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Grega, literatura

Grega, literatura
Primeira a surgir na Europa, a literatura grega lançou, no curso de sua evolução, os
alicerces de quase todos os gêneros literários. Assimilados pelos romanos, os
grandes escritores gregos da antiguidade, junto com os clássicos latinos, passaram
a ser considerados modelos universais, e deles provém certamente toda a tradição
literária ocidental.
Distribuída em três grandes períodos -- o da antiguidade, o bizantino e o moderno --
a literatura grega abordou, no teatro e na poesia, na filosofia e no texto religioso,
todos os grandes mitos e temas cruciais da humanidade. Serviu de referência não
apenas à literatura universal como a atividades e correntes científicas e artísticas
modernas, como o cinema, a psicanálise e a educação.
Antiguidade
A literatura grega da antiguidade é a que se desenvolveu desde que começou a
difundir-se o emprego da escrita, por volta do século VIII a.C. Período da maior
importância para a história das letras ocidentais, divide-se nas épocas arcaica (até o
fim do século VI a.C.), clássica (séculos V e IV a.C.), e helenística e greco-romana
(a partir do século III a.C.).
Época arcaica. Antes mesmo de utilizarem a escrita para fins literários, os gregos
já faziam poesia para ser cantada ou recitada. Seus temas eram os mitos, em parte
lendários, baseados na memória difusa de eventos históricos, além de um pouco de
folclore e de especulação religiosa primitiva. Os mitos, porém, não se vinculavam a
qualquer dogma religioso e, embora muitos fossem deuses ou grandes heróis
mortais, não eram autoritários e podiam ter seu perfil alterado por um poeta que
desejasse expressar novos conceitos.
Assim, bem cedo o pensamento grego começou a progredir, na medida em que os
poetas reelaboravam suas fontes. A esse estágio inicial, denominado época
arcaica, pertencem os épicos atribuídos a Homero, a Ilíada e a Odisséia, que
recontam histórias entremeadas de mitos da época micênica. A poesia didática de
Hesíodo (c. 700 a.C.), provavelmente posterior aos épicos de Homero, embora com
diferentes tema e tratamento, deu continuidade à tradição épica.
Os vários tipos de poesia lírica grega surgiram no período arcaico entre os poetas
das ilhas do mar Egeu e da Jônia, no litoral da Anatólia. Arquíloco de Paros, do
século VII a.C., foi o primeiro poeta grego a usar a elegia de uma forma mais
pessoal. Suas formas e padrões métricos foram imitados por uma sucessão de
poetas jônicos. No começo do século VI, Alceu e Safo criaram seus poemas no
dialeto eólico da ilha de Lesbos e foram mais tarde adaptados por Horácio para a
poesia latina. A eles se seguiu Anacreonte de Teos, na Jônia, que também compôs
em dialeto jônico. A lírica coral, com acompanhamento musical, pertencia à tradição
dórica.
A tragédia e a comédia se originaram na Grécia. Acredita-se que havia coros
"trágicos" na Grécia dórica por volta de 600 a.C.. Também a comédia se originou na
Grécia dórica e se desenvolveu na Ática.
Códigos legais surgidos no fim do século VII foram a primeira forma de prosa. Não

