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O Caderno de experiênCias assim se explora o mundo é uma

publicação do projeto paralapraCá do Instituto C&a.


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Realização Autoria
Instituto C&a Rita Margarete Santos

Diretor-executivo Coleta de Experiências Pedagógicas


Paulo Castro Maria Aparecida Freire de Oliveira Couto
Fabíola Margeritha Bastos
Gerente da área Educação, Arte e Janaina G. Viana de Souza
Cultura Iany Bessa
Patrícia Monteiro Lacerda Lilian Galvão

Coordenadora do Programa Educação Seleção de Experiências Pedagógicas


Infantil Milla Alves
Priscila Fernandes Magrin Mônica Martins Samia

Assistente de Programas Leitura Crítica


Patrícia Carvalho Maria Thereza Marcilio

Gestão de Comunicação Institucional Revisão de Estilística


Carla Sattler Clarissa Bittencourt de Pinho e Braga

Concepção da Publicação Revisão Ortográfica


Avante – Educação e Mobilização Social Mauro de Barros
– ONG
Projeto Gráfico, Editoração
Gestão Institucional da Avante e Ilustrações
Maria Thereza Marcilio Santo Design

Linha de Formação de Educadores e Impressão


Tecnologias Educacionais da Avante Atrativa Gráfica e Editora
Mônica Martins Samia
Tiragem
Coordenação Editorial 1.800 exemplares
Mônica Martins Samia
Apresentação

A palavra assim expressa pluralidade. Ela indica diversas possibilidades


de se fazer algo, a depender do contexto que este “algo” acontece e das
pessoas que dele participam. No paralapraCá, assim representa a di-
versidade de fazeres e saberes encontrados nas mais de cem institui-
ções de Educação Infantil que participaram da primeira edição do projeto.
Dessa forma, o objetivo dos Cadernos de Experiências Pedagógicas do
paralapraCá é compartilhar as práticas vivenciadas e realizar um diálogo
entre teoria e prática, com vistas a se constituir em um material formativo.
O início desta experiência se deu em setembro de 2010, com a chegada
da Mala Paralapracá, recheada de recursos teóricos, didáticos e lúdicos
e uma proposta de formação continuada para os profissionais da Edu-
cação Infantil, tendo como base seis eixos relevantes no currículo deste
segmento — Brincadeira, Artes, Música, História, Exploração de Mundo e
Organização do Ambiente —, em instituições de Educação Infantil (ei) de
cinco municípios de diferentes Estados do Nordeste brasileiro:
ƒ Caucaia · Ce;
ƒ Feira de Santana · Ba;
ƒ Jaboatão dos Guararapes · pe;
ƒ Teresina · pi;
ƒ Campina Grande · pB.
A formação continuada e o acompanhamento das experiências pela
instituição formadora, desenvolvida pela onG Avante — Educação e Mo-
bilização Social ao longo de dois anos, possibilitaram o registro e a siste-
matização das práticas pedagógicas e produções culturais que retratam
o caminho percorrido pelas instituições que participaram do projeto. As

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experiências registradas por esses profissionais na Pasta de Registros
Paralapracá foram transformadas nesta nova série de cadernos, possibili-
tando também, a partir de agora, a disseminação desses percursos.
Os caminhos percorridos e registrados revelaram as mudanças ocor-
ridas, os resultados e a reflexão sobre as práticas e as concepções de
infância e de Educação Infantil que foram sendo revisitadas, problema-
tizadas e reconstruídas no percurso. Os registros refletem um caminho
trilhado, não um ponto de chegada. Foi muito importante documentar
este processo para aqueles que dele participaram. Agora, ajuda outros
interlocutores a vislumbrar e a pensar sobre novas possibilidades e novos
percursos.
É possível que, ao degustar o material, se identifiquem distâncias entre
o dito e o vivido, o teorizado e a prática, o desejado e o realizado. No pro-
jeto, assumimos que essas distâncias são parte inerente ao processo e as
consideramos provocativas. Nós esperamos que elas fomentem um am-
biente reflexivo, um olhar criterioso e diverso, na busca de práticas mais
coerentes, conscientes e possíveis.
Mesmo apresentando os seis eixos de forma separada, acreditamos
que, na maior parte do tempo, eles se integram de alguma forma, e isso
está explicitado muitas vezes nos registros. Este é um alerta necessário
para manter os profissionais atentos para o enfoque integrado que o cur-
rículo da Educação Infantil deve ter como característica.
Esperamos que, acima de tudo, esta publicação possa apontar cami-
nhos possíveis para outros educadores e que estes possam se inspirar
e conhecer um pouco da trajetória daqueles que escreveram a história
do paralapraCá nessa primeira edição. Ela expressa os valores e o re-
conhecimento do Instituto C&a e da Avante, como instituição formadora,
de todo esse processo de reflexão e transformação pelas quais diversas
redes municipais e seus profissionais passaram no decorrer do projeto.

