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PROJETO SOCIAL NA PREVENÇÃO

DA VIOLÊNCIA
VENCEDOR NA ESCOLA CAMPEÃO DE BOLA
Germano Demathe Alencar1
Gecelene Cintia Lopes2

Resumo

O estudo tem o objetivo de analisar o projeto social Vencedor na Escola Campeão de Bola e
sua importância sobre a vida das crianças e jovens. Por meio de uma pesquisa qualitativa de
caráter exploratório, amparada por uma abordagem teórica e bibliográfica, buscamos
estimular o pensamento livre, por meio da observação. Esse processo contribui de forma
significativa para o desenvolvimento dos que fazem parte do projeto. As crianças e os jovens
participantes do projeto sentem-se motivadas para o desenvolvimento das atividades
esportivas, pois possuem sonhos de se tornarem jogadores de futebol como seus ídolos. Por
meio desse projeto, buscam inspiração para sempre se superar a cada dia e assim chegar
aonde seus sonhos também os levam. Aprendem valores individuais e coletivos, disciplina e
respeito mútuo. Os responsáveis se sentem seguros, pois as crianças e os jovens não estão
dispersas nas ruas e estão supervisionadas diretamente pelos educadores. Esses
profissionais, por si, se sentem motivados por fazerem parte do desenvolvimento dessas
crianças e jovens, agregando ensinamentos na construção cívica e moral. Destacamos assim
a importância do projeto social, que contribui de forma efetiva com o desenvolvimento, por
meio de atores sociais e voluntários que se envolvem no projeto, retirando seus participantes
da rua e evitando ações negativas da sociedade.

Palavras-Chave: Projeto Social, Crianças e Jovens, Esportes.

SOCIAL IN PREVENTION PROJECT


OF VIOLENCE
WINNER CHAMPION IN SCHOOL BALL
Abstract

The study aims to analyze the social project at the School Winner Champion Ball and its
importance on the lives of children and youth. Through a qualitative exploratory research,
supported by a theoretical and bibliographic approach, we seek to stimulate free thinking,
through observation. This process contributes significantly to the development of that part of
the project. Children and young project participants feel motivated for the development of
sporting activities because they have dreams of becoming soccer players as their idols.
Through this project, seek inspiration to always overcome every day and just go where your
dreams also lead. Learn individual and collective values , discipline and mutual respect.
Those responsible feel safe, because children and young people are not scattered in the streets
and are directly supervised by educators. These professionals, by themselves, are motivated
by being part of the development of these children and young people, adding lessons in civic
and moral construction. So we highlight the importance of social project that contributes

1
Especialista em Marketing Empresarial. Pós Graduação UNIASSELVI. E-mail: germano.demathe@gmail.com
2
Mestre em Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: cintia@cintialopes.com.br
2
effectively to the development, through social actors and volunteers who are involved in the
project, its participants withdrawing from the street and avoiding negative actions of society.

Keyword: Social Project, Children and Youth, Sports

1 INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema nasceu da vivência no bairro e por conhecer muitas das crianças e
seus pais, bem como o idealizador do projeto, com o qual possuímos relação de amizade e por
estar ciente das necessidades de um projeto dessa natureza. Assim, o presente artigo tem como
objetivo demostrar a importância do projeto social junto à sociedade e de que forma esses
projetos auxiliam na educação e na construção do homem, a fim de obter mais cidadania e
dignidade, diminuindo assim a ação negativa de efeitos da sociedade.

Assim, por meio de uma pesquisa bibliográfica de abordagem teórica, juntamente com
uma pesquisa qualitativa descritiva de caráter exploratório, do estímulo aos entrevistados a
pensar livremente, da observação e da análise de suas respostas, procuramos compreender a
importância dos projetos sociais.

Na pesquisa qualitativa,

O cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O


desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é
parcial e limitado. O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e
ilustrativas: seja ela pequena ou grande o que importa é que ela seja capaz de
produzir novas informações (DESLAURÍERS, 1991, p. 58).

Quanto à pesquisa bibliográfica, é feita, segundo Fonseca (2002, p. 32), “a partir do


levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e
eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites”. Ainda para o mesmo autor,

Quaisquer trabalhos científicos iniciam-se como uma pesquisa bibliográfica, que


permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existe porem
pesquisas cientificas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,
procurando referencias teóricas publicadas como objeto de recolher informações ou
conhecimento prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta
(FONESCA, 202, p. 32).

