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Graduação
em Teatro – Licenciatura da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa – PB, 2018.
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AUTOBIOKHRAPHIA
Uma proposta de autoperformação enquanto procedimento de subjetivação do ator
João Pessoa
2018
OLIVEIRA, Joevan. Autobiokhraphia: uma proposta de autoperformação enquanto procedimento de subjetivação do ator. Graduação
em Teatro – Licenciatura da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa – PB, 2018.
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RESUMO
CONTEXTO
“No princípio fez-se o verbo... Universo... Via Láctea... Sistema Solar. Terra... Latino
América... Brasil. Paraíba... João Pessoa... UFPB... Quatro paredes... Público...
Apresentação”
Na primeira cena do trabalho, que também funciona como uma introdução para o que
será proposto, procurei jogar com a ideia de experiência e experimento, termos debatidos
durante as aulas e que me pareceu interessante explorar, principalmente, no que consiste em
pensar a relação entre esses dois termos no campo da arte.
A partir dessa oposição proposta pelo ensaísta espanhol Jorge Larrosa Bondía (2002)
proponho para o público participar de um experimento científico e, como tal, carregado de
toda a seriedade que seus procedimentos metodológicos pressupõe, ao mesmo tempo em que
tento problematizar esse conceito, no campo da arte, dando a metodologia empregada um tom
ridículo e desnecessário.
“Bom (dia/ tarde/ noite). Estamos aqui, hoje, para que eu possa apresentar o
experimento cênico – CIENTÍFICO, como podem ver pela minha roupa, no qual
venho trabalhando e que dei o nome de AUTOBIOKHRAPHIA.
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Caixa de som no formato da cabeça de um urso panda.
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A ideia é pensar como um experimento, no campo da arte, ganha outra lógica, diferente
colocada pelo estudioso espanhol acima citado, porque pode ser entendido como um espaço
de experiência, ainda no sentido dado por Bondía (2002), uma vez que funciona como uma
atividade permanentemente provisória, lacunar, ensaística. Ensaio que assume o caráter de
preparação, repetição, termos característicos do fazer teatral, mas, também, o sentido literário
que se caracteriza pela liberdade formal, abertura, hibridez, fragmentação.
Enquanto modalidade da escrita, o ensaio, por suas características, possibilita a mescla
entre a ciência, a estética e a ética, sem o desejo de totalizações ou o estabelecimento de
certezas pré-concebidas, o que a possibilita um grau de liberdade que pode funcionar como
dispositivo contra a repressão do pensamento.
Nesse sentido, como coloca Bondía (2003) o ensaio teria como caráter a
provocação, o transbordamento dos padrões oficiais, o exagero, a caricatura apontando
para além dos limites e das formas.
É esse caráter ensaístico que o experimento propõe. Por isso a opção pelo tom
burlesco dado à encenação, a começar pelo título que propõe uma brincadeira com a ideia
de uma autobiografia de merda. Também está presente na opção pela narrativa
fragmentada, composta por uma série de pequenas histórias que, apesar de se
relacionarem, mantém um sentido próprio. Assim como na liberdade de composição que é
proposta, uma vez que a dramaturgia do espetáculo resulta das escolhas feitas pelo público
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A QUESTÃO
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Operação própria ao funcionamento do pensamento baseado na lógica da inversão e deslocamento incessante e
inarredável.
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Elemento ambivalente sem natureza própria que não se deixa compreender nas oposições binárias. Sem
referente permanente, está sempre no meio contendo dois termos simultaneamente e oscilando entre eles sem
cair em sínteses
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Neo-grafismo criado por Derrida que, ao substituir “e” de différence por “a” criando uma marca muda que
funciona no interior do sistema da escrita fonética escapando da ordem do sensível fixando uma relação
invisível. Marca uma diferença que não pertence nem a voz, nem a escrita em sentido corrente.
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sendo construída por um conjunto de referências materiais (temas) e subjetivas (rastros, outros
que habitam o próprio sujeito).
As histórias contadas, produtos da memória, são rastros5, referências que, pela lógica do
rastro, não são rememorações de um passado enquanto referência fechada, mas enquanto
criação e, portanto, original em si mesmo (ficção).
Não representam uma verdade externa ao ato de conta-las. Ao contrário, se constituem
no momento mesmo em que acontecem. E continuarão depois do momento de seu
apagamento, continuam em movimento, se remetendo a outros, à alteridade que há no próprio
sujeito, passado sempre heterogeneizado pelo outro.