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Assim se explora
o mundo
…a importância de uma coisa não
se mede com fita métrica, nem com
balanças, nem barômetros, etc (…)
a importância de uma coisa há que
ser medida pelo encantamento
que a coisa produza em nós.
manoel de Barros
As crianças, desde que nascem, buscam apro- A postura dos professores é muito impor-
priar-se do mundo. Os primeiros anos de vida tante para a aprendizagem das crianças. Eles
são um período de muitas descobertas. Por “devem agir como ponte entre o que a socieda-
isso, quando o ambiente se revela favorável, a de entende como verdadeiro e valioso e o que
curiosidade é aguçada. Surge, então, a “fase as crianças estão percebendo em seu ambien-
dos porquês” — por volta dos 2 anos —, reve- te.” (HARLAN & RIVKIN, 2002, p. 35). Assim,
lando a curiosidade infantil e sua necessidade cabe a eles fazer alguns questionamentos e
de compreender a realidade do seu entorno. levantar dúvidas que provoquem as crianças
É a partir da interação com o meio natural a observar e compreender o entorno de forma
e social no qual vivem que elas começam a mais intencional para possibilitar o estabeleci-
compreender como este mundo funciona. As- mento de múltiplas relações.
sim, elas irão interagir com o mundo usando Não podemos esquecer que as diferentes
diferentes linguagens (oral, escrita, plástica, manifestações culturais, incluindo as de cará-
corporal, musical, matemática) como instru- ter local, fazem parte da vida da criança e são
mentos básicos de exploração e comunicação. essenciais para a construção da sua identidade.
Por isso, as experiências ou projetos das insti- Por isso, devem ser valorizadas, reconhecidas e
tuições de Educação Infantil devem instigá-las e incluídas no percurso investigativo da criança.
oferecer-lhes situações para que façam uso destas Isso está assegurado nas Diretrizes Cur-
linguagens no processo de descoberta e de inte- riculares Nacionais (2009), no artigo 3º, que
ração com o meio natural e o social. O ideal é descreve o currículo como “um conjunto de
que os conhecimentos oriundos desses meios práticas que buscam articular as experiências
sejam abordados de maneira integrada, respei- e os saberes das crianças com os conhecimen-
tando, contudo, as especificidades dos diferentes tos que fazem parte do patrimônio cultural, ar-
campos. Uma dica é organizar as experiências e tístico, ambiental, científico e tecnológico, de
os projetos das instituições de Educação Infantil, modo a promover o desenvolvimento integral
considerando as indagações das próprias crian- de crianças de 0 a 5 anos de idade”.
ças. O frescor do olhar delas leva à produção de O depoimento da coordenadora Sara C. de
questões que são preciosas fontes de pesquisa. Alexandre Silva, da Escola Maternal Meni-
Assim, é importante ajudá-las a elaborar no de Jesus, em Feira de Santana · BA, mostra
perguntas acerca do mundo, observar diferen- como o Projeto Paralapracá ajudou as pro-
tes ambientes, formular hipóteses, buscar expli- fessoras desta escola a incentivar a postura in-
cações e utilizar diferentes fontes para acessar vestigativa nas crianças:
informações. Estes procedimentos valorizam
as questões formuladas pelas crianças e as Vejo que há uma sensibilidade das pro-
orientam na busca de respostas, fazendo com fessoras para ouvir as crianças, valorizar
que elas expressem suas opiniões, interpreta- seus questionamentos e constatações.
ções e concepções e confrontem seu modo de As próprias professoras já estão ques-
pensar com os de outras crianças e adultos. tionando a relevância do que estão fa-
Desta forma, contribuem para que construam zendo. Os conteúdos são os mesmos do
conhecimentos cada vez mais elaborados e es- ano passado, mas a sensibilidade e pos-
tabeleçam relações com seus contextos. tura das professoras estão mudando.

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Dialogando
com as práticas

Por aí afora
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um
conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis
diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas.
rCnei, 1998, p. 163

As crianças procuram dar um significado ao mundo


em que vivem, devido, em parte, ao conhecimento
do mundo natural e social que emerge de vivências
em diferentes ambientes. Neste sentido, elas devem
explorar diversos espaços, inclusive externos à esco-
la. Foi o que aconteceu na Creche Vovó Adalgisa, em
Campina Grande · pB. A professora Eliane Mota nos re-
lata um passeio à Granja do Vovô Pedro:

O passeio à Granja do Vovô Pedro foi realizado com o


objetivo de proporcionar às nossas crianças um mo-
mento de lazer, aprendizado, descobertas e de ex-
ploração de um mundo até então por elas desconhe-
cido, um luxo dentro de uma realidade (comunidade)
que tinha como referência de existência o ‘lixão’, lu-
gar para onde eram levados os resíduos sólidos de
toda a cidade.
eliane mota, Campina Grande · pB

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aCervo paralapraCá

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Possibilitar às crianças explorar vários espaços é sem-
pre uma situação significativa de aprendizagem. Es-
pecialmente para as muito pequenas, que constroem
conhecimentos diversificados sobre o meio social e
natural à medida que conhecem outras realidades di-
ferentes da sua. Nesta perspectiva, quanto menor a
criança, maior a relação entre suas representações e
noções sobre o mundo e os objetos concretos da reali-
dade conhecida.

Nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo per-


mite à criança construir conhecimentos práticos sobre
seu entorno, relacionados à sua capacidade de perceber
a existência de objetos, seres, formas, cores, sons, odores,
de movimentar-se nos espaços e de manipular os objetos.
rCnei, 1998, p. 169

A professora Eliane compartilhou como a experiên-


cia de exploração de mundo surpreendeu a todos:

Tínhamos planejado um número ‘x’ de atividades que


realizaríamos lá. No entanto, ficamos em estado de êxta-
se ao adentrar a propriedade do Sr. Pedro, pois percebe-
mos que ali iria acontecer algo que não estava no script.
O lugar era lindo e cheio de possibilidades de uso e que
o próprio local oferecia as ferramentas de trabalho
eliane mota, Campina Grande · pB

O Caderno de Orientação Assim se explora o mundo


comenta que, ao planejar, “é importante estar atento
ao ambiente e materiais que deverão ser explorados
[…]”. Nesta linha de pensamento, é interessante que a
professora se informe sobre o local e, na medida do
possível, faça uma visita antes de levar as crianças, a
fim de possibilitar o máximo possível de experiências,
além de se certificar que há segurança para as crian-
ças. Além disso, quando a professora conhece previa-
mente os espaços a serem explorados, pode refletir
sobre a qualidade das experiências que elas vivencia-
rão nesse espaço.
No caso dos bebês, o cuidado deve ser ainda maior.
O capítulo “Os bebês e a experiência com e no mundo”
do Caderno de Orientação Assim se explora o mundo
oferece informações e dicas importantes.

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No vídeo deste mesmo eixo, a professora Thereza
Marcílio destaca que “uma criança chega ao mundo e
quer conhecer esse mundo”. É primordial que o pro-
fessor crie situações que a possibilitem agir sobre os
elementos naturais e culturais e esteja atento às suas
reações. Veja como a professora Eliane comenta a satis-
fação das crianças agindo e interagindo com os objetos,
plantas e aves, demonstrando a importância do contato
com a natureza e do convívio com pequenos animais:

As crianças se divertiram, correram e brincaram. Pude-


ram desfrutar de um ambiente que oferece qualidade
de vida. Era visível sua satisfação ao conseguirem co-
lher frutos das árvores, correr tentando pegar as aves,
chamando-as para brincar. Outras queriam subir nas
árvores, sem se incomodar com os desafios inerentes
à situação (altura, espessura). No parque, as crianças
deleitavam-se, sorriam, era pura satisfação. Tentavam
repetir o canto dos pássaros. Aquele lugar as deixava
com uma sensação de liberdade, de empoderamento,
de sonhos realizados.
eliane mota, Campina Grande · pB

É importante lembrar que as diferentes experiências


proporcionadas às crianças, ao mesmo tempo que
estimulam e respondem à curiosidade delas, possibi-
litam também a ampliação do seu olhar, a elaboração
de novas conexões e o surgimento de mais questões,
resultando em aprendizagem significativa.
Outra experiência de fomento à curiosidade sobre
o mundo social e natural aconteceu na Escola Nedi Tia
Romélia, em Caucaia · Ce. A professora Francisca Maria
C. Ramos relata as observações feitas pelas crianças:

Na criação da horta para o cultivo de hortaliças a se-


rem utilizadas no próprio lanche das crianças e de
plantas medicinais, as crianças puderam observar o
desenvolvimento das plantas. Observavam que, quan-
do passávamos um dia sem regar, às vezes até pela
falta d’água na escola, as plantas secavam e suas fo-
lhas caíam com facilidade e, ao regar, percebiam logo
que as plantas se tornavam novamente viçosas, ‘vivas’,
como diziam as crianças.
FranCisCa maria C. ramos, CauCaia · Ce

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A observação, além de ser qualidade inerente ao ser
humano, tem grande importância na organização do
pensamento e nos mecanismos de atuação e de con-
duta mais elementares. Por isso, as instituições de
Educação Infantil devem fomentar a participação das
crianças em atividades espontâneas ou sistemáticas
que as possibilitem se voltar a elementos do ambiente
de forma mais intencional.

