência, unanimemente. Votou o
inconstitucionalidade e, mais ainda, Presidente.
na representação interpretativa não
tem cabimento a assistência, por- Presidência do Senhor Ministro
que, na realidade, todos os cidadãos Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
têm interesse na manutenção da or- os Senhores Ministros Moreira Al-
dem jurídica. Não é este o caso de ves, Soares Mufioz, Decio Miranda,
assistência. Néri da Silveira, Alfredo Buzaid,
Por esses motivos, integro-me nos Oscar Corrêa, Aldir Passarinho e
votos que acompanharam o Ministro Francisco Rezek. Ausentes, justifica-
Relator, indeferindo o pedido. damente, os Srs. Ministros Djaci
Falcão e Rafael Mayer. —
EXTRATO DA ATA Procurador-Geral da República,
Professor Inocêncio Mártires Coelho.
Rp 1.155-DF — Rel.: Ministro Soa- Brasília, 13 de outubro de 1983 —
res Mufioz. Rpte.: Procurador-Geral Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.155 — DF
(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mulloz.
Representante: Procurador-Geral da República — Representado: Presi-
dente da República.
Representação. Interpretação de lel em tese.
— Representação conhecida para adotar-se o entendimento de que
o art. 1? do Decreto-lei n? 2.019, de 28.3.83, se aplica tão-somente aos
magistrados remunerados pelos cofres da União, enquanto que o art.
2? do mesmo Decreto-lei incide sobre todos os magistrados, federais
ou estaduais, de qualquer instância.
ACÓRDÃO Brasília, 9 de novembro de 1983 —
Cordeiro Guerra, Presidente —
Vistos, relatados e discutidos estes Soares Mufioz, Relator.
autos, acordam os Ministros do Su-
premo Tribunal Federal, em sessão RELATÓRIO
Plenária, na conformidade da ata do
julgamento e das notas taquigráfi- O Sr. Ministro Soares Miem O
cas, por unanimidade de votos, co- Dr Procurador-Geral da República,
nhecer da representação para no uso das atribuições que lhe confe-
adotar-se o entendimento de que o rem o art. 119, item I, alínea «1», da
artigo 1? do Decreto-lei n? 2.019, de Constituição Federal e o art. 179 do
28-3-83, se aplica tão-somente aos Regimento Interno do Supremo Tri-
magistrados remunerados pelos co- bunal Federal, submete ao exame da
fres da União, enquanto que o artigo Corte, mediante representação, o
2? do mesmo Decreto-lei incide sobre texto do Decreto-lei n? 2.019, de 28 de
todos os magistrados, federais ou es- março de 1983, expedido pelo Sr.
taduais, de qualquer instância. Presidente da República, para que

R.T.J. — 108 487

se lhe fixe a exata interpretação no taria de Planejamento, inteiramente


sentido de que o diploma legal em concordantes com a interpretação do
tela tem como destinatários específi- Decreto-Lei n? 2.019/83, como a pre-
cos os magistrados remunerados pe- tende o Dr. Procurador-Geral da Re-
la União, a quem compete arcar pública, visto que tem a sustentá-la
com as despesas correspondentes. a compreensão do texto constitucio-
Assim, ao referir-se a «magistrados nal. A fixação de vencimentos ou o
de qualquer instância», somente pode- aumento da gratificação adicional
rá ter em vista os magistrados de por tempo de serviço, via de decreto-
qualquer instância federal, desde a lei, como na espécie, só é possível
primeira até a Suprema Instância, para servidores federais ou para
como tais relacionados no Anexo a magistrados pagos pela União; com
que se refere o art. 1?, i 2?, do respeito às finanças públicas, a isen-
Decreto-lei n? 1.985, de 28 de dezem- ção do imposto de renda relativa à
bro de 1982. verba de representação dos magis-
Em prol da interpretação que pro- trados, por ser matéria de finanças
pugna, expende o Chefe do Ministé- públicas, concernente a tributo fede-
rio Público vários argumentos, entre ral, nada impede a sua extensão aos
os quais o de que nem poderia ser di- magistrados estaduais; muito ao
ferente, porquanto a competência do contrário, tudo recomenda sua a-
Sr. Presidente da República, para a brangência, ainda que por respeito ao
criação de cargos públicos e fixação principio da isonomia.
de vencimentos, está restrita ao âm- Requereram sua intervenção no
bito federal, em face do rígido es- processo, como assistentes, a As-
quema constitucional de repartição sociação dos Magistrados no Anti-
de competências, decorrência do go Estado da Guanabara e seu Pre-
próprio regime federativo por nós sidente, Desembargador Vivalde
adotado. Nos Estados, essa compe- Brandão Couto (fls. 37/99); a As-
tência para a iniciativa de lei que au- sociação dos Magistrados flu-
mente vencimentos é exclusiva do minenses, através do seu Presi-
respectivo Chefe do Poder Executi- dente em exercício, Juiz Emílio Car-
vo, consoante a regra do art. 57, II, mo (fls. 108/112); o Juiz de Direito
da Carta Magna, de aplicação obri- Gusmar Alberto Visconti de Araujo e
gatoria pelas Unidades Federadas, outros do Estado do Rio de Janeiro
como manda o art. 13, III, da mes- (fls. 140/160); os magistrados Paulo
ma Constituição. De outra parte, se- Casar Dias Panza e outros, também
ria impensável que a União viesse a do Estado do Rio de Janeiro (fls.
arcar com as despesas de pagamen- 160/169); a Associação dos Magistra-
to da gratificação por tempo de ser- dos Acreanos e seu Presidente, De-
viço a magistrados estaduais, por- sembargador Lourival Marques de
quanto estas não são despesas que Oliveira; a Associação dos Magistra-
possam ser contabilizadas no orça- dos de Magoas e seu Presidente,
mento federal, restrita que se acha a magistrado Danilo Antônio Barreto
competência constitucional do Sr. Accioly; a Associação dos Magistra-
Presidente da República á iniciativa dos do Amazonas e seu Presidente,
do processo legislativo para aumen- Desembargador Manuel Neuzimar
to de vencimentos dos servidores fe- Pinheiro; a Associação dos Magis-
derais. trados do Estado do Ceará e seu
Solicitadas informações ao Sr. Presidente, Desembargador Julio
Presidente da República, encami- Carlos de Miranda Bezerra; a As-
nhou S. Exa. as prestadas pelo Sr. sociação dos Magistrados do Es-
Ministro de Estado Chefe da Secre- tado do Espírfto Santo e seu Presi-
488 R.T.J. — 108

dente, Desembargador José Eduardo Por isso, há coincidência entre esse


Grandi de Oliveira; a Associação dos interesse e o interesse manifestado
Magistrados do Estado de Goiás, a pelo ilustre Procurador-Geral da Re-
Associação dos Magistrados do Esta- pública. É irrelevante, para o efeito
do do Maranhão e seu Presidente, de aferir o interesse assistencial, a
Desembargador José Joaquim Ra- parcial distonia, quanto ao conteúdo
mos Filgueiras; a Associação Mato- da interpretação. Não importa que
grossense de Magistrados e seu Pre- assistentes e assistido não se harmo-
sidente, Juiz de Direito Manoel Ri- nizem por inteiro, no tocante ao al-
beiro Filho; a Associação dos Magis- cance do mencionado decreto-lei.
trados do Estado de Minas Gerais e Basta o inegável interesse jurídico
seu Presidente, Desembargador Lin- em que o Supremo Tribunal Federal
coln Rocha; a Associação dos Ma- interprete aquele ato.
gistrados do Estado do Pará, Não concordam os requerentes
a Associação dos Magistrados do com o entendimento propugnado na
Paraná e seu Presidente, Desembar- representação, conforme o qual a lo-
gador Lauro Lima Lopes; a cução «em relação aos magistrados
Associação Paulista de Magistrados de qualquer instância» só abrange os
e seu Presidente, Desembargador juízes remunerados pelos cofres da
Francis Selwin Davis; a Associação União, porque, data venta, essa in-
dos Magistrados do Piauí e seu Pre- terpretação consubstancia afronta
sidente, Desembargador Paulo de ao dispositivo da Constituição que,
Tarso Mello e Freitas; a Associação na esteira de vetusta doutrina e da
dos Magistrados do Rio Grande do própria evolução do Direito Constitu-
Norte e seu Presidente, magistrado cional brasileiro, adotou o sistema
Carlos Roberto Coelho Maia; a da Unidade do Poder Judiciário, ao
Associação dos Magistrados do Rio estatuir, no art. 112, que o Poder Ju-
Grande do Sul e seu Presidente, De- diciário é exercido pelo Supremo
sembargador Milton dos Santos Mar- Tribunal Federal e pelo Tribunal Fe-
tins; a Associação dos Magistrados deral de Recursos e juizes federais
de Sergipe e seu Presidente, Juiz Jo- pelos tribunais e juizes militares,
sé Antônio de Andrade Goes. eleitorais e do trabalho, e pelos
juizes e Tribunais estaduais.
Alegam os requerentes que não po-
de haver dúvida de que eles têm in- A interpretação proposta pelo' Dr.
teresse jurídico em ingressar no pro- Procurador-Geral da República na
cesso, porque tanto as associações, representação é, segundo os candi-
como entidades de classe, quanto os datos à habilitação como assistentes,
magistrados ficarão sujeitos à inter- manifestamente errônea, pois, con-
pretação que o Supremo Tribunal forme salientam os pareceres que
Federal vier a dar ao Decreto-Lei n? anexaram à sua petição, de autoria
2.019, de 28 de março de 1983, pois, dos juristas Caio Tácito, Caio Mário
como explicita o art. 187 do seu Re- da Silva Pereira, Hely Lopes Meirel-
gimento Interno, «a partir da publi- les e Victor Nunes Leal, o Decreto-
cação do acórdão, por suas conclu- lei n? 2.019/83 limitou-se a eviden-
sões e ementa, no Diário da Justiça ciar, com maior clareza e objetivi-
da União, a interpetação nele fixada dade, o teor do art. 65 da Lei orgâni-
terá força vinculante para todos os ca da Magistratura, norma comple-
efeitos». mentar da qual deriva para seus
destinados o beneficio a ser auferido
O interesse dos requerentes é o de em razão do tempo de serviço, e cui-
que o Supremo Tribunal Federal in- dou de promover a técnica executó-
terprete o Decreto-Lei n? 2.019/83. ria do cálculo da gratificação.

R.T.J. — 108 489

Depois de outras considerações, processo como assistentes, S. Exa.


tendentes a demonstrar o desacerto aprovou o parecer emitido pelo ilus-
da interpretação pleiteada pelo Dr. tre Procurador Dr. Walter José de
Procurador-Geral da República, os Medeiros, contrário á aludida pre-
intervenientes concluem que o de- tensão, verbis:
creto-lei em causa é norma inter- «Ingressam, agora, a Associação
pretativa do art. 65 da Lei Comple- dos Magistrados do Antigo Estado
mentar n? 35, não comportando ou- da Guanabara, sociedade civil re-
tra interpretação do que aquela com- gularmente constituída, e seu res-
patível com a Constituição, no senti- pectivo Presidente, Desembarga-
do de que vincula tanto a União Fe- dor Vivalde Brandão Couto, como
deral quanto os Estados, vale dizer, pessoa física, com pedido de inter-
a gratificação em tela é devida aos venção nos autos, na qualidade de
juizes de qualquer instância, inclusi- assistentes, alegando para tanto a
ve os que exercerem a jurisdição nos existência de interesse jurídico de
Estados, devendo o eventual aumen- ambos, em face da sujeição a que
to das despesas recair sobre a pes- ficarão em decorrência da inter-
soa jurídica de direito público que ti- pretação a ser dada ao diploma le-
ver o Ônus de pagar os vencimentos gal em referência, exegese da qual
aos magistrados. sobrevirá força vinculante para to-
Como pedido substitutivo do for- dos os efeitos (fl. 37).
mulado na representação, a petição
dos candidatos á assistência requer Afirmam haver identidade de in-
que a Corte: teresses entre a pretensão mani-
festada pelo Procurador-Geral e a
se digne fixar a interpretação por eles agora veiculada, sendo Ir-
do Decreto-lei n? 2.019, de 18 de mar- relevante, segundo eles, a parcial
ço de 1983; distonia quanto ao conteúdo da in-
decida, interpretando o seu art. terpretação (fls. 39).
1?, que o modo de computar a grati- O pedido, contudo, não merece
ficação a que se refere o mencionado acolhido, por falta de legitimidade
dispositivo deve ser observado, ao se ativa de qualquer dos requerentes.
efetuar o cálculo dos adicionais devi-
dos, indistintamente, aos integrantes A iniciativa da representação pa-
do Poder Judiciário, sem considerar ra interpretação de lei ou ato nor-
a pessoa jurídica de direito público mativo federal ou estadual está as-
que os remunera; segurada, constitucionalmente, em
caráter privativo, ao Sr. Pro-
decida que as eventuais despe- curador-Geral da República (CF,
sas, decorrentes do pagamento de art. 119, I, 1), acrescentando o
gratificação adicional por tempo de Regimento Interno desta Supre-
serviço, correrão á conta da pessoa ma Corte (art. 180) que a S. Exa.
jurídica de direito público á qual cabe dizer os motivos que justifi-
couber o pagamento dos vencimen- cam a propositura da ação, bem
tos do magisrado, e assim adiantar seu entendimento a
decida que o art. 2? daquele respeito da matéria sujeita ao exa-
decreto-lei é de aplicação irrestrita, me do Tribunal.
alcançando, indistintamente, todos A orientação pela qual propug-
os integrantes do Poder Judiciário. nam os peticionários, consoante
Com vista o Dr. Procurador-Geral eles próprios o afirmam, está em
da República para pronunciar-se so- parcial distonia com aquela defen-
bre os pedidos de intervenção no dida pelo Representante em sua
490 R.T.J. — 108

Pe ça inaugural, por isso que, en- compadece com a índole do institu-


quanto o último sustenta deva o ar- to da assistência, pois nesta o as-
tigo 1? do Decreto-lei n? 2.019, de sistente só intervém para ajudar,
28-3-83, ser entendido restritiva- auxiliar o assistido, aderindo à pre-
mente aos magistrados remunera- tensão deste. Dai a conhecida qua-
dos pelos cofres da União, postu- lificação da assistência como ad
lam os primeiros seja ao mesmo adjuvandum.
dispositivo dada compreensão am- E o que também ensina Celso
Silva, para sob seu pálio tam- Agrícola Barbi:
bém ser englobada a magistratura «quando existe uma causa em
estadual.
andamento entre duas ou mais
Esta antinomia interpretativa pessoas, pode acontecer que um
pretendida para o mesmo preceito terceiro tenha interesse em que a
legal não pode abrigar, no mesmo sentença seja favorável a uma
pólo da relação jurídica proces- das partes, de modo que lhe será
sual, partes visceralmente antagô- conveniente ingressar no proces-
nicas, sob pena de grave subversão so para auxllitt-la na obtenção
do conceito doutrinário da assistên- dessa vitória» (Comentários ao
cia, instituto entre nós regulado pe- Código de Processo Civil, Foren-
lo art. 50 do Código de Processo Ci- se, vol. I, tomo I, pág. 289).
vil.
Os peticionários, por pretende-
Diz-se ali que, pendente a ação, o rem orientação diversa da postula-
terceiro que tiver interesse jurídi- da pêlo Procurador-Geral, não po-
co em que a sentença seja favorá- dem evidentemente ser tidos na
vel a uma das partes poderá inter- qualidade de seus assistentes, por-
vir no processo para assisti-la. quanto em posição contrária àque-
Segundo Moacyr Amaral Santos, la defendida pelo Representante.
o assistente intervém «em auxilio Não lhe querem emprestar auxilie
de uma das partes contra a outra, impugnam simplesmente a exegese
em razão do interesse que tem na por ele sustentada.
vitória daquela e na derrota desta» A não se entender assim, qual-
(Direito Processual Civil, 4? ed., quer do povo se legitimaria para,
Max Limonad, 2? vol., pág. 48). E como assistente, pretender dar ao
acrescenta o festejado processua- texto legal em exame a interpreta-
lista: ção que melhor lhe conviesse.
«O interesse, que legitima o Cair-se-ia então naquela situação
terceiro a agir como assistente descrita por Carnelutti e lembrada
de uma das partes, conquanto em voto ainda recente do eminente
não seja um simples interesse de Ministro Rafael Mayer, ao refutar
fato, mas um interesse jurídico, a existência de interesse jurídico
não se confunde com direito seu, para admissão de litisconsorte na
que não está em lide. O assisten- Representação n? 1.088, por incons-
te Intervém fundado no interesse, titucionalidade de lei. Escreveu S.
que tem, de que a sentença não Exa. com a elegância de sempre:
seja proferida contra o assistido, «Sendo esse interesse do tercei-
porque proferida contra este po- ro o pressuposto para a interven-
deria influir desfavoravelmente ção na causa, lembrava Carnelut-
na sua situação jurídica». (id., ti, diante dos termos genéricos
ib., pág. 48). do antigo Código de Processo Ci-
Ora, o interesse antagônico ma- vil Italiano, que não é qualquer
nifestado pelos peticionários não se interesse que a justifica, pedindo
R.T.J. — 108 491

uma interpretação restritiva, sistentes, não pretendem assistir o


sem a qual, diz com certa ironia, Dr. Procurador-Geral da Repúbli-
se «abriria, por exemplo, as por- ca, mas a ele se opor; pugnando
tas do processo a todos os paren- por outra interpretação da lel em
tes e amigos de cada uma das tese, que equivale, em verdade, a
partes, assim como a todos aque- uma segunda representação, ofere-
les a quem convenha que sobre cida por quem não tem legitimida-
as questões a resolver se consti- de para propô-la. Pedido de assis-
tua um precedente judicial» (sis- tência indeferido» (fls. 260).
tema, trad. Esp. 11/47)» (RTJ Deste relatório a Secretaria deve-
102/922). rá enviar cópias aos Senhores Minis-
Na espécie, inexiste também in- tros.
teresse singularizado dos peticio- Brasília, 24 de outubro de 1983 —
nários, senão o interesse comum a Ministro Soares Muiloz, Relator.
todo cidadão de ver fixada a inter-
pretação da lei, o que não basta en- VOTO
tretanto para sua admissão como
assistentes do representante.
O Sr. Ministro Soares Mufloz (Re-
Nestas condições, por falta de le- lator): Os Drs. Procuradores-Gerais
gitimação ativa dos suplicantes, dos Estados do Piauí e de Sergipe se
opina a Procuradoria-Geral pelo dirigiram ao Dr. Procurador-Geral
indeferimento do pedido de assis- da República, sugerindo que seria de
tência» (fls. 102/106). bom alvitre e no resguardo dos inte-
Resolvi, dada a relevância das ale- resses, tanto da União como daque-
gações produzidas sobre a admissão, les Estados, que fosse ajuizada re-
ou não, de assistência em represen- presentação, perante o Supremo Tri-
tação de interpretação de lel em te- bunal Federal, a fim de obter-se a
se, submetê-la ao Plenário, em ques- interpretação em tese do Decreto-
tão de ordem. Lei n? 2.019, de 28 de março de 1983,
O pedido de assistência foi indefe- que «dispõe sobre o cálculo de parce-
rido por unanimidade de votos, em las da remuneração devida aos ma-
acórdão encimado por esta ementa: gistrados e dá outras providências».
«Ementa: — Interpretação de lei Os proponentes assinalaram a dis-
em tese. Assistência. crepância de interpretações sobre a
auto-aplicação, ou não, do referido
— Não cabe a intervenção de Decreto-lei n? 2.019 aos Estados-
terceiro, como assistente, em re- membros e salientaram as conse-
presentação para interpretação de qüências que a aplicação dessas nor-
lei em tese pois a legitimidade pa- mas acarretaria para os menciona-
ra propi3-la é privativa e exclusiva dos Estados do Piauí e Sergipe, por-
do Dr. Procurador-Geral da Repú- quanto elevaria os dispêndios de pes-
blica. Ninguém tem o direito subje- soal em proporções tão alentadas,
tivo á prestação jurisdicional para que os respectivos Tesouros Esta-
obter a interpretação abstrata da duais não poderiam suportar.
lel. A interpretação do Supremo De seu turno, o Dr. Procurador-
Tribunal Federal expressa a pró- Geral da República, em sua repre-
pria lei e, por isso, tem força vin- sentação, salientou que
culante (art. 187 do RJ — STF).
Sobreleva notar que, no caso sub «Pelo disposto no art. 1? do aludi-
judie" os terceiros, embora re- do diploma legal, a gratificação
queiram sua intervenção como as- adicional de que trata o art. 65,
492 — 108

item VIII, da Lei Complementar n? Geral do Estado de Sergipe novo


35, de 14 de março de 1979, seria subsidio, para dizer que, aplicado o
calculada, «em relação aos magis- dispositivo da lei federal com essa
trados de qualquer instância», so- extensão, haveria quebra do
bre o vencimento percebido, mais princípio fundamental em que se
a representação, obedecidos os assenta a federação brasileira, ex-
percentuais ali indicados (Doc. 1). plicitando:
Estabeleceu, por sua vez, o art.
4? que a despesa decorrente da «Não se pode, data venta, me-
aplicação daquele decreto-lei cor- diante Decreto-lei, dispor sobre
reria à conta das dotações orça- vencimentos e vantagens da ma-
mentárias próprias da União. gistratura estadual. Estas só po-
dem ser concedidas por lei do
Da conjugação desses dois dispo- próprio Estado, observadas as
sitivos, extraiu o ilustre Pro- modalidades e os limites fixados
curador-Geral do Estado do Pi- pela Lei Orgânica da Magistratu-
auí, no expediente endereçado ao ra Nacional» (Doc. 3).
Representante (Doc. 2), a possibili-
dade de três diferentes interpreta- A admitir-se a interpretação sub
ções: alínea a, a União ficaria evidente-
gratificação qüinqüenal em mente obrigada, a partir de agora,
tela seria devida aos magistrados a custear despesas com pagamento
de qualquer instância, inclusive es- de gratificação adicional a seus
taduais, devendo as despesas cor- magistrados e aos dos Estados. E,
respondentes correrem à conta da de outra parte, prevalecendo a
União; exegese sub alínea c, haveria que-
a ela somente fariam jus os bra manifesta do princípio federa-
magistrados de qualquer Instância tivo, inscrito logo no art. 1? da
da Justiça da União, hipótese em Constituição da República.
que a esta última competiria arcar
com o ônus respectivo; Mas não apenas isto. Como sa-
c) à União caberia cobrir as des- lientou o ilustre Procurador-Geral
pesas relativas a seus magistra- do Estado do Piauí, não têm os co-
dos, enquanto os Estados arcariam fres estaduais condições de supor-
com os ônus de pagar os seus. tar o elevado dispêndio acarretado
pela aplicação do questionado
A primeira interpretação se jus- decreto-lei, sem que haja qualquer
tificaria em face da alusão, no art. perspectiva de retorno das despe-
1?, aos magistrados «de qualquer sas efetuadas a esse titulo, reco-
Instância», acrescentando, depois, nhecida afinal por sentença sua
o art. 4? que a despesa correspon- inaplicabilidade à magistratura
dente correria à conta das dota- dos Estados.
ções orçamentárias da União.
Esses são, ao que parece, moti-
A segunda explica-se mais facil- vos mais que suficientes para justi-
mente pela circunstância de que, ficar a necessidade de interpreta-
em razão da origem federal do ção prévia do Decreto-lei n? 2.019,
decreto-lei e das despesas advin- de março do corrente ano, tendo o
das à União, somente aos magis- Representante como atendidos, no
trados por esta mantidos teria particular, os pressupostos a que
aquela aplicação. se refere o art. 180 do Regimento
Em relação à última interpreta- Interno dessa ExcelSa Corte» (fls.
ção, trouxe o ilustre Procurador- 2/5).


R.T.J. — 108 493

E, passando a adiantar seu enten- Veja-se sobre o tema a lição


dimento a respeito da exegese do sempre precisa de José Souto
Decreto-lei n? 2.019, o Dr. Maior Borges, em estudo sobre o
Procurador-Geral da República op- conteúdo e o sentido do principio
tou pela alvitrada na alínea b, que de isonomia das pessoas jurídicas
anteriormente referira, verbis: de direito público:
«O diploma legal em tela tem co- «E um principio que informa
mo destinatários específicos os toda a estrutura da Constituição
magistrados remunerados pela brasileira, a isonomia das pes-
União, a quem compete arcar com soas constitucionais. Não há
as despesas correspondentes. As- desníveis hierárquicos entre as
sim, ao referir-se a «magistrados pessoas constitucionais, que juri-
de qualquer instância», somente dicamente são iguais entre si,
Poderia ter em vista os magistra- posto sociológica, econômica e
dos de qualquer instância federal, politicamente não o sejam.
desde a primeira até a Suprema A diversidade das atribuições,
Instância, como tais relacionados a sua maior ou menor complexi-
no Anexo a que se refere o art. 1?, dade, não interferem com a radi-
2?, do Decreto-lei n? 1.985, de 28 cal igualdade no regime jurídico
de dezembro de 1982 (Doc. 4). das pessoas constitucionais e so-
Nem poderia ser diferente, por- bretudo no seu mútuo relaciona-
quanto a competência do Sr. Presi- mento» (Eficácia e Hierarquia
dente da República, para criação da Lei Complementar, Rev. Dir.
de cargos públicos e fixação de Púb. n? 25, jul/set 73, pág. 93).
vencimentos, está restrita ao âm- Repele o Mestre, em seguida, a
bito federal, em face-do rígido es- objeção de que a ordem jurídica da
quema constitucional de repartição União seja abrangente e a dos
de competências, decorrência do Estados-membros e municípios,
próprio regime federativo por nós parcial e limitada aos respectivos
adotado. territórios, com o argumento de
Nos Estados, essa competência que «todas as atribuições, legislati-
para a iniciativa da lei que aumen- vas ou não, da União, Estados-
te vencimentos é exclusiva do res- membros e Municípios são discipli-
pectivo Chefe do Poder Executivo, nadas na Constituição Federal».
consoante a regra do art. 57, II, da E, a respeito da inexistência de
Carta, de aplicação obrigatória pe- hierarquia entre as leis oriundas
las Unidades Federadas, consoante das diversas pessoas constitucio-
manda o art. 13, III. nais, adverte:
De outra parte, seria impensável «Ao contrário, a afirmação de
que a União viesse a arcar com as que não há hierarquia entre leis
despesas de pagamento da gratifi- federais, estaduais e municipais
cação por tempo de serviço a ma- representa, em todo rigor, um
gistrados estaduais, porquanto es- corolário, desdobramento ou infe-
tas não são despesas que possam rência do princípio de isonomia
ser contabilizadas no Orçamento das pessoas constitucionais. Me-
federal, restrita que se acha a ro aspecto particular da expan-
competência constitucional do Sr. são desse principio constitucional
Presidente da República à iniciati- basilar.
va do processo legislativo para au-
mento de vencimentos dos servido- A conclusão decorre do modo
res federais. de atuação do mecanismo consti-

494 R.T.J. — 108

tucional de repartição das com- grou no Poder Judiciário da União.


petências legislativas. A técnica A Constituição (art. 144) e a Lel Or-
constitucional brasileira adotou o gânica da Magistratura (arts. 15 e
expediente de repartir, por cam- 16) são expressas a respeito da dis-
pos privativos, a competência le- tinção entre o Poder Judiciário da
gislativa das pessoas constitucio- União e o Poder Judiciário dos Esta-
nais» (ob. cit., pág. 95). dos. Nacional é a função jurisdiclo-
nal no sentido de que os juizes e tri-
Razões de ordem prática dita- bunais estaduais aplicam, predomi-
ram a expedição do diploma legal nantemente, leis da União.
em comento, com vistas à majora- Objeta-se, ainda, que o Decreto-
ção dos vencimentos dos magistra- Lei n? 2.019 é norma interpretativa
dos federais, dado o evidente de- do art. 65 da Lei Orgânica da Magis-
cesso em que se encontravam, pro- tratura. Ocorre que o art. 65 é regra
porcionalmente a seus congêneres programática dirigida tanto ao legis-
estaduais. Seria, portanto, incon- lador ordinário federal quanto ao es-
cebível — até por esse argumento tadual. O Decreto-Lei n? 2.019 é lei
de cunho pragmático — fossem os ordinária da União que consoa com
últimos aquinhoados com as mes- aquela norma programática, de
mas vantagens deferidas aos pri- índole aliás facultativa, de sorte que
meiros, estabelecendo-se a partir poderão os Estados-membros outor-
dai nova defasagem entre ambos, gar aos seus magistrados, mediante
o que evidentemente não poderia lei da iniciativa dos respectivos Go-
ser objetivo do diploma examina- vernadores, as vantagens previstas
do. no sobredito art. 1?, observadas as
Por outro lado, parece ao Repre- disposições contidas nos arts. 65, §
sentante que, ao não incluir, o art. 2?, e 145, e seu parágrafo único, da
2? do Decreto-Lei n? 2.019/83, entre Lei Complementar n? 35, de 14-03-79.
os vencimentos tributáveis pelo Não é possível outorgar vantagens
Imposto de Renda a vantagem pa- pecuniárias a juizes estaduais atra-
ga aos magistrados nos termos do vés de decreto-lei do Presidente da
§ 1? do art. 65, da Lei Complemen- República. A interpretação que con-
tar n? 35, de 14 de março de 1979, duzisse a esse entendimento afronta-
poderia fazê-lo o Sr. Presidente da ria o art. 57, item II, c.c. o art. 13,
República em relação a todos os item III, da Constituição e vulnera-
magistrados do Pais, federais ou ria a própria Federação.
estaduais, já que o art. 55, II, da
Constituição, lhe atribui competên- Ante o exposto, conheço da repre-
cia para expedir decreto-lei sobre sentação para adotar a seguinte in-
«finanças públicas, inclusive nor- terpretação do Decreto-lei n? 2.019,
mas tributárias», estando na com- de 28-03-83, tal como sugere a peti-
petência constitucional da União a ção inicial:
instituição do imposto sobre a ren- a expressão «em relação aos
da (CF, art. 21, IV)» (fls. 5/8). magistrados de qualquer instância»,
Objeta-se que a interpretação pro- do art. 1?, refere-se aos magistrados
pugnada pelo Dr. Procurador-Geral relacionados no Anexo a que alude o
da República afronta o sistema da art. 1?, § 2?, do Decreto-lei n? 1.985,
unidade do Poder Judiciário estabe- de 28-12-82, ou seja, tão-somente
lecido no art. 112 da Constituição Fe- aqueles remunerados pelos cofres da
deral. Todavia improcede a obje- União;
ção O art. 112 não extinguiu o Poder referentemente ao art. 2?, a não
Judiciário dos Estados, nem o inte- tributação pelo imposto de renda da

R.T.J. — 108 495

vantagem paga aos magistrados nos Não me compete formular juízo


termos do art. 1? da Lei Complemen- político sobre os desígnios do legisla-
tar n? 35, de 1979, abrange todos os dor, mas confesso que tenho sérias
magistrados, federais ou estaduais, dúvidas sobre a exemplaridade da fi-
de qualquer instância. losofia e da expressão formal do
Não há contradição entre essas Decreto-lei n? 2.019, à vista do peso
duas proposições porque a segunda que confere ao tempo de serviço, no
versa sobre matéria tributária con- traçado da hierarquia retributiva da
cernente ao imposto de renda, da magistratura federal. O que, aliás,
privativa competência da União. não é seu único defeito.
Com esta observação, acompanho
eminente Ministro relator, e adoto
PROPOSTA DE SESSÃO ponto de vista de. S. Exa. sobre o
EM CONSELHO exato alcance do decreto-lei.
Sr. Ministro Francisco Reza: VOTO
Sr. Presidente, à vista dos arts. 151 e
seguinte do Regimento Interno, que- O Sr. Ministro Aidir Passarinho:
ro propor que o Plenário se reúna Sr. Presidente.
em Conselho, prosseguindo o julga-
mento em sessão pública, logo em A Emenda Constitucional n? 7 de
seguida. terminou, no parágrafo único do seu
art. 112, segundo alteração trazida
VOTO pela mesma emenda, que lei comple-
mentar, denominada Lei Orgânica
Sr. Ministro Francisco Reza: da Magistratura Nacional, estabele-
Sr. Presidente, cuida-se de determi- ceria normas relativas à organiza-
nar o alcance do Decreto-lei 2.019. ção, ao funcionamento, à disciplina,
Tal como o eminente ministro às vantagens, aos direitos e aos de-
relator, estou em que procede o juízo veres da Magistratura, com a ressal-
prévio do Procurador-Geral da Re- va de que seriam respeitadas as ga-
pública sobre esse diploma. As con- rantias e proibições previstas no pró-
clusões de S. Exa. me parecem dis- prio Estatuto fundamental ou dele
pensar complemento. decorrentes.
Se, contudo, uma única observação A ressalva, para o exame da ques-
me fosse facultada, teria ela por ob- tão posta em debate, assume relevo,
jeto o tópico em que o relator recor- pois é indeclinável que a interpreta-
da que os Estados federados pode- ção da Lel Orgânica sempre caberá
riam adotar critério idêntico ao do fazer-se levando-se em consideràção
Decreto-lei em exame. os demais preceitos inseridos no pró-
Tenho perfeita consciência da ne- prio texto constitucional ou que dele
cessidade, em todos os planos, de re- decorram. Assim, se é certo que a
tribuição condigna para o Poder Ju- Emenda Constitucional n? 7, pelo seu
diciário. Mas devo observar que, se art. 112, parágrafo único, velo a pos-
concordo de todo com as conclusões sibilitar que lei complementar esta-
do eminente Ministro relator, é por- belecesse normas relativas à organi-
que entendo que a assertiva de que zação, ao funcionamento, à discipli-
os Estados federados poderiam ado- na, às vantagens, ao direito e aos de-
tar critério idêntico ao do Decreto- veres da Magistratura, não é menos
lei n? 2.019, não mais pretende que verdade que fora do previsto na Lei
lembrar a autonomia legislativa dos Maior, os princípios basilares, que
componentes da Federação. imprimem as cacacteristicas pri-

496 R.T.J. — 108

mordiais do regime federativo, hão jurídicas (como disse M. Mouskheli


de ser resguardados, mantendo-se a em «Teoria Jurídica do Estado Fe-
autonomia dos Estados, nos seus ele- deral») e, assim, lhes cabem os po-
mentos fundamentais, entre os quais deres que não lhes sejam vedados
se incluem o de auto-administração pelas normas da Constituição Fede-
e, portanto, o de possuir o seu pró- ral, ou que possam exercer nos espa-
prio orçamento, dispor de sua recei- ços abertos em tais normas, como
ta e remunerar seus servidores e resultado do disposto no § 1? do art.
magistrados. 13 da Constituição.
A lei fundamental — em vários dos Deste modo, se é certo que procu-
seus dispositivos, inclusive em rela- rou a Lei Complementar n? 35, no
ção àqueles que dizem com a autono- seu art. 65, por expressa determina-
mia dos Estados — demonstrou a ção constitucional, possibilitar a ou-
preocupação do legislador constituin- torga de certas vantagens ao magis-
te quanto à elaboração e preserva- trado (e daí dizer ela que, além
ção do orçamento, estabelecendo dos vencimentos poderão ser ou-
mesmo regras limitativas ao poder torgadas), deixou expresso quais
de legislar do Congresso Nacional e as que poderiam ser outorgadas, e
das Assembléias Legislativas, quan- nos termos da lei, do que se tem que
do se trate, entre outras, de matéria esta há de ser estadual, se deferidas
financeira ou orçamentária, aumen- estas vantagens aos magistrados dos
to de vencimentos e despesa pública Estados, exatamente em respeito à
(art. 157, incisos I, II e IV). Essas autonomia destes. Assim, ficaram
restrições se estendem ás Assem- estabelecidos determinados parâme-
bléias Legislativas, por força do art. troo, a propósito, conforme previsto
200 da Carta Maior. A elaboração do no parágrafo único do art. 112 da
orçamento se alça, também, em pos- Constituição e, como ficou dito, com
tulado constitucional inerente à auto- óbvio respeito as garantias e proibi-
nomia dos Estados (art. 13, inciso ções do próprio Estatuto Fundamen-
IV). tal. Ficou clara, em conseqüência, a
já mencionada ressalva consignada
L1, com real interesse, os excelen- na parte final daquele mesmo dispo-
tes pareceres que me foram envia- sitivo, no pertinente à autonomia dos
dos, todos de juristas ilustres. Neles Estados; e, no referente aos venci-
não logrei encontrar argumentos que mentos dos magistrados estaduais,
afastassem a dificuldade de se poder expressamente fixado o critério
considerar abrangendo a magistra- constante do § 4? do art. 144, com a
tura estadual o disposto no art. 1? da rígida limitação inserida na parte fi-
Lei 2.019/83, ainda mais quando se nal do mesmo dispositivo constitu-
vê o reforço expresso — como que cional. Ainda pela autorização cons-
posto a espancar dúvidas, sob pena titucional, a Lei Orgânica da Magis-
de ter-se como expletivo — que fina- tratura Nacional fixou as limitações,
lizou o texto do parágrafo único do nos parágrafos únicos dos arts. 65 e
art. 112 da Constituição, ao ressalvar 145. Não vejo, assim, como dizer ser
o respeito não só ás garantias, mas, extensivo, abrangendo os magistra-
igualmente, às proibições constantes dos estaduais, a vantagem prevista
do Estatuto fundamental. De fato, os no art. 1? do Decreto-lei n? 2.019, de
Estados-membros — embora não so- 1983. Ademais, não fossem as dificul-
beranos, pois são Estados imperfei- dades de ordem constitucional, que
tos — são autônomos, o que implica Impedem a interpretação pretendi-
na faculdade de regular seus pró- da, tem-se dos termos da própria lei
prios assuntos, por meio de normas que ela se dirige apenas aos magis-

R.T.J. — 108 497

trados federais, salvo naqueles pon- unidade da Federação, respeitadas


tos em que é da competência da as condições e as peculiaridades de
União legislar, como ocorre no refe- cada uma. Desta forma, pode o Es-
rente ao art. 2?, ao dispor que o Im- tado deferir, ou não, uma ou algu-
posto de Renda não incide sobre a mas daquelas vantagens previstas
parte correspondente á parcela de no artigo 65 da LOMAN. Não está
representação dos magistrados, pois obrigado a concedê-las — poderão
ai se trata de norma tributária ma- ser outorgadas, diz o artigo 65 —
terial que, como adequadamente res- precisamente em garantia de nossa
saltou o ilustre Professor Caio Táci- debilitada Federação, dando ao Es-
to, no magnifico parecer encampado tado o poder de deferi-las, ou não.
por excelente memorial que recebi Impõe-se, contudo, seja respeitado
do Professor Sérgio Bermudes, se o limite estabelecido no artigo 149, §
endereça a todos os contribuintes al- 4?, da Constituição Federal, explici-
cançados por sua especificidade, ou tado no artigo 65, § 2?, e no artigo
seja, aos Magistrados de todas as 145, parágrafo único, da LOMAN.
classes.
Deste modo, não me parece mes- Nestes termos, estou de pleno
mo que se possa dizer que, em ha- acordos com o voto dos eminentes
vendo a concessão de adicionais, es- Ministros Relator e os que o segui-
ram.
tes tenham de ser obrigatoriamente É o Voto.
fixados nos limites máximos previs-
tos no art. 65, inciso VIII da Lei VOTO
Complementar n? 35, e que o De-
creto-lei 2.019 considerou que po- O Sr. Ministro Néri da Silveira:
deriam ser calculados na forma esti- Sr. Presidente. Com o advento da
pulada no seu § 1?, eis que não só o § Emenda Constitucional n? 7, de 1977,
2? do aludido artigo estabelece um li- que modificou a Emenda Constitu-
mite máximo como, a par disso, o cional n? 1, de 1969, bem assim da
próprio inciso VIII do mesmo precei- Lei Complementar n? 35, de 14-3-
to prevê que o número de qüinqüê- 1979, introduziram-se alterações sig-
nios será até o máximo de sete. nificativas, no sistema jurídico pá-
Pelo exposto, Sr. Presidente, trio, quanto á magistratura, não de
acompanho o Sr. Ministro Relator. referência às garantias e proibições,
mas no que respeita a seu regime de
direitos, vantagens e disciplina em
VOTO geral.
Com efeito, antes da Emenda
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se- Constitucional n? 7, de 1977, não exis-
nhor Presidente, acompanho 'o emi- tia um sistema unificado, relativa-
nente Relator, bem como as conside- mente à disciplina de direitos, venci-
rações que acabam de ser feitas pe- mentos e vantagens das magistratu-
los eminentes Ministros Francisco ras, da União e dos Estados; apenas,
Rezek e Aldir Passarinho. no art. 144, § 4?, da Emenda Consti-
Considero que, se o Poder Judiciá- tucional
que
n? 1, de 1969, se estipulava
nenhum membro da Justiça es-
rio é nacional e as normas gerais a tadual poderia perceber, mensal-
ele relativas são nacionalmente fixa- mente, importância total superior ao
das pela Constituição e, por determi- limite máximo estabelecido em lei
nação constitucional ( artigo 112, pa- federal.
rágrafo único), pela LOMAN, as ba-
ses de remuneração, contudo, sem- Iniciando a pretendida reforma do
pre foram estabelecidas, em cada Poder Judiciário, definiram-se, na

498 R.T.J. — 108

Emenda Constitucional n? 7, de 1977, juízes, desde aí, tiveram restringida


algumas de suas essa competência. Normas expres-
diretrizes,
acrescentando-se, nesse sentido, ao sas da Lei Complementar n? 35, de
art. 112, da Constituição, um pará- 1979, enumeraram as vantagens, que
grafo único, assim concebido: poderiam ser atribuídas aos magis-
«Art. 112. trados, além dos vencimentos, pre-
ceituando, inclusive, ficarem supri-
Parágrafo único. Lei comple- midas quaisquer outras, eventual-
mentar, denominada Lei Orgânica mente, pagas pelos Estados, com
da Magistratura Nacional, estabe- ressalva apenas dos quantitativos,
lecerá normas relativas à organi- que estivessem sendo percebidos pe-
zação, ao funcionamento, à disci- los juizes, a esse título, a se absor-
plina, às vantagens, aos direitos e verem nos futuros aumentos.
aos deveres da magistratura, res- Tal o que decorre das regras dos
peitadas as garantias e proibições arts. 65 e 145, da Lei Complementar
previstas nesta Constituição ou de- n? 35, in verbis:
la decorrentes».
Previu, dessa maneira, a Emenda «Art. 65. Além dos vencimen-
n? 7, de 1977, que as vantagens e os tos, poderão ser outorgados aos
direitos da magistratura, tanto fede- magistrados, nos termos da lei, as
ral quanto estadual, haveriam de se seguintes vantagens:
inserir em uma Lei, de natureza I — ajuda de custo, para despe-
complementar à Constituição e a- sas de transportes e mudança;
brangente de todos os magistrados II — ajuda de custo, para mora-
brasileiros. dia, nas comarcas em que não hou-
A função jurisdicional, enquanto ver residência oficial para juiz, ex-
expressão da soberania nacional, é ceto nas Capitais;
exercida pelos magistrados federais III — salário-familia;
e estaduais. Pretendeu-se, dessarte, IV — diárias;
disciplina geral, para todo o Pais, no
que respeita aos aspectos fundamen- X — gratificação pelo efetivo
tais da magistratura e seu regime exercício em Comarca de difícil
jurídico. provimento, assim definida e indi-
cada em lei.
A partir da edição da Lei Comple-
mentar n? 35, de 14 de março de A verba de representação,
1979, cumpre entender que a compe- salvo quando concedida em razão
tência dos Estados-membros, relati- do exercício de cargo em função
vamente à outorga de vantagens e temporária, integra os vencimen-
direitos a seus magistrados, deveria tos para todos os efeitos legais.
exercitar-se, segundo o estabelecido E vedada a concessão de
na Lei Orgânica da Magistratura adicionais ou vantagens pecuniá-
Nacional. Esse foi um dos pontos, do rias não previstas na presente Lei,
mencionado diploma, que merece- bem como em bases e limites supe-
ram amplos debates e restrições de riores aos nela fixados.
não poucos analistas do novo siste-
ma, em face de limitações novas à Art. 145. As gratificações e adi-
autonomia dos Estados, atingindo-os, cionais atualmente atribuídos a
precisamente, em matéria sensível, magistrados, não previstos no art.
quanto à sua magistratura. Assim, 65, ou excedentes das percentagens
os Estados, que podiam, antes, defi- e limites nele fixados, ficam extin-
nir, com plena autonomia, o elenco tos e seus valores atuais passam a
de vantagens a atribuírem a seus ser percebidos como vantagem

R.T.J. — 108 499

pessoal inalterável no seu a seu art. 1?, entender a norma ex-


quantum, a ser absorvida em futu- tensiva à magistratura estadual. In-
ros aumentos ou reajustes de ven- terpretação nesse sentido estaria em
cimentos. conflito com os preceitos da Consti-
Parágrafo (mico. A absorção a tuição Federal, insertos em seu art.
que se refere esse artigo não se 13, combinado com os arts. 57, II, e
aplica ao excesso decorrente do 65, e no art. 144, que dispõem sobre
número de qüinqüênios e não exce- competência dos Estados, para a fi-
derá de vinte por cento em cada xação de estipêndios a seus servido-
aumento ou reajuste de vencimen- res, compreendidos estes, aqui, no
to». sentido lato, resguardada a compe-
Dessa sorte, desde a vigência da tência exclusiva do Governador para
Lei Orgânica da Magistratura Nacio- a iniciativa das leis respectivas, bem
nal, os Estados não mais podem assim para organizar a sua justiça,
criar outras vantagens, além das observados os artigos 113 a 117, da
previstas no art. 65 suso transcrito, Lei Maior da República, a Lei Orgâ-
nem reajustar gratificações, ai não nica da Magistratura Nacional e os
consignadas, cumprindo-lhes, em ca- dispositivos enumerados nos incisos
so de existência, na legislação local, do art. 144, da Constituição. Não po-
de gratificações e adicionais diver- deria, dessa maneira, a União, sob
sos das previsões do art. 65 referido, pena de infringir o princípio consti-
proceder, segundo o disposto no art. tucional da autonomia dos Estados,
145 e seu parágrafo único, da Lei nos limites definidos no Estatuto Su-
Complementar n? 35, de 1979. premo, fixar vencimentos ou vanta-
gens para os magistrados estaduais.
Pois bem, dentre as vantagens es- Compreendo que o art. 1?, do
tabelecidas como possíveis de se ou- Decreto-lei n? 2.019/1983, somente,
torgarem às magistraturas, federal cabe ser entendido como norma apli-
e estadual, está a do inciso VIII, do cável à magistratura federal. Não
art. 65, in verbis: dispõe o Presidente da República, no
«VIII — Gratificação adicional particular, de competência, sequer,
de cinco por cento por qüinqüênio para a iniciativa de lei, fixando van-
de serviço, até/o máximo de sete tagens a serem percebidas pelos ma-
qüinqüênios. gistrados estaduais.
Isso significa que os Estados po- A gratificação, prevista no art. 65,
dem disciplinar a outorga dessa gra- VIII, da Lei Orgânica da Magistratu-
tificação, respeitado o disposto no in- ra Nacional, poderá, evidentemente,
ciso VIII, do art. 65, e atentos, ainda, ser concedida aos magistrados dos
à norma do art. 145, ambos da Lei Estados, por via legislativa estadual.
Orgânica em exame. Cumpre, nessa linha, anotar que, na
Ora, o Decreto-Lei n? 2.019/1983, concessão pelos Estados, dessa van-
editado pelo Governo Federal, regu- tagem, há de ser respeitada a norma
lou a concessão da gratificação adi- do art. 65, § 2?, da Lei Complemen-
cional, prevista no inciso VIII, do tar n? 35, vedando-se-lhes, dessa ma-
art. 65 mencionado, que já existia na neira, apenas, fazê-lo, «em bases e
sistemática das vantagens dos ma- limites superiores» aos fixados no
gistrados federais, estipulando, da Decreto-Lei n? 2.019/1983. De outro
forma explicita, no art. 1?, o modo lado e em conseqüência de tais
de seu cálculo. princípios, não será possível, na dis-
ciplina dessa gratificação, os Esta-
Não é viável, entretanto, na exege- dos estipularem regime, segundo o
se desse Decreto-lei, no que respeita qual, acrescidos os valores, a ela

500 R.T.J. — 108

concernentes, aos vencimentos dos nesse particular, a fundamentação


magistrados estaduais, formados es- do voto do eminente Ministro Re-
tes pela parcela básica mais a repre- lator.
sentação (LOMAN, art. 65, § 1?), ul- Do exposto, dou aos arts. 1? e 2?,
trapasse a soma dos vencimentos e do Decreto-lei n? 2.019/1983, a inter-
gratificação adicional por quinqüê- pretação, acima deduzida, pondo-
fios (art. 65, VIII) o teto previsto no me, dessa maneira, em conformida-
art. 144, § 4? in fine, da Constituição de com o voto do ilustre Ministro
Federal. Nesse sentido, exemplifico: Relator.
não será cabível, no plano estadual,
que a lei local, ao disciplinar essa VOTO
vantagem, estabeleça, para magis-
trado com sete qüinqüênios de tempo Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr.
de serviço, a possibilidade de, soma- Presidente, também acompanho o
do o valor desses qüinqüênios aos eminente Relator. Os módulos inter-
vencimentos também fixados em lei pretativos do Decreto-lei n? 2.019,
do Estado, perceber quantitativo su- considerados por S. Excelência,
perior ao que corresponde ao total atendem a pressupostos irre-
de vencimentos e gratificação adi- movíveis. O art. 2? do decreto-lei,
cional conferidos a um Ministro do que emerge de uma competência tri-
Supremo Tribunal Federal, no gozo butária federal, tem, necessariamen-
da gratificação relativa a sete qüin- te, um alcance irrestrito. Entretan-
qüênios de tempo de serviço. Esse, to, quanto ao art. 1?, no qual a União
em realidade, a meu ver, o espírito utiliza uma faculdade concedida pela
do sistema definido no art. 144, § 4?, lei complementar para instituir tais
In fine, da Constituição, conjugado ou quais gratificações aos seus ma-
com o art. 65 e seu § 2?, da Lei Orgâ- gistrados, essa instituição, pela
nica da Magistratura Nacional. União, não pode ter a abrangência
em relação aos Estados, que podem
Do sucintamente exposto, diante ou não deixar de institui-las dentre
da sistemática resultante da Emen- as várias dessas que estão relaciona-
da Constitucional ri? 7/77 e da Lei das.
Complementar n? 35/1979, penso, Nesse ponto, esse dispositivo não
também, como o ilustre Ministro tem o caráter do que se denomina lei
Relator, que, no âmbito do art. 1?, do nacional, com destinação aos vários
Decreto-lei n? 2.019/1983, somente se planos político-administrativos. E
compreendem os magistrados fede- uma lei que, pela competência de
rais, inobstante a disciplina consig- sua edição como pela sua destina-
nada nesse dispositivo possa ser es- ção, é reservada, realmente, à área
tendida às magistraturas estaduais, federal e à magistratura federal.
por lei dos Estados, guardados os li- Por isso, acompanho, pelos seus
mites e bases de cálculo previstos fundamentos, o voto do eminente Re-
nessa regra legal da União e no art. lator, como, também, acompanho as
144, § 4?, in fine, da Constituição. explicitações que foram feitas pelos
doutos votos que me precederam.
Quanto ao art. 2?, do Decreto-lei Conheço da representação, e dou a
n? 2.019/1983, referente ao imposto interpretação preconizada.
de renda, a disposição é compreensi-
va de todos os magistrados, federais VOTO
e estaduais, cuidando-se de norma
relativa a tributo federal, de exclusi- Sr. Ministfo Decio Miranda: Sr.
va disciplina da União. Acompanho, Presidente, o sistema constitucional
R.T.J. 108 501

em vigor, na parte relativa ao Poder racteristica diversa da dos demais


Judiciário, estabelece certa subordi- Poderes do Estado: tinha caráter na-
nação, mas não vinculação total, das cional.
normas estaduais sobre vencimentos Esta concepção — o Poder Judi-
e vantagens, às da União Federal ciário emana da soberania nacional
No ponto ora cogitado, a Lel Orgâ- — foi inequivocamente acolhida pela
nica da Magistratura, no tocante às Emenda Constitucional n? 1/69, onde
vantagens paralelas ou superpostas se declara, no titulo concernente à
aos vencimentos básicos, prevê Organização Nacional, que o Poder
quais as que facultativamente po- Judiciário, ao contrário do que ocor-
dem a União e os Estados, cada um re com relação ao Poder Executivo e
de per si, instituir (art. 112, parágra-
ao Poder Legislativo, é constituldo
fo único, da Constituição, c/c art. 65,
não só pelos Tribunais e juizes fede-
caput, e § 2?, da Lei Complementar rais, mas também pelos Tribunais
n? 35, de 1979). e juizes Estaduais.
Donde a límpida conclusão de que, A Constituição Federal dispõe so-
porventura utilizada a faculdade pe- bre o Poder Judiciário Estadual no
la União, os Estados não estão obri- capítulo do Poder Judiciário, logo
gados à mesma concessão. após a disciplina do Poder Judiciário
Congente aos Estados-membros, da União.
nesse sistema, é apenas a determi- E a Emenda Constitucional n? 7/77
nação de, quando estabelecerem tais estabelece a esfera de competência
estipêndios paralelos, não excedam da Lei Orgânica da Magistratura
os que a União tenha estatuído. Nacional.
E o que resulta da expressão do ci- Com isso, Sr. Presidente, quis a
tado parágrafo 2? do art. 65 da Lei Constituição acentuar que o Poder
Orgânica, a dizer que «é vedada a Judiciário é nacional por emanar da
concessão de adicionais ou vanta- soberania nacional, mas não excluiu,
gens pecuniárias não previstas na porque a pressupõe nas normas so-
presente Lei, bem como em bases e bre esse Poder, a separação, nos
limites superiores aos nela fixados», âmbitos funcional no administrativo,
o que também decorre do art. 144, § entre o Poder Judiciário da União e
4?, da Constituição Federal. os Poderes Judiciários dos Estados-
Proibida é a concessão excedente Membros.
do modelo federal, não a que apenas A única quebra que o nosso siste-
lhe seja. inferior, solução, de resto, ma constitucional trouxe a essa dis-
curial, ante a capacidade, financeira tinção, mesmo no âmbito funcional,
mais ou menos restrita, de cada Uni- foi a admissão, graças á Emenda
dade da Federação. Constitucional n? 7, de um órgão — o
Acompanho os doutos votos do Re- Conselho Nacional de Magistratura
lator e dos Senhores Ministros que —que tem poder disciplinar sobre
igual solução acabam de adotar. membros da Justiça dos Estados.
Ora, Sr. Presidente, essa coloca-
VOTO ção, a meu ver, dilucida, perfeita-
mente, o problema que se nos apre-
O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr. senta. A Lei Orgânica da Magistra-
Presidente, João Mendes Junior, tura é, realmente, nacional, porque
após a Constituição de 1891, já obser- ela estabelece os parâmetros deste
vava, apesar de nossa federação es- Poder que representa emanação da
tar no nascedouro, que o Poder Judi- soberania nacional, mas ela não vai
ciário, mesmo nela, apresentava ca- a ponto — e nem poderia fazê-lo, sob

502 R.T.J. — 108

pena de ser inconstitucional — de ig- tem a União Federal competência pa-


norar a Federação, e, conseqüente- ra fazê-la em favor de membros de
mente, de extinguir a dicotomia fun- Poderes Estaduais.
cional e administrativa que há com
relação à Justiça Federal e à Justiça A União Federal e os Estados —
Estadual. repito —, dentro dos limites máxi-
mos estabelecidos pela Lei Orgâni-
Daí, Sr. Presidente, observar-se a ca, podem conceder cada um no seu
preocupação que teve o legislador, âmbito de competência, essas vanta-
ao elaborar a Lei Orgânica da Ma- gens. Não poderão fazê-lo, no entan-
gistratura Nacional, de estabelecer, to, sob pena de inconstitucionalidade
com relação a problemas desta natu- das vantagens que outorgarem, além
reza, apenas normas proibitivas da daquilo que está previsto na Consti-
ultrapassagem de limites máximos. tuição Federal e na Lei Orgânica da
Magistratura Nacional.
A Lei Orgânica da Magistratura
Nacional, ao lado dos vencimentos, Por isso, Sr. Presidente, não tenho
catologa o máximo de vantagens que dúvida alguma em concordar com as
os magistrados podem ter. Não obri- conclusões do voto do eminente Mi-
ga a União Federal ou aos Estados- nistro Soares Muiloz. O artigo 1? do
membros a atribuir todas essas van-
tagens aos magistrados, mas lhes Decreto-lei n? 2.019 só concede a
veda que as ultrapassem. Ora, Sr. vantagem,
à
nos termos que explicita,
Magistratura Federal. Já o art. 2?,
Presidente, se a Lei Orgânica da que não diz respeito
Magistratura estabelece apenas li- natureza funcional ou aadministrativa,
problema de
mites máximos, está a indicar que, e, sim, a problema de natureza tri-
dentro da órbita federal, com rela- butária, na estrita esfera de compe-
ção à Justiça Federal, e dentro da
órbita estadual, com relação à Justi- tência da União, uma vez que con-
ça Estadual, os Poderes constituídos todos osimposto
cerne a federal, se aplica a
magistrados, sejam fede-
da União e os Poderes constituídos rais, sejam estaduais.
do Estado, no campo da sua compe-
tência legislativa, poderão optar Sr. Presidente, essas considera-
pela concessão de todas as vanta- ções, nesta altura do julgamento, se-
gens, ou somente de algumas, que riam dispensáveis, mas as faço para
entenderem devam atribuir aos seus explicitar o meu pensamento. No
magistrados. Não poderão ir além, Brasil, infelizmente, a Constituicão
mas poderão ficar aquém daquelas Federal e a Lei Orgânica da Magis-
estabelecidas na Lei Orgânica da tratura Nacional não vêm sendo
Magistratura Nacional. cumpridas. Há Estados que ultra-
O Decreto-lei n? 2.019, interpretan- passaram
144, IV, da
de muito os limites do art.
Carta Magna. Há Estados
do uma dessas vantagens que a Lei que não observam o art. 145 da Lei
Orgânica da Magistratura permite Orgãnica da Magistratura Nacional,
que se conceda aos magistrados em
geral, deu-lhe o sentido que se en- mantendo vantagens que hoje estão
contra no seu artigo 1?, e a concedeu proibidas pela Lei Orgânica da Ma-
aos magistrados. gistratura. Há Estados, enfim, que
não observam sequer preceitos sobre
Mas, evidentemente, essa conces- a composição de seus Tribunais de
são, já que estamos em terreno estri- Justiça, quanto ao preenchimento
tamente financeiro-administrativo, das vagas do quinto constitucional,
só se dirige aos magistrados fede- com relação ao acesso por parte dos
rais, pela singela razão de que não membros dos Tribunais de Alçada.
R.T.J. 108 503

Esse desrespeito, grave por si mes- será calculada sobre o vencimento


mo, poderá gerar graves conseqüên- percebido mais a representação,
cias. nos percentuais de cinco, dez, quin-
O Supremo Tribunal Federal não ze, vinte, vinte e cinco, trinta e
desconhece essas violações, e só não trinta e cinco, respectivamente,
age, porque não pode fazê-lo por qüinqüênio de serviço, neste
ex-officio, dependente que está da compreendido o tempo de exercício
provocação do Ministério Público da advocacia, até o máximo de 15
Federal. anos, e observada a garantia cons-
Com essas considerações, Sr. Pre- titucional da irredutibilidade.»
sidente, acompanho o voto do emi- A dúvida suscitada gira em torno
nente Relator. da sua extensão a todos os integran-
tes da magistratura nacional, in-
vocando-se inclusive, para uma exe-
VOTO gese mais ampla, a locução «em re-
O Sr. Ministro Djaci Falcão: Sr. lação aos magistrados de qualquer
instância». Como é sabido, na orga-
Presidente, afigura-se de elevado al- nização da justiça brasileira existem
cance a inovação trazida pela Emen- órgãos judiciários integrados no or-
da Constitucional n? 7, de 13-4-77, ins- denamento federal e órgãos judiciá-
crevendo na competência do Supre-
mo Tribunal a interpretação de lei rios situados no plano do Estado-
membro. A instância, em sentido es-
ou ato normativo federal ou estadual trito, compreende o grau de jurisdi-
(letra 1, do inc. 1, do art. 119).
Confere-se a esta Corte o poder de ção no plano dos órgãos indicantes,
emitir um juizo interpretativo, em situados
tadual e
uns na órbita da Justiça Es-
outros, da Justiça Federal.
tese, com eficácia erga omnes, vi-
sando a afastar dúvidas e incertezas Tenho para mim que citada locu-
em torno da compreensão e do al- ção tem em mira os magistrados da
cance de certas normas jurídicas. Justiça Federal, remunerados pela
Exercita-o o Tribunal, pela primeira, União, porquanto se cuida de de-
vez, tendo por objeto o Decreto-lei creto-lei federal, que prevê a des-
n? 2.019, de 28 de março deste ano, pesa correspondente à conta das do-
expedido pelo Sr. Presidente da Re- tações orçamentárias da União, se-
pública, com base no art. 55, incisos gundo dispõe o seu art. 4?.
II e III da Constituição, que, real- O texto objeto de interpretação
mente, pede uma interpretação pré- quis referir-se aos magistrados de
via, na linha da previsão constitucio- qualquer instância na esfera da jus-
nal e de acordo com os pressupostos tiça federal, mesmo porque a com-
do nosso Regimento Interno (art. 179 petência do Presidente da República
a 187). para criar cargos e funções públicas
e fixar vencimentos está adstrita à
Acompanho o eminente Ministro mencionada área, diante do sistema
Relator, no juizo hermenêutico que constitucional no atinente à reparti-
confere aos arts. 1? e 2? do decreto- ção de competências. Aos Estados
lei em exame, esclarecendo o seu cabe, não resta dúvida, a sua auto-
significado e alcance. Dispõe o art. organização, porém nos limite traça-
1?: dos pela Constituição da República.
«Art. 1? A gratificação adicio- o que decorre das regras inscrita no
nal de que trata o art. 65, VIII, da art. 57, Inc. II e no art. 13 do citado
Lei Complementar n? 35, de 14 de Diploma.
março de 1979, em relação aos ma- Claro é que aos Estados compete
gistrados de qualquer instância, legislar sobre a matéria, reservada
504 R.T.J. — 108

aos Governadores a iniciativa da O eminente Ministro Néri da


respectiva lei, e obedecidas as nor- Silveira mostrou, com segurança, a
mas previstas no § 4?, do art. 144, da importância do limite do art. 144, §
Constituição, e no § 2? do art. 65 da 4?, da Constituição Federal.
Lei Orgânica da Magistratura Nacio-
nal. Claro que ninguém me nega a in-
Em conclusão, a regra do art. 1? tenção de propugnar por vencimen-
do Decreto-lei n? 2.019/83 não tem tos condignos para a magistratura-
aplicação aos magistrados esta- nacional, assegurar-lhe a indepen-
duais. dência e prover-lhe o recrutamento
de nomes do mais elevado nivel.
Quanto ao art. 2? do Decreto-lei Mas, por mais que eu esteja compro-
em exame, parece-me fora de dúvi- metido com os meus pensamentos
da que tem aplicação a todos os inte- sobre a organização judiciária do
grantes do Poder Judiciário, por- Pais, isto não me pode levar a con-
quanto decorre de uma competência cluir de modo diverso dos eminentes
federal abrangente. Ministros Relator e demais Colegas
Com estas considerações, acompa- que já se manifestaram. A União
nho o voto do eminente Relator. compete sustentar a sua magistratu-
ra, e aos Estados, também, a que
VOTO lhes pertence. Ficou bem claro que
os Estados podem legislar a matéria
O Sr. Ministro Cordeiro Guerra como bem entenderem, respeitados
(Presidente): A questão já foi larga- os parâmetros constitucionais e da
mente debatida, e todos os eminen- Lei Orgânica.
tes Juizes que me precederam che-
garam à mesma conclusão. Dela não Com estas considerações, acompa-
manifesto dissentir, porque tenho pa- nho o eminente Relator.
ra mim como fundamental que a
União legisla sobre matéria de sua
competência, e aos Estados cumpre, EXTRATO DA ATA
por força do art. 13 da Constituição,
organizarem-se e regerem-se pelas
Constituições e leis que adotarem,
respeitados os princípios estabeleci- Rp. 1.155-DF — Rel.: Ministro Soa-
dos nessa Constituição e, especial- res Mufloz. Repte.: Procurador-
mente, definidos em particular. Geral da República. Repdo.: Presi-
dente da República.
Ora, meditei longamente sobre os
pareceres que foram postos à dispo- Decisão: Conheceu-se da Repre-
sição da Corte e considerei invencí- sentação para adotar-se o entendi-
vel o argumento de que a União in- mento de que o art. 1? do Decreto-
terviesse nos Estados para aumen- lei n? 2.019, de 28-3-83, se aplica tão
tar vencimentos que não ia pagar e somente aos magistrados remunera-
que muitos Estados não poderiam dos pelos cofres da União, enquanto
suportar. A autonomia do Estado lhe que o art. 2? do mesmo Decreto-lei
assegura o direito de prover às des- incide sobre todos os magistrados,
pesas do funcionamento dos seus federais ou estaduais, de qualquer
serviços públicos e à manutenção do instância. Decisão unânime. Votou o
seu Poder Judiciário. Presidente.
O eminente Ministro Moreira Alves
demonstrou o verdadeiro conceito de Presidência do Senhor Ministro
magistratura nacional. Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão

R.T.J. — 108 505

os Senhores Ministros Djaci Falcão, Buzaid. Procurador-Geral da Repú-


Moreira Alves, e Soares Muiloz, De- blica, Professor Inocênclo Mártires
cio Miranda, Rafael Mayer, Néri da Coelho.
Silveira, Oscar Corrêa, Aldir Passa-
rinho, e Francisco Rezek. Ausente, Brasília, 9 de novembro de 1983 —
licenciado, o Senhor Ministro Alfredo Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.160 — SP
(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Representante: Procurador-Geral da República — Representado: As-
sembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
Constitucional. Prefeito da Capital do Estado. Nomeação pelo Go-
vernador, com prévia aprovação da Assembléia Legislativa. Contro-
vérsia sobre se o ato de aprovação podia integrar-se por voto du plica-
do do Deputado-Presidente do Órgão legislativo, da segunda vez utili-
zado por motivo de empate na votação. Ato concreto, despido de qual-
quer atributo de abstração, generalidade ou normatividade. Descabi-
mento da representação.
AcORDAo lo voto, por duas vezes enunciado, do
Senhor Néfi Tales, uma vez como
Vistos, relatados e discutidos estes Deputado e outra, para desempate,
autos, acordam os Ministros do Su- como Presidente da Casa.
premo Tribunal Federal, em sessão
plenária, na conformidade da ata do Lê-se na exposição do Deputado
julgamento e das notas taquigráfi- Ostro Silveira, que suscitou a provi-
cas, por unanimidade de votos, em dência do Procurador-Geral da Re-
não conhecer da Representação. pública:
Brasília, 5 de outubro de 1983 — «20. Tendo em vista que partici-
Cordeiro Guerra, Presidente — param do processo de votação to-
Dedo Miranda, Relator. dos os 84 membros do Colegiado,
para a aprovação do mencionado
Projeto de Decreto Legislativo n? 1
RELATORIO de 1983, deveria, ser obtida a
maioria dOs votos dos Deputados
O Sr. Ministro Dedo Miranda — presentes, ou seja o voto favorável
Submete o Procurador-Geral da Re- de 43 (quarenta e três) Deputados
pública representação ao Supremo e, via de conseqüência, 41 (quaren-
Tribunal Federal, argüindo inconsti- ta e um) votos contrários. No en-
tucionalidade do Decreto Legislativo tanto, o resultado final apontou 43
n? 171, de 5-5-1983, pelo qual a As- votos favoráveis e 42 votos contrá-
sembléia Legislativa do Estado de rios, isto porque o Presidente da
São Paulo aprovou a indicação do Assembléia Votou Duas Vezes
nome do Deputado Federal Mário «SIM», a primeira como deputado
Covas para Prefeito ,do Município da concorrendo para o empate, e a se-
Capital. gunda como Presidente para o de-
A aprovação em causa, resultante sempate e a aprovação da maté-
de votação nominal, foi composta pe- ria.

506 R.T.J. 108

tive constitui ato coletivo das Ca-


22. O voto cumulativo do Presi- sas do Congresso. E geralmente
dente feriu, como se vê, concomi- precedida de estudos e pareceres
tantemente, as normas das Consti- de comissões técnicas (perma-
tuições Federal e Estadual. Aliás, nentes ou especiais) e de debates
assim relaciona Car los Maximili- em plenário. E ato de decisão
ano em seus Comentários á Cons- que se toma por maioria de vo-
tituição Brasileira 4? edição — to- tos: maioria simples, isto é, dos
mo II, pág. 36 e 37, ed. 1948. membros presentes (art. 31), pa-
ra aprovação dos projetos de lei
«Nos Estados Unidos da Amé- ordinária; maioria absoluta dos
rica o Presidente do Congresso membros das Câmaras, para
vota, e se não exerceu este direi- aprovação dos projetos de Lei
to, intervém como desempata- complementar (artigo 50)» (sic
dor». — os grifos são nossos).
«Verificava-se no Brasil uma
originalidade: o Vice-Presidente 23. De outra parte, as disposi-
da República, embora não fosse ções constitucionais relativas ao
propriamente membro do Senado processo de deliberação são, por
tinha ali o voto de qualidade; ao natureza hierárquica, subtraídas
passo que o presidente da Câma- ao arbítrio interpretativo do Presi-
ra, que era deputado, tomava dente.
apenas parte em escrutínio se-
creto, e depunha na urna a sua Ensina-nos com a habitual clare-
cédula; nos demais casos apura- za, o ilustre jurisconsulto Francis-
va somente o resultado; havendo co Campos em sua obra Direito
empate, não decidia, punha de Constitucional, volume I, edição
novo o projeto em debate e vota- 1956, página 390, que:
ção no dia imediato, e declarava-
o rejeitado, se outra vez a sua vi- «E de evidência que, quando a
tória não se inclinava para ne- Constituição preceitua certas re-
nhum dos lados. (12)» Regimento gras ao trabalho legislativo, o
Interno da Câmara, art. 213. Congresso encontra nessas cláu-
Oswaldo Trigueiro, em sua sulas limitações à liberdade, que
obra clássica Direito Constitucio- lhe é outorgada, de determinar e
nal Estadual, pág. 150 — ensina: dispor, como bem entender, à or-
«Os atos emanados do Congresso dem dos seus trabalhos. Tais pre-
dependem primordialmente da ceitos, embora de natureza regi-
votação que os aprova, de acordo mental por sua matéria, são, evi-
com as normas constitucionais, dentemente, pela sua forma ou
complementadas pelas regimen- pelo caráter do instrumento a
tais. Essa aprovação pode ser ex- que aderem, cláusulas manifes-
pressa ou tácita. A aprovação ex- tamente constitucionais. Como
pressa dá-se pela manifestação tais, não podem ser dispensadas
da Câmara ou Assembléia, pela ou violadas sem que resulte para
maioria exigida, respeitado o os atos legislativos praticados
preceito do artigo 31 antes em desconformidade com elas e
citado». o vício de inconstitucionalidade
que, conforme seja o regime, de-
José Afonso da Silva, em seu termina para os tribunais a fa-
Curso de Direito Constitucional culdade e o dever de lhes recusar
Positivo, vol. 1, pág. 100, pontifi- autoridade ou de formalmente os
ca: «Votação da matéria legisla- descumprir».
— 108 507

24. A prevalecer o procedimen- terno da Assembléia Legislativa de


to irregular do Presidente do Le- São Paulo, cujo art. 18, 2?, combi-
gislativo paulista de Votar duas nado com o art. 203, impõe ao Pre-
Vezes sempre que a totalidade dos sidente da Casa votar, como Depu-
Deputados participe da votação e o tado nas votações nominais, e para
resultado se traduza em empate. desempate, em qualquer hipótese
trará, imperativamente, como con- em que o empate ocorrer. Ora, não
seqüência direta do Segundo Voto: se argüi a inconstitucionalidade
resultado da votação supe- desses dispositivos regimentais,
rior ao dos membros que com- que fundamentaram a criação do
põem a Assembléia Legislativa ato impugnado. Se tais dispositivos
do Estado de São Paulo exceden- não mereceram a censura do ar-
do, portanto, o quorum máximo gffinte, então o ato emanado, com
de 84 (oitenta e quatro) Deputa- base neles por mais esta razão,
dos fixado com base na Constitui- também não a merece Se tais dis-
ção e na Lei positivos são válidos, e o são sem
aprovação de projeto de Lei sombra de dúvida, também o ato
Complementar sem maioria ab- neles fundado. O que se verifica é
soluta conforme determina a que, na verdade, os dispositivos re-
Constituição Federal. gimentais não contrariam qual-
quer norma, preceito ou principio
c) a violação do processo de da Constituição Federal (e tam-
escrutínio secreto uma vez que bém da Estadual). Ao contrário,
tal voto será público». (fls. encontram nela integral embasa-
10/13). mento, já que formados com base
Nas informações, a Assembléia no principio da independência de
Legislativa suscita preliminares: a) poderes. Salvo em situações ex-
descabimento da representação, por pressamente especificadas na
não se tratar de regra jurídica sujei- Constituição, as Casas Legislativas
ta a controle de constitucionalidade têm autonomia para as respectivas
pelo Supremo Tribunal Federal, mas organizações internas, o que se in-
de simples ato administrativo, indi- serem as regras sobre os modos de
vidualizado; de efeito concreto, não- votação nas matérias sujeitas á
normativo, insuscetível de enquadra- sua deliberação». (fls. 64/5).
mento na norma do art. 119, I, letra
1 da Constituição Federal; b) neces- A Procuradoria-Geral da Repúbli-
sidade de ouvir-se o Governador do ca, em parecer do Dr. João Paulo
Estado, autor da indicação do nome Alexandre de Barros, aprovado pelo
para Prefeito da Capital. Procurador-Geral, Prof. Inocêncio
No mérito, assevera que, consoan- Mártires Coelho, oficiando pela im-
te as regras regimentais aplicáveis, procedência da representação, es-
o voto nominal do Deputado era, no creve:
caso, um dever de quem o proferiu,
e igualmente o era o voto de desem- «De examinar-se, preliminar-
pate, que enunciou como Presidente mente, a natureza jurídica do ato
da Casa Legislativa. legislativo impugnado: se é lei ou
se é ato normativo o decreto legis-
A propósito, assim discorre: lativo que — sem editar regra
«40. A votação e, portanto, a jurídica — aprova, tão-somente, a
aprovação do Decreto Legislativo indicação de determinada pessoa
impugnado fizeram-se em integral para determinado cargo público,
consonância com o Regimento In- consoante previsão constitucional.
508 R.T.J. — 108

controle da constitucionalidade de um poder, que lhe é delegado


das leis impõe-se em razão da exis- pela soberania popular, que nela
tência de «uma distinção teórica reside a suprema força do Esta-
entre actividade constituinte e a do.
actividade legislativa ordinária. As E, neste sentido, diz-se o
leis, quando consideradas em rela- commune praeceptum ou norma
ção a cada uma destas activida- geral obrigatória, instituída e im-
des, podem também classificar-se posta coercitivamente à obediên-
em constitucionais e ordinárias. cia geral.
São as primeiras as que determi-
nam a estrutura dos órgãos funda- Corresponde a esse sentido a
mentais do Estado e as liberdades perfeita definição do insigne
fundamentais dos cidadãos. Todas Clovis Beviláqua: «A ordem geral
as restantes leis cujos requisitos a obrigatória que, emanando de
Constituição enumera, represen- uma autoridade competente, re-
tam algo de consecutivo e, por con- conhecida, é imposta coativa-
seguinte, de logicamente subordi- mente à obediência de todos».
nado, tendo precisamente por base com este sentido ético, de esta-
a organização constitucional do Es- belecer, erga omnes, norma de
tado» (Giorgio Del Vecchlo,« Li- conduta de todas as ações, que a
ções de Filosofia do Direito», trad., Constituição Federal estabelece,
de Antonio José Brandão, 4? ed. se- no art. 119, inciso I, letra 1 a com-
gundo a 10? ed. italiana, Colecção petência do Supremo Tribunal Fe-
Studium, Coimbra, 1972, pág. 155). deral para julgar «a representação
que é lei? do Procurador-Geral da República,
por inconstitucionalidade ou para
De Plácido e Silva, em seu con- interpretação de lei ou ato norma-
sagrado «Vocabulário Jurídico», tivo federal ou estadual».
assim a define:
«No conceito jurídico, dentro de Del Vecchio, ainda a lição
de seu sentido originário, é a sobre o sentido ético da lei verbis:
regra jurídica escrita, instituída «A lei é o pensamento jurídico
pelo legislador, no cumprimento deliberado e consciente, formula-
de um mandato, que lhe é outor- do por órgãos especiais, que re-
gado pelo povo. presentam a vontade predomi-
Considerando-a neste aspecto, nante numa sociedade. A lei é,
que Galus a definiu: Lex est pois, a manifestação solene do
quod populus jubet et constituit Direito, a sua expressão racio-
( ... aquilo que o povo ordena e nal. Só nesta forma a elaboração
constitui) técnica do Direito atinge maior
Está aí revelada a natureza de perfeição.
jus scriptum, que é a própria lei. A lei é, simultaneamente, pen-
Não é outro o sentido que nos samento e vontade, pois com-
dá Justiniano, nas Institutas de prende uma determinação lógi-
seu Corpus Juris Civllis: quod po- ca e um acto de império. Na defi-
pulus Romana Sematore magls- nição de Crisipo, o estóico, con-
traiu interrogante, veluti consule servada pelas fontes romanas, a
constituebat. lei — dando-se à palavra o senti-
do mais elevado e geral — «é a
A lei, pois, é o preceito escrito, rainha de todas as coisas, assim
formulado solenemente pela au- divinas como humanas, critério
toridade constituída, em função do justo e do injusto; e, para

R.T.J. — 108 509

aqueles que da natureza são cha- ordenado de regras. Para que,


mados para a vida civil, precep- porém, se possa empregar, com
tora do que se deve fazer, proibi- rigor, o termo lei não basta que
dora do que se não deve fazer» haja normas ou um sistema de
(Dig. I. 3,2). normas escritas, pois escritas
(Giorgio Del Vecchio, op cit.). são também normas dos regula-
A lei a que se refere o constituin- mentos, decretos, resoluções,
te é a norma jurídica, o regramen- portarias, avisos etc...
to jurídko. Lei em sentido mate- Lei, no sentido técnico desta
rial. Se assim não fosse, o texto palavra, só existe quando a nor-
constitucional não admitiria, como ma escrita é constitutiva de
alternativa explicitante, a repre- direito, ou, esclarecendo melhor,
sentação contra o ato normativo. quando ela introduz algo de novo
Se quisesse generalizar a lei, ge- com caráter obrigatório no siste-
neralizaria — também — o ato. ma jurídico em vigor, discipli-
nando comportamentos indivi-
Miguel Reale é enfático ao fixar duais ou atividades públicas. O
a compreensão do termo lel como nosso ordenamento jurídico se
fonte do direito: subordina, com efeito, a uma
gradação decrescente e prioritá-
«São mais freqüentes do que se ria de expressões de competên-
pensa os equívocos que rondam a cia, a partir da lel constitucional,
palavra «lei». Já tivemos ocasião a qual fixa a estrutura e os feixes
de salientar que, em sua acepção de competência de todo o sistema
genérica, lei é toda relação ne- normativo. Nesse quadro, somen-
cessária de ordem causal ou fun- te a lei, em seu sentido próprio, é
cional, estabelecida entre dois ou capaz de inovar no Direito já
mais fatos, segundo a natureza existente, isto é, de conferir, de
que lhes é própria. E nesse senti- maneira originária, pelo simples
do amplo que nos referimos tanto fato de sua publicação e vigên-
às leis éticas como às sociais, ou cia, direitos e deveres a que to-
às físico-matemáticas. dos devemos respeito.
As leis éticas, todavia, quando A essa luz, não são leis os regu-
implicam diretivas de comporta- lamentos ou decretos, porque es-
mento, pautando objetivamente tes não podem ultrapassar os li-
as formas de conduta, consoante mites postos pela norma legal
também já foi exposto, se deno- que especificam ou a cuja execu-
minam propriamente normas, ção se destinam...» (Miguel Rea-
abrangendo as normas morais, le, «Lições Preliminares de
as jurídicas e as de trato social, Direito», Saraiva, 4? ed. 1977,
também chamadas de costume págs. 162/163).
social.
A interpretação e a compreen-
Pois bem, dentre as espécies são da regra jurídica.
de normas ou regras se destaca a
norma legal, que, por natural va- A pretensão do suplicante, qual
riação semãntica, se denomina seja a de ver submetida ao exame
pura e simplesmente, «lei». do Supremo Tribunal Federal a
constitucionalidade de um decreto
Quando, por conseguinte, nos legislativo que aprovou a indicação
domínios do Direito, se emprega do Deputado Mário Covas Júnior
o termo lei o que se quer signifi- para ocupar o cargo de Prefeito de
car é uma regra ou um conjunto São Paulo, com o que se deu cum-
510 R.T.J. — 108

primento a uma regra jurídica (ar- tra Reale: o referido decreto-


tigo 15, § 1?, letra «a», da Constitui- legislativo «não pode ultrapassar
ção Federal), nos leva á herme- os limites postos pela norma legal
nêutica jurídica (Carlos Maxi- (constitucional, artigo 15, § 1?, le-
mlliano) porque, assim entende- tra «a», da CF), a cuja execução
mos, se o Procurador-Geral da Re- se destina» (cf. Miguel Reale, tre-
pública, usando da prerrogativa cho citado).
constitucional de dominus Mis na
representação de constitucionalida- A essa conclusão se chega ao
de, já reconhecida pela Excelsa adotar-se a metodologia da inter-
Corte (Reclamação n? 849-DF, no pretação e da compreensão de que
caso «MDB», RTJ 59/333) e reafir- fala Karl Engisch: por «diferentes
mada nos acórdãos da Petição n? métodos e pontos de vista interpre-
66-8-DF (RTJ 100/1) e da Reclama- tativos, a saber: a interpretação
ção n? 152-1-SP (DJ de 11 de maio segundo o teor verbal (a interpre-
de 1983, p. 6.292), entende de não tação «gramatical»), a interpreta-
encampar a súplica, determinando ção com base na coerência (cone-
o seu arquivamento, pratica ai ato xidade) lógica (a interpretação
de jurisdição. E a jurisditio aqui «lógica» ou «sistemática», que se
não é a mesma dos antigos, inspi- apoia na localização de um precei-
rada nas divindades e nas crenças to no texto da lei e na sua conexão
da Religião (Fustel de Coulanges). com outros preceitos), a interpre-
2 ato do Estado-jurisdição, separa- tação a partir da conexidade histó-
do da Religião como o está tam- rica, particularmente a baseada na
bém o Direito. Assim, indispensá- «história da gênese do preceito», e
vel são os fundamentos jurídicos a finalmente a interpretação basea-
embasar a decisão do dominus da na ratio, no fim, no «fundamen-
to» do preceito (a interpretação
«teleológica»). Sob esta forma ou
A prerrogativa constitucional do semelhante, as quatro espécies de
Procurador-Geral deriva-se do es- interpretação pertencem em certa
tabelecido no artigo 119, inciso I, medida, deste Savigny, ao patri-
letra 1 da Constituição Federal: ao mónio adquirido da hermenêutica
Supremo Tribunal Federal compe- jurídica» (Karl Engisch, «In-
te processar e julgar originaria- trodução do Pensamento Ju-
mente a representação do Pro- rídico, Fundação Calouste Gul-
curador-Geral da República, por benkian, Lisboa, trad. de J. Bap-
inconstitucionalidade (melhor se- tista Machado, 3? edição).
ria: de constitucionalidade) ou pa-
ra interpretação de lei ou ato nor- O texto constitucional admite a
mativo federal ou estadual. Eis representação contra lei ou ato
ai, grifado o pressuposto básico pa- normativo. Gramaticalmente, lei é
ra a provocação do «processamen- lel e, decreto-legislativo, lei não é
to»: que se trate — o diploma legal É assente na hermenêutica do di-
malsinado — de lei ou ato normati- reito constitucional que a Constitui-
vo federal ou estadual. O outro ção não contém palavras supér-
pressuposto é o que decorre do fluas; assim não é hábito interpre-
confronto da lel ordinária com a lei tativo entender-se como lei todos
constitucional. O ato em exame é aqueles atos cujo processo legis-
um decreto-legislativo; não é lei lativo a Constituição disciplina.
em sentido formal; não o é, tam- Quando a constituinte se refere à
bém em sentido material, no seu lei, esta há de ser entendida como
sentido mais puro, como o demons- norma, preceito, regra, principio,

R.T.J. — 108 511

do latim lege: «regra de direito di- possível, o que estabelece a Consti-


tada pela autoridade estatal e tor- tuição: lei + ato normativo = ato.
nada obrigatória para manter, nu- Não podia o legislador generalizar
ma comunidade, a ordem e o de- o que o constituinte especificou, is-
senvolvimento» (Aurélio). Nesse to é, tratar como ato (genérico,
sentido, compreende-se o decre- normativo ou não) a lel e o ato
to-lei. Parece não ser, entretan- (que não lel); mas podia, sim (e o
to, suficiente a interpretação gra- fez), generalizar no campo das es-
matical, porque o decreto-legis- pecialidades: lei (regra, norma de
lativo bem como as resoluções conduta) + ato normativo = ato
da(s) Casa(s) Legislativa(s) po- (art. 170 do RISTF) Essa conexi-
dem destinar-se a regrar, compon- dade dos preceitos (Constituição:
do o ordenamento jurídico. lei ou ato normativo; Constituição
+ Regimento Interno e, exclusiva-
mente regimental, art. 169 c/c art.
A uma definição se chega ao 170), conduz à conclusão de que o
adotar-se o segundo método de in- decreto-legislativo em exame não é
terpretação: o da coerência lógica, controlável por ação direta de
interpretação lógica ou sistemáti- constitucionalidade.
ca. Se quisesse o constituinte gene-
ralizar os atos a serem submetidos
ao controle de constitucionalidade No terceiro método de interpre-
por ação direta, não teria acres- tação (conexidade histórica, histó-
centado a segunda espécie (ato ria da gênese do preceito), o exa-
normativo) com o que transformou me fica delimitado ao direito brasi-
a primeira (lei) de género em leiro: o controle de constitucionali-
espécie. Se o ato é normativo, tam- dade por ação direta. Segundo li-
bém a lei será a norma, a regra ção do eminente Mestre Alfredo
jurídica de conduta, com todos os Buzaid, hoje ocupando uma curul
caracteres informados por Paulo na Excelsa Corte, o controle de
Dourado de Gusmão: bilaterall- contitucionalidade, herdado do
dade, generalidade (estabelece direito constitucional norte-ame-
um padrão de conduta social, um ricano, paradigma dos regi-
standar jurídico), imperatividade mes democráticos representativos,
e coercibilidade. Por outro la- passou a ser feito no Brasil, por
do, a norma jurídica constitucio- ação direta com a promulgação da
nal em exame, tem seu desdobra- Lei n? 2.271, em 22 de julho de 1954,
mento, é regulamentada no Ti- que «conferiu ao Procurador-Geral
tulo VI, Capitulo I, artigos 169 a da República legitimidade para ar-
187 do Regimento Interno do Su- güir a inconstitucionalidade de ato
premo Tribunal Federal Nesse (grifamos), que infrinja algum dos
codex, é estabelecido que «o Pro- preceitos assegurados no artigo 7?,
curador-Geral da República po- VII, da Constituição Federal (art.
derá submeter ao Tribunal, me- 1?)» Buzaid, «Da Ação Direta de
diante representação, o exame de Declaração de Inconstitucionalida-
lei ou ato normativo federal ou es- de no Direito Brasileiro», Saraiva,
tadual, para que seja declarada a São Paulo, 1958, p. 101). Pois bem.
sua inconstitucionalidade». Logo a Até aqui, o ordenamento jurídico
seguir, no art. 170, estabelece o le- pátrio instituíra a ação direta (a
gislador: «o Relator pedira in- representação, expressão condena-
formações à autoridade da qual da por Buzaid) em caráter
tiver emanado o ato...» Que interventivo. No trecho citado, o
ato? Generalizou-se aqui, até onde insigne processualista cita comen-

512 R.T.J. — 108

tário de Pontes de Miranda sobre damente decidindo o Supremo Tri-


esse então novo instituto, nestes bunal Federal, ( v.g. RE 97.078-9-
termos: SP, relator o Min. Soares Muiloz,
«O Procurador-Geral da Repú- julg. em 30-11-82 — DJ de 18-3-83,
blica provoca em representação, p. 2.979); a outra — representação
o pronunciamento do Supremo de inconstitucionalidade de lei em
Tribunal Federal sobre a lei tese — pela sua própria natureza,
(Constituição Estadual, lei orgâ- dirige-se à norma jurídica, regra
nica estadual ou lei estadual de «conduta em interferência inter-
ordinária), ou ato que seja, por subjetiva» (Carlos Cossio), e é
si, inobservância dos princípios prerrogativa exclusiva do
constitucionais especificados no Procurador-Geral da República o
art. 7?, VII, a a g da Constitui- encaminhamento da representação
ção. ...» (grifamos lei orgânica do Supremo Tribunal Federal, pro-
estadual ou lei ordinária) vocando a ação direta.
Foi a Emenda Constitucional n? Quanto ao último método de in-
16, de 1965, que instituiu a terpretação (teleológica), há de se
representação contra inconstitucio- considerar que a finalidade é a hi-
nalidade de lei em tese e o fez nes- gidez do ordenamento jurídico pá-
tes termos: trio, enquanto espectro de regras
«Art. 101. Ao Supremo Tribunal de conduta, de normas jurídicas
Federal compete: com todos os seus caracteres a que
se refere Paulo Dourado de
I — processar e julgar origina- Gusmão. E o confronto da lei
riamente: ordinária com a lel constitucional,
para que seja preservada a legiti-
midade da lei per se e, ultima
K) a representação contra in- ratio, do próprio ordenamento.
constitucionalidade de lei ou ato Válida, nesse passo, a lição de
de natureza normativa, federal Gustav Radbruch:
ou estadual, encaminhada pelo
Procurador-Geral da República».
A representação interventiva No ponto de vista da «teoria
prevista no artigo 7?, inciso VII, da jurídica da obrigatoriedade do di-
Constituição recebeu nova regula- reito», de que acima nos ocupa-
mentação através da Lei n? 4.337, mos, não é só o problema das re-
de 1? de junho de 1964. E a repre- lações entre dois preceitos jurí-
sentação para declaração de in- dicos dentro duma determinada
constitucionalidade de lei em tese «ordem jurídica» — como, por
continua regulamentada pelo Regi- exemplo, entre uma lei e a res-
mento Interno do Supremo Tribu- pectiva constituição — que pode
nal Federal. A coexistência das ser objeto de investigação. Pode-
duas no ordenamento jurídico bem o também ser o das relações en-
demonstra que uma — a inter- tre as diversas «ordens jurídi-
ventiva — ataca o ato (que po- cas» ou sistemas jurídicos objec-
de ou não ser lei); para esta é tam- tivos que na história se sucedem
bém competente o Chefe do Minis- uns aos outros. Aplicada à histó-
tério Público Estadual, por sime- ria, a «teoria jurídica da obriga-
tria, para propõ-la quando inconsti- toriedade do direito» dá origem à
tucional lei municipal em face do chamada «teoria da legitimida-
princípio indicado na Constituição de», ou seja, uma doutrina nine
Estadual, consoante vem reitera- sustenta não ser qualquer
R.T.J. — 108 513

dem jurídica», que de novo sur- impugna o ato do Poder Legislati-


ge, senão um desenvolvimento vo bandeirante, apenas sob o as-
regular daquela que a precedeu; pecto do quorum de votação, maté-
só sob esta condição ela pode ria disciplinada no Regimento In-
conservar a sua obrigatoriedade. terno da Casa Legislativa.
Pelo contrário, esta obrigatorie- Del Vecchio condena o aprofun-
dade e -validade devem ser nega- damento do controle da constitu-
das a toda a «ordem jurídica» cionalidade das leis, quando o juiz,
que não puder justificar-se em ultrapassando os lindes da averi-
face da antecedente. O «direito guação extrínseca e formal, aden-
deve sempre continuar a ser di- tra no aspecto intrínseco, na gêne-
reito. «(Gustav Radbruch», Filo- se do ato. E preleciona:
sofia do Direito, Trad. do Prof.
L. Cabral de Moncada. Colecção
Studium, Arménio Amado, Edi- Ele (o juiz) não é competente,
tor, Coimbra, 1979). por exemplo, para examinar a
O que pede o suplicante? validade dos procedimentos in-
ternos da Câmara e do Senado, a
Analisada toda a súplica nela regularidade das votações, etc.
não se encontra uma fundamenta- (interna corporis).
ção jurídica que indique o que pre-
tende o signatário, se a representa- Para as irregularidades in-
ção para declaração de inconstitu- trínsecas, funcionamento dos ór-
cionalidade de lei em tese, autori- gãos legislativos falta ainda o
zada pelo artigo 119, inciso I, letra remédio judicial. O único meio
1, ou se a representação interventi- que nos resta é fiarmo-nos na
va prevista no artigo 11, § 1?, letra correção dos próprios órgãos e,
c, da Constituição Federal. como ultima ratio, no tribunal
Presente, porém, o princípio de de história, isto é, nas sanções da
direito judiciário da mini factum, consciência jurídica popular». (o-
dabo tibi Jus. bra citada).
A conclusão do Exmo. Sr. Pro- Se assim é no direito peninsular,
curador-Geral da República foi não é diferente no direito brasilei-
no sentido de que a súplica objeti- ro. Francisco Campos, apud Hely
va a representação para declara- Lopes Meirelles («Direito Adminis-
ção de inconstitucionalidade de lei trativo Brasileiro», Ed. Revista
em tese visto não haver possibili- dos Tribunais, 6? ed., 1978), tam-
dade Jurídica, de plano evidente, bém sustenta a intangibilidade dos
para o pedido de intervenção; as- lura interna corporis:
sim acolheu-a, para posterior exa- «Tal é a doutrina que prevale-
me de mérito. Mas também não ce para todas as corporações le-
cabe, à luz de um exame enrique- gislativas, como bem informa
eido com as informações da Repre- Francisco Campos, ao cuidar dos
sentada, a ação direta de inconsti- interna corporis do Congresso
tucionalidade prevista no artigo Nacional, em erudido parecer:
119 da Constituição. «Contesto, com efeito, assim ao
Mesmo que ultrapassada fosse a Poder Judiciário, como a qual-
preliminar de admissibilidade, en- quer outro Poder, a faculdade de
redar-se-ia, no exame da ação, entrar na indagação do processo
no tormentoso tema do controle interna corporis de formação da
jurisdicional dos lura interna lei. Esta faculdade não se con-
corporis, posto que o suplicante funde com a outra, desde sempre

514 R.T.J. — 108

pacífica do Direito americano, cia concorrente dos poderes» no


que cabe ao Poder Judiciário de capitulo da Presunção da Constitu-
contrasteando os atos do Con- cionalidade (p. 91):
gresso com as disposições consti- «E princípio assente entre os
tucionais, verificar se tais atos se autores, reproduzindo a orienta-
encontram na esfera de ção pacifica da jurisprudência,
competência (grifamos), traçada que milita sempre em favor dos
pela Constituição aos Poderes atos do Congresso a presunção de
por ela instituídos e no próprio constitucionalidade. E que ao
ato da instituição definidos e li- Parlamento, tanto quanto ao Ju-
mitados». diciário, cabe a interpretação do
«Esta faculdade — prossegue o texto constitucional, de sorte,
saudoso publicista — reconhecida que, quando uma lei é posta em
ao Poder Judiciário decorre, in- vigor, já o problema de sua con-
questionavelmente, da natureza formidade com o Estatuto Políti-
do nosso governo, que é um go- co foi objeto de exame e aprecia-
verno de poderes limitados, cada ção, devendo-se presumir boa e
um dos Poderes, de que se com- válida a resolução adotada».
põe o governo, tem a sua compe-
tência demarcada no instrumen- Sem perder o norte de que é re-
to constitucional e, assim, os servada ao Poder Judiciário a
seus atos só se terão por válidos competência para o controle da
se compreendidos na esfera de- constitucionalidade das leis, o cer-
marcada pela Constituição. São to é que a estabilidade do Estado
duas questões distintas, como se repousa na presunção da legitimi-
vê: uma que se refere à compe- dade dos seus Poderes Políticos e
tência do órgão isto é, à legitimi- dos atos deles emanados. Assim é
dade dos seus poderes; outra que, que, somente por exceção, atua o
liquidada a questão da competên- controle jurisdicional sobre a legi-
cia, se refere à observância das Umidade da norma jurídica. E é
formalidades, ritos ou processos corolário desse principio geral o
prescritos ao órgão no exercício especial de que toda lei é presumi-
de suas funções». velmente constitucional; a constitu-
cionalidade da lei é presumível, a
(Francisco Campos, «Parece- inconstitucionalidade, porém, não
res», 1937, 1? série, pág. 19 e segs., se presume; exige-se-lhe evidên-
citado in Hely op. cit.). cias para que seja declarada: deve
ser clara, completa e inequívoca.
A propósito, é sempre oportuno o
Certo que Luci() Bittencourt ad- ensinamento de Thomas Cooley
mite o controle jurisdicional na hi- («A Treatise on the Constitucional
pótese de critérios de votação (n? limitations», 1890):
de votantes, tipo de votação, se se- «every reasonable doubt must
creta ou nominal) (A. C. Lucio be resolved in favor of the statu-
Bittencourt, «O Controle Jurisdi- te, not agaist it».
cional da Constitucionalidade das
Leis» Forense, 2? ed., 1968, p. 81). Sob esse prisma, a malsinada
Também Hely, discordando de elaboração legislativa do ato que
Francisco Campos (obra citada). aprovou a indicação do novo Pre-
Entretanto, Lucio Bittencourt, em feito também não evidencia incons-
outro tópico de sua magistral mo- titucionalidade. Único suporte da
nografia, assim se pronuncia quan- súplica, o fato do Presidente da As-
to ao que designa por «competên- sembléia ter votado duas vezes,

R.T.J. — 108 515

uma como parlamentar e outra co- O parecer é pela improcedência


mo Presidente, não chega a violar da Representação». (fls. 72/88).
qualquer mandamento constitucio- E o relatório.
nal, mesmo o especifico de quo-
rum (artigo 31 da Constituição) que
estabelece, verbis: VOTO
«Salvo disposição constitucio-
nal em contrário, as deliberações O Sr. Ministro Decio Miranda (Re-
de cada Câmara serão tomadas lator) — Desnecessário ouvir-se o
por maioria de votos, presente a Governador do Estado, cujo ato, de
maioria dos seus membros». indicação do nome para Prefeito,
A cópia da folha de verificação não é, em si mesmo, objeto de con-
da votação e as notas taquigráficas testação ou dúvida, sob o aspecto da
demonstram que a maioria dos de- constitucionalidade.
putados dela participou resultando Passo ao exame da argüição de In-
o empate, com o voto do Deputado constitucionalidade.
Néfi Tales; invocando o artigo 18,
2?, da III Consolidação do Regi- A matéria dos autos, que mereceu
mento Interno o Presidente da As- as eruditas manifestações de que dá
sembléia, que é o mesmo Deputado conta o relatório, é de solução óbvia,
Néfi Tales, votou sim, desempatan- ante a natureza e o escopo do institu-
do favoravelmente a indicação do to da representação por inconstitu-
novo Prefeito da cidade de São cionalidade, de que cuida o art. 119,
Paulo, Deputado Mário Covas I, letra 1, da Constituição Federal.
Júnior Numa interpretação autên-
tica com a maioria (quase totali- Ai se prevê a «representação do
dade) dos deputados presentes, Procurador-Geral da República, por
entendeu-se, naquela sessão, admi- inconstitucionalidade ou para inter-
tir o Regimento que o Presidente pretação de lei ou ato normativo fe-
poderá, excepcionalmente, votar deral ou estadual».
nos casos de empate, de escrutínio
secreto ou de votação nominal; Para exigir-se atuação do Supre-
concorriam duas dessas três hipó- mo Tribunal Federal nessa especial
teses, exatamente aquelas onde o modalidade do elenco de sua compe-
Presidente interviria duas vezes na tência constitucional, há de achar-se
votação: a primeira porque, sendo presente norma em tese e não a
votação nominal, votou na ordem providência especifica que com sua
de chamada, dando cumprimento invocação se tenha tomado.
ao Regimento; a segunda verificar- No caso, trata-se de provisão de
se-la depois, e só depois, isto é, em cunho concreto, boa ou má aplica-
havendo empate na votação. Ocor- ção, mas não criadora de comando
reu o empate e o mesmo dispositi- em tese, despida de qualquer atribu-
vo regimental autorizava-lhe desem- to de abstração, generalidade ou uni-
patar, como voto de Minerva. versalidade.
Não se entremostra, a esta análi- Se fez a Assembléia Legislativa
se, qualquer descumprimento do acertado ou errôneo uso da norma, o
Regimento. Este a seu turno não decidir a respeito não cabe no âmbi-
foi posto à confrontação com a to da representação por inconstitu-
Constituição pelo suplicante. Não cionalidade, segundo o previsto no
vemos, pois, nenhuma eiva de in- inciso, da Lei Maior, concernente à
constitucionalidade. ação direta de inconstitucionalidade.
516 R.T.J. — 108

Isto posto, não conheço da repre- EXTRATO DA ATA


sentação.
E o meu voto. Rp 1.160-SP — Rel.: Ministro Decio
Miranda. Repte.: Procurador-Geral
VOTO (PRELIMINAR) da República. Repdo.: Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo.
O Sr. Ministro Francisco Rezek — Decisão: Não se conheceu da Re-
Sr. Presidente, examinando o art. 44 presentação, unanimemente. Votou o
da Constituição que fala daquelas Presidente.
competências que o Congresso Na-
cional exerce mediante decreto- Presidência do Senhor Ministro
legislativo, verifico que dois incisos Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
dão ensejo, talvez, à edição de algo os Senhores Ministros Djaci Falcão,
que se poderia ver como ato norma- Moreira Alves, Soares Mufloz, Decio
tivo atacável em representação. Via Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
de regra, o decreto-legislativo traduz veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
ato congressional singular, sem índo- Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
le normativa. Tal o que sucede com Procurador-Geral da República,
este cuja inconstitucionalidatib ora Substituto, o Dr. Mauro Leite Soa-
se argúi. res.
Com o eminente Ministro-Relator, Brasília, 5 de outubro de 1983 —
não conheço da representação. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.368 — ESTADOS UNIDOS MEXICANOS


Relator: O Sr. Ministro Cordeiro Guerra, Presidente.
Reqtes.: Roberto de Almeida Dultra e Elaine Marie Dultra, em solteira
Elaine M. Finlay (Advs.: José Alberto Marinho Soares e outros) — Reqdos.:
os mesmos.
Sentença Estrangeira. Divórcio. Cônjuge brasileiro. Eleição do fo-
ro — Após a adoção do divórcio no Brasil, está superada a jurispru-
dência anterior que não admitia a competência da justiça alienígena,
pelo princípio da eleição do foro.

Vistos. Brasil no México, D.F. ( fls. 14), bem


assim a respectiva tradução feita
Roberto de Almeida Dultra e Elai- por tradutor oficial no Rio de Janei-
ne Marie Dultra, ele, brasileiro e ela ro (fls. 10/13). Comprovaram, ainda,
norte-americana, residentes e domi- o trânsito em julgado da decisão.
ciliados no Rio de Janeiro e em São
Paulo, respectivamente, requereram Ouvida, a Procuradoria Geral da
a homologação de sentença de 9 de República, solicitou, inicialmente, a
julho de 1981, pela qual a Justiça do comprovação da competência da
México dissolveu por divórcio abso- Justiça mexicana, para o processo
luto, o casamento que os unira, nos do divórcio.
Estados Unidos, a 25 de março de Solicitada a pronunciar-se, nova-
1972. mente, em face da jurisprudência ci-
Os requerentes juntaram certidão tada no despacho de fls. 19, assim se
da sentença homologanda, autentica- manifestou, em parecer do
da pelo representante consular do Subprocurador-Geral, Dr. Mauro_
R.T.J. — 108 517

Leite Soares, aprovado pelo ilustre vê a submissão expressa de am-


Dr. Procurador-Geral (fls. 21/23): bas as partes ao foro dominicano
«Esta Procuradoria-Geral da Re- como fundamento legitimo de
pública, atendendo ao v. despacho sua competência, e opina, atenta
presidencial de fls. 19, que alude à nova redação do art. 7?, § 6?,
aos julgados proferidos nas Senten- da Lei de Introdução ao Código
ças Estrangeiras de n?s 2.4% e Civil, pela homologação irrestri-
2.497, vem, respeitosamente, dizer ta.»
que, realmente, existe semelhança
entre os invocados paradigmas e o O precedente em questão, como
caso ora em exame. outros que se lhe seguiram de ma-
Na SE n? 2.496, RTJ 88/46, a neira idêntica, foi originário da Re-
Egrégia Presidência Thompson pública Dominicana, constando da
Flores adotou os fundamentos do sentença homologanda que os di-
parecer do então Procurador da vorciandos submetiam-se expres-
República, Eminente Ministro samente ao foro dominicano. Por
Francisco Rezek, nos seguintes isso, declarou-se na ementa da SE
termos conclusivos: 2.496: «Após a adoção do divórcio
no Brasil, está superada a juris-
«Antes do advento da Emenda prudência anterior que não admi-
Constitucional n? 9, semelhante tia a competência da Justiça
alienígena, pelo principio da elei-
sentença enfrentaria o óbice ção do foro.»
fluente da incompetência do
juízo, vez que, em exceção à re-
gra válida para as demais sen- E certo que na sentença ora em
tenças de caráter civil, as de di- exame, originária da República do
vórcio se haviam por refratárias México, não se declara expressa-
à eleição do foro. Impunha-se, mente que os interessados se sub-
com efeito, que o domicílio ou a metem ao foro mexicano. Parece-
nacionalidade previnculassem as nos, porém, que tal diferença é
partes, ou quando menos uma de- apenas de forma e não de conteú-
las, ao foro processante. do, ou de fundamento, pois se os
divorciandos, ora requerentes, in-
Tal restrição, de origem estri- gressaram na Justiça mexicana
tamente pretoriana, fundava-se com o pedido de divórcio é porque,
no ânimo de coibir a fraude à lei, realmente, elegeram e submete-
sob a forma de evasão ao foro ram-se ao foro escolhido. A seme-
natural, acaso inábil para a de- lhança dos fundamentos jurídicos
cretação do divórcio absoluto. permite a mesma conclusão judi-
Não porque fosse expressivo o cial.
número de nações adotantes do As demais formalidades legais e
matrimónio indissolúvel, mas regimentais foram obedecidas, isto
precisamente por ser o Brasil, é, a sentença é irrecorrível, fls. 10
uma das poucas que guardavam verso, traz a chancela consular
semelhante postura. brasileira, fls. 14, e foi objeto de
Não encontra a Procuradoria- tradução autêntica.
Geral, ante nossa ordem jurídica
presente, razão lógica para pug- Em face dessas considerações e
nar pela sobrevivência da aludi- tendo em vista os precedentes indi-
da exceção. Por isso, na espécie, cados, que se assemelham ao caso

518 R.T.J. — 108

presente, permitimo-nos modificar tos do parecer transcrito, homologo


nosso pronunciamento anterior e a sentença de que se trata, sem res-
opinamos pela homologação reque- trições para ambos os cônjuges a
rida, restrito, porém, o direito das partir de 9 de julho de 1984, e, até
partes a novo casamento a que an- então, com efeitos equivalentes aos
tes decorra o prazo marcado no § da separação judicial do direito bra-
6? do art. 7? da LICC, na redação sileiro.
que lhe deu o art. 49 da Lei o? Brasília, 19 de março de 1984 —
6.515/77.» Ministro Cordeiro Guerra, Presiden-
Isto posto, adotando os fundamen- te.

SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.373 — JAPÃO


Relator: O Sr. Ministro Cordeiro Guerra, Presidente.
Reqtes: Tokio Hirakawa e Kameyo Hirakawa, em solteira Kameyo To-
kuda. (Advs.: Tuyoci Ohara e outros). — Reqdos.: Os mesmos.
Divórcio por mútuo consentimento, registrado perante autoridade
administrativa. Sistema Jurídico japonês. Homologação concedida.
Vistos. O documento comprobatório do
Tokio Hirakawa e Kameyo Hiraka- registro definitivo, passado em Ta-
wa, ambos japoneses, ele comercian- kahashi, Japão, em 1983, equivale
te e ela do lar, residentes e domici- à sentença irrecorrivel para efeito
liados em São Paulo, requereram a de homologação, na conformidade
homologação do seu divórcio por da jurisprudência do Egrégio Su-
mútuo consentimento, realizado em primo Tribunal Federal, consubs-
22 de novembro de 1983, data da tanciada nas SSEE n?s 2.251, 2.891,
aceitação e registro, perante o Pre- 3.298 e 3.213.
feito da cidade de Takahashi, no Ja- Assim, respeitada a peculiarida-
pão, da declaração apresentada pelo de do procedimento, dúvida não há
casal, conforme as leis locais. quanto à competência da autorida-
Os requerentes juntaram certidão de distrital para acolher o registro,
do registro do divórcio, autenticada quanto ao seu caráter definitivo ou
pelo representante consular do Bra- quanto à presença e à livre mani-
sil em Tóquio (fls. 6), bem assim a festação de vontade dos divorcian-
respectiva tradução feita por tradu- dos na realização do ato.
tor oficial em São Paulo (fls. 9/10).
Dispensada qualquer citaçao, as- O documento comprobatório traz
sim se manifestou a douta a chancela consular brasileira, fls.
Procuradoria Geral (fls. 15/16): 6, e foi objeto de tradução autênti-
«Tokio Hirakawa e Kameyo Hi- ca.
rakawa, japoneses, trazem à ho- Pela homologação requerida.»
mologação decreto municipal de Isto posto, nos termos do parecer
concessão de divórcio por mútuo transcrito, homologo o divórcio de
consentimento que, no sistema q ue se trata.
jurídico japonês, registrou-se pe- Brasília, 19 de março de 1984 —
rante autoridade administrativa, Ministro Cordeiro Guerra, Presiden-
independendo de manifestação ju- te.
dicial.
R.T.J. — 108 519

CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.358 — PR


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Suscitante: Tribunal Regional do Trabalho da 9? Região — Suscitado:
Juiz Federal da 3! Vara da Capital — Interessados: Zuleide de Souza Caldas,
Fundação Legião Brasileira de Assistência — LBA e Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social — INAMPS, representados pelo
IAPAS.
?trabalhista. Competência. Empregado da LBA lotado em Mater-
nidade que passou ao INAMPS. Lei n? 6.439/77, que instituiu o SIN-
PAS. Competência da Justiça Federal.
Tendo em vista o disposto no f 1? do art. 21 da Lei 6.439, de 1977,
embora sem alteração do regime jurídico que possuíam e sem pre-
juízo de seus direitos e vantagens, os empregados da LBA integrantes
da lotação de órgãos cujas competências foram transferidas para
qualquer das entidades do SINPAS, passaram, automaticamente, a
ter exercício nas novas entidades, nas mesmas localidades, mas não
lhes foi assegurado que continuariam sendo empregados da LBA, eis
que os órgãos em que eles serviam deixaram de pertencer àquela Le-
gião.
De qualquer sorte, ante o preceituado no art. 32 da mesma Lel
6.439/77, as obrigações trabalhistas decorrentes das alterações por ela
trazidas ficaram afetas ao INAMPS e, assim, a competência para o
processamento e julgamento do litígio de tais empregados passou à
área da Justiça Federal, em face do art. 110 da Constituição Federal.
ACÓRDÃO A espécie dos autos assim pode ser
exposta, em resumido:
Vistos, relatados e discutidos estes
autos, acordam os Ministros do Su- Zuleide de Souza Caldas, alegando
premo Tribunal Federal, em sessão ser empregada da Fundação Legião
plenária, na conformidade da ata do Brasileira de Assistência, ajuizou re-
julgamento e das notas taquigráfi- clamação trabalhista contra esta,
cas, por unanimidade de votos, co- reivindicando direitos trabalhistas,
nhecer do conflito e declarar compe- que lhe estariam sendo negados.
tente o MM. Juiz da 3? Vara Federal Ingressou, então, nos autos o Insti-
da Capital. tuto Nacional de Assistência Médica
Brasília, 15 de junho de 1983 — da Previdência Social-INAMPS, sus-
Cordeiro Guerra, Presidente — Aldir tentando que ele é que era parte
Passarinho, Relator. legítima, no feito, para oferecer con-
RELATÓRIO testação, e não a Fundação LBA. É
que, pela Lei n? 6.439, de 1? de se-
O Sr. Ministro Aldir Passarinho tembro de 1977, que instituíra o Sis-
(Relator): Trata-se de conflito de tema Nacional de Previdência e As-
competência, sendo suscitante o C. sistência Médica da Previdência So-
Tribunal Regional do Trabalho da 9! cial (SINPAS), fora criado, através
Região e suscitado o MM. Juiz Fede- do art. 3?, o Instituto Nacional de As-
ral da 3? Vara da Seção Judiciária sistência Médica da Previdência So-
do Estado do Paraná. cial (INAMPS), cujo patrimônio fi-
520 R.T.J. — 108

cou constituído pelos bens que o sistência, no tocante ao contrato de


INPS, FUNRURAL, LBA e IPASE trabalho da reclamante, pelo que
utilizavam na prestação de assistên- sendo aquele Instituto uma autar-
cia médica. Em face disso, e consi- quia, a competência era da Justiça
derando que a reclamante prestava Federal. Em face disso, suscitou
serviços na Maternidade de Parana- conflito de competência perante esta
guá, antigamente vinculada à LBA e Corte.
atualmente ao INAMPS, este é que Subindo os autos, veio a ma-
havia de responder à reclamatória. nifestar-se a douta Procuradoria-
Em face disso, o INAMPS suscitou Geral da República pela competên-
exceção de incompetência do Juizo cia da Justiça do Trabalho.
trabalhista, afirmando ser compe- o relatório.
tente a Justiça Federal.
A Junta de Conciliação e Julga-
mento à qual fora distribuído o feito, VOTO
acolheu a exceção de incompetência
e remeteu os autos à Justiça Fede-
ral, mas o MM. Juiz, ora suscitado, O Sr. Ministro Aldir Passarinho
igualmente entendeu que não lhe ca- (Relator): Conflito que se identifica
bia processar e julgar a reclamató- com o dos autos, posto que, tanto co-
ria, posto que fora ela movida contra mo no presente caso, tratava de re-
a Fundação LBA, e não haver razão clamação trabalhista ajuizada con-
para a intervenção do INAMPS, que tra a Fundação LBA, por empregado
rejeitou. Entretanto, ao invés de sus- que prestava serviços em Materni-
citar conflito negativo de competên- dade que passou ao INAMPS, foi jul-
cia, devolveu os autos à Junta de gado nesta Corte, Relator o Sr. Mi-
Conciliação e Julgamento, que veio, nistro Xavier de Albuquerque, sendo
então, a julgar o litígio, em desfa- o seu voto, acolhido em discrepân-
vor, parcialmente, da Fundação cia pelo Plenário, do seguinte teor:
LBA. Ocorre, porém, que o «Temos decidido que a Lei n?
INAMPS, inconformado, recorreu 6.439/77 não transformou em autar-
para o C. Tribunal Regional do Tra- quia a Legião Brasileira de Assis-
balho da 9! Região, voltando a sus- tência, pelo que continua a compe-
tentar não ser a LBA parte passiva tir à Justiça do Trabalho o conhe-
na reclamatória, porquanto o patri- cimento de reclamações trabalhis-
mônio desta, que se destinava à tas oferecidas contra ela.
prestação de assistência médica, fo- Essa jurisprudência, todavia, co-
ra incorporado ao INAMPS, em face mo bem observa o parecer, não
do que, pelo princípio da sucessão de tem aplicação ao caso dos autos,
empresas (art. 488 da CLT), ficara pois aqui se trata de empregado
sub-rogada em todos os direitos e que, conquanto admitido pela LBA,
obrigações decorrentes dos contratos prestava serviços em maternidade
de trabalho mantidos com a LBA, transferida ao patrimônio do
tendo por objeto a prestação de ser- INAMPS e por este administrada.
viços na área de assistência médica,
e esse era o caso dos autos. As decisões invocadas pelo digno
Juiz Federal suscitante prevale-
O C. Tribunal Regional do Traba- cem apenas para os demais casos,
lho da 9, Região, apreciando a maté- quando envolvam empregados da
ria em debate, veio a entender que, LBA não vinculados aos órgãos de
realmente, o INAMPS ficara como assistência médica transferidos pa-
sucessor da Legião Brasileira de As- ra o INAMPS.

R.T.J. — 108 521

Isto posto, conheço do conflito e direitos e vantagens que os empre-


dou pela competência do Juizo Fe- gados já possuíam. Não poderiam
deral suscitante. (RTJ 97/107). eles, portanto, ser suprimidos ou mo-
Naquele caso diferentemente do dificados para pior, pela nova situa-
que ocorre no ora em exame, a dou- ção advinda da lel, mas não dispôs
ta Procuradoria-Geral da República esta que continuaria a ser mantido o
manifestou-se pela competência da vínculo laborai, quer com a Funda-
Justiça Federal, e tal entendimento ção LBA, quer com alguma das ou-
veio a prevalecer, como ficou dito. tras entidades que foram extintas ou
De minha parte não tenho dúvidas cuias atividades, juntamente com o
sobre ser competente a Justiça Fe- patrimônio a elas pertinentes, foram
deral. Diz a douta Procuradoria- transferidas para outras.
Geral da República, no parecer emi- Na conformidade do disposto no
tido no presente conflito que o art. art. 32 da Lei n? 6.439, de 1977,
21, § 1? leva à conclusão de que os «Ressalvadas as exceções esta-
empregados, mesmo os que passa- belecidas nesta lei, os direitos e
ram a servir nos órgãos transferidos obrigações das entidades do SIN-
para o INAMPS, continuavam vincu- PAS, qualquer que seja sua nature-
lados àquelas entidades com as za, serão exercidos ou cumpridos,
quais mantinham relação de empre- conforme o caso, pelas entidades a
go, pois aquele preceito se limitara a que são redistribuídas as respecti-
determinar que os servidores passa- vas competências»,
riam a ter exercício nas novas enti- tendo havido apenas a exceção pre-
dades sem modificação do respecti- vista no § 2? daquele mesmo artigo
vo regime jurídico e sem prejuízo de 31, e que diz respeito àquelas exce-
direitos e vantagens, não tendo havi- ções ajuizadas até a data de sua en-
do qualquer alteração das lotações e trada em vigor.
dos quadros de pessoal preexisten-
tes. Assim, de qualquer sorte, ainda
que se entendesse que o INAMPS
Entretanto, não é assim. não tivesse sucedido à LBA no tocan-
Diz o § 1? do art. 21 da Lei n? 6.439, te à vinculação empregaticia da re-
de 1977, que criou o SINPAS, in clamante, tendo passado àquele Ins-
verbis: tituto a obrigação decorrente do con-
trato de trabalho sem dúvida que te-
«Os servidores das entidades vin- ria ele que figurar, como parte, no
culadas ao MPAS, inclusive os das pólo passivo da relação processual,
extintas, que, na data em que en- e, assim sendo, em face do disposto
trar em vigor esta lei, ocuparem no art. 110 da Constituição Federal
cargos ou empregos integrantes da a competência se fixaria induvidosa-
lotação de órgãos cujas competên- mente, na Justiça Federal.
cias forem transferidas para qual- Pelo exposto, conheço do conflito e
quer das entidades do SINPAS, declaro competente o MM. Juiz da 3?
passarão, automaticamente, a ter Vara Federal da Seção Judiciária do
exercício nas novas entidades, nas Paraná.
mesmas localidades, sem altera-
ção do respectivo regime jurídico e 2 o meu voto.
sem prejuízos de direitos e vanta-
gens.» EXTRATO DA ATA
Ora, •;n que assegurou a lei é que fi- CJ 6.358-PR — Rel.: Ministro Aldir
cavam garantidos o regime jurídico, Passarinho. Suste.: Tribunal Regio-
ou seja, no caso, o trabalhista, e os nal do Trabalho da 9? Região. Sus-

522 R.T.J. — 108

do.: Juiz Federal da 3? Vara da Capi- Presidência do Senhor Ministro


tal. Interessados.: Zuleide de Souza Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
Caldas (Advs.: Dora Maria Schüller os Senhores Ministros Djaci Falcão,
e outro). e Fundação Legião Brasi- Moreira Alves, Soares Murioz, Decio
leira de Assistência — LBA e Institu- Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
to Nacional de Assistência Médica veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
da Previdência Social — INAMPS, Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
representados pelo IAPAS (Advs.: Procurador-Geral da República,
Paulo César Bastos e outros). Professor Inocêncio Mártires Coelho.
Decisão: Conheceu-se do conflito e
julgou-se competente o Juiz Federal
da 3? Vara da Capital. Decisão unâ- Brasília, 15 de junho de 1983 —
nime. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.405 — RJ


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Suscitante: Clube Atlético Bragantino — Suscitados: Juiz da 5? Vara Fe-
deral — Seção Judiciária do Rio de Janeiro e Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo — Interessados: Clube Atlético Bragantino, Grêmio Esportivo
Sancarlense e outro, Federação Paulista de Futebol e Conselho Nacional de
Desportos.
Competência. Controvérsias, no plano regional, entre associações
desportivas, relacionadas com o seu posicionamento na primeira divi-
são de clubes. Suposta colisão entre medida liminar de Juiz Federal
contra ato do Conselho Nacional de Desportos, e medidas de órgãos
judiciários estaduais, atinentes ao inicio do campeonato regional. Ine-
xistência de conflito de jurisdição no sentido constitucional, els que as
atuações tidas como conflitantes derivam de competência absoluta
dos respectivos órgãos judiciários, a da Justiça Federal para a con-
cessão de mandado de segurança contra órgão da administração fede-
ral; a da Justiça Estadual para as causas em que só estão presentes
associações civis dedicadas ao futebol. Competências não modificáveis
pela conexão ou continência, segundo decorre do art. 102 do Código de
Processo Civil.
ACORDA° RELATORIO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Decio Miranda:
autos, acordam os Ministros do Su- Trata-se de conflito positivo de juris-
premo Tribunal Federal, em sessão dição suscitado pelo Clube Atlético
plenária, na conformidade da ata do Bragantino, sociedade com sede na
julgamento e das notas taquigráfi- cidade de Bragança Paulista, que
cas, por maioria de votos, em não obtivera, do Juiz da 5? Vara Federal
conhecer do Conflito. do Estado do Rio de Janeiro, medida
Brasília 13 de outubro de 1983 — liminar em mandado de segurança
Cordeiro Guerra, Presidente — contra o Presidente do Conselho Na-
Decio Miranda, Relator. cional de Desportos, em virtude da

R.T.J. — 108 523

qual, no seu entendimento, ter-se-la lo, que, aceitando sua própria com-
obviamente determinado a suspen- petência, julgou 0 MS n? 58.852-2».
são do início do Campeonato da 2? (fls. 351).
Divisão de Futebol Profissional no Afinal, assim se manifesta a douta
Estado de São Paulo, no ano de 1983. Procuradoria Geral da República,
(Fls. 4 medio). em parecer do Procurador Moacir
Essa medida entraria em conflito Antonio Machado da Silva, devida-
com outras, que o referido Clube mente aprovado:
menciona na petição de fls. 2/6, to-
madas pela Justiça do Estado de São «O Clube Atlético Bragantino,
Paulo, especialmente a medida limi- ora suscitante, que conquistou o se-
nar concedida pelo Juizo de Direito gundo lugar na classificação do
da 10? Vara Civel de São Paulo ao Campeonato Paulista da Segunda
Grêmio Esportivo São Carlense, Divisão em 1982, requereu ao Supe-
assegurando-lhe o inicio do indigita- rior Tribunal de Justiça Desporti-
do campeonato. (Fls. 4 medio). va mandado de garantia contra a
Federação Paulista de Futebol, ob-
Solicitadas, na conformidade de jetivando a suspensão do Campeo-
meu despacho de fls. 356, informa- nato da mesma Divisão em 1983,
ções às autoridades judiciárias ditas até decisão final da oposição que
em conflito, vieram às fls. 365 e apresentara a ação proposta pelo
segs. as do Juiz Federal que passara Clube Atlético Taquaritinga contra
ao exercício da 58 Vara Federal do a mesma Federação, perante a 11?
Estado do Rio de Janeiro e as do Vara Civel da Capital, tendente a
Tribunal de Justiça do Estado de resguardar seu direito de acesso à
São Paulo a fls. 376/380. Primeira Divisão.
Ressaltam, estas últimas informa- Contra a decisão do STJD con-
ções, que o Supremo Tribunal Fede- cessiva da liminar, a Federação
ral, ao apreciar em sessão plenária Paulista ofereceu representação ao
o Conflito de Jurisdição n? 6.345, em Conselho Nacional de Desportos,
3 de fevereiro de 1982, decidiu, una- que, por sua vez, também através
nimemente, pela competência da de liminar, garantiu o inicio do
Justiça Estadual Comum em caso de Campeonato da Segunda Divisão.
medidas cautelares com «partes par-
ticulares e associação civil (as fede- Impetrou, por isso, o Bragantino
rações desportivas o são, e seus diri- mandado de segurança contra a
gentes não exercem função delegada decisão do CND, perante o MM.
pelo Poder Público)» ( fls. 379). Juiz da 5? Vara Federal do Rio de
Refiro, para eventual consulta, Janeiro, que deferiu liminar para
que o oficio do Supremo Tribunal, a sustar os efeitos do ato. Em decor-
propósito da solução dada ao referi- rência dessa decisão, o Campeona-
do precedente, acha-se, nestes autos, to da Segunda Divisão não poderia
por cópia à fl. 664. ser iniciado.
E acrescento que estes autos de Ocorre, porém, que o Grêmio Es-
conflito foram originariamente enca- portivo Sancarlense, um dos inte-
minhados ao Colendo Tribunal Fede- grantes da Segunda Divisão, re-
ral de Recursos, de onde vieram re- quereu medida cautelar, distri-
metidos ao Supremo Tribunal Fede- buída ao MM. Juiz da 10? Vara
ral por força do despacho copiado a Cível de São Paulo, precisamente
fls. 351, a dizer que a controvérsia já para garantir o inicio do Campeo-
fora objeto de decisão phlo E. Tribu- nato, tendo obtido liminar para es-
nal de Justiça do Estado de São Pau- se fim.
524 R.T.J. — 108

Instado pelo suscitante, o MM. Justiça, após esclarecer a respeito


Juiz da 5? Vara Federal oficiou ao das ações em curso na Justiça do
MM. Juiz da 10? Vara Cível, para Estado, relacionadas com a maté-
afirmar a prevalência ce sua deci- ria do conflito, fez referência à de-
são. Este, porém, despachando pe- cisão proferida pelo Supremo Tri-
tição do mesmo Bragantino, man- bunal Federal no Conflito de Juris-
teve a liminar. dição n? 6.345, na qual se concluiu
Por tais razões, o Clube Atlético pela competência da Justiça Esta-
Bragantino suscitou conflito positi- dual Comum para processar e jul-
vo de jurisdição, inicialmente pe- gar as medidas cautelares entre
rante o Egrégio Tribunal Federal particulares e a associação civil
de Recursos, cujo Relator deferiu ( fls. 377-380).
pedido de sobrestamento dos pro- A competência para processar e
cessos e designou o mesmo MM. julgar o mandado de segurança
Juiz Federal da 5? Vara para resol- impetrado pelo Clube Atlético Bra-
ver, em caráter provisório, as me- gantino, é, sem dúvida, da Justiça
didas urgentes que viessem a ocor- Federal, pois o Conselho Nacional
rer (fls. 254). de Desportos é Orgão do Ministério
Entretanto, cinco dias antes de da Educação e Cultura (Lei n?
suscitado o conflito, a Associação 6.251, de 1975, art. 41).
Esportiva de Guaratinguetá havia Por outro lado, a medida caute-
impetrado mandado de segurança lar requerida pelo Grêmio Esporti-
contra a decisão do MM. Juiz da vo Sancarlense contra a Federação
10? Vara Cível, que determinara o Paulista de Futebol, é da compe-
prosseguimento do campeonato. E tência da Justiça Comum do Esta-
o Relator designado pelo Tribunal do, não se vislumbrando qualquer
de Justiça denegou o pedido de li- das hipóteses do art. 125, I, da
minar, mas mandou processar o Constituição Federal.
pedido, de forma que, a partir des- Pretende o suscitante que se de-
se momento, o conflito se estabele- fina a competência da Justiça Fe-
ceu entre o próprio Tribunal e o deral, afirmando a existência de
Juiz da 5? Vara Federal (fls. 259 e conexão e invocando art. 105 do Có-
segs.). digo de Processo Civil. Ocorre, no
Diante disso, o Egrégio Tribunal entanto, como decidiu o Supremo
Federal de Recursos, por despacho Tribunal Federal no julgamento do
do Ministro-Relator, deferiu os pe- CJ n? 6.345-SP, que a conexão, ain-
didos de remessa dos autos do con- da quando existente, não bastaria
flito ao Supremo Tribunal Federal para acarretar a modificação da
(fls. 351), competente para dirimi- denominada «competência de ju-
lo (Constituição, art. 119, 1, letra risdição», que é competência abso-
e).
luta. E, como efeito, nos termos do
art. 102 do Código de Processo Ci-
Solicitadas as informações, o vil, a conexão ou continência só é
MM. Juiz da 5? Vara Federal con- suscetível de modificar a compe-
firmou o relato do suscitante e es- tência em razão do valor ou do ter-
clareceu que determinou a intima- ritório, isto é, a competência rela-
ção do Presidente da Federação tiva.
Paulista de Futebol, mediante pre- Em face do exposto, o parecer é
catória, para que se manifestasse pelo não-conhecimento do confli-
a respeito do alegado descumpri- to». (fls. 690-3).
mento da liminar ( fls. 365/366).
Por sua vez, o egrégio Tribunal de E o relatório.
R.T.J. — 108 525

VOTO pelo Conselho Nacional de Despor-


tos, embora aquela lide se trave ape-
O Sr. Ministro Dedo Miranda (Re- nas, no momento, entre entidades
lator): As controvérsias, que se sus- particulares, a mim parece que deve
citam nos presentes autos, têm em aquele órgão colegiado — e repre-
conta meras relações entre socieda- sentado pelo seu Presidente — ser
des de direito privado dedicadas à chamado a integrar o feito, como li-
prática e à exibição do futebol, uni- tisconsorte necessário e, deste modo,
das, entre si, por liames voluntários a competência se fixa na Justiça Fe-
de integração nos planos regional e deral.
nacional. O que não me parece possível é
Nenhuma razão ocorre, no caso, a que possa decidir o Juiz Federal so-
indicar a competência da Justiça Fe- bre o tema e o Juiz estadual possa
deral para o deslinde de diferenças oferecer solução diversa.
entre elas, a não ser naquele caso Assim, Senhor Presidente, deve
específico em que um órgão da Ad- fixar-se a competência no Juiz Fede-
ministração Federal, o Conselho Na- ral até porque com a reunião dos
cional de Desportos, foi chamado à processos, poderá ele chamar o men-
lide judiciária, em razão de certo ato cionado Conselho, como litisconsorte
que praticara. necessário; pelo envolvimento deste
Somente este episódio, que se isola em ambos os feitos.
no conjunto das medidas judiciais
requeridas, suscita a competência
da Justiça Federal. EXTRATO DA ATA
Num e noutro caso, a competên-
cia, insuscetível de modificação nos CJ 6.405-RJ — Rel.: Min. Decio Mi-
termos do art. 102 do Cód. Proc. Ci- randa. Suste.: Clube Atlético Bra-
vil, mantém-se com o caráter abso- gantino (Adv.: Elcio Roberto Sarti).
luto que originariamente ostentava, Susdos.: Juiz da R Vara Federal —
para ser atendida, quando ausente Seção Judiciária do Rio de Janeiro e
órgão federal na relação processual, Tribunal de Justiça do Estado de
pela Justiça estadual, e, em ocorren- São Paulo. Interessados.: Clube Atlé-
do a presença de tal interesse fede- tico Bragantino, Grêmio Esportivo
ral, como sucede no episódio que en- Sancarlense e outro (Advs.: Wadih
volve o Conselho Nacional de Des- Helú e outro). Federação Paulista de
portos, pela Justiça federal Futebol (Adv.: Henrique Fonseca de
Assim isoladas as competências Araújo). Conselho Nacional de Des-
absolutas, não ocorre defeito de portos.
competência a ser corrigido, pelo Decisão: Pediu vista o Ministro 'Os-
que não conheço do conflito. car Corrêa, depois dos votos dos Mi-
E o meu voto. nistros Relator e Francisco Rezek
não conhecendo do conflito, e do voto
VOTO do Ministro Aldir Passarinho dele
conhecendo e dando pela competên-
O Sr. Ministro Aldir Passarinho: cia do Juiz Federal
Sr. Presidente, conheço do conflito e Presidência do Senhor Ministro
dou pela competência do Juiz Fede- Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
ral. Se, como entendi, o feito que se os Senhores Ministros Djaci Falcão,
encontra na Justiça local vem a im- Moreira Alves, Soares Mufloz, Decio
plicar a a pretensão, em Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
estrato a ato executório baixado veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
526 R.T.J. — 108

Aldir Passarinho e Francisco Rezek. De S. Exa. discordou o Exmo.


Procurador-Geral da República, Ministro Aldir Passarinho dando pe-
Professor Inocêncio Mártires Coelho. la competência do Juiz Federal, «em
Brasília, 31 de agosto de 1983 — virtude da conexão das questões sus-
Alberto Veronese Aguiar, Secretário. citadas, devendo figurar o Conselho
Nacional de Desportos como litiscon-
VOTO (VISTA) sorte, na ação movida perante a Jus-
tiça estadual».
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: O Em face da divergência, a vista
Exmo. Ministro Relator, Decio Mi- impunha-se para melhor exame.
randa, não conhecendo do conflito, Nos termos do artigo 115 do
afirmou: CPC há conflito de competência —
«As controvérsias, que se susci- «I — quando dois ou mais juizes se
tam nos presentes autos, têm em declaram competentes».
conta meras relações entre socie- Na hipótese, o conflito estabelecer-
dades de direito privado dedicadas se-ia entre o Juiz Federal da 5? Vara
prática e à exibição do futebol, do RJ — por ter sido deferida limi-
unidas, entre si, por liames volun- nar contra ato do Conselho Nacional
tários de integração nos planos re- de Desportos (fls. 152/153); e o C.
gional e nacional. Tribunal de Justiça de São Paulo,
Nenhuma razão ocorre, no caso, que deferiu liminares em mandados
a indicar a competência da Justiça de segurança requeridos pela Fede-
Federal para o deslinde de diferen- ração Paulista de Futebol e pelo Clu-
ças entre elas, a não ser naquele be Atlético Taquaritinga (fls.
caso especifico em que um órgão 378/379).
da Administração Federal, o Con- 4. Na verdade, como bem salien-
selho Nacional de Desportos, foi tou o Ilustre Relator, o episódio da
chamado à lide judiciária, em ra- intervenção do Conselho Nacional de
zão de certo ato que praticara. Desportos «se isola no conjunto das
Somente este episódio, que se medidas judiciais requeridas» e não
isola no conjunto das medidas judi- é de molde a alterar o caráter abso-
ciais requeridas, suscita a compe- luto da competência, originariamen-
tência da Justiça Federal. te estabelecida, da Justiça Estadual.
A intervenção do CND objetivou,
Num e noutro caso, a competên- apenas, manter a decisão da Federa-
cia, insuscetível de modificação ção Paulista de Futebol, esgotando-
nos termos do artigo 102 do Código se com o próprio ato da intervenção,
de Processo Civil, mantém-se com voltando a decisão da matéria à enti-
caráter absoluto que originaria- dade estadual.
mente ostentava, para ser atendi-
da, quando ausente órgão federal Nestes termos, acompanho o voto
na relação processual, pela Justiça do Eminente Ministro Decio Miran-
estadual, e, em ocorrendo a pre- da, data venta do Eminente Ministro
sença de tal interesse federal, co- Aldir Passarinho.
mo sucede no episódio que envolve E o voto.
Conselho Nacional de Desportos,
pela Justiça federal. EXTRATO DA ATA
Assim isoladas as competências
absolutas, não ocorre defeito de CJ 6.405-RJ — Rel.: Ministro Decio
competência a ser corrigido, pelo Miranda. Suste.: Clube Atlético Bra-
que não conheço do conflito». gantino (Adv.: Elcio Roberto Sarti).
R.T.J. — 106 527

Susdos.: Juiz da 5? Vara Federal — Presidência do Senhor Ministro


Seção Judiciária do Rio de Janeiro e Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
Tribunal de Justiça do Estado de os Senhores Ministros Moreira Al-
São Paulo. Interessados.: Clube Atlé- ves, Soares Mufloz, Dedo Miranda,
tico Bragantino, Grêmio Esportivo Néri da Silveira, Alfredo Buzaid, Os-
Sancarlense e outro (Advs.: Wadih car Corrêa, Aldir Passarinho e Fran-
Helú e outro). Federação Paulista de cisco Rezek. Ausentes, justificada-
Futebol (Adv.: Henrique Fonseca de mente, os Srs. Ministros Djaci Fal-
Araújo). Conselho Nacional de Des- cão e Rafael Mayer. Procurador-
portos. Geral da República, Professor Ino-
cênclo Mártires Coelho.
Decisão: Não conhecido o conflito, Brasília, 13 de outubro de 1983 —
vencido o Ministro Aldir Passarinho. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.418 — SP


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Suscitante: Juiz de Direito da 3? Vara de Itu, em exercido na Comarca
de Indaiatuba — Suscitado: Tribunal Regional do Trabalho da 2? Região —
Interessados: Wilma Ims Pires da Cunha — Prefeitura Municipal de Indaia-
tuba.
Competência. Professora municipal em regime trabalhista, e não
no regime definido no art. 106 da Constituição Federal. Competência
da Justiça do Trabalho.
ACÓRDÃO ajuizada inicialmente na Junta de
Conciliação e Julgamento pela pro-
Vistos, relatados e discutidos estes fessora do ensino primário Wilma
autos, acordam os Ministros do Su- Ims Pires da Cunha.
premo Tribunal Federal, em sessão
plenária, na conformidade da ata do O parecer da douta Procuradoria
julgamento e das notas taquigráfi- Geral da República, da lavra do Dr.
cas, por unanimidade de votos, em Moacir Antônio Machado da Silva e
conhecer do Conflito e julgar compe- aprovação do Procurador-Geral,
tente o Tribunal suscitado. Prof. Inocáncio Mártires Coelho, ofi-
Brasília, 19 de outubro de 1983 — cia pela competência da Corte Tra-
Cordeiro Guerra, Presidente — balhista, verbis:
Decio Miranda, Relator. «Em março de 1980, Wilma Ims
Pires da Cunha, professora primá-
RELATÓRIO ria, propôs reclamação trabalhista
contra a Prefeitura Municipal de
O Sr. Ministro Decio Miranda: Indaiatuba, alegando que, após um
Trata-se de conflito negativo de ju- período de afastamento, passou a
risdição entre o Dr. Juiz de Direito perceber salário inferior ao dos de-
em exercício na Comarca de Indaia- mais professores até sua dispensa,
tuba e o Tribunal Regional do Traba- em 1-12-79, quando estava na imi-
lho da 2? Região, a propósito da re- nência de completar a estabilidade
clamação de salários e indenização no emprego. Pleiteou, em conse-
528 R.T.J. — 108

quência, diferenças salariais 13° de natureza trabalhista entre as


salário, indenização dobrada, re- partes a defesa da Municipalidade,
muneração de férias e outras par- resumida na sentença da MM. Jun-
celas acessórias. ta, que reconhece a existência de
A reclamação foi julgada relação de emprego submetida à
parcialmente procedente pela MM. legislação do trabalho.
Junta de Conciliação e Julgamento Se, consoante decorre dos au-
de Itu (fls. 17/19). Em grau de re- tos, o vinculo entre as partes é de
curso, o egrégio Tribunal Regional natureza trabalhista, inexistindo
do Trabalho da 2? Região declarou, lei especial fundada no art. 106 da
de oficio, a incompetência da Justi- Lei Maior, como certifica o MM.
ça do Trabalho, julgando aplicável Juiz suscitante, a competência pa-
ao caso a jurisprudência compen- ra o processo e julgamento da re-
diada na Súmula 123 do Tribunal clamação é da Justiça do Traba-
Superior do Trabalho, que apresen- lho.
ta o seguinte teor: Em caso rigorosamente idên-
Em se tratando de Estado ou tico, o Supremo Tribunal Federal
Município, a lei que estabelece o declarou a competência da Justiça
regime jurídico (art. 106 da Cons- do Trabalho, porque o reclamante
tituição) do servidor temporário celebrara contrato de trabalho
ou contratado é a estadual ou com a Prefeitura e esta não adota-
municipal, a qual, uma vez edita- ra regime de lei especial, admitido
da, apanha as situações preeexis- pela Constituição (CJ n? 6.403, Re-
tentes, fazendo cessar sua vigên- lator Ministro Alfredo Buzaid, DJ,
cia pelo regime trabalhista. In- de 17-6-83).
competente é a Justiça do Traba- 8. Em conclusão, opina esta
lho para julgar as reclamações Procuradoria Geral pelo conheci-
ajuizadas posteriormente à vi- mento do conflito, declarada a
gência da lei especial. competência do egrégio Tribunal
Remetidos os autos à Justiça Regional do Trabalho da 2? Re-
Comum do Estado, o MM. Juiz de gião, para o julgamento dos recur-
Direito da comarca de Indaiatuba sos da decisão da MM. Junta de
deu-se também por incompetente Conciliação e Julgamento de Itu».
para o feito o suscitou conflito pe- (Fls. 27/9).
rante o Supremo Tribunal Federal, E o relatório.
tendo em vista a inexistência de lei
municipal que estabeleça regime
especial para os servidores munici-
pais admitidos ou contratados nas VOTO
condições previstas no art. 106 da
Lei Fundamental. O Sr. Ministro Dedo Miranda (Re-
O egrégio Tribunal suscitado lator): O parecer faz exata aplicação
limitou-se a invocar a Súmula 123 da jurisprudência do Supremo Tribu-
do Tribunal Superior do Trabalho, nal Federal sobre o tema.
mas não fez referência explícita a No caso, não se mostra possuir o
nenhuma lei municipal que even- Município lei especial de regência do
tualmente tivesse estabelecido re- regime jurídico dos servidores admi-
gime jurídico próprio para os pro- tidos em serviços de caráter tempo-
fessores primários. rário ou contratados para funções de
Denota ainda a inequívoca natureza técnica especializada, se-
subsistência do vínculo originário gundo o art. 106 da Constituição.
R.T.J. — 108 529

Logo, a ação da professora primá- pião. Interessados.: Mima Ims Pires


ria contratada, dirigida ao Mu- da Cunha e Prefeitura Municipal de
nicípio, havia de reger-se, como, de Indaiatuba.
resto, foi postulado na petição ini- Decisão: Conheceu-se do conflito e
cial, pela Consolidação das Leis do julgou-se competente o Tribunal sus-
Trabalho. citado. Decisão unânime. Ausente,
Conhecendo do conflito nos termos ocasionalmente, o Sr. Ministro Cor-
do art. 119, I, e, da Constituição, jul- deiro Guerra. Presidência do Sr. Mi-
go competente o Tribunal Regional nistro Moreira Alves.
do Trabalho da 29 Região, suscitado. Presidência do Senhor Ministro
E o meu voto. Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
os Senhores Ministros Djaci Falcão,
Moreira Alves, Soares Mufloz Decio
EXTRATO DA ATA Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
CJ 6.418-SP — Rel.: Ministro Decio Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
Miranda. Suste.: Juiz de Direito da Procurador-Geral da República,
31.. Vara de Itu, em exercido na Co- Professor Inocêncio Mártires Coelho.
marca de Indaiatuba. Susdo.: Tribu- Brasília, 19 de outubro de 1983 —
nal Regional do Trabalho da 2f Re- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.313 — DF


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Impetrante: Ronaldo Ferreira Dias — A. Coatora: Mesa da Câmara dos
Deputados — Litisconsorte: Ulisses Bezerra Potiguar.
Constitucional. Suplência. Deputado Federal. Suplente de Deputa-
do, nomeado Juiz de Tribunal de Contas do Estado. E inerente à su-
plência uma atuação político-partidária, que não pode conviver com o
exercido do cargo de Juiz de Tribunal de Contas (Constituição, art.
119, III, c/c art. 13, IX). Suplente nomeado juiz renuncia tacitamente
ã suplência, e não volve a ela pela aposentadoria no cargo.

ACÓRDÃO RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Decio Miranda: Ro-
autos, acordam os Ministros do Su- naldo Ferreira Dias requer mandado
premo Tribunal Federal, em Sessão de segurança contra a Mesa da Cã-
Plenária, na conformidade da ata de mara dos Deputados, alegando que
julgamentos e das notas taquigráfi- aquele respeitável órgão, depois de
cas, por maioria de votos, conceder haver omitido providência, por ele
a segurança. reclamada, de passá-lo do segundo
para o primeiro lugar da relação dos
Brasília, 14 de abril de 1982 — Suplentes de Deputados pelo Estado
Xavier de Albuquerque, Presidente do Rio Grande do Norte, recusa-se,
— Decio Miranda, Relator. agora, a convocá-lo para a vaga dei-
530 R.T.J. —108

xada na representação daquele mes- Câmara dos Deputados a dizer que


mo Estado, em virtude do falecimen- «até a presente data, a Câmara dos
to do saudoso Deputado Djalma Ma- Deputados não recebeu de quaisquer
rinho, ocorrido em 25 de dezembro dos órgãos da Justiça Eleitoral mo-
de 1981. dificação (deve-se ler noticia ou
Aquela primeira providência omi- notificação) de que a ordem de clas-
tida, a que se deveria ter seguido a sificação dos suplentes está altera-
última, decorreria da circunstância da, ou de que o primeiro suplente es-
de haver perdido a primeira suplên- tá impedido de assumir o mandato
cia, em que anteriormente se acha- de Deputado Federal» pelo que não
va, o Sr. Ulisses Bezerra Potiguar, caberia à Presidência da Casa alte-
desde quando, nomeado pelo Gover- rar a ordem existente, sem, com is-
nador do Estado em 4-7-79, tomara so, invadir competência da Justiça
posse no cargo de Conselheiro do Eleitoral, à qual, segundo o art. 137,
Tribunal de Contas, em 18-7-79. V, da Constituição, cabem «o proces-
Sustenta que, consoante o art. 114 samento e apuração das eleições e
da Constituição, «é vedado ao juiz, a expedição dos diplomas». (fls.
sob pena de perda do cargo judiciá- 35/36).
rio, (...) exercer, ainda que em dis- Ulisses Bezerra Potiguar, notifica-
ponibilidade, qualquer outra função do, ingressa nos autos como litiscon-
pública», e, bem assim, «exercer ati- sorte passivo (fls. 40 e segs.). Diz ter
vidade político-partidária». sido eleito primeiro suplente da ban-
Logo, desde quando tomou posse cada do antigo partido Aliança Reno-
no cargo de Juiz do Tribunal de Con- vadora Nacional (Arena). Em julho
tas do Estado, perdeu a primeira su- de 1979, foi nomeado Conselheiro do
plência do cargo de Deputado o Sr. Tribunal de Contas do Estado, tendo-
Ulisses Bezerra Potiguar, sendo ile- se aposentado em 13 de novembro de
gal o procedimento da Mesa da Ca- 1981.
mara dos Deputados, quer anterior-
mente, não modificando a relação E acrescenta:
dos Suplentes, quer por último, não «Durante o tempo em que exer-
cumprindo o art. 257 do Regimento ceu o cargo de Conselheiro, houve,
Interno daquela Casa e deixando de como é público e notório, a trans-
convocar o impetrante para prestar formação dos partidos, com a cria-
o compromisso constitucional como ção de novos, o que obrigou, face à
Deputado, na vaga decorrente do fa- legislação ingressada em vigor, a
lecimento do Deputado Djalma Ma- cada parlamentar, de acordo com
rinho. sua vontade, fazer novo registro de
Requereu o impetrante a notifica- filiação partidária. Este fato se nos
ção da Mesa da Câmara dos Deputa- afigura da máxima importância
dos, na pessoa de seu nobre Presi- para o deslinde da controvérsia.
dente, e bem assim a citação do Sr. Uma vez aposentado, o litisconsor-
Ulisses Bezerra Potiguar, para vir te passivo, nos termos da legisla-
Integrar a lide, na qualidade de litis- ção em vigor, ingressou com sua
consorte passivo. inscrição no Município de Parelhas,
em 13 de novembro de 1981, de re-
Pleiteou, inicialmente, a concessão gistro e filiação partidária, ou seja,
de medida liminar, o que, no período no Partido Democrático Social,
de férias do Tribunal, foi indeferido que foi o sucessor da Aliança Re-
pelo Exmo. Sr. Ministro Presidente. novadora Nacional (Arena), (doc.
Feita a notificação, vieram infor- 5). A vaga conforme é público e
mações do Exmo. Sr. Presidente da notório, na bancada federal da
R.T.J. — 108 531

Arena, com o falecimento do sau- No mérito, alega o litisconsorte,


doso Deputado Djalma Marinho, só em resumo:
ocorreu em 25 de dezembro, do ano a) seja a posse, seja a aposentado-
passado, ou seja, mais de quarenta ria, no cargo de Juiz do Tribunal de
dias do registro de nova filiação Contas, não ocorreram quando surgi-
partidária do litisconsorte passivo. da a vaga na representação federal
do Estado na Câmara dos Deputa-
Como o que realizaram os outros dos, assim tendo podido ele defen-
parlamentares, manifestou o seu dente passar a exercer novamente a
desejo de ser integrante do Partido política partidária, não perdendo os
Democrático Social (PDS), muito direitos inerentes à primeira suplên-
antes da existência de vaga, e po- cia; b) parecer do Senador Atillo Vi-
dia fazê-lo porque estava aposenta- vacqua, lido na Revista de Informa-
do do Cargo de Conselheiro dó Tri- ção Legislativa, edição de janeiro-
bunal de Contas, ou seja, em pleno março de 1969, indica precedentes no
exercício de todos os seus direitos mesmo sentido do que agora se pra=
políticos. Dessa maneira, não é in- ticou.
válido que se afirme, mais uma Em seguida, transcreve trechos do
vez, que a vacância, na bancada parecer com que o nobre Deputado
do PDS veio encontrar o litiscon- Ernani Satyro examinou, na Comis-
sorte passivo, em pleno uso e gozo são de Constituição e Justiça da Ca-
de todas as garantias e em ativida- mara dos Deputados, a controvérsia
de política, como também é públi- ora renovada.
co e notório.
Acentua, por fim, que ele litiscon-
Dessa maneira, o documento que sorte, até ser chamado para ocupar a
está junto ao writ não demonstra, vaga de Deputado, foi mero suplente
data venia, a verdade, porque ape- e, como tal, não se lhe antepunha
nas dá notícia da nomeação do pe- impedimento algum para aceitar o
ticionário e não de sua aposentado- cargo de Conselheiro do Tribunal de
ria. Essa é a situação de fato e de Contas, no qual se aposentou quaren-
Direito do Suplicante.» (fls. 40/91). ta dias antes de surgir a vaga na re-
presentação federal do Estado, que,
Em seguida, o litisconsorte passi- diga-se de passagem, não foi resulta-
vo levanta preliminares, a saber: 2 ) do de qualquer ato de composição
O impetrante reclama contra ato o- politica, mas, da morte do titular.
missivo da Mesa da Câmara, ao pas- Conclui pleiteando que ou não se
so que a situação já agora é outra, conheça do pedido de mandado de
porque o litisconsorte já foi empos- segurança, ou que se indefira a or-
sado no cargo de Deputado; 21 ) não dem. (fls. 40/56).
cabe mandado de segurança contra
ato passível de recurso administrati- O parecer da Procuradoria-Geral
vo com efeito suspensivo; 3?) não há da República, da lavra do
direito liquido e certo a pleitear, Subprocurador-Geral Mauro Leite
quando o chegar a uma conclusão Soares, com aprovação do
depende, como no caso, do exame de Procurador-Geral, Prof. Inocêncio
documentos, que, de resto, são insufi- Mártires Coelho, oficia pelo indeferi-
cientes nos autos, não havendo prova mento do mandado.
de que o impetrante é o segundo su- Eis seu inteiroleor:
plente; 42 ) o ato atacado é da econo-
mia interna do Poder Legislativo, «1. Impetra& inicialmente con-
não podendo ser levado ao exame do tra ato omissivo, temos que com a
Poder Judiciário. posse do litisconsorte passivo cons-

532 R.T.J. — 108

tante dos autos, fls. 62, a seguran- expressamente ao item III do


ça se dirige contra ato concreto. mesmo artigo, é aplicada ao con-
As preliminares argüidas pelo Li- gressista «que deixar de compa-
tisconsorte não procedem. A pri- recer, em sessão legislativa
meira, em face da concretização anual, à terça parte das sessões-
da posse e porque a impetração legislativas da Câmara a que
não perdeu seu objeto nos termos pertencer, salvo doença compro-
de sua fundamentação. A segun- vada, licença ou missão autoriza-
da, porque o Impetrante exerce di- da pela respectiva casa».
reito constitucional, art. 153; § 21, e 4. Em seguida, referindo-se aos
o seu recurso administrativo não arts. 34, I, a, 35, 72 e 114 da Consti-
teria efeito suspensivo. A terceira, tuição Federal, adianta que os mes-
porque a Autoridade coatora atesta mos não têm aplicação no caso,
em suas Informações, fl. 35, que o Porque, verbis:
Impetrante foi classificado como «Trata-se, ali, da perda de
segundo suplente da antiga Aliança mandato de Deputado ou Sena-
Renovadora Nacional nas eleições dor, por desobediência às normas-
gerais realizadas a 15 de novembro proibitivas previstas. Essas pro-
de 1978. A quarta, porque não se bições referem-se à aceitação de
trata de ato interna corporis. cargo, emprego ou função públi-
No mérito, não procede a im- ca, à celebração de determinados
pugnação, conforme bem esclare- contratos, nos termos ali prescri-
cido está no parecer da Comissão tos. Essas proibições, não podem
de Constituição e Justiça da Câma- atingir o suplente Ele tem ape-
ra dos Deputados, Relator Deputa- nas uma expectativa de direito.
do Erriani Satyro, fl. 124, elaborado Não é titular do mandato. Tanto
a respeito da matéria ora em dis- isso é verdade que as proibições,
cussão e da qual nos permitiremos em cada caso, começam da data
transcrever trechos. da «expedição do diploma, ou da
Assim, fls. 127: posse». E ninguém pode, em boa
lógica e com bom senso, susten-
«1? Não se nega ao suplente tar que um diploma de suplente
do Deputado ou Senador o direito seja uin diploma de Deputado ou
de postular a declaração de per- Senador. Nem muito menos,
da de mandato do titular que vier poder-se-á falar em posse. Posse
a incorrer em qualquer das proi- em que? Num diploma de suplen-
bições expressas na Constituição. te? Certamente, não.
Essa faculdade lhe está assegu- A invocação do art. 72 da Cons-
rada pela mesma Constituição, tituição é procedente. De fato, os
art. 35, § 3?, bem como pelo art. membros do Tribunal de Contas
253, § 2?, do Regimento Interno. da União têm os mesmos impedi-
Acontece, no entanto, que não mentos dos membros do Tribunal
se trata, no caso, de Deputado ou Federal de Recursos. Esses impe-
Senador. Não pode perder o man- dimentos estendem-se aos Tribu-
dato quem não o tem. O Sr. Ulis- nais de Contas dos Estados. Entre
ses Bezerra Potiguar, 'até agora, eles figura a proibição de exer-
é apenas o 1? suplente de Deputa- cer atividade político-partidária.
do Federal pela extinta Arena do Acontece, porém, que a condição
Rio Grande do Norte. Além do de suplente não implica no
mais, a perda de mandato, a que exercício de atividade político-
se refere o citado § 3? do art. 35 partidária. A situação de suplente
da Constituição, reportando-se é uma situação estática, e não di-

R.T.J. — 108 533

nâmica. Não existe uma ativida- sou pela cabeça de ninguém que
de de suplente. Uma simples ex- por isso qualquer deles pudesse
pectativa. perder o seu mandato. A filiação
Já o art. 114 da Lei Maior não partidária não é condição para o
se aplica ao debate, e muito me- exercício do mandato.
nos ampara o solicitante. Ali se No caso em debate, acrescente-
trata de perda do cargo judiciá- se até a circunstância de que o 1?
rio, se o seu titular passar a suplente Ulisses Bezerra Poti-
exercer atividade político- guar era filiado á Arena, e a Are-
partidária. Não se cogita de per- na foi extinta. Mesmo tendo ele
da do mandato legislativo nem perdido filiação partidária, mais
do diploma de suplente. São coi- perdido está o Partido, que não
sas inteiramente diferentes». existe mais. Quem pode estar fi-
5. Ao depois, tendo em vista as liado a um partido inexistente? O
alegações do então requerente e que ele não podia fazer, sendo
ora Impetrante quanto à Resolução membro de um tribunal, era
n? 8.688 do Tribunal Superior Elei- filiar-se a qualquer dos novos
toral, no sentido de que se extingue partidos em organização, porque,
a filiação partidária com a investi- ai sim, perderia o seu lugar no
dura em cargo a cujo ocupante se- Tribunal, nos termos do art. 114,
ia vedado exercer atividade item III, da Constituição Fede-
político-partidária, conforme arts. ral».
114, III e 72, jf 3?, da Constituição, 6. A brilhante petição inicial,
doutrinou o Eminente Relator, De- que impressiona à primeira leitu-
putado Ernani Satyro: ra, dirige-se a figuras abstratas
«Temos como válida a alega- que não estão em jogo no caso con-
ção. A aceitação de cargo judi- creto. No momento atual, isto é,
ciário ou equivalente importa na com a abertura de vaga na banca-
extinção da filiação partidária. O da federal Potiguar, não se tem
que não aceitamos é a conse- em vista a figura do Juiz Conse-
quência pretendida pelo solicitan- lheiro do Tribunal de Contas,que
te, Isto é, que a perda da filiação foi Juiz, nem a de suplente que foi
importa na perda do mandato. E Juiz, pouco interessado neste últi-
não aceitamos por duas razões mo ponto que fosse o primeiro su-
fundamentais: plente. E nem interessa também
Primeiro, porque, ainda aqui, argumentação à base do condicio-
não se pode cogitar de perda de
nal, do «se» , quer dizer, «se» o su-
mandato de suplente, e sim de plente fosse convocado, «se», o su-
Deputado ou Senador. O suplente plente devesse ter sua função de
não está investido no mandato de primeiro suplente perdida ou cas-
congressista. E apenas suplente, sada. Suplente parlamentar, seja o
preparado para eventual investi- primeiro ou os que lhe seguem na
dura. ordem de classificação, possui me-
ra expectativa de direito à convoca-
Segundo, porque nunca ouvi- ção, não possuindo direito ad quiri
mos falar em que a perda de fi- -douiretfancsá
liação partidária importe em mesma. No caso concreto, quando
perda de mandato de Deputado ocorreu a vaga e, em conseqüên-
ou Senador. Até há pouco tempo, cia, a prinieirà convocação de su-
antes do prazo fatal para as [ina- plente, o Litisconsorte passivo é
ções, inúmeros congressistas es- que era o primeiro suplente, sem
tavam sem filiação, e nunca pas- nenhum impedimento. Evidente-
539 R.T.J. — 108

mente, não tendo ocorrido a convo- O que lhe dá vida larvada, vida hi-
cação em causa quando o mesmo bernada, para que possa florir em
era Conselheiro do Tribunal de futura eclosão, é o liame de inerên-
Contas do Estado, não iremos exa- cia ao ato original de sua geração: a
minar as hipóteses daí emergen- comunhão de idéias e propósitos em
tes. torno de uma organização partidária
Os dispositivos constitucio- de que tomou emprestada a legenda,
nais invocados pelo Impetrante, depósito de um ideário político.
que foram analisados pelo parecer A suplência vive, permanece, de-
já referido e com o qual concorda- sabrocha em mandato completo, por
mos, dirigem-se às figuras de Juiz força dã carga de vontade politica
e de Deputado, não á do simples que contém e que nela permanece,
Suplente. Pretende o Impetrante a por todo o tempo de sua duração,
aplicação dos mesmos por via re- com as marcas do partido de que
flexa. Não vemos como, principal- nasceu.
mente mediante reconhecimento Não se pode negar, pois, um con-
de direito liquido e certo de ordem teúdo político-partidário nesse man-
constitucional. dato larvado, enquanto não se exer-
Somos pelo indeferimento do cita plenamente, mesmo quando ha-
mandado de segurança.» (fls. ja probabilidade de nunca se vir a
132/7) exercitar.
o relatório. Tanto assim que, desabrochando
em mandato pleno, carrega consigo
VOTO o dever de fidelidade partidária, es-
tabelecido, como linha de principio,
pelo sistema eleitoral brasileiro.
Sr. Ministro Decio Miranda (Re-
lator): Rejeito as preliminares ar- Enquanto é suplente de Senador,
güidas na impugnação do litisconsor- de Deputado, de Vereador, o brasi-
te. leiro está marcado pela filiação par-
o faço com a fundamentação do tidária
dato
que o poderá levar ao man-
completo.
douto parecer, transcrito no relató-
rio. Está na expectativa de vir a exer-
Passo ao mérito. cer mandato dos eleitores do partido
pelo qual concorreu. Tem íntimo in-
Cifra-se a questão sob exame em teresse em que o titular pleno do
verificar se a nomeação para cargo mandato, que está designado para
de Juiz, por afastar o nomeado do substituir, venha a investir-se na
exercicM de atividade politica- função de Ministro de Estado, Secre-
partidária (Constituição, art. 114, tário de Estado, Prefeito de Capital,
III), tem por efeito, entre outros, a não só para maior glória e eficácia
perda da condição de suplente de Se- da ação do Partido, como pelo natu-
nador ou Deputado. ral desejo de chegar, pela suplência,
Não chega a suplência a ser um à sua substituição.
mandato efetivo, pleno, mas configu- Assim, a suplência é, por si mes-
ra, sem sombra de dúvida, um man- ma, um natural e lógico exercício de
dato incompleto, diferido e condicio- expectativas de atividade político-
nal, para cuja compleição o eleitora- partidária.
do nada tem a acrescentar. São fatos
externos ao ato de sua original cons- Se, nessa condição de suplente, al-
tituição, que nele vêm inserir-se, e o guém é nomeado Juiz, e se aos ma-
tornar pleno e completo. gistrados é vedado «exercer ativida-

R.T.J. — 108 535

de politico-partidária» (Constituição, Outra, a aceitação de cargo de


art. 114, III), perde imediatamente a Juiz, como ocorreu com o primeiro
condição de suplente, por natural, ló- suplente, litisconsorte passivo nesta
gica e visceral incompatibilidade causa.
das duas situações. Isto posto, concedo o mandado de
O nobre Deputado Ernani Satyro, segurança requerido pelo impetran-
no parecer que proferiu na Comissão te, segundo suplente.
de Constituição e Justiça da Câmara E o meu voto.
dos Deputados e por esta unanime-
mente acolhido, examinando a pre-
tensãó do ora requerente perante VOTO
aquela Augusta Casa, entendeu que,
ao assumir o cargo de Conselheiro O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr.
do Tribunal de Contas, Ulisses Be- Presidente. Em verdade, penso que
zerra Potiguar perdeu a filiação par- a questão de direito, que se propõe,
tidária. com vistas à decisão deste mandado
Essa perda pareceu a S. Exa. não de segurança, concerne exclusiva-
importar na perda da condição de mente aos efeitos da investidura em
suplente, tal como não importar na cargo de magistratura ou em outro
perda do mandato de Deputado ou- que implique impedimento Idêntico
Senador, visto que, «até há pouco ao do magistrado, para o exercício
tempo, antes do prazo fatal para as de qualquer outra função, especial-
filiações, inúmeros congressistas es- mente, de funções com conteúdo
tavam sem filiação». político-partidário.
Data venta, não me convence o ra- Se, no dia 14 de julho de 1979,
ciocínio, tirado da fase transitória de quando se empossou no cargo de
reabertura de filiações, iniciada com Conselheiro do colendo Tribunal de
a Emenda Constitucional ri? 11, de Contas do Estado do Rio Grande do
1978. Prescindo de argumentar com Norte, o 1? Suplente de Deputado
as exceções transitórias ao regime perdeu esta condição, eis que se cui-
de filiação partidária obrigatória. da de cargo cujo titular a Constitui-
ção, desde logo, prevê fique impedi-
O que sustento é que a suplência, do do exercício de atividade político-
mesmo nessas fases trusitórias de partidária, compreendo que a cir-
transbordos entre partidos, sempre cunstância de, no instante da ocor-
permanece irremissivelmente ligada rência da vaga, de Deputado Fede-
à política partidária e, portanto, não ral, já se encontrar aposentado como
'iode coexistir com o cargo de Juiz. Conselheiro, ter readquirido a filia-
Não é possível admitir que a espe- ção partidária e, assim, estar em
rança de exercício, na mesma legis- condições de exercer atividade
latura, de um cargo de representa- político-partidária, é irrelevante pa-
ção política fiel a um Partido, com ra o desate da presente controvérsia.
todos os anelos inerentes a essa Importa saber é se, no momento do
eventualidade, possa coexistir com o provimento do cargo de Conselheiro
exercício da função judicial, exigen- do TCE, perdeu a condição de 1? Su-
te de absoluto alheiamento à politica plente de Deputado Federal.
partidária.
Da suplência pode haver renúncia Penso que, no sistema estabelecido
explicita ou renúncia tácita. na Constituição, não há como, efeti-
vamente, fugir a esta conclusão: o
Uma das formas de renúncia táci- suplente de deputado, no momento
ta é a mudança de partido, a adesão em que aceita cargo de magistrado,
a outra ideação político-partidária. ou equivalente, perde a situação

536 R.T.J. — 108

jurídica de detentor de título que lhe Dias (Advs.: Célio Silva e Fernando
daria vocação ao exercício de man- Neves da Silva). Autoridade coatora:
dato eletivo, durante a mesma legis- Mesa da Câmara dos Deputados. Li-
latura, para a qual adquiriu esse tisconsdrte: Ulisses Bezerra Poti-
título. A investidura no cargo de ma- guar (Adv.: Hugo Mósca).
gistrado, em razão dos impedimen- Decisão: Pediu vista o Ministro
tos que dai decorrem, opera, auto- Firmino Paz, depois dos votos dos
maticamente, no que concerne a não Ministros Relator, Alfredo Buzaid e
mais subsistir esse título, que viabi- Neli da Silveira, concedendo a segu-
lizaria o exercício do mandato políti- rança. Falou pelo Impte, o Dr. Célio
co, durante o período de sua dura- Silva. Falou pelo Litisconsorte, o Dr.
ção. O título adquirido, antes do pro- Hugo ~ca.
vimento em cargo de magistrado,
para exercício de mandato legislati- Presidência do Senhor Ministro
vo, por sua natureza, de conteúdo Xavier de Albuquerque. Presentes à
político, perde, sem dúvida, a sua Sessão os Senhores Ministros Djaci
eficácia, para o respectivo detentor, Falcão, Cordeiro Guerra, Moreira
por força do impedimento, insito à Alves, Soares Muiloz, Decio Miran-
investidura de magistrado, do da, Rafael Mayer, Firmino Paz, Né-
exercício, em qualquer momento, de ri da Silveira e Alfredo Buzaid.
atividade político-partidária, sendo Procurador-Geral da República,
incompossivel, ao magistrado, ser Professor Inocêncio Mártires Coelho.
Juiz e, ao mesmo tempo, titular de Brasília, 31 de março de 1982 —
situação de conteúdo político, tal co- Jonas Célio Monteiro Coelho, Secre-
mo deter a condição de 1? suplente tário.
de Deputado Federal. De outra par-
te, o fato subseqüente de aposentar- VOTO (VISTA)
se no cargo de magistrado não pode
ter o condão de fazer ressurgir a si-
O Sr. Ministro Firmino Paz: Ro-
tuação de suplente de Deputado, an-
naldo Ferreira Dias, por seu ilustre
tes desaparecida, no curso da mes-advogado, propôs a presente ação de
ma legislatura. Com a investidura pedir mandado de segurança à Mesa
em cargo de magistratura, ou equi-da Câmara dos Deputados, ao funda-
valente, dá-se, ope juras, a extinção
mento, em abreviado, de que, sendo
do título de suplente em causa, cum-
Suplente de Deputado Federal, pelo
prindo entender que houve inequívo-
Estado do Rio Grande do Norte; ten-
ca opção, com a posse, pelo statusdo o Primeiro Suplente Ulisses Be-
de magistrado, inconciliável com ozerra Potiguar, nomeado Conselhei-
de deputado ou suplente, pelo con-ro do Tribunal de Contas do Estado,
teúdo político deste. perdido (textualmente) «a função de
Assim sendo, com essas breves Primeiro Suplente de Deputado Fe-
considerações, ponho-me de inteiroderal», não fora ele, autor da impe-
tração, convocado para preencher a
acordo com o voto do eminente Rela-
vaga que se dera, por morte do De-
tor, para, também, afastando as pre-
putado Djalma Marinho.
liminares, nos termos do parecer da
douta Procuradoria Geral da Repú- 2. Após o brilhante voto do emi-
blica, conceder a segurança nente Ministro José Néri da Silveira,
pedi vista dos autos, para examinar,
EXTRATO DA ATA principalmente, se a argüida perda
da qualidade de Suplente de Deputa-
MS 20.313-DF — Rel.: Min. Decio do Federal, que é de ser, necessaria-
Miranda. Impte.: Ronaldo Ferreira mente, sanção, efeito jurídico negati-
R.T.J. — 108 537

vo, decorrente da prática do acto de Trata -se de matéria de facto, file-


posse no cargo de Conselheiro do xaminável, em ação de mandado de
Tribunal de Contas do Estado, fora segurança. Admito, para argumen-
ou está prevista em alguma regra tar, tenha ocorrido esse facto.
jurídica.
Pretende-se, na inicial, em síntese, Se ocorreu, teria ele perdido o
que o litisconsorte Ulisses Bezerra cargo de juiz; jamais, que é eviden-
Potiguar, pelo facto de haver te, a qualidade de Suplente de
assumido o cargo de Conselheiro do Deputado. Perda, essa, que não está
Tribunal de Contas, perdera a quali- prevista em regra jurídica alguma,
dade de Suplente de Deputado que eu saiba.
Federal, pois é incompatível o cargo
de Juiz com o ser Suplente de E bem lembrar, na hipótese,
Deputado, considerado o previsto no antes, acima, prefigurada, que a
artigo 114, III, da Lei Maior da Re- atividade é de ser do juiz; não, do
pública. facto de ser Suplente de Deputado
Federal. Quem é Suplente de
Essa, a tese fundamental da ação Deputado, pelo facto de o ser, não
de mandado de segurança. age, não exerce atividade.
Dispõe-se, com efeito, na Cons-
tituição Federal, verbis: Agir, de ago, agere, tem, na raiz
«Art. 114. E vedado ao juiz, sob ag, o sentido de conduzir, levar, algo
pena de perda do cargo judiciário: de um a outro lugar. Pressupõe
movimento, ação, acto, que não se
III — exercer atividade ,- políti- põe, exclusivamente, no plano da
co-partidária». imaginação. Exterioriza-se, no mun-
Cura-se, aí, sem dúvida, de do das realidades objetivas.
sanção, imposta a juiz (note-se: Ser é, simplesmente, existir.
juiz), que exerça atividade político- Existir não é agir. Ser Suplente de
partidária. Deputado, portanto, não é agir, não
São pressupostos fácticos, cau- é exercer atividade de qualquer na-
sais, da perda do cargo judicial, que tureza.
alguém seja a) juiz, b) exerça
atividade e c) político-partidária. Isso posto, se não há, dentro no
Não basta, para tanto, que o juiz sistema jurídico brasileiro, regra
exerça atividade política. E preciso jurídica, em que previsto esteja que
mais: que a atividade política seja a assunção do cargo de juiz importa
partidária. E o que se diz, na regra na perda da titularidade da Suplên-
jurídica constitucional. cia do cargo de Deputado Federal,
A míngua de qualquer desses ele- não me inclino a reconhecer essa
mentos — a), b) e c), não incide a perda, que é efeito jurídico negativo,
norma jurídica constitucional supre- sanção, só possível de existir, a po-
ma. O juiz não perde, pois, o cargo. der de previsão expressa e clara, em
Não há produção de efeito jurídico lei, segundo os princípios.
algum.
8. Diante do exposto, com a devi-
5. Dir-se-á, todavia, que, no caso da vênia dos meus eminentes cole-
sob julgamento, o juiz, Conselheiro gas, que votaram em sentido contrá-
do Tribunal de Contas do Estado, ao rio, julgo improcedente a ação de
assumir esse cargo, era e continuou mandado de segurança e, conseqüen-
a ser Suplente de Deputado Federal; temente, indefiro o pedido inicial.
logo, argUmenta - se, exerceu ativida-
de político-partidária, sendo juiz. Assim, voto.
538 R.T.J. — 108

VOTO um diploma de suplente no tempo


em que não havia impedimento ne-
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr. nhum. Por exemplo, tenho um diplo-
Presidente, peço vênia ao eminente ma de bacharel em Direito, não pos-
Ministro Firmino Paz para acompa- so advogar, mas não deixei de ser
nhar o voto do eminente Relator, a bacharel em Direito. A sanção é que,
cuja fundamentação, quando da pro- se ele optar pelo exercício do man-
lação de seu voto, já havia dado a dato, perde a judicatura. Agora, o
minha anuência. fato é que já estava incorporado ao
Cuido que nenhuma situação em seu patrimônio cívico — e é patrimô-
contraste com a norma constitucio- nio sobre todos os aspectos — esse
nal é sustentável. Tanto condenada título de suplente. Ele foi magistra-
pela Norma Maior a acumulação do. Tem um título de bacharel em
dessas situações — que são, aliás, Direito. Fica proibido de advogar?
um desdobramento da proibição do Fica mas, se ele deixa de ser magis-
art. 6? da Constituição — que o in- trado, pode advogar.
divíduo que seja investido em função Sr. Ministro Moreira Alves: V.
de um dos Poderes não poderá exer- Exa. me permite? Ele terá de
cer a de um outro. Embora, no caso, inscrever-se, novamente, na Ordem
não se trate propriamente de um ou- dos Advogados. Não volta a ser ad-
tro Poder, mas de outras atividades, vogado automaticamente.
equiparadas às do Poder Judiciário, Sr. Ministro Cordeiro Guerra:
a verdade é que uma situação con- Mas não deixou de ser bacharel.
trária à norma constitucional impor-
ta, desde logo, seus efeitos, e ela não Sr. Ministro Moreira Alves: Não
pode persistir validamente. deixou de ser bacharel, mas deixou
de ser advogado. E o problema é ser
Se o suplente de Deputado assu- advogado.
miu, em determinado momento,
uma função que era incompatível, Sr. Ministro Cordeiro Guerra:
por equiparada á de Juiz — a ativi- No momento, ele não exerce o man-
dade político-partidária, compreensi- dato. Agora, que está aposentado, é
va também da situação de suplente, que querem dizer que ele perdeu o
porque suplente implica uma situa- mandato antes? Onde está a declara-
ção potencial de vir a exercer o car- ção disto? Qual a lei que prevê isso?
go de Deputado — a conseqüência é Eu deixei de ser bacharel? Eu estou
que houve perda desse mandato, incompatível com a advocacia, mas
porquanto é conseqüência da própria não deixei de ser bacharel.
função de Juiz, o não poder exercitá- Se eu me aposentar, e a Ordem
lo em face da norma constitucional. dos Advogados me aceitar, eu volto
Deste modo, peço vênia para a advogar.
acompanhar o voto do eminente Re- De modo que, com a devida vênia
lator, concedendo o Mandado de Se- de todos que pensam em contrário,
gurança. eu me solidarizo com o eminente Mi-
nistro Firmino Paz, indeferindo o pe-
VOTO dido.