Ao tentar me autografar por meio do traço, das memorias que conto, retraço pela
impossibilidade de afastamento dessa sombra que impede, mascara o meu próprio
autorretrato; pela impossibilidade de ter acesso a esse passado enquanto verdade e que, por
isso, se configura como autoficionalização.
Como coloca Derrida (2010), não é possível a intuição direta do originário ao homem.
Por esse motivo, ao tentar traçar meu autorretrato, opto por mostrar que se trata de um ponto
de vista (tema), como que atestando a insuficiência de toda obra, em tornar presente o que
pretensamente estou tentando representar. Contudo, assim como no mito de Perseu que mata a
Medusa por meio de um olhar enviesado, procuro evitar a metáfora que o olhar fixo produz
sobre o real e dificulta a reflexão sobre o mesmo. Ao contrário, tentei me deixa levar pelas
referencias pessoais, de outros, criadas, a partir de outras referencias, mantendo-me em fluxo
no processo de construção de uma dramaturgia cujo conjunto de narrativas que a compõem
mantém-se sempre em fluxo, seja em relação a que temas serão abordados, seja em relação a
ordem das narrativas que estruturam o processo de constituição do experimento e, por
consequência, do meu processo de identificação.
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Conceito que substitui o signo por abalar a ideia de um original sobre a cópia. Seria um vestígio, marcas
deixadas por uma ação ou passagem
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ÂNCORA
Se o sujeito moderno foi constituído para ser dócil e útil, apenas uma peça capacitada
para funcionar de maneira eficaz no grande motor que foi o projeto histórico do capitalismo
industrial, a crise do humanismo, a partir da década de setenta, constata a falha do projeto
modernista. O que entra em crise é a metafísica ocidental, como pensamento ligado à busca
pela presença mesma da coisa em sua essência.
Nesse novo contexto, a arte contemporânea, cada vez mais cotidianizada, se interessa
de maneira mais contundente pelos rituais do cotidiano, autobiografias e formas de tornar
público o privado revelando intimidades.
Narrativas vivenciais, sucesso mercadológico das memórias, autobiografias e
biografias, testemunhos. Registros biográficos na mídia, retratos, perfis, entrevistas,
confissões, talk shows, reality shows, surto de blogs e fotologs, webcans, orkuts e youtube.
Textos não literários da cultura contemporânea evidenciam a ficção em sintonia com época.
As novas tecnologias, com destaque para a Web, se tornaram uma área produtiva para
a construção de novas subjetividades o que possibilitou a criação de outras formas de ser e
sentir para o ser humano. Esses novos meios de comunicação com tecnologia eletrônica,
interconectados por redes digitais a nível global, se consolidam e o ciberespaço passa a ser o
local para rituais cada vez mais diversos.
O computador passou a ser um portal sempre aberto para uma enorme quantidade de
pessoas que se conectam simultaneamente. Como resultado surge um fenômeno cada vez
mais comum, que são os diários íntimos publicados na web, onde os usuários contam sobre o
seu cotidiano por meio de textos, fotos, vídeos. É interessante pensar que quando se está na
frente de uma webcam, o indivíduo se performa, se projeta e atua como ele mesmo.
Atualmente esse tipo de procedimento passou a ser usado mais para o entretenimento,
de modo a reforçar modelos de consumo e competição, onde a privacidade é sujeitada às
forças de controle, cujas câmeras de circuito interno se tornaram o maior símbolo.
É possível verificar que desde o fim do século XX que há uma exacerbação do “eu”. A
internet permite que, cada vez mais, as pessoas comuns se mostrem e tornem-se
personalidades. Numa época onde se pensa no diferente, ser diferente é uma das maneiras de
tornar-se visível no mundo cibernético de uma sociedade extremamente midiatizada. Verifica-
se uma crescente publicização do espaço privado e um fascínio pelas celebridades criando
personalidades voltadas para o exterior, para o olhar do outro.
Daí a ideia de falar sobre assuntos relacionados a mim, como num grande diário, ou
confessionário, ou palanque público, lugar de exposição do que me constitui enquanto
identidade oficial, enquanto sujeito público, experiência privada, corpo, artista e tantos outros
aspectos/vozes. Estes me constituem enquanto sujeito, mas também são constituídos enquanto
narrativas e, portanto, criações, ficções criadas por mim e atravessadas pelo outro, mas que
quando expostas são sempre formuladas, reformuladas para causar determinado efeito em que
vê.
