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Realização Autoria
Instituto C&a Rita Margarete Santos
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experiências registradas por esses profissionais na Pasta de Registros
Paralapracá foram transformadas nesta nova série de cadernos, possibili-
tando também, a partir de agora, a disseminação desses percursos.
Os caminhos percorridos e registrados revelaram as mudanças ocor-
ridas, os resultados e a reflexão sobre as práticas e as concepções de
infância e de Educação Infantil que foram sendo revisitadas, problema-
tizadas e reconstruídas no percurso. Os registros refletem um caminho
trilhado, não um ponto de chegada. Foi muito importante documentar
este processo para aqueles que dele participaram. Agora, ajuda outros
interlocutores a vislumbrar e a pensar sobre novas possibilidades e novos
percursos.
É possível que, ao degustar o material, se identifiquem distâncias entre
o dito e o vivido, o teorizado e a prática, o desejado e o realizado. No pro-
jeto, assumimos que essas distâncias são parte inerente ao processo e as
consideramos provocativas. Nós esperamos que elas fomentem um am-
biente reflexivo, um olhar criterioso e diverso, na busca de práticas mais
coerentes, conscientes e possíveis.
Mesmo apresentando os seis eixos de forma separada, acreditamos
que, na maior parte do tempo, eles se integram de alguma forma, e isso
está explicitado muitas vezes nos registros. Este é um alerta necessário
para manter os profissionais atentos para o enfoque integrado que o cur-
rículo da Educação Infantil deve ter como característica.
Esperamos que, acima de tudo, esta publicação possa apontar cami-
nhos possíveis para outros educadores e que estes possam se inspirar
e conhecer um pouco da trajetória daqueles que escreveram a história
do paralapraCá nessa primeira edição. Ela expressa os valores e o re-
conhecimento do Instituto C&a e da Avante, como instituição formadora,
de todo esse processo de reflexão e transformação pelas quais diversas
redes municipais e seus profissionais passaram no decorrer do projeto.
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Assim se explora
o mundo
…a importância de uma coisa não
se mede com fita métrica, nem com
balanças, nem barômetros, etc (…)
a importância de uma coisa há que
ser medida pelo encantamento
que a coisa produza em nós.
manoel de Barros
As crianças, desde que nascem, buscam apro- A postura dos professores é muito impor-
priar-se do mundo. Os primeiros anos de vida tante para a aprendizagem das crianças. Eles
são um período de muitas descobertas. Por “devem agir como ponte entre o que a socieda-
isso, quando o ambiente se revela favorável, a de entende como verdadeiro e valioso e o que
curiosidade é aguçada. Surge, então, a “fase as crianças estão percebendo em seu ambien-
dos porquês” — por volta dos 2 anos —, reve- te.” (HARLAN & RIVKIN, 2002, p. 35). Assim,
lando a curiosidade infantil e sua necessidade cabe a eles fazer alguns questionamentos e
de compreender a realidade do seu entorno. levantar dúvidas que provoquem as crianças
É a partir da interação com o meio natural a observar e compreender o entorno de forma
e social no qual vivem que elas começam a mais intencional para possibilitar o estabeleci-
compreender como este mundo funciona. As- mento de múltiplas relações.
sim, elas irão interagir com o mundo usando Não podemos esquecer que as diferentes
diferentes linguagens (oral, escrita, plástica, manifestações culturais, incluindo as de cará-
corporal, musical, matemática) como instru- ter local, fazem parte da vida da criança e são
mentos básicos de exploração e comunicação. essenciais para a construção da sua identidade.
Por isso, as experiências ou projetos das insti- Por isso, devem ser valorizadas, reconhecidas e
tuições de Educação Infantil devem instigá-las e incluídas no percurso investigativo da criança.
oferecer-lhes situações para que façam uso destas Isso está assegurado nas Diretrizes Cur-
linguagens no processo de descoberta e de inte- riculares Nacionais (2009), no artigo 3º, que
ração com o meio natural e o social. O ideal é descreve o currículo como “um conjunto de
que os conhecimentos oriundos desses meios práticas que buscam articular as experiências
sejam abordados de maneira integrada, respei- e os saberes das crianças com os conhecimen-
tando, contudo, as especificidades dos diferentes tos que fazem parte do patrimônio cultural, ar-
campos. Uma dica é organizar as experiências e tístico, ambiental, científico e tecnológico, de
os projetos das instituições de Educação Infantil, modo a promover o desenvolvimento integral
considerando as indagações das próprias crian- de crianças de 0 a 5 anos de idade”.