Mediante a observação, introduzimos a realidade em nos-


so interior, apropriando-nos dela. Ela propicia o desenvol-
vimento de uma série de capacidades do tipo sensorial:
táteis, olfativas, gustativas, sonoras, visuais e sinestésicas.
Influi na capacidade de precisão acerca das noções ine-
rentes a objetos, seres acontecimentos, realidades e fatos,
na assimilação de percepções multissensoriais, imagens,
lembranças e situações, e no estabelecimento de emoções,
sentimentos.
arriBas, 2004, p. 119

A professora Francisca destaca o aprendizado das


crianças ao participarem da atividade, sempre ressal-
tando a observação:

Essa atividade foi importante para o aprendizado das


crianças, pois elas puderam observar dia após dia o
desenvolvimento da pequena horta, desde plantar-
mos, regarmos e as plantas crescerem até serem colhi-
das para utilização na merenda da escola.
FranCisCa maria C. ramos, CauCaia · Ce

Por meio desta observação, as crianças podem captar


muitas das qualidades inerentes aos objetos e seres
existentes no ambiente. Ao fazer o seu planejamen-
to, o professor deve sempre partir da curiosidade da
criança e se inserir como um participante interessado
e curioso que pode trazer novas perguntas e sugerir
novas observações, ajudando-as a registrar e organi-
zar o processo.
Depois de indagar e registrar o que as crianças já sa-
bem e o que gostariam de saber, o professor pode fazer
perguntas e estimular questionamentos que possibili-
tem observar de maneira sistemática os elementos e as
relações que se estabelecem em seu ambiente.

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aCervo paralapraCá

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Outro aspecto importante que deve ser conside-
rado na exploração do mundo pela criança é a inser-
ção da comunidade. Trazer os adultos como referên-
cia para as experiências reforça os laços comunitários
e a percepção de que o que elas irão vivenciar já foi
experimentado por outros. A ideia de passar dos mais
velhos para os mais novos é uma prática que valoriza o
conjunto dos saberes das comunidades.
Veja como a professora Francisca destaca a partici-
pação de adultos nas atividades com as crianças:

Tivemos a participação da comunidade, que se deu


por causa do convite que fizemos aos pais para se
envolverem nesse novo eixo. Foi importante no início,
quando avós, mães e pais contribuíram doando mudas
e ajudando na plantação da horta.

A observação e a experimentação
são processos menos complexos A participação das famílias em experi-
da atividade científica e podem ser ências como esta pode ser ampliada, por
encontrados no comportamento in- exemplo, através de entrevistas com os
fantil. À medida que o pensamento pais para obter informações sobre o pro-
das crianças se torna mais abstrato, cesso de crescimento de hortaliças e le-
elas são capazes de utilizar proces- gumes, preparação do solo e condições
sos cada vez mais sofisticados nas adequadas para germinação e crescimen-
atividades científicas, como: classi- to das plantas.
ficar, medir, comunicar, prever, pla-
nejar investigações, interpretar e elaborar explicações
a partir dos dados. Por isso, é importante o professor
planejar experiências que favoreçam as crianças exer-
citarem cada uma destas observações.
Buscar respostas, informações e se familiarizar com
questões relativas ao mundo físico e social são ações
que mobilizam professores e crianças. No caso do pro-
fessor, é importante ressaltar a necessidade da am-
pliação de seu conhecimento científico previamente
ao desenvolvimento das ações pedagógicas planeja-
das. Mas ele também pode descobrir e ampliar seus
conhecimentos na realização dos projetos ou investi-
gações, juntamente com as crianças e não se angus-
tiar por não saber todas as respostas.
O professor precisa também estar atento à vida so-
cial do entorno da instituição de Educação Infantil, pois
ela apresenta práticas sociais do cotidiano das crian-

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ças. E, por meio dessas práticas, as
crianças constroem conhecimento O Estação Paralapracá: menu de paisagens
sobre a vida social no seu entorno. culturais é uma publicação do projeto que
Por isso, o olhar do professor deve contém uma coletânea de diferentes ma-
ser sensível e investigador da gran- nifestações culturais das comunidades/
de diversidade de costumes, hábi- municípios que participaram da primei-
tos e expressões culturais presen- ra edição do projeto. Vale a pena conferir
tes no entorno das crianças. alguns saberes produzidos por essas comu-
Nas formações do paralapraCá, nidades. Os profissionais das instituições
a postura investigativa dos professo- participantes do projeto compreenderam
res foi foco de discussões frequentes a importância da inclusão desses saberes
e instigou a professora Andréa Men- nas práticas pedagógicas e, assim, certa-
des e a supervisora Maria Dulcéia, mente contribuíram para a construção da
da Escola Municipal Nicea Cahú, identidade das crianças e sua possibilida-
de Jaboatão dos Guararapes · pe, a de de interagir e valorizar diversos tipos
atentar para hábitos que, por serem de conhecimento.
tão corriqueiros, se tornaram “invisí-
veis” no dia a dia da comunidade:
A Festa de Nossa Senhora dos Prazeres, co-
Numa manhã do mês de fevereiro nhecida como Festa da Pitomba, aconte-
de 2011, ao chegarmos à escola, ce logo após a Semana Santa, época da sa-
percebemos que não havia ener- fra desta fruta tropical muito conhecida na
gia. Resolvemos fazer o planeja- região de Jaboatão dos Guararapes. Na oca-
mento de aula no pátio da escola sião acontecem comemorações religiosas
e, de repente, presenciamos uma (missas diárias, novenas, batizados, casa-
cena rotineira para crianças e ado- mentos e procissão com a imagem da santa,
lescentes da comunidade, mas não acompanhada por milhares de fiéis) e feste-
nos dávamos conta. E faz aproxi- jos populares (feiras e oficinas de artesana-
madamente 16 anos que trabalha- to, parque de diversões, bandas de músicas,
mos nesta comunidade. Foi o Pro- cantadores, maracatu, danças folclóricas e
jeto paralapraCá que nos aguçou comidas regionais). Em 2011 foi 354ª edição
e despertou a curiosidade de in- da festa, que teve como tema “A Cultura e
vestigarmos a cultura comunitária. a Arte de Todos Nós”.
Crianças e adolescentes chega-
ram com galeias (espécie de caixo-
te normalmente usado para armazenar frutas e verdu-
ras) de mangas e pitombas em uma casa em frente à
escola. Fomos até lá e conversamos com a dona da
casa, conhecida como Dida. Ela nos relatou a impor-
tância desta colheita como ajuda para a subsistência
da família. Disse também que a colheita da pitomba
acontece só neste período que antecede as festivida-
des de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira do
bairro. A festa é conhecida como Festa da Pitomba e,