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se conhece autor de prosa anterior a Ferécides (c. 550 a.C.) de Siros, que escreveu
sobre o começo do mundo. Mas o primeiro autor considerável, Hecateu de Mileto,
escreveu sobre o passado mítico e a geografia do Mediterrâneo e terras próximas.
Atribui-se a Esopo, personagem lendário de meados do século VI, a autoria das
fábulas de sentido moral copiadas por escritores de épocas posteriores.
Época clássica. Quase todos os gêneros literários atingiram seu ponto máximo no
período clássico, com as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, a comédia de
Aristófanes e a lírica coral de Píndaro. O clássico também foi um período áureo
para a retórica e a oratória, cujo estudo levantou questões sobre verdade e
moralidade na argumentação, e, dessa maneira, era objeto de estudo tanto do
filósofo quanto do advogado e do político. A prosa histórica grega atingiu a
maturidade nesse período.
As obras de Platão e Aristóteles, que datam do século IV, são os mais importantes
produtos da cultura grega na história intelectual do Ocidente. Esses pensadores
firmaram as bases da filosofia ocidental e determinaram a evolução do pensamento
europeu ao longo de séculos.
Épocas helenística e greco-romana. No imenso império de Alexandre o Grande,
macedônios e gregos compunham a classe dominante e, assim, o grego tornou-se
a língua da administração, um novo dialeto baseado em parte no ático e chamado
koine, ou língua comum. Em todos os lugares, a cidade-estado estava em declínio.
A criação artística passou ao patrocínio privado e, exceto pela comédia ateniense,
as composições visavam um público pequeno e seleto, apreciador da erudição e da
sutileza.
O período helenístico foi do fim do século IV ao fim do século I a.C. Pelos três
séculos seguintes, até Constantinopla tornar-se a capital do império bizantino, os
escritores gregos tinham consciência de viverem num mundo do qual Roma era o
centro.
Gêneros

Poesia épica. No início da literatura grega se situam duas grandes epopéias, a


Ilíada e a Odisséia. Algumas fontes desses poemas são da época micênica, talvez
de 1500 a.C., mas a obra escrita, atribuída a Homero, é datada de cerca do século
VIII a.C. Ilíada e Odisséia são os primeiros exemplos de poema épico -- na
antiguidade, era um longo poema narrativo, de estilo nobre, que celebrava
conquistas heróicas.
Apesar de serem os poemas europeus mais antigos, Ilíada e Odisséia não podem
ser considerados, de nenhum ponto de vista, primitivos. Mais que o começo, eles
marcam o ponto mais alto dessa forma literária. Eram essencialmente poemas
transmitidos de forma oral, desenvolvidos e aumentados ao longo de um extenso
período de tempo, sobre cujo tema vários e sucessivos poetas anônimos livremente
improvisaram. No mundo antigo, ocupavam uma classe especial entre os poemas
épicos. De fato, conservam-se restos de um ciclo épico, com numerosos poemas
que complementam a história das guerras de Tebas e Tróia e outros mitos.
A poesia didática não era tida pelos gregos como uma forma diferente da épica,