ças. O frescor do olhar delas leva à produção de O depoimento da coordenadora Sara C. de
questões que são preciosas fontes de pesquisa. Alexandre Silva, da Escola Maternal Meni-
Assim, é importante ajudá-las a elaborar no de Jesus, em Feira de Santana · BA, mostra
perguntas acerca do mundo, observar diferen- como o Projeto Paralapracá ajudou as pro-
tes ambientes, formular hipóteses, buscar expli- fessoras desta escola a incentivar a postura in-
cações e utilizar diferentes fontes para acessar vestigativa nas crianças:
informações. Estes procedimentos valorizam
as questões formuladas pelas crianças e as Vejo que há uma sensibilidade das pro-
orientam na busca de respostas, fazendo com fessoras para ouvir as crianças, valorizar
que elas expressem suas opiniões, interpreta- seus questionamentos e constatações.
ções e concepções e confrontem seu modo de As próprias professoras já estão ques-
pensar com os de outras crianças e adultos. tionando a relevância do que estão fa-
Desta forma, contribuem para que construam zendo. Os conteúdos são os mesmos do
conhecimentos cada vez mais elaborados e es- ano passado, mas a sensibilidade e pos-
tabeleçam relações com seus contextos. tura das professoras estão mudando.
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Dialogando
com as práticas
Por aí afora
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um
conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis
diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas.
rCnei, 1998, p. 163
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aCervo paralapraCá
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Possibilitar às crianças explorar vários espaços é sem-
pre uma situação significativa de aprendizagem. Es-
pecialmente para as muito pequenas, que constroem
conhecimentos diversificados sobre o meio social e
natural à medida que conhecem outras realidades di-
ferentes da sua. Nesta perspectiva, quanto menor a
criança, maior a relação entre suas representações e
noções sobre o mundo e os objetos concretos da reali-
dade conhecida.
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No vídeo deste mesmo eixo, a professora Thereza
Marcílio destaca que “uma criança chega ao mundo e
quer conhecer esse mundo”. É primordial que o pro-
fessor crie situações que a possibilitem agir sobre os
elementos naturais e culturais e esteja atento às suas
reações. Veja como a professora Eliane comenta a satis-
fação das crianças agindo e interagindo com os objetos,
plantas e aves, demonstrando a importância do contato
com a natureza e do convívio com pequenos animais:
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A observação, além de ser qualidade inerente ao ser
humano, tem grande importância na organização do
pensamento e nos mecanismos de atuação e de con-
duta mais elementares. Por isso, as instituições de
Educação Infantil devem fomentar a participação das
crianças em atividades espontâneas ou sistemáticas
que as possibilitem se voltar a elementos do ambiente
de forma mais intencional.
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aCervo paralapraCá
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Outro aspecto importante que deve ser conside-
rado na exploração do mundo pela criança é a inser-
ção da comunidade. Trazer os adultos como referên-
cia para as experiências reforça os laços comunitários
e a percepção de que o que elas irão vivenciar já foi
experimentado por outros. A ideia de passar dos mais
velhos para os mais novos é uma prática que valoriza o
conjunto dos saberes das comunidades.
Veja como a professora Francisca destaca a partici-
pação de adultos nas atividades com as crianças:
A observação e a experimentação
são processos menos complexos A participação das famílias em experi-
da atividade científica e podem ser ências como esta pode ser ampliada, por
encontrados no comportamento in- exemplo, através de entrevistas com os
fantil. À medida que o pensamento pais para obter informações sobre o pro-
das crianças se torna mais abstrato, cesso de crescimento de hortaliças e le-
elas são capazes de utilizar proces- gumes, preparação do solo e condições
sos cada vez mais sofisticados nas adequadas para germinação e crescimen-
atividades científicas, como: classi- to das plantas.
ficar, medir, comunicar, prever, pla-
nejar investigações, interpretar e elaborar explicações
a partir dos dados. Por isso, é importante o professor
planejar experiências que favoreçam as crianças exer-
citarem cada uma destas observações.