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra: VOTO


Sr. Presidente, a Constituição prevê
que o magistrado perca a magistra- Sr. Ministro Djacl Falcão: Sr.
tura se exerce função político- Presidente, também me situo na li-
partidária. Eu distingo: ele recebeu nha do voto do eminente Relator e
R.T.J. — 108 539

ressalto que, apreciando caso seme- go de magistratura, continuasse a


lhante perante o Tribunal Superior exercer o mandato de deputado e,
Eleitoral em 1970 — se não me falha consequentemente, e além disso, ati-
a memória — tive oportunidade de vidade político-partidária, estaria
dizer: não se cuida de mero impedi- sujeito a procedimento para perda
mento, mas de incompatibilidade en- do cargo de magistrado, regulado na
tre a função de magistrado e a ativi- Lei Orgânica da Magistratura Nacio-
dade político-partidária determinan- nal. Quer sob um aspecto, quer sob
te de uma proibição legal. Em con- outro, a simples ocorrência do fato
seqüência, não há lugar para uma caracterizador da incompatibilidade
suspensão da filiação partidária. Se não bastaria em si mesma, mas de-
desobedecida a vedação, o titular mandaria a instauração de procedi-
perde o cargo; se respeitada, óbvia é mento regular para a produção do
a perda da filiação político- efeito correspondente.
partidária. Foi exatamente o que Não entro nesse exame, mas posso
ocorreu no caso objeto deste manda- admitir que o litisconsorte se haja
do de segurança. investido irregularmente no cargo de
Acompanho o eminente Ministro- conselheiro do Tribunal de Contas.
Relator, concedendo a segurança. Posso admitir que essa investitura
seja questionável, e que a aposenta-
VOTO doria nela conquistada seja, even-
tualmente, desconstituível; mas não
O Sr. Ministro Xavier de me parece, data venta, que o fato de
Albuquerque (Presidente): Diante da exercer atividade politica, pela cir-
fundamentação estritamente consti- cunstância de deter uma suplência
tucional do pedido, não me posso exi- de mandato parlamentar federal,
mir de votar. E, com a vênia do Re- houvesse de fenecer pelo só fato, su-
lator e dos colegas que o seguem, perveniente, da aceitação de cargo
acompanho a corrente que denega a equiparado aos de magistratura.
segurança. Em suma, as conseqüências dos
Parece-me que os impedimentos e fatos previstos na Constituição ope-
incompatibilidades que a Constitui- ram, não de modo virtual, mas me-
ção enumera, seja para os detento- diante procedimento regular, que se
res de mandato parlamentar, seja havia de instaurar e não se instau-
para os magistrados e detentores de rou.
cargos equiparados, não operam de Também denego a segurança.
modo automático, ou virtual, senão
que mediante procedimento instau- VOTO
rado para o fim de fazer incidir, em
cada caso, a norma proibitiva. Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.
Se o litisconsorte passivo não fosse Presidente, com a devida vênia do
suplente, mas deputado em nho o voto doFirmino
Sr. Ministro Paz, acompa-
eminente relator.
exercício, e se, por absurda figura-
ção, fosse nomeado conselheiro do
Tribunal de Contas e não renuncias- VOTO
se ao mandato, ele estaria sujeito,
como deputado em exercício, a pro- Sr. Ministro Soares Mtnloz: Sr.
cedimento específico, instaurado pe- Presidente, data venta do voto do
rante a Mesa da Câmara, para a eminente Ministro Firmino Paz,
perda do mandato de deputado. Se, acompanho o eminente Relator. Não
ainda por absurdo, investido em car- se pode conceber a pretendida cumu-

590 R.T.J. — 108

lação, sob pena de admitir-se que o Neves da Silva). Autoridade coatora:


Suplente, em assumindo o cargo de Mesa da Câmara dos Deputados. Li-
Conselheiro do Tribunal de Contas, otisconsorte: Ulisses Bezerra Poti-
fez para perder esse mesmo cargo, guar (Advs.: Hugo Mósca).
pois essa seria a conseqüência se ele Decisão: Concedeu-se a segurança,
conservasse a condição de Suplente vencidos os Ministros Firmino Paz,
de Deputado Federal, o que seria um Cordeiro Guerra, e o Presidente.
ilogismo. Se ele aceitou o cargo de
Conselheiro, incompatível com a fun- Presidência do Senhor Ministro
ção preexistente de Suplente de De- Xavier de Albuquerque. Presentes à
putado, é porque desta se desvincu- Sessão os Senhores Ministros Djaci
lara automaticamente. Falcão, Cordeiro Guerra, Moreira
Alves, Soares Mufloz, Decio Miran-
De sorte que acompanho o eminen- da, Rafael Mayer, Firmino Paz, Né-
te Relator. ri da Silveira e Alfredo Buzaid.
Procurador-Geral da República,
EXTRATO DA ATA Professor Inocêncio Mártires Coelho.
MS 20.313-DF — Rel.: Min. Decio Brasília, 14 de abril de 1982 —
Miranda. Impte.: Ronaldo Ferreira Jonas Célio Monteiro Coelho, Secre-
Dias (Advs.: Célio Silva e Fernando tário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.315 — DF


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Impetrante: Deuslet Barbosa — Autoridade coatora: Presidente da Re-
pública.
Militar. Tempo de serviço. Tiros de Guerra. Transferência para a
Inatividade. Não se considera, para os efeitos da Lei n? 1.156, de 1950,
o período de aluno de Tiro de Guerra, mesmo sediado em zona com-
preendida pelo Decreto n? 10.490-A, de 1942. Precedentes do STF, nos
Mandados de Segurança n?s 19.849-GB, a 10.6.1970, e 20.304-8/DF, a
1?.4.1982. Mandado de Segurança indeferido.
ACORDA° da Reserva Remunerada do Exérci-
Vistos, reatados e discutidos estes to, domiciliado nesta Capital, impe-
autos, acordam os Ministros do Su- trou mandado de segurança contra
premo Tr nal Federal, em Sessão ato do Excelentíssimo Senhor Presi-
Plenária, na conformidade da ata de dente da República, consubstanciado
julgamentos e notas taquigráficas, à no decreto de 24-9-1981, publicado no
unanimidade, indeferir o pedido. Diário Oficial de 27 seguinte, o qual,
ao lhe conceder transferência para a
Brasília 22 de abril de 1982 — Reserva Remunerada fê-lo sem o
Xavier de Albuquerque, Presidente beneficio do art. 1?, da Lei n? 1.156,
— Néri da Silveira, Relator. de 1950, o que lhe permitiria atingir
a inatividade militar, com os proven-
RELATORIO tos do posto de General de Divisão.
O Sr. Ministro Néri da Silveira Alega o impetrante, a tanto, que
(Relator): Deuslet Barbosa, militar serviu no Tiro de Guerra 140-RJ, na

R.T.J. — 106 541

Zona de Guerra abrangida pelo De- ça: a) «os efeitos do tempo passado
creto n? 10.490-A, de 1942, no período como aluno do Tiro de Guerra n? 140-
de 30-11-1943 a 12-10-1944, situação re- RJ» e b) «o alcance do vocábulo
conhecida pela Administração, ha- «militares» inserido no artigo 1? da
vendo o Boletim Interno n? 40 DGP Lei n? 1.156, de 1950» (item 7 — fls.
publicado, a 4-3-1966, a averbação de 60).
10 meses e 13 dias, correspondentes
ao tempo de serviço militar prestado As questões assinaladas, responde
pelo impetrante, «como de efetivo a autoridade indicada coatora, nos
serviço e para todos os efeitos le- itens 8 a 39 das informações, nos se-
gais, de acordo com o Aviso n? 425- guintes termos (fls. 60/69):
D/5E, de 3 de novembro de 1964».
Acrescenta que, a 15-12-1966, «o Bole- «8. A resposta à primeira inda-
tim Interno n? 234 do DGP publicou gação deve ser buscada no
a averbação dos benefícios da Lei n? Decreto-Lei n? 3.940, de 1941, que
1.156, em favor do impetrante, que fornecia, à época, os conceitos bá-
passou a figurar nos seus assenta-1 sicos sobre tempo de serviço do
mentos» (sic). Entretanto, o Aviso Militar, ao estatuir:
n? 2, de 26-1-1972, tornou insubsisten- «Art. 83
te o anterior Aviso n? 425/1965, com
base no qual se dera a averbação. 3? Definem-se, como se se-
Destaca o impetrante, na inicial guem, as expressões: anos de
(fls. 4), que poderia ter alcançado a efetivo serviço, de praça, de ser-
inatividade, com apoio no art. 60, da viço, de serviço completo, de ser-
Lei n? 4.902, de 1965, aos 25 anos de viço público e tempo computável
serviçõ, sem qualquer prejuízo, sus- para fins de inatividade.
tentando que «esta lide não existiria
se, ao invés de continuar trabalhan- Anos de efetivo serviço ou
do, houvesse requerido transferência tempo de efetivo serviço é o lap-
para a reserva desde 18 de maio de so de tempo contado dia a dia,
1968». entre a data inicial de praça e a
do licenciamento, transferência
Discute a seguir, o requerente a para a reserva ou reforma do ofi-
condição do atirador dos Tiros de cial ou da praça,com dedução
Guerra, sustentando o status de mili- dos períodos não computáveis
tar (fls. 6/10). por lei e desprezadas as suple-
Requer, afinal, o impetrante o de- mentações provenientes de guar-
ferimento do wrlt no sentido de que nições especiais, decênios sem li-
seja reconhecido o direito de se cença, etc. O tempo dobrado de
transferir para a Reserva Remune- serviço em campanha é conside-
rada com os proventos de General rado como efetivo serviço.
de Divisão, com efeito retroativo a Anos de serviço ou de pra-
24-9-1981, data do decreto que o ça, ou tempo de serviço, de pra-
transferiu para a inatividade, como ça, ou computável para fins de
Coronel. inatividade, é o período de tempo
Vieram as informações solicitadas contado como no caso anterior
(fls. 58/69), onde o Chefe do Poder porém acrescido de outros perío-
Executivo, adotando o pronuncia- dos de tempo de caráter ou natu-
mento do Ministério do Exército, reza militar, que forem por lei
constante do Parecer n? 02/82, res- também concedidos: tempo do-
salta serem dois os aspectos básicos brado, guarnições especiais,
emergentes do mandado de seguran- períodos de curso de Colégio Mi-

542 R.T.J. — 108

litar, decênios sem licença, etc. pode ele servir de suporte fático
Não pode ter início antes da Ida- para a concessão do benefício que
de de 15 anos». ora se pretende.
Observe-se que o diploma Já ficou esclarecido que a
jurídico em foco admitia como Lei n? 1.156, de 1950, dirige-se aos
Efetivo Serviço exclusivamente o militares que prestaram serviço na
espaço de tempo contado dia a dia zona de guerra definida pelo De-
a partir da data de praça — que, creto n? 10.490-A, de 1942. Vejamos
no caso, ocorreu em 1 de abril de se o impetrante, à época, detinha o
1996 — e o tempo dobrado de servi- status de militar.
ço em campanha. Quaisquer ou- O Decreto-Lei n? 3.084, de
tras modalidades de tempo de ser- 1941 — Estatuto dos Militares cita-
viços eram consideradas como «a- do no pedido, dando a conceituação
créscimo» e incluídas na rubrica de militares da ativa, assim pre-
Anos de Serviço, para fins de inati- ceituava:
vidade. Art. 42. São militares da ati-
Sistemática idêntica foi ado- va os cidadãos que, a serviço das
tada pelo Estatuto dos Militares armas no Exército e na Armada,
promulgado em 1946 (Decreto-Lei delas fazem profissão êxclusiva,
n? 9.698), art. 97, §§ 1? e 2?, alíneas permanente ou em caráter
a e b, bem como pelos Estatutos transitório.
subseqüentes, a saber: Parágrafo único. São conside-
Decreto-Lei n? 1.029, de 1969 rados em serviço das armas em
— art. 80, §§ 1? e 2?, e 81, suas caráter transitório os militares
alíneas e parágrafos; da reserva, quando convocados
ao serviço ativo, .e os cidadãos
Lei n? 5.774, de 1971 — arts. incorporados ao Exército e à Ar-
140 e 141, itens I a VI; e mada para a prestação do servi-
Lei n? 6.880, de 1980, sob cu- ço militar.
ja égide se efetivou a inativação E quanto à função militar, es-
em causa. tabelecia:
Com efeito, referido diplo- Art. 45. A função militar
ma, ao dispor sobre tempo de efeti- caracteriza-se pelo exercício,
vo serviço, também não inclui o transitório ou permanente, da
tempo passado como aluno de ór- atividade militar, como profissão
gão de formação da reserva naque- exclusiva na tropa, na esquadra
la categoria (art. 136). ou nos serviços, em graduação,
posto ou comissão militar, cons-
Ao contrário, considera-o co- tante de leis e regulamentos do
mo acréscimo, relacionando-o na Exército ou da Armada».
rubrica Anos de Serviço computá- (Grifou-se).
vel somente no momento da passa-
gem do militará situação de inati- Preceituações idênticas foram
vidade e para esse fim — Art. 137, introduzidas no Decreto-Lei n?
III, g. 1?. 3.864, de 24 de novembro de 1941 —
artigos 42, parágrafo único, e 45.
13. Ora, estabelecendo a lei, ta-
xativamente, que tal período é con- 16. Convém ficar desde logo es-
siderado acréscimo e, como tal, só clarecido que o termo «incorpora-
tem eficácia para complementação ção», na terminologia militar, sig-
de tempo para a inatividade, não nificava, à época, e ainda signifi-

R.T.J. — 108 593

ca, o ato de inclusão do convocado Importa salientar, que os


no serviço ativo das Forças Arma- alunos de Tiros de Guerra não
das. eram, à época, considerados pra-
17. Não melhora a posição do ças especiais. Tanto isso é verda-
Impetrante a invocação que faz do de, que não foram, sequer, in-
artigo 20 do Decreto-Lei n? 3.084, cluídos no Quadro Hierárquico de
de 1941. Referido dispositivo legal, que trata o art. 85, § 2?, do
dispondo sobre a incorporação dos Decreto-Lei n? 3.084/41 e do
convocados para o serviço militar, Decreto-Lei n? 3.864/41. Ali, os úni-
estabelecia: cos contemplados são os alunos
das Escolas Preparatórias de Ca-
Art. 20. detes.
§ 1? Na incorporação dos con- Acresce, ainda, que os Tiros
tingentes anuais, levar-se-ão em de Guerra — como o impetrante
conta os seguintes princípios ge- admite na peça vestibular — eram
rais: considerados associações.
o Serviço Militar é pes- Funcionavam como escola de
soal, nacional e obrigatório; preparação militar, porém, sem
caráter de forças militares ou
o Serviço Militar é igual militarizadas, tal como estabelecia
para todos; o artigo 31 do Decreto n? 243, de 18
c) o Serviço Militar ativo é de julho de 1935 — Regulamento da
exclusivamente consagrado à Diretoria do Serviço Militar e da
instrução do contingente. Reserva.
(Grifou-se). Uma das regalias conferidas
18. Pelo que se infere do precei- aos seus associados era, precisa-
to supratranscrito, o principio de mente, a dispensa de incorporação
igualdade preconizado na letra b ao Exército ativo, nos moldes pre-
não tem o elastério que lhe preten- figurados na letra a do artigo 37,
de dar o impetrante. A igualdade do precitado ordenamento jurídico.
ali visualizada diz respeito à pes- Como se observa, não se
soa (para não haver privilégios, atribuindo aos Tiros de Guerra,
distinção de classe, de cor ou de por imposição regulamentar, ca-
religião), em obediência ao dispos- racterísticas de forças militares ou
to no artigo 164, da Constituição militarizadas, pacifica era a sua
Federal de 1937, que determinava: coexistência com o preceito inscul-
«Todos os brasileiros são obri- pido no § 3? do art. 3? do Decreto-
gados, na forma da lei, ao servi- Lei n? 3.084, de 1941.
ço militar e a outros encargos ne- 2 certo que o impetrante te-
cessários à defesa da pátria, ve averbado em seus Assentamen-
nos termos e sob as penas da tos o período questionado — de 30
lei». de novembro de 1943 a 12 de outu-
19. Fica, assim, evidenciado, bro de 1944, passado como aluno do
que o impetrante — então aluno Tiro de Guerra n? 140-RJ — como
sendo de efetivo serviço.
(associado) do Tiro de Guerra n?
140-RJ — não tinha, por lei, o sta- Essa averbação, no entanto,
tus de militar, nem estaria capaci- além de ter sido efetuada em 1966
tado a exercer a função militar nos — quase 22 (vinte e dois) anos
termos predefinidos no artigo 45, após a conclusão da instrução mili-
retrotranscrito. tar em destaque — não teve apoio

544 R.T.J. — 108

em lei, foi processada com fulcro direito dos de n?s 425-D-5-E, de 03


no Aviso Ministerial n? 425/D/5/E, de novembro de 1964, 145-D-3-C, de
de 3 de novembro de 1964. 1 de junho de 1966, e 171-D-3-C, de
Sobredito Aviso, oportuno 23 de junho de 1966, estabelecendo
salientar, teve por justificação que os tempos de serviço já aver-
duas decisões judiciais (Mandado bados com base nos referidos atos,
de Segurança n? 10.133 e Apelação teriam efeitos apenas para os fins
Cível n? 15.904) e a Lei n? 4.375, de da letra b do § 2? do artigo 97 do
1964. Decreto-Lei n? 9.698/46 — Estatuto
dos Militares então em vigor. Em
As decisões judiciais, é sabi- outras palavras, somente seriam
do, somente têm força de lei entre considerados como acréscimo e pa-
as partes no processo. E a Lei n? ra fins de inatividade.
4.375/64 — que somente entrou em
vigor em janeiro de 1966, após a Por fim, em 26 de janeiro de
sua regulamentação (art. 81) — 1972, foi expedido o Aviso n? 02
trata da matéria no parágrafo úni- que, com fulcro nos artigos 138, §§
co do artigo 63, nos seguintes ter- 2? e 3? e 141, item III, § 1? da Lei n?
mos: 5.774, de 1971, dispõe sobre o côm-
«Art. 63 puto do tempo de serviço prestado
Parágrafo único. Igualmente em OFR, e torna nulas as averba-
será computado para efeito de ções da Lei n? 1.156, de 1950, feitas
aposentadoria, o serviço prestado em decorrência de serviço militar
pelo convocado matriculado em prestado em Órgão de formação da
Orgão de Formação da Reserva Reserva.
na base de 1 (um) dia para perío-
do de 8 (oito) horas de instrução, Pelo que até aqui se expôs,
desde que concluam com apro- fica evidenciado que o impetrante,
veitamento a sua formação». época, não detinha a. situação
(Gritos não do original). jurídica de militar da ativa.
A averbação da vantagem Desse modo, inexistindo dis-
da Lei n? 1.156, de 1950, igualmen- positivo legal que autorize a exten-
te, não teve embasamento legal são do benefício da Lei n? 1.156 de
nem no prefalado Aviso n? 425/64 1950, aos alunos (ou sócios ?) de
que a ela não se refere. Ao que pa- Tiro de Guerra, não podia a Admi-
rece, a publicação correspondente nistração conceder tal vantagem
no BI n? 234-DGP, de 25 de dezem- ao impetrante por ocasião de sua
bro de 1966, foi efetuada, pura e transferência para a reserva re-
simplesmente, em conseqüência de munerada.
haver sido averbado, a favor do
impetrante, o tempo de aluno de Se nas leis mais recuadas, a
Tiro de Guerra como efetivo servi- definição do status do aluno de Ti-
ço. ro de Guerra, é nebulosa, como se
Por todas essas razões, e alega na inicial, a conceituação e
ainda apoiado em Pareceres da características de militar da ativa
douta Consultoria Geral da Repú- estão expressas nos artigos 42 e
blica, aprovados pelo Exmo. Sr. seu parágrafo único, 43, § 1?, 44 e
Presidente da República, o Minis- 45 do Decreto-Lei n? 3.084/41; arti-
tro do Exército de então, em Aviso gos 42, parágrafo único, 43, § 1?, 44
n? 234-D1-GB, de 31 de julho de e 45 do Decreto-Lei n? 3.864, de
1967, decretou a nulidade de pleno 1946, estes assim redigidos:

R.T.J. — 108 545

«Art. 2? São militares, todos gão de Formação da Reserva com-


os brasileiros incorporados às putado como de efetivo serviço.E
Forças Armadas, com situação evidente que, não sendo tal período
definida na hierarquia militar.» computado para todas as vanta-
«Art. 5? No decorrer de sua gens da lei geral, com maior ra-
carreira, o militar pode zão, não pode ser ele considerado
encontrar-se na ativa, na reserva para efeitos de vantagens criadas
ou na situação de reformado. por leis especiais, dirigidas aos
1? Militar da ativa é o que, militares que prestaram serviço
ingressando na carreira, faz dela nas condições que explicitam.
profissão, até ser transferido pa- Sem préstimo, para a hipó-
ra a reserva dos quadros da ati- tese em exame, os invocados arti-
va, licenciado ou reformado. gos 59 e 60 da Lei n? 4.902, de 1965.
(Grifou-se).» O primeiro dispositivo citado asse-
E o termo «incorporação» é defi- gura, aos militares beneficiados
nido pelo artigo 57 do Decreto-Lei por uma ou mais das leis que men-
n? 9.500, de 23 de julho de 1946, do ciona, o direito aos proventos rela-
seguinte modo: tivos ao posto ou graduação a que
seria promovido em decorrência
«Incorporação é o ato de inclu- da aplicação das leis referidas. E o
são do convocado ou do voluntá- artigo 60 assegura, simplesmente,
rio no serviço aUvo do Exército, ao militar, nas condições ali con-
da Marinha ou da Aeronáutica». templadas, o direito à transferên-
cia, a pedido, para a Reserva Re-
Desenganadamente, não se munerada a partir da data em que
trata, na espécie, de direito adqui- completar 25 (vinte e cinco) anos
rido, de vez que inexiste lei da épo- de efetivo serviço.
ca, que estabeleça seja o tempo
passado, como sócio de Tiro de Como se observa, a lei so-
Guerra, considerado de efetivo mente assegurou o direito aos pro-
serviço, do mesmo modo que se ventos de posto superior àqueles
constata a ausência de qualquer que eram titulares das vantagens
disposição legal que lhe atribuía a das leis ali especificadas, o que
condição jurídica de militar da ati- não é o caso do impetrante, cuja
va, para efeitos de vantagens averbação da Lei n? 1.156, de 1950,
oriundas de leis especiais, como é foi processada em 15 de dezembro
o caso das Leis Ws 616, de 1949, e de 1966 (portanto em data poste-
1.156, de 1950, que se destinam aos rior à vigência plena da Lei n?
Militares que prestam serviços de 4.902/65), e teve por fundamento o
guerra na campanha da Itália e na tempo passado como aluno do Tiro
zona de guerra definida pelo De- de Guerra n? 140-RJ, averbado
creto n? 10.490-A. com fulcro no Aviso n? 425-D-5-E,
de 1964.
O Aviso Ministerial n? 02, de
1972, que é criticado e mencionado 38. Precitado Aviso, não é de-
como desrespeitoso ao direito do mais repetir, foi entre outros, de-
Impetrante, como norma adminis- clarado nulo de pleno direito pelo
trativa que é, não se dissociou da de n? 234-D1-GB, de 31 de Julho de
letra da lei. Apenas se limitou a fa- 1967. Logo, não nos parece válido o
zer cumprir o estatuído no artigo argumento de que «se o impetran-
141, item III, 0 1?, da Lei n? te, ao invés de continuar traba-
5.774/71, que não permite seja o lhando, houvesse requerido trans-
tempo passado como aluno de Or- ferência para a reserva desde 18

546 R.T.J. 108

de maio de 1968 (com 25 anos de rém, haver sido anulada essa aver-
serviço), esta lide não existiria». bação, em decorrência do Aviso n? 2,
Anulado o ato que deu origem a de 26-1-1972.
averbação do tempo passado como Sustenta o Impetrante que, por
aluno de Órgão de Formação como força do art. 60, da Lei n? 4.902, de
de efetivo serviço, nulos ficaram 16-12-1965, em data anterior ao Aviso
todos os demais atos efetuados em n? 2/1972, adquiriu o direito à Reser-
função daquele. va Remunerada, não mais podendo,
39. Fica, portanto, demonstra- assim, operar o referido cancela-
do, nenhum ser o direito do impe- mento da averbação, quanto ao im-
trante, por inexistir disposição de petrante.
lei que autorize a concessão do be- Reza o art. 60 aludido:
nefício pleiteado aos então alunos
(sócios) de Tiro de Guerra. Se «Fica assegurado ao militar que,
constitui injustiça, como alega o na data de 10 de outubro de 1966,
requerente, a inaplicabilidade das contar 20 (vinte) ou mais anos de
Leis n°s 616/49 e 1.156/50 aos então efetivo serviço o direito ã transfe-
alunos de Tiros de Guerra, não me- rência, a pedido, para a Reserva
nos injusto é a sua não aplicação Remunerada a partir da data em
aos militares da ativa que, à épo- que completar 25 (vinte e cinco)
ca, prestavam serviço em Unida- anos de efetivo serviço.»
des Militares sediadas em localida- Possuindo, à data dessa lei, 20
des não abrangidas pelo Decreto n? anos, 6 meses e 10 dias de serviço,
10.490-A. Daí, a inarredavel conclu- completou 25 anos de serviço a 1-4-
são de que nem tudo que é justo, é 1971, ou, segundo alega, considerado
legal.» o período que então se averba de 10
Pronunciou-se no feito, às fls. meses e 13 dias, desde 18-5-1970, es-
72/75, a douta Procuradoria-Geral da taria intitulado a transferir-se para
República, no sentido do indeferi- a Reserva Remunerada.
mento da Impetração, reportando-se Sucede, entretanto, que o cancela-
ao parecer emitido no Mandado de mento
Segurança de n? 20.204, de que Rela- 2/1972,da averbação, pelo Aviso n?
fez-se, à evidência, segundo o
tor o eminente Ministro Decio Mi- entendimento de falta de fundamen-
randa. to legal para considerar como mili-
E o relatório. tares os alunos dos Órgãos de For-
mação da Reserva, qual observou o
VOTO Senhor General Chefe do Departa-
mento Geral do Pessoal, no Ofício n?
45, de 12-3-1979, em que propunha
O Sr. Ministro Néri da Silveira o restabelecimento das aludidas a-
(Relator): O impetrante assentou verbações. Nesse documento ( fls.
praça a 1-4-1946 ( fls. 17). No período 33/36), é certo, observou S. Exa. que
de 30-11-1943 a 12-10-1944, foi aluno do esse «reconhecimento jà vinha sendo
Tiro de Guerra, n? 140, no Rio de Ja- negado desde 1967, através dos Avi-
neiro. Esse período foi mandado sos n? 315/D1/GB, de 20-10-67 e
averbar em seus assentamentos, co- 102/D1/GB, de 22-3-68, tornados in-
mo tempo de serviço militar, com subsistentes pelo Aviso n? 2/72.»
base no Aviso n? 425/1964 ( fls. 30)
(Boletim Interno n? 234, de 15-12- Não parece, assim, desde logo,
1966), considerando-se, outrossim, Possível, no âmbito do mandado de
essa averbação para os efeitos da segurança, quanto a esse aspecto,
Lei n? 1.156/1950 (fls. 31). Ocorre, po- reconhecer estivesse o impetrante
R.T.J. — 108 547

com direito adquirido, por força do saudoso Ministro Adaucto Cardoso,


citado art. 60, da Lei n? 4.902, a onde o Supremo Tribunal Federal
transferir-se à inatividade, com a quanto ao serviço militar, afirmou
subsistência dos efeitos da averba- que, como tal não se conceitua, para
ção de tempo de serviço, relativo ao os efeitos da Lei n? 1.156/50, o ades-
Tiro de Guerra, em ordem a não se tramento ministrado pelos Cursos de
poder operar o cancelamento da re- Instrução Pré-Militar e Tiros de
ferida averbação, certo que perma- Guerra.
neceu na atividade até 1981, somente Em seu pronunciamento, analisou
quando requereu transferência á Re- a quaestio Puis o Senhor Ministro
serva. O entendimento firmado na Decio Miranda, nestes termos:
Súmula n? 359, segundo o qual os
proventos da inatividade regulam-se
pela lei vigente ao tempo em que o «Sobre o cômputo, ou não, de
militar ou o servidor civil reúne os tempo de serviço dessa natureza,
requisitos necessários à inatividade para os fins do estabelecido na Lei
voluntária, não o tenho aqui, assim, n? 1.156 de 12-7-50, houve certa va-
como invocável, porque não existia cilação na Administração Militar,
lei, explicitamente, garantindo tal. como se vê do expediente, constan-
Na espécie, ademais, cumpre en- te destes autos, fls. 28/31, em que o
tender que a averbação de tempo de saudoso General Antonio Carlos de
serviço, por si só, não dá nem tira Andrada Serpa, então Chefe do De-
qualquer direito, salvo se a lel, de partamento Geral do Pessoal, pro-
explícito, a ordenar ou lhe conferir punha revisão do contido no item 2
essa eficácia. do Aviso n? 2, de 26 de Janeiro de
1972, do Ministro do Exército, que
Afastado, dessarte, dito aspecto da havia estabelecido «a nulidade das
impetração, quanto ao mais, a maté- averbações, Já procedidas, nos as-
ria Já logrou apreciada por esta Cor- sentamentos dos militares da ati-
te, em mais de uma oportunidade, va, conseqüentes de serviços pres-
em termos que não favorecem ao tados em Orgãos de Formação da
impetrante. Reserva nos locais considerados
Assim, pedido semelhante foi jul- como Zona de Guerra, definida e
gado, no Mandado de Segurança n? delimitada pelo art. 1? do Decreto
20.304-8-DF, em Sessão Plenária de n? 10.490-A, de 25 de setembro de
1-4-1982, Relator o eminente Ministro 1942, para os efeitos do estabeleci-
Decio Miranda, restando o acórdão do na Lel n? 1.156, de 12 de Julho de
com a seguinte ementa: 1950, que estendeu os benefícios da
Lei n? 616, de 2 de fevereiro de
«Militar. Transferência para a 1949, modificadora da Lei n? 288,
inatividade. de 8 de Junho de 1948, a todos os
militares que prestaram serviços
Não se leva em conta, para os na Zona de Guerra definida e deli-
efeitos da Lei n? 1.156, de 1950, o mitada pelo Já citado Decreto».
tempo decorrido na condição de
aluno de Tiro de Guerra sediado
em zona compreendida pelo Decre- Todavia, prevaleceu, afinal, o
to n? 10.490-A, de 1942.» entendimento de que esse tempo de
serviço não era de contar-se como
Em seu douto voto, acompanhado «tempo de serviço militar.» Não foi
pela unanimidade do Tribunal, refe- acolhida, ao que tudo indica, a su-
riu, Inclusive, o ilustre Relator o pre- gestão, acima referida, de março
cedente do Mandado de Segurança de 1979, do então Chefe do Depar-
n? 19.849-GB, a 10-6-1970, Relator o tamento do Pessoal do Exército.

548 R.T.J. - 108

Essa orientação da superior Ad- Do exposto, indefiro o mandado de


ministração Militar encontra res- segurança.
paldo no precedente desta Corte ci-
tado no parecer da douta EXTRATO DA ATA
Procuradoria Geral da República.
Trata-se do Mandado de Segu- MS 20.315-DF — Rel.: Ministro Né-
rança n? 19.849, RTJ 58/164, relator ri da Silveira. Impte.: Deuslet Bar-
o saudoso Ministro Adauto Cardo- bosa (Advs.: Ronaldo Ribeiro Faria
so, em que se acolheu a manifesta- e Gustavo Lauro Korte Júnior). Au-
ção do Procurador-Geral da Repú- toridade coatora: Presidente da Re-
blica, Prof. Xavier de Albuquer- pública.
que, que hoje, com tanto regozijo
da Justiça, preside a esta Casa, a Decisão: Indeferiu-se o pedido,
dizer que o tempo da instrução mi- unanimemente. Falou pelo Impte. o
litar em Tiro de Guerra «não con- Dr. Gustavo Lauro Korte Júnior.
tém qualquer requisito que o possa
qualificar para efeito do discutido Presidência do Senhor Ministro
favor (refere-se ao da Lei n? Xavier de Albuquerque. Presentes á
1.156/50), que se prende, é certo, à Sessão os Senhores Ministros Djaci
presunção legal de que o servidor Falcão, Cordeiro Guerra, Moreira
militar, ao qual se endereça, tenha Alves, Soares Muiloz, Decio Miran-
enfrentado os riscos do profissiona- da, Rafael Mayer, Firmino Paz, Né-
lismo exercido em zona da guer- ri da Silveira e Alfredo Buzaid —
ra». Procurador-Geral da República,
Professor Inocência Mártires Coelho.
Fazendo remissão a esse prece-
dente da jurisprudência desta Cor- Brasília, 22 de abril de 1982 —
te, que adoto, indefiro o mandado Jonas Célio Monteiro Coelho, Secre-
de segurança.» tário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.351 — RJ


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão
Impetrante: Hélio Ferreira Martins — Autoridade Coatora: Excelentíssi-
mo Senhor Presidente do Tribunal de Contas da União.
Contribuição previdenciária prevista no art. 2? do Decreto-lei n?
1.910, de 29.12.81. Servidor aposentado que vinha contribuindo para o
antigo IPASE, até que ficou isento por força da Lei n? 6.439, de 1.9.77.
Revogada a isenção em virtude do Decreto-lei n? 1.910/81, não há que
falar em direito adquirido (;) 3? do art. 153, da Constituição Federal).
Mandado de segurança denegado.

ACÓRDÃO na conformidade da ata do julga-


mento e das notas taquigráficas, em
Vistos, relatados e discutidos estes indeferir o mandado de segurança.
autos, acordam os Ministros do Su- Brasília, 10 de novembro de 1983 —
premo Tribunal Federal, em sessão Cordeiro Guerra, Presidente —
Plenária, à unanimidade de votos e Djaci Falcão, Relatar.
— 108 549

RELATÓRIO esse fato novo, não pode operar re-


troativamente, visando alcançar
O Sr. Ministro Djaci Falcão: Hélio situações já definidas nos termos
Ferreira Martins impetra mandado da Legislação até então prevale-
de segurança contra ato do Senhor cente que deu situações estabiliza-
Presidente do Tribunal de Contas da doras, concretas, planejadas e com
União, expondo e requerendo tex- regras da Lei Previdenciária com
tualmente: suporte de forma real ao estado
«1. O impetrante é funcionário habitual de vida aos milhares de
civil aposentado, do Tribunal de Brasileiros aposentados, os be-
Contas da União, conforme declina nefícios decorrente e exposto, fo-
o ato n? 48, do Excelentíssimo Se- ram de forma irreversível e sem a
nhor Presidente do Tribunal de mínima condição de transforma-
Contas da União, publicado no Diá- ção social, Incorporado ao
rio Oficial do dia 9 de agosto de Patrimônio do Impetrante, fazendo
1966, fls. 126, (doc. anexo n? 4). parte consagradamente do seu Pla-
Pelo Memorandun-Circular nejamento orçamentário em todos
n? 189-DA/SAF, de 20 de maio de
os aspectos, caracterizando, dessa
1982 (doc. anexo n? 5), o Órgão aci- forma, um direito liquido e certo,
ma mencionado, determinou fosse adquirido e amparado pela Lei
aplicado ao Impetrante, o disposto maior, em seu artigo 153 § 3?
no artigo 2? do Decreto-lei n? 1910, (Constituição Federal).
de 29 de dezembro do ano. p. 'A lei não prejudicará o direito
pretérito, que dispõe sobre contri- adquirido, o ato jurídico perfeito
buições para o custeio da Previ- e a coisa julgada'. Art. 153 § 3?
dência Social e dá outras providên- da Constituição da República Fe-
cias. derativa do Brasil.
O Impetrante é data venta, 5. De forma mais racional,
amparado pela Lei n? 6.439 de 1? de Data Vênia, não há como admitir e
setembro de 1977, que em seu arti- aceitar as Leis feitas sem o míni-
go 31, isentou os servidores civis mo sentimento de respeito as ou-
aposentados da União e de suas au- tras Leis, como ditação, sempre
tarquias, de contribuírem para a contrárias as outras normas jurídi-
Previdência Social, assim determi- cas do Pais e desprezando violen-
nado: tamente as determinações Consti-
Os servidores públicos civis tucionais e não há também como
aposentados da União e de suas admitir que as regras do jogo, sejam
Autarquias, ficam isentos de con- transformadas e alteradas em pre-
tribuições para a Previdência So- juízos, daqueles que obtiveram
cial — art. 31 Lei n? 6.439 de 1-9- com tantos esforços, dedicação e
sacrifícios por longos e difíceis
77. anos de vivência como funcionário
4. Surpreendido pelo citado público, que lhe concedia por di-
memorandun-circular e de uma reito e merecimento o gesto da
forma geral todos os seus colegas Aposentadoria e, determinado as
aposentados, pela severidade da formas e regras reguladoras ao
sua aplicação e ilegalidade, insur- passar dos anos, sejam tirados de
ge o Impetrante contra o mesmo, forma mais brutal, desumana e
embora reconhecendo a revogação cruel, os direitos do Impetrante,
da Lei n? 6.439/77 em seu artigo n? prejudicando .o já seu escasso salá-
31, pelo Decreto-lei n? 1.910/81, no rio e desconhecendo os autores, as
entanto entende o suplicante que, dificuldades e situações difíceis
550 R.T.J. — 108

que atravessam economicamente parado pelo art. 31 da Lei n?


os aposentados, impossibilitados 6.439/77, que isentou os servidores
por condições de saúde, física e públicos civis aposentados da
idade, de melhores condições de União e suas autarquias de contri-
rendimentos familiar, somente vi- buições previdenciárias e, embora
vendo com o atual provento, plane- tal dispositivo tenha sido expressa-
jado desde antes da citada aposen- mente revogado no art. 5? do De-
tadoria. creto-lei em questão, a isenção fi-
As leis em regra fundamental, cou incorporada ao seu patrimônio,
não retroagem, porque só assim os como direito adquirido.
direitos e situações gerados em vi- A Autoridade Coatora, pres-
gência delas gozam de estabilidade tando informações, esclarece que
e segurança: se limitou ao cumprimento do di-
Em face do que foi exposto e em ploma legal em apreço.
decorrência do que estabelece o Impetrado perante ao Egré-
art. 55 2? da Constituição da Re- gio Tribunal Federal de Recursos e
pública Federativa do Brasil, o im- pelo despacho de fls. 12 encami-
petrante temeroso de sofrer pre- nhado a este Egrégio Supremo Tri-
juízos financeiros irreversíveis, bunal, tendo em vista o art. 119, I,
Requer Liminarmente, a suspen- letra i, da Constituição, parece-nos
são do desconto anunciado pelo configurar-se a competência origi-
memorandun (doc. 5), até de que nária em questão.
forma final, proceda no mérito e
do Direito o julgamento definitivo, Não há porque se invocar di-
por ser esta a mais sábia e salu- reito adquirido ou, ainda, ato
tar maneira de fazer, Justiça» (fls. jurídico perfeito e amparo na Sú-
2/4). mula 359.
O pedido vem instruido com os do- A contribuição previdenciá-
cumentos de fls. 5 a 9. Ajuizado pe- ria dos aposentados em geral e dos
rante o egrégio Tribunal Federal de pensionistas foi estabelecida, con-
Recursos, o ilustre Ministro José forme o art. 2? do Decreto-Lei n?
Cândido, relator, proferiu o despa- 1.910/81, para fins de custeio da as-
cho de fls. 12, declinando a incompe- sistência médica.
tência daquela Corte, em face do 6. O fato de as pessoas em
art. 119, inc. I, letra i, da Constitui- questão não contribuírem anterior-
ção Federal. mente para a previdência social
Solicitadas as informações, foram constitui-se em simples política go-
prestadas regularmente conforme se vernamental de ordem econômico-
vê às fls. 19/28, que leio. social, em conjugação com o pró-
prio sistema previdenciário do
Por último, manifestou-se a Procu- País e suas diversas formas de
radoria Geral, nos seguintes termos: atendimento e preenchimento de fi-
nalidades, as quais possuem senti-
«1. O Impetrante, servidor apo- do evolutivo. De se anotar, tam-
sentado do Tribunal de Contas, por bém, que o fato de a contribuição
ato datado de 1966, alega ter direi- em causa ter sido criada antes e,
to liquido e certo ao não desconto após, revogada, não possui interfe-
em seus proventos da parcela para rência de direito com o dispositivo
fins de previdência social, ins- legal ora em discussão, tratando-
truída pelo Decreto-Lei n? 1.910/81, se, sim, repetimos, de matéria de
porque, anteriormente, estava am- ordem econômico-social.
R.T.J. — 108 551

7. Assim, a alegação de que os 'Na verdade, a admitir-se a ex-


aposentados anteriormente ao clusão do desconto da contribui-
Decreto-lei n? 1.910/81 estão imu- ção previdenciária no pagamento
nes à sua incidência porque prote- do beneficio aos aposentados, isto
gidos pelo ato Jurídico perfeito, di- terá como conseqüência natural
reito adquirido e ou Súmula 359, o reconhecimento e a proclama-
não possui substância à singela ção da gratuidade da assistência
consideração de que se tratam de médica, o que não está previsto
coisas diferentes, isto é, os proven- na legislação.
tos e as pensões em si, fixados per- Realmente, de acordo com o
centualmente ou não, nada pos- disposto no artigo 46 da Lei n?
suem em comum ou em contradi- 3.807/60, na redação da Lei n?
ção com a contribuição previden- 5.890/73, essa assistência é supor-
ciária para fins de assistência mé- tada pelos próprios segurados.
dica. Exemplificando, paralela- com sua contribuição que é
mente, apenas para fins de argu- possível formar os recursos fi-
mentação, temos que, acaso hou- nanceiros a que alude o texto'.
vesse direito adquirido à imutabili-
dade em causa, tais pessoas, apo- 2 evidente que a contribui-
sentadas e pensionistas, não pode- ção previdenciária para fins de as-
riam sofrer a incidência, posterior- sistência médica não enfrenta, no
mente aos atos de inativação, de particular, o entendimento uris-
novos percentuais do aumento do prudencial da Súmula 359, pois não
imposto de renda. Os proventos ou se trata de revisão dos proventos.
pensões continuam imutáveis em Estes, continuam imutáveis e o
seus percentuais e a incidência da desconto sofrido pelo servidor a-
nova regra legal não lhes retira tal posentado possui origem e desti-
qualificação. A redução, que ocor- nação diversas. A assistência mé-
re na prática, é em atenção a uma dica não é vantagem ou prerrogati-
contraprestação de serviços de as- va do servidor público em geral,
sistência médica que, se antes gra- mas sim, obrigação do Estado e se
tuita, pode ser modificada, mesmo este necessita de correspondente
porque a Constituição dispõe em contraprestação financeira da pes-
seu art. 153, 1?, que todos são soa assistida, a questão se resume
iguais perante a lei e a igualdade em simples política de governo.
de todos, no caso, é em relação à Assim como, anteriormente, foi
previdência social. A gratuidade instituída e após retirada, pode ser
da assistência médica não está novamente instituída, sem feri-
prevista na Constituição que, ao mento de qualquer direito em rela-
contrário, prevê a contribuição por ção a qualquer tipo de segurado.
parte de todos os interessados, se- Permitindo-nos anexar cópia
gurados, genericamente, conforme do nosso pronunciamento no MS
seu art. 165, XVI, e mesmo que es- 20.332, onde a matéria foi mais am-
tivesse inscrita na legislação ordi- plamente examinada, somos pelo
nária, de maneira expressa, não indeferimento do mandado de se-
consubstanciaria qualquer direito gurança.
adquirido. Aliás, o Eminente Presi- Brasília, 27 de setembro de 1982.
dente do Tribunal Federal de Re- Mauro Leite Soares,
cursos, Ministro Jarbas Nobre, em Subprocurador-Geral da República
seu despacho referido às fls. 25 pe- — Aprovo: Inocêncio Mártires Coê-
la Autoridade Coatora assinala a lho, Procurador-Geral da
respeito: República» e (fls. 52/55).

552 R.T.J. - 108

VOTO nefícios superior a 10 (dez) e infe-


rior ou igual a 15 (quinze) vezes o
O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela- salário mínimo regional;
tar): O impetrante, funcionário apo- II — Pensionistas:
sentado, do Tribunal de Contas da 3% (três por Cento) do valor dos
União, desde agosto de 1966, insurge- respectivos benefícios.»
se contra ato do mesmo Tribunal,
que determinou o desconto nos seus Diante desse novo diploma a admi-
proventos, da contribuição destinada nistração tomou providências para a
ao custeio de assistência médica, sua execução, abrangendo todos os
prevista pelo art. 2? do Decreto-lei aposentados (fls. 8).
n? 1.910, de 29-12-81. Alega que é ti- Improcede, a meu juízo, a alega
tular de direito adquirido, porquanto ção de que os aposentados anterior-
estava amparado pelo art. 31 da Lei mente ao Decreto-lei n? 1.910/81 não
n? 6.439, de 1-9-77, que isentou os ser- estão sujeitos á sua incidência à viã-
vidores públicos civis aposentados ta da existência de direito adquirido
da União e suas autarquias de con- (§ 3? do art. 153 da Lei Maior).
tribuições previdenciárias.
As informações esclarecem que Na espécie, a lei nova alcança
desde a sua aposentadoria o impe- uma situação em curso, relativa a
trante vinha contribuindo para o an- contribuição previdenciária para
tigo IPASE, até que, a partir de ou- fins de assistência médica. O que
tubro de 1977, com o advento da Lei não se confunde com proventos da
n? 6.439, de 1-9-77, ficou isento da inatividade, regulados pela lei vigen-
contribuição previdenciária. Toda- te ao tempo em que o servidor reu-
via, o Decreto-Lei n? 1.910/81 revo- niu os requisitos necessários à obten-
gou a isenção, ao dispor no seu art. ção da aposentadoria (Súmula 359).
2?: No caso da súmula resguarda-se no
momento da aposentadoria, o direito
«Art. 2? Ficam estabelecidas adquirido, subordinado a uma condi-
contribuições dos aposentados em ção inalterável. Ora, proventos nada
geral e dos pensionistas, para cus- têm em comum com a contribuição
teio da assistência médica, na for- previdenciária para fins de assistên-
ma seguinte: cia médica. A contribuição do apo-
sentado se justifica pela contrapres-
I — Aposentados: tação de serviço de assistência médi-
3% (três por cento) do valor ca.
dos respectivos benefícios até o Não se trata, no caso sub judice do
equivalente a 3 (três) vezes o exercício de um direito prefixado e
salário mínimo regional; imutável. Havia, sim, um direito vá-
3,5% (três e meio por cento) lido até o momento da sua revoga-
do valor dos respectivos benefícios ção pela lei nova, que opera ex tunc.
superior a 3 (três) e interior ou
igual a 5 (cinco) vezes o salário A circunstância do serviço de as-
mínimo regional; sistência médica ter sido gratuito
Para o aposentado, durante certo
4% (quatro por cento) do va- período, não impede que lei nova ve-
lor dos respectivos benefícios supe- nha a admitir (no caso, readmitir)
rior a 5 (cinco) e inferior ou igual contribuições a cargo dos aposenta-
a 10 (dez) vezes o salário mínimo dos em geral. Como é sabido, entre
regional; nós não há a gratuidade da assistên-
4,5% (quatro e meio por cen- cia médica. A Constituição, ao tratar
to) do valor dos respectivos be- da previdência social, deixou claro

R.T.J. — 108 553

obrigatoriedade da contribuição do do com o interesse público.


empregado, para tal fim (art. 165, Ressalva-se, é claro, a modificação
inc. XVI). que venha a afetar uma situação
As leis especiais cabe estabelecer jurídica definitivamente constituída,
as condições de organização e fun- incorporada ao patrimônio do seu ti-
cionamento dos serviços de assistên- tular, a configurar direito adquirido.
cia ao servidor público, em ativida- Isso, contudo, não ocorre no caso
de, ou inativo, estabelecendo descon- consoante já ficou demonstrado.
tos em seus vencimentos ou proven- Ex positis indefiro o mandado de
tos (arte. 157 e 163 do Estatuto dos segurança.
Funcionários Públicos Civis da
União). EXTRATO DA ATA
Pondera, com propriedade, o pare- MS 20.351-RJ — Rel.: Ministro Dia-
cer do Dr. Mauro Leite Soares: ci Falcão. finte.: Helio Ferreira
«A assistência médica não é van- Martins (Advs.: Alfredo Luiz Ferrei-
tagem ou prerrogativa do servidor ra e outro). Autoridade coatora.: Ex-
público em geral, mas, sim, obri- celentíssimo Senhor Presidente do
gação do Estado e se este necessi- Tribunal de Contas da União.
ta de correspondente contra pres- Decisão: Indeferiu-se o pedido,
tação financeira da pessoa assisti- unanimemente.
da, a questão se resume em sim- Presidência do Senhor Ministro
ples política de governo. Assim co- Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
mo, anteriormente, foi instituída e os Senhores Ministros Djaci Falcão,
após retirada, pode ser novamente Moreira Alves, Soares Mufloz, Decio
instituída, sem ferimento de qual- Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
quer direito em relação a qualquer veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari-
tipo de segurado» (fls. 55). nho e Francisco Rezek. Ausente, li-
Ademais, não se pode perder de cendiado, o Senhor Ministro Alfredo
vista que a relação jurídica entre o Buzaid — Procurador-Geral da Re-
Poder Público e o funcionário, ativo pública, Substituto, o Dr. Mauro Lei-
ou inativo, é de natureza legal ou es- te Soares.
tatutária, tornando-se suscetível de Brasília, 10 de novembro de 1983 —
modificação pelo legislador, de acor- Albertb Veronese Aguiar, Secretário.
MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.352 — PR
(Tribunal Pleno)
Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Impetrantes: Agropecuária Padrão Ltda. — Soloquimica — Fertilizantes
e Defensivos Ltda. — Empresa Agrícola e Floresta Ltda. — e Transolo
Transportes Ltda. — Autoridade Coatora: Excelentíssimo Senhor Presidente
da República.
Mandado de Segurança. Impetração em caráter preventivo. Im-
petração contra lel em tese: descabimento.
Inviável dar-se à impetração de mandado de segurança caráter
preventivo se o ato por ele atacado — no caso o Decreto-lei n? 1.940 —
já foi expedido.
É da tranqüila Jurisprudência dos. Tribunais não ser passível de
impugnar-se lei em tese através de mandado de segurança.
Recurso extraordinário não conhecido.

554 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO menta o ato abusivo, determina às


Procuradorias da Fazenda Nacio-
Vistos, relatados e discutidos estes nal para que apurem e inscrevam
autos, acordam os Ministros do Su- em dívida ativa da União os débi-
premo Tribunal Federal, em sessão tos verificados.
plenária, na conformidade da ata do
julgamento e das notas taquigrãfi- Como a inscrição dos débitos em
cas, por maioria de votos, acolher a divida ativa trará às impetrantes
preliminar de descabimento, não se graves prejuízos, especialmente
conhecendo do mandado de seguran- pelo trancamento das operações
ça. bancárias — que habitualmente
realizam nos Estados do Paraná e
Brasília 1° de agosto de 1983 — Mato Grosso do Sul — onde são
Cordeiro Guerra, Presidente — Aldir exigidas Certidões Negativas de
Passarinho, Relator p/o Acórdão. débitos para com a Fazenda Nacio-
nal — é este mais um forte motivo
RELATÓRIO para justificar a concessão do
«mandamus».
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: As
impetrantes propõem mandado de Imponderável seria o prejuízo de
segurança contra ato do Exce- ordem moral, ao serem as Impe-
lentíssimo Senhor Presidente da Re- trantes compelidas ao pagamento
pública, consubstanciado no Decreto- pela via judicial, através de Exe-
lei n? 1.940, de 25-5-1982 — afirmam cutivos fiscais. Sabem Vossas Ex-
— «editado por S. Exa. em desacor- celências que no ramo comercial
do flagrante com os princípios cons- das Impetrantes, de grande con-
titucionais que regem a estrutura e a corrência — especialmente de em-
vida tributária do País». presas de capital não nacional — o
Dizem, na inicial de fls. 1/16, que simples ajuizamento de uma ação
para a cobrança de divida fiscal
«As empresas impetrantes, que gera efeitos danosos para o concei-
se dedicam ao ramo da produção e to e a reputação empresariais do
comercialização de sementes, com- suposto devedor» ( fls. 2/3).
pra e venda de adubos, fertilizan-
tes, defensivos, implementos 2. Alegam «ilegalidade e abuso
agrícolas, etc. e de transporte de de poder na criação do tributo», com
cargas, estão sujeitas — por impo- violação do artigo 153, § 29, da Cons-
sição da autoridade coatora e caso tituição Federal, já que não poderia
prospere o ato abusivo — ao reco- o Presidente da República criar
lhimento do tributo inconstitucio- tributo, ou majorá-lo, pois, tal não se
nalmente instituído pelo menciona- permite por decreto-lei, nos termos
do Decreto-lei n? 1.940. do art. 55, se não se trata de norma
Estão, assim, na iminência de tributária, pelo que só pode ser insti-
sofrer violação de direito líquido e tuído por lei, invocando ainda o arti-
certo, qual seja a de recolher aos go 19, I, da Constituição Federal.
cofres públicos tributo manifesta- Em se tratando de tributo — afir-
mente inconstitucional, instituído mam — não é autorizada a criação
de forma arbitrária e portanto com pelo artigo 21, § 2?, em que se baseou
abuso de poder por parte da autori- a autoridade coatora para baixar o
dade coatora. Decreto-lei n? 1.940. E alegam:
A Portaria n? 119, baixada pelo «Este dispositivo diz que a União
Sr. Ministro de Estado da Fazenda poderá criar contribuições para in-
e que apenas e meramente regula- tervir no domínio econômico, no in-

R.T.J. — 108 555

teresse de categorias profissionais mento de Aliomar Baleeiro e o deci-


e para o custeio da previdência so- dido na Rp n? 981/5, Relator o Exmo.
cial. Ministro Djaci Falcão (fls. 11/12).
Sob este aspecto cabe observar: Por fim, afirma-se que ao adotar
a) O art. 21, § 2?, não diz que o base de cálculo idêntica à de outros
Presidente da República poderá tributos, fere os artigos 18, § 5? e 21,
baixar decretos-leis criando contri- § 1?, da Constituição. E ao vinculá-lo
buições! ao Fundo de Investimento Social,
A União, sim, é que pode, atra- criado pelo mesmo Decreto-lei, ofen-
vés de lei federal, instituir tal en- de o art. 62, § 2?.
cargo, em casos excepcionais. Requereram a concessão de
E o que é União? É o Estado Fe- «liminar, determinando-se à Procu-
deral, representado pelos Poderes radoria da Fazenda Nacional para
que o constituem — Legislativo, que se abstenha de cobrar e de ins-
Executivo e Judiciário. crever em divida ativa da União os
débitos das impetrantes, apurados
Tanto é que a Constituição da pelo não recolhimento do tributo ins-
República admite que a iniciativa tituído pelo Decreto-lei n? 1.940, de
das leis cabe a qualquer dos pode- 25-5-82», bem como a tramitação e a
res, inclusive dos Tribunais fede- condenação, afinal, nas cominações
rais (artigo 56 da CF). legais.
I)) O art. 1? do Decreto-lei n? Indeferida a liminar, por não
1.940 diz a que se destina a contri- configurados os pressupostos de sua
buição social por ele mesmo insti- concessão, e regularizada a repre-
tuída: a investimentos de caráter sentação das Impetrantes (despacho
assistencial em alimentação, habi- de fls. 33), a fls. 56/114, prestou a au-
tação popular, saúde, educação e toridade impetrada informações, pe-
amparo ao pequeno agricultor. lo Ministério da Fazenda.
Ora, isto não é intervenção no Após largamente examinar a ques-
domínio econômico. tão, as informações assim concluem,
A intervenção no domínio econô- resumindo os fundamentos do pedido
mico é definida no art. 160-V da e a resposta da autoridade impetra-
Constituição e tem como objetivo da (fls. 111/114):
«a repressão ao abuso do poder
econômico, caracterizado pelo
domínio dos mercados, a elimina- 203. De todo o exposto verifica-
ção da concorrência e o aumento se que, no presente Mandado de
arbitrário dos lucros». Segurança:
Nestes casos é que poderá a postula-se a declaração de
União, mediante lei, instituir con- inconstitucionalidade do Decreto-
tribuição, observando o que dispõe lei n? 1.940, de 25 de maio de
o art. 21, § 2?, combinado com o 1982, através do qual foi criada a
art. 163, parágrafo único, da CF» contribuição do FINSOCIAL;
(fls. 8/10).
postula-se, ainda, que de-
3. Demais disso, levantam «a in- clarada sua inconstitucionalidade
constitucionalidade do tributo pela seja remetida cópia da decisão
violação ao principio da anualidade ao Senado Federal, para os fins
e da anterioridade da lei», invocando previstos no art. 42, inciso VII,
o artigo 153, § 29, da CF e o ensina- da Constituição;

556 R.T.J. — 108

3. as alegações contrárias à se incluir na discricionariedade


contribuição do FINSOCIAL, em do Legislativo e do Executivo,
síntese, subsumem-se • em in- que participam do processo legis-
fringência: a) ao princípio da lativo peculiar ao decreto-lei;
legalidade, pois decreto-lei não
poderia criar ou majorar tribu- tanto a doutrina, como o
tos, visto a natureza tributária sistema constitucional e legal de
da referida contribuição; h) ao diversos países ocidentais — Itá-
principio da anterioridade — lia (Const., art. 23), Espanha
pois, sendo imposto como afir- (Const., arts. 31-3), México
mam —, não poderia ser cobrado (Const., art. 73, § 5?, incs. VII e
no mesmo exercício financeiro. XXIX; Cód. Fiscal da Federação,
art. 1?), prevêem genericamente
204. Essas alegações, como so- a competência para instituição
bejamente demonstrado, são total- de prestações pessoais e patrimo-
mente improcedentes, eis que: niais, contribuições e impostos
preliminarmente, as impe- em geral;
trantes insurgem-se contra a lei
em tese, o que é inadmitido na no Sistema Constitucional e
lei e na jurisprudência; Legal brasileiro, paralelamente
aos tributos (impostos, taxas e
outrossim, formulam contribuição de melhoria), coe-
representação de inconstitucio- xistem inúmeras imposições pe-
lidade ao Supremo Tribunal Fe- cuniárias obrigatórias, entre as
deral, quando o titular para sua quais as contribuições sociais e
promoção é o Procurador-Geral dentre estas a contribuição do
da República; FINSOCIAL;
as Constituições de diversos a contribuição do FINSO-
países civilizados e democráticos CIAL, na sua essência, nada tem
adotam a figura do decreto-lei — de tributo, pois constitui, insofis-
Itália, Espanha, Portugal — ou mavelmente, uma contribuição
instrumento similar — França, social, na acepção da Constitui-
Alemanha; ção e do Código Tributário Nacio-
no Sistema Constituçional nal, inserido no conceito mais
brasileiro, o decreto-lei é instru- amplo de seguridade Social, exi-
mento legislativo adequado, nos gida das empresas públicas e pri-
casos de urgência e relevante in- vadas (Decreto-lei n? 1.940, de
teresse público, não só para dis- 1982), para custear investimentos
por sobre finanças públicas em de caráter assistencial em ali-
geral, inclusive criação ou majo- mentação, habitação popular,
ração de contribuições e outras saúde, educação e amparo ao pe-
prestações pecuniárias ou patri- queno agricultor;
moniais, como também sobre
matéria tributária, inclusive tal contribuição, por não
criação ou majoração de tribu- ser tributo, mas imposição pecu-
tos; niária obrigatória, amparada pe-
lo Sistema Constitucional e Legal
5. os pressupostos de urgência brasileiro, não se submete ao
e relevante interesse público, por chamado principio da anteriori-
envolverem decisão política, es- dade, nem tampouco, ao preceito
capam à apreciação do Poder Ju- constitucional que veda a vincu-
diciário, conforme reiteradas de- lação do produto da arrecadação
cisões do Pretório Excelso, para de qualquer tributo;

R.T.J. — 108 557

admitida, apenas ad contra o Exmo. Sr. Presidente da


argumentandum, que a contribui- República é o artigo 7? do
ção do FINSOCIAL de tributo se Decreto-lei n? 1.940, de 25-5-82,
tratasse, ainda assim não estaria que institui contribuição social,
adstrita ao princípio da anteriori- cria o Fundo de Investimento So-
dade, uma vez que, por força da cial — Finsocial, e dá outras pro-
ressalva do inciso I, 2?, artigo vidências.»
21 da Constituição, aplica-se-lhe o
mesmo tratamento deferido ao Aplicável, assim, a Súmula 266,
Imposto sobre importação de pro- que declara não caber mandado
dutos estrangeiros; de segurança contra a lei em te-
demais disso, os preceitos se.
do art. 55 da Constituição, que Casso a liminar e indefiro a ini-
dispõem sobre a figura do cial.
decreto-lei, em face de seus pres-
supostos de urgência e relevante Publicado este despacho, e de-
interesse público, excepcionam corrido o prazo legal, remetam-
não só o processo legislativo ordi- se os autos ao Juizo de origem,
nário, clássico, como também o para providências atinentes ao
princípio da anterioridade. depósito efetuado pelas impe-
12. Assim sendo, resta uma trantes.»
última conclusão, qual seja: a
perfeita adequação da contribui- Realmente, o caso presente é
ção do FINSOCIAL ao figurino idêntico e, aliás, as próprias Impe-
constitucional pátrio, inexistindo, trantes esclarecem às fls. 3: «A
portanto, direito, muito menos Portaria n? 119, baixada pelo Sr.
liquido e certo, amparável pela Ministro de Estado da Fazenda e
via angústia do mandado de se- que apenas e meramente regula-
gurança, à abstenção do respecti- menta o ato abusivo, determina às
vo recolhimento» ( fls. 111 a 114). Procuradorias da Fazenda Nacio-
nal para que apurem e inscrevam
6. A douta Procuradoria-Geral da em dívida ativa da União os débi-
República, pelo Ilustre Subprocura- tos verificados».
dor-Geral Mauro Leite Soares, com o Portanto, trata-se de impe-
aprovo do Eminente Procurador- tração contra a lei em tese e a Au-
Geral Inocência Mártires Coelho opi- toridade Coatora é outra , que não
nou pelo não conhecimento do man- esta contra a qual foi requerido
dado, ou, acaso conhecido, pelo seu mandado de segurança, pois o Se-
indeferimétito ( fls. 118/120), afir- nhor Presidente da República, no
mando (fls. 118): uso de suas atribuições constitucio-
nais, limitou-se à edição do ato im-
pugnado.
3. Parece-nos flagrante a im-
possibilidade jurídica de conheci- 6. No mérito, acaso ultrapassa-
mento do pedido, a exemplo do su- da a preliminar, temos que o pare-
cedido ao MS 20.348, Relator Minis- cer da Ilustrada Procuradoria-
tro Décio Miranda, com o seguinte Geral da Fazenda Nacional bem
despacho publicado no DJ de 18-8- demonstra a incensurabilidade do
82: ato impugnado e, assim, ao mesmo
nos permitimos remissão.»
«O ato que se ataca neste man-
dado de segurança requerido E o relatório.

558 R.T.J. — 108

VOTO preventivo, por considerarem os im-


petrantes iminente o perigo que pre-
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re- tendem com ele conjurar.
lator): A matéria suscitada na impe- Aparentemente, dissemos, porque,
tração tem sido objeto de larga con- na verdade, o mandado de seguran-
trovérsia, na qual se debatem teses ça preventivo sempre, ou quase sem-
de inegável importância: de um la- pre, se avizinhará da impetração
do, o Governo, que considera essen- contra lei em tese — se tenta conju-
cial à efetivação de sua política de rar o justo receio de sofrer o abuso
desenvolvimento social a prestação ou a violação por parte de autorida-
que exige, em virtude do Decreto-lei de.
n? 1.940/82; de outro, os contribuin- 4. Principalmente, em casos co-
tes, que não só lhe impugnam a for- mo o que se enfrenta, no qual a
ma e a oportunidade legais — que ameaça é de imposição fiscal, que
consideram abusivas e inconstitucio- parece aos impetrantes inconstitu-
nais — como duvidam dos objetivos cional, e, que, sem sombra de dúvi-
a que diz visar da, os atingirá, se se enquadram nas
2. Na hipótese, são, sobretudo, os hipóteses previstas no dispositivo do
aspectos constitucionais os que vêm decreto-lei que impugnam, e a esta
postos na impetração e consubstan- altura, já os atingiu.
ciados nas afirmações: Se, aparentemente, pois, se insur-
da ilegalidade e abuso de poder gem contra lei em tese, na verdade
na criação do tributo por decreto-lei; é contra lei que os vai, inexoravel-
na inconstitucionalidade do tri- mente, atingir que se rebelam, antes
buto pela violação ao principio da que isso aconteça e certos de que vai
anualidade e anterioridade da lei. acontecer, já que a lei é impositiva e
na ofensa aos artigos 18, § 5? e ao seu império não podem fugir.
21, § 1? — base de cálculo idêntica à Apenas, os efeitos que defluirão
de outros tributos; desse atingimento já são conhecidos
vinculação ao Fundo de Investi- e estão previstos no texto legal inqui-
mento Social — vedada pelo art. 62, nado; e as conseqüências ás quais se
*2? submeterão se lhe não atenderem ao
Aquela primeira fere mortalmente comando, serão de suma gravidade:
a criação do FINSOCIAL, já que não fiscal, comnão
taxados, e atendida a imposição
o pagamento — assina-
se teria submetido à forma legal e lam «imponderável seria o prejuízo
constitucional da criação — por lei, de ordem moral, compelidas as im-
mas por decreto-lei; a segunda, tor- petrantes ao pagamento, pela via ju-
naria incablvel, em 1982, a contribui- dicial, através de executivos fis-
ção mas não a prejudica na sua vi- cais;» «a Inscrição dos débitos em
gência posterior a esse exercício. dívida ativa trará às Impetrantes
3. Há, porém, que examinar a graves prejuízos, especialmente pelo
preliminar, levantada nas informa- trancamento das operações bancá-
ções: a de que a impetração se faz rias que habitualmente realizam nos
contra lei em tese e se pleiteia, na Estados do Paraná e Mato Grosso do
verdade, pela via oblíqua, do manda- Sul — onde são exigidas Certidões
do de segurança, a representação de Negativas de débitos para com a Fa-
inconstitucionalidade. zenda Nacional» (fls. 4).
Não resta dúvida de que, aparente- Aliás, este tem sido grande argu-
mente, tal se verifica, em face de se mento às vezes, irrespondível, usado
tratar de mandado de segurança pela Fazenda Nacional, para forçar

R.T.J. — 108 559

os contribuintes a prestações nem (v.g. RE 81.847 — Relator o Exmo.


sempre corretamente devidas: o não Ministro Leitão de Abreu — RTJ
pagamento acarreta mal maior, da- 90/518; MS 15.006 — Pleno - RTJ
nos maiores, quando não irrepará- 36/644; MS 18.428 — RTJ 54/71).
veis. Desta forma, rejeito a preliminar
5. Em tais casos, a jurisprudência de descabimento do pedido por se
desta E. Corte tem admitido que a tratar de mandado de segurança
medida especial é cabível, e tem-lhe contra lei em tese: o mal a que visa
examinado o mérito. obviar é imediato, iminente ou pre-
E em Castro Nunes (Do Mandado sente, e não há remédio processual
de Segurança 8? ed. atualizada por no qual possam os impetrantes re-
J. A. Dias — Forense 1980 — pág. 81, correr.
nota 19) se lê: E o voto.
«Também nos casos de seguran-
ça preventiva em que se receia a
prática de ato ou proibição VOTO (PRELIMINAR)
inconstitucional fundada na lei. O
ataque se dirige, já então, a um O Sr. Ministro Aldir Passarinho:
ato ainda inexistente, mas Sr. Presidente, data venia, discordo
presumido, a ser evitado ou exigi- do eminente Relator. S. Exa. falou
do. São hipóteses que envolvem em mandado de segurança preventi-
temperamentos na aplicação da re- vo. Não se pode considerar, no caso,
gra da inadmissibilidade da segu- mandado de segurança preventivo,
rança contra a lei em tese» ( grifos porque ele é dirigido contra o Sr.
do orginal). Presidente da República, e o ato ata-
Ou, como se disse na «Declaração cado, do Chefe do Executivo Fede-
do Congresso Internacional de Direi- ral, já foi expedido, sendo ele o
to Comparado, em Bruxelas, em Decreto-lei n? 1.940, de 25-5-82. As-
1958, lembrada por Celso Agrícola sim, não se poderia considerar man-
Barbi («Do Mandado de Segurança» dado de segurança preventivo senão
— 2? ed. — Forense — 1966, pág, 69) se fosse ele dirigido contra as autori-
«ameaça objetiva e atual». dades de execução do ato, prevendo
Em recente trabalho, concisamen- a possibilidade de vir a exigir-se dos
te, resume a doutrina a respeito, contribuintes o previsto no decreto-
Milton Flaks — «Mandado de Segu- lei aludido.
rança — Pressupostos da Impetra- No tocante ao segundo aspecto,
ção» — Forense — 1980 — págs. 151 parece-me que está sendo atacada a
e segs. lei em tese através do mandado de
E verdade que pedem, afinal, de- segurança. As leis, de modo geral,
clare este Pretório a inconstituciona- estabelecem ordenamento de caráter
lidade do Decreto-lei n? 1.940, de 25- impositivo a ser executado pelas au-
5-82 (fls. 16), mas esta seria a conse- toridades administrativas. São leis
qüência do acolhimento do pedido, que estabelecem aliquotas, majoram
que, como salientado na petição, é determinados tributos ou contribui-
excluir-se da obrigação de pagamen- ções, impõem aos particulares cer-
to da contribuição. tas obrigações. E tranqüilo neste
Tribunal, de fato, o entendimento so-
E quando a lei, por si mesma, bre a inviabilidade de mandado de
constitua, por seu enunciado, lesão a segurança contra as leis em tese,
direito subjetivo, não há recusar porque elas apenas fixam a discipli-
wrlt, como tem decidido a Corte na geral a ser adotada.

560 R.T.J. — 108

Por esses fundamentos, acolho a vênia do eminente Relator, acompa-


preliminar de descabimento do man- nho o eminente Ministro Aldir Pas-
dado de segurança. sarinho.
Lembro que esta Corte tem admi-
VOTO (PRELIMINAR) tido, excepcionalmente, mandado de
segurança contra lei, quando se tra-
O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr. ta de lei em sentido meramente for-
Presidente. Também discordo, data mal, sendo, materialmente, ato ad-
vertia do eminente Relator, para aco- ministrativo. Não é esta a hipótese
lher a preliminar, entendendo que, em julgamento.
em verdade, o mandado de seguran-
ça, como posto, se dirige contra a lei
em tese. Não há ver, ai, pedido de VOTO
segurança, de natureza preventiva,
dirigido que foi contra o Senhor Pre-
sidente da República, autor do de- O Sr. Ministro Djaci Falcão: Sr.
creto impugnado. O gravame, que o Presidente, também peço vênia ao
impetrante pretende não lhe seja im- eminente Relator para indeferir o
posto, decorreria do decreto. Não faz mandado de segurança, à vista de
o impetrante alusão a nenhum ato vários precedentes recentes. Por
de execução desse decreto. exemplo, os MS 20.210, de que foi Re-
lator o Ministro Moreira Alves, e
Assim sendo, de acordo com a ju- 20.381, por mim relatado.
risprudência deste Tribunal, con-
substanciada na Súmula 266, na es-
pécie, não cabe mandado de segu- EXTRATO DA ATA
rança. No caso, por via do mandado
de segurança, pretende-se a declara- MS 20.352-PR — Rel.: Ministro Os-
ção, em tese, de inconstitucionalida- car Corrêa. Imptes.: Agropecuária
de do Decreto em foco, para o que Padrão Ltda. Soloquímica — Fertili-
existe, em nosso sistema, instrumen- zantes e Defensivos Ltda., Empresa
to próprio, que é a representação por Agrícola Floresta Ltda. e Transolo
inconstitucionalidade de lei ou ato Transportes Ltda. (Advs.: Juarez A.
normativo federal ou estadual (CF Dietrich e outro). Coator.: Exce-
art. 119, I, letra 1). lentíssimo Senhor Presidente da Re-
VOTO (PRELIMINAR) pública.
Decisão: Acolhida a preliminar de
O Sr. Ministro Dedo Miranda: Sr. descabimento, não se conheceu do
Presidente, também peço vênia ao mandado, vencido o Ministro Rela-
eminente Relator, para indeferir o tor. Votou o Presidente. Impedido o
mandado de segurança, por se tratar Ministro Francisco Rezek.
de pretensão contra lei em tese. De Presidência do Senhor Ministro
resto, eu próprio, por despacho, in- Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
deferi um pedido no mesmo sentido, os Senhores Ministros Djaci Falcão,
por essa razão. E encaminhei ao Moreira Alves, Soares Mutioz, Decio
Juiz da Comarca a impetração, para Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
providências atinentes ao depósito veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
efetuado pelas impetrantes. Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
Procurador-Geral da República,
VOTO (PRELIMINAR) Professor Inocêncio Mártires Coelho.
O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr. Brasília, I? de agosto de 1983 —
Presidente, também, com a devida Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
R.T.J. — 108 561

HABEAS CORPUS N? 60.543 — MG


(Primeira Turma)
Relator. O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Paciente: Geraldo Rodrigues Filho — Impetrante: José Maria Mayring
Chaves — Coator: Tribunal de Justiça Militar do Estado de 'Minas Gerais.
Pena acessória.
O Tribunal de Justiça Militar, em grau de apelação, pode aplicar
a pena acessória de perda da função militar na forma do art. 102 do
Código Penal Militar a quem foi condenado a pena de dois anos de re-
clusão, embora não imposta na sentença de primeiro grau.
Inexistência de violação ao principio da reformatio In peias.
Habeas corpus indeferido.
ACORDÃO pena acessória de exclusão da
Policia Militar decorre da simples
Vistos, relatados e discutidos estes imposição da pena privativa de li-
autos, acordam os Ministros da Pri- berdade por tempo superior a dois
mtira Turma do Supremo Tribunal anos, ou pela natureza do delito, não
Federal, na conformidade da ata do se exigindo julgamento especial no
julgamento e das notas taquigráfi- caso de condenação da praça». (fls.
cas, por unanimidade de votos, em 26).
indeferir a ordem de habeas corpus.
Em face da decisão, impetrou a
Brasília, 13 de junho de 1983 — presente ordem de habeas corpus,
Soares Mtuloz, Presidente — Alfredo onde pretende a anulação do julga-
Buzaid, Relator. mento de 2? grau, porque contém
uma reformatio In peius, contrária
RELATORIO ao direito, já que daquela decisão so-
mente ele havia apelado.
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Ge-
raldo Rodrigues Filho está condena- Ocorre que o impetrante foi agra-
do pela 2? Auditoria da Justiça Mili- ciado com o indulto natalino. Em ra-
tar do Estado de Minas Gerais, co- zão disso foi declarada extinta a pu-
mo incurso no art. 303, § 2?, combi- nibilidade quanto ao restante da pe-
nado com os arts. 80 e 70, letras g e na. (fls. 32 ).
1, inciso II, do Código Penal Militar. As informações pedidas foram
Da decisão adversa apelou, tendo prestadas às fls. 39. Ouvida a douta
o Tribunal de Justiça Militar local Procuradoria-Geral da República,
negado provimento ao seu recurso, em parecer da lavra da il. Procura-
aplicando-lhe, no entanto, a pena dora Haydevalda Aparecida Sam-
acessória da perda das funções mili- paio, aprovado pelo eminente Prof.
tares. «como estabelece o art. 102 do Francisco de Assis Toledo. DD.
CPM, cuja imposição devia constar Subprocurador-Geral da República,
expressamente da sentença, como assim se manifestou, verbis:
determina o art. 107 do mesmo Códi- el. Insurge-se o impetrante con-
go». (fls. 10). tra decisão do Tribunal de Justiça
Interpôs, por isso, embargos In- Militar do Estado de Minas Gerais
fringentes, que não foram acolhidos, que, Improvendo recurso exclusivo
acentuando o Tribunal a quo que «a da defesa, determinou que fosse

562 R.T.J. — 108

aplicada, ainda, ao acusado a pena mente, da sentença condenatória,


acessória de exclusão da Corpora- que condenou o réu a três anos de
ção, como estabelece o art. 102 do reclusão, st apelou o réu. Mas o E.
CPM, visto ter sido condenado à Tribunal, interpretando os arts. 102 e
pena superior a dois anos de reclu- 107 do Código Penal Militar, concluiu
são. que, quando a condenação for supe-
A tese central da impetração rior a dois anos de privação da liber-
consiste em saber se a pena aces- dade, é obrigatória a imposição da
sória de perda da função pública pena acessória.
pode, ou não, ser aplicada em 2?
grau, quando houver recurso ape- Com efeito, no direito penal
nas da defesa. militar, a pena ou é principal ou é
acessória. Ora, segundo os melhores
A questão já foi decidida pela sufrágios da doutrina, a proibição da
Suprema Corte, em acórdão assim reformatio in peius entende com a
ementado: pena principal e não com a pena
«Pena acessória. Perda da fun- acessória (Manzlni, Diritto proces-
ção pública. Caso em que ela re- suale penale, IV, pág. 555; Carlo
sulta da simples imposição da Umberto Del Pozzo, L'appello nel
pena de reclusão por mais de processo penale, pág. 225). O juízo
dois anos, independentemente de de apelação pode aplicar a pena
declaração da sentença. Aplica- acessória, não só porque não é pena
ção do art. 102 do Código Penal em sentido próprio, como principal-
Militar em combinação com os mente porque o seu efeito decorre ex
arts. 68, II, e 70, I e parágrafo lege. A proibição de reformatio in
único do Código Penal. Habeas peius concerne à espécie da pena e á
corpus indeferido». (HC n.? sua quantidade. Sob este aspecto, o
57.080-RS — Rel.: Sr. Ministro E. Tribunal, negando provimento à
Soares Mufloz RTJ 96/1.020). apelação do réu, manteve a pena
4. Dessa forma, entende-se que principal da decisão de primeiro
a pena acessória, na hipótese de grau. E impôs a pena acessória co-
perda da função pública, no caso mo conseqüência ex lege da pena
de condenação judicial superior a principal.
dois anos, constitui condição inar-
redavel de sentença. Este é também o entendimento
Somos, em face do exposto, pe- do Supremo Tribunal Federal, como
lo indeferimento do writ». (fls. se vê do v. acórdão desta Turma, em
56/57). 26-6-79, habeas corpus n? 57.080, de
E o relatório. que foi Relator o eminente Ministro
Soares Mufioz, cuja ementa diz:
VOTO «p ena acessória. Perda da fun-
ção pública. Caso em que ela resul-
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re- ta da simples imposição da pena
lator): 1. Cuida-se de saber, na pre- de reclusão por mais de dois anos,
sente ação de habeas corpus, se o independentemente de declaração
Egrégio Tribunal de Justiça Militar da sentença. Aplicação do art. 102
do Estado de Minas Gerais, ao apli- do Código Penal Militar em combi-
car, em grau de apelação, a pena nação com os arts. 68, II, e 70, I e
acessória de exclusão do impetrante parágrafo único do Código Penal.
da Corporação policial, proferiu de- Habeas corpus indeferido». (RTJ
cisão com reformatio in peitas. Real- 96/1.020).
R.T.J. — 108 563

Ante o exposto, indefiro o pedido negando provimento à apelação do


de habeas corpus. réu, manteve a pena principal da
E o meu voto. decisão de primeiro grau. E impôs
a pena acessória como conseqüên-
EXTRATO DA ATA cia ex lege da pena principal».
HC 60.543-MG — Rel • Min. Alfredo E concluiu:
Buzaid. Pacte.: Geraldo Rodrigues Este é também o entendimento
Filho. Impte.: José Maria Mayrink do Supremo Tribunal Federal, co-
Chaves. Coator.: Tribunal de Justiça mo se vê do v. acórdão desta Tur-
Militar do Estado de Minas Gerais. ma, em 26-6-79, habeas corpus n?
Decisão: O julgamento foi adiado a 57.080, de que foi Relator o Emi-
pedido do Ministro Oscar Corrêa, nente Ministro Soares Mufloz, cuja
após o voto do Ministro Relator que ementa diz:
indeferia o pedido de habeas corpos.
Presidência do Senhor Ministro «Pena acessória. Perda da fun-
Soares Mufloz. Presentes á Sessão os ção pública. Caso em que ela re-
Senhores Ministros, Rafael Mayer, sulta da simples imposição da
Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e pena de reclusão por mais de
Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral dois anos, independentemente de
da República, Dr. Francisco de As- declaração da sentença. Aplica-
sis Toledo. ção do artigo 102 do Código Penal
Militar em combinação com os
Brasília, 8 de março de 1983 — arts. 68, II, e 70, 1 e parágrafo
António Carlos de Azevedo Braga, único do Código Penal. Habeas
Secretário. comias indeferido». (RTJ
96/1.020)».
VOTO( VISTA)
2. O problema, não circunscrito à
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. área penal militar — como no caso
Suscitou-me dúvida, no voto do Emi- —, pareceu-nos de superior impor-
nente Relator, a caracterização da tância. E recordamo-nos da lição de
reformatio in pelus, que S. Exa. ex- Baslleu Garcia (Instituições de Di-
pjicitou, ao afirmar (voto pág. 5): reito Penal, Max Limonad — 4? ed.
tomo II — 1959, pág. 454) ao referir o
«Com efeito, no direito penal mi- equivoco — quanto ás penas acessó-
litar, a pena ou é principal ou é rias do artigo 70 do Código Penal —
acessória. Ora, segundo os melho- de inferir-se « da determinação da
res sufrágios da doutrina, a proibi- lei um suposto caráter especial de
ção da reformatio in peitas entende obrigatoriedade das penas acessó-
com a pena principal e não com a rias indicadas nos n?s I e II desse
pena acessória Manzini, Diritto dispositivo, com a seguinte e estra-
processuale penale, IV, pág. 555;I nha conseqüência: não tendo sido
Carlos Umberto Del Pozzo, L'ap- aplicada na sentença de primeira
pello nel processo penale, pág. instância a providência penal com-
225). O juizo de apelação pode apli- plementar caberia ao Tribunal ad
car a pena acessória, não só por- quem impô-la —, pois que seria obri-
que não é pena em sentido próprio, gatória mesmo sem apelação da par-
como principalmente porque o seu te acusadora».
efeito decorre ex lege. A proibição
de reformatio in peitas concerne á A isso considerou «inaceitável vio-
espécie da pena e à sua quantida- lação ao principio proibitivo de
de. Sob este aspecto, o E. Tribunal, reformatio in peitas».

564 R.T.J. — 108

E, no mesmo sentido, J. Frederico fluem automaticamente da pena


Marques (Elementos de Direito Pro- principal, é que poderão, sem re-
cessual Penal, Forense — 1965, IV, forma para pior, ser aplicadas em
pág. 275) ao afirmar: recurso do acusado. Quanto às ou-
«A norma contida no artigo 617 tras não. O silêncio do juiz induz a
não fala em medida de segurança que achou não ser de aplicá-las no
e tampouco em pena acessória. caso concreto» (obra citada, págs.
Mas, se a imposição de uma ou de XXVII/XXVIII).
outra violar os princípios do con- Fica ele, acentua, nel mezzo del
traditório (retro, n? 784), inad- camin...
missível será o aumento de grava- Examinando o problema, no
mes ao réu; quer para submetê-lo verbete Reformatio in Pejus —
à medida de segurança, quer para Diritto Processuale Penale — no
acrescer pena acessória à conde- Novissimo Digesto Italiano, Giusep-
nação». pe Sabatini, a respeito, resume a
3. A questão é especificamente controvérsia:
enfrentada por Magalhães Noronha «Essendo indubbia la riferibllitá
(Da Reformatio in Pejus — in Julga- alie pene principali, dubbio pud
dos dos Tribunais de Alçada de São sorgere, ed é sorto, circa la riferi-
Paulo — Lex — SP — 3? Trimestre bilitá dell'art. 515, 3? comma, alie
de 1969 — vol. IX, págs. XXVII e se- pene acessorie. Ma é chiaro che,
guintes). Depois de assinalar que de- non distinguendo la legge, tl divieto
veria prevalecer a regra, no tocante opera in via generale anche in or-
às penas acessórias, lembra a opi- dine alie pena acessorie, con esclu-
nião de Bento de Faria e Espínola sione, tuttavia, delle pene accesso-
Filho, que, fundando-se em Manzini, ria dl applicazione automatica,
salientam que a proibição da re- quando tale applicazione pub esse-
formatio in peius não se refere às re dichiarata in sede di esecuzione
penas acessórias. non essendo necessaria una pro-
Argumenta, contudo, que «a opi- nunzia del gludice.»
nião de Manzini não pode ser adota- A matéria vem largamente ex-
da integralmente por nós, pois há di- posta, aliás, em Mario pisam (II Di-
ferenças nos textos legais» brasileiro %/teto della «Reformatio in Pelus»)
e italiano, distinguindo, então: nel processo penale italiano» — Giuf-
fré — Milano — 1967), que assinala a
«Domina a espécie o artigo 70 do existência das «duas posições nitida-
Código Penal, que considera duas mente contrastantes:
classes de penas acessórias: obri- «Mentre ce chi rileva che II di-
gatórias e facultativas. Estas são vieto non piá) riguardare le pene
alinhadas nos n?s I e II do aludido accessorle, perche queste non ven-
artigo ao passo que as primeiras gone «inflitte» del giudice con la
constituem objeto do parágrafo sentenza di condanna, in quanto ne
único do mesmo: «Nos demais ca- conseguono dl diritto comme effetti
sos, a perda da função pública e as Penale (art. 20 c.p.), da altri si op-
interdições resultam da simples pone che nonostante un tale auto-
imposição da pena principal». Sig- matismo, esse sono purtuttavla da
nifica decorrerem ope legis da pe- cOnsiderarsi pene, in quanto tale
na principal; resultam da simples comprese nell'ambito di incidenza
fixação da pena privativa de liber- del divieto» (pág. 68).
dade, e, conseqüentemente, se apli-
cam ainda que haja silenciado a Aprofundando a indagação, Pisani
sentença. Somente estas, que de- refere-se às penas acessórias que po-
R.T.J. — 108 565

dem ser chamadas fixas, determina- Veja-se, por exemplo, no HC n?


das precisamente ex lege e que, diz 42.083-GB — Relator o Exmo. Minis-
ele, pode dizer-se, determinadas pelo tro Evandro Lins, a Corte em Sessão
legislador, para concluir que Plenária, decidiu, na linha do voto
«solo cozi riguardo a tale tipo dl pe condutor, que
ne accessorie, appunto perchè fis- «aplicando mais uma pena —
se, appare significativa la diffe- acessória — em apelação interpos-
renziazione, a termine contrappos- ta apenas pelo réu, a decisão da 1?
U, delineata nel art. 20 c.p. («Le Câmara Criminal infringiu a proi-
pene principal! sono infilte dal bição constitucional do artigo 617
gludice con sentenza di condanna; do CPP. Houve reformatlo in pejus
quelle accessorie conseguono dl dl- vedada por essa norma processual,
ritto alia condanna, come effetti exacerbando-se a pena em recurso
penali di essa»), e al contempo rl- que era só do condenado.
sulta accettablle l'opinlone corren- Pelo que se concedeu a ordem,
te che esclude le pene accessorie «para excluir da condenação a pe-
dall'ambito operativo dei divieto na acessória aplicada em segunda
delia reformatlo in pelusn (pág. Instância» (RTJ 32/613).
69/70).
Na mesma linha, quanto a sursls
Com efeito, diríamos que, na que se completara, quando, proferi-
hipótese em exame (para não nos es- da nova condenação, já havia expi-
tendermos mais), a pena acessória é rado o prazo do beneficio. O acórdão
imposta ex lege resulta, de direito, considerou «uma nova fixação do
aa condenação, fixa, e não é aplica- período de prova, quando este já se
da pelo juiz, senão que pelo próprio esgotara», «uma afronta ao princípio
legislador, que o determina. Não se que proíbe a reforma para pior»
trata, na verdade, de nova imposi- (RTJ 84/689 — In RECr. n? 87.444-SP
ção, nem de agravamento, senão de — Relator Exmo. Ministro Bilac Pin-
explicitar e declarar o que, na lei, se to).
impõe.
Igualmente, no HC n? 54.555 — Re-
Com esses limites, admito-o. Co- lator o Exmo. Ministro Antonio Ne-
mo, aliás, no v. acórdão indicado no der (RTJ 80/42), o Plenário da Corte
voto do Eminente Relator — o HC n? decidiu, em acórdão com esta Emen-
57.080, relator o Exmo. Ministro. ta:
Soares Mtuloz (RTJ 96/1.020). E co-
mo, implicitamente, o aceita o artigo «O artigo 617 do CPP expressa
107 do Código Penal Militar, ao dis- que o Tribunal, ao julgar apelação
por que «salvo os casos dos artigos interposta somente pelo réu, não
99, 103, II e 106, a imposição da pena lhe pode agravar a pena, ou me-
acessória deve constar expressa- lhor dizendo, não tem como lhe
mente da sentença». Com o que se in- piorar a situação jurídico-penal.
terpreta, a contrario sensu, que, nos o princípio que proíbe ao Tribunal
casos indicados, não precisa dela do apelo a reformatlo In pejus.
constar a imposição da pena acessó- Sem que haja o apelamento do Mi-
ria. nistério Público, ou quando se de-
clare inadmissível tal recurso (co-
Em outras hipóteses — salien- mo no caso de ser ajuizado extem-
te-se — a jurisprudência da Corte poraneamente), não pode o Tribu-
tem recusado, em apelação, com nal , aplicar ao réu pena mais gra-
recurso apenas do réu, a imposi- ve do que a cominada na sentença
ção de pena acessória, sob o funda- recorrida, quer seja pela espécie,
mento da reformato In pelus. quer seja pela quantidade, nem re-

566 R.T.J. — 108

vogar qualquer benefício concedido Filho. Impte.: José Maria Mayrink


pelo julgado inicial, exceto a facul- Chaves. Coator. Tribunal de Justiça
dade, nos limites fixados pelos fun- Militar do Estado de Minas Gerais.
damentos do sobredito recurso, de
conferir definição, inclusive mais Decisão: Indeferiu-se a ordem de
grave, ao crime, sem, todavia, au- habeas corpus. Decisão unãnime.
mentar a pena».
8. Desta forma, resultando, in Presidência do Senhor Ministro
casu, a pena acessória de imposição Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
fixa da lei, que expressamente, a de- Senhores Ministros, Rafael Mayer,
termina acolho-a, como no voto do Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
Eminente Relator, indeferindo o pe- Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
dido. da República, Dr. Francisco de As-
E o voto. sis Toledo.
EXTRATO DA ATA
Brasília, 13 de junho de 1983 —
HC 60.543-MG — Rel.: Min. Alfredo António Carlos de Azevedo Braga,
Buzaid. Pacte.: Geraldo Rodrigues Secretário.

HABEAS CORPUS N? 60.863 — SC


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Pacientes: Adelar Antonio Lemos e outro — Impetrante: Iran Wosgrau
— Coator: Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.
Habeas corpus. O Código Penal, no art. 25, adotou a teoria da
equivalência da causa.
2. Havendo convergência de vontades para a realização de um
fim, aderindo uni dos agentes à ação do outro, a não identificação do
resultado não importa autoria incerta. Todos respondem pelo resulta-
do.
3. Habeas corpus indeferido.
ACÓRDÃO de habeas corpus em favor de Ade-
lar Antonio Lemos e Gasparino Gon-
Vistos, relatados e discutidos estes çalves dos Reis, condenados em Vi-
autos, acordam os Ministros da Pri- defira, no Estado de Santa Catarina,
meira Turma do Supremo Tribunal por co-autoria em crime de ho-
Federal, na conformidade da ata do micidio qualificado.
julgamento e das notas taquigráfi- Da longa petição inicial, o impe-
cas, por unanimidade de votos, em trante alega, em síntese, como está
indeferir o pedido de habeas corpus. no parecer da Procuradoria-Geral, o
Brasília, 26 de abril de 1983 — seguinte:
Soares Mufioz, Presidente — Alfredo a) a contradição na resposta aos
Buzaid, Relator. quesitos pelo fato de ter o Júri nega-
RELATÓRIO do a autoria direta em relação a to-
dos os acusados, afirmando apenas a
Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Iran co-autoria, concebendo, assim, uma
Wosgrau impetra a presente ordem co-autoridade sem autoria;

R.T.J. — 108 567

contradição na resposta ao que- Micta objetiva, comunicável a to-


sito da qualificadora da paga ou pro- dos os partícipes, não poderia ser
messa de recompensa, pois ao nega- afirmada em relação aos pacientes
la em relação ao co-autor Sebastião Gasparino e Adelar e, ao mesmo
José de Oliveira e reconhecê-la tempo, negada em relação aos dois
quanto ao paciente Gasparino, o Júri outros co-autores, Sebastião e Ma-
teria afirmado a existência de um noel;
mandatário sem o mandante; d) desconformidade dos quesitos
contradição na resposta ao que- em relação ao libelo.
sito da qualificadora da emboscada, Dão noticia estes autos de
que, por se tratar de circunstância um crime misterioso, ocorrido no
objetiva, comunicável a todos os município de Fraiburgo, em Santa
partícipes, não poderia ser afirmada Catarina, em dezembro de 1977. Os
em relação aos pacientes Gasparino fatos, segundo a denúncia, só fo-
e Adelar e, ao mesmo tempo, negada ram desvendados em 19 de abril de
em relação aos dois outros co- 1979, com o depoimento de uma
autores, Sebastião e Manoel; testemunha ocular da trama crimi-
d) desconformidade dos quesitos nosa — a empregada doméstica
em relação ao libelo» (fls. 76). que trabalhava na residência de
Ouvida a douta Procuradoria Ge- um dos co-autores, onde se reu-
ral da República, em parecer da la- niam todos os participes do crime
vra do eminente Professor Fran- para acertar os detalhes do plano
cisco de Assis Toledo, assim se ma- criminoso e realizar os atos prepa-
nifestou, verbis: ratórios da execução.
d. Em favor de Adelar Antônio Provas materiais, confirmató-
Lemos e Gasparino Gonçalves dos rias da autoria, foram apreendi-
Reis, condenados pelo Júri, em das, tais como o bilhete que atraiu
sentença confirmada pelo Tribu- a vítima para a emboscada, elabo-
nal, impetra-se ordem de habeas rado por Gasparino, e, oculto sob a
corpus sob fundamento de nulidade cama da esposa do co-réu Sebas-
do julgamento, alegando-se em tião, o relógio pertencente á infeliz
síntese o seguinte: vitima (fls. 32).
a contradição na resposta aos A leitura das peças que instruem
quesitos pelo fato de ter o Júri ne- o pedido dão-nos, pois, a convicção
gado a autoria direta em relação a de que os acusados engendraram e
todos os acusados, afirmando ape- executaram a morte da vitima,
nas a co-autoria, concebendo, as- mas, pelas circunstâncias miste-
sim, uma co-autoria sem autoria; riosas do crime, não se sabe quem
desferiu o tiro fatal, se Sebastião,
contradição na resposta ao se Gasparino, se Adelar, ou se Ma-
quesito da qualificadora da paga noel.
ou promessa de recompensa, pois
ao negá-la em relação ao co-autor E foi isso, precisamente, o
Sebastião José de Oliveira e re- que decidiu o Júri: na total impôs-
conhecê-la quanto ao paciente Gas- sibilidade de, nas circunstâncias,
parino, o Júri teria afirmado a exis- dizer da exata participação de ca-
tência de um mandatário sem o da um (quem forneceu o dinheiro,
mandante; quein deu o tiro, quem emboscou a
vítima), mas diante de provas con-
c) contradição na resposta ao cretas da participação de todos os
quesito da qualificadora da embos- acusados, concluiu pela condena-
cada, que, por se tratar de circuns- ção de todos em co-autoria, o que,

568 R.T.J. — 108

a nosso ver, não significa contradi- Não se trata, pois, de conceber


ção alguma. Vejo, por exemplo, uma co-autoria sem autoria, con-
quatro pessoas agarrando um in- forme se alega, mas, ao contrário,
divíduo e conduzindo-o para local de conceber-se uma «autoria plu-
ermo. Ouço um tiro. Depois, vejo o ral» em que todos executam o cri-
indivíduo seqüestrado morto no lo- me e cada um apresenta-se como
cal para onde fora violentamente co-autor não como autor único ou
conduzido. Diante desse quadro hi- exclusivo.
potético, sei que as quatro pessoas 5. Os fundamentos das letras b
por mim vistas cometeram o cri- c estão, a nosso ver, prejudica-
me de homicídio, mas, se os pró- dos pela anulação do julgamento
prios agentes não confessaram os em relação aos co-réus Sebastião e
detalhes finais da execução crimi- Manoel, onde busca o impetrante
nosa, ficarei irremediavelmente os paradigmas da contradição que
sem saber quem deu o tiro fatal e pretende estabelecer com o julga-
quais os que apenas seguraram a mento dos pacientes Gasparino e
vitima, nos momentos derradeiros Adelar. Se o julgamento daqueles
da consumação. primeiros foi anulado e se ainda
Não é possível, que, diante de não se sabe qual será o resultado
um exemplo como esse que muito. do novo julgamento, é óbvio que
se aproxima da hipótese dos autos não se pode, por enquanto, afirmar
— a justiça, por não poder apontar a existência de contradição entre o
autor direto, fique impedida de julgamento válido dos pacientes e
condenar os induvidosos co-autores julgamento invalidado ou o que
do fato, dentre os quais estará, ne- ainda está para acontecer.
cessariamente, o autor do disparo. 6. A alegado contradição entre
os quesitos e os libelos (último fun-
4. Teria sentido o primeiro fun- damento da impetração), a nosso
damento da impetração (item 1, le- ver, não existe. Os libelos dos pa-
tra a, supra), em um sistema que cientes, que podem ser lidos a fls.
não acolhesse, como o nosso, a 37/ 41, atribuem aos libeiados o em-
teoria da equivalência das causas, prego de arma de fogo e a co-
a respeito da qual assim se expres- autoria no crime, in verbis:
sa a Exposição de Motivos do Códi-
go vigente: fazendo uso de arma de
fogo, de emboscada e prestando
«22. O projeto aboliu a distin- decisivo auxílio e cooperação aos
ção entre autores e cúmplices: co-rétis»...etc. (fls. 37).
todos os que tomam parte no cri-
me são autores. Já não haverá «... fazendo uso de arma de
mais diferença entre participa- fogo, e em co-autoria com Sebos-
ção principal e participação aces- tião»... etc. (fls. 41).
sória, entre auxílio necessário e Diante de tais libelos, estava o
auxilio secundário, entre a juiz autorizado a indagar o Júri,
societas criminis e a societas como de fato fez, sobre a autoria
incrimine Quem emprega qual- do disparo e, negada esta, sobre a
quer atividade para a realização co-autoria no crime (fls. 45/ 47).
do evento criminoso é considera-
do responsável pela totalidade 7. O parecer, em conclusão, é
dele, no pressuposto de que tam- pela denegação da ordem »(fls.
bém as outras concorrentes en- 75/80).
traram no âmbito da sua con-
ciência e vontade». E o relatório.
R.T.J. — 108 569

VOTO sua vez, forma um todo: o crime.


Quem, de qualquer modo, contribuiu
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re- para o resultado, é por ele responsá-
lator): Os pacientes e mais dois ou- vel. Não importa saber quem deu o
tros conluíram-se, mediante paga tiro mortal. A unidade de querer de
ou promessa de recompensa, para todos os envolvidos é o que caracte-
matar a vítima. O móvel do crime riza a co-autoria. Não se diga que,
não ficou perfeitamente estabeleci- no caso, sendo diversos os co-autores
do, pois os implicados negaram a au- do crime não se sabe a qual deles
toria, embora esta tivesse sido des- atribuir o resultado.
coberta pelas inconfidências de uma
serviçal de Sebastião José de Olivei- A hipótese não é de autoria incer-
ra, vulgo «Bastos», que ouviu a con- ta. Bem o esclareceu Magalhães
versa dos quatro, concertando a eli- Noronha, ao escrever:
minação da vitima Juvenal Rosa. «Desde que haja convergência de
O primeiro item da impetração vontades, para um fim comum,
refere-se à co-autoria. Alega o impe- aderindo um dos 'agentes à ação do
trante que, em não sendo determina- outro, a não-identificação do resul-
do quem atirou na vitima, tornou-se tado não importa autoria incerta,
impossível estabelecer uma «co- pois ambos responderão por ele»
autoria sem autoria». (Magalhães Noronha, Direito pe-
nal, Saraiva, 1982, 20! ed., vol. I,
A premissa não é verdadeira. O vi- pág. 225).
gente Código Penal esposou a teoria
da equivalência das causas, assim Os dois pacientes e os comparsas
expressa no art. 25: «quem, de qual- engendraram a morte da vítima,
quer modo, concorre para o crime, conseguindo alcançar o resultado.
incide nas penas a este cominadas» Assim, a responsabilidade pelo even-
(Cf. Heleno Cláudio Fragoso, Lições to é a todos eles atribuída.
de direito penal, Forense, 1980, 418 Nos dois seguintes itens aponta-se
ed., parte geral, pág. 256; José Fre- contradição na resposta dos jurados
derico Marques, Tratado de direito aos quesitos formulados, em série,
penal, Saraiva, 1965, 2! ed., vol. II, para cada um dos réus. Isso porque,
pág. 306 e segs ; Damásio E. de Je- para os pacientes, o Júri reconheceu
sus, Direito penal, Saraiva, 1982, 7? as qualificadoras da recompensa e
ed., vol. I, pág. 363: Maggiore, Dirit- da emboscada, ao passo que, para os
to penale, 38 ed., vol. II, pág. 563). outros dois, não. Mas a contradição
Não fez, portanto, o legislador dife- não pode ser apurada nesta altura,
rença entre uma maior ou menor uma vez que o Tribunal de Justiça a
participação do agente ativo do cri- quo anulou o julgamento, pelo Júri,
me na ação de outrem. Equiparou os dos co-réus, afastando, assim, a pos-
participes, desde que tenham, de sibilidade de confrontos. Mesmo que
qualquer modo, contribuído para o assim não fora, as decisões dos jura-
resultado antijuridico e culpável. So- dos são soberanas. Eles decidem em
mente a prova vai dizer do maior ou face da prova e dos elementos dos
menor empenho do co-autor, mas is- autos, tendo por isso perfeita autono-
so refoge ao âmbito do habeas mia, salvo quando a decisão for ma-
corpus. Na espécie, a co-autoria fica nifestamente contrária à evidência
determinada e é incindivel. Todos dos autos.
aqueles que buscaram o resultado
respondem pelo mesmo crime e re- Por último, não há contradição en-
cebem idêntica apenação. A co- tre os quesitos e os libelos. Naqueles,
autoria é parte de uma ação que, por foi indagado aos jurados sobre uso

570 R.T.J. — 108

de arma de fogo e co-autoria, tendo mos e outro. Impte.: Iran Wosgrau.


os mesmos respondido afirmativa- Coator.: Tribunal de Justiça do Esta-
mente. do de Santa Catarina '
Como o verdadeiro autor do dispa- Decisão: Indeferiu-se o pedido de
ro mortal não ficou individuado, líci- habeas corpus. Decisão unânime.
to era questionar o Júri, negada a
autoria, sobre a co-autoria. Presidência do Senhor Ministro
Soares
Por tais fundamentos, com apoio, Senhores Mufioz. Presentes à Sessão os
Ministros Rafael Mayer,
ainda, no parecer retrotranscrito, Néri da Silveira,
indefiro o pedido. Alfredo Buzaid e
Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
E o meu voto. da República, Dr. Francisco de As-
sis Toledo.
EXTRATO DA ATA
Brasília, 26 de abril de 1983 —
HC 60.863-SC — Rel.: Min. Alfredo Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Buzaid. Pactes.: Adelar Antonio Les- Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 60.985 — RS


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Muiloz.
Recorrente: Maria Elusa Alves Fernandes — Recorrido: Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
Co-autoria. Homicídio. Tribunal do Júri.
Não é admissivel reconhecer, em «habeas corpus», que, tendo o
Tribunal do Júri julgado que o co-réu praticou o crime de homicídio
sob o domínio de violenta emoção, logo depois de injusta provocação
da vitima, a outra co-ré não necessite submeter-se a julgamento em
sessão subseqüente do mesmo Tribunal, porque, em face daquele ve-
redicto, fica excluída a participação que o libelo lhe imputa no cri-
me. Recurso desprovido.
ACÓRDÃO Queiroz requereu ordem de habeas
corpus a favor de Maria Elusa Alves
Vistos, relatados e discutidos estes Fernandes, denunciada e pronuncia-
autos, acordam os Ministros do Su- da, com outrem, como incursa no
premo Tribunal Federal, em Primei- art. 121, 2?, itens I e IV, combina-
ra Turma, na conformidade da ata dos com o art. 25, ambos do Código
do julgamento e das notas taquigrá- Penal.
ficas, por unanimidade de votos, ne- o writ visa a evitar que a paciente
g ar provimento ào recurso de seja submetida a julgamento pelo
habeas corpus. Tribunal do Júri.
Brasília, 3 de Junho de 1983 — Fundamenta-se o pedido na cir-
Soares Mulloz, Presidente e Relator. cunstância de o có-reu, autor mate-
rial do homicídio, ter sido condenado
RELATORIO pelo Tribunal do Júri por homicídio
privilegiado, praticado sob o domínio
O Senhor Ministro Soares Mufioz: de violenta emoção logo depois de in-
A advogada Lúcia Helena de Brito justa provocação da vítima.

R.T.J. —108 571

Essa decisão, segundo alega a-im- Pronunciada como co-autora do


petrante, fez coisa julgada em rela- crime, de homicídio, só o Tribunal
ção à paciente, pois que esta não po- do Júri é que poderá decidir se a
deria 'ter induzido ou instigado o co- paciente concorreu, de qualquer
réu à prática de crime, uma vez que modo, para a prática do crime.»
ele agiu, consoante a decisão do Tri- (fls. 53/54).
bunal Popular sob o domínio de vio- o relatório.
lenta emoção, logo depois de injusta
provocação da vítima. VOTO
O pedido foi indeferido pela 3? Câ- O Sr. Ministro Soares Muãoz (Re-
mara Criminal do Tribunal de Justi- lator): O precedente da Corte lem-
ça do Rio Grande do Sul, sob o fun- brado no parecer condiz com a dou-
damento de que «o privilégio dispen- trina e a jurisprudência sobre as de-
sado ao co-réu é pessoal, não se co- - cisões do Tribunal do Júri, segundo
municando à paciente, que, na divi- as quais não hã julgamento por infe-
são do labor criminoso, já havia exe-
cutado sua parte, volitiva, através rência nos veredictos do Tribunal do
do consentimento e estruturação do Júri nem
de um réu em relação ao outro,
multo menos coisa julgada.
plano, e a parte material pelo forne-
cimento da chave para que o com- Para que tal não ocorra, os quesi-
parsa esperasse a vitima no interior tos são formulados em séries distin-
da garagem para aí abatê-la, como o tas e autônomas (art. 484, V, do
fez. Não há motivo suficiente para CPP), cabendo ao juiz advertir os
que os jurados deixem de apreciar a jurados de eventuais contradições,
imputação relativamente à paciente, reformulando, se necessário, a inda-
que deverá ser julgada» ( fls. 29). gação respondida de maneira que
possa
Inconformada, a impetrante inter- do CPP). ensejar contradição (art. 489
pós recurso extraordinário, reeditan-
do suas alegações iniciais. Não se aplica, ademais a tais de-
Pelo improvimento do recurso or-. -cisões
do
a solução prevista no art. 580
Código de Processo Penal, por is-
(Unário manifestou-se a Procurado- so que os jurados julgam imotivada-
ria Geral da República, in verbis: mente.
«A Suprema Corte já decidiu que Ante o exposto e pelos fundamen-
tos
«E inadmissível extensão dos recurso.do parecer, nego provimento ao
efeitos de absolvição do co-réu,
pelo reconhecimento de legitima EXTRATO DA ATA
defesa, pelo Tribunal do Júri, pa-
ra supressão, relativamente a ou- RHC 60.985-RS — Rel.: Min. Soares
tro réu, do julgamento desse Tri- Mtdioz. Recte.: Maria Elusa Alves
bunal, determinado pela senten- Fernandes. (Adva.: Lúcia Helena de
ça de pronúncia.» (RECr. n? Brito Queruz). Recdo.: Tribunal de
72.956-SE, Rel.: Min. Eloy da Ro- Justiça do Estado do Rio Grande do
cha, RTJ 62/719). Sul.
Dessa forma, se a absolvição de Decisão: Negou-se provimento ao
um co-réu não impede que o outro recurso de habeas corpus. Decisão
seja submetido a julgamento pelo unânime.
Tribunal do Júri, o mesmo aconte- Presidência do Senhor Ministro
ce, com igual razão, quando se re- Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
conhece a ocorrência do homicídio Senhores Ministros, Rafael Mayer,
privilegiado. Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
572 R.T.J. — 108

Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral Brasília, 3 de junho de 1983 —


da República, Dr. Francisco de Assis Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Toledo. Secretário.

HABEAS CORPUS N? 61.025 —PR


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Paciente: Fernando Antonio Porto Soares — Coator: Superior Tribunal
Militar.
Habeas corpos. Unificação de penas. Crime que anteriormente era
contra a segurança nacional e voltou a ser considerado delito comum.
Competência.
— Cabe ao Juízo da Vara de Execuções Criminais decidir sobre o
pedido de unificação das penas, uma vez que o crime pelo qual foi
condenado o réu, na Justiça Militar, voltou a ser considerado delito
comum.
Habeas corpus deferido.
ACÓRDÃO 2. Sustenta a incompetência da
área militar ao exame do solicita-
Vistos, relatados e discutidos estes do, que em caso análogo ao seu, Is-
autos, acordam os Ministros da Se- to firmara-o o MM. Juiz Auditor da
gunda Turma do Supremo Tribunal 5? CJM, o que veio a gerar Conflito
Federal, na conformidade da ata do Negativo de Jurisdição afinal deci-
julgamento e das notas taquigráfi- dido pelo E. Tribunal Federal de
cas, por unanimidade de votos, defe- Recursos em favor da Justiça Co-
rir o pedido de habeaS corpus mum (vide: fls. 6/7 e 9).
Brasília, 9 de agosto de 1983 — Efetivamente, traz o postu-
Djaci Falcão, Presidente — Moreira lante julgado recente da lavra do
Alves, Relator. douto Min. Aldir G. Passarinho,
quando ainda judicava na instân-
cia recursai federal, reconhecendo
RELATÓRIO que se o crime, pelo qual o acusa-
do julgado foi na Justiça Militar,
O Sr. Ministro Moreira Alves: As- passou a ser considerado crime co-
sim expõe e aprecia o presente mum, o foro competente aos inci-
habeas corpus o parecer da Procu- dentes da execução é o foro
radoria Geral da República, da la- comum — fia 9. julgado este que
vra do Dr. Cláudio Lemos Fonteles temos por acertado.
(fls. 76/78): No caso, está claro, Fernan-
«1. Fernando Antonio Porto do Antônio é larápio comum pois
Soares ajuíza pedido de habeas que roubara um posto de gasolina;
corpus, inconformado com as deci- uma associação religiosa e dois es-
sões assumidas na jurisdição cas- tabelecimentos bancários (vide•
trense que, apreciando pedido de fls. 24).
unificação de penas requerido à luz 5. Quando decidido na instância
da continuidade delitiva, indeferiu- militar de conhecimento o pedido
o (fls. 38/74). de unificação — isso aos 18-12-198Õ

R.T.J. — 108 573

(vide: fls. 19) já vigorava a nova Passarinho, hoje nosso colega, o Tri-
Lei de Segurança Nacional que, bunal Federal de Recursos assim se
sem motivação político-partidária, manifestou:
não considerava mais como contra «Competência.
a Segurança Nacional o assaltar
banco. Crime contra a segurança nacio-
O processo de execução não é nal.
prolongamento do processo de co- Unificação de Penas.
nhecimento. outra realidade pro- Tendo o crime pelo qual foi con-
cessual, autônoma. denado o réu, na Justiça Militar,
Constitui-se em postulações passado a ser considerado crime
— incidentes — maioria das vezes comum, cabe ao Juiz da Vara de
tituladas pelo sentenciado e sem- Execuções Criminais decidir sobre
pre discutindo o cumprimento da a requerida unificação das penas».
sanção seja para não se efetivar; E é essa a solução que se me afi-
seja para diminui-lo no quantum; gura correta, pela circunstância de
seja para observá-lo em tal ou qual que a Justiça Militar, no caso, dei-
regime penitenciário. xou de ter competência — e se trata
Porque se constitui em rela- de competência absoluta — para pro-
ção processual diversa é que o pró- cessar e julgar crimes dessa nature-
prio Código de Processo Penal in- za, inclusive no tocante à execução
siste nos artigos 668 e 671 em esta- das penas impostas.
belecer regra de competência fun- Em face do exposto, e acolhendo o
cional pelo tipo de processo em parecer da Procuradoria-Geral da
tais situações que, assim, dedu- República, defiro o presente habeas
zidas hão de ser perante apropria- corpus, para que, anuladas as deci-
do Juizo, verbis: sões da Justiça Militar quanto ao pe-
Artigo 668: A execução, onde dido de unificação das penas em
não houver juiz especial, incum- causa, seja ele apreciado e decidido
birá ao juiz da sentença»... pelo Juizo das Execuções Criminais
de São Paulo.
Artigo 671: Os incidentes da
execução serão resolvidos pelo EXTRATO DA ATA
respectivo Juiz. ( grifamos).
Somos, então, pelo deferi- HC 61.025-PR — Rel.: Min. Morei-
mento do pedido para que, anula- ra Alves. Pacte.: Fernando Antonio
das as decisões assentadas na ju- Porto Soares (Imptes.: O mesmo e
risdição castrense, seja a postula- Luiz Sergio Fernandés de Souza).
ção de Fernando Antonio Porto Coator: Superior Tribunal Militar.
Soares, pela unificação de suas pe- Decisão: Deferido o pedido nos ter-
nas, examinada e decidida no MM. mos do voto do Relator. Unânime.
Juizo das execuções Criminais de
S. Paulo, onde cumpre pena (fls. Presidência do Senhor Ministro
1U». Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
Senhores Ministros Moreira Alves,
o relatório. Dedo Miranda, Aldir Passarinho e
VOTO Francisco Rezek. Subprocurador-
Geral da República, Dr. Mauro Leite
O Sr. Ministro Moreira Alves (Re- Soares.
lator): Ao decidir, em 29 de abril de Brasília, 9 de agosto de 1983 —
1981, o conflito de competência 4.274, Hélio Francisco Marques, Secretá-
de que foi relator o Ministro Aldir rio.
574 R.T.J. — 108

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 61.081 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrente: Nilson Henrique Minervino Linck — Recorrido: Tribunal de
Alçada Criminal do Estado de São Paulo.
Habeas carpim. Advogado inscrito na seção da Ordem de São
Paulo, mas, suspenso sob o fundamento de haver incidido em erros
reiterados que evidenciam inépcia profissional. A pena perdura até
que preste novas provas de habilitação (Lei n? 4.215, art. 109, IV).
A pena de suspensão acarreta para o infrator a interdição do
exercício profissional em todo o território nacional (Lei 4.215, art.
113).
Instauração de processo por violação do art. 47 da Lei de Con-
travenções. Inexistência de coação ilegal.
4. Recurso de habeas corpus a que se nega provimento.
ACÓRDÃO alegando, em resumo, que a segunda
portaria, em que se funda a ação pe-
Vistos, relatados e discutidos estes nal, se encontra eivada de vícios in-
autos, acordam os Ministros da Pri- sanáveis; que é inconstitucional a
meira Turma do Supremo Tribunal perseguição que lhe move a Ordem
Federal, na conformidade da ata do dos Advogados, Seção de São Pau-
julgamento e das notas taquigráfi- lo; que recorre do terceiro habeas
cas, por unanimidade de votos, em corpus; e que a Lei n? 6.838, de 29 de
negar provimento ao recurso de outubro de 1980, demonstra que ocor-
habeas corpus. reu a prescrição da sanção discipli-
Brasília, 2 de agosto de 1983 — nar pelo decurso de cinco anos (fls.
Rafael Mayer, Presidente — Alfredo 174/181).
Buzaid, Relator. Ouvida a doutra Procuradoria Ge-
ral da República, em parecer da
RELATÓRIO ilustre Doutora Haydevalda Apareci-
da Sampaio, aprovado pelo eminente
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Nil- Professor Francisco Assis Toledo,
son Henrique Minervino Linck, pos- assim se pronunciou:
tulando em causa própria, impetrou
ordem de habeas corpus, perante a «1. O Bacharel Nilson Henrique
Egrégia Primeira Câmara do Tribu- Minervino Linck, em benefício pró-
nal de Alçada de São Paulo, com o prio, impetrou ordem de habeas
objetivo de trancar a ação penal em corpus, objetivando trancar a ação
curso pela Primeira Vara Criminal contravencional por infração ao ar-
da comarca da Capital do Estado, tigo 47 da Lei das Contravenções
em que é processado como incurso penais, por falta de justa causa,
no art. 47 da Lei das Contraven- uma vez que estando inscrito na
ções. A ordem foi denegada por deci- Ordem dos Advogados do Brasil,
são da Egrégia Primeira Câmara Seção de Mato Grosso, poderia ad-
(fls. 169/173). vogar em todo o território nacio-
Não se conformando com essa r nal.
decisão, interpôs recurso ordinário 2. Denegada a ordem pela Pri-
para o Supremo Tribunal Federal, meira Câmara do Tribunal de Al-

R.T.J. — 108 575

çada Criminal do Estado de São dispõe o artigo 110, IV, da Lei n?


Paulo, adveio o competente recur- 4.215/63 por incidir o advogado
so, onde se retomam os argumen- suspenso em erros reiterados que
tos inicialmente deduzidos. evidenciam inépcia profissional,
3. A nosso ver, não assiste ra- decisão que perdura até prova de
zão ao recorrente, tendo a questão habilitação que, segundo se con-
sido abordada corretamente no clui dos autos, ainda não pres-
aresto recorrido, in verbis: tou» ( fls. 170/171).
«A certidão acostada a fls. 118 4. Na verdade, o que pretende o
comprova que o impetrante esta- recorrente é que se examine a de-
ria mesmo inscrito naquela Sec- cisão do Conselho Federal da Or-
ção da Ordem dos Advogados, dem dos Advogados do Brasil, que
desde 28-2-1980. lhe aplicou a pena de suspensão do
exercício profissional. Todavia, o
Na verdade, essa inscrição per- meio empregado é inidõneo.
mitiria ao impetrante e paciente Somos, em face do exposto, pelo
advogar também neste Estado. não provimento do recurso» (fls.
Contudo, como bem pondera o es- 209/212).
correito parecer, tal não ocorre
por estar o impetrante suspenso E o relatório.
pela Seccional de São Paulo da
Ordem dos Advogados do Brasil. VOTO
A pena de suspensão mesmo im-
posta por Conselho Estadual im- O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re-
porta ao infrator a interdição do lator): 1. Pela segunda vez esta Tur-
exercício profissional em todo ma vai ter oportunidade de exami-
território nacional como dispõe o nar recurso de habeas corpus, em
artigo 113, caput da Lei n? que é interessado o Bacharel Nilson
4.215/63. Henrique Linck. O primeiro foi im-
petrado em seu favor pelo advogado
Assim, em que pese a inscrição Antonio Francisco Furtado. Na ses-
na Ordem dos Advogados do Bra- são de julgamento de 25 de março de
sil Secção de Mato Grosso, impe- 1983, proferi, como relator, o seguin-
dido está o paciente de advogar te voto:
pela suspensão imposta pelo Con-
selho da Ordem dos Advoga- «O primeiro fundamento do re-
dos deste Estado da Federação. curso, ou seja, aquele de que es-
Observe-se, ainda, que o tando suspenso do exercício da ad-
impetrante-paciente está inscrito vocacia pela seccional da OAB-SP
no Quadro da Ordem dos Advo- não lhe impediria de advogar em
gados do Brasil, Secção de São Mato Grosso, pois também inscrito
Paulo e estando suspenso no na seccional local da OAB, fica de
exercício profissional não pode pronto afastada por se tratar de
mesmo advogar neste Estado ou reiteração, já considerada em
em qualquer outra parcela do habeas corpus anterior, cuja or-
território nacional. dem- foi denegada e da decisão não
houve recurso.
Acresce, por último, que con-
soante se observa do documento O segundo fundamento é despi-
de fls. 89, está o paciente suspen- ciendo. A decisão, que anula porta-
so do exercício profissional por ria inaugural de processo contra-
R. Decisão do Colendo Conselho vencional por inepta, não faz coisa
Federal da Ordem dos Advoga- julgada, pois não tranca a ação pe-
dos do Brasil por infração ao que nal, mas sim reabre oportunidade
576 R.T.J. — loa

para que a autoridade competente disciplinar (art. 1?), cuja prescrição


ofereça outra, com os requisitos le- ocorre em cinco anos (art. 4?). O re-
gais exigidos — o que aliás fez. corrente responde, todavia, a proces-
Por outro lado, vale ressaltar so criminal como incurso no art. 47
que a imposição de pena discipli- da Lei das Contravenções, que reza:
nar não inibe a ação penal por con- «Exercer profissão, ou atividade
travenção, no caso, a do art. 47 da econômica ou anunciar que a exer-
lei respectiva. E ainda que cance- ce, sem preencher as condições a
lada aquela punição, cumpriria à que por lei está subordinada o seu
recorrente fazer prova cabal disso, exercício».
para os fins pretendidos. A imposição da pena disciplinar é
Ante o exposto, nego provimento bem distinta da infração de contra-
ao recurso» (fls. 205). venção penal.
Neste novo habeas corpus, im- A segunda portaria (fls. 123) não
petrado por Nilson Henrique Miner- tem a eiva alegada pelo recorrente,
vino Linck, são reiteradas quase to- pois observou as exigências do Códi-
das as alegações, já julgadas no go de Processo Penal, descrevendo o
habeas corpus precedente. Para o fato, a autoria, o tempo e o lugar. A
melhor exame da matéria, cumpre argüição de inconstitucionalidade da
recapitular os fatos. O recorrente foi perseguição da Ordem dos Advoga-
suspenso da Ordem dos Advogados dos é destituída de qualquer fomento
por decisão do Conselho Seccional, de seriedade, pois o recorrente não
sob o fundamento de haver incidido aponta nenhuma norma violada.
em erros reiterados que evidenciam Assim sendo e não vislumbrando
inépcia profissional; a pena perdura qualquer constrangimento ou coação
até que preste novas provas de habi- ilegal no processo a que responde,
litação (Lei n? 4.215, art. 109, IV). nego provimento ao recurso.
Esta suspensão teve lugar em 1977.
Posteriormente, em 1980, o recorren- 2 o meu voto.
te obteve a sua inscrição na Seção
de Mato Grosso da Ordem dos Advo- EXTRATO DA ATA
gados e passou a advogar em São
Paulo. RHC 61.081-SP — Rel.: Min. Alfre-
do Buzaid. Recte.: Nilson Henrique
Como a pena de suspensão acarre- Minervino Linck (Adv. em causa pró-
ta para o infrator a interdição do pria). Recdo.: Tribunal de Alçada
exercido profissional em todo terri- Criminal do Estado de São Paulo.
tório nacional (Lei n? 4.215, art. 113), Decisão: Negou-se provimento ao
a Seção da Ordem pediu a instaura-
ção do processo criminal por estar recurso de habeas corpus. Decisão
incurso o recorrente no art. 47 da Lei unânime.
das Contravenções. Anulada a pri- Presidência do Senhor Ministro
meira portaria, sobreveio a segunda Rafael Mayer, na ausência ocasional
(fls. 123), com base na qual se pro- do Ministro Soares Mulloz (Presiden-
cessa o recorrente por exercido ile- te). Presentes à Sessão os Senhores
gal da profissão de advogado. Ministros, Néri da Silveira, Alfredo
Ora, os fundamentos, em que Buzaid e OscardaCorrêa. Subpro-
se anima o recorrente, improcedem curador-Geral República, Dr.
de todo em todo. A alegação de pres- Francisco de Assis Toledo.
crição, fundada na Lei n? 6.838/1980, Brasília, 2 de agosto de 1983 —
refere-se à punibilidade de profissio- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
nal liberal por falta sujeita à pena Secretário.
R.T.J. — 108 577

RABEAS CORPUS N? 61.150 — RJ


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek,
Paciente: Augusto Cesar Ramos Borges — Coator: Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro.
Habeas Corpos. Alienação fiduciária em garantia. Prisão civil.
Se o bem adquirido por alienação fiduciária em garantia é com-
provadamente furtado, não pode o devedor ser considerado depositá-
rio infiel.
Ilegítimo é o decreto de prisão civil expedido em tais circunstân-
cias.
Ordem de habeas corpus que se concede.
ACÓRDÃO formou a decisão do juiz singular,
estatuindo que, enquanto não fosse
Vistos, relatados e discutidos estes pago todo o preço devido o decreto
autos, acordam os Ministros da Se- de prisão não se podia revogar, já
gunda Turma do Supremo Tribunal que a sentença proferida na ação de
Federal de conformidade com a ata depósito fizera coisa julgada.
de julgamentos e as notas taquigráfi- Ante a iminência da prisão do pa-
cas, á unanimidade de votos, conce- ciente, impetrou-se este habeas cor-
der a ordem, nos termos do voto do pus, com pedido de liminar, que de-
Ministro Relator. feri nestes termos (fl. 25):
Brasília, 4 de novembro de 1983 — «A vista do art. 191-IV do Regi-
Mac! Falcão, Presidente — Francis- mento Interno, defiro o pedido de
co Rezek, Relator. liminar. Expeça-se salvo-conduto a
fim de resguardar o paciente con-
RELATÓRIO tra a prisão, até que o Tribunal de-
cida sobre o pedido de habeas
O Sr. Ministro Francisco Rezek: A corpus.
empresa financeira Vistacredi S.A. Com a comunicação ao Tribunal
ajuizou ação de busca e apreensão de origem, peçam-se as informa-
de veículo adquirido pelo paciente ções, e dê-se vista, ern seguida, ao
mediante alienação fiduciária em Ministério Público Federal — 20-7-
garantia. Comprovado, porém, o fur- 83».
to do automóvel, converteu-se o pri- Falou depois o Procurador Alvaro
mitivo feito em ação de depósito
que, julgada procedente, resultou na Ribeiro
co,
Costa, pelo Ministério Públi-
nestes termos (fls. 65/66):
alternativa imposta ao réu de entre-
gar o bem — ou seu correspondente «Não se mostra ile gal, todavia, o
valor — ou ver decretada a sua pri- constrangimento em causa.
são civil, o que, afinal, aconteceu. O Com efeito, a coação infligida ao
paciente, mais tarde, ofereceu parte paciente resulta de processo váli-
da quantia que lhe era exigida, e, do, em que sua condição de deposi-
em decorrência disso, o juiz de pri- tário infiel foi reconhecida, fican-
meiro grau revogou, em definitivo, o do, em conseqüência, autorizada a
decreto de prisão. A financeira agra- custódia prevista no parágrafo (mi-
vou de instrumento para o Tribunal co do art. 904 do Código de Proces-
de Justiça do Rio de Janeiro, que Te- so Civil.
578 R.T.J. — 108

No entanto, revela-se abusiva a No caso da alienação fiduciária


coação impugnada, de vez que o em garantia, a prisão do comprador
paciente comprovou a impossibili- pressupõe seja ele havido por deposi-
dade efetiva da devolução do tário infiel na competente ação de
veículo objeto do contrato de alie- depósito. Nada obsta, porém, a que
nação fiduciária, bem como a en- prove as excusas da lei civil, hábeis
trega de importância equivalente. para eximi-lo da pecha de infiel —
Sendo assim, e estando ressalva- qual o caso fortuito que se deu na es-
do o prosseguimento da execução pécie. Interpretando o art. 1.277 do
da dívida pelas vias ordinárias, ne- Código Civil, explica Orlando Gomes
nhuma utilidade teria a prisão que a regra do risco que corre o bem
questionada, nem mesmo para o dado em depósito é a regra comum
credor, traduzindo apenas medida aos demais contratos:
vexatória e desnecessária. «No depósito — diz ele — «é o de-
Somos, em face do exposto, pelo positante quem suporta os riscos.
deferimento do pedido.» Aplica-se a regra res perit cre-
ditori. Não responde o depositá-
E o relatório. rio, por conseguinte, pelo caso for-
tuito, mas, para se eximir da res-
VOTO ponsabilidade, terá de provar, ob-
viamente, que a coisa depositada
pereceu ou se deteriorou sem culpa
O Sr. Ministro Francisco Rezek sua» (op. cit. pág. 408).
(Relator): No recurso de Habeas Estes autos evidenciam que a pro-
Corpus n? 59.644 (RTJ 104/1.032) o va cabal do furto do automóvel se fi-
Presidente Dl aci Falcão, relator do zera antes mesmo de convertida a
feito, teve ocasião de ensinar o se- busca e apreensão em ação de depó-
guinte: sito. Não se cogitou ademais, em
«Parece-me fora de dúvida que, momento algum, de malícia por par-
comprovado o furto de coisa alie- te do paciente. Além disso, não es-
nada fiduciariamente, não cabe tando segurado o automóvel em cau-
considerar o seu adquirente deposi- sa, impertinente era o artigo 1.271 do
tário infiel, eis que se trata de fatoCódigo Civil.
alheio à sua vontade. Aí, desde que Ante a ilegitimidade do decreto de
o depositário perdeu a posse em prisão civil, que teve por base a des-
decorrência de feito de terceiro, e cabida qualificação do paciente co-
não há procedimento malicioso de mo depositário infiel, concedo a or-
sua parte, descabe incidência da dem de habeas corpus, invalidando o
prisão.» acórdão aqui impugnado e a ordem
Na espécie, é de toda pertinência que, em obediência àquele, o juiz
essa mesma tese, da qual não há co- singular se viu na contingência de
mo dissentir. Orlando Gomes não faz expedir.
segredo de seus sentimentos a res-
peito da prisão do depositário infiel,
para ele um «resquício da práti- EXTRATO DA ATA
ca odiosa da prisão por dividas»
(Contratos, Rio, Forense, 1977, pág.
411). Seu entender e o de outros au- HC 61.150-RJ — Rel.: Min. Fran-
tores de igual eminência, conduzem cisco Rezek. Pacte.: Augusto Cesar
á Interpretação restritiva das hipóte- Ramos Borges. Impte.: Anatole Ar-
ses de cabimento dessa forma de raes. Coator: Tribunal de Justiça do
custódia civil. Estado do Rio de Janeiro.
R.T.J. — 108 579

Decisão: Concedida a ordem nos Francisco Rezek. Subprocurador-


termos do voto do Relator. Unânime. Geral da República, Dr. Mauro Leite
Presidência do Senhor Ministro Soares.
Djaci Falcão. Presentes à Sessão os Brasília, 4 de novembro de 1983 —
Senhores Ministros Moreira Alves, Hélio Francisco Marques, Secretá-
Dedo Miranda, Aldir Passarinho e rio.

HABEAS CORPUS N? 61.181 — PA


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Paciente: Charles dos Santos Pereira — Impetrante: Walmir Santana
Bandeira de Souza e Guaraci da Silva Freitas — Coator: Conselho da Justiça
Federal.
Habeas Corpus contra o Conselho da Justiça Federal. Incompe-
tência do Supremo Tribunal Federal. Competência do Tribunal Fede-
ral de Recursos.
Habeas Corpus não conhecido, remetidos os autos ao Tribunal Fe-
deral de Recursos.
ACORDA0 são pelo Juiz Federal, confirmou-a o
Colendo Tribunal Federal de Recur
Vistos, relatados e discutidos es- sos.
tes autos, acordam os Ministros da Em face disso, o Ministério Pú-
Primeira Turma do Supremo Tribu- blico peticionou
nal Federal, na conformidade da ata brada a primeirafosse declarada que-
do julgamento e das notas taquigrá- do o pedido pelo fiança, e indeferi-
ficas, por unanimidade de votos, em apelado o Ministério Público, teria
Juiz Federal,
que,
não conhecer do recurso e determi- demais disso, requereu correição
nar a remessa dos autos ao Tribunal parcial.
Federal de Recursos
Brasília, 11 de novembro de 1983 so prazo Denegada a apelação e em cur-
— Soares Multoz, Presidente — so para interposição de recur-
Oscar Corrêa, Relator. em sentido estrito (artigo 581, XV,
do Código de Processo Penal), o
RELATORIO Conselho da Justiça Federal deferiu
a correição parcial e declarou a que-
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. bra da fiança; expedindo-se, em con-
Impetrou o paciente, por advogado, seqüência,
tra o
mandado de prisão con-
paciente.
habeas corpus, alegando que tendo
prestado fiança em crime de desca- Dal o pedido de habeas corpus,
minho, formalizada, três anos de- requerendo a restauração da fiança
pois, outra prisão em flagrante con- e o processamento do recurso em
tra o paciente, deferiu-lhe o Juiz se- sentido estrito (fls. 2/7).
gunda fiança, por se encontrar o pri- Nas informações, o Exm?
meiro processo ainda em fase de ins- Ministro-Presidente do Colendo Tri-
trução. bunal Federal de Recursos, prelimi-
2. Da concessão da nova fiança narmente, suscita a incompetência
interpôs o Ministério Público recurso deste Egrégio Supremo Tribunal Fe-
em sentido estrito e, mantida a deci- deral para o feito.
580 R.T.J. — 108

No mérito junta cópia da decisão rida ao Supremo Tribunal Federal


do Conselho, Relator o Exm? Minis- no artigo 119, I, h, da Constitui-
tro Washington Bolívar de Brito (fls. ção».
61/66).
7. A douta Procuradoria Geral da 2. O parecer da .douta Pro-
República, em parecer do ilustre curadoria Geral da República opina,
Procurador Alvaro Augusto Ribeiro entretanto, pela competência desta
Costa, aprovado pelo Eminente Corte, argumentando (fls. 70/71):
Subprocurador-Geral, Professor
Francisco de Assis Toledo, opinou Afigura-se-nos irrecusável, to-
pelo conhecimento do pedido e seu davia, a competência do Excelso
indeferimento (fls. 69/73). Pretório para conhecer do pedido.
2 o Relatório. Com efeito, segundo o art. 119, I,
h, da vigente Lei Maior, cabe ao
Supremo Tribunal Federal proces-
VOTO sar e julgar originariamente o
habeas corpus, quando o coator ou
O Sr. MinistrO Oscar Corrêa: (Re- o paciente for Tribunal ou autori-
lator) 1. A questão preliminar que se dade cujos atos estejam sujeitos
impõe examinar é da competência diretamente à sua jurisdição.
deste Supremo Tribunal Federal pa- No caso, trata-se de coação atri-
ra o conhecimento do habeas corpus, buída ao Conselho da Justiça Fede-
impetrado contra decisão do Conse- ral — órgão do Tribunal Federal
lho da Justiça Federal que estaria de Recursos — integrado por seu
criando constrangimento ilegal ao Presidente e seu Vice-Presidente,
paciente. além de três outros Ministros da
Nas informações, suscitou a in- mesma Corte (v. Lei n? 5.010/66,
competência o Ilustre Presidente do arts. 4? a 9?, bem como o art. 7? do
Cólendo Tribunal Federal de Recur- RI do TFR).
sos assinalando que: Os componentes do Conselho,
«... em face da autonomia do Con- ademais, acham-se diretamente
selho da Justiça Federal, os atos submetidos à jurisdição da Supre-
desse órgão, ainda que da natureza ma Corte, como se vê do art. 119, I
parajurisdicional própria ao pro- b da Carta Federal.
cesso de correição — como no caso Por outro lado, deve-se observar
se trata — não perdem o cunho de que enquanto o art. 122, I, c, da Lei
ordem administrativamente que os Magna prevê a competência do
subordina ao controle judicial do Tribunal Federal de Recursos para
Tribunal Federal de Recursos A processar e julgar os mandados de
exemplo, lembre-se a regra positi- segurança contra ato do Presiden-
va do artigo 11, III, do Regimento te do próprio Tribunal ou de suas
Interno, sobre dar por competente câmaras, turmas, grupos ou seções
o Tribunal para os mandados de — vale dizer, de seus órgãos — a
segurança contra ato do dito Con- alínea d do mesmo dispositivo inse-
selho. re na esfera da competência da
Dai que, antes desse controle, mesma Corte, no que tange aos
não cabe apontar-se o Tribunal co- habeas corpus, apenas aqueles em
mo coator, em sucessão do Conse- que a autoridade coatora for Minis-
lho, mormente para o efeito de de- tro de Estado, o responsável pela
finir, pela qualificação do impetra- direção geral da policia federal ou
do, a competência originária defe- juiz federal.
R.T.J. — 108 581

Não é, pois, sem razão, que o Re- tiça Federal é a que confere ao Ple-
gimento Interno do aludido Pretó- nário do Tribunal Federal de Recur-
rio, ao definir a competência de sos competência para apreciar man-
seu Plenário, cogita dos mandados dado de segurança contra ele impe-
de segurança contra atos do Conse- trado, no artigo 11, III, do Regimen-
lho da Justiça Federal, mas não to Interno do Tribunal Federal de
prevê igual competência para os Recursos.
habeas corpus em que esse órgão
figurar como coator.» Dai, aliás, como visto, infere o
A questão não é de fácil deslin- douto parecer da Procuradoria
de, em vista da omissão constitucio- Geral da República argumento con-
nal e mesmo da legislação comple- trário à competência daquele Plená-
mentar (a admitir-se pudesse suprir rio para os habeas corpus. Não nos
a lacuna da Lei Maior), não fixando parece assim: é que ao legislador —
a competência para a decisão sobre incapaz de prever todas as hipóte-
o pedido de habeas corpus contra de- ses, por mais experimentado e douto
cisão do Conselho da Justiça Federal — terá passado despercebida a pos-
em correição parcial — hipótese dos sibilidade de impetração do writ con-
autos. tra o Conselho. Tanto que previu o
mesmo artigo 11, IV, o processo e
Data venta contudo, do douto pare- julgamento de habeas corpus contra
cer, inclinamo-nos pela competência ato não só de Ministro de Estado, de
do Colendo Tribunal Federal de Re- Diretor-Geral da Policia Federal —
cursos, na linha do proposto nas in- previstos na Constituição, artigo 122,
formações do Ilustre Presidente da- I, d — como, ampliando-o, a ato do
quele Tribunal, pelos argumentos Presidente do Tribunal, de suas Se-
que, a seguir, aduziremos. ções ou Turmasrem face do estabe-
O Conselho da Justiça Federal lecido na LOMAN (artigo 89, ji 1?, d).
é, por definição legal, e o repete o Ora, se o Plenário tem essa compe-
douto parecer, «órgão do Tribunal tência, não se explica que não a te-
incumbido de presidir a administra- nha para apreciar o que se impetre
ção da Justiça Federal de primeira contra o Conselho da Justiça Fede-
instância» (artigo 45 c/c artigo 7? do ral.
Regimento Interno do Tribunal Fe-
deral de Recursos), por ele escolhi- Nem se há de alargar o enten-
do, junto a ele funcionando e a ele - dimento do artigo 119, I, h da Consti-
submetendo o seu próprio Regimento tuição para abranger nele o Conse-
(artigo 6?, XVII da Lei n? 5.010/66 lho de Justiça Federal: antes que à
com as modificações posteriores). jurisdição do Supremo Tribunal Fe-
Vincula-se, pois, umbelicalmente, deral, os atos do Conselho devem es-
ao Tribunal, ao qual pertencem to- tar sujeitos à jurisdição do próprio
dos os seus membros. Tribunal Federal de Recursos, não
Se, de seus atos e decisões não ca- colhendo inclui-lo como autoridade
be recurso administrativo (Lei n? ou funcionário, como previsto no re-
5.010/66, artigo 7? e Regimento Inter-
ferido dispositivo, para subordinar-
lhe a apreciação a esta Corte.
no do Tribunal Federal de Recursos,
artigo 46), não prevê a Constituição Também não nos parece acolhivel
a competência para decidir os recur- o argumento que «os componentes
sos contra suas decisões de outra na- do Conselho, ademais, acham-se sub-
tureza. metidos à jurisdição da Suprema
A única referência expressa a re- Corte, como se vê do artigo 119, I, b,
curso contra ato do Conselho da Jus- da Carta Federal».
582 R.T.J. — 108

Isto porque a competência que Nestes termos, não conhecendo do


neste se firma é a para processar e pedido, sou por que se remetam os
julgar originariamente, nos crimes autos ao Colendo Tribunal Federal
comuns e de responsabilidade, os de Recursos, para que o aprecie, co-
Ministros do Tribunal Federal de mo de Direito.
Recursos, além de inúmeras outras E o Voto.
autoridades; não habeas corpus.
A prevalecer a tese, este Supremo VOTO (PRELIMINAR)
Tribunal Federal deveria julgar
também os habeas corpus contra O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr.
atos, por exemplo, dos Ministros de Presidente. A Lei n? 5.010, no seu
Estado — incluídos no mesmo dispo- art. 71, estabelece:
sitivo — e que, entretanto, são da ex- «Caberá ao Tribunal Federal de
pressa competência do próprio Tri- Recursos, em sessão plenária, jul-
bunal Federal de Recursos (artigo gar os mandados de segurança
122, I, d). Podendo, assim, o argu- contra ato ou decisão do Conselho
mento ser invocado exatamente no da Justiça Federal »
sentido da competência desse Tribu-
nal. Como também, nessa mesma li- O Regimento Interno do Tribunal
nha, o fato de ser sua a competência Federal de Recursos, de junho de
para Julgar os habeas corpus contra 1980, recolheu esta norma e arrolou,
o Presidente do próprio Tribunal, Se- entre as hipóteses de competência do
ções ou Turmas, não havendo porque Plenário do Tribunal, o julgamento
distinguir o Conselho da Justiça Fe- de mandado de segurança contra ato
deral com outra competência. ou decisão do Conselho da Justiça
7. Aliás, nesse sentido, embora Federal. E omisso, todavia, no que
não muito explicitada — porque des- concerne a habeas corpus contra ato
necessário, na hipótese — a decisão ou decisão do Conselho da Justiça
da Colenda Segunda Turma no HC n? Federal.
60.705, Relator o Exm? Ministro A Segunda Turma, recentemente,
Francisco Rezek, espelhada nesta entendeu que habeas corpus, contra
Ementa: ato do Presidente do Conselho da
«Habeas Cospus. Não é da com- Justiça Federal, a que incumbe exe-
petência constitucional desta Casa cutar as decisões, as deliberações
a apreciação do habeas corpus em desse colendo Conselho, há de ser
que se atribui coação ao Presiden- processado e Julgado no Tribunal Fe-
te do Conselho de Justiça Federal. deral de Recursos.
Autos remetidos ao Tribunal Penso como o ilustre Ministro-
Federal de Recursos.» (DJ de Relator, que se há de construir a so-
6-5-1983). lução para essa hipótese omisso o
In casu, o Eminente Relator — texto constitucional, eis que não pre-
embora o pedido não propiciasse vista, nem no elenco das atribuições
exata compreensão da controvérsia do Supremo Tribunal Federal, nem
— afirmou, em seu conciso voto: naquele relativo às atribuições do
Tribunal Federal de Recursos. A
«... não há como situar no construção, no meu entender, cum-
domínio constitucional da compe- pre dar-se, no sentido da competên-
tência desta Casa o habeas corpus cia do Tribunal Federal de Recur-
em que se atribui coação ao Pre- sos. Em primeiro lugar, porque, re-
sidente do Conselho da Justiça Fe- lativamente ao mandado de seguran-
deral,» remetendo os autos ao Tri- ça, a Lei n? 5.010/1966, explicitamen-
bunal Federal de Recursos. te, prevê a competência do Tribunal
R.T.J. — 108 583

Federal de Recursos. Dir-se-á que, sar e julgar habeas corpus contra


em matéria de habeas corpus, a ju- decisão do Conselho da Justiça Fede-
risprudência do Supremo Tribunal ral, tal qual lhe incumbe julgar
Federal tem se orientado na linha de habeas corpus contra ato do Presi-
atribuição a esta Corte da competên- dente do mesmo Conselho, e, ainda,
cia para o processo e julgamento de mandado de segurança contra deli-
habeas corpus, contra ato de au- beração do aludido órgão.
toridade, que está originariamente Meu voto é, com essas breves con-
sujeita ao Supremo Tribunal Fede- siderações, acompanhando o ilustre
ral, no processo e julgamento de Ministro-Relator. Não conheço do pe-
crimes comuns e de responsabilida- dido e determino a remessa dos au-
de. Acontece que, no caso concre- tos ao Tribunal Federal de Recursos
to, não se pode falar, de explícito,
em constrangimento que esteja sen- EXTRATO DA ATA
do imputado, individualmente, a HC 61.181-PA — Rel.: Min. Oscar
qualquer dos Ministros do Tribunal Corrêa. Pacte.: Charles dos Santos
Federal de Recursos, integrantes do
Conselho da Justiça Federal, mas, Pereira. Imptes.: Walmir Santana
sim, resulta o ato impugnado, na via Bandeira de Sousa e Guaraci da Sil-
eleita, de decisão do referido Cole- va Freitas. Coator.: Conselho da Jus-
giado, órgão da superior administra- tiça Federal.
ção da Justiça Federal de primeira Decisão: Não se conheceu do re-
instância, que funciona junto ao curso e determinou-se a remessa dos
TFR. autos ao Tribunal Federal de Recur-
Releva, ademais, notar outro as- sos. Falou como Impte.: Dr. Guaraci
pecto, explicitado pelo ilustre advo- da Silva Freitas. Decisão unânime.
gado: da mesma decisão do Juiz Fe- Presidência do Senhor Ministro
deral, atacada em correição parcial, Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
interpôs-se recurso em sentido estri- Senhores Ministros Rafael Mayer,
to, a ser julgado por Turma do Tri- Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
bunal Federal de Recursos. sente, licenciado, o Senhor Ministro
Parece-me, assim, inclusive, sob o Alfredo Buzaid. Subprocurador-
ponto de vista de conveniência, que Geral da República, Dr. Francisco
a construção de uma solução, para a de Assis Toledo.
hipótese, há de fazer-se, mantendo, Brasília, 11 de novembro de 1983 —
na alçada do Tribunal Federal de Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Recursos, por seu Plenário, proces- Secretário.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 61.302 — SP
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Recorrentes: José Roberto Retti ou José Roberto Betti e outro — Recor-
rido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo.
Habeas Coipus. Alegação de inexistência de avaliação de Jóias
furtadas que deram margem a denúncia por crime de receptação.
— Inexistência de presunção da denúncia, uma vez que o va-
lor atribuído às Jóias em causa decorre de afirmação uníssona dos só-
cios da firma furtada. Aplicação do princípio do artigo 167 do CPP.
Recurso ordinário a que se nega provimento.
584 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO digo Penal, afirmando que eles,


em seu escritório, na Avenida Ran-
Vistos, relatados e discutidos estes gel Pestana n? 261, 6? andar, nesta
autos, acordam os Ministros da Se- Capital, em 22 de setembro de
gunda Turma do Supremo Tribunal 1982, durante o horário comercial,
Federal, na conformidade da ata do adquiriram de José Carlos da Silva
julgamento e das notas taquigráfi- vinte e nove brincos de ouro e bri-
cas, por unanimidade de votos, ne- lhantes, que este havia furtado de
gar provimento ao recurso ordinário. «Daniele Indústria .e Comércio de
Brasília, 30 de setembro de 1983 — Jóias Ltda.», avaliados em Cr$
Djaci Falcão, Presidente — Moreira 400.000,00, pela aviltante quantia
Alves, Relator. de Cr$ 60.000,00, sendo que eles, co-
merciantes de ouro e pedras pre-
RELATORIO ciosas, que são, deviam presumir a
origem criminosa da coisa, pela
O Sr. Ministro Moreira Alves: E flagrante desproporção entre o va-
este o teor do acórdão recorrido (fls. lor da mesma e o preço ofertado.
62/64): De inépcia da denúncia não há
«Acordam, em Câmara de Fé- que se falar, uma vez que contém
rias do Tribunal de Alçada Crimi- exposição de fato típico com todas
nal, por votação unânime, denegar as circunstâncias relevantes, de
a ordem. conformidade com a exigência do
artigo 41 do Código de Processo
Em favor de José Roberto Retti Penal.
e Fábio Retti, ambos denunciados
como infratores do artigo 180, § 1? A denúncia está, ademais, apoia-
do Código Penal, foi impetrada or- da em provas contidas no inquérito
dem de Habeas Corpus para tran- policial, que a justificam.
camento do processo por falta de Ao contrário do que afirmam os
justa causa. Argumentam os d. im- d. impetrantes, as jóias foram ava-
petrantes que a denúncia imputa liadas. Com as informações que
aos pacientes o delito de recepta- prestou, o ilustre Magistrado enca-
ção culposa, afirmando que adqui- minhou «xerox» do auto de avalia-
riram jóias por preço inferior ao ção (fls. 50). Quanto ao preço que
seu real valor, apesar da inexistên- por elas pagaram os pacientes, Ro-
cia de laudo de avaliação dos bens berto Retti, em seu interrogatório
por eles adquiridos. Assim, se a no inquérito policial, não contra-
acusação está fundada exclusiva- riou o afirmado na denúncia, de
mente na desproporção entre o va- conformidade, aliás, com as decla-
lor real das jóias e o preço que por rações do furtador.
elas pagaram os pacientes, o laudo
de avaliação é peça essencial e sua Não cabe, no processo de habeas
inexistência invalida todo o proces- corpus, a valoração das provas.
so e justifica seu trancamento. Dest'arte, tendo a denúncia des-
Processado com regularidade o crito fato típico, circunstanciada-
pedido, com as informações do d. mente, de acordo com a exigência
Magistrado, opinou a ilustrada legal, amparada por informações
Procuradoria Geral da Justiça no contidas no inquérito policial, não
sentido da denegação da ordem há como agasalhar o pedido de
trancamento do processo por falta
A denúncia imputou aos pacien- de justa causa.
tes o delito de receptação culposa,
definido no artigo 180, § 1?, do Có- Fica, pois, denegada a ordem.»

R.T.J. — 108 585

Interposto recurso ordinário, em Retti 29 brincos por Cri 60.000,00


que se alega que a avaliação aludida (vide declarações de José Carlos a
no acórdão recorrido não diz respei- fls. 12-v) é manifesta a despropor-
to às jóias em causa, pois estas não ção no preço.
foram localizadas, sobre ele assim Pelo improvimento do recurso.»
se manifesta a Procuradoria Geral
da República, em parecer do Dr. E o relatório.
Cláudio Lemos Fonteles (fls. 79/80):
«Mencionando a menoridade dos VOTO
acusados e a inexistência de laudo
pericial de avaliação da res
furtiva, indispensável à positiva- O Sr. Ministro Moreira Alves (Re-
ção da receptação culposa de que lator): 1. O recurso ordinário se in-
são acusados Fábio e José Roberto* surge, apenas, contra a afirmação
Retti, pois só assim ter-se-ia dado do acórdão recorrido no sentido de
seguro à demonstração da despro- que os 29 brincos em causa foram
porção de valores da coisa adquiri- avaliados por Cri 400.000,00 (quatro-
da vilmente, em relação ao preço centos mil cruzeiros). Alegam os re-
de mercado, o Dr. Bension Cos- correntes que essa assertiva é infun-
lovskl formulou pedido de habeas dada, tendo decorrido de equivoco.
corpos. Sucede, porém, que — e esse é o
Indeferido, apresenta recurso principio consagrado no artigo 167 do
sustentando que o laudo elaborado CPP —, não tendo sido possível, co-
não o foi sobre as mercadorias ad- mo ocorreu no caso, a apreensão das
quiridas. jóias furtadas, a prova testemunhal
sobre seu valor suprirá a avaliação
Não procede a argumentação. direta, impossível de ser feita. E, no
Não são menores os acusados, e caso, como se vê a fls. 15 e 16 dos
a isto, simplesmente coteje-se os autos, os sócios da firma furtada —
documentos a fls. 35/31 com a data João Ferreira Gomes e Paulo Fer-
do evento, como fixada na denún- reira Gomes, este na qualidade de
cia a fls. 6. testemunha — foram uníssonos em
declarar que os 29 pares de brincos
Quanto à inexistência de avalia- de ouro e de brilhantes em causa va-
ção nas jóias — brincos de ouro, liam Cri 400.000,00 (quatrocentos mil
efetivamente adquiridas pelos re- cruzeiros), o que, evidentemente,
correntes que de logo as venderam afasta a alegação de que, a propósi-
a terceiros (suas Declarações a fls. to, houve mera presunção da denún-
13 e v e 14 e v), a prova testemu- cia.
nhal e outros elementos de convic- Em face do exposto, nego provi-
ção, a teor do disposto no artigo mento ao presente recurso.
167, do CPP, perfeitamente suprem
o que é impossível de se estabele-
cer pericialmente. EXTRATO DA ATA
E, se o Laudo Pericial feito nos
objetos apreendidos em poder de RHC 61.302 — SP — Rel.: Min. Mo-
José Carlos da Silva, o ladrão de reira Alves. Rectes.: José Roberto
jóias e fornecedor dos irmãos Ret- Retti ou José Roberto Betti e outro
ti, fixou em Cr$ 5.000,00 o brinco de (Advs.: Bension Coslovlsky). Recdo.:
ouro (vide: fls. 10), à época do fa- Tribunal de Alçada Criminal do Es-
to, tendo José Carlos vendido aos tado de São Paulo.
H.T.J. — 108

Decisão: Negado provimento. Unâ- Francisco Rezek. Subprocurador-


nime. Geral da República, Dr. Mauro Leite
Presidência do Senhor Ministro Soares.
Djaci Falcão. Presentes à Sessão os Brasília, 30 de setembro de 1983 —
Senhores Ministros Moreira Alves, Hélio Francisco Marques, Secretá-
Decio Miranda, Aldir Passarinho e rio.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 61.303 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente: Gabriel Bassili — Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal
do Estado de São Paulo.
Crime contra a honra. Ofensa irrogada em Juízo. Imunidade Judi-
ciária. Ofensas contra o Juiz. Injúria. Retratação (art. 142, 1 e 143 do
CP).
A imunidade Judiciária, nos termos do art. 142, I, do Código
Penal, que exime de criminalidade as ofensas irrogadas em Juizo, não
é abrangente do crime de calúnia, e em qualquer caso ela não 6 inten-
siva às ofensas à honra do Juiz da causa.
A retratação, de que são passíveis os crimes de calúnia e difa-
mação, para Isentar de pena, como disposto no art. 143 do Código Pe-
nal, não se aplica à hipótese de injúria, tanto mais quanto a pretensão
punitiva de tal ofensa, que ultrapassa as lindes privadas, é veiculada
mediante ação pública para preservar a integridade dos órgãos esta-
tais no exercício de suas funções. Recurso de Habeas Corpus
improvido.
ACORDA° «Gabriel Bassili foi denunciado
como incurso nas sanções dos arti-
Vistos, relatados e discutidos estes gos 138 e 140, combinado com o ar-
autos, acordam os Ministros da Pri- tigo 141, inciso II, 145, § único, 51,
meira Turma do Supremo Tribunal caput e 25, todos do Código Penal,
Federal, em conformidade com a porque, em petição que assinou
ata de julgamentos e notas taquigrá- conjuntamente com o advogado
ficas à unanimidade, em negar pro- Geraldo Panico, teria ofendido a
vimento ao recurso. honra do Dr. Péricles de Toledo Pi-
Brasília, 25 de outubro de 1983 — za Júnior, Juiz Titular da 6? Vara
Soares Mtuloz, Presidente — Rafael eivai da Comarca de Santos.
Mayer, Relator. Pleitea o recorrente o tranca-
mento da ação penal, sob alegação
RELATORIO de falta de justa causa, visto haver
se retratado cabalmente, não se-
O Sr. Ministro Rafael Mayer: O rem ofensivas as expressões em-
parecer emitido pela ilustre Procu- pregadas e estar obrigado pelo dis-
radora, Haydevalda Aparecida Sam- posto no artigo 142, I, o Código Pe-
paio, aprovado pelo eminente nal.
Subprocurador-Geral, Prof. Assis Não assiste razão ao impetrante,
Toledo expõe e opina, nesses termos: uma vez que se trata de crime de

R.T.J. — 108 587

ação pública, a retratação não se penho de função pública. Acima


aplica á injúria, as expressões em- do interesse da indefinida ampli-
pregadas são ofensivas (v. fls. tude de defesa de direitos em
05/06) e a imunidade judiciária do juízo está o respeito devido á fun-
advogado não abrange a ofensa ir- ção pública, pois, de outro modo,
rogada contra o juiz, como bem estaria implantada a Indisciplina
acentuado no aresto recorrido, cu- no foro e subvertido o próprio de-
jas considerações endossamos: coro da Justiça. A licentia
convinciandi não pode ser conce-
«Após proferida a sentença na dida em detrimento da adminis-
ação, de desoneração de pensão tração pública» (Nelson Hungria,
alimentícia, que Geraldo Panico Comentários ao Código Penal,
promoveu contra sua ex-mulher, vol. VI, pág. 119/121).
paciente ingressou em embar-
gos de declaração e, a pretexto De outra parte, a retratação
de pedir a declaração da senten- oferecida não tem o pretendido
ça havida como omissa, obscura efeito de extinguir a punibllida-
contraditória, passou a ofender de. A retratação, que não se apli-
duramente o Magistrado, afir- ca à injúria, só é causa da extin-
mando que ele «para lavrar a ção da punibllidade quando se
imoral e injurídica sentença em- trata de ação penal privada.
bargada de fls. 594, agiu com do- Aqui, por ocorrer a hipótese do
lo e fraude» ... «atingindo as raias art. 145, parágrafo único, In fine,
do crime da prevaricação no do Código Penal, a ação é públi-
exercício de suas funções de or- ca, mediante a representação do
dem pública, ao não admitir que ofendido e a retratação não tem
fossem respondidas pela Ré as o efeito extintivo.» (fls. 42/43).
perguntas consignadas no termo Somos, em face do exposto, pe-
de seu depoimento pessoal...» lo não provimento do recurso.»
Impossível aceitar a afirmação o relatório.
de que tais expressões não são
ofensivas. Razão inexistiu para VOTO
que se irrogassem tão pesadas
ofensas, inteiramente desvincula- Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
das da questão posta em julga- lator): Estão despidos de significa-
mento. ção jurídica, na espécie, os dois fun-
damentos em que se arrima a pre-
A imunidade judiciária, que o tensão para deduzir a falta de justa
douto impetrante invoca em fa- causa para a ação penal, conforme
vor do paciente, discrimina as bem salientado pelo douto parecer.
ofensas irrogadas contra a outra
parte e até mesmo contra tercei- Tem-se entendido que a imunidade
ros, quando evidente a conexão judiciária, que exime de criminali-
com o interesse em litígio, mas dade as ofensas irrogadas, em juizo,
não abrange as contumélias con- na discussão da causa, é tão-só
tra o Juiz, que não é parte, nem abrangente das injuriosas ou difa-
participa da discussão da causa. matórias, e não das constitutivas de
Neste sentido é a lição de Hun- calúnia, que é também espécie in-
gria: «...as partes ou respectivos cluída na denúncia, em questão, ten-
patronos não podem ofender im- do em vista o teor das declarações
punemente a autoridade judiciá- incriminadas. De qualquer modo, no
ria ou aqueles que intervêm na caso, as ofensas são assacadas con-
atividade processual em desem- tra o Juiz processante do feito onde
588 R.T.J. — 108

elas foram emitidas, até esse ponto Sãos estatais, no exercício de suas
não se estende a dita imunidade, funções. Assim, o suposto do art. 143,
pois o Juiz nem é parte, nem tem in- do Código Penal é o de sua aplicabi-
teresse particular na causa, nem es- lidade restrita à querela privada, co-
tá em contenda com as partes. A vi- mo bem destacado pelo venerável
vacidade de linguagem ou a crítica acórdão recorrido.
forte e altiva têm larga margem pa- Assim, pelos fundamentos do douto
ra exercitar-se, não se Justificando, parecer, nego provimento ao recur-
em nenhum momento, venha decair so.
para o plano da ofensa à honra indi-
vidual do magistrado. Esse é enten- EXTRATO DA ATA
dimento que se deve ter não só como
pacifico, como equilibrado e Justo, RHC 61.303-SP — Rel.: Min. Rafael
insuscetível de censura válida. Mayer. Recta: Gabriel Basslli.
Por outro lado, a retratação, na hi- (Adv.: José Gomes da Silva). Rec-
pótese, não pode ser causa de extin- do.: Tribunal de Alçada Criminal do
ção da ação penal, nos termos do Estado de São Paulo.
art. 108, VII, do Código Penal. Como Decisão: Negou-se provimento ao
dentre os fatos delitivos imputados recurso de habeas corpus. Decisão
ao paciente, se inclui a injúria, a es- unânime.
ta não se estenderia o manto da re- Presidência do Senhor Ministro
tratação, pois esta somente diz, para Soares Mutioz. Presentes à Sessão os
isentar de pena, com a calúnia e a Senhores Ministros Rafael Mayer,
difamação (art. 143 do CP). Todavia, Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
razão mais abrangente para que não Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
se tenha por viável a retratação é da República, Dr. Francisco de As-
que a pretensão punitiva é veiculada sis Toledo.
mediante ação pública, e o é porque
as ofensas atingem um agente públi- Brasília, 25 de outubro de 1983 —
co, ultrapassando a esfera privada António Carlos de Azevedo Braga,
para interessar à integridade dos ór- Secretário.

HABEAS CORPUS N? 61.374 — DF


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Paciente: Norberto Manoel Ale — Impetrante: Alfredo José Miranda —
Coator: Presidente da República.
Estrangeiro. Expulsão. Ato Já exaurido em seus efeitos. Habeas
corpus. Indeferimento liminar pelo relator, que se confirma.
ACORDAO Brasília, 9 de novembro de 1983 —
Cordeiro Guerra, Presidente —
Vistos, relatados e discutidos estes Dedo Miranda, Relator.
autos acordam os Ministros do Su-
premo Tribunal Federal, em sessão RELATORIO
plenária, na conformidade da ata do
Julgamento e das notas taquigráfi- O Sr. Ministro Dedo Miranda:
cas, por unanimidade de votos, em Dizendo-se para esse efeito «nomea-
negar provimento ao pedido. do pela Procuradoria de Assistência

R.T.J. — 108 589

Judiciária da Procuradoria Geral do não são do Regimento Interno atual-


Estado de São Paulo», o Procurador mente em vigor no Supremo Tribu-
do Estado Dr. Alfredo José Miranda nal Federal, mas do Regimento In-
requereu ao Supremo Tribunal Fede- terno de 18-6-70, em que os arts. 289,
ral habeas corpus a favor do cidadão 290 e 291 cuidavam do «recurso de
argentino Norberto Manoel Me, ex- habeas corpus».
pulso do território nacional em virtu- Por outro lado, a disposição consti-
de de decreto emanado do Vice- tucional invocada, art. 119, II, c, da
Presidente da República, então no Constituição, diz respeito a habeas
exercício da Presidência. corpus decidido em única ou última
Nesse pedido, proferi o seguinte instância pelos tribunais federais ou
despacho: tribunais de justiça dos Estados. Ne-
«O ato indicado como de coação nhuma dessas disposições autoriza o
ilegal já se exauriu em seus efei- «recurso ordinário» ao Tribunal Ple-
tos, não remanescendo constrangi- no, ora formulado pelo requerente,
mento à liberdade de locomoção do contra o despacho do relator.
paciente, a não ser a eventual ve- Isto posto, não conheço do recurso
dação de sua entrada no Pais, tal como interposto, mas o acolho co-
sempre legitima contra estrangei- mo agravo regimental, autorizado,
ros aqui não residentes. de modo genérico, contra decisão do
Indefiro liminarmente o pedido relator (Regimento Interno, art.
(Regimento Interno, art. 21, 1? ).» 317).
(Fls. 32). Todavia, nego-lhe provimento, vis-
Publicado o despacho no DJ de 20- to merecer confirmação o despacho
10-83, quinta-feira, vem o mesmo im- atacado.
petrante com o telegrama de fls. 34, Com efeito, não é possível cogitar-
recebido na mesma data, ainda invo- se de impedir coação cujos efeitos já
cando a qualidade de Procurador do se haviam exaurido no momento em
Estado, no qual interpõe «recurso or- que impetrado o siirit.
dinário ao Colendo Supremo Tribu- Com relação ao pedido final da pe-
nal Federal contra o venerando des- tição ora apreciada, relativo à con-
pacho de Sua Excelência, o Sr. cessão de habeas corpus preventivo
Ministro-Relator, denegatório do para que o requerente possa, res-
habeas corpus em causa». (Fls. 34). guardado de quaisquer sanções, re-
E o faz «com base nos arts. 289, gressar ao Brasil, é matéria que de-
290 e 291 do Regimento Interno do penderia do exame de provas quanto
Supremo Tribunal Federal e no art. aos fatos, ou de concessão nova da
119, inciso II, letra c, da Constituição autoridade administrativa, ambos
Federal». esses aspectos de inviável considera-
Trago o feito à mesa do Tribunal ção no habeas corpus.
Pleno. o meu voto.
É o relatório. EXTRATO DA ATA
VOTO HC 61.374-DF — Rel.: Ministro De-
cio Miranda. Pacte.: Norberto Ma-
O Sr. Ministro Dedo Miranda (Re- noel Me. Impte.: Alfredo José Mi-
lator): No interpor o presente recur- randa. Coator.: Presidente da Repú-
so inominado, o recorrente invoca blica.
disposições que, identificadas pela Decisão: Negou-se provimento,
afinidade com a matéria dos autos, unanimemente.
590 R.T.J. — 108

Presidência do Senhor Ministro cenciado, o Senhor Ministro Alfredo


Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão Buzaid. Procurador-Geral da Repú-
os Senhores Ministros Djaci Falcão, blica, Professor Inocêncio Mártires
Moreira Alves, Soares Mtuloz, Decio Coelho.
Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari- Brasília, 9 de novembro de 1983 —
nho e Francisco Reza. Ausente, 11- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 61.506 — ES


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrente: Otávio João Bragé — Recorrido: Tribunal de Justiça do Es-
tado do Espirito Santo.
Recurso de Habeas Corpus. Pedido não conhecido pelo Tribunal
de Justiça a quo, em vista de pendente recurso de apelação.
Por si só, não o impede a pendência da apelação, se presente o
constrangimento ilegal e o exame da matéria se comporta no âmbito
do wrlt. Recurso de Habeas Corpus provido.
ACÓRDÃO Dai o recurso ordinário inter-
posto (fls. 47/51), invocando juris-
Vistos, relatados e discutidos estes prudência na qual se decidiu que «a
autos, acordam os Ministros da Pri- existência de recurso de apelação,
meira Turma do Supremo Tribunal em processo criminal, não impede o
Federal, na conformidade da ata do conhecimento do writ pela justiça
julgamento e das notas taquigráfi- competente» (fls. 49); e requerendo
cas, por unanimidade de votos, em assim proceda a Corte espirito-
dar provimento ao recurso. santense.
Brasília, 9 de dezembro de 1983 — A Procuradoria-Geral da Re-
Soares Mtuloz, Presidente — Oscar pública, em parecer da ilustre Pro-
Corrêa, Relator. curadora Haydevalda Aparecida
Sampaio, aprovado pelo eminen-
te Subprocurador-Geral, Professor
RELATÓRIO Francisco de Assis Toledo opinou pe-
lo provimento do pedido, para que o
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Im- C. Tribunal a quo conheça do recur-
petrado habeas corpus em favor do so e o julgue (fls. 63/68).
paciente, por advogado, alegando E o relatório.
que está ele sofrendo coação ilegal,
em vitude de denúncia inepta e nuli-
dade da sentença condenatória por VOTO
falta de fundamentação e de fixação
de pena-base, dele não conheceu o C. O Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re-
Tribunal de Justiça, em vista de ha- lator): Como salientado na Petição
ver «apelação em curso neste mes- de recurso e reafirmado no douto
mo Tribunal, com idêntico objetivo, parecer da Procuradoria Geral da
onde o processo será, naturalmente República, na linha da jurisprudên-
analisado em toda sua amplitude» cia da Corte, em principio, o pedido
(fls. 38). de habeas corpus é cabível, pendente

R.T.J. — 108 591

recurso de apelação, se presente o E o voto.


constrangimento ilegal e se a maté-
ria alegada comporta exame no âm- EXTRATO DA ATA
bito do writ.
Obviamente que na apelação essa RHC 61.506-ES — Rel.: Min. Oscar
análise poderá fazer-se muito mais Corrêa. Recte.: Otávio José Bragé.
amplamente, o que, contudo, não ex- (Adv.: Emanoel Antonio Santos Câ-
clui se faça no habeas corpus se den- mara). Recdo.: Tribunal de Justiça
tro dele se comporta. do Estado do Espírito Santo.
In casu, salienta o parecer, Decisão: Deu-se provimento ao re-
«não há dúvida de que o exame curso da habeas corpus. Decisão
das nulidades alegadas pode ser fei- unânime.
to através de habeas corpus, por de-
pender da análise apenas da denún- Presidência do Senhor Ministro
cia e da sentença condenatória»; tan- Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
to mais quanto o «paciente deve es- Senhores Ministros Rafael Mayer,
tar preso, visto ter sido expedido Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
mandado de prisão (v. fls. 17) ». Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
Não há, pois, impedimento a da República, Dr. Francisco de As-
que o C. Tribunal de Justiça conheça sis Toledo.
do pedido e o julgue, como de direi- Brasília, 9 de dezembro de 1963 —
to. Pelo que, com esse objetivo, dou António Carlos de Azevedo Braga,
provimento ao recurso. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 75.152 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: União Federal — Recorrido: Produtora, Importadora, Dis-
tribuidora Famafilmes Ltda.
Tributário. Imposto de renda. Exibição de filmes estrangeiros: di-
reito adquirido a preço fixo. Decreto-lei n? 43/66, art. 29, c/c o art. 45
da Lei 4.131/62. Art. 294 c/c o art. 205 do então vigente Regulamento
do Imposto de Renda (Decreto n? 58.400, de 1966).
Na hipótese de aquisição dos direitos de exibição de filmes estran-
geiros, a preço fixo, o imposto de renda deve ser calculado pelo valor
global dos pagamentos no exterior, segundo resulta do disposto no
art. 29, do Decreto-lei n? 43/66, c/c o art. 45, da Lei 4.131/62. Hipótese
que difere daquela em que a exploração da película é feita por conta
dos produtores, distribuidores ou intermediários, que obtêm o ganho
sob a forma de participação nas receitas brutas auferidas, incidindo
um percentual de 40% sobre os 30% do art. 294 do Regulamento do
Imposto de Renda (Decreto n? 58.400), c/c o seu art. 205.
Recurso conhecido e provido.
ACORDA° premo Tribunal Federal por sua Se-
gunda Turma, na conformidade da
Vistos, relatados e discutidos estes ata de julgamentos e das notas taqui-
autos, acordam os Ministros do Su- gráficas, por unanimidade de votos,
592 R.T.J. — 108

conhecer do recurso para lhe dar as importâncias remetidas ao vende-


provimento. dor, domiciliado no exterior», negou
vigência ao art. 29 do Decreto-lei n?
Brasília, 26 de agosto de 1983 — 43, de 18 de novembro de 1966, de da-
Mui Falcão, Presidente — Aldir ta posterior ao Decreto n? 58.400, que
Passarinho, Relator. é de 10 de maio de 1966.
Admitido o recurso, subiram os
RELATORIO autos a esta Corte.
Ouvida, manifestou-se a Procura-
O Sr. Ministro Aldir Passarinho doria-Geral
cimento e
da República pelo conhe-
provimento do apelo últi-
(Relator): Produtora, Importadora,
Distribuidora, Famafilmes Ltda. im- mo.
petrou mandado de segurança con- E este o relatório.
tra atos do Delegado Regional do
Imposto de Renda, em São Paulo, e
do Encarregado do Registro e Con- VOTO
trole Cambial do Banco do Brasil,
que lhe estavam exigindo uma O Sr. Ministro Aldir Passarinho
aliquota de 40% sobre a remessa de (Relator):
numerário para o exterior, por ter Com a UniãoTenho que a razão está
Federal.
adquirido a preço fixo os direitos de
exibição de filmes estrangeiros no No caso, trata-se de aquisição, no
Brasil. estrangeiro, de direitos de exibição
de filmes.
O MM. Juiz Federal da Seção Ju-
diciária do Estado de São Paulo con- Estou em que bem situou a espécie
cedeu a segurança impetrada e o o Sr. Ministro Armando Rolemberg,
Tribunal Federal de Recursos confir- do Eg. Tribunal Federal de Recur-
mou a decisão monocrática, em sos, onde é uma das suas mais ex-
acórdão sintetizado nesta ementa: pressivas figuras, e então seu ilustre
Presidente, ao dizer, com inegável
«Imposto de Renda. Aquisição de propriedade:
Filmes no Exterior. Decreto n?
58.400/66, arts. 292, 2? e 294. Na hi- 01. Firma que adquiriu, a preço
pótese de filme simplesmente ad- fixo, os direitos de exibição de fil-
quirido por preço fixo, a alíquota a mes estrangeiros no Brasil, preten-
ser retida na fonte pelo comprador deu remeter as importâncias con-
é a de 30%, sobre as importâncias, seqüentes de tal contrato fazendo a
remetidas ao vendedor, domicilia- retenção do imposto de renda so-
do no exterior». (fls. 122). bre 30% das mesmas importân-
cias, de acordo com o disposto no
Inconformada, recorreu extraordi- art. 294 do Decreto n? 58.400/66, e,
nariamente a União Federal, dizen- como lhe houvesse sido exigido que
do-se abrigada na letra a da per- o fizesse de acordo com o prescrito
missão constitucional, argumentan- no art. 45 da Lei n? 4.131/62, isto é,
do que, estabelecido o v. acórdão na base de 40% sobre os rendimen-
Impugnado que «na hipótese de fil- tos da exploração de películas, re-
me simplesmente adquirido por pre- quereu mandado de segurança que
ço fixo, a aliquota a ser retida na lhe foi deferido em ambas as ins-
fonte pelo comprador é de 30% sobre tâncias.
R.T.J. — 108 593

Do julgado proferido neste Tribu- Defiro». (fls. 129/130).


nal recorreu a União Federal, in-
vocando a letra a da permissão
constitucional e sustentando haver A matéria em lide já foi por mim
sido negada vigência aos arts. 29 longamente examinada quando Mi-
do Decreto-Lei n? 43/66 e 45 da Lei nistro também do C. Tribunal Fede-
n? 4.131/62. ral de Recursos, ao ensejo do julga-
mento do Recurso de Revista n?
1.447-SP, do qual fui relator (sessão
2. A própria impetrante, na ini- de 28-9-76), e que mereceu acolhida
cial, esclareceu que adquirira os no Plenário daquela Corte, sendo es-
filmes a preço fixo, isto é, corren- sas as razões que então expendi e
do por conta do adquirente as des- que ora reitero, em fundamentação
pesas, direitos e impostos, com o deste voto:
que as regras legais pertinentes
eram de fato as do art. 29 do
Decreto-lei n? 43/66 e do art. 45 da «Preliminarmente. Com a peti-
Lei n? 4.131/62, que dispõem: ção de sua interposição vieram có-
pias autenticadas pela Secretária
deste Tribunal dos acórdãos diver-
«Art. 29 — Os pagamentos no gentes dos AMS n? 65.286, 65.285 e
exterior de filmes adquiridos, a 64.626, estes últimos da 3? Turma,
preço fixo, para exploração no e aquele da 1? Turma. Outrossim,
pais, ficarão igualmente sujeitos a divergência entre o acórdão re-
ao desconto do imposto, nos ter- vistando e os trazidos a confronto é
mos do art. 45, da Lei n? 4.131/62 patente, como se pode ver pela
e do art. 28 da presente lei». simples leitura dos mesmos, a qual
fiz, para conhecimento do Tribu-
«Art. 45 — Os rendimentos o- nal, no momento do relatório.
riundos da exploração de pelí-
culas cinematográficas, excetua- Assim, conheço do recurso.
dos os exibidores não importado-
res ficarão sujeitos ao desconto
do imposto à razão de 40% (qua- Mérito.
renta por cento), mas o contri-
buinte terá direito a optar pelo Quanto ao mérito, entendo que o
depósito no Banco do Brasil, em v. acórdão recorrido deve ser con-
conta especial, de 40% (quarenta firmado.
por cento) do imposto devido, po-
dendo aplicar esta importância,
mediante autorização do Grupo A decisão, na C. 1? Turma desta
Executivo da Indústria Cinema- Corte, tomada por unanimidade, se
tográfica (CEICINE), criado pe- alicerçou nos bens lançados argu-
lo Decreto n? 50.278, de 17 de fe- mentos do Relator, Sr. Ministro
vereiro de 1961, na produção de Jorge Lafayette Guimarães (AMS
filmes no Pais, nos termos do De- n? 64.443), e que foram os seguin-
creto n? 51.106, de 1? de agosto de tes:
1961».
«A matéria é perfeitamente co-
A decisão recorrida deixou de nhecida da Turma, que sobre ela
aplicar tais disposições, o que jus- tem-se pronunciado diversas ve-
tifica a admissão do recurso. zes, consistindo na tributabilida-
594 R.T.J. — 108

de, pretendida pela impetrante, GB, e que espelha o ponto-de-vista


de apenas 30% das quantias pa- contrário ao adotado pelo acórdão
gas aos produtores, no exterior, revistando, assinala, como razões
pela exibição de filmes estrangei- precípuas do seu entendimento, as
ros. que abaixo reproduzo, e que se se-
guiram à enunciação do art. 205,
No caso dos autos, como decor- letras a e b, e incisos I e II; e arts.
re dos contratos de fls. 8/13 e 292 e 294 do mesmo Regulamento
14/38, e reconhece a sentença e, ainda, do Decreto-lei n? 6.340/44:
(fls. 67), houve aquisição de fil- (lê).
mes a «preço fixo» — o que
abrange não somente a compra
dos filmes, como dos direitos à A matéria é suficientemente co-
exibição pelo que incide o art. 29 nhecida do Tribunal, que já a exa-
do Decreto-Lei n? 43, de 1966, que minou, inclusive, pelo seu Pleno,
se reporta à tributação do rendi- na oportunidade do julgamento do
mento nos termos do art. 45 da RR n? 1.278-SP, ficando o acórdão
Lei n? 4.131, de 1962, embora a assim ementado:
decisão recorrida, no seu final,
afirme que «não houve propria- «Recurso de Revista — Conhe-
mente uma aquisição de filmes, cimento — Preponderância da
mas, sim, foi concedida à impe- Tese Recorrida.
trante a possibilidade de explorá-
la por aquele prazo» (fls. 69), de
certa forma contraditoriamente. Comprovada a divergência, a
revista merece ser conhecida. No
entanto, examinado o mérito, não
Não cabe, em conseqüência, a há como deixar de prevalecer,
aplicação do art. 294 do Decreto por mais acertada a tese recorri-
n? 58.400/66, que considera rendi- da:
mento tributável 30% das quan-
tias pagas ou remetidas, aten-
dendo assim, em Ultima análise, «Imposto de renda — Explora-
a deduções de despesas do produ- ção de películas cinematográfi-
tor, intermediário, ou distribui- cas estrangeiras no País, cujos
dor, no exterior. direitos de exibição foram adqui-
ridos por preço fixo.
É o que tem sido decidido por Art. 29, do Decreto-Lei n? 43/66 e
esta Turma, e assim igualmente art. 45, da Lei n? 4.131/62.
reconheceu a 3? Turma, no AMS
ri? 63.854 (Rel.: Min. Néri da Sil-
veira, DJ 22-12-70 pág. 6.401). Para os efeitos da tributação,
considera-se quantum tributável
o valor global dos pagamentos no
Assim sendo, dou provimento exterior e não apenas 30% desse
aos recursos, para cassar a segu- montante.
rança».
Inaplicabilidade do art. 294, do
O Sr. Ministro Godoy Ilha, na Regulamento do Imposto de Ren-
oportunidade do julgamento do da.
AMS n? 65.286-SP, com invocação a
voto anterior, no AMS n? 63.222- Segurança cassada».

R.T.J. — 108 595

Ficaram, então, vencidos os Srs. Pelo exposto, conheço da revista,


Ministros Godoy Ilha, relator, Es- mas a indefiro».
dras Gueiros Decio Miranda, e A decisão, no Eg. Tribunal Fede-
Jarbas Nobre, tendo prevalecido o ral de Recursos foi tomada por una-
voto do Sr. Ministro Revisor, nimidade, embora com ressalva do
Amarílio Benjamin, o qual foi voto do ilustre Ministro Jarbas No-
acompanhado pelos Srs. Ministros bre.
Moacir Catunda, Henoch Reis, Né-
ri da Silveira e Jorge Lafayette. O A titulo de esclarecimento, obser-
julgamento foi presidido pelo Sr. vo que no RE n? 92.952, a C. 1! Tur-
Ministro Márcio Ribeiro. ma deste Tribunal julgou questão re-
ferente à alíquota do imposto de ren-
O meu ponto-de-vista se harmo- da sobre aquisição, no estrangeiro,
niza com o adotado pela C. 1? Tur- dos direitos de exibição de filmes, e
ma e cujo acórdão se procura re- a solução foi favorável ao contribui-
formar. te, mas ali se observa que, diferente-
mente da hipótese em exame, se tra-
tava de aquisição de direitos efetua-
No caso, como ficou suficiente- da não sob a forma de pagamento a
mente esclarecido no voto do Sr. preço fixo, mas sim sob a forma de
Ministro Jorge Lafayette, a empre- lucro obtido em tal exibição, e mos-
sa adquiriu os direitos de exibição trei exatamente que no caso de ser o
de filmes a preço fixo. pagamento desta última forma, a
tributação seria diversa.
Na verdade, duas são hipóteses a Pelo exposto, conheço do recurso e
considerar: na primeira — que é a lhe dou provimento, para cassar a
de que se trata -L a empresa ad- segurança, condenando o impetrante
quire os direitos de exibição do fil- nas custas.
me a preço fixo. Na segunda, a ex- E o meu voto.
ploração da película é feita por
conta dos produtores, distribuido- EXTRATO DA ATA
res ou intermediários, que obtêm o
ganho sob a forma de participação RE 75 152-SP — Rel.: Min. Aldir
nas receitas brutas auferidas. Passarinho. Recte.: União Federal.
Recda.: Produtora, Importadora,
Para aquela primeira hipótese, o Distribuidora Famafilmes Ltda.
imposto de renda deve ser calcula- (Advs.: Heloisa Mendonça e outros).
do pelo valor global dos pagamen- Decisão: Conhecido e provido nos
tos no exterior, na conformidade termos do voto do Ministro Relator.
do disposto no art. 29 do Decreto- Unânime.
Lei n? 43/66, c/c o art. 45 da Lei n?
4.131/62. Presidência do Senhor Ministro
Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
Para a segunda, é que o percen- Senhores Ministros Decio Miranda e
tual de 40% incide sobre os 30% do Aldir Passarinho. Ausentes, justifi-
art. 294 do Regulamento do Impos- cadamente, os Senhores Ministros
to de Renda, combinado com o seu Moreira Alves e Francisco Rezek.
art. 205, sendo presumido que ape- Subprocurador-Geral da República,
nas de 30% seria o lucro tributável Dr. Mauro Leite Soares.
e participam os empresários es- Brasília, 26 de agosto de 1983 —
trangeiros da receita produzida pe- Hélio Francisco Marques Secretá-
los filmes, no nosso Pais. rio.
596 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 80.834 — RJ


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: Estado do Rio de Janeiro — Recorrido: Persiana Decorama
Ltda.
Executivo fiscal (anterior ao vigente CPC). Embargos de tercei-
ros. Penhora.
Não é de prevalecer penhora sob imóvel de terceiro, se resulta
dos autos que este se tornara promitente comprador, por escritura
pública, e esta foi devidamente registrada, no Registro Geral de Imó-
veis, bem antes da primeira autuação fiscal, e por ocasião da escritu-
ra definitiva as certidões negativas obrigatórias foram apresentadas.
A aquisição ainda se deu antes da entrada em vigor do Código Tribu-
tário Nacional, sendo ainda certo que sequer foram prequestionados
no aresto impugnado disposições do CTN., agora invocadas no ex-
traordinário.
E posta a questão à luz do art. 1.137 e seu parágrafo único do Có-
digo Civil, único presquestionado, a par, como já ficou dito, de terem
as certidões negativas sido apresentadas, não é possível anular-se es-
critura de compra e venda, salvo em casos verdadeiramente excep-
cionais, em decisão em embargos de terceiros, cabendo a anulação,
se for o caso, através de ação paullana.
ACORDÃO Em contestação, alegou a Fazenda
do Estado que ocorrera fraude a si-
Vistos, relatados e discutidos estes mulação entre a executada e a em-
autos, acordam os Ministros do Su- bargante, devendo, por isso, ser de-
premo Tribunal Federal, por sua Se- clarada nula a escritura definitiva
gunda Turma, na conformidade da de compra e venda do imóvel em
ata do julgamento e das notas taqui- questão, lavrada em 6-9-68, sem obe-
gráficas, por unanimidade de votos, decer ao disposto no art. 1.137 do Có-
não conhecer do recurso. digo Civil, já que as dívidas fiscais
Brasília, 24 de junho de 1983 — estavam
(fls.
anteriormente inscritas
20/22).
Djaci Falcão, Presidente — Aldir
Passarinho, Relator. As instâncias ordinárias julgaram
procedentes os embargos, determi-
RELATÓRIO nando o levantamento da penhora,
estando assim enunciada a ementa
do v. acórdão recorrido:
O Sr. Ministro Aldir Passarinho
(Relator): Persiana Decorama Ltda. «Embargos de terceiro. Sendo a
ofereceu embargos de terceiro à penhora posterior até a transcrição
ação executiva fiscal movida pela da escritura definitiva do imóvel,
Fazenda do então Estado da Guana- procedentes são os embargos, co-
bara, hoje Rio de Janeiro, contra Pi- mo decidiu a sentença. Não aplica-
nheiro Braga, Refrigeração e Impor- ção na hipótese do art. 1.137 do Có-
tação Ltda., insurgindo-se contra a digo Civil se os executivos fiscais
penhora recaída indevidamente em não dizem respeito a impostos de-
imóvel de sua propriedade. vidos pelo imóvel, tanto mais que
R.T.J. — 108 597

as certidões negativas foram apre- Não se trata de atribuição


sentadas, como declara expressa- mas de exclusão da responsabilida-
mente a escritura definitiva». de tributária. A responsabilidade
Irresignado, manifestou o Estado pessoal do adquirente pelo crédito
da Guanabara recurso extraordiná- tributário relativo ao bem adquiri-
rio, fundado na alínea a do permissi- do é prevista no art. 131, I, do
vo constitucional, sustentando nega- CTN. Dessa forma, se não ocorre
tiva de vigência à norma insculpida exclusão de responsabilidade (art.
no art. 185, c/c o art. 201, ambos do 1.137 do Código Civil), nem por isso
Código Tributário Nacional, e ainda se deve concluir que o adquirente é
ao previsto no art. 1.137 e seu pará- responsável pelo tributo.
grafo único, do Código Civil (fls. O crédito exigido pela Fazen-
82/84). da estadual é de ICM, não de tribu-
O recurso foi indeferido pelo des- to relacionado com o imóvel. Além
pacho presidencial (fls. 90), subindo, disso, como concluiu a decisão re-
todavia, a esta Corte, em virtude do corrida, as certidões negativas fo-
provimento do Ag. n? 60.281 (autos ram apresentadas, como indica a
em apenso) pelo eminente Ministro escritura
Antonio Neder. Por outro lado, também não
Nesta instância, a douta Pro- se configurou a presunção de alie-
curadoria-Geral da República, em nação fraudulenta de bens, de que
parecer da lavra do Dr. Moacir An- trata o art. 185 do CTN. O débito
tonio Machado da Silva, assim se fiscal não estava em fase de execu-
pronunciou pelo não conhecimento ção, tendo sido a penhora posterior
do recurso, nestes termos: à transcrição definitiva de venda
d. O v. acórdão de fls. 79/80, do imóvel.
confirmando decisão que acolhera A inscrição da divida ativa,
embargos de terceiro em executivo requisito de regularidade formal
fiscal, concluiu que não tinha apli- do título executivo, é mera exigên-
cação o art. 1.137 do Código Civil, cia de registro para efeitos es-
porque não se tratava de tributo tatísticos, que, por sua natureza,
devido pelo imóvel, não se verifi- nenhuma interferência poderia ter,
cando fraude na alienação, visto evidentemente, no poder de dispo-
que a penhora foi posterior à trans- sição de bens do sujeito passivo da
crição da escritura definitiva do obrigação tributária. Só a cobran-
imóvel. ça judicial tem essa força, como
Recorre o Estado da Guana- está expresso no art. 185 do CTN.
bara, pela letra a, do preceito 8. Pelo não conhecimento». (fls.
constitucional, sustentando viola- 110/111).
ção dos arts. 185 e 201 do CTN e E o relatório
1.137 e seu parágrafo único do Có-
digo Civil. VOTO
O art. 1.137 do Código Civil
exige que, em toda escritura de O Sr. Ministro Aldir Passarinho
transferência de imóveis, seja feita (Relator): No seu recurso nas vias
a transcrição das certidões de qui- ordinárias, o antigo Estado da Gua-
tação de tributos, o que exonera o nabara, hoje Estado do Rio de Janei-
imóvel, isentando o adquirente de ro, fundamentou-se unicamente no
toda responsabilidade. A disposi- disposto no art. 1.137 do Código Civil,
ção só se aplica aos tributos relati- para procurar a prevalência da pe-
vos ao bem adquirido. nhora, embora o imóvel tivesse sido
598 R.T.J. — 108

alienado anteriormente, adiantando De qualquer sorte é de ver-se que


que as peças do processo o levavam a promessa de compra e venda do
à certeza de que a venda fora feita imóvel penhorado, sendo a embar-
em fraude ao credor. A compradora gante a promitente compradora, é
não havia exigido, na forma daquele de 10 de agosto de 1966 e foi registra-
dispositivo da lei civil a apresenta- da no Registro de Imóveis em 13 de
ção das quitações fiscais, pois se o dezembro de 1966, antes, portanto,
tivesse feito teria encontrado emba- da entrada em vigor do Código Tri-
raço no 10? Oficio de Distribuição, butário Nacional que, sendo de 25 de
porquanto, já em 9-8-67 se encontra- outubro de 1966, somente entrou em
va distribuído ao Juízo da 4? Vara da vigor em 1? de janeiro de 1967, con-
Fazenda um executivo fiscal do Es- forme dispôs o seu art. 126. E é ain-
tado. da de ver que a primeira autuação
O v. acórdão impugnado negou fiscal contra a firma devedora ocor-
provimento aos recursos «ex officio» reu em 23-9-66, em data posterior,
(eis que a sentença, como aliás assim, àquele contrato de promessa
igualmente o acórdão são anteriores de compra e venda, lavrado em es-
ao vigente Código de Processo Ci- critura pública.
vil), pelas razões sintetizadas na res- Resta, assim, examinar-se se seria
pectiva ementa: possível a penhora ante a regra do
«Embargos de terceiro. Sendo a art. 1.137 e seu parágrafo único do
penhora posterior até a transcrição Código Civil, tão-somente.
da escritura definitiva do imóvel, No caso, não creio que pague a pe-
procedentes são os embargos, co- na adentrarmo-nos no exame mais
mo decidiu a sentença. Não aplica- tormentoso, e que já foi objeto de vá-
ção na hipótese do art. 1.137 do Có- rias decisões desta Corte, sobre ser
digo Civil se os executivos fiscais possível dispensar-se a ação paulia-
não dizem respeito a impostos de- na, exatamente ante a invocação vá-
vidos pelo imóvel, tanto mais que lida tão-somente do art. 1.137 do Có-
as certidões negativas foram apre- digo Civil, único dispositivo legal, co-
sentadas, como declara expressa- mo se viu, invocado na apelação e
mente a escritura definitiva». (fls. ventilado no acórdão.
79). Diz o parágrafo único do art. 1.137
Somente veio a ser discutido no do Código Civil, in verbis:
aresto ( fls. 79) o aludido art. 1.137 do
Código Civil, não tendo sido preques- «A certidão negativa exonera o
tionados e, por isso mesmo, não fo- imóvel e isenta o adquirente de to-
ram ventilados no v. acórdão, quais- da a responsabilidade».
quer dispositivos do Código Tributá- Ora, na escritura definitiva de
rio Nacional, o que é anotado por- compra e venda se encontra expres-
quanto, no extraordinário, que ape- samente declarado «que foram apre-
nas se fundamenta na letra a, do sentadas as certidões negativas dos
permissivo constitucional, é dado co- 9?, 10? e 11? Ofícios de Distribuidores
mo violado, a par do mencionado da Justiça, provando não haver dis-
art. 1.137 e seu parágrafo único do tribuição que impeça a lavratura
Código Civil, também o art. 185 com- deste ato».
binado com o art. 201 do mesmo di-
ploma legal. A discussão, deste mo- Este Tribunal em reiterados acór-
do, em torno dos preceitos do CTN, dãos tem somente admitido a possi-
cai no vazio, em face do entendimen- bilidade de anulação da escritura de
to jurisprudencial fixado no enuncia- compra e venda devidamente regis-
do nas Súmulas 282 e 356-STF. trada à. base de alegação de fraude

R.T.J. — 108 599

através de ação pauliana, e não em sa de venda do imóvel, por escritura


embargos de terceiros, como, por pública e se na escritura definitiva
exemplo, se vê dos acórdãos nos as certidões negativas foram apre-
ERE n? 86.173-PA (Plenário — In sentadas, de outra parte não se preo-
RTJ 99/1191) e no 86.746 (1? Turma cupou sequer o Estado em trazer
— in RTJ 87/972), embora nos ERE certidão de que havia anterior distri-
n? 90.934 — RJ tenha sido entendido, buição de execução fiscal.
excepcionalmente, ser desnecessária Pelo exposto, não conheço do re-
a ação pauliana, mas pelas especiais curso.
razões assinaladas no acórdão e re-
fletidas na ementa do respectivo E o meu voto.
acórdão, a saber:
EXTRATO DA ATA
«Civil. Fraude contra credores.
Possibilidade de seu reconheci- RE 80.834-RJ — Rel.: Min. Aldir
mento em embargos de terceiro. Passarinho. Recte.: Estado do Rio
Notoriedade da insolvência do de- de Janeiro (Adv.:
vedor, capaz de dispensar ação Figueira). Recdo.: Danton Andrade
Persiana Decora-
pauliana. Protestos cambiais em ma Ltda. (Adv.: José Maria Basílio
grande número, que o adquirente da Motta).
não podia ignorar. Embargos co-
nhecidos por unanimidade e rejei- Decisão: Não conhecido. Unânime.
tados por voto de desempate». Presidência do Senhor Ministro
Na hipótese em exame, e encaran- Djacl Falcão. Presentes á Sessão os
do a matéria apenas á luz do pará- Senhores Ministros Moreira Alves,
grafo único do art. 1.137 do Código Dedo Miranda, Aldir Passarinho e
Civil, não vejo como possa prosperar Francisco Rezek. Subprocurador-
a irresignação derradeira, anulando- Geral da República, Dr Mauro Leite
se a escritura de venda do imóvel, Soares.
ante as circunstâncias apontadas, Brasília, 24 de junho de 1983 —
pois se é certo que antes da primeira Hélio Francisco Marques, Secretá-
autuação fiscal já se dera a promes- rio.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 81.493 — BA
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho
Recorrente: Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis — Re-
corridos: Cosme de Paulo.
Competência trabalhista. Empresa sob intervenção da União: re-
clamação de empregado da empresa. Art. 110 da Constituição Fede-
ral.
Em face do disposto no art. 110 da Constituição Federal é de com-
petência da Justiça Federal o processamento e julgamento dos litígios
trabalhistas em que forem partes a União, autarquias ou empresas
públicas federais, pelo que não se incluem em tal competência as de-
mandas de empregados contra empresas, embora sob intervenção fe-
deral.
Incabível recurso interposto pelo DNPVN contra acórdão em
questão em que é parte a Cia. Docas da Bahia, sob intervenção da
União.
600 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO A Companhia Docas da Ba-


hia encontra-se, ainda, sob inter-
Vistos, relatados e discutidos estes venção federal e não se sabe ou
autos, acordam os Ministros do Su- não se prevê, a curto prazo, o tér-
premo Tribunal Federal, por sua Se- mino de tal controle da empresa
gunda Turma, na conformidade da pelo Governo Federal, do mesmo
ata de julgamentos e das notas ta- modo que não se pode garantir o
quigráficas, por unanimidade de vo- seu retorno à concessionária, após
tos, não conhecer do recurso. o cumprimento das obrigações pró-
Brasília, 5 de agosto de 1983 — prias à intervenção.
Djaci Falcão, Presidente — Aldir Assim sendo, o interesse é
Passarinho, Relator. flagrante, não só por parte da au-
tarquia recorrente, como também
por parte da própria União Fede-
RELATÓRIO ral, que, afinal, assumiu as obriga-
ções de gerência e administração
O Sr. Ministro Aldir Passarinho da empresa sendo responsável pe-
(Relator): Como relatório adoto o los pagamentos dos empregados,
parecer da douta Procuradoria- até o término da intervenção.
Geral da República, verbis: Como alegou a recorrente às
«1 Egrégio Tribunal Superior fls. 60/1, o seu interesse é evidente,
do Trabalho, fls. 254, dando provi- porque a intervenção se fez nos
mento ao recurso de revista, decla- serviços concedidos e nas instala-
rou a competência da Justiça do ções do porto, cuja receita é depo-
Trabalho, para o exame de recla- sitada à disposição do Governo Fe-
mação proposta contra a Compa- deral que não perdeu o domínio pú-
nhia Docas da Bahia, porque em- blico das áreas e serviços concedi-
bora esta esteja sob intervenção, dos, ao lado de ter sido praticado
do Governo Federal, os Atos Com- pelo Sr. Interventor o ato de dis-
plementares n?s 98 e 99 não se apli- pensa do empregado reclamante.
cam ao caso, por não se tratar de Portanto, parece-nos correto
empresa com bens confiscados e o pretendido interesse da autar-
inexistir a designação do Procura- quia recorrente, porque enquanto
dor da República prevista aos Atos não solucionado em definitivo o
referidos. destino dos serviços e instalações
Dai o recurso extraordinário, do Porto de Salvador, é a Interven-
alegando-se contrariedade do art. toria Federal a responsável pela
125, I, da Constituição Federal. dispensa de pessoal e sua correlata
Somos pelo conhecimento do atuação em juízo, que é o da Justi-
recurso. ça Federal, como determina o art.
125, I, da Constituição Federal.
4. Embora a decisão a quo seja
incensurável quanto ao ponto da 9. Assim, enquanto não tomada
não aplicação ou incidência dos a decisão definitiva, encampação
Atos Complementares de n?s 98 e 99, da Companhia, rescisão do contra-
por não se tratar, no caso, de em- to de concessão ou simplesmente
presa que tivesse seus bens confis- revogação, a Justiça Federal deve-
cados, o certo é que a autarquia fe- rá ser a competente para exami-
deral recorrente demonstrou seu nar as causas entre os empregados
interesse na causa, o que possibili- e a Interventoria da Companhia
ta a aplicação do art. 125, I, da Docas da Bahia, como no caso pre-
Constituição Federal. sente.