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por tradição, quem sobe o morro dos Guararapes des-
ce com pelo menos um cacho do fruto de sabor entre
o doce e o azedo.
Depois decidimos acompanhar as crianças e adoles-
centes para vermos como acontecia o processo da co-
lheita da pitomba. Foi interessante perceber que é um
trabalho que eles fazem com prazer e alegria. Alguns
sobem no pé para colher o fruto, enquanto outros aguar-
dam embaixo com a galeia. Presenciamos também que
as crianças menores, entre 2 e 6 anos, ficam embaixo da
árvore esperando para saborear o fruto ali mesmo. De-
pois da galeia cheia, levam à casa da Dida, que sai de
casa às 3h30 para vender no Mercado de Prazeres.
andréa mendes e maria dulCéia, JaBoatão dos Guararapes · pe

A grande relevância da festa não é


somente para a comunidade do en- Conheça outras festividades típicas dos
torno onde acontecem os festejos. municípios que participaram da primei-
Mas as professoras Andréa e Maria ra edição do Projeto Paralapracá nas
Dulcéia, que certamente já conhe- Paisagens Festivas da publicação Estação
cem o evento, apuraram o olhar Paralapracá: menu de paisagens culturais.
para outro aspecto, até então des-
conhecido por elas — a colheita da pitomba — e que
envolve as crianças, ocupa seu tempo e, talvez, tenha
mais significado para elas porque contribui para o sus-
tento de suas famílias.
Dessa forma, pensando na Festa de Nossa Senhora
dos Prazeres como conteúdo a ser explorado no cur-
rículo da Educação Infantil, pelo menos dois grandes
aspectos poderiam ser investigados. Um deles é a fes-
ta em si, como uma manifestação cultural que diz mui-
to das tradições e costumes de uma dada comunidade.
E, por isso, pode ser disparadora para construção de
conhecimentos pelas crianças, que, conhecendo sua
história e participando dos festejos, aprendem mais
sobre a história de seu grupo social, entendendo que
hábitos e costumes não são os mesmos para todos.
Uma investigação sobre as mudanças ocorridas
na Festa da Pitomba ao longo de sua existência pode
contribuir para as crianças estabelecerem relações en-
tre o modo de ser, viver e trabalhar de gerações ante-
riores que habitavam na sua comunidade.
Outra possibilidade de investigação poderia ser o
trabalho realizado pelas famílias e crianças (colheita e

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venda da pitomba) para o sustento pessoal. Este as-
pecto também pode instigar as crianças a investigar
sobre responsabilidades infantis em diferentes luga-
res e épocas e estabelecer comparação com a sua
própria realidade. Isto contribui para as crianças com-
preenderem aspectos sociais do mundo que as cerca.
O relato das professoras nos provoca a pensar: será
que conhecemos a realidade de nossas crianças? O
que elas desejam, podem e precisam aprender? Quais
situações do cotidiano das crianças podem mobilizá-
-las para novas descobertas?
As feiras também oferecem um mar de possibilida-
des para exploração com crianças. Em Campina Gran-
de · pB, as professoras Eliane Paiva Farias, Cláudia Maria
Ferreira de Lima e Solange da Silva Galdino, da Creche
Municipal Severino Cabral, desenvolveram um projeto
sobre a Feira Central de Campina Grande. Elas relatam:

Ao abordarmos o eixo Assim se explora o mundo do


Projeto paralapraCá, conversamos com a coordena-
dora e decidimos estudar a Feira Central de Campina
Grande, com as turmas de 4 e 5 anos.
Iniciamos o projeto com a música Feira de mangaio,
de Sivuca. Apresentamos o texto em cartaz e o Cd da
música, falando um pouco sobre o autor. A letra da
música traz muitas informações e possibilita o levan-
tamento de questões para saber o que as crianças co-
nheciam sobre a feira. Isto resultou em uma atividade
bastante proveitosa. Algumas falaram que suas mães
iam semanalmente à feira central e outras conheciam
alguns objetos citados na música, como bolo de milho,
cocada, rapadura, graviola e fumo de rolo, citado por
três alunos que viam os pais fazendo cigarro de fumo
ou a avó preparando o cachimbo. Outros perguntavam
o que era cangalha, candeeiro, entre outros objetos.
Na sequência, foram apresentados vídeos e fotos
sobre a história da Feira de Campina Grande. Nós per-
cebemos que não adiantaria focar na localização, visto
que as crianças ainda não têm conhecimento das ruas
centrais da cidade. Então, focamos nos tropeiros da
Borborema, que traziam os seus produtos para venda
e troca e, assim, iniciaram a feira de Campina Grande.
eliane paiva Farias, Cláudia maria Ferreira de lima e
solanGe da silva Galdino, Campina Grande · pB

18
aCervo paralapraCá

19
As discussões podem ser momentos privilegiados de
aprendizagens e devem ter objetivos diferentes, con-
forme o momento que ocorrem no processo de inves-
tigação. Neste caso, aconteceu na introdução do estu-
do pretendido:

As discussões introdutórias estimulam o interesse por


novo assunto quando as crianças são estimuladas a re-
cordar eventos que tenham descoberto pessoalmente
e trazem o que já sabem sobre o tópico. Nesse momen-
to, são observadas as teorias subjetivas das crianças, sem
qualquer desafio a falhas evidentes. Elas são estimuladas
a fazer suas próprias perguntas sobre o que gostariam de
descobrir nas atividades”.
Harlan & rivKin, 2002, p. 50

Assim como a Festa da Pitomba e a Feira de Cam-


pina Grande, outras paisagens da comunidade ofe-
recem muitas possibilidades para investigação, tanto
de caráter objetivo — descrição de fatos concretos,
como as relações de produção da sociedade e sua
estrutura — quanto de caráter subjetivo: crenças e
valores.
A responsabilidade de fazer o “recorte” é da equi-
pe pedagógica (coordenadora, professora e, em al-
guns casos, a direção).
Identificar o que as crianças podem, devem e que-
rem saber é uma tarefa que exige do professor co-
nhecimento sobre os interesses das crianças, seus
conhecimentos prévios e as possibilidades de apren-
dizagem que o tema oferece no contexto que o gru-
po (crianças e professor) se encontra. No caso da vi-
sita à feira, as professoras elegeram “os tropeiros da
Borborema”:

No dia seguinte da visita à feira, retomamos a discus-


são sobre o passeio e realizamos a produção de tex-
to coletivo verbal e não verbal sobre o que mais havia
chamado a atenção das crianças. Foram tantos dese-
nhos de animais, que montamos um mural só deles.
Elas conseguiram reproduzir com muito entusiasmo
tudo o que viram e manusearam no local.
eliane paiva Farias, Cláudia maria Ferreira de lima e
solanGe da silva Galdino, Campina Grande · pB

20
Outros pontos a serem destacados no relato das pro-
fessoras foram o uso de texto coletivo verbal e não
verbal para fazer o registro e o momento em que ele
foi construído no decorrer do processo. Não custa
lembrar que o professor deve propiciar o uso das di-
ferentes linguagens (textos coletivos ou individuais,
murais ilustrados, desenhos, maquetes, etc.) e que é
importante planejar situações para as crianças socia-
lizarem os resultados de suas pesquisas com colegas
de outros grupos da instituição.

aCervo paralapraCá

21
aCervo paralapraCá

22
Práticas
comentadas

Os “porquês” infantis
SANDRA GONÇALVES DE MATOS PROfESSORA
esCola muniCipal Judite alenCar marinHo, Crianças de 5
anos da zona urBana, Feira de santana · Ba

Meu pai, quem pintou a nuvem?


Se minha mãe é sua esposa… quem é sua mulher?
Tá vendo… meu Toddynho é quadrado.
Minha cabeça é um círculo.
A sua cabeça é um círculo também!
leônidas iBraHim (3 anos)

Crianças e suas perguntas cap- 1 A atuação do professor deve incenti-


ciosas… Particularmente, nunca pen- var as crianças a fazer descobertas sobre o
sei que este seria o objeto de estu- mundo físico e social. Segundo Harlan &
do de um dos nossos eixos. Rivkin (2002), a aprendizagem através da
Enquanto estas perguntas es- descoberta das ciências está associada às
tão no âmbito familiar ‘é tudo lindo perguntas que admitem diferentes respos-
e engraçadinho’. Mas, quando elas tas. Saiba mais sobre estas questões lendo
passam a ser objeto de investiga- o caderno Assim se explora o mundo, tema
ção, entra a necessidade de estu- “O que o professor precisa saber e fazer” e
dos e trocas. 1 o livro Ciências na educação infantil: uma
Detonando o eixo Assim se explo- abordagem integrada (2002).
ra o mundo, em minha sala de aula,