A ESTRUTURA
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Segundo Renato Cohen, “a essência da collage é promover o encontro das imagens e fazer-nos esquecer que elas se
encontram”. (2002, p.64) Trata-se de um processo de codificação, já incorporado às artes contemporâneas, por meio da
sobreposição, dispersão, junção ou justaposição de fragmentos originalmente dispersos.
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Refere-se à experiência do impossível e funciona como uma não passagem que é o impedimento e a
prerrogativa para qualquer realização. Condição que se abre para a espera, a invenção do outro, a experiência do
impossível.
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trabalhadas em diferentes posições, o que torna sua montagem mais dinâmica. Não há uma
linha temporal mestra, ao mesmo tempo, não há preocupação em se criar ligações diretas
entre as narrativas, dar a ideia de veracidade.
Por outro lado alguns problemas foram detectados nesse primeiro momento de
apresentação, das narrativas existentes. Um relaciona-se ao processo de escolha e organização
das histórias, como seria a melhor forma? A principio decido que as escolhas do publico se
dessem no início do experimento, na cena introdutória, mas o meio escolhido para isso não
parece ser o suficiente, principalmente se pensar que, ao invés de três narrativas, serão
escolhidas um total de sete que, ainda terão que ser ordenadas, o que pode se tornar monótono
e repetitivo, de um jeito não proposital. Por outro lado, a transição entre as cenas ainda não é
eficiente o bastante para o que está sendo proposto, não há ação que as ligue de maneira mais
orgânica. Talvez, assumir o lapso entre as partes seja algo interessante, mas mesmo assim,
ainda não tenho certeza de como seria a melhor maneira de fazê-lo. Não posso perder de vista
que essa, podendo ser entendido como entre lugar dentro de experiência que estou propondo,
pode funcionar como um espaço privilegiado de criação.
Da mesma forma identifico uma heterogeneidade muito grande entre as narrativas
criadas, seja em relação ao tamanho, ao fato de algumas serem mais narrativas, outas terem
mais ação, o que pode resultar numa dramaturgia truncada e sem ritmo. Ao mesmo tempo,
penso que, talvez, seja uma possibilidade assumir a possibilidade da montagem não ser a
melhor a cada apresentação. De qualquer maneira a questão que fica, nesse momento,
relaciona-se a que mecanismo empregar para que, independente da montagem, eu consiga
criar um conjunto dinâmico que envolva a maioria dos elementos presentes no conjunto geral
de cenas.
CONSIDERAÇÕES INCIAIS
Texto mosaico, constituído por sons, texturas, vazios, tempos, silêncios que, pela sua
mobilidade e multiplicidade, funciona como hipertexto. Provisório e sempre em fluxo torna-se
imprevisível porque se propõe indecidível, está além das dicotomias metafísicas, num outro
lugar, território de derrisão, indecisão, indefinição, transbordamento, transtorno, caos, sempre
disseminando.
A interatividade é um processo natural presente em tudo o que conhecemos, seja na
dimensão macro ou micro, porque está ligado ao próprio movimento de transformação.
Pensando no campo da arte, é responsável tanto pela transformação do objeto artístico, quanto
pela diluição do caráter autoral da obra e, por consequência, dos papeis de público e do ator
durante o processo de jogo. Por isso, em Autobiokhraphia a escritura não se resumiu ao
roteiro, a ação, ou mesmo a cena descrita no papel, mas sim, ao tipo de organização que ele
evidencia. Um sistema em que múltiplas imagens do artista se acumulam e se sucedem, a
partir da organização de um outro, externo ao artista, em camadas infinitas, sobrepostas e em
fluxo, interconectadas com a situação local, processo de identificação e o contexto geral na
qual estava inserido
REFERÊNCIAS
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política. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
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cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 264-298.
KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada
etnográfica: Bernardo Carvalho, Fernando Vallejo, Washington Curcuto, João Gilberto Noll,
César Aira, Silviano Santiago. Rio de janeiro: 7letras, 2007
LEJEUNE. Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2008.
OLIVEIRA, Joevan. Autobiokhraphia: uma proposta de autoperformação enquanto procedimento de subjetivação do ator. Graduação
em Teatro – Licenciatura da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa – PB, 2018.
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SIBILA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de janeiro: Nova Fronteira,
2008.