Durkheim (1996) define sociedade como um organismo vivo, um corpo humano,


composto por diferentes partes, cada qual com sua função específica e que dependem umas
das outras. As partes tendem a trabalhar unidas para a saúde do corpo, que deveria estar
integrado, em harmonia, em ordem, para que possa haver o desenvolvimento, ou seja, o
progresso.

Assim, identificamos a ação do projeto Vencedor na Escola, Campeão de Bola, pela sua
real necessidade junto à comunidade. Nesse sentido, muitas vezes, nos deparamos com algo
que está a nossa volta, uma pessoa ou grupo que necessita de uma ação ou recurso que visa
beneficiar o bem comum, podendo ser uma criança que está perdida em meio a fragilidades da
sociedade ou à sedução e facilidades de drogas ilícitas ou, apenas, o idoso que necessita de
inclusão na era da informação ou bom uso de seu tempo.
3
Em uma época em que os recursos públicos destinados à área social são escassos e sua
demanda só tende a aumentar, vimos a importância de projetos que visam ao bem-estar social.
Nesse contexto, precisamos mais do que meras palavras. Precisamos de ação e vontade de
vencer.

Não podemos descartar a competência do voluntário, definido pelas Nações Unidas como
o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte
do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não,
de bem-estar social, ou outros campos. Assim, o voluntário visa buscar o bem-estar social da
coletividade por meio do desenvolvimento de projetos.

Mas a consciência coletiva é algo mais que um simples epifenômemo de sua base
morfológica, da mesma forma que a consciência individual é algo mais que uma
simples eflorescência do sistema nervoso. Para que a primeira se manifeste, é
preciso que se produza uma síntese sui generis das consciências particulares. Ora,
essa síntese tem por efeito criar todo um mundo de sentimentos, de ideias, de
imagens que, uma vez nascidos obedecem a leis que lhes são próprias.
(DURKHEIM, 1996, p. 468).

Ressaltamos um projeto que vem contribuindo para tal feito, enfatizando como o esporte
ajuda a prevenir a violência. Estamos nos referindo ao projeto o Vencedor na Escola Campeão
de Bola, no Bairro Nova Esperança, situado na cidade de Blumenau, SC, que usa o futebol e
outras modalidades como estímulo para afastar crianças jovens das drogas e da criminalidade.
Em síntese, é o projeto do professor Gilson de Souza.

Segundo a definição da ONU: um projeto é um empreendimento planejado que


consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar
objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo
dados (apud COHEN; FRANCO, 1999, p. 85).

Sendo assim, o estudo propõe entender a importância desses projetos sociais junto à
sociedade, visto que, nesse segmento, ocorre, cada vez mais, o uso de esportes como
ferramenta de mudança junto a comunidades vulneráveis, contribuindo de forma significativa
no desenvolvimento social.

Os projetos sociais são um exercício de cidadania, pois envolvem as pessoas para


além do seu campo de vivência, permitindo a transposição de barreiras e
preconceitos em benefício do outro. Eles são um meio para que haja maior
conscientização do indivíduo diante do papel que ele desempenha na sociedade,
além de despertar o sentimento de solidariedade. (Wikipédia, 2013).

Castellani Filho (2005, p. 15) aponta as contribuições do esporte e do lazer:

Esporte e lazer são tidos como práticas sociais, trazidas como atividades humanas
construídas historicamente com a intenção de dar respostas às necessidades sociais,
identificadas pelos que fazem a história do seu tempo a partir das múltiplas
determinações das condições objetivas nele presente.
4
2 A IMPORTÂNCIA DE PROJETOS SOCIAIS

Os projetos sociais, muitas vezes, fazem o papel do Estado, dando acesso ao desporto e
ao lazer, conforme prevê a Constituição Federal do Brasil, de 1998, no artigo 217, que define
a prática desportiva e lazer como um direito social, cabendo ao poder público promovê-las.