Buscar respostas, informações e se familiarizar com
questões relativas ao mundo físico e social são ações
que mobilizam professores e crianças. No caso do pro-
fessor, é importante ressaltar a necessidade da am-
pliação de seu conhecimento científico previamente
ao desenvolvimento das ações pedagógicas planeja-
das. Mas ele também pode descobrir e ampliar seus
conhecimentos na realização dos projetos ou investi-
gações, juntamente com as crianças e não se angus-
tiar por não saber todas as respostas.
O professor precisa também estar atento à vida so-
cial do entorno da instituição de Educação Infantil, pois
ela apresenta práticas sociais do cotidiano das crian-
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ças. E, por meio dessas práticas, as
crianças constroem conhecimento O Estação Paralapracá: menu de paisagens
sobre a vida social no seu entorno. culturais é uma publicação do projeto que
Por isso, o olhar do professor deve contém uma coletânea de diferentes ma-
ser sensível e investigador da gran- nifestações culturais das comunidades/
de diversidade de costumes, hábi- municípios que participaram da primei-
tos e expressões culturais presen- ra edição do projeto. Vale a pena conferir
tes no entorno das crianças. alguns saberes produzidos por essas comu-
Nas formações do paralapraCá, nidades. Os profissionais das instituições
a postura investigativa dos professo- participantes do projeto compreenderam
res foi foco de discussões frequentes a importância da inclusão desses saberes
e instigou a professora Andréa Men- nas práticas pedagógicas e, assim, certa-
des e a supervisora Maria Dulcéia, mente contribuíram para a construção da
da Escola Municipal Nicea Cahú, identidade das crianças e sua possibilida-
de Jaboatão dos Guararapes · pe, a de de interagir e valorizar diversos tipos
atentar para hábitos que, por serem de conhecimento.
tão corriqueiros, se tornaram “invisí-
veis” no dia a dia da comunidade:
A Festa de Nossa Senhora dos Prazeres, co-
Numa manhã do mês de fevereiro nhecida como Festa da Pitomba, aconte-
de 2011, ao chegarmos à escola, ce logo após a Semana Santa, época da sa-
percebemos que não havia ener- fra desta fruta tropical muito conhecida na
gia. Resolvemos fazer o planeja- região de Jaboatão dos Guararapes. Na oca-
mento de aula no pátio da escola sião acontecem comemorações religiosas
e, de repente, presenciamos uma (missas diárias, novenas, batizados, casa-
cena rotineira para crianças e ado- mentos e procissão com a imagem da santa,
lescentes da comunidade, mas não acompanhada por milhares de fiéis) e feste-
nos dávamos conta. E faz aproxi- jos populares (feiras e oficinas de artesana-
madamente 16 anos que trabalha- to, parque de diversões, bandas de músicas,
mos nesta comunidade. Foi o Pro- cantadores, maracatu, danças folclóricas e
jeto paralapraCá que nos aguçou comidas regionais). Em 2011 foi 354ª edição
e despertou a curiosidade de in- da festa, que teve como tema “A Cultura e
vestigarmos a cultura comunitária. a Arte de Todos Nós”.
Crianças e adolescentes chega-
ram com galeias (espécie de caixo-
te normalmente usado para armazenar frutas e verdu-
ras) de mangas e pitombas em uma casa em frente à
escola. Fomos até lá e conversamos com a dona da
casa, conhecida como Dida. Ela nos relatou a impor-
tância desta colheita como ajuda para a subsistência
da família. Disse também que a colheita da pitomba
acontece só neste período que antecede as festivida-
des de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira do
bairro. A festa é conhecida como Festa da Pitomba e,
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por tradição, quem sobe o morro dos Guararapes des-
ce com pelo menos um cacho do fruto de sabor entre
o doce e o azedo.
