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Uma análise
comportamental com implicações no desenvolvimento psicossexual da criança/jovem
2019
Author's Note
I want to thank my family for the support provided during this investigation, more precisely to
my children Daniel Filipe Assis Schenk Fatia Pereira and Ester Carolina Assis Schenk Fatia Pereira,
In Psychology the analysis of clinical cases is made taking into account real cases, in
this tradition Petri presents in literary form, Giovanni. Objective: This article intends to
analyze a literary case of child maltreatment in contrast to "my father, not the parents of
the others" of Petri, being considered innovative that the analysis is made considering an
extreme case of maltreatment presented on the literary perspective. Material under
analysis: "The parents of others" of Petri. Results: The behavior analysis was performed
through the ABC behavior register (antecedent, behavior, consequent) in the Portuguese
nomenclature, ACC (antecedent-behavior-consequent), the material under analysis was
the speeches of the characters (Giovanni, his father and Giovanni's girlfriend) and the
author and only the author's analysis of "my father, not the parents of others",
considering the speeches as discrete units of behavior, the analysis revealed that in the
case of Giovanni there was change of sexual preference after child abuse and
retroversion to the original sexuality with other implications in the psychological and
behavioral development after exposure to mild natural contingencies, in the case of "my
father, not the parents of others" of Petri that does not contrast but complements the
analysis performed in the first case, reveals a father and daughter / kind, warm and
loving situation that should always be present in the development of the child and ovem.
aprendido de fora para dentro, determinado e selecionado pelas consequências, tendo três níveis de
A sexualidade humana tem sido controlada culturalmente por agências sociais, termo corrente no
Behaviorismo (e.g. Skinner, 2003), nas quais se destaca a família e a igreja, tendo esta última tido o
Cristianismo, surge mesmo antes no Judaísmo (Marianno, 2011, Silva, s.d.), em que a sexualidade
da mulher também é restringida em detrimento do homem, o ser ativo da parceria sexual, sendo o
Não é por acaso a crítica que se faz a Lilith a primeira mulher de Adão, relato paralelo da Tora que
possuía características sexuais que a aproximavam do Homem, ser um parceiro sexual ativo e de
O controlo e vigilância passou do clero para o médico e destaca-se a sua importância nos seus XIX
aquando do surgimento dos primeiros grandes surtos de doenças venéreas, nas quais se destacam a
diversas agências sociais, o governo, a classe médica e mesmo membros da Igreja católica como
refere Tremelett (2001), na tentativa de controlo da sexualidade vejamos como exemplo as ditaduras
Durante a ditadura de Franco a homossexualidade era vista de uma forma sociológica, ou seja, era
entendida como um perigo social, um atentado à moral e à construção social do “macho latino”
(Tremelett, 2001), logo tinha de ser controlada e contida pela ley de peligrosidad social em vigor
até 1978 (Lira, 2018), mas que segundo Tremelett (2001) homossexuais e lésbicas permaneceram
Benadusi (Cit. In Johnston, 2013) refere "fascismo é um regime viril. Portanto, os italianos são
fortes e masculinos, e é impossível que a homossexualidade possa existir no regime fascista" o que
Também em Espanha segundo Moya (2013, Cit. In Muñío, 2017) o regime enaltecia uma mulher
Muñio, 2017) a visão de um homem idealizado, baseado na violência, virilidade e força o que
Entre as formas de punição deste desvio sexual em Espanha encontrava-se o banimento das suas
cidades natais, tortura e o aprisionamento em asilos (Tremelett, 2001), o que segundo Lira (2018) e
sexual forçadas, entre eles se contavam choques e administração de drogas sem autorização, logo
Legislação conexa foi também aplicada contra a população LGBT, entre elas se conta a ley de
Vagos y Maleantes em vigor até 1996 na qual autorizava a tortura e o confinamento a “colónias”
gays, onde existiam maus tratos, fome e trabalhos forçados (Muñío, 2017) com a desculpa de serem
campos de re-educação (Mateu, 2016). A sua localização era em Badajoz, Huelva e Fuerteventura
(Pira, 2018).
Já em Itália a sua localização era no arquipélago de Tremiti no Mar Adriático e segundo Johnston,
beneficiou com a denuncia, passamos a parafraseá-lo "Nós notamos que alguns clubes, praias e
lugares nas montanhas recebem muitos desses homens doentes e jovens de todas as classes sociais
buscam a sua companhia...Este demónio precisa ser atacado e queimado na sua essência".Contudo,
existiram outras colónias de menor dimensão como Ustica e Lampedusa.
Outras tantas formas de privação e abuso da dignidade humana na Espanha de Franco eram prática
comum e autorizadas pelo regime entre eles se contam a prostituição forçada de lésbicas e abuso
de poder, dominar ou ser dominado, vários autores mencionam mesmo a existência do duplo padrão
sexual (Nogueira, Saaveda & Costa, 2008), baseado em scripts sexuais segundo defendem Simon e
Gagnon (1986)
Considerando que boa parte da vida social existe na linguagem, moldando o comportamento e visto
que o Homem é uma das poucas espécies a que se atribui essa capacidade (Catania, 1999), torna-se
pertinente e coerente referir o que Skinner (1957) e continuadores (e.g. Catania, 1999; Baum, 2004)
referiu como regras, expressões linguísticas que expressam condições tais como, se...então.
Sendo coerente articula-la com os scripts sexuais, porque as regras sociais irão exprimir o que é
permitido (e.g. “Mulher séria namora com poucos rapazes”), diferenciando-se do que não é
permitido (e.g. “Homem não chora”), do que é coerente com um determinado sexo e aquilo que não
é (e.g. “Homem que é Homem tem barba”, “Homem que é homem não usa saia”), aquilo que
“representa” ser um Homem ou uma Mulher, tais regras exteriores ao organismo têm tendência para
tornar-se auto-regras (Medeiros, 2010; Cunha da Silva & de-Farias, 2010), regras que o próprio irá
mais cedo ou mais tarde irá exprimir verbalmente ou não, conscientes ou não, não será por acaso
que uma parte não determinada da população homossexual sente-se numa primeira fase,
constrangida, coagida e com sentimentos mistos acerca da sua sexualidade, refletindo regras sociais
acerca desta.
Existem fortes evidências que existe um duplo padrão sexual, ou seja, um conjunto de normas
sociais que determinam a prática de comportamentos sexuais diferenciados segundo o sexo, no qual
os homens são beneficiados, tendo mais liberdade sexual e iniciando mais cedo que as mulheres a
sua vida sexual e tendo mais parceiras que elas parceiros.
A esta conclusão chegam Matos e Projeto Aventura Social & Saúde (2003), os quais mencionam
que apesar de 76.3% dos jovens ainda não terem tido relações sexuais, são precisamente os rapazes
que mais frequentemente afirmam já ter tido atividade sexual (33.3%, face a apenas 15% para o
sexo feminino, os inquiridos do sexo masculino mencionam ainda ter iniciado a vida sexual mais
cedo.
Dados europeus referidos por Avery e Lazdane (2008, Cit. In Saavedra, Nogueira, & Magalhães,
2010) reforçam também estes padrões sexuais, revelando que 30,2% dos rapazes portugueses e
20,3% das raparigas se afirmavam como sexualmente ativos aos 15 anos de idade.
