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1. Expiação e Progresso
O espírito, quando encarnado, acha-se sujeito a uma série de limitações impostas pelo
seu corpo físico. Há as dificuldades de comunicação, transporte e a falta de uma série
de instrumentos que o corpo não possui. “No físico, o homem é como os animais e
menos bem provido que muitos dentre eles; a natureza lhes deu tudo aquilo que o
homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para prover às suas
necessidades e à sua conservação”. (3)
O ser humano, desde as cavernas até os nossos dias, tem buscado vencer suas
limitações como espírito encarnado. Depois de um processo incessante de
conhecimento e domínio da natureza, ele hoje exerce sobre ela um controle quase que
total. Os transportes, os meios de comunicação, estão bem avançados e há um
desenvolvimento das ciências nunca antes presenciado pela humanidade.
2. Visão Deturpada
Porém, para muitos, a reencarnação é tida unicamente como punição que o sujeito
sofre pelas faltas cometidas em outras existências.
A Lei de Ação e Reação é considerada como uma lei mecanicista, que provoca
situações determinadas autoritariamente por espíritos elevados, à revelia do
reencarnante. Transparece a idéia de castigo divino, disfarçada por uma visão
distorcida de muitos conceitos espíritas.
3. Reencarnação e Alienação
A lei dos renascimentos sucessivos, segundo a visão espírita, abre perspectivas nunca
antes contempladas. A imortalidade, exercitada pelo espírito ao longo de suas
existências num processo contínuo de evolução infinita, vem elucidar uma série de
questões que vão desde o plano biológico, psicológico ao plano social, até então
inexplicáveis, tanto pelos espiritualistas como pelos estudiosos das leis que regem o
mundo material.
Conforme Allan Kardec, “a encarnação não é uma punição como pensam alguns, mas
uma condição inerente à inferioridade do espírito e um meio dele progredir” (4); “a
encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do espírito; ao
progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela
necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas
e más qualidades”. (5)
Todos os obstáculos a serem removidos pela nossa atuação não existem ao acaso.
Por outro lado, a nossa existência não é projetada arbitrariamente pelo “plano
espiritual”. Trata-se de uma condição natural determinada pelo nosso estágio evolutivo.
Os Espíritos sustentam que as desigualdades sociais não são obra de Deus, são
obras dos homens e serão eles próprios que através de existências sucessivas irão
eliminando essas desigualdades.
5. Individual e Coletivo
Afirma o pensador espírita Herculano Pires, com muita propriedade, que “a renovação
do homem implica a renovação social, mas desde que o homem renovado se empenhe
na transformação do meio que vive, sendo esta, aliás, a sua indeclinável obrigação.”
(9)
Essa posição é reafirmada por Herculano nas seguintes palavras: “melhorar apenas o
homem numa estrutura imoral equivaleria a melhorar a estrutura com um homem
imoral” (10) e “transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o
homem pela transformação do mundo, eis a dialética do Reino.” (11)
O homem, “concorrendo para a obra geral, também progride” (14). É parte primordial
da sociedade e a sociedade, seu espaço de integração. Assim como não pode viver
sem a sociedade, a sociedade sem ele deixaria de existir. Um reafirma o outro. “No
isolamento o homem se embrutece e se estiola” (15) e a necessidade de
sociabilização se impõe como um impulso natural, necessário para o seu progresso e o
da coletividade.
Notas Bibliográficas
(1) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec - pergunta 169 (Lake - 41ª edição).
(2) Idem – pergunta 132.
(3) Idem – pergunta 592.
(4) A Gênese – Allan Kardec - cap. XI - item 26 (FEB - 20ª edição).
(5) O Céu e o Inferno – Allan Kardec - cap. VIII/&8. (FEB - 22ª edição).
(6) Obras Póstumas – Allan Kardec - 1ª parte/As Expiações Coletivas (Lake - 2ª
edição).
(7) O Livro dos Espíritos – pergunta 719.
(8) Idem – pergunta 132.
(9) Espiritismo Dialético – J .Herculano Pires; O Indivíduo e o Meio. (edições A Fagulha
- MUE).
(10) O Reino – J.Herculano Pires. Cap. VIII (Edicel - 1ª edição).
(11) Idem – cap. VIII.
(12) Obras Póstumas – Allan Kardec - 2ª parte/Credo Espírita.
(13) Idem – Allan Kardec - 2ª parte/Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
(14) O Livro dos Espíritos – pergunta 132.
(15) Idem – pergunta 768.