R.T.J. — 108 601

10. Somos pelo provimento do cidido por esta Corte no RE 93.8/2,


recurso extraordinário» (fls. com invocação do precedente no CJ
295/297). 6.157-SP, Relator o Ministro Soares
o relatório. Muiloz (DJ de 6-3-81, pág. 1448),
acórdão assim ementado:
VOTO «Competência. Reclamação tra-
balhista contra Empresa sob inter-
Sr. Ministro Aldir Passarinho venção federal.
(Relator): Tem sido assente nesta
Corte o entendimento de que as re- — Em se tratando de reclama-
clamatórias movidas por emprega- ção trabalhista ajuizada contra
dos de empresas sob intervenção da empresa sob o regime de interven-
União devem ser julgadas perante a ção federal, a simples assistência
Justiça do Trabalho. ad adjuvandum da União não des-
loca a competência da Justiça do
Tendo havido vários julgados nes- Trabalho para a Justiça Federal
se sentido referentemente a empre- Precedente: CJ 6.157-SP. Recurso
gados de seguradoras em regime de extraordinário conhecido e despro-
liquidação extrajudicial com liqui- vido».
dante nomeado pelo antigo Departa- Pelo exposto, não vejo ferimento a
mente Nacional de Seguros Privados preceito constitucional na decisão do
e Capitalização e, depois, pela Supe- Colendo Tribunal Superior do Traba-
rintendência Nacional de Seguros lho, ao entender que a competência,
Privados. no caso, era da Justiça do Trabalho.
que, de fato, segundo a regra do Não conheço do recurso.
art. 110 da Constituição cabe à Justi- E o meu voto.
ça Federal o processo e julgamento
dos litígios trabalhistas em que fo-
rem partes a União, autarquias e EXTRATO DA ATA
empresas públicas federais. Ora, no
caso, nenhuma dessas entidades é
parte no processo, pelo que o só fato
de ter havido a intervenção na Cia. RE 81.493-BA — Rel.: Min. Aldir
Docas da Bahia não desloca a com- Passarinho. Recte.: Departamento
petência do feito para a Justiça Fe- Nacional de Portos e Vias Navegá-
deral. veis (Adv.: Ismar Alves Rodrigues).
Recdo.: Cosme de Paulo (Adv.: Ru-
De qualquer sorte, não caberia bem José da Silva).
conhecer-se do recurso. Encon- Decisão: Não conhecido. Unânime.
trando-se a Reclamada sob interven-
ção federal, a União então é que te- Presidência do Senhor Ministro
ria interesse em recorrer e não o Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
DNPVN, embora esse possa, através Senhores Ministros Moreira Alves,
do interventor, exercer alguma espé- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
cie de interferência na administra- Francisco Rezek. Subprocurador-
ção. Geral da República, Dr. Mauro Leite
Soares.
As empresas sob intervenção não
estão, só por esse motivo, sujeitas à Brasília, 5 de agosto de 1983 —
competência da Justiça Federal. Hélio Francisco Marques, Secretá-
Nesse sentido, e como exemplo, o de- rio.
602 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 82.105 — PR


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho
Recorrente: Indústrias Theophilo Cunha S.A. — Recorridos: Evaldo Es-
chembach e sua mulher
Processual Civil. Pauta de Julgamento.
Não há necessidade que a pauta de julgamento indique o dia do
calendário em que o processo será julgado, tendo-se como suficiente
para dar-se como satisfeitas as exigências dos ff 3? e 4? do art. 874,
do anterior Código de Processo Civil, e que correspondem ao caput do
art. 552, e seu f 1? do Código atual que a pauta, para intimação, seja
publicada com as indicações e identificação necessária, dai se tendo
que o processo poderá ser julgado na primeira sessão a partir do
transcurso de quarenta e oito horas da publicação.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACORDA() Inconformada, recorreu extraordi-
nariamente a Indústria Theóphilo
Vistos, relatados e discutidos estes Cunha S.A., com apoio na letra a da
autos, acordam os Ministros do Su- permissão constitucional, alegando
premo Tribunal Federal, por sua Se- que o v. acórdão impugnado padece
gunda Turma, na conformidade da de vício irremediável de nulidade,
ata do julgamento e das notas taqui- por não ter sido publicada, no Diário
gráficas, por unanimidade de votos, da Justiça, na forma estabelecida
não conhecer do recurso. pelo parágrafo 3? do art. 874 do Códi-
Brasília, 19 de agosto de 1983 — go de Processo Civil de 1939, a pauta
Djaci Falcão, Presidente — Aldir mencionando o dia em que o feito se-
Passarinho, Relator. ria levado a julgamento, pois o aviso
a que se refere a certidão de fls. 278
RELATORIO menciona apenas, contrariamente ao
que determina a lei, que o feito esta-
Sr. Ministro Aldir Passarinho (Re- ria com dia, sem especificar, contu-
lator): Trata-se de ação possessória do, a data em que estaria em pauta
ajuizada por Evaldo Eschembach e de julgamento.
sua mulher Luíza Eschembach, para Inadmitido o recurso, subiram os
a manutenção da posse que tinham autos a esta Superior Instância, em
de uma área de terras e seus acessó- razão de ter sido provido o agravo
rios, localizada no lugar denominado interposto pela recorrente.
Lageado São Feliz pois estavam so- E o relatório.
frendo turbação por parte de Arnal-
do Ventz e da firma Indústria Theó-
philo Cunha S.A. VOTO
A ação foi julgada procedente, ten-
do sido a sentença mantida pelo Tri- O Sr. Ministro Aldir Passarinho
bunal de Justiça local, em acórdão (Relator): Não tem razão o recor-
sintetizado nesta ementa: rente. Com inteira razão o ilustre
«Na ação possessória, a exceção Presidente do C. Tribunal de Justiça
de domínio não pode fundar-se em do Paraná ao impedir que prospe-
titulo não hábil à transferência da rasse o extraordinário, sob este fun-
propriedade» (fls. 279). damento basilar:

R.T.J. — 108 603

«Com efeito, quando muito teria lendário em que o processo será jul-
ocorrido mera irregularidade que gado. E suficiente que haja a publi-
na forma prescrita pelo art. 273, I cação da pauta, tal como ocorreu,
do anterior Código de Processo Ci- declarando «Autos com dia para jul-
vil e art. 244 do atual, não importa gamento», pois significa isso, obvia-
em nulidade, pois era de pleno co- mente, que o processo já poderá ser
nhecimento do ilustre patrono da chamado na sessão, após o prazo de
recorrente, segundo norma que era 48 horas.
adotada neste egrégio Tribunal de
Justiça, que, publicado no órgão De fato, o pretexto é de absoluta
oficial o aviso de «autos com dia esterilidade e, por isso mesmo, não
para julgamento», estes seriam co- poderá vingar.
locados em pauta e levados a jul-
gamento na primeira sessão da E mesmo de observar que a pauta
respectiva Câmara Julgadora, ob- desta Corte é também publicada
servando o previsto no § 4? do art. sem que haja menção expressa ao
874, acima citado, fato que, na rea- dia do calendário em que vai ser
lidade ocorreu, segundo certidão chamado o feito, sendo feita apenas
trazida aos autos pelos recorridos a indicação de que os feitos serão
com as razões de impugnação.» chamados para julgamento «a partir
da próxima sessão», o que tem sido
Apenas cabe fazer uma ressalva sempre entendido, por ser o óbvio,
no despacho aludido quando mencio- que essa mencionada « próxima ses-
na que, quando muito, teria ocorrido são» será aquela após o decurso do
mera irregularidade que, entretanto, prazo legal de 48 horas.
não implicava nulidade. E que não
houve irregularidade nenhuma. Na Pelo exposto, não conheço do re-
conformidade do disposto no § 3? do curso.
artito 874 do anterior Código de Pro- E o meu voto.
cesso Civil, à época vigente, os au-
tos com o recurso, "já ultimado seu
processamento, e prontos para julga- EXTRATO DA ATA
mento, «serão apresentados ao Pre-
sidente, que designará dia para jul-
gamento, mandando publicar anún- RE 82.105-PR — Rel.: Min. Aldir
cio no órgão oficial». Passarinho. Recte.: Indústria Theó-
philo Cunha S/A. (Adv.: George Bue-
E diz o § 4? do mesmo artigo 874, no G omm ). Recdos.: Evaldo Es-
in verbis: chembach e sua mulher (Adv.: José
Elias Küster).
Entre a data da publicação do
edital no órgão oficial e a sessão Decisão: Não conhecido. Unânime.
de julgamento, mediará, pelo me- Presidência do Senhor Ministro
nos, o espaço de quarenta e oito Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
horas.» Senhores Ministros Moreira Alves,
Dedo Miranda, Aldir Passarinho e
As regras acima são exatamente Francisco Rezek. Subprocurador-
as mesmas existentes no atual Códi- Geral da República, Dr. Mauro Leite
go de Processo Civil, conforme o art. Soares.
552, caput, e seu § 1?.
Brasília, 19 de agosto de 1983 —
Na verdade, não há obrigação de Hélio Francisco Marques, Secretá-
na pauta haver menção ao dia do ca- rio.
604 R.T.J. — 108

EMBARGOS NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 84.121 (AgRg) — DF


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Agravante: Juber Vieira Rezende — Agravado: Distrito Federal.
Embargos de divergência. Não são cabíveis de decisão de Turma,
em agravo regimental. Súmula 599. O agravo regimental é recurso
distinto do agravo de instrumento.
RISTF, art. 330. O incidente de Uniformização de Jurisprudência,
ut art. 476, do CPC, não é procedimento disciplinado no Regimento In-
terno do STF, não cabendo invocá-lo nesta Corte. Agravo regimental
desprovido.
ACÓRDÃO «não terá direito à correção monetá-
ria do ínfimo valor da indenização
Vistos, relatados e discutidos estes que lhe foi atribuído», em demanda
autos, acordam os Ministros do Su- ajuizada em 1968 e cujo precatório
premo Tribunal Federal em sessão só será pago em 1984 ou 1985. Con-
Plenária, na conformidade da ata de tradita o fundamento do despacho
julgamentos e notas taquigráficas, agravado, ao inadmitir os embargos,
unanimidade, negar provimento ao invocando a Súmula 599. Sustenta,
agravo regimental. no caso, a necessidade de se prece-
Brasília, 2 de setembro de 1982 — der à uniformização da jurisprudên-
Xavier de Albuquerque, Presidente cia, eis que o Tribunal tem concedi-
— Néri da Silveira, Relator. do a correção monetária «a qualquer
tempo, inclusive nos embargos de di-
RELATORIO vergência.» Aduz que não há falar
em coisa julgada a impedir a con-
O Sr. Ministro Néri da Silveira cessão da correção monetária, pois
(Relator): Do despacho (fls. 1.002), reconhecido aacessório,
esta é «mero
qualquer
que pode ser
tempo ou em
que inadmitiu embargos de diver-
gência, interpostos do acórdão em qualquer estado da causa, máxime
agravo regimental no Agravo de Ins- quandora este
a nova Lei (6.899/81) assegu-
direito em todos os casos
trumento n? 84.121-1, opõe Juber pendentes de julgamento, sem distin-
Vieira Rezende agravo regimental ção de exclusão.»
(fls. 1.004/1.019), vindicando reforma
do despacho ou de ofício suscite o re- E o relatório.
lator incidente de uniformização de
jurisprudência, ut art. 476, I e II, do VOTO
CPC.
O Sr. Ministro Néri da Silveira
Alega o agravante que a tese su- (Relator):
fragada no acórdão da Segunda Tur- gos, fi-lo noAo inadmitir os embar-
sucinto despacho, de fls.
ma, no julgamento do Agravo Regi- 1.002, verbis:
mental, consoante a qual, transitado
em julgado o acórdão que expressa- «1. Trata-se de embargos de di-
mente negou a correção monetária, vergência interpostos de acórdão
não se pode admiti-la em execução da Segunda Turma, no julgamento
(fls. 955), contraria, integralmente a do Agravo Regimental no Agravo
a jurisprudência deste Tribunal. de Instrumento n? 84.121-1-DF ( fls.
Aduz que, assim, só o agravante 955).
R.T.J. — 108 605

2. De acordo com a Súmula n? Ademais disso, não teria cabimento,


599, são incabíveis os embargos de mesmo a teor do art. 476, do diploma
divergência, razão por que não os processual civil, a pedido do recor-
admito.» rente, em agravo regimental inter-
O disposto no art. 330 do RI, segun- posto de despacho que inadmitiu em-
do o qual cabem embargos de diver- bargos de divergência, incabíveis na
gência à decisão de Turma que, em espécie, em face do Regimento In-
recurso extraordinário ou em agravo terno.
de instrumento, divergir de julgado Do exposto, nego provimento ao
de outra Turma ou do Plenário, na agravo regimental.
interpretação do direito federal, não
favorece ao agravante, certo que o EXTRATO DA ATA
agravo regimental é recurso distinto
do agravo de instrumento, inobstan- Ministro Néri da84.121-DF
EAG (AgRg.) — Rel.:
Silveira. Embte.:
te possa ser interposto de decisão Juber Vieira Rezende (Adv.: Jeffer-
nos autos de agravo de instrumento son de Aguiar). Embdo.: Distrito Fe-
ou de qualquer outro recurso, a teor deral (Adv.: José de Campos Ama-
do art. 317 do diploma regimental. ral).
O enunciado da Súmula 599 preva-
lece, não se tendo alterado ou cance- Decisão: Negou-se provimento ao
lado após o advento do atual Regi- agravo regimental, unanimemente.
mento Interno, em vigor desde 1-12- Presidência do Senhor Ministro
1980. Nesse sentido tem o Plenário Xavier de Albuquerque. Presentes à
decidido, como, dentre outros, no Sessão os Senhores Ministros Djaci
Agravo Regimental nos Embargos Falcão, Cordeiro Guerra, Soares Mu-
de Divergência interpostos de acór- foz, Dedo Miranda, Rafael Mayer,
dão em agravo regimental no Agra- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
vo de Instrumento n? 86.828-3-RJ. Oscar Corrêa. Ausente, justificada-
Quanto ao incidente de uniformiza- mente, o Sr. MM. Moreira Alves.
ção de jurisprudência, ut art. 476 do Procurador-Geral da República,
CPC, não é procedimento disciplina- Professor Inocência Mártires Coelho.
do no Regimento Interno do STF, Brasília, 2 de setembro de 1982 —
não cabendo invocá-lo nesta Corte. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 88.707 — SP
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: União Federal — Recorrida: Sylvia Pereira Alves.
Pensão. Aumento em virtude de reclassificação. Leis n?s
e 5.291/1967. Herdeira de Oficial Administrativo
3.780/1960, 5.057/1966
da Alfãndega de Santos, falecido anteriormente à data da reclassifi-
cação prevista na Lel n? 3.780/1960. Inexistência de direito ao reajus-
tamento da pensão segundo os vencimentos de Agente Fiscal Adua-
neiro. Somente fazem jus ao reajuste da pensão, calculado com base
nos vencimentos de Agente Fiscal Aduaneiro, os herdeiros de funcio-
nários que chegaram a se reclassificar como Agente Fiscal Aduanei-
ro, ou que, sendo aposentados, perceberam os benefícios da Lei n?
5.291/1967. Esta Lei não é invocável, em favor de pensionista, herdei-
ra de Oficial Administrativo, aposentado, já falecido quando da sua
edição. Recurso conhecido e provido, para cassar a segurança.
606 R.T.J. — 108

ACÓRDAo vil,calculada de conformidade


com o disposto no art. 4? da Lei
Vistos, relatados e discutidos estes n? 3.373. de 12 de março de 1958,
autos, acordam os Ministros da Pri- Será Reajustada, a partir de 1?
meira Turma do Supremo Tribunal de janeiro de 1966, de acordo com
Federal, na conformidade da ata de os Níveis dos Atuais Vencimentos
julgamentos e notas taquigráficas, à dos Funcionários Civis da
unanimidade, conhecer do recurso e União.»
lhe dar provimento. § 1? A pensão reajustada na
Brasília, 6 de outubro de 1981 — forma deste artigo, será Sempre
Cunha Peixoto, Presidente — Néri atualizada de acordo com os va-
da Silveira, Relator. lores dos vencimentos que forem
fixados para aqueles funcioná-
RELATÓRIO rios»,
O Sr. Ministro Néri da Silveira verificando-se ainda que a Lei n?
(Relator): Trata-se de mandado de 5.291, de 3-3-967, determinara a
segurança requerido por pensionista aplicação também da melhoria aos
do Montepio Civil, na condição de antigos «oficiais administrativos»,
herdeira de oficial administrativo da «escriturários», «polícias fiscais» e
então Alfândega de Santos, contra «fiscais aduaneiros», aposentados
ato do Delegado Fiscal do Tesouro antes da Lei n? 3.780/60.
Nacional em São Paulo, que deixara Nada mais justo e legal, portan-
de atualizar, a partir de 1-11-69, o va- to, do que o reajustamento a ser
lor mensal de sua pensão, que esta- procedido pelo próprio Impetrado,
va orçado, na data da impetração, ao amparo da Lei n? 5.057, que
em Cr$ 91,00. Invocando julgados do mandou calcular as pensões pagas
Tribunal Federal de Recursos, apli- pelo Tesouro Nacional «a partir de
cáveis, a seu ver, ao caso dos autos, 1? de janeiro de 1966», observando-
a impetrante assim expôs a questão: se sempre a atualização de acordo
«A Impetrante na qualidade de com os valores dos vencimentos
herdeira do oficial administrativo que forem fixados para aqueles
da então Alfândega de Santos, Joa- funcionários, isto é, Agentes Fis-
quim Antonio Pereira Alves, faleci- cais do Imposto Aduaneiro.),
do em 18-4-946, integrara o quadro O Dr. Juiz Federal concedeu a se-
de pensionista do Montepio Civil do gurança e a antiga 2, Turma do Tri-
Ministério da Fazenda, percebendo bunal Federal de Recursos, contra o
valor correspondente aos venci- voto do relator, desproveu os recur-
mentos do respectivo cargo. sos, voluntário e oficial.
Posteriormente, de acordo com a No julgamento, prevaleceu o voto
Lei n? 3.780/60 o cargo a que per- do saudoso Ministro Amanho Benja-
tencera o «de cujus» teve a sua de- min, nestes termos:
nominação modificada para o de «Com a devida vênia do Sr. Mi-
Agente Fiscal do Imposto nistro Relator, o meu voto é no
Aduaneiro, com vencimentos majo- sentido de negar provimento, man-
rados pelo Decreto n? 57.877/66. tendo a concessão da segurança.
Logo depois estabelecia a Lei n? Reporto-me ao pronunciamento
5.057, de 29-6-966 que: Justificado que emiti no Agravo em
Mandado de Segurança n? 68.090 e
«Art. 1? A pensão paga pelo q ue recebeu a chancela deste
Tesouro Nacional a herdeiros de Tribunal no Recurso de Revista n?
contribuintes do Montepio Ci- 1.399. Não deixo, entretanto, de

R.T.J. — 108 607

abordar certos aspectos do proble- Devo dizer finalmente que, a


ma provocado pelo pronunciamen- propósito do tema, o Tribunal de
to do Sr. Ministro Relator. Acho Contas reformou opinião anterior e
que, no caso a Lei n? 5.057 é ex- mandou registrar todas as pensões
pressa no sentido de mandar atua- das beneficiárias do Montepio Ci-
lizar sempre as pensões, tendo por vil, com atualização, ressaltando
base os vencimentos dos funcioná- diretamente que a Lei n? 5.057 não
rios em atividade. Não impede es- estava revogada — Súmula 25.
sa compreensão a existência de Segue anexo o voto no AMS n?
leis de aumento, que tenham dis- 68.090, que foi mencionado.»
posto especialmente sobre o assun-
to. Quando as leis do aumento dis- Assim motivou o seu voto o ilustre
puserem a respeito, cumpra-se o Ministro Decio Miranda, que então
que a lei do aumento estabelecer. compunha aquela egrégia Corte:
Na hipótese, porém, cuida-se de «Sr. Presidente, a minha orienta-
vantagens que foram estabelecidas ção tem sido a de reconhecer o di-
para os Agentes dos Tributos Fede- reito aos beneficiários, quando se
rais. Ora, se essas vantagens fo- trata de pensão paga pelo Tesouro
ram mandadas aplicar, inclusive (Agravos em Mandado de Seguran-
aos funcionários aposentados, se a ça n?s 66.954 e 68.307 e outros).
lei, que dispôs especialmente a res- Tenho negado o direito — porque
peito das pensões, toma como base a legislação é diferente, ai ligada a
os vencimentos dos funcionários pensão à contribuição do servidor
em atividade, é evidente que a — quando se trata de pensão do
pensão deva ajustar-se ao venci- IPASE, verbi grana, AMS n?
mento que o funcionário falecido 67.615.
estaria percebendo, se vivo esti- E de acentuar que, no Tribunal
vesse. A lei, quando se refere aos Pleno, na sessão de 29-5-73, preva-
funcionários em atividade, como leceu, por maioria, solução favorá-
ponto de referencia, não exclui os vel às pensionistas do Tesouro, no
funcionários que faleceram. Por Recurso de Revista n? 1.399, rela-
outro lado, sendo intimas as pen- tor o Sr. Ministro Márcio Ribeiro,
sões, manda a compreensão da boa recurso esse oposto ao acórdão
justiça e o sentido humano das coi- proferido no AMS n? 68.090, de que
sas que se marche para a sua fora relator o Sr. Ministro Amari-
atualização. Não impede também lio Benjamin.
essa atualização o fato de não exis- No caso dos autos, tratando-se de
tir verba especifica, porque há pensãO paga pelo Tesouro, acom-
sempre verba geral no Orçamento, panho o douto voto do Sr. Ministro
para atender às eventualidades no Amarai() Itenj amln.»
correr do exercício. Existe tam- Para o acórdão foi escrita a se-
bém dentro do nosso Direito o guinte ementa:
principio geral de que a concessão
de pensões. quando for além da «Pensão. Reajuste por força de
contribuição paga, ou dos encargos lei. Deve ser sempre reajustada a
normais, corra por conta do pensão aos vencimentos dos funcio-
Tesouro. Não há, portanto, como nários em atividade e correspon-
alterar-se o que o Tribunal Pleno dente á situação do servidor faleci-
vem decidindo. O Sr. Ministro De- do, desde que lei expressa determi-
cio Miranda, inicialmente, votou na permanente atualização em tal
contra o reajuste de pensões. De- base.»
pois, S. Exa. reconsiderou-se e as- Interpôs recurso extraordinário a
sim vem votando. União, sustentando que o caso destes
606 R.T.J. — 108

autos foi resolvido corri. abstração sua vigência, estivesse o ocupante


das, ,normas inscritas" na Lei yi? do cargo a transformar-se, lotado
5.291/671., Invocou; ainda, a recorren- em repartição aduaneira. Lei pos-
te, o RE n? 713,204 e a Súmula 38. x' terior — a 5.291, de 1967 — esten-
Inadmitido, o recurso stririn pelo deu os benefícios dessa reclassifi-
provir/tente ao agraVe etn apenso; cação a todos os antigos Oficiais
• Administrativos que «lotados em
A rrOcoradoria-Qgral, 'da
"RePúbli-
repartições aduaneiras, foram apo-
ca é favoráVel ao conhecimento e sentados com mais de 30 (trinta)
provi/tient do recurao. •- anos de serviço, anteriormente à
E o relaMit. Lei n? 3.780, de 12 de julho de 1960»
(art. 2?, II, a). O falecimento do
VOTO servidor ocorreu, porém, em data
anterior (18-4-1946) à vigência des-
sas leis».
fY Si'. MinhItro,Seri, 4da ,Silveira
(Relatei"! NouRE ti? 42:5481SP (RTJ Sustenta o recurso da União que a
80y ,pág! 174)-, aicelelide 89 Turma, a pensão paga à impetrante, beneficiá-
1441 41975; préCisathente, no julga- ria de Joaquim Antonio Pereira Al-
mentd- da' mestria :sinete-ria, decidiu, ves, que faleceu na condição de apo-
em- Entesto assith , ementado, de que sentado em cargo de Oficial Admi-
Relatei/ ío eminente Ministro Thomp- nistrativo, do Ministério da Fazenda,
sun? Flores:!, . em 1946, e com as vantagens de tal
«)Periaão. ` Herdelida de Oficiais cargo, terá de ser calculada
de Atlininistrácâo 'e " Escriturários «tomando-se por base o vencimento
da Alfândega de Santos. desse cargo, devendo ser reajustada
' i andado deSegitrança visando o sempre que tal vencimento for majo-
Seu reajuste, segundo os vencimen- rado». E aduz: «E isto, precisamen-
de Agente Fiscal Aduaneiro. te, que determina a Lei n? 5.057/66,
invocada pela recorrida».
IÍ — A ele (reajustamento) não
têm direito, eis que ao entrar em
vigor a lei que admitiu a reclassif i- Observou, com inteira proprieda-
cação, em forma excepcional, já de, o parecer da ilustrada Procura-
havia ocorrido o óbito Aos servido- doria-Geral da República, em se re-
res em questão e já aposentados. ferindo aos precedentes desta Corte,
III --- , Exegese,: das Leis n?s acerca da espécie (fls. 109/110):
5.291/67, r 3.780/60, (,5,057/66 e das
correspondentes às pensões. «Premissas iguais, conclusões
IV — Recurso'' •extraordinário iguais. Naqueles precedentes como
provido para cassar a segurança» no caso deste recurso extraordiná-
rio, o ex-servidor não poderia mes-
No parecer, às fls. 108, bern situa- mo ser atingido por um direito que
da ficou a controvérsia, verbis: a Lei n? 5.291, de 1967, ao estender
«O tema destes autos é de rea- os benefícios da reclassificação
juste de pensão correspondente a (decorrente da Lei n? 3.780/60) e
cargo de Oficial de Adráinistração da atualização permanente das
que, por lei posterior ao funções (estabelecida na Lei n?
falecimento do Mc-senrld6r, veio a 5.057, de 1966), fê-lo apenas aos
ser reclaásificado corrid'ile "Agente aposentados e não aos pensibnistas
Fiscal do Imposto Aduaneiro. A destes. O ex-servidor faleceu em
condição — estabelecida na Lei n? 1946, muito antes da vigência dos
3.780, de 1960 — era que, á data de diplomas legais em que se arrimou

R.T.J. — 108 609

a decisão recorrida para reconhe- público falecido intitulam-se a perce-


cer direito, data venia, inexisten- ber pensão, não por via de jus
te». hereditatis, ou por efeito de estipula-
No RE n? 87.181/SP, precisamente, ção contratual. O direito à pensão,
acerca de reajustamento de pensão segundo o nosso sistema, é de natu-
de herdeiro de Oficiais Administrati- reza previdencial, de disciplina obje-
vos e Escriturários de Alfândega de tiva, de assento legal. Só fazem jus à
Santos, pretendido com base nos pensão calculada sobre a remunera-
vencimentos do cargo de Agente Fis- ção dos Agentes Fiscais do Imposto
cal Aduaneiro, esta Turma, relator o de Renda e Aduaneiro, bem como
ilustre Ministro Cunha Peixoto, deci- dos Fiéis do Tesouro e Exatores, os
diu, em aresto, com a seguinte herdeiros dos contribuintes que che-
ementa: garam, a perceber, ou a lhes ter, co-
mo devida, aquela remuneração.
«Pensão. Herdeiros de Oficiais de Não é invocável a Lei n? 5.291/1967,
Administração e Esériturários da em favor da pensionista, herdeira de
Alfândega de Santos, falecidos an- Comandante Aduaneiro, já falecido
teriormente à data da reclassifica- quando da edição da Lei em apreço.
ção excepcional ditada pelas Leis Apelação desprovida» (DJ de 9-9-
n?s 3.780/60, 5.057 de 1966 e 1977) .
5.291/67. Inexistência de direito ao
reajustamento da pensão segundo O acórdão, dessa maneira, em es-
os vencimentos de Agente Fiscal tendendo as disposições da Lei n?
Aduaneiro. 5.291/1967 às pensionistas de aposen-
tados, que faleceram antes, inclusi-
Recurso extraordinário conheci- ve, da Lei n? 3.780/1960, como suce-
do e provido.» (in DJ, de 29-12- deu, na espécie dos autos, negou vi-
1977) . gência à Lei n? 5.291/1967, divergin-
Também a Segunda Turma, no RE do, outrossim, do aresto indicado, às
n? 86.643/SP, relator o Ministro Mo- fls. 77/78, no RE n? 76.204, estando,
reira Alves, a 19-8-1977, decidiu, na ainda, em contrariedade à Súmula
mesma linha, possuindo o acórdão 38.
esta ementa: Do exposto, conheço do recurso e
«Pensão. Aumento em decorrên- lhe dou provimento, para cassar a
cia de reclassificação. Leis n?s segurança.
3.780/60, 5.057/66 e 5.291/67. O rea-
juste resultante da Lei n? 5.291/67 EXTRATO DA ATA
não se aplica a pensionistas de ser-
vidores de repartições aduaneiras
aposentados, que já haviam faleci- RE 88.707-SP — Rel.: Min. Néri da
do quando da entrada em vigor da Silveira. Recte.: União Federal Rec-
referida Lei. Recurso extraordiná- do.: Sylvia Pereira Alves (Adv.: Joa-
rio conhecido e provido.» (DJ, de kim Manoel Carneiro da Cunha Paes
21-10-1977). Barreto).
Já no colendo Tribunal Federal de Decisão: Conheceram e deram
Recursos, a 26-11-1976, como relator provimento ao recurso. Decisão unâ-
da Apelação Cível n? 35.544, acompa- nime.
nhado pela antiga 3? Turma, assim Presidência do Senhor Ministro
decidi, estando o acórdão, com a se- Cunha Peixoto. Presentes à Sessão
guinte ementa: «Pensão Herdeira de os Senhores Ministros Rafael Mayer,
Comandante Aduaneiro, falecido em Clóvis Ramalhete e Néri da Silveira.
1930. A viúva e filhos do funcionário Ausente, justificadamente o Sr. Mi-
610 R.T.J. — 108

nistro Soares Muftoz. Subprocurador- Brasília, 6 de outubro de 1981 —


Geral da República o Dr. Mauro Lei- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
te Soares. Secretário.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 91.744 (AgRg) — MG


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Agravante: Selim Sales de Oliveira — Agravada: Maná Sales de Olivei-
ra.
Investigação de paternidade. Ação julgada procedente em face da
- prova dos autos.
No recurso extraordinário é defeso proceder-se ao reexame da
prova, bem como das questões de fato.
Agravo regimental a que se nega provimento.
ACÓRDÃO «Há prova documental, inqueS-
tionável, a definir como de reco-
Vistos, relatados e discutidos estes nhecimento expresso da paterni-
autos, acordam os Ministros da Pri- dade, nos termos do artigo 363,
meira Turma do Supremo Tribunal inciso III, do Código Civil. A pro-
Federal, na conformidade da ata do cedência da ação, em face da
julgamento e das notas taquigráfi- prova quantum satis da paterni-
cas, por unanimidade de votos, em dade, era o caminho legitimo, co-
negar provimento ao agravo regi- mo opinou a douta Procuradoria
mental. da Justiça» (fls. 55).
Brasília, 27 de maio de 1983 — Isto posto, nego seguimento ao
Soares Mufioz, Presidente — Alfredo agravo» (fls. 75).
Buzaid; Relator. Irresignado, o agravante interpõe
o presente recurso regimental, ale-
RELATÓRIO gando que:
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: «a) comprovado está nos autos
Com o despacho, que abaixo trans- que a denegatória do processamen-
crevo, neguei seguimento ao agravo: to do recurso extraordinário, veio
ferir o texto Constitucional permis-
«Não há como reformar o r. des- sivo, com má interpretação da le-
pacho agravado, que negou o pro- gislação federal diferente a que es-
cessamento do recurso extraordi- se Colendo Pretórlo tem dado, in-
nário com base nos enunciados das clusive em seus recentes julgados,
Súmulas 279 e 400. atacando a jurisprudência prepon-
Com efeito, dos votos condutores derante e atual, firmada pelo pró-
da v. decisão recorrida extraio os prio Supremo Tribunal Federal
seguintes trechos: quanto a reconhecimento de pater-
«A sentença contém fundamen- nidade, como no da espécie (RTJ
tação irrepreensível, tendo feito 99/1.357/59) e outros julgados» (fls.
acurado exame da prova produzi- 78/79).
da nos autos, robusta o bastante b) não podia o Egrégio Tribunal
para forrar a convicção do julga- de Justiça do Estadb de Minas Ge-
dor» (fls. 55). rais, através de seu Ilustre Presi-
R.T.J. — 106 611

dente, basear-se nas Súmulas 400 e ta posteriormente e no prazo do


279/STF, que não devem ser em- exercido deste direito.
pregadas no caso em tela; dado a IV — Recurso Extraordinário
admissibilidade. do Recurso Ex- que se conhece e a que se nega
traordinário prevista na Carta provimento». (RTJ 99/1.357).
Magna e no próprio Regimento In-
terno dessa Suprema Corte, não Ocorre que o v. Acórdão recor-
havendo portanto, a necessidade rido não divergiu do entendimento
de reexame de provas, pois que as do aresto desta Corte. Resolveu ação
mesmas já estão contidas nos au- de investigação de paternidade, em
tos evidentemente» (fls. 79). que
É o relatório. «Há prova documental, inques-
tionável, a definir como de reco-
nhecimento expresso da paternida-
VOTO de, nos termos do artigo 363, inciso
III, do Código Civil. A procedência
da ação, em face da prova
O Sr. Ministro Alfredo SIEM (Re- quantum sacis da paternidade, era
lator): 1. Alega o recorrente que, o caminho legitimo, como opinou a
nesta ação de investigação de pater- douta Procuradoria da 'Justiça»
nidade, a decisão recorrida, que ne- (fls. 55).
gou seguimento ao agravo de instru- No recurso extraordinário é defeso
mento, sobre divorciar-se da Juris- proceder-se ao reexame da prova
prudência do Supremo Tribunal Fe- porque esta é quaestlo Meti.
deral, deixou de considerar os arts.
357 e 363, III, do Código Civil. Invoca Também não foram vulnerados
um único julgado desta Corte, profe- os arts. 357 e 363, III, do Código Ci-
rido no Recurso Extraordinário n? vil, sobre' cuja aplicação não se
93.493, em 14 de agosto de 1981, de questionou. A controvérsia foi decidi-
que foi Relator o eminente Ministro da pela Segunda Turma do Egrégio
Clóvis Ramalhete, cuja ementa dis- Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
põe: levando em conta a prova produzida
«Dá direito de ação, para a in-
nos autos. O voto do ilustre Des. Cos-
vestigação de paternidade, a exibi- ta Loures, Relator do feito, sublinha:
ção em Juizo do escrito particular, «Ao que parece, a atitude de Eu-
que a reconheça, produzido por elides em face do filho de sua com-
aquele a quem se atribui a paterni- borça não representaria apenas
dade (Código Civil, art. 363, III); urna atitude caridosa ou de favor,
mas não constitui ainda o reconhe- mas uma intenção. firme de ampa-
cimento voluntário da paternidade rar o filho que reconhecia como
ilegítima, cuja eficácia depende de seu, o que se advinha não só nas
escritura pública, registro civil ou próprias escrituras de fls. 10/13,
testamento (Código Civil, art. 357). como se presume da declaração
II — Imprescritível o direito à de fls. 9, do médico que assistiu Al-
investigação de paternidade, ação da no parto de Mauá; paternidade
de estado, no entanto prescreve a que não foi expressamente reco-
de petição de herança. nhecida, mas assumida em tais do-
cumentos; ou indesmentida na pro-
III — Prescrito, que esteja, o di- va fotográfica que se vê às fls.
reito à petição de herança do pai 14/16, onde os traços paternos se
investigado, no entanto esta pres- denunciam na fisionomia dos dois
crição não extingue direito de peti- filhos Mauá e Salim e do pai co-
ção de herança bm sucessão aber- -ml1M.
612 R.T.J. — 108

A sentença contém fundamenta- EXTRATO DA ATA


ção ir.repreehsivel, tendo feito acu-
rado exame da prova produzida Ag. 91.744 (AgRg)-MG — Rel.:
nos autos, robusta o bastante para Min. Alfredo Buzaid. Agte.: Salim
forrar a convicção do Julgador». Sales de Oliveira (Advs.: Luiz Fer-
(fls. 55) nando Melo de Lemos, Ly Freitas e
Por seu turno, o voto do ilustre outros). Agdo.: Mauá Sales de Oli-
Des. Danilo Furtado acentuou: veira (Adv.: João Baptista Mar-
ques).
«Há prova documental, inques-
tionável, a definir como de reco- Decisão: Negou-se provimento ao
nhecimento expresso da paternida- agravo regimental. Decisão unâni-
de, nos termos do artigo 363, inciso me.
III, do Código Civil. A procedência
da ação, em face da prova Presidência do Senhor Ministro
quantum satis da paternidade, era Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
o caminho legitimo, como opinou a Senhores Ministros Rafael Mayer,
douta Procuradoria da Justiça». Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
(fls. 55) Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
A decisão recorrida julgou a causa da República, Dr. Francisco de As-
à luz da prova dos autos. sis Toledo.
Ante o exposto, nego provimento Brasília, 27 de maio de 1983 —
ao agravo regimental. António Carlos de Azevedo Braga,
E o meu voto. Secretário.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 92.855 (Agftg) — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mutioz.
Agravante: Franz ou Francisco Will (espólio de), representado por seu
inventariante Antonio Stanoga Will — Agravada: FEPASA — Ferrovia Pau-
lista S/A.
Desapropriação. Vetos regimentais. Falta de prequestionamento
do fenômeno da desindexação.
— Os vetos regimentais decorrentes de tratar-se de ação de desa-
propriação e de alçada (art. 325, V, c, e VIII, do R.I. — STF.), aliados
à falta de prequestionamento, no acórdão impugnado (Súmula 282 e
356), da alegada corrutela no uso do bodiernamente denominado pro-
cesso de desindexação, impedem seja examinado se essa questão en-
volve matéria constitucional, de modo que possibilite a interposição
de recurso extraordinário. Agravo desprovido.

ACORDÃO do julgamento e das notas taquig,rá-


ficas, por unanimidade de votos, ne-
Vistos, relatados e discutidos estes gar provimento ao agravo regimen-
autos, acordam os Ministros do Su- tal.
premo Tribunal Federal, em Primei- Brasília, 6 de setembro de 1983 —
ra Turma, na conformidade da ata Soares Muftoz, Presidente e Relator.
R.T.J. — 108 613

RELATORIO propriacdtat par utilidade pública.


Naquele caso,'?realmente, não
O Sr. Ministro Soares Mudoz: Eis o envolvia-se a matéria constitucio-
teor do despacho, ora agravado, que nal, posto que os índices em dis-
proferi no agravo de instrumento: cussão eram os mesmos. Ambos
«Trata-se de ação de desapro- editados pela Seplan. Com uma
priação cujo valor não alcança a única diferença, os das ORTN edi-
alçada recursal. Incidem sobre ela tados mensalmente, os das desa-
os vetos estabelecidos no art. 325, propriações por utilidade pública,
V, c, e VIII, do RISTF. Das ressal- editados trimestralmente. Porém,
vas previstas no caput do mencio- são os mesmos índices, com os
nado art. 325, o recorrente alegou mesmos coeficientes. No caso dos
ofensa ao art. 153, § 22, da Consti- autos, a tese é diversa, os índices
tuição em conseqüência da aplica- das ORTN frente aos índices reais
ção da Lei n? 6.423, de 17-6-77. Po- do custo de vida, não espelham a
rém, a jurisprudência do Supremo realidade inflacionária, daí porque
Tribunal Federal é no sentido de aplicados os das ORTN, o expro-
que «a fixação, segundo critérios priado terá um prejuízo, que refle-
legais sucessivos no tempo dos cor- tirá no comando Constitucional que
retivos da indenização exproprlató- determina que a indenização deve
ria, não envolve, por si mesma, ser justa» (fls. 80/81).
questão constitucional, senão, Salientam ainda as razões que os
quando multo, mero problema de índices das ORTN nada têm em co-
definição da lei aplicável» (RTJ mum com a realidade inflacionária,
92/141-143). (fls. 16). Argüiu-se, pois deles, por efeito do fenômeno
também, a relevância da questão denominado hodiernamente como de
federal mas a argüição foi rejeita- desindexação, são retirados determi-
da pela Corte em sessão de Conse- nados produtos que os técnicos en-
lho. Ante o exposto, nego segui- tendem como não sendo importantes
mento ao agravo de instrumento para a apuração da taxa inflacioná-
para manter, por seus fundamen- ria, como, por exemplo, trigo, gasoli-
tos, o despacho denegatório do re- na, chuchu, hortaliças e outros pro-
curso extraordinário. Publique-se. dutos, que têm peso na inflação, pois
Brasília, 15 de agosto de 1983» (fls. eles influem no custo de vida. Ora, o
78). valor da desapropriação tem que ser
Nas razões do agravo regimental, justo, por exigência constitucional;
o agravante sustenta, em resumo. dai se segue que os índices de corre-
ção monetária, a ela aplicáveis, são
Data maxima venha, o v. despa- os reais, e os coeficientes devem ser
cho denegatório decorreu de mani- os do custo de vida, sem desindexa-
festo equívoco. ção.
De fato, não se teve presente que E o relatório.
no julgamento pelo Supremo, in.
serto na «Revista Trimestral de VOTO
Jurisprudência», vol. 92/141-143,
onde se decidiu que a discussão so- O Sr. Ministro Soares Mutioz (Re-
bre índices não envolve matéria lator): A hipótese sub judiee não se
constitucional, não prevalece no distingue, como retende o agravan-
casa dos autos. lato porque, naque- te, do caso decidido no paradigma
le caso; discutiane sobre a aplicatÁ que transcrevi no -despacho agrava-
cão dos índices das 'ORTN frente da. Em ambos se -discute a validade
aos índices trimestrais das' dem- dos índices (ditais de correção mo-
614 R.T.J. 106

netária, matéria relacionada com o cisco Will. (espólio de), representado


princípio do curso forçado da moeda por seu inventariante Antonio Stano-
nacional e que não se vincula, direta ga Will. (Advs.: Joaquim de Almeida
e frontalmente, com o quantum da Baptista e outra). Agda.: Fepasa
indenização do bem expropriado, Ferrovia Paulista S/A. (Advs.: Alzi-
mas com a atualização do respectivo ro Mendes Herdade e outros).
numerário fixado em juízo, após de-
corrido prazo superior a um ano a Decisão: Negou-se provimento ao
partir da avaliação. agravo regimental. Decisão unâni-
Ademais, o problema da desinde- me.
xação, ou mais precisamente da cor- Presidência do Senhor Ministro
rutela do seu uso, mediante a retira- Soares Muãoz. Presentes à Sessão os
da dentre os índices inflacionários Senhores Ministros, Rafael Mayer e
(ORTN) de produtos de influência Francisco Rezek. Ausentes, justifica-
decisiva no custo de vida, não se damente, os Senhores Ministros, Né-
acha prequestionado no Acórdão pro- ri da Silveira, Alfredo Buzaid e Os-
ferido na apelação (fls. 55/58), nem car Corrêa. Compareceu o Senhor
no que recebeu, em parte, os embar- Ministro Francisco Rezek, para
g os de declaração (fls. 19/20) (Sú- compor o «quorum» regimental, nos
mulas 282 e 356). termos do artigo 41 do Regimento In-
Ante o exposto, nego provimento terno. Subprocurador-Geral da Re-
ao agravo regimental. pública, Dr. Francisco de Assis Tole-
do.
EXTRATO DA ATA
Brasília, 6 de setembro de 1983 —
Ag. 92.855 (AgRg)-SP — Rel.: Min. António Carlos de Azevedo Braga,
Soares Mufioz. Agte.: Franz ou Fran- Secretário.
AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 92.946 (AgRg) - RJ
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Agravante: Ruy Bayma Archer da Silva — Agravado: Instituto Nacional
de Previdência Social — INPS — Representado pelo IAPAS.
Direito do trabalho. Decisão de última instância da Justiça do
Trabalho. Contra ele não cabe recurso extraordinário por divergência
hnisprudencial, mas tão só por contrariedade a preceito da Constitui-
ção da República.
E ilegal a acumulação de três cargos, a saber: médico do Es-
tado, médico do Banco do Brasil S/A e médico do INPS.
O prequestionamento é condição para o conhecimento do re-
curso extraordinário. Aplicação das Súmulas tes. 282 e 356 do Supre-
mo Tribunal Federal.
4. Nega-se provimento ao agravo regimental.
ACORDÃO nal Federal, na conformidade da ata
do julgamento e das notas taquigrá-
Vistos, relatados, e discutidos es- ficas, por unanimidade de votos, em
tes autos, acordam os Ministros da negar provimento ao agravo regi-
Primeira Turma do Supremo Tribu- mental.

R.T.J. — 108 615

Brasília, 2 de setembro de 1983 — ERE n? 96.802-4: «O direito brasi-


Soares Mtifloz, Presidente — Alfredo leiro resolveu este problema, de-
Buzald, Relator. terminando que a parte, antes de
interpor o recurso extraordinário,
RELATÓRIO ofereça embargos de declaração
consoante o Verbete n? 356 da Sú-
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Ne- mula: «O ponto omisso da decisão,
guei seguimento ao presente agravo, sobre o qual não foram opostos
com o seguinte despacho: embargos declaratórios, não pode
«Incide, na espécie, o veto do ser objeto de recurso extraordiná-
art. 325, IV, b (relação de trabalho rio, por faltar o requisito do pre-
mencionada no art. 110 da Consti- questionamento». Através dos em-
tuição), do Regimento Interno do bargos declaratórios se prequestio-
Supremo Tribunal Federal. na no tribunal de origem a questão
Assim sendo, somente por ofensa federal, a qual fica, portanto, ven-
à Constituição, manifesta diver- tilada, independente da solução da-
gência com a Súmula, ou relevân- da, atendendo assim à exigência
cia da questão federal, poderia do Verbete n? 282 da Súmula».
prosperar o recurso extraordiná- Ante o exposto, nego seguimento
rio. ao agravo» (fls. 61).
No entanto, das excludentes aci- Inconformado, Ruy Bayma Archer
ma alegadas, foram argüidas a re- da Silva, interpõe agravo regimental
levância da questão federal que alegando que o agravante argüiu,
foi rejeitada pelo Eg. Conselho também, a divergência com a Súmu-
(autos em apenso) e ofensa a dis- la 291 do Col. Supremo Tribunal, co-
positivo da Constituição Federal mo se vê do item 12 da petição de re-
que não foi prequestionado. curso extraordinário:
E certo que o agravante alegou, «12. Na verdade o v. acórdão
em sua petição de fls. 2/7, que o ofendeu essa norma, como tam-
«v. acórdão recorrido foi que, ao bém ofendeu o espirito da Súmula
impedir, sem razão, a completa 291 do Supremo Tribunal que so-
entrega da prestação jurisdicional, mente exige, para a comprovação
negou vigência ao artigo 153, § 4? da divergência, a transcrição do
da Constituição Federal. trecho que configure a divergên-
Vale também salientar que foi cia, com a indicação da fonte e a
ainda o acórdão recorrido que, referência às circunstâncias que
quando exigiu a anexação do com- identifiquem os casos confronta-
provante oficial da ementa do dos» (fls. 44).
aresto paradigma, mesmo quando Assim merecia ter sido considera-
já transcrito o trecho caracteriza- do esse ponto, suficiente a justificar
dor da divergência e já indicada a a admissão do recurso denegado.
fonte da publicação, criou, para o Realmente o v. acórdão recorrido,
reclamante, obrigação sem causa, ao criar exigência não prevista em
em flagrante desrespeito à norma lei, divergiu do entendimento da Sú-
do artigo 153, § 2? da Constituição mula 291.
Federal» (fls. 51). Mas, não lhe
aproveita o argumento, porque não Em segundo lugar, desnecessário
opôs à decisão impugnada os com- o prequestionamento dos dispositivos
petentes embargos declaratórios, constitucionais dados como violados,
conforme afirmei no julgamento do eis que a discussão era inexistente
agravo regimental interposto no até então, sendo o próprio acórdão
616 R.T.J. 108

recorrido que, ao examinar a ques- gentes, contrariou as disposições


tão do conhecimento dos embargos constitucionais invocadas. E lembra
de divergência opostos pelo ora re- a este respeito o v acórdão proferi-
querente, contrariou os dispositivos do no Recurso Extraordinário n?
constitucionais invocados. 74.347, com voto vencedor do emi-
nente Ministro Xavier de Albuquer-
Desse modo, é de se aplicar, aqui, que (RTJ 87/490).
o entendimento do Supremo Tribunal
(fls. 63/64) no julgamçnto do RE n? Este v. acórdão não beneficia o
74.347, in RTJ 87/490-1. agravante, porque o prequestiona-
mento é condição para o conheci-
E o relatório. mento de recurso extraordinário. Ca-
beria ao agravante obviar a falta de
prequestionamento, oferecendo em-
VOTO bargos de declaração, consoante' de-
terminam os Verbetes n?s 282 e 356.
Não o tendo feito, o recurso extraor-
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re- dinário não podia ser deferido pelo
lator): 1. O primeiro fundamento do ilustre Presidente do Tribunal Fede-
agravo regimental é que o recorren- ral de Recursos.
te argüiu divergência com a Súmula
291 desta Colenda Corte. Mas tal ale- aoAnte o exposto, nego provimento
agravo regimental.
gação é, de todo em todo, imperti-
nente, porque esta Súmula dispõe so- E o meu voto.
bre a prova de dissídio jurispruden-
cial, quando o recurso extraordiná-
rio é interposto com fundamento no EXTRATO DA ATA
art. 101, III, d da Constituição, que
corresponde ao art. 119, III, d da
Constituição vigente. Ag 92.946 (AgRg)-RJ — Rel.: Min.
Alfredo Buzaid. Agte.: Ruy Bayma
O Recurso Ordinário n? 3.338, de Archer da Silva. (Advs.: Fernando
que foi Relator o eminente Ministro Neves da Silva e outros). Agdo.: Ins-
Néri da Silveira no Tribunal Federal tituto Nacional de Previdência Social
de Recursos, declarou a ilegalidade — INPS representado pelo IAPAS.
da acumulação do reclamante como (Advs.: José Torres das Neves e ou-
médico do Estado, do Banco do Bra- tro).
sil e do INPS. Inconformado, ofere-
ceu embargos (fl. 21), que não foram Decisão: Negou-se provimento ao
conhecidos por não ter feito citação agravo regimental. Decisão unâni-
válida do aresto paradigma. Aplicou- me. Impedido o Ministro Néri da Sil-
se o art. 275, caput e g 1? do Regi- veira.
mento Interno do Tribunal Federal Presidência do Senhor Ministro
de Recursos. Ora, não se pode invo- Soares Mufloz. Presentes á Sessão os
car o Regimento Interno desta Corte Senhores Ministros Rafael Mayer,
para o julgamento dos feitos no Tri- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
bunal Federal de Recursos. Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
2. O segundo fundamento é que a da sis
República, Dr. Francisco de As-
Toledo.
matéria não foi prequestionada, mas
não era necessário o prequestiona- Brasília, 2 de setembro de 1983 —
mento, porque foi o próprio acórdão Antônio Carlos de Azevedo. Braga,
que, ao decidir os embargos infrin- Secretário.
R.T.J. — 108 617

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 93.896 — RJ


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: Sônia Rocha Teixeira de Freitas — Recorrido: Banco Brasi-
leiro de Descontos S/A.
Processual civil.
Ação de execução.
Mulher desquitada. Embargos de terceiro.
A mulher que se desquitou antes da realização da penhora, em
ação de execução movida contra o seu marido, há de opor embargos
de terceiro contra a penhora de bem que lhe coube em razão da parti-
lha de bens. Exegese dos ff 2? e 3? do artigo 1.046 do Cód. Proc. Civil.
Precedente.
ACÓRDÃO 6-77, e lhe coube, na partilha, o imó-
vel objeto da constrição judicial. O
Vistos, relatados e discutidos estes desquite fora anterior à distribuição
autos, acordam os Ministros do Su- da execução. Acrescenta que da divi-
premo Tribunal Federal por sua Se- da decorrente de um aval do 3? exe-
gunda Turma, na conformidade da cutado não resultou nenhum proveito
ata do julgamento e das notas taqui- para sua família, razão pela qual es-
gráficas, por unanimidade de votos, perava excluir da execução o aludi-
conhecer do recurso para lhe dar do bem penhorado.
provimento.
Brasília, 6 de setembro de 1983 — O MM. Juiz a quo julgou proceden-
Djaci Falcão, Presidente — Aldir te, em parte, os embargos de tercei-
Passarinho, Relator. ro, tão somente para limitar a pe-
nhora à metade do produto, em di-
RELATÓRIO nheiro, do bem penhorado, no mo-
mento da expropriação judicial, res-
O Sr. Ministro Aldir Passarinho salvado à esposa, cuja partilha, em
(Relator): Sônia Rocha Teixeira de desquite, foi considerada ineficaz
Freitas opôs embargos de terceiro, frente à apensa execução, usar as
nos autos da ação de execução por demais preferências ligadas à comu-
titulo extrajudicial que o Banco Bra- nhão sobre o imóvel. Custas e hono-
sileiro de Descontos promove contra rários de dez por cento do valor da
CONSEX-Organização e Vendas So- ação pela vencida.
ciedade Civil, Cid Teixeira de Frei- Apelaram ambas as partes: o Ban-
tas e Moacir Teixeira de Freitas, a co Brasileiro de Descontos S/A plei-
fim excluir da penhora o imóvel de teando a improcedência dos embar-
sua propriedade, situado na rua Ita- gos, à consideração de que, para ex-
curussá n? 57, pág. 302. clusão da meação da mulher, cabe a
Diz a embargante, em resumido, ela provar que a divida do marido
ter sido casada com o terceiro exe- não foi contraída em beneficio da
cutado pelo regime de comunhão de família. No caso, ficou provado que
bens, tendo o casal adquirido o imó- a apelada é sócia quotista da firma
vel aludido, em 6-11-73. Afirma que executada, tendo, por conseguinte,
se desquitou amigavelmente, em 29- interesse direto no desenvolvimento
618 R.T.J. — 108

dos seus negócios, pouco importando 1.046, § 3?, do CPC, mas o v. acórdão
a maior ou menor participação so- recorrido não julgou o mérito de seu
cietária, pois, de qualquer forma, os recurso, vulnerando o principio pro-
lucros da empresa seriam distri- cessual de revisão de julgados.
buídos a todos os sócios, inclusive à Foi o recurso admitido. Aqui,
apelada, na proporção de suas quo- manifestou-se a Procuradoria-Geral
tas. da República pelo conhecimento e
A embargante postulando a proce- provimento do recurso.
dência integral dos embargos ao ar- E este o relatório.
gumento de que o imóvel fora adqui-
rido com o fruto do seu trabalho, no VOTO
desempenho do cargo de Diretora de
uma empresa, sendo tal bem reser-
vado na forma estabelecida pelo ar- O Sr. Ministro Aldir Passarinho
tigo 1? da Lei n? 4.121/62. (Relator): O despacho do ilustre
Em grau de recurso, o 1? Tribunal Presidente do C. Tribunal de Alçada
de Alçada do Estado do Rio de Ja- Civel do Rio de Janeiro admitiu o re-
neiro, por unanimidade de votos, deu curso pela letra cl, por considerar
configurado o dissídio pretoriano, e
provimento à primeira apelação, e
julgou extinto o processo dos embar- assim também entendo.
gos de terceiro, condenada a apelada A questão posta em debate neste
em custas e honorários de 20% sobre ensejo do extraordinário se prende a
o valor da causa e negou provimento um só e único ponto: saber-se se os
à segunda apelação. embargos opostos pela embargante
O acórdão ficou ementado nestes devem ser considerados como do de-
termos: vedor, ou de terceiros. E que o v.
«Embargos de terceiro contra acórdão
situavam
impugnado entendeu que se
na primeira hipótese e, por
penhora. isso, haviam sido postos intempesti-
Impossibilidade jurídica do pedi- vamente. E justamente porque a
do formulado por quem é parte na embargante era devedora e não ter-
execução, fora das hipóteses do ceira, o pedido formulado nos em-
art. 1.046, pars. 2 e 3 do CPC e com bargos era juridicamente im-
invocação de matéria que teria de possível. Em conseqüência, o MM.
ser deduzida através de embargos Juiz declarou extinto o processo,
de devedor, dentro do prazo destes. com base no art. 287, VI, do Cód. de
Extinção do processo.» Processo Civil.
Dessa decisão, recorreu extraordi- A meu ver, a controvérsia não ofe-
nariamente a embargante, com am- rece maior dificuldade para seu des-
paro nas letras a e d da permissão linde, principalmente em face de vá-
constitucional, alegando que o v. rios julgados em torno da matéria,
acórdão impugnado negara vigência mesmo levando-se em conta a pecu-
aos arts. 128 e 1046 e seus parágra- liaridade que a espécie dos autos
fos, ambos do Cód. de Processo Ci- oferece.
vil, e divergira de julgados que trou- No caso, como se viu do relatório,
xe à colação. foi movida ação de execução contra
No seu recurso, sustenta a recor- a firma CONSEX — Organização
rente que não era parte no processo, de Vendas S/C e outros; aquela emi-
sofreu turbação na posse de um bem tente de uma nota promissória, e, os de-
seu, pela penhora. Afirma que a hi- mais, avalistas do mesmo título cam-
pótese em discussão é a do artigo bial. Entre estes, Moacyr Tei-

R.T.J. — 106 619

xeira de Freitas, então casado com considerar esta sua situação para se
Sônia Rocha Teixeira de Freitas, ora lhe negar a possibilidade de oferecer
recorrente, vindo a ser penhorado embargos de terceiros, na conformi-
imóvel que figurava como perten- dade do disposto no antes transcrito
cente ao casal. § 2? do art. 1.046 do Código de Pro-
Sônia Rocha Teixeira de Freitas, cesso Civil.
porém, insurgiu-se contra a penhora, E ainda que se admitisse possível
alegando que se havia desquitado de — o que, então, seria verdadeira in-
Moacyr antes da realização da pe- versão de natureza processual —
nhora, e o imóvel objeto da constri- deixar-se de considerar, pelo menos
ção judicial fora, na partilha, in- para os fins da execução e dos em-
cluído entre os seus bens. Pedia, bargos, a existência do desquite,
pois, fosse o bem liberado da penho- tendo-o como instrumento utilizado
ra que sobre ele recaíra. A par dis- para a defesa dos bens do casal —
so, sustentou que a divida contraída haveria, de qualquer sorte, incidên-
pela CONSEX não a beneficiaria, cia na hipótese, da regra do § 3?
não só porque ela e o seu ex-marido do art. 1.046, do Cód. de Proc. Civil,
tinham cada um apenas 5% das co- pois a defesa por ela, embargante,
tas daquela firma, como porque pos- oferecida foi a de que os bens objeto
suía ela rendimentos próprios, indus- da constrição eram seus, como côn-
trial que era, como diretora e acio- juge, e ela os estava defendendo, co-
nista da Studart S.A. — Indústria e mo proprietária. Nesta Corte, no jul-
Comércio, sendo os seus ganhos até gamento do RE n? 88.339-SP, pela
superiores aos do seu ex-marido, sua 2? Turma, Relator o Sr. Ministro
mesmo quando ainda casados. Moreira Alves, bem explícito ficou o
O v acórdão entendeu que os em- entendimento a respeito, conforme
bargos que deveriam ser opostos por se vê da ementa do respectivo acór-
Sônia Rocha Teixeira de Freitas dão, ao dizer:
eram embargos de devedor, e não de «O art. 1.096, § 3?, do Código de
terceiros.
Processo Civil, considerando o côn-
Não parece que seja assim, contu- juge como terceiro «quando defen-
do, na espécie em exame. de a posse de bens dotais, próprios,
Dizem os ff 2? e 3? do art. 1.096 do reservados ou de sua meação», e
CPC, in verbis: não tendo sido a mulher citada co-
«§ 2? Equipara-se a terceiro a mo devedora — hipótese em que
parte que, posto figure no proces- seria parte, na execução, para to-
so, defende bens que, pelo título de dos os efeitos — não admite que
sua aquisição ou pela qualidade ela, simplesmente intimada da pe-
em que os possuir, não podem ser nhora em execução em que o exe-
atingidos pela apreensão judicial. cutado é seu marido na qualidade
de avalista, defenda a posse de sua
§ 3? Considera-se também ter- meação por meio de embargos do
ceiro o cônjuge quando defende a devedor » (RTJ 88/656).
posse de bens dotais, próprios, re-
servados ou de sua meação.» Não possibilita a oportunidade o
exame dos alegados direitos da em-
Ora, no caso, está a embargante bargante quanto a serem seus os
defendendo bens que entende serem bens penhorados ou, pelo menos, que
próprios, eis que quando da penhora — inadmitida a partilha, pelo desqui-
já se encontrava desquitada, e não é te — fique resguardada a sua mea-
possível, de pronto, apresentada que ção, pelas ponderáveis razões que
foi a prova do desquite, deixar-se de oferece — mas não subsistem dúvi-
620 R.T.J. — 108

das, seja qual for a posição da em- xeira de Freitas. (Advs.: Eduardo
bargante o que a decisão sobre o mé- Pinto Martins e outros). Recdo.:
rito dirá, que os embargos que lhe Banco Brasileiro de Descontos S/A
caberia opor eram — tal como for- (Advs.: Pedro Henrique Ribeiro Plá-
mulados — embargos de terceiro, já cido e outros).
que não foi ela citada para a ação. Decisão: Conhecido e provido nos
Pelo exposto, conheço do recurso e termos do voto do Ministro Relator.
lhe dou provimento, a fim de que o Unânime.
C. Tribunal de Alçada, afastada a in-
tempestividade dos embargos e tor- Presidência do Senhor Ministro
nada sem efeito a extinção do pro- Djaci Falcão Presentes à Sessão os
cesso julgue o mérito, como enten- Senhores Ministros Moreira Alves,
der de direito. Decio Miranda, Aldir Passarinho e
E o meu voto. Francisco Rezek — Subprocurador-
Geral da República, Dr. Mauro Leite
EXTRATO DA ATA Soares.
Brasília, 6 de dezembro de 1983 —
RE 93.896-RJ — Rel.: Min. Aldir Hélio Francisco Marques, Secretá-
Passarinho. Recte.: Sônia Rocha Tei- rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 94.073 — RS


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente: União Federal — Recorridos: Ernesto José Annoni e outros.
Ação de desapropriação. Interesse social. Reforma agrária. Ação
direta. Nulidade do decreto expropriatório. Decreto-lei 554.
— Os expropriados têm o poder jurídico de exercitar ação direta
visando à nulidade do decreto expropriatório, sem que a sua viabiliza-
ção no despacho saneador, importe em negar vigência ao art. 14 do
Decreto-lei n? 554, que antes a prevê com efeitos limitados. Recurso
Extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO social e para fins de reforma agrá-
ria, que lhes move o INCRA, tendo
Vistos, relatados e discutidos estes por objeto a Fazenda Sarandi, mo-
autos, acordam os Ministros da Pri- vem ação ordinária contra a União e
meira Turma do Supremo Tribunal a citada autarquia, visando á decla-
Federal, em conformidade com a ração de nulidade do decreto expro-
ata de julgamentos e notas taquigrá- priatório, por atingir empresa rural,
ficas, à unanimidade, em não conhe- com o conseqüente anulamento do
cer do recurso. registro imobiliário feito em nome
Brasília, 22 de novembro de 1983 — do INCRA, plena reintegração em
Soares Mufioz, Presidente — Rafael seus direitos sobre o imóvel e o
Mayer, Relator. ressarcimento de perdas e danos e lu-
cros cessantes que se apurarem na
RELATÓRIO liquidação de sentença.
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Réus Em sua contestação, o Poder Pú-
na ação expropriatória, por interesse blico requereu, como preliminar, a

R.T.J. — 108 621

extinção do processo, sem julgamen- gou, ademais, provimento ao agra-


to do mérito, conforme o previsto no vo de instrumento aludido, porque
art. 267, VI, do Código de Processo não cabia nos autos da ação de de-
Civil, por impossibilidade jurídica do sapropriação decidir essa relevan-
pedido. te questão, devendo compreender-
A preliminar foi rejeitada ao ense- se a ação direta, ut art. 20, da Lei
jo do despacho saneador, afirmando das Desapropriações, como proce-
o douto Juiz que a matéria pertinen- dimento diverso e autônomo, em
te a constituir, ou não, o imóvel ex- relação ao próprio processo em
propriado uma empresa rural, insus- que promovida a desapropriação.
cetível de expropriação para fins de A decisão de primeiro grau,
reforma agrária e a conseqüente nu- que reconheceu a legitimidade dos
lidade do ato, seria examinada na autores a moverem a ação direta,
mesma ação, a correr paralelamen- deve, pois, ser mantida, para
te à ação expropriatória. prosseguir-se no feito até final,
Dai o agravo de instrumento inter- produzindo-se as provas requeri-
posto pela União. daa pelas partes.
A Egrégia Terceira Turma do Tri- «Não constitui obstáculo, no ca-
bunal Federal de Recursos impro- so, a propositura da ação direta, o
veu o agravo, assim ementado o disposto no art. 14 do Decreto-lei
acórdão respectivo: n? 554/1969.
« — Desapropriação. Não se configura, pois, hipóte-
se de extinção do processo, ut art.
Fazenda Sarandi-RS 267, do CPC.
Ação direta movida pelos ex- — Agravo desprovido».
propriados contra o INCRA e Após discorrer sobre os preceden-
União Federal, para ver reconheci- tes do litígio, naquela Corte, o voto
da a condição do imóvel de «em- condutor do eminente Relator, Mi-
presa rural» e não de «latifúndio
por exploração», à data do ato ex- nistro Néri da Silveira, deduz a sua
propriatório, estando, assim, imu- razão de decidir, In verbis:
ne à desapropriação por interesse «Do que se verificou, rememo-
social aos fins da Reforma Agrá- rando os julgamentos anteriores,
ria, nos termos do art. 19, 3?, parece inequívoco que o Tribunal
alínea b, da Lei n? 4.504/64, e do adotou o entendimento segundo o
art. 2? do Decreto-lei n? 554/1969. qual aos expropriados assegurado
Matéria já deduzida, perante estava deduzirem, perante o Poder
o TFR, no Mandado de Segurança Judiciário, as argüições de ilegali-
n? 70.897, a 14-9-1972, e no Agravo dade da desapropriação contra
de Instrumento n? 38.070, a 17-3- eles movida. No mandado de segu-
1975. rança, por maioria de votos, ape-
nas, entendeu o Tribunal não ser a
Não são os expropriados carece- via escolhida adequada para o de-
dores da ação direta. O Tribunal sate da controvérsia, que se instau-
nas decisões anteriores referidas rara nos autos respectivos, de um
ressalvou-lhes discutir a legalidade lado, afirmando os impetrantes
da expropriação em ação direta. que o imóvel era insuscetível de
Indeferiu-lhes o mandado de segu- desapropriação por interesse social
rança, por não considerá-lo via para fins de reforma agrária, eis
adequada ao desate da controvér- que empresa rural, e, de outro, o
sia, em face da complexa matéria INCRA, defendendo entendimento
de fato deduzida pelas partes. Ne- segundo o qual a Fazenda Sarandi
622 R.T.J. — 108

é latifúndio por exploração, não en- priação, com vistas à declaração


quadrável, assim, na proibição de de nulidade do Decreto n? 70.232,
desapropriar. Conforme referi, o de 13-3-1972, e do processo expro-
ilustre Ministro Jarbas Nobre e ou- prlatório, à base do reconhecimen-
tros eminentes membros do Tribu- to do imóvel dos autores como em-
nal, desde logo, deferiam o manda- presa rural. Tão-só essa considera-
do de segurança por reconhecer ção e essa parte do objeto do pedi-
comprovada a condição de empre- do vestibular, na ação direta, sufi-
sa rural. cientes se fazem, para que não
No julgamento do Agravo de Ins- possa prosperar o apelo da União
trumento n? 38.070, a 17-3-1975, Federal, no sentido da decretação
mais uma vez, este Tribunal, atra- de extinção do processo ora inten-
vés desta colenda Turma, afirmou tado pelos expropriados, em ordem
a viabilidade de os ora agravados, a verem imune de expropriação a
como expropriados, poderem ter Fazenda Sarandi.
conhecidas pelo Poder Judiciário No que concerne aos outros as-
as alegações de nulidade do decre- pectos do pedido dos autores, quais
to declaratório de interesse social sejam, a anulação do registro imo-
para fins de expropriação, «bem biliário feito em nome do INCRA
assim de inviabilidade de processo bem como de quaisquer outros que
desapropriatório, à vista do dispos- se lhe «tenham seguido, ou vierem
to no art. 2? do Decreto-lei n? a seguir, a reintegração dos auto-
554/69 e do art. 19, § 3?, alínea b, res na plenitude do seu direito so-
da Lei n? 4.504/64. Apenas o que a bre o imóvel, ressarcidos das per-
Turma, no último julgamento, en- das e danos e lucros cessantes que
tendeu foi não serem os próprios se apurarem em liquidação de sen-
autos da ação expropriatória o lu- tença, e ainda as demais comina-
gar apropriado para o debate da ções pedidas na vestibular da men-
referida argüição dos desapropria- cionada ação direta, constituem,
dos por sua natureza, aspectos meritó-
Como sinalei no voto que proferi, rios da demanda, que o Dr. Juiz
no Agravo de Instrumento n? Federal há de examinar, no mo-
38.070, entendo que ação direta, no mento próprio do deslinde da con-
caso concreto, se deve entender ou- trovérsia. Se o Dr. Juiz der pela
tra ação que não a demanda expro- procedência da ação, por reconhe-
priatória, não cabendo, no bojo cer a nulidade da expropriação, di-
desta, a formulação da defesa ba- rá S. Exa. dos diferentes aspectos
seada nas razões de nulidade da do pedido formulado pelos expro-
expropriação, como vem sendo priados. O que não parece possível,
sustentado pelos recorridos, desde em síntese, é interditar aos expro-
o Mandado de Segurança n? 70.897. priados a via da ação direta que o
Parece, dessa sorte, que, haven- Tribunal, por duas vezes, apontou
do os desapropriados seguido o ca- como o meio hábil, em ordem de
minho que o próprio Tribunal Fe- poderem ver discutida a defesa
deral de Recursos lhes indicou, no fundamental que oferecem contra
julgamento do dito Mandado de Se- a expropriação do imóvel de sua
gurança n? 70.897 e no Agravo de propriedade.
Instrumento n? 38.070, não podem Cumpre destacar que, se a Lei n?
ser considerados carecedores da 4.504/1964 no art. 19, § 3?, letra b, e
ação direta intentada contra a o Decreto-lei n? 554/1969, no art.
União Federal, ora recorrente, e o 2?, consideram a empresa pública
INCRA, autor da ação de desapro- imune à desapropriação por inte-

R.T.J. — 108 623

resse social para fins de reforma que tolhe a União Federal e ao seu
Agrária, não é possível, de logo, co- órgão executor a desapropriação
mo prefaciai da expropriante, in- do imóvel que a Constituição e a
vocar argumentos com base no lei lhe asseguram.
art. 14 do Decreto-lei n? 554. A Negativa de vigência do arti-
questão da viabilidade da expro- go 267, § 3?, do Código de Processo
priação é um prius, relativamente Civil, por exclusão do efeito pro-
a tudo o que já se realizou o dito cessual da coisa julgada material e
processo expropriatório, para que outras preliminares na espécie
este prospere ou não. Obstáculo, é (itens I, IV, V e VI do próprio arti-
certo, não se apresenta ao Poder go 267) .
Judiciário para verificar se o imó-
vel está excluído, ou não, da expro- A relevância das questões fe-
priação cogitada. Isso, aliás, vêm derais suscitadas, em capítulo es-
pedindo os agravados, como pro- pecífico».
prietários, contra o ato expropria- Processado o recurso extraordiná-
tório desde a primeira impetração rio, nesta instância o eminente
formulada ao Tribunal no Manda- Subprocurador-Geral, Mauro Leite
do de Segurança n? 70.897-RS. Soares, opina pelo conhecimento e
Do exposto, meu voto é negando provimento para ser declarada a ca-
provimento ao agravo, para que a rência da ação nesses termos:
ação ordinária, ação direta, movi- «Inicialmente é de se salientar
da pelos expropriados, possa ter que o caso versado nos autos, desa-
curso até final, na forma de direi- propriação por interesse social de
to». imóvel rural para fins de reforma
Pela letra a, vem interposto pela agrária, possui seus princípios fun-
União recurso extraordinário assim damentais no capítulo constitucio-
sintetizando as suas argüições: nal da ordem econômica e social,
«a) Negativa de vigência do arti- art. 161, §§, bem como é especial-
go 14 do Decreto-lei n? 554/69 (Im- mente disciplinada pelo Decreto-
possibilidade jurídica de ação e de lei 554/69, não tendo, portanto, na-
cumulação dos pedidos veiculados da em comum com os outros tipos
na inicial) e do seu artigo 9?. de desapropriações por utilidade
ou interesse social, como, por
Negativa de vigência do art. exemplo, o Decreto-lei n? 3.365/41,
46, § 5?, da Lei n? 4.504/64; art. 52 o qual é expressamente referido
do Decreto n? 55.891/65; art. 37 do pelo Decreto-lei n? 554/69 em seu
Decreto n? 72.106/73 (o reconheci- artigo 12 apenas para os fins de
mento do imóvel como empresa ru- aplicação do seu art. 9?, isto é, pa-
ral é da competência exclusiva do ra declarar que ao Poder Judiciá-
INCRA, vedado o exame de mérito rio é vedado decidir se se configu-
do ato Administrativo); do art. 6? e ram ou não os pressupostos do in-
seu § único da Constituição Fede- teresse social para o ato desapro-
ral do artigo 12 do Decreto-lei n? priatório, não se lhe aplicando, por
554/69, combinado com o art. 9? do conseguinte e peremptoriamente, o
Decreto-lei n? 3.365/41 e art. 5? da art. 20 do Decreto-lei n? 3.365/41,
Lei n? 4.132/62. Lei das Desapropriações.
Negativa de vigência do arti- A diferença em questão, além de
go 161 e seu parágrafo da Consti- fundamental, é perfeitamente ex-
tuição Federal e da própria Lei plicável pelas próprias origens e fi-
de Desapropriação (Decreto-lei n? nalidades dos atos desapropriató-
554/69, artigos 1? a 14), uma vez rios respectivos, mesmo porque a
624 R.T.J. — 108

desapropriação em geral se enqua- desapropriatório, somente o pode-


dra no capitulo constitucional dos ria ser nesta ação ordinária, em
direitos e garantias individuais, en- todos os seus aspectos, inclusive, é
quanto que a desapropriação da lógico, o da carência da ação.
propriedade rural para fins de re- Resolveu-se, então, o menos, o
forma agrária está inscrita no mínimo, mesmo porque à ora re-
capítulo constitucional da ordem corrente União Federal faleceria
econômica e social, traduzindo-se, interesse legítimo para a discussão
ainda, em matéria de segurança da questão em tese, já que vence-
nacional em face das repercussões dora no principal. Somente na ação
sociais produzidas. Aliás, tamanha ordinária ou direta, realmente pro-
a importância do tema, quanto a posta, poderia a ora recorrente dis-
sua prioridade, que ensejou a edi- cutir todos os seus pressupostos,
ção do Ato Institucional n? 9/69. como de direito. Parece-nos que tal
Por isso a sua disciplinação é espe- ponto, acaso suscitado, não merece
cial e especialmente é de ser trata- maiores comentários, pois a re-
da, no campo da política do Gover- messa às vias ordinárias, em casos
no e em atenção à independência tais é para discussão de todo e não
dos Poderes, em consonância com de parte da causa, conforme, em
o parág. 2? do art. 161 da Constitui- caso idêntico, decidiu o Egrégio
ção, que reza: Tribunal Pleno no MS n? 20.302,
«A desapropriação de que trata Relator: Ministro Djaci Falcão,
este artigo é da competência ex- ressalvando ao impetrante o uso
clusiva da União e limitar-se-á às das vias ordinárias.
áreas incluídas nas zonas priori- Alegam os recorridos que a pro-
tárias, fixadas em decreto do Po- priedade desapropriada é empresa
der Executivo, só recaindo sobre rural e, não, imóvel rural, daí a
propriedades rurais cuja forma nulidade do ato do Senhor Presi-
de exploração contrarie o acima dente da República.
disposto, conforme for estabeleci- Assim, liga-se a matéria direta-
do em lei». mente ao art. 14 e seu único do
«O Ato desapropriatório impug- Decreto-lei n? 554/69, que decla-
nado, cópia anexada, declara que o ram:
INCRA fica incumbido da sua exe- «Art. 14. Os bens expropria-
cução, nos termos do Decreto-lei dos, uma vez transcritos em no-
n? 554/69. me do expropriante, não poderão
certo que o acórdão recorrido ser objeto de reivindicação, ain-
declarou que o Egrégio Tribunal a da que fundada na nulidade da
quo, em decisões anteriores, res- desapropriação.
salvara aos ora recorridos a ação Parágrafo único. Qualquer
direta, ut art. 20 da Lei das Desa- ação, julgada procedente,
propriações, para discussão da le- resolver-se-á em perdas e da-
galidade da expropriação. Ora, nos».
tais decisões anteriores, para fins Os recorridos, na ação ordinária
de argumentação, não fizeram e fls. 25, pediram justamente isso,
nem produziram coisa julgada a fls. 49:
respeito da causa versada nestes
autos ã simples consideração de «Pedem e esperam seja esta
que a matéria é complexa no seu ação julgada procedente,
todo e, se não poderia ser exami- declarando-se a nulidade do De-
nada em mandado de segurança e creto n? 70.232, de 3 de março de
nem no próprio bojo do processo 1972, e do processo expropriató-
— 108 625

rio, face ao reconhecimento do agrária, encontra-se ainda em fase


imóvel dos AA. como empresa de discussão quanto ao mérito em
rural, anulando-se conseqüente- si mesma. Certamente, o legisla-
mente, o registro imobiliário em dor foi sábio na previsão do art. 14
nome do INCRA bem como e seu parágrafo único do Decreto-
quaisquer outros, que lhe tenham lei n? 554/69 e os autos não deixam
seguido ou vierem a seguir, e se margem a qualquer dúvida quanto
reintegrando os AA. na plenitude a que o imóvel desapropriado esta-
de seus direitos sobre o mesmo va inscrito, anteriormente ao ato
imóvel, ressarcidos das perdas e presidencial, no órgão competente,
danos e lucros cessantes, que se INCRA, como latifúndio por explo-
apurarem em liquidação de sen- ração e, não, como pretendem os
tença, e condenados, ainda, os recorridos, como empresa rural,
RR. ao pagamento de custas e classificação esta perseguida após
honorários advocaticios, na base a edição do ato de desapropriação.
de 20% sobre o valor da causa». Nestes termos, e em consonância
Inequívoca, assim, a carência da com o nosso pronunciamento no re-
ação, nos termos propostos na peti- ferido RE n? 93.826, somos pelo co-
ção inicial, dirigida exclusivamen- nhecimento e provimento do recur-
te á nulidade da desapropriação. so extraordinário a fim de declara-
Os recorridos, querendo e se for o da ser a carência da ação ordiná-
caso, deverão propor ação de per- ria».
das e danos, como declaramos no É o relatório.
RE n? 93.826 e ao qual nos permiti-
mos reportar para integrá-lo no
presente pronunciamento. VOTO
De vício ou defeito de inconstitu-
cionalidade não sofrem o art. 14 e § O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
único do Decreto-lei n? 554/69, por- lator): Á controvérsia se resume na
que atentos ao regulamentado art. viabilidade da ação direta proposta
161 e §* da Constituição, ao lado pelos expropriados em busca da in-
das correspondentes verbas de in- validação do decreto expropriatório,
denização, perdas e danos fixadas e seus consectários, o qual, sob a de-
na própria Carta Magna e na legis- claração de interesse social para
lação ordinária Tal questão, po- fins de reforma agrária, atingiu o
rém, não foi colocada nos autos, imóvel rural de que os Recorridos
cingindo-se à simples aplicação da são proprietarios.
lei. Todas as impugnações da Recor-
«Finalmente, embora nos pareça rente se centram no ataque à possi-
desnecessário sob o ponto de vista bilidade jurídica da ação proposta,
estritamente legal, não é demais em face da expropriação em curso,
salientar que a ação de desapro- sob os diversos ângulos propostos pe-
priação em exame, para fins so- la Recorrente.
ciais de reforma agrária, iniciada Como se vê, a decisão recorrida
há mais de dez anos, com inevitá- tem natureza de despacho saneador,
veis conseqüências de ordem práti- proferido na mesma ação, deixando-
ca e jurídica em relação aos ocu- se claro, no essencial do venerável
pantes da gleba desapropriada, aos acórdão, que a ação direta para a
quais ela foi dirigida precisamente declaração de nulidade do decreto e
em face da conturbação sócio- de inviabilidade do processo expro-
econômica, que se constitui em priatório fora assegurada aos Recor-
principio fundamental da reforma ridos pelos anteriores julgados do
626 R.T.J. — 108

Tribunal Federal de Recursos, que a nando à sua própria autoridade a do


ela remeteu para a discussão da ma- processualista Galeno Lacerda, a di-
téria incabível na ação de expro- zer que «se o juiz conserva a jurisdi-
priação, não podendo, pois, serem ção, para ele não preclui a faculdade
considerados, quando a intentam, de reexaminar a questão julgada,
carecedores de ação. De acréscimo, desde que ela escape à disposição da
cuida o acórdão que os demais as- parte, por emanar de norma proces-
pectos do pedido, quais a anulação sual imperativa» (loc. cit.). Se não
do registro imobiliário e reintegra- preclui, segundo esse entendimento,
ção dos autores no domínio do imó- a decisão que deixa de declarar ex-
vel, estão deferidos ao final julga- tinto o processo, nos casos dos n?s
mento do mérito da causa. IV, V, e VI, do art. 267, é de ver o
Por aí se vê a falência do argu- desacerto da invocação, pela Recor-
mento da Recorrente ao pretender, rente, do seu § 3?, que antes o benefi-
sob color de impossibilidade jurídica cia que o constrange.
do pedido, tenham sido violados os Feito esse equacionamento da ma-
artigos 14 e 9? do Decreto-lei n? téria realmente controvertida, nos
554/69, como invocados no primeiro autos, ficam prejudicadas as demais
bloco de suas impugnações. argüições da Recorrente, resultantes
Na verdade, o art. 9? se reporta de uma falta de distinção entre a
aos limites da contestação na ação ação no sentido processual e no sen-
expropriatória, que obviamente não tido material, e de inadequada a-
está sob exame, e o art. 14 dispõe preensão da natureza e alcance da
que os bens expropriados, uma vez decisão que está em causa. Por isso
transcritos em nome do exproprian- é que os incisos legais outros não fo-
te, não poderão ser objeto de reivin- ram, nem poderiam ser prequestio-
dicação, matéria que, decidida e ex- nados, porque têm sua sede, quando
plicitamente, não foi colocada pelo tenham, no próprio mérito da deci-
acórdão recorrido, senão para são final. Assim, também não foram
transferi-la ao julgamento final. Lo- ventilados no acórdão recorrido, por-
go não há dizer que, no tocante à que não se referem à ação direta
questão suscitada pelo art. 14, tenha que está em curso, dispositivos tais
o acórdão estabelecido a possibilida- como o art. 9? do Decreto-lei n?
de jurídica, ou não, do pedido, estan- 3.365/41, o art. 5? da Lei n? 4.132/62,
do, portanto, desenfocada a mácula e o art. 12 do Decreto-lei n? 554/69,
que lhe é atribuída de lhe ter negado que são pertinentes às regras do pro-
vigência. cedimento expropriatório. Nem o
Independente disso, se o reconheci- art. 46, § 5?, do Estatuto da Terra e
mento da impossibilidade jurídica do seus dispositivos de regulamentação,
pedido importa na extinção do pro- quando disciplinam as normas admi-
cesso sem julgamento do mérito, nistrativas do cadastramento das
corre entendimento autorizado de propriedades rurais.
que admitir a sua possibilidade, no Não foi prequestionado o art. 161 e
despacho saneador, não implica pre- parágrafos da Constituição e o art
clusão, como registram as preciosas 1? do Decreto-lei n? 554, mas é de
anotações de Theotonio Negrão, no ver que a invocação deles para dar
tocante ao art. 267, § 3?, do CPC, in- suporte à alegação de que o acórdão
vocando, nessa orientação, dois jul- recorrido envolve a negativa do po-
gados desta Turma, publicados na der expropriatório da União ou do
RTJ 94/445, e RTJ 99/778, este refe- INCRA, em casos de interesse social
rente a acórdão relatado pelo emi- e para fins de reforma agrária, não
nente Ministro Soares Muiloz, adu- tem razão de ser. Ao Judiciário não

R.T.J. — 108 627

se pode subtrair a apreciação do que EXTRATO DA ATA


se postule como lesão do direito, e o
próprio Decreto-lei n? 554, em seu RE 94.073-RS — Rel.: Min. Rafael
art. 14, prevê a ação impugnativa do Mayer. Recte.: União Federal Rec-
ato expropriatório, com os efeitos dos.: Ernesto Annoni e outro. ( Adv.:
que estabelece. Justino Vasconcelos).
Decisão: Não se conheceu do re-
Aliás, o venerável acórdão recorri- curso extraordinário. Decisão unâni-
do, em seu final, considera prematu- me. Impedido o Ministro Néri da Sil-
ra a invocação do art. 14 do Decreto- veira. Falou pelos Recdos.: Dr, Jus-
Lei n? 554, pois o art. 19, § 3?, do Es- tino Vasconcelos.
tatuto da Terra, e o art. 2? da mes- Presidência do Senhor Ministro
ma lei de desapropriação, conside- Soares Muiloz. Presentes à sessão os
ram a empresa rural imune à desa- Senhores Ministros, Rafael Mayer,
propriação, aspecto que não se pode Néri da Silveira, e Oscar Corrêa. Au-
afastar, em principio, da apreciação sente, licenciado, o Senhor Ministro
do Judiciário, dizendo, porém, com o Alfredo Buzaid. Subprocurador-Ge-
mérito da pretensão deduzida em ral da República, Dr. Mauro Leite
juizo. Soares.
Brasília, 22 de novembro de 1983 —
Pelo exposto, não conheço do re- António Carlos de Azevedo Braga,
curso. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 94.390 — MG


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrente: José de Paula Leite — Recorrido: Instituto Nacional de Pre-
vidência Social — INPS, pelo Instituto de Administração Financeira da Pre-
vidência e Assistência Social — IAPAS.
Revisão de proventos de aposentadoria de ex-combatente. Direito
a aposentadoria com proventos integrais (Lel n? 4.297/63). Inexistên-
cia de direito adquirido ao critério estabelecido para o cálculo, nos fu-
turos reajustamentos (Lei n? 5.698/71).
Não havendo ofensa à Constituição (art. 153, 11 3?), nem divergên-
cia com a Súmula 359, incidem os óbices do art. 308, incs. IV, letra c e
VIII, do Regimento Interno.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO RELATÓRIO.
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Djaci Falcão: O
autos, acordam os Ministros compo- acórdão objeto do presente recurso
nentes da Segunda Turma do Supre- extraordinário acha-se lançado nos
mo Tribunal Federal, à unanimidade seguintes termos:
de votos e na conformidade da ata
do julgamento e das notas taquigrá- «Ementa: Reajustamento de pro-
ficas, em não conhecer do recurso. ventos de aposentadoria previden-
Brasília, 13 de setembro de 1983 — ciária de ex-combatente. Não inci-
Djaci Falcão, Presidente e Relator. de sobre a parcela excedente de
628 R.T.J. — 108

dez vezes o maior salário mínimo de proventos de aposentadoria,


mensal vigente no país. Constitu- ele segurado e contribuinte da
cionalidade da regra do artigo 6? previdência social, na condição
da Lei n? 5.698, de 31 de agosto de de bancário, sendo, igualmente,
1971 (Tribunal Federal de Recur- ex-combatente nos termos da lei.
sos, Agravo em Mandado de Segu-
rança n? 74.017, in Diário da Justi- Expõe que, em 1-9-70, com
ça de 11 de novembro de 1974, pá- mais de trinta (30.) anos de servi-
gina 8413). Inexistência de direito ço e três (3) anos da carência le-
adquirido à aposentadoria especial gal da contribuição à base do sa-
prevista na Lei n? 4.297, de 23 de lário efetivamente percebido, fez
dezembro de 1963. Reforma da sen- jus à aposentadoria especial, de
tença, em decisão unânime, com que trata a Lei n? 4.297, de 23-12-
ressalva do entendimento pessoal 63, aposentadoria essa, entretan-
de um dos três julgadores. Impro- to, que só veio a ser efetivada em
cedência da ação. Honorários de 15-3-72, já na vigência da Lei n?
advogado, fixados em 10% do valor 5.698, de 31-8-71, que alterou, des-
da causa. favoravelmente, situações como
a sua, perante a previdência,
Acórdão pois pela lei anterior tinha direito
Vistos, relatados e discutidos es- à aposentadoria especial, por
tes autos em que são partes as aci- tempo de serviço, aos 25 anos de
ma indicadas: trabalho, cujos proventos seriam
Decide a Primeira Turma do reajustados, na base dos salários
Tribunal Federal de Recursos, à atuais e futuros de idêntico car-
unanimidade, dar provimento à go, classe, função ou categoria
apelação para reformar a decisão de atividade a que pertencia e,
recorrida, e condenar o autor nas na impossibilidade de tal atuali-
custas e honorários advocaticios zação, far-se-ia a mesma à base
em 10%, na forma do relatório e dos aumentos que seu salário in-
notas taquigráficas precedentes, tegral teria, se permanecesse em
que ficam fazendo parte integrante atividade, em conseqüência de
do presente julgado. dissídios coletivos ou acordo en-
tre empregados e empregadores
Custas, como de lei. posteriores à sua aposentadoria.
Brasília, 21 de junho de 1976 — Mostra que a Lei n? 5.698, cita-
Márcio Ribeiro, Presidente — da, trouxe restrições aos direitos
Oscar Corrêa Pina, Relator» ( fls.
74/75). já adquiridos por ele, autor, pois,
por essa lel só fariam jus à apo-
«Relatório sentadoria móvel, para o futuro,
O Sr. Ministro Oscar Corrêa exclusivamente os ex-comba-
Pina: 1. O Dr. Juiz Federal, Substi- tentes já aposentados à sua da-
tuto da P Vara, em sentença de 13 ta, de acordo com o regime da
de setembro de 1974, fls. 29/40, as- previdência social, a pensão mó-
sim decidiu, verbis: vel sendo aplicada aos dependen-
tes dessa classe de ex-combaten-
José de Paula Leite, brasileiro, tes.
casado, bancário, domiciliado
nesta Capital, por procurador re- Alega que, para os segurados
gularmente constituído (fls. 11), ex-combatentes que, na data des-
propõe contra o Instituto Nacio- sa lei, já houverem preenchido os
nal de Previdência Social a pre- requisitos da legislação por ela
sente ação ordinária de revisão revogada, sua aposentadona se-
R.T.J. — 108 629

rá à base dos salários efetiva- móvel os ex-combatentes já apo-


mente percebidos, mas a revisão sentados de acordo com a legisla-
desse benefício só incidirá sobre ção de previdência social.
o limite de 10 (dez) salários míni- Assinala estar apenas cumprin-
mos. do a lei, assinalando contestar a
Assinala que, se é licito ao Po- ação por negação geral e, protes-
der Legislativo legislar para o fu- tado por todo gênero de provas,
turo, tal não se lhe permite no pede seja a ação julgada impro-
que concerne aos casos pretéri- cedente, condenando o autor nas
tos, que virá ofender direitos ad- cominações de direito.
quiridos, o que enfrenta garantia autor falou sobre a contesta-
constitucional expressamente ou- ção (fls. 17/18), tendo sido ouvida
torgada ao cidadão. a União Federal (fls. 19v.) e sa-
Após eruditas considerações neado o processo, sem recurso
sobre a conceituação do direito das partes (tis. 20).
adquirido, e de invocar julgado A especificação de provas de-
do Colendo Supremo Tribunal Fe- terminadas naquele r. despacho,
deral que lhe dá amparo total à acentuando restrita a lide à ma-
tese, conclui por pedir a citação téria de direito, foi requisitado o
do réu para os termos da ação, a processo administrativo, de que
ser procedente para se determi- tiveram vista as partes sem pe-
nar revisão de sua aposentadoria dir traslado.
para a sua concessão segundo o Designada a audiência, rea-
preceito da Lei n? 4.297, em cau- lizou-se, presentes as partes, por
sa, com a garantia do reajusta- seus procuradores, e, não propos-
mento periódico, nos termos do ta de conciliação, aqui inaplicá-
art. 2?, e que pague o réu as par- vel, feito o debate, vieram os au-
celas dos reajustamentos não fei- tos conclusos.
tos, como se apurar em execu-
ção, além das custas e honorá- A douta Procuradoria da Repú-
rios advocaticios de 20% sobre o blica foi presente.
valor da condenação e mais co- relatório.
minações de direito. que pretende o autor, bancá-
Protesta por todo gênero de rio, ex-combatente, é ver manti-
provas, dando à ação o valor de do o critério do art. 2? da Lei n?
Cr$ 10.000,00 e oferece com a ini- 4.297, de 1963, na sua aposentado-
cial os documentos de fls. 9/10. ria, concedida com início a partir
de 15-9-72 (fls. 9), à qual pretende
Citado, ofereceu o réu contesta- ver assegurado o direito de rea-
ção (fls. 14/15), alegando que, justamento dos proventos á base
embora o autor pretenda ter tido, do salário integral, atual e futu-
em 1969, os requisitos exigidos ro, de idêntico cargo, classe, fun-
para a aposentadoria, na condi- ção ou categoria da atividade a
ção de ex-combatente, não fez que pertencia ou, na impossibili-
disso prova, além de confessar, dade dessa atualização, á base
expressamente, que somente em dos aumentos que o salário inte-
15 de março de 1972 veio a reque- gral teria se permanecesse em
rer a aposentadoria a que com atividade, em conseqüência de
direito, quando já vigente a Lei todos os dissidios coletivos, acor-
n? 5.698, de 1971, dispondo que só dos entre empregados e empre-
teriam direito à aposentadoria gadores posteriores à sua apo-
630 R.T.J. — 108

sentadoria ou, ainda, à base de Depois de mostrar em que lhe


aumentos salariais conseqüentes é desfavorável a Lei n? 5.698, ci-
a dissidios coletivos ou acordos tada, assinala que, havendo sa-
entre empregados e empregado- tisfeitos os requisitos á aposenta-
res, que poderiam beneficiar ao doria tem direito adquirido á
segurado se em atividade. mesma, como os demais ex-
A aposentadoria de que em go- combatentes, não havendo lei
zo o autor, é a de que trata o art. posterior que possa atingir esse
1? daquela mesma lei, concedida direito, nos termos do art. 153, §
aos ex-combatentes, segurados e 3?, da Constituição Federal.
de qualquer Instituto ou Caixa de Provou o autor o cumprimento
Aposentadoria e Pensôes, sem li- dos requisitos legais para obten-
mite de idade, aos 25 anos de ser- ção da aposentadoria estatuída
viço, em forma de renda mensal na Lei n? 4.297, de 1963 não só
vitalícia, igual a média do salá- quanto à sua condição de ex-
rio integral realmente percebido, combatente, nas condições por
durante os 12 meses anteriores á ela exigidas (fls. 10). Documento
respectiva concessão, desde que, esse que vem repetido às fls. 4,
na forma do § 1? desse mesmo 23 e 24 do Processo Administrati-
artigo, hajam os segurados, por vo n? 48.157.773.660/71, apensado,
ela beneficiados, requerido para inclusive no original, como pro-
contribuir até o limite do salário vou, ainda, que cumpriu a carên-
que perceberem ou vieram a per- cia exigida, de três anos de con-
ceber e só concedida após decor- tribuições sobre o salário inte-
ridos 36 meses de contribuições gral realmente percebido, adqui-
sobre o salário integral. rindo assim o direito de apo-
Em amparo da postulação ini- sentar-se com proventos igua-
cial, alega o autor que, «no dia is á média desses salários nos
27-8-1969, o suplicante possuía 30 12 meses anteriores à concessão
anos de serviço, fazendo jus à do benefício, como pode ver no
aposentadoria especial de que processo administrativo citado,
tratava os arts. 1? e 2? da Lei Fe- às fls. 6, havendo mesmo com-
deral n? 4.297, de 23 de dezembro pletado a carência exigida em
de 1963, no dia 1-9-1970, quando 1970.
completou o prazo de carência de Além do direito à aposentado-
3 anos de recolhimentos ao INPS ria nessas condições adquiriu
sobre a remuneração realmente ainda o autor, nos termos do art.
Percebida». da Lei n? 4.297, referida, o di-
Entretanto, o peticionário so- reito de ter seus proventos «rea-
mente veio a requerer a aposen- justados ao salário integral, na
tadoria no dia 15-3-1972, isto é, 18 base dos salários atuais e futuros
meses após haver preenchido os de idêntico cargo, classe, função
requisitos necessários à aposen- ou categoria da atividade a que
tadoria. pertencia ou, na impossibilidade
Entre a data do preenchimento dessa atualização, na base dos
dos requisitos necessários à apo- aumentos que seu salário inte-
sentadoria e a data do requeri- gral teria, se permanecesse em
mento, sobreveio a Lei Federal atividade, em conseqüência de
n? 5.698, de 31 de agosto de 1971, todos os dissídios coletivos ou
que alterou substancialmente e acordos entre empregados e em-
de forma desfavorável a situação: pregadores, posteriores a sua
do requerente». aposentadoria», reajuste esse

R.T.J. — 108 631

que também lhe garantiu a lei Pois ao autor foi concedido o


todas as vezes que ocorrerem au- benefício, tal como previsto na
mentos salariais conseqüentes a Lei n? 5.698, de 1971, porque, ape-
dissídios coletivos ou acordos en- sar de haver cumprido, desde
tre empregados e empregadores, 1970, 30 anos de serviço, tendo
que poderiam beneficiar ao segu- obtido o abono de permanência,
ro se em atividade». só em março de 1972 veio a re-
Tal aposentadoria e tais rea- querer a aposentadoria, segundo
justamentos foram outorgados a consta dos termos da contestação
um pequeno grupo de brasileiros do réu, às fls. 14/15, item 1 a 4,
segurados da previdência social, negando-lhe, assim, o réu os di-
à parte dos moldes gerais desta, reitos estatuídos na Lei n? 4.297,
em reconhecimento à sua contri- em causa.
buição pessoal, com risco da pró- Embora o documento de fls. 9
pria vida, aos Ideais democráti- não dê notícias da lei em que fun-
cos que informam a formação dado, esclarece-o a manifestação
politica do povo brasileiro, quan- do réu, na defesa oferecida, ense-
do desafiados pela loucura ger- jando oportunidade ao exame da
mânica que deflagrou a Segunda tese da inicial, que conclui:
Grande Guerra Mundial, o que «tendo em vista a denegação
era, afinal, um mínimo que lhes da aposentadoria móvel ao re-
poderia o Pais propiciar. querente ... constitui uma ofensa
Pois, a lei própria, que já bene- a direito líquido e certo, adquiri-
ficiou nos seus moldes a outros do pelo suplicante, acrescendo
combatentes dessa guerra, em também que o ato da autoridade
todos os seus termos, depois de competente ofende, clamorosa-
já haver o autor adquirido iguais mente, normas básicas e rígidas
direitos e — porque optasse por estatuídas nos parágrafos 1? e 3?
permanecer na atividade, perce- do art. 153 da Constituição, como
bendo abono de permanência em no art. 6? do Decreto-lei n? 4.657,
serviço — veio a ser revogado e de 4 de setembro de 1942 (Lei
profundamente alterados nela ou- de Introdução ao Código Civil),
torgados, limitados o benefício vem o «requerente propor esta
da aposentadoria e os reajusta- ação ordinária ao Instituto Na-
mentos ao teto de 10 salários cional de Previdência Social, su-
mínimos que é o regime geral da plicando a Vossa Excelência que
previdência social, dado ao be- faça a revisão de sua aposenta-
neficio o valor igual a 100% do doria para conceder segundo os
salário-de-benefício, só sobre es- preceitos da Lei n? 4.297, de 23 de
se teto fazendo incidir o reajusta- dezembro de 1963, isto é, garan-
mento que se venha a verificar. tindo o reajustamento periódico,
Ressalva aos segurados que já nos termos do seu art. 2?. Re-
houverem cumprido os requisitos quer, também, que o INPS seja
para essa aposentadoria na data condenado ao pagamento das
da vigência, a concessão do be- parcelas vencidas provenientes
nefício segundo a legislação en- dos reajustamentos não feitos,
tão vigente, observado, porém, conforme se apurar».
nos futuros reajustamentos, o O pedido do autor, tal como
disposto no art. 5?, ou seja, não posto, tem razão de ser, pois a
incidirão eles sobre a parcela ex- Lei n? 5.698, ora em exame, sub-
cedente de 10 vezes o maior salá- metendo os ex-combatentes ao
rio mínimo vigente no País. regime geral da previdência so-
632 R.T.J. — 108

ciai, só lhes concedendo a apo- os ex-combatentes já aposenta-


sentadoria aos 25 anos de servi- dos e os que venham a ser apo-
ço, com um salário-de-beneficio sentados ainda, o que será uma
igual a 100%, no auxílio-doença desigualdade no tempo, como se
ou em qualquer espécie de apo- os nossos heróis se desgastas-
sentadoria, aos ex-combatentes sem, mas sem interferência com
já aposentados, «de acordo com o o § 1? do art. 153 da Constituição
regime comum da legislação or- Federal.
gânica da previdência social» ou Mas, no seu art. 6?, a Lei n?
aos seus dependentes, a revisão 5.698, em causa, ressalva o direi-
dos benefícios respectivos, para to dos ex-combatentes que, na
ajustá-los ao teto de 100% do data de sua vigência, já tiverem
salário-de-beneficio, como do seu preenchido os requisitos da legis-
art. 1?, n? II, mas limitados os lação agora revogada, «para con-
seus reajustamentos só sobre o cessão da aposentadoria por tem-
valor de 10 vezes o maior salário po de serviço nas condições então
mínimo vigente no Pais, despre- vigentes, observado, porém, nos
zada a parcela excedente desse futuros reajustamentos, o dispos-
limite, sem qualquer dúvida to no art. 5?», ou seja, que tais
criou um direito novo, em rela- reajustamentos não incidirão so-
ção aos da Lei n? 4.297, de 1963, bre a parcela excedente de 10 ve-
que revogou. zes o maior salário mínimo men-
E que esta última lei citada, sal vigente no País, que é a quan-
agora revogada, criou para o ex- to se opõe aqui o autor, pois, com
combatente uma aposentadoria isso, ficou alterado critério da
móvel, integral sobre o rendi- aposentadoria móvel, da legisla-
mento efetivamente percebido, ção anterior, sob cujo império
reaj ustável, periodicamente, cumpriu os requisitos nela exigi-
sempre que os salários de idênti- dos, adquirindo, assim, direito á
ca função que haja exercido o ex- aposentação, tal como nela pre-
combatente aposentado venham vista.
a ser melhorados por qualquer E tem razão o autor, face o
das formas nela previstas, res- art. 153, § 3? da Constituição Fe-
peitado o valor integral dessa deral, que veda à lei prejudicar
melhoria como nela estatuído, «o direito adquirido, o ato jurídi-
dando a esses segurados um tra- co perfeito e a coisa julgada».
tamento previdenciário especial, Disposição idêntica vem con-
que lhes é devido pela Pátria fa- signada no art. 6? da Lei de In-
ce aos seus méritos de cidadãos trodução ao Código Civil, em que
soldados. se estabelece ter a lei em vigor
Jungindo os ex-combatentes ao efeito imediato e geral, não atin-
regime geral da Previdência So- gindo, entretanto, salvo disposi-
cial, com' as minguadas vanta- ção expressa em contrário, a si-
gens oferecidas, apouca-lhes a lei tuações jurídicas definitivamente
nova o valor moral e cívico já re- constituídas e a execução do ato
conhecido e, embora tecnicamen- jurídico perfeito.
te perfeita quanto aos que não. De ver-se, de logo, que a res-
hajam ainda, ex-combatentes, salva constante do texto da lei
cumprido os requisitos da legisla- não se contém no texto constitu-
ção anterior à sua data, não dei- cional que, taxativamente, veda
xa de significar uma impatrióti- possa a lei prejudicar o direito
ca diferença de tratamento entre adquirido.
R.T.J. — 108 633

Ora, o autor, para fazer jus á mas não pode, definitivamente,


aposentadoria móvel que, como restringir o direito já adquirido a
ex-combatente, lhe outorga a Lei essa aposentadoria móvel, antes
n? 4.297, de 1963, requereu o pri- de sua vigência, mediante contri-
vilégio e cumpriu a carência exi- buições previdenciárias inciden-
gida, como já acima demonstra- tes sobre o rendimento efetiva-
do e consta dos autos e dos pro- mente percebido pelo segurado,
cessos administrativos apensa- de qualquer modo, nem mesmo
dos. Para tanto recolheu suas quanto aos seus reajustamentos,
contribuições sobre o rendimento que quer não incidentes sobre o
mensal efetivamente percebido excesso do teto de 10 salários
durante três anos, vindo a fazer mínimos, pois, tal atinge o direi-
jus àquela aposentadoria móvel to adquirido do segurado, o que é
em setembro de 1970, mas só vin- vedado pela Constituição, como
do a aposentar-se em setembro representaria, ainda, em locuple-
de 1972, pois, feita a prova de ter mento ilícito da fazenda alheia.
condições para assim aposentar-
se, preferiu permanecer no em- Tem, assim, este Juízo por in-
prego, passando aperceber abo- constitucional a parte final do
no de permanência. art. 6? da Lei n? 4.698, de 1971,
Ora, se o direito por ele adqui- quando manda observar, no rea-
rido, antes da Lel n? 5.698, de justamento futuro da aposentado-
1971, exigiu-lhe contribuição es- ria concedida ao autor pela pre-
pecífica para aquela aposentado- vidência social, que não incide
ria móvel pela previdência so- ele sobre a parcela excedente de
cial, ou seja, alterável sempre 10 vezes o maior salário mínimo
que o salário da função que exer- vigente, desde que o direito por
cera fosse melhorado, sobre o ele adquirido, como contrapres-
seu valor integral, devendo tação a contribuições especiais, o
reajustar-se a aposentadoria, ou, foi a urna aposentadoria móvel,
nas outras hipóteses de melhoria nos termos da Lei n? 4.297, de
previstas na Lei n? 4.297, citada, 1963.
não há como, face ao texto cla- Assim, ante o exposto e pelo
ro da disposição constitucional, que dos autos consta, julga este
admitir-se a limitação que a no- Juízo procedente a ação para,
va lei quer impor às revisões de tendo por inconstitucional e as-
seu beneficio, submetendo-o ao sim inaplicável a restrição da lei
regime geral da previdência so- mencionada aos direitos do au-
cial que, evidentemente, não foi tor, condenar o réu a lhe reajus-
nesse regime que veio a adquirir tar o benefício da aposentadoria
seu direito, pelas contribuições de que em gozo, nos exatos ter-
também especiais que fez, duran- mos da Lei n? 4.297, de 1963, e a
te três anos. lhe pagar as parcelas vencidas,
A lei nova pode, como fez, no provenientes de reajustamentos
seu art. 7?, determinar que ao ex- não feitos ainda, com os juros le-
combatente que não haja, ainda, gais da mora e os honorários ad-
adquirido direito à aposentadoria vocaticios de 20% sobre o valor
móvel, à sua data, na previdên- liquidado, tudo como se apurar
cia social, seja devolvida a con- em execução.
tribuição incidente sobre o valor
excedente de 10 vezes o maior Registre-se, publique-se e
salário mínimo vigente no Pais, intime-se.
634 R.T.J. — 108

Decorrido o prazo de recurso, provimento do recurso voluntário


subam estes ao Egrégio Tribunal de fls. 42/43, para que a ação se-
Federal de Recursos. ja julgada improcedente.
O Instituto Nacional de Pre- 2 o relatório» (fls. 54/65).
vidência Social apelou da sentença, «Voto
oportunamente, fls. 42/43, postu-
lando a sua reforma, a fim de ser O Sr. Ministro Oscar Corrêa
julgada improcedente a ação, fa- Pina (Relator): A sentença julgou
zendo remissão às informações e procedente a ação nos termos do
aos documentos que instruem o pedido, tendo por inconstitucional o
processo. art. 6?, in fine, da Lei n? 5.698, de
Recebida a apelação, fls. 44, 31 de agosto de 1971, ao determinar
o autor ofereceu contra-razões, fls. que, no reajustamento futuro de
45/46, tendo subido os autos a este proventos de aposentadoria previ-
Egrégio Tribunal, em outubro de denciária de ex-combatente, não
1974. incide ele sobre a parcela 'exceden-
te de 10 vezes o maior salário míni-
04. A douta Subprocuradoria- mo vigente no pais, porquanto, co-
Geral da República manifestou-se mo contraprestação a contribui-
a fls. 51, em parecer do 5? ções especiais, tinha o autor direito
Subprocurador-Geral, Dr. Gildo adquirido a uma aposentadoria
Corrêa Ferraz, nos seguintes ter- móvel, nos termos da Lei n? 4.297,
mos: de 23 de dezembro de 1963.
`A sentença de 1? grau partiu de Acentuou, todavia, o parecer da
um pressuposto falso para che- douta Subprocuradoria-Geral da
g ar à conclusão a que chegou. República, fls. 51, que este Egrégio
Para concluir pela procedência Tribunal, em reunião plenária,
da ação teve antes que julgar in- realizada em 31 de outubro de 1974,
constitucional a Lei n? 5.698, de rejeitara a argüição de inconstitu-
31-8-71. No entanto, na assentada cionalidade da Lei n? 5.698/71, na
do julgamento realizada em 31- parte em que a sentença a decre-
10-74, o plenário desse Egrégio tou.
Tribunal afirmou a constituciona- Entendo, igualmente, que a men-
lidade do mencionado diploma le- cionada regra (Lei n? 5.698/71, art.
gislativo, ao julgar o AMS n? 6?, In fine), que dispôs sobre o rea-
74.017 (in DJ de 11-11-74, pág. justamento futuro dos proventos
8.413). de aposentadoria previdenciária
Ora, sendo compatível com o de ex-combatente, não é manifes-
sistema constitucional vigente, tamente Incompatível com o
não teve dúvida o INPS em apli- princípio constitucional do respeito
car a referida lei no cálculo do ao direito adquirido. A lei incidiu,
benefício a que faz jus o apelado, desde logo, aplicando-se, assim, a
por ser esta a lei de regência, situações como a em exame nestes
visto que a aposentadoria é regu- autos.
lada pela lei do tempo de sua Dou, pois, provimento ao recur-
concessão. so, para reconhecer a legalidade
Em face do exposto, a União dos proventos a cujo cálculo proce-
Federal, na qualidade de assis- deu o INPS, com observância do
tente da autarquia previdenciá- art. 6?, parte final, da Lei n?
ria, espera confiante o recebi- 5.698/71, julgando, assim, improce-
mento da remessa ex officio e o dente a ação, condenando o autor

R.T.J. —108 635

em honorários de advogado, que fi- mento do Agravo n? 81.306-3 (proces-


xo em 10% (dez por cento) do va- so em apenso), tramitando regular-
lor da causa. mente (fls. 113 e 115/116).
Voto VOTO
O Sr. Ministro Márcio Ribeiro O Sr. Ministro Djaci Falcão (Re-
(Revisor): Não é inconstitucional o lator): Conforme se viu do rela-
art. 6? da Lei n? 5.698/71 — que su- tório, trata-se de ação ordinária tno-
jeita as aposentadorias, concedidas vida por ex-combatente contra o
de acordo com a legislação ante- INPS, objetivando a revisão de pro-
rior, em seus futuros reajustamen- ventos de aposentadoria segundo a
tos ao teto do art. 52. Assim con- Lei n? 4.297/63, que assegura no seu
cluiu este Tribunal em decisão ple- art. 2? reajustamento periódico, sem
nária. que incidam as limitações previstas
Dou, pois, provimento para re- na Lei n? 5.698/71, em respeito ao
formar a decisão recorrida. Conde- principio do direito adquirido.
no o autor apelado nas custas e ho- Apesar de se cuidar de matéria
norários de advogado de 10%. atinente à previdência social e não
obstante o valor dado à causa (Cr$
Voto 10.000,00), que constituem óbices ao
O Sr. Ministro Jorge Lafayette recurso (art. 308, incs. IV, letra c e
Guimarães: Sr. Presidente, meu VIII, do Regimento Interno), debate-
entendimento seria pela inconstitu- se no caso a tese da existência ou
não de direito adquirido (art. 153, §
cionalidade, do dispositivo legal 3?, da CF). Por isso, dei provimento
impugnado, mas o Tribunal Pleno
já a rejeitou. ao Agravo n? 83.306, para melhor
exame do apelo derradeiro.
Em conseqüência, a não ser que
a Turma resolva_ insistir na maté- O autor da ação, ora recorrente,
ria, formulando nova Argüição de contava a 1-9-70 vinte e cinco anos de
Inconstitucionalidade, já repelida serviço e satisfazia a exigência legal
pelo Pleno a anterior, não vejo co- de três anos de contribuição para o
mo deixar de aplicar o art. 6? da INPS, pelo que fazia jus à aposenta-
Lei n? 5.698, de 1971. doria especial prevista na Lei n?
Acompanho, pois, o voto do emi- 4.297, de 23-12-63 (art. 1?), apesar de
concedida a partir de 15-9-72 (fls. 9),
nente Relator, e o por V. Exa. pro- já na vigência da Lei n? 5.698, de 31-
ferido, apenas com esta ressalva 8-71, que veio a limitar os futuros
do meu entendimento pessoal» (fls. reajustamentos (arts. 5? e 6?).
68/71).
Irresignado, o vencido interpôs re- O art. 2? da referida Lei n? 4.297/63
curso extraordinário com base nas estabelecia:
letras a e d, do inc. III, do art. 119, «Art. 2? — O ex-combatente, a-
da Constituição, sob alegação de posentado de Instituto de Aposenta-
afronta ao art. 153, § 3?, do mencio- doria e Pensões ou Caixa de Apo-
nado diploma, a dissídio interpreta- sentadoria e Pensões, terá seus
tivo com a decisão tomada no FRE' proventos reajustados ao salário
n? 72.509 (fls. 78/85). integral, na base dos salários
Após a impugnação de fls. 101/104, atuais e futuros, de idêntico cargo,
o recurso foi indeferido pelo despa- classe, função ou categoria da ati-
cho de fls. 106/107. Contudo, veio a vidade a que pertencia ou, na im-
ser processado por força do Provi- possibilidade dessa atualização, na
636 R.T.J. — 108

base dos aumentos que seu salário No caso, a Lei n? 5.698/71, vigente
integral teria se permanecesse em ao tempo da aposentadoria do recor-
atividade, em conseqüência de to- rente, dispõe:
dos os dissídios coletivos ou acor- «Art. 6? Fica ressalvado o di-
dos entre empregados e emprega- reito ao ex-combatente que, na da-
dores posteriores à st a aposenta- ta em que entrar em vigor esta
doria. Tal reajuste também se da- Lei, já tiver preenchido os requisi-
rá todas as vezes que ocorrerem tos na legislação ora revogada, pa-
aumentos salariais, conseqüentes a ra a concessão da aposentadoria
dissídios coletivos ou a acordos en- por tempo de serviço nas condições
tre empregados e empregadores, então vigentes, observado, porém,
que poderiam beneficiar ao segu- nos futuros reajustamentos, o dis-
rado em atividade». posto no artigo 5?».
Sem dúvida havia uma situação «Art. 5? Os futuros reajusta-
consolidada para a obtenção da apo- mentos do benefício do segurado
sentadoria, nos termos do art. 1? da ex-combatente não incidirão sobre
Lei n? 4.297/63. Havia direito adqui- a parcela excedente de 10 (dez) ve-
rido à concessão da aposentadoria, zes o valor do maior salário míni-
com proventos integrais, uma vez mo mensal vigente no País».
que o recorrente preenchia os requi- Aliás, o citado art. 6? foi conside-
sitos da legislação anterior, embora rado constitucional, em decisão do
requerendo-a na vigência da lei nova Egrégio Tribunal Federal de Recur-
(Lei n? 5.698/71). Esclareço que isso sos, conforme lembra o acórdão re-
foi observado, bem assim os proven- corrido. Trata-se
tos não sofreram redução em virtude cujo acórdão foidomantido AMS n° 74 017,
por esta
da aplicação da lei nova. Corte ao julgar o RE n? 84.088, rela-
No entanto, impõe-se ponderar que tor o eminente Ministro Saores Mu-
não há direito ao critério estabeleci- foz (RTJ 95/1153).
do para o cálculo, nos futuros reajus- Naquele caso, ex-integrante da
tamentos estabelecidos por lei. A FEB, que preenchia os requisitos do
nossa jurisprudência é no sentido de art. 197, letra c, da Constituição, se-
que não há direito adquirido ao regi- gurado da previdência social, impe-
me jurídico observado para o cálculo trou mandado de segurança contra o
dos proventos, no momento da apo- INPS para que a sua aposentadoria
sentadoria (RE n? 88.305, Rel.: o Sr. fosse calculada sem o limite de 10
Min. Moreira Alves, RTJ 88/651). vezes o maior salário mínimo vigen-
Assim sendo, desde que mantido o te no país, fixado na mencionada Lei
montante dos proventos, sem pre- n? 5.698/71, e sim com base no salá-
juízo efetivo para o aposentado, a lei rio integral. O impetrante não teve
nova pode modificar o sistema de êxito. Corte
Afirmando o acórdão desta
que o salário integral signifi-
reajustamentos futuros. Parece-me
válido o princípio em relação aos cava a integridade do salário, «se-
gundo a legislação própria da Previ-
inativos da Previdência Social. A dência Social», não se impondo a
Constituição estabelece proventos in- aposentadoria com base no salário
tegrais aos vinte e cinco anos de ser- real.
viço efetivo, tanto para o ex-
combatente funcionário público, co- Não vejo ofensa ao art. 153, § 3?,
mo para o contribuinte da previdên- da Lei Maior. Por outro lado, tam-
cia social (art. 197, letra c). Proven- bém não tem pertinência a alegada
tos segundo a lei especifica, e não divergência com a Súmula 359 ( re-
remuneração integral formulada por força da decisão pro-

R.T.J. —108 637

ferida nos ERE n? 72.509), e segundo INPS, pelo Instituto de Administra-


a qual «ressalvada a revisão previs- ção Financeira da Previdência e As-
ta em lei, os proventos da inativida- sistência Social — IAPAS (Adv.:
de regulam-se pela lei vigente ao Maurício Corrêa).
tempo em que o militar, ou o servi- Decisão: Indicado adiamento pelo
dor civil, reuniu os requisitos neces-Relator. Unanime. Falou pelo Recte.
sádos». o Dr. José Paulo Sepúlveda Perten-
Subsistem os óbices inicialmente ce.
mencionados. Decisão: Não conhecido. Unânime.
Ante o exposto não conheço do re- Presidência do Senhor Ministro
curso. Djaci Falcão. Presentes á Sessão os
Senhores Ministros Moreira Alves,
EXTRATO DA ATA Decio Miranda, Aldir Passarinho e
Francisco Rezek. Subprocurador-
RE 94.390-MG — Rel.: Min. Djaci Geral da República, Dr. Mauro Leite
Falcão. Recte.: José de Paula Leite Soares.
(Advs.: José Paulo Sepúlveda Per- Brasília, 13 de setembro de 1983 —
tence e outros) Recdo.: Instituto Na- Hélio Francisco Marques, Secretá-
cional de Previdência Social — rio.
EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO Nt 94.583 — SP
(Tribunal Pleno)
(RE na RTJ 103/332)
Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Embargante: Instituto de Administração Financeira da Previdência e
Assistência Social — IAPAS, pelo Instituto Nacional de Previdência Social —
INPS — Embargado: Jacy Ribeiro.
Embargos de divergência. Não caracterização da divergência:
acórdão embargado, em aposentadoria por invalidez; acórdão-padrão,
em abono de permanência.
ERE não conhecidos.
ACÓRDÃO segurado, foi condenado a conceder-
lhe aposentadoria por invalidez a
Vistos, relatados e discutidos estes partir de 12-10-78, e a satisfazer com
autos, acordam os Ministros do Su- juros e correção monetária as pres-
premo Tribunal Federal, em sessão tações vencidas a partir daquela da-
plenária, na conformidade da ata do ta (fls. 35 fine), sentença que veio a
julgamento e das notas taqulgráfi- ser confirmada pelo Colendo Tribu-
cas, por maioria de votos, em não nal Federal de Recursos.
conhecer dos embargos.
Brasília, 29 de setembro de 1983 — Alçado recurso extraordinário ao
Cordeiro Guerra, Presidente — Supremo Tribunal Federal sobre o
Oscar Corrêa, Relator p/o Acórdão. ponto alusivo à correção monetária,
não foi conhecido pela Colenda 1?
RELATÓRIO Turma, em acórdão unânime, que
teve como relator o eminente Minis-
O Sr. Ministro Decio Miranda: tro Oscar Corrêa, com o seguinte vo-
Vencido o INPS na ação movida pelo to:
638 R.T.J. — 108

«O Sr. Ministro Oscar Corrêa aquisição da moeda, o valor real,


(Relator): A tese discutida, na hi- expresso nos bens que permite
pótese, é a da possibilidade de inci- comprar.
dência da correção monetária so- Como tal, impor-se-ia a todas as
bre prestações previtenciárias. obrigações e equivaleria ao amplo
Afirma o recorrente que, ao reconhecimento de valor móvel a
concedê-la, o v. acórdão recorrido que se sujeitariam.
«extrapolou-se dos limites assina- Não se olvide, contudo, o
lados no art. 1?, do Decreto-lei n? estímulo inflacionário que a corre-
75/66, a cujo teor a atualização de ção monetária representa e, ainda
valores somente incide nos casos mais, estendida a todas as obriga-
nela enumerados, neles não estan- ções, o que corresponderia a autên-
do incluídos ou contemplados ques- tica impossibilidade de previsão de
tões de natureza previdenciária, todos os deveres, sobretudo, e à
como as obrigações resultantes de subversão dos orçamentos públicos
aposentadoria por invalidez» (fls. e particulares.
89).
Esta seria, contudo, em termos
Demais disso, considerou o lógicos a solução.
recorrente, e o acolheu a douta
Procuradoria-Geral da República, Mas, por isso mesmo que nem
que desta forma, o v. aresto recor- sempre, na vida real, são os ter-
rido divergiu da orientação da Cor- mos lógicos os que prevalecem, ou
te, expressa no RE n? 90.888 que devem prevalecer, e conhecidas
decidiu pela «inexistência de nega- essas conseqüências inevitáveis,
tiva de vigência do art. 1?, do que conduziriam a resultados im-
Decreto-lei n? 75/66, que diz res- previsíveis, o legislador tem esta-
peito a débitos trabalhistas, e não belecido restrições à norma geral,
a beneficio devido pela previdência ainda que admitindo sua extensão
social» (fls. 90). Acentuou, ainda a hipóteses novas.
que a «incidência só ocorre nas hi- A maior restrição atua, ob-
póteses previstas na lei, e que, em viamente, ao campo das presta-
conseqüência, não pode ser am- ções públicas, ou seja, as que de-
pliada, resulta da natureza das vem ser cumpridas pelo poder pú-
obrigações, inadmitindo-se a am- blico, notando-se evidente desigual-
pliação de sua área de incidência, dade de tratamento com as presta-
quando desassemelhadas ou diver- ções privadas, sobre as quais, com
sas» (fls. 90/91). maior amplitude, tem incidido.
O debate da tese levar-nos-la Ainda assim, tem-se aceito, co-
longe demais se pretendêssemos mo imposição de justiça, a corre-
analisá-la em todos os fundamen- ção de certas obrigações — presta-
tos e consectários. ções públicas, objetivando, de um
lado, diminuir os ônus do credor
Surgindo como conseqüência — delas, e, de outro, penalizar o po-
diga-se «grosso modo» — da infla- . der público (ou seus órgãos e dele-
ção, que atinge a moeda e desesta- gados), pelo seu descumprimento.
biliza as obrigações, a correção 6. Desse debate dá sucinta
monetária deveria impor-se em to- noticia o v. acórdão invocado, co-
dos os débitos em dinheiro, para mo dissidiável, no qual duas cor-
usar a linguagem corrente, fugindo rentes se debatem:
ao jargão dos especialistas. Com
efeito, nada mais significa do que a) a representada no voto do Ex-
a tentativa de manter o poder de mo. Min. Thompson Flores que
R.T.J. — 108 639

tendo-a como exatamente amplia- fiais, mas sujeita o segurado ina-


da à restituição de débitos fiscais dimplente à correção monetária,
— assentada pela jurisprudência — juros de mora e multa; carac-
(entre outras prestações) como as terizando-se desigualdade que,
alimentícias, as de danos pessoais, em tese deveria levar à obrigato-
multa fiscal, etc. — também, na riedade de correção das prestações
mesma linha de raciocínio como do Instituto.
correlação da imposta às contri- b) que, contudo, no caso que en-
buições não pagas a tempo pelo tão se debatia, o pleiteante «não ti-
empregado (por força do art. 7? da nha contrato liquido e •certo de tra-
Lei n? 4.387/64) — admitia a corre- balho, de modo que fosse claro o
ção do abono de permanência não inadimplemento do Instituto». «O
pago e reconhecido em prol do Instituto não pagou, asseverou o
pleiteante; argumentando, por fim, Exmo. Ministro Cordeiro Guerra,
que «as razões que levam o empre- porque entendeu que ele não tinha
gador faltoso a sujeitar-se ao ônus um dos pressupostos da relação
da correção, quando atrasa o paga- previdenciária». E disse mais: «se
mento do salário, são as mesmas realmente fosse estreme de dúvi-
para o Instituto que incorre na das a relação previdenciária, ou
mesma falta» (fls. 103). seja, que ele era contribuinte do
b) A que se expressou no voto Instituto, que estava em dia com
vencedor no acórdão do Exmo. Sr. suas obrigações, e se, sem justa
Min. Moreira Alves, distinguindo a causa ou sem uma ponderável dú-
hipótese dos autos, naquele caso — vida, ele deixasse de cumprir, nes-
abono de permanência — das de- se caso, eu ligaria isso ao inadim-
mais invocadas (restituição de in- plemento, de uma obrigação, a um
débito fiscal, alimentos, etc.) e sa- ato ilícito» (fls. 116/117).
lientando que «o abono de perma-
nência é beneficio previdenciário, E concluiu:
sem qualquer natureza fiscal», não «Sempre que o Instituto deixar
podendo, assim, se lhe aplicar o de cumprir sua obrigação legal
principio; tanto mais quanto, na- intencionalmente ou por culpa
quele caso, há restituição de paga- grave, nesses casos, acho que ele
mento indevido e aqui pagamento deve ser responsabilizado, na for-
de contribuição, mas não restitui- ma da Súmula 562, mas quando
ção de valor da contribuição. forem ponderáveis os motivos e
7. A discussão ampliou-se, ten- não estremes de dúvidas os direi-
do o Exmo. Ministro Soares Muhoz tos do segurado» (fls. 117).
considerado que, in casu, também 8. Como se verifica, não é paci-
se configurava a retenção de parte fico, nem claro, o entendimento da
da remuneração devida ao empre- questão, de modo a não suscitar
gado, apoiando a primeira corren- controvérsias. A nós nos parece
te; bem como o Exmo. Ministro que, repetimos, a orientação lógica
Cunha Peixoto; e filiando os de- levaria à adoção pura, ampla e
mais Eminentes Ministros à segun- simples da correção monetária, a
da corrente, tendo o Exmo. Minis- todas as hipóteses, eis que, de um
tro Cordeiro Guerra acentuado, en- modo ou de outro, a não correção
tre outras coisas: opera sempre em favor do devedor
a) que a legislação previdenciá- e contra o credor; e provado o di-
ria não dispõe sobre as conseqüên- reito deste — ainda que não prova-
cias do inadimplemento do Institu- do o dolo, ou a culpa grave daquele
to, no caso de suas obrigações le- — ter-se-ia de admitir que a consti-
640 R.T.J. — 108

tuição do débito de um e do crédito pois sempre entendi que o INPS


de outro retrotrai ao momento em deve corrigir as prestações que te-
que a sentença o declara. Deveria, nha deixado de pagar no tempo e
pois, operar o reconhecimento, em forma devidos. (RTJ 96/296), por
toda a extensão. considerar aplicáveis os princípios
9. Na hipótese dos autos, não há do ato licito e a Súmula 562.
porque recusar o comprovado nas Nessa conformidade, conheço do
instâncias ordinárias, reconhecida recurso, porém lhe dou parcial
a procedência do pedido pelo MM. provimento, para limitar a corre-
Juiz (fls. 34/36), confirmada pelo ção monetária a partir da data da
v. acórdão recorrido. vigência da Lei n? 6.899, de 8 de
Esta a linha de ampliação da abril de 1981» (fls. 152/3).
correção monetária, como forma Sustenta o embargante, no mérito,
de manter, aproximadamente que que «a decisão sob análise não nega
seja, o valor das prestações, tanto a inexistência de mandamento legal,
mais quanto de caráter nitidamen- impondo a obrigação de pagamento
te de subsistência. A jurisprudên- da correção monetária, pelo inadim-
cia da Corte afirma-se nesta orien- plemento na satisfação das presta-
tação. ções previdenciárias» e que, «para
Pelo que não conheço do recur- impor a obrigação partiu de pressu-
so» (fls. 142/7). postos não vislumbrados por manda-
mento legal, mas de ordem isonômi-
Embargos do INPS, por mim ad- ca» (fls. 154).
mitidos, alegam que o decidido di-
verge de acórdão da Colenda 2? Tur- 5 o relatório.
ma no RE n? 95.682, DJ de 14-5-82,
relator o eminente Ministro Cordeiro VOTO
Guerra, que, em seu voto, assim se
exprime: O Sr. Ministro Decio Miranda (Re-
lator): Conheço dos embargos, visto
Realmente, por duas vezes, o que manifesta a divergência entre as
STF inadmitiu a correção monetá- decisões em cotejo.
ria nas condenações do INPS, por
mora no pagamento de benefícios Passo ao mérito.
devidos e não pagos. No RE n? O eminente relator do acórdão di-
90.888-MG, RTJ 96/287 e AgRg no vergente, Ministro Cordeiro Guerra,
Ag. 56.967, DJ 13-2-74, assim emen- não deixou de ressalvar sua posição
tado: pessoal contrária á tese que adota-
«Aposentadoria. Proventos. Cor- va, lembrando que, no RE n? 90.888,
reção monetária. Proventos de julgado no Pleno, votara a favor da
aposentadoria em atraso. Não inci- correção monetária dos estipêndios
dência da correção monetária. previdenciários, quando pagos com
Agr. a que se negou provimen- atraso aos segurados ou beneficiá-
to». rios.
O v. acórdão recorrido desaten- No citado RE n? 90.888, acórdão
deu essa orientação, e, assim inob- visto por cópia a fls. 93 e segs. des-
servou o princípio da legalidade, tes autos, e encontrado em RTJ
art. 153, § 2?, da Constituição Fede- 96/296, o julgamento proferido no
ral. Tribunal Pleno (de que, impedido,
não participei) não chegou a apre-
Devo lembrar que a orientação ciar no mérito o problema da corre-
desta Corte se estabelece contra o ção monetária sobre estipêndios pre-
meu voto no RE n? 90.888, MG, videnciários pagos com atraso,
— 108 641

limitando-se a discussão aos pressu- Como admitir que o atraso, por


postos de conhecimento do recurso motivo de defeito no serviço, e não
extraordinário interposto pelo titular por culpa do beneficiário venha a
do benefício, o que bem se vê da res- resultar num detrimento desse
pectiva ementa, lida a fls. 93 destes mínimo vital?
autos, e bem assim do próprio con-
texto do acórdão. Todas essas prestações são con-
Já no outro acórdão referido no vo- traprestação de pagamentos que,
to do eminente Ministro Cordeiro se efetuados com atraso, mesmo
Guerra, o do Ag. Regimental no Ag. na parcela atribuída aos beneficiá-
n? 56.967, relator o eminente Minis- rios, são exigidos com correção
tro Bilac Pinto na Turma em 3-1- monetária. O mesmo ocorre com a
1973, confirmou-se decisão denegató- prestação totalmente devida pelo
ria de recurso extraordinário do cre- segurado: o contribuinte autônomo,
dor do benefício, à consideração de às vezes um pequeno artífice, o ad-
que não incidiria correção monetária vogado, o médico, o contribuinte
sobre proventos de aposentadoria em dobro, que é aquele que ficou
previdenciária em atraso. desempregado e que, no entanto,
pretende manter viva a sua inscri-
O exame de tais precedentes, so- ção previdenciária. Todos os seus
mente um dos quais, o do agravo de pagamentos, efetuados fora do pra-
instrumento, tem considerações so- zo, são recolhidos com correção
bre o mérito, mostra que é ainda ex- monetária, juros e multa.
tremamente tênue a manifestação
do Tribunal sobre o problema, e que Assim, mesmo aplicada a corre-
sobre ele conviria fixar-se orienta- ção monetária às prestações a car-
ção. go do INPS, ainda não haveria per-
Inclino-me pelo reconhecimento de feita correspondência, pois, na si-
que a correção monetária sobre esti- tuação inversa, além da correção
pêndios previdenciários pagos com monetária e dos juros, há multa
atraso, e notadamente quando resul- contra os atrasos dos contribuin-
tante de condenação judicial o paga- tes».
mento, é de ser reconhecido.
De resto, impende considerar que
Nesse sentido o voto vencido por se trata, no caso dos presentes au-
mim proferido no acórdão indicado tos, de provento de aposentadoria
como divergente (RE n? 95.682) a di- previdenciária, prestação substituti-
zer: va do salário anteriormente pago pe-
«Senhor Presidente, com a vênia lo empregador, cuja satisfação a
devida ao eminente Relator, per- destempo acarretaria seu comple-
maneço na posição, que já vem do mento por meio de correção monetá-
tempo de minha judicatura no Tri- ria.
bunal Federal de Recursos, segun-
do a qual as prestações devidas pe- Isto posto, conheço dos embargos
lo INPS a segurados e beneficiá- do IAPAS, mas os rejeito, por enten-
rios, satisfeitas com atraso, devem der que o beneficio previdenciário
ser satisfeitas com correção mone- resultante de condenação judicial de-
tária. ve ser satisfeito com correção, mone-
tária, calculada a partir do ajuiza-
Sabe-se, por via da experiência mento da ação, e não apenas a par-
comum, que essas prestações são tir da vigência da Lei n? 6.899, de 8-
um mínimo vital para as pessoas 4-1981.
que a elas fazem jus. São parcas,
como é da natureza dos sistema. E o meu voto.
642 R.T.J. — 108

VOTO EXTRATO DA ATA


O Sr. Ministro Aldir Passarinho: ERE 94.583-SP — Rel.: Ministro
Sr. Presidente, admitindo que esteja Decio Miranda. Embte.: Instituto de
comprovada a divergência, acompa- Administração Financeira da Previ-
nho o eminente Relator, conhecendo dência e Assistência Social — IA-
dos embargos e os rejeitando. PAS, pelo Instituto Nacional de Pre-
vidência Social — INPS (Adv.: José
No caso de atualização das presta- Torres das Neves). Embdo.: Jacy
ções previdenciárias, o Tribunal Fe- Ribeiro (Adv.: Flamino Silveira
deral de Recursos vem fixando en- Amaral).
tendimento no sentido do ponto de Decisão: Pediu vista o Ministro Os-
vista esposado pelo ilustre Relator. car Corrêa, depois dos votos dos Mi-
Eu me fixei, basicamente, no seguin- nistros Relator e Aldir Passarinho,
te aspecto: no Supremo Tribunal Fe- conhecendo e rejeitando os embar-
deral, quando se verifica a repetição gos.
de indébito, admite-se a correção Presidência do Senhor Ministro
monetária pelo principio de analogia Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão
e reciprocidade. A lei apenas fala os Senhores Ministros Djaci Falcão,
em correção monetária, quando feito Moreira Alves, Soares Mufloz, Decio
o depósito. Então, entendeu o Supre- Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
mo Tribunal Federal que, no caso de veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa
ser pago o débito, maior razão have- e Aldir Passarinho. Procurador-
ria para que a restituição dessa im- Geral da República, Professor Ino-
portância se fizesse por valores cêncio Mártires Coelho.
atualizados.
Brasília, 10 de março de 1983 —
No caso das contribuições previ- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
denciárias, quando o pagamento é
feito com atraso, há o acréscimo da VOTO PRELIMINAR
correção monetária, além de outros (CONHECIMENTO)
ónus daí decorrentes; quando efetua-
do o depósito, pela legislação perti- O Sr. Ministro Oscar Corrêa: O
nente que veio a conferir essa atri- exame da espécie nos leva ao não
buição á Caixa Econômica Federal, conhecimento dos embargos, data
a restituição é feita com a atualiza- venia do Eminente Relator.
ção monetária. O princípio, a meu
ver, é o mesmo: com relação ao pa- Com efeito, o acórdão embargado
gamento das pensões, que corres- tem a seguinte Ementa:
ponde àquela contraprestação das «Aposentadoria por invalidez.
contribuições, se o Instituto não o faz Prestações previdenciárias.
a tempo, deve arcar com o ônus, não Atualização pela correção mo-
como uma penalidade, mas para que netária. Extensão progressiva que
a moeda reflita o valor do momento. lhe tem reconhecido a jurisprudên-
A pensão é uma conseqüência da cia da Corte. Correção concedida.
contribuição, e assim, da mesma
maneira que a contribuição se paga Recurso Extraordinário não co-
com atualização, a contraprestação nhecido» (fls. 149).
deve ser paga com correção da moe- Cuida-se, na hipótese, de apo-
da. sentadoria por invalidez, comprova-
da a incapacidade laborativa do ora
Acompanho o eminente Ministro Recorrido, como diz o v. acórdão
Relator, conhecendo dos embargos. do C. Tribunal Federal de Recursos,

R.T.J. — 108 643

trabalhador braçal, praticamente ce- que, afinal, apenas a deferisse a par-


go de ambos os olhos, nos termos do tir da data de vigência da Lei n?
Decreto n? 83.080/79 (artigos 42 a 45) 6.899/81.
(fls. 71/76).
Por esses motivos, não conheço
2. Ora, o acórdão paradigma diz dos embargos.
respeito a abono de permanência, hi-
pótese diversa da decidida no v. 2 o voto.
acórdão embargado, e prevista em
normas diferentes, pelo que não há VOTO
identificar uma à outra. Talvez, por
isso mesmo, não se tenha citado a
Ementa do paradigma, verbis: O Sr. Ministro Néri da Silveira: Se-
«Previdência Social. Abono de nhor Presidente. Cuida-se de corre-
permanência. A incidência da cor- ção monetária, em caso de condena-
reção monetária, de conformidade ção do INPS, a conceder benefício
com os julgados do STF, só é ad- previdenciário.
missivel a partir da Lei n? 6.899, de Parece-me que, em ambos os acór-
8-4-81». dãos essa mesma tese foi considera-
E. saliente-se que o Eminente Rela- da: se seria possível a concessão de
tor, Ministro Cordeiro Guerra, não correção monetária, em se tratando
se omitiu em declarar em seu enten- de beneficio previdenciário. O acór-
dimento favorável «à correção das dão recorrido teve em conta o be-
prestações que o INPS tenha deixado nefício previdenciário da aposenta-
de pagar no tempo e forma devidos, doria; o acórdão paradigma, o be-
por considerar aplicáveis os prin- nefício previdenciário do abono de
cípios do ato ilícito e a Súmula 562» permanência. A circunstância de se
(fls. 153). tratar de dois institutos do direito
Demais disso, aposentadoria por previdenciário não altera a natureza
invalidez e abono de permanência, da prestação: em ambos os casos, a
embora ambos de caráter previden- quantia devida pelo INPS é presta-
ciário, têm condições e regimes di- ção de natureza previdenciária. O
versos: enquanto aquela se concede que se discute é se seria possível
ao segurado incapacitado para o tra- atualizar o quantum referente a
balho; esta é devida ao segurado prestações previdenciárias, em am-
que, contando, embora, tempo para bas as hipóteses. O acórdão recorri-
a aposentadoria, permanece em ati- do compreendeu que a correção mo-
vidade. netária se deveria dar de forma am-
pla, considerando que se tratava, na
Aquele necessita da prestação pa- espécie, de ato ilícito da administra-
ra a subsistência; este acumula a, ção; o acórdão padrão concluiu que,
prestação da aposentadoria com a nessas hipóteses, a correção monetá-
que percebe na atividade, o que as ria não seria devida, antes da Lei n?
situa em níveis diferentes. 6.899, de 1981, daí por que a conce-
deu, tão-só, a partir da vigência do
Aliás, não se deu o embargante ao mencionado diploma.
cuidado de assemelhar ou identificar
as hipóteses: apenas transcreveu tre- Assim sendo, entendendo que a te-
cho do voto do eminente Relator do se posta em confronto é a mesma:
acórdão. correção monetária de prestações
previdenciárias, acompanho o voto
Que argumentou no sentido da do eminente Ministro Relator, conhe-
concessão ampla da correção, ainda cendo dos embargos.
644 R.T.J. — 108

RETIFICAÇÃO DE Relator, acolho a distinção feita pelo


VOTO PRELIMINAR eminente Ministro Oscar Corrêa: são
pressupostos diversos.
O Sr. Ministro Aldir Passarinho. Poderia o Tribunal, perfeitamente,
Sr. Presidente, como V. Exa. consul- em um caso conceder a correção
tou o eminente Ministro Decio Mi- monetária e, em outro, não conce-
randa, em virtude da nova posição, der, por que emergem de normas
ante o exame dos fatos feito pelo jurídicas diferentes e de prestações
eminente Ministro Oscar Corrêa, que têm outra natureza.
também queria voltar a pronunciar- O abono de permanência, pelo que
me. E o faço para reconsiderar-me, me recordo, no INPS, visa a conce-
porque, como observado, há diferen- der uma gratificação àqueles que,
ça entre a natureza das prestações. podendo aposentar-se, no entanto
Em se tratando de embargos de permanecem em atividade; não tem
divergência, é necessário que os te- caráter alimentar. Ai, no caso, o ca-
mas jurídicos sobre os quais incide o ráter alimentar seria o salário. Bem
dissídio sejam os mesmos, e, no ca- diversa é a situação de quem é apo-
so, isso não ocorre. As prestações, sentado por invalidez e recebe os
embora possam ser todas previstas seus proventos com caráter alimen-
na legislação previdenciária, não são tar. Então, teses distintas em rela-
da mesma natureza. Há, por exem- ção á correção monetária poderiam
plo, o auxilio-doença que assumiu perfeitamente conviver em razão de
mais um caráter indenizatório; o pressupostos diversos!
auxilio permanência que se constitui Por isso, data venta, acompanho o
em complementação salarial a titulo eminente Ministro Oscar Corrêa, não
de estimulo para os que, podendo conhecendo dos embargos.
aposentar-se continuam trabalhando,
e as aposentadorias e pensões, que
já têm outras finalidades, e bastante VOTO (PRELIMINAR)
diversas. Deste modo, as razões que
poderão justificar a correção mone- O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.
tária em relação a um beneficio pre- Presidente, as prestações, para que
videnciário já poderão inexistir para se caracterizasse a divergência, de-
que ela incida sobre outras presta- veriam ter natureza jurídica idênti-
ções e, para que se possa admitir co- ca, o que, no caso, não ocorre.
mo havendo divergência de julgados, Data venta do eminente Relator,
se torna necessário que as presta- acompanho o eminente Ministro Os-
ções então discutidas nos acórdãos car Corrêa, não conhecendo dos em-
tidos como divergentes sejam não bargos.
apenas previdenciárias mas tenham
o mesmo caráter. E, no caso, tal não EXTRATO DA ATA
ocorre.
Assim, data venta do ilustre Rela- ERE 94.583-SP — Rel.: Ministro
tor, despertada a atenção para a Decio Miranda. Embte.: Instituto de
particularidade concernente à natu- Administração Financeira da Previ-
reza das prestações em discussão, dência e Assistência Social — IAPAS
não conheço dos embargos. pelo Instituto Nacional de Previdên-
cia Social — INPS (Adv.: José Tor-
VOTO (PRELIMINAR) res das Neves). Embdo.: Jacy Ribei-
ro (Adv.: Flamino Silveira Amaral).
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr. Decisão: Não se conheceu dos em-
Presidente, data venta do eminente bargos, vencidos os Ministros Rela-

R.T.J. — 108 645

tor e Néri da Silveira. Não tomou veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari-
parte no julgamento o Sr. Ministro nho e Francisco Rezek. Ausente, jus-
Francisco Rezek, por não ter assisti- tificadamente, o Senhor Ministro Al-
do ao Relatório. fredo Buzaid. Procurador-Geral da
Presidência do Senhor Ministro República, Professor Inocêncio Már-
Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão tires Coelho.
os Senhores Ministros Djaci Falcão,
Moreira Alves, Soares Mufioz, Dedo Brasilia, 29 de setembro de 1983 —
Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 95.071 — RJ


(Segunda Turma)
Relator: -O Sr. Ministro Decio Miranda.
Recorrentes: João Torres da Silva e outros — Recorrida . União Federal.
Administrativo. Funcionalismo. Plano de Classificação de Cargos
da Lei 5.645, de 1970. Súmula 41 do Tribunal Federal de Recursos.
Proventos da aposentadoria.
Pedido de aplicação da Lel n? 2.622, de 1955. Óbice regimental do
art. 325, IV, d.
ACÓRDÃO Vitoriosos na sentença de primeiro
grau, reformou-a o Tribunal Federal
Vistos, relatados e discutidos estes de Recursos, à consideração do ver-
autos, acordam os Ministros do Su- bete 41 de sua Súmula, segundo o
premo Tribunal Federal, em Segun- qual «o direito do servidor inativo à
da Turma, na conformidade da ata revisão de proventos prevista no art.
do julgamento e das notas taquigrá- 10 e seus parágrafos do Decreto-Lei
ficas, por unanimidade de votos, em n? 1.256, de 1973, só se integrou com
não conhecer do recurso. a publicação do Decreto de implan-
Brasília, 11 de outubro de 1983 — tação do plano de classificação de
Djaci Falcão, Presidente — Decio cargos instituído pela Lei n? 5.645, de
Miranda, Relator. 1970, no órgão respectivo, e desde
que tenha sido efetivada essa condi-
cionante antes da revogação daque-
RELATÓRIO les dispositivos pelo Decreto-Lei n?
1.325, de 1974».
O Sr. Ministro Decio Miranda: Na A essa decisão opõem os autores
ação movida à União Federal por recurso extraordinário, fundado nas
seus funcionários aposentados João letras a e d da previsão constitucio-
Torres da Silva e outros, reivindica- nal. Asseveram que a Constituição,
ram os autores elevação de seus pro- no art. 153, 3?, protege o direito ad-
ventos, levado em conta o nível a quirido e este, no seu caso, se esta-
que seriam alçados se estivessem beleceu pela Lei n? 2.622, de 18-10-55,
em atividade, de acordo com a Lei a dizer que «o cálculo dos proventos
n? 2.622, de 18-10-55, e com o art. 10 dos servidores civis da União será
e parágrafos do Decreto-Lei n? 1.256, feito à base do que perceberem os
de 26-1-73, situação não desconsti- servidores em atividade, a fim de
tuida pelo Decreto-Lei n? 1.325, de que seus proventos sejam sempre
26-4-74. atualizados». (Fls. 377).
646 R.T.J. — 108

Mesmo principio é afirmado em cional, nem opostos embargos de de-


decisões do Supremo Tribunal Fede- claração tendentes a provocar seu
ral, v g, acórdão de que foi relator o explicito exame e incidência sobre
saudoso Ministro Rodrigues Alckmin os fatos da causa. (Súmulas 282 e
no RE n? 72.383 e o de que foi relator 356).
o eminente Ministro Bilac Pinto no Isto posto, não conheço do recurso.
RE n? 71.072. (Fls. 377/8).
E o meu voto.
É o relatório.
EXTRATO DA ATA
VOTO
RE 95.071-114I — Rel.: Min. Decio
O Sr. Ministro Dedo Miranda, Miranda. Rectes.: João Torres da
(Relator): Proferida a decisão recor- Silva e outros (Adv.: Joaquim Passi-
rida em data de 2-12-80, incide o re- domo). Recda.: União Federal.
curso, a ela oposto, no óbice do art.
325, IV, d, do Regimento Interno, Decisão: Não conhecido. Unânime.
concernente aos litígios em que não Falou pelos Rectes.: o Dr. Joaquim
se chegue à discussão do direito à Passidomo.
constituição ou subsistência da rela- Presidência do Senhor Ministro
ção jurídica fundamental, no empre- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
go público. Senhores Ministros Moreira Alves,
Não exclui o óbice a menção ao Decio Miranda, Aldir Passarinho e
art. 153, 3?, da Constituição, seja Francisco Rezek. Subprocurador-
porque apenas referido para fortifi- Geral da República, Dr. Mauro Leite
car a inovação básica da Lei n? Soares.
2.622, de 18-10-1955, seja porque não Brasília, 11 de outubro de 1983 —
ventilada, no acórdão recorrido, a Hélio Francisco Marques, Secretá-
aplicação da referida regra constitu- rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 95.103 — RJ


(Primeira Turma)
Relator: Q Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Rede Ferroviária Federal S/A (Superintendência Regional
Rio de Janeiro) — Recorrido: Sebastião Luiz da Silva.
Responsabilidade civil. Acidente de trem. O dano moral causado
por conduta ilícita é indenizável, como direito subjetivo da própria
pessoa ofendida, qual sucede no caso de lesão corpórea deformante,
que resulte do acidente, a teor do art. 21, da Lei n? 2.681/1981. Prece-
dentes do STF. Hipótese em que o autor é a própria vítima e a recor-
rente não demonstrou o dissídio pretoriano a fundamentar o recurso.
Súmula 291; Regimento Interno, art. 322. Recurso não conhecido.
ACORDA° julgamentos e notas taquigráficas, à
unanimidade, não conhecer do recur-
so extraordinário.
Vistos, relatados e discutidos estes
autos, acordam os Ministros da Pri- Brasília, 7 de maio de 1982 —
meira Turma do Supremo Tribunal Soares Mufloz, Presidente — Néri da
Federal, na conformidade da ata de Silveira, Relator.
R.T.J. — 108 647

RELATORIO permissivo constitucional, argüindo,


ainda, a relevância da questão fede-
O Sr. Ministro Néri da Silveira ral (fls. 85/92).
(Relator): Sebastião Luiz da Silva, Indeferido o processamento do
brasileiro, biscateiro, propôs ação de apelo derradeiro (fls. 98/99), subi-
indenização contra a Rede Ferroviá- ram os autos a este Tribunal, por
ria Federal S.A., visando a receber força do acolhimento parcial da ar-
pensões vencidas e vincendas, 13? güição de relevância, quanto ao dano
salário, FGTS, indenização por dano moral sofrido pelo ora recorrido, nos
moral e correção monetária, custas termos da decisão prolatada pelo
e honorários advocatícios, argumen- Conselho, em sessão realizada a 8-4-
tando que, a 6-2-1963, quando viajava 1981 (fls. 48, do apenso).
em composição da referida Empre-
Manifestando-se no feito, a douta
sa, «foi fortemente atingido, por um Procuradoria-Geral da República
objeto que não pôde ser identificado, opina pelo não conhecimento
vindo, em conseqüência, a sofrer sé- curso, em seu parecer de do re-
rias lesões» (fls. 2/5). fls.
121/123
Julgada procedente, em parte, a E o relatório.
ação (fls. 39/43), apelaram Autor e
Ré para o Tribunal de Alçada do Es-
tado do Rio de Janeiro, que, por in- VOTO
termédio da Segunda Câmara eivai,
deu provimento parcial á apelação
do Autor, em acórdão, que traz esta O Sr. Ministro Néri da Silveira
ementa (fls. 80/82). (Relator): Subiram os autos do re-
curso, por haver o Conselho acolhi-
«Responsabilidade civil de Es- do, parcialmente, a argüição de rele-
trada de, Ferro. Não exclui a res- vância, no que concerne ao dano mo-
ponsabilidade da transportadora se ral mandado incluir pelo acórdão, a
o passageiro, à falta de grade ou par da condenação da recorrente a
barras protetoras na janela do pagar lucros cessantes.
trem, põe a cabeça, inadvertida- Trata-se de hipótese em que a con-
mente, para o lado de fora, denação da Rede recorrente ao pa-
acidentando-se. Inexistência de gamento de dano moral se dá, não
prescrição qüinqüenal relativa- em favor de dependentes da vitima,
mente ás prestações vencidas. mas desta mesma. Ao fazê-lo, o
Concessão de verba autônoma pelo acórdão recorrido assim se funda-
«dano moral», negando-se a relati- mentou (fls. 81):
va ao «dano estético». Juros de
mora a partir da citação, por se «No que tange á verba destacada
tratar de culpa contratual. Verba pelo «dano moral», deve ele ser pa-
correspondente ao 13? salário. Ho- go. A sua indenização decorre do
norários fixados de acordo com a fato de que todo e qualquer dano
jurisprudência unânime do Egré- causado a alguém ou ao seu patri-
gio STF, correspondendo á Soma mônio, deve ser Indenizado, sendo
das prestações vencidas com uma o dano moral um dos mais impor-
anuidade das vincendas (art. 20, tantes. Não se trata de estabele-
3?, c/c o art. 260, ambos do CPC).» cer, aqui, o pretium, já que a dor
não tem preço, não pode ser ava-
Dai o presente recurso extraordi- liada em dinheiro, mas de se dar
nário, manifestado pela Rede Ferro- àquele que sofreu um dano físico
viária Federal S.A., com apoio no uma compensação, em contrapar-
art. 119, item III, letras a e d, do tida ao desgosto sofrido, atendendo
648 R.T.J. — 108

a uma profunda inclinação da na- E, pode-se dizer, uma forma


tureza humana, como realça Von obliqua de se atingir a reparação
Thur.». do dano moral, dadas as reações
Segundo a jurisprudência deste que suscita o pleno reconheci-
Tribunal, cumpre distinguir, em ma- mento do instituto. O que não é,
téria de indenização por dano moral, entretanto, possível é que se
quando esta é pleiteada pelos depen- acrescente à reparação, que, por
dentes ou parentes da vítima, ou por meios indiretos, compensa aque-
esta, quando sobrevivente do ato le dano, nova verba, a título de
ilícito indenizável. reparação do dano moral» (RTJ
No primeiro caso, assente é o en- 82/546 a 549).»
tendimento, segundo o qual não se A sua vez, no RE n? 84.748-RJ, o
acumulam a indenização por dano mesmo eminente Ministro Soares
patrimonial e indenização por dano Muiloz anotou:
moral. Assim, nos Recursos Ex- «No tocante à reparação do da-
traordinários n?s 84.748, a 10-4-1979, e no moral, a jurisprudência do Su-
85.127, a 3-4-1979, de ambos Relator; premo Tribunal Federal está unifi-
nesta Primeira Turma, o eminente cado no sentido de que não com-
Ministro Soares Mufioz, restou afir- provado, como no caso, que o filho
mada tal orientação. Consta da falecido percebesse salário e con-
ementa do último julgado referido: tribuísse para o sustento da mãe,
«Morte de menor que caiu do na indenização, a ela concedida,
trem onde viajava. Na indenização está compreendido o direito poten-
concedida aos pais, pelo prejuízo cial a alimentos, com o que já se
presumível decorrente da morte está a ressarcir o próprio dano mo-
de filho menor, está incluido o res- ral (RE n? 83.168).»
sarcimento do dano moral resul-
tante do mesmo fato.» Nesse mesmo sentido, as decisões,
dentre outras, nos Recursos Extraor-
Em seu douto voto, no RE n? dinários n?s 83.168, 91.165 e 95.906-8-
85.127, o ilustre Ministro Soares Mu- RJ.
foz sinalou:
«No que concerne à indenização Cuidando-se, todavia, de postula-
por dano moral, embora exista a ção da própria vítima de acidente de
divergência jurisprudencial indica- estrada de ferro, tem a jurisprudên-
da, a orientação reiterada do Su- cia admitido a cumulação com lu-
premo Tribunal Federal foi multo cros cessantes da indenização por
bem exposta em voto do eminente dano moral.
ministro Bllac Pinto, adotado por Nessa linha, no RE n? 83.766, a Se-
esta Turma, no RE n? 83.873, rela- gunda Turma, a 17-5-1976, Relator o
tado pelo eminente Ministro Eloy ilustre Ministro Moreira Alves, em-
da Rocha: bora reiterado o entendimento, no
«A construção jurisprudencial que concerne aos parentes da viti-
do Supremo Tribunal Federal no ma, qual está na ementa:
sentido da indenização pela mor- «Dano moral. Responsabilidade
te de filhos menores, em decor- civil de estrada de ferro.
rência de ato ilícito, inspirou-se
no princípio da reparação do da- Em caso de morte, não é acumu-
no moral (RE n? 50.940, in RTJ lável com lucros cessantes. Exege-
39/3; RE n? 59.111, in RTJ 41/844; se do art. 1.537 do C. Civil combi-
RE n? 65.281, in RTJ 47/279; RE nado com o art. 21 da Lei n? 2.681,
n? 64.771, in RTJ 56/783). de 7-12-1912».