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mas o mundo do poeta Hesíodo, que viveu na Beócia por volta de 700 a.C., era
completamente diferente do de Homero. Além de Os trabalhos e os dias, que
descreve a vida de um simples agricultor beócio atormentado pela seca e pela
opressão da aristocracia, deixou também o poema Teogonia, que narra a
genealogia dos deuses e dos mitos associados à criação do universo, com clara
influência da mitologia do Oriente Médio.
Poesia lírica. A palavra "lírica" abrange muitos tipos de poemas. Aqueles cantados
por indivíduos ou coros acompanhados de lira, ou às vezes flauta, eram chamados
mélicos. As elegias -- nas quais o hexâmetro épico, ou verso de seis sílabas, se
alternava com um verso mais curto -- eram associadas com a lamentação e
acompanhadas de flauta. Mas os poemas também eram usados para poesia
monódica, falada e cantada. Os poemas jâmbicos (de versos jâmbicos, ou unidades
métricas de quatro sílabas longas e breves alternadas), forma versificada da sátira,
em geral não eram cantados. A lírica coral, geralmente acompanhada de lira e
flauta, não usava os versos ou estrofes tradicionais; seu metro era criado para cada
poema e nunca utilizado novamente da mesma forma. Além de Alcmeão de Esparta
e Estesícoro, destacam-se no gênero Simônides de Ceos, Píndaro e, já no declínio
do gênero, Baquílides (século V a.C.).
Tragédia e comédia. Em suas duas vertentes -- tragédia e comédia -- chegou
nessa época à plenitude estética o teatro grego. Suas origens permanecem
obscuras, mas parece claro que ambas foram tiradas dos rituais religiosos em honra
do deus Dioniso.
O principal interesse de Ésquilo, cujas tragédias são geralmente agrupadas em
trilogias, não é a ação dramática, nem a composição dos personagens, mas a
subordinação da vida humana aos insondáveis desígnios dos deuses. Com
Sófocles, seu sucessor, a tragédia alcançou ainda maior perfeição formal. O tema
central de suas grandes obras, como Édipo rei, Electra e Antígona, é a exaltação da
grandeza do homem que, embora submetido ao destino e à vontade dos deuses,
mantém a integridade moral e cumpre seu dever.
Eurípides, contemporâneo dos sofistas, pertenceu a uma fase de questionamento
de todas as crenças tradicionais. Ainda que partisse do mito, como os trágicos
anteriores, seu interesse centrou-se no estudo da paixão humana -- Medéia,
Hipólito -- e na crítica às idéias convencionais sobre religião, política e moral.
Depois de Eurípides, que morreu em 406, a tragédia deixou de ser cultivada.
Paralelamente à tragédia, desenvolveu-se a comédia, que era sua contrapartida.
Surgiu nas cidades dóricas, onde se destacou a figura de Epicarmo, mas adquiriu
forma em Atenas, na primeira metade do século V. Na época inicial (comédia
antiga) foi fundamentalmente sátira social e política. Aristófanes, um dos maiores
gênios cômicos da literatura universal, ironizou, em obras como As rãs e As nuvens,
as figuras políticas e intelectuais de seu tempo. A fase intermediária da comédia, na
qual sobressaíram Antífanes e Aléxis, centrou-se na sátira e na paródia. Na
comédia nova, cujo principal representante foi Menandro, no final do século IV, o
tema principal foram os conflitos domésticos.
Prosa. O primeiro grande historiador foi Heródoto de Halicarnasso, também grande

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geógrafo e antropólogo. Seu tema central é o confronto entre Ásia e Europa, que
culminou com as guerras greco-pérsicas. Não menos importante foi Tucídides, que
viveu na segunda metade do século V e escreveu a História da guerra do
Peloponeso. Tucídides, diferentemente de Heródoto, exclui por completo a
intervenção divina nos acontecimentos em que os homens intervêm. Costuma-se
considerá-lo o verdadeiro criador da história como ciência, pelo rigor documental,
sentido crítico e objetividade narrativa. Sua obra, que ficou inconclusa, foi
completada por Xenofonte, que também escreveu Anábase, relato da retirada de
dez mil gregos, depois do assassínio de seus líderes pelos persas de Ciro, desde
as proximidades da Babilônia até a costa do mar Negro. Depois desses autores, o
gênero histórico declinou até transformar-se em pouco mais que um exercício de
retórica.
Retórica e oratória. Em poucas sociedades terá sido mais valorizado o poder da
oratória do que na Grécia. Foi sobretudo o surgimento das formas democráticas de
governo que incentivou o estudo e o ensino da arte da persuasão.
Entre os oradores gregos do século IV, merecem particular atenção: Isócrates, que
se distinguiu pelo cuidado do estilo e defendeu um ideal pan-helênico que pusesse
fim às guerras internas entre os gregos, e sobretudo Demóstenes, o maior dos
oradores gregos da antiguidade. Muito ativo na política, Demóstenes personificou a
reação do velho ideal da pólis independente, frente ao nascente pan-helenismo.
Depois de sua morte, com o declínio da democracia, a oratória entrou em
decadência.
Prosa filosófica. A prosa como um veículo para a filosofia começou a ser
desenvolvida a partir do século VI a.C. Entre os primeiros filósofos se incluem Tales
de Mileto, Anaximandro, Demócrito e Heráclito. A prosa filosófica foi a principal
realização literária da época, muito influenciada por Sócrates (que não possui obra
escrita) e seu método característico de ensino, por meio de perguntas e respostas,
que evoluiu para o diálogo.
O discípulo mais célebre de Sócrates foi Platão, que começou a escrever pouco
após a morte do mestre (399 a.C.) e, como escritor, deu forma insuperável a um
novo gênero literário, o diálogo. Seu discípulo Aristóteles possuía um estilo
admirado em seu tempo, mas suas obras conservadas são fundamentalmente
didáticas e sem preocupação estilística.
Literatura bizantina
A literatura bizantina pode ser definida, de maneira geral, como a literatura grega da
Idade Média, tanto a que se produziu no território do império bizantino quanto fora
de suas fronteiras.
No fim da antiguidade, vários gêneros clássicos gregos, como o teatro e a poesia
lírica coral, já tinham há muito se tornado obsoletos, e toda a literatura grega exibia
de alguma forma a linguagem e o estilo arcaizantes, perpetuados por um sistema
conservador de educação em que a retórica era a matéria mais importante. Os
doutores gregos da igreja, produtos dessa educação, compartilhavam os valores
literários de seus contemporâneos pagãos. Conseqüentemente, a vasta e
dominante literatura cristã dos séculos III ao VI, que criou uma síntese do