Gohn (2000) destaca que os projetos sociais podem ser definidos como um conjunto de
tarefas relacionadas entre si, com metas, cronogramas e orçamentos, a priori em parceria com
agentes interessados, como comunidade, sociedade, beneficiários e instituições, com a
finalidade de alcançar um objetivo específico de desenvolvimento social ou humano,
realizadas por organizações sem fins lucrativos.

Uma manhã de sábado no Bairro Nova Esperança. Uma bola cujo couro esfolado
nas calçadas é marca de prolongadas batalhas infantis rumo ao gol. E a combinação
das duas, o suficiente para que crianças e adolescentes do Bairro Nova Esperança
saiam de casa cedinho, sedentos por dividir a paixão pelo futebol. No ginásio da
Escola Hermann Hamann, meninos de seis a 16 anos descobrem no esporte a
oportunidade de escapar à sedução da criminalidade e das drogas. Eles integram o
projeto Vencedor na Escola, Campeão de Bola, criado em março para promover o
lazer das crianças do bairro, descobrir novos talentos e estimular o progresso nos
estudos. (Jornal de Santa Catarina, 2010).

Um projeto social busca, “por meio de um conjunto integrado de atividades,


transformar uma parcela da realidade, reduzindo ou eliminando um déficit, ou solucionando
um problema, para satisfazer necessidades de grupos que não possuem meios para solucioná-
las por intermédio do mercado” (Cepal, 1995; Nogueira, 1998).

Para Nogueira (1998), projeto social é um conjunto de ações que têm o propósito de
provocar impactos sobre indivíduos ou grupos, chamados de público-alvo ou beneficiários,
que abrangem uma determinada destinação de recursos e responsabilidade durante um período
de tempo.

Assim os projetos sociais são possibilidades concretas de mudança junto à sociedade,


transformando desejo pessoal e coletivo em relações permanentes.

De acordo com Armani (2002), a elaboração de um projeto social implica em


diagnosticar a realidade social, identificar o contexto sócio-histórico e compreender relações
entre instituições e grupos, planejando, assim, intervenções dentro das oportunidades de
transformação social.

A definição de projeto social remete a uma unidade política alinhada à estratégia de


desenvolvimento social visando solucionar ou atenuar carências sociais (JÚNIOR, 2001).
Assim:

A adoção de políticas de responsabilidade sociais, visando à minimização dos


déficits sociais, que exigem a implementação de ações substanciadas em
empreendimentos organizados e realizados a partir de um cronograma de ações,
objetivando a minimização das carências apontadas (JÚNIOR, 2001, p. 75).

De acordo com Cardoso (2004, p. 42),


5
O Social deve ser tratado como um bem público de forma descentralizada e
intensamente participativa onde governo, ONG e empresas privadas, através de sua
consciência sobre a responsabilidade social das empresas, devem se articular sobre
os problemas sociais, na busca de alternativas e soluções além do assistencialismo
para a construção do interesse público e a evolução do capital social.

Há, no Brasil, um crescente número de projetos sociais, formulados tanto por


organizações governamentais quanto por não-governamentais, propondo principalmente ações
educativas por meio do esporte e do lazer.

O Art. 25, da Constituição Federal do Brasil, especifica que.

Os projetos de enfrentamento da pobreza compreendem a instituição de


investimento econômico-social nos grupos populares, buscando subsidiar, financeira
e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam meios, capacidade produtiva e de
gestão para melhoria das condições gerais de subsistência, elevação do padrão da
qualidade de vida, a preservação do meio-ambiente e sua organização social.

Rico (2004) destaca que a realidade da desigualdade social, juntamente com conflitos
e contradições, representadas nos mapas de exclusão, colabora para o surgimento dos projetos
sociais. Diante deste cenário e na tentativa de uma ação positiva, encontra-se o esporte como
uma possível ferramenta de transformação.

De acordo com Silva (2007), esse fenômeno de inserção do esporte como prática
educacional alternativa em projetos sociais tem origem em meados dos anos de 1990, em
especial pelo Instituto Ayrton Senna. Assim, a prática de atividades esportivas, além de
benefícios físicos, desenvolve potencialmente os aspectos socioemocionais na formação do
indivíduo.

De acordo com as Nações Unidas, voluntário é o jovem, adulto ou idoso que, devido a
seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a
diversas formas de atividades de bem-estar social ou outros campos.

