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Um caso de Tikvá, Giovanni e o "o meu pai, não os pais dos outros" de Petri.

Uma análise
comportamental com implicações no desenvolvimento psicossexual da criança/jovem

Artur Jorge Vieira Fatia da Silva Pereira1

1. J.F. Schenk Soluções Estatísticas, Portugal

2019

Author's Note

I want to thank my family for the support provided during this investigation, more precisely to

my children Daniel Filipe Assis Schenk Fatia Pereira and Ester Carolina Assis Schenk Fatia Pereira,

my treasures. My Mailing Contact is analise-do-comportamento@vodafone.pt


Abstract

In Psychology the analysis of clinical cases is made taking into account real cases, in
this tradition Petri presents in literary form, Giovanni. Objective: This article intends to
analyze a literary case of child maltreatment in contrast to "my father, not the parents of
the others" of Petri, being considered innovative that the analysis is made considering an
extreme case of maltreatment presented on the literary perspective. Material under
analysis: "The parents of others" of Petri. Results: The behavior analysis was performed
through the ABC behavior register (antecedent, behavior, consequent) in the Portuguese
nomenclature, ACC (antecedent-behavior-consequent), the material under analysis was
the speeches of the characters (Giovanni, his father and Giovanni's girlfriend) and the
author and only the author's analysis of "my father, not the parents of others",
considering the speeches as discrete units of behavior, the analysis revealed that in the
case of Giovanni there was change of sexual preference after child abuse and
retroversion to the original sexuality with other implications in the psychological and
behavioral development after exposure to mild natural contingencies, in the case of "my
father, not the parents of others" of Petri that does not contrast but complements the
analysis performed in the first case, reveals a father and daughter / kind, warm and
loving situation that should always be present in the development of the child and ovem.

Keywords: Child sexual coercion, child abuse, parenting, sexual preference.


Resumo

Problema: Em Psicologia a análise de casos clínicos é feita tendo em consideração casos


reais, nessa tradição Petri apresenta um caso na forma literária, Giovanni. Objetivo: O
presente artigo pretende analisar um caso real de maus tratos infantis contrastando com
“o meu pai,não os pais dos outros” de Petri, sendo inovador considerando que a análise
é feita tendo em consideração um caso extremo de maus tratos infantis apresentada
sobre a ótica literária, baseada em casos reais. Material sob análise: “Os pais dos outros”
de Petri. Resultados: Efetuou-se a análise do comportamento através do registo de
comportamento ABC (antecedent, behavior, consequent), na nomenclatura portuguesa,
ACC (antecedente-comportamento-consequente), o material sob análise foram as falas
das personagens (Giovanni, o seu pai e a namorada de Giovanni) e da autora e apenas da
autora na análise de “o meu pai, não os pais dos outros” de Petri, considerando as falas
como unidades discretas do comportamento, a análise revelou que no caso de Giovanni
houve mudança de preferência sexual após maus tratos infantis e retroversão à
sexualidade original com outras implicações no desenvolvimento psicológico e
comportamental após exposição a contingências naturais amenas, no caso “o meu pai,
não os pais dos outros” de Petri que não contrasta mas complementa a análise efetuada
no primeiro caso, revela uma situação de pai e filha/o amena, calorosa e de amor que
deverá estar sempre presente no desenvolvimento da criança e jovem.

Palavras-Chave: Coerção Sexual Infantil, maus tratos infantis, Parentalidade,


preferência sexual.
Um caso de Tikvá, Giovanni e o "o meu pai, não os pais dos outros" de Petri, Uma análise

comportamental com implicações no desenvolvimento psicossexual da criança/jovem

Considerando que a sexualidade humana é comportamento e como todo comportamento humano é

aprendido de fora para dentro, determinado e selecionado pelas consequências, tendo três níveis de

interceção, a filogénese, a ontogénese e o cultural (Catania, 1999; Baum, 2006)

A sexualidade humana tem sido controlada culturalmente por agências sociais, termo corrente no

Behaviorismo (e.g. Skinner, 2003), nas quais se destaca a família e a igreja, tendo esta última tido o

seu apogeu a idade média, baseado no sistema patriarcal.

Ao clero dava se a função de vigilância e controlo da sexualidade, principalmente da mulher (Leal

& Cabral, 2010; Dantas, 2010, Silva, s.d.).

Contudo, diga-se a abono da verdade que o controlo da sexualidade não é só apanágio do

Cristianismo, surge mesmo antes no Judaísmo (Marianno, 2011, Silva, s.d.), em que a sexualidade

da mulher também é restringida em detrimento do homem, o ser ativo da parceria sexual, sendo o

ato sexual apenas consentida no casamento, como no Cristianismo (Dorff, 2002).

Não é por acaso a crítica que se faz a Lilith a primeira mulher de Adão, relato paralelo da Tora que

possuía características sexuais que a aproximavam do Homem, ser um parceiro sexual ativo e de

difícil dominação (Laraia, 1997).

O controlo e vigilância passou do clero para o médico e destaca-se a sua importância nos seus XIX

aquando do surgimento dos primeiros grandes surtos de doenças venéreas, nas quais se destacam a

gonorreia e sífilis (Mazzieiro, 1998; Lopes, 2014).

Mas o predomínio da medicina na sexualidade patente no século XIX e XX representa a junção de

diversas agências sociais, o governo, a classe médica e mesmo membros da Igreja católica como

refere Tremelett (2001), na tentativa de controlo da sexualidade vejamos como exemplo as ditaduras

fascistas do Caudilho e do Dulce, respetivamente em Espanha e Itália.

Durante a ditadura de Franco a homossexualidade era vista de uma forma sociológica, ou seja, era

entendida como um perigo social, um atentado à moral e à construção social do “macho latino”
(Tremelett, 2001), logo tinha de ser controlada e contida pela ley de peligrosidad social em vigor

até 1978 (Lira, 2018), mas que segundo Tremelett (2001) homossexuais e lésbicas permaneceram

presos(as) até 1979.

Paralelamente em Itália como o professor de história da Universidade de Bergamo, Lorenzo

Benadusi (Cit. In Johnston, 2013) refere "fascismo é um regime viril. Portanto, os italianos são

fortes e masculinos, e é impossível que a homossexualidade possa existir no regime fascista" o que

justifica a sua vigilância e perseguição.

Também em Espanha segundo Moya (2013, Cit. In Muñío, 2017) o regime enaltecia uma mulher

submissa ao homem, sobrevalorizada, dependente e reducionista e segundo González (s.d. Cit. In

Muñio, 2017) a visão de um homem idealizado, baseado na violência, virilidade e força o que

reflete o peso do exército na sociedade espanhola da altura.

Entre as formas de punição deste desvio sexual em Espanha encontrava-se o banimento das suas

cidades natais, tortura e o aprisionamento em asilos (Tremelett, 2001), o que segundo Lira (2018) e

também segundo informantes privilegiados eram submetidos a técnicas avançadas de reconversão

sexual forçadas, entre eles se contavam choques e administração de drogas sem autorização, logo

tortura com a conivência e participação de pessoal médico.

Legislação conexa foi também aplicada contra a população LGBT, entre elas se conta a ley de

Vagos y Maleantes em vigor até 1996 na qual autorizava a tortura e o confinamento a “colónias”

gays, onde existiam maus tratos, fome e trabalhos forçados (Muñío, 2017) com a desculpa de serem

campos de re-educação (Mateu, 2016). A sua localização era em Badajoz, Huelva e Fuerteventura

(Pira, 2018).

Já em Itália a sua localização era no arquipélago de Tremiti no Mar Adriático e segundo Johnston,

(2013) um prefeito da cidade siciliana de Catania em carta para as autoridades de Mussolini

beneficiou com a denuncia, passamos a parafraseá-lo "Nós notamos que alguns clubes, praias e

lugares nas montanhas recebem muitos desses homens doentes e jovens de todas as classes sociais

buscam a sua companhia...Este demónio precisa ser atacado e queimado na sua essência".Contudo,
existiram outras colónias de menor dimensão como Ustica e Lampedusa.

Outras tantas formas de privação e abuso da dignidade humana na Espanha de Franco eram prática

comum e autorizadas pelo regime entre eles se contam a prostituição forçada de lésbicas e abuso

sexual destas pelos guardas.

Falar de sexo é na Análise do Comportamento falar de práticas sexuais, cobertas, gestos,

comportamentos ou encobertas, fantasias e imagens. As práticas sexuais são sinónimos de relação

de poder, dominar ou ser dominado, vários autores mencionam mesmo a existência do duplo padrão

sexual (Nogueira, Saaveda & Costa, 2008), baseado em scripts sexuais segundo defendem Simon e

Gagnon (1986)

Considerando que boa parte da vida social existe na linguagem, moldando o comportamento e visto

que o Homem é uma das poucas espécies a que se atribui essa capacidade (Catania, 1999), torna-se

pertinente e coerente referir o que Skinner (1957) e continuadores (e.g. Catania, 1999; Baum, 2004)

referiu como regras, expressões linguísticas que expressam condições tais como, se...então.

Sendo coerente articula-la com os scripts sexuais, porque as regras sociais irão exprimir o que é

permitido (e.g. “Mulher séria namora com poucos rapazes”), diferenciando-se do que não é

permitido (e.g. “Homem não chora”), do que é coerente com um determinado sexo e aquilo que não

é (e.g. “Homem que é Homem tem barba”, “Homem que é homem não usa saia”), aquilo que

“representa” ser um Homem ou uma Mulher, tais regras exteriores ao organismo têm tendência para

tornar-se auto-regras (Medeiros, 2010; Cunha da Silva & de-Farias, 2010), regras que o próprio irá

mais cedo ou mais tarde irá exprimir verbalmente ou não, conscientes ou não, não será por acaso

que uma parte não determinada da população homossexual sente-se numa primeira fase,

constrangida, coagida e com sentimentos mistos acerca da sua sexualidade, refletindo regras sociais

acerca desta.

Existem fortes evidências que existe um duplo padrão sexual, ou seja, um conjunto de normas

sociais que determinam a prática de comportamentos sexuais diferenciados segundo o sexo, no qual

os homens são beneficiados, tendo mais liberdade sexual e iniciando mais cedo que as mulheres a
sua vida sexual e tendo mais parceiras que elas parceiros.

A esta conclusão chegam Matos e Projeto Aventura Social & Saúde (2003), os quais mencionam

que apesar de 76.3% dos jovens ainda não terem tido relações sexuais, são precisamente os rapazes

que mais frequentemente afirmam já ter tido atividade sexual (33.3%, face a apenas 15% para o

sexo feminino, os inquiridos do sexo masculino mencionam ainda ter iniciado a vida sexual mais

cedo.

Dados europeus referidos por Avery e Lazdane (2008, Cit. In Saavedra, Nogueira, & Magalhães,

2010) reforçam também estes padrões sexuais, revelando que 30,2% dos rapazes portugueses e

20,3% das raparigas se afirmavam como sexualmente ativos aos 15 anos de idade.

A sexualidade no feminino ainda é visto com receio, vergonha e cumplicidade afetiva (Saavedra,

Nogueira & Magalhães, 2010), já a sexualidade masculina é vista de forma positiva (Freire, 2014;

Moraes & Oliveira, 2012), com exclusão de sentimentos (e.g. Homem não chora), a perda da

virgindade no jovem, representa um rito de passagem para se tornar Homem, com H grande é a

passagem da criança ao patamar dos homens aqueles que têm poder, que o exercem e os legítimos

reguladores da vida social.