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pensamento helênico e cristão, foi em grande parte escrita numa língua que há
muito tempo não era mais falada por todas as classes em sua vida cotidiana. A
utilização de duas formas muito diferentes da mesma língua para propósitos
diversos caracterizou a cultura bizantina durante um milênio. A relação entre as
duas formas, porém, se modificou com o tempo.
O prestígio da língua literária classicizante manteve sua força até o fim do século VI,
e apenas algumas histórias populares das vidas dos santos e crônicas escaparam
de sua influência. Nos dois séculos e meio que se seguiram, quando a própria
existência do império bizantino estava ameaçada, a vida urbana e a educação
entraram em declínio, e com elas o uso da língua e do estilo classicizantes. Com a
recuperação política dos séculos IX e X teve início um renascimento literário, no
qual se fez uma tentativa consciente de recriar a cultura helênico-cristã do fim da
antiguidade. Desprezou-se a língua popular e a hagiografia (biografias de santos)
foi reescrita em língua e estilo arcaizantes.
Por volta do século XII, a autoconfiança dos bizantinos lhes permitiu desenvolver
novos gêneros literários, inclusive o romance de ficção, em que aventura e amor
são os principais temas, e a sátira, que eventualmente usava citações do grego
falado. O período entre a quarta cruzada (1204) e a tomada de Constantinopla
pelos turcos otomanos (1453) assistiu a um vigoroso ressurgimento da literatura
classicizante -- na medida em que os bizantinos buscavam afirmar sua
superioridade cultural sobre o Ocidente, mais poderoso militar e economicamente --
e, ao mesmo tempo, ao início de uma florescente literatura que se aproximava do
grego vernacular. Essa literatura vernacular, porém, limitava-se a romances
poéticos, textos de devoção popular e outros afins. Toda a literatura séria continuou
a usar a prestigiada língua arcaizante da tradição aprendida.
Didática no tom, e quase sempre também no contéudo, grande parte da literatura
bizantina foi escrita para um grupo limitado de leitores cultos, capazes de
compreender as alusões clássicas e bíblicas e apreciar as figuras de retórica.
Alguns gêneros bizantinos não seriam considerados de interesse literário hoje. Ao
contrário, parecem pertencer ao campo da literatura técnica, como é o caso dos
volumosos textos dos doutores da igreja, como Atanásio, Gregório Nazianzeno,
João Crisóstomo, Cirilo de Alexandria e Máximo o Confessor.
Poesia não litúrgica. A poesia bizantina continou a ser escrita em métrica e estilo
clássicos. Mas o senso de adequação da forma ao conteúdo estava perdido. Um
exemplo disso é o trabalho de transição de Nonos de Panópolis, grego de origem
egípcia do século V, que se converteu ao cristianismo. Seu longo poema Dionysiaká
(Os dionisíacos) foi composto em linguagem e métrica homéricas, mas é muito mais
aceito como um longo panegírico sobre Dioniso que como um épico.
Contemporâneos de Nonos deixaram poemas narrativos curtos em verso homérico,
de conteúdo mitológico.
Um clérigo, Jorge o Pisidiano, escreveu longos poemas narrativos sobre as guerras
do imperador Heráclio (610-641), bem como um poema sobre os seis dias da
criação do mundo, em trímetros jâmbicos (versos de 12 sílabas, em princípio de três
pés jâmbicos, cada um com uma sílaba curta seguida por uma longa). Teodósio
seguiu seu exemplo no épico sobre a retomada de Creta dos árabes, no século X.