R.T.J. — 108 699

in RTJ, vol. 79, pág. 298, restou es- do juiz, a todos aqueles aos quais
tabelecida a distinção acima propos- a morte do viajante privar de ali-
ta. Afirmou o eminente Ministro Mo- mento, auxílio ou educação.» (in
reira Alves: RTJ, vol. 79/301)
«E certo, por outro lado, que a No RE n? 83.978-RJ, esta Turma, a
Lei n? 2.681, de 7-12-1912, que disci- 3-6-1981, Relator o Senhor Ministro
plina a responsabilidade civil das Antonio Neder, decidiu em acórdão,
estradas de ferro, admite a repara- de cuja ementa consta:
ção de danos morais cumulados
com danos patrimoniais, em seu «2. Os artigos 1.538, 1539 e 1.548,
art. 21, cujo teor é este: todos do Código Civil, não confe-
rem aos pais, ou mesmo aos fami-
«No caso de lesão corpórea ou liares de quem haja sido vitimado
deformante, à vista da natureza por conduta ilícita de outrem, o di-
da mesma e de outras circuns- reito subjetivo à indenização pelo
tâncias, especialmente a invali- dano moral, ou pela dor que sofre-
dade para o trabalho ou profissão ram com o falecimento do filho, ou
habitual, além das despesas com do familiar, visto que tais regras
o tratamento, e os lucros cessan- concedem esse direito somente à
tes, deverá pelo juiz ser arbitra- pessoa ofendida, e isto no caso de
da uma indenização convenien- lesão corpórea deformante, como
te.» decorre do art. 21 da Lei n? 2.681
A hipótese nela tratada, porém, de 7-12-1912, que dispõe sobre a
é a de dano moral em favor da responsabilidade civil das empre-
própria vitima, tanto que diz res- sas ferroviárias.
peito o dispositivo apenas no caso Precedente do STF sobre a
de lesão corpórea ou deformante. matéria.
Visou esse artigo, sem dúvida, a Discussão a respeito de ser
reparar, também, o pretluxn indenizável o dano moral sofrido
doloris da vitima, a carregar con- pelo pai de quem foi vitimado em
sigo pelo resto de sua vida, as con- acidente ferroviário».
seqüências maléficas da lesão so-
frida. Essa circunstância já afasta- Em seu voto, observou o ilustre Mi-
ria a analogia com a situação do nistro Antonio Neder
beneficiário no caso de morte, hipó- «Estou em que o dano moral
tese em que a dor dos que ficam se causado por conduta ilícita é inde-
esmaece com o tempo. Ademais, nizável como direito subjetivo da
as próprias razões, que moveram o pessoa ofendida, isto é, no caso de
legislador a adotar o principio rígi- lesão corpórea deformante sofrida
do do art. 1.537 do Código Civil, em pela pessoa ofendida, como decor-
casos mais graves do que o de re do artigo 21 da Lei n? 2.681, de 7-
morte decorrente de acidente, es- 12-1912, que dispõe sobre a respon-
tão a afastar qualquer tentativa de sabilidade civil das empresas fer-
aplicação analógica de preceito roviárias.»
que visa atender a outras cir-
cunstâncias'. E tanto é isso verdade Noutro passo de seu pronuncia-
que, em hipótese de morte, a pró- mento, afirmou:
pria Lei n? 2.681, no artigo 22, se «Parece contraditório que se ad-
adstringe a danos patrimoniais: mita indenizar-se o dano moral no
«No caso de morte, a estrada caso de lesão deformante e não se
de ferro responderá por todas as permita solução idêntica para o ca-
despesas e indenizará, a arbítrio so de homicídio.
650 R.T.J. — 108

Todavia, não há contradição no crânio, das quais resultaram abalo


caso. psíquico e incapacidade para o tra-
É que o dano moral sofrido pelos baho, embora não se tivesse podido
familiares ou parentes da pessoa determinar a extensão desses ma-
vitimada tem duração limitada. les, porquanto o MM. Juiz relegou
para a execução a realização da
As pessoas que conviviam com a perícia médica (fls. 41).
vítima (pais, irmãos, etc), sofrem
a dor produzida por seu falecimen- Ora, segundo jurisprudência des-
to, não porém uma dor constante, ta Excelsa Corte, «o direito positi-
permanente, visto que ela desapa- vo brasileiro só permite a indeniza-
rece ao fim de alguns meses, ao ção pelo dano moral à pessoa mes-
passo que a pessoa que sofreu le- ma que haja sofrido lesão corpórea
são deformante, como seja o am- deformante e não a seus pais ou a
putar as pernas, ou os braços, ou seus familiares» (RE n? 83.978, In
que perdeu a visão, essa pessoa, é DJ de 1-7-80, pág. 4.945, relator o
claro, sofre permanentemente as Exmo. Sr. Ministro Antonio Ne-
conseqüências de tais lesões defor- der).
mantes. Para justificar, na espécie, a im-
Estas devem ser indenizadas posição da verba a título de dano
quanto ao dano material e também moral, o v. acórdão recorrido con-
quanto ao dano moral, porque os siderou a necessidade de «dar
dois prejuízos coexistem e perdu- àquele que sofreu um dano físico
ram, ao passo que a outra nem uma compensação, em contrapar-
sempre se configura (pois há os tida ao desgosto sofrido», para
que não choram seus mortos) e com isso atender «a uma profunda
nunca perdura (porque ao fim de inclinação da natureza humana»,
alguns meses ela desparece).» consoante a lição de Von Thur que
Pois bem, no caso concreto, o re- invoca (fls. 81).
curso extraordinário invoca, no par- Por conseguinte, não está em
ticular, dissídio pretoriano, havendo causa a indenização do dano moral
a recorrente, entretanto, referido por solicitação dos beneficiários da
arestos, que tem por divergentes, vítima a título de pretium doloris,
apenas, por suas ementas, inclusive, porque, como se sabe, incomensu-
dois deste Tribunal, nos RREE n?s rável monetariamente o preço da
90.646-1-RJ e 83.244 (fls. 91/92 e 93), dor. Cuida-se, antes, de verba con-
sendo que, no último, consoante se cedida a pedido da própria vítima,
vê da enunciação das partes, cogita- como indenização pelos defeitos
se da primeira hipótese. físicos e alterações psíquicas que
Dessa maneira, não atende o re- lhe acarretou o acidente.
curso à Súmula 291, como bem sus- E ao fundamentar seu recurso
tentou o parecer da ilustrada extraordinário, na parte alusiva ao
Procuradoria-Geral da República, às dano moral, a recorrente trouxe a
fls. 122/123, verbis: confronto arestos transcritos ape-
«Não nos parece, todavia, esteja nas por ementas sucintas, a dize-
o apelo, no ponto questionado, a rem simplesmente ser inindenizá-
merecer acolhimento. vel o dano moral.
É que, na hipótese em comento, Tal, entretanto, não basta, a nos-
indenização pelo dano moral foi re- so ver, à caracterização do dissídio
querida pela própria vitima em que, segundo os ditames regimen-
conseqüência de lesões sofridas no tais há de ser demonstrado com a

R.T.J. — 108 651

menção das circunstâncias capa- Federal S/A. (Superintendência Re-


zes de assemelhar ou identificar os gional — Rio de Janeiro). (Advs.:
casos cotejados (Súmula 291). Everardo de Andrade Corrêa e ou-
Dos arestos trazidos à balha não tros). Recdo.: Sebastião Luiz da Sil-
é possível identificar um que fosse, va. (Advs.: Marco Aurélio Monteiro
onde a verba referida a titulo de de Barros e outros).
dano moral tivesse sido requerida
pela própria vitima de lesões de- Decisão: Não conheceram do re-
formantes, hipótese em que a ju- curso. Decisão unânime.
risprudência maior entende
possível a indenização. Presidência do Senhor Ministro
Nestas condições, à mingua da Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
divergência apontada, o parecer é Senhores Ministros Rafael Mayer,
pelo não conhecimento da irresig- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
nação derradeira.» Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
Do exposto, não conheço do recur- da República, Dr. Francisco de As-
SO. sis Toledo.
EXTRATO DA ATA Brasília, 7 de maio de 1982 —
RE 95.103-RJ — Rel.: Min. Néri da António Carlos de Azevedo Braga,
Silveira. Recte.: Rede Ferroviária Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 95.230 — MS


(Segunda Turiúa)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Recorrente: REMAT — Comércio e Representações Ltda. — Recorridos:
Daniel Inácio de Souza e sua mulher.
Qualificação Jurídica de contrato. Caracterização da sociedade
em conta de participação de natureza civil.
Inexistência de negativa de vigência do artigo 85 do Código Ci-
vil, porque, no caso, não se discute interpretação de cláusulas contra-
tuais, mas, sim, se o contrato em causa se enquadra, objetivamente,
no tipo legal da sociedade em conta de participação.
No caso, tendo em vista a não-ocorrência de elementos essen-
ciais à configuração da sociedade em conta de participação (a não-
transferência da propriedade do imóvel à parte contratante incumbi-
da da venda, e a responsabilidade perante terceiros, não desta, mas
de outra), não se negou vigência, também os artigos 325 do Código
Comercial, 1.364 do Código Civil e 267, VI, do Código de Processo Civil.
Dissídio de jurisprudência não demonstrado.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO Federal, na conformidade da ata do
Vistos, relatados e discutidos estes julgamento e das notas taquigráfi-
autos, acordam os Ministros da Se- cas, por unanimidade .de votos, não
Bunda Turma do Supremo Tribunal conhecer do recurso.
652 R.T.J. — 108

Brasília, 24 de novembro de 1981 — da ação proposta, porque o contra-


Djaci Falcão, Presidente — Moreira to refere-se a uma sociedade co--
Alves, Relator. mercial e assim caberia somente a
ação de dissolução e liquidação da
RELATÓRIO sociedade; que não têm interesse
de agir por que o mandato já foi
O Sr. Ministro Moreira Alves: extinto pela notificação judicial,
este o teor da sentença de primeiro admitindo-se — com os AA — que
grau (fls. 265/272): o contrato refere-se a prestação de
serviços de administração median-
«Daniel Inácio de Souza e sua es- te mandato. No mérito sustenta
posa Odete Roriz de Souza, brasi- que nunca deixou de remeter os
leiros, casados, residentes no Rio numerários aos AA, via ordem
de Janeiro, à rua Aires Saldanha, bancária, e que a auditoria realiza-
76, apartamento 1.106, via de advo- da não tem efeito jurídico algum;
gado, propõem a presente ação or- que a Ré nunca lhes deu cheque
dinária de rescisão de contrato sem fundos; que os lotes foram
contra a Remat — Comércio e Re- vendidos a prazo, mas com a pré-
presentações Ltda. — empresa co- via e expressa combinação dos só-
mercial com sede nesta cidade, à cios, ocorrendo que os AA, sempre
rua Maracaju, 892, aduzindo os se- estavam em C. Grande para tais
guintes argumentos de fato e de di- acertos; que a Ré investiu cerca de
reito: que em 12-8-74 os AA. cele- Cr$ 3.500.000,00 na sociedade e que
braram com a Ré contrato impro- não é verdade tenha a Ré recebido
priamente denominado de socieda- corretagem às escondidas dos AA.
de em conta de participação, tendo Juntaram à resposta os docs. de
por objeto o loteamento e venda à fls. 131. As fls. 133 manifestaram-
prestação de uma gleba de terras se os AA. dizendo que se trata de
na «Fazenda Serradinho», nesta ci- um contrato de empreitada e que a
dade, de propriedade dos AA, ten- resposta foi apresentada fora do
do estes entregues de imediato a prazo trazendo ainda os docs. de
administração da gleba à Ré, cum- fls. 140/161. As fls. 166 a Ré trepli-
prindo a sua prestação, cou. Vários documentos foram sen-
outorgando-lhe um mandato para do juntados pelas partes, inclusive
tal finalidade; que os AA. foram o de fls. 221 sobre o qual disseram
obrigados a revogar o mandato em os AA às fls. 248. As fls. 263 o des-
face da Ré inobservar o contrato, pacho acolhendo como tempestiva
praticando abuso de direito e até a contestação. Relato. Decido.
apropriando-se indebitamente das
importâncias recebidas dos presta- 1. Trava-se nos autos intensa
mistas; que em auditoria realizada pugna com a finalidade de se ca-
nos assentamentos das vendas e racterizar o contrato celebrado en-
recebimentos foram verificadas tre as partes: de empreitada ou de
várias falhas da Ré, tais como as sociedade.
relacionadas nas letras a, b, c, d e Antes de mais nada entendo que
e do item 7? da inicial; que os AA. as vontades das partes há de fun-
cumpriram a sua parte, podendo cionar nessa luta como um rumo,
exigir o cumprimento da obrigação uma direção a ser seguida. A con-
da Ré e mais as perdas e danos dai venção das partes seria, assim, a
decorrentes. Acostou ao pedido os primeira lei que os contratantes a
documentos de fls. 6/112. A Ré con- si próprios impuseram como nor-
testou às fls. 118 argüindo duas ma a observar. Quiseram as par-
preliminares que os AA. carecem tes, desenganadamente, celebrar

R.T.J. — los 653

um contrato de sociedade em conta forma que elas se defrontam e sim


de participação: mandaram f aze.- pela índole das operações que se
lo, buscaram a prévia assistência propõem a realizar.» O Objeto é o
jurídica e, finalmente, assinaram- critério dominante. Se esse objeto
no. Portanto, quando firmaram o é a prática de atos de comércio a
contrato, queriam e desejavam as- sociedade é comercial.» A essência
sinar ou firmar exatamente aquilo da sociedade é repartir lucros; a
que haviam encomendado, ou seja, da associação é reunir e congraçar
uma sociedade. Tanto assim que o esforços». Não basta porém, em
rotularam como sociedade em con- absoluto, que o contrato dê o nome
ta de participação, uma sociedade de sócio para que como tal seja
comercial. Assim, pelas partes e considerado todo aquele que iter-
com as partes temos uma socieda- vém no contrato. É essencial para
de comercial. Não seria correto — isso que haja uma participação nos
para nenhum dos contratantes — lucros e perdas e entrada de capi-
posteriormente à assinatura do tal, em dinheiro ou em indústria,
contrato, consciente e livre, vir a como veremos dentro em. Pouco».
juizo para «desdizer» — contra a
outra — o que foi celebrado em Assim, quem encarrega a ou-
conjunto, de modo expresso e enco- trem de vender quaisquer efeitos
mendado. Se os AA. desejavam por um preço prefixado, convencio-
empreitada, não deviam assinar nando que o vencedor faça seu o
um contrato de sociedade em conta excesso que obtiver na venda,
de participação. constitui um mandatário e não um
sócio, ainda que como tal o deno-
Poder-se-ia recordar aqui o mine. Grifo nosso. O que caracteri-
principio Nemo auditor propriam za essencialmente as sociedades
turbitudinem allegans. comerciais, tanto quanto as civis, é:
2. Abstraindo-nos, entretanto, a) a intenção de lucro: to) a parti-
desse prisma, podemos adentrar lha das perdas e ganhos.
na análise das cláusulas contra-
tuais firmadas para, então, che- O que se falar quanto á cláusula
garmos a uma conclusão. Antes, XV do contrato sub judice?
porém, cabe um intróito a respeito
da sociedade comercial e mais pre- J. X. Carvalho Mendonça em seu
cisamente sobre a sociedade em Tratado de Direito Comercial
conta de participação e sua disso- Brasileiro, Vol. III, pág. 14, ao es-
lução. tudar as noções gerais sobre o con-
trato de sociedade comercial, lem-
Manuel Inácio Carvalho Mendon- bra a todos que: «A sociedade co--
ça em seu Contratos no Direito mercial surge do contrato median-
Civil Brasileiro, Tomo II, pág. te o qual duas ou mais pessoas se
186, ao estudar a sociedade nos obrigam a prestar certa contribui-
deixa inúmeros elementos doutri- ção para um fundo, o capital so-
nários. Diz-nos: «a cogitação do cial, destinado ao exercício do co-
lucro e dos interesses materiais mércio, com a intenção de parti-
constitui o fim principal da maior lhar os lucros entre si». Da noção
parte da sociedade.» A diferença que ai fica, apura-se desde logo es-
única da sociedade civil e comer- ta singularidade: os sócios coope-
cial repousa no fim definitivo, no ram para o escopo comum, e, em
intuito de comércio da última, isto lugar dos interesses antagônicos ou
é, no exercício de ato de mediação opostos, que se observam nos ou-
com intuito de lucro». Não é pela tros contratos, no de sociedade, to-
654 R.T.J. —108

dos os sócios se esforçam para o pessoas, das quais uma pelo


mesmo resultado, no qual estão menos deve ser comerciante (a
empenhados». Remat), para a prática de uma ou
Na espécie qual seria o fim co- mais operações de comércio deter-
mum: venda dos lotes em forma de minadas (vendas dos lotes), traba-
loteamento, cláusula II. Tanto os lhando um, alguns ou todos os as-
AA. quanto a Ré empenharam-se sociados em seu nome individual
para esse resultado. Partilhariam para lucro comum (partilha de
o quê: o dinheiro apurado das ven- 50%). Grifos nossos. Temos aí a
das à vista ou a prazo, cláusula noção muito clara dessa socieda-
XV, em partes ideais. Quanto mais de». Há nessa sociedade duas cate-
vendessem lotes, mais poderiam gorias de sócios. Os sócios que se
partilhar. comunicam com terceiros, adqui-
rindo direitos e assumindo obriga-
Qual seria, in casu, o interesse ções em nome próprio, conquanto
antagônico ou oposto entre os AA. no interesse de todos, são chama-
e a Ré? Ckaincle? dos sócios-gerentes ou ostensivos.
3. O festejado Mestre, no volu- Os outros se denominam sócios
me IV do mesmo tratado, pág. 223, ocultos ou participantes. «A socie-
disseca para nós todos a sociedade dade não existe externamente.
em conta de participação. Leciona, Quem exerce o ato de comércio é o
verbl gratia, que: «O fato econômi- sócio ostensivo em seu nome indi-
co da participação é um dos mais vidual e por conta própria. Não po-
conhecidos e valiosos no círculo do de, conseguintemente, deixar de
comércio. O interesse de amparar ser comerciante».
os riscos que oferecem certas em- Adiante, o Mestre indaga-se: «Se-
presas, o desejo ou a necessidade rá realmente essa figura uma so-
de ocultar o próprio nome em tran- ciedade comercial? Tal questão há
sações ou operações mercantis, a sido muito discutida na doutrina
conveniência de poupar despesas negando-se-lhe o qualificativo de
com a organização de uma das for- sociedade pelo fato de não ter ela
mas de sociedades dotada com um fundo próprio autônomo».
personalidade, a urgência da ope-
ração que não permite o cumpri- E o próprio J. X. Carvalho
mento de múltiplas, de demoradas Mendonça nos responde:
formalidades, a natureza do negó- «Responde-se, porém, que sendo
cio que exige absoluta reserva, a sociedade o emprego de forças,
etc., tudo isso justifica a combina- de capitais para um fim comum, a
ção, denominada sociedade ou, se- sociedade em conta de participa-
gundo outros, associação em conta ção satisfaz essa exigência, pouco
de participação, a qual, não obs- importando a situação jurídica dos
tante conter reunidos os recursos capitais».
pecuniários de mais de uma pes- E sobre a dissolução dessas so-
soa, não aparece, ao menos juridi- ciedades, mostra-nos um caminho:
camente, nas relações para com «As sociedades em conta de parti-
terceiro ao contrário, as transa- cipação dissolvem-se pelos mes-
ções e operações, objeto dessa mos motivos que as outras socieda-
combinação, realizam-se sob o no- des e especialmente quando se ter-
me e responsabilidade de uma só mina o negócio para que foi ela
pessoa, física ou jurídica.» instituída. A dissolução, porém,
«A sociedade em conta de parti- não é sujeita a registro e publicida-
cipação é a que se forma entre de, em virtude do caráter da socie-
— 108 655

dade, cuja existência é exclusiva- zando, em definitivo, a intenção


mente entre os que a formaram. primeira dos contratantes: uma so-
Esta dissolução não produz ne- ciedade em conta de participação.
nhum efeito vis-à-vis de terceiros. Dizer que lucros não havia por-
«Ainda pelo mesmo motivo, a dis- que era apenas uma transforma-
solução dessa sociedade não é se- ção do patrimônio imobiliário em
guida da liquidação e partilha, co- dinheiro com a diferença entre o
mo nas outras sociedades. Nas re-
lações entre os sócios dá-se somen- custo da aquisição e o valor da ven-
te um ajuste de contas sobre os lu- da resultando do aviltamento da
cros e prejuízos do negócio em- moeda e expansão urbana, não nos
preendido e a parte que em uns ou impressiona. Ora, o que são atos
outros toca aos respectivos sócios. de comércio senão a transforma-
Estas contas devem ser prestadas ção diária de patrimônio em di-
pelo sócio ostensivo aos participan- nheiro, em continuo circulo: de
tes.» Grito nosso. atos e objetos em dinheiro. De-
mais, qual seria o objeto da parti-
Observe-se que os AA. iniciaram lha prevista na cláusula XV? Lu-
a trilha certa ao procederem a au- cros ou prejuízos, em face do avil-
ditoria sobre as atividades da Ré tamento da moeda e expansão
no negócio entabulado. urbana. Não é sem motivo que
4. O contrato celebrado não se atualmente em nossa Capital o me-
identifica com a empreitada, em lhor negócio é exatamente este:
que pese o entendimento do sem- compra e venda de imóveis,
pre autorizado e cordial patrono principalmente para loteamento.
dos AA, porquanto na sociedade 5. Sem dúvida alguma que sen-
firmada encontramos a affectio do uma sociedade comercial como
societatis ou a intenção de reunir entendemos, haverá a dissolução
esforços para a realização do fim através da ação competente e ade-
comum, a ativa realização dos só- quada que continua à disposição
dos para o resultado que procura- dos interessados por força do art.
ram obter. A idéia visceral de toda 1.218, VII do CPC atual.
sociedade está na colaboração ati-
va, consciente e igualitária dos Para ilustrar, temos um julga-
contratantes para a realização do mento reconhecendo a carência da
lucro a partilhar. Temos no caso o ação proposta.
fim comum do contrato — a venda «Aquele que pretende retirar-se
dos lotes sob forma de loteamento; de sociedade tem à sua disposição
temos o esforço e a colaboração a ação própria de dissolução ou de
dos contratantes — um na adminis- apuração de haveres, mas nunca a
tração e outro mais distante, mas prestação de contas». TJSP, em 18-
indo e vindo do Rio a Campo Gran- 2-75. Rel.: Des. Ganias Vinhaes.
de para acompanhar o negócio em Comarca de Lins. In Jurisprudên-
andamento; temos o produto das cia das Sociedades Comerciais,
vendas, o. dinheiro, a ser partilha- pág. 430, de R. Limongi França.
do em partes iguais de 50% para
cada sócio. Em face de todos os elementos
constantes dos autos e após análise
Reconheço que o contrato traz — minuciosa da matéria colocada em
vez ou outra — linhas que fazem debate, reconheço a procedência
lembrar uma empreitada, mas a da primeira preliminar argüida pe-
idéia, a vontade, o intuito de uma la Ré e nos termos do art. 267, VI
sociedade se sobrepõe, caracteri- do CPC extingo o processo, sem
656 R.T.J. — 108

apreciação do mérito, condenando d) sendo uma sociedade comer-


os AA. nas custas do processo e ho- cial, não estaria sujeita à resci-
norários que fixo em 15% sobre o são, mas à dissolução, pela ação
valor da causa nos termos do art. apropriada;
20, § 4? do mesmo Código.» 4. depois de anotar o tratamen-
Deu-se, porém, provimento à ape- to diferencial dado pelo juiz a quo
lação dos autores, ora recorridos, à apelada, o recorrente-varão pro-
por acórdão, onde se lê: curou demonstrar a insubsistência
«Daniel Ignácio de Souza e sua dos fundamentos da sentença, ar-
mulher, qualificados nos autos, in- gumentando:
conformados com a sentença pro- 4.1. inexistir sociedade, porque
ferida pelo MM. Doutor Juiz de Di- o que a caracteriza.«não é a parti-
reito da Sexta Vara Cível da Co- lha de ingressos em dinheiro, mas
marca da Capital, extinguindo, a finalidade comum e a comparti-
sem julgamento do mérito, o pro- cipação de lucros e prejuízos entre
cesso que movem à firma Remat as partes», o que não ocorre na es-
— Comércio e Representações pécie;
Ltda. igualmente qualificada, ma- 4.2. inexistir, também, a socie-
nifesiaram recurso de Apelação dade em conta de participação, por
(fls. 275), pedindo o reexame e a não constituir a venda de lotes à
reforma do decidido, por razões as- prestação «operação de comércio»,
sim sintetizadas (fls. 276-287): como foi qualificada na sentença, e
Em 12-8-1974, apelantes e porque «receita bruta» não é lucro
apelada celebraram um contrato e, se o contrato retratasse uma so-
para loteamento e venda à presta- ciedade em conta de participação,
ção de uma área de sua proprieda- os atos de comércio — na espécie a
de há mais de vinte anos, via de venda de lotes — seriam pratica-
herança, e o mencionado contrato dos pelo sócio ostensivo, o comer-
foi impropriamente denominado de ciante, In casta a Remat, mas o
contrato de sociedade em conta de contrato padrão, mandado confec-
participação; cionar pela apelada, consigna a
trata-se, contudo, de contrato sua condição de «encarregada de
bilateral e, tendo a apelada deixa- vendas e administração», agindo
do de adimplir várias de suas obri- como mandatária, em nome dos
gações, quando os recorrentes apelantes, que firmavam tais com-
cumpriram as suas, viram-se na promissos. Por último, no contrato
contingência de pedirem a rescisão firmado, a apelada aparece como
do contrato com perdas e danos, prestadora de serviços, sendo re-
para cobrirem-se dos prejuízos munerada por seu trabalho, e re-
causados pela recorrida e a serem muneração de trabalho não é lu-
apurados em liquidação de senten- cro;
ça; 4.3. por não ser sociedade co-
3. a sentença apelada, extin- mercial, já que esta pratica atas
guindo o processo, assentou: dei comércio e estes ~sistem•°
compra e venda de bens móveis;
ser de sociedade o contrato
em causa; 4.4. por injuridica a afirmação
da sentença de ser própria para o
tratar-se de sociedade em desfazimento da sociedade em con-
conta de participação; ta de participação a ação de disso-
c) ser comercial a sociedade lução, pois que esta tem por finali-
contratada; dade a liquidação judicial, quando

R.T.J. — 108 657

a dissolução desta sociedade não é fiações marcadas pelo sinalagma e


seguida de liquidação e partilha, por carecer de outros característi-
segundo ensina Carvalho de Men- cos daquela, na verdade configura,
donça (JX), sendo incongruente ou apenas, um contrato bilateral
ineficaz a recomendação contida atípico.
na decisão apelada; Cumpre, pois, examinar se é fun-
4.5. e, por final, porque a deci- dada e jurídica a ilação da senten-
são da instância singela, apegando- ça de que o contrato firmado pelos
se à literalidade do vocábulo, não litigantes tipifica uma sociedade
se apercebeu de que rescisão e dis- ou um contrato bilateral, entendido
solução podem ter o mesmo valor aquela como contrato plurilateral,
semântico. como sustentam alguns doutrina-
Acostaram ao recurso os docu- dores.
mentos de fls. 288/291. Devo dizer que, apesar do respei-
Contraminutando o recurso, a to e admiração que voto, desde há
apelada defendeu os fundamentos muito, pelo jurista e homem públi-
do decisum apelado e procurou re- co singular que o subscritor do pa-
bater os argumentos da apelação recer de fls. 02/44 encarna, devo
(fls. 293/310). também discordar de S. Exa.
Requereu, depois, a juntada de quando entendeu que o contrato
parecer, tendo sido deferido, em exame tipifica uma sociedade
juntando-se por linha. civil.
É o que mereceria anotação. Iniciemos pela conceituação de
sociedade, buscando o auxilio dos
A douta revisão. doutos. Cunha Gonçalves lembra
que o Código Civil Português ante-
Voto rior, no seu art. 1.240, definia o
O Sr. Des. Leão Neto do Carmo contrato de sociedade como
(Relator): Egrégia Turma. «aquele em que duas ou mais
Ao proferir a decisão recorrida, pessoas convencionam pôr em
teve o juiz como premissa maior a comum todos os seus bens ou
norma legal que impediria às so- partes deles ou simplesmente a
ciedades comerciais dissolverem- sua indústria, ou bens e a indús-
se pela via da rescisão do contrato tria conjuntamente, com o intuito
constitutivo; como premissa me- de repartirem entre si os provei-
nor, que o contrato confortador da tos ou as perdas que possam re-
inicial da ação de rescisão, de fls. sultar dessa comunhão.»
36 usque 38 v., tipifica uma socie-
dade comercial, da espécie em E aduz mais:
«conta de participação», concluin- «Esta noção, porém, não é in-
do, em consequência, ser o casal teiramente satisfatória, porque
autor, ora apelante, carecedor da nenhuma sociedade existe em
ação proposta. que todos os sócios se limitem a
A inconformidade dos recorren- pôr em comum os seus bens.
tes está, principalmente, no enten- indispensável que algum ou al-
dimento dado pelo douto julgador guns deles os administrem e os
da instância singela de que, no façam frutificar, de sorte a resul-
contrato referido, se teria conven- tarem deles os lucros visados no
cionado uma sociedade comercial, contrato. Os lucros e perdas a
apesar de nomeada como tal, posto partilhar não podem resultar, ja-
que, estatuindo um elenco de obri- mais, da simples comunhão.
658 R.T.J. — 108

Há sempre um negócio, uma vo em relação a outros negócios


exploração, uma actividade lu- jurídicos em que intervém a par-
crativa, em que são empregados ticipação para o resultado.
os bens e a indústria postos em d) os fins comuns, que não
comum. Esta exploração, este contituem tão-somente um objeti-
negócio, é que constitui o intuito vo social, mas erigem-se em ra-
da sociedade, porque só os sócios zão determinante de sua própria
isoladamente, não podiam constituição, como se vê da defi-
realizá-lo.» (in Tratado de Direi- nição legal, e polarizam a coope-
to Civil, vol. VII, Tomo I, pág. ração dos sócios. (Conforme C.
224, 1? ed. Brasileira, Max Limo- M. da Silva Pereira, Instituições
nad). (sic). de Direito Civil, Vol. III, pág.
Carvalho de Mendonça define a 394, Forense, 1975).
sociedade como: E o citado autor, no caracterizar
os dois últimos elementos, adita
«um contrato consensual, em que a affectio:
virtude do qual duas ou mais pes-
soas colocam uma coisa, que é «Não reside no propósito ape-
ordinariamente o dinheiro, em nas de cooperar, porém na inten-
comum, com o intuito de parti- ção de contribuir para o proveito
lhar os benefícios honestos que comum. Sem embargo de auto-
resultarem de seu emprego.» (in res modernos que o negam ou
Contratos no Direito Civil que silenciam a seu respeito
Brasileiro, MI, Vol. II, pág. 187, (Georges Ripert), outros igual-
For., 1957). mente modernos afirmam a sua
existência.»
O cumpulsar os autores nacio- E acrescenta ser o último, os
nais a partir de- Clóvis, chegando fins comuns, o traço distintivo en-
aos atuais, tais como Arnold tre a sociedade e
Wald, Franzen. de Lima, Caio Má-
rio da Silva Pereira, W. de Barros «negócios ou contratos parciários
Monteiro, Silvio Rodrigues e Orlan- em que uma pessoa promete
do Gomes, mostra haver certo con- uma prestação a outra em troca
senso na conceituação que, afinal, de uma vantagem, como, ex. gr .,
aparece no art. 1.363 do Código Ci- o escritor ou compositor que cede
vil. ao editor a composição da obra
Partindo das definições, todos em troca de participação na ven-
identificam na sociedade os seguin- da» (idem, fls. 395).
tes elementos essenciais à sua Prescindiria a sociedade nomea-
existência: da no contrato desses elementos.
a permanência de duas pes- essenciais? Responde a apelada,
soas pelo menos, uma vez que o concordando com os apelantes nes-
pressuposto legal de sua existên- se ponto, que não. Com efeito, lê-se
cia é a combinação de esforços e no parecer do E. Prof. Alfredo Bu-
recursos de mais de uma pessoa; zald, apensado por linha, a reque-
rimento da apelada:
a combinação de esforços «Ressaltam ainda os autores
ou recursos e a cooperação dos que a sociedade em conta de par-
associados para o fim comum; ticipação não tem personalidade
c) a affectio societatis, que é o jurídica, não tem firma nem ra-
fator psíquico fundamental na zão social, não tem sede ou do-
definição da sociedade, e distinti- micilio, não tem capital, con-

R.T.J. — 108 659

quanto possa haver um fundo so- «A constituição da sociedade


cial, e não pode ser declarada fa- em conta de participação inde-
lida (cf. Carvalho de Mendonça, pende de qualquer formalidade e
ob. cit., vol. IV, n? 1.430; Afonso pode provar-se por todos os
Dionísio Gama, Das Sociedades meios de direito.» (art. n? 1.029).
Civil e Comerciais, 2 ed., pág.
246 e segs.; Carlos Guimarães de «O contrato social produz efeito
Almeida, ob. cit., pág 7; Jean somente entre os sócios, e a
Escarra, Edouard Escarra e eventual inscrição de seu instru-
Jean Rault, Les sociétés mento em qualquer registro não
commerciales, vol. I, n? 479; João confere personalidade jurídica à
Eunápio Borges, Curso de direito sociedade.» (art. 1.030).
comercial terrestre, vol. II, pág. Parece-me, pois, haver um con-
104); mas ela supõe a affectio senso em torno da presença desses
societans e a obrigação de com- elementos nas sociedades e dos
binar esforços ou recursos (Mau- quais não estaria dispensada a so-
ro Brandão Lopes, ob. cit., págs. ciedade em conta de participação,
60 e seguintes).» (in apenso, pág. seja ela de natureza civil, seja de
14). natureza comercial.
Portanto neste tipo de sociedade Aqui peço vênia para interrom-
também se distinguiria o elemento per momentaneamente a linha da
pessoal, a combinação de esforços exposição. Lembra Calo Mário da
ou recursos, a affectio e os fins co- Silva Pereira que as sociedades
muns, nos termos do art. 325 do apresentam requisitos subjetivos,
Código Comercial, literalmente, objetivos e formais (ob. cit.), e en-
«para lucro comum». tre os objetivos indica:
Esses mesmos elementos pode-
riam ser divisados no art. 1.018 do «A liceidade do objeto, bem co- -
Projeto de um Código Civil, de n? mo a sua possibilidade são exi-
634, de 1975, já no Congresso Na- gências necessárias á validade
cional, onde se definiu a sociedade da constituição de uma socieda-
da seguinte forma: de». (pág. 393).
«Celebram contrato de socieda- O Prof. Sílvio Rodrigues, lecio-
de as pessoas que reciprocamen- nando sobre os elementos essen-
te se obrigam a contribuir, com ciais do negócio jurídico, enumera
bens e serviços, para o exercido serem eles a vontade humana, o
de atividade econômica e a parti- objeto e a forma, assinalando que:
lha, entre si, dos resultados.»
E o mencionado diploma prevê a «O segundo elemento essencial
sociedade em conta de participa- tem a ver com a idoneidade do
ção nos artigos n? 1.028 e seguin- objeto, em relação ao negócio
tes, caracterizando-a desta forma: que se tem em vista. Assim só
será idôneo para o negócio de hi-
«Na sociedade em conta de poteca o bem imóvel, o navio ou
participação, a atividade consti- o avião. Os demais são bens ini-
tutiva do objeto social é exercida dôneos para serem objeto de
unicamente pelo sócio ostensivo, uma hipoteca; da mesma manei-
em seu nome individual e sob sua ra, só podem ser objeto de mútuo
própria e exclusiva responsabili- as coisas fungíveis, e de comoda-
dade, participando os dentais dos to as Infungiveis.» (In Direito
resultados correspondentes.» Civil, I vol. pág. 147, ed. Saraiva,
(art. 1.028). 1974).
660 R.T.J. — 108

Desta forma, não poderia ser convencionou-se a comparticipação


qualificado como de hipoteca o nos lucros ou a partilha do «lucro
contrato que, mesmo com tal no- comum»? Estaria isto estabelecido
me tivesse por objeto um artístico na tão lembrada cláusula XV do
aparador. Igualmente não poderia contrato? R, data venta, evidente
ser tida como comercial uma so- que não. Lucro, segundo anota Pe-
ciedade em que duas pessoas se dro Nunes, é:
reunissem para negócios de com-
pra e venda de imóveis, mesmo «Ganho resultante de toda ati-
que assim tivesse sido convenciona- vidade especulativa. Fruto apre-
do. Faltaria a tais contratos perti- ciável do trabalho economica-
nência objetiva. mente organizado. O crédito veri-
ficado numa operação mercantil
A invocação vem a propósito do isolada, ou num total de opera-
anotado tanto pela douta decisão ções, dentro de certo exercício fi-
recorrida como pela apelada, dos nanceiro, por ocasião do balanço
princípios informadores da inter- geral.» (in Dicionário de Tecnolo-
pretação dos contratos, no intuito gia Jurídica, vol. II, pág. 157, ed.
de qualificar o negócio jurídico F. Bastos, 56).
contratado pelos litigantes.
Parece-me, data venta, de todo im- Pressupõe, pois, a apuração da
pertinente a busca da vontade dos receita e despesas e resultará da
contratantes, posto que, se este diferença entre aquela e esta. Des-
fosse o objetivo, in casu o proble- ta apuração, de ordinário, poderá
ma seria extremamente simples, resultar um efeito positivo: será o
dado que as partes já teriam fixa- lucro; ou negativo: a perda. Por is-
do que o negócio seria sociedade so que se diz que na atividade co-
em conta de participação. Isto está mercial se visa «lucros e perdas»,
dito com todas as letras no preâm- embora o desejo do comerciante
bulo do contrato (fls. 36). O proble- seja de alcançar aqueles.
ma aqui todavia é o de saber se, A cláusula XV do contrato em
pelo negócio jurídico convenciona- exame estatuiu que, «das vendas
do, teriam as partes contratado realizadas, à vista ou a prazo, ca-
uma sociedade. Em outras pala- berá à Remat 50% (cinqüenta por
vras, se haveria pertinência objeti- cento), e para os proprietários
va entre o contratado e os elemen- idêntico percentual.» Portanto,
tos essenciais de uma sociedade ou convencionou-se partilhar igual-
mesmo da sociedade em conta de mente o produto das vendas, inde-
participação. pendentemente de qualquer apura-
Nas sociedades o objeto ção. Em outras palavras, partilha-
constitui-se dos fins comuns, que, riam os contratantes o resultado
segundo o citado Caio Mário, bruto da venda, não o lucro, o que
«erigem-se em razão determinante resultaria, após a apuração da des-
de sua própria constituição». Na pesa correspondente. E mais: a
sociedade em conta de participa- parte dos apelantes representam
ção, como vem prescrito no art. efetivamente 50% do valor da ven-
325 do Código Comercial — para da, mas a da recorrida estaria co--
lucro comum —, este seria o seu brindo as despesas corresponden-
objeto e que seria, na linguagem tes. Poderia, inclusive, não cobrir
do Projeto, a participação nos re- o montante dos gastos correspon-
sultados correspondentes. E agora dentes ao lote vendido. Nesta hipó-
é oportuna nova indagação? No tese, a perda seria também parti-
contrato de fls. 36-38v. lhada? A resposta é, mais uma
R.T.J. — los 661

vez, não, nos termos do contrato. E espiritual da sociedade, a affectio


mais ainda: a parte recebida pelos societatis, que Fransen de Lima
recorrentes seria lucro ou o paga- define como:
mento do preço do lote? E da ape- «A vontade da colaboração ati-
lada, seria lucro ou se destinaria va dos sócios, combinando os
ao pagamento da atividade desen- seus esforços ou recursos, para
volvida com a legalização do lotea- lograr fins comuns, pondo em co-
mento, da urbanização e promoção mum bens, valores, trabalho, pa-
de venda dos lotes, sendo o lucro o ra servir à finalidade social. E a
que sobrasse depois de deduzidas cooperação para um fim comum,
as despesas correspondentes a ca- e o sentimento de que o esforço
da unidade alienada? Portanto, de cada um reverte em proveito
pode-se concluir com segurança de todos.» (in ob. cit., pág. 634).
que as partes contratantes não
convencionaram partilhar lucros Completa Caio Mário que a
comuns ou partilhar resultados. affectio societatis «não reside no
Partilhariam unicamente o preço propósito apenas de cooperar, po-
do lote. rém na intenção de contribuir para
e o_ proveito comum.» (ob. cit., pág.
De outra parte, a análise do con- 394). Grifei.
trato demonstra que os apelantes Ora, nos termos do contrato fir-
entregaram, para venda, em for- mado pelos ora litigantes não há
ma de loteamento, o imóvel de sua como se divisar nos apelantes,
propriedade (cláusula II), cumpri- qualificados curiosamente no con-
do à apelada «proceder os serviços trato dito de sociedade como «pro-
de legalização do referido imóvel», prietários», não «sócios», a inten-
«a realização das benfeitorias ne- ção de contribuir para o proveito
cessárias no mencionado imóvel» comum, pois que seu único interes-
(cláusula III e IV), promovendo a se era e é o de receber a parcela
venda dos lotes e o recebimento do que lhes toca na venda de cada
preço respectivo. unidade, não prestando qualquer
colaboração à apelada para a rea-
A entrega da área, todavia, não lização da atividade loteadora e
significou contribuição dos recor- promoção das vendas, de exclusiva
rentes como apport, como contri- responsabilidade desta, segundo os
buição sua para a formação do pa- termos incisivos da cláusula V, on-
trimônio social, patrimônio que po- de se atribuiu a ela todos os encar-
deria inexistir na sociedade em gos do negócio e que não serão
conta de participação, mas que partilhados entre as partes contra-
não dispensa, como vimos, a con- tantes. E manifesto, assim, que as
tribuição. Assim, a entrega signifi- partes no contrato não estão pro-
cou a transferência da posse direta priamel3te na posição de cooperan-
para a realização do loteamento e tes, mas apenas de participantes
a venda das unidades, que conti- no resultado, sendo os apelantes
nuaram, contudo, na propriedade credores e a apelada devedora em
dos apelantes, como consta expres- cada venda realizada. Igualmente
samente do contrato e de outros na posição de credores e devedora
documentos trazidos aos autos. se encontram no que tange aos en-
Parece-me, pois, faltar também a cargos assumidos pela última de
contribuição dos pretensos associa- legalizar o loteamento, urbanizar a
dos, os apelantes, e, de conseqüên- área e promover as vendas dos lo-
cia, não se pode divisar também tes. Por isso mesmo é que Cunha
no negócio contratado o elémento Gonçalves ensina:
662 — 106

«p ara que haja sociedade, por- da ocorrência ou não de sociedade


tanto, não é suficiente que uma no caso em exame. Isto é: há que
pessoa tenha participação nos lu- ser decidido se apelantes e apelada
cros dos negócios de outra (ne- constituíram entre si uma socieda-
gritos do autor), ainda que nestes de.
aquela pessoalmente, intervenha. A sentença de primeiro grau con-
Por isso não são sociedades: cluiu que sim E mais: houve a
1?... constituição de uma sociedade co-
mercial, denominada sociedade em
3? O contrato pelo qual al- conta de participação.
guém encarrega outrem de ven- Ao meu ver, houve ai um lapso
der determinadas mercadorias, do julgador.
ou mesmo terrenos ou prédios — Como bem observado nas razões
contrato que se chama venda à de apelo, o contrato celebrado en-
comissão —, prometendo-lhe par- tre os ora litigantes objetivava a
te dos lucros na venda; ou de pro- venda de imóveis (loteamento). A
ceder à cobrança desses créditos, compra e venda mercantil objetiva
com percentagem da soma co- efeitos móveis e semoventes, nos
brada, ou de liquidar uma heran- expressos termos do artigo 191 do
ça, auferindo parte dos respecti- Código Comercial.
vos valores; porque se trata de Não sendo, pois, como de fato
um sistema especial de remune- não é, o contrato que fundamenta a
rar o mandato ou a comissão.» ação um contrato de sociedade co--
(ob. cit., pág. 239 e 240). mercial, resta saber, então, se há
Carecendo, pois, o negócio jurídi- ou não no caso a constituição de
co convencionado de dois dos ele- uma sociedade civil.
mentos essenciais da sociedade, O artigo 1.363 do Código Civil es-
tais como a affectio e os fins co-, tá assim redigido:
muns e até mesmo do da colabora-
ção, seria injuridica, data venia, a «Celebram contrato de socieda-
sua qualificação como contrato de de as pessoas, que mutuamente
sociedade; de qualquer sociedade, se obrigam a combinar seus es-
portanto. Seria ele então um con- forços ou recursos, para lograr
trato sinalagmático atípico, cuja fins comuns.»
identificação não interessa no mo- Na expressão fins comuns se re-
mento. sume a essência da questão.
Assim, pedindo mais uma vez Comentando o artigo, preleciona
vênia aos que entenderam por for- Washington de Barros Monteiro:
ma diversa, dou provimento ao
apelo para, reformando a decisão «Sua base, seu suporte, sua es-
recorrida, determinar que, no juízo sência, é a comunhão de interes-
a quo, se dê regular andamento à ses reinante entre os sócios, a
ação proposta, de rescisão do con- união destes, colimando objetivo
trato. comum.
como voto. .• •
Urge, porém, não confundir a
Voto sociedade com a simples comu-
O Sr. Des. Rui Garcia Dias (1? nhão incidente ou convencional.
Revisor): Tornou-se ponto funda- Em ambas, existem um ou mais
mental da solução da pendência bens que pertencem, conjunta e
ora posta em discussão o saber-se simultaneamente, a rrials de uma
R.T.J. — 108 663

pessoa. Distinguem-se, no entan- Civil, Dos Contratos, vol. 3, Silvio


to, porque na sociedade presente Rodrigues, 2! Ed Max Limonad,
se acha a affectio societatis, isto pág. 349).
é, o traço de união, o vinculo de Ai começa a aparecer um ele-
colaboração, o sentimento de que mento essencial: a colocação dos
o trabalho de um, dentro da so- bens dos sócios em comum. Quer
ciedade, reverte em proveito de dizer, passam os bens, ou parte de-
todos, enquanto na simples co- les, a pertencer a ambos os sócios,
munhão não entra esse elemento isto é, à sociedade.
em linha de conta» (Curso de Di-
reito Civil, 5? volume, Direito das A fls. 355 o mesmo Professor
Obrigações, 2! parte, 4! edição, Silvio, ao definir a forma como se
Saraiva, 1965, pág. 314). apresentam as sociedades em con-
ta de participação, ensina:
O Código Comercial, na primeira «... em que há sócios ostensivos
parte do art. 325, assim define a que respondem pelas operações
sociedade em conta de participa- sociais e sócios ocultos que só se
ção, que é o titulo dado aos instru- obrigam perante os sócios osten-
mentos firmado pelas partes e que sivos.»
é visto ás fls. 36-38 v.: Waldemar Ferreira acrescenta:
«Quando duas ou mais pessoas, «Sócios de duas categorias na
sendo ao menos uma comercian- sociedade em conta de participa-
te, se reúnem, sem firma social, ção se defrontam:
para lucro comum, em uma ou os ostensivos ou gerentes;
mais operações de comércio de- os ocultos ou participantes.
terminadas, trabalhando um, al-
guns ou todos, em seu nome indi- Aqueles são os únicos que se
vidual para o fim social, associa- obrigam com terceiros. Estes pa-
ção toma o nome de sociedade ra com aqueles se obrigam pelo
em conta de participação, aci- resultado das transações com-
dental, momentânea ou anôni- preendidas no ajuste verbal ou
ma;.,.» escrito.»
Veja-se ai que a lei insiste nas «Os sócios ostensivos, na gene-
características essenciais: «para ralidade dos casos um só, pessoa
lucro comum», «trabalhando um, natural ou jurídica, investem-se
alguns ou todos para o fim social». de poderes amplos. Requer a sua
Bem claro está que a base é a função o máximo de poderes exa-
affectio societatis. tamente porque eles agem em
seu próprio nome, nomine
No mais, acompanho o Exmo. próprio, como donos exclusivos
Sr. Desembargador Relator, inclu- do negócio, enquanto os sócios
sive na parte conclusiva do seu vo- participantes ficam na sombra,
to. incógnitos. Estes, por isso mes-
mo, são irresponsáveis pelas
A definição de Teixeira de Frei- obrigações por aqueles assumi-
tas parece esclarecer melhor ainda das. Só eles as suportam e to-
a diferenciação: • mam sobre si.» (sie).
«Contrato de sociedade é o que (Instituições de Direito
duas ou mais pessoas fazem en- Comercial, Vol. I, tomo II, Max
tre si, pondo em comum todos os Limonad, 5? ed., pág. 637).
seus bens, ou parte deles, para Conforme a definição de Teixeira
fim de maior lucro.» (in Direito de Freitas, transcrita acima, o
664 R.T.J. — 108

contrato de fls. 36-38 não é um con- Interposto recurso extraordinário,


trato de sociedade, porque os bens foi ele admitido por este despacho
dos apelantes não passaram a per- (fls. 370/372):
tencer à sociedade. A apelada não «Remat — Comércio e Represen-
passava de mera vendedora e ad- tações Ltda., inconformada com o v.
ministradora do loteamento deno- acórdão que deu provimento à ape-
minado «Jardim Aeroporto», con- lação interposta por Daniel Ignácio
forme aliás, se vê estampado no de Souza e sua mulher, nos autos
impresso de fls. 60. da ação de rescisão contratual que
Sócio ostensivo, como na defini- estes lhe movem, recorre extraor-
ção de Silvio Rodrigues, também dinariamente para o Supremo Tri-
não era a apelada. Conforme Wal- bunal Federal, com fundamento no
demar Ferreira, sócios ostensivos art. 119, III, alínea a e d da Consti-
são os únicos que se obrigam com tuição da República.
terceiros, agem em nome próprio.
Ora, no caso, a Remat, ora apela- Alega a recorrente que o v. acór-
da, se obrigava em nome dos ape- dão, ao proclamar a inexistência
lantes, de quem era procuradora, da «sociedade em conta de partici-
conforme instrumento público de pação» formada entre ela e os re-
fls. 12 e também como consta do corridos, e também ao declarar
contrato entre eles celebrado que, para tanto, era impertinente a
Por outro lado, os pretensos só- busca da vontade dos contratantes,
cios, ora litigantes, não tinham o negou vigência aos artigos 85 e
interesse comum, o fim social, de 1.364 do Código Civil e artigo 325 do
que falam o art. 1.363 do Código Ci- Código Comercial.
vil e Washington de Barros Montei- Por outro lado, deixando de ex-
ro. Não há o lucro comum nem o tinguir o processo por serem os au-
trabalho dos sócios para o fim so- tores — recorridos carecedores de
cial, isto é, da sociedade, de que ação, como o proclamou a r. sen-
fala o art. 325 do Código Comer- tença de primeira instância, o v.
cial. aresto violou, igualmente, o art.
Do produto da venda dos lotes 267, VI, do Código de Processo Ci-
não era tirada a despesa feita pela vil.
apelada, para se saber do lucro a
ser repartido. Na verdade a apela- Quanto ao dissídio pretoriano, a
da foi contratada para prestar os recorrente sustenta que, ao afir-
serviços de formalização e regula- mar que era «de todo impertinente
rização do loteamento, vendendo a a busca da vontade dos contratan-
seguir os lotes e dividindo as entra- tes», a r. decisão impugnada diver-
das em dinheiro com os apelantes. giu do julgado proferido pelo Su-
Voto premo Tribunal Federal, no Recur-
O Sr. Des. Nélson Mendes so Extraordinário n? 78.946-MG
Fontoura (2? Revisor): De acordo (Ac. publ. DJ de 22-9-76), que inter-
com o ilustre relator. pretando o art. 85 do Código Civil,
através do voto do eminente Minis-
Decisão tro Moreira Alves, assentou que:
Como consta da ata, a decisão «Esse dispositivo legal, contém
foi a seguinte: norma de interpretação que se di-
Conheceram do recurso, dando- rige ao juiz e a cuja observância
lhe provimento, sem voto divergen- ele está obrigado.»
te. Os recorridos não ofereceram
Custas ex vi legis.» (fls. 328/344). impugnação.
R.T.J. — 108 665

Vê-se pela ementa do r. decisório atribuindo-se a cada uma das par-


recorrido que a questão versa so- tes 50% do produto da venda dos
bre a determinação do negócio lotes.
jurídico celebrado entre a recor- Ao nosso sentir, existe, na hipó-
rente e os recorridos. O seu teor é tese, questão federal a ser deslin-
o seguinte: dada pela Corte Maior.
«Apelação Cível. Qualificação Divergem as partes sobre a qua-
de negócio Jurídico contratado. lificação jurídica do contrato que
Não pode ser classificado como assinaram. Grandes serão as con-
de sociedade, contrato em que se seqüências econômicas decorren-
convencionou negócio jurídico tes da caracterização do negócio
em que não se distingue a pre- combinado. Estão em pauta os ar-
sença da affectio societatis e dos tigos 325 do Código Comercial e
fins comuns, elementos essen- 1.364 do Código Civil, a reclama-
ciais daquela. Reforma da deci- rem seu exato entendimento do
são que assim decidiu.» mais alto intérprete do direito fe-
A recorrente bate-se no sentido deral.
de que o contrato entabolado com O Supremo Tribunal decidiu, no
os recorridos é um contrato de julgamento do Recurso Extraordi-
constituição de uma sociedade em nário n? 88.716-RJ, RTJ 92/250,
conta de participação, conforme que:
está expresso no seu instrumento, «Cabe recurso extraordinário
às fls. TJ-36, 37 e 38, vol. I: quando se discute qualificação
Os recorridos argumentaram jurídica de documento: saber se
que não se tratava de um contrato ele é mera minuta (punctação)
de sociedade, logrando obter do r. ou contrato preliminar.»
aresto profligado a inteligência de Também se faz necessária a in-
que «Seria ele então um contrato tervenção da Corte Maior em face
sinalagmático atípico cuja identifi- do pronunciamento do v. acórdão
cação não interessa no momento». de que era
(Sic, fls. 339, último parágrafo).
O contrato assinado entre as par- «de todo impertinente a busca da
tes traz a denominação de «Contra- vontade dos contratantes, posto
to Particular de Sociedade em Con- que, se este fosse o objetivo, in
ta de Participação» e o seu preâm- casu, o problema seria extrema-
bulo contém a afirmativa de que mente simples, dado que as par-
as partes têm por contratada uma tes já teriam fixado que o negó-
sociedade em conta de participa- cio seria sociedade em conta de
ção. participação.» (Sie).
De acordo com a avença, os re- Nesta parte, o v. aresto está ao
corridos entregavam à recorrente arrepio da regra insculpida no art.
uma gleba rural de sua proprieda- 85 do Código Civil e destoa da in-
de, com 160 hectares de terras, pa- terpretação que ela mereceu do
ra loteamento. A recorrente ficava Pretório Excelso, no julgamento
com o encargo de promover a me- trazido a confronto.
dição e demarcação dos lotes e ar- Quanto á alegação de que foi ne-
ruamentos; legalizar o loteamento gada vigência ao art. 267, VI, do
perante as repartições públicas; Código de Processo Civil, carece
vender os lotes e receber os res- ela de supedâneo para autorizar o
pectivos preços. O contrato foi es- apelo extremo. É que não consta
tabelecido sem prazo determinado, do v. acórdão matéria relativa à
R.T.J. — 108

aplicação do art. 267, VI, do Código Desta forma, não poderia ser
de Processo Civil. Evidente que o qualificado como de hipoteca o
v. acórdão só teria infringido o re- contrato que, mesmo com tal no-
ferido dispositivo legal se houvesse me, tivesse por objeto um artístico
caracterizado o contrato como de aparador. Igualmente não poderia
sociedade, e deixado de extinguir o ser tida como comercial uma so-
processo. ciedade em que duas pessoas se
Pelas razões expostas, admito o reunissem para negócios de com-
recurso derradeiro, excluído o fun- pra e venda de imóveis, mesmo
damento de que foi negada vigên- que assim tivesse sido convencio-
cia ao artigo 267, VI do Código de nado. Faltaria a tais contratos per-
Processo Civil. Abram-se vistas às tinência objetiva.
partes, para que cada uma, no pra-
zo de 10 dias, apresente suas ra- A invocação vem a propósito do
zões. anotado tanto pela douta decisão
P. R. Intimem-se.» recorrida como pela apelada, dos
princípios informadores da inter-
2 o relatório. pretação dos contratos, no intuito
de qualificar o negócio jurídico
VOTO contratado pelos litigantes.
Parece-me, data venha, de todo im-
pertinente a busca da vontade doS
O Sr. Ministro Moreira Alves (Re- contratantes, posto que, se este
lator): 1. O acórdão recorrido partiu fosse o objetivo, in casu, o proble-
da premissa de que, no caso, a ques- ma seria extremamente simples,
tão não era a de saber o que as par- dado que as partes já teriam fixa-
tes quiseram contratar (matéria que do que o negócio seria sociedade
se situaria no terreno da interpreta- em conta de participação. Isto está
ção do contrato), mas, sim, a de de- dito com todas as letras no preâm-
terminar se elas, objetivamente, ce- bulo do contrato (fls. 36). O proble-
lebraram, ou não, um contrato de so- ma aqui todavia é o de saber se,
ciedade em conta de participação. pelo negócio jurídico convenciona-
Com efeito, diz ele: do, teriam as partes contratado
«O Prof. Silvio Rodrigues, lecio- uma sociedade. Em outras pala-
nando sobre os elementos essen- vras, se haveria pertinência objeti-
ciais do negócio jurídico, enumera va entre o contratado e os elemen-
serem eles a vontade humana, o tos essenciais de uma sociedade ou
objeto e a forma, assinalando que: mesmo da sociedade em conta de
participação.» (fls. 335/336).
«O segundo elemento essencial
tem a ver com a idoneidade do E, depois de ampla análise dos ter-
objeto, em relação ao negócio mos do contrato em causa, concluiu
que se tem em vista. Assim só pela negativa, verbis:
será idôneo para o negócio de hi-
poteca o bem imóvel, o navio ou «Carecendo, pois, o negócio
o avião. Os demais são bens int- jurídico convencionado de dois dos
dõneos para serem objeto de elementos essenciais da sociedade,
uma hipoteca; da mesma manei- tais como a affectio e os fins co-
ra, só podem ser objeto de mútuo muns e até mesmo do da colabora-
as coisas fungíveis, e de comoda- ção, seria injuridica, data venha, a
to as infungiveis». (In Direito Ci- sua qualificação como contrato de
vil, I vol., pág. 147, ed. Saraiva, sociedade; de qualquer sociedade,
1974). portanto. Seria ele então um con-

R.T.J. — 108 667

trato sinalagmático atípico, cuja «Os sócios ostensivos, na gene-


identificação não interessa no mo- ralidade dos casos um só, pessoa
mento.» ( fls. m). natural ou jurídica, investem-se
Por outro lado, a fls. 342/343, o pri- de poderes amplos. Requer a sua
meiro revisor da apelação acrescen- função o máximo de poderes exa-
tou à fundamentação do voto do rela- tamente porque eles agem em
tor um argumento a mais, para de- seu próprio nome, nomine
monstrar, na espécie, a inexistência próprio, como donos exclusivos
de sociedade em conta de participa- do negócio, enquanto os sócios
ção: participantes ficam na sombra,
«A definição de Teixeira de Frei- incógnitos. Estes, por isso mes-
tas parece esclarecer melhor ainda mo, são irresponsáveis pelas
a diferenciação: obrigações por aqueles assumi-
das. Só eles as suportam e to-
«Contrato de sociedade é o que mam sobre si.» (Sic).
duas ou mais pessoas fazem en- (Instituições de Direito
tre si, pondo em comum todos os Comercial, Vol. I, tomo II, Max
seus bens, ou parte deles, para Limonad, 5? ed., pág. 637).
fim de maior lucro.» (In Direito
Civil, dos Contratos, vol. 3, Sílvio Conforme a definição de Teixeira
Rodrigues, 2? ed., Max Limdnad, de Freitas, transcrita acima, o
pág. 349). contrato de fls. 36-38 não é um con-
trado de sociedade, porque os bens
Aí começa a aparecer uni ele- dos apelantes não passaram a per-
mento essencial: a colocação dos tencer à sociedade. A apelada não
bens dos sócios em comum. Quer passava de mera vendedora e ad-
dizer, passam os bens, ou parte de- ministradora do loteamento deno-
les, a pertencer a ambos os sócios, minado «Jardim Aeroporto», con-
isto é, à sociedade. forme, aliás, se vê estampado no
As fls. 355 do mesmo Professor impresso de fls. 60.
Sílvio, ao definir a forma como se Sócio ostensivo, como na defini-
apresentam as sociedades em con- ção de Silvio Rodrigues, também
ta de participação, ensina: não era a apelada. Conforme Wal-
«... em que há sócios ostensivos demar Ferreira, sócios ostensivos
que respondem pelas operações são os únicos que se obrigam com
sociais e sócios ocultos que só se terceiros, agem em nome próprio.
obrigam perante os sócios osten- Ora, no caso, a Remat, ora apela-
sivos.» da, se obrigava em nome dos ape-
Waldemar Ferreira acrescenta: lantes, de quem era procuradora,
conforme instrumento público de
«Sócios de duas categorias na fls. 12 e também como consta do
sociedade em conta de participa- contrato entre eles celebrado.»
ção se defrontam: 2. Entende a recorrente que, ao
os ostensivos ou gerentes; declarar o acórdão recorrido que, no
os ocultos ou participantes. caso, seria «de todo impertinente a
busca da vontade dos contratantes»,
Aqueles são os únicos que se pois a questão não era de saber se
obrigam com terceiros. Estes pa- eles queriam contratar uma socieda-
ra com aqueles se obrigam pelo de, mas, sim, de verificar se o que
resultado das transações com- se contratou efetivamente se enqua-
preendidas no ajuste verbal ou dra, de modo objetivo, no tipo
escrito.» contrato de sociedade, teria ele ne-
668 R.T.J. — 108

gado vigência ao artigo 85 do Código 3. E, como, na espécie, se trata


Civil, que reza: »nas declarações de — assim o acórdão recorrido o reco-
vontade se atenderá mais à sua in- nhece — de questão de qualificação
tenção que ao sentido literal da lin- jurídica do acordo de vontades ajus-
guagem.» tado entre recorrente e recorridos,
Equivoca-se, porém, a recorrente. tem razão a recorrente quando sus-
Na espécie, não se trata de interpre- tenta que não pretende reexame de
tar o contrato para determinar o interpretação de cláusulas contra-
sentido e o alcance de suas cláusu- tuais, o que seria vedado para o co-
las, mas, ao contrário, se trata de nhecimento do recurso extraordiná-
confrontar a estrutura do contrato rio, por demandar, esta, sim, a aná-
em causa com a estrutura do tipo le- lise da intenção das partes, inclusive
gal — o contrato de sociedade em o seu comportamento anterior e pos-
conta de participação para verificar- terior à celebração do contrato.
se se aquele apresenta os elementos Por se tratar de qualificação
essenciais deste, ou, em outras pala- jurídica do contrato celebrado entre
vras, se aquele se enquadra neste ti- recorrente e recorridos o que im-
po legal. Para que isso ocorra não plica a verificação objetiva da exis-
basta que as partes hajam desejado tência, ou não, nele, dos elementos
celebrar um contrato de sociedade essenciais que caracterizam o tipo
em conta de participação, mas é ne- legal a cuja disciplina se pretende
cessário que elas o tenham, efetiva- subordiná-lo a essa questão não se
mente, celebrado, com a adoção de aplica a súmula 454.
seus elementos essenciais, e, conse-
qüentemente, com a observância do Sustenta a recorrente que o acór-
tipo descrito na lei. dão recorrido, por não entender que
Por isso mesmo, acentuou o acór- o contrato em causa é contrato de
dão — e corretamente — que «não sociedade em conta de participação,
poderia ser qualificado como de hi- como o denominaram as partes con-
poteca o contrato que, mesmo com tratantes, mas — como o caracteri-
tal nome, tivesse por objeto um zou o voto do relator — «um contrato
artístico aparador Igualmente não sinalagmático atípico, cuja identifi-
poderia ser tida como comercial cação não interessa no momento»
uma sociedade em que duas pessoas (fls. 339), teria negado vigência aos
se reunissem para negócios de com- artigos 325 do Código Comercial e
pra e venda de imóveis, mesmo que 1.364 do Código Civil, os quais esta-
assim tivesse sido convencionado. belecem, respectivamente:
Faltaria a tais contratos pertinência «Art. 325. Quando duas ou mais
objetiva» (fls. 335). pessoas, sendo, ao menos uma co-
A intenção das partes não pode, merciante, se reúnem, sem firma
evidentemente, fazer que troca de social, para lucro comum, em uma
coisa por coisa se qualifique juridica- ou mais operações de comércio de-
mente copo cOgrato de compra e terminadas, traVklhando um, al-
venda, toe, pela,kli,é troca de coisa guns ou todos em seu nome indivi-
por dinheiro. Falta àquele um ele- dual para o fim social, a associa-
mento essencial deste • o preço. ção toma o nome de sociedade em
Inexiste, portanto, a pretendida conta de participação, acidental,
negativa de vigência do artigo 85 do momentânea ou anônima; esta so-
Código Civil por parte do acórdão re- ciedade não está sujeita às forma-
corrido, e, pelas mesmas razões, não lidades prescritas para a formação
há dissídio com o acórdão prolatado das outras sociedades, e pode
no RE n? 78.946, de que fui relator. provar-se por todo o gênero de pro-
R.T.J. — 108 669

vas admitidas nos contratos co- instrumento, para venda do mes-


merciais (art. 112)0; e mo, em forma de loteamento, até o
«Art. 1.364. Quando as socieda- seu término.
des civis revestirem as formas es- III — Competirá à Remat proce-
tabelecidas nas leis comerciais, en- der os serviços de legalização do
tre as quais se inclui a das socieda- referido imóvel, junto às reparti-
des anônimas, obedecerão aos res- ções competentes, nos moldes do
pectivos preceitos, no em que. não Decreto-Lei ri? 58, de 10-12-37.
contrariem os deste Código; mas IV — Competirá igualmente à
serão inscritas no registro civil e Remat, a realização das benfeito-
será civil o seu foro». rias necessárias no mencionado
Para examinar-se a pretensão da imóvel, tais como, serviços de en-
recorrente, é mister que se tenha co- genharia, arruamento, documenta-
nhecimento dos termos do contrato ção, limpeza, propaganda, correta-
que se discute, os quais são estes: gem e demais encargos necessá-
«Pelo presente instrumento par- rios ao bom andamento do em-
ticular, de um lado firma Remat — preendimento, obedecido o estipu-
Comércio e Representações Ltda. lado no Código de Obras da Prefei-
estabelecida nesta cidade, à rua tura Municipal de Campo Grande.
Cândido Mariano, 892, inscrita no V — Competirá única e exclusi-
CGC. do MF sob o n? 03261302/001, vamente, à Remat, as depesas de-
neste ato representada por seu Di- correntes dos encargos constantes
retor Ronaldo da Silva Capalbo, das cláusulas III e IV do presente
daqui em diante designada sim- instrumento, não se computando
plesmente Remat, e do outro ladd, tais gastos na partilha de que trata
Daniel Ignácio de Souza e sua mu- a cláusula XV.
lher Odete Morta de Souza, pro- VI — O imposto territorial inci-
prietários, residentes e domicilia- dente sobre os lotes não comercia-
dos em Volta Redonda, Estado do lizados, e enquanto não transferi-
Rio, á rua 3, n? 53/101, portadores dos para o nome dos compradores;
do CIC 010926771, daqui em diante correrá por conta de ambos os con-
designados simplesmente por tratantes.
Proprietários, tem entre si, Justos
e contratados uma Sociedade em VII — Fica convencionado que a
Conta de Participação, nos termos planta a ser realizada no imóvel
e cláusulas seguintes: mencionado na cláusula I do pre-
I — Os proprietários são legíti- sente instrumento, deverá determi-
mos possuidores de uma área de nar, tanto quanto possível, uma
terras denominada Fazenda Ser metragem de 15 metros de testada,
-radinho,lczestCmar- por 30 ditos de fundos, nas unida-
ca, mais ou menos com 160 has., de- des a serem fracionadas.
1 ,vidamente transcrita sob o n? VIII — Convenciona-se ainda,
22.869, no L? 3 — AA as . 264, que o preço de lançamento das uni-
do Cartório de Reg te moi látio d-ti loteadas, será de Cri
da 2? Circunscrição Imobiliária da 12.000,00 (doze mil cruzeiros), a se-
Comarca de Campo Grande — rem pagos em 60 (sessenta) me-
MT., livre e desembaraçada de to- ses, e com uma entrada de 5%.
do e qualquer Ônus. IX — As unidades loteadas que
II — Neste ato, os Proprietários, não comportarem ou superarem
entregam á Remat o imóvel men- por exigência da planta a ser ela-
cionado na cláusula I do presente borada, a metragem mencionada
670 R.T.J. — 108

na cláusula VII do presente instru- XIV — Competirá à Remat, a


mento, terão o seu valor calculado responsabilidade das cobranças
em metros quadrados, proporcio- das promissórias que darão origem
nalmente ao valor fixado para as à carteira mensal.
unidades loteadas padrão, previs- XV — Das vendas realizadas, á
tas na cláusula VII. vista ou á prazo, caberá á Remat
50% (cinquenta por cento), e para
X —"Fica estipulado que a ela- os Proprietários idêntico percen-
boração da planta final determi- tual.
nará o número exato de unidades XVI — Das vendas realizadas e
loteadas. Estas serão para efeito recebimentos de prestações, fará a
de comercialização, divididas em Remat, mensalmente a competen-
(cinco) etapas de igual número de te prestação de contas, remetendo,
lotes. Conseqüentemente as vendas em seguida aos Proprietários, via
serão realizadas em 5 (cinco) eta- estabelecimento bancário de sua
pas, sendo que a primeira obedece- preferência, a parcela aos mesmos
rá o preço e condições previstas na devida.
cláusula VIII. Atingida a primeira
etapa, a Remat estipulará o valor XVII — A vegetação existente
para a venda da segunda, e assim no local a ser beneficiado, e que
sucessivamente, até o término das for comercialmente explorável, se-
unidades constantes da planta, de rá comercializada pelas partes
comum acordo com os contratantes, nos moldes estabele-
Proprietários. cidos na cláusula XV.
XVIII — A Remat obriga-se a
XI — Convencionam as partes efetuar um pagamento mensal aos
contratantes que, na eventualidade Proprietários no valor de Cri
de divergências quanto ao valor es- 6.000,00 (seis mil cruzeiros), obri-
tipulado pela Remat, resolver-se-á gação esta que permanecerá até o
questão por juizo arbitrai, Inicio das vendas, previsto para 12
designando-se uma pessoa, por (doze) meses. Os Proprietários
ambas referendadas, e, á sua deci- reembolsarão à Remat a importân-
são se subordinarão as partes. cia total adiantada, até a data do
Nesta hipótese, a decisão arbitrai inicio das vendas, em parcelas
será parte integrante do presente mensais equivalentes a 20% (vinte
instrumento. por cento) da parte que lhes cou-
ber nas vendas, conforme estipula-
XII — Competirá à Remat, ela- da a cláusula XV, percentual esse
borar os Compromissos de Venda e limitado ao máximo de Cri 3.000,00
Compra, das unidades comerciali- ( três mil cruzeiros).
zadas, devendo, portanto, os XIX — Os Proprietários, a qual-
Proprietários outorgarem á quer tempo e quando lhes convier,
Remat, instrumento público de terão amplo e total acesso à docu-
procuração para tal finalidade. As mentação e registros da Remat, no
escrituras definitivas serão outor- que concerne o objeto desta socie-
gadas pelo Sr. Otavlano Ignaclo de dade.
Souza, o qual terá procuração para XX — O presente instrumento
tanto, ou pelos Proprietários. societário vigorará por tempo inde-
terminado, tendo em vista o gran-
XIII — Será da inteira responsa- de número de unidades a serem co- -
bilidade da Remat, a prática dos mercializadas, iniciando-se a par-
atos referidos na cláusula anterior. tir da data de sua assinatura.
R.T.J. — 108 671

XXI — Qualquer instabilidade Com efeito, ao caracterizar a so-


financeira, concordata ou falência ciedade em conta de participação,
da Remat, em suas outras ativida- Fran Martins (Curso de Direito
des comerciais, que não a do pre- Comercial, 6! ed., n? 197, pág. 274,
sente instrumento, não afetará Forense, Rio de Janeiro, 1977), de-
nem atingirá os efeitos e obriga- pois de acentuar que ela não consti-
ções entre as partes ora contratan- tui pessoa jurídica, salienta:
tes, articuladas nas cláusulas do
presente instrumento. Da mesma «A sociedade, por sua natureza,
forma, a insolvência ou morte de é oculta, existente apenas entre os
um ou dos dois Proprietários, não sócios; perante os terceiros, apare-
interromperá a duração e os efei- ce apenas o sócio comerciante,
tos do presente instrumento, per- chamado sócio ostensivo ou
manecendo seus herdeiros ou su- gerente, que realiza a operação ou
cessores na obrigação de seu cum- as operações, em seu nome pró-
primento integral. prio, assumindo, assim, pessoal-
XXII — fica estipulado que no mente, a responsabilidade dos
imóvel a ser loteado, respeitar-se-á compromissos sociais. Os credores
uma área de 5 (cinco) has., a qual da sociedade não poderão acionar,
permanecerá em nome e por conta em nenhuma hipótese, os sócios
dos Proprietários, área esta que ocultos, pois juridicamente esses
contém a antiga sede «Fazenda nenhum compromisso tomaram
Serradinho», com a residência e para com eles.»
benfeitorias contidas na mesma.
No mesmo sentido, Eunáplo
XXIII — As partes, neste ato, Borges (Curso de Direito Comercial
acordam em que o autor do projeto Terrestre, 2? ed., n? 305, pág. 294,
de engenharia e desmembramento Forense, Rio de Janeiro, 1964).
da área, será o Engenheiro Mito
de Souza, brasileiro, casado, regis- Por isso mesmo, Mauro Brandão
trado no CREA-216-D, residente e Lopes (Ensaio sobre a conta de par-
domiciliado nesta cidade, (em ticipação no Direito Brasileiro,
igualdade de condições orçamentá- págs. 77 e segs., São Paulo, 1964),
rias com outros profissionais do ra- examinando a estrutura jurídica da
mo). conta de participação, observa, com
XXIV — Qualquer ação originá- relação aos fundos sociais, que eles,
ria do presente instrumento, ou ne- nela, «são de propriedade de sócio
le fundada, será proposta no foro ostensivo», e arremata: «Decorre
desta Comarca, que para isso fica pois da própria lei que do sócio os-
eleito. tensivo é a propriedade dos fundos
E, por estarem assim ajustados em seu poder. Decorre também dos
e contratados, mandaram lavrar o princípios que informam a estrutura
presente em 3 (três) vias datilo- da conta de participação» (pág. 112).
grafadas, do mesmo teor, todas ru- E, mais, adiante, ainda examinando
bricadas pelas partes, pelos anuen- a estrutura da conta de participação
tes e por 2 (duas) testemunhas a 'escreve (pág. 162):
tudo presentes.» (fls. 36/38).
«As peculiaridades da estrutura
Da simples leitura das cláusulas da conta de participação dão à po-
desse contrato, verifica-se que não sição do sócio ostensivo uma dupla
se enquadra ele no tipo legal do con- natureza, isto é, ele tem na socie-
trato de sociedade em conta de par- dade duas funções concomitantes
ticipação. e inseparáveis. Ele é ao mesmo tem-
672 R.T.J. — 108

po, seu administrador ou gerente e — Otaviano Ignacio de Souza, tam-


proprietário dos fundos sociais em bém na qualidade de mandatário dos
seu poder», recorridos. O que implica dizer que
o que o leva a reconhecer, a pág. os recorridos, que seriam os sócios
165, que «o gerente é na verdade, de ocultos, conservam a propriedade do
certo modo a própria sociedade dian- imóvel, não a transferindo, como é
te de terceiros, sem declarar-se co- de mister na sociedade em conta de
mo tal; a conta de participação so- participação, para o sócio ostensivo;
mente age por meio de sua obriga- e, por isso mesmo, quem entra em
ção pessoal para com terceiros.» relação jurídica com terceiros, res-
pondendo por ela (inclusive quanto à
Todas essas afirmações resultam evicção), são eles recorridos, e não a
claramente da disciplina legal dessa recorrente, que seria a sócia ostensi-
espécie de sociedade, como se vê dos va, a sócia-gerente.
artigos 326 e 327 do Código Comer-
cial: Inexistem, portanto, na espécie,
elementos essenciais à configuração
«Art. 326. Na sociedade em da sociedade em conta de participa-
conta de participação, o sócio os- ção, o que, evidentemente, impede
tensivo é o único que se obriga pa- que o contrato sob exame se enqua-
ra com terceiro; os outros sócios fi- dre no tipo legal dessa sociedade,
cam unicamente obrigados para que se caracteriza, em nosso siste-
com o mesmo sócio por todos os ma jurídico, do mesmo modo por
resultados das transações e obriga- que se caracterizava em face do an-
ções sociais empreendidas nos ter- tigo Código Comercial Italiano, ou
mos preciosos do contrato»; e seja — como acentua Vivante
«Art. 327. Na mesma sociedade (Tratatto dl Diritto Commerciale,
o sócio-gerente responsabiliza to- vol. II, 3? ed., n? 838, pág. 678, Mila-
dos os fundos sociais, ainda mesmo no) —, pela circunstância de que
que seja por obrigações pessoais, «L'assoclante non agisce come
se "o terceiro com quem tratou ig- ammlnIstratore nè come rappre-
norava a existência da sociedade; sentante degli altri associati, ma
salvo o direito dos sócios prejudi- come un commerclante che ammi-
cados contra o sócio-gerente». nlstra gil affarl propri e pile) Ws-
Nada disso ocorre no caso presen- ponte come gll piace. Egli solo
te. De feito, pelo contrato em causa, strInge vIncoll glurldlci coi tern,
a recorrente é que gere as operações egli solo è loro creditore e loro
a que ele se refere: a ela competem debitore».
os serviços de legalização do imóvel, Se essas circunstâncias não se ve-
a realização das benfeitorias neces- rificam e, no caso, é o que ocorre —,
sárias ao loteamento, a elaboração não há que se pretender que se este-
dos compromissos de compra e ven- ja diante de uma sociedade em conta
da, as vendas, a cobrança, prestação de participação.
de contas. Ela seria, portanto, a só- Entreviu-o, de certa forma, embora
cia ostensiva, e, conseqüentemente, de maneira não muito clara, o voto
a sócio-gerente. Sucede que ela cele- do revisor, a fls. 342/343 dos autos.
bra os compromissos de compra e
venda em nome e por conta dos re- Não negou o acórdão recorrido,
corridos, que conservam a proprie- portanto, vigência ao artigo 325 do
dade do imóvel, e que são simples- Código Comercial, nem ao artigo
mente representados, nesses atos, 1364 do Código Civil, pois, no caso
pela recorrente. E as escrituras defi- realmente, não há sociedade em con-
nitivas serão passadas por terceiro ta de participação de natureza civil.
— los 873

E, por via de conseqüência, O Sr. Ministro Moreira Alves (Re-


também não foi negada vigência ao lator): Tem esta Turma entendido
artigo 267, VI, do CPC, que a recor- que, como o prazo é de horas, ele se
rente teve por ofendido sob o pressu- conta de minuto a minuto, razão por-
posto de que, configurando-se uma que Já transcorreram as quarenta e
sociedade em conta de participação, oito horas.
correta estaria a aplicação desse
dispositivo processual pela sentença
que o acórdão recorrido reformou. EXTRATO DA ATA
Em face do exposto, não co-
nheço do presente recurso. RE 95.230-MS — Rel.: Min. Morei-
VOTO (PRELIMINAR) ra Alves. Rede.: Remat — Comér-
cio e Representações Ltda. (Advs.:
O Ministro Miei Falcão: Também Aluisio Xavier de Albuquerque e ou-
acompanho o eminente Ministro- tros). Recdos.: Daniel Inácio de Sou-
Itelator, porque, no caso, houve in- za e sua mulher (Adv.: Heitor. Me-
terpretação de fato certo em torno deiros).
de urna qualificação jurídica de de- Decisão: Não conhecido. Unânime.
terminado contrato. Falou, pelo Recte.: o Dr. Aluisio Xa-
Não conheço do recurso. vier de Albuquerque.
QUESTÃO DE ORDEM Presidência do Senhor Ministro
O Sr. Aluisio Xavier de Mac! Falcão. Presentes á Sessão os
Albuquerque (Advogado): Sr. Presi- Senhores Ministros Cordeiro Guerra,
dente, peço a palavra, para uma Moreira Alves, Dedo Miranda e Fir-
mino Paz. Subprocurador-Geral da
questão de ordem. República, Dr. Mauro Leite Soares.
Como a pauta foi publicada no
Diário da Justiça de sexta-feira, fi- Brasília, 24 de novembro de 1981 —
quei sem saber se Já teria transcor- Hélio Francisco Marques, Secretá-
rido as 48 horas do prazo. rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 95.529 — AC


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — IN-
CRA — Recorridos: Marcionillo Souza Santos e outros.
Recurso Extraordinário. Afines b do permissivo constitucional.
Não cabe recurso extraordinário pela letra b do art. 119411 da
Constituição contra acórdão de turma 4o TFR que, inábil para
declarar a inconstitue.lonalidade de dispositivo de lei federal — por
força do art. 116 da CF - , limitou-se a Invocar precedente do plenário
em tal sentido.
ACÓRDÃO [tunda Turma do Supremo Tribunal
Federal, de conformidade com a ata
de-julgamentos e as notas ta quIffróll-
Vistos, relatados e discutidos estes ças, á unanimidade de votos, não co-
autos, acordam dos Ministros da Se- nhecèrdo recurso.
674 R.T.J. — 108

Brasília, 4 de outubro de 1983 — VOTO


Djaci Falcão, Presidente —
Francisco Rezek, Relator. Sr. Ministro Francisco Rezek
(Relator): A matéria é conhecida.
RELATÓRIO Plenário desta Casa abonou, re-
centemente, o entendimento de que o
Sr. Ministro Francisco Rezek: O art. 11 do Decreto-Lei n? 554/69 é in-
juiz federal da seção do Acre indefe- compatível com a lei fundamental —
riu perícia avallatória de imóvel, ob- RR EE n?s 99.849 e 100.045 —, oca-
jeto de desapropriação por interesse sião em que a tese contrária teve
social. Agravada a decisão, meu patrocínio singular.
reformou-a o Tribunal Federal de Conheceria do recurso, para
Recursos, proclamando o direito que negar-lhe provimento, com ressalva
tem o particular de ver suas terras de meu ponto de vista, não fosse a
corretamente avaliadas, e invocando circunstância de que ele se apóia
precedente daquela mesma Corte, unicamente na letra b do permissi-
em que se julgou inconstitucional o vo. Ora na espécie, ataca-se uma de-
art. 11 do Decreto-Lei n? 554/69. cisão de turma do TFR, que não
declarou — nem o poderia, á vista
INCRA interpõe recurso extraor- do art. 116 da Carta da República —
dinário, apoiando-se na letra b do a inconstitucionalidade do artigo 11
permissivo próprio, para ver rejeita- do Decreto-Lei n? 554, mas limitou-se
da a declaração de inconstitucionali- a invocar o precedente do respectivo
dade ocorrida no tribunal de origem. Plenário, em que tal declaração se
Nos autos, a Procuradora Anadyr fizera, para desprover o apelo do IN-
Rodrigues opina pelo não conheci- CRA.
mento do recurso (fls. 115/116): Tais as circunstâncias, não conhe-
ço do recurso extraordinário.
«...é de considerar-se que a res-
salva constante do § 22 do art. 153 EXTRATO DA ATA
da Carta Magna não afasta a idéia
de indenização justa pela desapro-
priação, ainda que de propriedade RE 95.529-AC — Rel.: Min. Fran-
rural; e que os critérios legais au- cisco Rezek. Recte.: Instituto Nacio-
torizados pelo art. 161 da Constitui- nal de Colonização e Reforma Agrá-
ção não podem conduzir á fixação ria — INCRA (Advs.: Eurico Monte-
de outro valor, compensatório da negro Júnior e outros). Recdos.:
perda da propriedade, que não Marcionílio Souza Santos e outros
equivalha a seu justo preço, enten- (Advs.: João de Castro Branco e ou-
dido que a procura do JUSTO não tro).
está adstrita a limites, nem mes- Decisão: Não conhecido. Unânime.
mo se fixados por lei.
Presidência do Senhor Ministro
O parecer é, por conseguinte, de Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
que, dada a procedência da decla- Senhores Ministros Moreira Alves,
ração de inconstitucionalidade for- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
mulada pelo E. Tribunal Federal Francisco Rezek — Subprocurador-
de Recursos, o Recurso Extraordi- Geral da República, Dr. Mauro Leite
nário não comporta conhecimen- Soares.
to.» Brasília, 4 de outubro de 1983 —
Hélio Francisco Marques, Secretá-
o relatório. rio.
— loa 675

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 95.790 (AgRg) — AM


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Agravante: Estado do Amazonas — Agravado: Waldemar Palma Lima.
Recurso extraordinário (art. 143 da Constituição). Cabimento de
embargos (art. 894 da CLT). Questão constitucional (inocorrêncla).
A questão sobre o cabimento dos embargos do art. 899 da CLT in-
terposto de decisão de Turma do TST, proferida em agravo de instru-
mento, é de índole exclusivamente processual, cingindo-se à interpre-
tação da lel trabalhista, sem envolver ofensa a dispositivo constitucio-
nal. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO fundamento a simples alegação de
sonegação da prestação jurisdicio-
Vistos, relatados e discutidos estes nal, e conseqüente ofensa ao art. 153,
autos, acordam os Ministros da Pri- 3?, da Constituição, senão também
meira Turma do Supremo Tribunal de contrariedade aos arts. 6?, úni-
Federal, em conformidade com a co, 8?; XVII, b, e 141, g 4?, todos da
ata de Julgamentos e notas taquigrá- Constituição.
ficas, à unanimidade, em negar pro-
vimento ao agravo. Mantido o despacho agravado, por
Brasília, 13 de dezembro de 1983 — seus fundamentos, vem o recurso a
Soares Mutloz, Presidente — Rafael Julgamento da Egrégia Turma.
Mayer, Relator. E o relatório.
RELATORIO
O Sr. Ministro Rafael Mayer: O VOTO
acórdão de que se interpôs recurso
extraordinário, com fulcro no art.
143 da Constituição e outros disposi- O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
tivos constitucionais, teve essencial- lator): O entendimento pacifico des-
mente por incabíveis os embargos ta Corte, ao propósito de tema ora
previstos no art. 894 da CLT, por in- sob exame, é o de que a controvérsia
cidentes em decisão de Turma do não assume feição constitucional,
TST, proferida em agravo interposto pois se cinge a questão de índole pro-
de despacho denegatório de subida cessual, representada em simples in-
de recurso de revista. terpretação da lei trabalhista sobre
o cabimento e extensão do recurso
Indeferido o recurso extraordiná- de embargos, previsto no art. 894 da
rio, e interposto agravo de instru- CLT.
mento, neguei-lhe seguimento, sob o
fundamento de que pacificada nesta Aliás, acaso se tratasse de recurso
Corte a orientação de que a espécie, extraordinário procedente da Jurisdi-
de índole processual, não envolve ção ordinária, pela significação me-
questão constitucional, de modo a nor de que se reveste, para o contro-
ensejar o recurso extraordinário. le da Corte Suprema, o cabimento de
recurso, a questão estaria obstada
Daí o agravo regimental, em que pelo art. 325, VII, do Regimento In-
se alega que o recurso não teve por terno.
676 R.T.J. — 108

Ademais, é de ver que nem se de- EXTRATO DA ATA


monstra que, na instância do recurso
de revista, sede_própria de pregues- Ag. 95.790-(AgRg)-AM — Rel.:
tionamento para o efeito de viabili- Min. Rafael Mayer. Agte.: Estado do
zação do recurso extraordinário, se- Amazonas. (Adv.: Oldeney Bagnero
gundo entendimento igualmente pa- Farias de Carvalho). Agdo.: Waide-
cificado nesta Corte, haja sido equa- mar Palma Lima.
cionada questão constitucional que, Decisão: Negou-se provimento ao
por meio do trancamento do recurso agravo regimental. Decisão unâni-
de embargos, tenha sido obstada ao me.
conhecimento e controle do Supremo Presidência do Senhor Ministro
Tribunal Federal, o que assumiria Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
relevância para o encaminhamento Senhores Ministros, Rafael Mayer,
do recurso, haja vista a construção Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
jurisprudencial a respeito do art. Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
896, § 4? da CLT, relativo ao cabi- da República, Dr. Francisco de As-
mento do recurso de revista quando sis Toledo.
em causa matéria constitucional.
Brasília, 13 de dezembro de 1983 —
Pelo exposto, nego provimento ao António Carlos de Azevedo Braga,
agravo. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 95.923 — RS


(Primeira Turma)
Relatar: 13 Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Newton Roesch Aerts — Recorrido: Luiz Inácio Caceres
Day.
Ação de reparaçio de danos em acidente de veículos. Legitimida-
de passiva ad causam. Súmula 489. A compra e venda de automóvel
não prevalece contra terceiros, de boa fé, se o contrato não foi regis-
trado no Registro de Títulos e Documentos. Decreto n? 4.857/1939, art.
138, te 7; Lei n? 8.015/1973, art.. 128, n? 7. Procedentes do STF. O acór-
dão afirmou que a compra e venda de veículos se perfectiblliza com a
tradição (arta. 820 e 875 do Código Civil), tendo, assim, como ilegiti-
mado, passivamente, ad causam, aquele cujo nome figura no Regis-
tro, como proprietário do automóvel, eis que comprovada a venda.
Decisão em contrariedade ir Súmula 489. Recurso extraordinário co-
nhecido e provido.
ACÓRDÃO Brasília, 3 de dezembro de 1982 —
Soares Muãoz, Presidente — Néri da
Vistos, relatados e discutidos estes Silveira, Relator.
autos, acordam os Ministros da Pri-
meira Turma do Supremo Tribunal RELATÓRIO
Federal, na conformidade da ata de
julgamentos e notas taquigráficas, à O Sr. Ministro Néri da Silveira
unanimidade, conhecer do recurso e (Relator): Admitindo o processa-
lhe dar provimento. mento do apelo extremo, o ilustre

R.T.J. — 106 677

Presidente do Tribunal de Alçada ção de relevância da questão fede-


gaúcho, Dr. José Maria Rosa Teshel- ral é privativo do Supremo Tribu-
ner, expõe a espécie dos autos, em nal Federal
seu despacho de fls. 66/67, In verbis: Quanto à divergência com a Sú-
«Trata-se de ação de reparação mula 489, entendo-a configurada.
de danos decorrentes de acidente Embora desnecessário, observo
de veículo, proposta por Newton que, quanto ao dissídio jurispru-
Boescb Aerts contra Luiz Inácio dencial, o recurso desatende aos
Caceres Day e Francisco Carlos requisitos do art. 322 do Regimento
Avila. Interno. O acórdão publicado na
A 1? Câmara Cível, reconhecen- Revista dos Tribunais 542/232 traz
do a ilegitimidade passiva ad apenas a ementa, o que não satis-
causam de Luiz Inácio Caceres faz as exigências do artigo referido
Day, julgou o autor carecedor de (RE n? 84.939-RS, RTJ 79/653 e RE
ação contra este, com o seguinte n? 81.125-SP, DJU de 24-8-79 pág.
entendimento: 6.253) e os demais foram publicados
«Agravo de Instrumento: Ilegi- no Boletim Adcoas, que não é rel
timidade ad causam. pertório autorizado para indicação
de julgados (RTJ 84/1.046, 91/874 e
«Compra e venda de veículo 92/143).
automotor.
«Prova mediante recibo e ter- 4. Admito o recurso. Manifeste-
mo de responsabilidade, com fir- se o recorrente quanto ao proces-
ma reconhecida, antes do evento samento da argüição de relevân-
cia, para os efeitos do artigo 329,
«A compra e venda de veículo inciso I, do Regimento Interno do
se perfectibiliza com a tradição Supremo Tribunal Federal.».
(arts. 620 e 675 do Código Civil). Razões do recorrente, às fls. 72, e
«Negaram provimento. Unâni- do recorrido, às fls. 75/77.
me.» Oficiando nos autos, manifestou-se
Irresignado, o autor recorre a douta Procuradoria-Geral da Re-
extraordinariamente, com amparo pública pelo conhecimento e provi-
no art. 119, inciso III, letras a e d, mento do recurso extraordinário
da Constituição Federal. Alega ne- (fls. 81/82).
gativa de vigência do artigo 135 do Quanto à argüição de relevância
Código Civil e artigos 1?, 127, inciso da questão federal, foi a mesma re-
I, e 129, n? 7, da Lei n? 6.015/73, di- jeitada em Sessão de Conselho (fls.
vergência com a Súmula 489 e 45 do apenso).
dissídio jurisprudencial. o relatório.
O recurso encontra óbice no
artigo 325, inciso V, letra b, do Re- VOTO
gimento Interno do Supremo Tribu-
nal Federal, porquanto proferida a O Sr. Ministro Néri da Silveira
decisão em ação que a Lei subme- (Relator): O acórdão recorrido, ao
te ao rito sumarissimo. Desse mo- desprover o agravo do ora recorren-
do, a admissibilidade do recurso fi- te, exibe a seguinte fundamentação
ca condicionada à ocorrência das (fls. 47/48):
ressalvas do caput da referida nor- «1. O agravante propôs ação de
ma regimental. indenização de dano, por acidente
Não foi alegada ofensa a texto de trânsito, contra o agravado e
constitucional e o exame da argüi- Francisco Carlos Avila, sendo que
678 — 108

acidente ocorreu em 5-7-1980. O havendo, no caso; prova da venda do


agravado é o proprietário do veícu- automóvel, envolvido no acidente,
lo causador do acidente, mas na pelo recorrido, antes do evento, con-
ocasião dirigido por Francisco Car- forme recibo e termo de responsabi-
los (2? réu). lidade, com data de 3-7-1980. Recu-
agravado, em preliminar de sou o entendimento do então agra-
contestação, argüiu ilegitimidade vante de que a compra e venda não
ad causam, pois tinha vendido o podia prevalecer contra terceiros,
veículo para Francisco, no dia 3-7- sem qualquer registro no DETRAN
80, este assinando termo de respon- ou no Cartório de Títulos e Docu-
sabilidade (fls. 21/22). mentos.
Dr. Pretor acolheu a prelimi- Está, efetivamente, na Súmula n?
nar (fls. 24/25), julgando o autor 489, verbis:
carecedor de ação, relação ao co- «A compra e venda de automó-
réu Luiz Inácio Caceres Day. vel não prevalece contra terceiros,
Dai o agravo, forte no magistério de boa fé, se o contrato não foi
de Irineu Marlani (fls. 6/8), ale transcrito no Registro de Títulos e
-gandoque,csãpr- Documentos.»
valecer a compra e venda do derar Ainda que se possa, no caso, consi-
veiculo, sem qualquer registro, no mo legítima, a transferência do veículo, co-
DETRAN ou no Cartório de Títulos á data do acidente, cer-
Documentos, para retirar da re- to é que não pode ela prevalecer con-
lação jurídica o co-réu Luiz Inácio tra o recorrente, que é terceiro de
Caceres Day. Este, espera seja boa fé, por não constar do registro
público competente. Os efeitos do
mantida a decisão (fls. 37/38). instrumento particular de compra e
Dr. Pretor ratificou o decisum venda, na espécie, não operam, em
pelos seus próprios fundamentos. relação a terceiros, antes da inscri-
2. O recibo de fls. 21 e o termo ção no registro público. O Decreto n?
de responsabilidade, com data de 4.857/1939 era explícito, em seu art.
3-7-1980, provam o negócio da com- 136, n? 7, ao sujeitar, ao Registro de
pra e venda do veículo envolvido Títulos e Documentos, os contratos
no acidente. A venda se efetivou de compra e venda de automóveis,
antes do acidente e o veículo trafe- qualquer seja a forma de que se re-
gava sob o comando do comprador vistam. A vigente Lei de Registros
Francisco Carlos Ávila. Públicos (Lei n? 6.015/1973, com alte-
A Câmara, em que pese os dou- rações da Lei n? 6.216/75) dispõe, em
tos fundamentos esposados no arti- seu art. 128, n? 7, verbis: «Estão su-
go de doutrina de fls. 6/8, do Bel. jeitos a registro, no Registro de Títu-
Irineu Mariani, acolhe os da r. de- los e Documentos, para surtir efeito
cisão do Dr. Pretor (fls. 32/34) e em relação a terceiros: as quitações,
que ficam fazendo parte integrante recibos e contratos de compra e ven-
deste Acórdão, com o destaque de da de automóveis, bem como o pe-
que a compra e venda de veículos nhor destes qualquer que seja a for-
se perfectibiliza com a tradição ma que revistam.»
(arts. 620 e 675 do Código Civil). No julgamento do RE n? 85.786-CE
(RTJ 81/266), esta Turma, Relator o
Nestas condições, nega-se provi- Ministro Bilac Pinto, teve ensejo de
mento ao agravo.» reafirmar a jurisprudência do Tribu-
O acórdão afirmou, assim, que a nal, invocando-se os precedentes nos
compra e venda do veiculo automo- Recursos Extraordinários n?s 61.578
tor se perfectibiliza com a tradição, (RTJ 40/133), 76.601, 64.111 (RTJ
R.T.J. — 108 679

47/760), 65.064 (RTJ (47/686). Neste O óbice do art. 325, V, b, do


último julgado, de que Relator o sau- Regimento Interno está contorna-
doso Ministro Aliomar Baleeiro, do pela alegação de manifesta di-
fixou-se a seguinte ementa: vergência com a Súmula n? 489 do
Supremo Tribunal Federal, que
«Documento particular de venda. tem o seguinte teor:
Seus efeitos só se operam em rela- «A compra e venda de automó-
ção a terceiros após o registro pú- vel não prevalece contra tercei-
blico (Código Civil, art. 135). Estão ros, de boa fé, se o contrato não
expressamente sujeitos a esse re- foi transcrito no Registro de Títu-
gistro, para validade em relação a los e Documentos.»
terceiros, os recibos de venda de
automóvel (Decreto n? 4.857, de O exame do V. Acórdão de
1939, art. 136, n? 7) .» fls. 47/49 permite verificar que, efe-
tivamente, a despeito do enunciado
Ora, na espécie, não havia registro na referida Súmula, preferiu o E.
do recibo referente á compra e ven- Tribunal a quo considerar que a
da do veículo causador do acidente. mera tradição do automóvel surte
Quem figurava na repartição de efeitos erga omnes.
trânsito como proprietário do veículo 4. A exegese adotada, além de
não podia, pois, ser considerado par- discrepar da Súmula em referên-
te passiva ilegítima ad causam. cia, inegavelmente afronta os dis-
positivos legais invocados no Re-
Está, assim, correto o parecer da curso Extraordinário.»
ilustrada Procuradoria-Geral da Re-
pública, em prol do conhecimento e Do exposto, conheço do recurso e
provimento do recurso extremo (fls. lhe dou provimento.
81/82), nestes termos:
«Negando provimento a Agravo EXTRATO DA ATA
de Instrumento interposto contra
decisão que, em Ação de Indeniza-
ção pelo rito sumarissimo, decla- RE 95.923-RS — Rel.: Min. Néri da
rou a ilegitimidade passiva ad Silveira. Recte.: Newton Roesch
causam do proprietário de veículo Aerts. (Advs.: Irani Mariani e ou-
envolvido no acidente, é oferecido tros). Recdo.: Luiz Inácio Caceres
Recurso Extraordinário, funda- Day. (Adv.: Luiz Carlos Athanasio
mentado nas alíneas a e d do per- Sica)
missivo constitucional, ao argu- Decisão: Conheceu-se do recurso e
mento de que, não reconhecendo a se lhe deu provimento. Decisão unâ-
necessidade de registro da venda nime.
de veículo perante o DETRAN ou o
Cartório de Títulos e Documentos, Presidência do Senhor Ministro
para valer contra terceiros, o V. Soares Muíloz. Presentes à Sessão os
Acórdão recorrido negou vigência Senhores Ministros, Rafael Mayer,
ao art. 135 do Código Civil e aos ar- Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
tigos 1?, 129, n? 7, e 127, I, da Lei n? sente, justificadamente, o Sr. Minis-
6.015, de 1973, além de divergir da tro Alfredo Buzaid. Subprocurador-
Súmula n? 489 e dos arestos especi- Geral da República Dr. João Boa-
ficados às fls. 54/56, fazendo tam- baid de Oliveira Itapary.
bém a argüição de relevância da Brasília, 3 de dezembro de 1982 —
questão federal, a qual foi rejeita- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
da (autos apensos). Secretário.
680 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.019 — DF


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Neri da Silveira.
Recorrente: Conselho Federal de Farmácia — Recorridos: José Pereira
e outros.
Farmácia. Oficial de Farmácia Provisionado. Distintas são as si-
tuações: a) provisionamento do Oficial de Farmácia, para o exercido
da atividade farmacêutica, como responsável técnico de farmácia de
sua propriedade, de acordo com o art. 33, da Lel n? 3.820/1960. ou com
o art. 57, da Lei n? 5.991 /1973; b)llcenclamento de estabelecimento farma-
cêutico, por órgão sanitário estadual, a teor do art. 15, 4 3?, da Lei n?
5.991 /1673, em se tratando da situação especial prevista nesse positivo,
dis
sob responsabilidade técnica de Oficial de Farmácia, inscri-
to em Conselho Regional de Farmácia, embora não provisionado. De-
creto n? 74.170/1974, art. 28 e seu fi 1?. Estando os estabelecimentos as-
sim licenciados, com licença renovada, pelo órgão sanitário estadual,
a funcionar, sob a responsabilidade técnica de Oficiais de Farmácia,
inscritos em CRF, não cabe a este opor-se às suas atividades, ainda
que, pela especialidade da situação, não hajam os Oficiais de Farmá-
cia adquirido o titulo de provisionamento. As renovações de licença,
pelo órgão sanitário estadual, devem atender à permanência das con-
dições do art. 15, II 3?, da Lei n? 5.991/1973. Nessa hipótese, não se tra-
ta da situação mais ampla do Oficial de Farmácia Provisionado, ut
art. 57, da Lei n? 5.991/1973. Recurso extraordinário do Conselho Fe-
deral de Farmácia, de que não se conhece, por não caracterizada
negativa de vigência dos arts. 15, fi 3?, e 57, da Lei n? 5.991/1973.
ACÓRDÃO contra acórdão da 11 Turma, do
Egrégio Tribunal Federal de Recur-
Vistos, relatados e discutidos estes sos, que exibe esta ementa (fls. 92):
autos, acordam os Ministros da Pri-
meira Turma do Supremo Tribunal «Administrativo — Conselho Fe-
Federal, na conformidade da ata de deral de Farmácia — Provisio-
Julgamentos e notas taquigráficas, à namento.
unanimidade, não conhecer do recur- E pacifico o entendimento de que
so. o provisionamento pertence ao ofi-
Brasília, 1? de junho de 1982 -- cial de farmácia e não ao estabele-
Soares Mudos, Presidente — Néri da cimento. Assim, regular o ato de
Silveira, Relator. inscrição, impossível a 'sua cassa-
ção, se as exigências legais vêm
sendo atendidas no exercício das
RELATÓRIO atividades do provisionado.
Sentença confirmada.»
O Sr. Ministro Néri da Silveira Sustenta o recorrido que o aresto
(Relator): Trata-se de recurso ex- em comento violou os arts. 15, 3?, e
traordinário, interposto pelo Conse- 57, da Lei n? 5.991, de 1973, bem as-
lho Federal de Farmácia, com fun- sim o Decreto n? 74.170, de 1974, que
damento na letra a, inciso III, do regulamentou o referido diploma le-
art. 119, da Constituição Federal, gal.

R.T.J. — 108 881

Examinando a espécie, o ilustre ciados, nos termos da Lei n? 5.991,


Ministro Jarbas dos Santos Nobre, de 17-12-1973. São Oficiais de Farmá-
então Vice-Presidente da Referida cia, com certificado de habilitação,
Corte, determinou o processamento desde 1967 e 1966, respectivamente.
do apelo extremo, em seu despacho Obtiveram os registros. ut Lei n?
de fls. 100/101, do qual transcrevo a 5.991/73, art. 57, e Decreto n?
seguinte parte: 74.170/74, art. 28 e incisos, em 1975 e
«O art. 15 da Lel n? 5.991, de 1976, respectivamente.
17 de dezembro de 1973, impõe que Reza o art. 57, da Lei n? 5.991/1973:
as farmácias e drogarias possuam
a assistência de técnico responsá- «Art. 57. Os práticos e oficiais
vel inscrito no Conselho Regional de farmácia, habilitados na forma
de Farmácia, na forma da lel. da lei, que estiverem em plena ati-
Seu II 3? no objetivo de atender o vidade e provarem manter a pro-
Interesse público, caracterizada a priedade ou co-propriedade de far-
necessidade da existência de far- mácia em 11 de novembro de 1960,
mácia ou drogaria, e na falta de serão provisionados pelo Conselho
farmacêutico, outorga poderes ao Federal e Conselhos Regionais de
«órgão sanitário de fiscalização lo- Farmácia ;ara assumir a respon-
cal» para licenciar «os estabeleci- sabilidade técnica do estabeleci-
mentos sob a responsabilidade de mento»
técnico de farmácia, oficial de far- Posteriormente, em outubro de
mácia ou outro, igualmente inscri- 1978, foram cientificados da anula-
to no Conselho Regional de Farmá- ção dos provlsionarnentos, impetran-
cia, na forma da lei.» do, em conseqüência, a segurança,
O artigo 28 do Decreto n? 74.170, concedida nas instâncias ordiná-
de 10 de junho de 1974, declina a rias.
«órgão sanitário competente dos No recurso extraordinário, susten-
Estados, do Distrito Federal e dos ta o Conselho Federal de Farmácia
Territórios,» como o detentor do que o acórdão negou vigência aos
poder de licenciar a farmácia ou arts. 15, 3?, e 57, da Lei n?
drogaria sob a responsabilidade 5.991/1973, e art. 28, do Decreto n?
técnica de prático ou oficial de far- 74.170, de 1974.
mácia nos casos que indica.
No caso dos autos, o licencia- O acórdão recorrido, pelo voto dele
condutor, do ilustre Ministro Pereira
mento dos ora recorridos pelo Con- de Paiva, assim examinou a contro-
selho Regional de Farmácia não se vérsia (fls. 85/89):
presta para legalizar a situação
dos estabelechnentos de Jacui e «O Conselho Federal de Farmá-
São Pedro da União que não foram cia, no Mandado de Segurança
licenciados pelos órgãos sanitários impetrado por José Pereira e
locais.» Waldomiro Moreira de Alvarenga,
E o relatório. por seu ilustre advogado, não se
conformando com a sentença de
fls. 61/65, que anulou os atos do
VOTO apelante que revogaram os acór-
dãos 549 e 603, respectivamente de
O Sr. Ministro Néri da Silveira 8 de julho de 1975 e 20 de fevereiro
(Relator): Os impetrantes requere- de 1976, recorreu daquela decisão
ram inscrição no Conselho Regional para este Egrégio Tribunal Federal
de Farmácia de Minas Gerais, CRF- de Recursos e, de modo resumido,
6, como Oficiais de Farmácia licen- ratificou as razões contidas nas in-
682 R.T.J. — 108

formações, sustentando que a lei é go citado. O provisionamento é


de vigência clara ntido de que do impetrante, e não do estabele-
os estabelecimentos é que poderão cimento de sua propriedade (far-
ser licenciados não us respon- mácia ou drogaria). Provisiona-
sáveis técnico do é o Oficial de Farmácia, pes-
O pomo dá discórdia, reside, soa física, como é óbvio.
pois, na intefpretação autêntica da A única restrição ao provisio-
lei para saber se o ato impugnado namento consiste na vedação de
foi ou não legal. acumulação de responsabilidade
O ato impugnado, praticado e por dois ou mais estabelecimen-
confessado pelo apelante, refere-se tos, nos termos do § 1? do artigo
aos acórdãos lavrados que haviam 59 do Decreto n? 74.140, de 10 de
homologado o licenciamento dos junho de 1974 verbis:»
apelados, perante o Conselho Re- «O provisionado poderá assu-
gional de Farmácia do Estado de mir livremente a responsabilida-
Minas Gerais, para o exercício de de técnica de quaisquer das far-
suas profissões. mácias de sua propriedade ou co-
As inscrições dos apelantes, im- propriedade, proibida a acumula-
petrantes do mandamus, foram an- ção e atendida a exigência de ho-
tecedidas de processo regular em rário de trabalho prevista no § 1?
que se examinaram todos os requi- do artigo 27, deste Regulamen-
sitos da lei e, por isso mesmo, me- to».
receram as homologações do Con- Ora, nem a Lei n? 3.820/60, ou
selho Regional de Minas Gerais. a Lei n? 5.991/73, ou mesmo o De-
Logo, é impossível atacar um creto n? 74.140/74, que regem a
ato, por ato de império, que obede- espécie trazem qualquer proibi-
ceu a lei de fundo, a lei padrão, ção a que o Oficial de Farmácia
que rege o licenciamento dos pro- provisionado nos termos do art.
fissionais, que é a Lei de n? 3.820. 33 da norma primeira citada, ao
encerrar as atividades de um es-
Ora, se há uma lei regendo e cui- tabelecimento farmacêutico, pos-
dando dos profissionais, e se há ou- sa, em seguida, abrir outro de
tra cogitando do licenciamento dos sua propriedade ou co-proprie-
estabelecimentos de farmácia, que dade. Nem poderiam fazê-lo sob
é a de n? 5.991, é impossível, por pena de afronta aos princípios
ato de império, desfazer-se um ato insertos no art. 153, §§ 2? e 3? da
homologatório do licenciamento do Constituição Federal
profissional, pelo órgão próprio, no Nesse sentido, aliás é o parecer
uso de prerrogativas próprias con- do insigne Moacyr Amaral dos
feridas por aquela lei de fundo. Santos, acostado aos autos do
Em matéria idêntica à tese des- Mandado de Segurança n?
tes autos, na Remessa de Oficio n? 1.257.102 (Antonio Theodoro da
89.074, de São Paulo, é oportuno Silva contra Presidente do Conse-
destacar estes argumentos da sen- lho Regional de Farmácia do Es-
tença de primeiro grau: tado de São Paulo — 4! Vara Fe-
«O Impetrante foi provisionado deral), ao asseverar perempto-
com base no artigo 33 da Lel n? riamente:
3.820, como Oficial de Farmácia, «Assim como não há lei que
ó que lhe permite responder, tec- vede a transferência da respon-
nicamente, por farmácia de sua sabilidade técnica de uma far-
propriedade, nos termos do arti- mácia para outra, também de

R.T.J. —108 683

sua propriedade, não o há, proíbem que o oficial de farmácia


igualmente, para atos inerentes provisionado encerre sua ativida-
ao direito de locomoção, tais de aqui e reabra ali, mais tarde,
como: mudar a farmácia de lo- segue-se que um licenciamento não
cal — rua, cidade, Estado — está preso por nenhum laço a outra
mesmo porque o provisionado, lei, e segue-se, ipso facto, que o ato
está habilitado ao exercício da da nulidade do licenciamento, nos
profissão em todo o País (Lei moldes do que aqui ocorrido, foi
n? 3.820/60, art. 19); vender seu praticado com abuso de poder ou
estabelecimento e adquirir ou- de modo ilegal, mesmo porque vai
tro, para este transferido o de encontro às normas salutares
exercício de sua responsabili- insertas no art. 153, §§ 2? e 3? da
dade técnica, porque, do con- Constituição Federal.
trário, seria prender o provisio-
namento a coisa e não conferir Deste modo, a sentença recorri-
um direito àquele que satisfez da está em harmonia com a lei e a
às condições de capacidade pa- jurisprudência hoje já dominante
ra o exercício da profissão es- nos nossos mais altos Tribunais,
tabelecidos em lei (Constitui- sobre a espécie".»
ção Federal, art. 153, § 23); al- 2. O Conselho Federal de Farmá-
terar a razão social de sua fir- cia vem sustentando, à luz do art. 15,
ma, admitindo ou excluindo só- § 3?, da Lei n? 5.991/1973, que não lhe
cio quotista, por esse ser um di- cabe licenciar o funcionamento dos
reito que lhe assegura a lei que estabelecimentos farmacêuticos,
rege as sociedades por quotas, mas, sim, ao órgão sanitário esta-
matéria de direito comercial e dual. Na impetração, defendem os
não de direito sanitário, mas, ora recorridos, como Oficiais de
nem por isso, por este expres- Farmácia, seu direito de responsabi-
samente consentida (Lei n? lidade técnica pelas farmácias de
5.991/73, art. 27) .» sua propriedade, o que contesta o re-
Assim, irrecusável o direito do corrente, ao argumento de não
impetrante de obter o registro de preencherem os requisitos de lei a
contrato social da farmácia de tanto (fls. 71).
que é co-proprietário, já que não
perdeu a condição de Oficial de Não conheço do recurso.
Farmácia Provisionado pelo Distintas são as situações: a) pro-
simples fato de ter regularmente visionamento do Oficial de Farmácia
encerrado as atividades da far- para o exercício da atividade farma-
mácia anterior, situada no mes- cêutica, como responsável técnico de
mo local da nova (fls. 17/19). A farmácia de sua propriedade, o que
oposição do impetrado, nesse pode se apoiar, no art. 33, da Lei n?
sentido, viola direito liquido e 3.820/1960 ou no art. 57, da Lei n?
certo, ainda que reconhecida a 5.991/1973, e se dará por ato dos Con-
competência do mesmo impetra- selhos Regionais de Farmácia, ho-
do para verificação de cláusulas mologado pelo CFF, e b) licencia-
contratuais que digam respeito mento de estabelecimento farmacêu-
ao responsável técnico pelo esta- tico, pelo órgão sanitário estadual,
belecimento.» ut art. 15 § 3?, da Lei n? 5.991/1973,
Logo, se a Lei n? 3.820/60, ou a em se tratando de situação especial,
Lei n? 5.991/73, ou mesmo o Decre- definida nesse dispositivo legal, fi-
to n? 74.140/74, que cogitam dos li- cando sob a responsabilidade técnica
cenciamentos, quer do estabeleci- de prático de farmácia, Oficial de
ménto, quer do profissional, não Farmácia, inscrito em CRF, embora
— 108

não seja provisionado, por não ter calidades de Jacu! -MG José Perei-
preenchido os requisitos das leis ra, e em São Pedro da união, MG,
mencionadas. O art. 28 e seu 1?, do Waldomiro Moreira de Alvarenga.
Decreto n? 74.170/1974, mais explíci-
to se faz, quanto ao caráter excep- Dessa maneira, sendo certo que
cional desse licenciamento que o Es- estavam, na forma do art. 15, 3?,
tado pode fazer, ocorrendo as cir- da Lei n? 5.991, de 1973, os estabele-
cunstâncias definidas nesses disposi- cimentos licenciados pelos órgãos
tivos, legal e regulamentar. sanitários estaduais, legitima era a
situação dos Oficiais de Farmácia
Na espécie, os ora recorridos obti- em referência, que se achavam re-
veram certificados de habilitação co- gularmente, como tais, registrados
mo Oficial de Farmácia, expedidos no CRF-6, para prosseguir, como já
pela Secretaria de Saúde Pública do vinham, operando com suas farmá-
Estado de Minas Gerais, em julho de cias, nas localidades de Jacta e São
1967 e janeiro de 1966 (fls. 16/17). Pedro da União, onde somente exis-
tiam os estabelecimentos dos impe-
A 26-12-1975, o CRF-6-MG comuni- trantes. Se o órgão sanitário esta-
cou ao segundo recorrido — Waldo- dual havia licenciado os estabeleci-
miro Moreira de Alvarenga haver si- mentos, renovando, inclusive, a li-
do julgado e aprovado seu pedido de cença, nenhuma manifestação em
inscrição como Oficial de Farmácia, contrário ocorreu da Secretaria de
«para o fim de obter do Serviço Sani- Saúde. Logo, o Conselho Federal de
tário Estadual o licenciamento de Farmácia, que não nega aos recorri-
farmácia de sua propriedade e sob dos a condição de Oficiais de Farmá-
sua responsabilidade técnica, na lo- cia, não podia se opor ao funciona-
calidade de São Pedro da União (fls. mento dos estabelecimentos em foco,
19), o que veio a ser confirmado pelo licenciados pelo órgão sanitário esta-
Conselho Federal de Farmácia, dual, na forma do art. 15, 3?, da
conforme Ofício do CRF-6, de 19-3- Lel n? 5.991/1973, que reza:
1976 (fls, 21), e Acórdão n? 603, de 20- «3? Em razão de interesse públi-
2-1976, com base na Lei n? 5.991/1973. co, caracterizada a necessidade da
Em 19-10-1978, o CRF-6 comunicou existência de farmácia ou droga-
ao impetrante em referência que o ria, e na falta de farmacêutico, o
CFF havia anulado dito Acórdão n? órgão sanitário de fiscalização lo-
603, pelo Acórdão de n? 811 (fls. 39). cal licenciará os estabelecimentos
Quanto ao recorrido José Pereira, sob a responsabilidade técnica de
em Oficio de 1?-9-1975, o CRF-6 prático de farmácia ou outro igual-
cientificou-o de haver o CFF homolo- mente inscrito no Conselho Regio-
gado sua inscrição como Oficial de nal de Farmácia, na forma da lei.»
Farmácia Licenciado, nos termos da
Lei n? 5.991/1973 (fls. 20), conforme Ora, os impetrantes eram Oficiais
Acórdão n? 549, de 8-7-1975. Em 19- de Farmácia. Mesmo que não pos-
10-1978, o mesmo CRF-6 comunica suíssem o titulo de Oficiais de Far-
que o CFF anulou o Acordão em mácia Provisionados, ut art. 57, dal
apreço, de n? 811. Lei n? 5.991/1973, ou art. 33, da Lei
n? 3.820/1960, assim inscritos no
Ora; os estabelecimentos dos im- Quadro próprio do CRF-6, como sim-
petrantes vinham funcionando regu- ples Oficiais de Farmácia, podiam
lamente, sob sua responsabilidade continuar com os estabelecimentos
técnica, com licença e respectiva re- referidos, sem outras exigências do
novação, expedidas pelo órgão sani- CRF-6, quanto á responsabilidade
tário estadual (fls. 29, 30,31), nas lo- técnica, pois estavam licenciados os
R.T.J. — 108 685

estabelecimentos pelo órgão sanitá- Tão só esse é o direito que se lhes


rio (fls. 29/31), até a data dos atos reconhece, tendo em conta que o li-
impugnados. cenciamento pelo órgão sanitário es-
Não há ver negativa de vigência tadual está comprovado.
do art. 15, § 3?, da Lei n? 5.991/1973. Do exposto, não conheço do recur-
As renovações seguintes de licença
para o funcionamento dos estabeleci- so,de
por não caracterizada negativa
vigência do art. 15, § 3?, e 57, da
mentos devem ser concedidas, como Lei n? 5.991/1973, pela decisão recor-
as anteriores já o haviam sido, pela
Secretaria de Saúde do Estado de rida.
Minas Gerais, comprovado permane-
cerem as condições anteriores, que EXTRATO DA ATA
os enquadraram no art. 15 § 3?, da
Lei n? 5.991/1973, desde que prossi-
gam inscritos no CRF-6, como Ofi- daRE 96.019-O-DF — Rel.: Min. Néri
ciais de Farmácia, que são, devida- ral Silveira.
de
Recte.: Conselho Fede-
Farmácia. (Advs.: Rubens de
mente habilitados (fls. 16/17). Barros Brisolla e outros). Recdos.:
Posta a questão nesses termos, José Pereira e outro. (Advs.: Antô-
não se discute, aqui, o problema do nio Neves de Carvalho e outro).
provisionamento, ut art. 57, da Lei
n? 5.991/1973, também ventilado na Decisão: Sem discrepância de vo-
Inicial. Desde ai, todavia, en- tos não se conheceu do recurso.
carregaram-se os próprios impe- Presidência do Senhor Ministro
trantes de definir a controvérsia, às Soares Mufloz. Presentes à sessão os
fls. 6, indagando: «Têm os impetran- Senhores Ministros Rafael Mayer,
tes competência legal para respon- Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
sabilizar-se pelas suas farmácias sente, justificadamente, o Sr. Minis-
nas localidades de Jacui e São Pe- tro Alfredo Buzaid. Subprocurador-
dro da União MG? Desenvolvem, a Geral da República, Dr. Francisco
seguir, sua resposta positiva, pre- de Assis Toledo.
cisamente, com base no art. 15, § 3?,
da Lel n? 5.991/1973, e seu regula- Brasília, 1? de junho de 1982 —
mento, ut art. 28 e incisos, do Decre- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
to n? 74.170/1974. Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO bit 96.318 — DF
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Reza.
Recorrente: César Prates — Recorridos: Corregedor da Justiça do Dis-
trito Federal e dos Territórios e Juiz de Registros Públicos do Distrito Fede-
ral.

Serventia ~aludida] não oficializada.


Não há contrariedade à Constituição nem á lei federal nas deter-
minações do Corregedor de Justiça sobre o controle do cumprimento
da lei nas serventias extrajudiciais não oficializadas: 19
Entende-se local a legislação do Congresso sobre a organização
judiciária do Distrito Federal, razão por que seu exame não tem lu-
gar na instância extraordinária (Súmula 280).
Recurso não conhecido.
686 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO do provimento do Corregedor, expe-


dida pelo Juiz de Registros Públicos,
Vistós, relatados e discutidos estes determinando que as serventias ex-
autos, acordam os Ministros da Se- trajudiciais acolhessem, nas suas de-
gunda Turma do Supremo Tribunal pendências, um guichê arrecadador
Federal, de conformidade com a ata da Caixa Econômica Federal, desde
de julgamentos e as notas taquigráfi- que não houvesse agência dessa ins-
cas, à unanimidade de votos, não co- tituição na mesma quadra ou
nhecer do recurso. edifício onde localizada a serventia
( fls. 26).
Brasília, 14 de outubro de 1983 —
Decio Miranda, Presidente — Fran- O Tribunal de Justiça decidiu que,
cisco Rezek. Relator. de acordo com a legislação aplicá-
vel, o Corregedor e o Juiz de Regis-
tros Públicos estavam autorizados à
RELATÓRIO expedição das normas em debate.
Seu acórdão assim resultou ementa-
do( fls. 129):
O Sr. Ministro Francisco Rezek:
Este recurso extraordinário visa a «E da competência do Correge-
desconstituir acórdão do Tribunal de dor, pela Lei n? 6.750/79, expedir
Justiça do Distrito Federal e Territó- Provimentos e Instruções necessá-
rios, que denegou segurança impe- rias ao bom funcionamento dos
trada por César Prates, titular de serviços a cargo dos funcionários e
serventia extrajudicial não oficiali- serventuários. Ato legal e não abu-
zada, contra atos do Corregedor da sivo, motivado no interesse de
Justiça e do Juiz de Registros Públi- acautelar o fisco, prevenir fraudes
cos do Distrito Federal. e sonegações.
Insurgiu-se o impetrante contra a Inconformado, o impetrante da
exigência decorrente de provimento segurança interpõe recurso extraor-
do corregedor, de que o recolhimen- dinário com apoio nas letras a e d do
to de custas e emolumentos fosse fei- permissivo constitucional.
to por guia, de modelo previamente
aprovado pelo Juiz de Registros Pú-
blicos. No mesmo provimento man- Sustenta que o acórdão impugnado
dou-se que os depósitos se fizes- contrariou o art. 153-$ 2? da Consti-
sem em conta especialmente aberta tuição, porque só a lei pode impor
para esse fim na Caixa Econômica obrigações, falecendo semelhante
Federal e movimentada pelo titular virtude aos atos do Corregedor e do
da serventia ou à sua ordem. Juiz de Registros Públicos. Além
Estabeleceu-se, ainda, que as ser- disso, o decisório recorrido teria
ventias manteriam controle dos re- afrontado o art. 206 da Constituição,
colhimentos por mapas diários, sem pois deu guarida a provimento e por-
prejuízo da apresentação de mapa taria incompatíveis com o regime
mensal, visado pelo Juiz dos Regis- peculiar ao serviço dos cartórios ex-
tros Públicos, à Corregedoria (fls. trajudiciais não-oficializados.
25).
Alega, mais, que se negou vigência
O impetrante inconformou-se tam- aos arts. 3? e 4? e 22 do Decreto-lei n?
bém com a portaria regulamentar 115/67, dispositivos que, conforme o

R.T.J. — 108 687

recorrente, regulam o recolhimento restou indemonstrado, tal como ob-


de custas de forma diversa daquela serva a Procuradora da República
estabelecida no provimento do Cor- em seu parecer (fls. 221/223):
regedor.
«Com efeito, os arestos colacio-
Afirma, em seguida, que o aresto nados a fls. 144/146, 148 e 152/154
do Tribunal de Justiça confina com não servem à prova da discrepân-
os artigos 80 da Lei n? 6.750/79 e 14 cia do julgado, porquanto:
da Lei n? 6.015/73, que destinam as
custas à remuneração dos oficiais de
serventias não-oficializadas. aqueles relacionados a fls.
144/146, além de se referirem,
Vê, por último, no decisório recor- nos trechos transcritos, exclusi-
rido uma afronta aos artigos 14-11 e vamente a normas genéricas so-
28, parágrafo único, da Lei n? bre as limitações do poder regu-
6.750/79, que estima desabonadores lamentar, ainda não atendem ao
da expedição dos atos que o levaram art. 322 do Regimento Interno e à
a impetrar a segurança. Súmula 291, eis que carece a
comparação da «transcrição dos
recorrente traz à colação alguns trechos que configurem o dis-
julgados, visando a comprovar sídio, mencionadas as circuns-
dissídio pretoriano. tâncias que identifiquem ou asse-
melhem os casos confrontados»;
parecer da Procuradora da Re-
pública Anadyr Rodrigues é pelo não aquele exibido a fls. 148, so-
conhecimento do recurso (fls. bre padecer do mesmo vício de
217/128): desobediência ao art. 322 do Re-
gimento Interno e à Súmula 291,
«Parece evidente que o exame ainda cogita de hipótese desasse-
da imputada mácula à Carta Mag- melhada, qual seja a competên-
na só pode fazer-se mediante a cia do Corregedor «para fixar a
concomitante incursão a direito remuneração dos escreventes
local, já que a Lei n? 6.750, de 1979, substitutos ou para criar receita
conquanto emane do Congresso pública para a União Federal»;
Nacional, não constitui lel federal
e sim local, editada, por força da aquele referido a fls. 152 —
peculiaríssima situação do Distrito com iguais defeitos — também
Federal, na forma do art. 17 da nenhuma pertinência tem com a
Constituição Federal matéria sob exame, já que ver-
sou sobre a possibilidade legal de
Sendo assim, o princípio contido se revogar oficialização já decre-
na Súmula 280 desde lo go impede tada antes de 1977; e
conhecimento do apelo extremo, a
esse título.» aquele ostentado a fls.
153/154, ao qual também faltam
E o relatório. os requisitos do art. 322 do Regi-
mento Interno e da Súmula 291,
VOTO da mesma forma trata de distin-
ta situação, em que houve impo-
sição, pela legislação estadual,
Sr. Ministro Francisco Rezek de teto ao direito dos serventuá-
(Relator): O dissídio jurisprudencial rios à percepção das custas.»
688 R.T.J. —108

Assim, não tem trânsito o extraor- O artigo em exame absolutamente


dinário pela letra 41, da licença cons- não dispensa o serventuário de pres-
titucional. tar contas ao Corregedor, legalmen-
te habilitado a exigi-las.
Quanto à alegação de ofensa ao
art. 153 — § 2? da lei fundamental, Também não há, no acórdão re-
cumpre considerar que o Tribunal de corrido, afronta ao art. 206 da
Justiça entendeu ser da competência Constituição. Está visto que o provi-
das autoridades vistas como coato- mento e a portaria não frustraram
ras a expedição do provimento e da os direitos do serventuário em maté-
portaria já aludidos, por força da ria de custas e emolumentos. De ou-
Lei n? 6.750. tro lado, a norma constitucional não
proíbe que o Corregedor, exercendo
a necessária vigilância sobre os ser-
E pacifico que leis dispondo sobre viços cometidos à sua supervisão,
a organização judiciária do Distrito fiscalize o cumprimento da lei.
Federal — como sobre matérias ou-
tras de seu peculiar interesse —,
conquanto produzidas no Congresso Abonando na sua integralidade o
Nacional, são leis locais. Dizer, por- parecer do Minsitério Público Fede-
tanto, se a referida lei efetivamente ral, não conheço do recurso extraor-
atribui competência ao Corregedor e dinário.
ao Juiz para a expedição das normas
que motivaram a impetração da se-
gurança, é tarefa que pressupõe exa-
me de direito local, vedado pela Sú- EXTRATO DA ATA
mula 280. Por igual motivo, não há
como examinar alegação de negati-
va de vigência dos arts. 14, 28 e 80 RE 96.318-DF — Rel.: Min. Fran-
da lei retromencionada, bem com cisco Rezek. Recte.: César Prates
dos arts. 3?, 4? e 22 do Decreto-lei n? (Adv.: José Guilherme Villela). Rec-
115/67, que aprova o Regimento de do.: Corregedor da Justiça do Distri-
Custas da 'Justiça do Distrito Fede- to Federal e dos Territóios e Juiz de
ral e dá outras providências. Registros Públicos do Distrito Fede-
ral.
Resta examinar a alegação de in- Decisão: Não conhecido. Unânime.
fringência do art. 206 da Constituição
e do art. 14 da Lei n? 6.015/73.
Presidência do Senhor Ministro
Decio Miranda. Presentes à Sessão
Não me parece que o art. 14 da Lei os Senhores Ministros Aldir Passari-
de Registros Públicos foi violado. nho e Francisco Rezek. Ausentes,
Esse dispositivo fala apenas no direi- justificadamente, os Senhores Minis-
to dos oficiais do registro à percep- tros Djaci Falcão e Moreira Alves.
ção de emolumentos pagos pelos in- Subprocurador-Geral da República,
teressados. O recorrente não deixou Dr. Mauro Leite Soares.
de perceber emolumentos em virtu-
de das normas atacadas, visto que
depositados diretamente na conta do Brasília, 14 de outubro de 1983 —
titular da serventia, que dela pode Hélio Francisco Marques, Secretá-
dispor sem qualquer restrição. rio.
R.T.J. — 108 689

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.344 — SP


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Antônio Carlos Pinto da Costa — Recorrida: Prefeitura Mu-
nicipal de Ibitinga.
Taxa municipal de conservação de estradas de rodagem. Base de
cálculo idêntica à do imposto territorial rural, ofensa ao art. 18, if 2?,
da Constituição. C7W, art. 77, parágrafo único. Área da propriedade
rural, tomada como critério da distribuição do custo de conservação
de estradas, fixando-se, para cobrança da taxa, valor por hectare de
cada propriedade, dentro do perímetro rural do município. Firmou-se
a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de conside-
rar inconstitucional a cobrança da taxa de conservação de estradas, cal-
culada à base da divisão da despesa do município, na conservação das
vias interiores de comunicação terrestre, de forma proporcional á su-
perfície de cada propriedade rural, porque coincidente, em parte, a
base de cálculo com o critério de imposição do imposto territorial ru-
ral. Precedentes do Plenário, dentre outros, nos RREE 87.354, 91.293,
91.975, 92.142, 74.910, 78.710 e 80.001. Súmula 595 Recurso conhecido e
proviçlo, para declarar a inconstitucionalidade do art. 161 e parágra-
fos, da Lei 1.042, de 7.12.1973, alterada pela Lei n? 1.166, de 16.12.1977,
ambas do Município de Ibitinga, SP, e do art. 4? do Decreto 634, de
5.5.1978, do mesmo Município, que regulamentou as Leis menciona-
das.
ACORDA0 RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes
Sustentando ser ilegal e inconstitu-
autos, acordam os Ministros do Su- cional a taxa de conservação de es-
premo Tribunal Federal, em Sessão tradas de rodagem, relativa aos
Plenária, na conformidade da ata de
exercícios de 1977 e 1978, cobrada pe-
julgamentos e notas taquigráficas, à
la Prefeitura Municipal de Ibitinga-
unanimidade, conhecer do recurso eSP, Antônio Carlos Pinto da Costa,
lhe dar provimento, declarando a In-
agricultor, apresentou embargos à
constituclonalidade do art. 161 e seus
execução fiscal, que lhe movera a
parágrafos da Lei n? 1.042, de 7 de
mencionada municipalidade. Alega o
dezembro de 1973, alterada pela Lei
embargante que incide sobre o imó-
n? 1.166, de 16 de dezembro de 1977,
vel de sua propriedade a tributação
ambas do Município de Ibitinga, Es-
decorrente do imposto territorial ru-
tado de São Paulo, bem assim os ar-
ral, que, a exemplo da taxa de con-
tigos 3? e seus parágrafos e 4?, do
servação em debate, é cobrada de
Decreto n? 634, de 5 de julho de 1978,
do mesmo Município, que regula- acordo com os hectares de cada pro-
priedade. Disso resulta estar sofren-
mentou os dispositivos legais em re-
ferência. do, no caso, tributação inconstitucio-
nal sobre o mesmo imóvel, porque a
taxa aludida tem base de cálculo
Brasília, 9 de junho de 1982 — idêntica à do imposto territorial, vio-
Xavier de Albuquerque, Presidente lando, assim, o art. 18, § 2?, da Cons-
— Néri da Silveira, Relator. tituição.
R.T.J. — 108

No juizo monocrático foram julga- exercício anterior, no setor de es-


dos improcedentes os embargos (fls. tradas, inclusive a depreciação do
39/41), o que deu margem à apela- maquinário».
ção de fls. 43/49, para o Primeiro «Parágrafo 2?. O Poder Execu-
Tribunal de Alçada Civil do Estado tivo regulamentará o disposto no
do São Paulo, o qual, por intermédio artigo e parágrafos anteriores den-
da Primeira Câmara, em votação tro de 60 (sessenta) dias após a pu-
unânime, negou provimento ao apelo blicação desta lei».
(fls. 66/68).
O Decreto Municipal n? 634, de 5-5-
Inconformado com o aresto do Tri- 1978, que regulamentou
bunal a quo, manifestou o recorrente estabeleceu, a citada lei,
o presente recurso extraordinário, no art. 4?:
com fundamento no art. 119, item «Art. 4?. Fica fixado em Cr$
III, letras a e d, da Constituição, ar- 10,33 a taxa de conservação de Es-
güindo, ainda, a relevância da ques- tradas de Rodagem por hectare de
tão federal (fls. 70/81). Sustenta que área de cada propriedade ou pos-
o acórdão recorrido vulnerou o art. suidor dentro do perímetro rural
18, § 2?, da Carta Magna, e o art. 77, do município.»
parágrafo único, do Código Tributá- A Lei n? 1.166/1977 entrou em vigor
rio Nacional, além de se apresentar a partir de 1? de janeiro de 1978.
em discrepância com a jurisprudên-
cia deste Tribunal. Dessa maneira, a taxa impugnada
Pelo despacho de fls. 84/85, admi- adotou
de cada
como base de cálculo hectare
propriedade rural. A área
tiu o processamento do apelo excep-
cional o ilustre Presidente do Tribu- da propriedade é tomada como crité-
nal a quo, por ambos os fundamen- rio de distribuição de custo dos dis-
pêndios do Município no setor de es-
tos, destacando que o recurso não se tradas, durante o exercício anterior.
impugnou.
Quanto à argüição de relevância A sentença não viu inconstitucio-
da questão federal, foi julgada de- nalidade nos dispositivos acima, por-
serta pelo despacho de fls. 92. q ue «a medida de superfície das pro-
É o relatório. priedades usuárias dos Serviços, a
que se refere o art. 3? do Decreto n?
634/78, constitui apenas um critério
VOTO de rateio da base do cálculo (custo
de serviços), pelos contribuintes, a
O Sr. Ministro Néri da Silveira fim de estabelecer uma presunção
ue permita a distribuição por todos
(Relator): O art. 161, da Lei n? 1.042, qque
de 7-12-1973, de Ibitinga, SP, alterado zar, dela
da
se utilizem ou possam utili-
estrada conservada, de ma-
pela Lei n? 1.166, de 16-12-1977, que neira proporcional e equitativa, den-
lhe acrescentou dois parágrafos, dis- tro de um critério lógico e não dis-
põe: cricionário» (fls. 41), havendo o
«Art. 161. O cálculo da taxa de acórdão recorrido, que a manteve,
conservação de estradas de roda- registrado (fls. 67): «No caso presen-
gem será feito, levando-se em con- te, todavia, não se vislumbra essa
sideração a área da propriedade, violação, pois a base do cálculo da
aqui tomada como critério de dis- referida taxa é o custo dos serviços,
tribuição de custo. assim considerado todo dispêndio
«Parágrafo 1?. Considera-se cus- que o Poder Executivo empregar du-
to todo dispêndio que o Poder rante o exercício anterior, no setor
Executivo empregou durante o de estradas, inclusive depreciação

R.T.J. — 108 691

do maquinário (cf. § 1? do art. 161 do hectares, independentemente de


Código Tributário do Município de seu valor, já anteriormente se de-
Ibitinga). clarará a inconstitucionalidade da
Conheço do recurso, pelos dois fun- lei municipal (RE n? 74.910, Pleno
damentos, e lhe dou provimento, pa- de 30-10-74, após amplos debates,
ra julgar inconstitucional o art. 161 e vencido o eminente Ministro Bilac
seus parágrafos da Lei n? 1.042, de 7- Pinto, Ementário n? 973/206; RE n?
12-1973, alterado pela Lei n? 1.166, de 78.710, relator o eminente Ministro
16-12-1977, ambas do Município de Cordeiro Guerra, 13-12-74, 2? Tur-
Ibitinga, bem assim os arts. 3? e 4?, ma; RTJ 73/580; RE n? 80.001, rela-
do Decreto do mesmo Município, que tor o eminente Ministro Thompson
regulamentou os dispositivos legais Flores, RTJ 74/564, Pleno de
em referência. 16.475) ».
Faço-o tendo em conta a jurispru- Em matéria semelhante, a Corte
dência deste Tribunal que considera entendeu aplicável a Súmula 595,
inconstitucional a cobrança da taxa verbis:
de conservação de estradas, calcula- «595. E inconstitucional a taxa
da à base da divisão da despesa do municipal de conservação de estra-
Município na conservação das vias das de rodagem cuja base de cál-
interiores de comunicação terrestre, culo seja idêntica à do imposto ter-
de forma proporcional à superfície ritorial rural»,
de cada propriedade rural, porque que se formulou com remissão ao
coincidente em parte o critério de art. 18, § 2?, da Constituição, e art.
Imposição com o do Imposto Territo- 77, parágrafo único, do CTN. Assim,
rial Rural. no RE n? 91.975-9/SP, o eminente Mi-
Nesse sentido, o Plenário decidiu nistro Cordeiro Guerra anotou:
no RE n? 91.293-SP, Relator o Senhor «E indisfarçável que o Decreto
Ministro Decio Miranda, In DJ de 24- n? 519, de 27 de dezembro de 1977,
10-1980. fixou a taxa de Cr$ 23,00 por al-
Observou, em seu douto voto, nes- queire, e que o art. 189, da Lel n?
se precedente, o ilustre Ministro De- 403, de 29-10-77, do Município de
cio Miranda, Relator, verbis: Quatá, determina:
«Todavia, o Supremo Tribunal «Art. 189 — A taxa terá por ba-
tem admitido que, bastando a iden- se o custo dos serviços prestados
tidade num dos critérios de lança- durante o exercício anterior, que
mento, o imposto exclui a taxa. será rateado entre os proprietá-
Em caso idêntico, do Município rios, que o denominador comum
de Ipuã, relator o eminente Minis- será estabelecido, dividindo-se o
tro Xavier de Albuquerque, total dos alqueires das proprieda-
aceitou-se a tese de que a Munici- des rurais do Município pelo cus-
palidade, tomando por base o nú- to dos serviços.
mero de hectares da propriedade, Parágrafo único — O denomi-
adota base de cálculo coincidente nador comum que servirá de base
com a do imposto territorial rural, para a cobrança da taxa será fi-
condenada na Súmula 595 (RE n? xado anualmente, por decreto do
87.354, Pleno de 5-8-77, Ementário Senhor Prefeito Municipal (art.
n? 1.066/231). 7? — fls. 14)».
No mesmo sentido, e em hipóte- Ora, tais dispositivos constituem
ses com a mesma feição peculiar réplica da Lei n? 682, de 31-12-69,
da incidência sobre o número de do Município de Ipuã — SP, já de-
692 — 108

clarada inconstitucional, por ofen- EXTRATO DA ATA


sa ao art. 18, 2?, da CF e art. 77,
Parágrafo único, do CTN e 29 do RE 96.344-SP — Rel.: Ministro Né-
CTN. ri da Silveira. Recte.: Antônio Carlos
Nessa conformidade, de acordo Pinto da Costa (Adv.: José Oclair
com a Súmula 595, e os votos que Massola). Recdo.: Prefeitura Muni-
proferi nos RE n? 87.426-SP — RTJ cipal de Ibitinga (Adv.: Izac Teixei-
84/334; RE n? 87.354-SP, 87.701-RJ ra de Godoi).
— RTJ 73/580, conheço do recurso
e lhe dou provimento para deferir Decisão: Conheceu-se do recurso e
a segurança». deu-se-lhe provimento, declarando-se
Existindo identidade num dos cri- a inconstitucionalidade do art. 161 e
térios de lançamento, o imposto ex- seus parágrafos da Lei n? 1.042, de 7
clui a taxa. Nesse sentido, o mencio- de dezembro de 1973, alterada pela
nado RE n? 91.293, DJ de 24-10-1980, Lei n? 1.166, de 16 de dezembro de
onde referidos precedentes. Também 1977, ambas do Município de Ibitin-
sobre a partilha do custo do serviço, ga, Estado de São Paulo, bem assim
proporcional à área das proprieda- os artigos 3? e seus parágrafos e 4?,
des rurais, proclamou o STF, no RE do Decreto n? 634, de 05 de julho de
n? 92.142, Pleno de 12-11-1980, verbis: 1978, do mesmo Município, que regu-
«Base de cálculo divorciada do lamentou os dispositivos legais em
fato gerador da taxa, qual seja o referência. Decisão unânime. Votou
critério de mensuração do serviço o Presidente.
prestado com exclusivo índice em
área de imóveis rurais, importa no Presidência do Senhor Ministro
desvirtuamento daquele tributo, Xavier de Albuquerque. Presentes á
transfigurando-o em verdadeiro Sessão os Senhores Ministros Djaci
imposto sobre o patrimônio». Falcão, Cordeiro Guerra, Moreira
Inclinando-me, assim, pela incons- Alves, Soares Mufloz, Decio Mira-
titucionalidade das normas munici- da, Rafael Mayer, Firmino Paz, Né-
pais em apreço, votei, na Turma, pe- ri da Silveira, Alfredo Buzaid e Os-
la remessa do feito recursal ao Ple- car Corrêa. Procurador-Geral da Re-
nário. Neste, como afirmei, conheço pública, Professor Inocêncio Márti-
do recurso e lhe dou provimento, pa- res Coelho.
ra declarar a inconstitucionalidade
dos dispositivos de lei e regulamen- Brasília, 9 de junho de 1982 —
tares acima alinhados. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.410 — BA
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Banco Bamerindus do Brasil S/A — Recorridos: Luiz Cam-
peio & Cia. Ltda. e outros.
Concordata preventiva. Crédito privilegiado. Execução contra o
devedor concordatárlo e seus avalistas. Não é cabível determinar a
suspensão da execução, em virtude da concordata. Decreto-lei n?
7.661, de 21.6.1945, arts. 147, 148 e 161, § 1?, II. Inaplicabilidade à espé-
cie do art. 24, do Decreto-lei n? 7.661/1945. Recurso extratirdinário co-
nhecido e provido, para que a execução prossiga, na forma de direito.
R.T.J. — 108 693

ACORDA° Tribunal de Justiça do Estado da


Bahia resumiu a origem da contro-
Vistos, relatados e discutidos estes vérsia, nestes termos (fls. 129/129v.):
autos, acordam os Ministros da Pri-
meira Turma do Supremo Tribunal «O caso pode ser assim sintetiza-
Federal na conformidade da ata de do: a firma Luiz Campeio e Cia.
julgamentos e notas taquigráficas, à Ltda. requereu e teve deferida con-
unanimidade, conhecer do recurso cordata preventiva, em tramitação
extraordinário e lhe dar provimento. na 141 Vara Cível desta comarca;
Brasília, 19 de novembro de 1982 posteriormente o Banco Bamerin-
— Soares Mutioz, Presidente — Néri dus do Brasil S/A ajuizou, na 111
da Silveira, Relator. Vara Cível, execução por título ex-
trajudiciaI (cédula de crédito in-
RELATORIO dustrial) frente a mesma firma e
mais os avalistas Luiz Rios Cam-
O Sr. Ministro Néri da Silveira peio e José Costa Brandão (fls.
(Relator): Trata-se de recurso ex- 66/68); os executados, ora recorri-
traordinário interposto, com fulcro dos, além de opôr embargos de de-
no art. 119, item III, letras a e d, da vedor (fls. 72/76), ofereceram ex-
Constituição Federal, pelo Banco Ba- ceção de incompetência ifls. 08/11)
merindus do Brasil S A. (fls. 54/64), alegando que todas as execuções
visando a desconstituir acórdão pro- estavam suspensas por força da
latado pela 11 Câmara Cível, do Tri- aludida concordata e que o Juízo
bunal de Justiça do Estado da Ba- competente era o da 111 Vara
hia, que exibe esta ementa (fls. 47): Cível, no qual se processava a con-
«Concordata. O Juizo da concor- cordata; o MM. Juiz, acolhendo os
data não é universal, nem indi- argumentos do banco excepto —
visível. ora recorrente — julgou improce-
dente a exceção, sob o entendimen-
Não sendo o Juízo da Concordata to de que os créditos privilegiados
universal e indivisível, como ocorre não são atingidos pela concordata
com o da falência, o pedido de exe- (fls. 32); essa a decisão impugnada
cução contra avalista da firma com o agravo. A Colenda (Primeira
concordatária pode ser conhecido Câmara Cível, à unanimidade, de-
por outro Juizo que não o da Con- cidiu que a execução poderia tra-
cordata. Suspensividade da execu- mitar em outro juízo que não aque-
ção, contudo, nos termos do artigo le da concordata, porém impunha-
24 da lei falimentar, aplicável na se a sua suspensão, nos termos do
espécie subiu:Hee. Provimento Par- art. 24 da lei falimentar (fls. 47).
cial do Agravo». O agravado interpôs embargos
Sustenta o recorrente que o aresto declaratórios (fls. 48/50) que fo-
em comento negou vigência aos arts. ram rejeitados (fls. 52)».
147, 148, 161, § 1?, item II, e 162, § 1?, De se ressaltar, ainda, quanto
item III, combinados com os arts. relevância da questão federal argüi-
24, § 2?, item I, 39, 43 e 70, § 4?, todos da pelo recorrente, que a mesma
da Lei de Falências, bem assim que não foi conhecida, em Sessão de Con-
se encontra em divergência com jul- selho (fls. 51, do apenso).
gados de outros Tribunais. A douta Procuradoria-Geral da
Ao deferir o processamento do re- República opina, em seu parecer de
curso extraordinário, julgando-o cabí- fls. 139/141, pelo conhecimento e pro-
vel por ambos os permissivos consti- vimento do recurso.
tucionais, o ilustre Presidente do É o relatório.
694 R.T.J. — 108

VOTO De outro lado, a teor do art. 161, §


1?, II, do Decreto-lei n? 7.661/1945,
O Sr. Ministro Néri da Silveira estando em termos o pedido de con-
(Relator): Trata-se de execução, por cordata preventiva, ao determinar
título extrajudicial, de crédito privi- seu processamento, o juiz proferirá
legiado, movida contra firma em despacho em que «ordenará a sus-
concordata preventiva e seus avalis- pensão de ações e execuções contra
tas. O acórdão, em face da concorda- o devedor, por créditos sujeitos aos
ta da devedora, entendeu que a exe- efeitos da concordata», ou seja, nos
cução poderia ser aforada, perante termos do art. 147 do diploma em
Juízo distinto do da concordata, mas exame, de créditos quirografários.
determinou que o feito deveria, no Bem afirmou, dessarte, a ilustrada
Juízo em que se iniciara, ficar sus- Procuradoria-Geral da República, às
penso, até o final da concordata, nos fis. 140/141, ao asseverar, referindo-
termos do art. 24, do Decreto-lei n? se ao acórdão recorrido, verbis:
7.661, de 21-6-1945, que reza:
«6. Parece inequívoco que tal
«Art. 24. As ações ou execuções entendimento efetivamente impor-
individuais dos credores, sobre di- ta em negar vigência aos artigos
reitos e interesses relativos à mas- 147 e 148 da Lei de Falências, que
sa falida, inclusive as dos credores outorgam, à concordata, tratamen-
particulares de sócio solidário da to distinto daquele conferido á fa-
sociedade falida, ficam suspensas lência, no tocante aos credores pri-
desde que seja declarada a falên- vilegiados. Assim, enquanto que o
cia até o seu encerramento». art. 24 da Lei de Falência ordena,
Cuida-se, no caso de norma refe- com a declaração da falência, a
rente aos efeitos, quanto aos credo- suspensão das ações ou execuções
res, da sentença declaratória da fa- individuais dos credores, excepcio-
lência, e não de dispositivo relativo à nando apenas aquelas referidas no
concordata. Não se trata, outrossim, seu § 2? e, mesmo assim, com a
de credor particular de sócio solidá- condição de que hajam iniciado an-
rio da empresa devedora. tes da falência, já o art. 147 da
De outra parte, sobre concordata, mesma lei estipula que a concorda-
dispõem os arts. 147 e 148, do mesmo ta obriga aos credores quirogra-
diploma legal: fartos, com o que, obviamente, de-
sonera os credores privilegiados».
«Art. 147. A concordata conce-
dida obriga a todos os credores Com efeito, este Tribunal, no RE
quirografários, comerciais ou ci- n? 80.936-PR, por sua Segunda Tur-
vis, admitidos ou não ao passivo, ma, decidiu, em acórdão com esta
residentes no Pais ou fora dele, au- ementa RTJ 74/303):
sentes ou embargantes.
«A concordata preventiva do de-
«Art. 148. A concordata não vedor não impede a ação executiva
produz novação, não desonera os do credor contra os avalistas do
co-obrigados com o devedor, nem concordatário.
os fiadores deste e os responsáveis,
por via de regresso». A habilitação simultânea do cre-
Na espécie, trata-se de credor pri- dor na concordata não suspende a
vilegiado e não quirografário, nada ação executiva contra o avalista,
obstando, efetivamente, prossiga a apenas obriga o credor a deduzir
execução do credor contra o concor- os recebimentos parciais.
datário e co-obrigados do devedor, Interpretação do art. 148 da Lei
no Juízo em que aforada. de Falências».

R.T.J. — 108 695

Em seu douto voto, o Relator, ilus- de privilégio geral são pagos na con-
tre Ministro Cordeiro Guerra, ano- formidade do que dispõe o art. 183 e
tou: parágrafo único. Os credores com
«De fato, este Tribunal tem sem- privilégio especial e os titulares de
pre reconhecido que a obrigação crédito real readquirem, na concor-
do avalista é sempre autônoma e data suspensiva, a sua liberdade de
independente. O avalista não pode ação e irão pleitear suas pretensões,
valer-se, contra outrem, de execu- como se concordata não houvesse
ção pessoal do avalizado, somente Na concordata preventiva, por não
podendo alegar direito próprio.» estarem tais credores, pela lei vigen-
(RE n? 64.131-CE, relator Minis- te, obrigados a habilitar o seu crédi-
tro Oswaldo Trigueiro — RT to no processo, o pedido do devedor
47/205). não prejudica a ação individual que
tiverem contra o concordatário. Cer-
No mesmo sentido, a doutrina — tamente
João Eunápio Borges (Do Aval — ciarem ao que, se tais credores renun-
pág. 123/124), Magarinos Torres, real, ou, se privilégio ou à garantia
Nota Promissória, pág. 121/132). excutida a garantia
real ou a especial, os bens não basta-
«Miranda Valverde, comentando rem para a satisfação do crédito,
esse artigo (art. 148, da Lei de Fa- passarão eles para a classe dos qui-
lências), esclarece: rografários pela totalidade ou pelo
«Se o credor recebe a percenta- restante do crédito, ficando, assim,
gem da concordata, volta-se contra sujeitos aos efeitos da concordata».
o co-obrigado para obter o restante Ora, no caso concreto, o credor
do crédito, que completará o seu privilegiado, não sujeito à concorda-
pagamento integral. Se resolve ta, moveu a execução contra o de-
agir imediatamente contra o co- vedor concordatário e seus co-
obrigado e dele consegue o paga- obrigados. A execução deve, assim,
mento integral, ficará o co- prosseguir, na forma de direito.
obrigado sub-rogado nos direitos Do exposto, conheço do recurso e
do credor satisfeito, e receberá do lhe dou provimento.
concordatário, exclusivamente, a EXTRATO DA ATA
percentagem, sofrendo o prejuízo
do restante». RE 96.410-BA — Rel.: Min. Néri da
(in Comentários à Lei de Silveira. Recte • Banco Bamerindus
do Brasil S/A. (Advs. Antônio Zanini
Falências, vol. II, 1948, n? 893, pág. Pereira e outro). Recdos.: Luiz Cam-
247) .» peio e Cia. Ltda. e outros. (Advs.:
Na espécie, releva mencionar que Antônio Avila e outros).
se trata de crédito privilegiado (cé- Decisão: Conheceu-se do recurso
dula de crédito industrial sob pe-
nhor) (Decreto-lei n? 413/1969, arts. extraordinário
mento. Decisão
e se lhe deu provi-
unânime.
9?, 19, I, e 41), (fls. 70/71 e 103), o
que por si só, já o excluiria do âmbi- Presidência do Senhor Ministro
to de incidência do art. 147, da Lei Soares Mufloz. Presentes á Sessão os
de Falências, não sendo cabível de- Senhores Ministros Rafael Mayer,
terminar a suspensão, em face da Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
concordata, da execução movida Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
contra o devedor e co-obrigado. Nes- da República, Dr. Francisco de As-
sa linha, escreveu Trajano de Miran- sis Toledo.
da Valverde, op. cit., n? 883, pág. Brasília, 19 de novembro de 1982 —
240: «Na concordata suspensiva, os António Cirlos de Azevedo Braga,
credores da massa e os que gozam Secretário.
696 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.424 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo — SA-
BESP — Recorridos: Valdir R. Nogueira Silveira e outros.
Reclamação trabalhista. Funcionários públicos do Estado cedidos
á sociedade de economia mista (SABESP), que pleiteiam 13? salário.
Não havendo os servidores optado pelo regime trabalhista, incompe-
tente é a Justiça do Trabalho para apreciar a pretensão. Constituição,
arts. 142 e 143. Precedentes do STF. Recurso extraordinário conheci-
do e provido.
ACORDA() personae, tendo em vista que os re-
clamantes eram todos funcionários
Vistos, relatados e discutidos estes públicos estaduais, regidos por esta-
autos, acordam os Ministros da 1? tuto próprio, sendo portanto, a Justi-
Turma do Supremo Tribunal Fede- ça Comum a competente para julga-
ral, na conformidade da ata de jul- mento da espécie.
gamentos e notas taquigráficas, à
unanimidade, conhecer do recurso e Não logrando sucesso a ora recor-
lhe dar provimento. rente nas diversas etapas percorri-
das, quanto à exceção de incompe-
Brasília, 7 de maio de 1982 — tência, recorreu, extraordinariamen-
Soares Mtuloz, Presidente — Néri da te, a este Tribunal, com fundamento
Silveira, Relator. no art. 143, da Constituição Federal,
sustentando que o aresto recorrido,
RELATÓRIO do colendo Tribunal Superior do Tra-
balho, ao manter o acórdão de sua 3a
Turma, «que rejeitou a argüição de
O Sr. Ministro Néri da Silveira Incompetência da Justiça do Traba-
(Relator): Valdir R. Nogueira Silvei- lho, «ante o verbete 50, da Súmu-
ra e outros, funcionários da antiga la», (fls. 120), violou, ao garantir o
Superintendência de Aguas e Es- pagamento do 13? salário aos recla-
gotos-SAEC, da Secretaria de Ser- mantes, os arts. 142, caput, e § 1?,
viços e Obras Públicas do Estado de 153, § 2?, e 8?, item XVII, alínea b,
São Paulo, amparados por regime da Lei Maior (fls. 120/127).
jurídico diverso da Consolidação das
leis do Trabalho, propuseram ação Admitindo o processamento do
trabalhista contra a Companhia de apelo excepcional, o ilustre Ministro
Saneamento Básico do Estado de Raymundo de Souza Moura, Presi-
São Paulo (SABESP), onde prestam dente do TST, asseverou em seu des-
serviço na condição de servidores pacho, às fls. 130/131:
cedidos, objetivando ao recebimento
do 13? salário, instituído com o ad- «Verifica-se do exame do apelo
vento da Lei n? 4.090, de 1962, corres- que o Colendo Supremo Tribunal
pondente ao segundo semestre de Federal, em caso perfeitamente
1973 e aos exercícios de 1974 e 1975, análogo ao presente, já se pronun-
bem assim juros e correção monetá- ciou sobre a incompetência da Jus-
ria, além de custas processuais. tiça do Trabalho para apreciar a
Contestanto a ação, argüiu a Com- matéria, provendo o apelo por vio-
panhia exceção de incompetência lação do art. 142 da Constituição.
da Justiça do Trabalho, ratione Parece, pois, conveniente o enca-

R.T.J. — 108 697

minhamento do recurso à C. Corte confirmados, encontro clara infra-


para que fique o assunto resolvido ção ao art. 142 da Constituição Fe-
em definitivo». deral, por se haverem colocado na
Não apresentou a recorrente suas jurisdição trabalhista relações
razões, o mesmo sucedendo com os jurídicas que não são da natureza
recorridos no que se refere às daquelas que se estabelecem entre
contra-razões (fls. 133/133v.). empregados e empregadores, se-
E o relatório. não entre funcionários públicos e o
Estado.
VOTO Para estas últimas, a Justiça do
Trabalho é incompetente. Não é a
O Sr. Ministro Néri da Silveira natureza da prestação reclamada
(Relator): Conheço do recurso e lhe que define a competência, senão,
dou provimento, para reconhecer a no caso, a qualidade das pessoas
incompetência da Justiça do Traba- que sobre ela contendem».
lho. Na mesma linha, o acórdão no RE
Faço-o na conformidade da juris- 89.969, assim ementado:
prudência do Supremo Tribunal Fe- «Reclamação trabalhista. Fun-
deral, na espécie, como bem indica- cionários Públicos do Estado ce-
da nos Recursos Extraordinários n?s didos à sociedade de economia
91.081, 89.969, 90.122, 91.082 e 91.346, mista (SABESP) pleiteando 13?
dentre outros. salário (Lei n? 4.090/62).
Servidores regidos por normas de II — Não tendo os reclamantes
índole estatutária, não estão os re- optado pelo regime trabalhista, nos
clamantes intitulados ao 13? salário, termos da Lei Estadual n? 119/73,
não lhes cabendo vindicar, no Juizo art. 8?, continuando regidos pelo
do Trabalho, o referido pagamento. Estatuto dos Funcionários Públicos
Afirmou-se, assim, no RE n? Civis do Estado, incompetente é a
91.081, conforme está na ementa do Justiça do Trabalho para apreci-
respectivo aresto. verbis: car sua pretensão.
«Constitucional. Competência tra- III — Recurso extraordinário
balhista. Funcionários públicos ce- conhecido e provido com assento
didos a sociedade de economia nos artigos 142 e 143 da Constitui-
mista (SABESP), que não exerce- ção — Precedentes do STF».
ram direito de opção, facultado em
lei, pelo regime trabalhista, e cu- EXTRATO DA ATA
jos estipêndios são atendidos pelo RE 96.424-SP — Rel.: Min. Néri da
órgão da Administração Direta a Silveira. Recte.: Cia. de Saneamento
que continuaram vinculados. Inviá- Básico do Estado de São Paulo —
vel a postulação de 13? salário (ou SABESP. (Advs.: Maria Cristina
de qualquer outra vantagem) na Paixão Cortes e outros). Recdos.:
Justiça do Trabalho, incompetente Valdir R. Nogueira Silveira e outros.
para a espécie, à luz do art. 142 da (Adv.: Marli Cestari).
Constituição Federal.» Decisão: Conheceu-se do recurso e
Em seu douto voto, foi a matéria se lhe deu provimento. Decisão Unâ-
minuciosamente examinada pelo nime.
eminente Ministro Decio Miranda, Presidência do Senhor Ministro
nestes termos: Soares Mufioz. Presentes á Sessão os
«No entendimento do Acórdão re- Senhores Ministros Rafael Mayer,
corrido, e dos que por ele ficaram Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e

698 R.T.J. — 108

Oscar Corrêa — Subprocurador- Brasília, 7 de maio de 1982 —


Geral da República, Dr. Francisco Antônio Carlos de Azevedo Braga,
de Assis Toledo. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 96.609 — RJ


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: Odilla Souto Barbosa — Recorrido: Petróleo Brasileiro S/A.
— PETROBRAS.
Pensão. Novo sistema de benefícios.
Se o empregado da Petrobrás ingressou espontaneamente em um
novo sistema de benefícios suplementares proporcionado pela empre-
sa não pode sua viúva vir a pretender a pensão decorrente do faleci-
mento de seu marido nas bases do sistema anterior que ele deixara.
O descabimento da pretensão se acentua ao ver-se que mesmo sob as
normas do anterior regime não atendia o empregado aos requisitos
que permitiriam deixasse ele pensão na forma ora pretendida.
ACÓRDÃO ciência o falecido empregado, atra-
vés de publicação no Boletim de Pes-
Vistos, relatados e discutidos estes soal, já mais de dois anos haviam
autos, acordam os Ministros do Su- transcorrido até o ajuizamento da
premo Tribunal Federal, por sua Se- reclamatória, pelo que já se encon-
gunda Turma, na conformidade da trava prescrito o direito, no particu-
ata de julgamento e das notas taqui- lar. Posteriormente, fora abolido o
gráficas, por unanimidade de votos, Manual de Pessoal, tendo passado a
não conhecer do recurso. concessão dos benefícios à «Funda-
Brasília, 17 de junho de 1983 — ção Petrobrás de Seguridade Social
Djaci Falcão, Presidente —Aldir — Petros», criada para tal fim, vin-
Passarinho, Relator. do, em conseqüência, a ser propor-
cionado um somatório de benefícios
RELATÓRIO superior ao antes existente, e o ex-
empregado, marido da autora, se fi-
O Sr. Ministro Aldir Passarirlho liara ao novo sistema, por escrito.
(Relator): Odila Souto Barbosa in- Não havia direito adquirido a ser
tentou reclamação trabalhista con- protegido em favor dos dependentes
tra Petróleo Brasileiro S.A (Frota do ex-empregado. E certos itens já
Nacional de Petroleiros — Fronap), haviam sido pagos pela PETROS.
com o fim de receber auxílio- diferença de pensão ainda não se ha-
funeral, pecúlio e pensão por morte via habilitado a reclamante.
de seu marido invocando, para tan- A r. sentença de 1? grau rejeitou a
to, o Manual de Pessoal daquela em- prescrição argüida e julgou proce-
presa, e alegando que ele ali exerce- dente, em parte, a ação, para conde-
ra a função de marinheiro. nar a ré no pagamento da importân-
Na sua contestação, alegou a re- cia referente ao pecúlio por morte, e
clamada que o auxilio-funeral e a ao auxílio-funeral.
pensão haviam sido sustados, e da Inconformados, recorreram ambas
data de tal sustação, de que tivera as partes, insistindo a reclamante no

R.T.J. — 108 699

direito à pensão, que se encontraria Consolidação das Leis do Trabalho,


incorporada ao contrato de trabalho porque o seu marido, ao optar pelo
do seu marido, e a reclamante insis- FGTS, já tinha «assegurado o regi-
tindo no tema prescricional e plei- me estabilitário» (fls. 229/236).
teando a total improcedência da de- Inadmitido o recurso (fls. 241/242),
manda. No C. Tribunal Regional do subiu ele, todavia, a esta Corte, face
Trabalho apenas foi acolhido em ao provimento do Ag n? 84.647-6, ora
parte, o recurso da reclamada para apensado.
excluir da condenação o pecúlio, eis
que este Já fora atendido pela PE- As partes apresentaram razões
TROS. A reclamante, porém, recor- (fls. 251/257 e 259/260).
reu de revista para o Eg. TST. Seu A douta Procuradoria-Geral da
recurso foi provido, em parte, tendo República (fls. 266/267), em parecer
sido mandado pagar-lhe eventuais di- da lavra do ilustre Procurador da
ferenças porventura devidas a seu República Mauro Leite Soares, opi-
favor em relação ao pecúlio. Com nou pelo não conhecimento da irre-
relação à pensão dois foram os fun- signação derradeira
damentos para negá-la: que o em- E o relatório.
pregado renunciaria ao regime da es-
tabilidade e não falecera em virtu- • VOTO
de de acidente do trabalho. Foram
opostos embargos infringentes, os O Sr. Ministro Aldlr Passarinho
quais não foram acolhidos, ficando (Relator): O parecer da douta
mantida a decisão, conforme o res- Procuradoria-Geral da República é
pectivo acórdão, «que manda dedu- do seguinte teor:
zir da quantia paga pela Petrobrás,
a titulo de pecúlio-morte, o que tenha «Ocorre, que o Manual de Pes-
sido recebido da PETROS» o que soal fls. 9, só concedia o beneficio
parece deva ser entendido como: «da da pensão na hipótese de morte em
quantia a ser paga pela Petrobrás.» conseqüência de acidente de traba-
A reclamante interpôs embargos de lho ou, se o empregado fosse deten-
declaração, a fim de que o Tribunal tor da estabilidade na empresa. No
esclarecesse porque não fora respei- caso sob exame isso não aconte-
tado o seu direito adquirido, qual o ceu. A morte se deu por hemorra-
da percepção da pensão, ponto que gia digestiva, fls. 12, e o emprega-
fora omitido nos embargos infringen- do, em 1971, optara pelo FGTS.
tes. Tendo o empregado aderido ex-
Os embargos foram acolhidos, em pressamente à nova norma —
parte;, para que ficasse declarado FGTS, isso implicou em renúncia à
que os embargos infringentes não fo- estabilidade, não podendo os dois
ram conhecidos em relação à pen- regimes perdurarem simultanea-
são, em face de os acórdãos aponta- mente, não havendo ao nosso ver,
dos como divergentes serem Ines- ofensa a enunciado em regra cons-
pecíficos. titucional.
Dai, pois, o recurso extraordinário Aliás, a Egrégia Segunda Turma
manifestado pela reclamante, funda- no RE n? 93.776, Relator o Ministro
do no art. 143 da Lei Maior e na Decio Miranda, ementado no DJ de
Súmula 505 do Supremo Tribunal 28-8-81, assim decidiu:
Federal. Sustenta vulneração ao dis- «Trabalho. Fundo de Garantia
posto no art. 153, Si 3?, da Constitui- do Tempo de Serviço (FGTS).
ção Federal, além de ofensa ao Equivalência jurídica, e não eco-
principio insculpido no art. 468 da &única, como o regime de inde-

700 R.T.J. — 108

nização direta ao trabalhador ção, que não fora deferida a suple-


despedido. Precedente do Pleno: mentação da pensão concedida pelo
RE n? 93.384, sessão de 19-11-80.» INPS, beneficio, inclusive, inexisten-
Da mesma forma, não há que se te, nas Normas de Pessoal, em virtu-
invocar direito adquirido em rela- de de a Reclamante ainda não se ter
ção a um direito expressamente pelo menos até então — habilitado
renunciado para a aquisição de ou- junto à PETROS, para recebimento
tro. de tal vantagem.
Isto posto, somos pelo não conhe- Pelo exposto, não conheço do re-
cimento do recurso extraordiná- curso.
rio.» (fls. 266/267). E o meu voto.
Na conformidade do disposto no EXTRATO DA ATA
art. 243 da Constituição, somente se
torna possível a irresignação derra-
deira das decisões do Tribunal Supe- RE 96.609-RJ — Rel.: Min. Aldir
rior do Trabalho se houver maltrato Passarinho. Recte.: Odilla Souto
a preceito constitucional. Este seria, Barbosa (Advs.: José Torres das Ne-
segundo entende a recorrente, o que ves e outros). Recdo.: Petróleo Bra-
protege o direito adquirido, o qual sileiro S/A — Petrobrás (Advs.: Ruy
resultaria do contrato de trabalho do Jorge Caldas Pereira e outros).
ex-empregado. Bem demonstrou o Decisão: Não conhecido. Unânime.
parecer suso transcrito que não hou- Falou pelo Recte.: O Dr. José Torres
ve maltrato a qualquer norma da das Neves. Falou pela Recda.: o Dr.
Lei Fundamental, até porque ainda Ruy Jorge Caldas Pereira.
que se admitisse a inalterabilidade Presidência do Senhor Ministro
dos benefícios -- e no caso, então, te- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
ria de ter-se que todo o sistema ante- Senhores Ministros Moreira Alves,
rior é que teria de ser aplicado — o Decio Miranda, Aldir Passarinho e
marido da recorrente não atendia Francisco Rezek — Subprocurador-
àqueles pressupostos básicos que Geral da República, Dr. Mauro Leite
proporcionariam a pensão na forma Soares.
pretendida. Brasília, 27 de junho de 1983 —
E de observar, entretanto, que a Hélio Francisco Marques, Secretá-
reclamada esclarecera na contesta- rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.615 — RJ


(Primeira Tina)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente: Indústrias Hitachi S/A, atual denominação de Hitachi-Line
Indústria Elétrica S/A — Recorrida: União Federal.
Imposto de renda. Compensação de prejuízos. Reservas ou lucros
suspensos (existência). Decreto 58.400, art. 247.
— E razoável a interpretação dada ao art. 247 do R.I.R no sentido
de que a simples existência de fundos de reservas ou lucros suspensos
impede a compensação dos prejuízos fiscais com lucros apurados, não
importando a ocasião em que foram constituídos. Recurso extraordi-
nário não conhecido.
R.T.J. — 108 701

ACÓRDÃO Esta decisão foi confirmada pela


colenda 6? Turma do Tribunal Fede-
Vistos, relatados e discutidos estes ral de Recursos, em acórdão assim
autos, acordam os Ministros da Pri- ementado:
meira Turma do Supremo Tribunal «Imposto de Renda.
Federal na conformidade da ata de
julgamentos e notas taquigráficas, Exclusão de reservas isentas ou
por maioria de votos, não conhecer já tributadas, do lucro operacional.
do recurso. Inviabilidade.
Brasília, 2 de dezembro de 1983 —
Soares Mudoz, Presidente — Rafael Aplicação do art. 225 do RIR
Mayer, Relator. (Decreto n? 76.186/75, art. 247 do
Decreto n? 58.400/66).
RELATÓRIO Impossibilidade de interpretação
analógica, na espécie.
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Ten-
do apresentado lucro no exercício fi- Ação julgada improcedente, por
nanceiro de 1973, a firma recorrente sentença que se confirma.
compensou-se dos prejuízos fiscais Apelação improvida».
sofridos nos exercícios de 1970, 1971
e 1972, oferecendo à tributação so- Inconformada, vem a autora com
mente a diferença, deixando de con- recurso extraordinário sustentando,
siderar as reservas isentas e as já em síntese, que
tributadas em exercícios anteriores
a 1970 ... O v. acórdão recorrido violou
os artigos 19, I e 153, §§ 2? e 29, da
A fim de dissipar dúvidas consul- Constituição Federal e negou vi-
tou a Receita Federal sobre a legali- gência aos artigos 9?, I e 97, I, do
dade de seu entendimento. Código Tributário Nacional que ga-
Irresignada com a resposta negati- rantem ao contribuinte o direito de
va à consulta, apresentou recurso à ser tributado nos termos da lei.
Coordenação do Sistema de Tributa- Negou vigência, ainda, ao artigo
ção, cuja decisão, também, lhe foi 108 do CTN., especialmente aos
desfavorável (fls. 38/39). seus incisos I e II, que, se obedeci-
Interposta ação ordinária foi julga- dos pela Colenda 6? Turma quer
da improcedente em primeira ins- pela aplicação analógica do art.
tância à consideração de que, verbis: 243 do RIR/66 (cf. Decreto-lei n?
5.844/43, 1?, g, quer pela interpre-
«Como há disposição legal ex- tação sistemática e teleológica da
pressa sobre a matéria, o intérpre- Lei n? 154/47 informada pelo
te prescinde do recurso à analogia, princípio geral de direito tributário
estando claro que só poderá haver da vedação do bis in idem — con-
compensação dos prejuízos fiscais sagrariam o único entendimento
por dedução dos lucros tributáveis, viável In casu, ou seja, que reser-
se não houver fundos de reserva ou vas já tributadas ou isentas não se
lucros suspensos. Como esses dis- adicionam ao cálculo da compen-
positivos não estabelecem distin- sação de prejuízos».
ção entre as reservas existentes,
tributadas ou não, a sua existência Admitido o recurso e devidamente
impede a compensação do prejuízo processado subiu para melhor exa-
com os lucros apurados, não im- me.
portando a ocasião em que foram
constituídos». E o relatório.
702 R.T.J. — 108

VOTO versa da que está em causa. Argu-


mentação que obviamente não infir-
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re- ma a razoabilidade da interpretação
lator): A controvérsia se faz em tor- adotada.
no da interpretação a ser dada ao Esse é o único tema suscitável no
art. 247 do Regulamento do Imposto julgamento, pois os dispositivos
de Renda, aprovado pelo Decreto n? constitucionais e legais, tidos como
58.400,que diz vulnerados, não foram objeto de pre-
«O_ prejuízo verificado num questionamento, sequer implícito.
exercício poderá ser deduzido para Mas aí, como já acentuado, é de
compensação total ou parcial, no aplicar-se a Súmula 400.
caso da inexistência de fundos de Não conheço, portanto, do recurso.
reserva ou lucros suspensos, dos
lucros reais apurados dentro dos EXTRATO DA ATA
três exercícios subseqüentes (Lei
n? 154, art. 10)». RE 96.615-RJ — Rel.: Min. Rafael
O entendimento do acórdão recor- Mayer. Recte.: Indústrias Hitachi
rido é o de que a compensação de S/A, atual denominação de Hitachi-
prejuízos é uma faculdade que a lei Line Indústria Elétrica S/A. (Advs.:
tributária concede aos contribuintes, José Marcos Domingues de Oliveira
pessoas jurídicas, desde que não te- e outros). Recda.: União Federal.
nham reservas ou lucros suspensos, Decisão: O julgamento foi adiado a
no exercício fiscal. O decidido, pela pedido do Ministro Oscar Corrêa, de-
instância ordinária, é que a existên- pois do voto do Ministro-Relator que
cia de reservas impede a compensa- não conhecia do recurso extraordiná-
ção de prejuízos dos lucros apura- rio. Falou pelo Recte.: Dr. José Mar-
dos, face à disposição expressa con- cos Domingues de Oliveira.
tida no artigo 247, em referência, on- Presidência do Senhor Ministro
de -não . se distingue entre os vários Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
tipos de reserva existentes, tributa- Senhores Ministros Rafael Mayer,
dos ou não. Portanto, o prejuízo fis- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
cal só fica pendente para compensa- Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
ção com lucros de exercícios subse- da República, Dr. Francisco de As-
qüentes, se não existirem reservas sis Toledo.
ou lucros suspensos, ou se estes últi-
mos forem em valor inferior ao pre- Brasília, 9 de novembro de 1982 —
juízo. Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Essa interpretação do texto legal é Secretário.
de todo razoável.
VOTO (VISTA)
Em que pese à brilhante argumen-
tação da Recorrente, o seu intento é
apenas o de substituir a hermenêuti- O Sr. Ministro Oscar Corrêa: A
ca do acórdão recorrido pela sua controvérsia jurídica dos autos foi
própria, fazendo apelo à aplicação assim exatamente exposta no voto
analógica do art. 243, f, do mesmo do Eminente Relator, Ministro Ra-
Regulamento, quando todavia este fael Mayer (fls. 3, in fine, do voto):
se refere à adição ao lucro real para «A controvérsia se faz em torno
tributação do imposto de renda, em da interpretação a ser dada ao art.
cada exercício, das quantias tiradas 247 do Regulamento do Imposto de
de quaisquer fundos ainda não tribu- Renda, aprovado pelo Decreto n?
tados, tendo, portanto, matéria dl- 58.400, que diz:

R.T.J. — 108 703

«O prejuízo verificado num vulnerados, não foram objeto de


exercício poderá ser deduzido pa- prequestionamento, sequer implíci-
ra compensação total ou parcial, to. Mas ai, como já acentuado, é
no caso da inexistência de fundos de aplicar-se a Súmula 400.
de reserva ou lucros suspensos, Não conheço, portanto, do recur-
dos lucros reais apurados dentro so».
dos três exercidos subseqüentes
(Lei n? 154, art. 10)». Preocupou-me, e levou-me a
O entendimento do acórdão re- pedir vista, o debate, que na tribuna
corrido é o de que a compensação se pôs, pelo ilustre advogado do Re-
de prejuízos é uma faculdade que a corrente, como, aliás, constante do
lei tributária concede aos contri- Memorial, relativo ao alcance da
buintes, pessoas jurídicas, desde compensação, tal como prevista no
que não tenham reservas ou lucros art. 247 do RIR (Decreto n? 58.400).
suspensos, no exercido fiscal. O É que se sustentou, então, como di-
decidido, pela instância ordinária, reito do contribuinte, proceder à
é que a existência de reservas im- compensação dos prejuízos fiscais,
pede a compensação de prejuízos sem incluir nesse cálculo as reser-
dos lucros apurados, face à dispo- vas já tributadas e as reservas isen-
sição expressa contida no artigo tas; porque, de outra maneira, se es-
247, em referência, onde não se tariam reduzindo, arbitrariamente
distingue entre os vários tipos de os prejuizos e majorando os lucros, e
reserva existentes, tributados ou violando o ne bis In Idem e olvidan-
não. Portanto, o prejuízo fiscal só do o principio da capacidade
fica pendente para compensação contributiva, com violação implícita
com lucros de exercícios subse- dos arts. 19, I e 153, ff 2? e 29 da
qüentes, se não existirem reservas Constituição, além dos artigos 9?, I e
ou lucros suspensos, ou se estes úl- 97, I do CTN.
timos forem em valor inferior ao A controvérsia gira, exclusiva-
prej uizo. mente, acerca da interpretação do
Essa interpretação do texto legal art. 247 do RIR, aprovado pelo De-
é de todo razoável. creto n? 58.400, como bem fixou o
Em que pese à brilhante argu- Eminente Ministro Relator. E, mais
mentação da Recorrente, o seu in- especificamente, se se devem ou não
tento é apenas o de substituir a incluir como reservas, para o fim da
hermenêutica do acórdão recorrido compensação, as já tributadas em
pela sua própria, fazendo apelo à exercícios anteriores e as 'reservas
aplicação analógica do art. 243, f, isentas.
do mesmo Regulamento, quando Afirma o Fisco, com o apoio do
todavia este se refere à adição ao Eminente Relator, em face da redu-
lucro real para tributação do im- ção do art. 247 do RIR, que a sim-
posto de renda, em cada exercício, ples existência de tais reservas im-
das quantias tiradas de quaisquer pede a compensação dos prejuízos; o
fundos ainda não tributados, tendo, Recorrente entende que quanto às
portanto, matéria diversa da que reservas já tributadas equivale isso
está em causa. Argumentação que a tributar o já legalmente tributado;
obviamente não infirma a razoabl- e quanto às reservas isentas, em tri-
lidade da interpretação adotada. butar, ilegalmente, o que é, por lei,
Esse é o único tema suscitável isento.
no julgamento, pois os dispositivos O art. 247, não distingue, nem se
constitucionais e legais, tidos como refere a reservas tributadas, ou não,
704 R.T.J. — 108

e, em nosso entender, não tinha por- 247 do RIR) como incidindo nessa
que distinguir: se as reservas já fo- ofensa a principio geral, elementar,
ram tributadas, não pode sobre elas de direito tributário.
incidir nova tributação; se são isen- 5. In casu, pretende a Recorrente
tas, não há como tributá-las. compensar os prejuízos fiscais dos
O legislador não precisa declarar o exercícios de 1970, 1971 e 1972 com o
que é Implícito, em especial, o que, lucro real de 1973 — sem incluir,
entendido de outra forma, importa- nesse cálculo, as reservas já tributa-
ria em ofensa a principio fiscal ele- das em exercícios anteriores a 1970 e
mentar — a dupla imposição sob o reservas isentas.
mesmo fundamento. E aqui a invo- O art. 247 do RIR (repetindo o art.
cação cabível do art. 108, II, do CTN, 10 da Lei n? 154/47) admite a com-
porque o entendimento contrário im- pensação, total ou parcial, do pre-
portaria em ofender o principio ge- juízo verificado num exercício, com
ral do direito tributário, que veda a os lucros reais apurados dentro dos
incidência da dupla tributação sobre três exercícios subseqüentes, desde
o mesmo fato; e esse principio cons- que inexistentes fundos de reserva
titui uma daquelas bases do «método ou lucros suspensos.
sistemático, pelo qual os pontos si- Da interpretação literal do texto se
lentes, obscuros, ou contraditórios de conclui que:
uma lei de impostos se completam».
«( A. Baleeiro, Direito Tributário I — não haverá compensação se
Brasileiro», 10? ed. revista e atuali- não houver lucros reais apurados
zada por Flávio B. Novelli, Forense, nos três exercícios subseqüentes
1981, pág. 437). Princípios aos quais àquele em que se verificar o pre-
a doutrina — de que Baleeiro é ex- juízo;
pressão maior, entre nós — empres- II — não haverá compensação se
ta papel fundamental. existirem fundos de reserva ou lu-
cros suspensos;
4. No caso, é contraditório admi- III — haverá compensação par-
tir-se que, tributada a reserva, de cial se os lucros reais apurados na-
novo incida sobre ela a tributação, quelas condições — forem insuficien-
ou venha a incidir, se isenta; e con- tes para a compensação total do pre-
traditório pudesse o art. 10 da Lei n? juízo.
154/47 ou o art. 247, determiná-lo, in-
terpretação ilógica que se não pode E pelo parágrafo único:
aceitar. IV — essa dedução só será permi-
tida nesses três exercícios e não
Na verdade, tributadas as reser- após eles.
vas, ou isentas, escapam elas ao âm- Ora, incluir reservas tributadas no
bito do Fisco e não podem ser objeto cálculo da compensação importaria
de compensação — no caso, prevista em, arbitrariamente, reduzir os pre-
entre prejuízo fiscal e lucro fiscal. juízos, acrescendo os lucros.
Para isso, não há para que buscar 6. E, aqui, então, surge, como ar-
outros fundamentos e, menos ainda, gumento a mais, a interpretação
interpretação analógica: o que se analógica do art. 243, f do mesmo
sustenta é que não pode o Fisco vol- Regulamento: se se impõe a adição
tar a tributar — direta ou in- de reservas não tributadas ao lucro
diretamente — reservas já tributa- real, para que este não seja reduzido
das, ou isentas. E não se pode inter- em prejuízo do Fisco, a contrario
pretar o art. 10 da Lei n? 154 (ou o sensu, há que excluir as reservas já

R.T.J. — 108 705

tributadas (ou isentas) para que se Verdade, não fossem elas, haveria
não reduza o prejuízo a compensar, lucro real ou lucro real maior a ser
em desfavor do contribuinte. tributado. Claro, pois seria absur-
O recurso à analogia, portanto, só do admitir a lei fiscal o artifício da
se dá para comprovar que a inter- eliminação do lucro através da
pretação literal do artigo leva à constituição de reservas não auto-
ofensa ao princípio basilàr do direito rizadas para, obtido um «pre-
fiscal do ne bis In idem (de natureza juízo», compensá-lo contra lucros
penal) . futuros. A absorção desse «pre-
Mas, há, ainda, outro dado sub- juízo» dá-se instantaneamente den-
sidiário, em favor da interpretação tro do próprio exercício.
alvitrada pela Recorrente: embora o Mas, por outro lado, a lei
artigo não distinga as reservas — e não quis, porque seria ilógico, im-
são todas as reservas existentes no pedir a compensação de prejuízos
momento da compensação, tributa- obtidos licitamente, isto é, sem ar-
das ou não (como se lê no parecer tifícios contábeis dissimuladores
da Procuradoria da Fazenda Nacio- dos lucros em prejuízo.
nal — fls. 20) — também ali, logo
adiante, se lê: «com exceção das re- Por essa mesma razão, a lei
servas técnicas das companhias de tampouco pretendeu que reservas
seguros e capitalização e a decorren- preexistentes ao exercício deficitá-
te da correção monetária do ativo rio — que não contribuíram para
imobilizado. (Parecer CST/SIPR n? este resultado negativo, mormente
470/77)». ( fls. 20). quando já tributadas, vedassem a
Ora, o texto não admitiria também compensação dos prejuízos fiscais.
essas exceções, que a Fazenda se Ainda em decorrência do
autoriza fazer. E se a lei não distin- acima exposto, não objetivou a Lei
gue entre reservas tributadas, ou n? 154/47 restringir a compensação
não — e isto se repete — também de prejuízos em razão da existên-
não distingue as reservas técnicas cia de reservas cuja legitimidade a
das companhias de seguro e capitali- própria lei fiscal admite, tanto que
zação e a decorrente da correção as declara isentas.
monetária do ativo imobilizado.
O r. despacho do Exmo. Minis- Na sistemática do imposto
tro Vice- Presidente do C. Tribunal de renda somente reservas não
Federal de Recursos, hoje Eminente autorizadas na lei fiscal e as ainda
Ministro desta Corte, Aldir Passari- não tributadas é que são adiciona-
nho não se escusou de salientar a das ao lucro real para tributação
«indisfarçável valia» dos argumen- (art. 243 do RIR/66). Trazer reser-
tos do recorrente para «a interpreta- vas já tributadas ou Isentas para o
ção quanto ao alcance que deve ser cálculo da compensação de pre-
dado ao disposto no artigo 10 da Lei juízos é o mesmo que, reduzindo
n? 154, de 25-11-47, e que serve de su- estes, aumentar o lucro real, base
porte ao artigo 247 do Decreto n? de cálculo do imposto — é trazer,
58.400 de 10-5-1966». E transcreve es- também elas para a tributação».
te trecho da petição do recorrente: (fls. 99/100).
«13, A razão, insiste-se, para a 9. Considero, assim que a inter-
lei vedar compensação de prejuí- pretação dada, pelo Fisco ao art. 247
zos fiscais obtidos em exercícios do RIR, importa em negativa de vi-
nos quais se constituíram reservas gência do art. 108, II do CTN pois, na
não autorizadas pela lei, é que, na verdade, ofende a princípio geral de
706 R.T.J. — 108

direito tributário, que veda o bis In S/A., atual denominação de Hita-


idem, tal como explicitado em o art. chi-Line Indústria Elétrica S/A.
109. (Advs.: José Marcos Domingues de
Frise-se, em abono dessa conclu- Oliveira e outros). Recda.: União Fe-
são, que as leis tributárias exigem deral.
interpretação complexa; a tal ponto, Decisão: O julgamento foi adiado a
que o CTN dedica todo um capítulo pedido do Ministro Néri da Silveira,
— arts. 107/112 — á interpretação e depois do voto do Ministro Relator,
integração da legislação tributária. que não conhecia do recurso extraor-
E não há de ser neste voto que se dinário, e do voto do Ministro Oscar
suscitará o debate, ao qual os douto- Corrêa, que dele conhecia e lhe dava
res têm dedicado amplas divaga- provimento. Ausente, justificada-
ções, no intuito de fixar todos os mente, o Ministro Alfredo Buzaid.
componentes do complexo fenônemo Presidência do Senhor Ministro
tributário, por isso mesmo compor- Soares Mufioz. Presentes à sessão os
tando todos os métodos que sirvam à Senhores Ministros, Rafael Mayer,
apreensão e fixação dos objetivos da Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
lei. sente, justificadamente, o Sr. Minis-
NO se admita, por isso, a simples tro Alfredo Buzaid. Subprocurador-
interpretação literal, quando coliden- Geral da República, Dr. João Boa-
te com outras considerações de cará- baid de Oliveira Itapary.
ter jurídico, econômico, ou mesmo Brasília, 3 de dezembro de 1982 —
lógico, que devam imperar. Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Por estes fundamentos, conheço do Secretário.
recurso, e dou-lhe provimento.
E o meu voto. VOTO (VISTA)

CONFIRMAÇÃO AO VOTO O Sr. Ministro Néri da Silveira: A


recorrente moveu ação ordinária
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re- contra a União Federal, pretendendo
lator): Sr. Presidente, presto a mi- ver anulada a decisão administrati-
nha homenagem ao brilhante voto do va, em resposta à consulta que for-
mulou ao Superintendente Regional
eminente Ministro Oscar Corrêa, pe-
la sua formação cultural e, inclusi- da Receita Federal da r Região —
ve, categoria intelectual e científica GB, hoje, Estado do Rio de Janeiro,
de explorar esse setor, mas a dificul- resumindo o ato impugnado, às fls.
dade que tenho é que se trata de re- 2, no teor da resposta aludida, In
curso somente pela letra a. Se se verbis:
pauta o acórdão recorrido por uma «Todas as reservas existentes no
interpretação literal que ressuma do momento da compensação do pre-
próprio texto, não posso, em face da juízo impedem a dedução deste dos
Súmula 400, admitir o conhecimento lucros tributáveis apurados no triê-
do recurso. nio subseqüente, sendo irrelevante
Assim, peço vênia para confirmar a ocasião de constituição de tais
o meu voto. reservas. Constituem exceção à re-
gra as reservas técnicas das com-
panhias de seguro e de capitaliza-
EXTRATO DA ATA ção e a reserva de correção mone-
tária do ativo imobilizado, não con-
RE 96.615-RJ — Rel.: Min. Rafael sagradas como impeditivas (P. N.
Mayer. Recte.: Indústrias Hitachi — CST n? 111/75)».

R.T.J. —108 707

Esclarece que a consulta ao Fisco «Art. 247. O prejuízo verificado


assim se compendiava (fls. 2): num exercício poderá ser deduzi-
«Deixou de incluir' ou adicionar do, para compensação, total ou
no lucro operacional ' as reservas parcial, no caso de inexistência de
isentas e as já tributadas, de fundos de reserva ou lucros sus-
exercícios anteriores a 1973, a títu- pensos, dos lucros reais apurados
lo de compensação — d! prejuízos, dentro dos 3 (três) exercícios sub-
por entender que, em sentido con- seqüentes».
trário, haveria dupla tributação, Acolheu-se esta tese, no acórdão
para um único fato gerador». (fls. 80/81): a compensação do pre-
Na sentença, o ilustre Juiz Federal juízo é condicionada à inexistência
Carlos Augusto Thibau Guimarães, de fundos de reserva ou lucros sus-
hoje Ministro do colendo TFR,‘ ssim pensos, concluindo que, no caso as
fundamentou sua decisão, no sé tido reservas denunciadas pela recorren-
da improcedência da demanda fls. te impedem a compensação preten-
55/56): dida, «não importando que sejam
isentas ou já tributadas em exer-
«Os artigos 222, letra f, do atual cícios anteriores». Entendeu-se, ou-
Regulamento do Imposto de Ren- trossim, que, existindo norma ex-
da, e 243, letra; do antigo não po- pressa a reger a hipótese, não há in-
dem ser aplicados analogicamente vocar interpretação analógica.
ao caso, como quer a autora, pois O aresto guarda esta enienta (fls.
se referem ao acréscimo do lucro 85): «Imposto de Renda. Exclusão de
real para tributação do imposto de reservas isentas ou já tributadas,
renda, enquanto que o assunto em do lucro operacional. Inviabilidade.
exame diz respeito á compensação Aplicação do art. 225 do RIR (Decre-
de prejuízos fiscais desde que não to n? 76.186/75), art. 247 do Decreto
haja fundos de reserva ou lucros n? 58.400/66). Impossibilidade de in-
suspensos. terpretação analógica, na espécie.
Como há disposição legal expres- Ação julgada improcedente, por sen-
sa sobre a matéria, o intérprete tença que se confirma. Apelação im-
prescinde do recurso à analogia, provida ».
estando claro que só poderá ha- No recurso extraordinário, alega a
ver compensação dos prejuízos fis- recorrente ofensa aos arts. 19, I, e
cais por dedução dos lucros tribu- 153, ff 2? e 29, da Constituição, bem
táveis, se não houver fundos de re- assim negativa de vigência aos arts.
serva ou lucros suspensos. 9.`, I, e 97, I, do CTN, e, ainda, ao
Como esses dispositivos não esta- art. 108, I e II, «por não haver o
belecem distinção entre as reser- acórdão feito aplicação analógica do
vas existentes, tributadas ou não, a art. 243, do RIR, de 1966, e interpre-
sua existência impede a compensa- tação sistemática e teleológica da
ção do prejuízo com os lucros apu- Lei n? 154/47, informada pelo
rados, não importando a ocasião principio geral de direito tributário
em que foram constituídos». da vedação do bis in idem, destacan-
Essa decisão foi mantida no acór- do que, se obedecidos esses precei-
dão do Tribunal Federal de Recur- tos, seria consagrado o único enten-
sos, que enfatizou, ainda, invocando dimento viável de que as reservas já
o parecer da Subprocuradoria-Geral tributadas ou isentas não se adicio-
da República, encontrar a pretensão nam ao cálculo da compensação de
da recorrente óbice na regra do art. prejuízos.
247, do RIR, aprovado pelo Decreto Bem de ver, desde logo, é não te-
n? 58.400/1966, verbis: rem sido ventilados no acórdão re-
708 R.T.J. — 108

corrido, nem em embargos de decla- RIR, de 1946, inserida na Seção II,


ração, os temas constitucionais invo- do Capítulo I, acerca da «Base do
cados no apelo extremo, incidindo, Imposto», sob o titulo «Dos acrésci-
assim, quanto a eles, as Súmulas 282 mos ao lucro real», para tributação
e 356. A controvérsia foi decidida, à em cada exercício financeiro, com o
luz do art. 247, do RIR, de 1946, e seguinte teor:
art. 10, da Lei n? 154, de 25-11-1947. «Art. 243. Serão adicionados ao
Afirmou-se que a regra expressa em lucro real, para tributação em ca-
foco, que não consagra a distinção da exercício financeiro:
pretendida pela recorrente, afasta a
interpretação analógica, ut art. 108,
do CTN. 1) as quantias tiradas de quais-
Em face do lucro apurado em 1973, quer fundos ainda não tributários,
a recorrente compensou-se dos pre- para aumento do capital social
juízos fiscais sofridos nos exercícios (Decreto-Lei n? 5.844, art. 43, §
de 1970, 1971 e 1972, «oferecendo à 1?, g).
tributação somente a diferença, dei- Penso, data venta, que a invocação
xando de considerar as reservas dessa norma, destinada a disciplinar
isentas e as já tributadas em exer- matéria distinta, qual seja, acrésci-
cidos anteriores a 1970». mo ao lucro real tributável, em nada
A controvérsia dirimiu-se, em rea- socorre a autora, para afastar a inci-
lidade, em face do art. 247, do RIR, dência, na solução da espécie, do
de 1946, acerca da compensação de art. 247 em comento, posto em Seção
prejuízos, que reza: diversa, regulando espécie diferente.
«Art. 247. O prejuízo verificado De qualquer sorte, em plano de re-
num exercício poderá ser deduzi- curso extraordinário, não cabe afas-
do, para compensação total ou par- tar, como bem anotou o Ilustre Mi-
cial, no caso da inexistência de nistro Relator, a razoabilidade da so-
fundos de reserva ou lucros sus- lução do acórdão, na exegese do art.
pensos, dos lucros reais apurados 247, do RIR, de 1946, o que bastante
dentro dos três (3) exercícios sub- seria a incidir a Súmula 400, com o
seqüentes» (Lei n? 154, art. 10). não conhecimento do apelo extremo.
No parágrafo único, desse artigo, Na conformidade da orientação fis-
se estabelece que, decorridos esses cal administrativa, evidenciada no
três (3) exercícios, não será permiti- parecer, que a autora impugnou,
da a dedução, nos seguintes, de pre- «Todas as reservas existentes no
juízo porventura não compensado momento da compensação, tributada
(Lei n? 154, art. 10). ou não, incluindo a Reserva Legal e
a oriunda da manutenção do capital
Consoante o acórdão recorrido, a de giro próprio, efetivamente, impe-
existência de reservas ou lucros sus- dem a compensação do prejuízo com
pensos, no exercício fiscal, impede os lucros apurados no triênio subse-
a compensação dos prejuízos nos qüente, não importando a ocasião
exercícios seguintes. No dispositivo em que foram constituídas as cita-
em foco (RIR, art. 247), em verdade, das reservas, com exceção das re-
não se estabelece qualquer distinção servas técnicas das companhias de
entre reservas tributadas ou não. A seguros e capitalização e a decorren-
inexistência de fundos de reserva ou te da correção monetária do ativo
lucros suspensos teve-a o acórdão imobilizado».
como condição à compensação dos
prejuízos. Faz apelo a recorrente à Não vejo, assim, inobstante o es-
norma do art. 243, letra f, do mesmo forço da recorrente, demonstrada a
R.T.J. — 108 709

negativa de vigência do art. 108, I e Do exposto, com a devida vênia do


II, do CTN, para efeito de viabilizar ilustre Ministro Oscar Corrêa, acom-
o conhecimento e provimento da ir- panho o eminente Ministro Rafael
resignação derradeira, certo como Mayer, relator.
parece não merecer invocado o art. Não conheço, pois, do recurso ex-
243, letra f, do RIR de 1966, à hipóte- traordinário.
se em exame, diante da aplicação da
norma que, expressamente, regula a EXTRATO DA ATA
matéria, deduzida na inicial. Não te- RE 96.615-RJ — Rel.: Min. Rafael
nho, outrossim, como se possa afas- Mayer. Recte.: Indústrias Hitachi
tar a interpretação do. art. 247, do S/A, atual denominação de
RIR, de 1966, dada pelo aresto recor- Hitachi-Line Indústria Elétrica S/A.
rido, em se pretendendo interpreta- (Advs.: José Marcos Domingues de
ção sistemática da Lei n? 154/1947. O Oliveira e outros). Recda.: União Fe-
acórdão deu, como condição ao deral.
exercício da faculdade da compensa-
ção de prejuízos, nos três exercidos Decisão: Não se conheceu do re-
seguintes, não existirem fundos de curso extraordinário, vencido o Mi-
reserva ou lucros suspensos. nistro Oscar Corrêa.
Presidência do Senhor Ministro
Ademais disso, os aspectos de fato, soares Muiloz Presentes à Sessão os
quanto aos fundos de reserva da re- Senhores Ministros. Rafael Mayer,
corrente, não se enfrentaram no Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
acórdão, no que concerne à existên- sente, licenciado, o Senhor Ministro
cia de reservas já tributadas ou isen- Alfredo Buzaid. Subprocurador-
tas, o que se faria, a esta altura, In- Geral da República, Dr. Francisco
viável, aos efeitos do apelo extremo, de Assis Toledo.
que ainda postula a procedência da Brasília, 2 de dezembro de 1983 —
ação. Invocável seria, também, as- António Carlos de Azevedo Braga,
sim, na espécie, a Súmula 279. Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 96.616 — RJ
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mutioz.
Recorrentes: Francisco Alberto Moreira Falcão e outros — Recorrido:
Instituto do Açúcar e do Alcool.
Trabalhador rural da lavoura canavieira.. Concessão de área de
terras próximo á moradia.
— Ato nt 18, de 1968, do Presidente do MA, assegurando ao traba-
lhador rural, com mais de um ano de serviço, direito à concessão de
uma área, a titulo gratuito, próximo à sua moradia, para plantação e
criação, necessária à subsistência de sua familia. Constitucionalidade
do mencionado Ato e, bem assim, do Decreto-lei nt 8.989/44, art. 23, e
Decreto n? 57.020/65, com base nos quais aquele Ato foi baixado. A
disposição em referência não importa desapropriação, nem uso da
Propriedade privada pelo Estado; constitui apenas uma condição, ine-
rente aos contratos de trabalho, que se inclui entre os *outros direi-
tos» assegurados aos trabalhadores pelo artigo 165 da Carta Magna,
visando «à melhoria de sua condição social». Recurso extraordinário
não conhecido.
710 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO A e Turma deste Tribunal negou


provimento ao agravo interposto
Vistos, relatados e discutidos estes por Francisco Alberto Moreira
autos, acordam os Ministros do Su- Falcão e outros, após o Tribunal
premo Tribunal Federal, em Primei- Pleno haver rejeitado a argüição
ra Turma, na conformidade da ata de inconstitucionalidade manifesta-
do julgamento e das notas taquigrá- da pelos agravantes.
ficas, por unanimidade de votos, não O acórdão do referido julgamen-
conhecer do recurso. to está assim ementado:
Brasília, 29 de novembro de 1983 —
Soares Mufioz, Presidente e Relator. «Compatibilidade entre as dis-
posições impugnadas (Decreto-
RELATÓRIO Lei n? 6.969/44, Decreto n?
57.020/65 e Ato 18/68, do IAA), e
O Sr. Ministro Soares Mulioz: O as normas legais invocadas no
eminente Ministro Jarbas Nobre, ao recurso. Vigência dos preceitos
tempo Vice-Presidente do Tribunal em que se funda o ato do IAA,
Federal de Recursos, indeferiu o re- cuja constitucionalidade ficou
curso extraordinário, em despacho proclamada.»
que assim expõe a espécie: Inconformados, recorreram ex-
«Francisco Alberto Moreira Fal- traordinariamente os agravantes
cão e outros, plantadores e forne- com fundamento na alínea a do
cedores de cana do Estado de Per- permissivo constitucional, argu-
nambuco, juntamente com o Sindi- mentando que o ato impugnado in-
cato dos Cultivadores de Cana-de- fringe a garantia constitucional do
Açúcar no Estado de Pernambuco direito de propriedade assegurado
e a Associação dos Fornecedores pela Constituição de 1946 (art. 141,
de Cana de Pernambuco, Impetra- § 16) e pela atual (art. 153, § 22),
ram mandado de segurança contra com base em pareceres da lavra
o Ato n? 18/68 do Presidente do Ins- dos juristas Francisco Campos e
tituto do Açúcar e do Álcool que, Orosimbo Nonato.
pretendendo dar execução ao dis- Alegaram, também, a revogação
posto no art. 23 do Decreto-lei n? do Decreto-lei n? 6.969, de 1944, pe-
6.969, de 1944, regulamentado pelo la Lei n? 4.497, de 1966, pelo Decre-
Decreto n? 57.020, de 1965, reconhe- to n? 59.456, de 1966, e pela Lei n?
ceu aos trabalhadores rurais da la- 4.870, de 1965.
voura canavieira, com mais de um
ano de serviço contínuo na empre- Houve impugnação do Instituto
sa, o direito ao uso, a título gratui- do Açúcar e do Alceei no sentido
to, de uma área de terra próxima de que as leis agrárias, dadas co-
a sua moradia, suficiente à planta- mo infringidas, não sofreram qual-
ção e à criação necessárias à sua quer gravame, por disciplinarem
subsistência e à de sua família. questões diferentes, além de não
Alegaram os impetrantes a in- ter sido demonstrada pelos recor-
constitucionalidade e revogação do rentes a pretendida inconstitucio-
Decreto-lei que serviu de suporte nalidade.
ao ato impugnado. O assunto foi exaustivamente de-
A sentença de primeira instância batido neste Tribunal, valendo a ci-
não conheceu da impetração em tação dos seguintes trechos conti-
nome do Sindicato e da Associa- dos nos votos proferidos pelo Sr.
ção, negando o mandado em rela- Ministro Jorge Lafayette Guima-
ção aos demais. rães:

R.T.J. — 108 711

«Ninguém nega que, no nosso A Subprocuradoria-Geral da


regime, o direito de propriedade, República manifestou-se pelo não
embora erga omnes, tecnicamen- conhecimento da irresignação.
te absoluto, encontra suas limita- o relatório.
ções — e cada vez mais acentua-
das — no interesse social. E, em VOTO
dúvida, as dimensões das áreas a
serem cedidas ao uso do traba- Sr. Ministro Soares Mufioz (Re-
lhador, os fins estritos a que se lator): Foi a relevância jurídica da
destinam e a sua vinculação ao questão que me levou a prover o
contrato de trabalho situam a de- agravo para que o Supremo Tribunal
terminação do art. 23 do Decreto- Federal pudesse pronunciar-se sobre
Lei n? 6.969 dentro das fronteiras ela. A inconstitucionalidade do ato
constitucionais e perfeitamente impugnado foi suscitada com arrimo
ajustada ao critério fixado no em pareceres dos saudosos e emi-
art. 158 da Lei Fundamental de nentes jurisconsultos Francisco Cam-
1967 (atual art. 165 da Emenda pos e Orosimbo Nonato. Não obstan-
Constitucional n? 1), segundo o te, depois de multo refletir sobre a
qual; entre direitos ali assegura- espécie, conclui aceitando os funda-
dos ao trabalhador, pode a lei es- mentos do acórdão recorrido, contrá-
tipular outros que visam à me- rios á inconstitucionalidade.
lhoria de sua condição social»
(fls. 261). «Improcede, por igual, parecer da ilustre Procuradora
o argumento de que a Lel n? Anadyr de Mendonça Rodrigues,
4.497/66 conflita e revoga o aprovado pelo douto Subprocurador-
Decreto-lei n? 6.969/64, e seu re- Geral da República Mauro Leite
gulamento de 65 — Decreto n? Soares, bem demonstra que, em ver-
57.020, ao dispor sobre o direito dade, nem a revogação, nem a in-
agrário e estabelecer normas pa- constitucionalidade se apresentam
ra os respectivos contratos. A manifestas. Reproduzo, pois, o teor
cultura e a indústria canavieiras do parecer, in verbis:
são ainda, regidas por leis espe- «O Recurso Extraordinário é in-
ciais, recebem favores especiais, terposto com fundamento exclusi-
pelo que devem estar sujeitas a vamente na alínea a do permissivo
regras e ônus especiais em rela- constitucional, fazendo alegação de
ção a seus trabalhadores, tanto ofensa ao art. 153, § 22, da Consti-
quanto está de referência aos fa- tuição e negativa de vigência da
vores de crédito, colocação do Lei n? 4.497, de 1966, e da Lei n?
produto, preço de venda.» (fls. 4.870, de 1965, por haver sido consi-
284). derado vigente o art. 23 do
Decreto-lei n? 6.969, de 1941.
Deu, portanto, o cresto recorri- Resuma-se a controvérsia dizen-
do, razoável interpretação à lei, o do que o dispositivo dado como re-
que torna inadmissível o recurso vogado — que autorizou a conces-
extraordinário em face do que dis- são a titulo gratuito, ao trabalha-
põe a Súmula 400-STF» (fls. dor rural com mais de um ano de
310/312). serviço, de uma área de terra pró-
xima à sua moradia, suficiente pa-
Interposto agravo de instrumento, ra plantação e criação necessárias
dei-lhe provimento determinando a subsistência de sua família — foi
subida, para melhor exame, do re- utilizado como esteio do Decreto n?
curso extraordinário. 57.020, de 11 de outubro de 1965, e
712 R.T.J. — 108

do Ato ri? 18/68, de 1? de julho de mormente considerando-se que o


1968, do Presidente do Instituto do uso da terra permitido ao trabalha-
Açúcar e do Alcool, o qual, posto dor está condicionado e limitado à
em execução, deu ensejo à impe- vigência do pacto laborai (art. 6?
tração de mandado de segurança do Decreto n? 57.020, de 1965), será
pelos ora Recorrentes, que susten- avistar a mesma eiva em quais-
tam sua inconstitucionalidade, quer outras normas protetoras do
frente à garantia do direito de pro- empregado, em detrimento do ab-
priedade inserta no § 22 do art. 153 soluto direito de propriedade do
da vigente Carta Magna e nas que empregador, tais como, apenas
a antecederam. exemplificativamente, aquelas que
O E. Tribunal a quo, em sua impõem à empresa urbana a insta-
composição plenária, enfrentou a lação, para uso dos trabalhadores,
questão constitucional posta a exa- de aparelhos sanitários, refeitó-
me, para rechaçar a imputada in- rios, bebedouros e armários indivi-
constitucionalidade (fls. 247/270). duais (artigos 214 e 219 da Consoli-
dação das Leis do Trabalho).
Parece que assiste razão ao V.
aresto recorrido, no seu entendi- Considerando-se, ademais, que a
mento sobre a questão constitucio- função social da propriedade é es-
nal suscitada. tabelecida, pela Constituição, como
Com efeito, além de serem irre- um dos princípios que devem nor-
procháveis os argumentos para de- tear a ordem econômica e social,
monstrar que a norma do Decreto- para se atingirem o desenvolvi-
Lei n? 6.969, de 1944, não suprime o mento nacional e a justiça social
direito de propriedade, nem autori- (art. 160), resulta manifesto que a
za desapropriar sem indenização, propriedade absoluta não pode ser
há, ainda, a considerar que tem a argüida como óbice à outorga, ao
mesma apoio no art. 165, caput, da trabalhador rural, de direito desti-
própria Constituição, que reza: nado à melhoria de sua condição
social, especialmente levando-se
«A Constituição assegura aos em conta que em nada ficou afeta-
trabalhadores os seguintes direi- do o direito, em si, à propriedade.
tos, além de outros que, nos ter-
mos da lei, visem à melhoria de Insubsistente, assim, o único su-
sua condição social: porte do apelo extremo, torna-se o
mesmo inadmissível.
( grifamos)
O parecer é, por conseguinte, de
Em verdade; afigura-se inegável que o Recurso Extraordinário não
que o uso, pelo trabalhador rural, merece conhecimento» ( fls.
da área de terra próxima à sua 336/339).
moradia, estritamente suficiente à
plantação e criação necessárias à Realmente, tal como assinalou o
subsistência de sua familia, apenas acórdão recorrido, o Ato n? 18, de
constitui um dos direitos que a 1968, do Presidente do Instituto do
Carta Magna faculta à lei conferir Açúcar e do Álcool, baixado com ar-
ao obreiro, rural ou urbano, visan- rimo no art. 23 do Decreto-lei n?
do à melhoria de sua condição so- 6.969/44 e no Decreto n? 57.020/65,
cial, nos estritos termos do que es- não ofende a Constituição Federal
tabelece o supratranscrito caput do (art. 153, § 22), quando assegura ao
seu art. 165. trabalhador rural, com mais de um
ano de serviço, direito à concessão de
Entrever, em tal disposição, má- uma área, a título gratuito, próximo
cula ao direito de propriedade, à sua moradia, para plantação e
R.T.J. — 1011 713

criação, necessária à subsistência de Instituto do Açúcar e do Álcool


sua familia. A disposição em refe- (Advs.: Maria Lúcia Luz Lacerda e
rência não importa desapropriação, outro).
nem uso da propriedade privada pe- Decisão: Não se conheceu do re-
lo Estado: constitui uma condição curso extraordinário. Decisão unâni-
inerente aos contratos de trabalho me. Impedido o Ministro Néri da Sil-
que se inclui entre os «outros direi- veira. Falou pelo Recdo.: Dra. Maria
tos» assegurados ao trabalhador pelo Lúcia Luz Lacerda.
art. 165 da Carta Magna, visando «à
melhoria de sua condição social». Presidência do Senhor Ministro
Soares Munoz. Presentes à Sessão os
Ante o exposto, não conheço do re- Senhores Ministros Rafael Mayer,
curso extraordinário. Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
sente, licenciado, o Senhor Ministro
EXTRATO DA ATA Alfredo Buzaid. Subprocurador-
Geral da República, Dr. Francisco
RE 96.616-RJ — Rel.: Min. Soares de Assis Toledo.
Mutioz. Rectes.: Francisco Alberto Brasília, 29 de novembro de 19113,
Moreira Falcão e outros (Advs.: — António Carlos de Azevedo Braga,
Cláudio Lacombe e outros). Recdo.: Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO Nt 96.619 — GO


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: José Fidélis Soares e sua mulher — Recorrido: Furnas Cen-
trais Elétricas S/A.
Desapropriação. Nova avaliação. Laudo oficial de 1973, acolhido
nas instâncias ordinárias, para a fixação da indenização. O valor dos
bens expropriados, para efeito de indenização, deve ser o contempo-
râneo à data da avaliação. A demora do Julgamento final da causa,
motivada pelos iterativos recursos das partes, não autoriza nova ava-
liação. A Lei nt 4.686/1965 assegura a correção monetária e essa é a
única atualização permitida. Descabimento de nova avaliação, para
fins de atualização. Precedentes do STF. Juros compensatórios, a
partir da data da Imissão na posse do bem expropriado. Inocorréncia
de ofensa ao art. 153, 4 22, da Constituição, bem assim de contrarieda-
de á Súmula 164. Não se caracterizando, assim, qualquer das ressal-
vas do caput, do art. 325, do Regimento Interno, o recurso extraordi-
nário não é admissivel, em face do óbice constante do inciso V, letra
c, do aludido dispositivo regimental, enquadrando-se a desapropria-
ção entre os procedimentos especiais de Jurisdição contenciosa. Re-
curso extraordinário não conhecido.
ACORDAO Brasília, 11 de junho de 1982 —
Soares Muflóz, Presidente — Néri da
Vistos, relatados e discutidos estes Silveira, Relator.
autos, acordam os Ministros da Pri-
meira Turma do Supremo Tribunal RELATORIO
Federal, na conformidade da ata de
Julgamentos e notas taquigráficas, à O Sr. Ministro Néri da Silveira
unanimidade, não conhecer do recur- (Relator): O despacho determinando
so. o processamento do presente recurso
714 R.T.J. — 108

extraordinário, da lavra do ilustre «Desapropriação. Indenização.