O sistema ideológico a que se dá o nome de Heterossexismo, baseia-se no principio da

Heterossexualidade, que esta é normal, é natural, sendo superior a outras formas de sexualidade,

sendo a norma, todos os desvios a esta devem ser corrigidos para a formula natural que é a

heterossexualidade (Mota-Ribeiro & Pinto-Coelho, 2007; Januário & Cascais, 2012).

A sociedade trabalha em bloco, i.e., desde a família, a primeira estrutura social da criança, passando

por outras estruturas sociais de socialização secundária nas quais se contam a igreja, a escola e

outras, todas trabalham de forma consciente ou sem consciência para a norma.

Veja-se por exemplo, a cultura dominante, os anúncios, a literatura e o cinema em que há o

predomínio do Homem como ser ativo, que promove a mudança social, até na política portuguesa

atual é evidente um maior número de deputados do sexo masculino que o feminino, logo possuindo

maior poder de decisão que as mulheres.


Ideias normativas e de senso comum trabalham em bloco para manterem o status quo, embora os

mass media também sejam responsáveis por mudanças, apresentando novos temas, tais como a

transexualidade, os direitos civis, o aborto, entre outros (Pinto, 2012).

Nestes (mass media) o cinema destaca-se pela narrativa completa ao contrário dos anúncios, ou

seja, num típico filme a historia desenrola-se com uma ou várias histórias a decorrer ao mesmo

tempo, caminhando para um fim que se vai construindo e prendendo o espetador ao ecrã, tendo uma

possível vantagem na criação de scripts, pela repetição da mesma mensagem/padrões, pela longa

exposição (um filme dura aproximadamente duas horas e um anúncio poucos segundos ou minutos),

ou seja, é extensivo enquanto que a mensagem transmitida em anúncio é condensada, logo de pouca

reflexão e de fácil assimilação.

A sexualidade humana é em parte distinta da sexualidade das outras espécies, enquanto que nas

outras espécies ela se prende com o ciclo de reprodução, já a sexualidade humana é plástica

(Moreira, 2013), veja-se por exemplo a prática de sexo anal ou as técnicas de potencialização do

prazer feminino conhecidas como coni lingus.

Relativamente à filogénese humana, ou seja, a história da nossa espécie, destaca-se pela norma a

heterossexualidade e a identificação clara de sexo, o que certos autores referem como combinação

binária (e.g. Santos, 2009), macho-fêmea, que dá origem a outro ou outros elementos da espécie, as

crias.

A criação das crias nas outras espécies não humanas é das responsabilidade dos progenitores, já na

espécie humana ela tende para ser também dos pais e de outros familiares, como avôs, tios e primos

ou outros familiares que ocupam um lugar periférico ou não na criação, o que não esgota outras

configurações familiares, como a educação dada por casais do mesmo sexo ou o perfilhamento

civil, adoção simples ou o que ficou conhecido na literatura como os “meus, os teus e os nossos”.

Geralmente a identidade sexual coincide com o sexo anatómico de cada género (Brandão, 2008),

construindo-se em oposição ao outro e identificando-se com os membros do mesmo sexo, numa

construção binária (Pinto-Coelho & Mota-Ribeiro, 2012).


Já a o género é socialmente construido, o organismo, a que se dá o nome de Homem utiliza

comportamentos, gestos, discursos e utiliza objetos para assim se construir (Freire, 2014), mas é

também utilizado, ou melhor, é determinado a...., i.e., a realidade social irá condicionar, irá

apresentar-lhe um conjunto limitado de opções de escolhas e de expressão (Santos, 2009), sendo a

sua liberdade condicionada ás escolhas e opções proporcionadas pela sociedade, como diria Skinner

(1971) em “Para além da liberdade e da dignidade” na qual defende de forma ampla o

determinismo.

Relativamente à utilização de gestos, discursos e utilização de objetos leia-se a passagem

elucidativa de um dos entrevistados (E10) na investigação de Santos (2009).

“Um homem não deve gesticular demasiado; deve usar roupa mais discreta e masculina, ou

seja, não deverá usar roupa mais justa nem demasiados acessórios. Enfim, aquelas coisas

que olhamos na rua e sabemos que aquela pessoa é gay, porque está vestida ou se comporta

de determinada maneira”.

Outro entrevistado (E19) na mesma investigação menciona ainda que

“Ser masculino é fazer uso pleno das marcas da masculinidade. Falar com voz grave, usar

gestos naturais, mas contidos, vestir roupa singela e, sobretudo, usar o raciocínio masculino

[ou seja], calmo e confiante”.

A ontogénese sexual refere-se às experiências que o Homem adquire ao longo da vida num

determinado contexto sócio-histórico, essas experiências e comportamentos podem ser entendidos

como equivalente a outros tantos comportamentos obedecendo aos mesmos princípios, assim sendo

são determinadas por processos de reforço e punição, sendo que aos primeiros denota se no

comportamento do organismo uma manutenção ou aumento deste enquanto que aos segundo uma

diminuição ou camuflagem dos comportamentos punidos (Skinner, 2003; Catania, 1999).

A interceção entre reforço, punição e emoções já foi comprovada por diversas pesquisas que

revelam que sentimentos considerados negativos aumentem a probabilidade do organismo afastar-se

da situação, enquanto que sentimentos considerados positivos fazem aumentar a probabilidade de


nos aproximar do objeto amado ou querido (Dutra, 2010, Thomaz, 2012).

Sendo que aquilo que não é visto dificilmente é punido, ou seja, o organismo exerce contra-controlo

sobre a instância punidora fugindo ao seu controlo, assim se explica parcialmente a “não historia”

do movimento gay e lésbico nas sociedades ocidentais, que historicamente apenas pode reivindicar

a segunda metade do século XX.

Mas os mecanismos de aquisição do comportamento ontogénico não se resumem a punições e

reforços, mas antes se inscrevem em processos longos de modelagem e de modelação. O

comportamento da criança vai sofrendo sucessivas extinções e reforços até atingir o comportamento

ideal, mas nunca acabado da masculinidade, sempre posta à prova.

Como exemplo da modelagem de género temos o choro do bebé e da criança, enquanto bebé é

permitido o choro, já enquanto criança esta se for do sexo masculino é ensinada a controlar o choro

e as emoções, com a exceção da raiva e da agressividade (Grossi, 2004), já a criança do sexo

feminino segundo Santos (2009) é ensinada a controlar a raiva, mas com ampla liberdade de revelar

os restantes sentimentos.

O que não é estranho considerando que raiva pode ser sinónimo de insubordinação ao sexo

dominante, o masculino e ser utilizado contra este. Segundo Skinner (1976) e também para Baum

(2004) as emoções podem ser estímulos discriminativos para a ação, isto é, podem potencializar um

ação efetiva, neste caso retrucar de forma efetiva, assim o controlo precoce da raiva e agressividade

na menina por relação funcionalmente equivalente em fases posteriores do desenvolvimento afetivo

com o(s) parceiro(s), incapacitam para uma ação mais firme com ou não uso da agressão e da

violência.

Existem autores que distinguem três grandes momentos da sexualidade humana, o primeiro

momento, dos 0 aos 11 anos de idade em que a criança está inserida na família e aí aprende as

primeiras regras de convivência com o seu corpo e com os elementos da sua família, homens,

mulheres e crianças, surgem valores e as primeiras perceções dos papeis sexuais de cada sexo.

Denota-se que face à ausência de padrões de comparação, regras passam facilmente a auto-regras de
convivência com o seu corpo e com os demais elementos da sua família (Anastácio, 2010).

Dos 11 aos 15 anos, o adolescente é influenciado pelos pares e a família declina em influência, o

caminho para a maioridade revela o declínio da família relativamente à sexualidade e uma forte

identificação com os grupos de pares, o que não acontece por acaso (Anastácio, 2010).

Vejamos por exemplo por lado que o tempo que o jovem passa na escola é superior ao tempo que

este passa na sua família, excluindo-se o período de descanso, logo é plausível o crescimento de

influencia dos pares na vida do jovem.

Por outro lado, as crianças e jovens entre os pares criam vínculos, testam e desenvolvem

competências, têm relações amorosas entre eles e aprendem normas do grupo num ambiente mais

descontraído e em relações horizontais, i.e., em relações mais igualitárias (Anastácio, 2010).

Para Pinto (2012) a identidade sexual remete para a “forma como cada pessoa sente a sua

individualidade, pelo fato de pertencer a um determinado

sexo (masculino ou feminino) e que inclui a ambivalência inerente à perceção de cada um”,

estando diretamente ligadas a diferenças anatómicas (ter um pénis, ter uma vagina).

É também aos 6 anos que surge a construção do pudor e segundo Felix (2006; Cit. In Pinto, 2012) é

necessário que se construa a privacidade e a intimidade com a ajuda dos adultos e tal assenta em

atividades que lhe proporcionem isso tais como, aquelas que respeitem o espaço da criança, como

tomar banho e dormir.

Para Vaz e colaboradores (1996, Cit. In Pinto, 2012) a identidade sexual baseia-se no papel de

género, que é socialmente e culturalmente construida, assim sendo não é de estranhar que a

publicidade e a industria de brinquedos seja distinta para meninos e meninas, com artefactos

culturais distintos, para os primeiros estão reservados brinquedos que levam a um maior exercício

de poder e força física (e.g. Exércitos, carros, brinquedos de lutas, etc) enquanto que para as

meninas os brinquedos estão voltados para o cuidar e o embelezar (e.g. Bonecas que são

alimentadas, que vão ao bacio, mini fogões, acessórios de beleza para bonecas, etc).

A criança ver se como um ser sexual é sinónimo de exploração das excitações sexuais e formação
de ligações românticas que alimentam a identidade sexual.

Refira-se que o conceito de família vai para além da satisfação das necessidades básicas, implica

como IR e IS (entrevistados do estudo de Pinto (2012) referem “união”, “proteção” e “gostar”,

“uma família é uma coisa que nos protege” (IR), “para mim uma família é quando as pessoas

gostam muito umas das outras”.

O desenvolvimento humano distingue-se das outras espécies pela sua complexidade, por isso não é

de estranhar o longo período de maturação humana, que leva à adultez. A infância compreende o

espaço vital que vai desde o nascimento até à puberdade, dos 10 aos 12 anos, algumas das

caraterísticas sexuais especificas desta fase são

“órgãos sexuais pouco desenvolvidos e os caracteres sexuais secundários iniciam... a

quantidade de hormonas no sangue também é muito pequena, o que vai interferir na pulsão

sexual que é também diminuta; por razoes hormonais o prazer sexual é difuso; os estímulos

externos não tem significado erótico” (Felix, 2006, p. 41, Cit. In Pinto, 2012).

Relativamente a carateres sexuais secundários há a salientar experiências pessoais associadas a

estes, que nem sempre são positivas, refira-se apenas como exemplo um dos entrevistados da

investigação de Santos (2009):

“Eu sentia-me algo inferiorizado dado as minhas características físicas de não ser tão

masculino fisicamente como os outros. Sempre me julguei uma pessoa algo efeminada, quer

pela voz, quer pela falta de pelo, bastante pelo no corpo como tinham outros colegas meus.

Eu achava sempre que era uma pessoa efeminada e nunca me dei assim muita

importância… Eu tinha pelo no peito e outros tinham menos do que eu e cheguei a ver

pessoas que ainda tinham menos cabelo nas pernas do que eu.”