O voluntariado traz benefícios tanto para a sociedade em geral como para o indivíduo
que realiza tarefas voluntárias. Ele produz importantes contribuições, tanto na esfera
econômica como na social, e contribui para a uma sociedade mais coesa, por meio da
construção da confiança e da reciprocidade entre as pessoas. Serve à causa da paz, pois abre
oportunidades para a participação de todos.

Toda criança e jovem têm o direito, conforme o Art. 15 da Constituição, à liberdade,


ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais.

No Brasil, os índices de pobreza estão diretamente associados à má distribuição da


renda. Nesse sentido, segundo o censo realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) 2,4% das famílias detêm 33% da riqueza produzida no país, o
que evidencia a falta de vontade e ideias da classe política para mudar este panorama.
6
2.1 ATIVIDADES DESPORTIVAS (DESPORTOS)

Conforme Dacosta (2006), no Brasil, a administração do esporte ou de entidades


esportivas teve suas primeiras abordagens no início do século XX em âmbito da Associação
Cristã de Moços (ACM), no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Posteriormente, no final da década de 1920 e 1930, nos meios militares e na medida em que o
esporte se ampliava e eram criadas instituições esportivas mais sofisticadas, o sentido de
liderança e de condução administrativa típico dos pioneiros do esporte e da Educação Física
deu lugar a funções de gestão usadas de forma universal, tais como planejamento, direção e
controle. No Brasil, essa especificidade da administração no esporte teve suas primeiras
aparições na década de 1940.

Destacamos que a administração esportiva (denominação histórica da área de


conhecimento no Brasil) ou Gestão do Esporte, nome mais apropriado da disciplina, diz
respeito à organização e direção racional e sistemática de atividades esportivas e físicas em
geral e/ou de entidades e grupos que fazem acontecer essas atividades, quer orientadas para
competições de alto nível ou participação popular ocasional ou regular e práticas de lazer e de
saúde (DACOSTA 2006).

De acordo com a Carta Internacional de Educação Física e do Esporte, da Organização


das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (1978), todo ser
humano tem o direito fundamental de acesso à educação física e ao esporte, que são essenciais
para o pleno desenvolvimento da sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões
físicas, intelectuais e morais, por meio da educação física e do esporte, deve ser garantida
dentro do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social.

Conforme o Art. 2o, da Lei nº 11.438/2006, com redação dada pela Lei nº 11.472, de
2007,

Os projetos desportivos e para desportivos, em cujo favor serão captados e


direcionados os recursos oriundos dos incentivos previstos nesta Lei, atenderão a
pelo menos uma das seguintes manifestações, nos termos e condições definidas em
regulamento: I - Desporto educacional; II - Desporto de participação; III - Desporto
de rendimento.

§ 1o Poderão receber os recursos oriundos dos incentivos previstos nesta Lei os


projetos desportivos destinados a promover a inclusão social por meio do esporte,
preferencialmente em comunidades de vulnerabilidade social.

Gomes-Tubino (1987, 2002, 2006) destaca a história da teoria do esporte como prática
institucionalizada, caracterizada pela alta organização orientada à competição e busca do
máximo rendimento, distinguindo-as em três dimensões sociais na prática do esporte:

a) O esporte-educação,
b) O esporte-participação e
c) O esporte-performance ou de rendimento.

Podemos ressaltar, nos exemplos apresentados, que nossas crianças e jovens estão
praticando “esporte-participação” e os escolares, “esporte-educação”, sendo que o “esporte-
rendimento” é apenas desenvolvido pelos educadores de educação física presentes como
voluntários no projeto ora enfocado.
7

O objetivo de Gomes-Tubino (2002), com sua tripla distinção, é claramente ético.


Segundo o autor, quando falamos em “direito ao esporte” ou “esporte para todos”, poderíamos
acrescentar “inclusão através do esporte”, que seria a oportunidade de praticá-los sob alguma
dessas dimensões. Gomes-Tubino acredita que, dessas três dimensões, a que mais se adapta à
prática de oportunizar esportes sem distinções sociais é a do “esporte-participação” (GOMES-
TUBINO, 2002, p. 33).