A sexualidade no feminino ainda é visto com receio, vergonha e cumplicidade afetiva (Saavedra,
Nogueira & Magalhães, 2010), já a sexualidade masculina é vista de forma positiva (Freire, 2014;
Moraes & Oliveira, 2012), com exclusão de sentimentos (e.g. Homem não chora), a perda da
virgindade no jovem, representa um rito de passagem para se tornar Homem, com H grande é a
passagem da criança ao patamar dos homens aqueles que têm poder, que o exercem e os legítimos
Heterossexualidade, que esta é normal, é natural, sendo superior a outras formas de sexualidade,
sendo a norma, todos os desvios a esta devem ser corrigidos para a formula natural que é a
A sociedade trabalha em bloco, i.e., desde a família, a primeira estrutura social da criança, passando
por outras estruturas sociais de socialização secundária nas quais se contam a igreja, a escola e
predomínio do Homem como ser ativo, que promove a mudança social, até na política portuguesa
atual é evidente um maior número de deputados do sexo masculino que o feminino, logo possuindo
mass media também sejam responsáveis por mudanças, apresentando novos temas, tais como a
Nestes (mass media) o cinema destaca-se pela narrativa completa ao contrário dos anúncios, ou
seja, num típico filme a historia desenrola-se com uma ou várias histórias a decorrer ao mesmo
tempo, caminhando para um fim que se vai construindo e prendendo o espetador ao ecrã, tendo uma
possível vantagem na criação de scripts, pela repetição da mesma mensagem/padrões, pela longa
exposição (um filme dura aproximadamente duas horas e um anúncio poucos segundos ou minutos),
ou seja, é extensivo enquanto que a mensagem transmitida em anúncio é condensada, logo de pouca
A sexualidade humana é em parte distinta da sexualidade das outras espécies, enquanto que nas
outras espécies ela se prende com o ciclo de reprodução, já a sexualidade humana é plástica
(Moreira, 2013), veja-se por exemplo a prática de sexo anal ou as técnicas de potencialização do
Relativamente à filogénese humana, ou seja, a história da nossa espécie, destaca-se pela norma a
heterossexualidade e a identificação clara de sexo, o que certos autores referem como combinação
binária (e.g. Santos, 2009), macho-fêmea, que dá origem a outro ou outros elementos da espécie, as
crias.
A criação das crias nas outras espécies não humanas é das responsabilidade dos progenitores, já na
espécie humana ela tende para ser também dos pais e de outros familiares, como avôs, tios e primos
ou outros familiares que ocupam um lugar periférico ou não na criação, o que não esgota outras
configurações familiares, como a educação dada por casais do mesmo sexo ou o perfilhamento
civil, adoção simples ou o que ficou conhecido na literatura como os “meus, os teus e os nossos”.
Geralmente a identidade sexual coincide com o sexo anatómico de cada género (Brandão, 2008),
comportamentos, gestos, discursos e utiliza objetos para assim se construir (Freire, 2014), mas é
também utilizado, ou melhor, é determinado a...., i.e., a realidade social irá condicionar, irá
sua liberdade condicionada ás escolhas e opções proporcionadas pela sociedade, como diria Skinner
determinismo.
“Um homem não deve gesticular demasiado; deve usar roupa mais discreta e masculina, ou
seja, não deverá usar roupa mais justa nem demasiados acessórios. Enfim, aquelas coisas
que olhamos na rua e sabemos que aquela pessoa é gay, porque está vestida ou se comporta
de determinada maneira”.
“Ser masculino é fazer uso pleno das marcas da masculinidade. Falar com voz grave, usar
gestos naturais, mas contidos, vestir roupa singela e, sobretudo, usar o raciocínio masculino
A ontogénese sexual refere-se às experiências que o Homem adquire ao longo da vida num
como equivalente a outros tantos comportamentos obedecendo aos mesmos princípios, assim sendo
são determinadas por processos de reforço e punição, sendo que aos primeiros denota se no
comportamento do organismo uma manutenção ou aumento deste enquanto que aos segundo uma
A interceção entre reforço, punição e emoções já foi comprovada por diversas pesquisas que
Sendo que aquilo que não é visto dificilmente é punido, ou seja, o organismo exerce contra-controlo
sobre a instância punidora fugindo ao seu controlo, assim se explica parcialmente a “não historia”
do movimento gay e lésbico nas sociedades ocidentais, que historicamente apenas pode reivindicar
comportamento da criança vai sofrendo sucessivas extinções e reforços até atingir o comportamento
Como exemplo da modelagem de género temos o choro do bebé e da criança, enquanto bebé é
permitido o choro, já enquanto criança esta se for do sexo masculino é ensinada a controlar o choro
feminino segundo Santos (2009) é ensinada a controlar a raiva, mas com ampla liberdade de revelar
os restantes sentimentos.
O que não é estranho considerando que raiva pode ser sinónimo de insubordinação ao sexo
dominante, o masculino e ser utilizado contra este. Segundo Skinner (1976) e também para Baum
(2004) as emoções podem ser estímulos discriminativos para a ação, isto é, podem potencializar um
ação efetiva, neste caso retrucar de forma efetiva, assim o controlo precoce da raiva e agressividade
com o(s) parceiro(s), incapacitam para uma ação mais firme com ou não uso da agressão e da
violência.
Existem autores que distinguem três grandes momentos da sexualidade humana, o primeiro
momento, dos 0 aos 11 anos de idade em que a criança está inserida na família e aí aprende as
primeiras regras de convivência com o seu corpo e com os elementos da sua família, homens,
mulheres e crianças, surgem valores e as primeiras perceções dos papeis sexuais de cada sexo.
Denota-se que face à ausência de padrões de comparação, regras passam facilmente a auto-regras de
convivência com o seu corpo e com os demais elementos da sua família (Anastácio, 2010).
Dos 11 aos 15 anos, o adolescente é influenciado pelos pares e a família declina em influência, o
caminho para a maioridade revela o declínio da família relativamente à sexualidade e uma forte
identificação com os grupos de pares, o que não acontece por acaso (Anastácio, 2010).
Vejamos por exemplo por lado que o tempo que o jovem passa na escola é superior ao tempo que
este passa na sua família, excluindo-se o período de descanso, logo é plausível o crescimento de
Por outro lado, as crianças e jovens entre os pares criam vínculos, testam e desenvolvem
competências, têm relações amorosas entre eles e aprendem normas do grupo num ambiente mais
Para Pinto (2012) a identidade sexual remete para a “forma como cada pessoa sente a sua
sexo (masculino ou feminino) e que inclui a ambivalência inerente à perceção de cada um”,
estando diretamente ligadas a diferenças anatómicas (ter um pénis, ter uma vagina).
É também aos 6 anos que surge a construção do pudor e segundo Felix (2006; Cit. In Pinto, 2012) é
necessário que se construa a privacidade e a intimidade com a ajuda dos adultos e tal assenta em
atividades que lhe proporcionem isso tais como, aquelas que respeitem o espaço da criança, como
Para Vaz e colaboradores (1996, Cit. In Pinto, 2012) a identidade sexual baseia-se no papel de
género, que é socialmente e culturalmente construida, assim sendo não é de estranhar que a
publicidade e a industria de brinquedos seja distinta para meninos e meninas, com artefactos
culturais distintos, para os primeiros estão reservados brinquedos que levam a um maior exercício
de poder e força física (e.g. Exércitos, carros, brinquedos de lutas, etc) enquanto que para as
meninas os brinquedos estão voltados para o cuidar e o embelezar (e.g. Bonecas que são
alimentadas, que vão ao bacio, mini fogões, acessórios de beleza para bonecas, etc).