Sendo que a atracão por outras é mais afetiva que sexual, sendo que a orientação do desejo ainda

não está consolidada, mas por volta dos 6 anos já surge a identidade sexual (auto classificação como

menina ou menino).

Voltando à adolescência, esta é devido à estimulação da hipófise pelo hipotálamo que leva ao surto
acelerado de crescimento (Sprinthall & Collins, 1999, Cit. In Teixeira, et al, 2010; Anastácio, 2010),

para Fuertes (1999, Cit in Teixeira et al, 2010) e Sprinthall e Collins (1999, Cit. In Anastácio, 2010)

ocorre em média por volta dos 10,5 anos e 11,5 respetivamente para as raparigas e para os rapazes,

tendo uma duração de 3 a 4 anos. A maturidade reprodutiva, o foco no corpo leva ao desejo sexual e

este a diversos questionamentos e preocupações (Anastácio, 2010).

Os processos psicológicos internos, como crenças, auto-regras, perceções, imagens e fantasias

sexuais só são passiveis de entendimento através da aquisição prévia de códigos linguísticos

compartilhados pelos membros da comunidade contextualizados num espaço e tempo como diria

Skinner (1957).

Um outro conceito caro na investigação da sexualidade humana é o de papeis de género, i.e.,

comportamentos sociais padronizados, esperados a cada sexo biológico (Freire, 2014), que se

aproxima da teoria da rotulação, tendo como exemplos extremos as noções socialmente construidas

do gay enfemeninado e da lésbica camionista (Brandão, 2004).

O sexo masculino sempre foi privilegiado no sistema binário da sexualidade, na cultura ocidental ao

sexo masculino são atribuídos adjetivos e qualidades tais como, decididos, seguros, sem

sentimentos, corajosos, inteligentes, racionais, só pensam em sexo, agressivos, prestígio, força,

possuidores, fonte de rendimento da família (Freitas, 2012; Moreira, 2013).

Vendo de uma perspetiva individual, temos vários relatos de dois dos entrevistados da investigação

de Moreira (2013) em que indicam que

“Homem é um sinal (…) de uma pessoa forte” (Jorge, heterossexual, TI)

“Depois tem outro lado que é o poder, e o poder é esta muito ligado a força e está

muito ligado há determinação e está muito ligado ainda a esse mundo todo

masculino // o homem é um ser de poder que está conotado com a força (…) à

masculinidade no sentido físico do termo” (Fernando, homossexual, EDL)

“Homens (…) têm que ser uma pessoa forte (…) tem de ter aquele carácter tipo de

posse, sei lá tipo de poder.” (Carlos, homossexual, TI). O “O homem tem de ser
dominador” (Rui, heterossexual, PTE). O que complementa as características mencionadas

acima.

Dentro dos padrões de masculinidade, um tipo se destaca, o padrão hegemónico de masculinidade

nas quais são exacerbadas as qualidades e adjetivos referenciados no paragrafo anterior e nas quais

é mais provável a utilização da agressividade e da violência face a desvios à norma.

Relativamente a desvios à norma, os homossexuais vistos pelo padrão de masculinidade

hegemónica são “falsos” homens ou “meios homens” (Freire, 2014), sendo possuídos, dominados e

inferiores aproximando-se da mulher logo passíveis de serem alvos de agressão e violência.

Um dos inquiridos em Moreira (2013) melhor expressa essa noção de homem “Rude e com aquele

típico carácter dominante, tipo de posse, sei lá tipo de poder.”

(Fernando, homossexual, EDL) outro inquirido na mesma investigação refere

“Já [alvo de discriminação pessoal]. Em função da imagem e e e é isso // presumirem,

fazerem um juízo da pessoa que eu sou pela minha imagem, dos meus interesses

nomeadamente // Sim [vítima de violência], ahm em relações amorosas e não só

amorosas. Relações emotivas // Verbal, física penso que não com tanta relevância

como a verbal // Em insultos” (Luís, heterossexual, TI)”.

Contudo, podemos dar uma explicação complementar da violência, o homossexual ou lésbica

mostra não a fragilidade, mas antes a maleabilidade, a “cromacidade” e plasticidade da sexualidade

humana ameaçando padrões rígidos de sexualidade.

É neste padrão que a normalidade é mais opressora e repressiva face a mulheres, crianças e a outros

homens, sejam homossexuais ou outros que sigam padrões de masculinidade distintos próximos dos

nivelamentos dos géneros patente no fim do século XX e inicio do século XXI, tais como, as

masculinidades subordinada, a cúmplice e a marginalizada (Connell, 1995, Cit. In Moreira, 2013).

Começa a surgir cada vez mais evidências nas sociedades ocidentais de um predomínio da

masculinidade cúmplice e de que raros são os homens que encarnam totalmente o padrão da

masculinidade hegemónica (e.g. Connell, 1995; Cit. In Moreira, 2013).


Na masculinidade cúmplice o homem estabelece uma relação com a comunidade, com o casamento

e posteriormente com a paternidade, privilegiando relações duradouras e estáveis com a sua mulher

e filhos (Moreira, 2013), o que em termos concretos refere-se à partilha de responsabilidades e de

atividades tais como a muda de fralda da criança, dar banho à criança, fazer comida, trazer dinheiro

para casa.

A análise de conteúdo das entrevistas levadas a cabo por Moreira (2013) salientam que os homens

que se enquadravam na masculinidade cúmplice “davam importância do trabalho profissional como

forma de subsistência, sustento e de gestão da economia familiar” e nesse aspeto é similar aos

padrões da masculinidade hegemónica, contudo ao nível da intimidade aproximam-se cada vez mais

do que ficou conhecido como “relação pura”.

“O relacionamento puro é um relacionamento centrado no compromisso, na confiança e

na intimidade, de modo a que os parceiros tenham garantias da estabilidade do

relacionamento ao mesmo tempo que se espera que este dure apenas enquanto for

satisfatório para ambas as partes” (Moreira, 2013)

Este tipo de relação pressupõe maior equilíbrio das relações de género, caracteriza uma parceria

cujo foco é a relação e o respeito mútuo. O parâmetro ou bitola do relacionamento é a entrega

“igual” dos parceiros, seja a nível emocional quer a nível sexual.

Existem autores nos quais se incluem Giddens (1993, Cit. In Moreira, 2013) que consideram que

nas relações homo-erótico o amor confluente se realiza de forma mais acabada e mais pura,

considerando que o envolvimento pisco-afetivo já não se prende exclusivamente na reprodução e na

satisfação de necessidades básicas, sendo liberta da sua característica de reprodução, sendo assim

uma sexualidade plástica o que segundo Moreira (2013) foi crucial para a reivindicação feminina

do prazer sexual e para a emancipação da “relação pura”.

Ainda relativamente aos padrões de dominação sexual do masculino sobre o feminino e à história

do prazer sexual feminino já na segunda metade do século XX releia-se a Sección Femenina (Cit. In

Jezabel & Belén, 2013)


“Se o teu marido sugere a união, então acede humildemente, tem sempre em conta que que

sua satisfação é sempre mais importante que a de uma mulher. Quando alcança o momento

culminante, um pequeno gemido da tua parte é suficiente para indicar qualquer gozo que

podes ter experimentado. Se o teu marido pedir práticas sexuais não usuais. Sê obediente e

não te queixes”

Em síntese podemos parafrasear Albuquerque Jr quando menciona os novos padrões de

masculinidade “Procurando ser modernos, estes bacharéis almofadinhas procuravam diferenciar-se

de seus antepassados, considerados homens rudes, caturras e atrasados, sem refinamento

(Albuquerque Jr. 2013, p. 40, Cit. In Freire, 2014).

Voltando à influencia da sexualidade da criança e do jovem esta não é só feita pela família, muitas

vezes a própria família recusa o seu papel de principal educador da vida sexual deste, devido a

dificuldades várias de manuseamento do tema, vai também para além do grupo de pares e dos mass

média.

A escola e mais concretamente os currículos escolares têm se vindo a adaptar a pedidos diversos de

setores sociais, tais como associações de pais. Assim o ensino da sexualidade na escolas tem se

vindo a construir desde antes do 25 de Abril de 1974, através da extinta Comissão sobre a Educação

sexual criada em 1973 ainda no Estado Novo (Vilar, 2006, Cit. In Pinto, 2012).

Pós 25 de Abril de 1974, diversas leis e portarias começaram a regular o ensino da sexualidade nas

escolas públicas portuguesas. Contam-se entre elas a Lei 3/84, Portaria 52/85, a Lei 60/2009, a

Portaria 60/2009, Portaria n.º 196-A/2010 e ainda a adesão à Convenção sobre os Direitos da

Criança através da Resolução da Assembleia da República nº 20/90, na qual Assembleia da

República resolveu, nos termos dos artigos 164.º, alínea j), e 169.º, nº 5, da Constituição, aprovar,

para ratificação, a Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada em Nova Iorque a 26 de

Janeiro de 1990, tendo sido aprovada em 8 de Junho de 1990 (Conferir Tabela 1).

A criação de leis e portarias primeiramente consagrou o direito à educação sexual e de acesso ao

planeamento familiar, tentando tornar a maternidade e paternidade conscientes, com intervenções


feitas em hospitais, centros de saúde e respetivas extensões, i.e., centros de atendimento para

jovens, ou seja, sobre a alçada do Ministério da Saúde.

A partir de 2005/2006 a educação sexual chega às escolas incluída no modelo de educação para a

saúde, acrescente-se que se celebra um protocolo com o Ministério da Saúde e promove-se

protocolos com Organizações Não Governamentais (doravante designadas de ONG) e salienta-se

ainda a necessidade de articulação com famílias, escolas e centros de saúde.

O mandato do grupo de trabalho criado pelo despacho nº 19737/2005 criou as bases para um guião

de exploração de temáticas e um modelo de orientações programáticas, entre outras componentes

programáticas.

Em 2007 cria-se a função de coordenador da educação para a saúde nas escolas tendo as

responsabilidades de coordenar os projetos na área da saúde nas escolas.

2009 é o ano em que se estabelece o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar,

valorizando-se a sexualidade e afetividade plurais, com as finalidades de desenvolver competências,

com redução de consequências negativas dos comportamentos sexuais de risco, aumentando a

capacidade de proteção face a todas as formas de exploração e de abuso sexuais, criando o respeito

pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais, valorizando uma sexualidade

responsável e informada, promovendo a igualdade entre os sexos, aumentar a compreensão

científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos e a eliminação de

comportamentos baseados na discriminação sexual ou na violência em função do sexo ou

orientação sexual.

Embora, as finalidades sejam explicitas e contemplando diversas esferas da sexualidade, apenas

como exemplo, direitos e deveres, proteção individual e da parceria, esbarram com limitações

óbvias a mais evidente é a carga horária.

A carga horária dedicada à educação sexual, não devendo ser inferior a seis horas para o 1.º e 2.º

ciclos do ensino básico, nem inferior a doze horas para o 3.º ciclo do ensino básico e secundário,

distribuídas de forma equilibrada pelos diversos períodos do ano letivo. O que a meu ver é
insuficiente face a um um projeto educativo que se quer tão rico.

Em 2010, cria-se a portaria que procede à regulamentação da Lei nº 60/2009, de 6 de Agosto, que

estabelece a educação sexual nos estabelecimentos do ensino básico e do ensino secundário e define

as respetivas orientações curriculares adequadas para os diferentes níveis de ensino.