Depois decidimos acompanhar as crianças e adoles-
centes para vermos como acontecia o processo da co-
lheita da pitomba. Foi interessante perceber que é um
trabalho que eles fazem com prazer e alegria. Alguns
sobem no pé para colher o fruto, enquanto outros aguar-
dam embaixo com a galeia. Presenciamos também que
as crianças menores, entre 2 e 6 anos, ficam embaixo da
árvore esperando para saborear o fruto ali mesmo. De-
pois da galeia cheia, levam à casa da Dida, que sai de
casa às 3h30 para vender no Mercado de Prazeres.
andréa mendes e maria dulCéia, JaBoatão dos Guararapes · pe
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venda da pitomba) para o sustento pessoal. Este as-
pecto também pode instigar as crianças a investigar
sobre responsabilidades infantis em diferentes luga-
res e épocas e estabelecer comparação com a sua
própria realidade. Isto contribui para as crianças com-
preenderem aspectos sociais do mundo que as cerca.
O relato das professoras nos provoca a pensar: será
que conhecemos a realidade de nossas crianças? O
que elas desejam, podem e precisam aprender? Quais
situações do cotidiano das crianças podem mobilizá-
-las para novas descobertas?
As feiras também oferecem um mar de possibilida-
des para exploração com crianças. Em Campina Gran-
de · pB, as professoras Eliane Paiva Farias, Cláudia Maria
Ferreira de Lima e Solange da Silva Galdino, da Creche
Municipal Severino Cabral, desenvolveram um projeto
sobre a Feira Central de Campina Grande. Elas relatam:
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aCervo paralapraCá
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As discussões podem ser momentos privilegiados de
aprendizagens e devem ter objetivos diferentes, con-
forme o momento que ocorrem no processo de inves-
tigação. Neste caso, aconteceu na introdução do estu-
do pretendido:
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Outros pontos a serem destacados no relato das pro-
fessoras foram o uso de texto coletivo verbal e não
verbal para fazer o registro e o momento em que ele
foi construído no decorrer do processo. Não custa
lembrar que o professor deve propiciar o uso das di-
ferentes linguagens (textos coletivos ou individuais,
murais ilustrados, desenhos, maquetes, etc.) e que é
importante planejar situações para as crianças socia-
lizarem os resultados de suas pesquisas com colegas
de outros grupos da instituição.
aCervo paralapraCá
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aCervo paralapraCá
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Práticas
comentadas
Os “porquês” infantis
SANDRA GONÇALVES DE MATOS PROfESSORA
esCola muniCipal Judite alenCar marinHo, Crianças de 5
anos da zona urBana, Feira de santana · Ba
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optei por usar a música Oito anos,
de Adriana Calcanhoto. Música usa- 2 A curiosidade das crianças se manifes-
da no último encontro de formação ta, também, por meio das brincadeiras,
de coordenadores. A princípio, con- das experiências e, principalmente, das
versei com as crianças que iríamos perguntas intermináveis. As perguntas,
assistir a um vídeo com uma música muitas vezes, representam um complexo
diferente, que não era uma daquelas exercício de elaboração de pensamentos e
cantigas de roda que costumamos sentimentos e, por vezes, surpreendem os
ouvir. Elas aceitaram e ficaram curio- que estão em seu entorno. Segundo An-
sas. Fomos para a sala de leitura e tonini (2008, p. 30), o professor é peça in-
na lousa assistimos a um dos víde- dispensável da construção do conheci-
os disponibilizados no YouTube. As mento infantil. É ele que, além de deixar
crianças gostaram, principalmente a criança livre, observa e intervém, pro-
porque tem imagens curiosas rela- pondo-lhe questões. Começar a fazer ci-
cionadas às perguntas feitas. ência é, pois, começar a perguntar.
Depois, retornamos à sala e vimos
detalhadamente a letra da música exposta em cartaz. Fi-
zemos a leitura coletiva para aproximação de algumas
palavras e depois a leitura mais analítica, na qual tenta-
mos responder às perguntas feitas na música. Foi muito
interessante! As crianças responderam coisas que nem
passavam pela minha cabeça de adulta engessada pelo
cotidiano. Outras respostas eram tão ingênuas que con-
seguiram me comover2. Eis alguns exemplos:
Por que a gente morre? Porque a gente fica perto
do assaltante! Porque bebe veneno!
Porque a pessoa fuma! Porque usa droga!
De onde os filhos saem? Da barriga da mãe!