A criança ver se como um ser sexual é sinónimo de exploração das excitações sexuais e formação
de ligações românticas que alimentam a identidade sexual.
Refira-se que o conceito de família vai para além da satisfação das necessidades básicas, implica
“uma família é uma coisa que nos protege” (IR), “para mim uma família é quando as pessoas
O desenvolvimento humano distingue-se das outras espécies pela sua complexidade, por isso não é
de estranhar o longo período de maturação humana, que leva à adultez. A infância compreende o
espaço vital que vai desde o nascimento até à puberdade, dos 10 aos 12 anos, algumas das
quantidade de hormonas no sangue também é muito pequena, o que vai interferir na pulsão
sexual que é também diminuta; por razoes hormonais o prazer sexual é difuso; os estímulos
externos não tem significado erótico” (Felix, 2006, p. 41, Cit. In Pinto, 2012).
estes, que nem sempre são positivas, refira-se apenas como exemplo um dos entrevistados da
“Eu sentia-me algo inferiorizado dado as minhas características físicas de não ser tão
masculino fisicamente como os outros. Sempre me julguei uma pessoa algo efeminada, quer
pela voz, quer pela falta de pelo, bastante pelo no corpo como tinham outros colegas meus.
Eu achava sempre que era uma pessoa efeminada e nunca me dei assim muita
importância… Eu tinha pelo no peito e outros tinham menos do que eu e cheguei a ver
pessoas que ainda tinham menos cabelo nas pernas do que eu.”
Sendo que a atracão por outras é mais afetiva que sexual, sendo que a orientação do desejo ainda
não está consolidada, mas por volta dos 6 anos já surge a identidade sexual (auto classificação como
menina ou menino).
Voltando à adolescência, esta é devido à estimulação da hipófise pelo hipotálamo que leva ao surto
acelerado de crescimento (Sprinthall & Collins, 1999, Cit. In Teixeira, et al, 2010; Anastácio, 2010),
para Fuertes (1999, Cit in Teixeira et al, 2010) e Sprinthall e Collins (1999, Cit. In Anastácio, 2010)
ocorre em média por volta dos 10,5 anos e 11,5 respetivamente para as raparigas e para os rapazes,
tendo uma duração de 3 a 4 anos. A maturidade reprodutiva, o foco no corpo leva ao desejo sexual e
compartilhados pelos membros da comunidade contextualizados num espaço e tempo como diria
Skinner (1957).
comportamentos sociais padronizados, esperados a cada sexo biológico (Freire, 2014), que se
aproxima da teoria da rotulação, tendo como exemplos extremos as noções socialmente construidas
O sexo masculino sempre foi privilegiado no sistema binário da sexualidade, na cultura ocidental ao
sexo masculino são atribuídos adjetivos e qualidades tais como, decididos, seguros, sem
Vendo de uma perspetiva individual, temos vários relatos de dois dos entrevistados da investigação
“Depois tem outro lado que é o poder, e o poder é esta muito ligado a força e está
muito ligado há determinação e está muito ligado ainda a esse mundo todo
masculino // o homem é um ser de poder que está conotado com a força (…) à
“Homens (…) têm que ser uma pessoa forte (…) tem de ter aquele carácter tipo de
posse, sei lá tipo de poder.” (Carlos, homossexual, TI). O “O homem tem de ser
dominador” (Rui, heterossexual, PTE). O que complementa as características mencionadas
acima.
nas quais são exacerbadas as qualidades e adjetivos referenciados no paragrafo anterior e nas quais
hegemónica são “falsos” homens ou “meios homens” (Freire, 2014), sendo possuídos, dominados e
Um dos inquiridos em Moreira (2013) melhor expressa essa noção de homem “Rude e com aquele
fazerem um juízo da pessoa que eu sou pela minha imagem, dos meus interesses
amorosas. Relações emotivas // Verbal, física penso que não com tanta relevância
É neste padrão que a normalidade é mais opressora e repressiva face a mulheres, crianças e a outros
homens, sejam homossexuais ou outros que sigam padrões de masculinidade distintos próximos dos
nivelamentos dos géneros patente no fim do século XX e inicio do século XXI, tais como, as
Começa a surgir cada vez mais evidências nas sociedades ocidentais de um predomínio da
masculinidade cúmplice e de que raros são os homens que encarnam totalmente o padrão da
e posteriormente com a paternidade, privilegiando relações duradouras e estáveis com a sua mulher
atividades tais como a muda de fralda da criança, dar banho à criança, fazer comida, trazer dinheiro
para casa.
A análise de conteúdo das entrevistas levadas a cabo por Moreira (2013) salientam que os homens
forma de subsistência, sustento e de gestão da economia familiar” e nesse aspeto é similar aos
padrões da masculinidade hegemónica, contudo ao nível da intimidade aproximam-se cada vez mais
relacionamento ao mesmo tempo que se espera que este dure apenas enquanto for
Este tipo de relação pressupõe maior equilíbrio das relações de género, caracteriza uma parceria
Existem autores nos quais se incluem Giddens (1993, Cit. In Moreira, 2013) que consideram que
nas relações homo-erótico o amor confluente se realiza de forma mais acabada e mais pura,
satisfação de necessidades básicas, sendo liberta da sua característica de reprodução, sendo assim
uma sexualidade plástica o que segundo Moreira (2013) foi crucial para a reivindicação feminina
Ainda relativamente aos padrões de dominação sexual do masculino sobre o feminino e à história
do prazer sexual feminino já na segunda metade do século XX releia-se a Sección Femenina (Cit. In
sua satisfação é sempre mais importante que a de uma mulher. Quando alcança o momento
culminante, um pequeno gemido da tua parte é suficiente para indicar qualquer gozo que
podes ter experimentado. Se o teu marido pedir práticas sexuais não usuais. Sê obediente e
não te queixes”
Voltando à influencia da sexualidade da criança e do jovem esta não é só feita pela família, muitas
vezes a própria família recusa o seu papel de principal educador da vida sexual deste, devido a
dificuldades várias de manuseamento do tema, vai também para além do grupo de pares e dos mass
média.
A escola e mais concretamente os currículos escolares têm se vindo a adaptar a pedidos diversos de
setores sociais, tais como associações de pais. Assim o ensino da sexualidade na escolas tem se
vindo a construir desde antes do 25 de Abril de 1974, através da extinta Comissão sobre a Educação
sexual criada em 1973 ainda no Estado Novo (Vilar, 2006, Cit. In Pinto, 2012).
Pós 25 de Abril de 1974, diversas leis e portarias começaram a regular o ensino da sexualidade nas
escolas públicas portuguesas. Contam-se entre elas a Lei 3/84, Portaria 52/85, a Lei 60/2009, a
Portaria 60/2009, Portaria n.º 196-A/2010 e ainda a adesão à Convenção sobre os Direitos da
República resolveu, nos termos dos artigos 164.º, alínea j), e 169.º, nº 5, da Constituição, aprovar,
Janeiro de 1990, tendo sido aprovada em 8 de Junho de 1990 (Conferir Tabela 1).
A partir de 2005/2006 a educação sexual chega às escolas incluída no modelo de educação para a
O mandato do grupo de trabalho criado pelo despacho nº 19737/2005 criou as bases para um guião
programáticas.