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O verso de 12 sílabas tornou-se a métrica mais utilizada em meados e no fim do


império bizantino e serviu de veículo para narrativas, epigramas, romances, sátiras
e instruções religiosas e morais. A partir do século XI encontrou um rival no verso
de 15 sílabas -- usado pelo monge Simeon de Paflagônia em seus hinos místicos --
que se tornou um veículo para a poesia da corte no século XII. A nova forma
também foi usada pelo metropolita Konstantinos Manasses em sua crônica do
mundo e por um redator anônimo do romance épico Digenis Akritas, do século XIII.
Nessa métrica, que não seguiu modelos clássicos, foram escritos os primeiros
poemas vernáculos, assim como o romance Calímaco e Crisorroe, entre outros que
se incluem entre as mais significativas obras de ficção genuína na literatura
bizantina. Muitos desses poemas eram adaptações ou imitações de modelos
medievais ocidentais. Essa abertura ao Ocidente latino era nova. Mas mesmo
quando se baseavam nos padrões ocidentais, os poemas bizantinos diferiam em
tom e expressão de seus modelos.
A poesia bizantina é pouco original, cansativa e entediante. Mas alguns poetas
revelam grande inspiração, como João Geometres (século X) e João Mauropo
(século XI), ou extraordinário brilhantismo técnico, como Teodoro Pródomo (século
XII) e Manuel II Paleólogo (século XIV). A habilidade para escrever versos era
generalizada na sociedade bizantina letrada, e se apreciava muito a poesia.
Poesia litúrgica. Desde os primórdios, a canção -- e pequenas estrofes rítmicas
(troparia) em particular -- fazia parte da liturgia da igreja. Poemas em métrica e
estilo clássicos foram criados por escritores cristãos desde Clemente de Alexandria
e Gregório Nazianzeno. Mas as associações pagãs de gêneros, assim como as
dificuldades da métrica, tornaram-nos inaceitáveis para o uso litúrgico geral.
No século VI, poemas rítmicos elaborados (kontakia) substituíram a troparia, mais
simples. A nova forma devia muito à poesia litúrgica siríaca. O kontakion era uma
série de até 22 estrofes, todas construídas com o mesmo padrão rítmico e
terminando com um refrão curto. Em conteúdo, era uma homilia narrativa sobre um
evento bíblico ou um episódio da vida de um santo. Quase sempre apresentava um
forte elemento dramático. O maior compositor de kontakia foi Romanos Melodos (do
início do século VI), um sírio provavelmente de origem judaica.
No fim do século VII o kontakion foi substituído por um poema litúrgico mais longo,
o kanon, que consistia de oito ou nove odes, cada uma com muitas estrofes, além
de ritmo e forma melódica diferentes. O kanon era um hino de louvor mais que uma
homilia. Os mais notáveis compositores de kanones foram Andreas de Creta, João
Damasceno, Theodoros Studita, Josephos Hymnógraphos e João Mauropo. A
música original dos kontakia e kanones se perderam.
Historiografia. Até o início do século VII uma série de historiadores recontou os
eventos de seu próprio tempo em estilo classicizante, com falas fictícias e trechos
descritivos do ambiente. Procópio de Cesaréia e outros historiadores que se
seguiram partiram do ponto em que pararam seus antecessores. Posteriormente,
esse veio permaneceu virtualmente extinto durante mais de 250 anos.
O renascimento da confiança na cultura e do poder político no fim do século IX
assistiu ao ressurgimento da história classicizante, com interesse no personagem
humano -- Plutarco era freqüentemente o modelo -- e nas causas dos eventos. O