Por que a gente espirra? Porque tá gripado!
Por que sai aguinha do nariz? Porque a gente toma
gelado!
Do que é feita a nuvem? De algodão-doce!
Do que é feita a neve? De pão e gelo!
Confesso que não esperava tanto! Ou tão pouco!
Curiosa, também, foi a atitude das pessoas (demais fun-
cionários da escola). Eu havia pedido a uma delas para fa-
zer o cartaz com a letra da música. Ela disse no dia que me
entregou o cartaz que, enquanto estava escrevendo, se
perguntava: ‘O que Sandra quer com isso? Tá doida… uma
música tão grande e uma letra sem sentido nenhum…’
Essa pessoa foi a primeira a apreciar o painel com as
respostas das crianças que afixei no pátio da escola e ad-
mitiu: ‘Eles são demais. Nenhuma dessas respostas havia
me passado pela cabeça!’.
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Enfim, este foi o primeiro passo
para abordar o eixo Assim se ex- 3 Ótimo pensar assim! Realmente o pro-
plora o mundo, que eu particular- fessor deve alimentar a curiosidade que as
mente prefiro chamar de eixo da crianças revelam desde muito pequenas.
Curiosidade 3! É um desafio duplo Por isso, uma parte importante de suas
para nós, professores 4, historica- tarefas é fomentar a elaboração e lançar
mente habituados a dar respostas perguntas, incentivando-as a elaborar, so-
prontas aos alunos, ludicamente cializar respostas, ainda que provisórias,
habituados a conformar-se com como é próprio das ciências. O papel da
respostas simples e evasivas! escola é manter a curiosidade viva e ex-
O próximo passo é discutir a pandir a possibilidade de busca de respos-
viabilidade de cada uma das res- tas e formulação de novas perguntas.
postas dadas pelos alunos, fazer
pequenas pesquisas e entrevistas
com familiares e corpo docente. 4 Para Harlan & Rivkin (2002, p.35),
Quem sabe, ao final, consigamos “embora muitos professores sintam-se
fazer um pequeno artigo científico desconfortáveis quanto à sua compreen-
sobre as nossas descobertas?! 5 são de conceitos científicos, muitos des-
tes conceitos são possíveis de uma des-
Durante o planejamento, você se coberta conjunta pelo professor e pelas
questiona sobre do que é mesmo crianças. Trabalhar com materiais reais,
que as crianças precisam, desejam e reforçar os conceitos de várias e diferen-
podem saber sobre o mundo? Estas tes maneiras, com meios também diver-
perguntas devem ser respondidas sos, e estar aberto a surpresas, tudo isso
por meio de estudos e da observa- contribui para o desenvolvimento de
ção das próprias crianças. As per- conceitos com participação de todos”.
guntas capciosas que fazem, espe-
cialmente aquelas referentes aos
conhecimentos e conceitos cientí- 5 Esta pode ser excelente possibilidade
ficos, podem desestabilizar profes- para as crianças construírem conheci-
sores, porque eles próprios ainda mentos mais elaborados, pois possibilita-
apresentam lacunas nesta área de rá que elas formulem e respondam suas
conhecimento. Nesta situação, é im- próprias questões, busquem outras res-
portante ressaltar a necessidade da postas e as comparem com as suas. Além
ampliação de conhecimento científi- de formularem explicações, expressarem
co por parte do professor. Por outro suas opiniões, interpretações e concep-
lado, o professor pode descobrir e ções de mundo e sistematizarem e regis-
ampliar seus conhecimentos na rea- trarem suas aprendizagens.
lização do projeto, juntamente com
as crianças, e não se angustiar por não saber todas as
respostas. E, nesta perspectiva, a pedagogia de projetos
revela-se como importante forma de organização das
atividades pedagógicas, potencializando-as como situa-
ção de aprendizagens para crianças e professores.