Mantém-se as mesmas cargas horárias estabelecidas em 2009 e reforça-se as modalidades da

educação sexual, os conteúdos curriculares, a elaboração do projeto educativo da escola, o pessoal

docente, a organização, a formação docente, parcerias e ainda Gabinetes de informação e apoio ao

aluno.

Por um lado, pretende-se com as referidas mudanças legislativas que as crianças e jovens possuam

uma sexualidade mais gratificante, criem uma construção de uma imagem positiva e mais ampla de

si, explorem sentimentos, sejam mais responsáveis e tenham mais autonomia na área da saúde e da

sexualidade.

Por outro lado, pretende-se que a criança ou jovem tenham a capacidade de discernir potenciais ou

reais situações de coerção sexual ou outras formas de vivências sexuais negativas e opressivas e se

queixem destas nas estruturas criada nas escolas e/ou nas suas parcerias, tais como, o Ministério da

Saúde (centros de saúde, hospitais) ou ONGs.

Paralelamente, o sistema de justiça atualmente possui estruturas próprias para acolher vítimas de

violência doméstica, nas quais se incluem a psicólogica (Artigo 152º). Os códigos penal e processo

penal (doravante designado de CPPP) através do Artigo 153º (Ameaça) e 154º (Coação) do mesmo

código defendem a autodeterminação sexual aplicando pena a quem ameaça ou use violência para

constrange uma pessoa de forma a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade

de determinação.

Os crimes contra a autodeterminação sexual no mesmo código possuem uma secção própria

(Secção II), entre eles se contam, a coação sexual também é punível ao abrigo do Artigo 163º, bem

como o lenocínio de menores (Artigo 175º) do CPPP.

Entre algumas possíveis penas complementares contam-se a “proibição do exercício de funções por
crimes contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual”, Artigo 69.º – B, e a “proibição de

confiança de menores e inibição de responsabilidades parentais”, Artigo 69.º C, ambos do CPPP.


Metodologia

Design:

É evidente que na análise de conteúdo é predominante o modelo francês, Bardin (2009) é apenas

um exemplo. Na presente investigação utilizou-se antes o modelo americano, mais precisamente o

modelo de B.F. Skinner, tendo como alguma das suas obras de referência “Verbal Behavior”

(Skinner, 1957), assim sendo, efetuou-se a análise do comportamento através do registo de

comportamento ABC (antecedent, behavior, consequent), na nomenclatura portuguesa, ACC

(antecedente-comportamento-consequente), o material sob análise foram as falas das personagens

(Giovanni, o seu pai e a namorada de Giovanni) e da autora e apenas da autora na análise de “o meu

pai, não os pais dos outros” de Petri, considerando as falas como unidades discretas do

comportamento.

Contudo, segundo Skinner (2003) nem sempre temos aceso a todas as proposições de “Y é ocasião

para..se...então” o que são a base para o registo do comportamento, mas isso como o próprio refere

relativamente à ausência do conhecimento acerca da história do organismo não impede a

intervenção, no caso concreto da investigação a falta de um dos elementos da função não impede a

sua criação recorrendo a um pensamento baseado em analogias e metáforas oriundas da Análise do

Comportamento para completar a função.

O Registo de comportamento ABC não teve um critério temporal mas antes um critério temático,

escolha do investigador, sendo este também utilizado em clínica, mais especificamente em Terapia

Comportamental, como por exemplo na criação de itens crescentemente ansiogénicos na técnica de

Dessensibilização Sistemática.

Os temas criados pelo investigador foram: “relação amorosa”, o que reflete a relação amorosa entre

Giovanni e Nina a sua namorada; “relação com o pai”, o que reflete a convivência entre Giovanni e

o seu pai; “sintomas psicossomáticos”, o que reflete sintomas psicossomáticos sentidos por

Giovanni,“relações homossexuais”, o que reflete as aventuras de exploração da sexualidade


homossexual por parte de Giovanni sem Nina e por último “relação a dois”, o que reflete a

aproximação de Nina a Giovanni após as aventuras de exploração da sexualidade homossexual por

parte de Giovanni sem Nina e sua conciliação enquanto casal.

Questões de investigação:

Q1: Será que a coerção sexual infantil de Giovanni por parte do pai contribuiu para mudanças de

preferência sexual?

Q2: Que estratégias utilizou o pai de Giovanni para lhe mudar as preferências sexuais?
Resultados

Análise do registo de comportamentos ABC do caso Giovanni

Na primeira temática (conferir Tabela 2), primeira contingência, constata-se que o contexto é em

Roma onde havia amizades entre as famílias do bairro e mais intimidade entre as famílias de

Giovanni e Nina, ela refere em concreto uma festa em que se separaram apenas para dormir,

especulamos que estamos face a um reforço positivo, ou seja, em situações de desenvolvimento

normal, os humanos prolongam o seu prazer, sentem sensações corporais agradáveis, mantêm-se

mais próximos do que se amam e por mais tempo.

Na segunda contingência, o contexto mantêm-se (Roma) e refere-se a uma interação verbal entre

Nina e Giovanni, no qual este desabafa um comentário do pai acerca dele, o qual passo a citar

“Nena, eu um dia vou fazer fortunas, e não graças ao meu cu, como diz meu pai, farei fortuna por

mim próprio e nesse dia nós os dois viremos morar em Roma”, o que revela diversas contingências

possíveis, “o levar no cu” contingência expressa pelo pai e a expressa por Giovanni, “farei fortuna

por mim próprio e nesse dia nós os dois viremos morar em Roma”, o episódio com o pai levou

Giovanni a mostrar Revolta contra o pai, mas não diretamente, pois a diferença de “força” é

desproporcional, mas antes buscando apoio emocional e expressando o que se passou e as suas

intenções de fazer fortuna e ficar com a namorada, ou seja, antecipando consequências positivas,

amenas, agradáveis de felicidade e por que não Tikvá, ou seja, Esperança, em duas palavras, reforço

positivo na antecipação e reforço negativo porque desabafa retira o “peso no peito” do que o pai

pensa dele.

Na terceira, o contexto mantêm-se (Roma) e refere-se a uma interação verbal entre Nina e

Giovanni, no qual expressa o seu desejo, de fazer família com Nina e ter filhos, o próprio é mais

especifico e menciona o nome de futuros filhos. Especulamos que a expressão de sentimentos, um

momento de extrema vulnerabilidade é recompensado, i.e., recebe uma “ressonância afetiva

compatível”, ou seja, recebe amor, carinho e afeto apenas criando um sentimento de ser aceite,
reforço positivo.

Na quarta, Giovanni expressa o seu interesse e o seu “amor platónico” a Masina, a sua namorada

não o critica, especulamos que se imagina como namorado de Masina, o que não ameaça a sua

namorada, existem diferenças de idades, ele é uma criança, ela é uma atriz italiana conhecida,

reflete isso sim fantasias inocentes de uma criança.

Mas Giovanni faz um relação curiosa entre deitar-se e estar com Masina e o trabalho do Mestre o

seu marido, por uma relação de equivalências de beleza, uma continuidade de beleza, entre a beleza

de Masina para a beleza no trabalho cinematográfico. Podemos assim identificar-se dois tipos de

reforços positivos, o primeiro e mais forte o “ver-se”, i.e., imaginar-se com Masina, com tudo o que

isso envolve para uma criança e o segundo de menor intensidade a aceitação da sua namorada dos

seus “desvaneios”.

Na quinta, o contexto muda, estão no planetário onde costumam ver filmes do Mestre e de Masina,

e no qual Giovanni expressa contingências em vigor contraditórias, por um lado, “Estava

desesperado” o que revela como veremos à frente estava face a contingências opressivas, punitivas

e por outro, contingências agradáveis que minimizavam o seu sofrimento “Se existe uma pessoa

parecida com a Masina, essa pessoa és tu”, logo se tem uma namorada parecida com o Mestre,

acolhedora e amiga então terá uma vida igual à do Mestre.

Por último, na sexta contingência, o que é sentido internamente e expresso “entre portas”, ou seja,

entre os namoradinhos é visto da mesma forma pelos vizinhos do bairro o que especulamos traga

contentamento pela aceitação social do fato consumado, serem namoradinhos.

A segunda temática (conferir tabela 3), “relação com o pai”, divide-se em 9 contingências. Na

primeira, o pai de Nina expressa a impressão que o pai de Giovanni lhe dá, “é um brutamontes,

parece feito da massa dos bichos” e da mãe “é uma ordinária, malcriada, cheira mal” o que não é de

estranhar que crie uma relação opressiva com o filho, na qual se destaca a hora do banho com a

seguinte fala “Lava bem esse cu, porque é ele que te vai dar de comer quando fores grande” o que a

ver do investigador é uma punição positiva, se não vejamos é interrompida uma atividade antes
automática, que antes lhe é agradável o banho, tenta interromper toda uma ação, criar estranheza e

talvez tristeza a algo tão natural como tomar banho e chamar a atenção para partes do corpo e dar-

lhes função (“levar no cu é igual a dinheiro”) e ainda ser um reforçador positivo para práticas

sexuais que não são as suas, ou seja, de Giovanni, criando a regra “lava o cu para ganhares dinheiro

com ele” e não a regra “lava bem o corpo para tirar a sujidade e sentires te fresquinho e limpo”.

Refira-se ainda que mesmo Pavlov referiu em suas memórias diferenças individuais entre os seus

cães que ficaram conhecidos nas experiências de condicionamento clássico, se esta diferença é

visível em espécies sub-humanas, quanto mais em humanos, seres ainda mais complexos, nesse

sentido, o impacto desta contingência é potencializada por características pessoais de Giovanni, ele

próprio é visto pela namorada como “um tipo apalermado” e sendo ainda “daqueles a quem se diz

trás um lenço e trazem-nos um penso”, o que pode revelar alguma dificuldade no manuseio

linguístico e/ou social de relações sociais e dos objetos sociais.

Na segunda contingência, vemos que Giovanni imita o Mestre nas vestes, indumentária e no

caminhar e se o pai o via com o chapéu o tirava, através de Melina, a sua namoradinha, tal não

acontecia o que podemos especular que traga alívio a Giovanni, se este antecipa-se o que

aconteceria se pai o visse, como não sabemos não podemos indicar se é uma fuga (se alguma vez já

aconteceu) ou um evitamento (antes de acontecer), mas que é um reforço negativo o é.

Na terceira contingência, Nina estabelece uma conversa com o pai de Giovanni, com este último

presente, expressando que são namoradinhos e quando for tempo casar-se-ão. Face a esta afirmação,

o pai de Giovanni não se inibe de expressar uma falsa cumplicidade com a namoradinha do filho “

Piscava um olho e depois o outro”, talvez numa tentativa frustrada desta desistir do seu filho.

Posteriormente este expressa a sua opinião divergente e alheia às contingências naturais do par de

namoradinhos, “Deus queira, dizia ele, mas para mim este é maricas”. Este episódio verbal tem

consequências claras e devastadoras para Giovanni, “O filho ficava mole e aberto a olhar para ele,

com os seus grandes lábios inchados”, inicia-se um sintomatologia, de estranheza e tristeza, uma

resposta orgânica, leia-se corporal a esta afirmação da sua homossexualidade, mesmo face a ambos,
namoradinha e namoradinho , saberem que “ as coisas não eram como o pai dizia, e eu sabia, o

Giovanni contava-me”, mas o saber e o sentir são instâncias diferentes do comportamento como

Skinner, bem como Harris (2007) expressam e face a contingências altamente punitivas ou

devastadoras o sentir é das instâncias do comportamento mais salientes para o organismo.