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grupo de historiadores conhecidos coletivamente como os "Continuadores de


Teófanes" registrou, não sem parcialidade, a origem e os primeiros dias da dinastia
macedônica. Desde então até o fim do século XIV não houve uma só geração sem
seu historiador. Os mais notáveis foram Simeon de Paflagônia (século X); Miguel
Pselo (século XI); Ana Comnena (século XII); Georgios Akropolita (século XIII); e
Nikephoros Gregoras e o imperador Johannes Cantacuzenos (século XIV). Os
últimos dias do império bizantino foram recontados de vários pontos de vista por
George Sphrantzes, o escritor conhecido simplesmente como Ducas (que era um
membro da antiga casa imperial bizantina homônima), Laonicus Chalcocondyles e
Michael Critobulus na segunda metade do século XV.
Outro tipo de interesse no passado era satisfeito pelas crônicas do mundo. Com
freqüência ingenuamente teológicas em sua explanação das causas, simplistas na
descrição dos personagens, e populares na linguagem, elas ajudaram o bizantino
comum a se localizar num esquema de história mundial que era também uma
história de salvação. As Chronographia de John Malalas, no século VI, e a Crônica
de Pascal (Chronicon Paschale) no século VIII foram sucedidas pelas de Teófanes
o Confessor, no início do século IX, e Jorge o Sincelo, no fim do século IX. Tais
crônicas continuaram a ser escritas nos séculos seguintes, às vezes com
pretensões críticas e literárias, como em John Zonaras, ou numa romantizada forma
de verso, como em Konstantinos Manasses.
A importância que os governantes bizantinos deram à história se comprova na vasta
enciclopédia histórica compilada por ordem de Constantino VII (913-959), em 53
volumes, dos quais somente poucos fragmentos permanecem.
Retórica. Embora não houvesse oportunidade para oratória forense ou política no
mundo bizantino, manteve-se o gosto pela retórica e pela linguagem
bem-estruturada, pela escolha e pelo uso de figuras de linguagem e de
pensamento. Do século X em diante sobrevive um vasto corpo de elogios, orações
funerais, palestras inaugurais, discursos memoriais e de boas-vindas, celebrações
de vitória e panegíricos variados. Essa profusão de retórica elaborada
desempenhou um importante papel na formação e no controle da opinião pública
nos círculos fechados e influentes, e ocasionalmente serviu de veículo para uma
controvérsia genuinamente política.
Literatura grega moderna
Após a queda de Constantinopla, em 1453, a produção literária grega continuou
quase exclusivamente nas áreas do mundo grego sob domínio de Veneza. Assim,
Chipre, até ser capturada pelos turcos em 1571, produziu obras literárias no dialeto
local, entre elas a crônica local, escrita por Leóntius Machairás. Em Creta, sob
domínio de Veneza até 1669, assistiu-se a um importante florescimento literário,
escrito em dialeto cretense. Escreveram-se tragédias, comédias, uma tragicomédia
pastoral e uma peça religiosa baseada nos modelos italianos. Georgios Chortátsis
era o escritor mais importante. Na primeira metade do século XVII, Vitséntsos
Kornáros escreveu seu poema narrativo Erotókritos.
No território grego dominado pelos otomanos, as canções populares agradavam à
população e se tornaram praticamente a única forma de expressão literária. Ao
aproximar-se o fim do século XVIII, no entanto, vários intelectuais, sob a influência

