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NEGÓCIOS

Novas tecnologias transformam as


operações tributárias nas empresas
Leandro Manzoni

Postado em 11 de janeiro de 2018

Joe Harpaz fala sobre a simplificação que a inteligência artificial, a robótica e o


blockchain trazem aos profissionais da área (Divulgação)
A capacidade de cobrar impostos é uma das fontes de soberania de um Estado.
Por isso, o sistema tributário é associado a uma atividade no nível local, estadual
e federal, ou seja, dentro das fronteiras de um país. As transformações da
economia mundial nas últimas décadas aumentaram a complexidade no
pagamento de impostos, com as empresas operando em diferentes territórios,
cada um com um sistema tributário próprio.

As novas tecnologias – como inteligência artificial, robótica e blockchain – podem


levar aos profissionais que trabalham na área uma certa simplificação – e não
somente no caso das grandes empresas, já que a globalização e as ferramentas
disponíveis atualmente permitem que pequenas e médias empresas operem
também em outros países. Na avaliação do norte-americano Joe Harpaz, diretor
global do Segmento Corporativo de Impostos e Tributos da Thomson Reuters, a
utilização desses recursos tecnológicos pode ampliar a capacidade dos
profissionais de analisar e prever as constantes mudanças de cenário na
legislação tributária.

Harpaz, que é colunista da FORBES nos Estados Unidos, participou em outubro


do Synergy 2017, realizado em São Paulo. Ele conversou com FORBES Brasil
sobre o sistema global de tributação, as novas tecnologias para a área, a
ascensão de uma nova profissão no segmento e o cenário brasileiro.

As novas tecnologias podem beneficiar quais tipos de empresas


exatamente?
Os profissionais da área tributária devem ter uma perspectiva global sobre
tributação e impostos, algo que não é trivial, pois os impostos estão sob uma
perspectiva municipal, estadual e federal. Não são apenas as grandes empresas
presentes em vários países que devem ter essa perspectiva, mas também as
pequenas e médias. Hoje pode-se abrir uma empresa no Ebay e na Amazon em
qualquer lugar do mundo e vender para vários países, operando sob a jurisdição
de vários regimes tributários.

O senhor disse que as ferramentas tecnológicas criaram uma nova


profissão na área contábil. Como foi isso?

A implementação de tecnologias emergentes na área tributária deve mudar a


concepção do profissional da área. O armazenamento das informações
tributárias na nuvem, por exemplo, resulta em ganhos para o mundo contábil.
Essa mudança específica levou até ao desenvolvimento de um novo profissional:
o taxologist – combinação das palavras, em inglês, tax (impostos) e technologist
(tecnólogo). Este profissional não é simplesmente um contador, pois ele deve
entender de tecnologia, do processo e do fluxo de trabalho, além da integração
com outros sistemas. É um profissional que também está vinculado à área de
tecnologia da informação. A nova profissão foi bem recebida nos Estados
Unidos, onde já se utiliza o termo no LinkedIn. Depois da palestra, várias
pessoas me disseram que esse é exatamente o tipo de profissional que
precisam.

Onde esses especialistas são formados? Na universidade ou


adquirem as habilidades durante a carreira?

É uma habilidade rara. A formação, neste caso, passa pela combinação de


profissionais vindos das áreas de TI e de impostos. O profissional da área
tributária normalmente forma-se em contabilidade e começa a trabalhar em uma
empresa de consultoria, principalmente em uma das Big Four – termo que faz
referências às quatro maiores consultorias tributárias do mundo (Deloitte, KPMG,
E&Y e PwC). Em seguida, ingressa na área de tributação de uma grande
empresa. O profissional de TI que trabalha com tributação geralmente inicia a
carreira em um setor de tecnologia da informação e, em determinado momento,
começa a trabalhar especificamente na área tributária.

A implementação dessas novas tecnologias pode simplificar a


complexidade do sistema tributário no Brasil?

A exemplo dos profissionais de outros países, quem trabalha no setor de


tributação no Brasil não tem muita experiência com ROI (retorno sobre o
investimento) na introdução da tecnologia, pois é uma área que, normalmente,
contrata esse serviço de uma das Big Four. E, neste momento de recessão no
Brasil, as empresas não têm orçamento para fazer essa contratação. Com a
automação, é possível reduzir o número de profissionais na equipe que lidam
com as tarefas do dia a dia e liberar profissionais para as áreas mais
estratégicas.

