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1 Historiador e professor de história das relações internacionais da PUC-Rio.

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2 O embaixador Rubens Ricupero, em obra recente e já clássica sobre a história da diplomacia brasileira
retoma o tema da política externa joanina que já havia discutido em textos anteriores. É pertinente se
discutir se a ação internacional de D. João no Rio de Janeiro é ou não parte da política externa brasileira.
Ricupero faz a distinção entre política externa NO Brasil da política externa DO Brasil. A historiografia trata
destes temas de modo muito distinto a depender do período, da perspectiva do autor ou mesmo da
ênfase que dá a cada um dos fatores explicativos (Ricupero, 2008 e 2018 e Schwarcz, 2013).

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3 Sobre Caiena ver o dossiê sobre a tomada de caiena da revista Navigator n. 11 (2010), em particular os

textos de Lucia Neves (política externa joanina) e Ciro Cardoso (perspectiva dos franceses).
4 Ao longo da carreira Waltz ressignificaria o conceito de “elegância” teórica. Quanto menos variáveis para

maior poder explicativo, mais elegante seria a teoria. Inspirado nas ciências naturais Waltz entendia que
toda teoria é uma abstração simplificadora que reduz o fenômeno estudado, mas justamente por isso
permite generalizações. Assim, no campo da política externa brasileira, a sugestão de Ricupero de
apresentar as relações do Brasil entre 1930 e 1990 com a América Latina como “relações simétricas” e
com os EUA como “assimétricas” tem utilidade explicativa e pedagógica. (Ricupero, 1996). Se é óbvio que
em algum nível todas as relações carregam em si alguma assimetria, por outro lado, a simplificação
elegante permite generalizações impossíveis sem o instrumental metodológico.

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5 Um exemplo disso seria o militar e historiador Raimundo da Cunha Matos, cuja trajetória política e
intelectual foi estudada por Neuma Brilhante Rodrigues (Rodrigues, 2008). Cunha Matos foi, junto com o
Cônego Januário da Cunha Barbosa um dos fundadores do IHGB e autor de diversas obras históricas não
apenas sobre o Brasil, mas sobre o Império português ao qual ele serviu como militar por toda vida até
abraçar a causa da independência. Poderia perfeitamente ter tido o papel que teria nos anos seguintes
Von Martius, cuja monografia famosa estabeleceria as diretrizes sobre “como se deve escrever a história
do Brasil?” O trabalho de Neuma lança luz sobre vários aspectos internacionais que podem ser percebidos
com a ênfase na primeira imagem. A trajetória de Cunha Matos ilustra, por exemplo, aspectos da
organização militar em um estado recém-nascido, a questão da identidade nacional, a bicefalia política e
os dilemas de lealdade dela recorrentes, o papel embrionário do parlamento nas relações exteriores, a
guerra da cisplatina, a formação de uma comunidade epistemológica de intelectuais entre o Brasil e a
Europa, dentre outros.

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6 Para uma visão sistematizada desta dicotomia estruturante rupturas/continuidades ver Pimenta, 2009.

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7 Para uma resposta qualificada à Bueno, ver os comentários de Jurandir Malerba discutidos na parte final

do texto. (MALERBA, 2014)


8 Alguns exemplos são o Frei Caneca (Morel, 2000 e Mello, 2001) Carlota Joaquina (PEREIRA, 1999 e

AZEVEDO, 2003), a Imperatriz Leopoldina (SLEMIAN, 1996 e LYRA, 1997) , Thomas Cochrane (VALE, 2004),
Joaquim Gonçalves Ledo (OLIVEIRA, 2003), José da Silva Lisboa (ROCHA, 2001), Hipólito José da Costa e D.
Rodrigo de Sousa Coutinho (DINIZ SILVA, 2003), Raimundo da Cunha Matos, (RODRIGUES, 2005).

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9 Pedreira e Costa, 2008, biografia. Ricupero (org.), análise da abertura dos portos; e 2008, Vainfas (2008)

um dicionário sobre o período joanino.


10 A quantidade de textos sobre o tema no período da independência é numerosa demais para que sejam

referidos no espaço desse artigo. Os mais relevantes são Lustosa, 2000; MOREL e BARROS, 2003 e NEVES<
2003. Convém destacar, no entanto, acerca de abordagens de “primeira imagem” as biografias numerosas
sobre o personagem precursor da história da imprensa no Brasil: Hipólito José da Costa, editor, em

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Londres, do Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro de 1807. Dois perfis são Mecenas Dourado.
Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense. Rio de Janeiro, Bibliex, 1957; SANTOS, Estilaque F. dos, A
monarquia no Brasil: o pensamento político da independência. Vitória, Edufes/Ceges, 1999

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11 É interessante que na “cultura histórica” do Brasileiro contemporâneo Tiradentes tem mais relação
com a Independência e com D. Pedro I do que Leopoldina, Bonifácio ou mesmo D. João. (Pimenta, 2014).
Sambas enredo famosos nos anos 50, 60 e 70 sempre juntam em suas letras sobre o tema Tiradentes
como precursor de D. Pedro I. Vitória interessante da historiografia liberal-republicana da virada do século
XIX para XX (Alguns exemplos são Portela 1953; Império Serrano em 1961 e 1969; Salgueiro, 1967; Unidos
do Peruche, 1972).