Em 2007 cria-se a função de coordenador da educação para a saúde nas escolas tendo as
2009 é o ano em que se estabelece o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar,
capacidade de proteção face a todas as formas de exploração e de abuso sexuais, criando o respeito
pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais, valorizando uma sexualidade
orientação sexual.
como exemplo, direitos e deveres, proteção individual e da parceria, esbarram com limitações
A carga horária dedicada à educação sexual, não devendo ser inferior a seis horas para o 1.º e 2.º
ciclos do ensino básico, nem inferior a doze horas para o 3.º ciclo do ensino básico e secundário,
distribuídas de forma equilibrada pelos diversos períodos do ano letivo. O que a meu ver é
insuficiente face a um um projeto educativo que se quer tão rico.
Em 2010, cria-se a portaria que procede à regulamentação da Lei nº 60/2009, de 6 de Agosto, que
estabelece a educação sexual nos estabelecimentos do ensino básico e do ensino secundário e define
aluno.
Por um lado, pretende-se com as referidas mudanças legislativas que as crianças e jovens possuam
uma sexualidade mais gratificante, criem uma construção de uma imagem positiva e mais ampla de
si, explorem sentimentos, sejam mais responsáveis e tenham mais autonomia na área da saúde e da
sexualidade.
Por outro lado, pretende-se que a criança ou jovem tenham a capacidade de discernir potenciais ou
reais situações de coerção sexual ou outras formas de vivências sexuais negativas e opressivas e se
queixem destas nas estruturas criada nas escolas e/ou nas suas parcerias, tais como, o Ministério da
Paralelamente, o sistema de justiça atualmente possui estruturas próprias para acolher vítimas de
violência doméstica, nas quais se incluem a psicólogica (Artigo 152º). Os códigos penal e processo
penal (doravante designado de CPPP) através do Artigo 153º (Ameaça) e 154º (Coação) do mesmo
código defendem a autodeterminação sexual aplicando pena a quem ameaça ou use violência para
constrange uma pessoa de forma a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade
de determinação.
Os crimes contra a autodeterminação sexual no mesmo código possuem uma secção própria
(Secção II), entre eles se contam, a coação sexual também é punível ao abrigo do Artigo 163º, bem
Entre algumas possíveis penas complementares contam-se a “proibição do exercício de funções por
crimes contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual”, Artigo 69.º – B, e a “proibição de
Design:
É evidente que na análise de conteúdo é predominante o modelo francês, Bardin (2009) é apenas
modelo de B.F. Skinner, tendo como alguma das suas obras de referência “Verbal Behavior”
(Giovanni, o seu pai e a namorada de Giovanni) e da autora e apenas da autora na análise de “o meu
pai, não os pais dos outros” de Petri, considerando as falas como unidades discretas do
comportamento.
Contudo, segundo Skinner (2003) nem sempre temos aceso a todas as proposições de “Y é ocasião
para..se...então” o que são a base para o registo do comportamento, mas isso como o próprio refere
intervenção, no caso concreto da investigação a falta de um dos elementos da função não impede a
O Registo de comportamento ABC não teve um critério temporal mas antes um critério temático,
escolha do investigador, sendo este também utilizado em clínica, mais especificamente em Terapia
Dessensibilização Sistemática.
Os temas criados pelo investigador foram: “relação amorosa”, o que reflete a relação amorosa entre
Giovanni e Nina a sua namorada; “relação com o pai”, o que reflete a convivência entre Giovanni e
o seu pai; “sintomas psicossomáticos”, o que reflete sintomas psicossomáticos sentidos por
Questões de investigação:
Q1: Será que a coerção sexual infantil de Giovanni por parte do pai contribuiu para mudanças de
preferência sexual?
Q2: Que estratégias utilizou o pai de Giovanni para lhe mudar as preferências sexuais?
Resultados
Na primeira temática (conferir Tabela 2), primeira contingência, constata-se que o contexto é em
Roma onde havia amizades entre as famílias do bairro e mais intimidade entre as famílias de
Giovanni e Nina, ela refere em concreto uma festa em que se separaram apenas para dormir,
normal, os humanos prolongam o seu prazer, sentem sensações corporais agradáveis, mantêm-se
Na segunda contingência, o contexto mantêm-se (Roma) e refere-se a uma interação verbal entre
Nina e Giovanni, no qual este desabafa um comentário do pai acerca dele, o qual passo a citar
“Nena, eu um dia vou fazer fortunas, e não graças ao meu cu, como diz meu pai, farei fortuna por
mim próprio e nesse dia nós os dois viremos morar em Roma”, o que revela diversas contingências
possíveis, “o levar no cu” contingência expressa pelo pai e a expressa por Giovanni, “farei fortuna
por mim próprio e nesse dia nós os dois viremos morar em Roma”, o episódio com o pai levou
Giovanni a mostrar Revolta contra o pai, mas não diretamente, pois a diferença de “força” é
desproporcional, mas antes buscando apoio emocional e expressando o que se passou e as suas
intenções de fazer fortuna e ficar com a namorada, ou seja, antecipando consequências positivas,
amenas, agradáveis de felicidade e por que não Tikvá, ou seja, Esperança, em duas palavras, reforço
positivo na antecipação e reforço negativo porque desabafa retira o “peso no peito” do que o pai
pensa dele.
Na terceira, o contexto mantêm-se (Roma) e refere-se a uma interação verbal entre Nina e
Giovanni, no qual expressa o seu desejo, de fazer família com Nina e ter filhos, o próprio é mais
compatível”, ou seja, recebe amor, carinho e afeto apenas criando um sentimento de ser aceite,
reforço positivo.
Na quarta, Giovanni expressa o seu interesse e o seu “amor platónico” a Masina, a sua namorada
não o critica, especulamos que se imagina como namorado de Masina, o que não ameaça a sua
namorada, existem diferenças de idades, ele é uma criança, ela é uma atriz italiana conhecida,
Mas Giovanni faz um relação curiosa entre deitar-se e estar com Masina e o trabalho do Mestre o
seu marido, por uma relação de equivalências de beleza, uma continuidade de beleza, entre a beleza
de Masina para a beleza no trabalho cinematográfico. Podemos assim identificar-se dois tipos de
reforços positivos, o primeiro e mais forte o “ver-se”, i.e., imaginar-se com Masina, com tudo o que
isso envolve para uma criança e o segundo de menor intensidade a aceitação da sua namorada dos
seus “desvaneios”.
Na quinta, o contexto muda, estão no planetário onde costumam ver filmes do Mestre e de Masina,
desesperado” o que revela como veremos à frente estava face a contingências opressivas, punitivas
e por outro, contingências agradáveis que minimizavam o seu sofrimento “Se existe uma pessoa
parecida com a Masina, essa pessoa és tu”, logo se tem uma namorada parecida com o Mestre,
Por último, na sexta contingência, o que é sentido internamente e expresso “entre portas”, ou seja,
entre os namoradinhos é visto da mesma forma pelos vizinhos do bairro o que especulamos traga
A segunda temática (conferir tabela 3), “relação com o pai”, divide-se em 9 contingências. Na
primeira, o pai de Nina expressa a impressão que o pai de Giovanni lhe dá, “é um brutamontes,
parece feito da massa dos bichos” e da mãe “é uma ordinária, malcriada, cheira mal” o que não é de
estranhar que crie uma relação opressiva com o filho, na qual se destaca a hora do banho com a
seguinte fala “Lava bem esse cu, porque é ele que te vai dar de comer quando fores grande” o que a
ver do investigador é uma punição positiva, se não vejamos é interrompida uma atividade antes
automática, que antes lhe é agradável o banho, tenta interromper toda uma ação, criar estranheza e
talvez tristeza a algo tão natural como tomar banho e chamar a atenção para partes do corpo e dar-
lhes função (“levar no cu é igual a dinheiro”) e ainda ser um reforçador positivo para práticas
sexuais que não são as suas, ou seja, de Giovanni, criando a regra “lava o cu para ganhares dinheiro
com ele” e não a regra “lava bem o corpo para tirar a sujidade e sentires te fresquinho e limpo”.