Sustentando a compreensão do esporte como prática inclusiva, torna-se razoável


pensar em tornar o esporte modelo de prática inclusiva para objetivos educacionais e de lazer.
O esporte, como sustenta Helal, é uma prática social institucionalizada e, além de uma arte,
uma oportunidade de dedicação ocupacional e profissional.

Consideramos que o esporte não deve ser apenas um meio para o alcance de outros
fins socialmente valorosos, como o alcance de objetivos sociais, o aprendizado de valores
morais, como amizade, solidariedade e competição honesta e justa, mas também uma opção
de vida e de dedicação pessoal.

2.2 O EDUCADOR

O educador precisa querer bem aos seus educandos bem como à pratica educativa de
que participa. Deve ter dedicação, carinho, amor e afetividade para continuar sua arte de
educar e lembrar-se de que, se não pode, de um lado, estimular os sonhos possíveis, não deve,
de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar (FREIRE, 1996, p. 163).

Segundo Freire (1987), o educador é um dos principais agentes de mudança no ensino,


pois é ele que está em contato direto com alunos, onde ocorrem os problemas. Sua tarefa é
comprometedora e desafiante, sendo que não pode mais ficar acomodado. Cada um tem uma
parcela de compromisso no processo de transformação, devendo assumir o papel de
transformador com alegria e esperança.

Freire (1997) nos ensina que não há docência sem deiscência. Portanto, o educador deve
refletir constantemente sobre a relação teórica e prática, ou seja, quem forma se forma e
reforma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (FREIRE, 1997).

Em relação ao papel do educador e do professor, Alves (2000, p. 19) considera que

Professores são habitantes de um mundo diferente, onde o ‘educador’ pouco


importa, pois o que interessa é um ‘crédito’ cultural que o aluno adquire numa
disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma
diferença faz aquele que o ministra. Por isso mesmo professores são entidades
‘descartáveis’, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café
descartáveis, copinhos de plástico para café descartáveis. De educadores para
professores realizamos o salto de pessoa para função.

Alves (2000, p. 16), ainda sobre o papel do educador e do professor, questiona:

Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores há aos


milhares. Mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor,
8
Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um
grande amor, de uma grande esperança. (ALVES, 2000, p.16)

Sendo assim, há uma ligação entre o aprender e o ensinar, pois “Quem ensina aprende
ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. (FREIRE, 1996, p. 25).

O exposto nos leva a refletir sobre a formação do educador e os saberes que a


determina, cabendo, primeiro, explicar a sua formação epistemológica permanente, na prática
social e política, com um currículo coerente e interdisciplinar, ajudando o educando a pensar.

Uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrática deve revelar
em suas relações com as liberdades dos alunos e a segurança em si mesmo é a
segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que decide, com que
respeita as liberdades, com que discute suas próprias posições, com que aceita rever-
se (FREIRE, 1999, p.102).

A respeito do projeto Vencedor na Escola Campeão de Bola,

Aos 30 anos, Gilson de Souza é o responsável pela iniciativa. Nascido e criado na


Nova Esperança conhece cada criança que cruza aquelas vias. É professor de
matemática, mas elegeu o esporte como o caminho para acabar com uma
inquietação: a tentação que as drogas e o tráfico exercem sobre os jovens. (Jornal de
Santa Catarina, 2010).

É possível observar a nítida queda de ocorrências envolvendo jovens na localidade,


combinando perseverança e paciência que, unidas com valores morais e trabalho em equipe,
resultam num futuro melhor:

Rodrigo Morais Pereira, 15 anos, prefere o Vasco. O garoto já demonstra habilidade


com a bola, que o permite ignorar a posição: atacante ou lateral, tanto faz. (Jornal de
Santa Catarina, 2010).

Marcos optou pelo futebol praticado no projeto Vencedor na Escola, Campeão de


Bola, e carrega consigo os dois irmãos menores, de 10 e 8 anos. Atacante, o sonho é
vestir a camisa do Flamengo e marcar um gol no Maracanã. (Jornal de Santa
Catarina, 2010).