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Uma ideia puxa a outra
DáViLA MARTA QUEiROz GESTORA
LUciMARy DO NASciMENTO cOORDENADORA PEDAGóGicA
LizETE ALExANDRE E JOSELiNE BiSPO PROfESSORAS
CreCHe Galdina BarBosa silveira, Crianças de 4 e 5 anos
da zona urBana, Campina Grande · pB
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nha feita na hora! Uma experiência
inesquecível 8. 8 O Referencial Curricular Nacional para
Além disso, levamos a massa de a Educação Infantil (1998) destaca a im-
mandioca para a creche e extraí- portância de o professor eleger temas fo-
mos a goma. Em seguida convida- mentadores do conhecimento de hábitos e
mos uma senhora do bairro (que, por costumes socioculturais diversos e sua ar-
coincidência, é mãe de uma criança ticulação com hábitos e costumes que as
da instituição) para fazer a tapioca crianças conhecem. Por exemplo: tipos de
com a gente9. alimentação, vestimentas, músicas, ativi-
As crianças ajudaram a peneirar dades de trabalho e lazer, etc. Isto ajuda as
a goma, observaram a sua trans- crianças a aprender e estabelecer relações
formação em tapioca, no fogo, pu- entre o seu cotidiano e as vivências socio-
seram margarina nas tapiocas e culturais, históricas e geográficas de outras
degustaram-nas. Ainda utilizamos pessoas, grupos ou gerações. Assim, algu-
o restante da massa para fazer bei- mas questões poderiam ser levantadas com
ju com uma funcionária da creche as crianças: todas as pessoas sempre fize-
que convidamos para nos ajudar. ram farinha deste jeito?; existem outras
As crianças participaram, mais uma maneiras de produzir farinha?; será que
vez, com muito entusiasmo 10. existem fábricas de fazer farinha?.
Assistimos a um vídeo informa-
tivo sobre o cultivo da mandioca e
o processo de produção de farinha, 9 Toda comunidade constrói sabe-
tapioca e outros alimentos feitos à res que, assim como os saberes univer-
base dessa raiz. Ensaiamos a músi- sais, ajudam as crianças a compreender
ca Massa de mandioca, enfeitamos o mundo. O preparo dos alimentos é um
peneiras para apresentação da mú- dos saberes comunitários de grande va-
sica, realizamos diversas atividades lia e deve ser explorado na instituição de
pedagógicas acerca do tema, inclu- Educação Infantil como elemento que
sive um trabalho artístico utilizando pode estimular a curiosidade e o interes-
a folha da planta. se das crianças pelo mundo que a cerca.
Consideramos a experiência ri-
quíssima para as crianças, que parti-
ciparam de todas as atividades com 10 O professor deve procurar sempre en-
muito entusiasmo e muita atenção volver a comunidade escolar de alguma
em todas as etapas do processo, em forma nos projetos da instituição. Des-
que foram recriadas situações de ta forma, possibilita que outros adul-
aprendizagem e aulas prazerosas. tos, além das famílias, contribuam com
a aprendizagem das crianças e ampliem
O interesse e a curiosidade são os seus próprios conhecimentos, tanto so-
maiores mobilizadores das crianças. bre o mundo social e natural quanto so-
Sobre este assunto, consta nos Refe- bre o processo de aprendizagem infantil.
renciais Curriculares Nacionais que,
“movidas pelo interesse e pela curio-
sidade e confrontadas com as diver-
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sas respostas oferecidas por adultos, por outras crian-
ças e/ou por fontes de informação, como livros, notícias
e reportagens de rádio e TV, etc., as crianças podem co-
nhecer o mundo por meio da atividade física, afetiva e
mental, construindo explicações subjetivas e individuais
para os diferentes fenômenos e acontecimentos”. (rC-
nei, 1998, p. 169).
Lá
antonini, Elizabeth. A natureza e a descoberta da realidade natural e
artificial. Cuiabá: Ed. uFmt, 2008. Faz.1.
arriBas, Tereza Alleixá e cols. Educação Infantil: desenvolvimento,
currículo e organização escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BarBosa, Maria C. Silveira e Horn, Maria da G. Souza. Projetos peda-
gógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008
Brasil. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, vol. 3. Brasília: meC/seF, 1998.
Harlan, Jean e riviKin, Mary S. Ciências em Educação Infantil: uma
abordagem integrada. Porto Alegre: Artmed, 2002.
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aCervo paralapraCá
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dados internaCionais de CataloGação na puBliCação (Cip)
(Câmara Brasileira do livro, sp, Brasil)
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