Refira-se ainda que mesmo Pavlov referiu em suas memórias diferenças individuais entre os seus
cães que ficaram conhecidos nas experiências de condicionamento clássico, se esta diferença é
visível em espécies sub-humanas, quanto mais em humanos, seres ainda mais complexos, nesse
sentido, o impacto desta contingência é potencializada por características pessoais de Giovanni, ele
próprio é visto pela namorada como “um tipo apalermado” e sendo ainda “daqueles a quem se diz
trás um lenço e trazem-nos um penso”, o que pode revelar alguma dificuldade no manuseio
Na segunda contingência, vemos que Giovanni imita o Mestre nas vestes, indumentária e no
caminhar e se o pai o via com o chapéu o tirava, através de Melina, a sua namoradinha, tal não
acontecia o que podemos especular que traga alívio a Giovanni, se este antecipa-se o que
aconteceria se pai o visse, como não sabemos não podemos indicar se é uma fuga (se alguma vez já
Na terceira contingência, Nina estabelece uma conversa com o pai de Giovanni, com este último
presente, expressando que são namoradinhos e quando for tempo casar-se-ão. Face a esta afirmação,
o pai de Giovanni não se inibe de expressar uma falsa cumplicidade com a namoradinha do filho “
Piscava um olho e depois o outro”, talvez numa tentativa frustrada desta desistir do seu filho.
Posteriormente este expressa a sua opinião divergente e alheia às contingências naturais do par de
namoradinhos, “Deus queira, dizia ele, mas para mim este é maricas”. Este episódio verbal tem
consequências claras e devastadoras para Giovanni, “O filho ficava mole e aberto a olhar para ele,
com os seus grandes lábios inchados”, inicia-se um sintomatologia, de estranheza e tristeza, uma
resposta orgânica, leia-se corporal a esta afirmação da sua homossexualidade, mesmo face a ambos,
namoradinha e namoradinho , saberem que “ as coisas não eram como o pai dizia, e eu sabia, o
Giovanni contava-me”, mas o saber e o sentir são instâncias diferentes do comportamento como
Skinner, bem como Harris (2007) expressam e face a contingências altamente punitivas ou
Na quarta, na casa de família o pai de Giovanni descobre o livro sobre Medina, a “Musa” do seu
filho, debaixo do travesseiro, porquê debaixo debaixo do travesseiro? Duas hipóteses podem ser
naturalmente do filho pelo pai, a segunda hipótese complementando-se com a primeira prende-se
com primeiras experiências sexuais de uma criança manuseando objetos sociais de cratera sensual,
neste caso uma revista que nos dias de hoje nem seria de contexto sexual.
O pai na presença do filho critica abertamente e ferozmente a “escolha” sexual do filho, “É isto que
vês, disse, com tantas mulheres bonitas que há no mundo, estás apaixonado por esta minorca?”, o
que traz como consequências contadas por Nina “Veio ter comigo a correr com os olhos
esbugalhados. Chamou-lhe minorca, disse-me quase a chorar. Estás a ver, a ela, à minha rainha, e eu
nem sequer lhe dei resposta, deixei-o falar porque fiquei sem palavras”, mais uma vez se vê o
caráter punitivo sobre a sexualidade do filho, mas desta vez uma punição positiva e negativa, critica
o gosto do filho e retira a revista do filho, ao qual o filho se sente triste e devastado, mas não retruca
Nina mais uma vez não se importa pela “paixoneta platónica” do namoradinho e ainda lhe conforta
“Que te importa como ele a vê, uma pessoa como ele não percebe nada da alma”, contrariando a
contingência em vigor, mas sentir e pensar são instâncias distintas do comportamento e aquelas que
Na quinta contingência, quando Giovanni tinha 16 anos, “O pai perdeu o emprego. Passava os dias
inteiros em casa de pijama”, o que levou a uma maior convivência com o filho, passavam mais
tempo em casa, como Nina refere “A desgraça foi essa, a demasiada proximidade” e como vimos
até agora essa proximidade era punitiva para Giovanni, como ela refere “A verdade é que não se
consegue viver com alguém que nos atormenta durante todo o dia”.
Se a relação já era punitiva com interrupções, agora ela era de frequência constante e contínua e
como se diz em português “água mole em pedra dura, tanto bate que fura” e tanto mais “água
pesada”, por isso não é de estranhar que Giovanni se sinta cada vez mais só, triste, infeliz, falando
cada vez menos com o pai, sendo um apenas ouvinte passivo face a episódios verbais destrutivos da
sua identidade e preferência sexual, refira-se mais uma vez as suas caraterísticas pessoais e a sua
“incapacidade” de retrucar.
Na sexta, constata-se por parte do pai a utilização de substâncias legais, álcool, após a perda de
emprego, como se verá posteriormente, o comportamento é não funcional e destrutivo, como diria
A proximidade física entre os dois é estimulo discriminativo para “Insultava-o. Dizia-lhe, Com um
cu desses, não te faltava trabalho, de que estás à espera para começares a trabalhar, ainda não
percebeste? Nasceste para ser maricas, não passas de um paneleiro”, determinando um dado
“destino” dado como certo para o filho, especulamos que teve consequências severas nas quais se
contam a tristeza, a submissão e dúvidas cada vez mais prementes sobre a sua sexualidade.
Na sétima, o pai já passa a estar “sempre embriagado”, mostra claramente comportamentos abertos
de hostilidade contra o filho, nos quais se destaca os insultos e a exposição social, de forma
concreta, “punha-se à varanda em camisola interior gritando a toda a vizinhança com satisfação,
como se sentisse prazer em dizer a todos que a sua previsão se havia concretizado”, as
consequências para Giovanni era de desprezo pelo pai e suas opiniões, bem como pelo meio social,
que não lhe protegeu de um pai abusivo, se não vejamos, “A Giovanni não lhe parecia verdade,
passeava de mãos dada com os seus amigos”, pela primeira vez na narrativa vemos uma mudança
de preferência sexual, que aos olhos do pai apenas refletem aquilo que sempre pensou do filho, o
que não implica que Giovanni não esteja a gostar das novas interações sexuais.
Na oitava, vários anos se passaram e Giovanni casa-se com Nina e “Na cerimónia de Casamento o
Pai, a manquejar, por causa da cirrose...Deu-me um beijo na face e disse em voz alta, O que vais
fazer com um paneleiro?”, mostrando o desrespeito pela cerimonia, pelo filho e sua noiva, mas
como Nina refere “Pensei para comigo, É um homem acabado, acaba ele começamos nós”, o que
em outras palavras, quer dizer que novas contingências entraram em vigor, uma nova família se
A nona, passa-se no funeral do pai do Giovanni, no qual este “Suava um medo frio”, mas segundo
Nina “Ao olhar para ele não conseguia perceber o que pensava”, o que não é de estranhar Giovanni
durante anos escondeu todos os sentimentos e emoções ao e para pai, nunca conseguiu expressar o
que um filho sente por um pai, porque nunca teve uma relação amena com este, o tipo de
consequências esperadas face ao fim de um déspota, seria felicidade ou ao menos alívio, mas antes
disso sente irrealidade, ou seja, não acredita quem lhe tanto mal lhe fez morreu finalmente.