Ministro Aldir Guimarães Passari- Fixação.
nho, Vice-Presidente do Colando Tri- I — Confirma-se a sentença
bunal Federal de Recursos, expõe a que fixou a indenização de acor-
espécie dos autos, nos seguintes ter- do com o laudo oficial e estipulou
mos, que adoto como parte do relató- os honorários advocaticios em
rio ( fls. 181/183): percentual razoável.
«Furnas — Centrais Elétricas 11 — Recurso oficial não co-
S.A. promoveu ação expropriatória nhecido. Apelação desprovida».
contra José Fidélis Soares e outros A esse aresta os expropriados Jo-
objetivando área declarada de uti- sé Fidélis Soares e sua mulher
lidade pública, destinada à cons- opuseram embargos de declaração
trução da Subestação de Bandei- pretendendo nova avaliação do
rantes, um dos pontos da linha de imóvel expropriado, pois, segundo
transmissão Cachoeira Dourada- alegam, o laudo oferecido pelo Pe-
Goiânia. rito Oficial já se encontra supera-
O MM. Julgador a quo assim de- do, em razão do decurso do tempo.
cidiu a controvérsia: Referidos embargos não foram
conhecidos, à unanimidade.
«Julgo procedente em parte a Inconformados, os embargantes
presente ação e fixo a indeniza- manifestam recurso extraordinário
ção que a autora deverá pagar com apoio nas letras a e d da nor-
aos expropriados segundo as cón- ma constitucional autorizadora, ao
clusões do laudo do perito Oficial argumento de que o acórdão im-
que adoto, acrescidas, as indeni- pugnado violou o disposto no art.
zações, da correção monetária 153, 22, da Constituição Federal,
segundo os termos da Lei n? no tocante à fixação do quantum
4.686, de 21-6-1965, contada a par- indenizatórlo, e divergiu do estipu-
tir deste sentença, e na conformi- lado na Súmula 164, no concernen-
dade dos índices oficiais cabíveis te aos juros compensatórios..
para a espécie, além dos juros de
mora legais contados da concas- • O caso seria de incabimento do
são da imissão de posse e hono- recurso, tendo em vista o valor
rários de advogado do contestan- atribuído à causa, na inicial, não
te que fixo em dez por cento atingir a alçada mínima e, tam-
(10W) ) sobre o montante estabele- bém, por se tratar de apelo extre-
cido para a área desapropriada. mo interposto em autos de procedi-
mento especial de jurisdição con-
Arbitro os honorários do perito tenciosa (desapropriação), mas a
oficial e do assistente dos expro- argüição de divergência com a in-
priados contestantes em Cr$ vocada Súmula 164 e invocação a
2.000,00 (dois mil cruzeiros) per maltrato a preceito constitucional
capita, que deverão ser estipen- afastam os referidos óbices (art.
diados pela expropriante, na for- 325, itens V, letra c, e VIII do
ma legal, bem assim o pagamen- RI/STF).
to das custas que forem devi- Por primeiro é de se destacar
das». que o recorrente, nos seus embar-
sse ecisório foi unanimemente gos ide declaração, invocou haver
pela 4? Turma deste amparo constitucional no seu pedi-
Tribunal, em acórdão assim emen- do de nova avaliação, pois o
tado: principio é o de que deve ser paga
R.T.J. 108 715

justa indenização. E é de interposto ao acórdão não incluiu


compreender-se que tal invocação item relativo a ditos juros moratór
só tivesse sido formulada através rios.
de embargos declaratórios, para Tenho para mim, deste modo,
fins do prequestionamento, se é que a matéria em torno da mencio-
certo que a inegável demora entre nada parcela se encontra preclusa,
a data • a apelação — 13 de novem- razão pela qual entendo que, no
bro de 1 — e a data do julga- particular, não há ensejo para apli-
mento do curso, decorrente do cação do princípio fixado na Súmu-
grande num -IV de feitos nesta Cor- la 292 do Pretório Excelso, segundo
te, em 8 de ho de 1981, é que o qual a admissão do recurso ex-
exatamente jus icaria o pedido de traordinário apenas por um funda-
nova avaliação, pelo que não seria mento não prejudica o seu conheci-
de exigir-se que o pleito, no parti- mento por qualquer dos previstos
cular, se fizesse quando da apela- no art. 101, III, da Constituição. O
ção. E. Supremo Tribunal, porém, me-
Assim, tenho como prequestiona- lhor dirá, já que estou em que se
da matéria constitucional, sendo a justifica o apelo derradeiro pelas
argüição razoável (art. 326 do razões iniciarmente expostas.»
RI/STF), para que incida a hipó- Admitido, assim, o recurso, os re-
tese na ressalva do caput do art. correntes razoaram-no, de fls.
325 do mesmo Regimento. 185/196, enquanto a recorrida apre-
E de observar-se, ainda, que o sentou suas razões, às fls. 197/200.
Pretório Excelso tem admitido se- É o relatório.
ja efetuada nova avaliação, ha-
vendo intervalo longo entre a pri-
mitiva e o julgamento final, tra- VOTO
zendo o recorrente à colação acór-
dãos em tal sentido, com indicação O Sr. Ministro Néri da Silveira
do repositório jurisprudencial (Relator): Pretendem os recorrentes
(RTJ 34/91; RTJ 54/376; RTJ que o acórdão violou o art. 153, 22,
73/892). da Constituição Federal, no tocante à
Quanto aos juros compensató- fixação do quantum indenizatório,
rios, item igualmente objeto do re- deixando, outrossim, a Corte a quo
curso extraordinário, e que o ex- de ordenar nova avaliação, como
propriado pretende ver incluído na veio a pedir em embargos de decla-
condenação, é de ver o seguinte: ração não conhecidos (fls. 143). Sus-
tentam, também, contrariedade
Alega o recorrente que tais juros Súmula 164 que prevê serem devidos
compõem a justa indenização e, juros compensatórios, no processo
assim, a sua não concessão impli- de desapropriação, desde a antecipa-
ca maltrato ao preceito do 22 do da imissão de posse, ordenada pelo
art. 153 da Constituição. Cabe no- Juiz, por motivo de urgência.
tar, porém, que a sentença não
concedeu tal parcela, e para que E o seguinte o voto condutor do
sobre ela se pronunciasse o Juiz acórdão, no julgamento da apelação
deveria o expropriado ter interpos- dos expropriados, da lavra do ilustre
to embargos de declaração, o que Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
não fez, e — o que é pior — não (fls. 124/126):
chegou sequer a apelar quanto a «Ao optar pelo laudo do Perito
sua não-concessão. E é mesmo cer- Oficial, assim argumentou o ma-
to que nos embargos de declaração gistrado a quo ( fls. 86):
716 — tos

«Todavia, cumpre ressaltar truidos com elementos comproba-


que, à luz da prova pericial pro- tórios da pesquisa realizada sobre
duzida no bojo dos autos, o valor dos imóveis na região. Nes-
verifica-se que a gleba de terra sas circunstâncias, a melhor alter-
desapropriada é, na sua totalida- nativa que se me afigura é mesmo
de, constituida de terrenos de a de dar-se pela primazia do laudo
cerrado, sem agua e de baixa oficial, desde que elaborado por
qualidade, seca e estéril, portan- experto da confiança do juiz e
to. equidistante dos interesses das
Inexiste qualquer utilização partes.
agrícola, ainda que em espaços
vizinhos, cabendo observar-se III
que uma eventual correção no so-
lo, através de adubação ou irri- De aduzir-se que os argumentos
gação artificial demandaria um alinhados pelos apelantes não são
custo tão elevado que o investi- suficientes para afastar os funda-
mento não seria compensado em mentos da sentença, não podendo,
termos econômicos. no ensejo, ser considerados os do-
E, em se tratando de área ru- cumentos acostados à petição re-
ral, somente há pouco tempo me- cursal, vez que, segundo a lei, o
lhor considerada, tão-somente valor da indenização há de ser con-
em decorrência da estrada asfal- temporâneo do laudo de avaliação
tada construída pelo Poder Ex- (Decreto-Lei n? 3.365/41, art. 26);
propriante e/ou pelas benfeito- ademais, vieram extemporanea-
rias edificadas pela empresa mente para o bojo dos autos (CPC
concessionária-autora, não há art. 396).
estimar-se o seu valor nos mol- IV
des propostos pelo assistente téc-
nico dos contestantes que me pa- Os honorários foram fixados em
recem, data venta, desproposita- percentual razoável, que mante-
dos.
nho.
Ademais, cumpre enfocar que,
com referência ao valor atri- V
buído junto à Divisão Estadual
de Cadastro e Tributação de Não conheço do recurso oficial,
Goiás ( fls. 10), o depósito ofereci- seja porque dele não se beneficia-
do supera de muito aquele parâ- vam as sociedades de economia
metro pelo que é de se admitir mista, seja porque a Indenização
que a oferta depositada pela au- fixada é inferior a trinta vezes a
tora representa razoável indeni- quantia ofertada (Lei n? 6.825, de
zação, passível de ligeira corre- 22-9-80, art. 1?, g 2?, aplicável aos
ção pelo juízo, exclusivamente feitos pendentes ex vi da Resolução
com referência à área dos con- n? 25, de 30-9-80, desta Corte.
testantes nos termos da conclu-
são do laudo do perito oficial.» VI
Em conclusão: não conheço do
A meu ver, decidiu com acerto. recurso oficial e nego provimento à
Na verdade, os laudos carreados apelação.»
para os autos apresentam deficiên- Dessa sorte, o acórdão manteve a
cias, desde que não se acham ins- sentença, examinando a materia de

R.T.J. — 108 717

fato referente à avaliação, recusan- transcrever a fundamentação da


do o aresto os argumentos dos ape- sentença, ao optar pelo laudo do Pe-
lantes. Não há espaço, em recurso ex- rito Oficial, disse (fls. 125/126):
traordinário, dessarte, ao reexame
de provas e de laudos, para eventual III
opção por outros valores constantes
do pronunciamento técnico desaco- A meu ver, decidiu com acerto.
lhido nas instâncias locais. Na verdade, os laudos carreados
Sucede, porém, que, a seguir, em para os autos apresentam defi-
embargos de declaração, pretende- ciências, desde que não se acham
ram os expropriados se realizasse instruidos com elementos com-
nova avaliação, em face do tempo já probatórios da pesquisa realiza-
decorrido, desde o laudo oficial (fls. da sobre o valor dos Imóveis na
133/134). A Turma julgadora do co- região. Nessas circunstâncias, a
lendo TFR não conheceu dos embar- melhor alternativa que se me afi-
gos, seguindo o voto do eminente Re- gura é mesmo a de dar-se pela
lator (fls. 140/141), In verbis: primazia do laudo oficial, desde
que elaborado por experto da
confiança do juiz e equidistante
dos interesses das partes.
«Afirma-se, nos embargos, que o
aresto impugnado teria se omitido 111
quanto ao pedido de nova avalia-
ção do imóvel expropriado. De aduzir-se que os argumen-
tos alinhados pelos apelantes não
II são suficientes para afastar os
fundamentos da sentença, não
Isso, porém, não ocorreu, pois podendo, no ensejo, ser conside-
tal pedido não foi feito no recurso rados os documentos acostados à
apelatório, segundo se depreende petição recursal, vez que, segun-
da sua parte conclusiva, In verbis do a lei, o valor da indenização
(fls. 92): há de ser contemporâneo do lau-
do de avaliação (Decreto-Lei n?
«Frente ao exposto requerem o 3.365/41, art. 26); ademais, vie-
recebimento e provimento do ram extemporaneamente para o
presente recurso para, em conse- bojo dos autos (CPC, art. 396).
qüência, ser a veneranda senten-
ça reformada para ser dado o va- IV
lor real das terras questionadas,
tomando-se por base os elemen- Os honorários foram fixados
tos constantes dos autos e princi- em percentual razoável, que
palmente o laudo constante de mantenho.
fls. 66/67, com a condenação da
expropriante, no pagamento de V
todas as custas, despesas proces-
suais e honorários advocaticios,
estes à razão de vinte por cento Não conheço do recurso oficial,
sobre o valor do já mencionado seja porque dele não se benef i-
laudo.» ciavam as sociedades de econo-
mia mista, seja porque a indeni-
Por isso mesmo, em meu voto, zação fixada é inferior a trinta
adstringindo-me em responder as vezes a quantia ofertada (Lei n?
questões aduzidas no recurso, após 6.825, de 22-9-80, art. 1?, 4 2?, apli-
718 R.T.J. — 108

cavei aos feitos pendentes ex vi da gurada a correção monetária, de


Resolução n? 25, de 30-9-80, desta explicito, desde ai, se há de apurar
Corte). sua incidência, eis que, então, já vi-
gorante a Lei n? 4.686, de 21-6-1965.
VI Como decidiu esta Turma, em acór-
dão de que Relator o ilustre Ministro
Em conclusão: não conheço do Soares Muõoz, no RE n? 92.573, DJ
recurso oficial e nego provimento de 19-11-1980, «O valor dos bens ex-
à apelação.» propriados, para efeito de indeniza-
ção, deve ser o contemporãneo à da-
III ta da avaliação. A demora no julga-
mento final da causa, motivada pe-
Em tais condições, não se achan- los iterativos recursos interpostos
do caracterizada a pretendida pelas partes, não autoriza nova ava-
omissão, não conheço dos embar- liação; a Lei n? 4.686/65 concede a
gos.» correção monetária, e é essa a única
Dessa sorte, não é de concluir pela atualização permitida. «O descabi-
ocorrência de ofensa ao art. 153, § mento de avaliação posterior àquela
22, da Constituição Federal, pelo inicial, para fins de atualização, tem
aresto recorrido, solvendo como fez, sido observado por este Tribunal,
no julgamento dos embargos decla- ressaltando-se a validade do critério
ratórios, a pretensão dos expropria- legal da correção monetária. Leiam-
dos a nova avaliação. De fato, ine- se estes excertos:
xistia omissão no acórdão a ser su- «O valor do bem expropriado pa-
prida, revestindo-se os embargos, ra efeitos de indenização deve ser
em verdade, de caráter infringente, contemporâneo à data da avalia-
por pretenderem, cassado o aresto, ção. Tese essa que se completa
para nova avaliação se fazer. A Tur- com a consideração de que, anula-
ma não poderia, dessa maneira, co- do o laudo, o outro deve partir do
nhecer de matéria nova, apenas de- valor do imóvel à data daquela
duzida nos embargos de declaração. avaliação, procedendo, após, a cor-
Não conhecendo desse ponto, o acór- reção monetária. Recurso extraor-
dão, em realidade, não negou, no dinário não conhecido.» (RE n?
mérito, nova avaliação, o que bas- 88.982-5-SP — 1? Turma — Rel.:
tante se faz a não se ter o julgado MM. Soares Mufloz — DJ 22-8-78 —
como infringente da Constituição DJU de 22-9-78 — pág. 7.312).
(art. 153, § 22).
Mesmo entretanto que se houves- «Desapropriação. Demora do pa-
se, na consideração do apelo excep- gamento. Ressarcimento des-
cional de ter como dispensável o pre- cabivel. Para os casos de demora
questionamento da matéria, porque no pagamento do valor do &móv el
o atraso só aconteceu, ao ensejo do desapropriado, a Lei n?
aresta, ainda assim não caberia ver concede correção monetária, além
ofensa ao art. 153, § 22, da Constitui- dos juros, tornando-se, portanto,
ção. Com efeito, realizada a avalia- inadmissível qualquer outra espé-
ção, na forma da lei, em outubro de cie de indenização.
1973, foi o laudo do perito oficial aco-
lhido, em face da avaliação dele Agravo regimental desprovido.
constante e de sua fundamentação, (Agravo n? 61.126 (AgRg)-SP — 1?
pelas instâncias ordinárias. Turma — Rel.: Min. Bilac Pinto —
Preferiu-se esse laudo ao do assis- J. 12-8-75 — DJU de 17-10-75 — n?
tente técnico dos expropriados. Asse- 200 — pág. 7.572 ).

R.T.J. — 108 719

«Desapropriação. Atraso no pa- RE n? 93.412-0-SC, referente à expro-


gamento — Se se reconheceu o do- priatória de Pinheiros, em que a
no do imóvel desapropriado, depois Turma, por maioria, confirmou deci-
da Lei n? 4.686/65, a correção mo- são do colando Tribunal Federal de
netária e os Juros da mora, não Recursos, determinando nova ava-
tem ele direito à indenização outra liação, porque, então o laudo era de
pelo atraso no pagamento — Em- 1953 e a correção montaria somente
bargos não conhecidos por não es- poderia incidir, a partir de 1965
tar comprovada a divergência.» imputando-se a demora no pagamen-
(Embargos em RE n? 77.991-SP — to do preço estipulado ao fato de os
1? Turma. Rel.: Min. Xavier de Al- autos terem ficado, por mais de dez
buquerque — J. 16-4-74 — DJU de anos, em poder do Procurador da
8-1-75 — n? 5 — pág. 72). República. Não é esta a situação dos
«...Nas ações de desapropria- autos, em que a avaliação aconteceu
ção, o valor do imóvel é o concer- em 1973, sendo, assim, todo o perío-
nente ao tempo da avaliação. As do, desde o laudo e a setença, cober-
estimativas posteriores, tendentes to pelos índices de correção monetá-
a suprir faltas ou incorreções de- ria.
vem ater-se ao valor contemporâ- Recuso, também, a alegação de
neo ao laudo originário. As atuali- contrariedade á Sumula 164.
zações se fazem através da corre- Com efeito, a setença garantiu
ção monetária» (Agravo de Instru- aos expropriados Juros de mora le-
mento n? 76.579-4-SP — 1, Turma gais contados da data da imissão na
— Rel.: Min. Soares Mufioz — J. posse. Usou da expressão Juros de
13-6-79 — DJU de 28-6-79 — pág. mora, ao invés de Juros compensató-
5.059).» rios. Mandou contá-los, todavia, nos
Dessa sorte, o valor do bem expro- mesmos termos dos juros compensa-
priado deve ser o contemporâneo à tórios, pois não se dão Juros morató-
data da avaliação. Se outro laudo rios, desde a imissão na posse (fls.
houvesse de ser feito, cumpriria 87). Na apelação, os expropriados
atender à situação do bem desapro- nada alegaram, no particular (fls.
priado, à data em que se fez a ava- 90/92), nem cuidou da matéria o
liação, significando isso que a valori- aresto recorrido. Sequer nos embar-
zação decorrente de obras públicas gos de declaração, ventilaram-na os
posteriores não haveria de ser consi- ora recorrentes.
derada. O valor assim obtido há de Afastadas, assim, as alegações de
atualizar-se. Em tal linha, a decisão ofensa á constituição e contrarieda-
desta Turma no RE nt 88.982, Rela- de á Súmula deste Tribunal, o recur-
tor o ilustre Ministro Soares Mutioz so não pode ser conhecido, em face
(RTJ 88/1077). do óbice regimental do art. 325, item
Justificava-se nova avaliação do V, letra c, por se tratar de procedi-
bem expropriado , quando não havia mento especial de Jurisdição conten-
fundamento legal à correção mone- ciosa.
tária do valor constante do laudo Ademais disso, não se ventilou a
adotado na sentença ou no acórdão, quaestlo )uris, no acórdão, à vista
longo fosse o tempo decorrido, desde dos arts. 437, 438 e 439, do CPC, que
a avaliação até o pagamento, como os recorrentes também indicaram
se vê de Julgados mais antigos desta como violados no apelo excepcional
Corte. (fls. 152). De qualquer sorte, não ca-
Destaco recente decisão desta Tur- racterizada nenhuma das ressalvas
ma, em caso de Santa Catarina, no do caput do art. 325, do RI, não cabe-
720 — 108

ria a alegação de negativa de vigên- çalves). Recda.: Furnas. Centrais


cia de lei federar para fundamentar Elétricas S/A. (Adv.: João Procópio
o recurso. de Carvalho).
Por último, o que postulam os re- Decisão: Não se conheceu do Re-
correntes, implicaria reexame dos fa- curso. Decisão unânime. Falaram pe-
tos e provas concernentes aos laudos los Rectes.. Dr. Rômulo Gonçalves.
e documentação que os acompanha, Pela Recda. Dr. João Procópio de
considerados nas decisões locais. In- Carvalho.
cidiria a Súmula 279, se obstáculo Presidência do Senhor Ministro
anterior não houvesse a impedir a Soares Mutoz. Presentes á Sessão os
admissibilidade do apelo extremo. Senhores Ministros Rafael Mayer,
Néri da Silveira e Alfredo Buzaid.
Do exposto, não conheço do recur- Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-
so extraordinário. nistro Oscar Correa. Subprocurador-
EXTRATO DA ATA Geral da República, Dr. Francisco
de Assis Toledo.
RE 96.619-GO — Rel.: Min. Néri da Brasília, 11 de junho de 1982 —
Silveira. Rectes.: José Fidélis Soares António Carlos de Azevedo Braga,
e sua mulher. (Adv.: ftõmulo Gon- Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 96.640 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrentes: Alexandre Kliot e outra — Recorrida: Prefeitura Municipal
de São Paulo.
Direito administrativo e civil. Licença de construção. Sobrevindo
lel que determina que o requerimento de licença de construção seja
apreciado consoante a legislação vigente ao tempo de sua apresenta-
ção, é defeso á administração, por decreto do Poder Executivo, alte-
rar o regime legal. Nulo é, pois, o ato administrativo, fundado neste
decreto em manifesta contrariedade á lei.
Decretada a nulidade do ato administrativo, deve a autorida-
de apreciar o pedido de licença á luz da lei vigente ao tempo em que
foi protocolizado.
Não é possível julgar o pedido de indenização antes que s ad-
ministração se pronuncie sobre a licença de construção.
4. Recurso extraordinário conhecido e provido em parte.
ACÓRDÃO mente os Exmos. Srs. Ministros Ra-
fael Mayer e Oscar Correa.
Brasília, 14 de junho de 1983 --
Vistos, relatados e discutidos estes Soares
autos, açordgmi os Ministros jia rig- Alfredo Muiloz, Presidente —
meira Turma do Supremo Tribunal Buzaid, Relator.
Federal, na conformidade da ata do
julgamento e das notas taquigráfi- RELATÓRIO
cas por maioria de votos, em conhe-
cer do recurso e dar-lhe provimento O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: O
em parte, sendo vencidos parcial- Dr. Alexandre Kliot e Maria Anto-

R.T.J. — 108 721

nieta Ribeiro de Barros moveram ferimento, seja a ré condenada a


ação contra a Prefeitura Municipal ressarcir todos os danos e pre-
de São Paulo, alegando que, sob o juízos suportados pelos autores co--
regime de Lel n? 7.805/72, submete- mo conseqüência da não-
ram à aprovação da ré o projeto de consecução do empreendimento co-
construção de um centro comercial. mercial e imobiliário projetado, tu-
A tramitação foi longa e acidentada. do a ser apurado no transcurso da
Encontrava-se ainda em curso o pro- ação» (fls. 09).
cesso administrativo, quando, em 24 2. A ré constestou o pedido. Hou-
de dezembro de 1973, foi promulgada ve perícia. Foram juntados aos au-
a Lei Municipal n? 8.001 que, restrin- tos numerosos documentos relativos
gindo o uso dos imóveis localizados à tramitação do pedido de licença e
na Avenida Europa, lhes impôs des- pareceres emitidos pelos órgãos téc-
tinação estritamente residencial (Z- nicos, bem como arestos de casos
1). análogos ou assemelhados.
Contudo, o art. 48 desta Lei deixou O MM. Juiz proferiu afinal a sen-
expressamente ressalvado que os pe- tença de fls. 610 e seguintes, decla-
didos de licença de construção, pro- rando que o Chefe do Executivo, ex-
tocolizados na vigência da Lei n? pedindo o Decreto n? 12.209, se apar-
7.805/72, deveriam ser decididos de tou de uma conduta de legalidade,
acordo com esta legislação. O pro- invadiu a competência do legislativo
cesso continuou a caminhar lenta e e estabeleceu normas que não po-
emperradamente, até que o Diário dem ser aplicadas. Ora, o ato prati-
Oficial do Município de 27/28 de se- cado com base em norma inaplicá-
tembro de 1975 publicou despacho do vel, por ser ilegal, é passível de anu-
Presidente da COGESP, com a se- lação pelo Jüdiciário. E concluiu es-
guinte redação: tabelecendo quatro fatos:
«Indefiro, com base no Art. 1? do
Decreto n? 12.209, de 9-9-75 (fls. a) o indeferimento — que já se
142). demonstrou ter sido ilegal — do pe-
E concluiu inicial, especificando os dido de aprovação da planta; b)
seguintes pedidos: sua conseqüência direta: a não
execução do projeto; e) o interesse
que seja decretada a nulidade demonstrado pelo Banco do Co-
do ato administrativo consubstan- mércio e Indústria de São Paulo
ciado no indeferimento da licença S/A na locação do imóvel; d) a im-
de construção, objeto do despacho possibilidde da locação, face á opo-
prolatado no Processo n? 56.969/73 sição da ré que insistiu em sua in-
e publicado no Diário Oficial do terpretação errônea e forçada da
Município n? 813, edição dos dias lei, num desdobramento da condu-
27/28 de setembro de 1975, autori- ta já adotada na fase administrati-
zados, conseqüentemente, os au- va» (fls. 630/631).
tores, a darem início à construção E assim julgou procedente a ação,
projetada, determinando-se, tam- proclamando a nulidade do ato im-
béin, e cumulativamente indenize pugnado, com fundamento no art. 48
a ré os prejuízos ocasionados aos
peticionários como conseqüência da kann? 8.001, comlisinado com os
da procrastinação ocorrida no an- arts. 2? e 6? da Lei de Introdução ao
damento do processo e ulterior in- Código Civil e 153, § 3?, da Constitui-
deferimento; ou, sucessivamente; ção da República, autorizando os au-
tores a executar o projeto; ao mes-
que, prevalecendo o ato admi- mo tempo e com base nos arts. 159,
nistrativo consubstanciado no inde- 572 e 1.059 do Código Civil, condenou
722 R.T.J. — 108

a ré a perdas e danos, abrangendo o O que nessa hipótese se reserva


total dos aluguéis que deixaram de ao particular, consoante se infere
receber, com juros da mora desde a das lições de Heli Lopes Melrelles
citação inicial e a diferença do custo (Direito Administrativo Brasileiro,
da construção, bem como custas e pág. 171, 3? ed., RT, São Paulo,
honorários. 1975) e Oswaldo Manha Bandeira
de Mello (Princípios Gerais de Di-
3. Houve embargos de declaração reito Administrativo, vol. 1, pág.
de ambas as partes ( fls. 635/638 e 567, Forense, Rio de Janeiro, 1969)
640/641), que foram em parte acolhi- é o direito à reparação do dano.
dos ( fls. 642v.).
Podia, portanto, a autoridade im-
Autores e ré apelaram da sentença petrada, ainda que atendidos os
para o Egrégio Tribunal de Justiça pressupostos legais, indeferir a li-
( fls. 645/649 e 651/692). A Egrégia 2? cença postulada pela interessada,
Turma assim decidiu: em nome da conveniência ditada
«... por votação unânime, não co- pelo interesse público. Mas a Ad-
nhecer do agravo de fls. 150/151 e ministração se sujeita ao dever de
repelir as preliminares; por maio- indenizar, uma vez verificados os
ria de votos, dar provimento ao pressupostos legais.
agravo de fls. 295 para reduzir os A hipótese do V. Acórdão invoca-
honorários do perito a Cr$ 50.000,00 do é a mesma dos autos, razão por
e, no mérito, por maioria de votos, que o entendimento pode ser aqui
dar provimento parcial ao recurso aplicado sem qualquer esforço.
oficial e ao apelo da Municipalida-
de, para cancelar a autorização Têm, portanto, os autores, o di-
para construir e reduzir a indeni- reito à reparação dos danos sofri-
zação a Cr$ 420.821,70 com corre- dos.
ção monetária a partir da citação;
prejudicado o apelo dos Autores» A indenização, porém, não pode
(fls. 740). ser aquela pretendida pelos auto-
res ou a concedida pela sentença.
Destaco deste v. acórdão a parte
em que foi discutida a matéria prin- A indenização deve compreender
cipal: o dano emergente e os lucros ces-
santes. O dano emergente, no caso,
«Ora, se o Poder Público pode consiste nas despesas com a elabo-
revogar seus atos, por mera conve- ração do projeto, no montante de
niência, a fortiori ratione pode dei- Cr$ 403.611,36, conforme estima o
xar de conceder a autorização, em perito, a fls. 241, mais a quantia de
nome do interesse público, tal co- Cr$ 17.221,72, relativa aos emolu-
mo se procedeu no caso Conforme mentos recolhidos aos cofres públi-
decidiu este Egrégio Tribunal, na cos, importando tudo em Cri
Apelação Cível n? 258.781, de São 420.882,70.
Paulo, «se a Administração pode, a
todo tempo, fazer cessar as obras Lucros cessantes, no caso, ine-
particulares licenciadas, que, por xistem. Estes consistem naquilo
motivos supervenientes, possam em que o prejudicado razoavel-
prejudicar o interesse público, re- mente deixou de ganhar. Desse
vogando o alvará concedido, não se modo, não se indenizam lucros hi-
vê motivo para impedi-la de não potéticos, mas apenas aquilo que
conceder licença, desde que esta se poderia lucrar, segundo o quod
não consulte o interesse público.» plerumque accidit (fls. 744/745).

R.T.J. — 108 723

4. Votou vencido o eminente De- Ressalte-se que o ato incrimina-


sembargador João dei Nero, que as- do podia ser anulado, uma vez que
sim se pronunciou: «a legalidade é a pedra de toque de
todo ato administrativo».
«No mérito data venta, meu voto
negava provimento ao recurso dos Por principio, as decisões admi-
Autores e ao da Ré e confirmam, nistrativas devem ser motivadas
pelos brilhantes fundamentos, a r. formalmente, vale dizer que a par-
sentença recorrida, da lavra do te dispositiva deve vir precedida
ilustre Juiz, Dr. Sinésio de Souza, de uma explicação ou exposição
que está de acordo com os elemen- dos fundamentos de tato e de
tos constantes dos autos e o direito direito, o ato administrativo não
aplicável à espécie. deve apenas invocar preceito legal.
Em casos em que não se exija fun-
Ressalte-se, de início, que no ca- damentação, deve o ato ser expli-
so não é possível concluir-se pela cável «legal ou Juridicamente» (cf.
legalidade do ato impugnado que, Hely Lopes Meirelles — Direito
«estribado em simples decreto, in- Administrativo Brasileiro — 1976
deferiu o pedido, só porque o de- — III, 219; Laubadère — Manuel de
creto dispõe de modo diferente, co- Droit Administratlf Special — Pa-
mo se com tal espécie de norma ris — 1977 — págs. 40/41. Princípio
jurídica fosse possível revogar dis- seguido pela Câmara (julgamento
posição de lei (norma hierarquica- em 18-9-79 — Apelação Civel n?
mente superior), e ainda mais, tor- 285.644-SP — acórdão da lavra do
nar letra morta dispositivo consti- relator deste).
tucional; e, o legislador municipal,
em todas as oportunidades em que Igualmente improcede a argu-
dispõe sobre a matéria, ressalvou mentação da Apelante quanto ao
sempre as situações anteriores já descabimento da condenação da
consolidadas e o direito adquirido». Municipalidade ao ressarcimento
Aliás, no caso sub judlce o artigo de pretensos aluguéis. E que, no
48 da lei em que se baseia a Ré sa- caso,o fato de os Autores não have-
lientou: «os expedientes adminis- rem auferido aluguéis — ficou pro-
trativos ainda sem despacho deci- vado.
sório, protocolados anteriormente Não se pode, pois, considerar es-
à data da publicação desta lei, que se prejuízo como «meramente hi-
não se enquadram nas disposições potético».
ora estatuídas, serão decididos de
acordo com legislação anterior». E os aluguéis são devidos até o
efetivo pagamento, pois, caso con-
Aplica-se, pois, ao caso, a legis- trário, a Ré se beneficiaria com
lação anterior, pois a lei nova — seu ato ilegal.
que ressalvou as hipóteses versa-
das — não consignou, expressa- Quanto à diferença de custo, não
mente, que se aplicava às é possível atribuir à r. sentença,
situações em curso (Roubler — concessão de ressarcimento por
Les Conflits des Lois dans les prejuízos hipotéticos. Aliás, ao re-
Temps — Paris — 1933 — I, 492; ceber os embargos de declaração,
Maximillano — Direito Intertem- o r. despacho consignou que «na
poral — 1946 — n? 25). Aliás, foi o fase de execução à Ré caberá,
que decidiu o Colendo Supremo eventualmente, alegar, se for o ca-
Tribunal Federal (RE n? 88.474-SP so, a ocorrência de qualquer delon-
— RTJ 87/1.039). ga» (fls. 642v). Ficou consignado,
724 R.T.J. 108

outrossim, que «a diferença de cus- do o seu processamento na forma do


to será apurada através de prova art. 498 do Código de Processo Civil,
pericial». até o julgamento dos embargos in-
fringentes ( fls. 784). O recurso ex-
A pretensão da Apelante (fls. 686 traordinário funda-se em negativa
— In fine) quanto a se «fixar termo de vigência do art. 153, 22, da Cons-
final para execução das obras», tituição e 1.059 do Código Civil.
não procede, uma vez que não se
pode prever esse fato futuro. Aliás, Rejeitados os embargos infringen-
corno foi salientado, no r. despacho tes, interpuseram os autores segun-
que recebeu:os embargos de decla- do recurso extraordinário, com fun-
ração, «à Ré caberá, eventualmen- damento no art. 119, III, a e d, da
te, e na execução, alegar, se for o Constituição, alegando negativa de
caso, a ocorrência de qualquer de- vigência dos arts. 153, 2?, da Cons-
longa». tituição, 1.059 do Código Civil, 2? da
Lel de Introdução ao Código Civil e
4 correção monetária pedida na 131 e 436 do Código de Processo Ci-
inicial (fls. 9) é devida no caso, vil, bem como dissídio jurispruden-
pois, conforme jurisprudência do- cial com os acórdãos desta Corte
minante, especialniente do Colendo proferidos nos Recursos Extraordi-
Supremo Tribunal Federal e segui- nários n! 88.474, Rel.: Min. Djaci
da por esta Câmara ao valor dos Falcão (RTJ 87/1039) e n? 85.002,
danos a ser pago cabe ser atualiza- Rel. Min. Moreira Alves (RTJ
do, pois, tratando-se de ato ilícito, 79/1016).
O problema é de reparação total do
prejuízo, e assim implicitamente Por decisão de fls. 863/874, proferi-
se inclui a correção monetária» da pelo 3? Vice-Presidente do E. Tri-
(Acórdão do Colendo Supremo bunal de Justiça, foram indeferidos
(In DJU, 10-8-79 — pág. 5649 — cit. os dois recursos extraordinários. A
fls. 723; RE n? 85.782 — DJU, 18-2- argüição de relevância não foi aco-
77 — pág. 890 — cit. fls. 724). No lhida por decisão do E. Conselho em
caso, se trata de pedido expresso, sessão de 26-8-81.
pelo que não pode ser denegada a Da decisão que negou seguimento
correção monetária. aos dois recursos extraordinários foi
Por estes motivos, meu voto ne- interposto agravo de instrumento,
gava provimento ao recurso da provido pelo eminente Ministro Cu-
Ré» (fls. 750/752). nha Peixoto, que mandou subir os
autos para melhor exame (fls. 260v).
Contra este v. acórdão ofereceu a A douta Procuradoria-Geral da
Prefeitura Municipal embargos de República, em parecer da lavra do
declaração (fls. 755/756) e os autores eminente Dr. Mauro Leite Soares,
opuseram embargos infringentes assim se pronunciou:
(fls. 758 e seguintes). Aqueles foram
recebidos por unanimidade (fls. 794); «1. Os recorrentes interpuse-
estes foram rejeitados por maioria ram recursos extraordinários, o de
de votos (fls. 826/828). fls. 784, contra o acórdão de fls. 740
e o de fls. 831, contra o acórdão de
5. Ocorre que os autores, ao mes- fls. 826.
mo passo que opuseram embargos
infringentes, interpuseram do v. 2. Trata-se de ação ordinária,
acórdão recurso extraordinário para proposta por proprietários de imó-
o Supremo Tribunal Federal, com vel que teve sua utilização modifi-
fundamento no art. 119, III, a da cada, pela legislação municipal,
Constituição, pedindo fosse sobresta- sendo que, na vigência da Lei n?
— 108 725

7.805/75, que permitia a edificação cões ora estatuídas, serão decidi-


de prédios para a exploração co- dos de acordo com a legislação
mercial, os recorrentes elabora- anterior».
ram projeto de construção dessa Posteriormente, a Lei n?
natureza, protocolizando-o na Pre- 8.001, de 1973, que embora tenha
feitura. restringido o uso dos imóveis onde
Todavia, com o advento da se localiza o dos recorrentes, repe-
Lei n? 8.001, de 1973, foi alterada a tiu literalmente o transcrito artigo
utilização do solo na região, 30, em seu artigo 48, permitindo
transformando-o, novamente, para que fossem decididos os pedidos de
destinação estritamente residen- licença protocolizados na vigência
cial. da citada Lei n? 7.805/72, em con-
Posteriormente, sobreveio o formidade com essa mesma lei.
Decreto n? 12.209, de 1975, mandan- Com efeito, o RE n? 93.108,
do aplicar a legislação atual, na Relator Ministro Moreira Alves,
qual fundamentou-se a denegação encontra-se assim ementado,
da licença. versando-se matéria idêntica:
No primeiro recurso, inter- «Licença de construção. Inde-
posto com fundamento na alínea a ferimento com base em critério
do permissivo constitucional, da legislação municipal anterior
alega-se que a decisão negou vi- que determinou, quanto a pedi-
gência ao artigo 153, § 2?, da Cons- dos feitos anteriormente a ela,
tituição, além de vulnerar o dispos- que fossem examinados à luz da
to no artigo 1.059 do Código Civil. legislação vigente quando de sua
Entretanto, improcede a pre- apresentação.
tensão dos recorrentes, pois ultra- Se a legislação local posterior
passa os limites restritos do pre- determinou, como reconhece o
sente apelo, tanto mais que, para acórdão recorrido, que os reque-
apreciá-la, haveria necessidade de rimentos de licença de constru-
reexame de prova, para o que não ção fossem apreciados à luz da
tem ela cabimento. (Súmula 279.) legislação vigente ao tempo de
Quanto ao segundo recurso, sua apresentação, não pode a Ad-
fundamenta-se na alegação de con- ministração Pública sobrepor o
trariedade ao artigo 153, §§ 3? e 22, seu critério de avaliação a esse
da Constituição Federal, além de respeito ao da própria lei.
ter divergido da interpretação da- Essa circunstância afasta o ar-
da pelo Egrégio Supremo Tribunal gumento a fortiori com base na
à matéria versada nos autos, no possibilidade de revogação de li-
RE n? 88:474. cença de construção, cuja obra
Os projetos protocolizados não foi iniciada, sob o fundamen-
anteriormente A lei nova, to de conveniência ditada pelo in-
encontravam-se amparados pelo teresse público, pois, neste caso,
artigo 30 da Lei n? 7.805/72 que as- essa conveniência não foi apre-
sim dispunha: ciada nem afastada pela lei vi-
gente.
«Os expedientes administrati- Recurso extraordinário conhe-
vos ainda sem despacho decisó- cido e provido» (RTJ 100/351).
rio, protocolados anteriormente A
data da publicação desta lei, que 11. Igualmente, ao apreciar o
não se enquadrem nas disposi- RE nt 88.474, Relator Ministro Dja-
726 R.T.J. — 108

ci Falcão, a Egrégia Segunda Tur- Civil, bem como dissídio jurispru-


ma, em matéria idêntica, assim dencial, invocando os arestos publi-
decidiu: cados na RTJ 87/1.039 e 79/1.016; e
«Licença de construção. Pedido pedem o provimento para serem in-
que deve ser apreciado de acordo cluídas as seguintes verbas:
com a legislação anterior, con- os locativos que o imóvel rende-
forme ressalva expressa na lei ria;
nova. Mandado de segurança
concedido. Não foram prequestio- diferença do custo da constru-
nados os preceitos dos arts. 153, § ção;
3?, da Constituição Federal e art.
6?, § 2?, da Lel de Introdução ao custas e honorários sobre o to-
Código Civil. Sem pertinência a tal de indenização;
invocação do art. 160, III, da lhes seja reconhecido o direito
Constituição Federal. Dissídio ju- de ter apreciado o pedido de licença
risprudencial não caracterizado. de construção de acordo com a Lei
Recurso extraordinário não co- n? 7.805/72;
nhecido» (RTJ 87/1.039).
e) e seja julgada procedente a
Em conclusão, parece-nos ação, nos termos do voto vencido
assegurado aos recorrentes o direi- (fls. 849). Esclarecem ainda os re-
to adquirido ao exame do projeto correntes que, com a superveniência
de construção de conformidade da Lei n? 9.049, de 24 de abril de
com as normas vigentes ao tempo 1980, foi implantada o chamado cor-
de sua protocolização. redor de uso especial, o que importa
Nestes termos, somos pelo reconhecimento pela Municipalidade
conhecimento e provimento, em do pedido dos recorrentes (fls. 850).
parte, do segundo recurso extraor- O segundo recurso extraordinário
dinário, não conhecido sendo, ou tem conteúdo maior do que o primei-
declarado prejudicado o primeiro ro e, na verdade, o abrange.
recurso» (fls. 987/990).
E o relatório. 2. Tenho por malferidos o art.
153, § 3? da Constituição e art. 2? da
Lei de Introdução ao Código Civil.
VOTO Efetivamente, trata-se de pedido de
licença de construção, indeferido pe-
O Sr. Ministro Alfredo Buzald (Re- la recorrida com base no art. 1? do
lator): 1. Há dois recursos extraordi- Decreto n? 12.209, de 9-9-75. Ao tem-
nários. No primeiro, interposto do v. po em que foi protocolizado o pedido,
acórdão que julgou a apelação, ale- vigorava a Lei n? 7.805/72, segundo a
gam os recorrentes negativa de vi- qual podia ser edificado prédio com
gência do art. 153, § 2? da Constitui- destinação comercial na Avenida
ção e art. 1.059 do Código Civil e pe- Europa Em 24 de dezembro de 1973
dem o seu provimento para o fim de, é editada a Lei n? 8.001 que, impondo
na reparação dos danos ocasionados, aos imóveis situados na Avenida Eu-
serem incluídos os locativos que o ropa destinação apenas residencial,
imóvel renderia (fls. -789). No segun- ressalvou, porém, no art. 48:
do, interposto do v. acórdão, proferi-
do nos embargos infringentes, ale- «Artigo 48. Os expedientes ad-
gam os recorrentes negativa de vi- ministrativos, ainda sem despacho
gência do art. 153, §§ 3? e 22 da Cons- decisório, protocolados anterior-
tituição, art. 1.059 do Código Civil e mente à data da publicação desta
arts. 131 e 436 do Código de Processo Lei, que não se enquadrem nas dis-

R.T.J. — 108 727

posições ora estatuídas, serão deci- Lei, que não se enquadrem nas dis-
didos de acordo com a Legislação posições ora estatuídas, serão deci-
anterior». (fls. 05). didos de acordo com a Legislação
Aplicando ao caso o art. 1? do De- anterior». (fls. 05).
creto n? 12.209/75, a autoridade ad-
ministrativa negou vigência ao art. Cabia, pois, à Administração, em
48 da Lei n? 8.001, violando o art. 153, observância a este preceito legal, de-
§ 3? da Constituição e art. 2? da Lei cidir o pedido de licença de acordo
de Introdução aó Código Civil. com a legislação anterior. Mas, não
tendo feito, violou a lei e praticou
Esta Corte já examinou precisa- ato ilícito.
mente esta questão no Recurso Ex-
traordinário n? 93.108, de 7-11-80, de A ilicitude deste ato consiste em
que foi Relator o eminente Ministro desobedecer à lei, que rege a apre-
Moreira Alves, declarando que: ciação do pedido de licença. Os re-
«Se a legislação local posterior correntes tinham o direito de exigir
determinou, como reconhece o da Administração que julgasse o pe-
acórdão recorrido, que os requeri- dido, segundo a legislação existente
mentos de licença de construção ao tempo em que foi protocolizado.
fossem apreciados à luz da legisla-
ção vigente ao tempo de sua apre- 4. Da ilicitude do ato da Adminis-
sentação, não pode a Administra- tração, que violou a lei, formulam os
ção Pública sobrepor o seu critério recorrentes duas pretensões a) a de
de avaliação a esse respeito ao da declarar inválido o ato, para que ou-
própria lei» (RTJ 100/351). tro se pratique segundo a lei; b) a
condenação da ré em reparar o da-
E concedeu a segurança para que no.
o pedido de licença seja apreciado à
luz da legislação vigente ao tempo Quanto à primeira, a orientação
em que foi apresentado (RTJ desta Corte já se firmou no sentido
100/358). No mesmo sentido o aresto de declarar a ineficácia do ato admi-
da Segunda Turma (rec. ext. n? nistrativo, a fim de que a autoridade
88.474, Rel.: Min. Djaci Falcão, em aprecie o pedido de licença à luz da
RTJ 87/1.039). lel vigente ao tempo em que foi pro-
3. O ato administrativo (fls. 142), tocolizado. Esta decisão está confor-
pelo qual o Presidente da COGEP in- me ao rigor dos princípios. Na ver-
deferiu, com base no art. 1? do De- dade, os recorrentes tinham a facul-
creto n? 12.209/75, o pedido de licen- dade de requerer a licença de cons-
ça de construção, é, a meu ver, nulo. trução. A Administração cabia o de-
Ao tempo em que foi requerida a li- ver de julgá-la, concedendo ou ne-
cença de construção, nos termos da gando, se verificasse estar ou não de
Lei n? 7.805/72, era lícito edificar, acordo com a lei. Tal ato não é dis-
naquele local, centro comercial. So- cricionário, mas vinculado, pois a lei
brevindo, em 1973, a Lei n? 8.001, que determina as ralas em que pode
impôs aos imóveis situados na Ave- realizar-se. A Administração pode
nida Europa destinação apenas resi- atuar com liberdade, mas dentro dos
dencial, teve ela o cuidado de ressal- limites fixados pela lei. Pode o Judi-
var no ali. 48: ciário, pois, entrar no exame da le-
galidade do ato (Hely Lopes Melrel-
«Artigo 48. Os expedientes ad- les, Direito administrativo, 9? ed.,
ministrativos, ainda sem despacho pág. 121; Cretella Junior, Direito
decisório, protocolados anterior- administrativo, Forense, 1983, vol. I,
mente à data da publicação desta pág. 377).
728 R.T.J. — 108

Passível de crítica é, pois, o v. VOTO (PRELIMINAR)


acórdão, proferido nos embargos in-
fringentes que: O Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr.
«... entendeu legítimo o indeferi- Presidente, eu me permitiria anteci-
mento pela Municipalidade, com par meu voto, porque fui Relator do
base na Lei n? 8.001, de projeto de Recurso extraordinário anterior, a
construção protocolado pelo em- que se referiu a ilustre advogada,
bargante na vigência da lei ante- em que há uma analogia muito es-
rior e em conformidade com as treita com o caso dos autos. A Tur-
exigências então vigorantes» ( fls. ma me acompanhou' e tive oportuni-
826). dade de verificar a inviabilidade do
recurso, nos termos da Súmula 280,
A segunda pretensão dos recor- porque o acórdão se limitara a inter-
rentes é a da reparação do dano, pretar as normas de direito local —
com fundamento no art. 1.059 do Có- tanto a lei quanto o regulamento —
digo Civil, abrangendo não só o que acentuando, por sinal, que não havia
perdeu como ainda o que deixou de incompatibilidade entre a lei e o re-
ganhar. Este é, sem dúvida, o ponto gulamento, porque foram eles inter-
mais delicado do recurso extraordi- pretados em conjunção com outras
nário. Mas, a meu ver, não é normas urbanísticas do Município de
possível julgar agora o pedido de in- São Paulo. E, posto nestes termos,
denização, porque, conhecendo e como a instância local é soberana na
dando provimento ao segundo recur- interpretação do direito local, e co-
so extraordinário, determino que a mo o acórdão recorrido parece-me,
Administração aprecie o pedido de também, não colocou a questão em
licença segundo a lei do tempo em termos de direito intertemporal,
que foi protocolizado. Se a Egrégia mas, simplesmente, do exame do
Turma determinar que a Prefeitura contraste, ou não, entre essas duas
decida o pedido consoante a lei do normas — tudo isso fez com que me
tempo em que foi protocolizado, for- convencesse que, de fato, a matéria
ça é aguardar este pronunciamento residia na interpretação do direito
para se saber se o projeto preenche local, em que o Tribunal de Justiça é
todos os requisitos legais de sua soberano em apreciar.
aprovação. Sendo ele deferido pela
autoridade competente, dai é que se Por esses motivos, coerente com o
pode cogitar do pedido de indeniza- voto que então proferi, não conheço
ção. O deferimento do pedido de li- do recurso.
cença é um prius. O pedido de inde-
nização é um posterlus. Aquele é
condicionante; este condicionado. EXTRATO DA ATA
Assim entendido e com a res-
salva feita, meu voto é pelo conheci- RE 96.640-SP — Rel.: Min. Alfredo
mento e provimento em parte do se- Buzaid. Recte.: Alexandre Kliot e ou-
gundo recurso extraordinário, com tra. (Advs.: José Mauro Marques,
base no art. 119, III, a e d da Consti- Marisa Poletti e outros). Recda.:
tuição da República, determinando- Prefeitura Municipal de São Paulo.
se à Prefeitura que decida o pedido (Advs.: Ingrid Ragdaj e outros).
de licença de acordo com a lei do
tempo em que foi protocolizado. Con- Decisão: Depois dos votos do
sidero prejudicado o primeiro recur- Ministro-Relator que conhecia em
so extraordinário. parte do recurso e nessa parte lhe
dava provimento, e do Ministro Ra-
É o meu voto. fael Mayer que não conhecia do re-
R.T.J. — 108

curso, o julgamento foi adiado a pe- de construção. A Administração


dido do Ministro Oscar Corrêa. Fa- cabia o dever de julgá-la, conce-
lou pelo Recte.: Dra. Marisa dendo ou negando, se verificasse
Presidência do Senhor Ministro estar ou não de acordo com a lei.
Soares Mufioz. Presentes à Sessão os Tal ato não é discricionário, mas
Senhores Ministros Rafael Mayer, vinculado, pois a lei determina as
Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e raias em que pode realizar-se. A
Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral Administração pode atuar com li-
da República, Dr. Francisco de As- berdade, mas dentro dos limites fi-
sis Toledo. xados pela lei. Pode o Judiciário,
pois, entrar no exame da legalida-
Brasília, 1? de março de 1983 — de do ato (Hely Lopes Melrelles,
António Carlos de Azevedo Braga, Direito Administrativo, 9t ed., pág.
Secretário. 121; Cretella Junior, Direito
administrativo, Forense, 1983, vol.
VOTO (VISTA) I, 377).
O Sr. Ministro Oscar Conta: 1. A Passível de critica é, pois, o v.
matéria está, como sempre, lucida- acórdão, proferido nos embargos
mente exposta no voto do Eminente infringentes que:
Relator, e o pedido de vista originou- entendeu legítimo o Indefe-
se da dúvida, que me surgiu, da ex- rimento pela Municipalidade,
tensão que se deveria dar ao provi- com base na Lei n? 8.001, de pro-
mento do recurso. jeto de construção protocolado
Isto porque, data venta do voto, já pelo embargante na vigência da
antecipado, do Eminente Ministro lei anterior e em conformidade
Rafael Mayer, acolho, com o Insigne com as exigências então vigoran-
Relator, a atende do ato da Admi- tes» (fls. 826).
nistração, que violou a lei, que regia,
por determinação expressa, a espé- A segunda pretensão dos recor-
cie. rentes é a da reparação do dano,
com fundamento no art. 1.059 do
2. O Eminente Relator, exami- Código Civil, abrangendo não só o
nando o pedido, assim se pronunciou que perdeu como ainda o que dei-
(fls. 22 do voto): xou de ganhar. Este é, sem dúvida,
*Da llicitude do ato da Adminis- o ponto mais delicado do recurso
tração, que violou a lei, formulam extraordinário. Mas, a meu ver,
os recorrentes duas pretensões: a) não é possível julgar agora o pedi-
a de declarar Inválido o ato, para do de indenização, porque, conhe-
que outro se pratique segundo a cendo e dando provimento ao se-
lei; b) a condenação da ré em re- gundo recurso extraordinário, de-
parar o dano. termino que a Administração apre-
cie o pedido de licença segundo a
Quanto à primeira, a orientação lei de-frns em que foi protocoll-
desta Corte já se firmou no sentido zaM. Se a gla Turma deter-
de declarar a ineficácia do ato ad- minar que a Prefeitura decida o
ministrativo, a fim de que a autori- pedido consoante a lei do tempo
dade aprecie o pedido de licença à em que foi protocolizado, força é
luz da lei vigente ao tempo em que aguardar este pronunciamento pa-
foi protocolizado. Esta decisão está ra se saber se o projeto preenche
conforme ao rigor dos princípios. todos os requisitos legais de sua
Na verdade, os recorrentes tinham aprovação. Sendo ele deferido pela
a faculdade de requerer a licença autoridade competente, daí é que
730 — 108

se pode cogitar do pedido de inde- 5. Nos autos, alegam os Recor-


nização. O deferimento do pedido rentes que não há motivos que auto-
de licença é um prius. O pedido de rizem a Recorrida a recusa da licen-
indenização é um posteriuS. Aquele ça, que deve ser apreciada nos ter-
é condicionante; este condicionado. mos da legislação vigente à época,
como, aliás, deferiu o Eminente Re-
Assim entendido e com a ressal- lator.
va felt meu voto é pelo conheci-
mento` provimento em parte do Vou, contudo, mais longe. Não é do
segund recurso extraordinário, Judiciário a competência para
com ba no art. 119, III, a e d da deferi-la, ou recusá-la. E de determi-
Constit 'l eão da República, nar que de acordo com a lei do tem-
determ ando-se à Prefeitura que po se decida.
decida 9 pedido de licença de acor- E recusando-a ou acolhendo, arque
do coma lei do tempo em que foi a Recorrida com os ônus dos pre-
protocolizado. Considero prejudica- juizos que já causou aos Recorrentes
do o primeiro recurso extraordiná- retardando-lhe, ilicitamente, a deci-
rio». são a que têm direito. Entre eles, co-
mo manda a lei civil, não apenas o
Quanto à primeira conclusão — que perderam, efetivamente, como o
de que «a autoridade aprecie o pedi- que, razoavelmente, deixaram de lu-
do á luz da lei vigente ao tempo em crar. E, entre esses itens, obviamen-
que foi protocolizado», desde logo a te, a diferença de custo de constru-
acolho. ção, os rendimentos da utilização, e
Mas, vou mais longe. Acolho, tam- o mais que a se apurar.
bém, a segunda pretensão — de re- Pelo que, acompanhando o Emi-
paração do dano, abrangendo não só nente Relator quanto à determina-
o que perdeu, como o que, razoavel- ção à Recorrida de que decida o pe-
mente, deixou de ganhar, com base dido de licença, de acordo com a lei
no artigo-1.059 do Código Civil. do tempo em que foi protocolizado,
acrescento-lhe o provimento para o
A reparação deve ser completa. E fim de que se lhe ressarçam os pre-
é óbvio que, a esta altura, o lapso de juízos que efetivamente teve e o que
tempo decorrido, já causou, por si razoavelmente deixou de lucrar.
só, aos recorrentes danos considerá- E o voto.
veis, pelos quais deve responder
quem, ilegalmente, os causou. Nem VOTO
se trata, na hipótese, de dano hipoté-
tico, mas real, decorrente, desde lo-
go, da simples e dramática desvalo- O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr.
rização monetária (além de outros Presidente. Havendo disposição ex-
que os putos comprovem, ou outros pressa da lei nova, ressalvando a
in
dados d onstrem). apreciação dos pedidos de licença
para construir, na conformidade da
outro lado, sujeitar essa legislação anterior, compreendo que,
indenização a exame e concessão do efetivamente, a lei a invocar-se, na
pedido de licença — sendo este o decisão do expediente administrativo
prius e aquela o posterlus — é suge- de licença, deve ser a anterior. O
rir convincentemente á Recorrida Decreto, que veio regulamentar a lei
que o recuse, pois, de outra forma, nova, não poderia, evidentemente,
se estará submetendo aos ônus de- dispor de forma diversa. A indicada
correntes da concessão — isto é, à ressalva da lei nova, que favorece os
indenização que disso advirá. recorrentes, no sentido de ver o pro-

R.T.J. — 108 731

jeto apreciado segundo a legislação os pedidos de aprovação de projetos


anterior, não poderia ser afastada no protocolados no regime da lei revo-
regulamento. ltada.
Com relação á indenização, com a
devida vênia do eminente Ministro O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Ape-
Oscar Corrêa, meu entendimento nas para esclarecer, lembro a V.
harmoniza-se com o do eminente Exa. que a simples falta de aprecia-
Ministro-Relator. O Poder Judiciário ção, nos termos da lei vigente, já
não pode substituir a Administração, causou prejuízos: e tanto isso é ver-
desde logo, para considerar que, dade que o próprio acórdão recorri-
diante da lei anterior, o projeto me- do determinou o pagamento de uma
rece deferimento e, assim, garantir indenização de Cr$ 420.832,80. Desde
aos recorrentes direito a se verem logo, essa parte foi reconhecida.
Indenizados por prejuízos oriundos
da não-apreciação do projeto. Se
porventura a Administração, apli- O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr.
cando a lei antiga, concluir que, em Presidente. Acompanho o voto do
verdade, os recorrentes não preen- eminente Relator, para conhecer do
chem os requisitos, nela previstos, recurso e dar-lhe provimento, ape-
para obter a licença postulada, certo nas em parte, em ordem a que o pro-
é que nenhuma reparação de dano se jeto seja apreciado pela Administra-
há de reconhecer, em seu beneficio. ção, de acordo com a legislação an-
terior, nos termos previstos em nor-
Sr. Presidente. Não me parece, as- ma expressa da lei nova.
sim, possível assegurar, de imedia-
to, a indenização postulada. Esta so- Data venta, não é possível acolher
mente seria examinável, como con- o argumento trazido pelo ilustre Mi-
seqüência de indeferimento do pedi- nistro Oscar Corrêa, segundo o qual,
do administrativo, em contrariedade em face dessa decisão, a Adminis-
á lei, por parte da Administração. O tração acabaria por indeferir o pedi-
que se garante aos recorrentes é a do dos recorrentes. Não cabe, a meu
apreciação administrativa do proje- ver, considerar a matéria nessa
to, segundo a legislação da época do perspectiva. O ato da Administra-
pedido. ção, no caso, é um ato vinculado. A
Não posso, de outra parte, conside- Administração há de aplicar a lei
rar, aqui, tenha a Administração anterior e sua decisão deve se afei-
agido, maliciosamente. Ao indeferir çoar a essa lei. Se, efetivamente,
o pedido, com base nas normas em praticar um ato de arbítrio, assegu-
vigor, fê-lo, dando aplicação a um radas estarão as vias judiciais aos
Decreto, que, ao regulamentar a no- recorrentes, a fim de impugnar a de-
va lei, previu a possibilidade, no In- cisão administrativa contrária à lei,
teresse da Administração, de serem com as conseqüências que dai pode-
indeferidos os projetos anteriores, rão advir. O que não se faz viável, a
que não estivessem de acordo com meu pensar, é pressupor, aqui, ve-
as disposições introduzidas. E Isso o nha a Administração a agir, em con-
que, neste julgamento, se ataca. trário ao direito. Incumbe-lhe deci-
Afirma-se a prevalência da lei sobre dir o pedido de licença, com base na
o decreto e, assim, a aplicação de lei anterior. Diante dos elementos
dispositivo da lei nova, que estabele- constantes do processo administrati-
ce norma de direito Intertemporal, vo, cumpre-lhe examinar essa súpli-
em assegurando a aplicação da le- ca, posta em face da legislação vi-
gislação anterior, para se decidirem gente ao tempo do requerimento.

732 R.T.J. — 108

VOTO trução da obra, prejuízos outros aos


autores, isso será matéria a ser dis-
O Sr. Ministro Soares Muiloz (Pre- cutida em outra oportunidade.
sidente ): Data venta do voto do emi- Assim, conheço do recurso e lhe
nente Ministro Rafael Mayer, acom- dou provimento.
panho os eminentes Ministros Rela-
tor, Oscar Corrêa e Néri da Silveira, EXTRATO DA ATA
quanto ao direito dos recorrentes de
verem apreciado o seu pedido de RE 96.640-SP — Rel.: Min. Alfredo
construção segundo as disposições Buzaid. Rectes.: Alexandre Kliot e
da lei então em vigor, eis que a lei outra. (Advs.: José Mauro Marques,
posterior ressalvou o direito daque- Marisa Poletti e outros). Recda.:
les cujas plantas já haviam sido pro- Prefeitura Municipal de São Paulo.
tocolizadas quando a nova lei entrou (Advs.: Ingrid Ragdaj e outros).
em vigor, e o decreto em que se arri-
mou a Prefeitura não podia Decisão: Conheceu-se do recurso
sobrepor-se aos termos dessa lei. extraordinário e se lhe deu provi-
mento em parte, vencidos parcial-
Quanto á indenização por perdas e mente os Ministros Rafael Mayer e
danos, estou de acordo com os votos Oscar Corrêa.
dos eminentes Ministros Alfredo Bu-
zaid e Néri da Silveira, data venta Presidência do Senhor Ministro
do eminente Ministro Oscar Corrêa, Soares Mufioz. Presentes à Sessão
porque entendo que essas perdas e os Senhores Ministros Rafael Ma-
danos buscados na ação são aqueles yer, Néri da Silveira, Alfredo Buzaid
que decorrem do ilegal indeferimen- e Oscar Corrêa. Subprocurador-
to das plantas, de sorte que, enquan- Geral da República, Dr. Francisco
to não julgada procedente a ação in- de Assis Toledo.
denizatória, impossível será Brasília, 14 de junho de 1983 —
concedê-la. Se a demora ocasionou, António Carlos de Azevedo Braga,
por si própria, independente da cons- Secretário.
EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 96.696 (AgRg) — RJ
(Tribunal Pleno)
(RE na RTJ 104/826)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Agravantes: Daniel de Souza e sua mulher — Agravados: Hindenburg
Mário Daruj e outro — Luiz Antonio Bocaleti de Almeida e sua mulher.
. s1 Usucapião. Ineficácia da sentença proferida em ação de usuca-
São, para qual não foi citado aquele em cujo nome ‘stá transcrito o
Imóvel. Legitimidade da ação reivindicatória. Deimecessidade de
ação rescisória. Embargos de divergencia,,inadmissivels, ietn. face da
ittrispnidencia da Corte no sentido da decisão embargada ‘art. 332 do
Iegiminto
ll Interno).
AgrÀVO regimental improvido.
ACORDA° Plenária, á unanimidade de votos e
• na conformidade da ata do julga-
Vistos, relatados e discutidos estes mento e das notas taquigráficas, em
autos, acordam os Ministros do Su- negar provimento ao agravo regi-
premo Tribunal Federal, em Sessão mental.

R.T.J. — 108 733

Brasília, 26 de outubro de 1983 — Amaral Santos, In RTJ 50/703), co-


Moreira Alves, Presidente — Djacl mo também a 2? Turma, no RE n?
Falcão, Relator. 78.538, relatado pelo eminente Min.
Thompson Flores em 27-8-74, In
RELATORIO RTJ 72/508. Mas recentemente a 1?
Turma ao julgar o RE n? 99.331,
O Sr. Ministro Djaci Falcão: O Rel.: Min. Soares Mutioz, em 1-3-
despacho objeto do presente agravo 83, seguiu a mesma orientação.
tem o seguinte conteúdo: Além disso, na mesma diretriz
«Cuida-se de embargos de diver- foi a decisão proferida no RE n?
gência opostos ao acórdão de fls. 97.589, relatado pelo eminente Min.
637/666, que traz a seguinte emen- Moreira Alves, perante o Pleno.
ta: Ante o exposto e de acordo com o
«I — Processo Civil. Usuca- art. 332 do Regimento Interno, dei-
pião. E ineficaz a sentença, pro- xo de admitir os presentes embar-
ferida em ação de usucapião, na gos.» (fls. 681).
qual não foi citado aquele em cu- Expõem e pedem os embargantes,
jo nome está transcrito o imóvel, por intermédio do seu patrono:
se a ação correu à revelia.
II — Ação de reivindicação. «Apresentado, como motivo da
Pode intentá-la aquele que, de- inadmissão dos embargos, o art.
vendo ser citado para a ação de 332, do Regimento da Corte, que
usucapião, não o foi. afasta o cabimento deles quando a
jurisprudência do Plenário ou de
III — Desnecessidade da ação ambas as Turmas estiver firmada
rescisória. no mesmo sentido da decisão em-
IV — Recurso extraordinário bargada.
conhecido e provido.» (fls. 665). Sustentou Vossa Excelência, em
Para configurar a divergência os síntese, no resp. despacho agrava-
embargos invocam o RE n? 62.128, do, que:
relatado pelo eminente Ministro a orientação traçado em 15-5-
Oswaldo Trigueiro, e que está as- 67, no acórdão invocado, nos Em-
sim ementado: bargos, como divergentes, se en-
«Ação rescisória e querela de contra superada pela jurisprudên-
nulidade. No vigente direito pro- cia tanto das duas Turmas do Co-
cessual brasileiro, a ação resci- lendo Supremo Tribunal Federal
sória é o único meio admissivel como de seu Plenário.
para invalidar sentença com comprovam-no os fatos de a
trânsito em julgado. Recurso ex- Egrégia 1? Turma, em 21-8-69 (RE
traordinário conhecido e provi- n? 63.677), haver decidido no mes-
do.» (fls. 669). mo sentido do v. acórdão embarga-
Essa decisão foi objeto de em- do, o que ocorreu também no RE
bargos de divergência, que, no en- n? 99.331 e no julgamento plenário
tanto, não foram conhecidos (ver do RE n? 97.589. 1-

RTJ4‘452•Stc. Litt - rlsÃoafime respeita à çiesisão‘ulia


Véiffido - Mie o aresto trazido co- Egrégia 1? Turma de 21-8-69, toma-
mo divergente RE n? 62.128, foi da no RE n? 63.677, ela, por si mes-
proferido em 15-5-67, porém a 1? ma, na verdade não tornou supera-
Turma em 21-8-69 deddiu no mes- da, data venta, a divergência ofe-
mo sentido da decisão ora embar- recida nos Embargos de fls.
gada (Cfr. RE n? 63.677, Rel.: Min. 668/673, já que os Embargos não se
734 R.T.J. — 106

limitam a transcrever o acórdão ... Por isso mesmo, é que essa


da Turma, de 15-5-67, mas trans- nulidade absoluta, e, conseqüen-
creveram, de igual sorte, o acór- temente, insanável é atacável,
dão no próprio RE n? 62.128-SP expressamente, por meio de em-
proferido pelo Plenário da Corte bargos à execução, independente-
Suprema, sendo que este último é mente da observância do prazo
de 14 de março de 1973, posterior, de decadência da rescisória...
portanto, ao julgamento, ocorrido . Dai, o próprio Código de
em 21-8-69, do RE n? 63.677. Processo Civil, em seu artigo 741,
Note-se que o RE n? 78.538 foi o I, permitir que se aleguem tais
próprio aresto que permitiu, na vícios restringindo, por isso mes-
Egrégia 1? Turma, contra o voto mo, ao caso de revelia — em em-
do Excelentíssimo Senhor Ministro bargos à execução, ainda que es-
Soares Mufloz, o conhecimento do ta só se tenha iniciado após , dois
presente recurso extraordinário. anos do trânsito em julgado da
O mais importante, porém, é sentença. E, obviamente, é
que, com a devida vênia, o acórdão possível, também, se a citação
do Plenário, tomado no RE n? não se der sequer para a execu-
97.589, e relatado pelo Excelentíssi- ção, ou se se tratar de sentença
mo Senhor Ministro Moreira Alves, que independe de execução, que
a rigor não parece haver adotado o réu revel, não citado ou citado
exatamente a mesma tese jurídica invalidamente, lance mão de
do v. acórdão ora embargado. ação declaratória de nulidade ab-
soluta e insanável.»
Ao contrário, no entender dos
Embargantes o julgamento no RE Não é só.
n? 97.589, por permitir a querela O próprio eminente Ministro Mo-
nullitatis lnsanabllis apenas no ca- reira Alves, neste julgamento ple-
so por ele nomeado, afasta seu ca- nário, transcreve a lição de Barbo-
bimento no caso dos autos. sa Moreira que diz que:
Constam, de fato, no resp. voto «Numa única hipótese sobre-
do Excelentíssimo Senhor Ministro veio ao trânsito em julgado, com
Moreira Alves, agora publicado a mesma intensidade, a conse-
(DJ de 3-6-83), estes tópicos: qüência do vicio de sentença
«Com efeito, transitada em jul- existente: na de haver-se ela pro-
gado sentença de mérito, o meio ferido em processo realizado,
normal de rescindi-la é a ação sem a citação inicial ou com cita-
rescisória. No entanto, o nosso ção inicial nula, à revelia do réu.
direito positivo, em se tratando Ao devedor é lícito argüir o vicio
de falta ou nulidade de citação, em embargos à execução da sen-
se a ação correu à revelia, não a tença (art. 741, I), impugnando,
exige, por entender que, nesse assim, a produção do efeito exe-
caso, não se trata de rescisão de cutivo, e fazendo cair, uma vez
sentença (que o Juiz da execução acolhidos os embargos, a senten-
não poderia fazê-la, incompeten- ça com o processo» (Comentários
te que o é para tanto), mas de ao CPC, Tomo V n° 69 4a ed.,
nulidade absoluta da sentença, 1981).
que pode ser declarada por meio Portanto, a orientação que pre-
de embargos à execução ou de valeceu, no Plenário da Corte, foi a
ação declaratória, ambas inde- de que se torna desnecessária e até
pendentemente de observância incabivel a rescisória, mas que a
dos requisitos da ação rescisória. nulidade seja pleiteada exclusiva-
R.T.J. — 108 735

mente no processo de execução de domínio transcrito. O processo nas-


sentença, via embargos, ou, no ceu, pois, com nulidade absoluta,
máximo, na sede de ação declara- que viciou mortalmente a senten-
tória, sendo que Barbosa Moreira ça. Esta jamais poderia transitar
não vai a tanto. em julgado, pois o Código de Pro-
Ora, o presente caso não trata cesso Civil preceitua que:
nem de execução de sentença, nem
de ação declaratória. A ação, aqui, «Art. 472. A sentença faz
é reivindicatória (coisa completa- coisa julgada às partes entre as
mente diversa), cumulada com quais é dada, não beneficiando,
cancelamento de transcrição e pe- nem prejudicando terceiros.»
dido de perdas e danos. (fls. 651/652).
Acrescentando:
Nessas condições, data venia, o «Para quem não foi réu na ação
julgamento plenário está, ao con- de usucapião, é licito propor ação
trário, em consonância, no ponto reivindicatória, se preenche as
especifico discutido, com a diver- condições de admissibilidade desta.
gência oferecida a confronto nos Os pressupostos desta demanda
presentes embargos. são: um proprietário não possuidor
Eis porque não se encontra, ain- que age contra um possuidor não
da, superada a jurisprudência tra- proprietário (Lafayette, Direito
zida nos embargos. das Coisas, § 82). A ação de reivin-
Inaplicável, então, o óbice do dicação foi proposta contra aqueles
art. 332, do Regimento Interno da que injustamente se apossaram do
Corte. imóvel (Cód. Cv. art. 524). O uso
desta ação é o meio legítimo para
Creem os Embargantes, data fazer valer o direito dos autores.
venta, que o caso é desses típicos Não se lhes pode impor a proposi-
em que cabe a reconsideração do tura de ação rescisória, porque
resp. despacho agravado. contra eles não há sentença nem
Ante o exposto, esperam a recon- coisa julgada.» (fls. 653).
sideração ou que o agravo regi- O recurso foi conhecido e provido
mental seja submetido à aprecia- com base na divergência com as de-
ção do Colendo Plenário, com vis- cisões proferidas nos RREE 78.538,
tas na admissão dos embargos, relatado pelo eminente Ministro
ainda que apenas para discussão» Thompson Flores, e no 63.677, de que
(fls. 683/687). foi relator o saudoso Ministro Ama-
VOTO ral Santos (ver fls. 648).
O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela- Para configurar a divergência a
tor): Não vejo como acolher o agra- embargante indicou o acórdão no
vo. O acórdão embargado, de que foi RE n? 62.128, de que foi relator o
relator o eminente Ministro Alfredo eminente Ministro Oswaldo Triguei-
Buzaid, ressaltou: ro, assim ementado:
«Ação rescisória e querela de nu-
«Os autores da ação de reivindi- lidade. No vigente direito proces-
cação, sendo os proprietários do sual brasileiro, a ação rescisória é
imóvel, pois em seu nome estava o Único melo admissivel para inva-
ele transcrito no registro, deviam lidar sentença com trânsito em jul-
ter sido citados necessariamente gado. Recurso extraordinário co-
para a ação de usucapião, sob pe- nhecido e provido». (fls. 669).
na de nulidade insanável. Mas não Tratava-se de ação anulatória de
o foram. A citação recai em tercei- sentença proferida em ação executi-
ra pessoa, que não tinha titulo de va cambiaria, na qual houve citação
736 R.T.J. — 108

dos réus mediante edital, sob a ale- Turmas e do Plenário. Em conse-


gação de vício da citação. O acór- qüência, inadmissíveis são os em-
dão, que é de 1967, fez uma afirma- bargos nos termos do art. 322 do nos-
ção genérica. Acontece que, confor- so Regimento Interno.
me ficou registrado no despacho re- Nego provimento ao agravo.
corrido, em decisões posteriores, da
e 2? Turmas desta Corte, versando EXTRATO DA ATA
o tema jurídico questionado nestes ERE 96.696-(AgRg)-RJ — Rel.: Mi-
autos, assentaram que terceiro não nistro Djaci Falcão. Agtes.: Daniel
citado para a ação de usucapião, e de Souza Rocha e sua mulher (Adv.:
em nome do qual está transcrito o José
imóvel, pode intentar ação de reivin- dos.: de Magalhães Barroso). Ag-
Hindenburg Mário Daruj e ou-
dicação, pois a sentença em relação tro (Advs.: Regina Cardoso Machado
a ele não tem autoridade de coisa e outros); Luiz Antonio Bocaleti de
Julgada (RREE n?s 63.677 e 78.538,
julgados a 21-8-69 é 27-8-74, In RTJ Almeida e sua mulher (Adv.: Jair
Torres Soares).
50/703 e 72/508, respectivamente).
oportuno esclarecer que os ERE n? Decisão: Negou-se provimento ao
62.128, relatados pelo saudoso Minis- agravo regimental, unanimemente.
tro Aliomar Baleeiro e julgados a 14- Presidência do Senhor Ministro
3-73, simplesmente deixaram de ser Moreira Alves, vice-Presidente. Pre-
conhecidos à míngua do pressuposto sentes à Sessão os Senhores Minis-
de divergência (RTJ 64/652 a 655). tros Djaci Falcão, Soares Muftoz,
Esta decisão não pode ser apontada Decio Miranda, Rafael Mayer, Néri
como divergente da que foi tomada da Silveira, Alfredo Buzaid, Oscar
no aresto embargado. Corrêa, Aldir Passarinho e Francis-
Na mesma linha interpretativa co Rezek. Ausente, justificadamente,
também se acham os RREE n? o Sr. Ministro Cordeiro Guerra, Pre-
99.331 e 97.589, julgados mencionados sidente. Procurador-Geral da Repú-
no despachei agravado. blica, Substituto, o Dr. Mauro Leite
Diante do exposto é inegável que o Soares.
acórdão embargado tem em seu abo- Brasília, 26 de outubro de 1983 —
no a jurisprudência de ambas as Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 97.013 (AgRg) — PR
(Tribunal Pleno)
(RE na RTJ 106/1101)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Agravante: Simamura Daiwa House S.A. — Indústria, Comércio e Cons-
truções — Agravada: Cooperativa Agrícola de Cotia — Cooperativa Central.
Recurso extraordinário. Divergência jurisprudencial (prova).
Pressupostos. Regimento Interno, arts. 322 e 331. Correção monetária
(cálculo). Divida de valor. — Na comprovação da divergência, não
basta a anexação de certidão ou cópia autenticada, ou, ainda, a indi-
cação de repositório de jurisprudência, pois cumpre sejam transcritos
os trechos que configurem o dissídio, mencionadas as circunstAnclas
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. Acórdão que
aplica a correção monetária em divida de valor, desde a data do ilíci-
to não dissidia com aquele que, em suposto diverso, aplica a correção
nos termos da Lei n? 6.899. — Agravo Regimental Improvido.
R.T.J. — 108 737

ACÓRDÃO Rescisória n? 723 — Execução do


Pleno, datado de 18-11-1981; no
Vistos, relatados e discutidos estes Agravo Regimental na Ação Resci-
autos, acordam os Ministros da Pri- sória n? 948 — Execução do Pleno,
meira Turma do Supremo Tribunal datado de 9-9-1981.
Federal, em conformidade com a Afaste-se, desdé logo, o primeiro
ata de julgamentos e notas taquigrá- dos paradigmas, pois advindo da
ficas, à unanimidade, em negar pro- mesma Turma (Súmula 353; art.
vimento ao agravo. 330 do RI).
Brasília, 10 de novembro de 1983 — Quanto aos dois outros, hipótese
Cordeiro Guerra, Presidente — não abrangida pela literalidade da
Rafael Mayer, Relator. Súmula 599, conquanto deles se
anexem cópias autenticadas, no
RELATÓRIO corpo da petição de recurso se
transcrevem apenas as ementas
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Os respectivas, descumpridas irreme-
embargos de divergência opostos ao diavelmente as exigências do art.
acórdão da Egrégia Segunda Turma, 331 c/c art. 322 do RI, bem assim
proferido no RE n? 97.013, foram li- da Súmula 290.
minarmente indeferidos em despa-
cho do Relator, nos termos seguin- Todavia, indo além, todos os pa-
tes: radigmas versam tese jurídica
pertinente à aplicabilidade da Lei
«A Egrégia Segunda Turma deci- n? 6.899/81, enquanto a tese do
diu prover recurso extraordinário acórdão embargado tem como su-
para conceder correção monetária, porte a correção monetária atinen-
em indenização devida ao dono da te á plena reparação do ilícito con-
obra, por falhas na construção, tratual, construção anterior, e es-
contratada por empreitada. O ter- capa á citada lei. São teses jurídi-
mo inicial da correção monetária é cas que, partindo de premissas di-
o da data do laudo que fixou a im- versas, não se podem contrapor,
portância que serviu de base à de- como divergentes, pois não confli-
cisão, pois o fundamento de sua tam .
concessão advém da construção Inocorrentes, portanto, os seus
pretoriana, admitida pelo Supremo pressupostos básicos, indefiro, li-
Tribunal Federal, sobre o «cabi- minarmente, os embargos».
mento da correção monetária
quando se tratasse de divida de va- Esse despacho vem impugnado em
lor e bem assim a resultante do agravo regimental, com essa funda-
ilícito absoluto ou de ilícito contra- mentação:
tual ...» Diz o venerável acórdão «Invocou a empresa, agora,
que «da última espécie é a de que agravante, nos embargos de diver-
se cogita nos presentes autos, inde- gência, a manifesta divergência da
nização decorrente de falhas na tese, do venerando acórdão
construção, em obra de engenha- embargado, com acórdãos do
ria, contratada por empreitada» Pleno do Colendo Supremo Tribu-
(fls. 912). nal Federal, à interpretação do
A Recorrida opõe embargos. Pa- disposto na Lei n? 6.899, de 8 de
ra demonstrar a divergência traz a abril de 1981, e no Decreto n?
cotejo o acórdão no RE n? 97.586, 86.649, de 25 de novembro de 1981,
da 2? Turma, datado de 1-10-1982; que a regulamenta, nos termos se-
no Agravo Regimental na Ação guintes, verbis:
738 R.T.J. — 108

«Art. 3? Nas causas penden- «calcular a correção monetária a


tes de julgamento à data da en- partir de 1978», em divergência
trada em vigor da Lei n? com o venerando açórdão do Pleno
6.899/81, e nas ações de execução do Colendo Supremo Tribunal
de títulos de dívida liquida e cer- Federal, de 18 de novembro de
ta vencidos antes do advento da 1981, assim ementado, verbis:
mesma lei, mas ajuizadas a par-
tir do início de sua vigência, o «Correção monetária de débito
cálculo a que se refere o art. 1? resultante de decisão judicial. A
se fará a partir de 9 de abril de Lei n? 6.899, de 8-4-81, tem aplica-
1981». ção aos processos pendentes,
Ora, na espécie, ao vigorar a Lei mas o cálculo da correção
n? 6.899, de 1981, pendia de Julga- monetária não pode considerar
mento a causa julgada pela Egré- período anterior ao início de sua
vigência. Agravo regimental ao
gia Segunda Turma do Pretório provido».
Excelso. Portanto, o cálculo da
correção monetária havia de ser (Acórdão, na Integra, xeroco-
feito a partir de 9 de abril de 1981; piado, junto à petição de embar-
não a partir da data do laudo que gos. Grifos nossos).
fixou a importância que serviu de
base à decisão», consoante Assim, dito que a decisão embar-
declarou-se no respeitável aresto gada mandara calcular a correção
embargado de divergência, em monetária, a partir de 1978, quan-
aberto conflito com acórdãos do do a lei, às claras, prevê que o
Colendo Supremo Tribunal Pleno e cálculo é de ser feito a partir de 9
à própria letra da lei, data venta. de abril de 1981, e os dois acórdãos
Foram repelidos os embargos de do Plenário do Supremo Tribunal
divergência, liminarmente, ao fun- Federal declaram, às expressas,
damento, primeiro, de que, dos limpidamente, que, verbis:
arestos invocados pela embargan- «(...) o cálculo da correção mo-
te, para demonstrar a divergência, netária não pode considerar
transcrevem-se, apenas, no corpo periodo anterior ao Inicio de sua
da petição de embargos, as vigência» (da Lei n? 6.899/81).
ementas respectivas, descumpri- (Ac. de 18-11-1981, junto, por xe-
das as exigências dos artigos 331 e rocópia, à petição dos embar-
332, combinados do Regimento In- gos);
terno do Supremo Tribunal Fede-
ral. E, mais, que
Data maxima venta, para com- «(...) o cálculo da correção mo-
provar a divergência, a embargan- netária não pode considerar
te juntou xerocópia autenticada periodo anterior ao inicio de sua
dos arestos divergidos à petição vigência» (Ac. de 9-9-1981, junto
dos embargos, que, todos o sabe- à petição de embargos de diver-
mos, torna-se parte integrante da gência).
petição recursal.
Atendeu-se, nesse passo, ao arti- dúvida inexiste, data venta, que a
go 337 do Regimento Interno do Su- ora agravante comprovou, com a
premo Tribunal. transcrição dos trechos, menciona-
das as circunstâncias identificado-
Na petição de embargos de di- ras dos casos confrontados, com-
vergência, a embargante declarou provou a divergência jtuispruden-
que a decisão embargada mandara ciai.

R.T.J. — 108 739

Catou-se respeito, portanto, ao Embargante e Agravante não logra


artigo 332 do Regimento Interno do demonstrar estivesse o seu recurso
Excelso Pretório. suficientemente instruído para al-
As exigências, previstas no arti- cançar viabilidade.
go 332 do Regimento Interno da Su-
prema Corte, visam comprovar a Não basta, em primeiro lugar, pa-
divergência ou as divergências ra a satisfação dos requisitos dos
jurisprudenciais. A finalidade da embargos de divergência, a anexa-
previsão nomológica é evitar a ção de certidão ou cópia autêntica,
ininteligibilidade da demonstração ou ainda a indicação do repositório
da divergência jurisprudencial. Se de jurisprudência, quanto aos acór-
esta é comprovada por outra dãos dados como divergidos. A exi-
forma (que não é o caso sob exa- gência é necessária, mas não sufi-
me), é apta de prosperar a petição ciente, pois além de reclamá-la, o
de embargos, data venha. art. 322, a que se remete o art. 331
Diz-se, no respeitável despacho do Regimento Interno, quer que se
agravado, que a tese do acórdão faça a transcrição dos trechos que
embargado tem, de suporte, corre- configurem o dissídio e se mencio-
ção monetária em reparação de nem as circunstâncias que identifi-
incito contratual e escapa à Lei n? quem ou assemelhem os casos con-
6.889, de 1981. frontados. Ora, o cumprimento des-
ses ditames não é de modo algum
Dai, pois, de mais essa razão, despiciendo, pois dizem com os pres-
mereceram indeferidos, segundo o supostos do recurso, cuja ocorrência
respeitável despacho agravado, li- Incumbe à parte demonstrar. Esse
minarmente, os embargos de di- desatendimento, por si, fora bastan-
vergência. te para impedir o curso aos embar-
Data venta, na Lei n? 6.899, de gos.
1981, não se fez a distinção preconi-
zada: entre «reparação do ilícito Não bastasse, a diversidade das
contratual» e outra qualquer matérias e proposições jurídicas,
reparação, contratual ou não versadas no acórdão embargado e
contratual. nos paradigmas de modo a impossi-
«A correção monetária incide so- bilitar o confronto de situações de
bre qualquer débito resultante de que emergisse o conflito de teses, é
decisão judicial» (artigo 1? da Lei de tal modo evidente que se impõe
n? 6.899, de 1981) cujo «cálculo ( ...) ao exame mesmo perfunctório, como
se fará a partir de 9 de abril de registrado no despacho agravado. O
1981» (artigo 3? do Decreto n? acórdão embargado se põe explicita-
86.649, de 25-11-1981). mente na linha da construção juris-
Não se distinguem, ai, causas, prudencial sobre o cabimento da cor-
fatos jurídicos, ilícitos, absolutos reção monetária nas dívidas de va-
ou relativos, de que tenham resul- lor, enquanto os acórdãos paradig-
tado débitos sujeitos à correção mas tratam de aplicação da Lei n?
monetária.» 6.899, aos feitos pendentes, a partir
de sua vigência. São teses jurídicas
É o relatório. que não podem conflitar, partindo,
como partem, de premissas diver-
VOTO sas.
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re- Pelo exposto, nego provimento ao
lator): A esforçada argumentação da agravo.
740 R.T.J. — 108

EXTRATO DA ATA Presidência do Senhor Ministro


Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão
ERE 97.013 (AgRg)-PR — Rel.: os Senhores Ministros Djaci Falcão,
Ministro Rafael Mayer. Agte.: Sima- Moreira Alves, Soares Muftoz Decio
mura Daiwa House S/A — Indústria, Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
Comércio e Construções (Advs.: Da- veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari-
vid Schnaid e Olavo da Cunha Perei- nho e Francisco Rezek. •Ausente, li-
ra). Agda.: Cooperativa Agrícola de cenciado, o Senhor Ministro Alfredo
Cotia — Cooperativa Central (Advs.: Buzaid Procurador-Geral da Repú-
César A. da Cunha e outros). blica, Substituto, o Dr. Mauro Leite
Soares.
Decisão: Negou-se provimento ao Brasília, 10 de novembro de 1983 —
agravo regimental, unanimemente. Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 97.028 — MG


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrentes: Antônio de Souza Borges Sobrirpo,„ sua mulher e outro —
Recorridos: José Baia de Azevedo, sua mulhertoutro
Ação demarcatória e ação de usucapião. Ligspendência em virtu-
de de usucapião alegado pelos réus anteriormente; pela via reconven-
cional. Improcedência dos pedidos de dernarta4ão e reivindicação,
por ser Justa a posse dos réus (art. 524 do- Cal Civil]. Excluída de
apreciação a ação reconvencional.
Houve, na espécie, razoável inteligênclanios arts. 219 e 301, 1?,
do Cód. de Proc. Civil. Recurso extraordinário ~Ne não se conhece.
ACÓRDÃO Silva•„ausieindção oral pelo
apelante e belo apelado respectiva-
Vistos, relatados e discutidos estes mente).
autos, acordam os Ministros compo-
nentes da Segunda Turma do Supre- O Sr. Dos. Costa Loures: Sr. Pre-
mo Tribunal Federal, à unanimidade sidente, ouvidas as duas manifes-
de votos e na conformidade da ata tações proferidas da tribuna pelos
do julgamento e das notas taquigrá- ilustres advogados, devo primeiro
ficas, em não conhecer do recurso. registrar que o ilustre Dr. Jadyr
Brasília, 27 de setembro de 1983 — Brito da Silva foi extremamente
Djaci Falcão, Presidente e Relator. generoso em afirmar que o proces-
so oferece algumas complicações
processuais, pois é muito mais que
RELATORIO isto.
O Sr. Ministro Meei Falcão: O Em. segundo lugar, por parado-
acórdão recorrido, tomado por maio- xal que possa parecer a afirmação,
ria de votos, guarda o seguinte teor: o meu voto é no sentido de atender
às duas ponderações feitas da tri-
«O Sr. Des. Presidente: (Dá a buna.
palavra ao Dr. Helvécio J. Resen-
de Chaves e ao Dr. Jadyr Brito da Meu voto é o seguinte:

R.T.J. — 108 741

(Voto) guimento deste processo não im-


Preliminarmente, dou por tem- portaria em prejuízo dos requeren-
pestiva a apelação oferecida pelos tes do usucapião (despacho de 9-2-
réus vencidos. É que tudo neste tu- 77, às fls. 401); argumento insus-
multuado e confuso processo cons- tentável, se se considera que o
pira contra a sua compreensão. Juizo sobre o pedido de usucapião
resulta em questão prejudicial pa-
A decisão recorrida foi publica- ra a demarcatória.
da em 22 de junho de 1978,
certificando-se em seguida, a 23+ Além do mais, é de todos sabido
78, que a intimação às partes se que há litispendência quando se re-
deu nos autos do Processo Apensa- produz ação já em curso — (CPC,
do n? 1.081, mas neste não conse- art. 301, § 1?). Pouco importa que,
guiu encontrar a intimação de no caso, a reprodução da ação já
quem quer que seja. Assim, e ten- anteriormente ajuizada se faça sob
do por data base a de 23-6-78, uma a forma reconvencional, pois a for-
sexta-feira, segue-se que a 10 çle ma de propositura em nada influi
agosto seguinte estava a vencer-se na natureza da ação.
o prazo de recurso então oferecido. Ora, segundo a norma do art.
E conhecendo da apelação, dou- 301, § 4?, do Código de Processo Ci-
lhe provimento apenas parcial, ou vil, a litispendência deve ser reco-
seja, para julgar improcedente a nhecida e declarada de oficio pelo
ação demarcatória promovida pe- Juiz, em qualquer momento do
los apelados José Baia de .Azevedo processo e em qualquer instância.
e outros contra os réus apelantes Assim, se reconhece e se procla-
Antônio de Souza Borges Sobrinho ma a litispendência, devendo o
e José Antero de Souza. Juiz prosseguir até final na ação
Antes de mais nada, excluo da de usucapião anteriormente reque-
apreciação do apelo o reconheci- rida, segundo as normas proces-
mento da pretendida -usucapião, suais adequadas.
que os réus apelantes postularam No que toca ao pedido dos autos
pela via reconvencional. É que os apelados, estou em que a sentença
apelantes de agora requereram não deu à demanda o desate acer-
ação distinta de usucapião tendo tado, aparecendo contraditório no
por objeto o mesmo imóvel, em 24- ponto nuclear de sua fundamenta-
3-70, julgada a justificação prévia ção.
(cf. documentos de fls. 50/57 dos
autos apensados n? 1.967, que con- Com efeito, salientam os apelan-
tém o marco inicial da presente tes em suas razões de fls. 280 que o
ação); e segundo confessam os que pretendem demarcar os auto-
mesmos apelantes, às fls. 46/47 dos res são divisas existentes entre
mesmos autos, tal ação ainda não dois Imóveis, um e outro de pro-
chegou ao seu termo — (pelo me- priedade (sic) e posse deles recor-
nos em 26-12-74), porque não ti- rentes: o primeiro dos dois imó-
nham sido feitas todas as citações. veis, eles apelantes obtiveram por
De resto, às fls. 358 foi requerida a compra a Luiz José de Melo e ou-
suspensão do presente processo, tros, os quais, por sua vez, o adqui-
exata e precisamente porque havia riram de Bento Severino Filho; e
em curso a tal ação de usucapião, este, de seu turno, o que houve de
mas o Juiz do feito, estranhamen- próprio apelado José Baía de Aze-
te, indeferiu o pedido de suspen- vedo; já o segundo imóvel (o que
são, ao argumento de que o prosse- se pretende usucapir), os apelantes
742 R.T.J. — 108

adquiriram o direito de posse so- ção, porque caso não é de demar-


bre ele por parte de Bento Severi- car; de reivindicação, porque justa
no Filho. é a posse dos réus, a juízo apenas
Ora, a argumentação dos apelan- do que se dispõe no art. 524 da lei
tes convence, por isso que a sen- civil; e de perdas e -danos decor-
tença reconhece isto mesmo ao di- rentes. Repete-se, ainda uma vez
zer a respeito do primeiro imóvel, explicitando, que a ação reconven-
verbis: «Em 1957, com a aquisição cional dos réus fica excluída de
feita a Júlio, José Baia de Azevedo apreciação, a fim de que o seu pe-
tornou-se dono da parte que ele dido seja apreciado no anterior pe-
vendeu a Bento Severino Filho dido autônomo que fizeram, a 25-3-
(Fazenda Posse do Padre Antônio 70 ( fls. 50/57 dos autos 1967).
— dividada ), hoje propriedade dos Custas pelos apelados.
citados réus Antônio de Souza Bor- O Sr. Des. Monteiro de Barros:
ges Sobrinho e José Antero de
Souza, e condômino, juntamente Voto
com Francisco Falco, na Fazenda
Posse do Padre Antônio, lugar
Barreirinho. Esta situação, dono O processo teve tumultuada tra-
de um lado e condômino do outro, mitação no Juízo do 1? grau e após
vai prevalecer, sem alteração, até suas marchas e contramarchas foi
1966, quando da venda feita por Jo- afinal julgado o pedido como se vê
sé Baia de Azevedo e Bento Severi- na sentença de fls. 257/262, con-
no Filho, antecessor dos réus Em cluindo o Magistrado por acolher o
28 de fevereiro de 1972, com a com- pedido demarcatório, cumulado
pra que José Bala de Azevedo fez a com divisãó, queixa de esbulho, pe-
Francisco do remanescente que ele dido de restituição de terrenos, co-
tinha ali na Fazenda Posse do Pa- brança de rendimentos e perdas e
dre Antônio, lugar Barreirinho, os danos, cuja sentença não mereceu
autores, José Baia de Azevedo e o transito em julgado em face do
sua mulher passaram a ser donos recurso interposto pelos apelantes,
da parte adquirida a Júlio e do re- que agiram acertadamente, porque
manescente que houveram de a fundamentação da mesma é de
Francisco Falco.» (fls. 259, in fine, uma fragilidade impar, com
a 260 In princípio). equívocos até de uma melhor inter-
Do que se conclui, com a própria pretação de dispositivos de lei.
sentença, que os autores não são Como bem frisou o eminente
proprietários do primeiro imóvel, e Procurador Hélio Hortale Castello
disputam com os réus apelantes o Branco, o Magistrado para inaco-
segundo imóvel, na ação de usuca- lher o pedido de usucapião vintena-
pião por estes anteriormente pro- rio formulado pelos réus, ora ape-
posta. lantes, fundamentou sua decisão,
como se segue: «os autores, (ora
O que mostra a razão dos réus apelados), por serem ausentes,
apelantes, em suas substanciosas conservaram sempre a posse da
razões de apelação (fls. 279/285): gleba usucapienda, vez que, a teor
razões que se agigantam, em face do art. 522 do Código Civil, somen-
da tímida resposta que os apelados te a perderiam se, após terem
lhe dão a elas (fls. 292). noticia da ocupação daquela, se
Em súmula, dou provimento par- abstivessem de retomá-la, ou, ten-
cial à apelação; para julgar impro- tando recuperá-la, fossem violenta-
cedentes os pedidos de demarca- mente repelidos». «A posse de Ben-

R.T.J. — 108 743

to Severino Filho sobre o referido pião, o qual pode ser reconhecido,


imóvel, a que foi transferida para como defesa, e na espécie foi pedi-
os apelantes mediante o documen- do, em processo demarcatório.
to de fls. 53/54, não era exercida A sentença para desprezar o usu-
como ânimo de dono, tanto assim capião a que têm direito os apelan-
que declarou aquele ser o dito imó- tes desprezou o que contém o docu-
vel de propriedade de ausentes e mento de fls. 53, assinado por Ben-
desconhecidos.» to Severino Filho, o que não pode-
A interpretação dada ao art. 522 ria fazê-lo com a fraca fundamen-
do Código Civil não nos convence, tação nela esposada, como tam-
porquanto, como bem dito pelo bém não se exige, como entendeu,
eminente Procurador Hélio Hortale o Juiz, que a esposa do cedente da
Castello Branco, não deve a mes- posse teria que assinar o documen-
ma ser entendida como o decidido to e como não o assinara o mesmo
pelo Magistrado, pois que «a posse tornou-se imprestável, cujo motivo
do ausente não se considera perdi- também não pode ser admitido em
da, é certo, enquanto não tiver ela face de tratar-se de cessão e trans-
noticia da ocupação da coisa, mas ferência de direitos.
desde que, obviamente, já se não Também do mesmo modo, não
tenha dado a prescrição aquisiti- se pode repelir o usucapião preten-
va.» dido com a argumentação de que o
Os apelados pretenderam com a documento para valer contra ter-
ação proposta a demarcação do ceiros teria que ser registrado na
trecho que divide com os apelan- cidade de Luz. Ora, direito posses-
tes, como se vê do item IX da ini- sório não se confunde com direito
cial, cujos limites não se acham de propriedade.
apagados, não sendo portanto caso Argumenta ainda o Juiz que a
de demarcação, haja visto que se posse dos apelantes é precária.
têm algum direito a se defender Ora, como bem respondem os ape-
em ação proposta seria caso de lantes a tal argumento, «Bento ja-
ação reivindicatórla, não de de- mais seria tolo em investir como
marcatória, em face de que nada fez em uma posse precária, cons-
há por «aviventar». truindo ali casa de morada, barra-
E, como bem se expressou na cões, tulha, plantando eucaliptos,
contestação, «a pretensão dos auto- cerca de dois mil pés, etc.».
res não é de demarcar esta ou Ainda também sem convicção
aquela divisa; pretendem reivindi- seria a afirmativa do Magistrado
car o imóvel que está aposseado de que o inventário de José Carlos
pelos contestantes e seus anteces- de Figueiredo está aberto desde
sores há vários anos...». 1901, porque, se tal afirmativa fos-
E, na verdade, a ação demarca- se válida, quem poderia propor a
tória não é via própria para reivin- ação seria a inventariante e não os
dicar terreno em posse de outrem. apelados.
A posse do trato de terras que os O usucapião repelido no 1? grau
apelados pretenderam reivindicar merece aqui ser reconhecido em
e obtiveram resultado favorável no face da prova segura do mesmo,
Juízo de 1? grau está na posse razão pela qual ao recurso dá -se
mansa e pacifica, sem interrupção provimento para o fim aludido,
ou oposição alguma, como compro- respondendo os apelados pelas cus-
vado nos autos, por tempo suficien- tas e honorários advocaticios, que
te ao reconhecimento do usuca- arbitro em Cr$ 5.000,00 — posto
744 R.T.J. — 108

que improcedentes os pedidos for- Por fim, o apelo extremo veio a


mulados pelos autores, ora ape- ser admitido conforme se vê do des-
lados. pacho de fls. 384 a 386. Instruído com
as razões de fls. 391/393 e contra-
Sr. Des. Costa Loures: Diante razões de fls. 394/395, vieram os au-
da manifestação do Des. Monteiro tos a esta Corte.
de Barros, sustento o meu ponto de
vista de que a ação de usucapião VOTO
requerida autonomamente e antes
da ação reconvencional deve ter o O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-
seu curso normal, inclusive não há tor): A meu ver, não merece prospe-
como não se completar a citação. rar o recurso extraordinário. Em
Pelo menos isto consta dos autos, seu voto, o ilustre Des. Costa Loures
declarado pelos próprios interessa- depois de esclarecer que os autores
dos. não eram proprietários do primeiro
A ação de usucapião deve ser imóvel e disputavam com os réus
apreciada autonomamente. um segundo imóvel em ação de usu-
capião por estes anteriormente pro-
Data venta do Revisor, sustento posta, concluiu provendo em parte a
a argumentação e o meu ponto de apelação, por não ser justa a posse
vista de que ação reconvencional dos réus (art. 524 do Código Civil).
não pode ser apreciada como o foi. Deixando ainda explicitado «que a
Além do mais, nem todos os inte- ação reconvencional dos réus fica
ressados foram citados. excluída de apreciação, a fim de que
o seu pedido seja apreciado no ante-
Sr. Des. Rubens Eulálio: Data rior pedido autônomo que fizeram, a
venia, acompanho o Relator. 25-3-70». (fls. 326).
Sr. Des. Presidente: Deram Desse modo, não se me afigura
provimento parcial à apelação; vulnerados os arts. 219 e 301, § 1?, do
vencido em parte o eminente Código de Processo Civil, disciplina-
Revisor.» (fls. 323/330). dores da litispendência. Ponderou,
com acerto, o ilustre Des. Rubens
Opondo-lhes embargos declarató- Eulálio, relator dos embargos infrin-
rios, foram os mesmos acolhidos pe- gentes:
lo aresto de fls. 335/337, a fim de «A ação de usucapião gerou a 11-
condenar os autores nas custas pro- tispendência aqui formulada em
cessuais e honorários de advogado. via de reconvenção; ora segundo a
Ainda irresignados, os ora re- norma do art. 301, § 4?, CPC, a 11-
correntes interpuseram simultanea- tispendência deve ser reconhecida
mente embargos infringentes (fls. e declarada de ofício pelo Juiz, em
339/345) e recurso extraordinário qualquer momento do processo e
(fls. 346/349), este com base nas le- em qualquer instância.
tras a e d do permissivo constitucio- Rejeito os embargos.» (fls. 379).
nal, alegando que o aresto recorrido E conforme bem observou o emi-
não só negou vigência aos arts. 219 e nente Des. Costa Loures:
301, § 1?, do Código de Processo Ci-
vil, como também teria divergido da «Entendo que, no caso, basta a
jurisprudência que coleciona, sendo citação de apenas um litisconsorte
seu andamento sobrestada em face para a lide tornar-se pendente. Do
dos embargos opostos. Julgando es- contrário, estaríamos distinguindo
tes, restaram rejeitados através do onde a Lei não o distingue. Es-
acórdão de fls. 368/381. taríamos, também, tornando im-


R.T.J. — 108 745

possível o cumprimento desta dis- Houve, sem dúvida, razoável inter-


posição de lei. No caso concreto, pretação do direito positivo, a afas-
abriríamos flanco para que este tu- tar o recurso nos termos da Súmula
multuado e mal conduzido proces- 400. Pelo que, preliminarmente, não
so jamais chegasse ao seu término. conheço do recurso.
Do ponto de vista prático, bastaria
os autores da ação de usucapião
requererem uma vez tendo recon- EXTRATO DA ATA
vindo, a desistência da ação ante-
riormente requerida e inaugurada, RE 97.028-MG — Rel.: Min. Djaci
aberta em relação ao réu citado. Falcão. Recte.: Antônio de Souza
Portanto, litispendência, nos ter- Borges Sobrinho, sua mulher e outro
mos do art. 219 do Código de Pro- (Advs.: Helvécio de Jesus Resende
cesso Civil. Chaves e outros). Recdos.: José Baia
Se não o fizeram, porque recon- de Azevedo, sua mulher e outro
vir? Parece que tudo conspira con- (Advs.: Jadyr Britto da Silva e ou-
tra a clareza, a simplicidade do tro).
processo. Entendo que, quando a Decisão: Não conhecido. Unânime.
Lei fala em citação válida, como
marco inicial para a instrução ou Presidência do Senhor Ministro
para a caracterização da litispen- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
dência, não discute se é para cita- Senhores Ministros Moreira Alves,
ção de um apenas ou de todos os li- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
tisconsortes, porque, na real ver- Francisco Rezek. Subprocurador-
dade, para aquele réu citado já Geral da República, Dr. Mauro Leite
existe litispendência, formada a Soares.
relação jurídica processual entre Brasília, 27 de setembro de 1983 —
ele e o autor que o chamou a Hélio Francisco Marques, Secretá-
Juizo.» (fls. 380/381). rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 97.037 — RJ


(Primeira Turma)
Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrente: Huyck do Brasil Indústria e Comércio Ltda — Recorrido:
Estado do Rio de Janeiro.
Tributário. Imposto de Circulação de Mercadorias. A correção
monetária na repetição do indébito fiscal flui da data do 1 ex.olhimento
Indevido.
Juros da mora. O termo inicial dos juros moratórios é o trân-
sito em julgado da decisão definitiva que ordenar a restituição (CTN,
art. 167, parágrafo único).
Recurso extraordinário conhecido em parte e nessa parte pro-
vido.
ACORDA0 meira Turma do Supremo Tribunal
Federal, na conformidade da ata do
Vistos, relatados e discutidos estes julgamento e das notas taquigráfi-
autos, acordam os Ministros da Pri- cas, por maioria de votos em conhe-
746 R.T.J. — 108

cer do recurso extraordinário no que Opostos embargos de declaração


respeita à correção monetária, para pela autora, foram estes rejeitados,
que ela seja contada a partir do dia unanimemente, na forma do acórdão
do pagamento indevido e não conhe- de fls. 488, do 2? volume.
cer da irresignação relativa aos ju- Daí o recurso extraordinário inter-
ros moratórios, vencido o Ministro posto por Huyck do Brasil, Indústria
Néri da Silveira, Relator e, em par- e Comércio Ltda., com apoio no art.
te, os Ministros Oscar Corrêa e o 110, inciso III, alíneas a e d, da Cons-
Presidente. tituição Federal, o qual foi admitido
Brasília, 9 de setembro de 1983 — pelo ilustre Segundo Vice-Presidente
Soares Motim, Presidente — Alfredo do Tribunal de Justiça do Estado do
Buzaid, Relator para o Acórdão. Rio de Janeiro, que destacou às fls.
548/549, do 2? volume, verbis:
RELATORIO «Além de dissídio pretoriano, a
recorrente alega violação dos arts.
23, II, 18, § 1?, e 19, § 2?, da Consti-
O Sr. Ministro Néri da Silveira tuição, bem como do art. 6?, do Có-
(Relator): Em ação ordinária de re- digo Tributário Nacional.
petição de indébito, proposta por
Huyck do Brasil, Indústria e Comér- apelo extremo é tempestivo e,
cio Ltda., contra o Estado do Rio de quanto à alínea d, reúne condições
Janeiro, julgada procedente, nos ter- de admissibilidade.
mos da sentença de fls. 412/414, do 2? que, relativamente à alínea a,
volume, o acórdão ora impugnado a norma tributária não foi ventila-
deu provimento parcial às apelações da no aresto (Súmula n? 282), en-
da autora e do réu por unanimidade quanto que os demais dispositivos
de votos, estando assim ementado mereceram interpretação razoável
(fls. 475, do 2?- volume): por parte do acórdão recorrido
«ICM. Não incidindo na importa- (Súmula 400).
ção de bens de capital, por inexis- Diversa, todavia, a solução no
tir o suporte fático da circulação, e que concerne à alínea d, eis que a
sendo, como foi, indevidamente co- jurisprudência trazida a confronto
brado pelo Estado, cabível é a sua (fls. 500) atende às exigências do
restituição. art. 322, do Regimento Interno do
Correção monetária. Incide a Supremo Tribunal Federal e do
partir da data do ajuizamentó da verbete 291 da Súmula.
ação, sendo os juros da mora con-
tados a partir do trânsito em julga- São estas as razões que me le-
do da decisão. vam a admitir o recurso».
Honorários de advogado. Em Razões da recorrente às fls.
face da regra do art. 20, § 3?, do 551/557, do 2? volume, apresentando
Código de Processo Civil, devem o recorrido as contra-razões de fls.
ser fixados entre o mínimo de 10 e 562/564, no 2? volume.
o máximo de 20%, sendo, porém,
ao caso aplicável a percentagem Opina a douta Procuradoria-Geral
mínima, por força do disposto no § da República, às fls. 570/571, do 2?
4?, do mesmo artigo. volume, no sentido do conhecimento
e provimento do apelo extremo.
Sentença em parte reforma-
da». E o relatório.
R.T.J. — 108 747

VOTO em 14 de maio de 1979, viesse a


embargante a reclamar a devolu-
O Sr. Ministro Néri da Silveira ção, não sendo pois de justiça con-
(Relator): O acórdão recorrido, na denar o Estado a pagar correção
parte em que impugnado, assim de- monetária, durante período em que
cidiu (fls. 476/477): se manteve a . embargante omissa,
«Cabível é pois a restituição, como que a concordar com o paga-
com correção monetária, que inci- mento efetuado.
de, no entanto, a contar do ajuiza- Relativamente a juros da mora
mento da ação, como determina a foi expresso o acórdão, em aplicar
Lei n? 6.899, de 8 de abril de 1981, o disposto no § único do art. 167 do
art. 1?, § 2?, cabendo unicamente à Código Tributário Nacional, segun-
segunda apelante culpa por não ter do o qual «a restituição vence ju-
ajuizado antes a ação, nada tendo ros não capitalizáveis, a partir do
ela a reclamar de correção mone- trânsito em julgado da decisão de-
tária no período que antecedeu a finitiva que a determina», impon-
esse ajuizamento. do-se, portanto, a rejeição dos em-
Relativamente aos juros da mo- bargos de declaração».
ra, incidem a partir do trânsito em A quaestlo juris posta, no apelo ex-
julgado da sentença, como é ex- tremo, em torno da inaplicabilidade
presso o art. 167, § único, do Códi- da Lel n? 6.899/1981, em matéria tri-
go Tributário Nacional, sendo, as- butária estadual, em face dos arts.
sim, procedente em parte a pri- 23, II; 18, § 1?, e 19, § 2?, todos da
meira apelação». Constituição, e 6?, do CTN, não pode,
De outro lado, ao rejeitar os em- aqui, merecer apreciação, porque
bargos de declaração da ora recor- não ventilada no aresto recorrido,
rente, a Câmara Julgadora explici- nem no acórdão nos embargos de de-
tou (fls. 488/489): claração, incidindo, quanto a esse te-
ma, as Súmulas 282 e 356. Não vale,
«Os pontos questionados são re- dessarte, a alegação de ofensa a es-
ferentes a correção monetária e ju- ses dispositivos, para fundamentar o
ros da mora. recurso extraordinário, pela letra a,
No tocante à correção monetária do permissivo constitucional.
foi muito claro o acórdão em deter- Também a não-aplicação da Lei n?
minar que incida a contar do ajui- 6.899/1981, na espécie, em face do
zamento da ação, como determina art. 153, § 3?, da Lei Maior, constitui
a lei n? 6.899, de 8 de abril de 1981, ponto não discutido no julgado de
art. 1?, § 2?, mas acrescentou e isso que se recorre. Por igual, a não-
constituiu motivação de suma rele- aplicação da Lei n? 6.899/1981, ao ca-
vância para a Câmara, «cabendo so, por que não regulamentado o di-
unicamente à segunda apelante ploma, é matéria não ventilada no
culpa por não ter ajuizado antes a aresto, nem em embargos de decla-
ação, nada tendo ela a reclamar de ração (Súmulas 282 e 356), não ca-
correção monetária no período que bendo, no particular, assim, o apelo,
antecedeu a esse ajuizamento» também, pela letra d, eis que versa
(fls. 476). dissídio sobre ponto não prequestio-
Estranhou, sem dúvida, a Câma- nado.
ra que, iniciando-se o pagamento No que concerne ao dissídio juris-
dos impostos reputados indevidos prudencial, em nenhum dos acór-
em 5 de março de 1972, e, se prolon- dãos apontados, ás fls. 499/507, al-
gando até o ano de 1975, somente guns apenas por suas ementas,
748 R.T.J. — 108

questionou-se a não-aplicação da Assim julgamos no RE n? 91.355-


Lei n? 6.899/1981, em se tratando de SP, trazido à colação pela recor-
repetição de indébito de tributo esta- rente, bem como nos RE n? 86.820
dual. Releva observar que, no caso, — RTJ 83/315; RE n? 86.533 — RTJ
o acórdão local esclareceu, no julga- 85/1.015: RE n? 87.253 — RTJ
mento dos embargos declaratórios, 84/318; RE n? 88.518 — RTJ 87/651
os motivos por que, na espécie, o ór- e RE n? 90.980-SP, de 27-4-79.
gão julgador era levado a aplicar a Por outro lado, dispõe o art. 161
Lei n? 6.899/1981, não determinando a do CTN que o crédito não integral-
correção monetária, a partir do pa- . mente pago no vencimento é acres-
gamento indevido, razões essas aci- cido de juros da mora, seja qual
ma transcritas. for o motivo determinante da falta.
Os acórdãos indicados como para- Ora, devida a correção monetá-
digmas não atendem, dessa forma, à ria, devidos são os juros, pois com
Súmula 291 e ao art. 322, do Regi- eles também se locupletou o Fisco.
mento Interno, em ordem a funda-
mentar a divergência necessária ao Por outro lado, é de ver-se que
conhecimento do apelo, pela letra d, lei local não pode se sobrepor à
do inc. III, do art. 119, da Constitui- lei complementar federal».
ção Federal, impossibilitando, as- No RE n? 90.232-SP, o ilustre Mi-
sim, conhecer-se do mérito da con- nistro Djaci Falcão, à sua vez, ano-
trovérsia posta no recurso. tou ( fls. 503):
Referentemente aos juros da mo- «Repetição de indébito tributá-
ra, entretanto, tomo conhecimento rio. Incidência de juros de mora a
do recurso, por divergência jurispru- 1% ao mês nos termos do § 1?, do
dençial, em face das invocadas deci- art. 161 do CTN, em respeito ao
sões deste Tribunal, nos Recursos princípio da isonomia. Precedentes
Extraordinários n?s 94.806-6-RJ e do STF».
90.232-SP (fls. 501/503) e do acórdão
do TFR, na Apelação Cível n? 53.009- E, a seguir, no voto, observou (fls.
SP (fls. 504), com invocação ao art. 503):
161, § 1?, do CTN, analogicamente,
aplicável na repetição de indébito. «Vem esta Corte entendendo, no
que concerne à aplicação da corre-
Assim, no RE n? 94.806, anotou o ção monetária às hipóteses de re-
eminente Ministro Cordeiro Guerra petição de indébito que ao Fisco e
(fls. 50D: ao contribuinte deve ser imposto o
mesmo tratamento, relativamente
«Conheço do recurso e lhe dou a créditos ou débitos de natureza
provimento, para determinar que a fiscal, por aplicação do princípio
correção monetária se faça desde de isonomia e com o afastamento
que a data do recolhimento indevi- conseqüente da incidência, em be-
do ainda que voluntariamente, pois nefício da Fazenda Pública, do re-
o recolhimento voluntário do im- gime instituído pela Lei n? 4.414/64
posto devido não descaracteriza somente aplicável às condenações
ser ele indébito e repetível, art. de natureza civil.
165, I, do CTN. Enquanto de posse
do fisco, este com ele se beneficia Invoco nesse sentido a orienta-
e, logicamente, ao restitui-lo deve ção firmada no julgamento dos RE
fazer a correção pelo período em n? 85.791, a 16-11-76, e RE n? 82.851,
que o fruiu, isto é desde a data do a 15-4-77, este último publicado na
recebimento». RTJ 82/535».

R.T.J. —108 749

Não é aplicável, pois, ao caso, o «A Recorrente irá demonstrar


art. 167, parágrafo único, do CTN, que a jurisprudência dominante e
como fez o aresto recorrido (fls. pacífica, em nossos Tribunais, es-
489), em face da orientação desta pecialmente no Supremo Tribunal
Corte. Federal, se orienta no sentido da
Do exposto, conheço, em parte, do tese por ela defendida.
recurso, quanto ao termo a quo dos Os exemplos são inúmeros, mas,
juros moratórios, e, nessa parte, lhe para melhor situar o problema, no
dou provimento. campo de aplicação do imposto es-
tadual ...»
VOTO E isso se explica: a prova de que
desejava o recorrente fazer a de-
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se- monstração evidente do artigo 322 e
nhor Presidente, acompanhei o voto da Súmula 291 é que procurou um
do eminente Ministro Néri da Silvei- caso de devolução do indébito fiscal
ra com atenção detida. do Rio de Janeiro, em que fora ques-
tionado o imposto estadual. Houve
Concordo com S. Exa. em que, preocupação em cumprir a Súmula
quanto á letra a, a matéria (corre- 291 e o artigo 322 (fls. 500).
ção monetária) não foi prequestiona- «... do imposto estadual e, nele,
da. Quanto aos juros moratórios, em casos onde foram examinadas
desde logo estou de acordo. as normas da lei tributária do
No que se refere à correção mone- Estado do Rio de Janeiro, ora re-
tária, entretanto, embora não funda- corrido, a Recorrente aponta duas
do o prequestionamento pela letra a decisões sugestivas do Supremo
— e nisso S. Exa. tem razão como Tribunal Federal.
se vê da leitura que fez, no intuito Na primeira, mais recente —
louvável de esclarecer — verifiquei acórdão unânime de 25-8-81, a 2?
que o ponto importante do debate é Turma, Relator o MM. Cordeiro
precisamente o da repetição do indé- Guerra, decidiu:
bito com correção monetária. Esse é
fundamento principal do acórdão, «ICM. Correção monetária na
que o negou. repetição de indébito fiscal.
Inicio de sua fluência. Firmou-se,
Essa a matéria em debate. no STF, o entendimento de que
A circunstância aleatória, a que o cabe correção monetária na re-
eminente Ministro Néri da Silveira petição do indébito fiscal, fluindo
não deu grande importância, do ela da data do recolhimento in-
atraso no ajuizamento da ação, que devido».
acabou de ser desfeita da tribuna, é Parece-me que o simples enuncia-
fundamento sem qualquer procedên- do do acórdão, citado, a fls. 500, pelo
cia, porque o prazo prescricional recorrente é suficiente («ICM. Cor-
sendo de cinco anos era dado à parte reção monetária na repetição de in-
aguardá-lo. débito fiscal. Inicio de sua fluência.
Quando S. Exa. leu, detidamente, Firmou-se, no STF, o entendimento
a petição, na parte em que considera de que cabe correção monetária na
não existente a divergência pela le- repetição do indébito fiscal...»).
tra d — seria a única possível, já tão evidente, tão claro, e faz referên-
que, pela letra a, S. Exa. com toda cia tão patente à jurisprudência fir-
razão não conheceu — a fls. 500, el- mada!
idi: A lei foi aplicada indevidamente.
750 R.T.J. — 108

Diz o segundo acórdão, da lavra mento da correção monetária a par-


do Ministrao Rafael Mayer, 1, Tur- tir do recolhimento do imposto inde-
ma: vido.
«Repetição de Indébito. Corre- Quando o Eg. Tribunal passou a
ção Monetária. Termo 9nicial. De- julgar o recurso de apelação, na ver-
ve ser calculada a partir da data dade, não deu novo fundamento jurí-
do pagamento do imposto indevi- dico para excluir a correção monetá-
do». (Ementa do Acórdão ria, apenas razoou a causa; é, verda-
Divergente n? 3, publicado no DJ deiramente, um desvio de raciocínio,
de 5-9-80, junto por cópia autentica- porque não estava em jogo a Lei n?
da)». 6.899 e sim a matéria tal como fora
Senhor Presidente, confesso a V. posta na petição inicial, à qual o
Exa. que is eminente Ministro Néri Juiz, em sua sentença, dá uma res-
da Silveira tem absoluta razão em posta. Houve um desvio no próprio
que, tecnicamente, no recurso ex- julgamento.
traordinário, a divergência deve ser Quando o Tribunal, com funda-
comprovada, e a Súmula 291 e o art. mento na Lei n? 6.899, reformou a
322 o exigem. Mas, parece-me, essa decisão de primeiro grau, aplicou lei
divergência é no fundamento, porque que não estava em vigor. Por isso,
a alusão à culpa é não só indevida, dizia eu, o Tribunal razoou, mas, en-
como improcedente — teríamos, en- quanto razoou, não deu o fundamen-
tão, que procurar acórdão que tives- to explicito para o dispositivo da de-
se fundamento igual. cisão; em conseqüência, aplicou uma
Os dois padrões indicados, do Mi- lei que não estava sequer em vigor
nistro Cordeiro Guerra e do Ministro ao tempo da propositura da ação.
Rafael Mayer, no que diz respeito ao Houve até aplicação de direito su-
essencial — a repetição do indébito perveniente sem nenhum sentido. O
fiscal — satisfazem, e confesso que fundamento da correção monetária
considero a divergência demonstra- resulta de recolhimento do indébito
da, data venta da tese sustentada do imposto.
com proficiência, brilho e segurança Assim, conhecendo do recurso,
pelo Ministro Néri da Silveira. dou-lhe provimento, em parte, para
Conheço do recurso e lhe dou pro- mandar computar a correção mone-
vimento integralmente, quanto aos tária, excluídos os juros, que só po-
juros moratórios e à correção mone- derão ser calculados a partir do
tária. trânsito em julgado da sentença.
E o voto.
VOTO
VOTO O Sr. Ministro Rafael Mayer: Peço
vênia ao eminente Ministro José Né-
ri para divergir em parte de S. Exa.,
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Se- porque, pela letra a, realmente, não
nhor Presidente, data venta do Rela- foi prequestionado. Pela letra d, em
tor, acompanho o voto do Ministro que pese a elaboração técnica de S.
Rafael Mayer. Exa. a respeito do dissídio em maté-
Pelo que ouvi da leitura feita pelo ria de correção monetária, acho que
Relator, a correção monetária fora as proposições jurídicas postas no
pedida já na petição inicial. O Juiz acórdão recorrido e nos acórdãos
de primeiro grau acolheu integral- paradigmas divergem como teses
mente o pedido e condenou no paga- jurídicas tanto quanto no aspecto dos

R.T.J. - 108 751

juros moratórios. Por isso, como S. çam a ser contados os juros morató-
Exa., conheço totalmente pela letra rios e a correção monetária em ação
d e dou provimento em parte, justa- ordinária de repetição de indébito
mente onde S. Exa. não dá provi- julgada procedente.
mento, isto é, com relação à corre- O acórdão recorrido decidiu que a
ção monetária, pondo-me de acordo correção
com o eminente Ministro Alfredo Bu- da data domonetária incide a partir
ajuizamento da ação e os
zaid, ou seja, reconhecendo como juros da mora a contar do trânsito
termo inicial da correção monetária em julgado da decisão. Relativamen-
a data do pagamento indevido, e co- te à correção monetária, o acórdão
mo termo inicial dos juros morató- arrimou-se na Lei n? 6.899, de 1981,
rios a data do trânsito em julgado da art. 1?, § 2? e na demora
decisão definitiva, nos termos do art. em ajuizar a ação. No queda autora
concerne
167 do Código Tributário Nacional. aos juros moratórios, o acórdão in-
EXTRATO DA ATA vocou o art. 167, parágrafo único, do
Código Tributário Nacional.
RE 97.037-RJ — Rel.: Min. Néri da O recurso extraordinário pleiteia
Silveira. Recte.: Huyck do Brasil In- que tanto a correção monetária
dústria e Comércio Ltda. ( Advs.: quanto os juros sejam contados des-
João Guilherme de Moraes Sauer e de o dia do pagamento indevido. Pa-
Gustav L Toniatti). Recdo.: Estado ra isso, a recorrente alega, em sínte-
do Rio de Janeiro. (Advs.: Geraldo se:
da Cunha Falcão e outro). pela alínea a do permissivo
Decisão: Adiado o julgamento a constitucional: a) inaplicação da Lei
pedido do Presidente depois do Rela- n? 6.899/81 em matéria tributária es-
tor ter conhecido em parte do recur- tadual, em face dos arts. 23, II, 18, §
so e lhe dado provimento nessa par- 1?, e 19, § 2?, todos da Constituicão. e
te; o Ministro Oscar Corrêa conhecia 6? do CTN; b) não aplicação da Lei
integralmente e lhe dava provimen- n? 6.899/81, porque ao tempo ainda
to, e os Ministros Alfredo Buzaid e não havia sido regulamentada;
Rafael Mayer conheciam integral- pela alínea d, divergência ju-
mente e lhe proviam em parte. Fa- risprudencial, quer na interpretação
lou pela Recte.: Dr. Gustav L. To- da Lei n? 6.899/81, quer quanto ao
niatti. art. 167, § 1?, do CTN.
Presidência do Senhor Ministro
Soares Mutioz. Presentes à Sessão os daOSilveira,
Relator, eminente Ministro Néri
não conheceu do recur-
Senhores Ministros, Rafael Mayer,
Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e so, no que respeita à correção mone-
Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral to tária, por falta de prequestionamen-
da República, Dr. Francisco de As- dos dispositivos que teriam sido
sis Toledo. vulnerados e por não comprovada a
divergência, e conheceu da irresig-
Brasília, 16 de agosto de 1983 — nação quanto aos juros, em face do
Antônio Carlos de Azevedo Braga, dissídio jurisprudencial e determi-
Secretário. nou que eles incidam a contar do pa-
gamento indevido.
VOTO ( VISTA ) Entretanto, o eminente Ministro
Oscar Corrêa conheceu do recurso e
O Sr. Ministro Saores Muítoz: deu-lhe provimento integralmente,
Discute-se neste recurso extraordi- determinando que os juros e a corre-
nário a respeito do dia em que come- ção monetária sejam contados a par-
752 R.T.J. — 108

Ur do pagamento indevido, enquanto Ante o exposto, não conheço do re-


que os eminentes Ministros Alfredo curso extraordinário.
Buzaid e Rafael Mayer proviam o
recurso apenas no tocante á corre-
ção monetária. EXTRATO DA ATA
Do exame que fiz dos autos, con-
clui concordando com o eminente Mi- RE 97.037-RJ — Rel.: Min. Néri da
nistro Néri da Silveira relativamente Silveira. Recte.: Fluyck do Brasil In-
à correção monetária. Os dispositi- dústria e Comércio Ltda. ( Advs.:
vos legais invocados na petição re- João Guilherme de Moraes Sauer e
cursal não foram prequestionados no Gustav L. Toniatti). Recdo.: Estado
acórdão, e não encontro configurada do Rio de Janeiro. (Advs.: Geraldo
a divergência jurisprudencial, por- da Cunha Falcão e outro).
que o acórdão recorrido se fundou,
também, na demora da autora em Decisão: Em decisão majoritária,
ajuizar a ação, circunstância essa conheceu-se do recurso extraordiná-
que não se encontra em nenhuma rio no que respeita à correção mone-
das decisões indicadas como para- tária para que ela seja contada a
digma. Falta, de conseguinte, entre partir do dia do pagamento indevido
estas e o aresto impugnado a identi- e não se conheceu da irresignação
dade ou semelhança entre os casos relativamente aos juros moratórios,
decididos, que o art. 322 do RI-STF vencido o Ministro Néri da Silveira,
exige na sua parte final. Relator, e, em parte, os Ministros
Em relação aos juros moratórios, Oscar Corrêa e o Presidente. Lavra-
os acórdãos em cotejo decidiram de rá o acórdão o Ministro Alfredo Bu-
maneira aparentemente divergente. zaid.
Todavia, o aresto recorrido fé-lo sob Presidência do Senhor Ministro
a invocação do art. 167, parágrafo Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
único, do CTN, e os paradigmas ne- Senhores Ministros Rafael Mayer,
nhuma menção fizeram a esse dispo- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
sitivo. Simplesmente não questiona- Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
ram o parágrafo único do art. 167. A da República, Dr. Francisco de As-
ausência de tal prequestionamento sis Toledo.
afasta a divergência que autoriza a
interposição do apelo derradeiro, nos Brasília, 9 de setembro de 1983 —
termos em que o disciplina o art. 322 Antônio Carlos de Azevedo Braga,
já mencionado. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 97.189 —


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrentes: Alberto Pires da Silva e outros — Recorrido: Instituto de
Administração Financeira e Previdência Social — IAPAS Representante ju-
dicial do Instituto Nacional de Previdência Social — INPS.
Correção monetária. Imóveis da Previdência Social. Lei n?
5.049/1966, art. 3?. Isenção da correção monetária, desde a data do
contrato, e não, apenas, da data da citação inicial. Constituição, art.
153, ff 2? e 3?. Invalidade da cláusula. Recurso conhecido e provido.
R.T.J. — 108 753

ACÓRDÃO n? 5.049/66, art. 3?). A isenção da


correção monetária beneficia a to-
Vistos, relatados e discutidos estes dos ocupantes legítimos de unida-
autos, acordam os Ministros da Pri- des residenciais alienáveis, com
meira Turma do Supremo Tribunal preçO de custo reavaliado indepen-
Federal na conformidade da ata de dente de área e valor, que fizeram
julgamentos e notas taquigráficas, à opção, ou promessa de compra no
unanimidade, conhecer do recurso prazo legal».
extraordinário e lhe dar provimento.
j3rasília, 1? de outubro de 1982 — Opostos embargos de declaração,
foram estes rejeitados, unanime-
Rafael Mayer, Presidente — Néri da mente, pelo aresto de fls. 515, sob o
Silveira, Relator. argumento de que «não encerra o ar-
güido defeito».
RELATÓRIO Irresignados, interpuseram os au-
tores o presente recurso extraordiná-
rio, com base no art. 119, item III,
O Sr. Ministro Néri da Silveira letra a, da Constituição Federal, sus-
(Relator): Em ação ordinária movi- tentando que o acórdão recorrido
da por Alberto Pires da Silva e ou- vulnerou o art. 153, §§ 2? e 3?, da
tros contra o Instituto Nacional da Carta Magna.
Previdência Social, objetivando o
cancelamento de cláusula contra- Indeferido o processamento do
tual, sobre correção monetária, rela- apelo derradeiro, pelo despacho de
tiva á aquisição de imóvel de pro- fls. 527, vieram os autos a este Tri-
priedade da Autarquia, o Dr. Juiz bunal, por ter sido provido o Agravo
Federal da 2? Vara da Seção Judi- de Instrumento n? 84.519-4/RJ, em
ciária do Estado do Rio de Janeiro apenso.
concluiu sua sentença, de fls.
443/447, nestes termos, verbis (fls. Razões dos recorrentes às fls.
447): 535/539, apresentando o recorrido
suas contra-razões de fls. 541/543.
«Por esses motivos, julgo proce-
dente a Ação, condenando o Réu a E o relatório.
cessar a cobrança da correção mo-
netária a partir da citação inicial,
assim como a reembolsar as cus- VOTO
tas judiciais e a pagar os honorá-
rios do advogado dos Autores, por
mim arbitrados em 10% (dez por O Sr. Ministro Néri da Silvei-
cento) do valor dado á causa». ra (Relator): Reconheceu o aresto
recorrido que as datas das opções
Inconformados com a sentença, de compra dos apartamentos da Pre-
apelaram autores e réu para o colen- vidência Social foram anteriores a 4
do Tribunal Federal de Recursos, de julho de 1966, não se revestindo
que, em votação unânime, por sua 28 de relevância, aos efeitos da não in-
Turma, negou provimento a todos os cidência da correção monetária, o
recursos, em acórdão que exibe esta fato de os contratos de promessa de
ementa (fls. 504): compra e venda respectivos serem
posteriores a essa data. Embora re-
«Habitação. Imóveis do Poder conhecendo aos autores, assim, di-
Público. Correção Monetária (Lei reito á isenção da correção monetá-
759 R.T.J. — 108

ria, com base na Lei n? 5.049/1966, o ria, assim, jurídico assegurar o di-
aresto não atendeu á súplica dos ora reito pleiteado pelos autores, somen-
recorrentes, no sentido de reconhe- te a contar da citação inicial, efetua-
cer o direito a não pagar correção da em agosto de 1975, quando os con-
monetária desde o contrato, mas, tratos discutidos, com a cláusula in-
apenas, nos termos da sentença, a • devida, datam de alguns anos ante-
partir da citação inicial. riores.

Sustentam os recorrentes que, se Em assim determinando o aresto,


existia direito a não pagar correção cuido que, em verdade, afrontou o
monetária, já adquirido, desde antes art. 153, §§ 2? e 3?, da Constituição,
da assinatura de contrato, porque na medida em que, no período entre
haviam optado no prazo legal, a ex- os contratos e a citação inicial, obri-
clusão reconhecida no acórdão, com ga paguem a correção monetária,
base na Lei n? 5.049/1966, era de dar- sem base em lei, e contra o reconhe-
se a partir do contrato de promessa cido direito de não terem os contra-
de compra e venda, o qual não podia tos sujeitos à cláusula impugnada.
conter cláusula de correção monetá-
ria, e não somente a contar da cita- Do exposto, conheço do recurso e
ção inicial. lhe dou provimento.
Penso que razão assiste aos recor-
rentes. Com efeito, a Lei n? 5.049, de EXTRATO DA ATA
29-6-1966, estabeleceu, em seu art. 3?,
§ 3?, verbis:
RE 97.189-RJ — Rel.: Ministro Né-
«As unidades habitacionais, cu- ri da Silveira. Rectes.: Alberto Pires
jos ocupantes hajam optado pela da Silva e outros (Advs.: Maria Lú-
compra, ou venham a fazê-lo até 90 cia Vitorino Borba e outros). Recdo.:
dias da publicação da lei, são isen- Instituto de Administração Financei-
tos da correção monetária, referi- ra da Previdência Social — IAPAS,
da neste artigo, desde que tenham representante judicial do Instituto
as mesmas sofrido reavaliação do Nacional da Previdência Social —
preço do custo da construção». INPS (Adv.: Fidelis Rodrigues).
Decisão: Conheceu-se do Recurso
Pois bem, na inicial, pediram que, Extraordinário e se lhe deu provi-
procedente a ação, seja cancelada a mento. Decisão unânime.
cláusula que estabelece a correção
monetária nos contratos particulares Presidência do Senhor Ministro
de compra e venda, firmados pelos Rafael Mayer. Presentes à Sessão os
autores com o recorrido. Senhores Ministros Néri da Silveira,
Alfredo Buzaid e Oscar Correa. Au-
Assim sendo, se se reconhece que sente, justificadamente, o Senhor
a correção monetária não podia ser Ministro Soares Mutioz. Subprocu-
estipulada, no caso dos recorrentes, rador-Geral da República, Dr. Fran-
força é concluir que a exigência de cisco de Assis Toledo.
pagamento, pelo recorrido, da corre-
ção monetária, era improcedente, Brasília, 1? de outubro de 1982 —
desde os contratos, porque inválida a Antônio Carlos de Azevedo Braga,
cláusula neles consignada. Não se- Secretário.
R.T.J. — 108 755

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 97.191 — CE


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.
Recorrente: Josinete Josino de Castro e Souza — Recorrido: Maurício de
Castro e Souza.
Divórcio. Ação de divórcio baseada no art. 40, da Lei n?
6.515/1977. A prova da separação de fato do casal, por mais de cinco
anos, reconhecida em ambas das instâncias, constitui matéria insus-
cetível de reexame em recurso extraordinário, em face da Súmula
279. Alegação de negativa de vigência do art. 336, do CPC, que não é
de reconhecer-se. Em entendendo que, na espécie, a partilha prévia
dos bens é desnecessária, por se cuidar de decretação do divórcio di-
reto, o acórdão não vulnerou o art. 31, da Lei n.. 6.515/1977. Na ação
de divórcio direto, ut art. 40, da Lei n? 6.515/1977, cumpre provar o de-
curso do tempo de separação de fato, por mais de cinco anos, com
inicio anterior a 28.6.1977, e a sua causa, com base nos arts. 4?, 5? e
seus parágrafos, do referido diploma legal, seguindo-se o procedimen-
to ordinário (CPC, arts. 282 a 475; Lei o? 6.515/1977, art. 40, ff 1? e 3?).
A partilha dos bens do casal deverá ser homologada pela sentença do
divórcio, no caso de divórcio consensual (Lel citada, art. 40, 2t, IV).
Também, na conversão em divórcio da separação Judicial dos cônju-
ges, de acordo com o art. 31, da aludida Lei, não se decretará o divór-
cio, se ainda não houver sentença definitiva de separação Judicial, ou
se esta não tiver decidido sobre a partilha dos bens. Se Já havia, ante-
riormente, desquite, sem sentença sobre partilha dos bens, por igual,
a decisão de conversão do desquite em divórcio disporá sobre ela,
conforme resulta do art. 43, da Lei n? 6.515/1977. Na ação ordinária de
divórcio (Lei a? 6.515/1977, art. 40), a partilha dos bens do casal faz-se
no juizo da execução da sentença, de tal modo que nem na inicial se
faz necessária proposta de partilha dos bens, nem a sentença que de-
creta a dissolução do vinculo matrimonial precisa compor-se, neces-
sariamente, com provimento a esse respeito. Recurso extraordinário
não conhecido.
ACORDAO traordinário manifestado por Josine-
Vistos, relatados e discutidos estes te cro
Josino de Castro e Souza, com ful-
no art. 119, item III, letras a e d,
autos, acordam os Minsitros da Pri- da Constituição
meira Turma do Supremo Tribunal mento de que o Federal, acórdão
sob o argu-
prolatado,
Federal, na conformidade da ata de
julgamentos e notas taquigráficas, á por Cível
unanimidade, pela
do Tribunal de
r
Justiça
Câmara
do Esta-
unanimidade, não conhecer do recur- do do Ceará, a par do dissídio juris-
so extraordinário.
Brasília, 1? de outubro de 1982 — prudencial
gência aos
em que incorre, negou vi-
arts. 336: do Código de
Rafael Mayer, Presidente — Néri da Processo Civil, 6?, § 2?, e 31, da Lei
Silveira, Relator. n? 6.515, de 1977.
RELATÓRIO
O acórdão, ao confirmar a senten-
O Sr. Ministro Néri da Silveira ça recorrida, expôs a espécie, nestes
(Relator): Trata-se de recurso ex- termos (fls. 80/89):
756 R.T.J. — 108

«Maurício de Castro e Souza, mi- em que se firma a ré para porfiar


litar residente nesta capital, ajui- pelo reexame da sentença recorri-
zou ação de divórcio contra sua da.
mulher — Josinete Josino de Cas- Relatam os autos que o apelado
tro e Souza, qualificada nestes au- propôs ação de divórcio contra a
tos, fazendo-o com abono no dis- apelante, afirmando que o casal
posto no art. 40 da Lei n? 6.515/77. está separado de fato desde o
Designada audiência de concilia- início de 1970, sem possibilidade al-
ção, a que compareceram os côn- guma de restabelecimento da vida
juges, não logrou o MM. Juiz conjugal, vez que o requerente já
demovê-los do intento, e embalde constituiu uma nova familia.
persuadiu a que se conciliassem. De fato, essa impossibilidade de
conciliação foi reiterada em au-
Citada a ré e Intimada em au- diência (fls. 15). Concedido o prazo
diência para responder aos termos de quinze (15) dias para contestar
da ação no prazo de quinze (15) a ação, decorreu este In albis.
dias, deixou-o fluir in albis, como
se vê da certidão de fls. 15. Diante do silêncio da ré, o MM.
Juiz julgou procedente a ação visto
Comprovada nos autos a separa- tratar-se de divórcio direto reque-
ção de fato, sentenciou o magistra- rido com fundamento na separação
do a quo, atento às normas legais, de fato do casal, por prazo supe-
a concluir pela decretação do di- rior a cinco anos, ex vi do art. 40 da
vórcio, respeitados os direitos do Lei n? 6.515, de 26-12-77.
cônjuge virago e prole. Publicadas as suas conclusões no
Com a divulgação da sentença no Diãrio da Justiça, eis senão quan-
Diário Oficial, quando ficaram inti- do resolve recorrer o cônjuge vira-
mados os interessados, oportunida- go, a argüir: cerceamento de defe-
de essa que a acionada aproveitou sa, ausência de sentença dispondo
para revelar sua irresignação com sobre a partilha de bens, pagamen-
o julgado, a argüir: to de pensões em atraso e, final-
mente, o não constar nos autos,
a) A nulidade da sentença, em prova de que a separação data de
razão de o procurador da apelante tempo hábil.
não ter sido intimado dos atos pro- A argumentação suscitada em
cessuais. b) Existir, em curso, grau de recurso e desacompanha-
ação de alimentos versando a co- da de provas mereceu da douta
branca de pensões em atraso. c) Procuradoria-Geral da Justiça
Não ter sido partilhado bem imó- enérgica refutação.
vel que o apelado confessa possuir.
d) Não constar, nos autos, prova De fato, a ruptura da vida em
de que a separação de fato date de comum, há mais de cinco anos, se-
há mais de cinco anos. guida de pedido e concessão de ali-
mentos; a impossibilidade declara-
Recurso contra-arrazoado. da e constatada de sua reconstitui-
Com vista dos autos, a douta ção constituem, por si, pressupos-
Procuradoria-Geral da Justiça opi- tos suficientes para a declaração
nou, em longo parecer, pelo conhe- do divórcio.
cimento da apelação, por tempesti- Pretender atrelar outras condi-
va, mas porque se lhe negue provi- ções inaceitáveis, porque inexisten-
mento uma vez que destituídas de tes, redundaria em admitir ainda,
qualquer fundamento as alegações hipóteses não configuradas em lei.

R.T.J. — 108 757

Assim, a partilha, acaso houves- de divórcio, não se aplica o óbice do


se bens do patrimônio comum, se- art. 325, VIII, do Regimento Interno,
ria objeto de deliberação posterior. fundamento do despacho agravado.
Não os havendo a repartir, a obje-
ção morre no nascedouro. O dissídio pretoriano não restou
Resta provado nos autos, por seu demonstrado, nos termos da Súmula
turno, Inexistir a alegada ação ali- 291.
mentida pendente. O promovente, Quanto ao fundamento da alínea a
por força de ação julgada em 6 de do permissivo constitucional, o apelo
novembro de 1974, foi obrigado a extremo sustenta negativa de vigên-
pensionar a apelante e filhos. Refe- cia do art. 336, do CPC, e arts. 6?, §
rido encargo vem sendo desconta- 2?, e 31, da Lei n? 6.515/1977.
do normalmente em folha de paga-
mento é, como natural, sujeito a No que concerne ao art. 336, do
oportuna revisão (art. 13, § 1?, da CPC, segundo o qual, salvo disposi-
Lei ri? 5.478/68), sem que dai resul- ção especial, as provas devem ser
te qualquer empeço á concessão da produzidas em audiência, não o vul-
dissolução do vínculo. nerou a sentença, confirmada pelo
No concernente à partilha, acórdão, quando teve como compro-
acrescente-se mais que, sobre ser vada a separação de fato do casal,
previamente desnecessária, não por mais de cinco anos, embora não
podia constituir a sua não realiza- houvesse inquirição de testemunhas
ção obstáculo à consumação de em audiência. E que autor e ré com-
uma situação de fato, representada pareceram à audiência designada,
pela interrupção da vida conjugal quando, perante o magistrado, rejei-
por mais de um lustro, para taram a oportunidade de reconcilia-
transformar-se em questão de di- ção, sendo certo que, proposta a
reito que refoge à matéria discuti- ação em 11-12-1979, o acórdão teve
da». em conta, também, o fato de a ação
Opostos embargos de declaração, de alimentos movida pela ora recor-
foram os mesmos rejeitados, unani- rente ter sido julgada em 6-11-1974,
memente, pelo acórdão de fls. 90/91. quando o recorrido já ficou obrigado
Negado seguimento ao apelo der- a pensionar a esposa e filhos, ano-
radeiro, ao fundamento de que o va- tando, ainda, o aresto que dito en-
lor dado à causa não alcançou a al- cargo vem sendo descontado, nor-
çada regimental (fls. 107), vieram os malmente, em folha de pagamento,
autos a este Tribunal, por força do sujeito a oportuna revisão sem que
provimento do Agravo de Instrumen- disso resulte empeço à concessão da
to n? 86.751-1/CE, em apenso. dissolução do vinculo. As declara-
ções por escrito, firmadas por um
Razões da recorrida às fls. 111/113, Juiz de Direito, um Promotor de
apresentando o recorrido as contra- Justiça e uma Advogada, todos resi-
razões de fls. 115/117. dentes em Fortaleza, onde procla-
E o relatório. mam de ciência própria saber que o
casal está separado de fato, desde
1970 (fls. 9, 10 e 11), bem assim a
VOTO circunstância de a ora recorrente
não haver contestado demanda, com
a conseqüência prevista no art. 319,
O Sr. Ministro Néri da Silveira do CPC, aplicável, também, às cau-
(Relator): Determinei a subida do sas de divórcio, possibilitando, inclu-
recurso, porque, tratando-se de ação sive, a Incidência do art. 330, II, do
758 R.T.J. - 108

mesmo diploma processual civil, tu- nem de conversão em divórcio da se-


do isso afasta a alegada ofensa ao paração judicial dos cônjuges, pois,
art. 336, do CPC. neste caso, conforme está no art. 31
da lei em apreço, não se decretará o
De referência aos arts. 7?, § 2,, divórcio se ainda não houver senten-
(por um lapso evidente referido ça definitiva de separação judicial,
como art. 6?, § 2? ), 31, da Lei ri? ou se esta não tiver decidido sobre a
6.515/1977, acerca da partilha de partilha dos bens. Também não ver-
bens do casal, o aresta proclamou sa a espécie sobre situação em que
(fls. 83/84): «no concernente à parti- já existia sentença de desquite, pois,
lha, acrescente-se mais que, sobre nessa hipótese, prescreve o art. 43,
ser previamente desnecessária, não da Lei n? 6.515/1977, se, na sentença,
podia constituir a sua não realização não tiver sido homologada ou decidi-
obstáculo à consumação de uma si- da a partilha dos bens, ou quando es-
tuação de fato, representada pela in- ta não tenha sido feita posteriormen-
terrupção da vida conjugal por mais te, «a decisão de conversão disporá
de um lustro, para transformar-se sobre ela».
em questão de direito que refoge
matéria discutida». De maneira precisa, escreveu
Yussef Said Cabala, em Divórcio e
Em entendendo que a partilha pré- separação, 2a ed. pág. 667, acerca
via de bens era desnecessária, no ca- dos efeitos patrimoniais, in verbis:
so, o acórdão não negou vigência ao
art. 31, da Lei ri? 6.515/1977, que re- «No divórcio — conversão, a so-
za: ciedade conjugal já se encontra ex-
tinta, presumidamente com parti-
«Art. 31. Não se decretará o di- lha já realizada.
vórcio se ainda não houver senten-
ça definitiva de separação judicial, Embora o art. 31 da lei especial
ou se esta não tiver decidido sobre houvesse estatuído que «não se de-
a partilha dos bens». cretará o divórcio se ainda não
houver sentença defintiva de sepa-
ração judicial, ou se esta não tiver
E que, em realidade, trata-se, decidido sobre a partilha dos
aqui, de ação de divórcio direto, ut bens», nada obsta a que a partilha
art. 40, do diploma em foco, na qual seja convencionada no acordo da
se deverão provar o decurso do tem- conversão consensual; caso em que
po de separação de fato, por mais de será igualmente homologada.
cinco anos, com início anterior a 28-
6-1977, e a sua causa, ut arts. 4?, 5? e No divórcio consensual, é de ri-
seus parágrafos, a teor do que dis- gor inserir-se na petição dos cônju-
põe o § 1? do mesmo art. 40, se- ges cláusula de acordo sobre a par-
guindo-se o procedimento ordiná- tilha dos bens; representa requisito
rio, de acordo com o § 3? do referido essencial do pedido, pois a partilha
artigo, vale dizer, a disciplina do há de ser homologada pela senten-
Titulo VIII do CPC (arts. 282-475). ça de divórcio (art. 40, § 2?, ri? IV),
e sem ela o divórcio não será ho-
Não se cogita, assim, de divórcio mologado; inadmissível a remessa
consensual, quando a partilha dos da partilha para Juízo posterior.
bens deverá ser homologada pela
sentença do divórcio, consoante pre- Na ação de divórcio, a sentença
vê o § 2?, IV, do art. 40 em exame, de desconstituição do vinculo nada

R.T.J. - 108 759

disporá a respeito, uma vez que a lha dos bens do casal se reserva ao
partilha é remetida ao Juízo da Juízo sucessivo da execução, consti-
execução; não havendo acordo, se- tuindo matéria estranha ao processo
rão observadas as disposições refe- de divórcio litigioso, de tal modo que
rentes ao inventário e à partilha do nem a inicial precisa indicar a pro-
direito sucessório, no que foram posta de partilha, nem a sentença
aplicáveis. que decreta a dissolução do vinculo
matrimonial precisa compor-se ne-
cessariamente com provimento a
Se o divórcio foi decretado com seu respeito» (op. cit., pág. 641/642).
remissão aos §§ 1? e 2? do art. 5?,
aplica-se a regra do art. 5? 3?; re- Do exposto, não há reconhecer ne-
verterão ao cônjuge que não teve a gativa de vigência dos arts. 31, 7?
iniciativa do pedido os remanes- e seus parágrafos, da Lei n?
centes dos bens que levou para o 6.515/1977, em não havendo o acór-
casamento, e, se o regime de bens dão exigido a prévia decisão sobre a
adotado o permitir, também a partilha dos bens ou a simultânea
meação dos adquiridos na constân- decisão sobre essa matéria na senten-
cia da sociedade conjugal. ça. Certo está que se reserva tal par-
tilha dos bens existentes para o
Juizo da execução.
Neste caso, é suficiente a decla-
ração pela sentença do pressuposto Assim sendo, não conheço do re-
do divórcio, determinando-se que, curso.
em execução, se faça a partilha
dos bens com a observância dos
termos da lei».
EXTRATO DA ATA
Noutro passo da mesma obra RE 97.191-CE — Rel.: Ministro Né-
(pág. 640), anota o autor referido: ri da Silveira. Recte.: Josinete Josi-
«Quanto a este último grupo (divór- no de Castro e Souza (Advs.: Cláudio
cio consensual e divórcio conversão,
na sua dúplice modalidade), a parti- Josino da Costa e outro). Recdo.:
lha há de ter sido previamente ho- Mauricio de Castro e Souza (Advs.:
mologada ou decidida, ou deverá ser Moacir Macedo de Albuquerque e
decidida ou homologada concorren- outro).
temente á sentença de dissolução do Decisão: Não se conheceu do Re-
vínculo matrimonial. Em relação ao curso Extraordinário. Decisão unâni-
divórcio direto litigioso, nenhuma me.
norma assim o determina: o art. 31,
combinado com o art. 43, visa espe- Presidência do Senhor Ministro
cificamente a conversão da separa- Rafael Mayer. Presentes à Sessão os
ção judicial ou do desquite em divór- Senhores Ministros, Néri da Silveira,
cio, sendo inaplicável, ainda que por Alfredo Buzaid e Oscar Corrêa. Au-
analogia, ao divórcio excepcional sente, justificadamente, o Senhor
disciplinado no capitulo das disposi- Ministro Soares Mufloz. Subprocu-
ções transitórias eis que diversos são rador-Geral da República, Dr. Fran-
os pressupostos que legitimam um e cisco de Assis Toledo.
outro institutos». Adiante, observa:
«na jurisprudência, vem prevalecen- Brasília, 1? de outubro de 1982 —
do este entendimento de que, na Antônio Carlos de Azevedo Braga,
ação ordinária de divórcio, a parti- Secretário.
760 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 97.280 — PR


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrente: Açúcar e Álcool Bandeirantes S/A — Recorrido: Instituto do
Açúcar e do Álcool — IAA.
Instituto do Açúcar e do Alceai. Contribuição do art. 36, 4 2?, b da
Lel n? 4.870. Sua legitimidade. Inexistência da bitributação, bem co-
mo de revogação pelo Decreto-lei n? 564/69.
Violação à Constituição não prequestionada.
Não se conhece do recurso extraordinário.
ACÓRDÃO meiros trinta dias de atraso, na sa-
tisfação do principal, importa verda-
Vistos, relatados e discutidos estes deiro confisco.
autos, acordam os Ministros da Pri- A decisão de 1? grau julgou proce-
meira Turma do Supremo Tribunal dentes os embargos, declarando ex-
Federal, na conformidade da ata do tinta a execução fiscal e insubsisten-
julgamento e das notas taquigráfi- te a penhora (fls. 116/7).
cas, por unanimidade de votos, em Interpôs apelação o IAA e houve
não conhecer do recurso extraordi- remessa oficial ao Eg. Tribunal Fe-
nário. deral de Recursos, que deu solução à
Brasília, 26 de agosto de 1983 — controvérsia, em Acórdão assim
Soares Mufloz, Presidente — Alfredo ementado:
Buzaid, Relator.
«Previdencifulo — contribuição
em favor do IAA — Lei n? 4.870/65
RELATORIQ e Decreto-lei n? 308/67 — multa
adicional.
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Trata-se de exação vinculada, de
Açúcar e Álcool Bandeirantes S/A natureza social, de índole parafis-
ajuizou ação de embargos, na forma cal, qualificando-se como contri-
do art. 736 do Código de Processo Ci- buição especial a ser aplicada em
vil, contra o Instituto do Açúcar e do beneficio dos trabalhadores indus-
Álcool, para eximir-se ao pagamento triais e agrícolas do setor canaviei-
de divida fiscal, relativa ao não re- ro, como domínio econômico.
colhimento de 1% sobre tonelada de Não há confundir-se o conceito
cana de açúcar entregue pelos forne- doutrinário dos institutos tributá-
cedores, para o Fundo de Assistên-
cia Social IAA, no mês de agosto de rios com a sua formulação nor-
1972. Sustenta que a incidência ca- mativo-juridica ou de direito posi-
racteriza bitributação, eis que legis- tivo, dimensão essa prevalecente.
lação posterior, planificando o plano
de assistência social no campo, afas- No constitucionalismo brasileiro
tou aquela contribuição e também a problemática da bitributação se
porque esta tem o mesmo fato gera- resolve em termos de competência
dor de outro tributo cobrado para o privativa; in casu, cuida-se de con-
IAA. Alega, ainda, que a multa de tribuições autônomas, decretadas
20%, por mês de atraso no -recolhi- por uma só e mesma entidade, no
mento sobre 50% de multa nos pri- circulo de sua competência consti-

R.T.J. — 108 761

tucional, o que exclui a existência Inconformada, recorre extraordi-


de bis in idem juridicamente con- nariamente, a Embargante, com
denável. fundamento no art. 119, inciso III,
Sobremulta de 20% revogada por alínea a da Constituição Federal
lei posterior. II — No mérito
Deu-se provimento parcial ao re- Não foram prequestionadas as
curso voluntário e à remessa ofi- matérias relativas à ofensa a Lei
cial, tida como interposta, para Maior e à negativa de vigência da
manter a cobrança, excluída dessa lei federal, menos nos Embargos, e
apenas a multa de 20%». (fls. 150). sequer no Acórdão recorrido. De se
Irresignado, Açúcar e Alcool Ban- aplicar, in casu, as Súmulas 282 e
deirantes S/A interpôs recurso ex- 356.
traordinário, com fundamento no Pelo não conhecimento do apelo
art. 119, III, letra a da Constituição extremo» ( fls. 325/326).
da República, alegando ofensa aos §§
2? e 4? do art. 153 daquela, bem co- Já estava escrito este relatório,
mo negativa de vigência do Decreto- quando a Associação dos Plantado-
lei n? 564/69, da Lei Complementar res de Cana do Paraná e outros re-
n? 11/71 e do art. 3? do Código Tribu- quereram, com fundamento no art.
tário Nacional (Lei n? 5.172/66). 50 do Código de Processo Civil, sua
intervenção no processo (fls. 253 e
Fez argüição de relevância, que seguintes). Mandei ouvir as partes
não foi processada, tendo o despacho (fls. 327). Manifestou-se favoravel-
de fls. 240/242 mandado seguir o re- mente o Instituto do Açúcar e do
curso sem a ela referir-se. Alcool (fls. 329). Admiti, pelo des-
Ouvida a douta Procuradoria-Ge- pacho de fls. 332, a intervenção.
ral da República, em parecer da la- E o relatório.
vra da il. Procuradora Edylcéa
Tavares Nogueira de Paula, aprova- VOTO
do pelo eminente Prof. Mauro Leite
Soares, DD. ,Subprocurador-Geral, O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re-
assim se manifestou verbis: lator): 1. Na presente causa susten-
ta o recorrente que o titulo executivo
«I — dos fatos se funda no art. 36, § 2? e letra b da
Açúcar e Alcool Bandeirantes Lei n? 4.870, de 1-12-65, combinado
S/A opôs Embargos à Execução com o art. 8? do Decreto-lei n?
Fiscal movida pelo Instituto do 308/67, que estabeleceram a contri-
Açúcar e do Álcool, julgados proce- buição de 1% (um por cento) sobre o
dentes pelo juizo monocrático. valor oficial da tonelada de cana en-
Em segundo grau, esta decisão Ora,tregue a qualquer titulo às usinas.
foi reformada, em parte, para: pela Lei n? 4.214, de 2 de feve-
reiro de 1963, foi criado o Fundo de
R... julgar procedente a execu- Assistência e Previdência do Traba-
ção excluindo da cobrança ape- lhador Rural (Funrural), de sorte
nas a multa adicional de 20% que cessou a obrigatoriedade do re-
prevista no art. 36, § 2?, segunda colhimento da referida contribuição.
parte da Lei n? 4.875/65, condena- Além disso é ilegal a multa de 20%
dos a embargante e embargado (vinte por cento) por mês, excedente
na honorária recíproca de 10% de trinta dias a ser acrescida de 50%
sobre os valores em que se su- (cinqüenta por cento) até o prazo de
cumbiram; custas, em proporção trinta dias, prevista no art. 36 da Lei
e ex lege» n? 4.875/65.
762 R.T.J. — 106

O Egrégio Tribunal Federal de Re- seria possível examinar e aprovar


cursos, em decisão da 5? Turma, de a multiplicação dos planos dos for-
que foi Relator o eminente Ministro necedores de cana».
Sebastião Alves dos Reis, houve por
bem reconhecer a legitimidade da 3. Açúcar e Alcool Bandeirantes
contribuição, excluindo, porém, a S/A., não se conformando com o v.
multa de 20% (vinte por cento) (fls. Acórdão da Egrégia 5? Turma do
150). O v. Acórdão negou, In casu, a Tribunal Federal de Recursos, inter-
bitributação, entendeu não aplicável pós recurso extraordinário, com fun-
à espécie o art. 77 do Código Tributá- damento no art. 119, III, a, alegando
rio Nacional e negou a revogação da ofensa ao art. 153, § 2? da Constitui-
contribuição. E concluiu, julgando ção da República e ao art. 2?, § 1? da
procedente a execução, mas ex- Lei de Introdução ao Código Civil.
cluída da cobrança a referida multa Com relação a esta norma, afirma
(fls. 142 e seguintes). que, com a edição do Decreto-lei n?
564/69, regulamentado pelo Decreto-
2. A questão, que acaba de ser lei n? 65.106/69, ficou revogada a
exposta já foi objeto de exame por norma do art. 36, § 2? da Lei n?
esta Turma, pelo menos duas vezes, 4.870/65 (fls. 156).
que me lembre, nos Recursos Ex-
traordinários n?s 99.013 e 99.156. De Ocorre que a norma constitucional
ambos foi Relator o eminente Minis- (art. 153, § 2?), em que assenta o re-
tro Soares Muiloz. Destaco a parte curso extraordinário, não foi pre-
do seu brilhante voto, que interessa questionada em nenhum lugar do v.
a esta causa: Acórdão. A única citação da Consti-
tuição da República refere-se ao art.
«Relativamente ao § 1? do art. 36 21, § 2?, a cujo respeito disse o emi-
da Lei n? 4.870, de 1965, o Acórdão nente Relator:
deixou de aplicar essa norma, por
se ter embasado no § 2? do mesmo «A luz dessa distinção, atento
art. 36, de incidência específica pa- aos fins pretendidos pela prestação
ra a espécie sub judIce e de natu- examinada e considerando a siste-
reza imperativa no sentido de que mática constitucional, em particu-
«as usinas ficam obrigadas a des- lar, o seu art. 21, § 2?, I, qualifico a
contar e recolher, até o dia 15 do exação enfocada como contribui-
mês seguinte, a taxa de que trata a ção especial e não imposto masca-
alínea b deste artigo (refere-se ao rado, observada a perspectiva ju-
art. 36), depositando o seu produto rídico-positiva adotada, independen-
em conta vinculada, em estabeleci- temente das formulações lógico-
mento indicado pelo órgão especifi- jurídicas ou técnico-doutrinárias»
co da classe dos fornecedores e à ( fls. 144/145).
ordem do mesmo».
Essa regra arredou da hipótese, Não tendo havido o prequestiona-
por ela regida a alternatividadé mento no v. Acórdão, nem tendo ofe-
permitida no § 1? e assim melhor recido o recorrente embargos decla-
correspondeu aos fins sociais da ratórios, incidem os Verbetes n?s
lei, que se esmaeceriam se cada 282 e 356 da Súmula.
fornecedor de cana, que somam a
vários milhares do Pais, pudesse Ante o exposto e acolhendo o pare-
aplicar, individualmente, as contri- cer da Procuradoria-Geral da Repú-
buições sociais destinadas a benefi- blica, não conheço do recurso.
ciar os trabalhadores; os recursos
seriam .pulverizados, e ao IAA não E o meu voto.
R.T.J. — 108 763

EXTRATO DA ATA me. Falaram pelo Recdo.: Dra. Ma-


ria Lúcia Luz Lacerda e como assis-
RE 97.280-PR — Rel.: MM. Alfre- tente Dr. Fernando Campos de Arru-
do Buzaid. Recte.: Açúcar e Álcool da.
Bandeirantes S/A. (Advs.: Gerson Presidência do Senhor Ministro
Marques da Silva Júnior e outros). Soares Murioz. Presentes à Sessão os
Recdo.: Instituto do Açúcar e do Ál- Senhores Ministros Rafael Mayer,
cool — IAA. (Adv.: Maria Lúcia Luz Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
Lacerda). Assistes. — Associação dos Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
Plantadores de Cana do Paraná e da República, Dr. João Boabaid de
outras. (Adv.: Fernando Campos de Oliveira Itapary.
Arruda).
Brasília, 26 de agosto de 1983 —
Decisão: Não se conheceu do re- Antõnio Carlos de Azevedo Braga,
curso extraordinário. Decisão unâni- Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL n? 99.008 —


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: José de Oliveira
Figueiredo.
Revisão Competência para o seu Julgamento. O art. 101,
3?, letra e, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional atribui à Se-
ção especializada dos Tribunais, integrada pelas Turmas e Câmaras
da respectiva área, a competência para processar e Julgar as revi-
sões criminais, não subsistindo norma regimental que disponha de
modo diverso. Prevalência da Lei Complementar. Inteligência do art.
115, Inc. III, da Constituição da República, e do art. 101, 3?, letra e,
da Lei Complementar n? 35/79. Precedentes. Recurso extraordinário
Provido.
ACÓRDÃO redo, a Seção Criminal do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Ja-
Vistos, relatados e discutidos estes neiro com amparo no art. 101, § 3?,
autos, acordam os Ministros compo- letra e, da Lei Orgânica da Magis-
nentes da Segunda Turma do Supre- tratura Nacional, confrontado com o
mo Tribunal Federal, á unanimidade art. 8?, I, do seu Regimento Interno,
de votos e na conformidade da ata houve por bem declinar de sua com-
do julgamento e das notas taquigrá- petência para o Grupo de Câmaras a
ficas, em dar provimento ao recurso que viesse ser distribuído o mencio-
nos termos do voto do Relator. nado feito (fls. 117).
Brasília, 18 de novembro de 1983 — Inconformado com essa decisão, o
Djaci Falcão, Presidente e Relator. Ministério Público interpôs o recurso
extraordinário de fls. 124 usque 133,
RELATÓRIO com base na letra a do permissivo
constitucional, alegando que o aresto
O Sr. Ministro Djaci Falcão: Na recorrido negou vigência ao art. 101,
apreciação da. revisão criminal re- § 3?, letra e, da Lel Orgânica da Ma-
querida por José de Oliveira Figuei- gistratura Nacional.
764 R.T.J. — 108

Admitido o apelo através do despa- fixadas na lei e no Regimento In-


cho de fls. 145-146 e após ser ins- terno.»
truído apenas com as razões de fls.
147-verso, vieram os autos a esta § 2? As Seções especializadas
Corte. Com vista à Procuradoria- serão integradas conforme dispos-
Geral da República, receberam pa- to no Regimento Interno pelas Tur-
recer favorável ao seu conhecimento mas ou Câmaras da respectiva
e provimento (fls. 154/156). área de especialização.
a)
VOTO b)
c)
O Sr. Ministro Djacl Falcão (Rela- d)
tor): O acórdão recorrido tomado e) as revisões criminais e ações
por maioria de votos, tem o seguinte rescisórias dos julgamentos de
teor: primeiro grau da própria Seção ou
«Competência. das respectivas Turmas».
Não se agridem, mas se com- Há assim duas designações sem
pletam o art. 101 § 3? letra e da definição própria «Turma», que
Lel Orgânica da Magistratura e o inexiste nos Tribunais Estaduais e
art. 8? n? I do Regimento Interno «Seção Especializada» que poderia
deste Tribunal que atribui aos até ser ratione materiae o que não
grupos a competência para Julga- corresponde à realidade tornando-
mento das revisões criminais. se como razoável a interpretação
de «Seção Civel» e «Seção Crimi-
Vistos, relatados e discutidos es- nal».
tes autos de Revisão Criminal n? Por sua vez o Regimento Interno
530 em que é requerente José de pelo seu art. 8? dá como privativo
Oliveira Figueiredo, sendo requeri- dos Grupos de Câmaras Criminais
da a Justiça. e julgamento.
Acordam os Desembargadores
por maioria contra os votos dos a) das revisões criminais e dos
Desembargadores Edgar Maria recursos dos despachos que indefe-
Teixeira — Gustavo Vale — Jesus rissem In limini quanto as conde-
A. Siqueira — Pires Albuquerque nações proferidas por Câmaras
em declinar de competência para o Criminais isoladas por Juízes dos
Grupo de Câmaras para o qual o Tribunais de 1? Instância.
processo for distribuído. Repare-se que a Lei maior «Lei
Se não impreciso pelo menos ne- Orgânica da Magistratura» atribui
buloso o dispositivo da lei comple- também aos Regimentos Internos
mentar n? 35 que determina com- o direito de atribuir competência
petência para o julgamento das re- tanto que se refere que ela será fi-
visões criminais. xada «na Lei e no Regimento In-
Assim é o mencionado artigo dis- terno».
põe, Assim o dispositivo é elástico e
Art. 101. «Os Tribunais compor- liberal pois do contrário afirmaria
se-ão de Câmaras ou Turmas espe- que a competência seria também
cializadas ou agrupadas em Ses- fixada pelo Regimento Interno
sões especializadas e a competên- «ressalvadas as disposições desta
cia das Câmaras ou Turmas serão lei».
R.T.J. — 108 765

Por conseqüência a lei não pro- III — elaborar seus regimen-


cura sobrepor-se ao Regimento In- tos internos e neles estabelecer,
terno mas com ele dividir a res- respeitado o que preceituar a Lei
ponsabilidade pela competência. Orgânica da Magistratura Nado-
Desta forma o Regimento Inter- nal, a competência de suas câ-
no ao atribuir a competência dos maras ou turmas isoladas, gru-
Grupos não aponta a Lei Comple- pos, seções ou outros órgãos com
mentar n? 35. A composição do funções Jurisdicionais ou admi-
setor criminal desse Tribunal re- nistrativas.'»
sume-se a Câmaras, Grupos e É ainda a Constituição Federal
Seção Criminal e desde que a Lei que no artigo 46 estabelece a hie-
não fala expressamente em Seção rarquia das leis e posiciona após
Criminal para o julgamento das re- as emendas constitucionais e pre-
visões o Regimento Interno poderá cedendo as leis ordinárias, as «leis
determinar a competência desse complementares à Constituição,
colegiado. dentre as quais indica a Lei Orgâ-
Anota-se por derradeiro que as nica da Magistratura Nacional
expressões «Turma» e «Seções Es- (cf. parágrafo único do art. 112,
pecializadas » são quase genéricas Const Federal) publicada em 14-3-
pois a lei sequer define textual- 79 e hoje em vigor.
mente sua composição, sendo que E, ainda, a Lei Maior, dispondo
a primeira (Turma) não se faz sobre os Tribunais Estaduais, con-
presente em nenhum colegiado dos fere atribuição aos Estados para
Tribunais do Pais, com exceção dos organizar sua Justiça, determinan-
Federais. do, porém, que assim o farão:
Nessa conformidade os dois dis- `observados os artigos 113 a 117
posivos se ajustam e se completam desta Constituição, a Lei Orgâni-
de forma a definir de modo mais ca da Magistratura Nacional e os
coerente e racional a questão da dispositivos seguintes»;
competência. A seu turno, a Lei Orgânica da
Rio de Janeiro, 21 de outubro de Magistratura Nacional, assim velo
1980 — (ass.) Ilegível — Presidente a dispor:
— Des. Fabiano Franco, Relator. 'Art. 95. Os Estados organiza-
rão a sua Justiça com obseivân-
Voto Vencido cia do disposto na Constituição
Data venia da douta maioria, en- Federal e na presente lei.'
tendemos que o art. 8?, I, do Regi-
mento Interno deste Tribunal de Art. 101. Os Tribunais com-
Justiça não se concilia com a Lei por-se-ão de Câmaras ou Turmas
Complementar n? 35, de 1979 — Lei especializadas ou agrupadas em
Orgânica da Magistratura Nacio- Seções especializadas. A com-
nal — senão, vejamos: posição e competência das Câma-
ras ou Turmas serão fixadas na
A Constituição Federal, no Ca- lei e no Regimento Interno.
pítulo VIII, que trata sobre o Po-
der Judiciário, estabelece verbis:

'Art. 115 Compete aos Tribu- § 3? A cada uma das Seções, ca-
nais: bera processar e julgar:
a)
766 R.T.J. — 108

e) as revisões criminais. tratura. E o que se deduz da regra


Observa-se, assim, que a Consti- fixada no art. 115, inc. III, da Consti-
tuição Federal manda obedecer a tuição.
Lei Complementar ri? 35 e esta, ao Deve prevalecer para o julgamen-
atribuir aos Tribunais a elabora- to das revisões criminais a Lei Orgâ-
ção de seus regimentos internos, nica da Magistratura Nacional (Lei
faz a ressalva de que deve ser Complementar n? 35/79) ao atribuir
observada esta lei. competência ao órgão mais alto na
Em conseqüência, o art. 8?, I, do estrutura da especialização crimi-
Regimento Interno, ao atribuir nal, e não o Regimento Interno do
competência aos Grupos de Câma- Tribunal, que no seu art. 8?, Inc. I,
ras para processar e julgar revi- letra a, atribui tal competência ao
sões criminais e os recursos que as Grupo de Cãmaras Criminais, órgão
indeferirem, quanto as condena- intermediário entre as Cãmaras Cri-
ções proferidas por Câmaras Cri- minais e a Seção Criminal.
minais isoladas, por juizes ou tri-
bunais de primeira instância, jul- Exata a exegese adotada no voto
gamos, permissa venta, incide na vencido do eminente Des. Edgar Tei-
inobservância da legislação com- xeira.
plementar apontada. E oportuno lembrar que a juris-
Não obstante tais conclusões, prudência desta Corte já se firmou
acatamos e respeitamos a decisão nessa diretriz (ver RE n? 97.713, re-
majoritária. lator o eminente Ministro Francisco
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro Rezek; RE n? 99.122, relatado pelo
de 1982 — Edgar Maria Teixeira. eminente Ministro Aldir Passarinho,
onde há invocação de vários prece-
Voto Vencido dentes; RE n? 98.434, relatado pelo
Subscrevemos, data venta da eminente Ministro Oscar Corrêa).
douta maioria, as razões do lapi- Ex positis dou provimento ao re-
dar voto do eminente Des. Edgar curso, para anulando o acórdão re-
Maria Teixeira. corrido determinar o julgamento da
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro revisão criminal pela Seção Crimi-
de 1982 — Des. Gustavo do Vaile. nal do Egrégio Tribunal de Justiça.
( ass ) Ilegível — (ass ) Ilegível, de
acordo com o voto supra» ( fls. 117 EXTRATO DA ATA
a 122).
Afigura-se-me correta a afirmação
de que o aresto recorrido negou vi- RECr. 99.008-RJ — Rel.: Min. Dja-
gência ao art. 101, 3?, letra e, da ci Falcão. Recte.: Ministério Público
Lei Orgânica da Magistratura Nacio- Estadual. Recdo.: José de Oliveira
nal, onde se estabelece a competên- Figueiredo ( Advs.: Antônio Teixeira
cia da seção especializada (seção Coelho e outro).
criminal) para processar e julgar as Decisão: Conhecido e provido nos
revisões criminais. termos do voto do Ministro Relator.
Não há dúvida de que aos Tribu- Unânime.
nais locais cabe fixar a competência
de seus órgãos jurisdicionais e admi- Presidência do Senhor Ministro
nistrativos, respeitando, porém, os Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
preceitos constitucionais e aqueles Senhores Ministros Moreira Alves,
inseridos na Lei Orgânica da Magis- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
R.T.J. — 108 767

Francisco Rezek — Subprocurador- Brasília, 18 de novembro de 1983 —


Geral da República, Dr. Mauro Leite Hélio Francisco Marques, Secretá-
Soares. rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 99.265 — RS


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: Inésio João Mombach — Recorrido: Ministério Público Es-
tadual.
Recurso extraordinário criminai.
Não fica prejudicado o recurso em sentido estrito cujas razões,
apresentadas tempestivamente, só se juntam aos autos após o prazo
Recurso extraordinário de que não se conhece, por falta de condi-
ções de admissibilldade.
Concessão de habeas corpus de oficio, para que o tribunal de ori-
gem enfrente o mérito do recurso que lhe foi dirigido.
ACORDAO à unanimidade de votos, não co--
nheceu do recurso em sentido es-
Vistos, relatados e discutidos estes trito, cujo escopo era a reforma de
autos, acordam os Ministros da Se- decisão de pronúncia.
gunda Turma do Supremo Tribunal Os fundamentos do recurso ex-
Federal, de conformidade com a ata tremo podem ser assim resumidos:
de julgamentos e as notas taquigráfi-
cas, à unanimidade de votos, não co- negativa de vigência ao ar-
nhecer do recurso, todavia conceder tigo 575 do Código de Processo
habeas corpus de ofício, nos termos Penal e
do voto do Ministro Relator. dissídio jurisprudencial ( fls.
Brasília, 21 de outubro de 1983 — 159/165).
piaci Falcão, Presidente — O acórdão impugnado não conhe-
Francisco Rezek, Relator. ceu do recurso em sentido estrito
porque as razões deste teriam sido
RELATORIO apresentadas a destempo. Sua
ementa tem o seguinte teor:
O Sr. Ministro Francisco Rezek: O «Recurso em sentido estrito.
Subprocurador-Geral da República — Por ser recurso de retrata-
Francisco de Assis Toledo, opinando ção, é indispensável que o recor-
pelo Ministério Público, expõe a con- rente dê ao autor da sentença as
trovérsia: razões pelas quais entende que
«Recurso extraordinário inter- deva ser reformada. Dai porque
posto por Inésio João Mombach, o artigo 588 do CPP exige que se-
cbm fulcro, no artigo 1i III, a e d, jam oferecidas, e asud isPense ar
da Constituição Fedeãal, contra -tigo601quandser p-
acórdão da egrégia 2! Camara Cri- lação.
minal do Tribunal de Justiça do — A intempestividade das ra-
Estatici'do Mio Grande dtiSul, que, zões equivale à sdatfalta.
788 R.T.J. — 108

— Recurso não conhecido» Além disso, tais razões enseja-


(fls. 151). ram, ao contrário do que faz supor
o acórdão, o despacho de confirma-
Não logrou o recorrente demons- ção da decisão recorrida, que pode
trar, quantum satis, a divergência ser lido a fls. 145/145v..
jurisprudencial, eis que traz a co-
tejo dois arestos: um do próprio Despicienda, portanto, no caso
Tribunal de Justiça do Rio Grande em foco, qualquer discussão a res-
do Sul, que não se presta à com- peito do conhecimento do recurso
provação de dissídio, nos termos em sentido estrito desacompanha-
da Súmula 369 dessa Excelsa Cor- do de razões, uma vez que estas fo-
te. Outro, do Supremo Tribunal, ram oportunamente oferecidas.
refere-se à irretratabilidade do re- Cerceou, portanto o acórdão re-
curso interposto pelo Ministério corrido o direito de ampla defesa
Público, o que evidentemente não do réu, com os recursos a ela ine-
se coaduna com a hipótese dos au- rentes, assegurado pelo art. 153,
tos, que é de recurso cuja desistên- 15, da Constituição, além de negar
cia seria admissivel. vigência ao art. 575 do CPP.
A menção à Revista Trimestral Por todo o exposto, somos pelo
de Jurisprudência n? 82/397 sem, não conhecimento do recurso ex-
ao menos, transcrever-se a ementa traordinário, mas, aplicando-se o
do julgado, não viabiliza o conheci- disposto no artigo 193, II, do Regi-
mento do recurso extraordinário mento Interno, pela concessão de
fundado na letra d do permissivo habeas corpus de oficio para, cas-
constitucional. sado o acórdão de fls. 151/153,
determinar-se ao Tribunal o julga-
Por outro lado, o art. 575 do CPP mento do recurso em seu mérito.»
não foi prequestionado no acórdão ( fls. 215/218).
nem se cuidou de sanar a omissão 2 o relatório.
por via de embargos de declaração
(Súmulas 282 e 356).
VOTO
Assim, não merece a nosso ver,
conhecimento o recurso em exame.
O Sr. Ministro Francisco Rezek
Todavia, não se pode negar que (Relator): Não há o que de relevante
as razões do recurso em sentido es- acrescentar ao parecer transcrito
trito foram apresentadas tempesti- Está claro que o apelo extremo
vamente, apesar de sua juntada não reúne condições de admissibili-
ter ocorrido depois. dade. Não obstante, reconhecendo no
Com efeito, no dia 20 de agosto caso os pressupostos regimentais da
de 1981, foi aberta vista dos autos concessão do babeis corpus de ofi-
para que fossem oferecidas as ra- cio, concedo-o, tal como proposto pe-
zões em causa ( fls. 126). lo Ministério Público.
Assim, o prazo de dois dias do EXTRATO DA ATA
art. 588, para o seu oferecimento,
teve inicio no dia 21-8-81, sexta-
feira. Termo ad quem foi, pois, o RECr. 99.265-RS — Rel.: Min.
dia 24-8-81, segunda-feira, data da Francisco Rezek. Recte.: Inésia João
efetiva entrega das tidas razões Mombach (Advs.: Paulo Roberto
em cartório, consoante certidão de Lessa Frans e outros). Recdo.: Mi-
fls. 128. nistério Público Estadual.