23
optei por usar a música Oito anos,
de Adriana Calcanhoto. Música usa- 2 A curiosidade das crianças se manifes-
da no último encontro de formação ta, também, por meio das brincadeiras,
de coordenadores. A princípio, con- das experiências e, principalmente, das
versei com as crianças que iríamos perguntas intermináveis. As perguntas,
assistir a um vídeo com uma música muitas vezes, representam um complexo
diferente, que não era uma daquelas exercício de elaboração de pensamentos e
cantigas de roda que costumamos sentimentos e, por vezes, surpreendem os
ouvir. Elas aceitaram e ficaram curio- que estão em seu entorno. Segundo An-
sas. Fomos para a sala de leitura e tonini (2008, p. 30), o professor é peça in-
na lousa assistimos a um dos víde- dispensável da construção do conheci-
os disponibilizados no YouTube. As mento infantil. É ele que, além de deixar
crianças gostaram, principalmente a criança livre, observa e intervém, pro-
porque tem imagens curiosas rela- pondo-lhe questões. Começar a fazer ci-
cionadas às perguntas feitas. ência é, pois, começar a perguntar.
Depois, retornamos à sala e vimos
detalhadamente a letra da música exposta em cartaz. Fi-
zemos a leitura coletiva para aproximação de algumas
palavras e depois a leitura mais analítica, na qual tenta-
mos responder às perguntas feitas na música. Foi muito
interessante! As crianças responderam coisas que nem
passavam pela minha cabeça de adulta engessada pelo
cotidiano. Outras respostas eram tão ingênuas que con-
seguiram me comover2. Eis alguns exemplos:
ƒ Por que a gente morre? Porque a gente fica perto
do assaltante! Porque bebe veneno!
ƒ Porque a pessoa fuma! Porque usa droga!
ƒ De onde os filhos saem? Da barriga da mãe!
ƒ Por que a gente espirra? Porque tá gripado!
ƒ Por que sai aguinha do nariz? Porque a gente toma
gelado!
ƒ Do que é feita a nuvem? De algodão-doce!
ƒ Do que é feita a neve? De pão e gelo!
Confesso que não esperava tanto! Ou tão pouco!
Curiosa, também, foi a atitude das pessoas (demais fun-
cionários da escola). Eu havia pedido a uma delas para fa-
zer o cartaz com a letra da música. Ela disse no dia que me
entregou o cartaz que, enquanto estava escrevendo, se
perguntava: ‘O que Sandra quer com isso? Tá doida… uma
música tão grande e uma letra sem sentido nenhum…’
Essa pessoa foi a primeira a apreciar o painel com as
respostas das crianças que afixei no pátio da escola e ad-
mitiu: ‘Eles são demais. Nenhuma dessas respostas havia
me passado pela cabeça!’.

24
Enfim, este foi o primeiro passo
para abordar o eixo Assim se ex- 3 Ótimo pensar assim! Realmente o pro-
plora o mundo, que eu particular- fessor deve alimentar a curiosidade que as
mente prefiro chamar de eixo da crianças revelam desde muito pequenas.
Curiosidade 3! É um desafio duplo Por isso, uma parte importante de suas
para nós, professores 4, historica- tarefas é fomentar a elaboração e lançar
mente habituados a dar respostas perguntas, incentivando-as a elaborar, so-
prontas aos alunos, ludicamente cializar respostas, ainda que provisórias,
habituados a conformar-se com como é próprio das ciências. O papel da
respostas simples e evasivas! escola é manter a curiosidade viva e ex-
O próximo passo é discutir a pandir a possibilidade de busca de respos-
viabilidade de cada uma das res- tas e formulação de novas perguntas.
postas dadas pelos alunos, fazer
pequenas pesquisas e entrevistas
com familiares e corpo docente. 4 Para Harlan & Rivkin (2002, p.35),
Quem sabe, ao final, consigamos “embora muitos professores sintam-se
fazer um pequeno artigo científico desconfortáveis quanto à sua compreen-
sobre as nossas descobertas?! 5 são de conceitos científicos, muitos des-
tes conceitos são possíveis de uma des-
Durante o planejamento, você se coberta conjunta pelo professor e pelas
questiona sobre do que é mesmo crianças. Trabalhar com materiais reais,
que as crianças precisam, desejam e reforçar os conceitos de várias e diferen-
podem saber sobre o mundo? Estas tes maneiras, com meios também diver-
perguntas devem ser respondidas sos, e estar aberto a surpresas, tudo isso
por meio de estudos e da observa- contribui para o desenvolvimento de
ção das próprias crianças. As per- conceitos com participação de todos”.
guntas capciosas que fazem, espe-
cialmente aquelas referentes aos
conhecimentos e conceitos cientí- 5 Esta pode ser excelente possibilidade
ficos, podem desestabilizar profes- para as crianças construírem conheci-
sores, porque eles próprios ainda mentos mais elaborados, pois possibilita-
apresentam lacunas nesta área de rá que elas formulem e respondam suas
conhecimento. Nesta situação, é im- próprias questões, busquem outras res-
portante ressaltar a necessidade da postas e as comparem com as suas. Além
ampliação de conhecimento científi- de formularem explicações, expressarem
co por parte do professor. Por outro suas opiniões, interpretações e concep-
lado, o professor pode descobrir e ções de mundo e sistematizarem e regis-
ampliar seus conhecimentos na rea- trarem suas aprendizagens.
lização do projeto, juntamente com
as crianças, e não se angustiar por não saber todas as
respostas. E, nesta perspectiva, a pedagogia de projetos
revela-se como importante forma de organização das
atividades pedagógicas, potencializando-as como situa-
ção de aprendizagens para crianças e professores.