A terceira temática “sintomas psicossomáticos” divide-se em dois episódios (conferir Tabela 4). O
primeiro, “Um dia No consultório médico com Nina. A verdade é que não se consegue viver com
uma pessoa que nos atormenta durante todo o dia” e nós acrescentaríamos não se consegue sem se
refletir na esfera privada e na esfera pública do organismo. Assim sendo, Giovanni “Sentia dentro
dele como que o correr de uma veia, de uma única veia, que lhe descia do ombro esquerdo às
golfadas até à ponta do pé ” ao que o médico disse “É uma sensação, não é um sintoma, não existe”,
mas ele não acreditou, face ao surgimento de sintomatologia, ele reafirma “Mas ele, dizia, Cá está
ela, põe aqui a mão, sentes como corre veloz?”, face ao exposto Nina “não sabia o que lhe dizer-
lhe” e por isso tentava tranquiliza-lo, distraindo-o com a memória de contingências amenas
passadas entre ambos, “então falava-lhe do mestre e da Masina, repetia-lhe de cor as cenas de que
ele mais gostava” e ainda com a criação de novas contingências, “dizendo-lhe vamos ao Planetário,
à Via Margutta”, mas ele apenas queria respostas face a sensações corporais desagradáveis por isso
ele “não lhe apetecia e respondia, Com esta veia, aonde queres que vá?”
Uma segunda contingência de estreita relação com a primeira, passa-se a passear ao longo da
Avenida sendo uma interação verbal entre Giovanni e a sua namorada “Já percebi o que é este
sangue na veia, que corre para cima e para baixo... É sangue menstrual... ”, o que revela uma falsa
explicação, mas esta falsa explicação a seu ver é melhor do que não ter explicação alguma,
tranquiliza-o.
Destaque-se que primeiro as sensações corporais foram sentidas e só depois foram interpretadas o
A quarta temática (Conferir Tabela 5), “relações homossexuais” tem três contingências. Na
primeira, vê-se a iniciação sexual na qual Nina não participa, mas “pressente” que não é a
sexualidade natural do seu amado de forma literária menciona “Fiquei a observá-lo embrenhar-se no
mal não desejado e fiquei apenas a observá-lo”, é então que “Giovanni Nem ia à escola. Ele tinha
sempre muito que fazer e estava sempre com pressa. Começou a comprar camisas novas e calças e
sapatos, a frequentar o cabeleireiro, onde se fez pintar o cabelo de um louro quase branco e as
sobrancelhas de negro, e no rosto não sei bem se era pó de arroz ou se era mesmo base”.
Põe-se a questão, onde Giovanni ia comprar roupa nova, considerando que não tinha posses para
além de tirar prazer das relações homossexuais que mantinha, eram elas também proveitosas, no
sentido que lhe proporcionavam acesso a bens que antes não possuía (calças, camisas, sapatos, idas
ao cabeleireiro). Como Nina refere eram “uma época de euforia. Tempo de desvarios”, por outras
Na segunda contingência, em plena luz do dia, Giovanni e os amigos beijavam-se na boca, aqui
comportamento aberto deste envolvimento, o bairro olha e critica, “Cochichavam, Viste-o? Que
nojo, que vergonha. ” ao que Giovanni “gozava com aquilo”, não ligava à crítica, estava enredado
ao prazer imediato. Especulamos que seja uma reação normal, face a um meio que deixa um pai
Na terceira e última contingência desta temática, Nina adverte Giovanni, “Pelo menos, tens
cuidado?”, o que revela preocupação e “quem ama cuida” ao que Giovanni responde, “Cuidado com
quê?”, isto é com as doenças sexualmente transmissíveis, nas quais se contam a gonorreia, a sífilis,
comportamento sexual, “Nunca lhe tinha visto um sorriso tão magnificente e tão selvagem, saiu-lhe
das narinas dilatadas um sopro quente e depois disse, Estou-me nas tintas...”, o que revela um
Desprezo pela sua saúde, uma busca pelo prazer imediato em detrimento de consequências positivas
Por último, chegamos à última temática, “relação a dois”, com nove contingências. Na primeira,
Nina está fechada na casa de banho e de forma reflexiva diz de si para si “Olhei bem dentro dos
meus olhos. Ouvi a voz de tomar a decisão de deixá-lo por algum tempo sozinho com o seu
Na segunda, Giovanni está cansado e Melina encontra-se em casa sozinha, ela encontra coragem e
“Deixou que lhe agarra-se a mão e que o levasse para onde eu quis, como uma pessoa sem
vontade”, pela primeira vez Nina apresenta iniciativa sexual, “Estou pronta. Tu o homem e eu a
mulher, como nos grandes amores que viste nos teus filmes”.
Como a própria refere “Foi dificílimo e não quero falar de como tentei ocultar o meu medo.
Continuei virgem como era” o que revela a sua falta de experiência sexual, bem como a de
Giovanni na esfera heterossexual, pois ele “Começou o seu pranto, às primeiras luzes da manhã”,
apresentando sofrimento porque “Estraguei tudo, agora sou apenas aquilo que fiz”, ao que Nina
tenta tranquilizá-lo.”Não, o passado morre, só que o teu é muito recente e tu estás tão assustado.
Mas a ausência de sexo nessa noite não fez com que os antigos namoradinhos não conversassem
“muito naquela noite, depois do choro também grandes risadas porque me disse tudo, conto-me
como tinham corrido as coisas. E a comparação que me fez não a refiro, porque é ordinária. Rimos
até às lágrimas e também choramos um pouco. Estávamos contentes. Éramos assim”, o que revela
cumplicidade e companheiros, algo que não obteve nas suas incursões homossexuais.
Nina menciona que “Sentia-me uma heroína, não uma simples mulher... Venci a minha guerra
porque era meritória”, por outras palavras, a espera recompensou obteve o seu amado, esperou por
Após uma noite de conversa Nina levou-lhe “o café à cama e ele disse-me, Vou tentar mudar. Não
não é de mudanças que se trata, mas de voltar ao que eras primeiro”, daqui se destaca uma aparente
contradição, que ambos se aperceberam que algo mudou nele, acumulou experiências, um desvio no
percurso psicossexual e algo não mudou, ou seja, há a possibilidade de retomar o percurso de vida
Na terceira contingência, Giovanni e Nina vêm-se de vez em quando, “o pai bêbado, com voz
rouca”, talvez agora já com uma interferência reduzida na vida do filho, como Giovanni refere “isto
vai um pouco melhor”, há um esforço consciente para voltar à “normalidade”, seja ela qual for, mas
Nina é elucidativa “Era melhor custar do que não fazer... Tentava voltar ao que era primeiro”, ser
um jovem feliz apenas quando estava próximo de uma linda jovem parecida com a “ultraterrena”,
com a Tikvá de um futuro risonho à sua frente, antecipando consequências positivas numa vida a
dois.