Na quarta, na casa de família o pai de Giovanni descobre o livro sobre Medina, a “Musa” do seu

filho, debaixo do travesseiro, porquê debaixo debaixo do travesseiro? Duas hipóteses podem ser

levantadas, a primeira prende-se com a antecipação face à punição da sexualidade manifestada

naturalmente do filho pelo pai, a segunda hipótese complementando-se com a primeira prende-se

com primeiras experiências sexuais de uma criança manuseando objetos sociais de cratera sensual,

neste caso uma revista que nos dias de hoje nem seria de contexto sexual.

O pai na presença do filho critica abertamente e ferozmente a “escolha” sexual do filho, “É isto que

vês, disse, com tantas mulheres bonitas que há no mundo, estás apaixonado por esta minorca?”, o

que traz como consequências contadas por Nina “Veio ter comigo a correr com os olhos

esbugalhados. Chamou-lhe minorca, disse-me quase a chorar. Estás a ver, a ela, à minha rainha, e eu

nem sequer lhe dei resposta, deixei-o falar porque fiquei sem palavras”, mais uma vez se vê o

caráter punitivo sobre a sexualidade do filho, mas desta vez uma punição positiva e negativa, critica

o gosto do filho e retira a revista do filho, ao qual o filho se sente triste e devastado, mas não retruca

é uma criança em desproporção de força e recursos.

Nina mais uma vez não se importa pela “paixoneta platónica” do namoradinho e ainda lhe conforta

“Que te importa como ele a vê, uma pessoa como ele não percebe nada da alma”, contrariando a

contingência em vigor, mas sentir e pensar são instâncias distintas do comportamento e aquelas que

vencem em situações críticas são em geral as emoções e os sentimentos.

Na quinta contingência, quando Giovanni tinha 16 anos, “O pai perdeu o emprego. Passava os dias

inteiros em casa de pijama”, o que levou a uma maior convivência com o filho, passavam mais

tempo em casa, como Nina refere “A desgraça foi essa, a demasiada proximidade” e como vimos

até agora essa proximidade era punitiva para Giovanni, como ela refere “A verdade é que não se
consegue viver com alguém que nos atormenta durante todo o dia”.

Se a relação já era punitiva com interrupções, agora ela era de frequência constante e contínua e

como se diz em português “água mole em pedra dura, tanto bate que fura” e tanto mais “água

pesada”, por isso não é de estranhar que Giovanni se sinta cada vez mais só, triste, infeliz, falando

cada vez menos com o pai, sendo um apenas ouvinte passivo face a episódios verbais destrutivos da

sua identidade e preferência sexual, refira-se mais uma vez as suas caraterísticas pessoais e a sua

“incapacidade” de retrucar.

Na sexta, constata-se por parte do pai a utilização de substâncias legais, álcool, após a perda de

emprego, como se verá posteriormente, o comportamento é não funcional e destrutivo, como diria

Freud o comportamento é motivado pelo instinto de Tanatos.

A proximidade física entre os dois é estimulo discriminativo para “Insultava-o. Dizia-lhe, Com um

cu desses, não te faltava trabalho, de que estás à espera para começares a trabalhar, ainda não

percebeste? Nasceste para ser maricas, não passas de um paneleiro”, determinando um dado

“destino” dado como certo para o filho, especulamos que teve consequências severas nas quais se

contam a tristeza, a submissão e dúvidas cada vez mais prementes sobre a sua sexualidade.

Na sétima, o pai já passa a estar “sempre embriagado”, mostra claramente comportamentos abertos

de hostilidade contra o filho, nos quais se destaca os insultos e a exposição social, de forma

concreta, “punha-se à varanda em camisola interior gritando a toda a vizinhança com satisfação,

como se sentisse prazer em dizer a todos que a sua previsão se havia concretizado”, as

consequências para Giovanni era de desprezo pelo pai e suas opiniões, bem como pelo meio social,

que não lhe protegeu de um pai abusivo, se não vejamos, “A Giovanni não lhe parecia verdade,

passeava de mãos dada com os seus amigos”, pela primeira vez na narrativa vemos uma mudança

de preferência sexual, que aos olhos do pai apenas refletem aquilo que sempre pensou do filho, o

que não implica que Giovanni não esteja a gostar das novas interações sexuais.

Na oitava, vários anos se passaram e Giovanni casa-se com Nina e “Na cerimónia de Casamento o

Pai, a manquejar, por causa da cirrose...Deu-me um beijo na face e disse em voz alta, O que vais
fazer com um paneleiro?”, mostrando o desrespeito pela cerimonia, pelo filho e sua noiva, mas

como Nina refere “Pensei para comigo, É um homem acabado, acaba ele começamos nós”, o que

em outras palavras, quer dizer que novas contingências entraram em vigor, uma nova família se

constituiu e a velha família morreu.

A nona, passa-se no funeral do pai do Giovanni, no qual este “Suava um medo frio”, mas segundo

Nina “Ao olhar para ele não conseguia perceber o que pensava”, o que não é de estranhar Giovanni

durante anos escondeu todos os sentimentos e emoções ao e para pai, nunca conseguiu expressar o

que um filho sente por um pai, porque nunca teve uma relação amena com este, o tipo de

consequências esperadas face ao fim de um déspota, seria felicidade ou ao menos alívio, mas antes

disso sente irrealidade, ou seja, não acredita quem lhe tanto mal lhe fez morreu finalmente.

A terceira temática “sintomas psicossomáticos” divide-se em dois episódios (conferir Tabela 4). O

primeiro, “Um dia No consultório médico com Nina. A verdade é que não se consegue viver com

uma pessoa que nos atormenta durante todo o dia” e nós acrescentaríamos não se consegue sem se

refletir na esfera privada e na esfera pública do organismo. Assim sendo, Giovanni “Sentia dentro

dele como que o correr de uma veia, de uma única veia, que lhe descia do ombro esquerdo às

golfadas até à ponta do pé ” ao que o médico disse “É uma sensação, não é um sintoma, não existe”,

mas ele não acreditou, face ao surgimento de sintomatologia, ele reafirma “Mas ele, dizia, Cá está

ela, põe aqui a mão, sentes como corre veloz?”, face ao exposto Nina “não sabia o que lhe dizer-

lhe” e por isso tentava tranquiliza-lo, distraindo-o com a memória de contingências amenas

passadas entre ambos, “então falava-lhe do mestre e da Masina, repetia-lhe de cor as cenas de que

ele mais gostava” e ainda com a criação de novas contingências, “dizendo-lhe vamos ao Planetário,

à Via Margutta”, mas ele apenas queria respostas face a sensações corporais desagradáveis por isso

ele “não lhe apetecia e respondia, Com esta veia, aonde queres que vá?”

Uma segunda contingência de estreita relação com a primeira, passa-se a passear ao longo da

Avenida sendo uma interação verbal entre Giovanni e a sua namorada “Já percebi o que é este

sangue na veia, que corre para cima e para baixo... É sangue menstrual... ”, o que revela uma falsa
explicação, mas esta falsa explicação a seu ver é melhor do que não ter explicação alguma,

tranquiliza-o.

Destaque-se que primeiro as sensações corporais foram sentidas e só depois foram interpretadas o

que é compatível com o desenvolvimento filogenético, ou seja, primeiramente o homem começou a

sentir e só muito depois começou a pensar, a interpretar, a analisar.

A quarta temática (Conferir Tabela 5), “relações homossexuais” tem três contingências. Na

primeira, vê-se a iniciação sexual na qual Nina não participa, mas “pressente” que não é a

sexualidade natural do seu amado de forma literária menciona “Fiquei a observá-lo embrenhar-se no

mal não desejado e fiquei apenas a observá-lo”, é então que “Giovanni Nem ia à escola. Ele tinha

sempre muito que fazer e estava sempre com pressa. Começou a comprar camisas novas e calças e

sapatos, a frequentar o cabeleireiro, onde se fez pintar o cabelo de um louro quase branco e as

sobrancelhas de negro, e no rosto não sei bem se era pó de arroz ou se era mesmo base”.

Põe-se a questão, onde Giovanni ia comprar roupa nova, considerando que não tinha posses para

comprar, especulamos que o comportamento de Giovanni proporcionava diversas consequências,

além de tirar prazer das relações homossexuais que mantinha, eram elas também proveitosas, no

sentido que lhe proporcionavam acesso a bens que antes não possuía (calças, camisas, sapatos, idas

ao cabeleireiro). Como Nina refere eram “uma época de euforia. Tempo de desvarios”, por outras

palavras, de plena descoberta da sexualidade e não da intimidade, como se verá posteriormente.

Na segunda contingência, em plena luz do dia, Giovanni e os amigos beijavam-se na boca, aqui

surge a primeira referencia explícita à experiência homossexual de Giovanni, face ao

comportamento aberto deste envolvimento, o bairro olha e critica, “Cochichavam, Viste-o? Que

nojo, que vergonha. ” ao que Giovanni “gozava com aquilo”, não ligava à crítica, estava enredado

ao prazer imediato. Especulamos que seja uma reação normal, face a um meio que deixa um pai

exercer coerção sexual sobre o filho sem nada fazer.

Na terceira e última contingência desta temática, Nina adverte Giovanni, “Pelo menos, tens

cuidado?”, o que revela preocupação e “quem ama cuida” ao que Giovanni responde, “Cuidado com
quê?”, isto é com as doenças sexualmente transmissíveis, nas quais se contam a gonorreia, a sífilis,

só para citar algumas.

A expressão facial acompanhada do comportamento verbal de Giovanni é expressiva do seu

comportamento sexual, “Nunca lhe tinha visto um sorriso tão magnificente e tão selvagem, saiu-lhe

das narinas dilatadas um sopro quente e depois disse, Estou-me nas tintas...”, o que revela um

Desprezo pela sua saúde, uma busca pelo prazer imediato em detrimento de consequências positivas

atrasadas, i.e., a conservação da sua saúde.

Por último, chegamos à última temática, “relação a dois”, com nove contingências. Na primeira,

Nina está fechada na casa de banho e de forma reflexiva diz de si para si “Olhei bem dentro dos

meus olhos. Ouvi a voz de tomar a decisão de deixá-lo por algum tempo sozinho com o seu

sofrimento”, a sua decisão de não agir, especulamos traz-lhe tristeza e sofrimento.

Na segunda, Giovanni está cansado e Melina encontra-se em casa sozinha, ela encontra coragem e

“Deixou que lhe agarra-se a mão e que o levasse para onde eu quis, como uma pessoa sem

vontade”, pela primeira vez Nina apresenta iniciativa sexual, “Estou pronta. Tu o homem e eu a

mulher, como nos grandes amores que viste nos teus filmes”.

Como a própria refere “Foi dificílimo e não quero falar de como tentei ocultar o meu medo.

Continuei virgem como era” o que revela a sua falta de experiência sexual, bem como a de

Giovanni na esfera heterossexual, pois ele “Começou o seu pranto, às primeiras luzes da manhã”,

apresentando sofrimento porque “Estraguei tudo, agora sou apenas aquilo que fiz”, ao que Nina

tenta tranquilizá-lo.”Não, o passado morre, só que o teu é muito recente e tu estás tão assustado.

