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Faculdade de Direito
PIERRE CLASTRES
Rio de Janeiro
07 de Janeiro de 2010.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
4. CONCLUSÃO
1. INTRODUÇÃO
Não há duvidas que o trabalho de campo realizado nas ‘terras baixas da América
do Sul’ e as experiências dele trazidas contribuíram para o aperfeiçoamento da tese
central de Clastres, embora a mesma já tivesse sido idealizada por ele mesmo antes de
sua ida a campo. Esta tese por ele desenvolvida pode ser sintetizada, a meu ver, a partir
das últimas palavras por ele escritas no capítulo 11, ‘a sociedade contra o Estado’:
É nesse sentido que Clastres entende que as sociedades tribais não estariam
evoluindo em direção à estatização, mas, ao contrário, constituem-se como verdadeiras
sociedades ‘contra o Estado’, vez que sua organização cultural busca, a todo tempo,
impedir a formação de uma classe de dirigentes e outra classe de dirigidos.
Neste trabalho, se pretende entender a importância desta idéia central trazida por
Clastres e as suas implicações teóricas na Antropologia Política. É, sem dúvida, uma
obra brilhante que, ao refutar a visão europocentrista e criticar o entendimento de que as
sociedades tribais são ‘menos desenvolvidas’ por não terem presente a figura do Estado,
tornou-se um marco na teoria antropológica.
Já no início do capítulo 11, Clastres chama atenção para o fato de que, embora
as sociedades primitivas não tenham presente a figura do Estado e, por esta razão, sejam
assim consideradas como sociedades sem Estado, isto não significa que elas estejam
privadas do Estado, como se o almejassem, porém, não conseguissem desenvolvê-lo.
Para este autor, não interessa a dedução de princípios cognitivos universais que
tornam possível o entendimento de qualquer sociedade – como se propuseram os
estruturalistas – mas sim a verificação de como determinadas sociedades – no caso, as
sociedades tribais da América do Sul – respondem de maneiras diferentes a problemas
gerais, como a possibilidade de vigência de um poder político separado, que não o
Estado, bem como a prevalência de um tipo de economia que não aliena o trabalho, nem
se pauta na produção de excedente.
O autor, então, demonstra que não se trata de falta, incompletude; não é isso
que traduz a natureza das sociedades primitivas, mas, ao contrário, elas se impõem pela
positividade, pelo domínio do meio ambiente natural e do próprio projeto social, “como
vontade livre de não deixar escapar para fora de seu ser nada que possa alterá-lo,
corrompê-lo e dissolvê-lo. Assim, as sociedades primitivas não são, de maneira alguma,
os embriões retardatários das sociedades ulteriores, como se pensou anteriormente.
3. A FIGURA DO CHEFE E O DOMÍNIO DEMOGRÁFICO
Clastres passa a discorrer sobre a figura do chefe. Diz ele: “(...) a tribo não
possui um rei, mas um chefe que não é chefe de Estado”. Isto, segundo ele, significa
que o chefe não dispõe de nenhuma autoridade, de nenhum poder de coerção, de
nenhum meio de dar uma ordem. Mesmo dotado de privilégios, como a poligamia, esse
chefe está submetido a uma série de obrigações e está em constante e grande vigilância
pela tribo.
Pode-se dizer que o chefe indígena é, em suma, aquele que possui dons
oratórios, habilidade como caçador, capacidade de coordenar as atividades guerreiras,
ofensivas ou defensivas. O argumento deste autor vai ainda mais longe. Afirma ele que
não se trata simplesmente de constatar que o chefe indígena não detém o poder, pois,
para o autor, a sociedade primitiva não é estranha ao poder. O chefe não detém o poder
porque é impedido pela própria sociedade, esta sim detentora de certo poder, que, no
entanto, não se constitui como esfera política separada, ou seja, como Estado. O poder
ali se mantém difuso. Observa Clastres:
4. CONCLUSÃO
Nos dias atuais, diante de uma constante batalha pelo poder político e,
por conseguinte, pelo poder econômico, a obra de Clastres nos aponta para a
possibilidade de um modelo de sociedade que, acima de tudo, colocou a sua liberdade e
igualdade como prioridades máximas. Este modelo foi subestimado não só pelos
colonizadores europeus, mas, sobretudo, pela ciência. Afirmou-se o atraso, a
incapacidade, o primitismo destas sociedades; hoje, contudo, questionamos os caminhos
a que nos levou a sociedade moderna ocidental e perguntamo-nos se era aqui que
queríamos, de fato, ter chegado. Agora, resta-nos responder: foi evolução ou involução
o que presenciamos com o desenvolvimento das sociedades modernas?
REFERÊNCIAS