R.T.J. — 108 769

Decisão: Não conheceram do re- Decio Miranda, Aldir Passarinho e


curso, todavia foi concedido habeas Francisco Rezek. Subprocurador-
corpus de ofício nos termos do voto Geral da República, Dr. Mauro Leite
do Relator. Unânime. Soares.
Presidência do Senhor Ministro Brasília, 21 de outubro de 1983 —
Djaci Falcão. Presentes à Sessão os Hélio Francisco Marques, Secretá-
Senhores Ministros Moreira Alves, rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 99.332 — BA


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrentes: Paes Mendonça S/A — Recorrido: Estado da Bahia.
ICM — Não incidência sobre mercadoria (bacalhau) importado
de país signatário do GATT. Interpretação acolhida no Tribunal: ha-
vendo isenção, não é licito, na operação subseqüente, cobrar o valor
do imposto, que seria devido, não fora a isenção tributária.
Recurso extraordinário conhecido e provido.
ACORDA° O venerando acórdão de fls.
91/95, reformando a respeitável
Vistos, relatados e discutidos estes sentença de 1? grau, deu provimen-
autos, acordam os Ministros da Pri- to parcial à apelação interposta pe-
meira Turma do Supremo Tribunal la Fazenda Estadual, para que a
Federal, na conformidade da ata do segurança se restringisse à decla-
julgamento e das notas taquigráfi- ração de que é indevida a cobran-
cas, por unanimidade de votos, em ça do imposto na entrada da mer-
conhecer do recurso e dar-lhe provi- cadoria no País, mas não na sua
mento. saída do estabelecimento comer-
Brasília, 14 de fevereiro de 1984 — cial.
Soares Mufloz, Presidente — Oscar
Corrêa, Relator. Inconformadas, ambas as partes
recorreram extraordinariamente,
RELATORIO com fulcro no art. 119, III, letras a
e d do permissivo constitucional,
argüindo igualmente a relevância
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: O r. da questão federal.
despacho de fls. 137/138, do Exmo.
Presidente do C. Tribunal de Justi- A impetrante sustenta ( fls.
ça, assim resumiu a espécie: 96/1(0) violação dos artigos 44, I e
«Trata-se de mandado de segu- 23 da CF e 98 do CTN, além de
rança, impetrado por Paes Men- dissídio Jurisprudencial, indicando
donça S.A., contra a Fazenda Pú- como contrariadas decisões de Ex-
blica Estadual, no qual se busca o celso Pretório. Por sua vez, ( fls.
reconhecimento da inexigibilidade 132/134), argüi à Fazenda Pública
do pagamento de ICM, nas saldas a infringência do artigo 1?, II, do
de bacalhau importado de Países Decreto-lei n? 406/68, não apontan-
signatários do GATT — General do, contudo, quanto à letra D, qual-
Agreement on Tarifs and Trade. quer julgado divergente».
770 R.T.J. — 108

2. O v. acórdão recorrido recebeu ( idem ). Ajusta-se à presente decisão


a seguinte Ementa (fls. 91/92): a jurisprudência compendiada na
Ementa: Mandado de Segurança Súmula 576 do STF.
preventivo objetivando a declara- Suscitada pela recorrida, ao ser
ção de não incidência do ICM na proclamado o resultado do Julga-
revenda do bacalhau importado de mento, o problema do crédito tri-
pais signatário do GATT. Discus- butário presumido, face ao princi-
são ampliada, no curso da lide, pio da não cumulatividade do tri-
abrangendo também a hipótese da buto em causa.
cobrança do tributo estadual na en- Pronta impugnação do Procura-
trada daquela mercadoria. dor da Fazenda Estadual. Conside-
Sentença proclamando que «es- rada pela turma impertinente a
tando a entrada da mercadoria matéria e, pois, estranha ao julga-
isenta do ICM, do mesmo modo o mento, eis que não prequestionada
estaria na saída, que correspon- nos autos».
dem ambas as operações a ciclos Indeferiu-se o recurso do impe-
naturais da sua circulação». Invo- trado e deferiu-se o do impetrante,
cadas pelo douto Juiz a Súmula que argüiu, outrossim, a relevância
575, do STF e o acórdão proferido da questão federal (fls. 99/100).
pela 1? Turma do excelso pretório O agravo de instrumento do
no RE n? 79.622/58 (RTJ 79/510- impetrado — ora Recorrido — foi de-
515). negado e a argüição de relevância
Apelação da Fazenda Estadual não foi conhecida (informação de fls.
sustentando a incidência do tributo 51 do apenso).
tanto na entrada como na salda do 5. Ouvida a douta Procuradoria-
bacalhau importado. Provimento Geral da República, em parecer da
parcial do recurso, acolhendo-se a ilustre Procuradora Edylcéa Tava-
postulação da recorrente no tocan- res Nogueira de Paula, opinou pelo
te à comercialização interna da conhecimento e provimento do re-
mercadoria em foco, eis que o curso (fls. 153/155).
mesmo ocorre relativamente ao E o relatório.
produto similar nacional. Inaplica-
bilidade à hipótese da norma do
GATT invocado pela impetrante. VOTO
A não incidência do ICM na en-
trada da mercadoria importada as- O Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re-
senta genericamente no inciso XIII lator): Como se viu do Relatório,. o v.
do art. 4? do RICM e especifica- acórdão recorrido concluiu pela. não
mente no inciso XLVII, letra b do incidência do ICIVI na entrada da
mesmo dispositivo, razoavelmente mercadoria, mas considerando-a le-
compreendido. gitima na salda do produto (flã. 92).
Conquanto a fixação da aliquota Argumenta o v. acórdão (fls.
zero na tarifa aduaneira não confi- 92/94):
gure, em sua conceituação jurídi-
ca, uma modalidade de isenção tri- «Conquanto, a rigor, a presente
butária (cf. RTJ 77/4285-289 — deci- segurança, preventivamente impe-
são do plenário do STF retificando trada, objetivasse precipuamente
o entendimento firmado no acór- impedir a cobrança, pelo Fisco Es-
dão invocado pela sentença), à tadual, do ICM relativamente ao
mesma equivale em•seus -efeitos bacalhau importado da Espanha,

R.T.J. — 108 771

país integrante do GATT, pela im- se esclarecerá, a não incidência do


petrante, quando de sua comercia- imposto estadual quando da entra-
lização interna, ao fundamento de ta do bacalhau importado no esta-
que tal seria a conseqüência im- belecimento do impetrante.
postergável do beneficio fiscal usu- Tendo o Julgamento do presente
fruído por aquela mercadoria na recurso sucedido na pauta ao da
órbita federal — a aliquota zero da Apelação Cível n? 320/79, versando
tarifa aduaneira — verifica-se, a mesma questão e tendo como re-
contudo, não só pelos termos da lator o mesmo Juiz, idênticas são
inicial como, sobretudo, da impug- as razões da decisão aqui adotadas
nação oferecida pela Fazenda Es- e resumidas.
tadual, tanto na primeira como
nesta segunda instância, que, em Considerou, de acordo com o
verdade a discussão (a IltIseon- mais recente e vitorioso entendi-
testatlo) estende-se também à exi- mento do Supremo Tribunal Fede-
gibilidade do referido tributo quan- ral (RE n? 81.074-SP — decisão do
do de sua entrada no estabeleci- Pleno, In RTJ, v. 77/285-289; idem
mento importador. RTJ — 75/302 e 311; 78/232; 79/142;
Argumenta a impetrante que 82/532 e 535, etc.) que, «não consti-
«em se tratando de produto impor- tuindo isenção do imposto a atri-
tado do exterior, o fato gerador do buição a determinada mercadoria,
ICM ocorre na entrada do produto na tarifa aduaneira, da aliquota ze-
m seu estabelecimento (Decreto- ro, dela não resulta isenção do im-
éi 406, art. 1?, 11), sendo, por- posto estadual» (RTJ 77/285), des-
tanto, ilegítima a pretenSão do Fis- cabe invocar para a solução do ca-
po estadual de entir o tributo na so a ¡ Súmula 575, mas a de n? 576,
respectiva saída, quando(ambas as do STF.
operações' (entrada e salda) , tor- wao pouco ocorre a hipótese pre-
respondem a ciclos, riflais da cir- vista na parte Ilwart. 111, f 2? do
culação da mercadó,fa «o que GAITT, eis quer ‘ produto similar
ria aviar,&aves desriteeedimen- nacional não goza . de isenção do
to artificioso; a Isenção outorgada ICM em sua comercialização inter-
por lei» (cf. Inicial). na no Estado da Bahia, mas ape-
Replica (impugnação — passim) nas na sua venda para o exterior
porém, a Fazenda que «falsa e en- (RICM art. 4?, item XXV).
ganosa é a alegação de que se tra- Daí porque se tem como legitima
ta de produto importado isento, a pretensão da Fazenda Estadual
sustentanto mais que «ainda que relativamente à saída do produto«
assim fosse, devido seria o imposto
quando da saída do produto, por- Quanto à não incidência do ques-
quanto se trata de fatos gerado- tionado tributo na sua entrada pa-
res diversos e distintos, consigna- ra o estabelecimento importador,
dos tanto na legislação federal tem-se a mesma como decorrente
(Decreto-Lei n? 406/68 — art. 1?, I não só do benefício outorgado no
e II) como na estadual (Lei n? âmbito federal (alíquota zero) que,
3.138, RICM — art. 1?, I e II, etc.). embora não importando isenção
tributária, em sua correta conca'.
Ante esse desdobramento da lide tuação Jurídica, produz para estes
1o1 que a turma çonsiderou pafcial fins (como o ora considerado) efei-
O provimento do. recurso, uma vez tos análogos tal como firmado na
que. eâtendeu prevalecer, nas cir- Já mencionada decisão do STF no
cunstâncias do caso, como adiante RE n? 81.074 (RTJ v. 77/825-289),
772 R.T.J. — 108

mas também mediante aplicação nata (art. 44, I da CF), nem recusan-
razoável do inciso XLVII, letra b, do a prevalência deles sobre a legis-
do art. 4? do RICM baiano, tal co- lação interna.
mo o entende o digno e culto juiz a
quo, sem cometer qualquer heresia 3. Quanto à letra d, contudo, a di-
hermenêutica, pois, em última vergência se configura com os para-
análise, o bacalhau salgado, tal co- digmas invocados.
mo é importado (além de víscera- Se o v. acórdão recorrido analisa,
de e descabeçado) não perde a sua com segurança, alguns aspectos da
qualidade do pescado natural, só questão, na linha da jurisprudência
porque o processo de sua conserva- da Corte, dela se aparta quando de-
ção não é o resfriamento. Este, creta a incidência da cobrança na
contudo, não foi o argumento pre- saída do bacalhau do estabelecimen-
valecente na presente decisão, mas to do recorrente.
o de que a não tributação estadual
na entrada da mercadoria impor- Com efeito, a incidência dar-se-ia
tada e beneficiada com a alíquota na entrada do bacalhau importado.
zero da tarifa aduaneira, não re- Em virtude, entretanto, da similari-
percutia nas demais etapas do pro- dade com o produto nacional, que
cesso circulatório desse mesmo não paga este tributo, decretou-se a
produto, salvo quando o similar na- isenção.
cional goze de tal isenção, o que
não ocorre no caso sub judice. Isenta, portanto, a entrada da
mercadoria no estabelecimento, não
Procede, no particular, a argu- há cobrar o ICM, na salda, se não
mentação da douta Procuradoria ocorreu o fato gerador — que é a
Fiscal. Se, entretanto, também operação de circulação de merca-
vingasse a sua pretensão de que o dorias.
tributo incide, por igual, na entra-
da da mercadoria, claro está que a Como no RE n? 85.085, citado na
incidência posterior recairia ape- petição de extraordinário, Relator o
nas sobre o valor agregado, em Exmo. Ministro Cunha Peixoto (RTJ
virtude do princípio da não cumu- 82/566):
latividade inerente à sistemática «E que, o fato gerador do tributo
do direito tributário brasileiro». é a circulação da mercadoria e não
2. A essa fundamentação opõe-se será entrada ou saída do estabele-
a Recorrente, argumentando que, cimento da empresa. Estes mo-
com isso, foram violados os artigos mentos são tomados apenas como
23, II e 44, I, da Constituição Federal ponto de referência para efeito de
e artigo 98 do CTN, «porquanto obs- exteriorização da circulação da
tou a incidência das normas con- mercadoria, e conseqüentemente
substanciadas no GATT, cuja aplica- marcar o instante do nascimento
ção no Território Nacional decorrerá da obrigação fiscal pela ocorrência
de lei federal» (fls. 96). do fato gerador do tributo».
Ora, tais dispositivos não foram Relativamente ao bacalhau, invo-
prequestionados na v. decisão recor- ca o Recorrente decisões da Corte,
rida, que examinou a causa em fun- na linha da isenção da cobrança (fls.
ção do Decreto-Lei n? 406/68 e do Re- 97), decisões que se confirmam em
gulamento de ICM do Estado da Ba- jurisprudência recente (RE n? 99.860
hia, não importando em exame da — DJ de 20-5-83, no qual outros se
competência para resolver sobre tra- invocam; e RE n? 99.491, por nós re-
tados, convenções e atos internado- latado, em 15-8-1983).
R.T.J. — 108 773

A prevalecer a tese do v. acór- nada na Corte, bastando citar os pro-


dão recorrido, burlar-se-ia isenção, nunciamentos que se lêem no RE n?
se, prevalecendo na entrada, se co- 83.428 — Relator o Exmo. Ministro
braria, na salda, o imposto. Cordeiro Guerra (RTJ 77/981) e no
O fato gerador, no caso, é o previs- RE n? 82.509 — Relator o Exmo. Mi-
to no artigo 1?, II do Decreto-Lei n? nistro Moreira Alves (RTJ 78/266),
406/68: que, longamente, a analisaram.
«II — a entrada, em estabeleci- Repita-se, por exemplo, esta pas-
mento comercial, industrial ou pro- sagem do voto do Exmo. Ministro
dutor, de mercadoria importada do Moreira Alves, neste último Julga-
exterior pelo titular do estabeleci- mento:
mento». «Não basta, portanto, que se dê
Ora, isenta esta operação do ICM, ao produto estrangeiro o mesmo
nos termos, inclusive, do RICM do tratamento direto que se dá ao na-
Estado da Bahia (Decreto n? 25.750, cional; assim, no caso, isenção do
de 29-7-77) e do GATT, não há pre- ICM na salda de mercadorias do
tender cobrá-lo na salda, se este não estabelecimento comercial, indus-
é, na hipótese de mercadoria impor- trial ou produtor, hipótese comum
tada, o fato gerador previsto na lel; aos produtos de ambas as proce-
como, aliás, sumulou a Corte no ver- dências. E preciso que, mesmo in-
bete 577: «Na importação de merca- diretamente, não se dê tratamento
dorias do exterior, o fato gerador do mais benéfico às mercadorias na-
ICM ocorre no momento de sua en- cionais, como inequivocamente su-
trada no estabelecimento do impor- cede com a cobrança do ICM — o
tador». que não se verifica com o produto
Estar-se-ia reconhecendo a nacional similar — pela entrada da
isenção, por um lado, e recusando, mercadoria importada. Aqui, indu-
por outro; e dando-lhe tratamento di- bitavelmente, a igualdade de trata-
ferente do deferido ao similar nacio- mento, no comércio interno (e isso
nal. porque não se trata de imposto de
Vale transcrever trecho do r. des- importação, mas imposto de circu-
pacho que deferiu o recurso extraor- lação de mercadoria já entrada no
dinário do ora Recorrente (fls. pais), deixa de existir em face do
137v.): tratado-contrato que é o GATT. E
isso porque o quantum do ICM pa-
«Efetivamente, a interpretação go pela entrada, no estabelecimen-
que o egrégio Supremo Tribunal to, do produto importado (quantum
Federal vem dando ao artigo III, § inexistente em se tratando de mer-
2? da Parte II, do GATT, não com- cadoria nacional), ou vai ser
porta discriminação entre as eta- acrescentado ao preço do produto
pas correspondentes á entrada da importado (o que o desfavorece em
mercadoria no Pais e sua circula- face do similar nacional), ou, para
ção no mercado interno. Ao contrá- que isso não ocorra, será suporta-
rio, até em observância a expressa do pelo comerciante, o que tam-
menção de tal dispositivo, entende bém redunda em desfavor da mer-
abrangida pela obrigatoriedade de cadoria estrangeira, por tornar seu
tratamento idêntico ao similar na- comércio menos compensador.
cional toda a circulação do produ- Por isso mesmo, o já referido
to».
art. III da Parte II do GATT, em
6. Essa matéria tem sido, aliás, seu item I, veda discriminação le-
em inúmeras oportunidades, exami- gislativa direta ou indireta, no ter-
774 R.T.J. — 108

ritório nacional, de produto impor- Noruega, país signatário do GATT )


tado de outra Parte Contratante. leva à impossibilidade de se cobrar
Reza esse dispositivo: na operação seguinte o tributo, sem
o que estaria violado o principio da
«1. Os produtos de qualquer não cumulatividade. Assim tem deci-
Parte Contratante importados no dido a Corte Suprema: RE n? 97.541-
território de outra Parte Contra- 1-SP, Relator Ministro Moreira Al-
tante serão isentos da parte dos ves, publ. no DJU de 30-9-83, pág.
tributos e outras imposições in- 14.966, RE n? 98.813-1-RJ, Relator
ternas de qualquer natureza que Ministro Alfredo Buzaid, publ. no
excedam aos aplicados, direta ou DJU de 8-4-83, pág. 4.153, ERE n?
indiretamente, a produtos simila- 97.434-2-SP, Relator Ministro Djaci
res de origem nacional». Falcão, publ. no DJU de 5-8-83, pág.
E conclui: 11.249, RE n? 97.458-0-RS, Relator
«Na espécie, o que se tem de in- Ministro Alfredo Buzaid, publicado
terpretar não é a norma que conce- no DJU de 5-8-83, pág. 11.249, RE n?
deu isenção do ICM a determinado 99.908-6-RS, Relator Ministro Rafael
produto nacional, mas o tratado Mayer, publicado no DJU de 5-8-83,
que impede a discriminação, ainda pág. 11.251 e ERE n? 94.177-1-SP, Re-
que indireta, entre o produto es- lator Ministro Djaci Falcão, publica-
trangeiro e o similar nacional. E do no DJU de 10-12-82, pág. 12.790».
com base na interpretação deste
que não se aplica, às mercadorias Nestes termos, conheço do recurso
que por ele estão protegidas, a le- e dou-lhe provimento.
gislação federal ou estadual que, E o votdr
genericamente, estabelece que a
entrada de produto importado em EXTRATO DA ATA
estabelecimento comercial, indus-
trial ou produtor é fato gerador RE 99.332-BA — Min. Oscar
do ICM. E, na interpretação do Corrêa. Recte.: Paes Mendonça S.A.
tratado-contrato (o que vários au- (Adv.: Luiz Paulo Lôbo de Assun-
tores, como Néri, Sull'Interpreta- ção). Recdo.: Estado de Bahia.
zione dei Trattati nel Diritto Inter- (Advs.: Ricardo Cesar Mandarino
nazionale, pág. 50 e segs., Milano, Barretto e Pedro Augusto de Freitas
1958, entendem aplicável também Gordilho).
aos tratados—leis ou tratados nor-
mativos), o que se leva em conta, Decisão: Depois do voto do Minis-
sem restrições, é a vontade co- tro Relator que conhecia e dava pro-
mum das partes contratantes, já vimento ao recurso, o julgamento foi
que se trata de um negócio jurídico adiado a pedido do Presidente.
bilateral».
Presidência do Senhor Ministro
7. Nesta linha, outras decisões, Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
citadas pelo Recorrente (fls. 97/99), Senhores Ministros, Rafael Mayer,
além de precedentes de Tribunais Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
Estaduais (fls. 101/124). sente, licenciado, o Senhor Ministro
Alfredo Buzaid. Subprocurador-
Nesse sentido, aliás, ppinou a dou- Geral da República, Dr. Francisco
ta Procuradoria-Geral da República, de Assis Toledo.
invocando precedentes da Corte,, ci-
tando os RREE n's 99.860, 100 Brasília, 29 de novembro de 1983 ---
99.491 e salientando que «essaken- António Carlos
Carlos de Azevedo Braga.
Cão (de importação de bacalhá.i da
R.T.J. — 108 775

PEDIDO DE VISTA entrada da mercadoria no estabele-


cimento da importadora. Negar a
O Sr. Ministro Soares Muãoz: isenção sobre a operação seguinte
Trata-se de bacalhau importado da ofenderia o princípio constitucional
Espanha, pais signatário do GATT. da não cumulatividade, como já se
O acórdão recorrido reconheceu a salientou.
isenção sobre a entrada da mercado- Acompanho, pois, o eminente Mi-
ria no estabelecimento do importa- nistro Oscar Corrêa para conhecer
dor, ora recorrente, mas indeferiu a do recurso extraordinário e dhr-Ihe
regalia sobre a saída, através da re- provimento.
venda ao consumo interno.
A distinção, no entanto, entre a en- EXTRATO DA ATA
trada e a saída contraria a jurispru-
dência do. Supremo Tribunal Fede-
ral, segundo a qual tais atos inte-
gram a circulação da mercadoria RE 99.332-BA — Rel.: Ministro Os-
(fato gerador do ICM), de sorte que, car Corrêa. Recte.: Paes Mendonça
isento o primeiro, não é possível co- - S.A. (Adv.: Luiz Paulo Ltitto de As-
brar o ICM sobre o segundo, sem sunção). Recdo.: Estado da Bahia.
violação do principio constitucional (Advs.: Ricardo Cesar Mandarino
da não cumulatividade. Barretto e Pedro Augusto de Freitas
Gordilho).
Quanto à isenção do ICM sobre o Decisão: Conheceu-se do recurso
bacalhau, acerca da qual nutro dúvi- extraordinário e se lhe deu provi-
das, a jurisprudência de ambas as mento. Decisão unânime.
mas do sootemo Tribunal Fede- Presidência do Senhor Ministro
a tem reanhecido, Inclusive em Soares Muüoz.,tPresentes à ~São os
gabes recentes, como deinonstrou Senhores Ministros, Rafael- Mayer,
enéminente Relator no seu douto vo- Alfredo Buzaid, Néri da Silveira é
to, Oscar Corrêa. Subprocurador-Gera
Sobreleva notar que o acórdão re- da República, DTP Francisco de As-
corrido transitou em julgado em re- sis Toledo.
lação à Fazenda Estadual e, em con- Brasília, 24 de fevereiro de 1984 —
seqüência, não é mais suscetível de António Carlos de Azevedo Braga,
discussão a isenção do ICM sobre a Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 99.407 — PR


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrentes: Wilson Mattar e sua mulher — Recorridos: Abraão Atem e
sua mulher.
Ação ordinária, para rescisão de contrato particular de promessa
de compra e venda de imóvel, Irrevogável e Irretratável, com cláusu-
la reálutiva, e não inácrito no registro imobiliárki. Desnecesiddade
da iiitêtpelacilo judicial. Sua procedência. Inexiatência de negativa de
vigência ati'direito positivo. Dissídio jurisprudencial não comprovadd.
Rediria) extraordinário Mio conhecido.
776 R.T.J. — 108

ACORDA() do Estado do Paraná, por unanimi-


dade de votos, adotado como parte
Vistos, relatados e discutidos estes Integrante deste o relatório exposi-
autos, acordam os Ministros Compo- tivo de fls., negar provimento ao
nentes da Segunda Turma do Supre- agravo e à apelação.
mo Tribunal Federal, á unanimidade 2. Assim decidem tendo em vis-
de votos e na conformidade da ata ta que o Decreto-Lei n? 745/69, só
do julgamento e das notas taquigrá- se aplica aos contratos de compro-
ficas, em não conhecer do recurso. misso de compra e venda de imó-
Brasília, 7 de outubro de 1983 — veis — loteados ou não,— desde
Djacl Falcão, Presidente e Relator. que inscritos no Registro de Imó-
veis competente.
RELATORIO No caso de compromisso de com-
pra e vénda um apartamento urba-
O Sr.Mlnlstro DOM Falcão: Trata- no, com cláusula resolutiva expres-
se de ação declaratória de rescisão sa, estabelecida por pacto comissó-
cumulada com reintegração de pos- rio, nos precisoá termos do art.
se, objetivando a resilição do contra- 1.163 do Código Civil, não inscrito
to particular de promessa de compra no Registro de Imóveis competen-
e venda de apartamento, irrevogável te, — diante de inequívoco atraso
e irretratável, além de conter cláu- no pagamento de duas (2) presta-,
sula resolutiva. ções vencidas de acordo com o
Os réus ora recorrentes, ao con- pactuado, dispensável as providên-
testarem a ação requereram, preli- cias exigidas pelo Decreto-Lel n?
minarmente, a purgação da mora, 745/69.
propondo-se a demonstrar que os au- Em caso que tais, — instituído o
tores sempre transigiram em re- pacto comissório, — são as pró-
ceber, com atraso, as prestações, prias partes que estabelecem a sua
impondo-se, ao lado disso, a obriga- resolução.
toriedade da interpelação judicial.
O Judiciário só atua, formalmen-
A ação foi julgada procedente pela te, para declarar reconhecidas tais
sentença de fls. 129/132, sendo man- ocorrências.
tida pelo seguinte acórdão:
«Compromisso de Compra e E de se convir não ser pacífica a
venda não inscrito no Registro jurisprudência no tocante à melhor
Imobiliário. Contrato com cláu- exegese dos dispositivos legais ati-
sula resolutiva expressa. Mora nentes à espécie, versada nos au-
do comprador. Desnecessidade tos consoante bem evidenciam as
de prévia notificação. Agravo re- partes, ao se valerem de julgados
tido. Produção de prova desne- que endossam seus respectivos
cessária. pontos de vista.
A verdade «verdadeira» contudo,
Acórdão reside no principio enunciado pela
Vistos, relatados e discutidos es- Súmula 167 do STF, ao dispõr que:
tes Autos de Apelação Civel n? 3- «Não se aplica o regime do
82, de Curitiba — 1! Vara Civel, Decreto-Lei n? 58, de 10-12-37, ao
em que são Apelantes Wilson Mat- compromisso de compra e venda
tar e sua Mulher e Apelados não inscrito no Registro Imobiliá-
Abraão Atem e sua mulher. rio, salvo se o promitente vende-
1. Acordam em Primeira Câ- dor se obrigar a efetuar o regis-
mara Cível do Tribunal de Justiça tro.»

R.T.J. — 108 777

Em igual sentido, em novo pro- va, e nem mesmo a impossibilida-


nunciamento, o pretório excelso de de sua obtenção por via direta,
reiterou: não há que se falar em cerceamen-
«Promessa de venda de imóvel to de defesa.
não inscrito no registro imobiliá- Leia-se a propósito o que escre-
rio. Não se lhe aplica o regime veu o Professor Celso Agrícola
do Decreto-Lei n? 58/37, a teor da Barbi:
Súmula 167, vem, conseqüente- «Na sua missão de bem dirigir
mente, o Decreto-lei n? 745/69. o processo, deve o Juiz zelar pa-
(RE n? 90.837 LS — In DJ de 19-4- ra que ele não encareça com dili-
79).» gências inúteis, as quais, além de
De se ver, dessarte, que como o aumentar os gastos, ocupam sem
aludido compromisso não foi ins- razão mais tempo e atividade do
crito no registro imobiliário, (a sua magistrado e dos auxiliares do
inscrição só no Registro de Titulo e processo, pessoal esse geralmen-
Documentos não satisfaz a exigên- te sobrecarregado de trabalhos.
cia legal) prescindivel à notifica- O principio da economia proces-
ção judicial pretendida, para efeito sual aconselha o indeferimento
de sua resolução. de pedidos de diligências com es-
Na revista Trimestral de Juris- sa característica. Do mesmo mo-
prudência, vol. 98, pág. 445/449 em do, as diligências quê tiverem fi-
outro elucidativo acórdão, no qual nalidade protelatória não devem
há referência a outros precedentes ser feitas, e o juiz indeferirá o
(RE n? 86.975 — 1? Turma, DJ de pedido das partes para realizá-
30-6-78; RE n? 82.010, 2! Turma, e las, quando se convencer de que
RTJ. Vol. 90/138, RE n? 82.010), se elas objetivam retardar o anda-
reitera esta mesma linha de ra- mento do processo. O poder dado
ciocínio. ao juiz nesse artigo é particulari-
3. No que tange ao agravo 'reti- zação do princípio mais geral,
do, bem é de se ver que como atra- contido no art. 125, II, pelo qual
vés dele se pretendia a produção cabe ao magistrado velar pela
de provas não consideradas neces- rápida solução do litígio.» (Co-
sárias para o deslinde da querela, mentários ao Código de Proces-
não houve cerceamento do direito so Civil, Forense, edição, vol.
de defesa. I, tomo II, págs. 532 e 533).
Veja-se que a apresentação de Curitiba, 27 de abril de 1982 —
comprovantes de pagamentos efe- Alceste Macedo, Presidente —
tuados pelo apelante ao apelado, Zeferino Krukoski, Relator —
deveria ser fornecido por ele mes- Nunes do Nascimento — Silvio
mo e não através de extrato de Romero». (fls. 171/174).
contas correntes.
Os vencidos interpuseram recurso
Só se houvesse manifesta impos- extraordinário com fundamento nas
sibilidade na sua obtenção é que o alíneas a e d do permissivo constitu-
Juízo poderia ser acionado. cional, alegando ofensa ao art. 1? do
É de se ponderar, mesmo, que Decreto-Lei n? 745/69 e ao art. 22 do
através de extrato de conta bancá- Decreto-Lei 58/37, além de dissí-
ria pouco ou quase nada se poderia dio jurisprudencial que aponta ( fls.
comprovar em tal sentido. 176/195).
Dessarte, não justificada a ne- Pelo despacho de fls. 213 foi o re-
cessidade da produção de tal pro- curso admitido.
778 R.T.J. — 108

Com as razões de fls. 223/228 e Em conclusão, predomina o enten-


contra-razões de fls. 230/240, subi- dimento de que a ausência de inscri-
ram os autos a esta Corte. ção do compromisso de compra e
venda no Registro de Imóveis, sem
VOTO haver obrigação do vendedor, sujeita
a constituição dos compromissários
O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela- em mora e a restrição do compro-
tor): Consoante consta dos autos misso ao regime do direito comum,
cuida-se de contrato particular de ou seja, ao disposto no art. 960 do
promessa de compra e venda cele- Código Civil. Não tem aplicação, no
brado em 28-6-78, irretratável e com caso, as regras específicas estabele-
cláusula resolutiva expressa, não cidas no Decreto-Lei n? 58/37 e no
inscrito no Registro Imobiliário. Decreto-Lei n? 745/69.
As instâncias ordinárias julgaram
procedente a ação de rescisão con- Nesse ponto o dissídio jurispruden-
tratual cumulada com reintegração cial invocado pelos recorrentes está
de posse, sob o fundamento de que superado pela jurisprudência unifor-
havendo cláusula resolutiva expres- me de ambas as Turmas do STF.
sa e não tendo sido inscrito o contra- (ver também RE n?s 86.975 e 92.867,
to no Registro Imobiliário, desneces- relatados pelos eminentes Ministros
sária era a interpelação judicial pre- Soares Mufloz e Decio Miranda).
vista no Decreto-Lei n? 745/69, para
a caracterização da mora ou da re- Por outro lado,. não vinga a alega-
solução do contrato. ção de negativa dg vigência aos arts.
'Esclareço que os ora recorrentes 332 e 333, inc. II,. ,do Código de Pro-
"ao contestarem a :ação requereram cesso C1+11, relatAyos aos meios e ao
ttitnbém a purgação da mora, tendo ónus da provai. Eff que o respeitável
9Pdo indeferida esta pretensão. arestO se,:farrirrtou na afenlçá% da
prova ,( Súmula 279) . ,)
"Pió'tocah a negativo 'de vigência .ru ri
ao art. 22 doiDecreto-Led n? 58/37 e Quanto ao art.(' 399, Mó': I, da Ui
ao art. 1? do Decretotelm? 745/69, é processual civil,.ttercesV à requ9Si-
de todo improcedente, porquanto ção de certidões existentes em re-
cuida-se de contrato particular não partições públicas. Portanto, sem
inscrito no Registro Imobiliário, sen- pertinência com a espécie em causa.
do desnecessário a interpelação judi-
cial. Com efeito, a jurisprudência E de se considerar que também
desta Corte é firme no sentido de não se cogitou do art. 38 da Lei n?
que não é exigível a interpelação 4.595/64, a compreender o sigilo , ban-
prevista no art. 1? do Decreto-Lei n? cário (Súmula 282).
745/69, para promessa de compra e
venda de imóvel não loteado que não Finalmente, os recorrentes invo-
foi inscrita no Registro de Imóveis cam julgados sobre a purgação da
(SE n? 82.010, relatado pelo eminen- mora no prazo de contestaçõo (ver
te . M1n. Leitão de Abreu, in RTJ fls: 190/192). Ocorre que essa maté-
90/138, RE n? 89.699, de que fui tela- ria não foi ventilada no acórdão:re-
ton. Conforme tive.oportunidade de corrido, *bem assim,,em torno do te-
afirmar no RE n? 89$699,, a exigência ma não houve embargos de declara-
da inscrição no Registro de Imó- ção. ApliCam-se, em conseqüência,
veis constitui, condiçãq Indispensável as Súmulas 282 e 356,
quando se trata deadjudicação com;
pulsória de itntevel prometido á ven- Por todo o exposto não conheaf do
da. recurso.
R.T.J. 108 779

EXTRATO DA ATA Presidência do Senhor Ministro


Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
RE 99.407-PR — Rel.: Min. Djaci Senhores Ministros Dedo Miranda,
Falcão. Rectes Wilson Mattar e sua Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
mulher. (Advs.: Roberto Machado e Ausente, justificadamente, o Senhor
outros). Recdos.: Abraão Atem e sua Ministro Moreira Alves. Subpro-
mulher (Advs.: Walter Borges Car- curador-Geral da República, Dr. Mau-
neiro, Olavo da Cunha Pereira e ou- ro Leite Soares.
tros).
Decisão: Não conhecido. Unânime. Brasília, 7 de outubro de 1983 —
Falou pelos Recdos.: O Dr. Olavo da Hélio Francisco Marques, Secretá-
Cunha Pereira. rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Dl? 99.536 — PR


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrente: Estado do Paraná — Recorrido: Aldo Laval.
Proventos de aposentadoria. Verba de representação pelo
exercício da Presidência de órgão da administração indireta não en-
seja incorporação aos proventos da aposentadoria, eis que não se
confunde com vantagens de cargo em comissão ou função gratifica-
da. Ofensa ao art. 6? da Constituição Federal. Recurso extraordiná-
rio provido.
ACÓRDÃO ção da casa do trabalhador. E-
xercício da Presidência pelo pra-
Vistos, relatados e discutidos estes zo de doze anos. Sentença julgan-
autos, acordam os Ministros compo- do procedente a ação declarató-
nentes da Segunda Turma do Supre- ria para a inclusão. V. Acórdão
mo Tribunal Federal á unanimidade embargado que a julga improce-
de votos e na conformidade da ata dente. Sufragando o entendimen-
do julgamento e das notas taquigrá- to da transitoriedade dessa grati-
ficas, em conhecer do recurso e lhe ficação. Embargos infringentes
dar provimento nos termos do voto recebidos.
do Ministro-Relator.
Brasília, 18 de outubro de 1983 — O embargante tendo exercido
Djaci Falcão, Presidente e Relator. pelo lapso de tempo de doze (12)
anos a presidência da Fundação
RELATÓRIO INt da Casa do Trabalhador, em que
apercebeu a gratificação ou verba
O Sr. Ministro Djaci Falcão: Lê-se de representação, em face do que
no acórdão objeto do presente recur- foi estabelecido pelo legislador
so extraordinário: paranaense no Estatuto dos Fun-
cionários Civis (art. 140, 3?), es-
«Servidor público. Proventos ta ~Pipa de representação se in-
de aposentadoria. Gratificação corporou aos seus proventos, sem
ou verba de representação pelo cogitação de se tratar ou não de
exercício de cargo de direção na vantagens transitórias, mas em
administração indireta. Funda- razão do cargo de direção.
780 R.T.J. — 108

E que, desenganadamente, o proventos. O voto minoritário do


embargante por mais de cinco eminente Des. Maximiliano Sta-
anos (5) consecutivos exerceu o siak prestigiou os fundamentos da
cargo de direção de referido Ór- r. sentença apelada.
gão da administração indireta do
Estado. 1.3. Os embargos infringentes
oferecidos com fulcro no douto vo-
Acórdão to vencido, a fls. 119/121, perse-
Vistos, relatados e discutidos es- guem a manutenção da r. sentença
tes autos de Embargos Infringen- de primeiro grau, porquanto os ar-
tes n? 69/81, de Curitiba, em que é tigos 140, I, e 157 da Lei Estadual n?
embargante Aldo Laval e embar- 6.174/70 (Estatuto dos Funcio-
gado o Estado do Paraná. nários Civis), quando dispunham
que a aposentadoria seria concedi-
Na sentença proferida a fls. da com a remuneração integral do
76/79 o Doutor Juiz de Direito da 1? cargo efetivo estabeleciam, em
Vara da Fazenda Pública Esta- verdade, que os proventos seriam
dual, Falências e Concordatas jul- equivalentes ao quantum que o
gou procedente a ação declaratória funcionário recebe na ativa, nunca
para inclusão nos proventos do menos, e, ademais, porque os pro-
em bargante da verba ou gratifica- ventos tinham o mesmo caráter ir-
ção de representação que percebia recusável de alimentos que se re-
ao ser aposentado em data de 5-5- conhecia contido no vencimento,
72, pelo Decreto Estadual n? 1.961 assim como a interpretação do Mi-
de 2-5-1972 (fls. 19). A decisão nistro Rafael Mayer, então
lastreou-se nos fundamentos de Consultor-Geral da República, no
que estava incontroverso nos autos Parecer n? 1.137/77 para o conceito
que o embargante exercera por entre vencimento e remuneração,
mais de doze (12) anos a presidên- no sentido de que nesta última ex-
cia da Fundação da Casa do Tra- pressão se compreendia as vanta-
balhador e de que nos termos do § gens decorrentes da comissão ou
3? do artigo 140 do Estatuto dos função.
Funcionários Públicos em vigor,
por ter exercido por mais de cinco 2. Em que pese a inteireza e
(5) anos cargo diretivo em órgão respeitabilidade do douto voto ma-
da administração indireta do Esta- joritário em que se consubstanciou
do, tinha direito à inclusão em seus o V. Acórdão Embargado, tudo
proventos da verba de gratificação conduz que a sentença melhor diri-
percebida em virtude daquele car- miu a espécie. Senão vejamos:
go. a) incontroverso nos autos que o
1.2. Como se verificou a r. sen- embargante foi aposentado pelo
tença foi reformada em grau de Decreto Estadual n? 1.961, de 2-5-72
apelação pela Colenda Terceira como ocupante do cargo de Oficial
Câmara Clvel deste Tribunal pelo de Administração, lotado na ex-
voto majoritário da lavra do emi- Caixa de Habitação do Estado do
nente Des. Plinto Cachuba de fls. Paraná, com os proventos fixados
113 a 116, acompanhado pelo emi- em vinte e um mil, novecentos e
nente Des. Zaid Zanlute, com estri- sessenta e seis cruzeiros e doze
bo em que a natureza transitória centavos (Cr$ 21.966,12) anuais e
da gratificação ou verba de repre- integrais, «correspondentes ao
sentação que então percebia o em- nivel 27, tendo em vista o disposto
bargante não lhe dava direito da no art. 17 da Lei n? 5.113, de 14 de
incorporação pretendida em seus maio de 1965, e Decreto n? 18.465,
R.T.J. — 108 781

de 11 de julho de .1965, e 17.752, de conclusão se faz necessária no sen-


17 de fevereiro de 1969, inclusive tido de que houvera de ter sido in-
25% (vinte e cinco por cento — cluída a verba de representação
quarta parte) e os adicionais de correspondente em seus proventos,
25% (vinte e cinco por cento)» fls. sem cogitação de ser ou não ser
19/20 e 21; transitória.
incontroverso nos autos que o Essa verba de representação se
embargante que lotado estava na compunha na sua remuneração pe-
ex-Caixa de Habitação do Estado la função daquele cargo diretivo da
do Paraná, com a extinção desse administração estadual indlreta e,
órgão teve essa lotação passada conseqüentemente, de como muito
para a Fundação da Casa do Tra- bem equacionou o nobre Dr. Juiz
balhador, nos termos da Lei Esta- prolator da sentença, nos termos
dual n? 5.113 de 14-5-65 (fls. 34); do § 3?, In fine do artigo 140 do Es-
o exercido da presidência da tatuto dos Funcionários Civis do Es-
Casa do Trabalhador, com as atri- tado (Lei Estadual n? 6.174/70) tem
buições dos artigos 10 e 13 de seus de integrar seus proventos, ou
estatutos, aprovados pelo Decreto verbis: «Nas mesmas condições,
Estadual n? 14.128, de 27-2-1951 (fls. igual beneficio será assegurado pe-
15/16), porém foi ininterrupto des- lo exercício de cargo diretivo de
de a data de 15-7-1960 até a data órgãos da administração indireta
em que o embargante se aposentou do Estado.»
em 5-5-1972, ou seja, por quase do-
ze (12) anos (fls. 3); 4. Ante o exposto:
d) de ser de oitocentos cruzeiros Acordam os Juízes do 2? Grupo
(Cr$ 800,00) mensais, a verba de de Câmaras Cíveis do Tribunal de
representação desse cargo à data Justiça do Estado do Paraná, por
de sua aposentadoria (fls. 23). maioria de votos, em receber os
2.1. A questão de a Fundação presentes embargos infringentes ao
da Casa do Trabalhador erigir-se fito de restabelecer a r. sentença
em órgão da administração esta- de primeiro grau de fls. 76/79.
dual indireta é matéria vencida, Curitiba, 11 de março de 1982 —
eis que foi desprezada pelo V. Macino Braga, Presidente — (a)
Acórdão embargado, itens 2 e 3 e Ilegível Relator.
não foi prequestionada em embar-
gos de declaração. (a) Ilegível, vencido, porque,
3. Impendia, destarte, de como, com a devida vênia discordei da
concessa venta se dirimiu na r. douta maioria, ficando com o v.
sentença apelada, a questão de acórdão embargado e com o pare-
tratar-se não de cargo diretivo em cer da ilustre P.G.J. Estiveram
órgão da administração estadual presentes à sessão os Desembarga-
indireta. E, em sendo a Fundação dores Renato Pedroso, Jorge An-
da Casa do Trabalhador, órgão da driguetto, Abrahão Miguel, Lima
Administração estadual indireta, Lopes e João Cid Portugal» (fls.
nem os artigos 10 e 13 de seus esta- 138/141).
tutos — (fls. 15/16), deixando qual- Houve embargos de declaração,
quer dúvida de o exercício de sua que foram rejeitados pelo seguinte
presidência não se limitar o do seu acórdão:
Conselho Deliberativo, mas de se
consubstanciar na direção desse Inexistência de Omissão. Em-
órgão da administração indireta, a bargos rejeitados.
782 R.T.J. — 108

Encontrando-se bem claro na mencionada matéria relativa a


decisão embargada em face de tratar-se de Órgão da administra-
ter ficado nos autos incontrover- ção indireta do Estado do Paraná.
so a matéria de se tratar de ór- Ante o exposto:
gão de administração indireta do
Estado do Paraná, o vocábulo Acordam os Juizes do segundo
«representação» teve a equiva- grupo de Câmaras Cíveis do Tribu-
lência de «gratificação», nela, nal de Justiça do Estado do Para-
portanto, se subsumindo àquela ná, por unanimidade de votos, em
questão. rejeitar os seguintes embargos de-
claratórios.
Acórdão Curitiba, 27 de maio de 1982.
Vistos, relatados e discutidos es- Macino Braga, Presidente — ( a )
tes autos de Embargos de Declara- Ilegível — Relator» (fls. 151/152).
ção ao Acórdão n? 188/11 Gr. Civ.,
proferido nos Embargos Infringen- Irresignado, recorreu o Estado do
tes n? 69/81, de Curitiba, em que é Paraná, com arrimo no art. 119, Inc.
embargante o Estado do Paraná. III, letras a e d, da Constituição da
República, alegando afronta ao árt.
O Estado do Paraná vem de ofe- 6? e seu parágrafo único, do mencio-
recer Embargos de Declaração, nado diploma, além de dissídio juris-
porque tendo ao impugnar os em- prudencial (fls. 154/161).
bargos infringentes a fls. 125/129,
questionado no sentido de que a in- Após a impugnação de fls. 163/166,
corporação, na aposentadoria, de o recurso foi admitido pelo despacho
verba de representação, infringia de fls. 172/173, do ilustre Presidente
ao art. 6? da Constituição Federal Helianto Camargo, transitando nor-
conforme precedentes do Egrégio malmente (fls. 179/184 e 186/190).
Supremo Tribunal Federal, afir- Perante esta Corte manifestou-se a
mando que sobre esse ponto o Procuradoria-Geral da República, In
acórdão fizera silêncio. verbis:
2. A preocupação do embargan- «1. O ora recorrido ajuizou ação
te, indubitavelmente, é transpor o declaratória contra o Estado do
obstáculo das Súmulas 282 e 356 do Paraná a fim de que lhe fosse re-
Egrégio Supremo Tribunal Fede- conhecido direito à Incorporação
ral. Mas, na decisão embargada da chamada verba da representa-
está bem claro, à vista de se en- ção, que percebia no exercício do
contrar nos autos incontroversa a cargo de Presidente da Fundação
matéria no referente de se tratar Casa do Trabalhador, durante doze
de órgão de administração indireta anos, até 5-5-72, data de sua apo-
do Estado do Paraná, que o caso sentadoria.
do ~bulo «representação» teve 2. A Eg.. Terra Cântara
a equiRalência de «gratificação» e, a vel do Tribunal ,Justiça refor-
portanto, tendo aplicação na espé- mou a. sentença de primeiro grau
cie o § 3? do art. 140 da Lei Esta- que julgara procedente à ação, jul-
dual n? 6.174/70 (Estatuto dos Fun- gando inaplicável ao caso o § 3? do
cionários Civis). art. 140 da lei Estadual n? 6.174,
Assim, como se está vendo, não de 1970, pois o autor não exercera
houve a aludida omissãp, senão nenhum cargo diretivo de órgão da
que a questão resultou subsumida Administração Indireta do Estado,
pela interpretação do indigitado § mas apenas função no Conselho
3? do art. 140, frente ao insólido de Deliberativo da Fundação
se ter tornado incontroverso a do Trabalhador».
R.T.J. 108 783

3 Em grau de embargos infrin- géncia com a decisão proferida pe-


gentes, porém, o Eg. Segundo Gru- lo Supremo Tribunal no RE n?
po de Câmaras Cíveis do Tribunal 86.340 (fls. 92).
restabeleceu a decisão de primeiro O art. 140, § 3?, da Lei Esta-
grau, sob os fundamentos resumi- dual n? 6.174, de 1970 em que se
dos neste trecho da ementa do res- fundamenta o acórdão recorrido,
pectivo acórdão, In verbis: apresenta a seguinte redação:
O embargante tendo exercido Art. 140. O funcionário efetivo
pelo lapso de tempo de doze (12) será aposentado a pedido:
anos, a presidência da Fundação
Casa do Trabalhador, em que III — Se houver exercido, por
percebeu gratificação ou verba um período não inferior a cinco
de representação, em face do que anos, ininterruptos ou não, um ou
foi estabelecido pelo legislador mais cargos em comissão ou fun-
paranaense no Estatuto dos Fun- ções gratificadas, com as vanta-
cionários Civis (art. 140?, § 3?), gens do cargo em comissão ou
esta verba de representação se função gratificada mais elevado,
incorporou aos seus proventos, desde que esse cargo ou função
sem cogitação de se tratar ou tenha sido exercido por um míni-
não de vantagem transitória, mo de doze meses.
mas em razão do cargo de dire-
ção. § 3? — Se, nas condições dos
incisos II e III, deste artigo, o
E que, desenganadamente, o cargo em comissão exercido não
embargante por mais de cinco se conformar á simbologia esta-
anos (5) consecutivos exerceu o belecida para os cargos em co-
cargo de direção do referido ór- missão do Poder Executivo, po-
gão da administração indireta do derá o funcionário aposentar-se
Estado. com as vantagens do de maior
símbolo.
4. O Estado ainda ofereceu em- E certo que na legislação fe-
bargos declaratórios, pretendendo deral, como também segundo a
que o Tribunal se pronunciasse a melhor doutrina, as fundações, em-
respeito da impossibilidade de in- bora constituam entidades do gêne-
corporação de verba de represen- ro paraestatal, não integram a Ad-
tação aos proventos, em face do ministração Direta ou Indireta do
art. 6? da Constituição Federal. O Estado — (Decreto-Lei n? 200, art.
Eg. Tribunal a quo rejeitou-os, po- 4?, I e II; Decreto-Lei n? 900, art.
rém, sob o fundamento de que, em 3?, H. L. Meirelles; Dir. Adm.
se tratando de função exercida em Brasileiro, 3? ed. 1975, pág. 337).
órgão da Administração Indireta
do Estado, a representação teve a Ocorre, no entanto, que essa
equivalência de gratificação, classificação não é vinculativa pa-
abrangida, portanto, na configura- ra os Estados-membros e a Lei Es-
ção do § 3? do art. 140 da Lei Est. tadual n? 6.636, de 29-11-74, que dis-
n? 6.174, de 1970. põe sobre a organização do Poder
Executivo, inclui as fundações em
5. Recorre o Estado do Paraná, geral entre as entidades integran-
pelas letras a e cl do permissivo tes da Administração Indireta do
constitucional, sustentando viola- Estado (fls. 88) Em virtude dessa
ção do art. 6? e seu parágrafo úni- qualificação, o acórdão recorrido
co da Constituição Federal e diver- concluiu que o exercício de cargo

784 R.T.J. — 108

diretivo na Fundação Casa do Tra- 11. Em face, portanto, das Sú-


balhador está abrangido na hipóte- mulas 280 e 291 e do veto do inciso
se da parte final do § 3? do art. 140 VIII do art. 325 do Regimento In-
da Lei Estadual n? 6.174, de 1970, terno, o parecer é pelo não-
acima transcrito. conhecimento do recurso extraor-
dinário.
Parece evidente, assim, que Brasília, 3 de agosto de 1983 —
o acódão recorrido se limitou à in- Moacir Antonio Machado da Silva,
terpretação de lei local (Súmula Procurador da República. Aprovo:
280). Deve ser afastada, por isso Mauro Leite Soares, Subpro-
mesmo, a alegada violação do art. curador-Geral da República» ( fls.
6? da Lei Maior, pois essa hipó- 197/200).
tese só poderia ser considerada, se
restasse demonstrado que o Tribu-
nal concedeu a incorporação à re- VOTO
velia da lei, isto é, se tivesse exer-
cido função legislativa.
Excluída a possibilidade de O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-
caraterização de ofensa à Lei tor): Trata-se de recurso extraordi-
Maior, incide, no mais, o veto do nário em que se alega ofensa ao art.
art. 325, VIII, do Regimento Inter- 6? da CF e dissídio jurisprudencial,
no, pois o valor dado à causa (Cr$ contra decisão proferida em ação or-
9.600,00) é inferior ao mínimo de dinária objetivando a inclusão, nos
alçada, que atingia Cr$ 207.480,00, proventos de aposentadoria, da ver-
correspondente a cinqüenta vezes o ba de representação pelo exercício,
valor do maior salário mínimo vi- durante mais de 5 (cinco) anos, do
gente no Pais, em 12-6-80, data da cargo de Presidente da Casa do Tra-
propositura da ação. O Valor dado balhador, fundação estadual.
à causa reflete aliás, no caso, o be- Verifico que se cuida de relação
nefício patrimonial pretendido, estatutária de serviço público, sem
peilitigaf «verba -dê.irepresentaçãóp envoiter o' direito 'à 'constituição 'ou
prevista para o cargo era ínfima subsistência da própria relação
em relação ao valor dos proventos Jurídica fundamental, além do valor
(fls. 110). da causa ser inferior à alçada (art.
325, inc. IV, d, e VIII, do RI/STF).
10. De qualquer forma, não está Todavia desde que houve alega-
demonstrada a divergência. No RE ção de ofensa ao art. 6? da Constitui-
n? 86.340, cuidava-se de representa- ção Federal, cabe o exame dessa ar-
ção pelo exercício de Presidência güição.
do Tribunal, que, evidentethente, O acórdão proferido nos embargos
não se Confunde coro as Vantageng
de cargo em comissão ou função infringentes,' centra o qual se insur-
gratificada. No caso, trata-se de ge o Estado recorrente, consideran-
hipótese diversa, envolvendo a in- do como se viu, que sendo o autor
terpretação da parte final do 3? Presidente da Fundação Casa do
do art. 140 da Lei Estadual n? Trabalhador, órgão da administra-
6.174, de 1970, que admite expres- ção indireta, fazia jus á verba de re-
samente a incorporação nos pro- presentação, devendo esta ser incor-
ventos do servidor de vantagem porada aos seus proventos.
pecuniária pelo exercício de cargo Anteriormente, o acórdão da ape-
diretivo em órgão da Administra- lação deixou bem explícita a situa-
ção Indireta do Estado. ção do autor da ação, ao dizer:
R.T.J. — 108 785

«Entende o recorrido que deve ser seu art. 140, inc. III, refere-se exclu-
incorporada a verba de representa- sivamente a cargos em comissão ou
ção aos seus proventos de aposen- funções gratificadas. Por isso, e não
tadoria. Observe-se, de inicio, ine- havendo lei mandando incorporar a
xistir qualquer disposição legal ex- gratificação de representação aos
pressa que autorize o deferimento proventos da aposentadoria, ao deter-
de sua pretensão. Nem se argu- minar essa inclusão o Poder Judicia.•
mente, no tocante, que o parágrafo rio viola o princípio inserido no art
3? do artigo 140 da Lei n? 6.174/70, 6? da Constituição da República.
lhe favoreça, eis que não exerceu Diante do exposto dou provimento
nenhum cargo em comissão, ne- ao recurso, para restabelecer a deci-
nhuma função gratificada e ne- são tomada na apelação, julgando
nhum cargo diretivo de órgão de improcedente a ação.
administração indireta do Estado,
mas função no Conselho Deliberati- EXTRATO DA ATA
vo da Fundação «Casa do Traba-
lhador.» RE 99.536-PR — Rel.: Min. Djaci
3. A verba de gratificação, via Falcão. Recte.: Estado do Paraná
de regra, é deferida em caráter (Advs.: Marçal Justen Filho, Rubens
transitório, vale dizer, o funcioná- de Barros Brisolla e outros). Recdo.:
rio somente faz jus a ela durante o Aldo Laval (Adv.: Pedro Henrique
tempo que presta serviço a ela ine- Xavier).
rente e, conseqüentemente, o au-
tor, com sua aposentadoria, deixou Decisão: Conhecido e provido nos
de trabalhar e, por isso, a verba de termos do voto do Ministro Relator.
representação não pode ser incor- Unânime.
porada aos seus proventos, diante Presidência do Senhor Ministro
da ausência de suporte legal per- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
missivo, como se explicitou ante- Senhores Ministros Moreira Alves,
dormente» (fls. 115). Decio Miranda, Aldir Passarinho e
Parece-me evidente que cargo em Francisco Rezek. Subprocurador-
comissão de função gratificada não Geral da República, Dr. Mauro Leite
se confunde com verba de represen- Soares.
tação em razão do exercício da presi- Brasília, 18 de outubro de 1983,
dência de órgão colegiado. Observo Hélio Francisco Marques, Secretá-
que a Lel Estadual n? 6.174/70, em rio.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO H? 99.594 — SE
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: josé Fernandes Sobrinho — Recorrido: José Francisco dos
Santos.
Membro do Ministério Público. Proibição do exercício da advoca-
cia. Lel Complementar nf 40/81, art. 24-11. Alegação de afronta a di-
reito adquirido.
A garantia constitucional do direito adquirido não faz intangível o
regime jurídico de um servidor do Estado, sujeito a estatuto especial,
ante a edição da lei complementar que o modifica.
Recurso extraordinário de que não se conhece.

786 R.T.J. — 108

ACORDA° Justiça, que subscreveu as contra-


razões da Apelação de n? 30/82, da-
Vistos, relatados e discutidos estes tada de 18 de fevereiro de 1982.
autos, acordam os Ministros da Se-
gunda Turma do Supremo Tribunal Entendemos, diante das circuns-
Federal, de conformidade com a ata tâncias, que a parte e sua repre-
de julyentos e as notas taquigráfi- sentação não podem ser prejudica-
cas, a nimidade de votos, não co- das e que ambas, por certo, encon-
nhecerjlo recurso. trarão o caminho do bom entendi-
mento para o desfecho condizente
Bragillia, 8 de novembro de 1983 — com a norma legal em vigor. Daí
Djaci Falcão, Presidente — suscitarmos a preliminar de con-
Francisco Rezek, Relator. vertimento do julgamento em dili-
gência no sentido do autor apelado
oferecer, em obediência á Lei
Complementar n? 40, de 14-12-1981,
RELATÓRIO art. 24, inciso II, as suas contra-
razões através de procuracor le-
galmente desimpedido, preliminar
O Sr. Ministro Francisco Rezek: devidamente acolhida pelo Grupo
José Fernandes Sobrinho propôs julgador».
ação resolutória de contrato contra
José Francisco dos Santos, e a teve Dai o presente recurso extraordi-
julgada procedente pelo juiz singular nário, com base na letra a da licença
(fls. 59/63). constitucional, em que o recorrente
sustenta que o acórdão impugnado
vuinerou o arts. 153, §§ 2?, 3? e 23 da
Em grau de apelação, o Tribunal Constituição, e negou vigência aos
de Justiça de Sergipe converteu o arts. 85-IV da Lei n? 4.215, de 27-4-63,
julgamento em diligência, para que o e 485 do Código de Processo Civil.
apelado apresentasse suas contra-
razões através de procurador legal-
mente desimpedido, pelo motivo as- Admitido na origem o extraordiná-
sim descrito (fls. 101). rio (fls. 144/151), a Procuradoria Ge-
ral da República, em parecer da
Dra. Iduna Weinert, opina prelimi-
«... até o advento da Lei Comple- narmente pelo não conhecimento do
mentar n? 40, datada de 14-12-1981, extraordinário. Se conhecido, pelo
o referido Procurador-Promotor de provimento.
Justiça não estava proibido de ad-
vogar e nesse período processou-se
a Ação Resolutória de Contrato por É o relatório.
ele uizada, ora sob recurso e que
tev esfecho favorável ao seu pa-
t ado, também, antes da aludi- VOTO
da Lei. Com o recurso de apelação
adveio a prefalada Lei Comple-
mentar de n? 40, de 14 de dezembro O Sr. Ministro Francisco Rezek
de 1981 e, em conseqüência, a proi- (Relator): Versando o extraordinário
bição do exercício da advocacia questão relativa á representação ju-
para os membros do Ministério Pú- dicial das partes, incide, na espécie,
blico, coibindo assim a atuação do o óbice previsto no artigo 325-VII, do
ilustre Procurador e Promotor de Regimento Interno. Não tendo sido
R.T.J. — 108 787

argüida a relevância da questão fe- Lei Complementar n? 40, aventou-se


deral, cabe examinar, apenas, a ale- a inclusão de norma que preservasse
gada afronta ao texto da Lei maior. a advocacia dos promotores até en-
tão consagrados, parcialmente, a
seu exercício. Semelhante dispositi-
Parece-me que neste caso não há vo, entretanto, não vingou. Resultou
falar em falta de prequestionamen- clara, no texto, a proibição da advo-
to, pois a questão ora em debate veio cacia, que não se pode ignorar em
à luz com o acórdão proferido em nome da circunstância de haverem
grau de apelação. Naquele ensejo, fi- os promotores, em certos Estados,
gurando como advogado do autor- iniciado a carreira em tempo de cu-
apelado um membro do Ministério mulação permitida. Não há, como
Público do Estado de Sergipe, o Tri- disse, direito adquirido à continuida-
bunal de Justiça entendeu que o re- de da situação funcional que a Lei
ferido profissional perdera seu direi- Complementar expressamente pros-
to de exercer os misteres da advoca- creveu.
cia, por força do art. 24-11, da Lei
Complementar n? 40, de 1981. Neste
exato proceder estaria a afronta ao Assim, mesmo havendo afastado a
preceito constitucional que manda Súmula 282, vejo-me na contingência
respeitar o direito adquirido. Forçar, de não conhecer do recurso extraor-
por melo da oposição de embargos dinário.
declaratórios, a retomada do debate
à luz da norma constitucional igno-
rada — e, por isso, pretendidamente EXTRATO DA ATA
ultrajada — seria desnaturar esse
remédio processual. O acórdão não
foi omisso, nem obscuro, nem con- RE 99.594-SE — Rel.: Min. Fran-
traditório no trato de qualquer ques- cisco Rezek. Recte.: José Fernandes
tão colocada pelas partes ante o Sobrinho
juizo do apelo, e isto pela excelente Campos, (Advs.: Evaldo Fernandes
Waldemar Ferreira e ou-
razão de que se absteve de tudo tro). Recdo.:
quanto não fosse a abordagem, ex Santos (Adv.:José Francisco dos
Maria Cremilde de
abrupto, do tema do impedimento do
patrono dos apelados. Souza).

Decisão: Não conhecido. Unânime.


Afasto, pois, por inaplicável a este Ausente, ocasionalmente, o Senhor
caso incomum, a Súmula 282. Não Ministro Moreira Alves.
obstante, observo que o conhecimen-
to do recurso— porque escorado ape-
nas na letra a, e á vista do óbice que Presidência do Senhor Ministro
impede a discussão da possível Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
afronta a qualquer norma infracons- Senhores Ministros Dedo Miranda,
titucional — importaria admitir a Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
quebra do preceito maior tocante ao Ausente, ocasionalmente, o Senhor
direito adquirido. O que; segundo en- Ministro Moreira Alves. Subpro-
tendo, não ocorreu. Direitos adquiri- curador-Geral da República, Dr. Mau-
dos, como os vem sempre entenden- ro Leite Soares.
do esta Casa, não podem ter por ob-
jeto o regime jurídico de um servi- Brasília, 8 de novembro de 1983 —
dor do Estado, sujeito a estatuto es- Hélio Francisco Marques, Secretá-
pecial. E notório que, no preparo da rio.
788 — loa

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 99.683 — PR


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorridos: Juiz de Direito
da Comarca de Cruzeiro do Oeste e Juiz Auditor da Justiça Militar do Esta-
do do Paraná
Penal Militar. Conflito de competência entre Juiz auditor e Juiz de
direito.
2. Policial militar do Estado. Pelo crime militar que pratica,
ainda que no exercício da função policial civil, responde agora perante
a Justiça Militar (Constituição da República, art. 144, 1?, a).
Recurso extraordinário conhecido e provido para declarar a com-
petência do juiz auditor militar.
ACÓRDÃO dado Rafael Paitax, o MM. Juiz de
Direito de Cruzeiro do Oeste, em
Vistos, relatados e discutidos estes acórdão assim ementado:
autos, acordam os Ministros do Su- «Conflito de Competência — Cri-
premo Tribunal Federal, em sessão me.
plenária, na conformidade da ata do — Cabe à Justiça Comum o jul-
julgamento e das notas taquigráfi- gamento de crime, mesmo que ca-
cas, por unanimidade de votos, em pitulado no Código Penal Militar,
conhecer do recurso e dar-lhe provi- se não ferir ele, a administração
mento. ou autoridades militares, nem tiver
Brasília 1° de julho de 1983 — sido praticado com arma militar»
Cordeiro Guerra, Presidente (fls. 124).
Alfredo Buzaid, Relator.
Irresignado, o Ministério Público
Estadual recorreu extraordinaria-
RELATÓRIO mente, com fundamento no art. 119,
III, letras a e d, da Constituição, ale-
gando violação do art. 144, 2? d da
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Carta Magna e do artigo 9?, item II,
Trata-se de conflito positivo de com- alínea c do Código Penal Militar e
petência suscitado pelo MM. Juiz- dissídio jurisprudencial, colacionan-
Auditor da Justiça Militar do Estado do arestos às fls. 130/133.
do Paraná sendo suscitado o MM.
Juiz de Direito da comarca de Cru- Ouvida a douta Procuradoria-
zeiro do Oeste, girando a controvér- Geral da República, em parecer da
sia em torno da competência para lavra da ilustre Procuradora Hayde-
processo e julgamento de um policial valda Aparecida Sampaio, aprovado
militar apontado, como autor de um pelo eminente Professor Francisco
homicídio praticado no exercício do de Assis Toledo, DD. Subprocurador
policiamento civil. da República, assim se manifestou,
O Grupo de Câmaras Criminais do verbis:
Tribunal de Justiça do Estado do Pa- «1. O Grupo de Câmaras Crimi-
raná por maioria de votos, julgou nais do Tribunal de Justiça do Es-
improcedente o conflito, para decla- tado do Paraná, por maioria de vo-
rar ser competente para julgar o sol- tos, julgou improcedente o conflito
R.T.J. — 108 789

suscitado pelo Juiz Auditor da Jus- VOTO


tiça Militar Estadual, para decla-
rar competente, para o julgamento O Sr. Ministro Alfredo Buzald (Re-
do Sd. Rafael Paitax, acusado de latar): A espécie tem sido objeto de
homicídio praticado no exercício inúmeras decisões deste Eg. Supre-
do policiamento civil, o Juízo de mo Tribunal Federal, no sentido de
Direito Criminal da Comarca de que compete à Justiça Militar o jul-
Cruzeiro do Oeste. gamento de réus policiais-militares,
Contra tal decisão, recorre envolvidos em crimes militares, em
extraordinariamente o represen- tempo de paz.
tante do Ministério Público Esta- No HC n? 55.962, de que foi Relator
dual, com arrimo nas alíneas a e d o Eminente Ministro Xavier de Albu-
do permissivo constitucional (art. querque, ficou assentado:
119, III, da CF), alegando ofensa
ao artigo 144, § 2?, letra d, da Lei «Policiais Militares dos Estados,
Maior, negativa de vigência do ar- pelos crimes militares que pratica-
tigo 9?, II, letra c, do Código Penal rem, ainda que no exercício de fun-
Militar e dissídio jurisprudencial. ção policial civil, seus Integrantes
Como os arestos relacionados respondem, agora, perante as Jus-
às fls. 130/133, consagram o enten- tiças militares estaduais, nos ter-
dimento segundo o qual, «é compe- mos da nova redação dada ao art.
tente a Justiça Militar Estadual 144, § 1?, letra d, da Constituição,
para processar e julgar os crimes pela Emenda Constitucional n? 7,
praticados por policial militar do de 1977, que prejudicou, em parte,
Estado, embora no exercício de o enunciado da Súmula 297 (RHC's
função civil», parece-nos caracteri- n?s 56.049 e 56.068, Plenário, 1-6-
zada a divergência alegada, deven- 78). Habeas corpus denegado»
do ser conhecido o recurso. (RTJ 86/790).
Não há dúvida de que o acu- No mesmo sentido: RHC n?
sado, quando praticou o crime nar- 56.275, RTJ 87/460.
rado nos autos, se encontrava no
exercício de policiamento civil (v. Assim, acolhendo o douto parecer
fls. 40/41v. — 1? apenso). da Procuradoria-Geral da Repúbli-
Dessa forma, segundo reite- ca, conheço do conflito e dou pela
rada jurisprudência da Suprema competência o MM. Juiz Auditor Mi-
Corte, a competência é da Justiça litar.
Militar Estadual, sendo irrelevante E o meu voto.
o fato de não ter sido empregada
arma de propriedade militar (v.
HC n? 56.579-SP, Rel.: Ministro
Thompson Flores, RTJ 89/90; RHC EXTRATO DA ATA
n? 57.293-PA, Rel.: Ministro Morei-
ra Alves, RTJ 95/1046; HC n?
57.334-SP, Rel.: Ministro Xavier de RE 99.683-PR — Rel.: Ministro Al-
Albuquerque, RTJ 91/839). fredo Buzaid. Recte.: Ministério Pú-
Somos, em face do exposto pelo blico Estadual. Recdos.: Juiz de Di-
conhecimento e provimento do re- reito da Comarca de Cruzeiro do
curso, para que seja reconhecida a Oeste e Juiz Auditor da Justiça Mili-
competência da Justiça Militar Es- tar do Estado do Paraná
tadual» (fls. 144/146). Decisão: Conhecido e provido, una-
E o relatório. nimemente.
790 R.T.J. — 108

Presidência do Senhor Ministro Aldir Passarinho e Francisco Re-


Cordeiro Guerra. Presentes à Sessão zek Procurador-Geral da República,
os Senhores Ministros Djaci Falcão, Professor Inocêncio Mártires Coelho.
Moreira Alves, Soares Mutioz, Decio
Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil- Brasília, 1? de julho de 1983 —
veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa, Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 99.718 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Alfredo Buzaid.
Recorrente: Comércio e Indústria Iretama S.A. — Recorrida: União Fe-
deral.
Imposto de consumo. Compensação do adicional criado pela Lei
n? 4.388/64. E legitima a dedução do acréscimo do tributo já pago.
2. Recurso extraordinário conhecido e provido.
ACÓRDÃO Cri 9.088,670, conforme moeda da
época) ou condene a ré a restituir-
Vistos, relatados e discutidos estes lhe a citada quantia, com correção
autos, acordam os Ministros da Pri- monetária.
meira Turma do Supremo Tribunal
Federal, na conformidade da ata do A espécie foi relatada pelo MM.
julgamento e das notas taquigráfi- Juiz de Direito da Comarca de S.
cas, por unanimidade de votos, em Paulo, às fls. 106:
conhecer do recurso e dar-lhe provi- — Comércio e Indústria Ire-
mento. tama S/A ingressou em juízo
Brasília, 2 de agosto de 1983 — com a presente ação ordinária
Rafael Mayer, Presidente — Alfredo contra a Fazenda Nacional, ale-
Buzaid, Relator. gando, em síntese, que nos ter-
mos da Lei Federal n? 4.388/64,
RELATÓRIO foi instituído um adicional de
30% sobre as aliquotas de algu-
mas alíneas e incisos do Regula-
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Pa- mento do Imposto de Consumo, a
ra compreensão da controvérsia, vigorar dentre 1? de setembro a
adoto o relatório do eminente Minis- 31 de dezembro de 1964.
tro Sebastião Alves dos Reis, do Eg. No entanto, pela Circulares n?s
Tribunal Federal de Recursos, 153 e 171, de setembro/64, a
verbis: Diretoria de Rendas Internas, ao
«Comércio e Indústria Iretama traçar normas para o recolhi-
S/A ajuíza a presente ação contra mento daquele adicional, proibi-
a Fazenda Nacional, na qual pre- ra dele fossem feitas deduções
tende seja reconhecido o seu direi- permitidas, contrariando assim,
to de compensar não só as impor- não só lei que não adotou para o
tâncias recolhidas indevidamente, adicional tratamento diverso da-
mas também os saldos credores, quele previsto no RIC como tam-
na sua escrituração normal do im- bém ao próprio RIC, que a previ-
posto de consumo (Cri 15.330,057 e ra nos seus artigos 148 e 154.
R.T.J. — 108 791

Tal orientação fora, porém, re- Saneado o feito e resolvido o in-


vista pelas Portarias n? 342 e 378 cidente de competência do juízo,
do Ministério da Fazenda, para vieram os autos para decisão».
admitir primeiramente a com- O r. julgado de primeiro grau
pensação de que tratam aqueles deu pela procedência da ação, pa-
artigos e afinal para cancelar ra condenar a ré a pagará A. á
qualquer crédito existente no en- conta de restituição, a quantia re-
cerramento da escrituração do clamadá na inicial, acrescida de
adicional, em 31-12-1964. juros de mora, a contar da citação,
Em conseqüência, a suplicante custas, verbas advocaticias de 10%
que já havia recolhido sobre seus sobre o valor da condenação, in-
produtos o imposto de consumo, cabível a correção monetária, por
sem os descontos de lei sobre o falta de amparo legal, recorrendo
adicional criado, ficara impedido de ofício para este Tribunal.
de fazê-lo. Apelam as partes, a Autora pe-
dindo a correção monetária e a Fa-
Dai esta ação, cuja procedên- zenda reafirmando suas alegações
cia postula, nos termos da ini- anteriores • com as respostas res-
cial, a fim de ser a ré condenada pectivas, neste Tribunal, a ilustra-
não só a permitir a compensação da Subprocuradoria-Geral da Re-
fiscal do tributo recolhido a pública, manifestou-se pelo provi-
mais, no importe de Cri mento ao apelo da União.
15.330,05, como também o saldo
credor existente no valor de Cri 2 o relatório, sem revisão» (fls.
9.088.70, ou a restituir-lhe tais im- 159/162).
portâncias, com juros de mora, No julgamento de segundo grau, fi-
correção monetária, custas e cou assentada a «Inadmissibilidade
verba advocatícia. da compensação do adicional criado
pela Lei n? 4.388/64, depois do encer-
Em sua contestação de fls. ramento da escrituração respectiva
60/62, alega a Fazenda não assis- em 31 de dezembro do mesmo ano»
tir razão à autora, visto que, não (fls. 170) . Assim, foi dado provimento
tendo ela promovido tempestiva- ao recurso da Fazenda Nacional, in-
mente o aproveitamento de seu vertido o ônus do sucumbimento e
crédito, encontra-se mesmo can- prejudicado a apelação da Autora.
celado pela restrição contida na
Portaria Ministerial n? 378/64. Inconformada, esta, interpôs re-
Outrossim, o adicional criado curso extraordinário, com funda-
não se confunde com o imposto mento na alínea d, do Item III do ar-
tigo 119 da Constituição da Repúbli-
de consumo, servindo tão apenas ca, alegando, portanto, dissídio juris-
de base ao seu cálculo. prudencial. O recurso teve segui-
A Portaria admitira apenas a mento pelo despacho de fls. 180/181.
compensação entre débito e cré- E o relatório.
dito do adicional e não entre cré-
dito de adicional e débito do im-
posto de consumo. VOTO
As demais verbas são in- O Sr. Ministro Alfredo Buzaid (Re-
cabíveis, mormente a correção lator): Com efeito, configura-se o
monetária. dissídio jurisprudencial.
792 R.T.J. — 108

No caso presente, o Egrégio Tribu- No RMS n? 18.661-PE, com voto do


nal Federal de Recursos assentou a eminente e saudoso Ministro Alio-
«Inadmissibilidade da compensação mar Baleeiro, esta Colenda Corte já
do adicional criado pela Lei n° havia decidido no mesmo sentido,
4.388/64, depois do encerramento da mandando que o acréscimo do tribu-
escrituração respectiva em 31 de de- to já pago fosse deduzido o valor
zembro do mesmo ano. Precedentes acrescido ao tributo já pago pela
do Alto Pretório e deste Tribunal. matéria-prima (RTJ 50/475/483).
Deu-se provimento ao recurso da Fa-
zenda Nacional, invertidos os ónus Como se vê, evidente o dissídio ju-
da sucumbência e prejudicado o da risprudencial.
A.» (fls. 170).
Por tais fundamentos, conheço e
A v. decisão a que louvou-se no RE dou provimento ao presente recurso,
n? 80.308, 2? Turma, deste Eg. Supre- com fundamento no art. 119, III, d,
mo Tribunal Federal, cuja ementa é da Constituição da República, para
a seguinte: cassar o v. acórdão recorrido e jul-
gar procedente a ação nos termos do
«Imposto de consumo (atual Im- pedido de fls. 7, devendo a correção
posto sobre Produtos Industrializa- monetária incidir a partir da lei que
dos). Inadmissibilidade da com- a instituiu (Lei n? 6.899/81), fixando
pensação do adicional criado pela os honorários em 1096 (dez por cen-
Lei n? 4.388, de 1964, depois do en- to) sobre o valor da compensação.
cerramento de sua escrituração, E o meu voto.
em 31 de dezembro desse ano. Pro-
cedência da interpretação conferi-
da pelo acórdão recorrido a esse
ato legislativo, bem como ao De- EXTRATO DA ATA
creto que o regulamentou.
Recurso conhecido, porém não RE 99.71&-SP — Rel.: Min. Alfredo
provido» (RTJ 77/2651. Buzaid. Recte.: Comércio e Indústria
Iretama S/A. (Advs.: Gustavo César
Todavia, nos embargos de diver- de Barros Barreto e outros). Recda.:
gência opostos pelo recorrido, contra União Federal.
o supracitado aresto, o Plenário co-
nheceu e recebeu os embargos para Decisão: Conheceu-se do recurso
reformar a decisão do recurso, es- extraordinário e se lhe deu provi-
tando o segundo aresto assim emen- mento. Decisão unânime.
tado:
Presidência do Senhor Ministro
«Imposto de Consumo. Dedução Rafael Mayer, na ausência ocasional
da matéria-prima. Compensação do Ministro Soares Mufloz (Presiden-
do adicional criado pela Lei n? te). Presentes à Sessão os Senho-
4.388/64. Legitima a dedução do res Ministros Néri da Silveira, Alfre-
tributo já pago pela matéria- do Buzaid e Oscar Corrêa. Subpro-
prima, abrangendo os acréscimos curador-Geral da República, Dr. Fran-
aliquota, a titulo de adicional. cisco de Assis Toledo.
Tratando-se do mesmo imposto,
não comporta regime diverso da- Brasília, 2 de agosto de 1983 —
quele. Embargos conhecidos e re- António Carlos de Azevedo Braga,
cebidos» (RTJ 87/986/897). Secretário.
R.T.J. 108 793

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 99.849 — PE


(Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —
INCRA — Recorridos: Severino Floro de Lima e sua mulher.
Desapropriação por Interesse social, para fins de reforma agrá-
ria.
E inconstitucional o artigo 11 do Decreto-lei Federal n? 554, de
25 de abril de 1969, por violar a garantia, reafirmada no próprio arti-
go 161 da Constituição, de que a desapropriação se faz mediante paga-
mento de Justa indenização.
A exegese estrita, dada pelo acórdão recorrido aos incisos II e
III do artigo 3? do citado Decreto-lei, e que os concilia com a garantia
constitucional da Justa indenização, não ofende, obviamente, o texto
constitucional em causa.
Recurso extraordinário não conhecido, declarada a inconstitucio-
nalidade do artigo 11 do Decreto-lei Federal 554, de 25 de abril de
1969.
ACÓRDÃO ção. Avaliação. Inconstitucionali-
Vistos, relatados e discutidos es- dade. Decreto-Lei n? 554, de 1969.
tes autos, acordam os Ministros do Juros moratórios.
Supremo Tribunal Federal, em Ses- I — O Tribunal Federal de Re-
são Plenária, na conformidade da cursos declarou a inconstitucio-
ata do Julgamento e das notas taqui- nalidade do artigo 11 do Decreto-
gráficas, por maioria de votos, não Lei n? 554, de 1969 (Argüição de
conhecer do recurso, declarando-se a inconstitucionalidade no AG n?
inconstitucionalidade do art. 11 do 38.537 — MG, Relator p/ Acórdão
Decreto-Lei Federal n? 554, de 25 de o Sr. Ministro José Néri da
abril de 1969. Silveira). Destarte, a indenização
a ser paga ao expropriado há de
Brasília, 17 de agosto de 1983 — resultar de avaliação Judicial,
Moreira Alves, Presidente e Relator. sem possibilidade do prevaleci-
mento dos valores apurados na
forma dos incisos II e III do arti-
RELATÓRIO go 3? do Decreto-Lei n? 554, de
1969.
O Sr. Ministro Moreira Alves: E II — Juros moratórios na for-
este o teor do Acórdão recorrido (fls. ma do enunciado na Súmula n?
201/210): 70, do Tribunal Federai de Re-
cursos
«VOTO III — Recurso da autarquia-
O Exmo. Sr. Ministro Carlos Má- expropriante desprovido. Apelo
rio Venoso (Relator): Na AC n? dos expropriados provido, par-
cialmente.»
71.656-MG, de que fui relator, deci-
didiu esta Egrégia Turma:
«Desapropriação. Interesse So- Disse eu, então, ao votar:
cial. Reforma Agrária. Indeniza-

794 R.T.J. — 108

«Em trabalho que escrevi so- tratando de desapropriação por


bre o tema — «Desapropriação interesse social, para fins de
para fins de reforma agrária — reforma agrária.
apontamentos», publicado na Não é possível adotar, em
RDP n? 34, pag. 11 («Rev. Jur. lei como critério decisivo a de-
Lemi», 104, pág. 1), sustentei a finir a justa indenização, o va-
constitucionalidade do art. 3?, II lor da propriedade declarado
e III e art. 11 do Decreto-Lei n? pelo titular, para fins de paga-
554, de 25-4-69, «por isso que a mento do imposto territorial ru-
Constituição, no art. 153, § 22, ao ral.
cuidar de estabelecer, nos casos
de desapropriação por necessida- Inconstitucionalidade, ape-
de ou utilidade pública ou inte- nas, do art. 11, do Decreto-Lei
resse social, a «prévia e justa in- n? 554, de 1969, e não de seu
denização em dinheiro», ressal- art. 3?, incisos II e III.»
vou, expressamente o lisposto no
art. 161. Este, a seu turno, pres- Quanto a inconstitucionalidade
creve que a justa indenização, no do art. 39, II e III, do referido
caso será «fixada segundo os Decreto-lei n? 554/69, foi a mesma
critérios que a lei estabelecer». rejeitada por falta de quorum regi-
Verifica-se, assim, que a Consti- mental. O eminente Ministro José
tuição deu tratamento diverso, Néri da Silveira, Relator, deixou
no que toca à indenização, às de- expresso, entretanto, no seu voto:
sapropriações por interesse so- «De todo o exposto, conferin-
cial para fins de reforma agrá- do o art. 3? II e III, do Decreto-
ria, subordinando esta a regime Lei n? 554, de 1969, a exegese
jurídico especifico.» acima referida, qual seja, de,
O Egrégio Tribunal Federal de aí, se estipular mera presunção
Recursos, todavia, apreciando 'uris tantum de correspondên-
recurso interposto de decisão que cia entre o real valor do bem
proferi como Juiz Federal em expropriado e a manifestação
Minas Gerais, entendeu de forma de vontade de seu proprietário,
diferente. Na argüição de incons- o que autorizará, desde logo,
titucionalidade havida no Ag. n? com base em tal compreender,
38.537-MG, Relatar p/Acórdão o ter-se como justificado o depó-
Sr. Ministro José Néri da sito do valor declarado para os
Silveira, o Plenário decidiu: exclusivos fins previstos nos ar-
«— Desapropriação. tigos 4? e seu parágrafo único,
6?, 7? e 8?, todos do mesmo di-
Desapropriação por inte- ploma legal, não os tenho como
resse social, para fins de refor- inconstitucionais. Reconheço,
ma agrária. todavia, a inconstitucionalidade
Decreto-Lei n? 554, de 25-4- do art. 11 do Decreto-Lei n?
1969. 554/1969, pelos fundamentos an-
tes invocados.»
Argüição de inconstitucionali-
dade dos arts. 3?, incisos II e
III, e 11. Verifica-se, então, pelo voto do
Na desapropriação, o pro- Sr. Ministro Néri da Silveira, que
prietário há de receber indeni- os incisos II e III, do art. 3?, do
zação justa, pela perda do bem Decreto-Lei n? 554, de 1969, só
expropriado, inclusive em se não foram declarados inconstitu-
R.T.J. — 108 795

cionais, porque o eminente Minis- lidada do cerrado, topografia do


tro conferiu-lhes exegese estri- terreno, fertilidade do solo sua
ta: os incisos II e III, do art. 3?, capacidade de uso, profundidade,
estipulam, simplesmente, mera permeabilidade, drenagem, inun-
presunção de vontade do expro- dação, pedregosidade, declivida-
priado, de modo a autorizar o de- de, erosão, mas, também, os pre-
pósito do valor para fins dos arti- ços do mercado, através de con-
gos 4?, parágrafo único, 6?, 7? e sulta ás várias fontes que pode-
8?, do Decreto-Lei n? 554/69. riam espelhar o valor real e
Posta assim a questão, força é atual das terras, consoante de-
reconhecer que a indenização re- monstração de fls. 45. Além dis-
sultará da avaliação judicial, so, fixou a indenização dentro da
sem possibilidade do prevaleci- média resultante da pesquisa fei-
mento do desejado pelo expro- ta, pelo que não assiste razão ao
priante, que pugna no sentido da Expropriante quando impugna o
indenização ser fixada na forma valor encontrado, mesmo porque,
do disposto no art. 3?, II, e art. na apuração deste foi consultado,
11, do Decreto-Lei n? 554/69. Com entre outras fontes de pesquisa, o
a ressalva do meu ponto de vista próprio Cartório de 1? Ofício de
pessoal a respeito do tema, pois Notas de João Pinheiro, do qual
continuo entendendo, data venta, foram extraídas as escrituras de
constitucional o artigo 11, do fls. 372/375, que, além de isolada-
Decreto-Lei n? 554/69, o certo é mente, serem insuficientes para
que devo ajustar-me ao que deci- apuração do valor venal das ter-
diu o Plenário do TFR. Este, ras na região, não esclarecem os
aliás, nos Ags. n? 40.748-PR, Re- aspectos acima apontados.
lator: Ministro José Dantas, e Do mesmo modo, o valor
40.634-Acre, Relator: Ministro das benfeitorias não me parece
Peçanha Martins, com base no exagerado. Além disso, à avalia-
decidido na Argüição de Inconst. ção de fls. 59/70 foi efetuada em
no Ag. n? 38.537-MG, mandou que 1976 e, naquela ocasião, já estava
a avaliação se fizesse. fora da realidade.
A sentença, no caso, fundou-se Ora, ninguém desconhece
no laudo do perito oficial, laudo a elevação assustadora, mês a
único, às fls. 342/361. E fez bem, mês, do metro quadrado de cons-
por isso que o laudo apresenta-se trução.
suficientemente fundamentado e Por essas razões, entendo
com base em pesquisa mercado- que o laudo oficial satisfaz a exi-
lógica. A lapidar sentença do gência constitucional de Justa in-
Juiz Antônio Augusto Catão Al- denização e, assim sendo, adoto-
ves, com propriedade, analisou o.
referido laudo e nada é necessá- Quanto ao valor devido a
rio acrescentar-se ao que escre- cada Expropriado, por não ter si-
veu o atilado magistrado. do Impugnada, acolho a discrimi-
«60. Pela análise do aludido nação de fls. 350.
laudo, constata-se que o perito foi Pelo exposto, julgo procedente
criterioso na fixação do valor da a ação para o fim especificado
indenização, levando em conside- na inicial e, adotanto o laudo de
ração não só os aspectos de aces- fls. 342/359, fixo a indenização a
so, proximidade da sede do mu- ser paga aos Expropriados, ob-
nicípio, áreas agricultáveis, qua- servada, quanto ao pagamento, a
796 R.T.J. — 108

discriminação de fls. 350, em Cr$ Provejo o apelo, no ponto.


45.149.600,00 (quarenta e cinco B) Benfeitorias: Avaliação in-
milhões, e cento e quarenta e no- completa.
ve mil e seiscentos cruzeiros),
acrescida de juros compensató- Os expropriados sustentam que
rios (Súmula 164 STF) de 12% a avaliação, no que tange às ben-
(doze por cento) ao ano (AC n? feitorias, ficou incompleta (lê fls.
55.158-PR — Rel.: Min. Carlos 468).
Mário Velloso — TFR 3? Turma Isso, todavia, não ficou com-
— Unânime — DJU de 12-12-79), provado, nos autos, mesmo por-
correção monetária e honorários que, apesar de devidamente com-
de advogado, que arbitro em 5% promissado, não apresentou o as-
(cinco por cento) sobre a diferen- sistente técnico indicado pelos
ça entre a oferta e a indenização, expropriados o seu laudo..
ambos os valores corrigidos mo- Desprovejo o recurso, pois, no
netariamente, depois de somados particular.
os acréscimos legais.
Quanto aos juros moratórios, IV
porque inacumuláveis com os
compensatórios, não são devidos Em conclusão, nego provimen-
(AC n? 39.773-RS -- TFR — 1? to ao apelo da autarquia expro-
Turma DJU de 10-12-76 — pág. priante e dou provimento parcial
10.642). ao recurso dos expropriados.»
Decorrido o prazo de recurso
voluntário, com ou sem ele, su- Destarte, a indenização a ser pa-
bam os autos, para reexame, ao ga há de resultar de avaliação ju-
Egrégio Tribunal Federal de Re- dicial, sem possibilidade do preva-
cursos (art. 1?, § 2?, Lei n? lecimento do critério inscrito no
6.825/80). art. 3?, II e III, e art. 11, do
Custas ex lege.» Decreto-Lei n? 554, de 1969.
(fls. 421/422). II
Confirmo a sentença no parti- A sentença adotou o laudo do pe-
cular. rito oficial, às fls. 94/100, que fixou
Nego provimento ao apelo da o valor da terra nua em Cr$
autarquia expropriante. 10.656.000,00, avaliando as benfeito-
rias por Cr; 300.150,00, assim dis-
III tribuídos: Cr$ 211.400,00 pelas cons-
truções, e Cr$ 88.750,00 pelas pasta-
Recurso dos Expropriados gens (fls. 100).
Em verdade, o laudo não é im-
A) Juros moratórios. pecável. Cumpria ao perito com-
A jurisprudência evoluiu no provar os dados em que se baseou
sentido de ser possível a cumula- para formular a avaliação. Deve-
ção dos juros compensatórios ria, outrossim, trazer para os au-
com os moratórios, contados es- tos a prova de que realizou pesqui-
tes, á taxa de 6% ao ano, a partir sa mercadológica. Acontece, toda-
do trânsito em julgado da senten- via, que o laudo do assistente téc-
ça que fixa a indenização (TFR, nico indicado pela autarquia expro-
Súmula 70). priante padece dos mesmos defei-
R.T.J. — 108 797

tos e, o que é pior, parece que se IV


baseia em dados fornecidos pela
própria autarquia-expropriante, is- A correção monetária deveria in-
so porque, conforme esclarecido à cidir a partir da data do laudo
fl. 147, o assistente técnico do In- (TFR, Súmula 75). A sentença a
cra é servidor deste, «exercendo as concedeu, todavia, «a partir de
funções de agrônomo.» ( fls. 147). quando se completou um ano de
O Dr. Juiz complementou o laudo laudo dos peritos.» Não houve re-
oficial com dados que retirou de curso dos Expropriados. Mantenho
sua experiência funcional. Escre- a sentença, pois, no particular.
veu: V
«Pelas mãos do Juiz que prola-
ta esta sentença têm passado Os honorários advocaticios fo-
inúmeras ações de desapropria- ram arbitrados em 10% do valor
ção de faixas de propriedades da condenação.
promovidas pelo Departamento A sentença, no ponto, deve ser
Nacional de Estradas de Roda- modificada.
gem — DNER, em diversas zo-
nas do Estado. Mantenho o percentual concedido
Assim, em Salgueiro, no alto — 10%. Incidirá ele, entretanto, so-
sertão, em 22-6-79, o DNER, ofe- bre a diferença entre a oferta e a
receu Cri 9.980,00 (nove mil, no- indenização, corrigidas ambas as
vecentos e oitenta cruzeiros), parcelas.
conforme Processo n? 1.702-07/78, VI
Em 11-11-80, em Caruaru, tam-
bém o DNER, ofereceu Cr$
3.545.600,00 ( três milhões, qui- O salário do perito foi arbitrado
nhentos e quarenta e cinco mil, de forma razoável. Mantenho o ar-
seiscentos cruzeiros) por hecta- bitramento.
res. (Processq n?,738r3(9/81).» ,

Aqui, o perito oficial avaliou por


Cr$ 20.000,00 o hectare (laudo, fls. Das custas, está a autarquia ex-
95). Esclarece que esse valor é do propriante isenta. Modifico a sen-
ano de 1979. O Dr. Juiz, pois, deve tença, no ponto.
ter cometido equivoco quando afir-
ma que o DNER ofereceu, por ter- VIII
ras localizadas em Caruaru, Cri
3.545.600,00 «por hectares» (sic), Diante do exposto, dou provi-
em 11-11-80. mento parcial ao recurso.»
Confirmo a sentença, no particu- Interposto recurso extraordinário,
lar. foi ele admitido pelo seguinte despa-
III cho ( fls. 226/228):
«Na ação expropriatória de que
São devidos os Juros compensató- se trata, a 4? Turma deste Tribu-
rios, à razão de 12% (doze por cen- nal (Relator o Sr. Ministro Carlos
to) ao ano (TFR., Súmula 110). De- Mário) reformou parcialmente o
verão ser calculados com obediên- decisório da 1? instância, para fi-
cia ao estatuído na Súmula 74. xar o quantum indenizatório nos
TFR. termos assim sumariados:
798 — 108

«Desapropriação. Interesse So- das as letras como o voto condutor


cial. Reforma Agrária. Indeniza- reportou-se ao incidente instaurado
ção. Avaliação. Inconstitucionall- a propósito, justamente, da norma
dade. Decreto-Lei n? 554, de 1969. que recomenda a indenização a ri-
Juros Compensatórios. Honorá- gor de critérios prefixados na pró-
rios Advocaticios. Custas. pria lei, e não pela forma ordinária
I — O Tribunal Federal de Re- da avaliação. E da plena razoabili-
cursos declarou a inconstitucio- dade da presente suscitação consti-
nalidade do artigo 11 do Decreto- tucional, relembre-se o respeitável
Lei n? 554, de 1969 (Argüição de número de votos vencidos no julga-
Inconstitucionalidade no Ag. n? mento daquele incidente, nos ter-
38.537-MG, Relator p/Acórdão o mos dos fundamentos que ainda
Sr. Ministro Néri da Silveira). agora o Sr. Ministro Carlos Mário
Destarte, a indenização a ser pa- ressalvou em função do seu ponto-
ga ao expropriado há de resultar de-vista pessoal.
de avaliação judicial, sem possi- Essa colocação da espécie basta,
bilidade do prevalecimento dos a meu ver, a que se processe o
valores apurados na forma dos apelo, com ensejo a que o Pretbrio
incisos II e III do artigo 3? do Excelso a deslinde, sob o ângulo do
Decreto-Lei n? 554/69. dispositivo legal declarado incons-
II — Juros compensatórios na titucional por este Tribunal.
forma das Súmulas n?s 74 e 110, Admito, pois, o recurso.
do TFR. Publique-se.»
III — Honorários advocaticios A fls. 245/249, assim se manifesta
de 10% sobre a diferença entre a a Procuradoria-Geral da República,
oferta e a indenização, corrigidas em parecer do Dr. Mauro Leite Soa-
ambas as parcelas. res:
IV — A autarquia exproprian- (d. A ementa do Acórdão recor-
te está isenta do pagamento de rido reflete o mérito da matéria
custas. impugnada extraordinariamente,
V — Recurso provido, parcial- fls. 212:
mente.» — fls. 212. «Desapropriação. Interesse so-
cial. Reforma agrária. Indeniza-
Desse acórdão, a autárquia- ção. Avaliação. Inconstitucionali-
expropriante manifesta recurso ex- dade. Decreto-Lei n? 554, de 1969_
traordinário, invocando amparo Juros moratórlos.
tão-somente na alínea a da norma
constitucional autorizadora, sus- I — O Tribunal Federal de Re-
tentando contrariedade ao disposto cursos declarou a inconstitucio-
no art. 161 da Carta Magna, que nalidade do artigo 11 do Decreto-
confere á lei ordinária autorização Lei n? 554, de 1969 (Argüição de
para fixar o conceito da justa inde- inconstitucionalidade no AG n?
nização por interesse social, para 38.537-MG, Relator p/Acórdão o
fins de reforma agrária e negativa Sr. Ministro José Néri da
de vigência ao Decreto-Lei n? Silveira). Destarte, a indenização
554/69, cujos dispositivos foram a ser paga ao expropriado há de
editados na forma do dito preceito resultar de avaliação judicial,
maior. sem possibilidade do prevaleci-
mento dos valores apurados na
Não há negar que a matéria forma dos incisos II e III do arti-
constitucional proposta no recurso go 3? do Decreto-Lei n? 554, de
está ventilada no Acórdão, com to- 1969.»
— 108 799

Com apoio na letra a alega a propriação, na forma prevista


autarquia desapropriante que ine- neste Decreto-Lei, os imóveis que
xiste a declarada inconstitucionali- satisfizerem os requisitos para
dade do art. 11 do Decreto-Lei n? classificação como empresa ru-
554/69 e, assim, foi contrariado o ral, fixados na Lei n? 4.504, de 30
art. 161 da Constituição. de novembro de 1964, e sua regu-
Assiste razão ao recorrente. lamentação.»
O art. 161 da Constituição Federal A Lei n? 4.504 define em seu
dispõe expressamente que a justa art. 4?, inciso VI:
indenização, em caso de desapro- «Empresa Rural» é o empreen-
priação da propriedade rural, deve dimento de pessoa física ou
ser fixada segundo os critérios que jurídica, pública ou privada, que
a lei estabelecer. Se o Decreto-Lei explore econômica e racional-
n? 554/69 adotou o valor da proprie- mente imóvel rural, dentro de
dade declarado por seu titular, pa- condição de rendimento econômi-
ra fins de pagamento do imposto co da região em que se situe e
territorial rural, temos que tal cri- que explore área mínima agricul-
tério não viola o dispositivo consti- tável do imóvel, segundo padrões
tucional regulamentado, isto é, o fixados, pública e previamente,
art. 161 e parágrafos, combinado pelo Poder Executivo. Para esse
com o anterior art. 160, III, refe- fim, equiparam-se às áreas culti-
rente à função social da proprieda- vadas as pastagens, as matas na-
de. turais e artificiais e as áreas ocu-
O critério legal encontra res- padas com benfeitorias;»
paldo especialmente no caráter pe- Ora, o Decreto-Lei n? 554/69
culiar dessa desapropriação, que declara no § 3? do seu art. 3?:
tem por objeto imóveis desvirtua-
dos da função social da proprieda- «113?. Dentro do prazo de 180
de, constituindo-se, assim, em (cento e oitenta) dias, contados
principio vinculado ao desenvolvi- da data da publicação deste
mento nacional e à justiça social. Decreto-Lei, os proprietários de
imóveis rurais poderão apresen-
Os critérios para a «justa in- tar, mediante justificação, nova
denização» fixados nos arts. 153, § declaração do respectivo valor,
22, e 161, caput, da Constituição, em substituição à anteriormente
não são idênticos e nem obrigato- formulada para efeito de paga-
riamente deveriam ser idênticos, mento do imposto territorial ru-
porque os pressupostos para as ral.»
respectivas desapropriações são
diferentes, tanto que o próprio § 22 8. Não há porque se pretender a
do art. 153 faz expressa ressalva equivalência, a identidade, a igual-
ao disposto no art. 161. Este, em dade, a equiparação dos critérios
seu § 2?, declara que a desapro- inscritos na lei regulamentadora
priação só recairá sobre proprieda- da desapropriação por necessidade
des rurais cuja forma de explora- ou utilidade pública aos constantes
ção contrarie o estabelecido na da regulamentação da desapro-
lei regulamentadora e, esta, que é priação por interesse social. Estes,
o Decreto-Lei n? 554/69, em seu que são os do Decreto-Lei n?
art. 2?, declara: 554/69," podem ser considerados co- -
mo rígidos, possivelmente, mas
«Art. 2?. Ainda quando situa- nem por isso, somente, podem ou
dos nas áreas de que trata o arti- devem ser tidos como inconstitu-
go 1?, não serão objeto de desa- cionais, mesmo porque, conforme
800 R.T.J. — 108

já dissemos, estão jungidos ao Desapropriação por interesse


Título III da Constituição, Da Or- social para fins de reforma agra-
dem Econômica e Social. Os ria.
princípios, os parâmetros são dife- Decreto-Lei n? 554, de 25-4-
rentes, por se tratar de coisas dife- 1969.
rentes e a decisão recorrida, acaso
mantida, redundaria na aplicação Argüição de inconstitucionali-
de isonomia inversa. Logicamente, dade dos arts. 3?, incisos II e III, e
a lei regulamentar não excluiu a 11. '
apreciação judicial da desapro- Na desapropriação, o proprie-
priação em tela, limitando-se à fi- tário há de receber indenização
xação dos critérios a serem obede- justa, pela perda do bem expro-
cidos no exame pelo Poder Judiciá- priado, inclusive bm se tratando de
rio. Se a Constituição trata diferen- desapropriação'por interesse social,
temente os tipos de desapropriação para fins de reforma agrária.
em questão, não é inconstitucional
o dispositivo legal que também tra- Não é possível adotar, em lei,
ta diferentemente tal desapropria- como critério decisivo a definir a
ção para fins de reforma agrária, justa indenização, o valor da pro-
em confronto com outro tipo de de- priedade declarado pelo titular, pa-
sapropriação baseado em pressu- ra fins de pagamento do imposto
postos diferentes, quais sejam por territorial rural.
necessidade ou utilidade pública. Inconstitucionalidade, apenas,
9. Inexistindo inconstitucionali- do art. 11, do Decreto-Lei n? 554, de
dade no Decreto-Lei n? 554/69, so- 1969, e não de seu art. 3?, incisos II
mos pelo conhecimento e provi- e III.»
mento do recurso extraordinário.»
E o relatório. Do exame desse aresto, observa-se
que não foi declarada a inconstitu-
cionalidade dos incisos II e III do ar-
VOTO tigo 3? do Decreto-Lei n? 554/69, por
falta de quorum, uma vez que, a fa-
O Sr. Ministro Moreira Alves (Re- vor de sua constitucionalidade se
lator): 1. O óbice do inciso V, c, do computaram os votos que assim o
artigo 325 do Regimento Interno des- declararam irrestritamente, bem co-
ta Corte é afastado, no caso, por- mo os dos Srs. Ministros Néri da Sil-
quanto a questão versada no recurso veira e Evandro Gueiros, que lhe de-
extraordinário é de natureza exclusi- ram exegese estrita: a de que eles
vamente constitucional: a ofensa, ou estabelecem, apenas, mera presun-
não, do disposto no caput do artigo ção de vontade do expropriado, a
161 da Constituição Federal. qual autoriza o depósito do valor pa-
2. A questão já foi amplamente ra os fins dos artigos 4?, parágrafo
discutida no Tribunal Federal de Re- único, 6?, 7? e 8? do mecionado
cursos, ao julgar o incidente de ar- decreto-lei.
güição de inconstitucionalidade le- Estou de inteiro acordo com a de-
vantado no Agravo de Instrumento claração de inconstitucionalidade do
n? 38.537, de que foi relatar para o artigo 11 do Decreto-Lei n? 554, de
'âtdrdão o Sr. 'MíniStrio Nêtr da "Sil- 25 de abril de 1969, que é 'bastante
veira, então integrante daquela Cor- para sustentar a conclusão do acór-
te. A ementa desse aresto tem o teor dão ora recorrido.
seguinte:
«Desapropriação. Reza o citado artigo 11:
R.T.J. — 108 801

«Na revisão do valor da indeni- Pretendesse o constituinte deixar


zação, deverá ser respeitado, em ao arbítrio do legislador ordinário o
qualquer caso, como limite máxi- modo de fixação do valor, não teria
mo, o valor declarado pelo proprie- ele reafirmado a garantia do paga-
tário, para efeito de pagamento do mento da indenização justa, que cer-
Imposto territorial rural, e even- ceia a lei ordinária, mas declarado,
tualmente reajustado nos termos simplesmente, que a desapropria-
do § 3? do artigo 3?» ção, nesse caso, se faria mediante o
pagamento de valor a ser fixado ex-
Por esse dispositivo, a revisão clusivamente segundo os critérios
(que é a judicial) do valor da indeni- estabelecidos em lei.
zação devida tem um limite máximo
— o valor declarado pelo proprietá-
rio, para efeito de pagamento do Im- Note-se, aliás, que, quando o cons-
posto territorial rural — que vincula tituinte quer deixar a conceituação
o juiz, ainda quando não correspon- de uma idéia a critério decisivo do
da ele ao da indenização justa. legislador ordinário, o declara em
termos como os utilizados no § 3?,
Ora, o artigo 161 caput da Consti- parte inicial, desse mesmo artigo
tuição, ao declarar que «a União po- 161:
derá promover a desapropriação da
propriedade territorial rural, me- «A indenização em títulos somen-
diante pagamento da justa indeniza- te será feita quando se tratar de
ção, fixada segundo os critérios que latifúndio, como tal conceituado
a lei estabelecer», permite, apenas, em lei,...»
que o legislador fixe critérios com os
quais se possa chegar à indenização 3. Sendo inconstitucional o citado
que ela determina seja justa, e não artigo 11 do decreto-lei n? 554/69, não
que o legislador fixe limite intrans- poderia o acórdão recorrido — que
ponivel que tenha de ser observado não tem competência para declarar
ainda quando o valor a ele corres- a inconstitucionalidade de lei —
pondente não se coadune com o jus- deixar de atribuir os incisos II e III
to. do artigo 3? do mesmo Decreto-Lei a
Indenização justa é, sem dúvida exegese que lhe deu, advinda do jul-
alguma, a compensação em dinheiro gamento do incidente de inconstitu-
que reponha, o mais exatamente cionalidade pelo Plenário do Tribu-
possível, no patrimônio do desapro- nal Federal de Recursos, e que, pe-
priado, o valor real da coisa dai reti- las próprias razões que levam à in-
rada. constitucionalidade do artigo 11, não
viola, por conciliar-se com elas, o ar-
O que não me parece defensável é tigo 161, caput, da Constituição Fe-
o entendimento de que, após haver o deral: tais incisos estabelecem, ape-
princípio constitucional reafirmado a nas, mera presunção de vontade do
garantia da justa indenização, se te- expropriado, a qual autoriza o de-
nha como possível que o legislador pósito do valor para os fins dos arti-
ordinário, por ter o mesmo texto de- gos 4?, parágrafo único, 6?, 7? e 8? do
clarado que ela será fixada segundo mencionado Decreto-Lei
os ,crltérios que a lei estabélecer,
possa, por meio destes (que afio me- 4.: Em face do exposto, não, co-
ros instrumentos), impossibilitar que nheço do presente recurso, e decláro
se alcance o objetivo (a justa a inconstitucionalidade do artigo 11
indenização) para cuja consecução do Decreto-Lei Federal n? 554, de 25
eles são permitidos. de abril de 1969.

SO2 R.T.J. — 108

VOTO tância extremamente penosa, que é


o hábito de atribuir ao imóvel, para
O Sr. Ministro Francisco Rezek: fins de tributação, um valor disso-
Sr. Presidente, vou pedir vênia ao ciado da realidade. Desse vicio so-
eminente relator, e aos Ministros cial de que padecemos, não quero
que a respeito da matéria têm posi- extrair repercussões sobre a pura
ção idêntica à de S. Exa., já exterio- análise jurídica do problema.
rizada no Tribunal Federal de Re- De modo que peço vênia aos emi-
cursos, para manter um ponto de nentes Ministros que já se manifes-
vista que assumi a respeito deste te- taram no sentido de profligar essa
ma, ainda como Procurador da Re- legislação ordinária, para, na espé-
pública, e que não me sinto motiva- cie, conhecer do recurso extraordi-
do a alterar. nário do INCRA, pela letra a, e dar-
Parece-me que a Constituição dá lhe provimento.
tratamento diferenciado à matéria,
quando dela cuida no § 22 do rol das VOTO (PRELIMINAR
garantias, e quando a versa no art. O Sr. Ministro Aldir Passarinho:
161. A expropriação motivada por in- Sr. Presidente, parece-me que no
teresse social, de que trata o art. processo há um voto meu, proferido
161, tem um perfil que lhe é único. no Tribunal Federal de Recursos,
Estabelece, aqui, a Lei Maior, uma em que me manifestei, não só pela
indenização justa segundo critérios inconstitucionalidade do art. 11 do
confiados ao legislador ordinário. A Decreto-Lei n? 554, porque feria o
razão disso é o fato de que essa ex- preceito do art. 161 da Constituição
propriação, diversamente das ou- Federal, segundo o qual na desapro-
tras, só pode recair sobre determina- priação da propriedade rural devia
do tipo de bem, qual seja a proprie- haver justa indenização, como igual-
dade rural cuja forma de exploração mente dei por inconstitucionais ou-
contraria «o acima disposto», isto é, tros dispositivos vinculados àquele
os elementos basilares da ordem mesmo art. 11 e do qual dependiam.
econômica e social enunciados no
art. 160, precipuamente a função so- A Constituição apenas possibilitou
cial da propriedade. que a lei pudesse estabelecer os cri-
térios para a apuração do justo valor
Parece-me que não é abusiva a da propriedade, mas não que o preço
conduta do legislador ordinário, pudesse dissociar-se de tal valor
quando ele atenta, para dar-se um pois que necessariamente ele have-
parâmetro, ao valor declarado pelo ria que ser justo. Assim, pelas ra-
proprietário para fins de pagamento zões que já naquela oportunidade an-
do Imposto Territorial Rural. terior expendi, e também pelas ago-
Não seria demais lembrar que o ra expostas pelo Sr. Ministro-
Imposto Territorial Rural, no caso Relator, data venta do eminente Mi-
do imóvel inaproveitado ou subapro- nistro Francisco Rezek, não conheço
veitado, é o único beneficio que essa de ambos os recursos.
propriedade proporciona ao meio so-
cial. E não me parece injusto, á luz VOTO (PRELIMINAR)
dessa ótica, que o legislador use do O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-
poder a ele confiado pelo constituin- nhor Presidente, data venta do emi-
te, fixando-se no valor declarado pa- nente Ministro Francisco Rezek,
ra fins tributários. acompanho o voto do eminente Rela-
Não queria, também, deixar tur- tor e peço vênia para aduzir mais
bar meu raciocínio por uma circuns- um argumento.
R.T.J. — 108 803

A norma geral relativa a direito de artigo 161 da Constituição Federal,


propriedade, da Constituição da Re- fala-se sempre em Justa indenização.
pública, e que garante a função so- Esta é a cláusula determinante do
cial da propriedade, como principio critério. Outro critério, que venha
orientador, na área econômica e so- ser hostil ou incompatível com a Jus-
cial, é aquela que se insculpe no art. ta indenização, não atende ao precei-
153, § 22: to constitucional.
«E assegurado o direito de pro- Não conheço do recurso.
priedade, salvo o caso de desapro-
priação por necessidade ou utilida- VOTO (PRELIMINAR)
de pública ou por interesse social,
mediante prévia e Justa indeniza-
ção em dinheiro, ressalvado o dis- O Sr. Ministro Néri da Silveira: Se-
posto no art. 161, facultando-se ao nhor Presidente. Acompanho o emi-
expropriado aceitar o pagamento nente Ministro-Relator e o faço pelos
em titulo da divida pública, com fundamentos do voto que proferi na
cláusula de exata correção mone- Argüição de Inconstitucionalidade no
tária. Em caso de perigo público Agravo de Instrumento n? 38.537-
iminente, as autoridades compe- MG, no Tribunal Federal de Recur-
tentes poderão usar da proprieda- sos, cuja fundamentação farei incor-
de particular, assegurada ao pro- porar a este voto.
prietário indenização ulterior.» Não conheço do recurso extraordi-
Então, o art. 161 só é ressalvado nário.
para o fim de não se dar a desapro- Agravo de Instrumento n? 38.537
priação em dinheiro. O principio, en- Minas Gerais
tretanto, da prévia e Justa indeniza- (Matéria Constitucional)
ção, só é ressalvado pelo § 22 para o
fim do art. 161:
«... segundo os critérios que a lei VOTO (VISTA)
estabelecer, em títulos especiais O Sr. Ministro José Néri da
da divida pública, com cláusula de Silveira: No Julgamento do Agravo
exata correção monetária, resgatá- de Instrumento n? 38.537 — MG, a
veis no prazo de vinte anos...» colenda 1? Turma, seguindo o voto
A norma geral é aquela do § 22, do eminente Relator, Sr. Ministro
que assegura o direito de proprieda- Márcio Ribeiro, decidiu afetar ao
de. E apenas a restrição que faço, noTribunal Pleno questão concernente
sentido do não pagamento em dinhei- à constitucionalidade do art. 3?, II e
ro. III, e art. 11, ambos do Decreto-Lei
Não conheço do recurso. n? 554, de 25-4-1969, que dispõe sobre
E o voto. desapropriação por interesse social,
de imóveis rurais, para fins de refor-
ma agrária.
VOTO (PRELIMINAR) Rezam os dispositivos legais indi-
cados, verbis:
O Sr. Ministro Alfredo Buzaid: Sr.
Presidente, data venta do eminente «Art. 3?. Na desapropriação a
Ministro Francisco Rezek, acompa- que se refere o art. 1?, considera-se
nho o eminente Relator. Justa indenização da propriedade:
As ponderações Já feitas, peço vê- 1 — omissis;
nia para acrescentar mais uma. II — Na falta de acordo, o valor
Tanto no artigo 153, § 22, quanto no da propriedade, declarado pelo seu
804 R.T.J. —108

titular para fins de pagamento do vada a efeito pelo próprio desapro-


imposto territorial rural, se aceito priante.
pelo expropriante; ou A fixação do limite não se coadu-
III — O valor apurado em ava- na com a liberdade de competên-
liação, levada a efeito pelo expio- cia do Judiciário para apreciação
priante, quando este não aceitar o das lesões de direito individual,
valor declarado pelo proprietário, nem com o direito de propriedade
na forma do inciso anterior, ou (CF art. 153, caput e §§ 9? e 22).
quando inexistir essa declaração». A remissão desse parágrafo do
«Art. 11. Na revisão do valor art. 161 não pode ter a significação
da indenização, deverá ser respei- de prévia aprovação dos critérios
tado, em qualquer caso como limi- legais com afastamento do contro-
te máximo, o valor declarado pelo le judiciário. Proponho, pois, se le-
proprietário, para efeito de paga- ve ao Pleno a questão preliminar
mento do imposto territorial rural, da constitucionalidade do artigo 3?,
e eventualmente reajustado nos II e III, e do art. 11 do Decreto-Lei
termos do § 3? do art. 3?.» n? 554/69.»
Em seu douto voto na Turma às Na instância originária, a quaestio
fls. 646, o ilustre Ministro Márcio Ri- 'uris foi examinada pelo eminente
beiro anotou: Ministro Carlos Mário Velloso, então
Juiz Federal da 3! Vara da Seção Ju-
«A desapropriante entende que diciária de Minas Gerais, que desa-
devido a remissão que o § 22, art. colheu a inconstitucionalidade dos
153 da CF fez ao art. 161, e a deste dispositivos em referência, conforme
á lei ordinária, os critérios desta se lê do traslado de seu brilhante
serão reputados justos. despacho, as fls. 122/123, verbis:
A questão, porém, é saber como «A) arte. 3?, II, e 11 do Decreto-
o Poder Judiciário poderá decidir Lei n? 554/69:
sobre isso. O argumento dos arguentes é
O MM. Juiz, no final de seu des- no sentido de que a indenização há
pacho, determinou a avaliação: de ser justa, não se confundindo o
observando-se a legislação perti- justo valor de um imóvel com o
nente (art. 3?. do Decreto-Lei n? seu valor fiscal, não podendo a le-
554/69). gislação ordinária limitar o valor
Como ele concluíra pela constitu- da indenização no anatai dado
cionalidade do item II, aliás sem ao imóvel para efeito de pagamen-
se referir ao art 11, fica parecendo to do imposto territorial rural.
que limitou a liberdade do perito Abrindo o debate, ressalte-
em proceder a avaliação. se que o Eg. STF e o Colendo TFR
ainda não se manifestaram a res-
A argüição da constitucionalida- peito, segundo pesquisa que fize-
de da lei, ainda não resolvida neste mos.
ou no Supremo Tribunal Federal, 31. O nosso entendimento, data
deve ser afetada a Tribunal Pleno. venla, é no sentido da constitucio-
Ao primeiro exame, parece-me nalidade dos dispositivos legais em
inconstitucional a lei quando sub- apreço. É que a Constituição, no
mete a desapropriação judicial ao art. 153, § 22, ao cuidar de estabe-
valor declarado pelo desapropriado lecer, nos casos de desapropriação
para efeito de pagamento do im- por necessidade ou utilidade públi-
POsto territorial rural, se aceito pe- ca ou interesse social, a «prévia e
lo desapropriante ou, se não aceito, justa indenização em dinheiro»,
ao valor resultante de sunlineA0 ressalvou, expressamente, o dis-
R.T.J. — 108 805

posto no art. 161. Este, a seu turno, propósito em aula proferida no Cur-
prescreve que a justa indenização, so de Pós-Graduação da PUC, de
no caso, será «fixada segundo os São Paulo, a 24-11-1975, publicada na
critérios que a lei estabelecer.» Revista de Informação Legislativa
Verifica-se, pois, que a do Senado Federal, 1976, número 49,
Constituição deu tratamento diver- pág. 273/275, e na revista de Direito
so, no que toca à indenização, às Público, vol. 34, pág. 17.
desapropriações por utilidade pú- Em seu recurso, os expropriados
blica e por interesse social, para sustentam que, se o art. 161 da Cons-
fins de reforma agrária, subordi- tituição Federal admite «os critérios
nando esta a regime Jurídico es- que a lel estabelecer» para a justa
pecifico. indenização, «Isso não pode signifi-
O argumento dos que ar- car que a lei possa usar de descrité-
gúem de inconstitucionais o art. 3? rios ou de falta de critério, a ponto
e seus itens, do Decreto-Lei n? de, impondo uma indenização injus-
554/69, não seria aproveitável, por ta, burlar a própria Constituição...».
isto que a Constituição expressa- E é aqui que se situa o nó da contro-
mente prescreveu que a Justiça da vérsia: não é qualquer lel que vale;
indenização, no caso, seria fixada só vale a lei que vier com critérios
segundo o critério da lei. compatíveis com o direito constitu-
cionalmente assegurado — à indeni-
Assim o entendimento de zação Justa!» (fls. 17). Noutro passo,
Celso António Bandeira de Mello, observam os desapropriados (fls.
que escreve' 19/21):»
«A indenização justa prevista no «31.0 art. 3? do Decreto-Lei n?
art. 161, e parágrafos, do texto 554 não é a primeira tentativa de
constitucional é a que obedece aos impor o valor cadastrado como ba-
critérios de Justo fixado em lei.» se ou índice do Justo Preço, Justo
(«Apontamentos sobre a desapro- Valor ou Justa Indenização nas de-
priação do Direito Brasileiro», sapropriações: o Decreto-Lei n?
Rev. de Dir. Púb., v. 23, pág. 18). 3.365, de 1941, teve no seu art. 27
Também, ao que parece, o um § único assim redigido:
de Franco Sobrinho («Desapropria- «Se a propriedade estiver sujeita
ção», 1973, pág. 333). ao Imposto predial, o quantum da
36. Decidindo a Ação de indenização não será inferior a 10,
Desapropriação n? 2074/71-B, o nem superior a 20 vezes o valor lo-
eminente Juiz Sebastião Reis as- cativo, deduzida previamente a im-
sim também entendeu, ao deixar portância do imposto, lançado no
expresso. ano anterior ao decreto de desa-
propriação».
«...a desapropriação da proprieda- A oposição entre esse critério e a
de territorial rural obedece a regi- simples indenização que a Consti-
me jurídico especifico, seja pela tuição de 1937 garantia provocou
aceitação obrigatória do pagamen- muito cedo a lúcida e corajosa rea-
to de indenização, referente às ter- ção do Poder Judiciário, que as-
ras, em títulos da divida pública, sentou solidamente que o limite
seja em função dos critérios de acima (do § único do art. 27) não
cálculo da reparação devida, a se- podia funcionar, que era perfeita-
rem fixados em lei.» mente permitido ultrapassá-lo, que
Reitera o ilustre Ministro Carlos impor o limite era contrário à
Mário Velloso sua compreensão a tal Constituição.
806 R.T.J. — 108

esclarecedor lembrar que a vida: a de que o Judiciário pode ul-


Constituição de 1937 só falava em trapassar o limite previsto no art.
«indenização prévia», sem o adjeti- 27, parágrafo único do Decreto-Lei
vo justa, com um acrescimo juridi- n? 3.365 — 41.» — (Jardel Noronha,
camente igual ao do atual art. 161: ob. cit., pág. 204/206, Rec. Extr. n?
«... o direito de propriedade, sal- 25.773).
vo a desapropriação por necessida- 33. Tão morto ficou esse § úni-
de ou utilidade pública, mediante co, que acabou revogado pela Lei
indenização prévia. O seu conteúdo n? 2.786, de 1956, que o substituiu
e os seus limites serão os definidos por §§ totalmente novos e total-
nas leis que lhe regularem o mente diferentes...»
exercício.» 2. E possível asseverar que, no
Evidentemente, a propriedade mundo ocidental, nesta quadra do
era menos garantida em 1937, tem- tempo, todas as Constituições reco-
po dos estados totalitários, do que nhecem a propriedade privada como
atualmente. um direito individual, admitindo, to-
E não é possível negar hoje a davia, limitações à sua aquisição,
justa indenização que o Judiciário exercício e disponibilidade, em aten-
continuou dando apesar do ção ao interesse público ou social,
Decreto-Lei n? 3.365/1941 e da pró- sendo, precisamente, no campo das
pria Constituição de 1937, onde a restrições, maiores ou menores, que
definição da propriedade fora de- o debate sucede, «com reflexos posi-
. tivos e negativos no gozo da liberda-
ferida à lei ordinária.
de individual e no funcionamento do
32. A jurisprudência que rejei- regime democrático». Já no curso do
tou como inconstitucional o limite movimento revolucionário do último
tirado do lançamento fiscal ao va- quartel do século XVIII, o instituto
lor da Indenização Simples de 1937 da desapropriação ganhou forma po-
e 1941 — pode ser verificada na sitiva como se vê do art. 17 da De-
Revista Forense, vs. 111/142 e 145, claração dos Direitos do Homem e
105/70, 103/475, 106/518, 107/85, do Cidadão, de 26-8-1789, verbis:
108/512, 109/155, 114/397, 105/335,
107/491, 122/133, 154/161, etc., na «Art. 17. La proprieté étant un
Direito, vs. 34/332, 37/323, 38/329, droit inviolable et sacré, nul ne
53/250, 24/265, 63/213, 64/189, peut en étre prive, si ce n'est lors-
64/290, etc. que ia necessite publique, légale-
ment constate, l'exiSe évidem-
No Supremo Tribunal Federal a ment et sous ia condition d'une
imprestabilidade do limite do §. Juste et préable lndemnité.»
único do art. 27 do Decreto-Lei n?
3.365 á indenização expropriatória O direito reconhecido ao Estado de
chegou a ser jurisprudência fria e decretar a perda da propriedade pri-
unânime: cfr. Jardel Noronha, Da vada, alçado à categoria constitucio-
desapropriação no Supremo Tribu- nal, pressupõe a necessidade ou utili-
nal Federal, v. 1?, pág. 26, Rec. dade públicas ou o interesse social,
Extr. n? 8.947, p. 278, Rec. Extr. n? assim como hoje se prevêem, defini-
29.989, etc. dos os casos em lei e não pendentes
A posição da Instãncia Excelsa apenas da discrição administrativa.
está bem clara neste aresto, entre As cláusulas de prévia e justa inde-
muito: nização, de outra parte, que já se en-
contram no suso transcrito art. 17 da
«Trata-se de matéria pacífica, Declaração de 1789, repetidos no art.
que não suscita mais qualquer dú- 545 do Código Napoleão da primeira
R.T.J. - 108 807

década do século passado, tiveram «Art. 161. A União poderá pro-


no constitucionalismo pátrio, expres- mover a desapropriação da pro-
sa consagração nas Cartas Políticas priedade territorial rural, median-
de 1934 (art. 113, inciso 17), 1946 te pagamento de Justa indenização,
(art. 141, § 16) e 1967 (art. 150 § 22) fixada segundo os critérios que a
mantidas na revisão de 1969 (art. lei estabelecer, em títulos espe-
153, § 22). Na Constituição Imperial ciais da dívida pública, com cláu-
de 1824, art. 179, inciso 22, e na Cons- sula de exata correção monetária,
tituição de 1891, art. 72, § 17, e ainda resgatáveis no prazo de vinte anos,
na Carta de 1937, art. 122, inciso 14?, em parcelas anuais sucessivas, as-
estabeleceu-se que a desapropriação segurada a sua aceitação, a qual-
se haveria de dar com prévia Indeni- quer tempo, como melo de paga-
zação, omitindo-se a cláusula «justa» mento até cinqüenta por cento do
indenização, estipulando-se, de qual- imposto territorial rural e como
quer sorte, no primeiro Estatuto pagamento do preço de terras pú-
Fundamental do Brasil, que «A Lei blicas.»
marcará os casos em que terá lugar Define-se, dessa maneira, no art.
esta única exceção, e dará as regras 161, da Constituição modalidade es-
para se determinar a indenização» pecial de desapropriação por interes-
(art. 179, inciso 22, última parte). se social, referente à propriedade
Dessa maneira, desde a Constitui- territorial rural, reservada á compe-
ção social - democrática de 14 de Ju- tência exclusiva da União (art. 161, §
lho de 1934, tão-só, com o hiato da 2?) e limitada a áreas incluídas nas
Carta de 1937, é de nosso sistema zonas prioritárias da reforma agrá-
constitucional a previsão geral de a ria fixadas em decreto do Poder
peida da propriedade individual por Executivo, só se dando a indenização
desapropriação dar-se apenas com em títulos, quando se tratar de lati-
prévia e Justa indenização. fúndio, como tal conceituado em lei.
No regime constitucional em vi- Essa forma de desapropriação por
gor, prevê-se, entretanto, ressalva a interesse social, para fins de Refor-
esses postulados, nos termos do art. ma Agrária, já fora definida, inicial-
153, § 22, da Emenda Constitucional mente, na Emenda Constitucional n?
n? 1, de 1969, verbis: 10 à Constituição de 1946, datada de
9.11.1964, que modificou, dentre ou-
«§ 22. E assegurado o direito de tros, a redação do art. 141, § 16, in-
propriedade, salvo o caso de desa- troduzindo seis parágrafos no art.
propriação por necessidade ou uti- 147, da Constituição de 1946, precei-
lidade pública ou por interesse so- tuando o parágrafo 1?, verbis:
cial, mediante prévia e Justa inde-
nização em dinheiro, ressalvado o 1?. Para os fins previstos
disposto no artigo 161, facultando- neste artigo, a União poderá pro-
se ao expropriado aceitar o paga- mover a desapropriação da pro-
mento em titulo da divida pública priedade territorial rural, median-
com cláusula de exata correção te pagamento da prévia e justa in-
monetária. Em caso de perigo pú- denização em títulos especiais da
blico iminente, as autoridades dívida pública, com cláusula de
competentes poderão usar da pro- exata correção monetária, segundo
priedade particular, assegurada ao índices fixados pelo Conselho Na-
proprietário indenização ulterior». cional de Economia, resgatáveis
no prazo máximo de 20 anos, em
Reza, à sua vez, o art. 161, do mes- parcelas anuais sucessivas, asse-
mo Diploma Maior: gurada a sua aceitação, a qualquer
R.T.J. —108
808

tempo, como meio de pagamento de justa indenização, fixada segun-


de até 50% do Imposto Territorial do os critérios que a lei estabele-
Rural e como pagamento do preço cer, em títulos especiais da divida
de terras públicas.» pública, com cláusula de exata
Na Mensagem ao Congresso Na- correção monetária, resgatáveis
cional, destacou o Presidente da Re- no prazo máximo de vinte anos,
pública: em parcelas anuais sucessivas, as-
segurada a sua aceitação, a qual-
«Nela se consignam modifica- quer tempo, como meio de paga-
ções constitucionais referentes à mento de até cinquenta por cento
tributação e à desapropriação por do imposto territorial rural e como
interesse social, julgadas necessá- pagamento do preço de terras pú-
rias à correta formulação dos pro- blicas.»
blemas concernentes à reforma
agrária e ao desonvolvimento ru- Excluída a cláusula inicial, o pará-
ral. ( ...). grafo 1?, do art. 157, da Constituição
Quanto á alteração do art. 141, § deAto
1967, na redação introduzida pelo
Institucional n? 9, de abril de
16, e complementação do art. 147,
propõe o Governo, ante à impossi- 1969,art.
veio a constituir o vigorante
161. da Emenda Constitucional
bilidade de pagamento em dinheiro n? 1, de 1969.
das desapropriações necessárias à
reforma agrária, que a União, Desde o Ato Institucional n? 9, de
em se tratando de latifúndio, possa 1969, portanto, retirou-se do texto
efetivar em títulos o pagamento constitucional, no que concerne à de-
aos expropriados». (in Diário do sapropriação por interesse social,
Congresso Nacional, seção I, 21-10- para fins de reforma agrária, a ex-
1964). pressão «prévia» indenização,
mantendo-se, porém, a fórmula
As disposições dos parágrafos in- ta indenização» acrescida da cláusu- ajus-
troduzidos no art. 147 da Lei Magna la
de 1946 foram incorporadas à nova lei«fixada segundo os critérios que a
estabelecer». Aliás, desde a
Constituição, de 24 de Janeiro de Emenda Constitucional n? 10, de
1967, com pequenas alterações de re- 1964, à Constituição de 1946, já se ob-
dação, mantendo-se, ai, explícito que servava a incompatibilidade da cláu-
a desapropriação se faria, «median- sula da «prévia indenização» com
te pagamento de prévia e justa inde- pagamento em títulos especiais dao
nização em títulos especiais da divi- dívida pública, pois «quem paga com
da pública.» títulos a prazo não paga previamen-
A norma constitucional do art. 161 te», como anotou Gilberto Siqueira
da Emenda Constitucional n? 1, de Lopes (RDP, vol. 26, pág. 57).
1969, suco transcrita, teve a origem Cumpre entender, todavia, con-
de sua redação no Ato Institucional soante é de nosso sistema constitu-
n? 9, de 25-4-1969, que alterou preci- cional, que,
samente os §§ 1? e 5?, revogando o § prietário há na de
desapropriação, o pro-
ter indenização justa,
11?, todos do art. 157 da Carta Políti- pela perda do bem expropriado, in-
ca de 1967, passando o § 1? do referi- clusive, em se tratando
do afligi a viger, com a seguinte re- de interesse social, parade hipótese
fins de re-
dação: forma agrária. A autorização ao le-
«1?. Para os fins previstos neste gislador, em ordem ao estabeleci-
artigo, á União poderá promover a mento de critérios para apurar-se o
desapropriação da propriedade ter- justo preço, não pode significar ou-
ritorial rural, mediante pagamento torga à legislatura ordinária de com-
R.T.J. — 108 809

peténcia insuscetível de controle pe- começou a generalizar-se a convic-


lo Judiciário. Ao particular deve ser ção de que somente emenda consti-
resguardada a garantia de indeniza- tucional ensejaria uma reforma
ção justa, quando o Poder Público, agrária de maior alcance, através
em invocando motivo legitimo de in- da ampliação do conceito da desa-
teresse social, lhe desapropria bem propriação por interesse social, ad-
de seu patrimônio, ainda que latifún- mitidas, expressamente, restrições
dio, para fins de reforma agrária. quanto a fixação e forma de paga-
Em verdade, amplo debate se tra- mento do preço de indenização»
vou, anteriormente à disciplina dos (pág. 7).
casos de desapropriação, por Interes- Embora a nova modalidade de de-
se social acerca da indenização de- sapropriação por Interesse social,
vida ao proprietário, com vistas à para fins de reforma agrária, da
reforma agrária, no País, conforme propriedade territorial rural, nas hi-
o anotou Carlos Medeiros Silva, em póteses definidas em lei, preveja for-
conferência pronunciada em abril de ma de pagamento especial, com títu-
1963, inserta na Revista Forense, los da divida pública, e não se ga-
vol. 204, págs. 5/12, sob o título — ranta ao proprietário prévia indeni-
«Aspectos Constitucionais e Legais zação, certo está que o sistema cons-
da Reforma Agrária». Referindo-se titucional lhe assegura «justa indeni-
ao Anteprojeto de Lei, de que, por zação». E, assim, ainda nesta hipóte-
fim, resultou a Lel n? 4.132, de 1962, se, garantia constitucional ser a in-
esclareceu, entretanto, a tal propósi- denização, pela perda de imóvel, jus-
to: ta, tal como nos demais casos em
Procurando ser fiel a estes que, no Brasil, se pode perder a pro-
ensinamentos, o anteprojeto de lei priedade, por via expropriatória. Se
de desapropriação por interesse so- a Constituição no art. 161, defere ao
cial entendeu que o proprietário de legislador ordinário estabelecer os
bem mantido em condições anti- critérios da justa indenização, exato
sociais poderia sofrer limitações é entender que as disposições de lei,
no seu direito de receber indeniza- com o objetivo de definir ditos crité-
ção, no caso de desapropriação por rios de apuração da justa indeniza-
«interesse social», cujo pagamen- ção, não podem atentar contra a no-
to, entretanto, continuaria a ser ção de «Indenização justa». O que se
prévio e em dinheiro. há de compreender, desde logo, do
Mas a idéia não vingou no preceito constitucional, é poder a lei
Congresso Nacional e, desde o pri- fixar critérios distintos dos que o
meiro contraste que o anteprojeto Decreto-lei n? 3.365, de 1941, como
sofreu na Comissão de Constitui- «lei geral das desapropriações», de-
ção da Câmara, ficou assente que fine em seu art. 27, quais elementos
a indenização, em tal caso, não de- de orientação do julgador, para fixar
veria sofrer limitações e se apura- o justo preço, verbis:
da pela forma peculiar às modali- «Art. 27. O Juiz indicará na sen-
dades tradicionais de desapropria- tença os fatos que motivaram o seu
ção por necessidade e utilidade pú- convencimento e deverá atender, Is-
blicas. Caso contrário seria infrin- pecialmente, à estimação dos be s
gido o texto constitucional. para efeitos fiscais, ao preço e
25. Frustrados os objetivos pri- aquisição e interesse que deles aufe-
mordiais da nova figura de desa- re o proprietário, á sua situação, es-
propriação, exceto quanto à possi- tado de conservação e segurança, ao
bilidade de revenda e de locação, valor venal dos da mesma espécie,
810 R.T.J. — 108

nos últimos cinco anos, e à valoriza- as ações expropriatórias se delon-


ção ou depreciação da área rema- gavam no tempo». (apud Revista
nescente, pertencente ao réu.» Não de Direito Público, vol. 26, pág.
parece, todavia, possível admitir 47).
que, em face de seu art. 161, a Cons-
tituição haja retirado do Poder Judi- A sua vez, o ilustre professor Calo
ciário a competência a dizer, caso a Tácito, (após destacar a construção
caso, nas expropriações da proprie- jurisprudencial, que mais tarde leva-
dade territorial rural, para reforma ria à reforma da lei, no sentido de
agrária, da justidade da indeniza- atualizar o valor das indenizações,
ção, devendo ficar, ao contrário, jun- diante do agravamento da desvalori-
gido a um teto aprioristicamente zação da moeda, do que resultou in-
posto na lei, qual seja, o valor decla- clusive ter-se como inconstitucional
rado pelo proprietário, para efeito do o parágrafo único do art. 27 do
pagamento do imposto territorial ru- Decreto-Lei n? 3.365/1941, que, em se
ral, e eventualmente reajustado nos tratando de imóveis urbanos, limita-
termos do § 3?, do art. 3?, do va as indenizações a 20 vezes o valor
Decreto-Lei n? 554/69. locativo anual declarado para lança-
Com efeito, do sistema constitucio- mento do imposto predial, dispositi-
nal resulta que a garantia oferecida vo, por fim, revogado pela Lei n?
à propriedade é efetiva e não apenas 2.786, de 21-5-1956), a propósito da
nominal, cabendo, em caso de desa- justa indenização, ponderou: «Enten-
propriação, qualquer seja sua moda- demos que o principio constitucional
lidade, ao proprietário receber inde- é de caráter econômico e não mera-
nização realmente representativa do mente ético. Tal como nos preceitos
valor do bem expropriado. Obser- equivalentes sobre a justa remune-
vou, neste particular, com inteira ra- ração nas tarifas de serviço público,
zão, Gilberto Siqueira Lopes, in A ou a revisão obrigatória de proven-
Desapropriação e as Limitações do tos de inatividade quando a perda do
Direito à Propriedade Privada», valor da moeda leva ao reajuste dos
vencimentos na atividade, a regra
verbis: da justa indenização exprime a ga-
«7.2. Partindo-se da idéia de rantia da justeza, e não apenas da
que a propriedade é especialmente justiça da reparação patrimonial».
garantida no texto constitucional e Noutro passo, o eminente jurista si-
que a expropriação é uma exceção nalou: «Não há direito individual tão
a essa garantia, haja vista que a forte que se possa opor a suprema-
Constituição de 1824 já se referia a cia social da destinação de bens e di-
ela como «única exceção à garan- reitos aos fins públicos qualificados
tia constitucional da propriedade», em lel. Mas, não há também poder
tem-se que admitir que o conceito expropriante tão poderoso que possa
de indenização justa não pode so- trazer, ainda que indiretamente, pre-
frer nenhuma limitação. Há que juízo ou diminuição patrimonial aos
ser ampla e generosamente enten- administrados. A regra da justa in-
dida. Aliás, a largueza de espírito denização, compreendida a expres-
com que os nossos juizes e Tribu- são em seu teor econômico, é o ter-
nais têm decidido sobre a matéria mo de equilíbrio entre esses dois va-
não refoge a essa diretiva. A pro- lores. Graças a essa garantia, pode
pósito, cumpre registrar que já an- a desapropriação expandir-se, em to-
tes da vigência da Lei da correção da a sua plenitude, como instrumen-
monetária os nossos juizes recor- to moderno de justiça social e de
riam ao expediente de ensejar a política econômica, sem violentar a
reavaliação do imóvel, sempre que proteção de direitos patrimoniais,
R.T.J. 108 811

como é peculiar à nossa formação rios estabelecidos pela lei não pode-
constitucional». (In Problemas rão, sob pena de inconstitucionalida-
Atuais da Desapropriação, Revista de, levar a uma apreciação manifes-
de Direito Público, vol. 31, 7/8 e 12). tamente injusta do valor do imóvel
Manoel Gonçalves Ferreira Filho expropriado. A lel poderá, sem dúvi-
anotou, neste particular: «Por justa, da, estabelecer critérios e procedi-
pretende a Constituição que a indeni- mentos para a apuração do justo va-
zação seja igual ao valor que tenha o lor da propriedade. Não poderá ser-
vir de instrumento para o esvazia-
bem expropriado no mercado, pois é mento da garantia de compensação.
este o único critério real para a Esta garantia, como é óbvio, impor-
apreciação do valor de um bem. ta na retribuição da perda da pro-
Tem-se aqui a igualdade da justiça priedade pela entrega ao proprietá-
comutativa, a igualdade aritmética» rio do bem expropriado no seu equi-
(in comentários à Constituição valente em moeda, ou no caso do ar-
Brasileira, vol. 3, pág. 105). Discor- tigo em exame, em titulo especial da
rendo sobre o art. 161 da Emenda dívida pública» (Op. cit., vol. 3,
Constitucional n? 1, de 1969, o ilustre págs. 150/151).
professor paulista reafirma a pree-
minência do principio da justa inde-
nização segundo o qual se devem Penso, dessa maneira, que não é
orientar os critérios da lei para a fi- cabível emprestar validade a norma
xação da indenização. Esta a lição legislativa, que, a priori, considere
do jurista: «O preceito em exame não poder exceder a justa indeniza-
não exclui a garantia que a Consti- ção ao valor da propriedade, decla-
tuição atribui à propriedade no art. rado pelo seu titular, para fins de
133, § 22. Apenas estabelece outra pagamento do imposto territorial ru-
modalidade de compensação que não ral, como está previsto no art. 11 do
o pagamento do valor do imóvel ex- Decreto-Lei n? 554, de 1969.
propriado em dinheiro. Assim, é
bem claro que a expropriação funda- Pontes de Miranda, comentando a
da neste dispositivo há de importar Constituição de 1967, com a Emenda
em justa indenização, ou seja, em n? 1, de 1969, escreveu, a propósito
compensação da perda da proprieda- de indenização no procedimento ex-
de pela aquisição do equivalente, ao propriatório:
seu valor em títulos da divida públi-
ca (...). E fato que a Emenda n? 1,
de 1969, acrescenta que a justa inde- «Ao lado do problema de técnica
nização será «fixada segundo os cri- legislativa, há, no direito brasilei-
térios que a lel estabelecer». Nisto, ro, o problema de direito constitu-
segue ela o disposto no art. 1? do cional, a partir de 18 de setembro
Ato Institucional n? 9, de 1969. Esta de 1946, por se haver incluído a
referência à fixação, segundo exigência de ser justa a indeniza-
critérios estabelecidos em lei, ção (...).
inexistia na Emenda Constitucio-
nal n? 10, de 1964, na Constituição «Os tribunais, ainda antes da
de 1946, como também no § 1? do Constituição de 1946, reputaram
art. 157 do texto da Constituição pro- como se fosse presunção juris
mulgada em 24 de janeiro de 1967. tantum a que se continha no art.
Qualquer que tenha sido a intenção 27, parágrafo único. «Uma coisa
que ditou o acréscimo, não se pode é ter de atender-se ao valor dos
esquecer que o principal está na jus- bens para efeitos fiscais, quando se
ta indenização Desse modo,• os crité- vai estimar o quanto da indeniza-
812 R.T.J. — 108

ção, e outra, ater-se o Juiz a esse presumido num só dado registário


critério como se fora decisivo. A administrativo, suscetível, inclusive,
lei que pretendesse impor o valor de impugnação pelo expropriante.
para efeitos fiscais, contra o justo Esse registro deve constituir apenas
valor, ofenderia a Constituição de um dentre muitos elementos a se exa-
1967, art. 153, § 22, 1! parte. Tal va- minarem na apuração da justa inde-
lor somente pode ser uma das va- nização. Ao Poder Judiciário, a teor
riáveis — por bem dizer indicio...». do art. 153, § 4?, da Constituição, de-
Ainda o mesmo festejado jurista ve restar reservado, na proteção do
ensinou: direito de propriedade, ut, art. 153, §
22, primeira parte, da Lei Maior, fi-
«Ao Estado, em caso de discor- xar a justa indenização àquele que
dância, cabe ir contra o declaran- perde sua propriedade territorial ru-
te, se a lei o permite; não pode pu- ral. Releva, nesse sentido, notar que
nir através de processo de indeni- o próprio Decreto-Lei n? 554, de 1969,
zação por desapropriação». (Op. admite, em seu art. 9% possa a con-
cit., pág. 491). testação versar sobre o valor deposi-
Procedente, é, outrossim, a ponde- tado pelo expropriante ou sobre
ração dos expropriados (fls. 22/23): vicio do processo judicial, à seme-
«A simples diferença entre o lan- lhança da regra do art. 20, primeira
çamento e o valor real pode não parte, do Decreto-Lei n? 3.365, de
significar nada, seja porque o pro- 1941.
prietário pode não estar ao par do Não reconhecendo, assim, no art
valor de venda, pode estar há mui- 3? II e III, do Decreto-Lei n? 554, de
tos anos sem cogitar de alienar 1969,
' a força de definir a indenização
terras e benfeitorias, pode ignorar justa que possa ser paga pelo expro-
as flutuações da oferta e da procu- priante ao titular da propriedade ter-
ra, pode não ter nunca feito a me- ritorial rural, nada obsta, entretan-
dição técnica dos imóveis, etc». to, o que nele se preceitua opere,
Não é possível, pois, a meu ver, apenas, como critério para o depósi-
adotar, como critério decisivo a defi- to a ser feito, com vistas à propositu-
nir a justa indenização, na espécie, o ra da ação, a teor do art. 4? e seu pa-
valor da propriedade declarado pelo rágrafo único, e art. 6? do referido
titular para fins de pagamento do Decreto-Lei n? 554, e para os fins
imposto territorial rural. A prevale- previstos nos arts. 7? e 8?, do mesmo
cer, ademais, a priori, esse critério, diploma legal. Contestada a ação ex-
como limite máximo da indenização, propriatória, quanto ao valor, segui-
importaria, outrossim, a rigor, em rá o rito ordinário, ut, art. 9? do
excluir da apreciação do Poder Judi- decreto-lei em foco, decidindo-se,
ciário a lesão de direito individual de afinal, sobre a justa indenização, as-
que se queixasse o titular da proprie- segurada pelo art. 161 da Constitui-
dade territorial rural, expropriado ção, tal como se dá no concernente
com base no art. 161 da Constituição. às desapropriações por necessidade
Não tenho, nessa linha, como proce- ou utilidade pública e nos demais ca-
dente, em matéria de expropriação, sos em que elas se processam por in-
considerar-se o cadastro rural como teresse social (art. 153, § 22, 2!
fator definitivo de apuração e limita- parte, da Constituição) Nesta últi-
ção do quantum indenizatório, que a ma parte, a inconstitucionalidade
Constituição ordena seja justo. Há que cabe proclamar é a do art. 11 do
um principio constitucional a ser diploma em foco, ao preceituar:
respeitado, qual seja, o da «justa in- «Art. 11. Na revisão do valor da
denização», que não cabe entender indenização, deverá ser respeitado,
R.T.J. — 108 813

em qualquer caso, como limite má- ra presunção juris tantum de corres-


ximo, o valor declarado pelo pro- pondência entre o real valor do bem
prietário, para efeito de pagamen- expropriado e a manifestação de
to de imposto territorial rural, e vontade de seu proprietário, o que
eventualmente reajustado nos ter- autorizará, desde logo, com base em
mos do 3? do artigo 3? ». tal compreender, ter-se como justifi-
No máximo, em realidade, na es- cado o depósito do valor declarado
pécie, o que se poderia admitir é me- para os exclusivos fins previstos nos
ra presunção juris tantum de corres- artigos 4? e seu parágrafo único, 6?,
ponder o valor declarado pelo titular 7? e 8?, todos do mesmo diploma le-
da propriedade ao real valor do imó- gal, não os tenho como inconstitucio-
vel. A indenização há de ser justa, nais. Reconheço, todavia, a inconsti-
ou estipulada em acordo amigável, tucionalidade do art. 11 do Decreto-
ou em juízo federal (Constituição, Lei n? 554/1969, pelos fundamentos
art. 125, I). A regra do art. 3?, II, do antes invocados.
Decreto-Lei n? 554, pode ser entendi-
da, apenas, nessa perspectiva, de de- EXTRATO DA ATA
finir uma presunção juris tantum de
justeza da indenização, porque de- RE 99.849-PE — Rel.: Ministro Mo-
corrente da manifestação do proprie- reira Alves. Recte.: Instituto Nacio-
tário da terra expropriada, e para os nal de Colonização e Reforma Agrá-
fins referidos acima. Dando-se, to- ria — INCRA (Advs.: Osmar Pereira
davia, sua discordância com o in- Frony e outros). Recdos.: Severino
dicado valor, em contestando o fei- Floro de Lima e sua mulher (Advs.:
to, essa declaração do proprietá- Torquato da Silva Castro e outros).
rio poderá servir, então, apenas Decisão: Pediu vista o Ministro
como elemento na verificação da Soares Mufloz, depois dos votos dos
justa indenização. O art. 11, en- Ministros Relator, Aldir Passarinho,
tretanto, em limitando, como o faz, Oscar Corrêa, Alfredo Buzaid, Néri
a indenização, quando for a maté- da Silveira, Rafael Mayer e Decio
ria objeto de revisão em Juizo, Miranda, não conhecendo do recurso
atenta contra o principio inserto no e declarando a inconstitucionalidade
art. 153, 4?, da Constituição, porque do art. 11 do Decreto-Lei Federal n?
ao Poder Judiciário, dessa maneira, 554, de 25 de abril de 1969; e do voto
não se asseguraria fixar a reparação do Ministro Francisco Rezek, dele
ampla da lesão do direito individual conhecendo e lhe dando provimento.
posta em discussão. Ao Juiz tem de Presidência do Senhor Ministro
ser garantido proclamar qual a justa Cordeiro Guerra. Presentes á Sessão
Indenização correspondente á pro- os Senhores Ministros Dl aci Falcão,
priedade territorial rural perdida. Moreira Alves, Soares Muãoz, Decio
Logo, a lei não há de estabelecer, a Miranda, Rafael Mayer, Néri da Sil-
priori, que, em qualquer caso, no veira, Alfredo Buzaid, Oscar Corrêa,
qual se dê a revisão judicial, a sen- Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
tença não pode fixar, como justa in- Procurador-Geral da República,
denização, valor excedente ao da de- Professor Inocêncio Mártires Coelho.
claração do proprietário, para efeito
do pagamento do imposto territo-lal Brasília, 15 de junho de 1983 —
rural. Alberto Veronese Aguiar Secretário.
De todo o exposto, conferindo ao VOTO (VISTA)
art. 3?, II e III, do Decreto-Lei n?
554, de 1969, a exegese acima referi- O Sr. Ministro Soares Muitos: Sr.
da, qual seja, de, ai, se estipular me- Presidente, pedi vista para reexami-

814 R.T.J. — 108

nar a questão, porquanto ainda não mento da garantia de compensação.


tivera oportunidade de enfrentá-la. Esta garantia, como é óbvio, impor-
Do estudo que fiz, mormente á luz ta na retribuição da perda da pro-
dos doutos votos já proferidos, me priedade pela entrega ao proprietá-
convenci da inconstitucionalidade do rio do bem do expropriado no seu
art. 11 do Decreto-Lei n? 554, de 25 equivalente em moeda ou no caso do
de abril de 1969. Nos termos da artigo em exame (art. 161 da CF),
Constituição Federal, a desapropria- em titulo especial da divida pública»
ção, em todas as suas modalidades, (Comentários á Constituição
está condicionada á justa indeniza- Brasileira, 3? ed., pág. 669).
ção. A lei ordinária que desatende a
esse pressuposto é inconstitucional. Não conheço do recurso, acompa-
nhando os votos do Relator, eminen-
te Ministro Moreira Alves, e daque-
les que o seguiram, data venia do
Admito certo conteúdo ético no dis- eminente
positivo legal em referência. Se o va- Ministro Francisco Rezek.
lor da propriedade, declarado pelo
seu titular, para fins de pagamento EXTRATO DA ATA
do imposto territorial, é tal ou qual,
razoável é que ele seja respeitado,
como limite máximo, na estimativa RE 99.849-PE — Rel.: Ministro Mo-
da indenização resultante da desa- reira Alves. Recte.: Instituto Nacio-
propriação por interesse social. To- nal de Colonização e Reforma Agrá-
davia, a Constituição Federal ao as- ria - INCRA (Advs.: Osmar Pereira
segurar o direito de propriedade Frony e outros). Recdos.: Severino
(arts. 153, 22, e 161), não se satis- Floro de Lima e sua mulher (Advs.:
faz com esse pressuposto de ordem Torquato da Silva Castro e outros).
subjetiva; subordina a desapropria-
ção ao pagamento de justa indeniza- Decisão: Não se conheceu do re-
ção, fixada segundo os critérios que curso, declarando-se a inconstitucio-
a lei estabelecer. Esses critérios não nalidaden?do554,
art. 11 do Decreto-Lei
podem ser de ordem subjetiva, nem Federal de 25 abril de 1969,
representar uma retorsão ou sanção vencido o Ministro Francisco Rezek.
à estimativa anteriormente feita pe- Ausente, ocasionalmente, o Sr. Mi-
lo proprietário para efeitos do cálcu- nistro Cordeiro Guerra. Presidiu ao
lo do imposto territorial, mas devem julgamento o Sr. Ministro Moreira
objetivar a fixação da justa indeni- Alves.
zação objetivamente considerada. Presidência do Senhor Ministro
Moreira Alves, Vice-Presidente. Au-
sente, ocasionalmente, o Sr. Ministro
Dai o acerto da observação do Cordeiro Guerra, Presidente. Pre-
Professor Manoel Gonçalves Ferrei- sentes á Sessão os Senhores Minis-
ra Filho, segundo a qual «os crité- tros Djaci Falcão, Soares Mufloz,
rios estabelecidos pela lei não pode- Decio Miranda, Rafael Mayer, Néri
rão, sob pena de inconstitucionalida- da Silveira, Alfredo Buzaid, Oscar
de, levar a uma apreciação manifes- Corrêa, Aldir Passarinho e Francis-
tamente injusta do valor do imóvel co Rezek. Procurador-Geral da Re-
expropriado. A lei poderá, sem dúvi- pública, Professor Inocêncio Márti-
da, estabelecer critérios e procedi- res Coelho.
mentos para a apuração do justo va-
lor da propriedade. Não poderá ser- Brasília, 17 de agosto de 1983 —
vir de instrumento para o esvazia- Alberto Veronese Aguiar, Secretário.
R.T.J. — 108 815

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 99.982 — PR


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrentes: Tácito Moraes Rego e sua mulher e outros — Recorridos:
Maurílio Favoreto e sua mulher.
Compra e venda de imóvel. Ação ex empto.
1 — Quando as dimensões do imóvel vendido não correspondem
ás constantes da escritura de compra e venda, tem o comprador o
direito de exigir, com a ação ex empto prevista no art. 1.136 do Códi-
go Civil, a complementação da área ou abatimento do preço.
II — Se a diferença encontrada na dimensão do imóvel não exce-
der de 1/20 da extensão total enunciada, presume-se meramente
enunciativa a referência ás suas medidas, excluindo-se a possibilida-
de das ações previstas no art. 1.136 do Código Civil, á vista de seu pa-
rágrafo (mico.
III — Outras alegações não prequestionadas (Súmulas 282 e 356),
ou inscritas no domínio dos fatos e das cláusulas contratuais (Súmu-
las 279 e 454).
Recurso extraordinário conhecido e provido, em parte.
ACORDA° O imóvel vem descrito, no instru-
mento particular em que se ex-
Vistos, relatados e discutidos estes pressou o contrato, como «uma
autos, acordam os Ministros da Se- área de terras que em sua totalida-
gunda Turma do Supremo Tribunal de se compõe de 114,12 a. (cento e
Federal de conformidade com a ata catorze alqueires e doze centési-
de Julgamentos e as notas taquigráfi- mos)» situada no Município de Al-
cas, à unanimidade de votos, conhe- vorada do Sul, Comarca de Bela
cer do recurso e lhe dar provimento Vista do Paraíso
parcial, nos termos do voto do O preço estipulado, em 31 de ou-
Ministro-Relator. tubro de 1979, foi o de Cri
Brasília, 11 de outubro de 1983 — 20.000.000,00 (vinte milhões de cru-
Moreira Alves, Presidente — zeiros), a ser pago em prestações,
Francisco Rezek, Relator. a primeira de Cr; 2.500.000,00 no
ato da escritura; a segunda de Cri
RELATORIO 3.000.000,00 em novembro de 1979;
a terceira de Cr; 2.000.000,00 em
O Sr. Ministro Francisco Rezek: dezembro de 1979; a quarta de Cri
Suprimidas algumas passagens dis- 7.500.000,00 a 15 de outubro de 1980;
pensáveis ao exato entendimento da e os restantes Cri 5.000.000,00 me-
matéria, este é o teor do acórdão re- diante a assunção de divida dos
corrido (fls. 373/379): vendedores, pelo comprador, pe-
«1. São duas ações que se origi- rante o Banco do Brasil.
nam da promessa de compra e Quando se aproximava a data do
venda de imóvel «irretratável e ir- pagamento da prestação de Cr;
revogável» firmada pelos apelan- 7.500.000,00 o comprador, que havia
tes, o Primeiro casal apelante co- mandado medir o imóvel, pleiteou
mo 'vendedor e o apelante Maurílio abatimento da parte corresponden-
Favoreto como comprador. te a 8,47 a, (oito alqueires e qua-
816 R.T.J. — 108

renta e sete centésimos) de que en- Em julgamento antecipado de li-


controu falta na medida efetuada. de, o MM. Juiz da Primeira Vara
Negando-se os vendedores em Clvel de Londrina, depois de reuni-
anuir ao abatimento, o comprador das as duas ações, teve ambas por
notificou-os judicialmente da sua improcedentes, com distribuição
intenção de deduzir do preço com- proporcional do encargo das custas
binado o valor correspondente á entre os litigantes e sem condena-
área em falta. A notificação foi re- ção em honorários de advogado.
querida dias depois de vencido o Determinou que se procedesse ao
prazo para o pagamento da presta- levantamento, pelos vendedores,
ção e dela foram intimados os ven- da quantia depositada pelos com-
dedores a 3 de novembro de 1980. pradores.
Responderam estes com uma in- Apelaram ambas as partes, o ca-
terpelação, para constituir em mo- sal de vendedores e o casal de
ra o comprador. compradores. Nada alegam quanto
ao julgamento antecipado da lide,
Este, em fins de novembro, de- mas pedem a reforma da decisão
pois de haver recolhido à agência para que seja julgada procedente a
bancária de Sertanópolis, em depó- ação que cada parte propôs.
sito de poupança, o valor integral
da prestação, á disposição do Juízo 2. A apelação dos vendedores,
de Direito da Comarca de Londri- para que se dê pela procedência da
na, ajuizou nesta Comarca a ação sua ação de rescisão de contrato e
ex-empto, para pedir o abatimento se lhe defira a reintegração na pos-
da parte do preço correspondente á se do imóvel, não merece provi-
área de 8, 47 (oito alqueires e qua- mento.
renta e sete centésimos), que esti- Ao afirmar o documento, intitu-
mou em Cr$ 1.482.537,90. lado como instrumento particular
Depois de citados e de terem ofe- de compra e venda, contrataram a
recido contestação, os vendedores venda do seu imóvel, investindo o
propuseram, em outra vara da Co- comprador de imediato na posse
marca de Londrina, ação de resci- do imóvel.
são de contrato e de reintegração O modo como o comprador usou
de posse, baseados não só na mo- do imóvel erradicando cafeeiros e,
ra, mas também em infringência por sua vez, prometendo vender
de cláusulas contratuais pelo ven- parte da área a terceiro, não im-
dedor. Esta ação foi proposta em porta em descumprimento do con-
fevereiro de 1981. trato.
Na ação ex-empto, os comprado- A venda havia se operado e so-
res afirmaram a sua intenção de mente seria desfeita se o compra-
ver o contrato mantido e pediram dor não pagasse o preço. Neste ca-
o abatimento cdrrespondente á so, o desfazimento do negócio
parte da área CM falta porque os acompanhar-se-ia de perdas e da-
vendedores não dispunham de área nos.
a mais para completar a prometi-
da. Ora, o comprador pagou as pres-
Na ação de rescisão, além de in- tações devidas, inclusive a de que
denização a ser apurada em execu- era credor o Banco do Brasil, e ga-
ção de sentença, os vendedores pe- rantiu o pagamento da última, pelp
diram a condenação dos compra- depósito que efetuou.
dores à perda das prestações já O depósito, pela maneira corno
pagas do preço. foi efetuado, antes da propositura
R.T.J. — 108 817

da ação ex-empto, se ressente de A medição efetuada por enco-


irregularidade. Mas atingiu o obje- menda dos compradores serve pa-
tivo maior, que era o de tranqüili- ra lhes fundamentar o pedido; não
zar os vendedores sobre a disponi- serve para fundamentar sentença.
bilidade de meios de pagamento Por falta de prova pericial, de-
dos compradores. samparado fica o pedido de abati-
Acertadamente, o MM. Juiz jul- mento do preço pela área faltante
gou improcedente a ação de resci- de 8,47 a. (oito alqueires e quaren-
são de contrato, pelo que se confir- ta e sete centésimos).
ma, nessa parte, a sua decisão. Para uma parte, no entanto, há
3. No concernente à ação movi- prova documental convincente.
da pelos compradores, não houve o
mesmo acerto.
Diz a respeitável sentença que a «Do exame dos documentos re-
referência à área foi apenas enun- sulta evidente, sem necessidade de
ciativa e que a venda foi de coisa prova pericial, que os apelantes
ad corpus. Tácito Moraes Rego e sua mulher
Ora, a venda é de «uma área de venderam 4,10 (quatro alqueires e
terras com 114,12 a. (cento e cator- dez centésimos) a mais, sobre a
ze alqueires e doze centésimos).» área de que efetivamente dispu-
A escritura particular não diz, nham.
como poderia dizer, que a venda Patenteado como se acha este
era da Fazenda Santa Valéria com erro, dá direito aos compradores
toda a sua área e com as divisas Maurilio Favoreto e sua mulher, a
tais e tais. abatimento no preço.
O artigo 1.136 do Código Civil re- Assim, é de se dar provimento
gula a questão deste modo: parcial à sua apelação, para aba-
«Se, na venda de um imóvel, se ter da quantia de Cri 7.500.000,00, a
estipular o preço por medida de ser levantada pelos vendedores, o
extensão, ou se determinar a res- correspondente a 4,10 a. (quatro
pectiva área, e esta não corres- alqueires e dez centésimos) da
ponder, em qualquer dos casos, área do imóvel, mais honorários de
ás dimensões dadas, o compra- advogado, á base de 20% sobre o
dor terá o direito de exigir o valor que resultar apurado.
complemento da área, e não sen-
do isso possível, o de reclamar a Ante o exposto, acordam os
rescisão do contrato ou abati- Juizes da Terceira Câmara Civel
mento proporcional do preço.» do Tribunal de Justiça, por unani-
midade de votos, em negar provi-
Na espécie, tratava-se de área mento á apelação de Tácito Mo-
determinaka„,sue não correspon- raes. Rega e sua, mulher e em, dar
deu, segunciétrUlegaitilos coMprado- proVitnento parcial à apelação de
res, ás dimensões dadas. ' /4 ~ílio Favoreto e sua mulher.»
Não sendo possível o comple- (fls. 379).
mento da área e não querendo os
compradores rescindir o contrato, Tácito Moraes Rego e sua mulher
assistir-lhes-ia o direito ao abati- entraram com embargos de declara-
mento do preço. ção, a estes foram acolhidos, em
parte, por meio de acórdão assim
Evidentemente, para que esse di- ementado (fls. 392):
reito se positivasse, mister se fazia
que a área do imóvel fosse objeto «Compromisso de compra e ven-
de perícia. da de imóvel.

818 R.T.J. — 108

Questão das dimensões, inferio- do Decreto-Lei n? 745/69 e do


res ás declaradas pelos promiten- art. 955 do Código Civil, no tocante
tes vendedores, referida ao titulo à oportunidade e aos efeitos da in-
de que dispõem e não á verificação terpelação judicial;
pericial da falta. da aventada intempestivida-
Abatimento do preço, que não de da ação ex empto, à vista do
encontra óbice na segunda parte problema do pagamento da presta-
do artigo 1.136 do Código Civil e no ção derradeira;
seu parágrafo único.» do artigo 1.092 do Código Ci-
presente recurso extraordinário vil, no que se refere à reciprocida-
busca apoio na alínea a do permissi- de obrigacional;
vo constitucional (fls. 397/409). do artigo 334—incisos II e III
Sustentam os recorrentes que a do CPC, ã conta da alegação de
instância de origem negou vigência que os compradores — ora recorri-
aos arts. 506, 955, 960, 961, 1.056, dos — teriam confessado o intento
1.059, 1.092 e 1.136 e parágrafo único, de não pagar;
do Código Civil; 46 e 334 — II e III do 5?) do artigo 46 do CPC, no que
CPC, e ainda ao Decreto-Lei n? 745, concerne a um pretendido litiscon-
de 7-8-69. sórcio passivo.
Foi admitido o apelo extremo (fls. Noutros tópicos de seu arrazoado,
440/442), tendo as partes apresenta- os recorrentes enfrentam temas que
do razões (fls. 448) e contra-razões este Tribunal não pode examinar, já
(fls. 454/465). que inscritos no domínio dos fatos e
A Procuradoria-Geral da Repúbli- das cláusulas contratuais, onde, sa-
ca, em parecer da Dra. Anadyr Ro- bidamente, o entendimento da se-
drigues, opinou pelo não conheci- gunda instância ordinária não pode
mento do extraordinário, porque não ser revisto. Este é o caso:
prequestionado qualquer dos disposi- do artigo 506 do Código Civil,
tivos de lei cuja vigência, no dizer do no que respeita a um alegado esbu-
recorrente, teria sido negada; à ex- lho por parte dos compradores;
ceção do art. 1.136 do Código Civil.
Quanto a este, porém, a Súmula n? do artigo 960 do Código Civil,
279 estaria a condenar toda discus- sobre a alegação de que os com-
são na instância extraordinária (fls. pradores estariam em mora;
470/472). 3?) dos artigos 961, 1.056 e 1.059
o relatório. do Código Civil, em torno da supos-
ta infringência de cláusulas de con-
VOTO trato mediante danos à lavoura ca-
feeira existente no imóvel.
Sr. Ministro Francisco Rezek
(Relator): O número ponderável de Entendo, por outro lado, que o ar-
dispositivos de lei federal que os re- gumento recursal da carência da
correntes estimam afrontados pelo ação — porque o pedido de abati-
aresto do Tribunal paranaense faz mento proporcional do preço formu-
necessária uma abordagem ordena- lado, previsto no art. 1.136 do C. Ci-
da. vil, não se poderia traduzir na ação
Refiro-me, de inicio, às matérias ex empto, mas na quanti minoras —
não prequestionadas na origem, e a queda neutralizada pela Súmula n?
cujo respeito não cabe discussão nes- 400.
ta Casa, à luz das Súmulas n?s 282 e Esta matéria foi questionada na
356. Tal é o caso: petição de embargos declaratórios,
R.T.J. — 108 819

apesar de o Tribunal haver, mais A seguir, observou-se que o aba-


uma vez, guardado silêncio a respei- timento do preço pela área faltan-
to. O aresto recorrido, ao aceitar a te, de 8,47 alqueires, só seria
ação ex empto proposta pelos promi- possível se resultasse provada pe-
tentes compradores, com a finalida- ricialmente essa falta. Como não
de de conseguir abatimento no preço houve produção de prova pericial,
do imóvel, deu à lei interpretação excluiu-se o abatimento do preço
razoável. Diversos autores, como correspondente à área reclamada.
Carvalho Santos, Washington de Concedeu-se, no entanto, o abati-
Barros Monteiro, Lafayette e Cor- mento correspondente a 4,10 al-
reia Telles, entendem que quando as queires, porque os embargantes
dimensões do imóvel vendido não venderam 114,12 alqueires, quando
correspondem às constantes da es- dispunham de titulo que só lhes
critura de compra e venda, tem o conferia o domínio de 110,02 alquei-
comprador o direito de exigir o com- res, conforme argüiram e demons-
plemento da área com a ação ex traram os embargados na Inicial
empto. Já o redibltórla e a quanti da ação ex empto.
mlnorls seriam ações edllícias, para Esse abatimento não encontra
a hipótese em que a coisa é entregue óbice no disposto na segunda parte
na sua inteireza, mas com vicio ou do artigo 1.136 e no seu parágrafo
defeito, ou sem as qualidades decla- único. A diferença de área, confor-
radas. me vem consignado no acórdão,
apurou-se no exame dos documen-
Examino, por último, a alegação tos da causa e não em verificação
de que teria havido afronta ao pará- pericial. A redução serviu ainda
grafo único do art. 1.136 do Cód. Ci- para a perfeita regularização da
vil, posto que, se numa área de compra e venda, na escritura pú-
114,62 alqueires, foi encontrada que- blica complementar do compro-
bra de apenas 4,10 alqueires, esta di- misso por instrumento particular a
ferença é menor que 1/20 (um vinte ser lavrada, de modo a permitir o
avos) da extensão total. De acordo seu registro, em consonãncia com
com a referida norma, neste caso, a os registros anteriores constantes
aparente venda ad mesuram se do Cartório de Registro de Imó-
transfigura em venda ad corpus, veis.»
excluindo-se a possibilidade das
ações previstas no art. 1.136 do Códi- Ora, o Código Civil dá ao tema a
go Civil. Os ora recorrentes insisti- disciplina seguinte:
ram no exame deste tema com em- «Art. 1.136. Se, na venda de um
bargos declaratórios, e o Tribunal imóvel, se estipular o preço por
assim estatuiu (fls. 392/393): medida de extensão, ou se determi-
nar a respectiva área, e esta não
«No acórdão embargado, corresponder, em qualquer dos ca-
afirmou-se que a venda feita pelos sos, às dimensões dadas, o com-
embargantes foi de imóvel com prador terá o direito de exigir
área determinada. Citou-se a pri- complemento da área, e não sendo
meira parte do artigo 1.136 do Có- isso possível, o de reclamar a res-
digo Civil, parte em que se acha cisão do contrato ou abatimento
previsto o direito do comprador, ao proporcional do preço. Não lhe ca-
verificar que a área não correspon- be, porém, esse direito, se o imóvel
de às dimensões dadas, de exigir o foi vendido como coisa certa e dis-
complemento da falta, ou a resci- criminada, tendo sido apenas enun-
são do contrato, ou o abatimento ciativa a referência às suas dimen-
do preço. sões.»
820 R.T.J. — 108

Parágrafo único. Presume-se Rêgo e sua mulher e outros (Adv.:


que a referência às dimensões foi Fernando Carda de Figueiredo e ou-
simplesmente enunciativa, quando tros). Recdos.: Maurílio Favoreto e
a diferença encontrada não exce- sua mulher (Adv.: Carlos Aparecido
der de 1/20 da extensão total enun- de Carvalho).
ciada.»
Se o acórdão deu como certa a fal- Decisão: Conhecido e provido par-
ta de apenas 4,10 alqueires, diferen- cialmente, nos termos do voto do Re-
ça inferior a 1/20 (um vinte avos) da lator. Unânime. Ausente, ocacional-
área total de 114,2 alqueires, ao en- mente, o Senhor Ministro Djaci Fal-
tender procedente a ação ex empto cão
negou vigência ao parágrafo único Presidência do Senhor Ministro
do art. 1.136 do Código Civil. Moreira Alves. Presentes à Sessão
Pelo exposto, conheço do recurso os Senhores Ministros Decio Miran-
extraordinário e reformo, nesta par- da, Aldir Passarinho e Francisco Re-
te, o acórdão recorrido, para restau- zek. Ausente, ocasionalmente, o Se-
rar a autoridade da sentença singu- nhor Ministro Djaci Falcão.
lar, que julgara improcedente a ação Subprocurador-Geral da República,
ex empto. Dr. Mauro Leite Soares.
EXTRATO DA ATA Brasília, 11 de outubro de 1983 —
RE 99.982-PR — Rel.: Min. Fran- Hélio Francisco Marques, Secretá-
cisco Rezek. Rectes.: Tácito Moraes rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 100.024 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Antônio da Silva
Alcântara.
Criminal. Furto qualificado. Aplicação incablvel do 2? art. 155
do Código Penal.
Furto de coisa de pequeno valor e furto de que não resulte pre-
juízo ou venha ser este de pouca monta.
Preocupação do Juiz em fixar pena adequada á gravidade do ilíci-
to. Possibilidade de concessão do sursis.
Tem repelido a jurisprudência do Supremo Tribunal admitir a
coexistência do crime qualificado com a de crime privilegiado, para o
fim de aplicação das sanções cominadas a este último. A gravidade
da ação se sobrepõe ao desvalor do resultado.
Outrossim, não há como identificar-se, para fins também do 2?
do art. 155 do Código Penal, pequeno valor da ares furtiva» a pequeno
ou nenhum prejuízo resultante da ação delituosa.
Precedentes de Turmas do Supremo Tribunal Federal.
A atual mais ampla possibilidade de concessão do sursis leva a
que se conceda o beneficio, atenuando as conseqüências da sanção pe-
nal, se atendidos os requisitos que a lei prevê.
Recurso conhecido e provido.
R.T.J. — 108 821

ACORDA() Invocou o v. acórdão observação


de despacho exarado em processo
Vistos, relatados e discutidos estes criminal na interposição de recurso
autos, acordam os Ministros do Su- criminal, de que não poderia ser des-
premo Tribunal Federal, por sua Se- prezado o «valor ético do ato de de-
gunda Turma, na conformidade da volução, nem a relevância patrimo-
ata do julgamento e das notas taqui- nial da reposição da ores», no con-
gráficas, por unanimidade de votos, junto dos bens do ofendido. Mais, na
conhecer do recurso para lhe dar discrepância entre o valor da coisa e
provimento. montante do prejuízo, parecia ra-
Brasília, 30 de junho de 1983 — zoável dar primazia ao último que
Djaci Falcão, Presidente — Aldir constitui um dos «essentialia», do
Passarinho, Relator. crime de furto». Considerou, assim,
acórdão, à base de ponderáveis ra-
RELATORIO zões que era «pertinente e justo vin-
cular o favor do § 2? do art. 155 do
Sr. Ministro Aldir Passarinho Código Penal ao critério do prejuízo
(Relator): Antônio da Silva Alcânta- reclamante sofrido pela vítima do
ra, processado como incurso nas que ao variável e caprichoso critério
sanções do art. 155 § 4? II, do Código do valor da coisa».
Penal, por haver subtraído da Coo-
perativa Regional dos Cafeicultores Recorreu, então, extraordinaria-
de São José do Rio Pardo, de quem mente o Procurador-Geral da Justi-
era empregado, 138 sacas de café be- ça, fundado na alínea d da previsão
neficiado, foi condenado perante o constitucional, sustentando que o
Juizo Singular, à multa de Cr; aresto recorrido, em assim decidin-
4.000,00, em face da aplicação do es- do, divergiu de julgados deste Tribu-
tatuído no § 2? do art. 155 do citado nal, os quais aponta (RECr. n?
Código. 81.583, 13.3 5-9-75; RECr. n? 93.010, DJ
Com essa decisão, inconformado, 24-10-80 e RECr. n? 91.788; RTJ,
apelou o Ministério Público Estadual 95/887).
(fls. 163/169). Admitido o recurso pelo despacho
Egrégio Tribunal de Alçada Cri- presidencial, em razão de estar con-
minal, por sua Quinta Câmara, à figurado o dissenso pretoriano (fls.
unanimidade de votos, negou provi- 220/225), processou-se ele regular-
mento ao apelo, em acórdão em que mente, apresentando apenas o recor-
é defendida a tese de que sendo pe- rente suas razões (fls. 227/233).
queno o prejuízo, deve ser isso o con-
siderado para aplicação do mesmo A douta Procuradoria-Geral da
critério benéfico da lei penal, fixado República propugnou pelo conheci-
no art. 155, § 2?. Considerou existente mento e provimento do recurso, ante
a possiblidade — negada pelo MP — a jurisprudência iterativa desta Cor-
de compatibilizar-se o cometimento te (fls. 241/244).
de furto qualificado, pois para carac-
terizar aquele primeiro o legislador E o relatório.
não aludia a nenhuma circunstância
de caráter subjetivo, tendo-se ape-
nas referido a coexistência de dois VOTO
requisitos: primariedade do réu e pe-
queno valor da coisa furtada. No ca-
so, ficara patente que a vítima não O Sr. Ministro Aldir Passarinho
sofrera prejuízo algum. (Relator): O acusado, ora recorrido,
822 R.T.J. — 108

era empregado conceituado da Coo- pregado de conceito no seu trabalho,


perativa Regional dos Cafeicultores primário, e que, afinal, nada lucrou
de São José do Rio Pardo. Deu or- com o ilícito praticado.
dem a um carreteiro para que trans-
portasse 138 sacas de café — que se Entretanto, não é possível con-
encontravam em um armazém da siderar-se equiparável a furto de
FEPASA, sob a responsabilidade da- pequeno valor aquele em que é sub-
quela Cooperativa — para Divinolãn- traída mercadoria de certo vulto pa-
dia, o que foi feito. Ali, negociou a trimonial, e no que a conduta do
mercadoria com a firma Piramogi agente se tipificou com a qualifica-
— Café e Cereais Ltda. a qual, por ção, na conformidade do previsto no
sua vez, a vendeu à firma Inter- art. 155, § 4?, II da lei repressiva tu-
Continental de Café S.A. Quando do, ao final, para ser aplicada ape-
estavam sendo transportadas com nas multa de Cr$ 4.000,00.
destino a outra localidade foram
apreendidas por policiais. O acusado Não houve sequer recurso do ape-
não chegou a receber a importância lante, pelo que ficou como certo que
correspondente à transação. E que cometera ele furto qualificado. Não
tendo ele informado aos primeiros procurou ele, outrossim, restituir a
compradores que a mercadoria per- mercadoria, como poderia parecer
tencia a uma terceira pessoa, o che- dos termos do acórdão, pois o furto
que para pagamento da parcela que não foi descoberto por iniciativa do
ficara combinado ser liquidada à ora recorrido
vista foi emitido em nome dessa ter-
ceira pessoa, que não estava a par O dissídio pretoriano ficou devida-
do assunto; e a parcela restante, a mente demonstrado pelos acórdãos
ser paga dentro de 15 dias, não che- trazidos a exame pelo MP, nos
gou a ser liquidada, por ter antes si- quais, diferentemente do julgado no
do descoberto o crime. v. acórdão, fora decidido não ser
possível identificar-se furto de coisa
de pequeno valor com furto de que
Assim, não se há de falar em valor resultara pequeno prejuízo ou mes-
ético da devolução, de molde a ate- mo em que nenhum ocorrera, para
nuar a falta. fins de aplicação do benefício previs-
to no § 2? do art. 155 do Código Pe-
nal.
De examinar-se, agora, portanto, a A tese defendida pelo recorrente é
razão outra encontrada pelo MM. a que, na verdade, tem sido consa-
Juiz, e endossada no v. acórdão, grada na jurisprudência do Supremo
qual a de que o réu era primário e Tribunal Federal.
inexistira prejuízo em decorrência
do seu procedimento, devendo a ino- De fato. A C. 1? Turma desta Cor-
corrência de prejuízo considerar-se te, ao ensejo do julgamento do
equivalente a furto de pequeno va- RECr. n? 91.788-SP, decidiu na con-
lor, tendo-se, deste modo, como. formidade da fundamentação sinteti-
possível, a aplicação do disposto no § zada na respectiva ementa:
2? do art. 155 do Código Penal.
«Furto qualificado e furto sim-
ples. Desvalor da ação e desvalor
Sem dúvida sensibilizaram-se os do resultado. Inaplicabilidade, ao
nobres Juizes das instâncias Qrdiná- primeiro, dos benefícios do art.
rias, com o drama do acusado, em- 155, § 2?, do CP.
R.T.J. — 108 823

A interpretação teleológica desse provado. O beneficio legal pressu-


preceito não pode considerar ape- põe o pequeno valor da coisa furta-
nas o «desvalor do resultado», fa- da e não a ausência de prejuízo à
zendo tábua rasa das circunstân- vitima, em virtude de apreensão
cias típicas que, ao qualificar a da coisa furtada. Impõe-se a re-
conduta criminosa, a tornam valo- forma do acórdão recorrido. Con-
rativamente bem mais grave do denação à pena de dois (2) anos de
que um furto simples. reclusão (art. 155, § 4?, inc. IV, do
Código Penal), concedendo-se o
Precedentes do STF (RECr. n? sursis com base nos arts. 57 do
74.991, HC n? 54.571, RECr. n?s Cód. Penal e 697 do Código de Pro-
88.506 e 90.461). cesso Penal.» (RET 99/1.307).
Recurso extraordinário não co-
nhecido.» (Relator o Sr. Ministro Na oportunidade do julgamento do
Thompson Flores. RTJ, 95/887). primeiro dos acórdãos citados, o
RECr. n? 91.788, o relatório bem
No RECr. n? 95.102, Relator o Sr. mostrou
Ministro Cordeiro Guerra, a ementa da no despachoqual foi a matéria examina-
então exarado pelo
do acórdão bem sintetizou o entendi- ilustre então Vice-Presidente
mento predominante neste Tribunal: Tribunal de Alçada Criminal de do C.
São
«Furto qualificado. Impossibili- Paulo, Dr. Dinio de Santis Garcia,
dade da extensão ao paciente con- ao decidir sobre o encaminhamento
do recurso extraordinário, e no pare-
denado por furto qualificado dos cer
benefícios do § 2? do art. 155 do Có- Dr. do nobre Procurador de Justiça,
Hélio Bicudo, tendo, naquela
digo Penal, aplicável apenas ao oportunidade,
furto simples. Não se confunde, no o ilustrado Dr.assim se pronunciado
Francisco de Assis
direito vigente, o pequeno valor da Toledo, digno Subprocurador-Geral
coisa, com a redução ou desapare- da República, com inegável proprie-
cimento do prejuízo pela restitui-
ção da coisa ou pela reparação do dade:
dano. A lei penal somente compor-
ta as atenuantes e temperamentos
nela previstos e na forma nela re- «O direito penal moderno colocou
gulada. no centro do sistema a ação huma-
na para submetê-la a uma série de
RE conhecido e provido» (RTJ valorações que, dadas certas con-
99/949). dições, irão permitir a aplicação
da pena criminal e determinar a
E ainda desta C. 2? Turma o deci- natureza e quantidade desta. Den-
dido no RECr. n's 93.010, Relator o tro desse quadro, o certo é que,
Sr. Ministro Djaci Falcão que, no presentemente, ao «desvalor do re-
seu substancioso voto mencionou ou- sultado», sobressai-se, de modo
tros precedentes, com a mesma proeminente, o «desvalor da ação».
orientação. O acórdão assim ficou Não será mesmo exagero afirmar-
ementado: se que, a partir de Welzel, o «des-
valor da ação» (Handlungsunwert)
«Furto qualificado. Aplicação do desalojou do núcleo da Dogmática
§ 2? do art. 155 do Código Penal, Penal o primitivo e puro «desvalor
em virtude do desaparecimento do do resultado» (Etfolgsunwert). O
dano em face da apreensão da coi- injusto típico penal já não se esgo-
sa. Dissídio jurisprudencial com- ta na mera causação de um resul-
824 R.T.J. — 108

tado (Welzel, Das Deutsche Stra- Em conclusão, dentro de um


frecht, 11. Auf., pág. 62), mas exi- quadro mais amplo do que o traça-
ge bem mais que isso: deve concor- do no despacho em exame, no qual
rer, para a caracterização do in- ao lado do «resultado» se tome
justo, todo um conjunto de circuns- igualmente na devida contra a
tâncias e características próprias ação humana, com seus elementos
ou referidas à ação humana s as característicos e qualificadores,
quais dão o verdadeiro colorido de ili- não vemos como se possa nivelar o
citude à conduta típica. Ao desva- furto qualificado ao furto simples.
lor do resultado, acrescenta-se, Seria o mesmo que considerar o
pois, de modo dominante, o desva- homicídio privilegiado idêntico ao
lor da ação. «O injusto — afirma homicídio qualificado, porque am-
até redundantemente o penalista bos produzem o mesmo resultado
citado — é um injusto de ação, pes- morte, e pretender estender ao se-
soal, referido ao autor» (Unrecht gundo os benefícios que o legisla-
lst Ulterhezogenes, personales dor excepcionalmente concede ao
Haudlungsunrccht). (Op. cit., loc. primeiro.
cit.). Pelas razões expostas, não temos
dúvida em manifestar nossa mo-
Ora, dentro dessa colocação, desta adesão à orientação jurispru-
torna-se evidente que um furto dencial prevalecente no Excelso
qualificado (qualificado pelo acrés- Pretório qtte não tem vacilado em
cimo de circunstâncias típicas que afastar o preceito do art. 155, 2?,
o tornam substancialmente mais do CP, na hipótese de furto qualifi-
grave do que um furto simples) cado (RECr. n? 74.991, Rel.: Min.
não pode ser simplesmente nivela- Luiz Gallotti, DJ 30-3-73, pág. 1922;
do, só pela pequenez do resultado HC n? 54.571, Rel.: Min. Cunha Pei-
que eventualmente produziu, ao xoto, RTJ 81/362; RECr. n? 88.506,
denominado furto de pequeno valor Rel.: Min. Decio Miranda, DJ 23-2-
(pequeno valor do resultado), de 79, pág. 1224; RECr. n? 88.087, Rel.:
sorte que, aqui, contrariando a ten- Min. Decio Miranda, DJ 23-3-79,
dência doutrinária, se dê maior pág. 1224; RECr. n? 90.461, Rel.:
realce ao desvalor do resultado, Min. Djaci Falcão, DJ 7-12-79, pág.
como total desprezo ao desvalor da 9210).
ação. Diga-se, para concluir, que pre-
E assim deve ser, segundo supo- sentemente, com o advento da Lei
mos, com mais razão no âmbito de n? 6.416/77, que introduziu a sus-
uma interpretação teleológica, tal pensão condicional para a pena de
como preconizada no despacho ini- reclusão até dois anos, desaparece-
cialmente transcrito, pois não se ram igualmente razões de outra
compreende que, na busca dos fins índole que levavam o intérprete a
da norma, considerasse o intérpre- procurar meios indiretos de ate-
te o peso do resultado de uma nuar o rigorismo do sistema. O
certa conduta e, ao mesmo tempo, que, de resto, não se justificaria no
usasse de restrições, mentais e de caso deste processo, diante dos
abstrações para forçadamente re- maus antecedentes de ambos os
pudiar toda uma constelação de fa- réus (fls. 50 e segs., 74/75), ao que
tores relevantes que compõem e consta já enveredados na criminali-
dade crônica.»
dão o autêntico colorido típico à
própria conduta que se tem como Aliás, no despacho de admissão do
causa desse mesmo resultado. presente extraordinário, aquele pro-
R.T.J. — 108 825

nunciamento do Dr. Dinio de Santis vista para o crime qualificado, é ain-


Garcia se encontra igualmente re- da cabível conceder-se o benefício do
produzido. sursis ao acusado e assim, dou pro-
vimento ao recurso, eis que a diver-
Comungamos inteiramente com o gência pretoriana se encontra confi-
entendimento que veio a se tranqüili- gurada, e imponho, em face do ex-
zar nesta Corte a respeito do tema posto, ao recorrido a pena de dois
em debate. Na verdade, o que ocorre anos de reclusão e multa de Cri
em matéria criminal é que o Juiz, 4.000,00 (quatro mil cruzeiros), tendo
muitas vezes, e com razão, conside- em vista ser ele primário, de bons
ra ser a pena mínima cominada ain- antecedentes e até conceituado no
da exagerada para a a punição, até seu ambiente de trabalho, e sem
pelo que significa, para a família, o mesmo que houvesse prejuízo mate-
recolhimento à prisão do acusado e rial quer para a Cooperativa, quer
em face da precariedade das nossas para o proprietário da mercadoria
prisões. Assim, ante os danos irrepa- que se encontrava depositada sob a
ráveis e de extrema repercussão pa- responsabilidade da entidade empre-
ra o acusado e sua família, procura gadora. Concedo, entretanto, ao ape-
ele darás normas legais o adequado nado o benefício do sursis, pelo pra-
temperamento para que se ajustem zo de três anos, com base nos arts.
a esse ideal de justiça, resultando, 57, na redação dada pela Lei n?
então, na aplicação de pena mais le- 6.416, de 24-5-77 e 697, do Cód. Proc.
ve que a realmente cabível, já que Penal, devendo as condições a que
esta seria excessiva, e na impossibi- se referem os arts. 58 e 698 daqueles
lidade de, frente aos textos legais, mesmos diplomas legais ser fixados
encontrar aquela que teria como pelo Juízo da execução, ao qual ca-
adequada. berá, outrossim, realizar a audiência
admonitória.
Entretanto e com bem salientou o E o meu voto.
Dr. Francisco de Assis Toledo, no
seu mencionado parecer, atualmente
já em parte se encontra possibilitada EXTRATO DA ATA
essa atenuação da pena, mediante a
concessão do sursis com mais ampli-
tude, tranqüilizando a consciência do RECr. 100.024-SP — Rel.: Min. Al-
Juiz, na procura do sempre desejado dir Passarinho. Recte.: Ministério
ponto de equilíbrio. Público Estadual. Recdo.: António
da Silva Alcântara. (Adv.: José Flá-
No caso, impossível a aplicação da vio Andrade Noronha).
penalidade como decidido na senten- Decisão: Conhecido e provido nos
ça confirmada pelo v. acórdão, que termos do voto do Ministro Relator.
assim julgou considerando que o cri- Unânime.
me, embora seja qualificado é tam-
bém privilegiado e aplicando a san- Presidência do Senhor Ministro
ção fixada para este, prevista no § 2? Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
do art. 155 do Cód. Penal, procuran- Senhores Ministros Moreira Alves,
do, inclusive, equiparar o furto de Decio Miranda, Aldir Passarinho e
coisa de pequeno valor àquele do Francisco Rezek — Subprocurador-
qual apenas não resultou prejuízo ou Geral da Repúblia, Dr. Mauro Leite
foi este inexpressivo, o que tem sido Soares.
repelido pela jurisprudência desta Brasília, 30 de junho de 1983 —
Corte, como se viu. Entretanto, fi- Hélio Francisco Marques, Secretá-
xando a pena no grau mínimo, pre- rio.
826 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.110 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: Rede Ferroviária Federal S/A — Recorrido: Henessi Soares
Dias.
Rede Ferroviária Federal. Reenquadramento funcional.
Não fere o principio da legalidade ou o art. 85-1 da lei maior a
correção do enquadramento do funcionário, com base em normas edi-
tadas pela própria empresa
ACÓRDÃO corrigidos a tempo, trariam como
conseqüência decesso financeiro na
Vistos, relatados e discutidos estes aposentadoria que se avizinhava.
autos, acordam os Ministros da Se- Pediu, por fim, sua justa classifi-
gunda Turma do Supremo Tribunal cação no nível 69, a partir da vi-
Federal, de conformidade com a ata gência do novo Plano, com as con-
de julgamentos e as notas taquigráfi- seqüências salariais dai decorren-
cas à unanimidade de votos, não co- tes (fls. 2).
nhecer do recurso. Citada, apresentou a ré sua defe-
Brasília, 22 de novembro de 1983 — sa, sustentando em resumo que, se
Djaci Falcão, Presidente — o reclamante havia concorrido ao
Francisco Rezek, Relator. novo Plano como exercente de fato
das funções de agente de trem,
RELATÓRIO embora seu cargo efetivo fosse de
telegrafista, não poderia seu en-
O Sr. Ministro Francisco Rezek: quadramento ser feito no nível 69
Tomo por relatório o parecer do Mi- na classe de Agente Especial de
nistério Público, assim concebido pe- Estação, pois havia para esta clas-
lo Procurador Walter Medeiros (fls. se número determinado de vagas,
362/365): destinadas àqueles servidores que,
«Propôs o reclamante, contra a no antigo Plano já se encontra-
Rede Ferroviária Federal, ação vam classificados como agentes de
trabalhista, alegando que, exercen- trem ( fls. 19).
te desde 1974 das funções de agente A reclamação foi julgada proce-
de estação, no nível 29, fora indica- dente no primeiro grau de jurisdi-
do, em junho de 1976, para promo- ção (fls. 54) por sentença confir-
ção no extinto Plano Simplificado mada seguidamente nas demais
de Classificação de Cargos, no qual instãncias trabalhistas.
colegas seus, a essa época, ainda
se posicionavam no nível 28. No en- Considerou o eminente Presiden-
tanto — aduz o reclamante — esses te da Junta Julgadora que, na es-
colegas, ocupantes de nível mais pécie, se cuidava de errôneo en-
baixo, foram, no novo Plano de quadramento do reclamante, que
Classificação de Cargos, enquadra- já vinha desde o plano simplificado
dos no nível 69, enquanto ele, com anterior Argumentou com o fato
mais tempo de exercício na fun- de que, se os seus colegas indica-
ção, foi colocado no nível 65. Disso, dos na inicial, mais novos no
evidentemente, decorreram enor- exercício das funções de agente de
mes prejuízos salariais que, se não estação foram classificados no
R.T.J. — 108 827

nível 69, justa era a pretensão do cuidava de errôneo enquadramento


reclamante de se ver igualmente do reclamante no novo Plano de
enquadrado naquele nível (fls. 95). Classificação de Cargos, sem vez
O Acórdão do Tribunal do Traba- para a violação dos textos constitu-
lho da Segunda Região perfilhou o cionais invocados. Aliás, a própria
mesmo entendimento, no sentido recorrente reconhece, com todas
de assistir ao reclamante o direito as letras, em sua petição recursai,
ao enquadramento no nível 69, ten- tratar-se, no caso, de enquadra-
do em vista o tempo em que vinha mento e não de equiparação sala-
atuando como Agente de Estação, rial, hipótese esta última que daria
ao que acrescentou logo em segui- ensejo ao conhecimento do recur-
da: so.
«Pondere-se ainda que seus co- Tratando-se de enquadramento,
legas mencionados na peça ini- a solução da jurisprudência desta
cial, foram promovidos anterior- Excelsa Corte é no sentido da legi-
mente ao recte. apesar de mais timidade da retificação concedida.
novos na função» (fls. 118). Entre os acórdãos mais recentes,
podem ser lembrados o Ag n?
No julgamento da revista, o Tri- 91.691 (Ag.Reg.), rel. o Sr. Minis-
bunal Superior do Trabalho dela tro Aldir Passarinho, e o RE n?
não conheceu, à consideração de 100.464, rel. o Sr. Ministro Soares
que, se conhecida, tal implicaria a Muiioz, ambos publicados no DJ de
reabertura do exame da prova, a 14 de outubro corrente».
fim de se aferir se o reclamante te- o relatório.
ria sido, ou não, corretamente
enquadrado (fls. 263).
VOTO
Inadmitidos os embargos (fls.
275) e denegado provimento ao O Sr. Ministro Francisco Rezek
agravo regimental interposto con- (Relator): As instâncias trabalhis-
tra o despacho indeferitório (fls. tas, aqui, corrigiram o errôneo en-
282), foi manifestado recurso ex- quadramento do empregado no plano
traordinário por ofensa aos artigos de classificação de cargos da empre-
85, I, e 153, § 2?, da Constituição sa, com base nas normas editadas
Federal (fls. 284). pela própria Rede Ferroviária para
Trancada a subida da irresigna- governar a implantação daquele pla-
ção derradeira pelo douto despa- no. E o que resulta claro desta parte
cho presidencial (fls. 332), foi con- do Acórdão do Tribunal do Trabalho
tra ele interposto o agravo de ins- da Segunda Região:
trumento que tramita em apenso e «Entretanto, o recte. na realida-
ao qual o então relator, eminente de vinha exercendo outra função,
Ministro Cordeiro Guerra, deu pro- ou seja, Agente Especial de Esta-
vimento, após audiência desta ção, nivel 65, e por força da Reso-
Procuradoria-Geral, que se pro- lução n? 364/76, tinha direito ao en-
nunciara no mesmo sentido (AI n? quadramento de nível. 69, isto é,
90.065). Agente, Especial de Estação III, fa-
No reexame do caso contudo, ce ao tempo em que vinha atuando
não entrevemos como possa ser como Agente de Estação» — fls.
provido o apelo excepcional, por is- 118.
so que, com fundamento na prova Tais as circunstâncias, não há que
coligida, entenderam as instâncias cogitar de afronta ao principio da le-
trabalhistas que, na espécie, se galidade, e tampouco à regra do art.
828 R.T.J. — 108