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12Entre os vultos da Independência biografados por Octávio Tarquínio de Sousa estão Bernardo Pereira
de Vasconcelos (1937), Evaristo da Veiga (1939) e Diogo Antônio Feijó (1942), José Bonifácio (1945) e D.
Pedro I (1952).

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13 Macaulay, 1986, por exemplo.
14 Lustosa, 2006.

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15 Alguns os brasilianistas se dedicaram ao tema da escravidão ao longo do processo de Independência,
mas o peso desta variável não foi tão forte fora do Brasil quanto era por aqui. Reconhecem a relevância
do tema mas exploram-no pouco. Algumas exceções são Richard Graham, que na linha de Odila e Ilmar
Mattos reconhece o impacto da revolução haitiana para produzir coesão nas elites brasileiras, Hendrik
Kraay, sobre o recrutamento militar de escravos nos conflitos do período, Stuart Schwarcz e Dale Graden
sobre as rebeliões de escravos posteriores e seu impacto político junto a elite e Jeffrey Needell, que nega
o peso determinante do haitianismo na mentalidade da elite política e econômica brasileira. (Ver Kraay,
2006: 150)

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16Também aparece nesse livro a tradução do perfil que Emília Viotti da Costa escreveu sobre José
Bonifácio de Andrada e Silva que comentamos acima.

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17 O primeiro francês radicado no Brasil o outro brasileiro que fez carreira na França.

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18 Um trabalho excelente, digno de nota que trata do tema da escravidão em perspectiva global é o de
Tâmis Parron. Em sua tese de doutorado analisa comparativamente o colapso do escravismo em Cuba,
Brasil e EUA alargando o escopo cronológico para encompassar toda a “Era da Liberdade” de 1787 a 1846.
(Parron, 2015)

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19Neste livro a independência americana é vista como apenas mais um, apesar de importante episódio,
do conflito global entre ingleses e franceses que perdurou por todo ‘longo’ século XVIII.

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20 O delicioso artigo de Miguel Metelo Seixas sobre a heráldica e os símbolos dinásticos e nacionais da
dinastia de Bragança em transformação no Reino Unido e com seus legados nas bandeiras e brasões de
Brasil e Portugal evidencia a dimensão simbólica da iconografia que busca sintetiza a construção irmanada
destas duas nações com a mesma dinastia. (“A emblemática oitocentista da Casa de Bragança nos tronos
de Portugal e do Brasil”, pp. 57-84)

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21 Duas tentativas anteriores são as de Boris Fausto e Fernando Devoto (Brasil-Argentina) e a coleção
financiada pela Mapfre em diversos países latino-americanos, que no Brasil foi organizada por Lilia Moritz
Schwarcz em cinco volumes. A seguradora que financiou a obra exigia explicitamente que as histórias
nacionais fossem apresentadas no quadro mais amplo da história da América Latina. A coleção é
formidável e já clássica, mas esse objetivo em particular não foi capaz de cumprir. No Volume 2, o
organizador José Murilo de Carvalho chega redigir um curto comentário final (ausente nos demais
volumes) quase que justificando as razões pelas quais não foi possível fazê-lo. Curiosamente é o mesmo
autor/organizador do livro Dois Países, um sistema.
22 Algumas dessa sugestões foram esboçadas por Luís Cláudio Villafañe dos Santos em seus livros sobre

a relação do Brasil com seus vizinhos no Século XIX e sobre as conferências multilaterais da época do
Império (Santos, 2002 e 2004).

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23 Não se trata de uma experiência completamente nova. No início do século o médico e pensador
socialista Manoel Bonfim, em parceria com Olavo Bilac publicou um criativo livro didático “Através do
Brasil” onde nossa história é contada por meio de uma viagem feita por duas crianças. Em contato com
as paisagens e culturas de cada região do país ensinavam, dialogando com as pessoas comuns e com os
leitores, os fatos históricos de cada lugar. Sua inspiração foi o clássico francês “Tour de la France pour
Deux Enfants” (1877). (Costa, 2006: 70-1) Monteiro Lobato faria algo semelhante com a história universal
em História do Mundo para Crianças de 1933, na narrativa de D. Benta para Emília, Visconde, Narizinho e
Pedrinho.

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24Eduardo Bueno depois de ter um programa na Globo de divulgação histórica com Pedro Bial criou um
popular canal no YouTube “História de Buenas” onde usa o mote “não vai cair no ENEM”. É hilário e,
certamente, instrutivo para leigos, apesar das simplificações frequentes que ele mesmo reconhece
quando indica a bibliografia na qual se baseou no final de cada vídeo

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25https://oglobo.globo.com/cultura/livro-espanhol-sobre-dom-pedro-chega-ao-brasil-
com-erros-historicos-causa-alvoroco-4271882 (acessado em 02 de novembro de
2018)
26 Varnhagen é uma exceção na continuidade positiva e Caio Prado uma exceção na ruptura negativa.

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