Mas ele morre, verás que vai morrer”.

Mas a ausência de sexo nessa noite não fez com que os antigos namoradinhos não conversassem

“muito naquela noite, depois do choro também grandes risadas porque me disse tudo, conto-me

como tinham corrido as coisas. E a comparação que me fez não a refiro, porque é ordinária. Rimos

até às lágrimas e também choramos um pouco. Estávamos contentes. Éramos assim”, o que revela

cumplicidade e companheiros, algo que não obteve nas suas incursões homossexuais.
Nina menciona que “Sentia-me uma heroína, não uma simples mulher... Venci a minha guerra

porque era meritória”, por outras palavras, a espera recompensou obteve o seu amado, esperou por

recompensas a longo prazo um relacionamento profundo.

Após uma noite de conversa Nina levou-lhe “o café à cama e ele disse-me, Vou tentar mudar. Não

não é de mudanças que se trata, mas de voltar ao que eras primeiro”, daqui se destaca uma aparente

contradição, que ambos se aperceberam que algo mudou nele, acumulou experiências, um desvio no

percurso psicossexual e algo não mudou, ou seja, há a possibilidade de retomar o percurso de vida

interrompido de forma violenta pelo pai.

Na terceira contingência, Giovanni e Nina vêm-se de vez em quando, “o pai bêbado, com voz

rouca”, talvez agora já com uma interferência reduzida na vida do filho, como Giovanni refere “isto

vai um pouco melhor”, há um esforço consciente para voltar à “normalidade”, seja ela qual for, mas

Nina é elucidativa “Era melhor custar do que não fazer... Tentava voltar ao que era primeiro”, ser

um jovem feliz apenas quando estava próximo de uma linda jovem parecida com a “ultraterrena”,

com a Tikvá de um futuro risonho à sua frente, antecipando consequências positivas numa vida a

dois.

Na quarta, vemos o impacto do afastamento de Giovanni para Nina, “Fiquei muito solitária”, ao que

“As pessoas tentaram dizer-mo”, o quê? Que devia desistir dele e seguir com a vida em frente,

talvez, mas Nina teve “ocasião de pensar. Mas eu não lhes dei ouvidos. Tinha uma resposta seca

para dizer”, apresentava perseverança, perspetivava consequências que outros não viam e além de

ver defendia-se a si, o seu amado e ao seu futuro ao fazer isso “As pessoas deixaram de falar”, face

a uma intromissão à sua vida Nina pune a audiência, dá resposta seca.

Na quinta contingência, consuma-se o sucesso da perseverança de Nina, casam-se, o que é sinónimo

de alguma frustração, é aí que existem “tentativas sexuais” que “Terminava sempre as tentativas no

choro, como para me dizer, Só sei fazer o contrário, foi isso que aprendi”, o que não é verdade, não

sabe só fazer o contrário, o que se constata neste caso é que as competências sexuais homossexuais

adquiridas nem sempre correspondem a competências sexuais heterossexuais que neste caso não
existem, pois Giovanni é virgem num relacionamento com uma mulher.

É precisamente esta mistura de competências e ausência de competências na esfera sexual de

Giovanni que lhe traz sofrimento, pois a conversão sexual forçada pelo pai foi num momento crítico

na construção do seu papel sexual, que antes desta intromissão estava a desenrolar-se em direção à

norma de forma natural e não coerciva, por isso apresenta níveis elevados de intimidade com a

mulher e ausência de competências na esfera sexual tal como quando criança/jovem.

Na sexta, Giovanni “Começou a trabalhar num café da Avenida”, a nível de sentimentos e

comportamentos, “Andava um pouco melhor e menos a custo, mas sempre com dificuldade no seu

interior, porque não é fácil sair do buraco. Voltou a deixar crescer o cabelo com a sua cor

verdadeira, e já não perdia tempo a arranjar as pestanas, negras e longas. Fazia uma vida de homem,

pelo menos na aparência, nas coisas do dia-a-dia”.

Iniciava-se um processo lento e doloroso de descoberta do seu Eu verdadeiro, ou seja, um Eu, um

organismo em contingências amenas, de apoio e suporte, mas ainda sentindo o peso do passado, ou

seja, da sua história de desenvolvimento psicossexual opressivo que foi escolha do pai para si e que

este sentiu como um vírus que invade todo o seu ser, tentando alterá-lo, conseguindo-o durante

algum tempo como vimos até agora.

Contudo, o processo iniciou-se e não pára por isso “Fazia uma vida de homem, pelo menos na

aparência, nas coisas do dia-a-dia... autonomia financeira, um novo papel, um homem trabalhador a

criar sustento para a casa”, sendo a sexualidade a sua última batalha para a libertação do jugo de um

déspota já morto.

Na sétima, nina está a “Passar a ferro. Uma aflição que sentia como medo e ternura. Giovanni a ver

o desafio de futebol Itália-França” e “Sentia arrepios. De vez em quando Giovanni chamava por

mim”, será que o desconforto face ao futuro a dois foi potencializado pelos arrepios provocados

pelo calor do passar a ferro? Ou vice-versa? Pela primeira vez na narrativa Giovanni tranquiliza-a

“veio por detrás de mim... apenas senti o seu abraço e o seu queixo de encontro ao meu pescoço.

Disse-me, Esta noite morreu para sempre, a partir desta noite já não sinto a sua voz”.
Giovanni liberta-se do seu pai, do seu passado opressivo, como? Através do tempo, mas não o

tempo pelo tempo, mas antes pela criação de novas contingências, uma relação calorosa e amorosa,

novos amigos, um novo trabalho se impõem não à memória, mas antes ao organismo, história e

organismo não se confundem são um só.

Na oitava contingência, um novo diálogo é estabelecido pelo casal, “Nunca me perdoarei pelo

tempo perdido. E eu respondia, O passado morre também naquilo que não se fez , o passado está

sempre fora de uso, meu amor....”, e está mesmo fora de uso, o organismo embora se baseie no

passado ele se atualiza, por outras palavras, ele vive e como o banho no rio, não se pode banhar na

mesma água duas vezes, a história é irrepetível. E finalmente, após vários anos de casamento surge

uma “Noite de amor intenso, e de paixão, com toda a prepotência do atraso, dos anos passados a

esperar. Amava-me com todo o ímpeto...Lembras-te dos tempos do planetário... E aquela foi a

minha noite, a primeira verdadeira noite...”. O amor se cumpriu e a privação sexual se consumaram

numa relação mista de sexualidade e de intimidade, a primeira e especulamos nós a única da vida de

ambos.

Por isso já não é estranha o que acontecerá na nona contingência, passado uns anos já têm filhos

grandes e segundo Nina “A nossa paixão ainda não se apagou e amamo-nos com toda a energia e

quase todas as noites , sem nunca pensarmos que os tempos da juventude já se passaram”, todo o

tipo de dificuldade sexual de Giovanni passou, não podemos esquecer aquilo que Skinner disse em

tempos “Tudo na vida é treino”, com o treino o organismo se adapta, faz performances cada vez

mais ousadas e distintas das primeiras tentativas e acrescenta o investigador “Tudo na vida é treino,

menos o amor”, pois o amor é vivenciado de forma natural sem tentativas opressivas de

manipulação e assim este casal vive o tempo presente, com prazer sexual e amoroso, numa relação

bem estabelecida e baseada no respeito e comunicação.


Análise do registo de comportamentos ABC do caso “O meu pai, não o pai dos outros”

A análise do registo de comportamento do caso “O meu pai, não o pai dos outros” permitiu chegar-

mos a análise de 10 contingências (Conferir Tabela 7).

Na primeira, a filha descreve o Pai sempre com adjetivos positivos e grandiosos, a nível de

comportamento o pai era de uma “doçura maternal, um pai-mãe”, as consequências de tais

antecedentes e comportamentos do pai, parecem levar a filha a estar apaixonado pelo pai, querer

estar sempre na companhia do pai, sente-se bem ao pé do pai.

Na segunda, o contexto muda, eram noites de verão na companhia do pai a ver as estrelas e a ouvir

os grilos e o pai imitava-os, especulamos que a filha se divertia, via o comportamento do pai como

uma brincadeira engraçada, uma galhofa o que é sinónimo de descontração e bem estar.

Na terceira, o contexto muda mais uma vez, neste caso a ação passa-se em casa e há lugar à

repreensão, mas o pai “fê-lo apenas com a força das suas palavras”, mas aproxima a filha de si

“Pegava-me ao colo ou então sentava-me em cima de uma mesa”, relativamente à sua voz ele

“falava comigo com um tom de voz forte e persuasivo” e em relação ao conteúdo da conversa,

“Dizia-me coisas sensatas, às vezes também furibundas”. Presumimos que a filha tinha como

consequências de tais conversas, ficar ligeiramente acanhada e pensativa acerca das suas ações.

Na quarta, ela recorda-se do pai, de ter sempre entendido o pai, essa compreensão, esse

entendimento facilita seguir a regra expressa, como a filha diz “Ter sempre feito bom uso dos seus

conselhos”, ou seja, trouxe benefícios para si, por exemplo ser cautelosa, pensar antes de agir.

Na quinta, a filha reflete a mesma compreensão, compreensão que lhe leva a expressar a sua crença

em vidas passadas e a sua ligação com o pai, “a consciência reciproca de em alguma outra vida

anterior ele ter estado no meu ventre e eu no dele”, essa consciência é sinónimo de serem amigos e

“entre nós não havia segredos”, numa interação desse tipo é normal surgirem sentimentos de ser

aceite, amada e respeitada.

Na sexta, constata-se uma interação verbal começada pelo pai, no qual ele e passo a citar “Dizia-
me, Podemos desejar ao mesmo tempo a morte e o renascimento” ao que a filha concordava com a

opinião do pai, o que revela uma sintonia emocional e intelectual com o pai, uma consequência de

um ou vários sentimentos de ser compreendida.

Na sétima, a filha beijava os olhos, as pálpebras do pai e ela “Gostava de beijar-lhe os olhos, porque

tinha as pálpebras delicadas e sempre um pouco quentes”, esta partilha com o corpo do pai, os olhos

e pálpebras, desencadeavam sensações corporais agradáveis especulamos nós.

Na oitava, o contexto muda o pai ensina a filha golpes de luta livre, com a função de se saber

defender na ausência do pai, presume-se que a filha ao fazer os golpes de luta livre, faz ativação

fisiológica e esta é divertida e satisfatória.

Por último, na décima contingência o pai expressa que “”Sou um pedaço de terra puro fermento” ao

que a filha não fala mas pensa, “Oxalá te nasçam flores no peito o mais tarde possível, meu

adorado”. Esta interação verbal a nosso ver revela uma compreensão que a vida é finita, mas que a

filha quer que a vida do pai se prolongue, expressando um mando mágico (o desejo) e apresentando

alguma tristeza.
Discussão

Constata-se que uma análise estatística base (soma das ocorrências/contingências) revelam que

“relação com o pai” e “relação a dois” são as que têm mais ocorrências (9 ocorrências cada),

contudo se incluirmos as duas temáticas “relação amorosa” e “relação a dois”, ambas incluindo

Nina, já temos 15 ocorrências. As duas temáticas com menos ocorrências são “relações

homossexuais” (3 ocorrências) e “sintomas psicossomáticos” (2 ocorrências). Esta breve análise

estatística parece revelar as principais referências de impacto psicossexual de Giovanni, primeiro a

namorada e depois o pai.