85-1 da Carta da República. Como natar e outros). Recdo.: Henessi Soa-


tem decidido esta mesma Turma, res Dias (Advs.: José Alberto Couto
corrigir distorções no quadro de car- Maciel e outros).
reira, com base em normas editadas Decisão: Não conhecido. Unânime.
pela empresa é atuar em domínio
desenganadamente infraconstitucio- Presidência do Senhor Ministro
nal. Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
Senhores Ministros Moreira Alves,
Não conheço do recurso. Decio Miranda, Aldir Passarinho e
Francisco Rezek. Subprocurador-
EXTRATO DA ATA Geral da República, Dr. Francisco
de Assis Toledo.
RE 100.110-SP — Rel.: Min. Fran- Brasília, 22 de novembro de 1983 —
cisco Rezek. Recte.: Rede Ferroviá- Hélio. Francisco Marques, Secretá-
ria Federal S/A (Advs.: Roberto Be- rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.145 — MS


(Segunda Turtna)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda
Recorrente: Rede Ferroviária Federal S/A — Recorrido: José Gomes da
Cunha.
Trabalho. Enquadramento funcional. Plano de Classificação de
Cargos. Empresa que possui quadro de carreira. Decisão que diz res-
peito, efetivamente, a enquadramento no Plano, e não a equiparação
salarial. Não-conhecimento de recurso extraordinário que cuida deste
último tema, quando o Julgado tratou de posicionamento, devido ao
empregado, no quadro de carreira da empresa.
ACORDA° drado no Plano de Classificação de
Cargos da reclamada, na forma pos-
Vistos, relatados e discutidos estes tulada na inicial, em razão de haver
autos acordam os Ministros do Su- a empresa promovido «arbitraria-
premo Tribunal Federal, em segun- mente os paradigmas», com o que
da Turma, na conformidade da ata «feriu direito adquirido dos outros
do julgamento e das notas taquigrá- funcionários». (fls. 112 médio).
ficas, por unanimidade de votos, em Tentou a reclamada, nas vias dis-
não conhecer do recurso. poníveis, todos os recursos trabalhis-
Brasília, 14 de outubro de 1983 —• tas, sem obter êxiçp, até o agrange
Decio Miranda, Presidente e Rela- instrumento dirigido a esta Corte, a
tor. que dei provimento para fazer subir
o recurso extraodinário.
RELATORIO Nele, aponta a recorrente contra-
riedade aos arts. 153, § 2?, e 85, I, da
Constituição Federal, além de diver-
O Sr. Ministro Decio Miranda: Sen- gência com a orientação desta Corte
tença mantida pelo acórdão regio- em casos análogos.
nal, em matéria trabalhista, afirmou
o direito de o empregado ser enqua- n o relatório.
R.T.J. — 108 829

VOTO Mas, aqui, não houve tal indevida


identificação de situações diversas,
O Sr. Ministro Decio Miranda (Re- eis que a sentença confirmada nos
lator): A despeito de falar-se, na sen- vários graus de Jurisdição se limita-
tença, em paradigmas, a controvér- ra a reconhecer que o ora recorrido
sia destes autos não se feriu em ter- estaria entre aqueles empregados
mos de equiparação salarial, mas melhor posicionados no quadro da
em torno ao cumprimento de certas carreira, por isso devendo fazer Jus
regras do Plano de Classificação de ao reparo de sua preterição(fls.
Cargos da empresa. 112/113).
Leia-se toda a sentença da Junta, E assim o considerou o recurso or-
e especialmente sua conclusão, a dinário interposto pela empregado-
«determinar à reclamada que movi- ra, que somente criticou a sentença
mente o seu quadro de carreira, na por ser portadora de errônea decisão
forma do disposto na fundamenta- sobre enquadramento no Plano de
ção, a fim de propiciar o enquadra- Classificação de Cargos da recorren-
mento devido do reclamante» (fls. te, não de decisão concernente à
113 dos autos da Reclamação, em equiparação salarial.
apenso). Realmente, não houve tal equipa-
Também do recurso ordinário in- ração, eis que a sentença confirma-
terposto pela Rede Ferroviária Fe- da nos vários graus de Jurisdição se
deral S.A. (fls. 122/7 do mesmo limitara a reconhecer que o ora re-
apenso) vê-se que toda a discussão corrido estaria entre aqueles melhor
gira em torno de enquadramento no posicionados no quadro de carreira,
Plano de Classificação de Cargos da assim devendo fazer Jus ao reparo
recorrente, e não de equiparação sa- de sua preterição (fls. 112/113).
larial. E desta forma o considerou o pró-
Houve engano, pois, do acórdão da prio recurso ordinário interposto pe-
1! Turma do Tribunal Superior do la Rede Ferroviária Federal S.A.,
Trabalho, quando referiu que «no ca- que somente criticou a sentença por
so, a discussão diz respeito à equipa- ser portadora de errônea decisão so-
ração salarial», fls. 37 dos autos do bre enquadramento no Plano de
recurso extraordinário e nesse en- Classificação de Cargos da recorren-
gano também incidiram as subse- te, e não por identificar-se com deci-
qüentes peças do contraditório tra- são concernente à equiparação sala-
balhista, a saber, os embargos de rial.
fls. 39, o despacho de fls. 79, o agra- Conquanto tenha o reclamante in-
vo regimental de fls. 80/83. dicado paradigmas na peça inicial, a
Tiveram percepção do ponto — controvérsia não se estabeleceu em
sem o atacar diretamente — os em- termos de equiparação salarial, mas
bargos de declaração de fls. 90, ao como pretensão de revisão de enqua-
mencionarem «a equiparação desta dramento no Plano de Classificação
forma indiretamente concedida». de Cargos da empregadora, sendo ci-
tados aqueles paradigmas apenas
Por último, o recurso extraordiná- como demonstração — ao ver do em-
rio da Rede Ferroviária Federal pregado reclamante — do errôneo
S.A. habilmente evoca acórdãos des- critério Com que se operara sua in-
ta Corte que com adequação reco- clusão no Plano.
nheceram o tema da equiparação sa-
larial em operações feitas a titulo de Assim, e porque no caso concreto
enquadramento. não se trata de equiparação salarial
830 R.T.J. — 108

concedida sob o eufemismo do en- Decisão: Não conhecido. Unânime.


quadramento no plano de classifica-
ção de cargos — situação invocada
pela recorrente — não conheço do Presidência do Senhor Ministro
recurso extraordinário. Decio Miranda. Presentes à Sessão
os Senhores Ministros Aldir Passari-
E o meu voto. nho e Francisco Rezek. Ausentes,
justificadamente, os Senhores Minis-
EXTRATO DA ATA tros Djaci Falcão e Moreira Alves.
Subprocurador-Geral da República,
RE 100.145-MS — Rel.: Min. Decio Dr. Mauro Leite Soares.
Miranda. Recte.: Rede Ferroviária
Federal S.A. (Superintendência Re-
gional São Paulo SR-4) ( Advs.: Valé- Brasília, 14 de outubro de 1983 —
ria Medeiros de Albuquerque e ou- Hélio Francisco Marques, Secretá-
tros). Recdo.: José Gomes da Cunha. rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.158 — RJ


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrente: Comércio, Indústria e Participações S/A — Recorrida:
União Federal.
Lançamento. Cerceamento de defesa recusado.
Revisão de lançamento que não importou em agravamento da im-
posição ao contribuinte, antes atenuação. Defesa ampla, descritos os
fatos da exação fiscal.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO «Trata-se de ação anulatória de
débito fiscal promovida por Comér-
Vistos, relatados e discutidos estes cio, Indústria e Participações S.A.,
autos, acordam os Ministros da Pri- sucessora da Navegação Mercantil
meira Turma do Supremo Tribunal S.A. — NAVEN, inconformada
Federal, na conformidade da ata do com o lançamento fiscal efetivado
julgamento e das notas taquigráfi- no exercício de 1966, referente a
cas, por unanimidade de votos, em imposto de renda.
não conhecer do recurso.
Brasília, 10 de fevereiro de 1984 —
Soares Mudoz, Presidente — Oscar A decisão de primeiro grau, aco-
Corrêa, Relator. lhendo a preliminar suscitada pela
autora, julgou procedente a ação,
RELATORIO para anular o procedimento fiscal,
ante o cerceamento de defesa na
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Ado- esfera administrativa, à vista de
to o sucinto Relatório do Ilustre en- que «a um mesmo fato, foram da-
tão Vice-Presidente do C. Tribunal das diversas e confusas definições
Federal de Recursos, Ministro José legais, não permitindo ao autor
Dantas, nos seguintes termos (fls. defender-se da última decisão fis-
300/301): cal».
— 108 831

Neste Tribunal, a 4? Turma (Re- gado vigência ao artigo 355, 4 5? do


lator Ministro Carlos Mário) refor- Decreto n? 58.400, de 1966-RIR, e
mou a decisão, em acórdão emen- ao artigo 10 do Decreto n? 70.235,
tado nestes termos: de 1972 — o primeiro por não ter
«Tributário. Imposto de Renda. «Indicado, com clareza, no auto de
Lançamento. Classificação jurí- infração, a típica infração cometi-
dica. da e a norma jurídica violada pelo
I — No procedimento tributá- contribuinte»; e o segundo, «regu-
rio, tal como ocorre no processo lador do processo administrativo-
penal, a subsunção do fato ao ti- fiscal, dado que os erros e as fal-
po pode ser alterada, pois o con- sas referências constantes do auto
tribuinte não se defende desta ou de infração — reconhecidos pelo
daquela classificação jurídica, Conselho de Contribuinte — Impe-
mas do fato que, se ocorrente, é diram o contribuinte de conhecer
jurigeno, em razão de certa nor- devidamente a base do processo le-
ma. O que importa é se o fato foi gal contra si instaurado»; indica,
suficientemente descrito no auto também, acórdãos para confron-
de infração. to».
II — Prova técnica, no caso, 2. O recurso foi deferido, e, arra-
contrária à tese sustentada pela zoado, subiu á Corte.
autora. É o relatório.
III — Sentença reformada» —
fls. 260. VOTO
Dessa decisão a autora interpôs
embargos declaratórios, assim re- O St. Ministro Oscar Corrêa (Rela-
cebidos: tor): O r. despacho deferitório do re-
«Processual Civil. Embargos curso, recusou-o pela letra a, Impro-
de declaração. Omissão de ponto. cedente a negativa de vigência dos
CPC, art. 535, II. textos legais invocados. Desde logo,
I — A sentença julgou proce- aliás, se frise que não prequestiona-
dente a ação com base no primei- dos no v. aresto recorrido, referindo
ro fundamento do pedido, omitin- o voto do Relator, com propriedade:
do os demais, porque aquele era «É que o contribuinte é notifica-
prejudicial destes. Reformada a do para defender-se relativamente
sentença, retornam os autos ao a um fato; permanecendo o mesmo
magistrado a quo, para aprecia- fato, pelo qual o contribuinte
ção dos demais fundamentos do defendeu-se, pode o Fisco dar-lhe
pedido. Impossibilidade de a Tur- definição jurídica outra daquela
ma apreciar, de logo, os funda- que constava do auto de infração.
mentos omitidos na sentença. É No processo tributário, tal como
que, se o fizesse, haveria a su- ocorre no processo penal, a sub-
pressão de uma instância. sunção do fato ao tipo pode ser al-
II — Embargos de declaração terada, pois, repito, o contribuinte
recebidos» — fls. 278 não se defende desta ou daquela
classificação jurídica, mas do fato
Ainda inconformada, recorre ex- que, se ocorrente, em razão de
traordinariamente a autora com uma certa norma, torna-se jurige-
amparo nas letras a e d do permis- no. O que importa e precisa ser
sivo constitucional. Argumenta, considerado, é se o fato foi descrito
em síntese, que o julgado teria ne- no auto de infração.
832 R.T.J. — 108

Cerceamento de defesa não exis- do lançamento, não implica em


tiu, pois, no caso, convindo acen- cerceamento de defesa já que este
tuar, ademais, que, posta em Juízo se defende do fato com provas e
a questão, poderia a autora reabri- nenhum prejuízo lhe acarretou pois
la nos seus aspectos de fato e de não houve acréscimo de tributo».
direito, com a finalidade de invali- (fls. 311).
dar o lançamento, pelo que poderia 3. Vale, antes de mais, ressaltar
demonstrar, mediante o testemu- que o v. acórdão recorrido — como
nho técnico, da inocorrência do fa- explicitado nos embargos de decla-
to que deu causa ao tributo, ou da ração (fls. 278) — recusou o primei-
regularidade do mesmo. A prova ro fundamento do pedido — o cercea-
pericial existente nos autos, atra- mento de defesa — determinando o
vés do laudo de fls. 209/213, é, em retorno ao juizo de primeiro grau pa-
realidade, contrária à autora.» ra apreciar os demais fundamentos.
(fls. 258) Terá, pois, o Recorrente a oportuni-
Ora, não há como rever, nesta ins- dade de comprovar os erros ou fa-
tância, conclusão assim posta, em lhas do lançamento e amplamente
termos de apreciação dos elementos discuti-los, inclusive quanto à natu-
da causa; tanto mais quanto não pre- reza e efeitos.
questionados os dispositivos dito vio- 2 que, ao contrário do que afirma
lados. a Recorrente — não se há de consa-
2. Foi, contudo, o recurso admiti- grar a imutabilidade, a inalterabili-
do pelo ilustre Presidente do C. Tri- dade, a irrevisibilidade do lança-
bunal Federal de Recursos, pela mento por mais que se controverta a
alínea d, asseverando: em face respeito, na doutrina, desde seu ca-
de «colacionados os acórdãos nos ráter constitutivo ou declaratório,
RREE n?s 69.426 e 74.385, dissonante até a conceituação das possibilida-
parece o aresto recorrido, de encon- des de revisão, ocorrente erro de
tro com a asserção suprema da imu- fato e erro de direito.
tabilidade do lançamento e do inex- Aliás, fugindo ao debate — que se-
cusável erro de direito». ria longo e não conduziria, objetiva-
Essa conclusão é contestada nas mente, a nenhuma conclusão que
razões da Recorrida, ao salientar: servisse à hipótese — o próprio CTN
«As hipóteses referidas no recur- ressalva os casos de alteração do
so dizem respeito a revisão de lançamento, nos artigos 145 e 149; o
lançamento a fim de obter a- que contrasta com aquela afirmação
créscimo de tributo. categórica.
No presente caso, não ocorreu O que se pretende — e nisso foi
revisão de lançamento, através de explícito o v acórdão recorrido — é
segundo lançamento, já que o fato que não se fira a garantia da defesa
típico não foi alterado ;a autuação de que deve dispor, amplamente, o
fiscal foi mantida; outrossim, ne- contribuinte.
nhum aumento de tributação ocor- Ora, este, como acentuado no voto
reu, pelo contrário, a aliquota ficou do Eminente Ministro Carlos Mário
menor». Velloso, «não se defende desta ou da-
E concluiu: quela classificação jurídica, mas do
«A mera mudança de opinião no fato que, se ocorrente, em razão de
âmbito administrativo, quanto ao uma certa norma, torna-se jurigeno.
enquadramento jurídico de deter- O que importa e precisa ser conside-
minada situação de fato ocorrida rado, é se o fato foi descrito no auto
após o contribuinte ser notificado de infração».
R.T.J. — 108 833

4. Esta Corte não tem, a respeito, de Recursos, que, muito bem, o tra-
orientação definitiva, tanto mais tou, analogicamente ao processo pe-
difícil quanto atendendo a diversas nal.
hipóteses de fato. Com efeito, explicito, da mesma
Os dois padrões invocados pelo Re- maneira que o Juiz poderá dar ao fa-
corrente não são, na deficiência de to definição jurídica diversa da que
exame das circunstâncias que os constar da queixa, ou da denúncia, e
cercam — e não suficientemente ex- ainda que, em conseqüência, tenha
plicitadas na petição de recurso ( fls. de aplicar pena mais grave (art. 383
284/285) — capazes de, por si só, do CPP), no procedimento fiscal po-
identificar padrões e hipóteses dos de a autoridade fiscal alterar a qua-
autos. lificação jurídica do fato impositivo
primeiro deles — o RE n? 74.385 para afeiçoá-lo à norma aplicável.
— apenas se transcreve a Ementa: Apenas, se essa autêntica «emen-
«Lançamento fiscal. Erro de di- datio libelli», se faz alterando-se, de
reito não autoriza a revisão. Inter- tal forma, a classificação inicial, que
pretação acertada, senão razoável, a desfigura e impossibilita ou dificul-
da lei a determinar a aplicação da ta a defesa do contribuinte, deve
Súmula 400». abrir-lhe nova oportunidade à defe-
sa, para que não seja colhido pela
não as aproxima por inaproxi- modificação, sem que sobre ela se
máveis: ali se cuida de declaração pronuncie, com amplitude e seguran-
de imposto de renda, feita pela CE- ça.
MIG, aceita, recolhido o imposto, de
acordo com o critério jurídico que Essa «mutatio libelli», no direito
lhe pareceu correto; depois de alte- fiscal, é plenamente admitida pela
rado para aplicar outro critério mais Corte, em inúmeros julgados que a
gravoso (RTJ 65/187 e segs.). acolhem, vg:
Aliás, o próprio eminente e saudo- RMS n? 15.477 — Pleno — Relator:
so Relator não excluiu a possibilida- Ministro Aliomar Baleeiro (RTJ
de de revisão, apenas afirma «exis- 37/192): «Revisão de despachos
tir um limite para o Fisco na sua fa- aduaneiros: é admissivel também
culdade de revisão» (pág. 192) — o por errônea aplicação da lei»...
que, vem, diga-se de passagem, re- RE n? 59.000 — 3? Turma — Rela-
petido na petição do Recorrente. tor Ministro Eloy da Rocha (RTJ
foi desse padrão que o Recorren- 41/283) — «... E admissivel revisão
te retirou o segundo — o RE 69.426, de despacho aduaneiro também por
do mesmo e insigne Relator, no qual, errônea aplicação da lei».
entretanto, do próprio texto citado, 6. Nem, na hipótese, se configu-
se verifica a diversidade de espécie: rou — nem se alegou — a existência
ali se cuida de segundo lançamento, de erro de direito; nem, dessa altera-
o que, desde logo, a diferencia desta. ção ocorreu agravamento dos ônus
Aliás, a citação feita na RTJ não do Recorrente, antes, minoração de-
corresponde ao texto do RE 69.426 no les.
Ementário n? 796/02.
O caso é parece-nos, de plena
E, mais, como assinalou a Recor- aplicação dos artigos 145 e 149 do
rida, aqui a revisão diminuiu os ônus CTN, com alteração do lançamento.
da Recorrente (fls. 75).
Acrescente-se que, retornando os
5. Acolho, assim, o voto do Emi- autos ao Juizo de 1? grau, terá o Re-
nente Relator no C. Tribunal Federal corrente oportunidade ampla de de-
834 R.T.J. — 108

monstrar todas as falhas e vícios do Decisão: Não se conheceu do re-


lançamento, o que, nesta instância, curso extraordinário. Decisão unâni-
se não comporta. me.
Nestes termos, não conheço do re- Presidência do Senhor Ministro
curso. Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
E o voto. Senhores Ministros, Rafael Mayer,
Alfredo Buzaid, Néri da Silveira e
EXTRATO DA ATA Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
da República, Dr. Francisco de As-
RE 100.158-RJ — Rel.: Min. Oscar sis Toledo.
Corrêa. Recte.: Comércio, Indústria Brasília, 10 de fevereiro de 1984 —
e Participações S.A. (Advs.: Cláudio Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Lacombe e outros). Recdo.: União Secretário.
Federal.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.174 — GO


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mufloz.
Recorrente: Wolney Martins de Araújo — Recorrido: Jacy de Campos
Neto.
Suplente de Deputado Estadual. Mandado de Segurança. Deca-
dência.
— Mandado de segurança pleiteando a declaração da perda do
mandado de Deputado Estadual e a investidura na respectiva vaga do
suplente-impetrante. O prazo decadencial é de contar-se do ato da As-
sembléia Legislativa que indeferiu aquele pedido e não a partir do ato
posterior que desconvocou o suplente, porquanto o «writ» não visa a
restabelecer a mencionada convocação. Recurso extraordinário co-
nhecido e provido.
ACÓRDÃO trou mandado de segurança contra o
Presidente da Assembléia Legislati-
Vistos, relatados e discutidos estes va do Estado de Goiás, pleiteando
autos, acordam os Ministros do Su- que seja declarada a perda do man-
premo Tribunal Federal, em Primei- dato do Deputado Wolney Martins de
ra Turma, na conformidade da ata Araújo e que, na respectiva vaga,
do julgamento e das notas taquigrá- seja investido o impetrante.
ficas, por unanimidade de votos, co-
nhecer do recurso e dar-lhe provi- Funda-se o pedido na alegação de
mento. que o Deputado Wolney Martins de
Brasília, 20 de setembro de 1983 — Araújo perdeu o mandato por ter si-
Soares Mufloz, Presidente e Relator. do nomeado Prefeito do Município de
Anápolis e exercido esse cargo, mes-
RELATÓRIO mo depois de o Supremo Tribunal
Federal ter declarado, na Represen-
O Sr. Ministro Soares Mutioz: Jacy tação n? 1.050-3, a inconstitucionall-
de Campos Neto, na qualidade de Su- dade da Constituição Estadual, na
plente de Deputado Estadual, impe- parte em que permitia a nomeação

R.T.J. — 108 835

de Deputado Estadual para Prefeito Estado, operou automaticamente,


de Município situado em área de in- não necessitando de declaração da
teresse da segurança nacional. Assembléia para constituir-se.
O Presidente da Assembléia Legis- Ao primeiro suplente, eleito pelo
lativa ofereceu informações, argüin- mesmo partido, assiste direito líqui-
do sua ilegitimidade passiva, a inép- do e certo a ocupar a vaga aberta.
cia da petição inicial, a decadência Se a Assembléia Legislativa lhe
do direito de impetrar mandado de nega esse direito, não se lhe pode
segurança, a impossibilidade jurídi- fechar a via judiciária, a pretexto
ca do pedido e a sua improcedência. de se tratar de questão política,
porque, do contrário, uma lesão
Citado como litisconsorte passivo, em direito Individual ficaria imune
apresentou contestação o Deputado ao exame deste Poder, o que é in-
Estadual Wolney Martins de Araújo, conciliável com o sistema constitu-
roborando as alegações aduzidas nas cional brasileiro.
informações. Segurança concedida para ga-
Por fim, o Plenário do Tribunal de rantir ao suplente o direito ao
Justiça do Estado de Goiás deferiu, mandato, na vaga aberta.» (fls.
por maioria de votos, o mandado de 198).
segurança, em acórdão encimado Inconformado, Wolney Martins de
por esta ementa: Araújo interpôs recurso extraordina-
«Nomeação de deputado estadual rio, alegando, em síntese, que o
para cargo de prefeito do mu- acórdão contrariou o disposto nos
nicípio de Anápolis, considerado arts. 10, VII, g, 11, § 2?, 12, caput e
área de interesse da segurança na- 2?, 31, 35, I e §§ 2? e 3?, 42, VII, e 153,
cional. Emendas ao art. 12, I, b, e § 4?, da Constituição Federal além
ao art. 13, § 5?, da Constituição do de ter negado vigência aos arts. 128,
Estado, introduzidas pela Lei Cons- 165, 282, IV, 286, 295, parágrafo Gni-
titucional n? 42, de 15-5-80, declara- ço, I, II, 458, II, e 460 do Código de
radas inconstitucionais pelo Supre- Processo Civil, e 6? e 18 da Lei n?
mo Tribunal Federal, em ação di- 1.533/51.
reta (REP. 1.050-3, de GO). O recurso extraordinário foi admi-
tido pelo Presidnete do Tribunal lo-
Permanência do deputado no cal, sob o fundamento de que, em fa-
cargo de prefeito durante 324 dias, ce da fundamentação dos votos mi-
contados da publicação do acórdão noritários, em que também se louva
no Diário da Justiça da União. não a inconformidade, se apresenta ra-
obstante á notória incompatibilida- zoável a alegação de ofensa à Consti-
de. tuição Federal.
Diante do tempo decorrido, e em A Subprocuradoria-Geral da Repú-
virtude dos efeitos imediatos, erga blica opinou pelo acolhimento da
omites, da decisão declaratória de preliminar de decadência e, no méri-
inconstitucionalidade, é de se en- to, pelo conhecimento e provimento
tender que o deputado optou, taci- do recurso, visto que o recorrente
tamente, pelo cargo de prefeito, não foi intimado pela Assembléia Le-
em cujo exercício continuou enquan- gislativa para optar entre os cargos
to bem quis, somente dele se afas- de Prefeito e de Deputado, pressu-
tando para concorrer á reeleição. posto inarredável da perda do man-
A perda do mandato, nos termos dato.
do art. 13, n? I, da Constituição do E o relatório.
836 R.T.J. — 108

VOTO Assembléia Legislativa, afastando o


impetrante que, então, se achava na
O Sr. Ministro Soares Mufioz (Re- qualidade de suplente.
lator): O mandado de segurança foi A prevalecer esta última data, o
concedido por acórdão datado de 24- mandado de segurança se apresenta
11-81. Entretanto, quando da interpo- tempestivo, visto que entre ela e o
sição do recurso extraordinário (a 9- ajuizamento da petição inicial decor-
2-83), a legislatura correspondente reram apenas 31 dias.
ao questionado mandato parlamen- O acórdão recorrido afastou, pelo
tar já se achava extinta, desde o dia voto do seu ilustre Relator, a preli-
31-1-83 (fls. 224). minar de decadência com a seguinte
Se o writ tivesse sido indeferido, fundamentação:
seria de considerá-lo prejudicado e, «Partem os argüentes da afirma-
por esse fundamento, seria de não ção de que o prazo decadencial de-
conhecer do recurso extraordinário, ve ser contato da data da publica-
tal como decidiu o Supremo Tribunal ção do acórdão que declarou in-
Federal em vários precedentes (RE constitucional a expressão «Prefei-
n? 94.998-4 e RMS 15.068 RTJ 33, pág. to de nomeação», do art. 12, inc. I,
584). letra b, da Constituição Estadual, o
Deferido que foi o mandamus pelo que ocorreu no dia 24-6-81, pois a
acórdão recorrido, não é possível jul- partir dessa data é que teria se
gar prejudicado o recurso extraordi- omitido a autoridade coatora.
nário. Assim não entendo, data venta.
Passo, pois, a examinar as alega- Conforme se vê dos documentos de
ções articuladas na petição recursal. fls. 117 e 149, o Plenário da Assem-
bléia Legislativa, em sessão de 14-
No que respeita à decadência, o 10-81, deliberou acolher o parecer
mandamus atribui duas omissões ao da Comissão de Constituição e Jus-
Presidente da Assembléia Legislati- tiça, não declarando a perda do
va. mandato do Deputado Wolney Mar-
A primeira se teria verificado tins.
quando, publicado no dia 24-6-81 o A partir de então, é que poderia
acórdão do Supremo Tribunal Fede- o impetrante, em tese, reclamar
ral que declarou a inconstitucionali- contra o ato do Poder Legislativo.
dade dos dispositivos da ConStituição
Estadual, permissivos da nomeação Ocorre que, em decorrência do
de Deputado Estadual para o cargo lamentável falecimento do Deputa-
de Prefeito de Município situado em do Costa Lima, o impetrante, na
área de segurança nacional, o presi- qualidade de primeiro suplente do
dente da Assembléia Legislativa não então Movimento Democrático
providenciou em que fosse declarada Brasileiro, tomou posse do cargo
a perda do mandato de Deputado ora em data de 4-11-81, portanto, vinte
recorrente. dias depois daquela deliberação da
Assembléia.
Em relação a essa omissão, o pra- Como o impetrante desde então
zo decadencial já se achava consu- se achava no efetivo exercicM das
mado quando do ajuizamento, em 14- funções, embora investido tempo-
6-82, do mandado de segurança. rariamente e com as limitações re-
O segundo ato atacado na impetra- gimentais, a sobredita omissão da
ção ocorreu em 14-5-82, dia em que o Assembléia não significaria mai-
ora recorrente reassumiu o cargo na ores prejuízos ao impetrante.

R.T.J. — 108 837

Poder-se-ia até argumentar que, Assiste razão ao parecer da


enquanto estivesse ele no exercício Subprocuradoria-Geral da República
do cargo, como suplente, apesar quando acentua:
daquelas restrições, era de seu al- «se direito líquido e certo possuía
vedrio permanecer nessa situação, o recorrido e se com abuso de po-
aguardar melhor oportunidade de der se houve a Assembléia Legisla-
assumir a plena titularidade, evi- tiva do Estado, como reconheceu o
tando um litígio político e juridica- acórdão recorrido, tais pressupos-
mente desgastante e de resultado tos já se encontravam reunidos an-
incerto. teriormente à presente impetração
e sendo tais pressupostos justa-
Nessa linha de raciocínio, quer- mente aqueles que ensejam o re-
me parecer que os cento e vinte médio constitucional da segurança,
dias, de que fala a lei, somente co- parece-nos conseqüência lógica a
meçariam acorrer em 14-5-82, data incidência da decadência do direito
em que Wolney Martins reassumiu após decorrido o prazo de cento e
o cargo no Legislativo Estadual, vinte dias, contado a partir dos
quando perdeu aí o impetrante não atos da Assembléia Legislativa.»
só o seu status, como também a (fls. 289).
oportunidade, em definitivo, de Ante o exposto, conheço do recurso
exercer o mandato parlamentar, extraordinário e dou-lhe provimento
em toda a sua plenitude. para declarar extinto o processo nos
termos do art. 269, II, do Código de
Nessas condições, e consideran- Processo Civil.
do que o mandado de segurança foi
ajuizado em data de 14-6-82, rejeito
a carência de ação, eis que não se EXTRATO DA ATA
operou a alegada caducidade.»
(Voto do Relator, fls. 189/190) (fls.
205/206).
RE 100.174-GO — Rel.: Min. Soares
Mufioz. Recte.: Wolney Martins de
Essa motivação, data venta, não Araújo. (Advs.: Elisio de Assis Costa
me convence. O direito que o impe- e outro). Recdo.: Jacy de Campos
trante, ora recorrido, reputa violado Netto. (Advs.: Carlos António de Ma-
é o de ser Deputado Estadual efetivo cedo Silva, Benedito Vaz e outros).
desde a decisão declaratória da in- Decisão: Conheceu-se do recurso
constitucionalidade proferida na Re- extraordinário
presentação n? 1.051, e não o de con- mento. Decisãoeunânime.
se lhe deu provi-
Falaram
tinuar suplente de Deputado. Sua pelo Recte.: Dr. Elisio de Assis Cos-
concordância em manter-se, depois ta e pelo Recdo.: Dr. Benedito Vaz.
daquela decisão, na Assembléia Le-
gislativa Estadual como suplente de Presidência do Senhor Ministro
Deputado constitui atitude que não Soares Mufioz. Presentes á Sessão os
consoa, aliás, com o direito pleiteado Senhores Ministros, Rafael Mayer,
no mandado de segurança, que não Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
visa ao restabelecimento da convo- Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
cação, mas investir o impetrante na da República, Dr. Francisco de As-
qualidade de Deputado Estadual ti- sis Toledo.
tular. Em conseqüência, o acórdão Brasília, 20 de setembro de 1983 —
recorrido negou vigência ao art. 18 Antônio Carlos de Azevedo Braga,
da Lei n? 1.533/53. Secretário.
asa R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 100.227 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Benedito Alves de
Paula.
Prescrição penal.
— Os fril 1? e 2? do artigo 110 do Código Penal, introduzidos pela
Lei rit 6.416/77, dizem respeito à prescrição da pretensão executória, e
não à prescrição da pretensão punitiva. Precedentes do STF.
Recurso extraordinário conhecido e provido.
ACÓRDÃO de 1980. O apelante foi condenado a
menos de um ano de pena carcerá-
Vistos, relatados e discutidos estes ria. Já se passaram mais de dois
autos, acordam os Ministros da Se- anos, desde a sentença, até agora.
gunda Turma do Supremo Tribunal Impedido resta o exame do méri-
Federal na conformidade da ata do to. Vai-se além da proposta do Dr.
julgamento e das notas taquigráfi- Procurador da Justiça. E que a
cas, por unanimidade de votos, co- prescrição é da própria pretensão
nhecer do recurso e dar-lhe provi- punitiva, nos termos do art. 110 §1
mento. 1? do Código Penal e não apenas
Brasília, 24 de junho de 1983 — da executória.
Distei Falcão, Presidente — Moreira
Alves, Relator. Ante o exposto, declara-se, de
ofício, a extinção da punibilidade
RELATÓRIO do réu, pela prescrição da preten-
são punitiva.»
O Sr. Ministro Moreira Alves: E Interposto recurso extraordinário,
este o teor do acórdão recorrido (fls. com fundamento nas alíneas a e d do
85/86): inciso III do artigo 119 da Constitui-
«Acordam, em Terceira Câmara ção Federal e sob alegação de nega-
do Tribunal de Alçada Criminal, tiva de vigência dos §§ 1? e 2? do ar-
por votação unânime, declarar a tigo 110 do Código Penal e de dissídio
extinção da punibilidade do réu, de jurisprudência, argüiu-se tam-
pela prescrição da pretensão puni- bém, a relevância da questão fede-
tiva, de ofício. ral, argüição essa acolhida por esta
O réu foi condenado a três meses Corte.
de detenção, como incurso no art. A fls. 130/131, assim se manifesta
129 caput do Código Penal e ape- a Procuradoria-Geral da República,
lou, querendo a absolvição. Recur- em parecer do Dr. Cláudio Lemos
so contrariado, aqui, o Dr. Procu- Fonteles:
rador pediu diligência, baixando os
autos. No retorno, opinou pela de- «Calcada na negativa de vigên-
cretação da prescrição da execu- cia dos parágrafos 1? e 2?, do
ção. artigo 110, do Código Penal, e na
discrepância jurisprudencial, a
E o relatório. acusação pública apresenta recur-
A sentença, da qual não houve so extraordinário de decisão do co-
apelo ministerial, é de 29 de maio legiado estadual que, reconhecendo
R.T.J. — 108 839

a prescrição pelo período posterior No caso, em que o próprio fato


à decisão condenatória, disse-a da delituoso ocorreu depois da entrada
pretensão punitiva (fls. 85). em vigor da Lei n? 6.416/77, a pres-
Sustenta o recurso que a prescri- crição é da pretensão executória, ao
ção é da pretensão executória. contrário, portanto, do que decidiu o
acórdão recorrido.
O tema, uma vez mais, e bem re-
centemente, foi decidido por este Em face do exposto, conheço
Supremo Tribunal ao julgar o RE do recurso extraordinário pela alínea
Crim. n? 98.949 — DJ 25-2-83, 1542 d do inciso III do artigo 119 da Cons-
— relatado pelo douto Min. Soares tituição Federal, e lhe dou provimen-
Miffloz, conferindo razão ao recor- to, para declarar que a prescrição
rente, de sorte que, anexando ao em causa é apenas da pretensão exe-
presente nosso anterior pronuncia- cutória.
mento, somos pelo provimento do
recurso em exame.» EXTRATO DA ATA
E o relatório. RECr 100.227-SP — Rel.: Min. Mo-
reira Alves. Recte.: Ministério Públi-
co Estadual. Recdo.: Benedito Alves
VOTO de Paula (Adv.: Dagoberto Salles
Cunha Camargo Júnior).
O Sr. Ministro Moreira Alves (Re- termosDecisão: Conhecido e provido nos
lator): 1. Ambas as Turmas desta Unânime. do voto do Ministro Relator.
Corte já firmaram jurisprudência no
sentido de que os parágrafos 1? e 2? Presidência do Senhor Ministro
artigo 110 do Código Penal, introdu- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
zidos pela Lei n? 6.416/77, dizem res- Senhores Ministros Moreira Alves,
peito à prescrição da pretensão exe- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
cutória, e não à prescrição da pre- Francisco Rezek. Suprocurador-
tensão punitiva (RHC n? 56.855, RTJ Geral da República, Dr. Mauro Leite
91/824 e segs., 2? Turma, relator o Soares.
Sr. Ministro Djaci Falcão; RE n? Brasília, 24 de junho de 1983 —
98.949, 1! Turma, relator o Sr. Minis- Hélio Francisco Marques, Secretá-
tro Soares Mufioz). rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 100.237 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrente: Sementes Germinal Ltda. — Recorrido: Safrão Produtos
Agrícolas Ltda.
Falência — Credor com garantia real (artigo 9?, III, (dm, do
Decreto-lei n? 7.661/45).
Não se exige renúncia expressa do credor com garantia real, pa-
ra requerimento da falência do devedor.
Precedente especifico: RE 83.841 (RTJ 79/981).
Recurso Extraordinário conhecido e provido.
840 R.T.J. — 108

ACÓRDÃO em parecer da ilustre Procuradora


Iduna E. Weinert, aprovado pelo
Vistos, relatados e discutidos estes Eminente Subprocurador-Geral, Mau-
autos, acordam os Ministros da Pri- ro Leite Soares, pelo conhecimen-
meira Turma do Supremo Tribunal to, mas desprovimento do recurso
Federal, na conformidade da ata do (fls. 101).
julgamento e das notas taquigráfi- E o relatório.
cas, por unanimidade de votos, em
conhecer do recurso e lhe dar provi- VOTO
mento.
Brasília, 2 de dezembro de 1983 — O Sr. Ministro Oscar Corrêa (Rela-
Soares Muitoz, Presidente — Oscar tor): 1. Pela letra a o recurso, desde
Corrêa, Relator. logo, não merece provimento, não
prequestionado no v. acórdão recor-
RELATÓRIO rido o artigo 9?, III, b, da Lei de Fa-
lências.
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-
mentes Germinal Ltda. requereu a A matéria, contudo, teve solução
falência de Safrão Produtos Agríco- no acórdão recorrido, tendo falhado
las Ltda. por dívidas não pagas de o recorrente na explicitação dos ter-
fornecimento de produtos de sua fa- mos de sua irresignação, em face
bricação, fundando o pedido no arti- desse texto, limitando-se a indicar
go 1? do Decreto-Lei n? 7.661/45. autores que teriam ventilado o tema,
e, como salientou o douto parecer da
A requerida produziu defesa Procuradoria-Geral da República, de
alegando: a) não efetuar o depósito forma incompleta e inaceitável.
por se tratar de matéria relevante
(artigo 11, 3?, c/c o artigo 4?, VIII, E, pela letra d se explicitou a con-
da Lei de Falências); b) carência da trovérsia com a indicação do RE n?
ação, garantido que é o crédito por 83.481 — Relator o Exmo. Ministro
hipoteca (artigo 9?, III, b da mesma Cordeiro Guerra, RTJ 79/981, pelo
lei); c) no mérito, improcedência da que possibilita o amplo exame da
ação pelos motivos aduzidos. vexata quaestlo.
A r. sentença de fls. 26/30 de- 2. O núcleo da inconformidade re-
negou o pedido de falência, e o Co- side em que o v. acórdão recorrido,
lendo Tribunal de Justiça deu provi- mantendo, nessa parte, a r. senten-
mento parcial à apelação da Autora ça, aplicando o artigo 9?, III, b da
apenas para excluir a condenação Lei de Falências, decidiu que «pelo
que lhe fora imposta, na r. sentença, espírito da lei nova, a renúncia à ga-
por perdas e danos (fls. 65). rantia real deve ser concomitante e
expressa» invocando estudo de Fá-
Opostos embargos de declara- bio Konder Comparato, RT 432/53 (e
ção (fls. 67/69), foram rejeitados não 03).
(fls. 72).
Dai o recurso extraordinário A essa interpretação opõe a recor-
de fls. 74/77, pelas letras a e d, ale- rente o decidido no RE n? 83.841, no
gando contrariedade ao artigo 9?, qual se lê que «a renúncia à garantia
III, b da Lei de Falências; e dissídio real pelo credor para requerimento
com o RE n? 83.841 (RTJ 79/981). de falência do devedor, pode estar
implícita no requerimento de que-
6. O recurso foi admitido pela le- bra, não se exigindo termo ou ato es-
tra d, (fls. 84), opinando a douta pecífico e prévio da declaração de
Procuradoria-Geral da República, renúncia à garantia real. A lei só

R.T.J. — 108 841

exige prévio procedimento para a donça (Tratado de Direito Comercial


conservação da garantia real, não Brasileiro, 7! ed., 1964 — F. Bastos,
para a sua renúncia». VII, n?s 237/239, pág. 294/298); José
3. Evidente, portanto, o dissenso da Silva Pacheco (Processo de Fa-
entre as duas decisões, cabe exami- lência e Concordata, 2? ed. — Borsoi
nar a hipótese. — 1972 — I, pág. 269 — n? 198 —
XXV); nos quais se exige que a re-
Releia-se o artigo 9?, III, b: núncia à garantia real seja expres-
«Art. 9? A falência pode tam- sa.
bém ser requerida:
I— J. C. Sampaio Lacerda (Manual de
Direito Falimentar, 10? ed. — F.
II — Bastos, pág. 63, n? 27) e Rubens Re-
III — pelo credor, exibindo guião (Curso de Direito Falimentar,
título do seu crédito, ainda que Saraiva — 1975 — 1? volume — pág.
não vencido, observadas, confor- 88/90 n?s 70/71), fazem expressa
me o caso, as seguintes condi- referência ao parecer de Fábio Kon-
ções: der Comparato, In Revista dos
Tribunais, 432/53; e Waldemar Fer-
reira (Tratado de Direito Comercial,
o credor com garantia real Saraiva, 1965 — XIV, pág. 170) dá a
se a renunciar ou, querendo impressão de que se filiaria à tese
mantê-la, se provar que os bens da renúncia implícita, quando —
não chegam para a solução do examinando a hipótese de insuficiên-
seu crédito; esta prova será feita cia dos bens gravados para o paga-
por exame pericial, na forma da mento integral da dívida, peça exa-
lei processual, em processo pre- me pericial para provar essa insufi-
paratório anterior ao pedido de ciência — afirma que requerendo
falência se este se fundar no arti- sem essa providência processual a
go 1?, ou no prazo do artigo 12 se falência — e assim Já foi decidido
o pedido tiver por fundamento o (RT 90/319) — renunciará o credor
artigo 2?«... requerente — ipso facto, à sua ga-
Didaticamente, pois, quanto ao ca- rantia real».
so, exige a lei: Traj ano de Miranda Valverde
I — renunciar o credor à garantia (Comentários à Lei de Falências, 3?
real; ou ed. Forense — I, pág. 117, n? 86) ape-
nas se refere a que podem requerê-
II — para manter a garantia real, las «se previamente renunciam às
prova de que os bens não chegam suas garantias reais»..
para a solução do seu crédito.
4. A questão está em fixar-se se Não é, pois, clara a questão, nes-
essa renúncia deve ser concomitante ses expositores.
e expressa — como firmou o v. acór- 5. Fábio Konder Comparato, no
dão recorrido — ou pode ser, basta citado parecer, cuidou, especifica-
seja implícita, «não se exigindo ter- mente, de credores com privilégio —
mo ou ato especifico e prévio de de- credores trabalhistas.
claração de renúncia à garantia Após distinguir, no sistema do
real», como decidiu o v. acórdão pa- Decreto-Lei n? 7.661/45, garantia
drão indicado. real e privilégio e de acentuar que,
A doutrina parece inclinar-se no desta forma não admitindo o artigo
sentido do v. acórdão recorrido, co- 9?, III, b, «interpretação extensiva»,
mo se vê de J.X. Carvalho de Men- afirma que não atinge o privilégio.
842 R.T.J. — 108

Mas, continuando, lembra o direito cução singular, e, algumas vezes,


anterior, no qual não contendo o Có- até mesmo fora do processo. Falta-
digo Comercial disposição restrin- lhe, assim, uma condição essencial
gindo o direito de o credor comer- para exercer a ação de falência: o
ciante requerer a falência do deve- interesse de agir. Até mesmo no
dor, «a jurisprudência acabara fir- processo de falência, o credor com
mando o principio de que tal direito garantia real conserva um poder
não era dado ao credor hipotecário, de iniciativa supletório para a sa-
ou pignoraticio, denominado «privi- tisfação de seu crédito (Decreto-
legiado». Lei n? 7.661/45, artigos 119 e 120),
Após o Decreto n? 917/1890 e a Lei como assinalado acima» (local ci-
n? 859/1902, acentua que a Lei n? tado).
2.024/1908 «consagrou a confusão ao 6 Dessas transcrições e resumo,
dispor: verifica-se que Comparato, em ne-
«O credor privilegiado, inclusive nhuma passagem do estudo, aludiu à
o hipotecário, somente poderá re- necessidade de renúncia expressa à
querer a falência do devedor, de- garantia real, para o fim de possibi-
clarando renunciar ao privilégio, litar o requerimento de falência: cui-
ou se o quiser manter, provando dou da necessidade da renúncia e,
que os bens que constituem a sua mais ainda — o que interessava ao
garantia não chegam para a solu- objetivo do parecer — da distinção
ção do crédito». entre as posições do credor com
Obvio, diz o ilustre Professor, que garantia real e do privilegiado.
o legislador «teve em mira os credo- Mais ainda. A explicação do ensi-
res com garantia real, ao falar em namento de J. X. Carvalho de Men-
«credor privilegiado». donça é óbvia: refere-se ele ao texto
Na verdade, mantida essa «confu- da anterior Lei n? 2.024, artigo 9?,
são terminológica» na Lei n? 3?, que textualmente dispunha: —
5.746/1929, considerou o parecerista «... somente poderá requerer a falên-
que o alcance desses termos pri- cia do devedor, declarando renun-
vilégio e garantia real devem ser bus- ciar ao privilégio...»
cados no Código Civil. Ora, esse texto foi alterado na vi-
E após várias considerações sobre gente Lei de Falências que apenas
essa conceituação, conclui distin- afirma: «... o credor com garantia
guindo as duas posições e seus efei- real se a renunciar », sem qualquer
tos: referência à declaração de renúncia.
«Percebe-se, com clareza, do que 7. Ora, em termos genéricos, a
se acaba de dizer, a ratio ]uris da renúncia pode ser expressa, ou
disposição contida no artigo 9?, III, tácita e já em Clóvis Beviláqua se lê
b, da Lei de Falências, quando de- que «esta resulta das circunstân-
nega o direito de requerer falência cias» (falando da prescrição —
ao credor com garantia real (salvo Código Civil Comentado, artigo 161);
provando a insuficiência da garan- e prevendo a lei comum os casos em
tia) e quando «a contrario» não que deve ser expressa (como nos ar-
priva os demais credores, inclusive tigos 1.492 e 1.581), ou que se deve
o privilegiado, dessa via de direito. levar ao registro (artigo 589, II, tj
O credor garantido por direito real 1?), ou em que é vedada (artigo 404)
não tem necessidade de via coleti- e outros nos quais é implícita (arti-
va, porquanto a sua garantia pode gos 1.054, 1.679) — ou presumida (ar-
realizar-se normalmente em exe- tigo 803).

R.T.J. — 108 843

In casu, é Óbvio que se o credor Penso que não se pode exigir do


com garantia real, ao invés de credor que conserve uma garantia
excuti-la cobrindo-se do débito, no que, de modo inequívoco, abriu
que atua por direito próprio e espe- mão com benefícios para o deve-
cial, que, sem dúvida, é muito mais dor inadimplente. O que a lei exige
rápido e seguro — prefere requerer é um processo especial para con-
a falência do devedor, é que abriu servar a garantia real, não para
mão daquele direito, por motivos renunciar a ela.
que não vem ao caso examinar. Prejuízo não há para o devedor,
Nem é crivei, ou possível que, de- nem para os demais credores seus,
pois disso, pretenda manter os mes- pois o requerente, abriu mão da
mos direitos com a garantia real de garantia, sujeita-se a par condido
que abdicou. creditorum. Como simples quiro-
grafário».
8. Precisamente esta a tese sus-
tentada superiormente no acórdão — 9. O Parecer da douta Pro-
padrão invocado, no qual a questão curadoria-Geral da República opi-
se pôs, em termos claros e objetivos, na diferentemente, ao argumentar,
no voto do Eminente Relator, Minis- quanto aos autos (fls. 104):
tro Cordeiro Guerra, e aplica-se à hi- «A conclusão que emerge, clara,
pótese dos autos, verbis: (RTJ dessa situação, é a de que se, no
79/983-984). requerimento inicial a ora recor-
«O que realmente se controverte, rente tivesse declarado, expressa-
na espécie, é se a renúncia da ga- mente, que renunciava à garantia
rantia real deve ser expressa, co- real hipotecária que detinha, pode-
mo entendeu o acórdão recorrido, ria o devedor, que se diz solvente,
ou se pode ser Implícita no simples valer-se do depósito elisivo da fa-
requerimento da falência. lência, previsto no art. 11, 2?, da
Lel Falimentar, vez que não dispo-
Creio admissivel o pedido de fa- ria mais, para sua defesa, do moti-
lência formulado por credor com vo relevante representado pela
garantia real, independentemente existência mesma da garantia
de qualquer ato ou termo específi- real, em favor do credor, e que
co, pois, ao optar pela falência, desconhecia haver sido objeto de
que em regra compete aos credo- renúncia «tácita».
res quirografários, renuncia de
modo claro á sua garantia, e ainda Ora, se assim é, admitir-se a
porque não optando pelo processo existência de renúncia tácita do
próprio para fazer subsistir a ga- credor, desconhecida, pois, do de-
rantia real, pelo modo previsto na vedor, em hipóteses como a dos
lei (alimentar, parece-me certo presentes autos, implica cercear-
que, no próprio pedido de falência, lhe o direito de defesa contra a fa-
se contém a renúncia à garantia lência, direito esse consagrado pe-
real» la nossa Constituição e pelas leis
brasileiras, inclusive pelo Decreto-
Para concluir: lei n? 7.661/45, nos dispositivos an-
tes referidos.
«Em conseqüência, havendo re-
nunciado à garantia, de modo 14. O resguardo ao direito de
implícito no requerimento da falên- defesa do devedor solvente contra
cia, esta não poderia ser indeferi- os percalços do processo falimen-
da, já que o devedor não fez o de- tar está a recomendar, pois, a re-
pósito elisivo da quebra. visão, por esse Colendo Supremo

844 R.T.J. — 108

Ltda. (Advs.: Américo Moraes, Alci-


Tribunal, da tese adotada no julga-
mento do RE n? 83.841/SP — RTJ no Guedes da Silva e outros). Rec-
79/981». do.: Safrão Produtos Agrícolas Ltda.
10. Tal não nos parece, data vê-(Adv.: Antonio Carlos Gomes).
nia, se o devedor pode elidir a falên-
Decisão: Conheceu-se do recurso
cia na forma prevista em lei, pagan-
extraordinário e se lhe deu provi-
do o débito. mento. Decisão unânime. Falou pelo
Além do mais, convém que a Corterecte.: Dr. Alcino Guedes da Silva.
firme interpretação em sentido de- Presidência do Senhor Ministro
terminado, em beneficio da estabili-
Soares Muiloz. Presentes á Sessão os
dade da prestação jurisdicional. Pelo
Senhores Ministros Rafael Mayer,
que, na linha do acórdão padrão, co-
Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
nheço do recurso e dou-lhe provi- sente, licenciado, o Senhor Ministro
mento. Alfredo Buzaid. Subprocurador-Ge-
2 o voto. ral da República, Dr. Francisco de
Assis Toledo.
EXTRATO DA ATA
Brasília, 2 de dezembro de 1983 —
RE 100.237-SP — Rel.: Min. Oscar António Carlos de Azevedo Braga,
Corrêa. Recte.: Sementes Germinal Secretário.
RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.300 — SP
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Recorrente: Transbrasil S.A. Linhas Aéreas — Recorridos: Célia Taleis-
nik de Flomenbaum e outros.
Comercial Internacional. Transporte aéreo. Contrato de transpor-
te de passageiro San Miguel de Tucuman—São Paulo—Florianópolis-
São Paulo—Buenos Aires—San Miguel de Tucuman. Trecho interme-
diário São Paulo—Florianópolis a cargo de empresa brasileira, inter-
rompido por acidente fatal em Florianópolis. Responsabilidade solidá-
ria da empresa brasileira, encarregada do transporte sucessivo, em
cuja execução ocorreu o acidente.
ACÓRDÃO Aéreas contesta que seja responsá-
Vistos, relatados e discutidos estes vel nos termos da Convenção de Var-
antos, acordam os Ministros do Su- sóvia pelo acidente fatal ocorrido em
premo Tribunal Federal, em Segun- avião de sua frota no percurso São
da Turma, na conformidade da ata Paulo-Florianópolis, percurso que
do julgamento e das notas taquigrá- seria independente do vôo interna-
ficas, por unanimidade de votos, em cional contratado pelos passageiros
não conhecer do recurso. com Aerolineas Argentinas, que os
transportara
Brasília, 21 de outubro de 1983 — Paulo. de Buenos Aires a São
Djaci Falcão, Presidente — Dedo
Miranda, Relator. Para cumprir o que entendia ser
de sua responsabilidade nos termos
RELATORIO do art. 103, §* 1? e 2?, do Código Bra-
O Sr. Ministro Decio Miranda: A sileiro do Ar (Decreto-Lei n? 32, de
recorrente, Transbrasil S.A. Linhas 18-11-66), contra os herdeiros do pas-

R.T.J. 108 845

sageiro Mário Flomenbaum ajuizou gem, com escalas em Buenos Ale-


a ação de consignação em pagamen- res e Florianópolis, munindo-se pa-
to contida nestes autos. ra tanto, do indispensável bilhete
A sentença de primeiro grau, toda- de passagem, onde ficou constando
via, reconheceu sua condição de a origem, destino e escalas de via-
transportadora sucessiva no referido gem.
trecho São Paulo-Florianópolis (fls. Pela aeronave argentina chegou
147/151). a São Paulo, sendo que daqui, com
E o mesmo fez o acórdão da Quar- destino a Florianópolis, tomou o
ta Câmara do Colendo Tribunal de avião da Transbrasil, em virtude
Alçada de São Paulo, que negou pro- do convênio existente entre as du-
vimento à apelação da empresa, e as transportadoras.
assim reza, na parte precipua: Assim, o transporte contratado
«A Transbrasil S/A Linhas Aé- previu ponto de partida e de desti-
reas propôs contra Célia Taleisnik no situados em territórios do Bra-
Flomenbaum e outros ação consig- sil e Argentina, enquadrando-se no
natória, com efeito de pagamento, artigo 1, da Convenção de Varsó-
objetivando liberar-se de obrigação via, de 1929, com a emenda do Pro-
de indenizar os réus, viúva e filhos tocolo de Haia, de 1955, convenções
do passageiro Mário Flomenbaum, essas promulgadas, entre nós, pe-
falecido no acidente aéreo ocorrido los Decretos n?s 20.704/35 e
com aeronave da autora, em Rato- 56.463/65, respectivamente, uma
nes, Município de Florianópolis, vez que, por tais diplomas legais,
oferecendo a quantia de Cri que também são leis internas, é
602.912,50, pela morte e bagagens considerado um só transporte mes-
da vitima, com base no Código mo que, sucessivamente, seja efe-
Brasileiro do Ar Decreto-Lei n? tuado por vários transportadores.
32/65). A posição da apelante foi a de
Mas a respeitável decisão de pri- transportadora sucessiva, sujei-
meiro grau, acertadamente, não tando-se às regras das men-
lhe deu razão, acolhendo a alega- cionadas convenções, certo que
ção dos réus de insuficiência do de- aceitou o viajante, sua bagagem,
pósito, tendo em vista que a maté- como uma das partes do contrato
ria deve ter o seu deslinde pelas avençado entre as Aerolíneas Ar-
normas da Convenção de Varsóvia, gentinas e a vitima, no transporte
com as alterações do Protocolo de aéreo internacional, na etapa que
Haia. ficou sob sua responsabilidade e na
qual se deu o acidente.
Com efeito, cuidou-se de trans-
porte internacional, focalizado nes- Dessarte a composição dos danos
ses acordos, e não de transporte não era de ser aferida segundo o
meramente doméstico, como quer Código Brasileiro do Ar, que prevê
a apelante. indenizações em bases inferiores
às presentes nas convenções supra,
A vitima, através de contrato fir- dai que integral não foi o depósito
mado com a Aerolineas Argenti- levado a efeito pela consignante,
nas, que opera em vôos internacio- por isso que não fazia jus à presta-
nais, tomou avião dessa empresa ção jurisdicional desejada.
em San Miguel de Tucuman, na
Pátria de San Martin, para dirigir- Tendo a apelante, como trans-
se à Capital do nosso Estado e da- portadora suscessiva, inserido-se
qui retornar à sua cidade de ori- no transporte internacional da viti-
846 R.T.J. — 108

ma, resulta despicienda a circuns- Em recurso extraordinário, funda-


tância de, normalmente, operar do nas letras a e d da previsão cons-
apenas dentro do território nacio- titucional, escreve a recorrente:
nal, posto que não fez contrato au- «4. Na realidade, Senhor Pre-
tônomo com o passageiro falecido sidente, a vítima Mário Flo-
no acidente com sua aeronave, co- menbaum, adquiriu junto a Ae-
mo irrelevante também a circuns- rolineas Argentinas os bilhetes
tância de outros passageiros esta- de passagens aéreas números
rem valendo-se de um vôo efetiva- 04444032577708 e 04444032577709, pa-
mente doméstico, além do que a ra transportes áereos domésticos e
sucessividade da apelante não internacionais, como a seguir espe-
ocorreu com transportadora que se cificados:
obrigou em transporte doméstico.
San Miguel de Tucuman/Buenos
Não houve, no caso, conflito en- Aires, em caráter doméstico;
tre as citadas convenções e o Códi- Buenos Aires/São Paulo, em ca-
go Brasileiro do Ar, que regula o ráter internacional; São Paulo/Flo-
transporte doméstico, sendo certo rianópolis/São Paulo, em caráter
que o diploma brasileiro, no seu doméstico;
artigo preambular, afirma que o São Paulo/Buenos Aires, em ca-
direito aéreo também é regulado ráter internacional; Buenos Ai-
pelas Convenções e Tratados que o res/San Miguel de Tucuman, em
Brasil tenha ratificado. caráter doméstico.
A matéria de fato ficou circuns- 5. Tratava-se não de um único
crita aos documentos trazidos pe- transporte aéreo internacional efe-
las partes, nenhum deles impugna- tuado por mais de um transporta-
do, por isso que aplicável foi o pre- dor aéreo, mas de vários transpor-
ceito contido no artigo 330 do esta- tes aéreos, domésticos e interna-
tuto processual, não tendo sido, cionais, a serem executados por
portanto, precipitado o digno ma- dois ou mais transportadores».
gistrado ao prolatar a sentença (Fls. 234).
conforme o estado do processo, E acrescenta:
uma vez que «a certeza dos fatos
traduz a oportunidade ótima para «O Contrato de Transporte passa
o magistrado dizer o direito que, a existir no momento em que o
como conseqüência deles, incidiu» passageiro se apresenta e é aceito
(J.J. Calmon dos Passos — Comen- pelo transportador para ser trans-
tários ao Código de Processo Civil ferido de um lugar para o outro.
— III vol., pág. 562 — Edição Fo- Dai não vale dizer, como foi refe-
rense — 1979). rido no acórdão, que ocorreu, na
espécie, transporte sucessivo,
Necessidade não havia, pois, de «posto que não fez (a Recorrente)
dilação probatória, quando os fatos contrato autônomo com o passagei-
já estavam estampados nos autos e ro falecido no acidente com sua ae-
o direito, por mais complexo que ronave.»
seja, é por dever de oficio, conhe-
cido pelo juiz. A aceitação mútua dos bilhetes de
passagem pelos transportadores na-
Isto posto, negam provimento ao cionais e/ou internacionais é um re-
recurso, para que fique mantida a lacionamento contratual entre em-
sentença por seus próprios funda- presas aéreas, visando a facilitar
mentos.» (Fls. 228/231). questões de ordem cambial, através

R.T.J. — 108 847

de uma câmara de compensação. Registra-se, aí, pressuposto de fato


Neste sentido exerce a IATA sua constituir o vôo São Paulo-
função aglutinadora das empresas Florianópolis mera etapa da viagem
aéreas aérea contratada originariamente na
Quem se associa à IATA são as Argentina — para dele dessumir-se a
empresas aéreas e não os passagei- responsabilidade da empresa brasi-
ros. leira, não isolada, mas integrada no
Logo, há que se considerar o trans- roteiro total da viagem.
porte, sob análise, como um relacio- E, mais ainda, declarou o acórdão
namento fático entre o passageiro que o passageiro «pela aeronave ar-
Mário Flomenbaum e a empresa aé- gentina chegou a São Paulo, sendo
rea Recorrente, iniciado em São que daqui, com destino a Florianópo-
Paulo com destino a Florianópolis, lis, tomou o avião da Transbrasil,
ambos os pontos situados no territó- em virtude de convênio existente en-
rio brasileiro, sem qualquer escala tre as duas transportadoras». (Fls.
em território estrangeiro. 229 medio).
A relação jurídica entre a Recor- E, por último, anotou o acórdão
rente e o passageiro, somente teve que «a posição da apelante foi a de
inicio, a partir do momento em que transportadora sucessiva, sujeitan-
este último se apresentou para em- do-se às regras das mencionadas
barque, nos balcões da Recorrente, convenções, certo que aceitou o via-
sendo, portanto, um contrato realiza- jante, sua bagagem, como uma das
do em território brasileiro, para partes do contrato avençado entre as
transporte doméstico, sob o amparo Aerolineas Argentinas e a vitima, no
do Código Brasileiro do Ar (Decreto- transporte aéreo internacional, na
Lei n? 32 de 18 de novembro de 1966 etapa que ficou sob sua responsabili-
— Art. 81». (Fls. 239/240). dade e 'na qual se deu o acidente.»
Foi o recurso indeferido na ori- (Fls. 229 fine).
gem, mas subiu a esta Corte em vir- Na sustentação da recorrente, o te-
tude de argüição de relevância aco- ma principal do recurso está assim
lhida (ARv. n? 17.190, em apenso). caracterizado:
É o relatório. «1) O Decreto-Lei n? 32/66 regu-
1 la os fatos relacionados com o
VOTO transporte aéreo realizado dentro
O Sr. Ministro Decio Miranda (Re- do país.
lator): Segundo expôs o acórdão re- Como tal, deve ser examinada
corrido, e ficou visto numa das a sua abrangência e campo de
transcrições constantes do relatório aplicação ao fato, antes de se bus-
que acabo de fazer, «a vitima, atra- car aplicabilidade de qualquer con-
vés de contrato firmado com a Aero- venção ou tratado internacional.
lineas Argentinas, que opera em Sendo o Decreto-Lei n? 32/66,
vôos internacionais, tomou avião posterior aos Decretos que promul-
dessa empresa em San Miguel de garam a Convenção de Varsóvia e
Tucuman, (...), para dirigir-se à Ca- o Protocolo de Haia, compete exa-
pital do nosso Estado e daqui retor- minar se o mesmo não derrogou
nar à sua cidade de origem, com es- disposições da Convenção e do Pro-
calas pm Buenos Ateres e Florianó- tocolo.» (Fls. 237).
polis, munindo-se, para tanto, do in-
dispensável bilhete de passagem, on- Descarte-se, de pronto, a dúvida
de ficou constando a origem, destino suscitada no terceiro item, visto que
e escalas da viagem». (Fls. 228/9). o Código Brasileiro do Ar, o citado
848 R.T.J. — 108

Decreto-Lei n? 32, logo no art. 1? de- Tucuman (Argentina) e ao chegar


clara que «o direito aéreo é regulado aqui em São Paulo, a suplicante
pelas Convenções e Tratados que o através de contrato com a Aeroli-
Brasil tenha ratificado e pelo presen- neas Argentinas, transportou-o até
te Código». Florianópolis, quando ocorreu o si-
A primeira afirmação é admissi- nistro». (Fls. 150).
vel, com o adminiculo, ou ressalva,
de que o mesmo Decreto-Lei n? 32, De tudo, vê-se que, conquanto em
no art. 82, declara considerar-se «um princípio responsável perante os pas-
só transporte o que vários transpor- sageiros de todo o percurso a empre-
tadores aéreos executarem sucessi- sa argentina emitente da passagem
vamente desde que a operação se inicial, a ora recorrente, empresa
origine de um só contrato, haja ou brasileira, é com ela solidária no
não interrupção ou baldeação, embo- trecho em que executou o contrato,
ra este contrato venha ou não a ser nos termos da Convenção de Varsó-
executado, pelo transportador que o via, e não se exonera mediante ação
contratou», o que, de logo, também de consignação em pagamento do
responde ao segundo tema proposto que aos titulares da indenização se-
pela recorrente. ria devido, em correspondência com
Está ai, no citado art. 82, descrito o referido trecho a seu cargo, nos
o caso típico dos presentes autos, em termos do Código Brasileiro do Ar,
que, segundo registra o acórdão re- Decreto-Lei n? 32/66.
corrido — soberano na matéria de Inaplicável, ao caso dos autos, o
prova — é fato certo que a ora recor- art. 81 do referido Código, a dizer
rente «aceitou o viajante, sua baga- que se considera «doméstico e ( ...)
gem, como uma das partes do con- regido pelo presente Código todo o
trato avençado entre a Aerolíneas transporte em que os pontos de par-
Argentinas e a vitima, no transporte tida, intermediários e de destino es-
aéreo, iotemaclogal,, na etapa que fi- tepttit i situados 'tio território 'natio-
cou sob sua responsabilidade e na nal», disposição que por si só não ex-
qual se deu o acidente». (Fls. 229 clui a regência, pela Convenção In-
fine).
ternacional, da hipótese em que os
De resto, 34 a sentença de primei- pontos intermediários, situados em
ro grau consignara, em matéria de território nacional, sejam mero elo
fato: ou seqüência de percurso internacio-
«No mérito, ficou patenteado que nal, só porque a transportadora de-
o finado Mário Flomenbaum, fir- les se utilize na execução de sua par-
mou um contrato de transporte de te na sucessivldade das escalas de
natureza internacional com Aeroli- um transporte internacional, como
neas Argentinas, cujo ponto de erab caso.
partida foi a cidade Tucuman com
destino e escalas a Buenos Aires, Os recorridos ajustaram com a
São Paulo, Florianópolis, São Pau- empresa argentina o transporte com
lo, Buenos Aferes e Tucuman. escalas intermediárias em Buenos
O dociáento de fls. 104-registra Aires e Florianópolis. Do trecho São
a alegação dos suplicados, em ne- Paulo-Florianópolis e vice-versa a
nhum momento elidido pela supli- empresa argentina encarregou a em-
cante.» (Fls. 149 gle410) presa brasileira. É esse trecho ape-
nas um elo do transporte internacio-
«No caso ora erri ,exame,dopassa- nal, regido pela Convenção de Varsó-
geiro falecido viajou da cidade de via.

R.T.J. — 108 849

O acórdão recorrido, soberano em Não foi outra a conclusão do acór-


matéria de prova, deu como certo dão da Primeira Turma, de dezem-
que o bilhete de passagem São bro passado, relator o eminente Mi-
Paulo-Florianópolis-São Paulo cons- nistro Néri da Silveira, aqui trazido
tara da emissão original feita pela pela parte recorrida, em que se es-
empresa argentina, assim im- clarece exatamente isto: o vôo que,
possível invocá-lo a empresa brasi- do ponto de vista técnico — e ainda
leira como sinal de que com esta linguagem leiga — é um vôo domés-
contratara o passageiro um trans- tico, em razão da empresa, e do pon-
porte doméstico. to de partida, e do ponto do destino,
pode caracterizar-se perfeitamente,
Certo, pois, que o acórdão recorri- à luz do contrato, como fase de
do não feriu os preceitos legais que, transporte aéreo internacional.
segundo a recorrente, por ele teriam O Ministro Relator, em seu lúcido
sido afrontados. voto, deixou isto claro e abonou as
razões do acórdão recorrido, de mo-
Nem divergiu dos acórdãos indica- do que me vejo, também, na contin-
dos como divergentes, cuja compa- gência de não conhecer do recurso
ração com o acórdão recorrido dei- extraordinário.
xou de ser feita pelo modo indicado
no art. 322 do Regimento Interno, is-
to é, com a menção das «circunstân-
cias que identifiquem ou asseme- EXTRATO DA ATA
lhem os casos confrontados».
Isto posto, não conheço do recurso RE 100.300 — SP — Rel.: Min. De-
extraordinário. cio Miranda. Recte.: Transbrasil
S/A. Linhas Aéreas (Advs.: Francis-
E o meu votçh, co Romere .• Martim Henrique Tei-
xeira Tamm, Jcifio"Procópid de Car-
valho e outros). Recdos.: Célia Ta-
VOTO (PRELIMINAR) leisnik de Flomenbaum e outros
• (Advs.: Stelio Bastos Belchior e ou-
(' O Sr. Minitili`o Francisco Rezek: tros).
Sr. Presidente, o acórdão recorrido
estabeleceu 'a exata distinção entre Decisão: Não conhecido. Unânime.
contrato de transporttaéreo interna- Falou pelo Recte.: O Dr. João Procó-
cional e contrato de transporte aéreo pio de Carvalho. Falou pelos Rec-
dos.: O Dr. Stelio Bastos Belchior.
doméstico.
Parece-me, também, gire os Con- Presidência do Senhor Ministro
ceitos da Convenção de Viena sobre Djaci Falcão. Presentes á Sessão os
o contrato de transporte aéreo inter- Senhores Ministros Moreira Alves,
nacional não colidem, em absoluto, Decici Miranda e Francisco Rezek —
com as regras Ne o Código Brasilei- Ausente, ocasionalmente, o Senhor
ro do Ar encerra a respeito de vôos Ministro Aldir PaWsarinho —
doméstico& No mesmo trajeto aé- Subprocurador-Geral da República,
reo, pode haver pessoas que, em ra- Dr. Mauro Leite Soares.
zão do seu contrato, estão em vôo
doméstico, e pessoas que, em razão Brasília, 21 de outubro de 1983 —
do seu contrato, perfazem um vôo in- Hélio Francisco Marques, Secretá-
ternacional. rio.
850 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.371 — PE


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.
Recorrente: Fundação Serviços de Saúde Pública — Recorrido: Sindica-
to dos Profissionais de enfermagem, técnicos, duchistas, massagistas e em-
pregados em Hospitais e Casa de Saúde no Estado de Alagoas.
Justiça Trabalhista. Dissídio coletivo. Competência funcional.
Alegação de falta de esgotamento das medidas relativas à formaliza-
ção da Convenção ou Acordo correspondente (á 4? do artigo 616 da
CLT.).
Questão relativa a competência funcional entre TRT. e TST. é
puramente processual, não dizendo respeito à jurisdição trabalhista a
que alude o artigo 142, caput e § 1?, da Constituição Federal.
Falta de esgotamento das medidas relativas à formalização da
Convenção ou Acordo correspondente viola, se ocorrer, o § 4? do arti-
go 616 da CLT., matéria que se circunscreve ao âmbito legal, não se
alçando ao terreno constitucional.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACORDA° re ordinariamente apenas a Fun-
dação de Serviços de Saúde Públi-
Vistos, relatados e discutidos estes ca — FSESP, inconformada por
autos, acordam os Ministros da Se- não ter sido excluída do feito.
gunda Turma do Supremo Tribunal
Federal, na conformidade da ata do Previamente diz-se amparada
Julgamento e das notas taquigráfi- pelo Decreto n? 779/69, argüindo,
cas, por unanimidade de votos, não preliminarmente: a) incompetência
conhecer do recurso extraordinário. absoluta do Tribunal Regional do
Trabalho da 6? Região, em razão
Brasília, 23 de agosto de 1983 — de possuir quadro organizado em
Med Falcão, Presidente — Moreira carreira de âmbito nacional, sendo
Alves, Relator. competente o TST, e, ainda, de b)
Falta de Autorização, por não pos-
RELATORIO suir o Sindicato Suscitante legiti-
midade ad processum, nos termos
O Sr. Ministro Moreira Alves: dos arts. 616, § 4?, 612 e 616 § 1? da
este o teor do acórdão recorrido (fls. CLT e do item II do Prejulgado 56
382/386): do TST, c) Carência de Ação, por-
que ao Suscitante falta à legimiti-
«Inconformada com o acórdão de dade ativa ad causam, para agir
fls. 214/230, que julgou procedente em juízo e pela impossibilidade
em parte o Dissídio Coletivo, susci- jurídica do pedido quanto à conces-
tado pelo Sindicato dos Profissio- são do adicional de insalubridade,
nais de Enfermagem, Técnicos, aumento a titulo de produtividade
Duchistas, Massagista e Emprega- e a inclusão da média das horas
dos em Hospitais e Casas de Saúde extras prestadas durante o ano, no
no Estado de Alagoas, contra a cálculo da gratificação natalina.
Fundação de Saúde e Serviço So-
cial do Estado de Magoas e outras No mérito, vem contra as seguin-
empresas, em número de 44, recor- tes cláusulas deferidas:

R.T.J. —108 851

Aumento a título de produti- recurso no prazo da Lei. Por isso,


vidade, deferida em 4?; rejeito a preliminar argüida em
Adicional de insalubridade; contra-razões.
Remuneração do Trabalho No que se refere à preliminar de
extraordinário; incompetência do Egrégio Regio-
Fornecimento de uniformes; nal da 6? Região, argüida pela sus-
citada por ter sido incluída no
e) Utilização de registro mecâ- Dissídio, por possuir ela quadro or-
nico para controle de entrada e ganizado em carreira, de âmbito
saída de empregados; nacional, não tem procedência a
alegação, uma vez que a existência
f ) Inclusão de horas extras pa- do quadro de carreira não é impe-
ra efeito de cálculo da gratifica- dimento para que a Fundação seja
ção de natal (média anual); parte no Dissídio Coletivo, sendo
Desconto assistencial sem irrelevante estar a entidade sujeita
oposição dos empregados que de- às normas do CNPS. Rejeito a in-
le discordarem; e competência argüida.
Vigência do Dissídio (data
base, 1? de março e não 1? de Quanto à falta de autorização do
maio como deferido). Sindicato Suscitante, por não pos-
suir legitimidade ad processtun,
Há contra-razões do Suscitante, constata-se que o patrono da enti-
onde alega não gozar a suscitada dade suscitada acompanhou duran-
dos benefícios do Decreto n? te toda a fase administrativa o
779/69, havendo a ilustrada Procu- dissídio, fls. 119/120, comparecendo
radoria Geral se pronunciado pela à audiência de conciliação, perante
rejeição da prefaciai argüida em a Junta de Maceió, não se justifi-
contra-razões, e pelo acolhimento cando a alegação de violação dos
das preliminares de incompetência arts. 616 4? e 612 da CLT confor-
do Egrégio Regional para conhecer me vem neste sentido se firmando
e julgar o Dissídio contra a susci- a jurisprudência do TST, tendo a
tada, e de ilegitimidade ad preliminar sido rejeitada por maio-
processam do suscitante, e pela ex- ria.
clusão da suscitada do Dissídio, e
caso desacolhida as preliminares,
no mérito é pelo provimento par- No que diz respeito à carência de
cial do recurso. Ação do Sindicato Suscitante, tam-
E o relatório. bém é improcedente a alegação,
pois, o conflito de interesse existe e
a representação pelo Suscitante
Voto dos interesses dos empregados da
Suscitada é legitima, não havendo
Quanto a argüição contida em as pretendidas violações legais, co-
contra-razões do suscitante, de não mo afirma a suscitada, sobretudo
se aplicarem à suscitada os be- porque em se tratando de uma
nefícios do Decreto n? 779/69, a Fundação, o único Orgão Sindical
matéria está sem objeto, visto que competente para suscitar o dissídio
é a própria recorrente, que embora é o ora suscitante, que representa
reconheço possuir este direito, dele categoria profissional diferencia-
não se utilizou, ingressando com o da. Assim rejeito esta prejudicial.
852 R.T.J. —108

Mérito. e) Utilização de registro mecâni-


co para controle de entrada e saída
Aumento a titulo de produtivi- de empregados;
dade deferido em 4%;
O Egrégio Pleno por maioria ne- Da mesma forma que o decidido
gou provimento ao recurso no que anteriormente, também quanto a
pertine a esta cláusula. este ponto foi considerado inexis-
tente o recurso.
Adicional de insalubridade; I) Inclusão das horas extras pa-
ra efeito de cálculo de gratificação
Embora tenha negado provimen- de natal (média anual);
to ao recurso neste aspecto, porque
a cláusula já constava do acordo Embora este relator negasse
anterior, não se justificando que provimento porque a cláusula já
somente a recorrente, que foi a constava do acordo revisando, (fl.
única a se insurgir entre 44 outras, 55), não se justificando o incçnfor-
fique isenta do cumprimento da mismo da suscitada, sendo que a
condição, em situação de privilégio exclusão da cláusula, para a susci-
em relação às demais, uma vez tada, criaria distorções no âmbito
que foi deferida a cláusula com a da categoria, mesmo porque hora
mesma redação do acordo anterior extra habitual é salário.
assim redigida:
A douta maioria determinou que
«As empresas pagarão o adicio- apenas as horas extras habituais
nal de insalubridade conforme re- sejam computadas no cálculo do
gulamentação da Portaria n? 012, 13? salário.
de 12-11-79, da Secretaria de Segu-
rança e Medicina do Trabalho» (fl. g) Desconto assistencial;
S5).
Na forma da jurisprudência, dou
O Egrégio Tribunal Pleno por provimento ao recurso, neste pon-
maioria deu provimento para ex- to, adaptando a cláusula à juris-
clusão da cláusula. prudência do TST, condicionando-o
à não oposição dos empregados
c) Remuneração do Trabalho ex- que dele discordarem até 10 (dez)
traordinário com adicional único dias antes do primeiro pagamento
de 25%; calculada sobre o salário reajustado.
básico do empregado;
b) Vigência do Dissídio Coletivo
Embora negasse provimento ao a partir de 1? de maio e não 1? de
recurso neste ponto, porque a cláu- março, data dos aumentos para os
sula também já constante do acor- funcionários da entidade.
do revisando fl. 55, não se justifi-
cando também sua exclusão, pois A fixação da data da base do
até modesta a pretensão, por maio- Dissídio em 1? de maio não implica
ria foi considerado que não havia em prejuízo para a suscitada, tam-
nada a registrar, quanto a esta pouco aos empregados, uma vez
cláusula porque não recorrido; que este é o primeiro dissídio que
cl) Fornecimento de uniformes; estabelece datas de reajustamento.
E evidente que se tiveram aumen-
Entendeu o Egrégio Pleno inexis- to em março este será pago tão só
tir recurso quanto a este ponto. até a data do novo reajuste.
R.T.J. — 108 853

Nego provimento, voto prevalen- Opostos embargos de declaração,


te por maioria. foram eles acolhidos pelo seguinte
aresto (fls. 392/393):
Isto Posto «Embargos de declaração da
suscitada alegando que o v. acór-
dão embargado deixou de mencio-
Acordam os Ministros do Tribu- nar em seu corpo, dispositivos
nal Superior do Trabalho, t- constitucionais pré-questionados no
recurso ordinário quais sejam: vio-
rejeitar as preliminares de: lação dos arts. 142, 1?, 153 §f 2? e
inaplicabilidade à suscitada, 4? e 166 da Constituição Federal.
dos benefícios do Decreto-Lei n?
779/69, argüida em contra-razões E o relatório.
pelo suscitante, unanimemente;
incompetência hierárquica do Voto
TRT, da 6! Região, para apreciar o
dissídio unanimemente; c) falta de Embora não tenham sido especi-
legitimidade ad processum, venci- ficados no relatório os artigos da
dos os Excelentíssimos Senhores Constituição tidos por violados, pe-
Ministros Marco Aurélio e Expedi- la Fundação embargante, suas ale-
to Amorim; d) carência de ação, gações foram rejeitadas tendo no
unanimemente; 2- no mérito, dar voto constado não haver as preten-
provimento parcial ao recurso, pa- didas ofensas legais, como afirma
ra: a suscitada, no que diz respeito à
carência de ação. Quanto às preli-
a) excluir a cláusula relativa ao minares de incompetência de falta
adicional de insalubridade, venci- da alegada autorização, se rejeita-
dos os Excelentíssimos Senhores das é evidente que afastadas estão
Ministros Alves de Almeida, João as pretendidas violações da Consti-
Wagner, Orlando Teixeira da Costa tuição Federal, motivo destes em-
Pedro Natal': b) determinar que bargos.
apenas as horas extras habituais Apesar disso, acolho os presentes
sejam computadas no cálculo do embargos para deixar esclarecido
13? salário, vencidos os Exce- inodstir, as alegadas violações
lentíssimos Senhores Ministros Al- constitucionais.
ves de Almeida, Nelson Tapajós,
Expedito Amorim, Coqueijo Costa Isto posto
Fernando Franco; c) subor-
dinar o desconto assistencial a Acordam os Ministros do Tribu-
não oposição dos empregados, nal Superior do Trabalho, por una-
manifestada até 10 dias antes nimidade acolher os embargos, pa-
do 1? pagamento reajustado, unani- ra declarar que não ocorreram as
memente; 3- negar provimento ao alegadas violações dos artigos 142,
restante do recurso: a) vencidos os § 1?, 153 §f 2? e 4? e 166 da Consti-
Excelentíssimos Senhores Minis- tuição Federal».
tros Nelson Tapajós, Marco Auré-
lio, Expedito Amorim, Ildélio Mar- Interposto recurso extraordinário,
tins e Fernando Franco, quanto ao foi ele admitido por este despacho
aumento decorrente da produtivi- (fls. 413):
dade; b) vencido o Excelentíssimo «Manifesta a Fundação Serviços
Senhor Ministro Mozart Victor de Saúde Pública — FSESP — re-
Russomano, no concernente à fixa- curso extraordinário, por não se
ção da data-base». conformar com o acórdão deste
854 R.T.J. — 108

Tribunal, proferido em Dissídio Co- e o Tribunal Superior do Trabalho, e


letivo, que rejeitou exceção de in- não à jurisdição trabalhista a que
competência do Tribunal Regional alude o artigo 142, caput e § 1?, da
da 6? Região para apreciar dissídio Constituição Federal.
contra ela proposto, por possuir
quadro organizado em carreira de Por outro lado, no que concerne à
âmbito nacional, e preliminar de alegada falta de esgotamento das
falta de autorização, eis que, quan- medidas relativas à formalização da
to à Recorrente não foi cumprido o Convenção ou Acordo corresponden-
que determina o § 4? do art. 616 da te, a violação, se existente, terá sido
CLT. do § 4? do artigo 616 da CLT, que es-
tabelece a vedação em causa, ques-
Sustenta a Recorrente, que apóia tão que se circunscreve ao âmbito
seu apelo no art. 143 da Constitui- legal, não se alçando ao terreno
ção Federal, que a decisão impug- constitucional, para caracterizar
nada fere os artigos 142, § 1?, 153, contrariedade aos artigos 142, § 1?,
2?, 3? e 4?, e 166 da referida Car- 153, §§ 2? e 4?, e 166 da Constituição
ta, além de preceitos da Consolida- Federal. Observo, ademais, que o §
ção das Leis do Trabalho, mor- 3? do artigo 153 da Carta Magna não
mente o já referido § 4? do art. 616, foi prequestionado (Súmulas 282 e
além de divergir de acórdão do Co- 356).
lendo Supremo Tribunal Federal,
que acosta ao apelo.
2. Em face do exposto, não co-
As duas questões suscitadas no nheço do presente recurso.
recurso — incompetência do Tribu-
nal Regional do Trabalho e falta de
cumprimento do que dispõe o art. EXTRATO DA ATA
616, em seu parágrafo 4?, da CLT,
estão devidamente fundamentadas,
havendo possibilidade de infrigên- RE 100.371-PE — Rel.: Min. Morei-
eia dos preceitos constitucionais in- ra Alves. Recte.: Fundação Serviços
vocados, razão pela qual admito o de Saúde Pública (Advs.: Maria
apelo. Cristina Paixão Côrtes e outros).
Recdo.: Sindicato dos Profissionais
Publique-se. Intimem-se». de Enfermagem, Técnicos, Duchls-
tas, Massagistas e Empregados em
E o relatório. Hospitais e Casas de Saúde no Esta-
do de Alagoas. (Advs.: Nadja Costa
VOTO Ferreira e outros).
Decisão: Não conhecido. Unânime.
O Sr. Ministro Moreira Alves (Re- Presidência do Senhor Ministro
lator): 1. Inexistem as alegadas con- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
trariedades aos textos constitucio- Senhores Ministros Moreira Alves,
nais invocados no recurso extraordi- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
nário. Francisco Rezek Subprocurador-
Geral da República, Dr. Mauro Leite
Com efeito, no tocante à questão Soares.
de incompetência, a matéria é pura-
mente processual, pois diz respeito, Brasília, 23 de agosto de 1983 —
apenas, à competência funcional en- Hélio Francisco Marques, Secretá-
tre o Tribunal Regional do Trabalho rio.
R.T.J. — 108 855

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 100.375 — RS


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
1? Reçorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —
INCRA — 2? Recorrente: União Federal — 3? Recorrente: Ernesto José An-
noni e outros — Recorridos: Os mesmos.
Desapropriação indireta. Imóvel rural. Reforma agrária. Interes-
se social. Empresa rural. Ação direta. Nulidade da desapropriação.
Perdas e danos. Decreto-lei n? 554/69, art. 14. Decreto-lei n? 3.365, art.
35.
— A nulidade da desapropriação por interesse social, para fins de
reforma agrária, por constituir o imóvel numa empresa rural, não
implica na restituição do imóvel, já transcrito em nome do expro-
priante, se nele se desenvolve, há longo tempo, um projeto social com
o assentamento de colonos. Incorporado o bem ao património do ex-
propriante e atribuído ao imóvel a destinação social, tem aplicação
hipótese a construção jurisprudenclal sobre a desapropriação indire-
ta, resolvendo-se em indenização de perdas e danos, em dinheiro.
Recursos extraordinários não conhecidos.
ACÓRDÃO CRA contra seus proprietários Er-
nesto José Annoni e outros, restrita,
Vistos, relatados e discutidos estes porém, à área de 9.259,34 ha. Na
autos, acordam os Ministros da Pri- oportunidade, foi requerido o depógi-
meira Turma do Supremo Tribunal to do preço em dinheiro e títulos de
Federal, na conformidade da ata, de divida agrária, respectivamente, pa-
julgamentos e notas taquigráficas, ra o pagamento das benfeitorias e
por maioria de votos, em não conhe- indenizações das terras.
cer dos recursos. Despachando a inicial, nos termos
Brasília, 22 de novembro de 1983 — do art. 7? do Decreto-Lei n? 554/69, o
Soares Mufloz, Presidente — Rafael ilustre Juiz Federal de primeiro
Mayer, Relator. grau declarou efetuado o depósito,
determinado a expedição de manda-
RELATORIO do de imissão de posse, bem como a
transcrição no Registro de Imóveis
O Sr. Ministro Rafael Mayer: O (fls. 34 — 1? vol. da ação de desapro-
imóvel rural denominado Fazenda priação).
Sarandi, localizado nos Municípios
Citados, os réus apresentaram
de Sarandi e Ronda Alta, no Estado contestação,
do Rio Grande do Sul, de área apro- preço oferecido, inurgindo-se contra o
ximada de 16.8I5,84 ha., foi declara- sibilidade jurídica e dizendo da impos-
do de interesse social para fins de priattrio, passível do decreto expro-
reforma agrária pelo Decreto n? constituir o imóvel de uma
nulidade, por
empresa ru-
70.232, de 3-3-73. Como tal, e tendo
por fundamento os arts. 18, letras a ral.
b e c, e 22 da Lei n? 4.504/64 (Estatuto Frustrado pelo despacho saneador
aa Terra), c/c os arts. 1?, 3?, 6? e 7? o intento de discutir a nulidade da
do Decreto-Lei n? 554/69, foi objeto desapropriação, bem assim indeferi-
de ação de desapropriação pelo IN- do pelo Tribunal Federal de Recur-
856 R.T.J. — 108

sos, face à complexidade de matéria to parcial às apelações do INCRA e


de fato, mandado de segurança com da União Federal, prejudicado o
mesmo objetivo, os expropriados apelo dos autores da ação ordinária
moveram ação ordinária na qual (fls. 3720/3753). A ementa do acór-
vindicaram a nulidade do decreto dão é a seguinte (fls. 3755/3756):
expropriatório e a restituição do «Desapropriação — Interesse so-
imóvel aos antigos donos, mediante cial — Reforma Agrária -- Ação
cancelamento da transcrição imo- Direta — Desapropriação Indireta
biliária, bem assim a indenização de — CF, arts. 153, § 22, 161 —
perdas e danos. Decreto-Lei n? 554/69, art. 2? — Lei
Esta ação foi normalmente proces- n? 4.132, de 1962, art 2?, III.
sada, tendo a União e o INCRA in- I — O que a lei impede é que se
terposto agravo de respectivo despa- discuta,' no juizo da desapropria-
cho saneador, que veio a esta Corte ção, questões outras que não aque-
pelo RE n? 94.073. las referentes ao valor da indeniza-
Seguiram paralelas a ação de de- ção e de nulidade formal (art. 9?
sapropriação e ação ordinária. do Decreto-Lei n? 554/69; art. 9? do
Entendeu, no entanto, o ilustre Decreto-Lei n? 3.365/41). Não impe-
Juiz de apreciar, afinal, as duas de a lei, todavia, a discussão judi-
ações numa só assentada de julga- ciária em torno do fundamento da
mento, na consideração de que (fls. desapropriação, no caso de even-
3121): tual abuso por parte do Poder Pú-
«...inarredável a conclusão blico; também não impede que
de que o julgamento de uma das qualquer alegação de violação de
ações importará no prejulgamento direito individual, sela examinada
da outra. Se improcedente a ação pelo Poder Judiciário. Só que tais
ordinária, procedente será a ação discussões deverão ocorrer em
expropriatória, cifrando-se a deci- ação própria.
são da última fixação do justo pre- II — Desapropriação por inte-
ço. Se procedente a ação direta resse social, para fins de reforma
que ataca o ato expropriatório, de agrária. Inocorrência de pressu-
duas uma: ou a decisão restitui os posto fundamental (Decreto-Lei n?
autores à situação anterior às de- 554, de 1969, artigo 2?). Procedên-
mandas, com as cominações ad- cia, em parte, da ação de anulação
missíveis; ou subsiste a transcri- do ato expropriatório.
ção do imóvel em nome do desa-
propriante, resolvendo-se a situa- III — Aplicábilidade dos precei-
ção com a reparação do dano.» tos inscritos no art. 14, parágrafo
A sentença, então, concluiu pela único, do Decreto-Lei n? 554/69, ou
extinção da ação de desapropriação, artigo 35 do Decreto-Lei n? 3.365,
e julgou procedente a ação ordiná-
de 1941. Inocorrência de desvio de
ria, «para declarar nulo o ato expro- finalidade pública. Desapropriação
priatório, determinando, assim, o indireta. Indenização a ser fixada
cancelamento da transcrição feita no na forma do disposto no Decreto-
nome do Instituto», e demitindo-o da Lei n? 3.365/41.
posse do imóvel, condenados a União IV — Recursos da União Fede-
o INCRA à composição do dano ral e do INCRA providos, em par-
que for apurado em liquidação. te. Prejudicados os recursos dos
Apelaram as partes, e a 4? Turma autores.»
do Tribunal Federal de Recursos, Depois de rejeitar, em preliminar,
por maioria de votos, deu provimen- que a decisão inicial que determina

R.T.J. — 108 857

depósito do preço e a transcrição ao pagamento de honorários dos se-


no registro imobiliário, assim trans- nhores Peritos e Advogados e das
ferindo a propriedade e a posse para custas em ambas as ações», arbitra-
expropriante, seja sentença final do o salário do perito oficial em 150
constitutiva do processo expropriató- salários mínimos locais, «os do As-
rio, e portanto tenha transitado em sistente Técnico dos Autores em cin-
julgado, o voto condutor do acórdão qüenta salários mínimos e do Assis-
de lavra do eminente Ministro Car- tente Técnico do réu em dez idênti-
los Mário Dias Velloso, deduziu de- cos salários.» A verba honorária foi
moradamente os fundamentos da de- arbitrada em 20% sobre o valor do
cisão recorrida, in verbis: dano que for apurado (advogados
Voto do relator designado para dos autores). Quanto aos honorários
o acórdão da apalagão (Min. Car- do advogado de Alcides e Fulgénclo
los Mário Valioso): Bortoluzzi, foram eles fixados em
vinte salários mínimos.
II IV
«-- No caso, o INCRA ajuizou Sustentam os apelantes, União
ação de desapropriação por interes- Federal e o INCRA, que o Imóvel ex-
se social, para fins de reforma agrá- propriando se encontrava classifica-
ria, contra Ernesto José Annnoni e do como latifúndio, repousando essa
outros, tendo como objeto o imóvel classificação em informações cadas-
denominado Fazenda Sarandi, que trais, fornecidas pelos próprios ex-
foi declarada de interesse social, pa- propriados.
ra o mencionado fim (reforma agrá-
ria), através do Decreto n? 70.232, de Acontece que, conforme escreve o
3-3-1972. Dr. Juiz, as propriedades evoluem
«Em andamento referida ação, in- no tempo. Por isso é que o Estatuto
gressaram os expropriados com da Terra determina a revisão, de
ação ordinária, para o fim de ser de- cinco (5) em cinco (5) anos, das fi-
clarado nulo o Decreto n? 70.232/72, chas cadastrais (Lei n? 4.504/64, art.
46, § 4?).
reintegrando-os na plenitude de seus
direitos sobre o imóvel, com ressar- «No caso, o Poder Executivo, atra-
cimento das perdas e danos e lucros vés do Decreto n? 70.231, de 3-3-1972,
'cessantes, que se apurarão em liqui-publicado no DO da mesma data, de-
dação de sentença. terminou a revisão geral do cadastro
rural a que se refere o § 4? do artigo
46 do Estatuto da Terra, Lel n?
III 4.504/64. Na mesma data, todavia,

«A r. sentença recorrida, da lavra baixou o Decreto n? 70.232, de 3-3-72,


publicado no «DO» de 3-3-72, que de-
do ilustre Juiz Federal João Casar
Leitão Krieger, julgou «procedente a clarou de interesse social, para fins
de desapropriação, o imóvel rural
ação ordinária, para declarar nulo o denominado «Fazenda Sarandi», si-
ato expropriatório, determinando,
assim, o cancelamento da transcri- tuado
do do
no Município de Sarandi, Esta-
Rio Grande do Sul.
ção, feita em nome do Instituto o
qual deverá ser demitido da posse do «Sendo assim, se o próprio Gover-
imóvel a prol dos autores». Conde- no reconheceu que os imóveis rurais
nou o INCRA, «e a União Federal a sofriam evolução, ou que os cadas-
comporem o valor do dano, que for tros estariam desatualizados, tanto
apurado em liquidação, bem como que ordenou o recadastramento, não
858 R.T.J. — 108

lhe aproveita o argumento no sentido afirmar que excedeu-se em caute-


de que seria definitiva a informação, las, quer na descrição do objeto da
prestada pelos expropriados seis perícia, quer na preocupação de
anos antes, e que teria levado à clas- bem elucidar o Juízo sobre os ele-
sificação do mesmo como latifúndio. mentos indispensáveis para classi-
«Por outro lado, ordenada a revi- ficação da propriedade. Nota-se,
são do recadastramento dos imóveis no trabalho da lavra do dedicado
rurais, por ato do Poder executivo, profissional, a preocupação hones-
não poderia este, concomitantemen- ta de fundamentar e documentar
te, com base no cadastro antigo, cu- as conclusões a que seria levado.
ja revisão ordenara, baixar o ato ad- E que conclusões são estas?
ministrativo da desapropriação. No Atente-se para o remate: «Assim,
particular, escreveu o Dr. Juiz, com tornou-se possível traduzir-se em
acerto: números o que foi verificado no
«Não era lícito à autoridade ad- imóvel, viabilizando o preenchi-
ministrativa, que deitara uma pro- mento de uma Declaração de pro-
vidência de ordem geral, por outro priedade que o retratasse no ano
ato derrogá-la em detrimento de Agrícola 1970/71. A partir dessa
pessoa determinada, pois tal pro- Declaração, observadas as normas
cedimento atenta contra os legais de cálculo, foi possível
princípios de generalidade e abs- atingir-se notas, graus, fatores e
tração, de que devem revestir os coeficientes, que no confronto com
regulamentos.» o estabelecido no Art. 30 da Instru-
«Pois, em verdade, ordenando o ção Especial IBRA IV, informaria
recadastramento geral dos imóveis sobre a classificação atingida pela
rurais, assentando o ato expropriató- Propriedade em estudo. Seguindo,
rio no cadastro revisando e a rigor, o fluxograma estabelecido
dirigindo-se tal ato expropriatório para seu preenchimento, conclui
apenas a uma propriedade, assim esta Perícia ser a Fazenda Sarandi
excluindo apenas uma propriedade, Annoni, em três (3) de março de
aplicou maus tratos no princípio iso- 1972, tipicamente uma empresa
~leo. rural. (fls. 994 — ação direta, 5?
volume).
V Há mais. Conclui o competente e
honesto Professor que, no recuado
«A prova, outrossim, através do ano de 1965, bem analisada a De-
laudo do vistor judicial, é no sentido claração de Propriedade do Cadas-
de que a Fazenda Sarandi, em mar- tro original, já poderia a Fazenda
ço de 1972, constituía empresa rural. ser classificada como empresa ru-
«Escreve a sentença: ral (fls. 1024):
«A fls. 940 (5? vol. da Ação Ordi- «Quesito 8 — Declaração original
nária) apresenta o Perito Oficial o de 1965, que gerou a classificação
seu laudo. Essa peça, que com- do imóvel como latifúndio: — a) Só
preende também resposta aos que- na DP do Cadastro original, no
sitos das partes e é complementa- quadro 18 — Distribuição da Pro-
da com documentos (fls. 941 a dução, quesito 2, foi computado o
1037), é também acompanhada de valor dos animais como produção
um anexo, que forma todo o volu- estocada? — Resposta — não foi
me 6?. A leitura do laudo evidencia computado o valor dos animais co-
o cuidado que teve seu autor na co- mo produção estocada. b) Só no
lheita de dados, podendo-se mesmo valor total da produção (item 4,
R.T.J. — 108 9 859

Quadro 18) foi considerada a pro- de conceituar a propriedade como


dução obtida por arrendatários e latifúndio, unicamente, na declara-
consignada no item 7 do mesmo ção feita pelos expropriados em
quadro? — Resposta — Não foi 1966, declaração essa que, está am-
considerado. C) Se, no quadro 19 plamente comprovado, continha
item 30, a área de pastagem coinci- senões, inclusive quanto à área.
de, ou não com a área utilizada Além disso, para aquela conceitua-
com pecuária, informada no quadro ção não haviam sido computados
14, item 5? — Resposta — Não coin- valores do gado e da produção fei-
cide. d) Corrigida a área do qua- ta por arrendatários.
dro 19, item 30, para 4.000 hectares Nem mesmo se deu o menciona-
(quadra 14, item 5) e corrigido o do Assistente Técnico, para
quadro 18, item 4, computando-se, desincumbir-se do encargo, ao tra-
além dos valores ali mencionados, balho de deslocar-se para a Fazen-
o valor do gado e o valor da produ- da (fls. 2858, in fine e 2859, 12? vol.
ção obtida por arrendatários, e da Ação Ordinária).
calculando-se as notas, fatores e
coeficientes de rendimento econô- Presentes os dados que se ofere-
mico, a partir dessa declaração as- cem no processo, até mesmo ao
sim corrigida, aplicando-se no cál- leigo na matéria não escapa a ob-
culo o salário mínimo vigente em servação de que a propriedade ob-
janeiro/66, qual o coeficiente de jeto do ato expropriatório era, à
rendimento econômico encontra- época e, ainda, mais recuadamen-
do? Quais os fatores e notas atingi- te, à data da primeira declaração,
dos, que compõem este coeficien- uma empresa rural. E, como tal,
te? — Resposta — De acordo com insuscetível de desapropriação pa-
os critérios arrolados no Quesito I ra fins de reforma agrária.»
dos autores, na Ação Ordinária, e «A análise da prova, feita pelo
segundo as informações obtidas no ilustre Juiz Federal Leitão Kriel',
Setor de Cadastro do INCRA, é correta, ao que me parece.
conclui-se pertinentes as altera-
ções. Procedido o cálculo dos fato- «Concordo com a sentença no par-
res e coeficientes solicitados, estri- ticular.
bado nos dados da Declaração de
Propriedade de 1966, foram atingi- VI
das pelo imóvel: FU = I F1 = 2
FRA = 0,795 FR = 2. Coeficiente «Entendendo ilegal o ato expiro-
de Rendimento Económico = 1,2 priatório, assim sem validade, a sen-
e) Se, apenas introduzidas tais mo- tença negou aplicação ao disposto no
dificações, seria o imóvel classifi- art. 14 e seu parágrafo único do
cado como empresa rural, pela DP Decreto-Lei n? 554, de 25-4-69, que
original em 1966? — Resposta — dispõe:
Sim, poderia.»
«Art. 14. Os bens expropriados,
No mesmo sentido e demonstran- uma vez transcritos em nome do
do exaustivamente também suas expropriante, não poderão ser ob-
conclusões é o pronunciamento do jeto de reivindicação, ainda que
Assistente Técnico dos autores. fundada na nulidade da desapro-
priação.
E o Assistente Técnico do réu?
Discrepou de seus colegas, não Parágrafo único. Qualquer ação,
apresentando, entretanto, dados julgada procedente, resolver-se-á
convincentes. Louvou-se, para fins em perdas e danos.»
860 R.T.J. — 108

Escreveu o Dr. Juiz, na senten- tal ato, porque inconstitucional;


ça: mas, agindo abusivamente e pa-
«VI — Comprovado o desvio de gando, pode?! !
poder, constatada a ilegalidade do
ato expropriatório, resta indagar, Entendo, por tais razões, que a
em face do disposto no art. 14 e pa- transcrição do imóvel em nome do
rágrafo do Decreto-lei n? 554, quais desapropriante é resolúvel, se in-
as consequências da decisão. quinado o ato expropriatório de
Resolver-se-á mediante pagamento vício irremediável. De outra forma
do dano, em dinheiro e não em estaria ferido o preceito constitu-
títulos especiais da divida pública; cional que assegura a inviolabilida-
ou restituir-se-á o imóvel a seu de do direito de propriedade (E-
legitimo proprietário? menda n° 1, artigo 153, § 22).
Ao propósito, eis a opinião do
eminente Juiz Federal Já citado, Dai porque mais me inclino pela
Carlos Mário da Silva Venoso, no opinião de Hélio Moraes de
trabalho já referido, em sua parte Siqueira, em «A Retrocessão nas
conclusiva: «1) o art. 14, e seu pa- Desapropriações», Edição Revista
rágrafo único, do Decreto-Lei n? dos Tribunais, pág. 69: «Ora, já de-
554, de 1969, não afrontam a Cons- monstramos que não há falar em
tituição. Tem-se, no caso, simples perdas e danos no caso da desapro-
repetição do que está inscrito no priação desvirtuada, pois a mesma
art. 35 do Decreto-Lei n? 3365, de não se origina de qualquer avença
1941. Quer dizer que, mesmo se o cuja inadimplência proporcionasse
Judiciário invalidar o ato de desa- a obrigação de indenizar. A desa-
propriação, ao expropriado caberá propriação, constituindo-se em ato
tão-só o ressarcimento, via de per- unilateral do Poder Público, decor-
das e danos, subsistindo, os efeitos re diretamente da Constituição que
daquele por isto que o bem objeto fixou, imperativamente,. as causas
da expropriação já estará incorpo- em que ela se justifica, e da lel or-
rado ao patrimônio estatal. Preva- dinária que enumera, taxativa-
lência, no caso, do interesse públi- mente as modalidades em que ela
co.» se desdobra. Ora, a atividade admi-
Com o preito devido ao ilustrado nistrativa no campo expropriatório
Professor, entendo que sua conclu- fora desses limites é irregular e é
são não poderia ter a extensão pre- ilegítima. A eventual indenização
tendida, pois tal importa em ferir por perdas e danos, acaso, propor-
de morte preceito constitucional. cionada pela perempção, não teria
Ainda admissivel a solução quando nenhum sentido jurídico, visto que
o imóvel já estiver utilizado de for- o preço justo já fora pago pela coi-
ma tal que se torne irrecuperável. sa no procedimento expropriatório.
Então, sim, o dano será indeniza- Ademais, um direito f,undamental,
do, além do pagamento do justo garantido constitucionalmente, não
preço. Mas não quando a recupera- poderia esvaziar-se de seu conteú-
ção do bem é possível, sem graves do jurídico e ser substituído por
danos ou inconvenientes graves pa- um suposto valor em dinheiro —
ra a coletividade. Entendemos que o sistema jurídico
constitucional brasileiro não tolera
De outra forma, em se aplicando a operação mencionada, pois os di-
literalmente aqueles preceitos, se- reitos fundamentais do cidadão
ria o mesmo que declarar-se: a au- não comportam sucedâneo equiva-
toridade pública não pode praticar lente a uma quantia em dinheiro.»
R.T.J. —108 861

A outra solução, pagamento em ção, compreenderia a apropriação,


dinheiro, é que deve ser a exceção, a apreensão, a adjudicação do bem
a ser admitida somente quando o sem qualquer indenização.
imóvel já tiver sido utilizado de Apesar de longa existência, no
forma tal, que se torne irrecuperá- tempo, do Decreto-Lei n? 3.365, que
vel, como já disse. é de 1941, a jurisprudência do Su-
Não é o caso. A própria entidade premo Tribunal não aponta a in-
expropriante (volume XI, da ação constitucionalidade do art. 35 do
direta, fls. 2.644 e segs.) se encarre- mencionado Decreto-Lei n? 3.365,
gou de provar, fotograficamente, que, como já falamos, contém dis-
que as benfeitorias invertidas no posição idêntica, ipsis litteris, a
imóvel se resumem na construção, que está inscrita no art. 14 e seu
até com material usado, de chalés parágrafo único do Decreto-Lei n?
de madeiras, facilmente retiráveis, 554, de 1969.
não ocorrendo maiores danos se Na verdade, conforme preleciona
assegurada a colheita das áreas Seabra Fagundes, é induvidoso que
cultivadas até esta data.» o citado dispositivo legal «é o um
«A propósito, bem mencionou o chocante limite posto aos direitos
Dr. Juiz, tenho ponto de vista for- individuais afetados pela desapro-
mado a respeito da matéria. priação, sobretudo porque, embora
«Entendo, data venta, que a dispo- visando restringir o alcance da
sição inscrita no art. 14 e seu pará- execução na demanda proposta pa-
grafo único, do Decreto-Lei n? ra obter a decretação de invalidez
554/68, não é inconstitucional. do ato expropriatório, equivale, na
«Sê-lo-ia, se a lei não mandasse verdade, a um bill ot indemnity
pagar as perdas e danos. em favor de atos já inapelavelmen-
te reconhecidos.»
Se não o fizesse, haveria confisco. Mas, acrescenta o eminente Mes-
Escrevi no trabalho retro mencio- tre, a quem não se pode negar o
nado: titulo de campeão dos direitos indi-
viduais:
«Explica-se, contudo, pelo inte-
«Inconstitucionalidade também resse público de evitar graves
aí não há. transtornos á Administração,
quais os que decorreriam da res-
que tem-se, no caso simples tituição aos proprietários primiti-
repetição do que está escrito no vos de imóveis desapropriados,
art. 35 do Decreto-Lei n? 3.365, de quando neles já tivessem cOns-
1941. Quer dizer que, mesmo se o truido obras públicas.» (40)»..
Judiciário invalidar o ato de desa-
propriação, ao expropriado caberá Convém lembrar que a proprie-
tão-só o ressarcimento via de per- dade, no Direito Constitucional
das e danos, subsistindo os efeitos brasileiro, está condicionada a sua
daquele, por isso que o bem objeto função social (Cf., art. 160, III, art.
da expropriação já estará incorpo- 153, § 22) .
rado ao patrimônio estatal.
VII
Confisco, data venta, não se tem,
na espécie, tendo em vista que se «No caso, o bem objeto da expro-
assegura ao Expropriado o ressar- priação já está incorporado ao patri-
cimento através das perdas e da- mônio público. Isto é inegável. E
nos. Confisco, na sua exata defini- verdade que o poder público não con-
862 R.T.J. — 108

seguiu, de fato, imitir-se na posse de ção indireta por interesse social, que
todo o imóvel. Não o conseguiu, to- não para reforma agrária, em senti-
davia, tendo em vista a resistência do estrito, mas que encontra amparo
criada pelos expropriados, que per- na Lei ri? 4.132, de 1962, art. 2?, III,
maneceram em parte do imóvel, em mesmo porque o autos dão notícia de
caráter precário, ao argumento de graves tensões sociais existentes no
não terem onde colocar o seu reba- Rio Grande do Sul, onde colonos de-
nho bovino. A respeito, o r. despacho salojados de regiões inundadas ou de
que está, por cópia, à fls. 3342/3355, reservas indígenas, ameçam, por
da lavra do eminente Ministro José não terem onde se localizar, invadir
Néri da Silveira, então Relator do as terras que constituem o imóvel
feito, contém segura e esclarecedora expropriando.
resenha. Leio-o (lê fls. 3342/3355).
«Não se pode negar que a União VIII
Federal, ou o INCRA, que já tem o
domínio do imóvel, imitiu-se, legal-
mente, na posse dele; não lhe foi «Em suma: desapropriação por in-
possível ocupar, é verdade, de fato, teresse social, para fins de reforma
parte do imóvel, porque não retirado agrária, não pode haver, no caso
o rebanho bovino de propriedade dos porque não ocorrente pressuposto
expropriados. Acontece, entretanto, fundamental, já que restou compro-
que esses semoventes ali estão em vado que o ato expropriatório
caráter precário, «por falta de ou- dirigiu-se contra uma propriedade
tros campos a comportá-lo, no Esta- rural, que constituía empresa rural
do, conforme se discute tal, ampla- (Decreto-Lei n? 554/69, art. 2?); tem-
mente, no autos». De outro lado, cer- se, todavia, no caso, uma desapro-
to é que a autarquia federal desen- priação indireta, resolvendo-se a
volve, bem ou mal, no imóvel expro- questão na forma do art. 14, pará-
priando, um plano de reforma agrá- grafo único; do Decreto-Lei n?
ria, ali já tendo investido, certamen- 554/69, ou art. 35 do Decreto-Lei n?
te, grande parcela de dinheiro públi- 3.365, de 1941, mesmo porque não
co. houve desvio de finalidade pública:
«Por tudo isso, divirjo, data venta, bem ou mal a autarquia federal de-
do entendimento da respeitável sen- senvolve, no imóvel, um plano de re-
tença. Acentuo que não houve, no ca- forma agrária, ocorrendo, na região,
so, desvio de finalidade pública, de graves tensões sociais: colonos, ou
modo a autorizar a restituição do inundadas desalojados
rurícolas, de regiões
ou expulsos de reservas
imóvel: bem ou mal, a autarquia fe- indigenas, aguardam que o rebanho
deral desenvolve, no imóvel, um pla- bovino dos expropriados seja retira-
no de reforma agrária, ali estando
localizados colonos, ou parceleiros. do do imóvel, a fim de nele se insta-
larem e trabalharem a terra (Lei n?
«A solução, portanto, há de ser a 4.132/62, art. 2?, III). Corre à União
inscrita no parágrafo único do art. 14 Federal, ou ao INCRA, porque não
do Decreto-Lei n? 554/69, ou art. 35 ocorrente o pressuposto da desapro-
do Decreto-Lei n? 3.365/41, como se priação por reforma agrária (CF,
estivéssemos diante de uma art. 161, § 2?, Decreto-Lei n? 554/69,
desapropriação indireta, na medida art. 2?), e porque estamos diante de
em que esta representa apropriação uma desapropriação indireta, indeni-
de bem imóvel, pelo poder público, zar, em dinheiro, com observância
sem atendimento dos procedimentos do disposto no Decreto-Lei n?
legais prescritos em lei desapropria- 3.365/41 (CF, art. 153, § 22).
R.T.J. — 108 863

IX ou não recorrida, «o acórdão recorri-


do, ao anular o processo de desapro-
«Não devo fixar, de pronto, a inde- priação, desrespeitou dita sentença,
nização. Se o fizesse, estaria supri- com o que contrariou o art. 153, g 3?
mindo uma instância, quando o siste- da Constituição Federal» (fls. 3815).
ma judicial brasileiro é erigido na Quanto ao segundo item, alega
base de dois graus de jurisdição. competir «exclusivamente ao INCRA
«Assim, meu voto, com a vênia de- a realização do cadastro para classi-
vida ao eminente Ministro-Relator, é ficação dos imóveis rurais, podendo
no sentido de prover, parcialmente, os proprietários requerer a atualiza-
os recursos da União e do INCRA, ção de suas fichas cadastrais de
pelo que determino o retorno dos au- classificação do imóvel, dentro de
tos ao Juízo a (ruo, para fixação de um ano da data das modificações
indenização a ser paga aos expro- substanciais, desde que comprova-
priados. das as alterações, a critério do IN-
«Tenho como prejudicado o apelo CRA», e, «enquanto não atualizado o
dos autores». cadastro permanece para todos os
efeitos a classificação do imóvel...»
Recursos Extraordinários da União (fls. 3815).
e do INCRA. Quanto ao terceiro item, os precei-
Desse acórdão, a União interpõe tos legais mencionados limitam a
recurso extraordinário, pela letra a contestação ao ataque do valor depo-
do permissivo constitucional, alegan- sitado e de vicio processual e vedam
do que, em assim decidindo: o exame da ocorrência dos pressu-
postos da desapropriação, bem as-
«a) contrariou o artigo 153, g 3? da sim a propositura de demanda rei-
Constituição Federal e negou vigên- vindicatória, tendo o acórdão recor-
cia ao art. 7? do Decreto-Lei n? 554, rido negado vigência a esses precei-
de 25 de abril de 1969; tos porque «deu pela procedência da
contrariou o artigo 161 da Cons- reivindicação proposta pelos Recor-
tituição Federal e negou vigência ao ridos e porque, para isso, embora
artigo 46 da Lel n? 4.504, de 30-11-64, por portas transversas, examinou a
e ao art. 1? do Decreto-Lei n? 554, de ocorrência dos pressupostos na pró-
25 de abril de 1969, e pria demanda de desapropriação»,
mesmo porque, «a prejudicialidade
negou vigência aos artigos 9?, da reivindicatória sobre a desapro-
12 e 14 do Decreto-Lei n? 554, de 25 priatória equivaleu, na realidade, ao
de abril de 1969, tudo como se passa exame, na própria desapropriatória,
a demonstrar» (fls. 3813/3814). da ocorrência do interesse social pa-
Quanto ao primeiro item, argu- ra desapropriação para fins de refor-
menta a União no sentido de que «o ma agrária» (fls. 3820).
ato judicial de declaração de efetiva- Já o recurso extraordinário do IN-
ção de pagamento e de determina- CRA, pelas letras a e d, alega ofensa
ção de sua transcrição no registro de ao art. 161 e §¢ da Constituição Fede-
imóveis, é uma sentença constitutiva ral, e negativa de vigência dos arts.
pela qual se extingue o direito de 46 e 49 da Lei n? 4.504, de 1964, c/c os
propriedade do expropriado e que dá arts. 1? e 12 do Decreto-Lei n? 554/69.
nascimento ao direito de proprieda- Ou seja, que a caracterização da
de do expropriante com sua transcri- propriedade rural seria a qualifica-
ção no registro de imóveis», e transi- ção constante do cadastro rural, com
tada em julgado, porque irrecorrivel os dados fornecidos pelos próprios
864 R.T.J. — 106

desapropriados, os quais definiram do eminente Ministro Armando Rol-


seu imóvel como latifúndio, não ha- lemberg, em contrário ao entendi-
vendo como retirar-se do cadastro mento da maioria, de que não houve
seu caráter informativo e de presun- no caso desvio de finalidade pública
ção legal para embasar a desapro- em ordem a autorizar a restituição
priação. Em resumo: da propriedade, configurando-se, an-
«a) toda a matéria desenvolvida tes, uma desapropriação indireta.
no presente recurso e prequestio- O douto voto vencido que ensejou o
nada nas instâncias já percorridas recurso infringente contém a seguin-
pertine à negativa de vigência dos te fundamentação conclusiva:
atos legislativos federais, dispositi- «Ora, não sendo a desapropria-
vos constitucionais precisos, como ção, na realidade, senão a aquisi-
também como corolário, compro- ção coercitiva da propriedade pelo
mete toda uma ação de governo Poder Público, se admitirmos que,
calcada em nítido interesse social. nulo embora o ato administrativo
vulnera o direito de desapro- da desapropriação, o bem dela ob-
priar consagrado na Constituição e jeto não será devolvido, cabendo
legislação ordinária complemen- ao seu proprietário, tão-somente, a
tar, à União Federal, os quais in- obtenção de reparação das perdas
trinsecamente condicionados pelos e danos conseqüentes do ato, esta-
próprios textos à disposição do Po- remos, embora por forma diversa,
der Público. assegurando a aquisição compulsó-
põe por terra toda a sistemá- ria da propriedade pelo Poder Pú-
tica de desapropriações rurais, blico, e, portanto, contrariando a
neste particular, instaurando a dú- Constituição que, no par. 22 do art.
vida quanto à prestabilidade dos 153, assegura o direito de proprie-
textos jurídicos. dade.
d) leva o Poder Público a pagar Realmente, repito, se dito direito
o que jamais decidira pagar por somente sofre exceção nos casos
uma desapropriação, se devesse de desapropriação por necessidade
supor que o Cadastro não fosse, in- ou utilidade pública, ou por inte-
formativo e não tivesse a presun- resse social, verificado que ato ad-
ção legal, de lhe servir de base.» ministrativo praticado a propósito
Conquanto arrimado, também o contrariou as regras definidoras da
recurso de letra d, não foi indicado desapropriação por interesse so-
qualquer aresto divergente. cial, forçoso é concluir que, se for
mantido em poder da expropriante
o imóvel objeto de tal ato, se esta-
Embargos Infringentes rá contrariando na verdade a
Constituição, pois importa tal si-
Louvaram-se os Expropriados, pa- tuação afinal na efetivação da de-
ra a interposição de embargos in- sapropriação fora das condições
fringentes, em que se instalara di- previstas pelo constituinte.
vergência no tocante ao exame da Tenho, assim, como inconstitu-
parte da sentença, de primeiro grau cional o art. 14 do Decreto-Lei n?
que, ante a comprovação do desvio 554/69, e, considerando que a deci-
de poder e da ilegalidade do ato ex- são da causa sob apreciação de-
propriatório, determinara o cancela- pende primordialmente da aplica-
mento da transcrição do imóvel e a ção da regra referida, proponho se-
sua devolução aos Expropriados, o ja tal questão submetida à aprecia-
que foi endossado pelo voto vencido ção do Egrégio Tribunal Pleno».

R.T.J. — 108 865

Rejeitada a proposta de submeter- Parágrafo único. Qualquer


se ao Pleno a dita argüição de in- ação, julgada procedente,
constitucionalidade, o respeitável vo- resolver-se-á em perdas e da-
to vencido concluiu por confirmar nos».
por inteiro a sentença, negando pro- O preceito constitui, mutatis
vimento a todos os recursos, pois, mutandis, repetição do artigo 35 do
«se nula é a desapropriação, impõe- Decreto-Lei n? 3.365, de 1941 — Lei
se a devolução dos bens dela objeto de Desapropriação por Utilidade
aos desapropriados» (fls. 3728). Pública —, cuja constitucionalida-
Tais embargos infringentes foram de não há notícia tenha sido posta
rejeitados por maioria de votos, to- em dúvida. Com justeza pondera o
mando o acórdão respectivo a se- eminente Revisor, que inconstitu-
guinte ementa: cionalidade não há: «Sê-lo-ia, se a
lei não mandasse pagar as perdas
«Desapropriação. Interesse So- e danos. Se não o fizesse, haveria
cial. Bem já incorporado ao Patri confisco». Na realidade, ambos os
-mónioPúblc.Retrsã dispositivos, inseridos no contexto
de diplomas legais que disciplinam
— A circunstância de ter havido espécies diversas de expropriação
irregular desapropriação por inte- por interesse social e por utili-
resse social, por falta de pressu- dade pública — objetivam, levando
posto fundamental, não implica, em conta relevantes interesses pú-
como conseqüência, a devolução do blicos e sociais em jogo, «validar»,
bem objeto da expropriação, quan- para usar o escólio de Franco
do se verifica que o mesmo já se Sobrinho — «uma situação irre-
encontra incorporado ao patrimô- versível» (M O Franco Sobrinho,
nio do Estado que lhe está dando «Desapropriação» Ed. Saraiva,
destinação social, nele desenvol- 1973, pág. 282). É que a destinação
vendo um plano de reforma agrá- do bem, informado pela necessida-
ria. A solução, na emergência, há de ou utilidade pública, ou pelo in-
de ser aquela dada em caso de de- teresse social, se torna intangível,
sapropriação indireta, resolvendo- uma vez se verifique sua incorpo-
se a questão em perdas e danos, ração ao patrimônio público. Na
com indenização em dinheiro. Apli- conjuntura, «A definitiva incor po-
cação do art. 14 § único do ração do bem ao patrimônio esta-
Decreto-Lei n? 554/69, ou art. 35 do tal — enfatizo o citado Franco So-
Decreto-Lei n? 3.365/1941 — Em- brinho, repetindo pacifico entendi-
bargos rejeitados.), mento doutrinário — remete a con-
trovérsia para o plano da indeniza-
O voto do eminente Relator, Minis- ção posterior, que se resolverá por
tro Miguel Jeronymo Ferrante, ado- perdas e danos» (obr. cit. pág.
ta a Seguinte fundainentaçãO: 282). "`
- «O referido DeCreto-Lei n? 554, Qra, no caso, a Fazenda Sarandi,
de 1969, dispõe no seu art. 14 , e, pa- objeto da malsinada desapropria-
/*grafo único, verbis: ção, já está incorporada ao patri-
«Art. 14. Os bens expropria- mônio público. Di-lo o voto condu-
dos, uma vez transcritos em no- tor:
me do expropriante, não poderão «Não se pode negar que a União
ser objeto de reivindicação ainda Federal, ou. INCRA, que já tem
que fundada na nulidade da desa- domínio do imóvel, imitiu-se, legal-
propriação. mente, na posse dele; não lhe foi
866 — 108

possível ocupar, é verdade, de fa- Lei n? 554/69, artigo 2?); tem-se,


to, parte do imóvel, porque não re- todavia, no caso, uma desapro-
tirado o rebanho bovino de proprie- priação indireta, resolvendo-se a
dade dos expropriados. Acontece, questão na forma do art. 14, pa-
entretanto, que esses semoventes rágrafo único, do Decreto-Lei n?
ali estão em caráter precário, «por 554/69, ou art. 35 do Decreto-Lei
falta de outros campos a n? 3.365, de 1941, mesmo porque
comportá-lo, no Estado, conforme não houve desvio de finalidade
se discute tal, amplamente, nos au- pública: bem ou mal a autarquia
tos». De outro lado, certo é que a federal desenvolve, no imóvel,
autarquia federal desenvolve, bem um plano de reforma agrária,
ou mal, no imóvel expropriando, ocorrendo, na região, graves ten-
um plano de reforma agrária, ali sões sociais: colonos, ou rurIco-
já tendo investido, certamente, las, desalojados de regiões inun-
grande parcela de dinheiro públi- dadas ou expulsos de reservas
co». indígenas, aguardam que o reba-
Assim, embora tenha irregular nho bovino dos expropriados seja
desapropriação por interesse so- retirado do imóvel, a fim de nele
cial, por falta de pressuposto fun- se instalarem e trabalharem a
damental, em verdade não se pode terra (Lel n? 4.132/62, art. 2?,
fugirá evidência de que o bem, já III). Corre à União Federal ou
transcrito em nome do INCRA, in- ao INCRA, porque não ocorrente
tegra o patrimônio do Estado que, o pressuposto da desapropriação
bem ou mal, como ressalta o voto por reforma agrária (CF, art.
líder, lhe está dando uma destina- 161, § 2?, Decreto-Lei n? 554/69,
ção social, ali desenvolvendo um art. 2?). E porque estamos diante
plano de reforma agrária. de uma desapropriação indireta,
indenizar, em dinheiro, com ob-
Portanto, diante dessa situação servância do disposto no Decreto-
de fato, impõe-se, creio, reconhe- Lei n? 3.365/41 (CF, art. 153, §
cer com a maioria que a solução 22).»
na emergência, pela razoável in- Na esteira desse entendimento,
terpretação da legislação aplicá- rejeito os embargos.»
vel, outra não há de ser senão
aquela dada em caso de desapro- Embargos de declaração opostos
priação indireta, resolvendo-se a ao acórdão foram rejeitados, por
questão em perdas e danos, com maioria, enquanto a minoria deles
indenização em dinheiro, na forma não conhecia (fls. 3996).
do disposto no Decreto-Lei n? 3.365, Recurso Extraordinário dos
de 1941. A conclusão do voto vence-
dor resume essa solução, com ob- Expropriados
jetividade, dispensando quaisquer
acréscimos: Inconformados, recorrem extraor-
dinariamente Ernesto José Annoni e
«Em suma: desapropriação por outros, pela letra a, sustentando, em
interesse social, para fins de re- síntese, nas suas exatas palavras,
forma agrária, não pode haver, que o acórdão proferido nos embar-
no caso, porque não ocorrente gos infringentes (fls. 4010/4040):
pressuposto fundamental, já que
restou comprovado que o ato ex- «1? — ofendeu a Constituição Fe-
propriatório dirigiu-se contra deral, cujo art. 153, § 22, combina-
uma propriedade rural, que cons- do com o art. 161, não admite a de-
tituía empresa rural (Decreto- sapropriação de Empresa rural —

R.T.J. — 106 7367

antônimo de Latifúndio (art. 161, § Quando se afirma do art. 14 vale,


3?) — nos termos em que ajuizada, por igual, para o art. 7?: afastada a
pelo Instituto Nacional de Coloniza- incidência do Decreto-Lei n? 554,
ção e Reforma Agrária — INCRA; pelo seu art. 2?, a transcrição e a
— negou vigência ao art. 2? do posse, apoiadas no art. 7?, por
Decreto-Lei n? 554, de 24 de abril completo se vaziam de legalidade.
de 1969, que declara: «não serão Tanto — perdoe-se-nos a insistên-
objeto de desapropriação, na for- cia — tanto que, judicialmente, re-
ma prevista neste Decreto-Lei, os conhecida a Fazenda Sarandi, co-
imóveis que satisfizerem os requi- rno empresa rural, tudo cal, de
sitos para classificação como em- quanto, em relação a ela feito, com
presa rural (...)». base no Decreto-Lei n? 554, no
— negou vigência, por igual, pressuposto de que fosse latifúndio:
ao art. 19, § 3?, letra b, da Lei n? cai o Decreto declaratório de seu
4.504, de 30 de novembro de 1964: interesse social, para fins de desa-
propriação; cai a expropriatória;
«Salvo por motivo de necessida- cai a transcrição e cai a posse, ao
de ou utilidade pública, estão isen- expropriante concedida.»
tos de desapropriação (...) os imó-
veis que satisfizerem os requisitos Os recursos extraordinários da
pertinentes à empresa rural.» União e do INCRA foram indeferi-
Ademais, ao qualificar como de dos, enquanto deferido o recurso ex-
retrocessão ou reivindicatória a traordinário interposto pelos Expro-
ação direta, proposta pelos ora Re- priados, em despacho do eminente
correntes, com vistas a declarar-se Ministro Jarbas Nobre. Entretanto,
a nulidade do ato expropriatório, também os primeiros vieram a ser
com as conseqüências daí flu- processados, o da União em razão de
entes, e ao pressupor como já acolhida, por esta Corte, a argüição
incorporado o bem desaproprian- de relevância da questão federal, o
do, ao patrimônio público, em con- do INCRA, em provimento do agra-
trário à prova dos autos, prova es- vo de instrumento.
sa jamais por ninguém, nem pela 2 o relatório.
parte contrária, desmentida, dei-
xou de atender aos «fatos e cir- VOTO
cunstâncias constantes dos autos»,
negando vigência, destarte, ao art. O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
131 do Código de Processo Civil.» lator): Em síntese, os acórdãos re-
corridos, reformando, em parte, a
Argumentam os Recorrentes: sentença de primeiro grau, e admi
-tindojulgar,c metção
«Aplicar, aqui o art. 14, é, desen- de desapropriação e a ação direta,
ganadamente, negar vigência ao como o fizera a sentença, que julga-
art. 2? do Decreto-Lei n? 554, que ra extinta a primeira e inteiramente
mantém plena consonância com a procedente a segunda, deu pela pro-
Constituição, quando só admite o cedência, em parte, da ação direta
expropriamento de latifúndio, para de anulamento do ato expropriatório,
fins de reforma agrária, indeniza- determinando que se resolvesse a in-
do por melo de títulos vencíveis em denização do bem, tido como efetiva-
20 anos, e, conseqüentemente, quer mente desapropriado, em perdas e
a empresa rural inatingível, salvo danos, com o pagamento em dinhei-
se nos termos do art. 153, § 22, da ro, configurada a hipótese como de-
mesma Cana Magna. sapropriação indireta.
868

Em resumo, os fundamentos ado- das: a) contrariedade ao art. 153, §


tados pelo Egrégio Tribunal Federal 3? da Constituição e negativa de vi-
de Recursos estão em que: a) o ca- gência do art. 7? do Decreto-Lei n?
dastramento do imóvel rural, no re- 554; b) contrariedade ao art. 161 da
gistro do INCRA como latifúndio por Constituição e negativa de vigência
exploração, não serve de respaldo ao art. 46 da Lei n? 4.5(4/64 e ao art.
para a manutenção de sua classifica- 1? do Decreto-Lei n? 554/69; c) nega-
ção para efeito de facultar a expro- tiva de vigência aos arts. 9?, 12 e 14
priação por interesse social para fins do Decreto-lei n? 554.
de reforma agrária, pois não se tra- O recurso extraordinário, interpos-
tava de informação definitiva, eis to pelo INCRA, embora com ênfase e
que sujeita a revisão o que todavia colocações diferentes na argumenta-
não se fez tempestivamente, pelo ção, orienta em igual sentido as suas
contrário, coincidindo a data do se- argüições, trazendo a debate, por ne-
rôdio decreto que ordenou o recadas- gativa de vigência, o art. 161 e §§ da
tramento com a data mesma da de- Constituição, por haver sido tolhido o
sapropriação; b) trata-se, na verda- poder expropriatório da União; bem
de, tendo em vista a prova pericial assim dos arts. 46 a 49 da Lei n?
realizada em juízo, de imóvel rural 4.504/64 e arts. 1? a 12 do Decreto-
que ao tempo do ato expropriatório Lei.
satisfazia os requisitos pertinentes à
empresa rural, e portanto insus- Colhe, portanto, apreciar, conjun-
cetível do tipo do expropriamento tamente, a fundamentação de ambos
adotado; c) entretanto, o imóvel já os recursos, seguindo a ordem das
está incorporado ao patrimônio pú- matérias estabelecidas, primeira-
blico, investida, legalmente, a União mente, no recurso interposto pela
ou o INCRA; no domínio e na posse União.
do imóvel, onde, bem ou mal, se de- 3. Quanto à primeira ordem, pre-
senvolve um projeto de reforma tende a União, sem constar igual im-
agrária, sem haver desvio de finali- pugnação no recurso do INCRA, que
dade pública, sendo, portanto, insus- o ato judicial de declaração de efeti-
cetível de reivindicação, pois aplicá- vação do pagamento oferecido e de
vel o art. 14 do Decreto-Lei n? 554, determinação da transcrição no re-
símile do art. 35 do Decreto-Lei n? gistro de imóveis, nos termos do art.
3.365; d) em suma, impossível de 7? do Decreto-Lei n? 554, é represen-
verificar-se a desapropriação por in- tativo de uma sentença constitutiva,
teresse social, para fins de reforma que assim restou desrespeitada pelo
agrária, com pagamento em títulos acórdão recorrido, ao anular a ação
da divida pública, domo intentado, direta de desapropriação para fins
por se tratar de empresa rural, a si- de reforma agrária, contrariando o
tuação de apropriação definitiva do disposto no art. 153, § 3? da Constitui-
imóvel se resolve em uma desapro- ção.
priação indireta, por não ter ocorri-
do desvio de finalidade pública, ca- A argüição foi prequestionada pelo
bendo a indenização em dinheiro. A acórdão recorrido, e repelida com
luz dessas colocações e conclusões, boa razão. Com efeito, cuido correto
vale examinar as impugnações cons- o entendimento de não considerar
tantes dos três recursos extraordiná- coisa julgada a medida antecipató-
rios. ria, concedida pelo Juiz, de transfe-
rência do domínio e imissão de posse
2. O recurso extraordinário inter- do imóvel expropriado, pois lhe fal-
posto pela União apresenta três or- tam os requisitos de uma sentença
dens de argüições, a serem examina- definitiva, dada entre as partes.

R.T.J. — 108 869

Ainda não constituída a relação do uma área de exclusiva aprecia-


processual, por meio da citação, que ção administrativa, no tocante à ve-
somente se realiza após cumpridas rificação dos requisitos para carac-
aquelas medidas, não poderia advir terizar o imóvel rural, ai constante a
da determinação judicial a formação classificação da propriedade em
de coisa julgada, de modo a inibir o causa como latifúndio por explora-
exame do ato expropriatórlo por ção, e não como empresa rural. Es-
melo da ação direta, o que é, aliás, sa classificação é que se tem, aliás,
assegurado pelo próprio Decreto-Lei como autorizativa do ato de expro-
n? 554, ao estabelecer o alcance da priação baixado pelo Presidente da
nulidade do ato. República.
O que o art. 7? da Lei assegura é E certo que compete ao INCRA,
que, pela declaração judicial do pa- nos termos de lei e regulamentação
gamento do preço, que nem sequer é específicos, fazer o cadastramento
tido por definitivo pois sujeito à revi- dos imóveis rurais, colhendo dados
são na própria ação expropriatória, informativos, hauridos notadamente
se opere, por determinação do Juiz, da declaração dos mesmos proprie-
a transcrição da propriedade do imó- tários, para dele utilizar-se como
vel, no registro de imóveis, em nome instrumento básico para a formula-
do expropriante, e a imissão na pos- ção da política agrária, e para a rea-
se. Bem se disse na instância a quo lização da reforma agrária, e não
que o ato do Juiz apenas comple- menos para o lançamento do impos-
menta o ato de desapropriação, não to territorial rural, e, no que interes-
proferindo um julgamento entre par- sa, à caracterização do imóvel.
tes que resultasse em coisa julgada. E inegável que, como ato jurídico-
Se o que visa, precipuamente, a administrativo, o cadastramento dos
União, por essa alegação, é a incolu- imóveis e o múltiplo tratamento
midade do ato de transferência do classificatório e tributário que dele
imóvel, o seu argumento está deslo- decorre gozam da presunção de legi-
cdclo e desprovido de interesse, pois timidade, sendo correto, em
a decisão recorrida considerou que a princípio, nem poderia deixar de ser,
ação direta não tinha o condão de que o INCRA nele se apoie para a
desconstitui-la, resolvendo-se em realização das várias medidas que
perdas e danos, e, assim, a firmeza lhe incumbe, inclusive a promoção
do ato que a Recorrente defende foi de desapropriação de interesse so-
reãguardada pelo acórdão, embora cial para fins de reforma agrária. O
com razão jurídica diferente da pre- ato do Presidente da República, ou-
tendida. trossim, não tem senão como apoiar-
4. Quanto à segunda ordem, que- se nos dados cadastrais, para o de-
rem as primeiras Recorrentes que, creto de desapropriação.
competindo exclusivamente ao IN- Nem por isso esse ato registrário
CRA a realização do cadastro para a da Administração está imune à apre-
classificação dos imóveis rurais, o ciação judicial, em controle sobre a
acórdão recorrido infringiu o legalidade dos atos administrativos
principio da separação de poderes referidos a direitos individuais, tanto
(art. 6? da Constituição) e negou vi- mais que não se trata, de modo al-
gência aos dispositivos legais que re- gum, de atos discricionários, senão
servam à autarquia a atribuição de de formulações e classificações que
realizá-lo, notadamente os arts. 46 a. devem cumprir numerosos e comple-
49 do Estatuto da Terra e arts. 1? e xos requisitos postos na lei, sendo,
2? do Decreto-lei 554, por ter invadi- portanto, o ato classificatório, um
870 R.T.J. — 108

ato vinculado que pode ter os seus para a promoção dos atos pertinen-
pressupostos examinados em Juizo. tes á reforma agrária, como é a de-
Sob esse prisma, não só a classifica- sapropriação por interesse social,
ção da empresa como o lançamento quando estão eles vencidos pelo tem-
do tributo, que ai repousam, estão po previsto na lei mesma.
sujeitos à averiguação judicial. Ilustre especialista em Direito
Salienta-se, com razão, que esse Agrário, Fernando Pereira Sodero,
cadastramento é feito à base de de- ao acentuar o objetivo da revisão ca-
claração dos proprietários, a que es- dastral, visando a «completar as fi-
tão obrigados, sendo por ela inteira- chas com novos elementos decorren-
mente responsabilizados, em lei, tes de alteração, sujeita à comprova-
estabelecendo-se sanções para o ca- ção pelo INCRA, em pedido feito pe-
so em que ai ocorra dolo ou má-fé lo detentor ou proprietário, dos re-
dos particulares (art. 46, 7? e art. gistros das unidades já cadastra-
49, ff 2? e 3? do Estatuto da Terra). das», destaca a função a ser desem-
Mas a declaração, por si só, não penhada por esse registro adminis-
exaure o complexo procedimento trativo, e conseqüentemente, a ne-
classificatório, ou até mesmo o tri- cessidade de sua atualização, como
butário, nem por ela o INCRA se exi- se vê desse tópico:
me de responsabilidade, face ao inte- «A experiência da revisão qüin-
resse público que está implícito na qüenal, pelo menos, a partir de
correta condução da política agrá- 1966, demonstrou a necessidade
ria. desta atualização de dados. O pri-
Aliás, esse aspecto da vinculativi- meiro cadastro levado a efeito,
dade do proprietário à sua declara- exatamente por ser o pioneiro no
ção não é posto em causa pelo acór- setor, apresentou falhas e imper-
dão, pois a sua recusa em reconhe- feições passíveis de eliminação nos
cer eficácia aos dados Informativos posteriores. Objetivam, pois, os re-
do cadastro vem da sua caducidade cadastramentos, corrigir as distor-
à data da utilização, por ter sido des- ções verificadas nos lançamentos
cumprida pelo INCRA norma impe- do ITR, baseados em dados que
rativa, constante do 4? do art. 46, não correspondiam exatamente à
do mesmo Estatuto, no sentido de realidade econômico-agrária do
que «no mínimo, de cinco em cinco prédio rústico dentro dos parâme-
anos serão feitas revisões gerais pa- tros da estrutura fundiária da re-
ra atualização das fichas já levanta- gião em que se situa.» («O Estatu-
das». Tanto se encontrava desatuali- to da Terra», pags. 78/79).
zado o cadastro, pois já passados Diante desses aspectos, não se po-
seis anos da primeira coleta de in- de admitir que a falta de aceitação
formações, que, na mesma data em pelo acórdão dos dados cadastrais do
que se promovia a desapropriação, INCRA, por desatualizados e não re-
era determinada, em norma genéri- vistos tempestivamente, tenha impli-
ca, a revisã • do cadastramento em cado negativa de vigência dos dispo-
todo o Pais. sitivos do Estatuto da Terra, pois, ao
contrário, com base neles é que o
Se a dicção da lei é no sentido de Julgado fundou a sua apreciação.
que «os cadastros serão continua-
mente atualizados» e sujeitos à revi- Nem se diga, por outro lado, que o
são periódica, razoável é o entendi- controle judicial que assim se fez, do
mento do acórdão recorrido em de- ato administrativo, tenha algo a ver
sacreditar dos dados cadastrais, pa- com a infringência do principio da
ra servir de embasamento e critério separação des poderes (art. 6? da

R.T.J. — 108 871

CF), pois a incumbência é essencial extraordinária que os não atacou es-


ao Poder Judiciário, não invasiva do pecificamente, como meio legal de
poder discricionário a que se não po- prova.
de reduzir a espécie, envolvendo a Tenho, portanto, que a colocação
forma e a vigência do procedimento, não pode sofrer novo tratamento
sob o prisma da estrita legalidade. nesta instância, pois importaria nu-
5. Vinculada a essa questão está ma reavaliação de elementos fac-
necessariamente aquela que diz com tuais que se tiveram como subsumi-
o fundamento nuclear do acórdão re- dos na caracterização do imóvel co-
corrido, e de toda a controvérsia, em mo empresa rural. A instância ordi-
ter o imóvel rural em causa como nária é soberana na apreciação des-
classificável na categoria de empre- sas provas, na acolhida ou rejeição
sa rural, e não de latifúndio, de mo- do laudo técnico, instalando-se as
do a pôr em jogo a possibilidade de impugnações que se fazem a esse do-
desapropriação por interesse social cumento no plano exclusivo da con-
para fins de reforma agrária, com o trovérsia probatória.
pagamento do preço em títulos da Este é portanto um dado que se há
divida pública, assim como faculta- de ter por incontroverso.
da no art. 161 e §§ da Constituição, Afirmar, nesta instância, que o
quando se trate de latifúndio. imóvel expropriado não consubstan-
Essa premissa sobre a qual se cia empresa rural, somente se pode-
constrói todo o sllogismo dos acór- ria dar pelo reconhecimento de imu-
dãos recorridos, parece irrevisivel nidade da atuação cadastral do IN-
nesta instância. Sem dúvida, a confi- CRA ao controle judicial e, de conse-
guração da empresa rural é repre- guinte, pela impossibilidade de pro-
sentada em um conceito jurídico- va judicial sobre os requisitos carac-
legal, cujos requisitos estão minu- terizadores do imóvel, ambos os as-
ciosamente e complexamente catalo- pectos insustentáveis.
gados na lei. Entretanto, a verifica- 6. Na terceira ordem de argüi-
ção do preenchimento dos numero- ções, invoca a União a negativa de
sos requisitos aí postos repousa cer- vigência, pelo acórdão recorrido, dos
tamente no plano da constatação dos arts. 9?, 12 e 14 do Decreto-Lei n?
fatos de ordem econômica, social e 554.
técnica.
Há-se de partir, ao apreciar tais
Para tê-la assim, empós a refuta- argüições, da circunstância de que o
ção dos dados cadastrais, a instância conteúdo do julgado sob exame tem
ordinária se louvou em verificação como quadro a ação direta que foi
procedida em perícia judicial, data- julgada procedente em parte, tendo
da de 7-10-1976, enquanto a desapro- como conseqüência ter sido prejudi-
priação data de 22-3-1972. cado o julgamento da ação expro-
Certo é que essa perícia não se fez priatória, pois considerado válido
como prova antecipada, mas, reali- para ambas em um só e mesmo
zada certo período depois do momen- decisório proferido na ação autôno-
ma.
to do ato expropriatório, fez retro-
gradar as suas constatações á afir- Diz o art. 9? da lei especifica que a
mação de situações que teriam exis- contestação só poderá versar o valor
tido àquele tempo. Ainda que tais as- depositado pelo expropriante ou so-
pectos fossem objeto de critica, em bre vicio do processo, enquanto o
una e outro passo do processo, não art. 12 manda aplicar às desapro-
foram todavia objeto da impugnação priações por interesse social a nor-
872 R.T.J. — 108

ma da lei geral expropriatória que Desse acórdão é que os Expropria-


veda, no processo, se decida sobre a dos e autores da ação direta inter-
verificação das hipóteses legais au- põem recurso extraordinário, pela
torizativas da expropriação. letra a, alegando que, ao aplicar à
Como se vê dos precedentes da espécie o art. 14 do Decreto-Lei n?
causa, os expropriados foram impe- 554, teria vulnerado os dispositivos
didos de discutir na ação expropria- que destaca, isto é: a) teria ofendido
tória, por consideradas nela in- a Constituição Federal, cujo art. 153,
cabíveis as questões que vieram a § 22, combinado como art. 161, não
suscitar na via própria, mediante a admite a desapropriação de empresa
intentação de ação direta. rural, antônimo de latifúndio, nos
termos em que ajuizada; b) negou
De logo se vê, portanto, que a in- vigência ao art. 2? do Decreto-Lei n?
vocação de contrariedade aos dois 554 e ao art. 19, § 3?, letra b, da Lei
preceitos mencionados não encontra n? 4.504, que declaram que não se-
eco no quadro processual amplo que rão objeto de desapropriação, na for-
se desenvolve, pois tais restrições ma eleita, os imóveis que satisfize-
somente se referem ao processo ex- rem os requisitos pertinentes à em-
propriatório, sumário e de lindes es- presa rural.
treitas, em busca tão-somente da fi-
xação do preço do bem expropriado. Excepcionando a garantia do art.
Também equivocada se apresenta 153, § 22, o art. 161 da Constituição
a alegação de ofensa ao art. 14 do faculta, à União, promover a desa-
mesmo Decreto-Lei , sob o prisma propriação da propriedade territo-
em que o enfoca o recurso da União. rial rural, mediante pagamento de
Ao aplicá-lo, o acórdão recorrido te- justa indenização, fixada segundo os
ve exatamente como suposto a ação critérios que a lei estabelecer, em
anulatória e reivindicatória intenta- tútulos especiais da divida pública,
da, tida sob os efeitos do mesmo pre- com cláusula especial de correção
ceito como demanda por desapro- monetária, resgatáveis no prazo de
priação indireta, e não a ação expro- vinte anos, em parcelas anuais su-
priatória, em cujo quadro não cabe- cessivas. Essa forma de desapro-
ria, caso tivesse julgamento separa- priação, diferenciada das demais, no
do, e não simultâneo com aquela. tocante ao pagamento do preço que,
embora deva ser justo, não é neces-
Inocorrentes as pretendidas viola- sariamente prévio, nem em dinhei-
ções dos textos normativos referidos, ro, será feita quando se tratar de la-
antes tratados com razoabllidade, tifúndio, como dispõe, desenganada-
mostra-se insuscetível de conheci- mente, o § 3? do mesmo artigo.
mento o recurso extraordinário, quer
o interposto pela União, quer pelo Dessa norma é que decorre a pre-
INCRA. ceituação ordinária, invocada pelos
Expropriados, no sentido de isentar
7. Com base no dissenso do acór- do tipo de desapropriação, com tal
dão proferido no juízo de apelação, forma de pagamento, as empresas
no ponto em que o voto vencido, em rurais, justamente porque elas são o
conformidade com a sentença de pri- conceito alternativo do latifúndio, a
meiro grau, assegurava o cancela- que tal procedimento indenizatório
mento da transcrição do imóvel ex- se endereça, «como uma forma de
propriado, em nome do INCRA e a sanção por uma exploração não ade-
devolução dele aos expropriados, fo- quada ao interesse social», no dizer
ram opostos embargos infringentes, de Gonçalves Ferreira Filho
e rejeitados. (Comentários/671).

R.T.J. — 108 873

Ora, ao julgar procedente a ação referente á isenção da empresa ru-


anulatória da desapropriação, justa- ral, resultaria da aplicação daque-
mente no suposto de tratar-se de em- loutro.
presa rural, portanto não latifúndio, O real intento da argumentação é
o acórdão recorrido considerou-a de riscar do texto da lel, sob color
isenta desse procedimento expro- de contradição com o art. 2?, o refe-
priatório com o pagamento de títulos rido art. 14, intento que, a priori, se
da dívida pública, característico da choca com o princípio de que não se
espécie, dando, portanto, atenção e presumem antinomias ou incompati-
conseqüência a tais preceitos consti- bilidades nos textos jurídicos, pois
tucionais. cabe ao intérprete o esforço da con-
Não se pode ir além, ao conferir o ciliação.
sentido e o alcance dessa isenção da O art. 14 do Decreto-Lei n? 554 está
empresa rural, não sendo de tê-la co- em correspondência com o art. 35 do
mo uma imunidade absoluta, em Decreto-Lei n? 3.365. Mas, enquanto
contrariedade ao princípio de que to- neste se diz que os bens expropria-
dos os bens são, em princípio, expro- dos, uma vez incorporados à Fazen-
priáveis, em obséquio á supremacia da Pública, não podem ser objeto de
do Interesse público e ao domínio reivindicação, ainda que fundada em
eminente do Estado. O sentido da ex- nulidade do processo de desapropria-
ceção não é portanto o de conceder- ção, e que qualquer ação, julgada
lhes uma imunidade ontológica, que procedente, resolver-se-á em perdas
nem os bens públicos possuem, pois danos, o art. 14, pondo-se em dife-
estão também sujeitos à expropria- rente contexto, ao estabelecer a
ção, inclusive por interesse social mesma redação, fala nos bens ex-
(art. 22, parágrafo único do Estatuto propriados, uma vez transcritos em
da Terra), e nem mesmo qualquer nome do expropriante. Embora o
imóvel rural quando se tratar de de- mesmo propósito, soam diversamen-
sapropriação por interesse social re- te os dispositivos quanto ao momen-
gulada pela Lei n? 4.132/62, condicio- to da incorporação do bem, e conse-
nada à garantia do art. 153, 22 da qüentemente, quanto aos lindes da
Constituição, mas para livrá-la da ação de nulidade.
forma peculiar de desapropriação
por interesse social, para fins de re- Ora, o art. 7? do Decreto-Lei n? 554
forma agrária, a teor do art. 161 da diz que o Juiz, à vista da inicial e do
Constituição. depósito do preço, deferindo a inicial
declarando efetuado o pagamento,
Em afastando a consumação da expedirá os mandados de transcri-
desapropriação por interesse social ção do imóvel em nome do expro-
para fins de reforma agrária, com o priante e de imissão na posse do
pagamento do preço em títulos da bem, o que foi efetivamente realiza-
dívida pública, que somente caberia do.
se de latifúndio se tratasse, não terá
incorrido o acórdão em ofensa ao Não tem dúvida o acórdão recorri-
preceito constitucional, nem ao art. do em considerar que, nessa data, o
2? do Decreto-Lei n? 554. imóvel se incorporou ao patrimônio
público, por esse titulo de domínio,
Na verdade, embora não invoque a sendo essa interpretação condizente
negativa de vigência do art. 14 do com a doutrina, pois, como diz, em
Decreto-Lei ri? 554, o recurso dos Ex- comento, Celso Antônio Bandeira de
propriados, avança a afirmativa de Mello, «o juiz é obrigado a determi-
que a negativa de vigência do art. 2? nar a transcrição da propriedade no
do mesmo decreto-lei, que invoca, Registro de Imóveis», e, «portanto, o
874 R.T.J. — 108

depósito é suficiente para acarretar a assegura ao expropriado o ressar-


transferência da propriedade e, por cimento através das perdas e da-
isso mesmo, a indenização que even- nos. Confisco, na sua exata defini-
tualmente seja apurada a final não é ção, compreenderia a apropriação,
prévia à perda da propriedade» (in a apreensão, a adjudicação do bem
RDP-23/31). sem qualquer indenização.
Ora, a ação direta que se propôs, Apesar da longa existência, no
fundada na nulidade da expropria- tempo, do Decreto-Lei n? 3.365, que
ção, em busca de restituir o imóvel é de 1941, a jurisprudência do Su-
ao patrimônio dos expropriados tem premo Tribunal não aponta a in-
inequívoca natureza de ação de rei- constitucionalidade do art. 35 do
vindicação, e à consecução desse ob- mencionado Decreto-Lei n? 3.665,
jetivo último se opõe decididamente que, como já falamos, contém dis-
o pref alado art. 14, que lhe atribui posição idêntica, Ipsis litteris, a
efeitos limitados. Por isso que, co- que está inscrita no art. 14 e seu
mentando o dispositivo em foco, diz parágrafo único do Decreto-Lei n?
Oliveira Franco Sobrinho, que «ain- 554, de 1969».
da que invalidado pelo Judiciário o
ato expropriatório, reconhecidos os Ainda aqueles que, como Cretella
vícios que Invalidaram o processo ou Júnior, dão interpretação restritiva
tornaram a ação procedente por des- ao dispositivo, consideram induvido-
vio de finalidade, não cabe ao expro- samente alcançado pelo preceito as
priado senão o ressarcimento atra- nulidades que se referem, dentre os
vés de perdas e danos», e que «mes- elementos do ato administrativo ex-
mo invalidado o ato, subsistem os propriatório, aos aspectos do agente,
seus efeitos pela incorporação do objeto e forma, (Cfr. «Comentários à
bem ao patrimônio estatal» («Desa- Lei de Desapropriações» — 485), sen-
propriação» 342/343). do de notar que, no caso, a irregula-
ridade reside na caracterização do
Em seu voto, o douto Ministro Car- objeto, sendo esse erro substancial
los Mário Velloso — invoca em prol que torna invalidável o ato, e não em
do entendimento prevalescente a desvio de poder ou de finalidade.
doutrina de Seabra Fagundes, e o
ilustre Magistrado, em trabalho pu- Não se trata, obviamente, no caso,
blicado na Revista de Informação do exercício do direito de retroces-
Legislativa sobre «A Desapropriação são, com fulcro no art. 1.150 do Códi-
Para Fins de Reforma Agrária», as- go Civil, onde se haveria de cogitar
sim discorreu sobre o questionado a reaquisição do bem pelo expropria-
artigo de lei: do, em razão do desvio de finalidade,
«E que se tem, no caso simples que, no caso, é inocorrente como
repetição do que está escrito no bem salientado pelo venerável acór-
art. 35 do Decreto-Lel n? 3.365, de dão recorrido.
1941. Quer dizer que, mesmo se o Por isso é que, mesmo admitindo
Judiciário invalidar o ato de desa- que os Expropriados houvessem ar-
propriação, ao expropriado caberá güido a negativa de vigência do art.
tão-só o ressarcimento via de per- 14 do Decreto-Lei n? 554, ainda as-
das e danos, subsistindo os efeitos sim, caberia ter como razoável o en-
daquele, por isto que o bem objeto tendimento que lhe deu o acórdão re-
da expropriação já estará incorpo- corrido, nos termos da doutrina e da
rado ao patrimônio estatal. jurisprudência dominante.
Confisco, data vênia, não se tem, Isso posto, é de ver que o venerá-
na espécie, tendo em vista que se vel acórdão invocou, ademais, como

R.T.J. — 108 875

razão de decidir, fundamento autô- autarquia federal desenvolve, bem


nomo e bastante em si, ao ter a es- ou mal, no imóvel expropriando,
pécie como figurante de uma desa- um plano de reforma agrária, ali
propriação indireta, tal o sentido da já tendo investido, certamente,
ação ordinária movida pelos expro- grande parcela de dinheiro públi-
priados para haver o bem de que fo- co».
ram desapossados ou a composição No acórdão dos embargos infrin-
de perdas e danos. gentes a mesma colocação é enfati-
Para assim entender, o acórdão zada pelo eminente Relator, e o nus-
recorrido teve em conta uma situa- tre Ministro Carlos Mário Velloso re-
ção de fato, representada no apossa- nova o seu enfoque, a dizer:
mento do bem pelo poder público e «De sorte que, no caso, não há de-
na realização de projeto de interesse sapropriação para fins de reforma
público, em que pese a irregularida- agrária, em sentido estrito. Não
de do expropriamento. permitimos, está-se a ver, que
E o que consta do voto vencedor, ocorresse a conseqüência da desa-
no Juizo de apelação, do eminente propriação para reforma agrária.
Ministro Carlos Mário Dias Velloso, Então disse eu: mas estamos dian-
in verbis: te de uma situação de fato. Indago
«No caso, o bem objeto da expro- a V. Exa. quantas e quantas vezes
priação já está incorporado ao pa- proprietários de gebos que foram
trimônio público. Isto é inegável. E ocupadas pelo DNER, sem desa-
verdade que o poder público não propriação regular, quantas e
conseguiu, de fato, imitir-se na quantas vezes, nesses casos, nós
posse de todo o imóvel. Não o con- reconhecemos o esbulho praticado
seguiu, todavia, tendo em vista a pela autarquia federal, mas resol-
resistência criada pelos expropria- vemos a questão em perdas e da-
dos, que permaneceram em parte nos, mandando pagar indenização
do imóvel, em caráter precário, ao aos proprietários?
argumento de não terem- onde colo- Muitas e muitas vezes procede-
car o seu rebanho bovino A res- mos desta forma. E é exatamente
peito, o r. despacho que está, por isto que estamos a fazer aqui. Em
cópia, à fls. 3.342/3.355, da lavra do 1971, ou 1972, o INCRA imitiu-se na
eminente Ministro José Néri da posse desse imóvel e, a partir dal,
Silveira, então Relator do feito, fez introduzir parceleiros na gleba,
contém segura e esclarecedora re- na fazenda. O INCRA investiu mi-
senha. Leio-o (lê fls. 3.342/3.355). lhões e milhões de dinheiro público
Não se pode negar que a União nessa gleba. Então estamos diante
Federal ou o INCRA, que já tem o de uma situação de fato. Diante de
domínio do imóvel, imitiu-se, legal- quê? Diante de uma expropriatória
mente, na posse dele; não lhe foi indireta, que não se resolve atra-
possível ocupar, é verdade, de fa- vés da reivindicação e, sim, por
to, parte do imóvel, porque não re- perdas e danos. A restituição do
tirado o rebanho bovino de proprie- bem ao particular só ocorreria no
dade dos expropriados. Acontece, caso de ter havido desvio de finali-
entretanto, que esses semoventes dade pública — retrocessão».
ali estão em caráter precário, «por Não há negar a realidade assim
falta de outros campos a posta em destaque a qual, inclusive
comportá-los, no Estado, conforme por constituir matéria de fato, sobre-
se discute tal, amplamente, nos au- leva, no ponto, a impugnação ex-
tos». De outro lado, certo é que a traordinária.
876 R.T.J. — 108

Com efeito, há mais de dez anos o igual relevância, atinente à preocu-


imóvel rural está titulado ao INCRA, pação pela Justiça Social quê orienta
no registro imobiliário, tendo sido o ordenamento constitucional.
nele imitido, formalmente, por man-
dado judicial. Que a construção jurisprudencial
da desapropriação indireta seja
Nele se tem instalado, desde en- igualmente compreensiva da hipóte-
tão, um projeto de reforma agrária, se de desapropriação por interesse
com o assentamento de colonos e social, resulta da indistinta coloca-
parceleiros, o que aliás constitui o ção da jurisprudência desta Corte,
próprio objetivo da apropriação do onde se vê, como exemplar, no jul-
imóvel. gamento, pelo Pleno, no RR n?
Se é certo que se diz não ocupada 63.833, de que Relator o eminente
toda a área objeto de expropriação, Ministro Eloy da Rocha, esse perti-
com a implantação do projeto social, nente tópico da ementa:
nem por isso se tem como omissão «— A ação de desapropriação in-
ou desistência do poder público em direta inclui-se entre as ações
realizá-lo, posto que o impedimento reais. Os bens indiretamente desa-
a tanto, estranho ao seu propósito, propriados, porque aproveitados
não se deve senão a medida judicial, para fins de necessidade ou utilida-
de natureza cautelar, visando a ma- de pública, ou de interesse social,
nutenção, na área, de rebanho bovi- não podem ser reavidos, In natura.
no que não caberia em outros cam- Impossível vindicar o próprio bem,
pos do Rio Grande do Sul. a ação, cujo fundamento é o direito
Essa medida cautelar, de índole de propriedade, visa, precipua-
necessariamente provisória, aprecia- mente, à prestação do equivalente
da por esta Turma (RE n? 93.826), da coisa desapropriada, que é a in-
não é contestatória da posse do ex- denização assegurada na Constitui-
propriante, senão que a supõe exis- ção, como pressuposto do ato de
tente e legitima. retirada da propriedade, do seu ti-
tular» (in RTJ 61/384).
Cuido, portanto, que, diante dessa
realidade incontroversa, seja legíti- Admitindo a realidade da desapro-
ma a adoção, pelo acórdão recorri- priação indireta, pelo apossamento
do, da construção jurisprudencial da do bem e realização nele de um pro-
desapropriação indireta, significante jeto social, assim afetado e incorpo-
de uma expropriação irregular ou rado ao patrimônio público, assegu-
anômala, carente das vias legais rada a indenização em dinheiro de
pertinentes, mas consubstanciada perdas e danos, compreensivos da
em um apossamento administrativo justa composição do preço, o acór-
com efetiva e legitima destinação, dão -recorrido não incorre em viola-
que somente dá margem á indeniza- ção dos preceitos constitucionais e
ção de perdas e danos, jamais à re- legais invocados, quer pelos expro-
tomada do bem. priantes, quer pelos expropriados,
pois antes atende a uma realidade
Colhe acentuar que assim como a jurídica aceita como legitima em
desapropriação indireta, em casos pacifica jurisprudência.
de utilidade pública, se legitima em
obséquio à intangibilidade da obra Pelo exposto, não conheço dos re-
pública, ela se legitima, correlata- cursos extraordinários interpostos
mente, nos casos de interesse social, pela União, pelo INCRA e pelos ex-
pelo resguardo de uma realização de propriados e autores da ação direta.
R.T.J. — 108 877

VOTO extensão de terras, mas de terras


improdutivas, ou inconvenientes ou
O Sr. Ministro Oscar Conde: Se- insuficientemente aproveitadas.
nhor Presidente, eminentes Minis-
tros. A matéria é bastante complexa Ora, desapropriar uma empresa
e, a principio, pensei pedir vista do rural para fins de reforma agrária é,
processo. Acontece, porém, que me- data venha, não apenas desvio de fi-
ditando melhor, verifiquei que, há nalidade, mas contradição nos pró-
muito tempo, tramita ele na Justiça prios termos; e, ao invés de atender
o meu voto seria apenas um pro- aos objetivos da lei e da Constitui-
nunciamento a mais, principalmente ção, subverte-os, porque deixa de
depois daquele que acaba de proferir empregar recursos para desapro-
eminente Relator, que examinou, priação em área que comportaria a
com a habitual proficiência e segu- ação do Estado e atenderia às finali-
rança, todos os aspectos da causa. dades da expropriação, para investi-
Concordo com S. Exa. quanto ao los em área já produtiva, explorada
não conhecimento dos recursos do pela iniciativa particular, que ofen-
de.
INCRA e da União Federal. Parece-
me que a análise a que S. Exa. pro- Não se obedece aos objetivos da
cedeu tem absoluta procedência, Constituição e das leis e se viola a
mas, data venta, no que diz respeito própria Constituição, no 22 do arti-
ao recurso dos expropriados, exami- go 153 e artigo 160, III, ao atentar
nei, tão profundamente quanto pude contra o direito de propriedade e im-
— evidentemente, não nos moldes de pedir que, pela exploração produti-
S. Exa. que teve em seu poder o vo- va, atinja a sua função social.
lumoso dos autos para exame, mas
em face do próprio e completo rela- A prova disso é que, dos autos —
tório que teve a gentileza de nos for- admitido e proclamado pelo próprio
necer, antecipadamente, e dos me- v. acórdão recorrido — se vé que se
moriais que foram apresentados, — trata de empresa rural, em ativida-
ficou-me convicção diversa, pelo de plena e desenvolvimento; que o
que, em algumas breves notas, ex- Estado não realizou nenhuma obra
penderei meu voto. ponderável de reforma agrária e
nem mesmo a ocupou, senão em cer-
Entre essas conclusões, a primeira ca de 5% da área desapropriada; e
é de que se trata, — e S. Exa. o ad- que não teve, ainda, anos depois,
mitiu — em realidade, de empresa condição de deslocar o rebanho que
rural, e, como tal, insuscetível de de- nela se mantém e multiplica.
sapropriação para fins de reforma
agrária. Não se compreende, pois, se con-
cretize tal subversão do sentido de
A reforma agrária objetiva a tornar reforma agrária, quando áreas
produtivas as áreas rurais, e não imensas, improdutivas e igualmente
desapossá-ias de quem as possua, aproveitáveis, podem e devem ser
produzindo, em favor de quem não utilizadas, preferencialmente. Prin-
as possua, para que venha, possivel- cipalmente, no Brasil, de vasta área
mente, a produzir, dependendo, in- agricultável explorável.
clusive, da ajuda do Poder Público.
Dai o conceito — não tranqüilo, e, Não colhem as alegações data
pelo contrário, em Economia, muito venta, de que:
intranqüllo, — de latifúndio, que não I — O imóvel estava classificado
se configura apenas com a grande como latifúndio, se
878 R.T.J. — 108

essa classificação — se com- da reparação do erro é fundamento


provou — era anterior a mais de 5 da ordem jurídica e moral.
anos da expropriação;
se se cuidava, na época, de Nem para isso se há de declarar a
revisão dessa classificação; e inconstitucionalidade do artigo 14 e
seu parágrafo único do Decreto-Lei
c) se a perícia, incontroversa- n? 554/69: o vicio que inquina a apli-
mente, atesta a natureza de em- cação do texto à hipótese não atin-
presa rural da área expropriada. ge a norma e sim o desvio ou erro de
Aliás, a matéria foi, a esse respei- aplicação e se não se trata de reivin-
to, definitivamente equacionada pelo dicação, mas de anulação de ato ao
v. acórdão recorrido. qual falta pressuposto essencial.
II- Pelo artigo 14 do Decreto-Lei III- Nem se diga que ofende a
n? 554/69 os bens expropriados, uma função social da propriedade. Esta
vez transcritos em nome do expro- não se confunde com os desvios de
priante, não poderão ser objeto de aplicação e entendimento, nem os
reivindicação, ainda que fundada em autoriza.
nulidade da desapropriação. Porque Função social da propriedade im-
Isto importaria em subtrair ao exa- porta em usá-la, gozá-la em be-
me do Poder Judiciário a apreciação neficio social, vale dizer, da coletivi-
de lesão do direito individual, tor- dade, do bem comum da gente.
nando absoluto o poder de expropriar
e invalidando a hipótese de desvio ou O melhor aproveitamento, o uso
abuso de finalidade ou poder, e, como mais racional, é o que se compadece
tal, autorizando o arbítrio e a arbitra- com a função social, porque serve
riedade. E a ação .direta é, precisa- mais e melhor à comunidade. E este
mente, o fundamento para eliminá- é o que se encontra na produção ra-
lo, tanto mais quando, no caso, se cionalizada, no aproveitamento
declara, implicitamente, a nulida- científico da terra, na empresa rural
de do ato expropriatórlo, por falta de organizada, atuante e desenvolvida,
pressuposto legal: porque o acórdão atendendo, inclusive, a outro pressu-
é absolutamente explícito — e daqui posto da ordem constitucional: a em-
a pouco veremos — ao salientar que presa particular, atuante e forte, su-
falta o presuposto legal para a desa- porte do regime, que não pode ser
priação. E seria validar o abuso, atingida pelo Estado, sem quebra do
transformando em perdas e danos, e principio informador da ordem
convalidando o desvio — premiando jurídica e econômica (artigo 170 da
o seu autor e penalizando a vítima. Constituição Federal).
Com a validade de ato nulo por falta Inconstitucional é ferir a empresa
de pressuposto legal. • particular que cumpre sua finalidade
Nem se argumente com a Lei n? econômica e social: mais mal faz
3.365/41, artigo 35, se as finalidades atingi-la na sua atuação do que dei-
do Decreto-Lei n? 554/69 são outras e xar de atender a outras reivindica-
não autorizam a mesma interpreta- ções, que, justas que sejam, podem
ção, porque neste a finalidade é ex- ser satisfeitas por outros meios e
pressa e se veda atinja bem que está instrumentos.
tendo a utilização prevista pela lei.
Nem se diga que o bem já está in-
O abuso ou desvio não pode ser corporado ao patrimônio público. Co-
justificado ou ratificado, sob a alega- mo se vê dos autos, nunca se inte-
ção de que seria inconstitucional a grou nele, senão em parte mínima,
forma de repará-lo, se este princípio nem de fato, nem de direito, quando
879
R.T.J. 108

não se imitiu na posse de todo o imó- forma agrária (Cf., artigo 161, §
vel e se mostrou incapaz de dar solu- 2?, Decreto-Lei n? 554/69, artigo
ção ao problema do rebanho animal, 2? ), e, porque estamos diante de
que o habitava e habita. E, repita-se, uma desapropriação indireta, in-
a ação direta é contemporânea da denizar, em dinheiro, com obser-
expropriação. vância do disposto no Decreto-Lei
Nem isso serviria de biombo para n? 3.365/ 41.»
afastar o desvio de finalidade. No Ora, data venta, tal raciocínio é
caso apenas serve, ainda mais, de contraditório, à evidência: se falta o
salientá-lo. pressuposto fundamental da desa-
Nem se diga que «bem ou mal» es- propriação por interesse social, para
tá ocupado: a Constituição — na de- fins de reforma agrária, como
fesa da função social da propriedade validá-la, ou considerar que não hou-
— não autoriza que se expulse quem ve desvio de finalidade pública?
a utiliza bem, em proveito de quem Desvio de finalidade pública não é
a utiliza mal, ou menos bem. só desapropriar para reforma agrá-
Concluiu, aliás, o v. acórdão recor- ria e, verbl grafia, construir um
rido, que «a desapropriação por inte- campo de futebol; mas desapropriar
resse social, para fins de reforma para reforma agrária o que não con-
agrária, não pode haver, no caso figura a hipótese de desapropriação
porque não ocorrente o pressuposto para esse fim, porque é empresa ru-
fundamental já que restou compro- ral, não é latifúndio — e, como tal,
vado que o ato expropriatório improdutivo ou insuficientemente
dirigiu-se contra uma propriedade produtivo — ou desapropriar o que
rural, que que constituía empresa está bem utilizado, para utilizá-lo
rural (Decreto-Lei n? 554/69 artigo bem ou mal, ou menos bem; ou não o
2? )». utilizar, como até agora.
Mas, estranhamente, data venta, Nem se invoquem tensões sociais.
entendeu que se tem, «todavia, no Não há de ser desapropriando terras
caso, uma desapropiação indireta, cultivadas e produtivas, em empresa
resolvendo-se a questão na forma do rural florescente e em desenvolvi-
artigo 14, parágrafo único, do mento, para dá-las a colonos ou
Decreto-Lei n? 554/69, ou artigo 35 do ruricolas desalojados de regiões
Decreto-Lei n? 3.365, de 1941, mesmo inundadas, ou expulsos de reservas
porque não houve desvio de finalida- indígenas, que se resolverá a ques-
de pública». E diz o acórdão, tex- tão social.
tualmente:
Há de ser estimulando a empresa
«bem ou mal a autarquia federal rural em desenvolvimento e buscan-
desenvolve, no imóvel, um plano do outras áreas — ainda não explo-
de reforma agrária, ocorrendo, na radas convenientemente —
região, graves tensões sociais: co- entregando-as aos que não as pos-
lonos, ou rurícolas, desalojados de suem, fornecendo-lhes os meios de
regiões inundadas ou expulsos de usá-las racionalmente e apontando-
reservas indígenas, aguardam que lhes o exemplo da empresa rural que
o rebanho bovino dos expropriados se conservou.
seja retirado do imóvel, a fim de
nele se instalarem e trabalharem a De outra forma, apenas se substi-
terra (Lei n? 4.132/62, art. 2?, III). tui tensão por tensão, variando de
Corre à União Federal, ou ao IN- pessoas, e com a agravante de desa-
CRA, porque não ocorrente o pres- lojar e desapossar o que cumpre a
suposto da desapropriação por re- sua tarefa.
880 R.T.J. — 108

menos ainda aceitável, no Bra- da realização de obras e localização


sil, que não tem deficiência de terras de inúmeros agricultores, mercê da
aproveitáveis. imissão na posse concedida na ação
Senhor Presidente, não preciso de desapropriação, tornou, social-
estender-me mais, se essas conside- imóvel,impossível
mente, a reinvidicação do
não fosse ela, como é, veda-
rações estão explícitas ou implícitas da pelo art. 14 do Decreto-Lei n? 554.
na respeitável sentença de primeiro-
grau — tanto mais importante quan- As perdas e danos previstas no pa-
to próxima dos fatos e avaliando a rágrafo único do mencionado dispo-
repercussão da solução adotada — e sitivo são, no caso, as do direito co-
nos votos que, no Colendo Tribunal mum e as mais completas possíveis,
Federal de Recursos, abundaram pois a Administração Pública prati-
nessa linha de raciocínio, em espe- cou ato ilícito e, como tal, deverá ser
cial o do eminente Ministro Arman- compelida a restaurar o patrimônio
do Rolemberg. do lesado no estado em que se acha-
Reconheço, Senhor Presidente, que va à época da ocupação, com os
acréscimos resultantes dos lucros
o voto do eminente Relator analisou, cessantes etc.,
em profundidade, a matéria, mas em liquidação. tudo a ser apurado
data venta de S.Exa. e do respeito
que me merece e da admiração que Acompanho, pois, o voto do emi-
lhe voto, conheço do recurso dos ex- nente Ministro Rafael Mayer, não
propriados e dou-lhe provimento, conhecendo do recurso extraordiná-
restaurando a sentença de primeiro rio, data venta do voto cio eminente
grau, prejudicados os recursos dos Ministro Oscar Corrêa.
expropriantes. EXTRATO DA ATA
o meu voto.
RE 100.375-RS — Rel.: MM. Rafael
VOTO Mayer. Rectes.: 1? — Instituto Na-
cional de Colonização e Reforma
Sr. Ministro Soares Mufloz Agrária — INCRA. (Advs.: Iguatemi
(Presidente): A esta altura, as diver- de Castro Filho e outros). 2? —
sas e complexas questões que se dis- União Federal, 3?s — Ernesto José
cutiram no curso deste processo já Annoni e outros. (Advs.: Justino Vas-
se acham apuradas. Na verdade, a concelos e outro). Recdos.: os mes-
questão a ser resolvida é, tão- mos.
somente, a da aplicação, ou não, do Decisão: Não se conheceu dos 3 re-
art. 14 do Decreto-Lei n? 554, de 1969. cursos, vencido em parte o Ministro
Para o Supremo Tribunal Federal Oscar Corrêa, que conhecia do 3? re-
são certos aqueles fatos que foram curso e lhe dava provimento. Impe-
dados como certos no acórdão do dido o Ministro Néri da Silveira. Fa-
Tribunal Federal de Recursos, vale laram pelo primeiro Recte.: Dr. Ag-
dizer, que o imóvel é uma empresa naldo Jurandir Silva, pelo Ministério
rural, e que, portanto, é incabível se Público Federal . Dr. Mauro Leite
apresenta a desapropriação por inte- Soares, Subprocurador-Geral da Re-
resse social. pública; e pelo terceiro Recte.: Dr.
Assim limitada a controvérsia, Justino Vasconcelos.
cumpre decidir se o imóvel deve ser Presidência do Senhor Ministro
restituído aos expropriados ou se os Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
expropriantes devem ser condenados Senhores Ministros Rafael Mayer,
a indenizar aqueles. A afetação pú- Néri da Silveira e Oscar Corrêa . Au-
blica que foi dada à gleba, através sente, licenciado, o Senhor Ministro

R.T.J. — 108 881

Alfredo Buzaid. Subprocurador- Brasília, 22 de novembro de 1983.


Geral da República, Dr. Mauro Leite Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Soares. Secretário.
RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.440 — PR
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Recorrentes: Luiz Tonietti, sua mulher e outros — Recorridos: Antônio
Antoniette, sua mulher e outros.
Venda de ascendente a descendente, por Interposta pessoa. Art.
1.132 c/c o art. 102 do Código Clv11. Dissídio jurisprudencial compro-
vado. Nula é a venda que contraria a proibição expressa no art. 1.132
do Código Civil. Ai o ato é nulo, não em virtude da simulação em si,
mas por constituir o negócio real uma venda de ascendente a descen-
dente, sem a aquiescência dos demais descendentes. Nulidade inde-
pendente da prova de simulação.
Na espécie, a simulação é facilmente perceptível conforme obser-
vou a decisão de primeiro grau. Recurso extraordinário provido.
ACORDA() Aparecido Tonletti e Luiz Donizete
Toniette (netos dos recorridos),
Vistos, relatados e discutidos estes ação essa em que se argumentou
autos, acordam os Ministros compo- que tais atos foram praticados me-
nentes da Segunda Turma do Supre- diante simulação, ocultando a ven-
mo Tribunal Federal, à unanimidade da de ascendentes a descendentes,
de votos e na conformidade da ata no caso, dos avós aos netos, só per-
do julgamento e das notas taquigrá- mitida na forma do estatuído no
ficas, em conhecer do recurso e lhe artigo 1.132 do Código Civil — in-
dar provimento nos termos do voto terpõem Luiz Tonietti, sua mulher
do Ministro Relator. Brasília, 4 de e outros o tempestivo recurso ex-
outubro de 1983 — Djaci Falcão, Pre- traordinário de fls. 291/297, estri-
sidente e Relator. bado nas alíneas a e d da autori-
zação constitucional, em o qual se
RELATORIO alega, paralelamente a dissídio ju-
risprudencial, negativa de vigência
O Sr. Ministro Djaci Falcão: O ao artigo 1.132 c/c os artigos 102 e
despacho que admitiu o apelo extre- seguintes, todos do Código Civil.
mo guarda o seguinte teor: 2. Da forma como o acórdão ob-
«1. Contra o v. acórdão de fls. jurgado decidiu o litígio, ou seja,
288-289 — que, reformando a deci- procedendo a um exame das pro-
são monocrática de fls. 253/259, vas dos autos para concluir pela
julgou improcedente ação de anu- inexistência da alegada simulação,
lação de ato jurídico proposta pe- não há como prosperar o apelo-
los recorrentes com vistas a invali- mor pelo permissivo constitucional
dar escrituras públicas de compra da alínea a, haja vista que, para se
e venda outorgadas' por Antonio poder concluir pela negativa de vi-
Antoniette e sua mulher (pais dos gência aos dispositivos federais in-
recorrentes) a Antonio Bonídia e vocados, inevitavelmente ter-se-ia
sua mulher, e destes para Lázaro de proceder a um novo exame das
882 R.T.J. — 108

provas, o que encontraria obstácu- tendente — de avós para netos, sem


lo intransponível na Súmula 279 do atender a exigência do art. 1.132 do
Supremo Tribunal Federal. Cód. Civil.
No entanto, pelo dissídio ju- No juízo de primeiro grau foi jul-
risprudencial, entendo merecer gada procedente a ação, com base
acolhida o excepcional, para que a nos arts. 1.132 e 147, II, do C. Civil. A
matéria receba a manifestação de sentença depois de destacar que An-
qualidade da Suprema Corte. tonio Antoniette almejava vender os
E a divergência jurisprudencial, dois imóveis a seu filho Gildo Toniet-
a meu ver, instala-se na medida te, não conseguindo o intento ante a
em que, enquanto o acórdão para- resistência dos demais filhos, e que
digma citado a fls. 296 (publicado veio a se utilizar de Antonio Bonidia,
in RT 417/161), do Tribunal de Jus- transferindo-os aos seus netos Láza-
tiça do Estado de São Paulo, sufra- ro e Luiz, filhos de Gildo, diz textual-
ga entendimento no sentido de que mente:
vendas como as ocorridas in specie «A simulação é facilmente per-
são nulas de pleno direito e, em as- ceptível, já que a prova revelou
sim sendo, independem da prova que Antonio Bonidia não possuía
de simulação (entendimento este capacidade financeira para negó-
também esposado no RE n? 88.120- cio de tal porte, bastando atentar-
PR, publicado in RTJ 85/338, Rela- se para o detalhe de revender os
tor o Min. Soares Mufioz), o aresto imóveis seis dias depois de tê-los
recorrido, em levando em conta a adquirido, inclusive, e, justamente,
inexistência do vício da simulação aos filhos do descendente do primi-
no caso, teve as vendas noticiadas tivo vendedor, a quem este colima-
nos autos como boas e valiosas. va, inicialmente, vender
Ex positis, admito, pelo per- Assim, embora, aparentemente,
missivo constitucional da alínea d, tenha havido um negócio real, e
o processamento do presente re- válido, a verdade é que a roupa-
curso extraordinário. gem lhe dada só serviu para mas-
Publique-se e prossiga-se. carar o verdadeiro objetivo, qual
seja, o de transferir aos descen-
Curitiba, 24 de maio de 1983 — dentes, sem o consentimento dos
Alceu Machado — Presidente.» demais» (fls. 257) .
(fls. 304/305). A sentença foi reformada pelo
Com as razões de fls. 311/318 e acórdão de fls. 286/289, assim emen-
contra-razões de fls. 324/329, subi- tado:
ram os autos a esta Corte. «Ação de Anulação de Ato Jurídi-
co — A simulação para ser reco-
nhecida há de ser cumpridamente
VOTO demonstrada — Meros indícios não
bastam para tanto — Improcedên-
cia da Ação — Apelação provida»
O Sr. Ministro Djacl Falcão (Rela- (fls. 286).
tor): Cuida-se de ação ordinária de O recurso, que se esteia em negati-
nulidade de escrituras proposta pe- va de vigência dos arts. 1.132 c/c o
los recorrentes contra os recorridos, art. 102 do Código Civil, bem assim
com o objetivo de invalidar a venda em dissídio jurisprudencial, foi ad-
de dois imóveis rurais, realizada mitido pelo segundo fundamento. Os
através de interposta pessoa, para recorrentes trazem à colação julga-
ocultar venda de ascendente a des- dos em que se lê, na parte essencial:

R.T.J. — 108 883

«Os ascendentes não podem ven- de absoluta. Aí o negócio, simula-


der aos descendentes, sem que os damente feito por interposta pes-
outros descendentes expressamen- soa, está vinculado ao negócio
te consintam. real, não podendo ser apreciado
Haja ou não simulação de venda em separado, se é inquinado de
esta será, irremediavelmente, nu- ofensivo à norma do art. 1.132.
la, desde que lhe falte a concordân- Não há de se processar uma
cia expressa de todos os demais ação anulatória fundada em simu-
descendentes.» (Ac. unânime da 1? lação, contra a interposta pessoa;
Turma do Excelso Supremo Tribu- para, em seguida, ser pleiteada a
nal Federal — Rel.: Nelson Hun- declaração de nulidade do negócio
gria — em 25/06/1953. Rec. Extr. jurídico proibido» (RE n? 59.417,
n? 22.776 — In Rev. For., vol. relator o saudoso Ministro Luiz
156/121). Gallotti, in RTJ 52/842).
«...na aplicação do artigo 1.132, Ainda recentemente a egrégia Pri-
do Código Civil, a corrente doutri- meira Turma decidiu na mesma di-
nária e jurisprudencial que consi- retriz, como se vê do RE n? 88.120,
derava a venda feita com vulnera- relatado pelo eminente Ministro Soa-
ção desse preceito apenas anulável res Mufloz, em aresto que guarda a
quando corrente a intervenção de seguinte ementa:
interposta pessoa, cedeu passo ao «Venda de ascendente a desce-
entendimento de que tais vendas, dente. Interposta pessoa.
independentemente, de prova de si- Nulidade pleno jure indepen-
mulação, são nulas de pleno Jure» dentemente da prova da simula-
(fls. 296). (Trata-se de decisão do ção.
Tribunal de Justiça de São Paulo,
in Revista dos Tribunais 417/161). Recurso extraordinário conheci-
Tenho para mim que os acórdãos do e provido» (RTJ 85/338).
trazidos a confronto traduzem o sen- Além disso, a sentença bem situou
tido finalistico da regra adequada à a matéria, inclusive ao valorar os
espécie. Na verdade, é nula a venda elementos probatórios.
que contraria a proibição expressa Ante o exposto conheço do recurso
no art. 1.132 do Código Civil. Há uma e dou-lhe provimento, para restabe-
situação irremovivel — a invalidade lecer a sentença.
do negócio jurídico ante a ilegitima-
ção do vendedor ao tempo da sua fei-
tura. Conforme já tive oportunidade EXTRATO DA ATA
de afirmar:
RE 100.440-PR — Rel.: Min. Djaci
«E Incontestável que há na regra Falcão. Rectes.: Luiz Tonietti, sua
do art. 1.132 uma proibição absolu- mulher e outros (Adv.: Raul Alves
ta. Guimarães). Recdos.: Antonio Ante-
O ato é nulo, não em virtude da niette, sua mulher e outros (Advs.:
simulação em si, porém por consti- João Conceição e Silva e outros).
tuir o negócio real uma venda de Decisão: Conhecido e provido nos
ascendente a descendente, sem a termos do voto do Ministro Relator.
aquiescência expressa dos demais Unânime.
descendentes.
Presidência do Senhor Ministro
Outrossim, vale ressaltar que a Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
venda por interposta pessoa não Senhores Ministros Moreira Alves,
vem descaracterizar a llegitimida- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
884. R.T.J. - 108

Francisco Rezek. Subprocurador- Brasília, 4 de outubro de 1983 —


Geral da República, Dr. Mauro Leite Hélio Francisco Marques, Secretá-
Soares. rio.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.557 — RJ
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mutioz.
Recorrentes: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e Superintendência
de Urbanização e Saneamento (SURSAN) — Recorrido: Rio Light S/A —
Serviços de Eletricidade e Carris.
Desapropilação cuja indenização foi fixada em 1950 e que somen-
te mais de doze anos depois a expropriante requereu e obteve a imis-
são na posse do imóvel, mediante o depósito da quantia referente
àquela indenização. Ação ordinária pedindo seja completada a indeni-
zação com a diferença entre o valor fixado pela sentença final na
ação de desapropriação e o valor encontrado na ação de indenização.
Pretensão acolhida pelas instâncias ordinárias. Recursos extraordiná-
rios não conhecidos.
ACORDA() de 26 de maio de 1950, fixado a inde-
nização em ... Cr$ 1.900.000,00. En-
Vistos, relatados e discutidos estes tretanto, somente em 5 de novembro
autos, acordam os Ministros do Su- de 1962, mais de doze anos depois, a
premo Tribunal Federal, em Primei- SURSAN requereu e obteve a imis-
ra Turma, na conformidade da ata são na posse do imóvel, mediante o
do julgamento e das notas taquigrá- depósito da mencionada importân-
ficas, por unanimidade de votos, não cia. Com essa inércia, por tempo tão
conhecer dos dois recursos. dilatado, a expropriante acarretou á
Brasília, 6 de dezembro de 1983 — expropriada imenso prejuízo, pois a
Soares Muiloz, Presidente e Relator. conjuntura inflacionária chegou ao
paroxismo, e a indenização não mais
RELATORIO corresponde ao preço constitucional.