Na quarta, vemos o impacto do afastamento de Giovanni para Nina, “Fiquei muito solitária”, ao que
“As pessoas tentaram dizer-mo”, o quê? Que devia desistir dele e seguir com a vida em frente,
talvez, mas Nina teve “ocasião de pensar. Mas eu não lhes dei ouvidos. Tinha uma resposta seca
para dizer”, apresentava perseverança, perspetivava consequências que outros não viam e além de
ver defendia-se a si, o seu amado e ao seu futuro ao fazer isso “As pessoas deixaram de falar”, face
de alguma frustração, é aí que existem “tentativas sexuais” que “Terminava sempre as tentativas no
choro, como para me dizer, Só sei fazer o contrário, foi isso que aprendi”, o que não é verdade, não
sabe só fazer o contrário, o que se constata neste caso é que as competências sexuais homossexuais
adquiridas nem sempre correspondem a competências sexuais heterossexuais que neste caso não
existem, pois Giovanni é virgem num relacionamento com uma mulher.
Giovanni que lhe traz sofrimento, pois a conversão sexual forçada pelo pai foi num momento crítico
na construção do seu papel sexual, que antes desta intromissão estava a desenrolar-se em direção à
norma de forma natural e não coerciva, por isso apresenta níveis elevados de intimidade com a
comportamentos, “Andava um pouco melhor e menos a custo, mas sempre com dificuldade no seu
interior, porque não é fácil sair do buraco. Voltou a deixar crescer o cabelo com a sua cor
verdadeira, e já não perdia tempo a arranjar as pestanas, negras e longas. Fazia uma vida de homem,
organismo em contingências amenas, de apoio e suporte, mas ainda sentindo o peso do passado, ou
seja, da sua história de desenvolvimento psicossexual opressivo que foi escolha do pai para si e que
este sentiu como um vírus que invade todo o seu ser, tentando alterá-lo, conseguindo-o durante
Contudo, o processo iniciou-se e não pára por isso “Fazia uma vida de homem, pelo menos na
aparência, nas coisas do dia-a-dia... autonomia financeira, um novo papel, um homem trabalhador a
criar sustento para a casa”, sendo a sexualidade a sua última batalha para a libertação do jugo de um
déspota já morto.
Na sétima, nina está a “Passar a ferro. Uma aflição que sentia como medo e ternura. Giovanni a ver
o desafio de futebol Itália-França” e “Sentia arrepios. De vez em quando Giovanni chamava por
mim”, será que o desconforto face ao futuro a dois foi potencializado pelos arrepios provocados
pelo calor do passar a ferro? Ou vice-versa? Pela primeira vez na narrativa Giovanni tranquiliza-a
“veio por detrás de mim... apenas senti o seu abraço e o seu queixo de encontro ao meu pescoço.
Disse-me, Esta noite morreu para sempre, a partir desta noite já não sinto a sua voz”.
Giovanni liberta-se do seu pai, do seu passado opressivo, como? Através do tempo, mas não o
tempo pelo tempo, mas antes pela criação de novas contingências, uma relação calorosa e amorosa,
novos amigos, um novo trabalho se impõem não à memória, mas antes ao organismo, história e
Na oitava contingência, um novo diálogo é estabelecido pelo casal, “Nunca me perdoarei pelo
tempo perdido. E eu respondia, O passado morre também naquilo que não se fez , o passado está
sempre fora de uso, meu amor....”, e está mesmo fora de uso, o organismo embora se baseie no
passado ele se atualiza, por outras palavras, ele vive e como o banho no rio, não se pode banhar na
mesma água duas vezes, a história é irrepetível. E finalmente, após vários anos de casamento surge
uma “Noite de amor intenso, e de paixão, com toda a prepotência do atraso, dos anos passados a
esperar. Amava-me com todo o ímpeto...Lembras-te dos tempos do planetário... E aquela foi a
minha noite, a primeira verdadeira noite...”. O amor se cumpriu e a privação sexual se consumaram
numa relação mista de sexualidade e de intimidade, a primeira e especulamos nós a única da vida de
ambos.
Por isso já não é estranha o que acontecerá na nona contingência, passado uns anos já têm filhos
grandes e segundo Nina “A nossa paixão ainda não se apagou e amamo-nos com toda a energia e
quase todas as noites , sem nunca pensarmos que os tempos da juventude já se passaram”, todo o
tipo de dificuldade sexual de Giovanni passou, não podemos esquecer aquilo que Skinner disse em
tempos “Tudo na vida é treino”, com o treino o organismo se adapta, faz performances cada vez
mais ousadas e distintas das primeiras tentativas e acrescenta o investigador “Tudo na vida é treino,
menos o amor”, pois o amor é vivenciado de forma natural sem tentativas opressivas de
manipulação e assim este casal vive o tempo presente, com prazer sexual e amoroso, numa relação
A análise do registo de comportamento do caso “O meu pai, não o pai dos outros” permitiu chegar-
Na primeira, a filha descreve o Pai sempre com adjetivos positivos e grandiosos, a nível de
antecedentes e comportamentos do pai, parecem levar a filha a estar apaixonado pelo pai, querer
Na segunda, o contexto muda, eram noites de verão na companhia do pai a ver as estrelas e a ouvir
os grilos e o pai imitava-os, especulamos que a filha se divertia, via o comportamento do pai como
uma brincadeira engraçada, uma galhofa o que é sinónimo de descontração e bem estar.
Na terceira, o contexto muda mais uma vez, neste caso a ação passa-se em casa e há lugar à
repreensão, mas o pai “fê-lo apenas com a força das suas palavras”, mas aproxima a filha de si
“Pegava-me ao colo ou então sentava-me em cima de uma mesa”, relativamente à sua voz ele
“falava comigo com um tom de voz forte e persuasivo” e em relação ao conteúdo da conversa,
“Dizia-me coisas sensatas, às vezes também furibundas”. Presumimos que a filha tinha como
consequências de tais conversas, ficar ligeiramente acanhada e pensativa acerca das suas ações.
Na quarta, ela recorda-se do pai, de ter sempre entendido o pai, essa compreensão, esse
entendimento facilita seguir a regra expressa, como a filha diz “Ter sempre feito bom uso dos seus
conselhos”, ou seja, trouxe benefícios para si, por exemplo ser cautelosa, pensar antes de agir.
Na quinta, a filha reflete a mesma compreensão, compreensão que lhe leva a expressar a sua crença
em vidas passadas e a sua ligação com o pai, “a consciência reciproca de em alguma outra vida
anterior ele ter estado no meu ventre e eu no dele”, essa consciência é sinónimo de serem amigos e
“entre nós não havia segredos”, numa interação desse tipo é normal surgirem sentimentos de ser
Na sexta, constata-se uma interação verbal começada pelo pai, no qual ele e passo a citar “Dizia-
me, Podemos desejar ao mesmo tempo a morte e o renascimento” ao que a filha concordava com a
opinião do pai, o que revela uma sintonia emocional e intelectual com o pai, uma consequência de
Na sétima, a filha beijava os olhos, as pálpebras do pai e ela “Gostava de beijar-lhe os olhos, porque
tinha as pálpebras delicadas e sempre um pouco quentes”, esta partilha com o corpo do pai, os olhos
Na oitava, o contexto muda o pai ensina a filha golpes de luta livre, com a função de se saber
defender na ausência do pai, presume-se que a filha ao fazer os golpes de luta livre, faz ativação
Por último, na décima contingência o pai expressa que “”Sou um pedaço de terra puro fermento” ao
que a filha não fala mas pensa, “Oxalá te nasçam flores no peito o mais tarde possível, meu
adorado”. Esta interação verbal a nosso ver revela uma compreensão que a vida é finita, mas que a
filha quer que a vida do pai se prolongue, expressando um mando mágico (o desejo) e apresentando
alguma tristeza.