Quais são as novas tecnologias aplicadas neste setor?

A maioria das empresas ainda está no nível básico, apenas com o software que
lida com o compliance da automação e faz a ligação com o sistema contábil da
empresa. Ele também faz o cálculo correto do imposto e atende às normas dos
governos. No entanto, inteligência artificial, robótica e blockchain são as
vanguardas tecnológicas na área. Robótica é a mais promissora. Algumas
companhias no Brasil implementaram soluções nesse sentido, basicamente em
atividades já existentes e repetitivas nas quais é possível programar. Além disso,
robótica não demanda mudança do processo de trabalho. Já a inteligência
artificial e a tecnologia de machine learning estão, neste momento, apenas no
estágio da experimentação. Estamos começando, na Thomson Reuters, a
experimentar capacidades com inteligência artificial e machine learning para
entender sistemas legais e como as mudanças impactam as empresas. É difícil
para um profissional se manter atualizado de todas as mudanças tributárias. Já
o computador pode entender essas atualizações da legislação e analisar os
impactos na empresa e na cadeia produtiva. O blockchain, mais conhecido por
ser a tecnologia que registra as transações do bitcoin, também cresce,
especialmente em relação aos bancos de dados. Governos começaram a testar
o uso de blockchain para o pagamento de impostos.

Você mencionou que a adoção da tecnologia ajuda a reduzir o tempo


necessário para processar as informações tributárias. Mas também é
possível encontrar fórmulas para pagar eficientemente os impostos,
ou até diminuir o valor?

Acho que os dois caminhos. É possível trabalhar com a redução de tempo e de


custo. Eu diria que não é reduzir os impostos pagos, mas sim aumentar a
precisão. As empresas geralmente contratam uma das Big Four para reduzir o
valor dos impostos. Com a automação, além disso, é possível fazer um
comparativo com outras empresas, como também o controle de riscos, pois o
pagamento equivocado de impostos pode trazer grandes multas. A eliminação
de riscos é o que guia a adoção dessas tecnologias no setor.

As tecnologias facilitam a gestão de uma empresa global que tem


operação em diferentes sistemas tributários?

É uma pergunta interessante. Temos que analisar algumas coisas. A primeira


delas é que qualquer empresa, seja multinacional ou não, lida com um sistema
global de tributação. É um desafio! A outra coisa que acontece, especialmente
no caso das empresas maiores, é a exigência da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de as empresas reportarem os
lucros país por país. Isso leva à troca de um grande volume de informações entre
os governos, levando-os a saberem as melhores alíquotas a serem praticadas
em seus países. Com a OCDE colocando pressão sobre as grandes companhias
neste momento, vai haver um maior controle e visibilidade das taxas de impostos
que as empresas pagam globalmente.
Em termos de tecnologia, o mercado em geral ainda está muito local. É bem
complicado para as companhias lidarem com isso. Trabalhamos na Thomson
Reuters o que se chamamos de “uma fonte para as grandes e pequenas
companhias de contabilidade”. É construir, basicamente, uma plataforma comum
e global sobre os impostos em muitos países, o que é muito difícil de fazer,
porque há muitas regras e formas de aplicação. Muitas empresas até podem
fazer isso, especialmente as grandes, mas a implementação é muito cara.
Imagine então para uma empresa pequena.
Em que estágio está o Brasil em relação à adoção dessas
tecnologias?

A situação é interessante no Brasil, pois o país disponibiliza alguns dos sistemas


tecnológicos mais avançados e sofisticados para os negócios e governos, como
a Nota Fiscal Eletrônica, enquanto outros países do mundo começaram a adotar
iniciativas semelhantes só agora. O governo brasileiro recebe um volume grande
de informação, o que possibilita o uso de novas soluções como Big Data para
analisar se os compliances dos impostos estão sendo feitos.
Outro dado interessante: o Brasil é um dos líderes no tempo de consumo para
fazer compliance de impostos. A PwC revelou que 2017 foi o primeiro ano em
que houve redução no tempo exigido para as atividades tributárias no Brasil –
média de 126 horas –, o que demonstra que as empresas brasileiras começaram
a implantar a automação e já estão tendo retorno.

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