O educador social é um agente de educação envolvido na realidade sócio cultural


para melhorar e ajudar a capacitar as pessoas com dificuldades sociais ou em risco
de exclusão social. (Wikipédia, 2013)

Ao defendermos a ideia de que, qualquer que seja a realidade do sujeito, ele é sempre
um ser em construção, acreditamos que o educador social se construa e seja justamente
marcado pelas especificidades e profundas ambiguidades do contexto no qual se insere.
Assim, embasamos nosso estudo nas referências teóricas interacionistas, cuja concepção
pressupõe a constituição do homem como sujeito a partir de sua relação com o outro, quando
inserido em determinado contexto cultural, caracterizando-o, em sua totalidade objetiva e
subjetiva, como um ser ativo, social e histórico (Bock, 1999).
9
2.3 O PROJETO VENCEDOR NA ESCOLA, CAMPEÃO DE BOLA.

O projeto social nasceu em 2010 devido a problemas que afetavam a comunidade, ou


seja, as crianças ficavam de forma ociosa nas ruas, à mercê de ações negativas da sociedade.
A partir disto, o professor Gilson de Souza, idealizador do projeto, teve a iniciativa de cunho
social e esportivo que visa promover a integração entre crianças e adolescentes, com idade
entre 06 e 15 anos regularmente matriculada na escola pública, e de baixa renda, por meio da
prática supervisionada do futebol na quadra da escola E.E. B Hermann Hamann, no bairro
Nova Esperança, aproveitando um espaço que já pertence à comunidade.

O bairro Nova Esperança

[...] foi criado pela Lei Complementar nº 489, de 25 de novembro de 2004, que fixou
o Novo Perímetro Urbano do Município de Blumenau Sede e do Distrito de Vila
Itoupava e estabeleceu a nova Divisão de Bairros. Com a promulgação da lei, o
bairro Fortaleza teve sua área reduzida para 5,29 Km². A alteração permitiu a criação
do bairro Nova Esperança (1,84Km²). Parte do bairro Ponta Aguda contribuiu
também. (Wikipédia, 2013).

O projeto visa promover a integração entre membros da comunidade, com participação


direta ou indireta, como pais, educadores, alunos e amigos, assim estimulando o bom
desempenho escolar dos participantes, como um fator-chave para o progresso de todos.
Procura desenvolver competências para trabalho em equipe, cooperação, disciplina e postura
e, consequentemente, proporcionar uma opção de lazer.

As aulas do projeto social são realizadas por quatro turnos em dois dias da semana.
São ensinados os fundamentos do futebol (passe, cabeceio, domínio e chute) e tática, além da
promoção de treinamentos coletivos.

Para permanecer no projeto, o aluno tem que:

a) Comprovar a frequência escolar igual ou superior a 80% no mês;


b) Ter média igual ou superior à nota 7,0 na escola;
c) Ter frequência mensal igual ou superior a 80% nas aulas da escolinha;
d) Não cometer atos de indisciplina, respeitando e sendo cordial com colegas e
professores, não só na escolinha, como na comunidade;
e) Ser pontual e leal com os colegas na prática futebolística.

Para viabilização do projeto, foram contatados parceiros na iniciativa pública e


privada, como o Colégio Hermann Hamann e Associação de Colorados de Blumenau (ACB),
que estivessem cientes do seu compromisso social e que quisessem associar suas imagens a
uma iniciativa cuja preocupação primordial é promover e disseminar o bem-estar social de
crianças e adolescentes carentes.

O projeto foi avaliado e visto positivamente tanto pelas crianças e jovens do Colégio e
da Associação, como pelo educador físico e idealizador do projeto. Houve mudanças positivas
nas atitudes e no relacionamento com a equipe desde que se iniciou o projeto. Houve,
também, uma satisfação perante os uniformes, o que gerou reconhecimento e autoconfiança,
que, por sua vez, influenciaram o crescimento pessoal dessas crianças e jovens. A participação
e a interação entre eles se dá de forma positiva, pois muitos já dispõem de relacionamentos
durante o período escolar, além de que algumas faixas etárias de idade se relacionam muito
10
bem, sendo que os menores se espelham nos jogadores mais habilidosos do time e os
observam atentamente a fim de desenvolver as mesmas habilidades desportivas.

Os pais se sentem seguros por seus filhos estarem sob o amparo de Gilson de Souza, pois
o conhecem como professor e como amigo e reconhecem seu profissionalismo e dedicação.