Discussão
Constata-se que uma análise estatística base (soma das ocorrências/contingências) revelam que
“relação com o pai” e “relação a dois” são as que têm mais ocorrências (9 ocorrências cada),
contudo se incluirmos as duas temáticas “relação amorosa” e “relação a dois”, ambas incluindo
Nina, já temos 15 ocorrências. As duas temáticas com menos ocorrências são “relações
Constatou-se da parte de Giovanni uma aproximação sexual e afetiva ao sexo oposto com carga de
desejo de constituir família, ter filhos com a sua namoradinha, essa relação possuía segundo o
próprio parecenças, ou seja, era uma relação de equivalência, com a relação do mestre com a
“Ultraterrena”.
Contudo, a literatura revela que a família, o primeiro agente de socialização tem um impacto
significativo nos seus membros mais jovens e esse impacto em parte é explicado pela ausência de
contraditório, ou seja, a criança recebe a informação, a regra como uma verdade, porque um pai e
uma mãe amam, ou deviam amar os seus filhos e por isso não mentem.
Para o pai de Giovanni a regra era expressado da seguinte forma “Lava bem esse cu, porque é ele
que te vai dar de comer quando fores grande”, paralelamente o pai atacava toda a forma de
masculinidade do filho e partilhava as suas “certezas” com a namoradinha e futura esposa do filho e
com o bairro, atacava os adereços sexuais (revista), na quais critica abertamente o seu gosto
particular por certas mulheres, adereços de moda na qual tentava replicar o Mestre, o seu padrão de
ligeiramente vaidoso, o que também vai de encontro com o conceito moderno de metro-sexual, e
que contraria o tipo de masculinidade expresso pelo pai, um padrão de masculinidade hegemónica
violenta, na qual o Homem tem de ser obedecido ou poderá haver consequências violentas e no caso
concreto de Giovanni há mesmo e aumentam de intensidade com a perda de emprego do pai e com
os seus hábitos alcoólicos, uma proximidade literal tóxica para Giovanni, e “água mole em pedra
dura tanto bate até que fura”. Fura toda uma estrutura orgânica, confunde-o, surgem os sintomas
da sua sexualidade que nunca houve antes, “o cu...porque é ele que te vai dar de comer quando fores
grande”, surgem as primeiras experiências sexuais que especulamos sem amor, mas com
curiosidade e intenso prazer e com benefícios claros, novos sapatos, calças, idas ao cabeleiro, com
ausência de amor, mas a ausência de amor, cansa-o. E esse cansar é abertura para Nina voltar a
aproximar-se do seu amado, é abertura porque Nina é uma mulher passiva que prefere esperar a
desafiá-lo, a entrar num combate pelo seu amado, entram assim em vigor contingências novamente
facilitem o retorno ao Eu, ao centro do seu organismo, são custosas, tantas experiências vividas por
escolha opressiva, a homossexualidade aqui destacada foi a única fuga possível face a um pai
opressivo, tacanho e que vê o seu próprio filho como um opositor sexual a abater, a destruir, um
animal encurralado com apenas um percurso possível ou luta ou foge por apenas essa único
percurso e Giovanni não luta e se não luta submete-se, “o calado consente”, ele quase chora e
raramente expressa os seus sentimentos acerca do que aquilo que o pai lhe faz.
É verdade que o Estado atualmente pode intervir, mas a história decorre na década de 50/60 do
século passado quando ainda não havia a educação sexual, esta pode servir para assinalar casos
como estes de coerção sexual infantil, mas não esqueçamos que os meninos são ensinados a não
chorar, a não partilhar os seus sentimentos mesmo em caso de dificuldade como é o caso, várias
variáveis contribuem para a manutenção do silêncio, para o abuso sistemático de um pai sobre um
filho indefeso (ser uma criança pequena, do sexo masculino, de classe operária, meigo, incapaz de
ripostar).
Mas como se diz o amor tudo consegue, o retorno à aprendizagem sexual agora de encontro à
sexualidade original parada na infância, a heterossexual demora o seu tempo, tem os seus custos, as
suas demoras, os seus falhanços, os seus choros.
A compreensão, o amor, o incentivo sexual são alguns dos ingredientes que Nina incluiu no seu
relacionamento que a levaram ao casamento feliz, não como produto acabado, mas antes como
processo em construção.
investigação, ou seja, a coerção sexual infantil contribuiu para mudanças de preferência sexual que
retornaram às preferências sexuais originais após envolver-se novamente com Nina, numa relação
As estratégias que o pai utilizou para mudar as preferências sexuais remetem para perseguições
verbais, ofensas e regras, regras como mandos a serem obedecidos e como todos os mandos
beneficiam apenas o falante, por outras palavras, o abate de um macho alfa em ascensão, no caso
A análise do caso “o meu pai não o pai dos outros” permite chegar a alguma conclusões, primeiro
que a filha vê o pai de forma claramente positiva, expressando de forma aberta adjetivos positivos e
grandiosos o que revela uma relação pai-filha positiva como iremos ver em seguida.
Por sua vez, a história desenrola-se em vários contextos, casa e ao ar livre, revelando atividades que
passam por contemplar e imitar a natureza, recitação de poesia e luta livre, revelando que quem ama
não só cuida, mas também tem tempo para os filhos e no caso concreto diversifica as atividades a
dois.
Um aspeto curioso da interação pai-filha é que a atividade de luta livre, escolha do pai, serve não só
para a filha se divertir, mas também para se defender quando este já não estiver presente, o que
revela previdência e uma aprendizagem que vai para além do mestre, numa conceção romana do
termo.
Toda a relação expressa pela filha é baseada em reforço positivo e mesmo as repreensões são apenas
com as forças das palavras. Destaque-se que o reforço positivo é a melhor forma de ensinar, com
índices de retenção superiores à punição e sem as respostas emocionais adversas, por isso não é de
estranhar que a compreensão seja referenciada em duas contingências e sempre em sintonia com as
palavras do pai.
Por sua vez, a filha manipula o corpo do pai revelando o seu amor, dando-lhe beijos nos olhos e nas
pestanas e é-lhe agradável. A filha sabendo ser amada e sabendo-se defender por relação de
equivalência irá procurar relações harmoniosas próximas daquela que tinha com o pai o que
A análise do caso literário, Giovanni, permitiu verificar por oposição o impacto negativo da
parentalidade, tanto do pai, como agente causador, mas também a mãe como agente colaborativo
passivo da ação do pai, por omissão. Por sua vez, o caso expresso “o meu pai, não os pais dos
outros” de Petri que não contrasta mas complementa a análise efetuada no primeiro caso, revela
uma situação de pai e filha/o amena, calorosa e de amor que deverá estar sempre presente no
parentalidade. Constata-se que o pai de Giovanni até ao fim não percebe a sexualidade do filho,
espalha a “verdade” como se fosse detentor dela, sem se aperceber que fez uma profecia auto-
realizada, ou seja, criou as condições materiais para que a realidade revelasse aquilo que ele queria
Eu original, que vai além das preferências sexuais, é no caso concreto de Giovanni a junção do
prazer sexual com o amor, o que antes estava dividido, com a Nina passou a estar integrado.
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