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das idéias européias, procuraram elevar o nível da educação e da cultura gregas e


lançaram as bases de um movimento em prol da independência. Os participantes
desse "iluminismo grego" também abordaram o problema da língua, e cada um
deles promovia uma forma diferente do grego para ser usada na educação. O
principal intelectual do início do século XIX foi o acadêmico clássico Adamántios
Koraïs, que em textos sobre a língua e a educação gregas, defendeu um grego
moderno "corrigido" com base nas antigas regras.
Período pós-independência. O grande renascer da literatura grega ocorreu a partir
da independência, no final da década de 1820. Ao longo do século XIX houve uma
discussão sobre qual das modalidades deveria ser adotada na língua literária: o
katharevusa, variedade culta e deliberadamente arcaica; ou o demótico, baseado
na língua falada. A princípio, foi mais empregado o katharevusa, mas no final do
século triunfou na poesia o demótico, adotado em todos os gêneros literários a
partir do início do século seguinte.
A literatura grega do século XIX esteve sob o signo do romantismo, ainda que nas
últimas décadas tenha seguido novas tendências. Foram duas as mais importantes
escolas de poesia: a ateniense e a jônica. Os poetas da primeira, que teve como
fundador o líder Alexandros Soútsos, distinguiram-se pelo extremo sentimento
patriótico e exacerbado romantismo. Além de Soútsos e de seu irmão Panayótis,
introdutores do romance na Grécia, as figuras mais importantes foram Aléxandros
Rízos Rangavís, em poesia narrativa e lírica, teatro e romance; Emmanuel Roídis,
autor do romance satírico I Pápissa Ioánna (1866; A papisa Joana), um pastiche do
romance histórico; e Pávlos Kalligás e Dimítrios Vikélas, que trataram de temas
contemporâneos.
O representante máximo da escola jônica foi Dhionísios Solomós, poeta de grande
profundidade filosófica e precursor do grupo de poetas atenienses que a partir de
1880 reagiu contra os exageros do romantismo e do formalismo do katharevusa. O
movimento vulgarista defendeu o demótico como língua mais apropriada para a
criação literária. Antónios Mátesis escreveu um drama histórico que foi a primeira
obra em prosa em demótico. Aristotélis Valaorítis deu continuidade à tradição jônica
com longos poemas patrióticos inspirados nas guerras nacionais gregas.
O movimento vulgarista na literatura, cujo principal ideólogo foi Yánnis Psicháris
(Jean Psichari), inspirou poetas a enriquecerem a tradição popular grega com
influências externas. Dentro dessa tendência, Kostís Palamás dominou a cena
literária por várias décadas, com uma vasta produção de ensaios e artigos, e
publicou sua melhor poesia entre 1900 e 1910. Angelos Sikelianós seguiu a mesma
tendência em sua poesia lírica de natureza profundamente mística.
Na prosa, o culto folclórico fortaleceu o desenvolvimento do conto, inicialmente
escrito em katharevusa, mas o demótico gradualmente ocupou maior espaço a
partir da década de 1890. Esses contos, assim como os romances do período,
descreviam cenas da vida tradicional rural, em parte idealizada, em parte vista de
maneira crítica por seus autores.
Geórgios Vizyenós foi o primeiro contista grego, e o mais famoso e prolífico no
gênero foi Aléxandros Papadiamándis. O romance O zitiános (1896; O mendigo), de
Andréas Karkavítsas, satiriza a miséria econômica e cultural da população rural. A