Hoje, os participantes do projeto não enfrentam mais problemas com goteiras, que
prejudicavam o desenvolvimento do esporte, pois ocasionavam, em certos pontos, poças de
água, as quais também poderiam causar danos ao patrimônio público. Nas figuras 1 e 2,
apresentamos, respectivamente, o logo do projeto e alguns de seus participantes,
acompanhados por Gilson de Souza.

Figura 1 – Projeto Social Vencedor na Escola Campeão de Bola

Fonte: Do Autor.

Figura 2 - Projeto Social Vencedor na Escola Campeão de Bola

Fonte: Do Autor.
11
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade atual vive um momento de crise, ocasionada, em sua maioria, pela má


distribuição de renda e recursos entre as classes sociais. Dessa forma, parte da sociedade não
tem acesso a condições básicas de vida, tais como saúde, educação, segurança e ou desporto.

No Brasil, percebe-se um movimento das pessoas no sentido de ver que esperar uma
contrapartida do governo não é prudente, que a sociedade e órgãos privados, na busca por
solucionar parte desses problemas, usam iniciativas sociais no chamado terceiro setor,
utilizando-se de projetos como agentes transformadores. (ROCKFELLER, 1995)

O projeto social se constitui como um acesso das crianças e jovens às práticas


desportivas, se tornando ferramenta de cidadania, oferecendo a eles bem-estar social e
coletividade.

É visto, muitas vezes, pela criança ou jovem como a melhor parte da escola, pois
possibilita que aprendam com o esporte uma forma de educação e lazer, o que faz com que
vejam a escola como uma “segunda casa”.

Além disso, o projeto social afasta os menores das ruas, da violência e das drogas,
mantendo-os sob os olhares atentos dos educadores ou responsáveis, resultando num maior
rendimento educacional por meio dos ensinamentos e oportunidades oferecidas pelos
educadores e pelo projeto.

Assim, o esporte pode ser visto como mais uma ferramenta de aprendizagem para as
crianças e jovens, sendo a área que mais contempla as iniciativas sociais.

A sua visibilidade junto à mídia e a sua empatia junto a camadas mais jovens
fortalecem iniciativas sociais desportivas, gerando modificações comportamentais e sociais
positivas.

Nesse sentido, o projeto visa construir meios para o desenvolvimento educacional das
crianças e jovens, fortalecendo e estimulando a participação dos pais e amigos. Obtém, assim,
amparo de organizações privadas a fim de possibilitar maiores parcerias entre a escola e
instituições parceiras, como a Associação de Colorados de Blumenau.

Hoje, o projeto já conta com a participação de vários voluntários, como Diego Geraldo,
Luiz Henpemayer e Sérgio, que representam os educadores físicos, e Germano Demathe
Alencar, Gilmar Robson de Souza, o seu idealizador, e Leonardo Parisoto, diretor do Colégio
Hermann Hamann. Todos, com suas iniciativas e responsabilidades, são agentes
transformadores para uma sociedade igualitária.

Para concluir, ressaltamos a importância de estudos sobre os aspectos sociais esportivos e


outros programas escolares, visto que isso poderá gerar subsídios para futuras propostas,
atendendo a demandas da sociedade e, em especial, a crianças e jovens com riscos sociais.
Igualmente poderá contribuir para maior inclusão e responsabilidade social, usando o esporte
como agente modificador da sociedade.
12
REFERÊNCIAS

ARMANI, Domingos. Como Elaborar Projetos Sociais: Guia Prático para elaboração de
projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2002.
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar: qualidade total na educação. 4.
ed. Campinas: Papirus, 2000.
BOCK, Ana. M. Bahia. Aventuras do Barão de Münchhausen na psicologia. Aventuras do
Barão de Münchhausen na psicologia. São Paulo: EDUC; Cortez, 1999.
BRASIL (1998) Constituição do Brasil. Diário Oficial da União. Disponível em:
http://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/. Acesso em: 09 nov. 2013.
BRASIL (1995) Lei Federal nº 8.069, de 13 de jul. de 1990. Estabelece o Estatuto da
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm, Acesso em: 09 nov. 2013.
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_____________Lei nº 11.472, de 2007, Lei federal n 11.438 de 29 dez. 2006. Estabelece
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