Constatou-se da parte de Giovanni uma aproximação sexual e afetiva ao sexo oposto com carga de

desejo de constituir família, ter filhos com a sua namoradinha, essa relação possuía segundo o

próprio parecenças, ou seja, era uma relação de equivalência, com a relação do mestre com a

“Ultraterrena”.

Contudo, a literatura revela que a família, o primeiro agente de socialização tem um impacto

significativo nos seus membros mais jovens e esse impacto em parte é explicado pela ausência de

contraditório, ou seja, a criança recebe a informação, a regra como uma verdade, porque um pai e

uma mãe amam, ou deviam amar os seus filhos e por isso não mentem.

Para o pai de Giovanni a regra era expressado da seguinte forma “Lava bem esse cu, porque é ele

que te vai dar de comer quando fores grande”, paralelamente o pai atacava toda a forma de

masculinidade do filho e partilhava as suas “certezas” com a namoradinha e futura esposa do filho e

com o bairro, atacava os adereços sexuais (revista), na quais critica abertamente o seu gosto

particular por certas mulheres, adereços de moda na qual tentava replicar o Mestre, o seu padrão de

masculinidade, próxima da masculinidade cúmplice, meigo a atento às necessidades das mulheres,

ligeiramente vaidoso, o que também vai de encontro com o conceito moderno de metro-sexual, e

que contraria o tipo de masculinidade expresso pelo pai, um padrão de masculinidade hegemónica

violenta, na qual o Homem tem de ser obedecido ou poderá haver consequências violentas e no caso
concreto de Giovanni há mesmo e aumentam de intensidade com a perda de emprego do pai e com

os seus hábitos alcoólicos, uma proximidade literal tóxica para Giovanni, e “água mole em pedra

dura tanto bate até que fura”. Fura toda uma estrutura orgânica, confunde-o, surgem os sintomas

psicossomáticos, surge um questionamento e um seguimento da regra baseado na violência acerca

da sua sexualidade que nunca houve antes, “o cu...porque é ele que te vai dar de comer quando fores

grande”, surgem as primeiras experiências sexuais que especulamos sem amor, mas com

curiosidade e intenso prazer e com benefícios claros, novos sapatos, calças, idas ao cabeleiro, com

ausência de amor, mas a ausência de amor, cansa-o. E esse cansar é abertura para Nina voltar a

aproximar-se do seu amado, é abertura porque Nina é uma mulher passiva que prefere esperar a

desafiá-lo, a entrar num combate pelo seu amado, entram assim em vigor contingências novamente

amenas, calorosas, de amor, de partilha, de proximidade afetiva. Essas contingências embora

facilitem o retorno ao Eu, ao centro do seu organismo, são custosas, tantas experiências vividas por

escolha opressiva, a homossexualidade aqui destacada foi a única fuga possível face a um pai

opressivo, tacanho e que vê o seu próprio filho como um opositor sexual a abater, a destruir, um

animal encurralado com apenas um percurso possível ou luta ou foge por apenas essa único

percurso e Giovanni não luta e se não luta submete-se, “o calado consente”, ele quase chora e

raramente expressa os seus sentimentos acerca do que aquilo que o pai lhe faz.

É verdade que o Estado atualmente pode intervir, mas a história decorre na década de 50/60 do

século passado quando ainda não havia a educação sexual, esta pode servir para assinalar casos

como estes de coerção sexual infantil, mas não esqueçamos que os meninos são ensinados a não

chorar, a não partilhar os seus sentimentos mesmo em caso de dificuldade como é o caso, várias

variáveis contribuem para a manutenção do silêncio, para o abuso sistemático de um pai sobre um

filho indefeso (ser uma criança pequena, do sexo masculino, de classe operária, meigo, incapaz de

ripostar).

Mas como se diz o amor tudo consegue, o retorno à aprendizagem sexual agora de encontro à

sexualidade original parada na infância, a heterossexual demora o seu tempo, tem os seus custos, as
suas demoras, os seus falhanços, os seus choros.

A compreensão, o amor, o incentivo sexual são alguns dos ingredientes que Nina incluiu no seu

relacionamento que a levaram ao casamento feliz, não como produto acabado, mas antes como

processo em construção.

Face ao exposto os investigadores conseguem responder de forma abrangente às questões de

investigação, ou seja, a coerção sexual infantil contribuiu para mudanças de preferência sexual que

retornaram às preferências sexuais originais após envolver-se novamente com Nina, numa relação

calorosa, amiga, de partilha de sentimentos e preferências.

As estratégias que o pai utilizou para mudar as preferências sexuais remetem para perseguições

verbais, ofensas e regras, regras como mandos a serem obedecidos e como todos os mandos

beneficiam apenas o falante, por outras palavras, o abate de um macho alfa em ascensão, no caso

em concreto o filho único e primogénito.

A análise do caso “o meu pai não o pai dos outros” permite chegar a alguma conclusões, primeiro

que a filha vê o pai de forma claramente positiva, expressando de forma aberta adjetivos positivos e

grandiosos o que revela uma relação pai-filha positiva como iremos ver em seguida.

Por sua vez, a história desenrola-se em vários contextos, casa e ao ar livre, revelando atividades que

passam por contemplar e imitar a natureza, recitação de poesia e luta livre, revelando que quem ama

não só cuida, mas também tem tempo para os filhos e no caso concreto diversifica as atividades a

dois.

Um aspeto curioso da interação pai-filha é que a atividade de luta livre, escolha do pai, serve não só

para a filha se divertir, mas também para se defender quando este já não estiver presente, o que

revela previdência e uma aprendizagem que vai para além do mestre, numa conceção romana do

termo.

Toda a relação expressa pela filha é baseada em reforço positivo e mesmo as repreensões são apenas

com as forças das palavras. Destaque-se que o reforço positivo é a melhor forma de ensinar, com

índices de retenção superiores à punição e sem as respostas emocionais adversas, por isso não é de
estranhar que a compreensão seja referenciada em duas contingências e sempre em sintonia com as

palavras do pai.

Por sua vez, a filha manipula o corpo do pai revelando o seu amor, dando-lhe beijos nos olhos e nas

pestanas e é-lhe agradável. A filha sabendo ser amada e sabendo-se defender por relação de

equivalência irá procurar relações harmoniosas próximas daquela que tinha com o pai o que

complementa a análise do caso de Giovanni em que se vê um afastamento de tudo o que o pai é e

procura numa mulher precisamente aquilo que o pai despreza.


Conclusão

A análise do caso literário, Giovanni, permitiu verificar por oposição o impacto negativo da

parentalidade, tanto do pai, como agente causador, mas também a mãe como agente colaborativo

passivo da ação do pai, por omissão. Por sua vez, o caso expresso “o meu pai, não os pais dos

outros” de Petri que não contrasta mas complementa a análise efetuada no primeiro caso, revela

uma situação de pai e filha/o amena, calorosa e de amor que deverá estar sempre presente no

desenvolvimento da criança e jovem e no qual os leitores e outros investigadores estão mais

familiarizados e felizmente é a mais típica na sociedade atual, revelando o impacto positivo da

parentalidade. Constata-se que o pai de Giovanni até ao fim não percebe a sexualidade do filho,

espalha a “verdade” como se fosse detentor dela, sem se aperceber que fez uma profecia auto-

realizada, ou seja, criou as condições materiais para que a realidade revelasse aquilo que ele queria

que surgisse, a homossexualidade do filho, contudo as novas contingências permitiram resgatar o

Eu original, que vai além das preferências sexuais, é no caso concreto de Giovanni a junção do

prazer sexual com o amor, o que antes estava dividido, com a Nina passou a estar integrado.
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Tabela 1
Legislação de direitos da criança/jovem, educação sexual e promoção da saúde em vigor em
Portugal
Legislação Teor legislativo
Lei 3/84 Educação sexual e planeamento familiar
Portaria 52/85 Regulamento das Consultas de Planeamento Familiar e Centros de Atendimento para jovens
Despacho nº 25 Princípios orientadores ao modelo de educação para a promoção da saúde.
995/2005 (2ª série).
Despacho nº 2506/2007 Identificação e veiculação aos agrupamentos/escolas de linhas de orientação e temáticas no
âmbito da educação para a saúde, a integrar no projeto educativo de cada
agrupamento/escola.
Lei 60/2009 Estabelece o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar
Portaria 196-A/2010 Regulamenta a Lei n.º 60/2009, de 6 de Agosto, que estabelece o regime de aplicação da
educação sexual em meio escolar
Convenção dos Direitos Assinada em Nova Iorque a 26 de Janeiro de 1990, tendo sido aprovada em 8 de Junho de
da Criança (1990) 1990
Tabela 2

Tabela A-B-C da temática “relação amorosa”


Ordem A B C
1 “Todas as famílias eram Mas a festa começava logo Sensações corporais
amigas, conhecíamos todos de manhã, sós nos positivas*
naquelas casas populares, separávamos para dormir”
mas entre nós havia mais (Namorada).
intimidade”
“Morávamos no mesmo
prédio com as janelas para o
pátio... Não me recordo de
um Natal que não fosse
passado em conjunto...“

2 Roma, Nina Nena, eu um dia vou fazer Revolta, Esperança,


fortunas, e não graças ao felicidade*
meu cu, como diz meu pai,
farei fortuna por mim
próprio e nesse dia nós os
dois viremos morar em
Roma
3 Roma Nena, quando tivermos um Concordância com o desejo
filho vamos chamar de de Giovanni, sentimento de
Federico e se for uma ser aceite*
menina chamamos-lhe
Giuletta Masina. Porque,
embora professasse um
culto quase religioso ao
Mestre, à Masina adorava-
a, talvez mesmo acima do
Mestre. Chamava-lhe
Ultraterrena.
4 Da Masina, Tinha comprado Passava horas inteiras a Prazer, imaginar-se nesse
um livro cheio olhar para elas, dizia, Olha papel com essa mulher*
que olhos, que doçura. Acho
que o Mestre é hábil e faz
obras-primas, mas alguém
que toda a vida adormece ao
lado de uma mulher como
ela deve ter determinados
sonhos e depois os filmes
aparecem-lhe belos e já
feitos.
5 Planetário com Nina Estava desesperado e disse, Esperança de ter uma
Se existe uma pessoa mulher como ela que é a sua
parecida com a Masina, essa namoradinha*
pessoa és tu
6 Desde os sete ou oito anos... Éramos conhecidos como os Contentamento, sensação de
Na rua namoradinhos ser aceite pelo bairro*
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador
Tabela 3

Tabela A-B-C da temática “relação com o pai”