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partir de 1910, essa visão crítica se refletiu na prosa de Konstantinos Chatzópoulos


e Konstantinos Theotókis. Na mesma época, Grigórios Xenópoulos escreveu
romances urbanos e trabalhou especialmente em teatro, gênero que recebeu um
impulso substancial do movimento vulgarista.
A perda da Anatólia em 1922, quando os anseios expansionistas da Grécia na
Turquia foram finalmente frustrados, trouxe uma mudança radical à orientação da
literatura grega. Antes de cometer suicídio, Kóstas Kariotákis escreveu poemas
sarcásticos sobre a lacuna entre os antigos ideais e a nova realidade.
A reação contra o derrotismo de 1922 veio com a geração de 1930, grupo de
escritores que revigorou a literatura grega. Abandonaram as antigas formas
poéticas e produziram romances ambiciosos que pretendiam corporificar o espírito
da época. Os poetas Georgios Seféris, que também escreveu ensaios, e Odysseus
Elytis ganharam o Prêmio Nobel de literatura em 1963 e 1979, respectivamente.
Yánnis Rítsos foi outro importante poeta da época.
A geração de 1930 produziu romances notáveis. Entre eles, destacam-se I zoí en
tafo (1930; A vida no túmulo), relato da vida nas trincheiras da primeira guerra
mundial escrito por Strátis Myrivílis; Argo (1933-1936), obra em dois volumes de
Yórgas Theotokás, sobre um grupo de estudantes durante a turbulenta década de
1920; e Eroica (1937), de Kosmás Polítis, que trata do impacto do amor e da morte
sobre um grupo de estudantes.
Após a segunda guerra mundial, a prosa foi dominada por romances sobre as
experiências dos gregos durante os oito anos da guerra (1941-1949). Iánnis Berátis
escreveu To Platy Potami (1946; O rio largo) e, entre 1960 e 1965, Stratís Tsírkas
publicou uma trilogia em que, com maestria, faz a recriação da atmosfera do
Oriente Médio na segunda guerra mundial. No conto, Dimítris Chatzís retratou de
forma irônica o período antes e durante o conflito.
O romancista mais famoso do período foi o cretense Níkos Kazantzákis,
sobrevivente de uma geração anterior. Numa série de romances que teve início com
Víos ke politía tou Aléxi Zorbá (1946; Zorba o grego) e prosseguiu com sua
obra-prima O Christos xanastavronete (1954; O Cristo recrucificado), corporificou
uma síntese das idéias de várias filosofias e religiões em personagens que
enfrentam problemas imensos, como a existência de Deus e o propósito da vida
humana. Antes disso, Kazantzákis já havia publicado Odésia (1938; Odisséia),
poema épico de 33.333 versos que conta a história de Ulisses moderno, insatisfeito,
em busca de uma vida superior. Pandelís Prevelákis publicou vários romances
filosóficos ambientados na sua terra natal, Creta, entre os quais o de maior sucesso
foi O ílios tou thanátou (1959; O sol da morte), que mostra um menino que aprende
a lidar com a morte.
Durante a década de 1960, os prosadores tentaram explorar os fatores históricos
que se encontravam na base da situação social e política. No romance To tríto
stefáni (1962; O terceiro casamento), de Kóstas Tachtsís, o narrador feminino conta
a história de sua vida e expõe a natureza opressora da família grega. A prosa curta,
em parte ficcional, em parte autobiográfica, de Yórgos Ioánnou apresenta um
retrato vívido de Tessalonica e Atenas entre as décadas de 1930 e 1980.
Nenhum poeta se destaca individualmente nas gerações pós-guerra na Grécia, mas

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Grega, literatura

Tákis Sinópoulos, Míltos Sachtoúris e Manólis Anagnostákis, todos marcados por


sua vivência na guerra durante a década de 1940, estão entre os mais respeitados.
Anacreonte; Aristófanes; Elytis, Odysseus; Ésquilo; Eurípides; Grego; Hesíodo;
Homero; Ilíada; Kaváfis, Konstantinos; Kazantzákis, Níkos; Odisséia; Píndaro;
Plutarco; Safo; Seféris, Georgios; Sófocles; Tucídides

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