O Sr. Ministro Soares Mulloz: A A ação foi julgada procedente em


Rio Light S/A — Serviços de Eletri- primeira instância, havendo a sen-
cidade e Carris, na empresa concessio- tença condenado o Estado da Guana-
nária de serviços públicos, propôs bara e a SURSAN a indenizarem a
contra o Estado da Guanabara e a expropriada com a diferença entre o
Superintendência de Urbanização e valor fixado na sentença final da
Saneamento — Sursan ação ordiná- ação de desapropriação e o valor en-
ria de indenização, alegando, em contrado na ação indenizatória, em
síntese, que, em 1948, a então Prefei- exame pericial.
tura do Distrito Federal promoveu a
desapropriação de um imóvel de sua Interposta apelação, a aludida 7?
propriedade, situado á Avenida Lau- Câmara Cível manteve a decisão de
ro Muller, n? 10, esquina da Avenida primeiro grau na parte em que defe-
Francisco Bicalho, tendo a 7? Câma- riu ao autor a indenização comple-
ra Cível do Tribunal de (justiça do mentar, em acórdão de 3 de agosto
Estado da Guanabara, por acórdão de 1965.

R.T.J. — 108 885

Paralisado novamente por longo do Rio de Janeiro (fls. 255), reque-


tempo o processo, a Prefeitura do rendo fossem processados os re-
Município do Rio de Janeiro reque- cursos extraordinários.
reu, no dia 3 de março do corrente No que tange à legitimidade da
ano, fossem processados os recursos Prefeitura Municipal do Rio de Ja-
extraordinários (fls. 255), interpos- neiro para, como sucessora, dar
tos, em 1965, pelo Estado da prosseguimento ao feito, questão
Guanabara e pela Superintendência levantada pela Procuradoria-Geral
de Urbanização e Saneamento (fls. da Justiça do Estado, vê-se que so-
221/224 e 234/237). Os dois recursos bre a mesma não pode pairar qual-
foram admitidos pelo Presidente do quer dúvida, ante os termos da Lei
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Complementar n? 20, de 1-7-74 que,
de Janeiro, em despacho assim fun- em seu Capitulo II dispôs sobre a
damentado: fusão dos Estados do Rio de Janei-
«Admito os recursos extraordiná- ro e da Guanabara.
rios, manifestados a fls. 221 e se- 1? Recurso — fls 221/224
guintes e 227/233. O douto acórdão Alega o recorrente, com apoio na
recorrido concedeu indenização ao letra a, do inciso III, do art. 101, da
proprietário de um imóvel desa- Constituição Federal vigente á épo-
propriado, considerando culposo o ca, atual art. 119, violação aos
ato do Expropriante, que não depo- arts. 141, § 3? e 204, da Lei Maior;
sitou o preço da desapropriação e art. 1.061 do Código Civil; art. 1? do
deixou decorressem mais de dez Decreto n? 23.501, de 27-12-1933,
anos, antes de fazê-lo. Embora te- combinado com o art. 1?, do
nha havido alteração na legislação Decreto-lei n? 236, de 2-2-1939 e
e a espécie dos autos seja excep- com o art. 1?, do Decreto n? 1.079,
cional, o acórdão recorrido está de 27-1-39; e art. 26, § 2?, da Lei de
aparentemente em contradição Desapropriações (Decreto-Lei n?
com a Súmula 416, do E. Supremo 3.365, de 21-6-41, na redação que
Tribunal Federal. Prossiga-se» lhe deu a Lei n? 4.686, de 21-6-65).
(fls. 246).
O parecer da ilustre Procuradora No que concerne a ofensa à coisa
Iduna E. Weinert, aprovado pelo julgada representada, na hipótese,
douto Subprocurador-Geral Mauro pela sentença que, em 1951, fixou o
Leite Soares, é pelo não conhecimen- valor da desapropriação em Cri
to dos dois recursos ante a ausência 1.900.000,00 (hum milhão e nove-
de seus pressupostos constitucionais. centos mil cruzeiros), vê-se que a
alegação se encontra bem respon-
Eis o teor do parecer: dida pelo v. acórdão recorrido,
«Trata-se de recursos extraordi- verbis:
nários interpostos, ás fls. 221/224 «A se cumprir o julgado sim-
pelo antigo Estado da Guanabara, plesmente, sem qualquer repara-
e às fls. 235/238, pela Superintên- ção ao prejuízo do particular, es-
dência de Urbanização e taria atendido o preceito consti-
Saneamento — SURSAN, admiti- tucional? Todos estão acordes na
dos pelo despacho que se vê à fls. resposta negativa e reconhecem
246, datado de 4-2-66. que teria havido uma espoliação.
Tendo ficado paralisado por lon- Mas retruca-se que qualquer
go período (ver fls. 246, verso e reparação se torna impossível,
247), ao processo foi dado novo im- uma vez que a correção esbarra-
pulso pela Prefeitura do Município ria com o principio da imutabili-
886 R.T.J. — 108

dade dos julgados. Ora, esse do art. 26, do Decreto-Lei n?


princípio não tem sido obstáculo 3.365/41, introduzido pela Lei n?
a que o lesado, nas ações de res- 4.686, de 21-6-65, que assim dispõe:
ponsabilidade civil, assim como «Decorrido prazo superior a
os credores de pensão ali- um ano a partir da avaliação,. o
mentícia, obtenham nos tribu- Juiz ou Tribunal, antes da deci-
nais, inclusive no Pretório Excel- são final, determinará a correção
so, a revisão das pensões e das monetária do valor apurado».
prestações pecuniárias. Embora
não prevista expressamente na Mesmo que assim não fosse,
lei processual civil, salvo nas de- tem-se que a Súmula n? 416 é total-
cisões proferidas por eqüidade mente inaplicável á hipótese dos
(art. 289, II), a jurisprudência e autos, tendo-se em vista que não se
a doutrina têm admitido franca- trata de indenização complemen-
mente a ação de modificação de tar, mas de indenização por perdas
sentenças transitadas em julga- e danos, com base no art. 159, do
do, para efeitos futuros, quando Código Civil, tornando inviável o
se alteram os pressupostos de fa- apelo, com base na letra d, da per-
to em que se calcou o julgado (v. missão constitucional.
Pontes de Miranda, Cód. Proc. 2? Recurso — fls. 235/238
Civil, vol. IV, 1959, pág. 117 e Sustenta a recorrente ofensa aos
sega ». (fls. 216/217). arts. 159 e 1.061 do Código Civil
Observa-se, por outro lado, que a sendo certo que, como já assinala-
v. decisão impugnada tem por (mi- do, o v. acórdão recorrido funda-
co fundamento o art. 159, do Códi- mentou-se, exclusivamente, no pri-
go Civil, na medida em que conde- meiro dos dispositivos apontados,
nou o ora recorrente em perdas e faltando ao segundo, por conse-
danos, resultantes do atraso no pa- guinte, o requisito inafastável do
gamento devido em razão da desa- prequestionamento, nos termos da
propriação que promoveu. Súmula n? 282, dessa Colenda Cor-
te.
Por esse motivo, as demais vio-
lações legais apontadas não se re- Examinando, sobejamente, a
vestem do requisito imprescindível prova produzida nos autos, decidiu
do préquestionamento, a que se o v. Tribunal a quo no sentido de
refere o verbete n? 282, da Súmula que a culpa pelo atraso no paga-
da Jurisprudência Predominante mento do preço, fixado em senten-
desse Colendo Supremo Tribunal ça e relativo á desapropriação, era
Federal, para ensejar o conheci- de ser atribuída, unicamente, aos
mento do recurso. ora recorrentes, em razão do que
Com fundamento na letra d do deveriam ressarcir o expropriado
permissivo constitucional, sustenta em perdas e danos decorrentes da
o recorrente divergência com a sú- demora.
mula 416, desse Pretório Excelso, Sendo assim, torna-se evidente
que estabelece, verbis: que a constatação da existência ou
«Pela demora no pagamento do não de culpa no comportamento
preço da desapropriação não ca- omissivo dos ora recorrentes impli-
be indenização complementar cará, necessariamente, o reexame
além dos juros». da prova carreada para os autos,
vedado nessa Superior Instância, a
Sucede que o enunciado em tela teor da Súmula 279, podendo-se
foi alterado pelo disposto no § 2?, qualificar como razoável, por outro

R.T.J. — 108 887

lado, a interpretação dada ao pre- favorável à medida, recebendo a


ceito legal, por parte do v. acórdão adesão desta Primeira Turma. Eis
recorrido (Súmula 400). o voto que, então proferi:
A divergência com a Súmula n?
416, desse Pretória Excelso, indica- «Quanto à coisa julgada, que
da como fundamento do recurso impediria fosse realizada nova
pela letra d, do permissivo consti- avaliação, depois do trânsito em
tucional, inexiste, consoante já de- julgado da sentença que fixara a
monstrado na análise do 1? recurso indenização, aplicam-se à hipóte-
(itens 8 a 10)» (fls. 268/272). se sub indica as considerações
que aduzi no RE n? 87.366, por
E o relatório. mim relatado nesta Primeira
Turma.
VOTO
«Em verdade, o acórdão re-
O Sr. Ministro Soares Munoz (Re- corrido limitou-se a cumprir a
latar): Nada é necessário acrescen- decisão exeqüenda de fls. 103,
tar ao bem elaborado parecer que confirmatória da de fls. 74, que
enfrentou, com acerto, todas as ale- assegurou ao recorrente o salá-
gações deduzidas nos dois recursos rio mensal de oitocentos cruzei-
extraoridinários, demonstrando que ros e a prestação de seus servi-
ambos padecem da ausência de seus ços no Estado do Rio de Janei-
pressupostos constitucionais e legais. ro.
Em casos de manifesta desatuali-
zação da condenação, o Supremo Entretanto, da sentença, pro-
Tribunal Federal tem decidido de latada em 1971, para cá, decor-
maneira semelhante á orientação reram mais de oito anos, e não
adotada no acórdão recorrido. se acha nos efeitos da coisa jul-
Assim, no RE n? 93.412 proferi vo- gada e, multo menos, na índole
to, aceito pela maioria desta Primei- da decisão exeqüenda, o conge-
ra Turma, com o seguinte teor: lamento, por tempo indefinido,
ou para sempre, do salário de
«Pedi vista para consultar prece- Cr$ 800,00 por mês, de sorte
dente desta Primeira Turma por que a decisão recorrida, a pre-
mim relatado que guarda seme- texto de respeitar a coisa julga-
lhança com a espécie sub indica. da, vulnerou-a no seu sentido
Naquele, igualmente se alegava ontológico.
não ser possível a realização de no-
va avaliação, por ter transitado A doutrina moderna a respei-
em julgado a sentença que fixara a to da coisa julgada restringe os
indenização em ação de desapro- seus efeitos aos fatos contem-
priação, embora os autos, depois, porâneos ao momento em que
houvessem permanecido no cartó- foi prolatada a sentença. A for-
rio da antiga Justiça Federal em ça da coisa julgada material,
Mato Grosso e, posteriormente, na acentua James Goldschmidt,
Procuradoria da República da alcança a situação jurídica no
mencionada Unidade da Federa- estado em que se achava no
ção, onde foram encontrados trinta momento da decisão, não ten-
e quatro anos depois, sem que a in- do, portanto, influência sobre
denização tivesse sido paga. Defe- os fatos que venham a ocorrer
rida, a pedido do expropriado, no- depois (in Derecho Procesal
va avaliação, manifestei-me, como Civil, pág. 390, tradução espa-
relatar do recurso extraordinário, nhola de 1936).

888 R.T.J. — 108

O salário de Cr$ 800,00, repi- quado para a atualização da inde-


to, foi fixado tendo em vista as nização, em face da singularidade
condições contemporâneas e ancianidade do caso».
sentença e, por isso essa fixa- Ante o exposto e pelos fundamen-
ção não impede que tal remu- tos do parecer, não conheço dos dois
neração venha a ser majorada recursos extraordinários.
em sintonia com os reajusta-
mentos concedidos aos demais EXTRATO DA ATA
servidores.
Aplicada essa doutrina ao caso RE 100.557-RJ — Rel.: Min. Soares
sub judice, afastado estará o Óbi-
ce da coisa julgada à atualização Mufioz. Rectes.: Prefeitura Munici-
do valor do preço. pal do Rio de Janeiro (Advs.: Fran-
cisco S. Moniz de Aragão e outro)
Rejeito, portanto, a argüição Superintendência de Urbanização e
de coisa julgada». Saneamento (SURSAN). (Advs.: Mi-
A adequação desses precedentes guel Lanzellotti Baldez e outro).
ao caso vertente é manifesta. A ga- Recdo.: Rio Light S/A — Serviços de
rantia constitucional da coisa jul- Eletricidade e Carris. (Advs.: Pedro
gada, em se tratando de desapro- Augusto de Freitas Gordilho e ou-
priação, não afasta a que assegura tros).
o direito de propriedade, salvo o Decisão: Não se conheceu dos 2 re-
caso de desapropriação mediante cursos
prévia e justa indenização em di- nime. extraordinários. Decisão unâ-
nheiro (art. 153, § 22, CF), nem
neutraliza a que proíbe o confisco Presidência do Senhor Ministro
(art. 153, § 11, CF). O pagamento, Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
hoje, dos bens expropriados (10.000 Senhores Ministros, Rafael Mayer,
pinheiros e 1.500 imbuias) pelo pre- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
ço estimado em avaliação realiza- Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
da antes de 1952, pois, naquele ano, da República, Dr. Francisco de -As-
foi proferida a sentença de primei- sis Toledo.
ro grau, redundaria em confisco. Brasília, 6 de dezembro de 1983 —
Ademais, a correção monetária Antônio Carlos de Azevedo Braga,
não se apresenta como meio ade- Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.562 — SP
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mufioz.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: José Teodoro Sil-
vério.
Estupro de uma menor e atentado violento ao pudor nela e em
mais duas menores. Concurso material no que se refere aos crimes
praticados contra vitimas diferentes e continuidade delitiva quanto às
infrações sobre a mesma ofendida. Recurso extraordinário conhecido
em parte e provido.
ACORDA() premo Tribunal Federal, em Primei-
Vistos, relatados e discutidos estes ra Turma, na conformidade da ata
autos, acordam os Ministros do Su- do julgamento e das notas taquigrá-

R.T.J. — 108 889

ficas, por unanimidade de votos, co- Justiça de São Paulo deu provi-
nhecer do recurso, em parte, e, nes- mento para, reconhecendo a con-
sa parte, dar-lhe provimento. tinuidade delitiva, calcular as pe-
Brasília, 28 de novembro de 1983 — nas nos termos do art. 51, § 2?, do
Soares Mufioz, Presidente e Relator. Código Penal, reduzindo-as a 4
(quatro) anos, 4 (quatro) meses
RELATÓRIO e 15 (quinze) dias de reclusão».
O Sr. Ministro Soares Mufloz: Ado- O recorrente sustenta que o ares-
to, como relatório, o parecer da to impugnado incidiu em divergên-
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- cia pretoriana, frente às decisões
ca, verbis: colacionadas às fls. 104/105.
«Cuida-se de apelo manifestado O apelo merece conhecimento e
com argüido suporte na alínea d do parcial provimento.
permissivo constitucional (art. 119, A jurisprudência da Suprema
III, da CF), contra acórdão profe- Corte — como se vê dos arestos in-
rido em caso assim abreviado pelo dicados às fls. 104 — afirma a
recorrente, às fls. 102/103: inadmissibilidade da figura do cri-
— «José Teodoro Silvério foi me continuado; tratando-se de es-
denunciado como incurso uma tupro e atentado violento ao pudor,
vez no art. 213 do Código Penal cometidos contra vitimas diversas.
(estupro cometido contra Eliza- Com efeito, no julgamento do
bete, sua filha menor) e três RECr. n? 91.862-SP (Rel.: Min.
vezes como incurso no art. 214 do Dedo Miranda, v. RTJ 93/1358), a
Código Penal (atentado violento egrégia 2? Turma da Suprema Cor-
ao pudor contra Elizabeth, Edina te proclamou não serem crimes da
e Maria Angela, suas filhas me- mesma espécie, para efeito de
nores), tudo nos termos dos arts. aplicação do § 2? do art. 51 do Códi-
224, letra a, 225, § 1?, II, e 51, go Penal, o estupro e o atentado
caput, do Código Penal. violento ao pudor.
Por sentença do digno Juízo de
Direito de Garça, a acusação foi Na mesma ocasião, também se
julgada procedente In totum, reafirmou ser inviável a continui-
impondo-se ao réu uma vez a pe- dade delitiva nos crimes ofensivos
na do estupro, fixada em 3 anos e a bens personalíssimos, havendo
9 meses de reclusão, ou seja, a mais de uma vitima.
pena mínima com o acréscimo Igual orientação veio a ser ado-
de um quarto previsto no art. tada pela mesma 2? Turma, jul-
226, II, do Código Penal; e três gando o RECr. n? 93.722-SP (Rel.:
vezes a pena do atentado violento Min. Dedo Miranda, in RTJ
ao pudor, fixada, cada uma, em 2 98/1212), confirmando, no tocante à
(dois) anos e 6 (seis) meses de impossibilidade de aplicação do §
reclusão, ou seja, o mínimo co- 2? do art. 51 do C. Penal a casos
minado mais o acréscimo decor- de estupros com vitimas diferen-
rente do art. 226, II. Tornadas de- tes, jurisprudência anteriormente
finitivas, somaram as sanções 11 consolidada na Corte Maior (v.
(onze) anos e 3 (três) meses de RECr. n? 90.835-PR, 2? Turma,
reclusão. Rel.: Min. Moreira Alves, in RTJ
Inconformado, interpôs o réu 96/279; e RECr. n? 82.939-MG, 1?
apelação a que a Egrégia Quarta Turma, Rel.: Min. Eloy da Rocha,
Câmara Criminal do Tribunal de In RTJ 81/551).
890 R.T.J. — 108

Aplicando-se ao caso sob exame pena de 4 (quatro) anos, 4 (quatro)


a orientação acima lembrada, isso meses e 15 (quinze) dias de reclu-
importaria no restabelecimento do são — como incurso no art. 213, c/c
veredicto do primeiro grau, in- o art. 51, § 2?, do C. Penal — acres-
fligindo-se ao réu a pena de onze cida de duas vezes a pena de 2
anos e três meses de reclusão, sen- (dois) anos e 6 (seis) meses de re-
do 3 (três) anos e 9 (nove) meses clusão — como incurso no art. 214,
pelo estupro cometido contra sua c/c o art. 51, caput, do mencionado
filha Elizabeth, acrescida de três diploma — tudo importando no to-
vezes a pena de 2 (dois) anos e 6 tal de 9 (nove) anos, 4 (quatro)
(seis) meses de reclusão, corres- meses e 15 (quinze) dias de reclu-
pondentes ao atentado violento ao são, além das custas processuais»
pudor praticado contra a mesma (fls. 137/140).
Elizabeth e suas irmãs, Édina e E o relatório.
Maria Angela.
Parece-nos, todavia, que os cri- VOTO
mes cometidos contra Elizabeth
devem ser tidos como em continua- O Sr. Ministro Soares Muiloz (Re-
ção, porque, assim não se enten- lator): Pelos fundamentos do pare-
dendo, disso resultaria situação de cer, os quais adoto, conheço em par-
certa incongruência. te do recurso extraordinário dou-lhe
provimento nessa parte para consi-
E que, levando-se em conta a ad- derar, em continuidade delitiva, os
missibilidade de incidência do be- crimes de estupro e atentado violen-
neficio da continuidade entre estu- to ao pudor praticado contra a me-
pros cometidos contra a mesma nor Elizabeth e, em concurso mate-
vitima, isso importaria em admi- rial, as infrações praticadas contra
tir-se que o réu seria mais fa- as duas outras ofendidas. Assim,
voravelmente apenado se, em vez mantida a pena de 3 anos e 9 meses
de estuprar e atentar violentamen- pelo crime de estupro, com a majo-
te contra o pudor de sua filha Eli- ração de um sexto pela continuidade
zabeth, tivesse se conduzido de mo- com o crime de atentado violento ao
do ainda mais reprovável, estu- pudor, ambos contra a menor Eliza-
prando-a por mais de uma vez. beth, o que perfaz a condenação de 4
Não seria, pois, razoável a apli- anos, 4 meses eao 15 dias de reclusão,
cação da lei que importasse em re- correspondente art. 213, c/c o art.
primir mais severamente quem ti- 51, § 2?, do Código Penal, acrescento
a essa reprimenda duas penas de 2
vesse cometido o estupro e um cri- anos
me menos grave (o atentado vio- tes aoedelito 6 meses de reclusão, referen-
do art. 214, c/c o art. 51,
lento ao pudor), do que aquele que, caput, do Código Penal, ou seja, o
ao delinqüir novamente, houvesse mínimo cominado mais
optado pela conduta mais reprová- decorrente do art. 226, II,a pelos
majoração
aten-
vel. tados violentos ao pudor praticados
Diante do exposto, afigura-se-nos contra as outras duas ofendidas, as
viável admitir-se a continuidade menores Edina e Maria Angela. Fi-
delitiva pertinente à conduta do ca, pois, o recorrido condenado a 9
réu, no tocante à sua filha Eliza- anos, 4 meses e 15 dias de reclusão.
beth.
EXTRATO 13A ATA
Somos, por isso, pelo conheci-
mento do recurso e seu parcial RE 100.562-SP — Rel.: Min. Soares
provimento, condenando-se o réu à Muiloz. Recte.: Ministério Público
R.T.J. — 108 891

Estadual. Recdo.: José Teodoro Sil- Oscar Corrêa. Ausente, justificada-


vérlo. (Advs.: Arthur Chekerdemian mente, o Senhor Ministro Néri da
e outro). Silveira. Ausente, licenciado, o Se-
Decisão: Conheceu-se do recurso nhor Ministro Alfredo Buzaid.
extraordinário e se lhe deu provi- Subprocurador-Geral da República,
mento em parte. Decisão unânime. Dr. Francisco de Assis Toledo.
Presidência do Senhor Ministro Brasília, 28 de novembro de 1983 —
Soares Muiioz. Presentes à Sessão os Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Senhores Ministros, Rafael Mayer e Secretário.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.564 — SP
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente: FEPASA — Ferrovia Paulista S/A — Recorridos: Adelina
Athayde e outras.
Funcionalismo. Aposentadoria. Ferroviário. FEPASA. Equipara-
ção. Isonomia.
— Decisão que aplicou aos funcionários aposentados e pensionis-
tas da FEPASA, regidos por estatuto, os reajustes da categoria de
servidores trabalhistas fixados em dissídio coletivo. Tal entendimento
contrata com a Súmula 339, segundo a qual não cabe ao Poder Judiciá-
rio, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servi-
dores públicos sob o fundamento de isonomia. Recurso extraordinário
conhecido e provido.
ACORDA° «Cuida-se de matéria de direito
com prova exclusivamente docu-
Vistos, relatados e discutidos estes mental, que autoriza o julgamento
autos, acordam os Ministros da Pri- de plano.
meira Turma do Supremo Tribunal Malgrado o empenho e zelo de-
Federal, em conformidade com a monstrados pela Ilustre procurado-
ata de julgamentos e notas taquigrá- ra dos Autores, entendo que a ação
ficas, à unanimidade, em- conhecer não merece prosperar.
do recurso e dar-lhe provimento.
Brasília, 18 de novembro de 1983 — Com efeito, os Autores sujeitos
Soares Mtuioz, Presidente — Rafael ao regime estatutário têm os seus
Mayer, Relator. direitos e obrigações definidos pelo
Estatuto, não podendo ser equipa-
rados a outros servidores admiti-
RELATORIO dos pela CLT.
Destarte, em que pese os servi-
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Fun- dores regidos pela CLT tivessem
cionários aposentados e pensionistas sido beneficiados em 1977, com
da Fepasa pleiteiam lhes sejam es- um aumento geral de percentual
tendidos os mesmos percentuais con- maior, não pode o Poder Judiciá-
cedidos aos servidores em atividade, rio, que não tem função legislativa,
em perfeita simetria. majorar os vencimentos dos Auto-
A ação foi julgada improcedente res, para equipará-los aos salários
com essa fundkmentação: daqueles servidores.
892 R.T.J. — 108

De outra parte, conforme deixou «A questão é das mais conheci-


assente o Colendo Terceiro Grupo das e discutidas.
de Câmaras do Egrégio Segundo Os autores, ferroviários aposen-
Tribunal de Alçada Civil (Embar- tados ou pensionistas, querem ob-
gos Infringentes n? 96.252), «o arti- ter a atualização dinâmica e per-
go 193 do Estatuto dos Ferroviários manente dos seus proventos e pen-
só assegura ao aposentado o mes- sões, em simetria com os venci-
mo aumento remuneratório geral mentos atribuídos ao pessoal em
concedido, ainda que por força de atividade.
promoção, aos servidores da ativa
de igual categoria, quando todos A ré, todavia, desde 1977 se nega
integram o mesmo regime jurídico a atendê-los a pretexto de que/eles
de trabalho, ou seja, o estatutário, pretendem auferir as vantagens do
e não quando pertencentes a regi- regime estatutário, com exclusão
mes de natureza diversa, isto é, es- das vantagens do regime trabalhis-
tatutário e trabalhista. E que nos ta, cumuladas com as vantagens
dois regimes, pela própria diversi- do regime trabalhista e exclusão
dade de natureza diversos são os das desvantagens do regime esta-
critérios e vantagens remunerató- tutário.
rios de modo a afastar qualquer A sentença repeliu a pretensão
viabilidade de equiparação para dos autores por entender que a eles
efeito salarial, entre funções de um não é aplicável a legislação traba-
e de outro, ainda que na materiali- lhista. Estão sujeitos ao regime es-
dade de seu exercício possam eles tatutário. Seus direitos e obriga-
corresponder». ções estão definidos pelo Estatuto.
Portanto, os pedidos formulados Não podem ser equiparados a ou-
na vestibular não encontram am- tros servidores admitidos pela
paro legal, vez que os proventos ou CLT.
pensões pleiteados dependem do le- Esta Câmara, em V. e recente
gislador estadual. Não se lhes apli- Acórdão de 22 de setembro de 1981
ca a legislação trabalhista. (Apelação Cível n? 27.769-2 da Co-
Em remate, a jurisprudência co- marca de São Paulo), deixou deci-
lacionada pela Ré em sua respos- dido que, pelos Estatutos dos Fer-
ta é a que melhor se coaduna com roviários, os inativos e os ativos
a hipótese dos autos. são equiparados em relação a to-
Isto posto e considerando o mais dos os reajustes que tenham o ca-
que dos autos consta julgo im- ráter geral. O reajuste que decor-
procedente a presente Ação Ordi- rer de dissídio coletivo é, positiva-
nária movida por Adelina Athay- mente, um reajuste geral, posto
de e outros contra a Fepasa — que abrange todos os servidores da
Ferrovia Paulista S/A, e em con- empresa.
seqüência condeno os Autores no Por outras palavras, sustenta a
pagamento das custas em propor- sentença que os reajustes permis-
ção e honorários advocaticios, ver- sivos da equiparação seriam ape-
ba que, atento às diretrizes traça- nas os decorrentes de ato do gover-
das pelo artigo 20 e seus §§ do no estadual, o controlador da em-
CPC, fixo em 10% sobre o valor presa.
atribuído à causa (fls. 228).» Não é esse o espírito da lei: a
Em juízo de apelação dita senten- equiparação deve ser feita mesmo
ça foi reformada em acórdão do teor que o aumento decorra de outra re-
seguinte: lação contratual.
R.T.J. — 108 89 3

O V. Acórdão, relatado pelo emi- ato do governo estadual, os reajustes


nente Min. Costa Carvalho, citando gerais da categoria de servidores
trecho de uma sentença, admite, in trabalhistas decorrentes de fixação
verbis: «Ora, se o aumento fixado em dissídios coletivos.
no dissídio alcança todos os ferro- Essa equiparação, atendendo áo
viários, exerçam a função que princípio da simetria, se fez indepen-
exerçam, está evidente que alcan- dente do disposto na lei, mas pela in-
çou os sujeitos ao regime consoli- vocação expressa de outras relações
dado ou estatutário, uma vez que de natureza contratual, dizendo-se
todos exercem as mesmas fun- que «se o aumento fixado no dissídio
ções». alcança todos os ferroviários, exer-
Por esses fundamentos, dá-se çam a função que exerçam, está evi-
provimento à apelação para julgar dente que alcançou os sujeitos ao re-
procedente a ação, condenada a gime consolidado ou estatutário,
FEPASA ao pagamento das dife- uma vez que todos exercem a mes-
renças existentes entre o que foi ma função» (fls. 413).
efetivamente pago aos aposentados Sem suporte legal a decisão, como
e pensionistas e o que deveria ter admitido, quando só por lei se pode
sido pago por conta de reajustes cogitar de aumento de proventos de
gerais decorrentes de dissídio cole-
aposentadoria ou de pensões, a car-
tivo, com os acréscimos de juros go do Estado, é curial entender-se
de mora, a contar da citação e so- que o órgão judicante, no caso,
bre as prestações já vencidas an- substituiu-se ao legislador, posição
tes da propositura da ação e de que conflita abertamente com o ver-
mês a mês os relativos às demais bete da Súmula 339, segundo o qual
parcelas, procedendo-se da mesma não cabe ao Poder Judiciário, que
forma em relação à correção mo- não tem função legislativa, aumen-
netária. tar vencimentos de servidores públi-
Custas e honorários advocatícioscos sob o fundamento de isonomia.
de 10% sobre o que ficar apurado Por essa manifesta divergência,
em execução a cargo da ré.» conheço do recurso e dou provimento
Foi interposto recurso extraordiná-para julgar a ação improcedente,
rio pelas letras a e d do permissivo restaurados os termos da respeitável
constitucional, alegando-se violação sentença de primeiro grau.
do art. 102, 2?, da Constituição e
dissídio jurisprudencial com acór- EXTRATO DA ATA
dãos de Tribunais e divergência ma- RE 100.564-SP — Rel.: Min. Rafael
nifesta com as Súmulas 38 e 339. Mayer. Recte.: FEPASA — Ferrovia
Indeferido o recurso, foi entretanto
Paulista S/A (Advs.: Antonio Fer-
processado em virtude da acolhida à nando Costa Rosa e outros). Rec-
arguição de relevância. das.: Adelina Athayde e outras(Adv.:
E o relatório. Nair Fátima Madani).
Decisão: Conheceu-se do recurso
VOTO extraordinário e se lhe deu provi-
mento. Decisão unânime.
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re- Presidência do Senhor Ministro
lator): O venerável acórdão recorri- Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
do, como se vê, fez aplicar aos fun- Senhores Ministros Rafael Mayer e
cionários aposentados e pensionistas Néri da Silveira. Ausente, justifica-
dá Fepasa, regidos por estatuto, com damente, o Senhor Ministro Oscar
proventos fixados em decorrência de Corrêa. Ausente, licenciado, o Se-
894 R.T.J. — 108

nhor Ministro Alfredo Buzaid. Brasilia, 18 de novembro de 1983 —


Subprocurador-Geral da República, Antônio Carlos de Azevedo Braga,
Dr. Francisco de Assis Toledo. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.633 — GO


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: Angela Maria de Oliveira Jardim Recorrido: Emanoel
Torres Jardim.
Separação consensual. Homologação. Lei n? 6.515, de 1977, art. 34
2?.
Acórdão que entende que o juiz, dando pela inconveniência da
convenção aos interesses de uma das partes, pode deixar de homolo-
gar a separação, não afronta qualquer dispositivo de lei federal nem
destoa de jurisprudência preexistente. Antes, garante a exata incidên-
cia do art. 34 2? da Lei do Divórcio.
Recurso extraordinário não conhecido.
ACORDAI) manifestado de forma viciosa, uma
vez que se achava com suas facul-
Vistos, relatados e discutidos estes dades mentais seriamente compro-
autos, acordam os Ministros da Se- metidas, sendo que, em razão dis-
gunda Turma do Supremo Tribunal so, ofereceu pensão alimentícia
Federal, de conformidade com a ata correspondente a Cr$ 30.000,00,
de julgamentos e as notas taquigráfi- quando sua renda mensal liquida é
cas, à unanimidade de votos, não co- inferior a Cr$ 40.000,00.
nhecer do recurso. O cônjuge virago procurou de-
Brasília, 22 de novembro de 1983 — monstrar ser inviável a desistência
piaci Falcão, Presidente — Fran- unilateral do pedido de separação,
cisco Rezelc, Relator. após regularmente ratificado o
acordo, acrescentando que o ates-
RELATORIO tado médico apresentado pelo des-
quitando não o aponta como louco
O Sr. Ministro Francisco Rezek: O varrido e que o desequilíbrio tem-
acórdão recorrido assim descreveu e porário é conseqüência natural de
decidiu a controvérsia ( fls. 86/88): quem enfrenta uma separação, o
«Versam os presentes autos so- que não seria razão para invalidar
bre pedido de separação consen- o ato de vontade manifestado livre-
sual formulado por Emanoel Tor- mente.
res Jardim e sua mulher, dona An- O nobre representante do Mims-
gela Maria de Oliveira Jardim. tério Público, na jurisdição do pri-
Após reduzida a termo a preten- meiro grau, ao manifestar-se sobre
são dos desquitandos, o varão, o ponto central da questão, opinou
através da petição de fls. 13, desis- pela não homologação do acordo,
te da separação amigável e, em por entender que o mesmo não pre-
conseqüência, pede o arquivamen- servou, suficientemente, os interes-
to do processo, afirmando, mais ses do cônjuge varão, o qual, em
tarde, que o seu consentimento foi virtude de não se achar em pleno

R.T.J. — 108 895

gozo de suas razões, comprometeu- Em caso semelhante, assim já


se a dar a seus filhos uma pensão decidiu este Egrégio Tribunal de
pouco Inferior a seus rendimentos. Justiça, ao julgar a apelação cível
n? 13.230 de Anápolis:
O ilustre magistrado processan- «Divórcio. Convenção dos sepa-
te, fulcrado nas disposições do § 2?, rados. Se o Juiz concluir pela in-
do artigo 34, da Lei n? 6.515, de conveniência da convenção aos in-
1977, deixou de homologar o acor- teresses da separação pode deixar
do, ao teor de que, foi estabelecida de homologar o divórcio. Inteligên-
em excesso a pensão destinada aos cia do artigo 34, § 2?, combinado
filhos. com o de n? 40, § 2?, da Lei n?
6.515, de 26-12-77»: (Ac. de 19-5-81,
Penso que razão assiste ao MM. DJE de 27-5-81, pág. 3).
Juiz de Direito, porque a pretensão
inicial se fez com, amparo no que Pois bem, atestou o facultativo
estabelece a Lei n? 6.515, própria à às fls. 32, que o apelante, por épo-
espécie, ante o desencontro mani- ca do ajuizamento da inicial,
festado e existente no bojo dos au- encontrava-se com «distúrbios da
tos dos interesses dos então reque- afetividade, que comprometeram o
rentes, o próprio texto legal permi- pleno gozo de seu equilíbrio emo-
te ao Juiz recusar a homologação cional, ocorrendo, inclusive, confu-
em preservando os direitos dos fi- são mental temporária».
lhos ou então mesmo dos desqui- Ao que tudo indica, razão assiste
tandos. ao referido médico, já que o recor-
rente, com vencimentos inferiores
Se a separação consensual pres- a Cri 50.000,00, comprometeu-se a
supõe a existência de uma compo- contribuir para a criação e educa-
sição de interesses, visando a solu- ção dos dois filhos do casal, com a
ção que ambos os cônjuges bus- soma correspondente a Cri
cam,. dentro do mínimo de com- 30.000,00, reajustada todas as vezes
preensão capaz de pôr termo ao que ocorrer aumento salarial ou de
convívio insustentável, posto que soldos.
os referidos interesses antes de Como se vê, cuida-se de uma
comporem se decompõem em pre- pensão elevadíssima, muito supe-
juízo de um dos interessados, nada rior às possibilidades do alimen-
mais justo, lógico e legal foi o en- tante, afrontando-se o que dispõe o
tendimento judicial apelado, estri- artigo 400, do Código Civil.
bado no texto legal onde, diga-se
de passagem, a ela poderia até A meu ver, o apelante não se en-
mesmo ter chegado de ofício. contrava no gozo de suas razões
quando se comprometeu a pagar
Não há que se falar na aplicação aquela pensão.
da Súmula 305, da jurisprudência Ademais, é bom não perder de
predominante da Excelsa 'Suprema vista que os bens patrimoniais do
Corte, após o regulamento baixa- casal couberam unicamente, à
do, posteriormente a ela, a respei- apelada.
to da dissolução da sociedade con-
jugal; qual deu ao Juiz elementos Assim, não vejo outra alternati-
suficientes e bastantes para, condi- va, senão confirmar a sentença re-
cionado ao meio social em que mi- corrida, pelos seus próprios e
lita, dizer como e porque acolhe ou jurídicos fundamentos.
nega a pretensão daqueles que a Do exposto, conheço da apela-
tal medida ocorrem. ção, mas lhe nego provimento».
896 R.T.J. — 108

Daí o extraordinário, com base zão por que inexiste a imputada


nas alíneas a e d do permissivo cons- afronta à Súmula 305 — mas, sim,
titucional, alegando-se negativa de exclusivamente ao entendimento
vigência dos arts. 34, § 2? da Lei n? de que o ajuste era lesivo aos inte-
6.515, de 1977, e 1.122,§ 1?, in fine, do resses de um dos cônjuges.
Código de Processo Civil, bem como
dissídio da Súmula 305 e de acórdãos Sustenta a Recorrente que,
diversos. ratificado judicialmente o acordo,
não era dado recusar-lhe homolo-
Admitido o recurso (fls. 100/101), a gação e que a autorização conferi-
Procuradoria-Geral da República da pelo § 2? do art. 34 da Lei n?
opina, em parecer da Dra. Anadyr 6.515 veio a conferir, ao art. 122, §
Rodrigues, pelo não-conhecimento 1?, in fine, do CPC, «entendimento
(fls. 123/126). complementativo», porque:
E o relatório. «Se ratificado falece ao juiz po-
VOTO deres para admitir retratação no
que se tornou irretratável, visto
O Sr. Ministro Francisco Reza que deixaria de fazer sentido
(Relator): Diz o parecer do Ministé- aquela faculdade dado ao juiz, de
rio Público Federal (fls. 123/126): 15 a 30 dias de intervalo para que
os pretendentes voltem à ratifi-
«2. Resuma-se a espécie dizen- cação».
do que o V. Acórdão recorrido aco-
lheu a R. sentença de primeira ins- Ora, cotejem-se os dispositi-
tância que negou homologação ao vos sob análise:
acordo de separação consensual, à «Convencendo-se o juiz de que
consideração de que ambos, livremente e sem hesita-
«Se o Juiz concluir pela incon- ções, desejam a separação con-
veniência da convenção aos inte- sensual, mandará reduzir a ter-
resses de uma das partes, poderá mo as declarações e, depois de
deixar de homologar a separação ouvir o Ministério Público no
(inteligência do § 2?, art. 34, da prazo de cinco (5) dias, o homo-
Lei n? 6.515, de 1977)» (fls. 89). logará, em caso contrário,
O apelo extremo faz confusão marcar-lhes-á dia e hora, com
entre irretratabilidade unilateral quinze (15) a trinta (30) dias de
do acordo e homologação do mes- intervalo, para que voltem, a fim
mo, talvez porque a R. sentença de de ratificar o pedido de separa-
primeiro grau seguiu-se à desistên- ção consensual». (§ 1? do art.
cia manifestada pelo cônjuge va- 1.122 do CPC).
rão a fls. 13. «O juiz pode recusar a homolo-
Veja-se no entanto, que o gação e não decretar a separa-
MM. Juizo monocrático — apoiado ção judicial, se comprovar que a
pelo E. Tribunal a quo — rechaçou convenção não preserva suficien-
o pedido de desistência: temente os interesses dos filhos
«Portanto, a desistência formu- ou de um dos cônjuges» (§ 2? do
lada às fls. 13 não encontra a art. 34 da Lei n? 6.515, de 1977).
mínima possibilidade jurídica» 8. Parece evidente que a dispo-
(fls. 49). sição contida na chamada Lei do
5. Fica claro, então, que a ne- Divórcio, advinda posteriormente
gativa de homologação do acordo ao Código de Processo Civil, cons-
não se deveu à Desistência — ra- titui inovação legislativa.

R.T.J. — 108 897

Assim, se antes da Lei n? c) em todos os casos confron-


6.515, de 1977, ao Juiz só era permi- tados, não se fez a demonstração
tido verificar a presença da livre analítica exigida pelo art. 322 do
manifestação de vontade dos côn- Regimento Interno e pela Súmula
juges, já depois do seu advento 291.
facultou-se-lhe também sopesar os 13. O parecer é, por conseguin-
interesses e as conveniências dos te, de que o Recurso Extraordiná-
filhos e dos cônjuges e condicionar rio não comporta conhecimento».
a homologação do acordo à sua
preservação. Estimando perfeita a sua funda-
mentação, adoto-a para não conhe-
E foi o que ocorreu, no caso cer do extraordinário.
dos autos: embora desse o E. Tri- Conforme assinalou a
bunal a quo pela presença da livre Procuradoria-Geral, o acórdão re-
manifestação de vontade — tanto é corrido, reconhecendo a ocorrência
que acolheu a R. decisão de pri- de lesão aos interesses de um cônju-
meira instância que repudiara a ge, confirmou a negativa de homolo-
serôdia desistência unilateral —, gação ao acordo. Assim fazendo,
ao mesmo tempo constatou lesão agiu nos estritos termos do § 2? do
aos interesses de um dos cônjuges art. 34 da Lei n? 6.515.
e, só por isso, negou homologação
ao acordo. Infundada, por outra parte, é a
alegação de divergência da Súmula
Fê-lo legitimamente, em fa- 305. Não foi à conta de retratação
ce do poder — dever introduzido unilateral, mas do entendimento ju-
pelo § 2? do art. 34 da Lei n? 6.515, dicial acerca do acordo em exame,
de 1977, e, especialmente, com ba- que o Tribunal de Justiça abonou a
se nas provas produzidas, soberano recusa da chancela homologatória.
que é, no seu exame (Súmula 279), Não conheço do extraordinário.
motivo pelo qual torna-se irrefor-
mável o V. Acórdão recorrido.
Inexistente, desta forma, EXTRATO DA ATA
qualquer violação à lei federal,
afigura-se também inocorrente o
dissídio jurisprudenclal argüido, RE 100.633-GO — Rel.: Min. Fran-
visto como: cisco Rezek. Recte.: Angela Maria
os arestos de fls. 73/94, de Oliveira Jardim (Advs.: Adahyl
94/95 promanam do mesmo Tri- Lourenço Dias e outros). Recdo.:
bunal, o que impede o conheci- Emanoel Torres Jardim (Advs.:
mento do recurso último sob tal Paulo Jaime Filho e outros).
titulo, a teor da Súmula 369; Decisão: Não conhecido. Unânime.
os arestos de fls. 95 (RTJ Presidência do Senhor Ministro
46/407) e 95/96 (RTJ 70/366) têm Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
por tema a irretratabilidade uni- Senhores Ministros Moreira Alves,
lateral do acordo, o que, como Decio Miranda, Aldir Passarinho e
exposto, não é objeto de cogita- Francisco Rezek. Subprocurador-
ção pelo V. Acórdão recorrido, já Geral da República, Dr. Francisco
que expressamente refutou a de- de Assis Toledo.
sistência manifestada e por ou- Brasília, 22 de novembro de 1983 —
tros fundamentos negou homolo- Hélio Francisco Marques, Secretá-
gação ao ajuste; rio.
898 R.T.J. — 108

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.714 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente. Instituto Nacional de Previdência Social — INPS — Recorri-
do: Isaias Maximiano Santana (P/Curador).
Recurso extraordinário. Acidente do trabalho. Questão constitu-
cional. Prequestionamento.
— A simples menção genérica a mandamentos constitucionais,
constante no acórdão transcrito no relatório, não constitui embasa-
mento constitucional, de modo a excepcionar o óbice regimental à
viabilidade do recurso extraordinário. Recurso Extraordinário não
conhecido.
ACORDÃO Apelou o réu, reiterando pedido
de improcedência, posto que a lei
Vistos, relatados e discutidos estes não prevê, para a espécie, be-
autos, acordam os Ministros da Pri- neficio por incapacidade parcial.
meira Turma do Supremo Tribunal
Federal, em conformidade, com a Subsidiariamente, pretende que,
ata de julgamentos e notas taquigrá- em lugar do auxilio-acidente, seja
ficas, à unanimidade, em não conhe- deferido auxilio suplementar, des-
cer do recurso. de a data do laudo, e que o cálculo
se faça em função de 75% (setenta
Brasília, 11 de novembro de 1983 — e cinco por cento) do salário mini-
Soares Muãoz, Presidente — Rafael I110.
Mayer, Relator.
Em recurso adesivo, o autor al-
meja que a base de cálculo seja o
RELATORIO salário de contribuição, devida-
mente corrigido, ou pelo menos, o
mínimo legal, sem qualquer dedu-
O Sr.Ministro Rafael Mayer: Apre- ção.
sento, como relatório, o inteiro teor
do venerável acórdão recorrido, on- Colheram-se respostas, opinando
de se têm os elementos informativos a Douta Procuradoria em favor
sobre a causa e as razões de decidir, do provimento parcial às irresigna-
in verbis: ções.
«O magistrado julgou procedente Aliada aos documentos (fls. 5 e
ação acidentaria movida por tra- 7/10), a prova oral (fls. 35) torna
balhador rural, condenando o INPS certo que do infortúnio resultaram
a pagar, desde a data do infortúnio as lesões diagnosticadas nos lau-
(12-7-76), auxílio-acidente de 30% dos.
(trinta por cento) calculado sobre
o mínimo legal, deduzida a contri- Também não se justifica a obje-
buição previdenciária, além de ju- ção ao percentual incapacitante,
ros de mora, despesas de condução pois o acidente ocorreu sob a égide
do meirinho e salários periciais. da Lei n? 5.316/67. Ali se previa be-
Sem honorários, porque o obreiro nefício de 30% (trinta por cento)
foi assistido pelo Dr. Curador. quando o obreiro continuasse a

R.T.J. — 108 899

exercer a mesma atividade; análo- 6.195/74. Em conseqüência, se, à


go, portanto, em última análise, ao força daquele diploma, a aposenta-
auxílio suplementar estabelecido doria equivale a 75% (setenta e
na lei vigente. cinco por cento) do maior salário
mínimo vigente no pais, e se o
Sob pena de ofensa a mándamen- auxilio-acidente corresponde sem-
tos constitucionais, o legislador or- pre a determinado percentual so-
dinário evidentemente não poderia bre o valor da aposentadoria, o be-
deixar sem proteção acidentária neficio, no caso, deve ser igual a
determinada categoria de traba- 30% (trinta por cento) de 3/4 (três
lhadores. Nem poderia discrimi- quartos) do maior salário mínimo
nar, conferindo a uns também a vigente à data do pagamento.
reparação por incapacidade par-
cial e a outros apenas a aposenta- Por outro lado, porém, não se
doria. justifica a dedução da contribuição
Bem por Isso, no silêncio da Lei previdenciária, pois a isso não se
n? 6.195/74, lícita a invocação das reporta a Lei n? 5.316/67, invocável
Leis n?s 5.317/67 e 6.367/76, diplo- na espécie (artigos 6?, II e 7?).
mas genéricos em matéria aciden-
tária. Vale esclarecer que, alterada a
data de vigência do beneficio, os
Da incapacidade, não se pode du- juros de mora recaem mês a mês
vidar, posto que apontada redução sobre as parcelas, à medida em
em grau médio nos movimentos que se tornaram devidas.
articulares do cotovelo direito e
atrofia da musculatura (fls. 27/29). Com os fundamentos expostos,
dá-se provimento parcial aos re-
Foi bem decretada, portanto, a cursos, para determinar que o
procedência da ação, com deferi- auxílio-acidente, devido só a partir
mento de auxilio-acidente de 30% da citação, seja calculado sobre
(trinta por cento). 75% (setenta e cinco por cento) do
maior salário mínimo vigente no
Não pode este, todavia, vigorar pais à data do pagamento, sem
desde a data do infortúnio. O autor qualquer outra dedução.»
por certo esteve em tratamento e,
ao menos em tese, poderia ter-se Contra esse decisório, o INPS, in-
recuperado plenamente. Como não terpôs recurso extraordinário pela
se evidenciou a duração de even- letra a, invocando sua contrariedade
tual afastamento, o termo inicial ao art. 153, g 2? e 165, parágrafo úni-
do benefício, na espécie, há de ser co da Constituição, bem assim nega-
a data da citação inicial (fls. 12v?). tiva de vigência da Lei n? 6.195/74,
porque estendeu a ruricola benefício
Urge retificar, outrossim, a base unicamente pertinente ao trabalha-
de cálculo. Com efeito, nada impe- dor urbano, sem a indispensável fon-
de que, garantindo, a todos os tra- te de custeio, proposta também a ar-
balhadores, o seguro acidentário, güição de relevância da questão fe-
«o legislador ordinário estabeleça deral.
diferenças no tocante ao percen-
tual correspondente à incapacida- O recurso extraordinário foi admi-
de plena ou à respectiva base de tido e regularmente processado, não
Incidência. processada todavia a argüição de
Em suma: naquilo em que é es- relevância.
pecífica, deve aplicar-se a Lei n? E o relatório.
900 R.T.J. — 108

VOTO via de acesso, no caso, haveria de


ser definida e concludente, pois so-
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re- mente por ela se teria de decidir o
lator): Limitado o recurso à ocorrên- recurso extraordinário, haja vista
cia de questão constitucional, haja que inserviveis a invocação de nega-
vista a norma regimental impeditiva tiva da lei, e o dissídio jurispruden-
do acesso extraordinário da espécie, cial, ainda que neste se revele um
por sua natureza acidentaria, o ve- frontal e contundente desapreço pa-
nerável despacho deferitório deu-a ra com o entendimento da Corte, em
como verificada, pois embora admi- inúmeros precedentes.
tindo a falta de prequestionamento,
tanto na apelação da autarquia, Recai-se, portanto, na exigência
quanto no acórdão recorrido, cuidou indeclinável de prequestionamento,
que «a falta de prequestionamento, que não houve, para propiciar o re-
via de regra, não tem sido conside- curso que resta, assim, obstado. Es-
rada como entrave absoluto ao co- cusar a exigência por amor ao pre-
nhecimento do recurso extraordiná- valecimento da jurisprudência do
rio, em casos tais, conforme se veri- Supremo Tribunal implicaria des-
fica dos veneráveis julgados acima cumprir o preceito e incorrer em
citados» (fls. 87). tratamento favorável ao órgão públi-
co, o que é incomportável.
Todavia, a perspectiva do douto
despacho, com relação aos preceden- Pelo exposto, não conheço do re-
tes da Corte que servem, no recurso, curso.
de paradigmas, não foi posta de mo-
do igual no argumento da Recorren-
te, que se cinge a invocar a ofensa EXTRATO DA ATA
aos arts. 153, 2? e 165, parág. único
da Constituição.
Entretanto, certo é que tais dispo- RE 100.714-SP — Rel.: Min. Rafael
sitivos não foram prequestionados. Mayer. Recte.: Instituto Nacional de
Não se trata da exigência feitichista Previdência Social — INPS. (Advs.:
de uma referência aos próprios arti- Vera Regina de Souza Rodrigues e
gos numerados, mas é a própria ma- outro). Recdo.: Isaías Maximiano
téria, neles regulada, que deixou de Santana (P/Curador).
ser equacionada no acórdão recorri-
do, em um quadro pertinente ao or- Decisão: Não se conheceu do re-
denamento constitucional. curso extraordinário. Decisão unâni-
me.
Cuido que a simples menção gené- Presidência do Senhor Ministro
rica a mandamentos constitucionais, Soares Mufloz. Presentes à Sessão os
constante no Acórdão transcrito no Senhores Ministros, Rafael Mayer,
relatório, não é de molde a embasar Néri da Silveira e Oscar Corrêa —
uma questão constitucional. Mas se Ausente, licenciado, o Senhor Minis-
o fosse, os seus dizeres não teriam tro Alfredo Buzaid — Subprocura-
decerto correspondência com o man- dor-Geral da República, Dr. Francis-
damento contido nos incisos invoca- co de Assis Toledo.
dos.
Brasília, 11 de novembro de 1983 —
Excepcionante do óbice regimen- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
tal, a questão constitucional, única Secretário.
R.T.J. 108 901

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 100.716 — SP


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Soares Mufioz.
Recorrentes: Angelina Ferreira Pinho e outros — Recorrido: Juiz da Pri-
meira Vara Distrital de Pinheiros.
Inventário. Honorários Advocatielos.
— Havendo herdeiros ausentes e menores, os honorários contra-
tados pelo inventariante com seu advogado devem ser aprovados pelo
Juiz. Em relação a esses herdeiros, a dedução feita pelo inventariante
é Irregular e, contra eles, não pode prevalecer. Recurso extraordiná-
rio não conhecido.
ACÓRDÃO tras a e d, da Constituição da Re-
pública, alegando violação dos ar-
Vistos, relatados e discutidos estes tigos 1.290 do Código Civil; 96 da
autos, acordam os Ministros do Su- Lei Federal n? 4.215/63 e 25 do Có-
premo Tribunal Federal em Primei- digo de Processo Civil. Para de-
ra Turma, na conformidade da ata monstrar a divergência jurispru-
do julgamento e das notas taquigrá- dencial, aponta acórdãos deste Tri-
ficas, por unanimidade de votos, não bunal e da Colenda Suprema Corte
conhecer do recurso. (fls. 93/98).
Brasília, 14 de outubro de 1983 — A Procuradoria-Geral da Justi-
Soares Mudos, Presidente e Relator. ça, pelo parecer de fls. 100/103,
opina pelo deferimento.
RELATÓRIO 2. Inviável o apelo extremo.
A irresignação volta-se contra o
O Sr. Ministro Soares Muãoz: O acórdão atacado, imputando-lhe
despacho do ilustre Desembargador ofensa a preceitos de leis ordiná-
Heraclides Batalha Camargo, 3? rias, porque contidos no Código Ci-
Vice-Presidente do Tribunal de Jus- vil, no Estatuto da Ordem dos Ad-
tiça de São Paulo, que não admitiu o vogados do Brasil, e no Código de
recurso extraordinário assim expôs Processo Civil.
a questão: Mas, nenhum gravame sofreram
«1. Contra despacho que recu- as disposições invocadas.
sou o desconto, do monte-mor, de O artigo 1.290 e seu parágrafo
Importância para pagamento de único, do Código Civil, dispondo so-
honorários de advogado e de salá- bre a onerosidade do mandato, não
rios de perito avaliador, a inventa- foram contrariados pelo aresto im-
riante interpôs agravo de instru- pugnado, que não negou pagamen-
mento, sendo mantido o despacho to aos advogados e perito. Apenas
(fl. 81). assentou que esse ônus não deveria
A Egrégia Terceira Câmara Ci- recair sobre os quinhões dos her-
vil deste Tribunal, por votação deiros ausente e menor. O mesmo
unânime, negou provimento ao re- também pode ser dito quanto ao
curso (fls. 90/91). preceito do Estatuto da OAB, a Lei
Inconformado, os vencidos re- Federal n? 4.215/63.
correm extraordinariamente, com Já no que se refere ao artigo 25
apoio no artigo 119, inciso III, le- da Lei Processual Civil, faltou o
902 R.T.J. — 108

prequestionamento da matéria, dicados no recurso extraordinário,


pois o acórdão recorrido não ba- quer no concernente à falta de confi-
seou suas conclusões na norma in- guração da alegada divergência ju-
vocada. E não tendo sido ofereci- risprudencial.
dos embargos declaratórios, tardia
a assertiva de infringência, além Em verdade, o art. 1.290 e seu pa-
do que inservivel para a abertura rágrafo único, do Código Civil, dis-
da via excepcional (Súmulas 282 e pondo sobre a onerosidade do man-
356). dato, não foram contrariados pelo
acórdão recorrido. E o art. 25 do
Relativamente ao dissídio preto- mesmo diploma legal não se acha
riano, importa notar que os recor- prequestionado (Súmulas 282 e 356).
rentes apenas indicaram um acór-
dão da Colenda Suprema Corte, Relativamente à divergência juris-
aquele publicado na Revista Fo- prudencial, não a comprovou a peti-
rense, vol. 155, pág. 188, já que a ção recursal, visto que a hipótese de-
referência a aresto deste Tribunal cidida no paradigma não apresenta
não basta para a compro9ção da identidade nem semelhança com o
divergência jurisprudencial. aresto ora recorrido. Não foram con-
E quanto ao primeiro, essa indi- sideradas no precedente as razões de
cação se fez de forma deficiente, decidir do acórdão ora recorrido,
sem atender ao que dispõe o art. verbis:
322, do Regimento Interno do Su- «Havendo herdeiros ausentes e
premo Tribunal Federal. Não há menores, era de rigor a prévia
análise comparativa dos textos das aprovação, pelo Juiz, dos contratos
decisões e sem o confronto, omiti- de honorários e salariais. Assim
do, não há como se verificar a dis- sendo, no tocante a esses herdei-
cordância das conclusões. Assim ros, a dedução feita pela inventa-
caso é de aplicar-se a Súmula n? riante foi irregular e contra eles
291. não pode prevalecer» (fl. 91).
3. Em conseqüência, indefiro o
processamento do recurso extraor- Ante o exposto, não conheço do re-
dinário» (fls. 105/107). curso extraordinário.
Determinei a subida, para melhor
exame, do recurso extraordinário,
provendo o agravo de instrumento. EXTRATO DA ATA
É o relatório.
RE 100.716-SP — Rel.: Min. Soares
VOTO Mtuloz. Recte.: Angelina Ferreira
Pinho e outros. (Advs.: Antonio Ge-
O Sr. Ministro Soares Mtuloz (Re- raldo de Castro e Silva e outros).
lator): Em principio, os honorários Recdo.: Juiz da Primeira Vara Dis-
do advogado contratado pelo inven- trital de Pinheiros.
tariante constituem encargos de to- Decisão: Não se conheceu do re-
dos os herdeiros. Daí a razão por curso extraordinário. Decisão unâni-
que dei provimento ao agravo de ins- me.
trumento.
Entretanto, assiste razão ao despa- Presidência do Senhor Ministro
cho denegatório do recurso extraor- Soares Mulloz. Presentes à Sessão os
dinário, quer no tocante à inocorrên- Senhores Ministros Rafael Mayer,
cia de vulneração dos dispositivos in- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e

R.T.J. — 108 903

Oscar Corrêa — Subprocurador- Brasília, 14 de outubro de 1983 —


Geral da República, Dr. Francisco Antônio Carlos de Azevedo Braga,
de Assis Toledo. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.729 — SC


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.
Recorrente: Prefeitura Municipal de São Miguel do Oeste — Recorridos:
Airton Jonas Festugatto e outros.
Tributação municipal.
Taxas de coleta de lixo, limpeza pública, conservação de calça-
mento e iluminação pública. Base de cálculo identificável à que cor-
responde a certo imposto. Inconstitucionalidade declarada na origem.
Recurso extraordinário não conhecido, por não caracterizada a
afronta ao art. 77 do CTN, nem tampouco o dissídio na juris-
prudência.
ACÓRDÃO territorial urbano, e das taxas referi-
das, o mesmo elemento, qual seja a
Vistos, relatados e discutidos estes unidade metro.
autos, acordam os Ministros da Se-
gunda Turma do Supremo Tribunal deEm grau de apelação o Tribunal
Justiça, na sua composição plená-
Federal de conformidade com a ata ria, e por unanimidade, julgou in-
de julgamentos e as notas taquigráfi-
cas, à unanimidade de votos, não co- constitucionais os arts. 59, 64, 69 e
74-§ 2? da Lei Municipal n? 1.261/80
nhecer do recurso. de São Miguel do Oeste.
Brasília, 18 de novembro de 1983 —
Djaci Falcão, Presidente — Fran- Destaco parte da fundamentação
cisco Rezek, Relator. do acórdão impugnado (fls. 314/316):
«Quanto ao ato hostilizado, ve-
RELATÓRIO rifica-se que arts. 59, 64, 69 e 74,
§ 2?, todos do Código Tributário
O Sr. Ministro Francisco Rezek: Municipal (Lei n? 1.261 de 28-10-
Cuida-se, na espécie, de mandado de 80), que fixam as bases dos cálcu-
segurança contra a cobrança das ta- los das taxas de coleta de lixo, lim-
peza pública, conservação de cal-
xas de coleta de lixo, de limpeza pú- çamento e iluminação pública, res-
blica, conservação de calçamento e pectivamente, mencionam, como
iluminação pública, instituídas pelo elemento preponderante para a
Município de São Miguel do Oeste, apuração daqueles tributos, a uni-
em Santa Catarina. dade metro.
A sentença de primeiro grau con-
cedeu a segurança, por entender que de se salientar, também, que
a Lei Municipal n? 1.261, de 1980, fe- para o cálculo do IPTU, é levado
riu o § 2? do art. 18 da Carta de 1969 em consideração o metro, como
e o parágrafo único do art. 77 do Có- parâmetro da medida, conforme
digo Tributário Nacional, pois elegeu está estatuído no art. 11 da Lei Mu-
base de cálculo do imposto predial e nicipal n? 1.261/80.
904 R.T.J. — 108

O Código Tributário Nacional, no acórdão negou vigência ao parágrafo


parágrafo único do art. 77 — assim único do art. 77 do CTN, além de di-
dispõe: vergir de aresto do Tribunal de Alça-
da Civil de São Paulo.
«A taxa não pode ter base de cál-
culo ou fato gerador idênticos aos Alega o Município, em resumo,
que correspondam a imposto, nem que «não existe identidade entre a
ser calculada em função do capital base de cálculo das taxas em tela e
das empresas». a do Imposto Predial e Territorial
Estipula o § 2? do art. 18 da Urbano vez que, para aquelas leva-
emenda constitucional n? 1 de 1969: se em consideração o número de
metros lineares de testado -Ou a área
«Para a cobrança de taxas não edificada e para este o valor venal
se poderá tomar como base de cál- do imóvel, a fim de se apurar o va-
culo a que tenha servido para a in- lor do imposto devido». (fls. 330).
cidência dos impostos».
Foi admitido o processamento do
A respeito do assunto o STF Já se extraordinário (fls. 339/344).
manifestou:
Diz o Ministério Público Federal,
«Insubsistência por inconstitucio- em parecer da Dra. Edylcéa de Pau-
nal, de preceito do Código Tributá- la (fls. 372/373):
rio Municipal, que instituiu como
base de cálculo da taxa o valor do «Incensurável o aresto impugna-
imóvel que é base para incidência do, que colocou em seus devidos
de imposto» (RTJ 89/671). termos a inconstitucionalidade da
cobrança dos tributos.
No mesmo sentido, RTJ n?s
59/799 — 90/521 — 92/874 — 94/342. Não se vislumbram bases de cál-
Também o Tribunal de Justiça culo distintas, como entendeu o
de Santa Catarina, em acórdão da despacho deferitório de seguimento
lavra do eminente Des. HNio Mosi- deste apelo.
mann, em caso semelhante, assim
prelecionou: A base de cálculo de um tributo
subsume-se na descrição legal de
«Mandado de Segurança. Taxa um padrão ou unidade de referên-
de serviços gerais instituída pelo cia, para posteriormente possibili-
Estado. Cobrança indevida. Segu- tar a quantificação da grandeza do
rança concedida. Decisão em ree- fato tributário.
xame confirmada.
«E vedada a cobrança de taxas Não é espelho de critério concre-
que tomam por base de cálculo o to, que resultaria em base calcula-
que tinha servido para a incidência da, mas de critério abstrato, gené-
do imposto» (JC ano 1979 — vol. 26 rico de mensuração da realidade.
pág. 58).
Ora, in casu, o padrão é o metro,
A sentença, por isso, deve ser a que se reportam também todas
confirmada». as unidades de referência, contidas
na lei municipal, o que implica em
Dai o recurso extraordinário, esco- tornar as taxas instituídas, incons-
rado nas alíneas a e d do permissivo titucionais, em razão de terem a
constitucional, sustentando que o mesma base de cálculo de imposto.

R.T.J. — 108 905

Não comprovada, pois, a ofensa calçamento (art. 69); de iluminação


ã Constituição Federal. pública (art. 74, § 2?), o Código Tri-
Os arestos trazidos a confronto butário Municipal fixa como elemen-
para demonstrar o dissídio preto- to principal para sua apuração o nú-
riano não atendem às exigências mero de metros lineares de testada
do art. 322 do RI/STF e do verbete ou a área edificada.
da Súmula 291. Verifica-se que tanto para o cálcu-
Pelo não conhecimento do apelo lo das taxas, quanto para o cálculo
extremo». do IPTU, foi levado em consideração
o imóvel urbano, calculados os tribu-
E o relatório. tos em função de sua área, e tomado
como parãmetro de medida o metro.
VOTO O Código Tributário Nacional, no
seu artigo 77, determina que «a taxa
não pode ter base de cálculo ou fato
O Sr. Ministro Francisco Reze& gerador idênticos aos que correspon-
(Relator): A recorrente sustenta, no dam a imposto», e para que este dis-
seu apelo extremo, que a base de positivo legal tenha aplicação não é
cálculo das taxas em discussão e a essencial que as bases de cálculo se-
do imposto predial e territorial urba- jam exatamente idênticas, mas que
no não é a mesma. O Código Tribu- o critério adotado para a taxa se
tário do Município de São Miguel do confunda com o critério já adotado
Oeste, dispondo sobre a base de cál- para o imposto.
culo do IPTU, diz:
«Art. 10. O imposto, devido O Supremo Tribunal julgou inúme-
anualmente, será calculado sobre o ros precedentes relativos a Taxa de
valor venal do bem imóvel. Conservação de Estradas de Roda-
gem, que se assemelham ao caso ora
Art. 11. O valor venal do bem em discussão. Transcrevo o voto do
imóvel será determinado: Ministro Cordeiro Guerra, no RE n?
78.701:
I — Tratando-se de prédio, pelo
valor das construções, obtido atra- «Poucos assuntos fiscais, afora
vés da multiplicação da área cons- os impostos, têm suscitado tantos
truída pelo valor unitário de metro julgados no Brasil, quanto o de Ta-
quadrado equivalente ao tipo e ao xas, observa o eminente Ministro
padrão da construção, aplicados os Aliomar Baleeiro, em seu livro
fatores de correção, somado ao va- Direito Tributário Nacional (6° ed.,
lor do terreno, ou de sua parte pág. 297), salientando que o Pro-
ideal, obtido nas condições fixadas fessor Bento Bugarin, em sua mo-
no inciso seguinte; nografia, arrola cerca de 200 julga-
II — Tratando-se de terreno, pe- dos do Supremo Tribunal Federal e
la multiplicação de sua área pelo de Tribunais Estaduais sobre a
valor unitário de metro quadrado matéria.
de terreno, aplicados os fatores de
correção». Ninguém discute a legitimidade
da cobrança de Taxa pela utiliza-
Já no que se refere às taxas de co- ção de serviço público prestado ao
leta de lixo (art. 59); de limpeza pú- contribuinte ou posto à sua disposi-
blica (art. 64); de conservação de ção.
906 R.T.J. — 108

O que se controverte na espécie, competência da União Federal,


é a admissibilidade do critério de art. 21, III, da Emenda Constitu-
cobrança que toma por base o nú- cional n? 1, de 17-10-69.
mero de hectares dos imóveis be-
neficiados. Aliás, igual orientação foi toma-
da pelo Plenário nos RE n?s 76.807
A esse respeito, em 24-10-74, o e RE n? 77.181, em 4-9-74, e no
Tribunal Pleno, ao julgar o RE n? RE n? 66.231, de 29-5-69 (RTJ
69.175, de São Paulo, em grau de 51/445/447) como pôs em relevo o
embargos (recorrentes, Santo Ber- eminente Ministro Eloy da Rocha
nardelli e outros, recorrida Prefei- em seu voto, em que data venta,
tura Municipal de Valparaíso) — me louvo nesta oportunidade».
assim decidiu, sendo relator o emi- ( RTJ 73/581)
nente Ministro Eloy da Rocha: Não vejo, pelo que disse, afronta
ao direito federal no acórdão impug-
«Ementa: Taxa de conservação nado. Pela letra d, também não me-
de. estradas de rodagem, criada rece conhecimento o recurso, à vista
pelo Código Tributário Munici- de não estar devidamente comprova-
pal, devida pelos proprietários ou do o dissídio jurisprudencial. O único
possuidores, a qualquer título, de aresto invocado pela recorrente não
imóveis rurais beneficiados, dire- se presta, como observou o Ministé-
ta ou indiretamente, por serviços rio Público, ao pretendido confronto,
destinados à conservação de ro- por equacionar questão diversa. Não
dovias municipais; aliquota em conheço do extraordinário.
base percentual do salário míni-
mo regional, por alqueire do imó-
vel beneficiado. Incidência, na
realidade, sobre a propriedade EXTRATO DA ATA
territorial rural, cuja tributação
é da competência da União Fede-
ral. Aplicação do art. 77, pará- RE 100.729-SC — Rel.: Min. Fran-
grafo único, do CTN e do art. 19, cisco Rezek. Recte.: Prefeitura Mu-
§ 2?, da Constituição Federal de nicip al de São Miguel do Oeste
1967, a que corresponde atual- (Advs.: Antonio Fernando de Alcân-
mente, o art. 18, § 2?, da Emenda tara Athayde Júnior e outro). Rec-
Constitucional ri? 1, de 17-10-69. dos.: Airton Jonas Festugatto e ou-
Recurso extraordinário conheci- tros. (Advs.: Victor Natal Gevaerd e
do e provido». outro).
Decisão: Não conhecido. Unâni-
Substitua-se alqueire por hecta- me. Ausente, ocasionalmente, o Se-
res, e tem perfeita aplicação á es- nhor Ministro Moreira Alves.
pécie, o julgado do Tribunal Pleno. Presidênçia do Senhor Ministro
Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
Conheço do recurso e lhe dou Senhores Ministros Decio Miranda,
provimento, para conceder a segu- Aldir Passarinho e Francisco Rezek.
rança tendo em vista o art. 77, pa- Ausente, ocasionalmente, o Senhor
rágrafo único, do CTN, e o art. 18, Ministro Moreira Alves. Subprocura-
§ 2?, da Emenda Constitucional n? dor-Geral da República, Dr. Mauro
1. Leite Soares.
A impugnada Taxa incide, na Brasília 18 de novembro de 1983 —
realidade, sobre a propriedade ter- Hélio Francisco Marques, Secretá-
ritorial rural, cuja tributação é da rio.
R.T.J. — 108 907

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.747 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.
Recorrente: Cia. de Tecidos José Gitti — Recorrido: Estado de São Pau-
lo.
Processual. Tributário. ICM. Lei Estadual n? 440/74, do Estado de
São Paulo. Acréscimo do artigo 87 a título de mora.
Pressupostos do recurso extraordinário: inocorrência.
Embora seja certo que o Sup remo Tribunal Federal, pelo seu Ple-
nário, já declarou ser inconstitucional o acréscimo previsto no art. 87
da Lei Estadual n? 440/74, de São Paulo, ao ensejo do julgamento clã
RE 97.718 (D.I de 24.6.83), não é de conhecer-se, preliminarmente, do
recurso extraordinário interposto pela firma contribuinte se o valor
da causa não atinge a alçada regimental (art. 325, VIII, do RI/STF),
e os dispositivos constitucionais que ensejaram fosse o óbice ultrapas-
sado não foram objeto de prequestionamento (Súmulas n?s 282 e 356).
ACÓRDÃO «A denúncia de omissão de lan-
çamento ignora o autolançamento,
Vistos, relatados e discutidos estes adotado entre nós na sistemática
autos, acordam os Ministros do Su- do ICM (art. 150 do CTN), que não
premo Tribunal Federal, por sua Se- elimina a atividade administrativa
gunda Turma, na conformidade da (cf. Ruy Barbosa Nogueira —
ata de Julgamento e das notas taqui- Curso de Dir. Tributário, 4? ed.,
gráficas, por unanimidade de votos, pág. 198) e que no caso concreto foi
não conhecer do recurso. rigorosamente observado. O proce-
Brasília, 21 de outubro de 1983 — dimento administrativo reclamado
Djaci Falcão, Presidente — Aldir pela apelante é mesmo dispensável
Passarinho, Relator. nessas hipóteses, como de tranqüi-
lo entendimento (RE 84.995; Apela-
ções Cíveis n?s 121-2, 1.939-2, 4.278-
RELATÓRIO 2, 6.886-2, 7.653-2 e 12.414-2, dentre
muitas outras, desta Nona Câma-
ra, com o mesmo relator deste
O Sr. Ministro Aldir Passarinho acórdão), sendo que, como repeti-
(Relator): Companhia de Tecidos Jo- damente afirmado nesses julgados,
sé Gitti opôs embargos à execução a inscrição da divida declarada pe-
que lhe move a Fazenda do Estado lo próprio contribuinte equivale a
de São Paulo, alegando vicio formal homologação a que se refere a lei
da inscrição da dívida, pela falta de que exige homologação, significan-
homologação, bem como insurgindo- do aceitação, expressa mas não so-
se contra o acréscimo, instituído pe- lene.
la Lei Estadual n? 440/74, multa e a
correção monetária, exigidos sobre O acréscimo moratório do art. 87
ICM declarado e não pago. da Lei Estadual n? 440, de 1974,
tem induvidosa legitimidade, na
O v. acórdão recorrido, ao manter linha de indiscrepante jurisprudên-
a sentença monocrática que julgou cia (STF, Ag. n? 82.673-4-SP, Rel.:
improcedentes os embargos à execu- Min. Firmino Paz, DJU de 15-9-81,
ção, assim se pronunciou, verbis: pág. 8.961, cit. RE n? 87.755, DJU de
908 R.T.J. — 108

17-10-77, Ag. n? 76.556, DJU de 26-6- Veio a ser, porém, acolhido o pedi-
79, Ag. n? 79.709, DJU de 16-6-80; do de seguimento do extraordinário,
Apelações Cíveis n?s 551-2, 603-2, por ter sido admitida como razoável
3.918-2, 7.375-2, 7.925-2, 10.228-2 e a argüição de inconstitucionalidade
11.140-2, dentre muitas outras, des- do acréscimo efetuado a título de
ta Nona Cãmara, com o mesmo re- mora, segundo o despacho do ilustre
lator deste acórdão). 4? Vice-Presidente do C. Tribunal de
Incogitável, aqui, a questão do Justiça de São Paulo.
acréscimo pela inscrição da dívi- Entretanto, não é de ser conheci-
da, estranho á execução. do, preliminarmente, o extraordiná-
E, finalmente, os honorários de rio, sob o invocado fundamento de
dez por cento «sobre o valor dos violação a preceito constitucional.
embargos» são razoáveis, face ás
peculiaridades fáticas da causa. Vejamos porque.
Nega-se, em conseqüência, pro- Na sua apelação, sustentou a re-
vimento à apelação». corrente que o acréscimo exigido
Inconformada, interpôs a contri- com base no art. 87, da Lei Estadual
buinte vencida recurso extraordiná- n? 440, era manifestamente inconsti-
rio, com fulcro nas alíneas a e c do tucional, pois a denominação de «a-
permissivó constitucional, invocando créscimo», com o qualificativo «mo-
violação ao disposto nos arts. 142, ratório» constituía-se em criação ar-
145, 147, 150 e 161 do Código Tributá- tificiosa, fugindo à sistemática do
rio Nacional e, ainda, contrariedade ICM. De outra parte, não poderia ele
ao preceituado nos arts. 13 e 62, § 2?, ser considerado como juros e, assim
da Constituição Federal. No que tan- na realidade, camuflava uma eleva-
ge ao fundamento da letra c, espe- ção ilegal de aliquota, vedada pelo
cialmente seus arts. 48/55, em face art. 5? do Decreto-Lei Federal 406,
da Lei Federal n? 5.172/66. de 31 de dezembro de 1968, e pelo pa-
Opostos embargos de declaração rágrafo 5? do art. 23 da Constituição.
pela Fazenda Estadual, fundados em
omissão, foram eles rejeitados. O v. acórdão, contudo, entendeu
Deferido o recurso com base na le- que era legitima a exigência, invo-
tra a da previsão constitucional, em cando, a prol de tal entendimento,
face da jurisprudência do Supremo vários acórdãos deste Tribunal, com
Tribtinal, subiram os autos com ra- indicação apenas de seus números e
zões de ambas as partes (fls. 84/89 e dos Diários de Justiça que os publi-
91). caram, e arestos da 9? Câmara da-
É o relatório. quele Tribunal de Justiça.
Ocorre, porém, que na oportunida-
VOTO de do extraordinário a ora recorren-
te apenas alegou violação ao art. 62,
§ 2?, da Constituição, preceito esse,
O Sr. Ministro Aldir Passarinho contudo, que sequer havia sido obje-
(Relator): O valor atribuído á causa to de cogitação, quer na apelação,
(Cri 52.332,05), em 31-3-80, é inferior quer no acórdão, como não o fora
à alçada regimental (Cri 293.280,00), também, aliás, o § 8? do art. 23 da
pois as decisões foram uniformes, na Lei Maior (não referido nem mesmo
conformidade do disposto no art. 325, no extraordinário), dispositivos estes
VIII, do atual RI/STF, já em vigor que levaram o Plenário deste Tribu-
quando do v. acórdão recorrido. nal a declarar inconstitucional o

R.T.J. — 108 909

acréscimo em discussão ao ensejo do n? 440, de 1974, do Estado de São


julgamento do RE n? 97.718-0 (DJ de Paulo. Recurso extraordinário não
24-6-83). conhecido».
E certo que nas razões do recurso, Assim, no caso, não tendo sido pre-
após a admissão deste, veio o recor- questionado o tema constitucional
rente a fazer referência, também, a em que se apoiou a recorrente para
esse por último referido julgamento, ver prosperar o apelo raro, e que era
mas ele não poderia ser considerado o único que poderia fazê-lo prospe-
por não ter sido sequer embasado o rar, já que não ocorreram as demais
extraordinário na letra d do permis- ressalvas do art: 325, caput, do
sivo constitucional. Anoto que nem RI/STF, dele não conheço.
mesmo o 5? do art. 23 da Constitui- E o meu voto.
ção, que havia sido invocado na ape-
lação, voltou a ser mencionado na ir- EXTRATO DA ATA
resignação excepcional.
A hipótese, a meu ver, se apresen- RE 100.747-SP — Rel.: Min. Aldir
ta símile àquelas outras objeto dos Passarinho. Recte.: Cia. de Tecidos
RREE n?s 100.693 e 100.697, Relator José Gitti (Advs.: Rufino Armando
o Sr. Ministro Soares Mufioz, na C. Pereira Passos e outros). Recdo.:
1? Turma desta Corte e cujas emen- Estado de São Paulo (Adv.: Maurilio
tas, de igual redação, assim foram Pereira).
enunciadas, sendo recorrentes fir- Decisão: Não conhecido. Unânime.
mas contribuintes: Presidência do Senhor Ministro
«Execução fiscal decidida de Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
conformidade com a jurisprudên- Senhores Ministros Moreira Alves,
cia reiterada do Supremo Tribunal Decio Miranda, Aldir Passarinho e
Federal. Falta de prequestiona- Francisco Rezek. Subprocurador-
mento dos arts. 23, 8?, e 62, § 2?, Geral da República, Dr. Mauro Leite
da Carta Magna, com base nos Soares.
quais a Corte declarou, em casos Brasília, 21 de outubro de 1983 —
anteriores, a inconstitucionalidade Hélio Francisco Marques, Secretá-
do art. 87 e seus parágrafos da Lei rio.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 100.771 — SP
(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Clóvis Aparecido
Sanga.
Crime de roubo. Tentativa. Flagrante.
— Se o agente foi de imediato perseguido e preso em flagrante,
retomado o bem, não se efetivou a subtração da coisa à esfera de vi-
gilância do dono, tratando-se, pois, de crime tentado.
Recurso Extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO meira Turma do Supremo Tribunal
Federal, em conformidade com a
ata de julgamentos e notas taquigrá-
Vistos, relatados e discutidos estes ficas, à unanimidade, em não conhe-
autos, acordam os Ministros da Pri- cer do recurso.
910 R.T.J. — 108

Brasília, 5 de dezembro de 1983 — — «o momento da consumação


Soares Mufloz, Presidente — Rafael do roubo é aquele em se efetiva a
Mayer, Relator. subtração com emprego de vio-
lência ou grave ameaça, sendo
irrelevante a circunstância de o
RELATORIO agente não se ter locupletado
com a coisa roubada. (v. RECr.
n? 93.133-SP., 1? Turma, Rel.:
O Sr. Ministro Rafael Mayer: Ado- MM. Rafael Mayer, In RTJ
to, como relatório, o douto parecer 97/903).»
do ilustre Procurador Alvaro Augus- Sendo semelhantes — como de-
to Ribeiro Costa, devidamente apro- monstrado na petição recursal —
vado pelo eminente Subprocurador- as hipóteses subjacentes aos julga-
Geral, Prof. Assis Toledo, nesses ter- dos em confronto, não há como se
mos: negar a ocorrência do dissídio pre-
«Cuida-se de apelo manifestado toriano, a ser dirimido em favor da
com argüido esteio na alínea d do orientação sufragada pela Corte
permissivo constitucional (art. 119, Maior, no tocante à questão de di-
III, da CP) contra acórdão que, ne- reito federal suscitada.
gando provimento a recurso do Mi- Pelo conhecimento e provimento
nistério Público, fê-lo considerando do recurso, em face do exposto, é o
meramente tentado o roubo de que parecer.»
se cogitava.
O acórdão recorrido, quanto ao E o relatório.
ponto objeto da irresignação ex- VOTO
traordinária, fundou-se nas consi-
derações assim exaradas: O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-
« — Não há cogitar, no caso, de lator): O recurso extraordinário vem
roubo consumado. O apelado foi apenas pelo dissídio jurisprudencial,
detido logo depois da execução entretanto, cuido não tenha sido de-
do fato criminoso, por indicação monstrada a identidade dos pressu-
da própria vítima, ao policial que postos de fato que dão suporte ao
atendeu à ocorrência. Destarte, acórdão recorrido e aos paradigmas.
não chegou a ter a detenção Como se vê da transcrição de tre-
pacifica do produto do roubo, cho do acórdão recorrido, constante
nem logrou afastar-se da esfera do douto parecer, no caso sob exa-
de vigilância da vítima. Nessa si- me, em se tratanto, aliás, de fla-
tuação, só há cuidar de tentativa grante no sentido próprio, o bem ata-
e não de delito consumado.» cado não saiu da esfera de vigilância
Sustenta o recorrente que, assim da vítima, o que é de magna signifi-
decidindo, o acórdão recorrido en- cação.
trou em divergência com os julga-
dos que aponta (fls. 155/157). Entretanto, no acórdão paradig-
ma, por mim relatado, no RECr. n?
Merece conhecimento e provi- 93.133, destacado na douta manifes-
mento a nosso ver, o apelo em cau- tação da Procuradoria-Geral da Re-
sa. pública, diversa era a situação. Com
A jurisprudência da Suprema efeito, no parecer do mesmo e bri-
Corte — de que são exemplos os lhante Procurador, então emiti-
arestos ofertados a cotejo pelo re- do, que incorporei ao meu voto,
corrente — é iterativa, no procla- salientava-se que «no caso dos autos,
mar que nas Instâncias onde se faz o exame

R.T.J. — 108 911

dos fatos e das provas ficou assenta- Nelson Hungria «o que decide é a
do que, embora por curto espaço de cessação da possibilidade prática
tempo, os relógios subtraídos ás viti- do exercício do direito do dominus
mas estiveram fora da vigilância sobre a coisa», e citando Haf ter, «o
das mesmas» (in RTJ 97/904). agente faz cessar a custódia alheia
Ora, a saída do bem da esfera de e estabelece sobre a coisa o seu po-
vilância do dono é a pedra de toque der de disposição» (Comentários,
na caracterização da subtração efe- VII/28).
tiva. Ora, o fato incontroverso é que o
Esse critério essencial foi tomado agente foi de imediato perseguido
em consideração no julgamento do e preso em flagrante, na própria
RECr. n? 95.335, por mim relatado e circunstância do crime, retomado
resumido nessa ementa: o bem que se não há de ter como
«Roubo. Consumação do crime. efetivamente subtraído, posto que
Subtração efetiva. Salda da esfera não logrou sair da esfera de vigi-
de vigilância. — Consuma-se o cri- lância de seu dono.
me de roubo próprio quando, me- Independente da elegantia juris
diante o emprego de violência ou das sutis disceptações doutriná-
grave ameaça, o bem é efetiva- rias, cuido seja um caso típico de
mente subtraído à esfera de vigi- crime tentado, e não consumado,
lância do dono, como quando com como será, na espécie, todo aquele
a apreensão os agentes se deslo- sujeito a flagrante em sentido pró-
cam em veículo próprio, flagrados prio.»
depois com o produto do crime. Por menor a diferença no fato, re-
Recurso extraordinário conhecido percute na incidência da norma
e provido.» (mínima facti, ~cima luris).
Em contrapartida, a ementa do Pelo exposto, data venta, não co-
acórdão no RECr. n? 95.042, aplica o nheço do recurso.
princípio à situação diversa, in
verbis: VOTO
«Crime de roubo. Tentativa.
Flagrante. Se o agente foi de Ime- O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-
diato perseguido e preso em fla- nhor Presidente, quero ressalvar,
grante, retomado o bem, não se quanto à conceituação da tentativa,
efetivou a subtração da coisa à no caso, e do crime consumado, a
esfera de vigilância do dono, opinião que já sustentei nesta Tur-
tratando-se pois, de crime tentado. ma, e que se pode chamar de «tradi-
Recurso extraordinário não conhe- cional», no sentido de que, subtraído
cido.» Deduzi, então, no voto, su- o bem com violência, consumou-se o
cinta explanação: roubo. Segundo se entende agora, na
«Para que se consume o crime jurisprudência recente do Tribunal,
de furto ou roubo próprio, não é ne- é preciso que o bem esteja fora da
cessário que o agente se tenha lo- ação de vigilância do dono. Para
cupletado, isto é, no sentido do ter- mim, pelo simples fato de ter sido
mo, tire o proveito, a utilidade, o subtraído, completou-se a meta
beneficio da coisa subtraída. A optata.
subtração, que é a ação nuclear do Em face da orientação recente da
tipo, se verifica desde que a coisa jurisprudência, acompanho o emi-
seja retirada do poder de disponi- nente Relator, ressalvando o meu
bilidade e de vigilância do dono pa- ponto de vista.
ra a do agente, ou para dizer com E o Voto.
912 R.T.J. — 108

EXTRATO DA ATA Presidência do Senhor Ministro


Soares Mtuloz. Presentes à Sessão os
Senhores Ministros Rafael Mayer,
RE 100.771-SP — Rel.: Min. Rafael Néri da Silveira e Oscar Corrêa. Au-
Mayer. Recte.: Ministério Público sente, licenciado, o Senhor Ministro
Estadual. Recdo.: Clóvis Aparecido Alfredo Buzaid. Subprocurador-
Sanga. (Adv.: Antonio Bueno Soares. Geral da República, Dr. Francisco
de Assis Toledo.
Decisão: Não se conheceu do re- Brasília, 5 de dezembro de 1983 —
curso extraordinário. Decisão unâni- António Carlos de Azevedo Braga,
me. Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.783 — SP


(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Decio Miranda.
Recorrente: Rede Ferroviária Federal S/A (Superintendência Regional
— São Paulo-SR-4) — Recorridos: Natali Costa e sua mulher.
Civil. Responsabilidade Civil. Dano moral. Pais idosos que, em
virtude de culpa do serviço ferroviário no resguardar passagem de
nivel, perdem filho único, que lhes servia de arrimo e companhia. Da-
no moral, único ocorrido no caso, considerado indenizáveis Recurso
extraordinário não conhecido.
ACÓRDÃO O acórdão recorrido deu provimen-
to à apelação dos autores assim fun-
Vistos, relatados e discutidos estes damentando a decisão:
autos, acordam os Ministros do Su- «2. Dá-se provimento ao recur-
premo Tribunal Federal, em Segun- so.
da Turma, na conformidade da ata
do julgamento e das notas taquigrá- Comprovada está a culpa da ape-
ficas, por unanimidade de votos, em lada, por não haver colocado can-
não conhecer do recurso. cela no denominado «passador» de
pedestres, assim utilizado, para
Brasília, 21 de outubro de 1983 — cuja adaptação até trilho foi utili-
Mac! Falcão, Presidente — Decio zado da ferrovia, fls. 80, passagem
Miranda, Relator. imprescindível para os moradores
do local, fls. 81. Essencial, assim,
RELATÓRIO a existência de porteira ou de sina-
lização ou de empregado da apela-
da que orientasse a passagem, pa-
O Sr. Ministro Decio Miranda: Na ra que evitados fossem eventos co-
ação, pediram os pais do menor, de mo aquele referido. Tanto que após
19 anos, indenização pela morte do isso, o local foi murado pela em-
filho, atropelado e morto por compo- presa, fls. 80, 82 e 83.
sição ferroviária da ré. 3. O menor não deveria estar a
A indenização, de acordo com o trabalhar e é possível que sofresse
pedido, seria em forma de pensão, de perturbações mentais, fls. 80/82
no valor de um salário mínimo men- e fls. 81, mas o próprio dano moral
sal. deve ser ressarcido («RTJ»,

R.T.J. — 108 913

56/783, em 29-10-70, Rel.: Amaral marissimo e em ação de valor infe-


Santos: «indenização dos lucros rior ao da alçada, processando-se to-
cessantes e do dano moral, além davia pela acolhida de Argüição de
das despesas de funeral, luto e se- Relevância n? 18.408, quanto ao dano
pultura», com remissão à «RF», moral.
94/477 e 158/160, e à «RTJ», 39/38- E o relatório.
44, 41/844-846, e 47/279-281), o que
se coloca como corolário da Súmu- VOTO
la 491: «2 indenizável o acidente
que cause a morte de filho menor, O Sr. Ministro Dedo Miranda (Re-
ainda que não exerça trabalho re- lator): Não me leva a conhecer do
munerado». recurso a invocação, que faz a recor-
Poder-se-á dizer, ainda que doen- rente, de negativa de vigência da
te, ainda que não represente po- norma contida no art. 460 do Cód.
tencialmente força de trabalho, de Proc. Civil, eis que não prequestio-
ganho, ainda que não contribua pa- nada (Súmulas 282 e 356).
ra o sustento da casa, não só em Por outro lado, na alínea d da pre-
razão do que no menor investiram visão constitucional a divergência
os pais, doente o filho, ou princi- não se caracteriza.
palmente se doente o filho, eviden-
te a dor moral que os aflige. Vejam-se as particularidades do
Entre 19 anos e a data em que caso.
viesse a completar 25, tem-se um Os autores, pais da vitima do atro-
lapso de tempo que corresponde a pelamento fatal, único filho do casal
um valor que poderia corresponder e companheiro da derradeira quadra
àquele atribuível ao dano moral, de sua vida, nasceram no ano de
tomada analogicamente a forma 1900 o varão e de 1902 a mulher (cer-
de reparar o dano, para o menor tidão de casamento de fls. 8).
que representa potencial de traba- Ao perderem seu único filho e
lho ou que já participa das despe- companheiro, em 1972, estavam com
sas do lar, ainda que se reduza o 72 anos um deles e com 70 anos o ou-
salário mínimo de um terço, desti- tro.
nado à própria subsistência, o que
se fará. Vivendo com o único filho, que não
Ante o exposto, dá-se provimento tinha emprego ou rendimentos, dele
parcial». (fls. 134/5). receberiam, certamente, auxílio nas
necessidades e achaques da velhice,
No recurso extraordinário, quanto o que, a substitui-lo por outrem, de-
ao pressuposto da alínea a, somente mandaria o dispêndio de salários.
se alega, expressamente, negativa Perdendo-o, embora fraco de
de vigência do art. 460 do Cód. Proc. espirito e sem ocupação lucrativa, fi-
Civil, porque a verba de dano moral caram sem o único amparo domésti-
não fora pedida. co e companheiro de suas vigílias e
Quanto à alínea d, trazem-se a isolamento.
confronto Inúmeros acórdãos desta Está ai o dano moral puro, desre-
Suprema Corte, que afastam a inde- lacionado de detrimentos de ordem
nização separada do dano moral, cu- material, que a jurisprudência do
mulativa com indenização reparado- Supremo Tribunal Federal não se re-
ra, nos casos de morte da vítima. cusa a mandar indenizar: a perda do
O recurso deixou de ser admitido, companheiro das horas mortas, a
por se tratar de procedimento su- enchê-las, talvez, mais de preocupa-
914 R.T.J. — 108

ção que de tranqüilidade e alegrias, E o meu voto.


mas, de qualquer sorte, um amparo
na velhice e no isolamento.
Caso típico de dano constituído ex- EXTRATO DA ATA
clusivamente (e não concomitante-
mente) pelo sofrimento moral.
RE 100.783-SP — Rel.: Min. Décio
Tal como o da mulher que já não Miranda. Recte.: Rede Ferroviária
enxerga, e sofre o dano, exclusiva- Federal S.A. (Superintendência Re-
mente moral, de perder o globo ocu- gional — São Paulo — SR-4). (Advs.:
lar, inútil, mas componente de seu Laurinda Ravazzi e outros). Rec-
aspecto físico. dos.: Natall Costa e sua mulher
Aqui, era o filho deficiente, que (Advs.: Odésio Chearelli e outros).
não trazia para casa dinheiro de or-
denado ou de ocupação lucrativa, Decisão: Não conhecido. Unânime.
mas servia de companheiro dos pais Presidência do Senhor Ministro
septuagenários e desprovidos de ou- Djaci Falcão. Presentes à Sessão os
tro amparo. Senhores Ministros Moreira Alves,
Isto posto, e por não haver adequa- Decio Miranda, Aldir Passarinho e
da indicação de lei ofendida no re- Francisco Rezek. Subprocurador-
curso da Rede Ferroviária Federal Geral da República, Dr. Mauro Leite
S.A., nem se identificarem com a pe- Soares.
culiaridade da espécie dos autos os
padrões jurisprudenciais invocados Brasília, 21 de outubro de 1983 —
para demonstração da divergência, Hélio Francisco Marques, Secretá-
não conheço do recurso. rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 100.816 — RJ


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrente: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro — Recorrido: Sindi-
cato dos Arrumadores do Município do Rio de Janeiro.
Sindicato. Imunidade fiscal para o não pagamento dos impostos
prediais e territoriais.
O artigo 19, III, c, e o artigo 14 do Código Tributário Nacional não
autorizam a extensão da imunidade, se não é assistência social
objetivo institucional da entidade.
Recurso Extraordinário conhecido e provido.
AcOlinÃo Brasília, 17 de fevereiro de 1984 —
Soares Mtuloz, Presidente — Oscar
Vistos, relatados e discutidos estes Corrêa, Relator.
autos, acordam os Ministros da Pri-
meira Turma do Supremo Tribunal RELATÓRIO
Federal, na conformidade da ata do
julgamento e das notas taquigráfi- O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1.
cas, por unanimidade de votos, em Trata a espécie de mandado de segu-
conhecer do recurso e lhe dar provi- rança impetrado contra o Diretor do
mento. Departamento de Tributos Imobiliá-
— 108 915

rios do Município do Rio de Janeiro teou e obteve «imunidade à tributa-


pleiteando o reconhecimento, em fa- ção do imposto predial e territorial
vor do ora Recorrido, da imunidade sobre os imóveis de sua proprieda-
tributária, visando — diz a impetra- de» (fls. 88), considerando «sua indu-
ção — «o não pagamento dos impos- vidosa envergadura de instituição de
tos prediais e territoriais de imóveis assistência social», como diz a sen-
pertencentes à Entidade» — com ba- tença.
se no artigo 19, III, c da EC n? 1/69 e
artigos 9?, IV, c e 14 do CTN. Por sua vez, o v. acórdão recorri-
do considerou que, (fls. 122/123)
A r. sentença de fls. 83/89 con- «... no atual sistema normativo,
cedeu a segurança, sendo mantida
pelo v. acórdão da Colenda 6? Câma- equipara-se o sindicato a lídimo
ra Clvel do 1? Tribunal de Alçada delegado do poder público, para a
(fls. 121/124), com a seguinte Emen- consecução de suas finalidades, re-
ta (fls. 121): guladas em lei.
«Imunidade tributária — Sindi- Os sindicatos, assim, não têm fi-
cato de classe — Prestação de ser- nalidade lucrativa, mas, ao contrá-
viços de assistência, sem fim lu- rio, atuam paralelamente aos po-
crativo, equivale à sua colocação deres públicos de diversos níveis
no grupamento de instituição so- ao manterem, como é o caso do
cial. Observância dos estatutos so- apelado, hospital, que propicia
ciais. Requisitos para a incidência atendimento a seus filiados, resul-
da norma fundamental, assegura- tando em menor dispêndio de di-
dora da não-incidência tributária. nheiro do poder público, obrigado à
Legitimidade do recurso à via prestação médico-assistencial a to-
mandamental, para assegurar vio- dos os jurisdicionados, nada impor-
lação a direito subjetivo, liquido e tando o fato da manutenção de
certo, consistente na exigência de convênio, com o INPS, para o aten-
imposto indevido.» dimento dos seus segurados, desde
Interpôs a Municipalidade re- que necessita, ao menos, de nume-
curso extraordinário, alegando con- rário que lhe não permita cessar
trariedade ao artigo 19, III, c da as suas atividades importantes,
Constituição Federal, e negativa de aliás, para a coletividade.»
vigência do artigo 14 do Código Tri- E conclui: (fls. 124)
butário Nacional (fls. 127/129). «Desde que o apelado, ainda que
4. Admitido o recurso (fls. sindicato, mas que, por força da
134/135), subiram os autos e a douta Lei Maior, exerce função delegada,
Procuradoria-Geral da República, intributável é o seu patrimônio, pe-
em parecer da ilustre Procuradora la observância do art. 14, do Códi-
Edylcéa Tavares Nogueira de Paula, go Tributário Nacional, nada im-
subscrito pelo Eminente portando o fato de manter convê-
Subprocurador-Geral, Mauro Leite nio com o INPS, desde que, em es-
Soares, opinou pelo conhecimento e trita colaboração paralela às atri-
provimento do recurso (fls. 147/149). buições assistenciais do poder pú-
E o Relatório. blico, deste desonera de importan-
te investimento na área da assis-
tência.»
VOTO 2. Dessa orientação não comunga
o parecer da douta Procuradoria-
O Sr. Ministro Oscar Corrêa (Rela- Geral da República, ao assinalar
tor): 1. O Sindicato recorrido piei- (fls. 148/149):
916 R.T.J. — 108

«Não basta que as entidades Vai mais longe, autorizando-lhe a


prestem serviços de assistência so- arrecadação de contribuição sindical
cial a seus associados. E necessá- obriga ao voto nas eleições sindi-
rio que sejam instituições destina- cais.
das a exercerem a assistência so- 4. E a Consolidação das Leis do
cial como objeto principal. Trabalho também, expressamente,
Sindicato é órgão classista com a lhe regula a natureza e a atividade,
finalidade principal de defender os as prerrogativas e os deveres.
interesses profissionais de todos Entre aquelas, é expressivo o arti-
que exerçam u'a mesma atividade go 513 da Consolidação, resumida-
na forma do disposto no art. 166 da mente; o direito de representação
CF. dos interesses gerais da categoria e
interesses individuais dos associados
A permissão contida no art. 514 relativamente á atividade que exer-
da CLT, de «promover a fundação cem; a celebração de convenções co-
de cooperativas de consumo e de letivas de trabalho; a eleição ou de-
crédito», e de «fundar escolas de signação dos representantes; a cola-
alfabetização e pré-vocacionais» boração com o Estado; e a imposi-
não autoriza o intérprete da lei a ção de contribuições.
considerá-lo entidade assistencial.
Estas funções, o sindicato as pres- Essas contribuições — constitucio-
ta diretamente às pessoas a ele nal e legalmente previstas — objeti-
vinculadas e como exercido ex- vam o cumprimento de suas finali-
traordinário. dades essenciais; e, além delas, ou-
tras costumam impor os sindicatos
A caracterização da entidade as- aos seus sócios, a outros títulos.
sistencial, deve se fazer pela pres- Nisso, contudo, se cifra o exercício
tação do serviço genericamente, a de funções delegadas do poder públi-
toda a coletividade, não só a um co.
grupo de pessoas.
Caracteriza-se, pois, sobretudo, o
As instituições de assistência, sindicato, como órgão representati-
portanto, que podem gozar da imu- vo, da categoria profissional e este é
nidade constitucional do art. 19, caráter essencial e distintivo de
III, c, são apenas essas, prestado- sua definição jurídica.
ras de serviço assistencial de âm-
bito geral.» Na defesa das prerrogativas, tem
sindicato, entre outros — o dever
3. A questão, ao que parece, não de prestar assistência judiciária aos
foi ainda julgada pela Corte, o que associados (artigo 514, b) e manter,
acresce a importância da decisão em seu quadro social, um assistente
que tome a Colenda Turma. Há, por social (artigo 514, d); e a contribui-
isso mesmo que prever as conse- ção sindical tem aplicação legalmen-
qüências que dela podem advir. te fixada (artigo 592), incluindo-se,
E de interesse nacional o fortaleci- em todas as categorias, desde logo,
mento da organização sindical, de a assistência jurídica (e técnica), e
tal sorte que, expressamente, a pre- assistência médica, dentária, hospi-
vê o texto constitucional e lhe asse- talar e farmacêutica, bem como a
gura a representação legal nas con- maternidade.
venções coletivas de trabalho e o 5. Isto não as transforma e erige,
exercício de funções delegadas de entretanto, em instituições de assis-
poder público, reguladas em lei (ar- tência social, para a imunidade
tigo 166). constitucional do artigo 19, III, c.

R.T.J. —108 917

Impõe-se às associações que pre- quanto aos outros dois, na amplitude


tendem o favor, como previsto no que requerem, não se compreendem
texto constitucional, observem os re- na sua atuação, vinculada a interes-
quisitos da lei, no caso o Código Tri- ses menos gerais e mesmo constitu-
butário Nacional, artigo 14; e, entre cionalmente fixados.
estas, inclui-se, no 2?, que os servi- Não é a assistência social, com
ços a que se refere a alínea C do inci- fim público e generalidade, o objeti-
so IV são, exclusivamente, os direta- vo institucional do sindicato.
mente relacionados com os objetivos
institucionais das entidades de que E este a defesa dos interesses eco-
trata o artigo. nómicos e profissionais da categoria
que representa e para isto os institui
A doutrina brasileira, não obstante a Constituição. A prestação assisten-
os inumeráveis estudos a respeito, cial é corolário da associação e se
não fixou, em termos definitivos, os resume aos associados, que, quase
limites de compreensão do texto sempre, ainda se asseguram o direi-
constitucional. to de recebê-la com outras presta-
Tudo isto agravado pela dificulda- ções que lhes são exigidas. Como,
de da própria conceituação de aliás, se vê do Estatuto do recorrido
instituições e os interesses que se (fls. 61), no qual se prevê, no artigo
mesclam ao cuidar de fixá-la. 14 — contribuição... para auxilio mé-
Dos estudos que pudemos compul- dico, farmacêutico, hospitalar...;
sar, o de Leopoldo Braga é o mais que, obviamente, se presta aos asso-
completo, na amplitude e penetração ciados que cumprem o pagamento
com que o discute, excelentemente, estipulado.
buscando a lição da doutrina nacio- 7. Não se nega que colaborem os
nal e alienígena e incursionando no Sindicatos na tarefa geral de assis-
exame de outras legislações. Não há tência social, prestando-a aos seus
como, neste voto, resumir-lhe as associados. Não é isto, entretanto,
conclusões. Extraiamos, apenas, as suficiente, se não se firma como fi-
que tocam mais de perto a hipótese nalidade essencial, objetivo institu-
e que podem espalhar-se nestas três cional, na amplitude constitucional-
condições que devem ser preenchi- mente prevista.
das pelas instituições para os efeitos
da imunidade tributária (Leopoldo Aliás, no RE n? 89.102, em certo
Braga publicou o seu estudo — «Do trecho de seu voto, diz o Eminente
Conceito Jurídico de Instituições de Ministro Moreira Alves (RTJ
Educação e de Assistência Social» 87/687):
em 1960, no regime da Constituição ...«O que importa é que a contri-
de 1946): buição não advenha dos beneficiá-
«A) Fim público institucional, rios dos serviços de assistência,
exclusivo, ou, ao menos, principal; porquanto, nesta hipótese, não há a
gratuidade indispensável à carac-
Gratuidade e ausência de in- terização do fim social: a inexis-
tuito lucrativo; tência de contraprestação de quem
Generalidade na prestação de necessita da assistência».
serviços ou na distribuição de utili- Se, de um lado, conviria que essa
dade e benefícios» (ob. cit., pág. atividade dos sindicatos fosse esti-
97). mulada e amparada pelo Poder Pú-
6. Ora, se preenche o Recorrido o blico, com o que se ampliaria e aper-
requisito da gratuidade e ausência feiçoaria; também, por outro lado, o
de Intuito lucrativo, é inegável que, alargamento incontrolado da conces-
918 R.T.J. — 108

são da imunidade, representaria prediais e territoriais de imóveis


grave sangria dos cofres do Erário, pertencentes à Entidade» ( fls. 2), en-
com inegáveis prejuízos dessa mes- tre os quais ( além de um hospital)
ma prestação assistencial. dois de sedes sociais e dois onde pre-
tenderia a edificação de conjunto re-
Esta Corte tem medido as hi- sidencial.
póteses em que a reconhece, quando,
na instância ordinária, se comprova Não nos parece que, por mais im-
o integral preenchimento dos pressu- portantes sejam essas finalidades,
postos legais. possam incluir-se, essencialmente,
como de assistência social.
Dentre os casos conhecidos (e dos E o grande risco é o da extensão
quais se pode ter visão sintética, por da medida a todas as entidades con-
exemplo, em Baleeiro — Direito Tri- gêneres que exercem, em geral, as
butário Brasileiro, 10, ed., rev. e mesmas atividades e, igualmente,
atualizada por Flávio B. Novelll, Fo- colaboram na assistência social. O
rense, 1981, pág. 90/91; e, sobretudo, que constituiria insuportável sangria
Limitações Constitucionais ao Poder nos cofres públicos, de conseqüên-
de Tributar, 3! ed., Forense — 1974 cias muito mais graves e impre-
— pág. 190/193), um deve ser lem- visíveis do que a recusa do favor
brado, pela sua assemelhação á hi- pleiteado.
pótese dos autos: é o do Recurso de
Mandado de Segurança n? 8.252 — Por esses motivos, conheço do re-
Relator o Exmo. Ministro Pedro curso e dou provimento, para cassar
Chaves, em que recorrente a União a segurança.
Brasileira de Compositores-RJ, se É o voto.
negou provimento ao recurso.
Invocado ( além do artigo 203 da EXTRATO DA ATA
Constituição de 1946) o artigo 31, V,
b, que equivale ao atual 19, III, c,
em passagem de seu voto, acentuou RE 100.816-RJ — Rel.: Min. Oscar
o Insigne Relator: Corrêa. Recte.: Prefeitura Municipal
«Trata-se como se vê de imuni- do Rio de Janeiro (Adv.: Arthur José
dade fiscal, especificada e condi-Faveret Cavalcanti). Recdo.: Sindi-
cato dos Arrumadores do Município
cional. Ora, a recorrente não é tipi-
camente uma instituição de cará- do Rio de Janeiro (Adv.: Paulo de
ter educacional ou assistencial. Souza Ribeiro).
Ela se destina mais à proteção de Decisão: Conheceu-se do recurso
interesses de uma classe ou catego-
extraordinário e se lhe deu provi-
ria, se destina à defesa de interes-
mento. Decisão unânime.
ses econômicos, direitos autorais
de compositor». (RTJ 24/368). Presidência do Senhor Ministro
Soares Mufioz. Presentes à Sessão os
Hipótese muito aproximada da que Senhores Ministros Rafael Mayer,
ora se examina, na qual, igualmen- Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
te, não se trata de instituição assis-
Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral
tencial típica, que nela não tem seuda República, Dr. Francisco de As-
objetivo institucional, e que apenas a
sis Toledo.
inclui como prestação acessória.
Brasília, 17 de fevereiro de 1984 —
Demais disso, o que se preten- Antônio Carlos de Azevedo Braga,
de é «o não pagamento de impostos Secretário.
R.T.J. — 108 919

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 101.214 — RS


(Primeira Turma)
Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.
Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Sidnei Simon dos
Santos. •
Honorários em mandado de segurança concedidos pelo Tribunal
gaúcho. Manifesta ofensa á Súmula 512 deste E. Supremo Tribunal
Federal.
Recurso extraordinário conhecido e provido.
ACÓRDÃO orientação do STF, consubstancia-
da no verbete 512 da Súmula, ense-
Vistos, relatados e discutidos estes jando recurso extraordinário pela
autos, acordam os Ministros da Pri- letra d do permissivo constitucio-
meira Turma do Supremo Tribunal nal.
Federal, na conformidade da ata do Sem impugnação do recorrido,
julgamento e das notas taquigráfi- vieram os autos para despacho.
cas, por unanimidade de votos, em
conhecer do recurso e lhe dar provi- Com razão o órgão do Ministério
mento. Público do Estado do Rio Grande
do Sul, eis que a decisão do egrégio
Brasília, 16 de dezembro de 1983 — Tribunal Pleno diverge da juris-
Soares Mufloz, Presidente — Oscar prudência do Supremo Tribunal
Corrêa, Relator. Federal, expressa na Súmula 512:
«Não cabe condenação em honorá-
RELATORIO rios de advogado na ação de man-
dado de segurança». A concessão
O Sr. Ministro Oscar Corrêa: O de honorários advocatícios no pre-
Exmo. Desembargador Paulo Boec- sente feito caracteriza divergência
kel Venoso, Vice-Presidente do Co- com a orientação jurisprudencial
lendo Tribunal de Justiça do Rio do STF.
Grande do Sul, apreciou a questão, Pelo exposto admito o recurso
nestes termos (fls. 55/56): extraordinário pela letra d do per-
«Nos autos do Mandado de Segu- missivo constitucional. Vista ás
rança Impetrado por Sidnei Simon partes para razões».
dos Santos contra ato do Exmo. Sr. E o Relatório.
Des. Presidente do Egrégio Tribu-
nal de Justiça do RGS, o Egrégio
Tribunal Pleno por maioria, con- VOTO
cedeu a segurança, impondo à Fa-
zenda Pública honorários de advo-
gado (acórdão de fls. 42/49). O Sr. Ministro Oscar Conta: (Re-
lator): Concedendo a segurança, o C.
Recorre extraordinariamente o. Tribunal de Justiça impôs à Fazenda
Ministério Público do Estado do Pública «honorários de advogado na
Rio Grande do Sul, com fundamen- base de 10 vezes o valor de referên-
to no art. 119, III, d da Carta Mag- cia», vencidos os Desembargadores
na. Gilberto, Manssour, Galeno, Buttelli,
Sustenta que a concessão de ho- Oscar Gomes, Alaor e Barison que
norários advocaticios diverge da não deferiram essa verba» (fls. 42).
920 R.T.J. — 106

Desta forma afrontou a C. Cor- questiúnculas estéreis, do dia-a-dia,


te, manifestamente, a Súmula 512. as saborosas controvérsias úteis aos
Não é esta a oportunidade de dis- desvãos dos entendimentos huma-
cutir o mérito da questão, sobre a nos, porém, inúteis. A ninguém se
qual — já o disse — tenho opinião arroga o património exclusivo do sa-
coincidente com o da maioria do Tri- ber, muito menos aos Juizes do Su-
bunal gaúcho. Rendi-me, porém, à premo Tribunal Federal como disse
jurisprudência sumulada do E. Tri- o Ministro Gonçalves de Oliveira em
bunal, que deve ser acatada, para recente voto. A Súmula não se impõe
não exigir, desnecessariamente, obrigatoriamente à obediência de to-
prestação jurisdicional que a revigo- dos. Mas, concluindo — termina o
re. ilustre Professor — com Eschbach, é
razoável admitir-se como verdadeiro
Não apenas editou a Corte a o que foi muitas vezes examinado e
Súmula 512; tem-na reafirmado em constantemente decidido por homens
julgados repetidos, inclusive refor- reputados probos e instruidos...»
mando arestos que a não acolhem e Por isso se vê na Súmula «não
do próprio C. Tribunal gaúcho. apenas uma jurisprudência predomi-
Importa essa atitude, assim, ape- nante meramente formal», mas, diz
nas, em ônus para as partes, e des- José de Moura Rocha (vb. Súmula
necessária convocação da atuação II, Enciclopédia Saraiva de Direito»,
do Supremo Tribunal para reafirmá- 71, 325) «havemos de encontrar nela
la. aquela...» quase normatividade».
O Regimento Interno da Corte, ex- E Prado Kelly lembra palavras de
pressamente, estabelece que «a cita- Victor Nunes Leal, «o principal res-
ção da «Súmula», pelo número cor- ponsável pela iniciativa e por sua
respondente, dispensará, perante o execução», em conferência em Belo
Tribunal, a referência a outros jul- Horizonte (12-8-1964), ao justificar a
gados no mesmo sentido» (art. 102, § nova organização de nossos traba-
4?); e isto, disse-o a «Explicação lhos, evitando os escolhos de uma
Preliminar» da publicação das «Sú- Jurisprudência impositiva: «Firmar
mulas», não somente «para propor- a jurisprudência de modo rígido não
cionar maior estabilidade á jurispru- seria um bem, nem mesmo seria
dência, mas também facilitar o tra- viável. A vida não pára, nem cessa a
balho dos advogados e do Tribunal, criação legislativa e doutrinária do
simplificando o julgamento das ques- direito. Mas vai uma enorme dife-
tões mais freqüentes». rença entre a mudança, que é fre-
quentemente necessária, e a
4. Não as editou, portanto, este anarquia jurisprudencial, que é des-
Tribunal, e edita, para exlusivo e calabro e tormento. Razoável e
egoistico interesse seu, mas no cum- possível é o melo termo, para que o
primento da própria missão constitu- Supremo Tribunal possa cumprir o
cional de interpretação definitiva da seu mister de definir o direito fede-
lei federal e de uniformização da ju- ral, eliminando ou diminuindo os
risprudência, essenciais à normali- dissídios de jurisprudência» (P.
dade e estabilidade da ordem jurídi- Kelly, vb. Súmula — I —
ca. Enciclopédia Saraiva, 71, pág. 318).
«Não impede, disse-o Roberto Ro- Não se infere dai a obrigatorie-
sas («Do Assento e do Prejulgado à dade formal de obediência às Súmu-
Súmula do STF», In RT 404/21), a las do STF, nem isso pretendeu a
discussão das novas teses e questões Corte: dar caráter normativo, cogen-
levadas ao Tribunal. Evita, sim, as te, à sua orientação, que não é lei.

R.T.J. — 108 921

Mas, se se conhece a Súmula — e nal e como modelos dogmáticos


o Juiz brasileiro não a pode desco- em relação à dos demais Juízos e
nhecer — e se não aplica, autoriza-se tribunais.
a interposição do remédio processual
para repor a orientação da corte Modelos jurídicos, na medida em
Maior; e se obriga, desnecessaria- que, pelas suas origens e pelos
mente, a iniciativa da parte, exigem- seus efeitos normativos, consti-
se ônus injustificáveis e requer-se tuem pontos de referibilidade para
prestação jurisdicional que se pode- a atuação concreta do Direito; mo-
ria e deveria evitar. delos dogmáticos, na medida em
Examinando essa obrigatoriedade, que constituem elementos de com-
depois de afirmar «que não se reves- preensão do Direito posto pelo STF
te, em tese, de caráter de obrigato- (pág. 25).
riedade», o Professor João Edson de
Mello (Revista da Faculdade de Di- 8. Essas considerações objetivam
reito da Universidade de Uberlândia relembrar a necessidade de
— v. 1, n? 1, pág. 135/138), acentua: assegurar-se o respeito à jurispru-
«Praticamente ou indiretamente, a dência sumulada da Corte, o que não
Súmula contém, entretanto, obriga- importa em impedir o livre pronun-
toriedade». ciamento de Juizes e Tribunais, mas
E conclui: busca efetivar a uniformidade juris-
prudencial — essencial à boa distri-
«A solução será, portanto, acata- buição da justiça.
ia, para que não se venha a supor-
tar, em desate de recurso, na últi-
ma instância, a imposição da re- A própria lei processual civil
gra do seu enunciado. Pode-se mas previu-o no artigo 479, como resulta-
não convém desobedecê-la». do da uniformização da jurisprudên-
cia. Se não se exige em lei a reitera-
7. O Professor Eduardo Domin- da decisão da Corte, há de servir de
gos Botallo entrega-se ao estudo da rumo e orientação aos que, em ou-
«Natureza normativa das Súmulas tros planos, não pretendam que sua
do STF, segundo as concepções de opinião deva prevalecer sobre o
Direito e de Norma de Kelsen, Ross, juizo dos que têm a missão constitu-
Hart e Miguel Reale» (RD Público, cional de revê-los em final e sobera-
1974, n? 29, pág. 17/25); e após exa- na Instância.
minar o tema, conclui:
«Diante desse quadro ocorre-nos A independência do julgamento se
propor a seguinte solução: as Sú- afirmará na medida em que obedeça
mulas, dentro da experiência à lei e não na afronta que lhe faça.
jurídica, se apresentam ora como Não se diminui o Juiz quando atende
modelos jurídicos, ora como mode- à linha da jurisprudência, nem o
los dogmáticos. obriga a desfazer-se de suas opi-
niões. 2 comum, nos julgamentos
Poderíamos, mesmo, dizer, nu- das Cortes, a ressalva de pontos de
ma abordagem que, em certa me- vista pessoais, respeitáveis, em be-
dida, lembra a que apresentamos neficio da manutenção da orientação
quando o problema foi apreciado à predominante. O que não impede
luz da Teoria Pura, que as Súmu- que, amanhã, possa prevalecer a
las se apresentam como modelos corrente hoje vencida, em vista de
jurídicos em relação à atuação ju- novas reformulações da vida dos fa-
dicante do próprio Supremo Tribu- tos ou do direito.
922 R.T.J. — 108

Enquanto isso não se dê, cumpre Decisão: Conheceu-se do recurso


resguardar a autoridade da decisão extraordinário e se lhe deu provi-
da Corte. mento. Decisão unãnime.
Conheço do recurso e dou-lhe pro- Presidência do Senhor Ministro
vimento. Soares Muãoz. Presentes à Sessão os
E o voto. Senhores Ministros Rafael Mayer,
Néri da Silveira e Oscar Corrêa —
EXTRATO DA ATA Ausente, justificadamente, o Senhor
Ministro Alfredo Buzaid. Subprocu-
rador-Geral da República, Dr. João
RE 101.214-RS — Rel.: Min. Oscar Boabaid de Oliveira Itapary.
Corrêa. Recte.: Ministério Público
Estadual. Recdo.: Sidnei Simon dos Brasília, 16 de dezembro de 1983 —
Santos. (Adv.: Arminio Aretino Hild- António Carlos de Azevedo Braga,
bert Schneider). Secretário.
INDICE ALFABÉTICO

A
Cv Abatimento do preço (...) Compra e venda. RE 99.982 RTJ 108/815
PrSTF Abono de permanência (acórdão padrão) (...) Embargos de divergência.
ERE 94.583 RTJ 108/637
PrSTF Ação civil originária. Particular vs União Federal e FUNAI. Denunciação
à lide pelo réu, como denunciado do autor (impossibilidade). Incompe-
tência do STF. ACOr 319 RTJ 108/ 459
PrCv Ação demarcatória. Ação de usucapião. Litispendência. Código de Proces-
so Civil, arts. 219 e 301, § 1? (inteligência). RE 97.028 RTJ 108/740
Cv Ação de desapropriação. Interesse social. Reforma agrária. Ação direta.
Nulidade do decreto expropriatórlo. Decreto-lei 554/69. RE 94.073 RTJ
108/620
Cv Ação direta (...) Ação de desapropriação. RE 94.073 RTJ 108/620
Cv Ação direta (...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
PrSTF Ação de divórcio (...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ 108/755
Cv Ação «ex empto» (...) Compra e venda. RE 99.982 RTJ 108/815
Prev Ação pauliana (...) Fraude contra credores. RE 80.834 RTJ 108/596
PrCv Ação reivindicatória (legitimidade) ( ...) Ação de usucapião. ERE 96.696
(AgRg) RTJ 108/732
PrCv Ação rescisório (desnecessidade) (...) Ação de usucapião. ERE 96.696
(AgRg) RTJ 108/732
Prev Ação de usucapião (...) Ação demarcatória. RE 97.028 RTJ 108/740
PrCv Ação de usucapião. Citação do interessado (falta). Ação reivindicatória
(legitimidade). Ação rescisório (desnecessidade). Divergência superada.
Regimento Interno do STF/80, art. 332. ERE 96.696 (AgRg) RTJ 108/732
Cv Acidente de automóvel (...) Responsabilidade civil. RE 95.923 RTJ 108/676
Cv Acidente ferroviário (...) Responsabilidade civil. RE 95.103 RTJ 108/646 —
RE 100.783 RTJ 108/912
PrSTF Acidente do trabalho (...) Recurso extraordinário. RE 100.714 RTJ 108/898
PrSTF Acréscimo moratório já declarado inconstitucional (...) Recurso
extraordinário. RE 100.747 RTJ 108/907
Adm Acumulação de cargos. Médico do Estado, do Banco do Brasil e do INPS.
Ilegalidade. Ag 92.946 (AgRg) RTJ 108/614
II Adi-Bas — INDICE ALFABETwo

Ct Adicional por tempo de serviço (majoração) ( ...) Magistrado. Rp 1.155


RTJ 108/486
Prev Advogado. Suspensão por inépcia profissional. Ambito e duração da pena.
Lei 4.215/63, arts. 109, IV e 113. RHC 61.081 RTJ 108/574
PrSTF Alçada regimental ( ...) Recurso extraordinário. RE 100.747 RTJ 108/907
TrGr Alegação de falta de esgotamento das medidas relativas à formalização
da convenção (CLT, art. 616) (...) Recurso extraordinário. RE 100.371 RTJ
108/850
PrCv Alienação fiduciária em garantia. Prisão civil (ilegitimidade). Depositário
infiel. Coisa furtada. HC 61.150 RTJ 108/577
PrCv Ambito e duração da pena ( ...) Advogado. RHC 61.081 RTJ 108/574
PrPn Apelação pendente ( ...) Habeas corpus. RHC 61.506 RTJ 108/590
PrPn Aplicação da pena em grau de apelação ( ...) Pena acessória. HC 60.543
RTJ 108/561
Adm Aposentadoria ( ...) Funcionalismo. RE 100.564 RTJ 108/891
Adm Aposentadoria. Proventos (incorporação). Verba de representação pelo
exercício da Presidência de órgão da administração indireta. Constituição
Federal, art. 6?. RE 99.536 RTJ 108/779
PrSTF Aposentadoria por invalidez (acórdão embargado) (...) Embargos de
divergência. ERE 94.583 RTJ 108/637
Adm Aposentadoria previdenciária. Ex-combatente. Proventos (cálculo). Rea-
justamentos futuros. Direito adquirido (inexistência). Lei 5.698/71. RE
94.390 RTJ 108/627
Ct Assembléia Legislativa. Militares à disposição. Gratificação «pro labore»
(majoração). Iniciativa legislativa. Lei 3.067/81-SP ( inconstitucionalida-
de). Rp 1.132 RTJ 108/472
Ct Assistência (descabimento) (...) Representação de inconstitucionalidade.
RP 1.155 (questão de ordem) RTJ 108/477
Adm Ato n? 18/68, do Presidente do IAA (constitucionalidade) ( ...) Lavoura
canavieira. RE 96.616 RTJ 108/709
Ct Ato de aprovação ( ...) Representação de inconstitucionalidade. Rp 1.160
RTJ 108/505
Ct Ato concreto não atacável por representação (...) Representação de
Inconstitucionalidade. Rp 1.160 RTJ 108/505
Int Ato já exaurido em seus efeitos ( ...) Expulsão. HC 61.374 RTJ 108/588
Cm Ato ou termo especifico (ausência) ( ...) Falência. RE 100.237 RTJ 108/839
Ct Atualização complementar do cálculo (...) Precatório. AR 948 (AgRg)
RTJ 108/463
Pn Autoria direta negada (...) Júri. HC 60.863 RTJ 108/566
Pn Autoria incerta (inocorrência) (...) Co-autoria. HC 60.863 RTJ 108/566
PrPn Avaliação da «res furtiva» ( inexistência) (...) Denúncia. RHC 61.302 RTJ
108/583

B
Trbt Bacalhau importado ( ...) Imposto sobre circulação de mercadorias. RE
99.332 RTJ 108/769
Trbt Base de cálculo idêntica à do imposto territorial rural ( ...) Taxa de con-
servação de estradas. RE 96.344 RTJ 108/689
INDICE ALFABÉTICO — Bas-Cód III

Trbt Base de cálculo idêntica à do IPTU (...) Taxa de lixo. RE 100.729 RTJ
108/903

C
PrSTF Cabimento de embargos (art. 894 da CLT) (...) Recurso extraordinário
(art. 143 da Constituição). Ag 95.790 (AgRg) RTJ 108/675
Trbt Cálculo (...) Imposto de renda. RE 75.152 RTJ 108/591
Trbt Cerceamento de defesa (ausência) (...) Imposto de renda. RE 100.158 RTJ
108/830
PrCv Citação do interessado (falta) ( ...) Ação de usucapião. ERE 96.696 (AgRg)
RTJ 108/732
Cv Cláusula resolutiva expressa ( ...) Compra e venda. RE 99.407 RTJ 108/775
Pn Co-autoria. Autoria incerta (Inocorrência). Teoria da equivalência das
causas. Código Penal, art. 25. HC 60.863 RTJ 108/566
Pn Co-autoria (...) Júri. HC 60.863 RTJ 108/566 — RHC 60.985 RTJ 108/570
Cv Código Civil, art. 85 (exegese) (...) Sociedade em conta de participação.
RE 95.230 RTJ 108/851
Cv Código Civil, art. 1.132 (...) Venda de ascendente a descendente. RE
100.440 RTJ 108/881
Cv Código Civil, art. 1.136, parágrafo único (...) Compra e venda. RE 99.982
RTJ 108/815
Cm Código Civil, art. 1.364 ( ...) Sociedade em conta de participação
(caracterização). RE 95.230 RTJ 108/651
Cm Código Comercial, art. 325 (...) Sociedade em conta de participação
(caracterização). RE 95230 RTJ 108/651
Pn Código Penal, art. 25 (...) Co-autoria. HC 60.863 RTJ 108/566
Pn Código Penal, art. 25 ( ...) Júri. HC 60.863 RTJ 108/566
Pn Código Penal, art. 110, ff 1? e 2? (redação da Lei 6.416/77) (...)
Prescrição. RECr 100.227 RTJ 108/838
Pn Código Penal, art. 142, I e 143 (...) Crime contra a honra. RHC 61.303 RTJ
108/586
Pn Código Penal, art. 155, f 2? ( ...) Furto privilegiado. RECr 100.024 RTJ
108/820
PrPn Código Penal Militar, art. 102 (...) Pena acessória. HC 60.543 RTJ 108/561
PrCv Código de Processo Civil, art. 102 (...) Conflito de Jurisdição. CJ 6.405 RTJ
108/522
PrCv Código de Processo Civil, arts. 219 e 301, 4 1? (inteligência) (...) Ação
demarcatória. RE 97.028 RTJ 108/740
Cm Código de Processo Civil, art. 267, VI (...) Sociedade em conta de partici-
p ação (caracterização). RE 95230 RTJ 108/651
Cv Código de Processo Civil, art. 336 (...) Divórcio. RE 97.191 RTJ 108/755
PrSTF Código de Processo Civil, art. 476 ( ...) Incidente de uniformização de
jurisprudência. EAg 84.121 (AgRg) RTJ 108/604
PrCv Código de Processo Civil, art. 552, ij 1? (...) Intimação. RE 82.105 RTJ
108/602
Prev Código de Processo Civil, art. 1.046, ff 2? e 3? (exegese) (...) Embargos de
terceiro. RE 93.896 RTJ 108/617
IV CÓd-Con — 1NDICE ALFABÉTICO

PrCv Código de Processo Civil, art. 1.137 (...) Executivo fiscal. RE 80.834 RTJ
108/596
PrPn Código de Processo Penal, art. 28 (...) Conflito de atribuições. CA 12 RTJ
108/455
PrPn Código de Processo Penal, art. 167 ( aplicação) (...) Denúncia. RHC 61.302
RTJ 108/583
Trbt Código Tributário Nacional, art. 19, III, «c» e 14 (exegese) (...) Imunidade
fiscal. RE 100.816 RTJ 108/914
Trbt Código Tributário Nacional, art. 167, parágrafo único ( ...) Repetição do
indébito. RE 97.037 RTJ 108/745
PrCv Coisa furtada (...) Alienação fiduciária em garantia. HC 61.150 RTJ
108/577
Cv Coisa julgada (...) Desapropriação. RE 100.557 RTJ 108/884
Trbt Compensação de adicional (...) Imposto de consumo. RE 99.718 RTJ
108/790
Trbt Compensação de prejuízos ( ...) Imposto de renda. RE 96.615 RTJ 108/700
Prev Competência. Justiça Federal Reclamação trabalhista. Empregado da
LBA lotado em maternidade transferida ao INAMPS. Lei 6.439/77. CJ
6.358 RTJ 108/519
Ct Competência. Justiça militar estadual. Policial militar no exercido de po-
liciamento civil. Constituição Federal, art. 144, 1 1?, «a». RE 99.683 RTJ
108/788
PrTr Competência. Justiça do trabalho. Reclamação trabalhista. Empresa sob
Intervenção da União. RE 81.493 RTJ 108/599
Ct Competência. Reclamação trabalhista. Décimo terceiro salário. Funcioná-
rios públicos não optantes cedidos à SABESP. Justiça comum. RE 96.424
RTJ 108/6%
PrPn Competência (...) Revisão criminal. RECr 99.008 RTJ 108/763
Ct Competência. Servidor temporário. Lei especial (inexistência). Justiça do
trabalho. CJ 6.418 RTJ 108/527
Ct Competência. Tribunal Federal de Recursos. Rabeas corpus contra o
Conselho da Justiça Federal. HC 61.181 RTJ 108/579
PrPn Competência. Unificação de penas. Crime contra a segurança nacional
transformado em comum. Juizo da Vara de Execuções Criminais. HC
61.025 RTJ 108/572
TrGr Competência funcional ( ...) Recurso extraordinário. RE 100.371 RTJ
108/850
Prev Competências não modificáveis pela conexão ou continência (...) Conflito
de Jurisdição. CJ 6.405 RTJ 108/522
Cv Compra e venda. Ação «ex empto». Abatimento do preço. Dimensões do
imóvel Inferiores às constantes da escritura. Código Civil, art. 1.136, pará-
grafo único. RE 99.982 RTJ 108/815
Cv Compra e venda. Promessa não Inscrita. Cláusula resolutiva expressa.
Rescisão. Mora. Interpelação judicial (desnecessidade). RE 99.407 RTJ
108/775
Cv Compra e venda não registrada (...) Responsabilidade civil. RE 95.923
RTJ 108/676
Adm Concessão de área de terras próximas à moradia ( ...) Lavoura
canavieira. RE 96.616 RTJ 108/709
INDICE ALFABÉTICO — p ónei V

Cm Concordata preventiva. Crédito privilegiado. Execução contra o devedor


concordatário e seus avalistas. Suspensão da execução (descabimento).
Decreto-lei 7.661/45, art. 24 (inaplicabilidade). RE 96.410 RTJ 108/692
Pn Concurso material. Crimes contra a liberdade sexual. Estupro e atentado
violento ao pudor. Sujeitos passivos diversos. RE 100.562 RTJ 108/888
Ct Concurso público. Idade (limite). Emenda Constitucional 17/80-RS (in-
constituclonalidade). RP 1.114 RTJ 108/466
PrPn Conflito de atribuições. Juiz e MP Federal. Pedido de arquivamento indi-
reto. Código de Processo Penal, art. 28. CA 12 RTJ 108/455
PrCv Conflito de Jurisdição. Justiça Federal (medida liminar contra ato do
CND). Justiça estadual (posicionamento na 1! divisão de clubes e inicio
do campeonato estadual). Competências não modificáveis pela conexão ou
continência. Código de Processo Civil, art. 102. CJ 6.405 RTJ 108/522
Int Cônjuge brasileiro (...) Sentença estrangeira. SE 3.368 RTJ 108/516
Adm Constituição Federal, art. 6? (...) Aposentadoria. RE 99.536 RTJ 108/779
Ct Constituição Federal, art. 114, III, c/c 13, IX ( ...) Parlamentar. MS 20.313
RTJ 108/529
Ct Constituição Federal, art. 117, 1? e 2? (...) Precatório. AR 948 (AgRg)
RTJ 108/463
TrGr Constituição Federal, art. 142, «caput» e 1? ( ...) Recurso extraordinário.
RE 100.371 RTJ 108/850
Ct Constituição Federal, art. 144, 1?, «a» (...) Competência. RE 99.683 RTJ
108/788
Adm Constituição Federal, art. 153, 11/1 2? e 3? ( ...) Correção monetária. RE
97.189 RTJ 108/752
Trbt Contribuição do art. 36, § 2?, «b», da Lei 4.870/65 (legitimidade) (...)
Instituto do Açúcar e do Álcool. RE 97.280 RTJ 108/760
Adm Contribuição previdenciária (assistência médica) (...) Funcionário
aposentado. MS 20.351 RTJ 108/548
Cv Correção monetária (...) Desapropriação. Ag 92.855 (AgRg) RTJ 108/612
— RE 96.619 RTJ 108/713
PrSTF Correção monetária (cálculo) ( ...) Embargos de divergência. ERE 97.013
(EDcI-AgRg) RTJ 108/736
Adm Correção monetária. Imóveis da Previdência Social. Lei n? 5.049/66, art.
3?. Isenção desde a data do contrato e não da citação inicial. Invalidade
da cláusula. Constituição Federal, art. 153, IR 2? e 3?. RE 97.189 RTJ
108/752
Ct Correção monetária (...) Precatório. AR 948 (AgRg) RTJ 108/463
Trbt Correção monetária. Repetição do indébito fiscal. Termo inicial. RE
97.037 RTJ 108/745
Cm Crédito privilegiado (...) Concordata preventiva. RE 96.410 RTJ 108/692
Cm Credor com garantia real (...) Falência. RE 100.237 RTJ 108/839
Pn Crime continuado. Crimes contra a liberdade sexual. Estupro e atentado
violento ao pudor. Sujeito passivo único (admissibilidade). RE 100.562
RTJ 108/888
Pn Crime contra a honra. Ofensa irrogada em juizo. Imunidade judiciária.
Ofensas contra o Juiz. Injúria. Retratação. Código Penal, art. 142, I e 143.
RHC 61.303 RTJ 108/586
PrPn Crime contra a segurança nacional transformado em comum (...)
Competência. HC 61.025 RTJ 108/572
VI Crl-Des — INDICE ~ABEM)

PrPn Crime de receptação culposa ( ...) Dem:mear RHC 61.302 RTJ 108/583
Pn Crime de roubo. Tentativa. Flagrante. RECr 100.771 RTJ 108/909
Pn Crimes contra a liberdade sexual (...) Concurso material. RE 100.562 RTJ
108/888
Pn Crimes contra a liberdade sexual (...) Crime continuado. RE 100.562 RTJ
108/888

D
Cv Dano moral (...) Responsabilidade civil. RE 100.783 RTJ 108/912
Cv Dano moral postulado pela própria vitima (...) Responsabilidade civil. RE
95.103 RTJ 108/646
PrCv Decadência C..) Mandado de segurança. RE 100.174 RTJ 108/834
Ct Décimo terceiro salário (...) Competência. RE 96.424 RTJ 108/696
PrSTF Decisão de Turma do TFR (...) Recurso extraordinário. RE 95.529 RTJ
108/673
PrSTF Decisão de Turma em agravo regimental (...) Embargos de divergência.
EAg 84.121 (AgRg) RTJ 108/604
Adm Decreto 10.490-A/42 (...) Militar. MS 20.315 RTJ 108/540
Trbt Decreto 58.400/66, art. 247 ( ...) Imposto de renda. RE 96.615 RTJ 108/700
Trbt Decreto-lei 43/66, art. 29, c/c o art. 45 da Lei 4.131/62 ( ...) Imposto de
renda. RE 75.152 RTJ 108/591
Cv Decreto-lei 554/69 ( ...) Ação de desapropriação. RE 94.073 RTJ 108/620
Cv Decreto-lei 554/09, art. 11 (Inconstitucionalidade) (...) Desapropriação.
RE 99.849 RTJ 108/793
Cv Decreto-lei 554/69, art. 14 (...) Desapropriação Indireta. RE 100.375 RTJ
108/255
Adm Decreto-lei 1.910/81 (...) Fundeado aposentado. MS 20.351 RTJ 108/548
Ct Decreto-lei 2.019/83 (exegese) (...) Magistrado. Rp 1.155 RTJ 108/486
Cv Decreto-lei 3.365/41, art. 35 O-) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ
108/855
Cm Decreto-lei 7.661/45, art. 9?, III, sim (...) Falência. RE 100.237 RTJ 108/839
Cm Decreto-lei 7.661/45, art. 24 (inapticabilidade) (...) Concordata preventiva.
RE 96.410 RTJ 108/992
Ct Demora no pagamento (...) Precatório. AR 948 (AgRg) RTJ 108/463
PrPn Denúncia. Crime de receptação culposa. Avaliação da ares furtiva» (ine-
xistência). Código de Processo Penal, art. 167 (aplicação). RHC 61.302
RTJ 108/583
PrSTF Denunciação à lide pelo réu, como denunciado do autor (impossibilidade)
( ...) Ação eive) originária. ACOr 319 RTJ 108/459
PrCv Depositário infiel (...) Alienação fiduciária em garantia. HC 61.150 RTJ
108/577
Cv Desapropriação. Indenização (atualização). Coisa julgada. Súmula 416
(inteligência). RE 100.557 RTJ 108/934
Cv Desapropriação. Nova avaliação (descabimento). Correção monetária (a-
plicação). Juros compensatórios (termo inicial). Procedimentos especiais
de jurisdição contenciosa (abrangência). Regimento Interno do STF/80,
art. 325, inciso V, letra «C». RE 96.619 RTJ 108/713
INDICE ALFABETICO Des-Emb VII

Cv Desapropriação. Principio da justa indenização. Correção monetária (de-


sindexação). Súmula 282 e 356. Ag 92.855 (AgRg) RTJ 108/612
Cv Desapropriação. Reforma agrária. Principio da justa Indenização.
Decreto-lei 554/69, art. 11 (1nconstitucionalidade). RE 99.849 RTJ 108/793
Cv Desapropriação indireta. Imóvel rural. Reforma agrária. Interesse social.
Empresa rural. Ação direta. Nulidade da desapropriação. Perdas e danos.
Decreto-lei 554/69, art. 14. Decreto-lei 3.365/41, art. 35. RE 100.375 RTJ
108/855
PrCv Designação do dia (desnecessidade) (...) Intimação. RE 82.105 RTJ
108/602
Cv Dimensões do imóvel inferiores ás constantes da escritura (...) Compra e
venda. RE 99.982 RTJ 108/815
Adm Direito adquirido (inexistência) (...) Aposentadoria previdenciária. RE
94.390 RTJ 108/€27
Adm Direito adquirido (inexistência) (...) Funcionário aposentado. MS 20.351
RTJ 108/548
Adm Direito adquirido (...) Licença de construção. RE 96.640 RTJ 108/720
PrCv Direito adquirido (inexistência) (...) Membro do Ministério Público. RE
99.594 RTJ 108/785
Adm Direito adquirido (...) Pensão. RE 96.609 RTJ 108/698
PrSTF Direito local (...) Recurso extraordinário. RE 96.318 RTJ 108/685
TrOr Dissídio coletivo (...) Recurso extraordinário. RE 100.371 RTJ 108/850
PrSTF Divergência com a Súmula 291 (impossibilidade) (...) Recurso
extraordinário. Ag 92.946 (AgRg) RTJ 108/614
PrSTF Divergência jurisprudencial (prova) (...) Recurso extraordinário. ERE
97.013 (EDel-AgRg) RTJ 108/736
Prev Divergência superada (...) Ação de usucapião. ERE 96.696 (AgRg) RTJ
108/732
PrSTF Dívida de valor (...) Embargos de divergência. ERE 97.013 (EDcI-AgRg)
RTJ 108/736
Cv Divórcio. Partilha prévia de bens (quando se exige). Lei do divórcio (exe-
gese, arts. 31, 40, 2? e 43). RE 97.191 RTJ 108/755
Cv Divórcio. Prova da separação de fato. Código de Processo Civil, art. 336.
RE 97.191 RTJ 108/755
PrSTF Divórcio (...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ 108/755
Int Divórcio (...) Sentença estrangeira. SE 3.368 RTJ 108/516
Cv Divórcio direto. Partilha prévia de bens (desnecessidade). Lel do divór-
cio, art. :31 (exegese). RE 97.191 RTJ 108/755
Int Divórcio registrado perante autoridade administrativa (...) Sentença
estrangeira. SE 3.373 RTJ 108/518

E
Int Eleição do foro (...) Sentença estrangeira. SE 3.368 RTJ 108/516
Cm Elementos essenciais não configurados (...) Sociedade em conta de parti-
cipação (caracterização) RE 95.230 RTJ 108/651
PrSTF Embargos de divergência. Correção monetária (cálculo). Dívida de valor.
Lei n? 6.899/81. ERE 97 013 (EDc1-AgRg) RTJ 108/736
VIII Emb-Fal — /NDICE ALFABÉTICO

PrSTF Embargos de divergência. Decisão de Turma em agravo regimental. Sú-


mula 599. EAg 84.121 (AgRg) RTJ 108/604
PrSTF Embargos de divergência. Temas jurídicos diversos. Prestações previden-
ciárlas (correção monetária). Aposentadoria por invalidez (acórdão em-
bargado). Abono de permanência (acórdão-padrão). ERE 94.583 RTJ
108/637
PrCv Embargos de terceiro. Execução. Mulher desquitada. Partilha. Código de
Processo Civil, art. 1.046, ff 2? e 3? (exegese). RE 93.896 RTJ 108/617
PrCv Embargos de terceiro ( ...) Executivo fiscal. RE 80.834 RTJ 108/596
PrCv Embargos de terceiro (impropriedade) ( ...) Fraude contra credores. RE
80.834 RTJ 108/596
PrSTF Embargos do art. 894 da CLT (cabimento) (...) Recurso extraordinário.
Ag 95.790 (AgRg) RTJ 108/675
Cf Emenda Constitucional 17/80-RS (inconsUlucionalidade) (...) Concurso
público. Rp 1.114 RTJ 108/466
PrCv Empregado da LBA lotado em maternidade transferida ao INAMPS ( ...)
Competência. CJ 6.358 RTJ 108/519
Mm Empregado da Petrobrás (...) Pensão. RE 96.609 RTJ 108/698
Cv Empresa rural ( ...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
Frit Empresa sob intervenção da União ( ...) Competência. RE 81.493 RTJ
108/599
TrOr Enquadramento funcional (...) Reclamação trabalhista. RE 100.145 RTJ
108/828
Adm Equiparação (...) Funcionalismo. RE 100.564 RTJ 108/891
TrGr Equiparação salarial (inocorrência) (...) Reclamação trabalhista. RE
100,145 RTJ 108/828
Trbt Escrituração encerrada (...) Imposto de consumo. RE 99.718 RTJ 108/790
Int Estrangeiro (...) Expulsão. HC 61.374 RTJ 108/588
Pn Estupro e atentado violento ao pudor ( ...) Concurso material. RE 100.562
RTJ 108/888
Pn Estupro e atentado violento ao pudor (...) Crime continuado. RE 100.562
RTJ 108/888
Adm Ex-combatente (...) Aposentadoria previdenciária. RE 94.390 RTJ 108/627
Ct Ex-deputado ( ...) Parlamentar. APn 276 RTJ 108/458
Prev Execução ( ...) Embargos de terceiro. RE 93.896 RTJ 108/617
Cm Execução contra o devedor concordatárlo e seus avalistas (...)
Concordata preventiva. RE 96.410 RTJ 108/692
PrCv Executivo fiscal. Penhora. Embargos de terceiro. Promessa de compra e
venda inscrita antes da autuação fiscal. Código de Processo Civil, art.
1.137. RE 80.834 RTJ 108/596
Trbt Exibição de filmes estrangeiros (direito adquirido a preço fixo) ( ...)
Imposto de renda. RE 75.152 RTJ 108/591
Int Expulsão. Estrangeiro. Ato já exaurido em seus efeitos. Habeas corpus
(indeferimento). HC 61.374 RTJ 108/588
F
Cm Falência. Credor com garantia real. Renúncia à garantia real. Ato ou ter-
mo especifico (ausência). Decreto-lei 7.661/45, art. 9?, HI, «b». RE 160.237
RTJ 108/839
INDICE ALFABÉTICO — Far-HOn IX

Adm Farmácia. Oficial de farmácia provisionado. Licenciamento de estabeleci-


mento farmacêutico e provisionamento do oficial de farmácia (distinção).
Renovação de licença. Lei 5.991/73, arte. 15, 3? e 57. RE 96.019 RTJ
108/680
Adm FEPASA (...) Funcionalismo. RE 100.564 RTJ 108/891
Adm Ferroviário ( ...) Funcionalismo. RE 100.564 RTJ 108/891
Pn Flagrante (...) Crime de roubo. RECr 100.771 RTJ 108/909
Prev Fraude contra credores. Ação pauliana. Embargos de terceiro (impro-
priedade). RE 80.834 RTJ 108/596
Adm Funcionalismo. Aposentadoria. Ferroviário. FEPASA. Equiparação. Iso-
nomia. RE 100.564 RTJ 108/891
Adm Funcionalismo. Revisão de proventos. Plano de classificação de cargos da
Lei 5.645/70. Súmula 41 do TFR. Pedido de aplicação da Lel n? 2.622/55.
Regimento Interno do STF/80, art. 325, IV, «d». RE 95.071 RTJ 108/645
Adm Funcionário aposentado. Proventos. Contribuição previdenciária (assis-
tência médica). Isenção. Lei Nova. Direito adquirido (inexistência).
Decreto-lei 1.910/81. MS 20.351 RTJ 108/548
Ct Funcionários públicos não optantes cedidos à SABESP (...) Competência.
RE 96.424 RTJ 108/696
Pn Furto privilegiado. Furto qualificado. Valor da ares furtiva». Prejuízo da
vitima. Código Penal, art. 155, 2?. RECr 100.024 RTJ 108/820
Pn Furto qualificado (...) Furto privilegiado. RECr 100.024 RTJ 108/820

G
Trbt GATT (...) Imposto sobre circulação de mercadorias. RE 99.332 RTJ
108/769
Ct Gratificação «pro labore» (majoração) (...) Assembléia Legislativa. Rp
1.132 RTJ 108/472

H
PrPn Habeas corpus. Apelação pendente. RHC 61.506 RTJ 108/590
Int Habeas corpus (indeferimento) (...) Expulsão. HC 61.374 RTJ 108/588
PrPn Habeas corpus (inidoneldade) (...) Júri. RHC 60.985 RTJ 108/570
Ct Habeas corpus contra o Conselho da Justiça Federal (...) Competência.
HC 61.181 RTJ 108/579
Adm Herdeira de Oficial Administrativo da Alfândega de Santos (...) Pensão.
RE 88.707 RTJ 108/605
Prev Herdeiros ausentes ou menores (...) Inventário. RE 100.716 RTJ 108/901
PrPn Homicídio privilegiado quanto a um dos réus (...) Júri. RHC 60.985 RTJ
108/570
Cv Homologação (recusa pelo juiz) (...) Separação consensual. RE 100.633
RTJ 108/894
Int Homologação concedida (...) Sentença estrangeira. SE 3.373 RTJ 108/518
Prev Honorários de advogado ( ...) Inventário. RE 100.716 RTJ 108/901
Prev Honorários de advogado. Mandado de segurança. Súmula 512. RE 101.214
RTJ 108/919
X — INDICE ALFABETIco

Ct Idade (limite) (...) Concurso público. Rp 1.114 RTJ 108/466


Adm Ilegalidade (...) Acumulação de cargos. Ag 92.946 ( AgRg) RTJ 108/614
Adm Imóveis da Previdência Social (...) Correção monetária. RE 97.189 RTJ
108/752
Cv Imóvel rural (...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
Prev Impetração em caráter preventivo ( ...) Mandado de segurança. MS 20.352
RTJ 108/553
Trbt Imposto de consumo. Compensação de adicional. Escrituração encerrada.
Lei 4.388/64. RE 99.718 RTJ 108/790
Trbt Imposto predial e territorial (...) Imunidade fiscal. RE 100.816 RTJ
108/914
Trbt Imposto de renda. Cálculo. Exibição de filmes estrangeiros (direito adqui-
rido a preço fixo). Decreto-lei 43/66, art. 29, c/c o art. 45 da Lei 4.131/62.
RE 75.152 RTJ 108/591
Trbt Imposto de renda. Compensação de prejuízos. Reservas ou lucros suspen-
sos (existência). Decreto 58.400/66, art. 247. RE 96.615 RTJ 108/700
Trbt Imposto de renda. Lançamento (revisão). Cerceamento de defesa (ausên-
cia). RE 100.158 RTJ 108/830
Ct Imposto de renda (isenção) (...) Magistrado. Rp 1.155 RTJ 108/486
Trbt Imposto sobre circulação de mercadorias. Isenção. GATT. Operação sub-
seqüente. Bacalhau importado. RE 99.332 RTJ 108/769
PrSTF Imposto sobre circulação de mercadorias ( ...) Recurso extraordinário.
RE 100.747 RTJ 108/907
Trbt Imunidade fiscal. Sindicato. Imposto predial e territorial. Código Tributá-
rio Nacional, art. 19, III, «c» e 14 (exegese). RE 100.816 RTJ 108/914
Pn Imunidade Judiciária (...) Crime contra a honra. RHC 61.303 RTJ 108/586
Ct Imunidade processual ( ...) Parlamentar. APn 276 RTJ 108/458
PrSTF Incidente de uniformização de Jurisprudência. Procedimento não discipli-
nado no Regimento Interno do STF. Código de Processo Civil, art. 476.
EAg 84.121 (AgRg) RTJ 108/604
PrSTF Incompetência do STF (...) Ação cível originária. ACOr 319 RTJ 108/459
Cv Indenização (atualização) ( ...) Desapropriação. RE 100.557 RTJ 108/884
Cv Indenização ( ...) Responsabilidade civil. RE 100.783 RTJ 108/912
Trbt Inexistência de bitributação ou revogação pelo Decreto-lei 564/69 (...)
Instituto do Açúcar e do Álcool. RE 97.280 RTJ 108/760
Ct Iniciativa legislativa (...) Assembléia Legislativa. Rp 1.132 RTJ 108/472
Pn Injúria (...) Crime contra a honra. RHC 61.303 RTJ 108/586
Trbt Instituto do Açúcar e do Álcool. Contribuição do art. 36, § 2?, «b», da Lei
4.870/65 (legitimidade). Inexistência de bitributação ou revogação pelo
Decreto-lei 564/69. Matéria constitucional não prequestionada. Súmulas
282 e 356. RE 97.280 RTJ 108/760
Cv Interesse de um dos cônjuges (...) Separação consensual. RE 100.633 RTJ
108/894
Cv Interesse social (...) Ação de desapropriação. RE 94.073 RTJ 108/620
Cv Interesse social ( ...) Desapropriação Indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
Cv Interpelação Judicial (desnecessidade) ( ) Compra e venda. RE 99.407
RTJ 108/775
1NDICE ALFABÉTICO — Int-Lao XI

Cv Interposta pessoa (...) Venda de ascendente a descendente. RE 100.440


RTJ 108/881
Ct Interpretação de lei em tese (...) Representação de inconstitucionalidade.
Rp 1.155 (questão de ordem) RTJ 108/477
PrCv Intimação. Pauta de Julgamento. Designação do dia (desnecessidade). Có-
digo de Processo Civil, art. 552, 1?. RE 82.105 RTJ 108/602
Adm Invalidada da cláusula (...) Correção monetária. RE 97.189 RTJ 108/752
PrCv Inventário. Honorários de advogado. Herdeiros ausentes ou menores. RE
100.716 RTJ 108/901
PrSTF Investigação de paternidade (...) Recurso extraordinário. Ag 91.744
(AgRg) RTJ 108/610
Adm Isenção (...) Funcionário aposentado. MS 20.351 RTJ 108/548
Trbt Isenção (...) Imposto sobre circulação de mercadorias. RE 99.332 RTJ
108/769
Adm Isenção desde a data do contrato e não da citação inicial (...) Correção
monetária. RE 97.189 RTJ 108/752
Adm Isonomia (...) Funcionalismo. RE 100.564 RTJ 108/891

PrPn Juiz e MP Federal (...) Conflito de atribuinles. CA 12 RTJ 108/455


Ct Juiz de Tribunal de Contas estadual (nomeação) (...) Parlamentar. MS
20.313 RTJ 108/529
PrPn Juizo da Vara de Execuções Criminais (...) Competência. HC 61.025 RTJ
108/572
PrPn Júri. Co-autoria. Homicídio privilegiado quanto a um dos réus. Supressão
do Julgamento quanto ao outro co-réu. Habeas corpus (inidoneidade).
RHC 60.985 RTJ 108/570
Pn Júri. Quesitos. Co-autoria. Autoria direta negada. Teoria da equivalência
das causas. Código Penal, art. 25. HC 60.863 RTJ 108/566
Cv Juros compensatórios (termo inicial) (...) Desapropriação. RE 96.619 RTJ
108/713
Trbt Juros da mora (termo inicial) (...) Repetição do indébito. RE 97.037 RTJ
108/745
Ct Justiça comum (...) Competência. RE 96.424 RTJ 108/696
PrCv Justiça estadual (posicionamento na 1! divisão de clubes e Inicio do cam-
peonato estadual) (...) Conflito de Jurisdição. CJ 6.406 RTJ 108/522
PrCv Justiça Federal (...) Competência. CJ 6.358 RTJ 108/519
PrCv Justiça Federal (medida liminar contra ato do CND) (...) Conflito de
Jurisdição. CJ 6.405 RTJ 108/522
Ct Justiça militar estadual (...) Competência. RE 99.683 RTJ 108/788
TrGr Justiça do trabalho (...) Competência. CJ 6.418 RTJ 108/527 — RE 81.493
RTJ 108/599

L
Trbt Lançamento (revisão) (...) Imposto de renda. RE 100.158 RTJ 108/830
Adm Lavoura canavieira. Trabalhador rural. Concessão de área de terras pró-
ximas à moradia. Ato n? 18/68, do Presidente do IAA (constitucionalida-
de). RE 96.616 RTJ 108/709
XII Lei-Mag — INDICE ALFABÉTICO

PrSTF Lei 440/74-SP, art. 87 ( ...) Recurso extraordinário. RE 100.747 RTJ 108/907
Trbt Lei 1.042/73 e 1.166/73 do município de Ibitinga-SP (Inconstítucionalidade)
(...) Taxa de conservação de estradas. RE 96.344 RTJ 108/689
Adm Lei 1.156/50 ( ...) Militar. MS 20.315 RTJ 108/540
Ct Lei 3.067/81-SP (inconstitucionalidade) (...) Assembléia Legislativa. Rp
1.132 RTJ 108/472
Prev Lei 4.215/63, arts. 109, IV e 113 ( ...) Advogado. RHC 61.081 RTJ 108/574
Trbt Lei 4.388/64 (...) Imposto de consumo. RE 99.718 RTJ 108/790
Adm Lei 5.049/66, art. 3? ( ...) Correção monetária. RE 97.189 RTJ 108/752
Adm Lei 5.291/67 (...) Pensão. RE 88.707 RTJ 108/605
Adm Lei 5.698/71 (...) Aposentadoria previdenciária. RE 94.390 RTJ 108/627
Adm Lei 5.991/73, arts. 15, fl 3? e 57 ( ...) Farmácia. RE 96.019 RTJ 108/680
PrCv Lei 6.439/77 ( ...) Competência. CJ 6.358 RTJ 108/519
Cv Lei 6.515/77, art. 34, § 2? ( ...) Separação consensual. RE 100.633 RTJ
108/844
PrSTF Lel 6.899/81 ( ...) Embargos de divergência. ERE 97.013 (EDcl-AgRg) RTJ
108/736
PrCv Lei Complementar 40/81, art. 24, II (...) Membro do ministério público.
RE 99.594 RTJ 108/785
Cv Lei do divórcio (exegese, arts. 31, 40, f 2? e 43) (...) Divórcio. RE 97.191
RTJ 108/755
Cv Lei do divórcio, art. 31 (exegese) (...) Divórcio direto. RE 97.191 RTJ
108/755
PrCv Lei em tese (descabimento) ( ...) Mandado de segurança. MS 20.352 RTJ
108/553
Ct Lei especial (inexistência) (...) Competência. CJ 6.418 RTJ 108/527
Trbt Lei municipal 1.261/80, de São Miguel do Oeste, arts. 59, 64, 69 e 74, 11 2?
(inconstitucionalidade). ( ...) Taxa de lixo. RE 100.729 RTJ 108/903
Adm Lei nova (...) Funcionário aposentado. MS 20.351 RTJ 108/548
Adm Lei nova ( ...) Licença de construção. RE 96.640 RTJ 108/720
PrPn Lei Orgânica da Magistratura Nacional, art. 101, • 3?, «e» ( ...) Revisão
criminal. RECr 99.008 RTJ 108/763
PrSTF Lei de Organização Judiciária do DF (...) Recurso extraordinário. RE
96.318 RTJ 108/685
PrSTF Letra «b» (...) Recurso extraordinário. RE 95.529 RTJ 108/673
Adm Licença de construção. Pedido de alvará. Lei nova. Direito adquirido. RE
96.640 RTJ 108/720
Adm Licenciamento de estabelecimento farmacêutico e provisionamento do ofi-
cial de farmácia (distinção) (...) Farmácia. RE 96.019 RTJ 108/680
PrCv Litispendência ( ...) Ação demarcatórla. RE 97.028 RTJ 108/740

M
Ct Magistrado. Adicional por tempo de serviço (majoração). Imposto de ren-
da (isenção). Magistrado de qualquer instância (alcance da expressão).
Decreto-lei 2.019/83 (exegese). Rp 1.155 RTJ 108/486
Ct Magistrado de qualquer instância (alcance da expressão) ( ...)
Magistrado. Rp 1.155 RTJ 108/486
INDICE ALFABÉTICO — Man-Par XIII

Prev Mandado de segurança. Decadência. Suplente de deputado estadual. RE


100.174 RTJ 108/834
Prev Mandado de segurança (...) Honorários de advogado. RE 101.214 RTJ
108/919
PrCv Mandado de segurança. Impetração em caráter preventivo. Lel em tese
(descabimento). MS 20.352 RTJ 108/553
TrGr Matéria constitucional (inexistência) (...) Recurso extraordinário. RE
100.371 RTJ 108/850
Trbt Matéria constitucional não prequestionada (...) Instituto do Açúcar e do
Álcool. RE 97.280 RTJ 108/760
PrSTF Matéria trabalhista ( ...) Recurso extraordinário. Ag 92.946 (AgRg) RTJ
108/614
Adm Médico do Estado, do Banco do Brasil e do INPS (...) Acumulação de
cargos. Ag 92.946 (AgRg) RTJ 108/614
PrCv Membro do ministério público. Proibição do exercício da advocacia. Lei
Complementar 40/81, art. 24, II. Direito adquirido (inexistência). RE
99.594 RTJ 108/785
Adm Militar. Tempo de serviço. Zona de guerra. Tiro de guerra. Lei 1.156/50.
Decreto 10.490-A/42. MS 20.315 RTJ 108/540
Ct Militares à disposição (...) Assembléia Legislativa. Rp 1.132 RTJ 108/472
Cv Mora ( ...) Compra e venda. RE 99.407 RTJ 108/775
PrCv Mulher desquitada (...) Embargos de terceiro. RE 93.896 RTJ 108/617
N
Ct Nomeação pelo governador com prévia aprovação da Assembléia Legisla-
tiva (...) Representação de inconstltucionalidade. Rp 1.160 RTJ 108/505
Cv Nova avaliação (descabimento) (...) Desapropriação. RE 96.619 RTJ
108/713 -
Adm Novo sistema de benefícios (...) Pensão. RE 96.609 RTJ 108/698
Cv Nulidade (...) Venda de ascendente a descendente. RE 100.440 RTJ 108/881
Cv Nulidade do decreto expropriatOrio (...) Ação de desapropriação. RE
94.073 RTJ 108/620
Cv Nulidade da desapropriação ( ...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ
108/855

Pn Ofensa irrogada em juizo (...) Crime contra a honra. RITO 61.303 RTJ
108/586
Pn Ofensas contra o Juiz (...) Crime contra a honra. RHC 61.303 RTJ 108/586
Adm Oficial de farmácia provisionado (...) Farmácia. RE 96.019 RTJ 108/680
Trbt Operação subseqüente (...) Imposto sobre circulação de mercadorias. RE
99.332 RTJ 108/769

Ct Parlamentar. Imunidade processual. Ex-deputado. Sustação do processo


(descabimento). Resolução 13/83 da Câmara dos Deputados (inconstitu-
cionalidade). APn 276 RTJ 108/458
XIV Par-Pre — INDICE ALFABÉTICO

Ct Parlamentar. Suplência de Deputado Federal Juiz de Tribunal de Contas


estadual (nomeação). Perda da suplência. Constituição Federal, art. 114,
III, c/c 13, IX. MS 20.313 RTJ 108/529
PrSTF Particular vs União Federal e FUNAI ( ...) Ação cível originária. ACOr
319 RTJ 108/459
PrCv Partilha ( ...) Embargos de terceiro. RE 93.896 RTJ 108/617
Cv Partilha p révia de bens ( quando se exige) (...) Divórcio. RE 97.191 RTJ
108/755
Cv Partilha prévia de bens (desnecessidade) (...) Divórcio direto. RE 97.191
RTJ 108/755
PrCv Pauta de julgamento (...) Intimação. RE 82.105 RTJ 108/602
Adm Pedido de alvará (...) Licença de construção. RE 96.640 RTJ 108/720
Mm Pedido de aplicação da Lei 2.622/55 (...) Funcionalismo. RE 95.071 RTJ
108/645
PrPn Pedido de arquivamento indireto ( ...) Conflito de atribuições. CA 12 RTJ
108/455
PrPn Pena acessória. Perda de função militar. Aplicação da pena em grau de
apelação. «Reformatio in pejus» (inexistência). Código Penal Militar, art.
102. HC 60.543 RTJ 108/561
Pn Pena concretizada (...) Prescrição. RECr 100.227 RTJ 108/838
PrCv Penhora (...) Executivo fiscal. RE 80.834 RTJ 108/596
Adm Pensão. Novo sistema de benefícios. Empregado da Petrobrás. Direito ad-
quirido. RE 96.609 RTJ 108/698
Adm Pensão. Reajuste em virtude de reclassificação. Herdeir-a de Oficial Ad-
ministrativo da Alfândega de Santos. Lei 5.291/67. RE 88.707 RTJ 108/605
PrPn Perda da função militar (...) Pena acessória. HC 60.543 RTJ 108/561
Ct Perda da suplência ( ...) Parlamentar. MS 20.313 RTJ 108/529
Cv Perdas e danos (...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
TrGr Plano de classificação de cargos ( ...) Reclamação trabalhista. RE 100.145
RTJ 108/828
Adm Plano de classificação de cargos da Lei 5.645/70 ( ...) Funcionalismo. RE
95.071 RTJ 108/645
Ct Policial militar no exercício de policiamento civil (...) Competência. RE
99.683 RTJ 108/788
Ct Precatório. Demora no pagamento. Atualização complementar do cálculo.
Correção monetária. Constituição Federal art. 117, §§ 1? e 2?. AR 948
(AgRg) RTJ 108/463
Ct Prefeito da Capital do Estado ( ) Representação de
inconstitucionalidade. Rp 1.160 RTJ 108/505
PrPn Prejudicialidade do recurso (inocorrência) (... ) Recurso em sentido
estrito. RECr 99.265 RTJ 108/767
Pn Prejuízo da vitima (...) Furto privilegiado. RECr 100.024 RTJ 108/820
PrSTF Prequestionamento (falta) (... ) Recurso extraordinário. RE 100.714 RTJ
108/898
Pn Prescrição. Pena concretizada. Código Penal, art. 110, §§ 1? e 2? (redação
da Lei 6.416/77). RECr 100.227 RTJ 108/838
PrSTF Pressupostos ( ...) Recurso extraordinário. ERE 97.913 (EDcl-AgRg) RTJ
108/736
PrSTF Prestações previdenciárlas • (correção monetária) ( ...) Embargos de
divergência. ERE 94.583 RTJ 108/637
INDICE ALFABÉTICO — Prl-Rec XV

Cv Principio da justa indenização (...) Desapropriação. Ag 92.855 (AgRg)


RTJ 108/612 RE 99.849 RTJ 108/793
PrCv Prisão civil (ilegitimidade) (...) Alienação fiduciária em garantia. HC
61.150 RTJ 108/577
PrSTF Procedimento não disciplinado no Regimento Interno do STF (...)
Incidente de uniformização de jurisprudência. EAg 84.121 (AgRg) RTJ
108/604
Cv Procedimentos especiais de jurisdição contenciosa (abrangência) (...)
Desapropriação. RE 96.619 RTJ 108/713
PrCv Proibição do exercido da advocacia (...) Membro do ministério público.
RE 99.594 RTJ 108/785
PrCv Promessa de eompra C venda inscrita antes da autuação fiscal (...)
Executivo fiscal. -RE 80.834 RTJ 108/596
Cv Promessa não inscrita (...) Compra e venda. RE 99.407 RTJ 108/775
Cv Prova da separação de fato (...) Divórcio. RE 97.191 RTJ 108/755
PrSTF Prova da separação de fato (...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ
108/755
Adm Proventos (incorporação) (...) Aposentadoria. RE 99.536 RTJ 108/779
Adm Proventos (cálculo) ( ...) Aposentadoria previdenciária. RE 94.390 RTJ
108/627
Adm Proventos (...) Funcionário aposentado. MS 20.351 RTJ 108/548

Cv Qualificação jurídica de contrato ( ...) Sociedade em conta de


participação. RE 95.230 RTJ 108/651
Pn Quesitos (...) Júri. HC 60.863 RTJ 108/566
PrSTF Questão constitucional (ausência) (...) Recurso extraordinário (art. 143 da
Constituição). Ag 95.790 (AgRg) RTJ 108/675
PrSTF Questão constitucional (menção genérica) (...) Recurso extraordinário.
RE 100.714 RTJ 108/898
R
PrPn Razões apresentadas tempestivamente (juntada tardia) (... ) Recurso em
sentido estrito. RECr 99.265 RTJ 108/767
Adm Reajustamentos futuros (...) Aposentadoria previdenciária. RE 94.390
RTJ 108/627
Adm Reajuste em virtude de reclassificação ( ...) Pensão. RE 88.707 RTJ
108/605
TrGr Reclamação trabalhista (...) Competência. CJ 6.358 RTJ 108/519 — RE
81.493 RTJ 108/599 — RE 96.424 RTJ 108/696
TrGr Reclamação trabalhista. Rede Ferroviária Federal S/A. Plano de classifi-
cação de cargos. Enquadramento funcional. Equiparação salarial (inocor-
renda). RE 100.145 RTJ 108/828
TrGr Reclamação trabalhista. Rede Ferroviária Federal S/A. Reenquadramen-
to funcional. RE 100.110 RTJ 108/826
PrPn Recurso em sentido estrito. Razões apresentadas tempestivamente (junta-
da tardia). Prejudicialidade do recurso (inocorrência). RECr 99.265 RTJ
108/767
PrSTF Recurso extraordinário. Acidente do trabalho. Questão constitucional
(menção genérica). Prequestionamento (falta). RE 100.714 RTJ 108/898
XVI Rec-Ren — INDICE ALFABETICO

PrSTF Recurso extraordinário. Alçada regimental. Imposto sobre circulação de


mercadorias. Acréscimo moratório já declarado inconstitucional. Lei
440/74-SF', art. 87. Regimento Interno do STF/80, art. 325, VIII. RE 100.747
RTJ 108/907
PrSTF Recurso extraordinário (art. 143 da Constituição). Cabimento de embar-
gos (art. 894 da CLT). Questão constitucional (ausência). Ag 95.790
(AgRg) RTJ 108/675
TrGr Recurso extraordinário. Dissídio coletivo. Competência funcional. Alega-
ção de falta de esgotamento das medidas relativas à formalização da con-
venção (CLT, art. 616). Matéria constitucional (inexistência). Constituição
Federal art. 142, «caput» e § 1?. RE 100.371 RTJ 108/850
PrSTF Recurso extraordinário. Divergência jurisprudencial ( prova). Pressupos-
tos. Regimento Interno do STF/80, arts. 322 e 331. ERE 97.013 (EDcI-
AgRg) RTJ 108/736
PrSTF Recurso extraordinário. Divórcio. Prova da separação de fato. Reexame
de prova. Súmula 279. RE 97.191 RTJ 108/755
PrSTF Recurso extraordinário. Embargos do art. 894 da CLT ( cabimento). Ques-
tão constitucional (ausência). Ag 95:790 (AgRg) RTJ 108/675
PrSTF Recurso extraordinário. Letra «b». Decisão de Turma do TFR. RE 95.529
RTJ 108/673
PrSTF Recurso extraordinário. Matéria trabalhista. Divergência com a Súmula
291 (impossibilidade). Ag 92.946 (AgRg) RTJ 108/614
PrSTF Recurso extraordinário. Reexame de prova. Investigação de paternidade.
Ag 9L794 (AgRg) RTJ 108/610
PrSTF Recurso extraordinário. Serventia extrajudicial não oficializada. Lei de
Organização Judiciária do D.F. Direito local. Súmula 280. RE 96.318 RTJ
108/685
PrSTF Recurso extraordinário. Valor da causa. Ação de divórcio. Veto regimen-
tal (inaplicação). RE 97.191 RTJ 108/755
TrGr Rede Ferroviária Federal S/A ( ...) Reclamação trabalhista. RE 100.110
RTJ 108/826 — RE 100.145 RTJ 108/828
TrGr Reenquadramento funcional ( ...) Reclamação trabalhista. RE 100.110 RTJ
108/826
PrSTF Reexame de prova ( ...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ 108/755 —
Ag 91.744 (AgRg) RTJ 108/610
Cv Reforma agrária (...) Ação de desapropriação. RE 94.073 RTJ 108/620
Cv Reforma agrária ( ...) Desapropriação. RE 99.849 RTJ 108/793
Cv Reforma agrária ( ...) Desapropriação indireta. RE 100.375 RTJ 108/855
PrPn «Reformatio in pejus» ( inexistência) (...) Pena acessória. HC 60.543 RTJ
108/561
PrSTF Regimento Interno do STF/80, arts. 322 e 331 ( ...) Recurso extraordinário.
ERE 97.013 (EDcI-AgRg) RTJ 108/736
Adm Regimento Interno do STF/80, art. 325, IV, «d» ( ...) Funcionalismo. RE
95.071 RTJ 108/645
Cv Regimento Interno do STF/80, art. 325, inciso V, letra «c» ( )
Desapropriação. RE 96.619 RTJ 108/713
PrSTF Regimento Interno do STF/80, art. 325, VIII (...) Recurso extraordinário.
RE 100.747 RTJ 108/907
PrCv Regimento Interno do STF/80, art. 322 ( ...) Ação de usucapião. ERE
96.696 (AgRg) RTJ 108/732
Adm Renovação de licença (...) Farmácia. RE 96.019 RTJ 108/680
INDICE ALFABETICO — Ren-Soc XVII

Cm ReMuicia à garantia real (... ) Falência. RE 100.237 RTJ 108/839


Trbt Repetição do indébito. Juros da mora ( termo inicial). Código Tributário
Nacional, art. 167, parágrafo único. RE 97.037 RTJ 108/745
Trbt Repetição do indébito fiscal (...) Correção monetária. RE 97.037 RTJ
108/745
Ct Representação de inconstitucionalidade. Interpretação de lei em tese. As-
sistência (descabimento). Rp 1.155 (questão de ordem) RTJ 108/477
Ct Representação de inconstitucionalidade. Prefeito da Capital do Estado.
Nomeação pelo governador com prévia aprovação da Assembléia Legisla-
tiva. Ato de aprovação. Voto cumulativo do Presidente (desempate). Ato
concreto não atacável por representação. Rp 1.160 RTJ 108/505
Cv Rescisão ( ...) Compra e venda. RE 99.407 RTJ 108/775
Trbt Reservas ou lucros suspensos (existência) (...) Imposto de renda. RE
96.615 RTJ 108/700
Ct Resolução 13/83 da Câmara dos Deputados (inconstitucionalidade) (...)
Parlamentar. APn 276 RTJ 108/458
Cv Responsabilidade civil. Acidente de automóvel. Compra e venda não re-
gistrada. Súmula 489. RE 95.923 RTJ 108/676
Cv Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Dano moral postulado pela
própria vitima. Súmula 291. RE 95.103 RTJ 108/646
Cv Responsabilidade civil. Indenização. Dano moral. Acidente ferroviário.
RE 100.783 RTJ 108/912
Int Responsabilidade solidária (...) Transporte aéreo. RE 100.300 RTJ 108/844
Pn Retratação ( ...) Crime contra a honra. RHC 61.303 RTJ 108/526
PrPn Revisão criminal. Competência. Seção criminal especializada. Lel Orgâni-
ca da Magistratura Nacional, art. 101, 4 3?, «e». RECr 99.008 RTJ 108/763
Adm Revisão de proventos (...) Funcionalismo. RE 95.071 RTJ 108/645

PrPn Seção Criminal especializada ( ...) Revisão criminal. RECr 99.008 RTJ
108/763
Int Sentença estrangeira. Divórcio. Cônjuge brasileiro. Eleição do foro. SE
3.368 RTJ 108/516
Int Sentença estrangeira. Divórcio registrado perante autoridade administra-
tiva. Sistema jurídico japonês. Homologação concedida. SE 3.373 RTJ
108/518
Cv Separação consensual. Homologação (recusa pelo juiz). Interesse, de um.
dos cônjuges. Lel 6.515/77, art. 34, $) 2?. RE 100.633 RTJ 108/894
PrSTF Serventia extrajudicial não oficializada (...) Recurso extraordinário. RE
96.318 RTJ 108/685
Ct Servidor temporário (...) Competência. CJ 6.418 RTJ 108/527
Trbt Sindicato ( ...) Imunidade fiscal. RE 100.816 RTJ 108/914
Int Sistema jurídico japonês (...) Sentença estrangeira. SE 3.373 RTJ 108/518
Cm Sociedade em conta de participação (caracterização). Elementos essen-
ciais não confi gurados. Código Comercial, art. 325. Código Civil, art. 1.364.
Código de Processo Civil, art. 267, VI. RE 95230 RTJ 108/651
Cv Sociedade em conta de participação. Qualificação jurídica de contrato.
Código Civil, art. 85 (exegese). RE 95.230 RTJ 108/651
XVIII Suj-Tra — INDICE ALFABÉTICO

Pn Sujeito passivo único (admissibilidade) ( ...) Crime continuado. RE 100.562


RTJ 108/888
Pn Sujeitos passivos diversos (... ) Concurso material. RE 100.562 RTJ 108/888
Adm Súmula 41 do TFR (...) Funcionalismo. RE 95.071 RTJ 108/645
PrSTF Súmula 279 (...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ 108/755
PrSTF Súmula 280 ( ...) Recurso extraordinário. RE 96.318 RTJ 108/685
Cv Súmula 282 e 356 ( ...) Desapropriação. Ag 92.855 (AgRg) RTJ 108/612
Trbt Súmula 282 e 356 ( ...) Instituto do Açúcar e do Alcool. RE 97.280 RTJ
108/760
Cv Súmula 291 (...) Responsabilidade civil. RE 95.103 RTJ 108/646
Cv Súmula 416 (Inteligência) (...) Desapropriação. RE 100.557 RTJ 108/884
Cv Súmula 489 ( ...) Responsabilidade civil. RE 95.923 RTJ 108/676
PrCv Súmula 512 ( ...) Honorários de advogado. RE 101.214 RTJ 108/919
PrSTF Súmula 599 ( ...) Embargos de divergência. EAg 84.121 (AgRg) RTJ
108/604
Ct Suplência de Deputado Federal (...) Parlamentar. MS 20.313 RTJ 108/529
PrCew Suplente de Deputado Estadual ( ...) Mandado de segurança. RE 100.174
RTJ 108/834
PrPn Supressão do julgamento quanto ao outro co-réu (...) Júri. RHC 60.985
RTJ 108/570
Cm Suspensão da execução (descabimento) (...) Concordata preventiva. RE
96.410 RTJ 108/692
PrCv Suspensão por inépcia profissional (...) Advogado. RHC 61.081 RTJ 108/574
Ct Sustação do processo (descabimento) ( ...) Parlamentar. APn 276 RTJ
108/458

T
Trbt Taxa de conservação de estradas. Base de cálculo idêntica à do Imposto
territorial rural. Lei 1.042/73 e 1.166/73 do município de Ibitinga-SP (in-
constitucionalidade). RE 96.344 RTJ 108/689
Trbt Taxa de lixo. Base de cálculo idêntica à do IPTU. Lei municipal 1.261/80,
de São Miguel do Oeste arts. 59, 64, 69 e 74, (inconstitucionalidade).
RE 100.729 RTJ 108/903
PrSTF Temas jurídicos diversos ( ...) Embargos de divergência. ERE 94.583 RTJ
108/637
Adm Tempo de serviço (...) Militar. MS 20.315 RTJ 108/540
Pn Tentativa (...) Crime de roubo. RECr 100.771 RTJ 108/909
Pn Teoria da equivalência das causas ( ...) Co-autoria. HC 60.863 RTJ 108/566
Pn Teoria da equivalência das causas (...) Júri. HC 60.863 RTJ 108/566
Trbt Termo inicial (...) Correção monetária. RE 97.037 RTJ 108/745
Adm Tiro de guerra (...) Militar MS 20.315 RTJ 108/540
Adm Trabalhador rural (...) Lavoura canavieira. RE 96.616 RTJ 108/709
Int Transporte aéreo. Vôo internacional. Transporte sucessivo. Trecho inter-
mediário a cargo de empresa brasileira (acidente). Responsabilidade soli-
dária. RE 100.300 RTJ 108/844
Int Transporte sucessivo ( ...) Transporte aéreo. RE 100.300 RTJ 108/844
INDICE ALFABÉTICO — Tre-Zon XIX

Int Trecho intermediário a cargo de empresa brasileira (acidente) (...)


Transporte aéreo. RE 100.300 RTJ 108/844
Ct Tribunal Federal de Recursos ( ...) Competência. HC 61.181 RTJ 108/579

PrPn Unificação de penas (...) Competência. HC 61.025 RTJ 108/572


V
PrSTF Valor da causa (...) Recurso extraordinário. RE 97.191 RTJ 108/755
Pn Valor da «res furtiva» (...) Furto privilegiado. RECr 100.024 RTJ 108/820
Cv Venda de ascendente a descendente. Interposta pessoa. Nulidade. Código
civil, art. 1132. RE 100.440 RTJ 108/881
Adm Verba de representação pelo exercício da Presidência de órgão da admi-
nistração indireta (...) Aposentadoria. RE 99.536 RTJ 108/779
PrSTF Veto regimental (inaplicação) (...) Recurso extraordinário. RE 97.191
RTJ 108/755
Int Vão internacional (...) Transporte aéreo. RE 100.300 RTJ 108/844
Ct Voto cumulativo do Presidente (desempate) (...) Representação de
inconstitucionalidade. Rp 1.160 RTJ 108/505

Adm Zona de guerra ( ...) Militar. MS 20.315 RTJ 10S/540


INDICE NUMÉRICO
vol./p ág.

12 (CA) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/455


276 (APn) Rel.: Min. Moreira Alves 108/458
319 (ACOr) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/459
948 (AgRg) Rel.: MM. Cordeiro Guerra 108/463
1.114 (Rp) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/466
1.132 (Rp) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/472
1.155 (Rp - Questão de Ordem)
Rel.: Min. Soares Mtuloz 108/477
1.155 (Rp) Rel.: Min. Soares Mufioz 108/486
1.160 (Rp) Rel.: Min. Decio Miranda 108/505
3.368 (SE) Rel.: MM. Cordeiro Guerra 108/516
3.373 (SE) Rel.: Min. Cordeiro Guerra 108/518
6.358 (CJ) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/519
6.405 (CJ) Rel.: Min. Dedo Miranda 108/522
6.418 (CJ) Rel.: Min. Dedo Miranda 108/527
20.313 (MS) Rel.: Min. Dedo Miranda 108/529
20.315 (MS) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/540
20.351 (MS) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/548
20.352 (MS) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/553
60.543 (HC) Rel.: Min. Alfredo Buzald 108/561
60.863 (HC) Rel.: Min. Alfredo Buzald 108/566
60.985 (RHC) Rel.: MM. Soares Mufioz 108/570
61.025 (HC) Rel.: Min. Moreira Alves 108/572
61.081 (RHC) Rel.: Mim Alfredo Buzaid 108/574
61.150 (HC) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/577
61.181 (HC) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/579
61.302 (RHC) Rel.: Min. Moreira Alves 108/583
61.303 (RHC) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/586
61.374 (HC) Rel.: Min. Decio Miranda 108/588
61.506 (RHC) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/590
75.152 (RE) Rel.: MM. Aldir Passarinho 108/591
80.834 (RE) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/596
81.493 (RE) Rel.: MM. Aldir Passarinho 108/599
82.105 (RE) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/602
84.121 (EAg-AgRg) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/604
88.707 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/605
91.744 (Ag-AgRg) Rel.: Min. Alfredo. Buzald 108/610
92.855 (Ag-AgRg) Rel.: Min. Soares Mufioz 108/612
92.946 (Ag-AgRg) Rel.: Min. Alfredo Buzald 108/614
93.896 (RE) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/617
94.073 (RE) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/620
XXII INDICE NUMÉRICO

Vol./pág.
94.390 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/627
94.583 (ERE) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/637
95.071 (RE) Rel.: Min. Dedo Miranda 108/645
95.103 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/646
95.230 (RE) Rel.: Min. Moreira Alves 108/651
95.529 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/673
95.790 (Ag- AgRg) Rel.: Min Rafael Mayer 108/675
95.923 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/676
96.019 tRE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/680
96.318 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/685
96.344 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/689
96.410 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/692
96.424 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/696
96.609 (RE) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/698
96.615 (RE) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/700
96.616 (RE) Rel.: Min. Soares Murioz 108/709
96.619 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/713
96.640 (RE) Rel.: Min. Alfredo Buzaid 108/720
96.696 (ERE-AgRg) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/732
97.013 (ERE-AgRg) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/736
97.028 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/740
97.037 (RE) Rel.: Min. Alfredo Buzaid 108/745
97.189 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/752
97.191 (RE) Rel.: Min. Néri da Silveira 108/755
97.280 (RE) Rel.: Min. Alfredo Buzaid 108/760
99.008 (RECr) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/763
99.265 (RECr) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/767
99.332 (RE) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/769
99.407 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/775
99.536 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/779
99.594 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/785
99.683 (RE) Rel.: Min. Alfredo Buzaid 108/788
99.718 (RE) Rel.: Min. Alfredo Buzaid 108/790
99.849 (RE) Rel.: Min. Moreira Alves 108/793
99.982 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/815
100.024 (RECr) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/820
100.110 (RE) Rel.: Min. Francisco Reza 108/826
100.145 (RE) Rel.: Min. Dedo Miranda 108/828
100.158 (RE) Rel.: Min Oscar Corrêa 108/830
100.174 (RE) Rel.: Min. Soares Mutioz 108/834
100.227 (RECr) Rel.: Min. Moreira Alves 108/838
100.237 (RE) Rel.: Min Oscar Corrêa 108/839
103.300 (RE) Rel • Min. Decio Miranda 108/844
100.371 (RE) Rel.: Min. Moreira Alves 108/850
100.375 (RE) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/855
100.440 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 108/881
100.557 (RE) Rel.: Min. Soares Miffloz 108/884
100.562 (RE) Rel.: Min. Soares Mufloz 108/888
100.564 (RE) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/891
100.633 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/894
100.714 (RE) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/898
100.716 (RE) Rel.: Min. Soares Mufioz 108/901
100.729 (RE) Rel.: Min. Francisco Rezek 108/903
100.747 (RE) Rel.: Min. Aldir Passarinho 108/907
100.771 (RECr) Rel.: Min. Rafael Mayer 108/939
100.783 (RE) Rel.: Min. Decio Miranda 108/912
100.816 (RE) Rel.: Min. Oscar Corrêa 108/914
101.214 (RE) Rel.: Min. Oscar Corréa 108/919

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