Ordem A B C
1 Meu pai dizia do dele, é um “Lava bem esse cu, E isso só porque
brutamontes, parece feito da massa porque é ele que te Giovanni era um
dos bichos. E minha mãe concluía, vai dar de comer tipo apalermado,
E ela é uma ordinária, malcriada e quando fores daqueles a quem se
cheira sempre mal. (Pais da Melina) grande” (pai) diz trás um lenço e
Pai era camionista trazem-nos um
Atrás da porta da casa de banho penso.
Estranheza,
Tristeza.*
2 De inverno, também o chapéu, e era eu que lho Alivio, por o pai não
(como o Mestre Fellini) guardava, de lho tirar*
Caminhava como o mestre, com a contrário o pai
mesma indumentária tirava-lho
Tempos do Cineforum (Planetário)
3 Desde os sete ou oito anos, que Piscava um olho e “O filho ficava mole
tínhamos jurado um ao outro eterna depois o outro, e aberto a olhar para
fidelidade, dizíamos, Hoje somos Deus queira, dizia ele, com os seus
Namorados, quando chegar a altura ele, mas para mim grandes lábios
vamos casar. (Melina) este é maricas (Pai) inchados.
Mas as coisas não
eram como o pai
dizia, e eu sabia, o
Giovanni contava-
me.”
4 O pai descobriu o livro de Massina “É isto que vês, “Veio ter comigo a
debaixo do travesseiro disse, com tantas correr com os olhos
mulheres bonitas esbugalhados.
que há no mundo, Chamou-lhe
estás apaixonado minorca, disse-me
por esta minorca?” quase a chorar.
Estás a ver, a ela, à
minha rainha, e eu
nem sequer lhe dei
resposta, deixei-o
falar porque fiquei
sem palavras.
Que te importa
como ele a vê, uma
pessoa como ele não
percebe nada da
alma”
5 O pai perdeu o emprego “A desgraça foi Solidão, tristeza,
Passava os dias inteiros em casa de essa, a demasiada infelicidade, falar
pijama proximidade. cada vez menos com
Giovanni tinha 16 anos A verdade é que não o pai*
se consegue viver
com alguém que nos
atormenta durante
todo o dia”.
6 “Pai começou a beber, não “Insultava-o. Dizia- Tristeza, revolta,
encontrava trabalho e bebia vinho, lhe, Com um cu pensamentos de
bebia vinho. desses, não te dúvida acerca da sua
Quando se cruzavam na cozinha ou faltava trabalho, de sexualidade*
no corredor” que estás à espera
para começares a
trabalhar, ainda não
percebeste?
Nasceste para ser
maricas, não passas
de um paneleiro”
(Pai)

7 “Insultava-o, punha- “A Giovanni não lhe


O pai, sempre embriagado se à varanda em parecia verdade,
camisola interior passeava de mãos
gritando a toda a dada com os seus
vizinhança com amigos, …”
satisfação, como se Desprezo pelo pai e
sentisse prazer em pelas suas opiniões*
dizer a todos que a
sua previsão se
havia concretizado”
8 Na cerimónia de Casamento “Deu-me um beijo “Pensei para
Pai, a manquejar, por causa da na face e disse em comigo, É um
cirrose voz alta, O que vais homem acabado,
fazer com um acaba ele
paneleiro?” começamos nós”.
9 Funeral do pai Suava um medo frio Medo, sentimento
(Giovanni) de irrealidade
Ao olhar para ele
não conseguia
perceber o que
pensava (Nina)
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador
Tabela 4

Tabela A-B-C da temática “Sintomas psicossomáticos”


A B C
“Um dia “Sentia dentro dele como que o correr “Fui com ele ao médico, mas este
No consultório médico com Nina de uma veia, de uma única veia, que disse, É uma sensação, não é um
A verdade é que não se consegue lhe descia do ombro esquerdo às sintoma, não existe...”
viver com uma pessoa que nos golfadas até à ponta do pé”. Não acreditou*
atormenta durante todo o dia” “Mas ele, dizia, Cá está ela, põe aqui a
mão, sentes como corre veloz?
E eu não sabia o que lhe dizer-lhe, e
então falava-lhe do mestre e da
Masina, repetia-lhe de cor as cenas de
que ele mais gostava, dizendo-lhe
vamos ao Planetário, à Via Margutta.
Mas ele não lhe apetecia e respondia,
Com esta veia, aonde queres que vá?
… Tentava acalmá-lo e tranquilizá-lo”
Não conseguiu..., inquietação,
nervosismo*
Passear ao longo da Avenida com “Já percebi o que é este sangue na Fica mais tranquilo, arranja uma
Nina veia, que corre para cima e para explicação *
baixo... É sangue menstrual...”
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador
Tabela 5

Tabela A-B-C da temática “Relações homossexuais”


Ordem A B C
1 “Fiquei a observá-lo “Nem ia à escola “Foi uma época de euforia.
embrenhar-se no mal não Ele tinha sempre muito que Tempo de desvarios”
desejado e fiquei apenas a fazer e estava sempre com
observá-lo” pressa
Começou a comprar
camisas novas e calças e
sapatos, a frequentar o
cabeleireiro, onde se fez
pintar o cabelo de um louro
quase branco e as
sobrancelhas de negro, e no
rosto não sei bem se era pó
de arroz ou se era mesmo
base.
Em casa nunca sabiam
quando voltava, às vezes era
já de manhã”.
2 Em plena luz do dia Beijarem-se com a língua “Toda a gente a olhar
Giovanni e os amigos fingindo que olhavam para
outro lado... Cochichavam,
Viste-o? Que nojo, que
vergonha.
Giovanni gozava com
aquilo...”
Exercia contra controlo*
3 Nina Giovanni “Nunca lhe tinha visto um
“Pelo menos, tens “Cuidado com quê?” (Com sorriso tão magnificente e
cuidado?” as doenças) tão selvagem, saiu-lhe das
narinas dilatadas um sopro
quente e depois disse,
Estou-me nas tintas...”
Satisfação com o seu
comportamento, Desprezo
pela sua saúde...
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador
Tabela 6

Tabela A-B-C da temática “Relação a dois”


Ordem A B C
1 Fechada na casa de banho “Olhei bem dentro dos meus Tristeza, sofrimento*
olhos.
Ouvi a voz de tomar a
decisão de deixá-lo por
algum tempo sozinho com o
seu sofrimento”.
2 Giovanni estava cansado “Deixou que lhe agarra-se a “...tentei ocultar o meu
Melina, “Estou sozinha em mão e que o levasse para medo....Continuei virgem
casa, a minha família foi à onde eu quis, como uma como era.... Começou o seu
terra, só regressam amanhã” pessoa sem vontade. pranto, às primeiras luzes da
Estou pronta. Tu o homem e manhã...Estraguei tudo,
eu a mulher, como nos agora sou apenas aquilo que
grandes amores que viste fiz.... Não, o passado morre,
nos teus filmes” só que o teu é muito recente
e tu estás tão assustado. Mas
ele morre, verás que vai
morrer.
Conversámos muito naquela
noite, depois do choro
também grandes risadas ...
Rimos até às lágrimas e
também choramos um
pouco. Estávamos
contentes. Éramos assim.
Sentia-me uma heroína, não
uma simples mulher... Venci
a minha guerra porque era
meritória. Levei-lhe o café à
cama e ele disse-me, Vou
tentar mudar. Não não é de
mudanças que se trata, mas
de voltar ao que eras
primeiro”
3 Giovanni e eu víamos de Isto vai um pouco melhor “Era melhor custar do que
vez em quando (Giovanni) não fazer... Tentava voltar
Pai de Giovanni baba de ao que era primeiro”
bêbado, com voz rouca Algum sofrimento*

4 Fiquei muito solitária “Tive ocasião de pensar As pessoas deixaram de


As pessoas tentaram dizer- Mas eu não lhes dei falar
mo ouvidos. Tinha uma resposta
seca para dizer”
5 Casamento Tentativas sexuais “Terminava sempre as
tentativas no choro, como
para me dizer, Só sei fazer o
contrário, foi isso que
aprendi”
6 Começou a trabalhar num “Andava um pouco melhor Autonomia financeira, um
café da Avenida e menos a custo, mas novo papel, um homem
sempre com dificuldade no trabalhador a criar sustento
seu interior, porque não é para a casa*
fácil sair do buraco
Voltou a deixar crescer o
cabelo com a sua cor
verdadeira, e já não perdia
tempo a arranjar as
pestanas, negras e longas.
Fazia uma vida de homem,
pelo menos na aparência,
nas coisas do dia-a-dia”
7 Passar a ferro Sentia arrepios “Giovanni veio por detrás
Uma aflição que sentia “De vez em quando de mim... apenas senti o seu
como medo e ternura Giovanni chamava por abraço e o seu queixo de
Giovanni a ver o desafio de mim” encontro ao meu pescoço.
futebol Itália-França Disse-me, Esta noite morreu
para sempre, a partir desta
noite já não sinto a sua voz”

8 “Lembras-te dos tempos do “Noite de amor intenso, e de Sexo e relação gratificante*


planetário... paixão, com toda a
Noite de Itália-França prepotência do atraso, dos
E aquela foi a minha noite, a anos passados a esperar.
primeira verdadeira noite e Amava-me com todo o
não estou sequer a dizer-te ímpeto”
depois de quantos anos de
casamento”
9 Estão com idade, “A nossa paixão ainda não ...Vivem o tempo presente,
Filhos já grandes se apagou e amamo-nos prazer sexual e amoroso,
com toda a energia e quase relação bem estabelecida e
todas as noites , sem nunca baseada no respeito e
pensarmos que os tempos da comunicação*
juventude já se passaram”
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador
Tabela 7

Tabela A-B-C de “O meu pai, não o pai dos outros”


Ordem A B C
1 “Grandioso, justo, Doçura maternal, um pai- Estar apaixonado pelo pai,
corporatura imensa mãe querer estar sempre na
Bonito e corajoso como o companhia do pai, sente-se
herói de um romance de bem ao pé do pai*
aventuras, forte (vi-o lutar
contra 7 sem uma
beliscadura), era diferente
de qualquer homem”
2 “Nas noites de verão “Imitar para mim” (os Brincadeira engraçada,
gostava de olhar as estrelas grilos) risos, galhofa, descontração,
e ouvir os grilos” bem estar. *
3 Em casa Repreensão Ficar ligeiramente
“fê-lo apenas com a força acanhada, pensativa acerca
das suas palavras” das suas ações*
“Pegava-me ao colo ou
então sentava-me em cima
de uma mesa e falava
comigo com um tom de voz
forte e persuasivo”
“Dizia-me coisas sensatas,
às vezes também
furibundas”
4 “Recordo-me de sempre o “Ter sempre feito bom uso Benefícios, e.g. Ser
ter entendido bem” dos seus conselhos” cautelosa*
5 “Entendíamo-nos porque “Éramos amigos e entre nós Sentimento de ser aceite, de
tínhamos o mesmo latejar não havia segredos porque ser amada, de ser respeitada,
da carne interior, a gostávamos de falar das respeito pelos seus
consciência reciproca de em súbitas alterações do sentimentos*
alguma outra vida anterior humor”
ele ter estado no meu ventre
e eu no dele”
6 “Dizia-me, Podemos desejar “Eu respondia-lhe que tinha Sintonia emocional,
ao mesmo tempo a morte e razão era assim a vida” pensamento e sentimento de
o renascimento” ser compreendida*
7 O pai Beijar os olhos, as pálpebras “Gostava de beijar-lhe os
olhos, porque tinha as
pálpebras delicadas e
sempre um pouco quentes”.
Sensações corporais
agradáveis*
8 “Ele gostava de me ensinar Fazer o golpe de luta livre* Diversão, ativação
algum golpe de luta livre fisiológica, satisfação*
dizendo que poderia ter
necessidade disso, um dia
em que ele não estivesse
presente para me defender”
9 Declamar Homero Ouvir* Satisfação de necessidades
intelectuais*
10 “Dizia, Sou um pedaço de “E eu pensava, Oxalá te Compreensão com alguma
terra puro fermento” nasçam flores no peito o tristeza*
mais tarde possível, meu
adorado”
Nota: * Preenchida pelo próprio investigador

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