25
Uma ideia puxa a outra
DáViLA MARTA QUEiROz GESTORA
LUciMARy DO NASciMENTO cOORDENADORA PEDAGóGicA
LizETE ALExANDRE E JOSELiNE BiSPO PROfESSORAS
CreCHe Galdina BarBosa silveira, Crianças de 4 e 5 anos
da zona urBana, Campina Grande · pB

Após o encontro de formação do


paralapraCá, no qual foi discutido 6 Conheça outras paisagens gastronômi-
e sugerido o estudo de paisagens cas no Estação Paralapracá: menu de pai-
pedagógicas das crianças de 4 e 5 sagens culturais.
anos da Creche Galdina Barbosa Sil-
veira, desenvolvemos um projeto en-
volvendo a paisagem gastronômica6 7 A estratégia para escolha da paisagem
que se destaca no bairro dos Cutiés, foi muito apropriada, porque possibilitou
onde a instituição está situada. as crianças observarem questões do seu
Objetivando ampliar o repertó- cotidiano que lhes despertavam interes-
rio das crianças no que diz respeito se. Também provocou uma “imersão” das
às praticas culinárias da comunida- crianças no mundo social e cultural que
de, identificamos que a paisagem as cerca. Atividades desta natureza são
gastronômica presente que chama- importantes também, porque contribuem
va atenção das crianças 7 eram os para as crianças construírem sua identi-
alimentos derivados da mandioca, dade à medida que se relacionam com os
pois uma senhora costumeiramen- adultos e com as outras crianças que par-
te faz e vende tapiocas diariamente ticipam da comunidade educativa.
nas ruas do bairro.
Discutimos e refletimos com as crianças sobre a im-
portância da mandioca e seus derivados. Apresenta-
mos a elas músicas, lendas e atividades diversas que
envolviam a temática. Foi então que decidimos fazer
uma visita a uma plantação de mandioca no povoado
de Jenipapo, onde as crianças tiveram a oportunida-
de de conhecer a plantação de mandioca e arrancar a
raiz, reconhecendo-a como mandioca doce (mais co-
nhecida como macaxeira). Levamos a mandioca para a
creche, cozinhamos e comemos.
Posteriormente, visitamos uma casa de farinha (fá-
brica de farinha) no mesmo povoado, e as crianças ob-
servaram e participaram da raspagem da mandioca.
Depois de raspada, a mandioca passou pela prensa
para tirar um líquido chamado manipueira, foi penei-
rada e torrada no forno. Então, foi só saborear a fari-

26
nha feita na hora! Uma experiência
inesquecível 8. 8 O Referencial Curricular Nacional para
Além disso, levamos a massa de a Educação Infantil (1998) destaca a im-
mandioca para a creche e extraí- portância de o professor eleger temas fo-
mos a goma. Em seguida convida- mentadores do conhecimento de hábitos e
mos uma senhora do bairro (que, por costumes socioculturais diversos e sua ar-
coincidência, é mãe de uma criança ticulação com hábitos e costumes que as
da instituição) para fazer a tapioca crianças conhecem. Por exemplo: tipos de
com a gente9. alimentação, vestimentas, músicas, ativi-
As crianças ajudaram a peneirar dades de trabalho e lazer, etc. Isto ajuda as
a goma, observaram a sua trans- crianças a aprender e estabelecer relações
formação em tapioca, no fogo, pu- entre o seu cotidiano e as vivências socio-
seram margarina nas tapiocas e culturais, históricas e geográficas de outras
degustaram-nas. Ainda utilizamos pessoas, grupos ou gerações. Assim, algu-
o restante da massa para fazer bei- mas questões poderiam ser levantadas com
ju com uma funcionária da creche as crianças: todas as pessoas sempre fize-
que convidamos para nos ajudar. ram farinha deste jeito?; existem outras
As crianças participaram, mais uma maneiras de produzir farinha?; será que
vez, com muito entusiasmo 10. existem fábricas de fazer farinha?.
Assistimos a um vídeo informa-
tivo sobre o cultivo da mandioca e
o processo de produção de farinha, 9 Toda comunidade constrói sabe-
tapioca e outros alimentos feitos à res que, assim como os saberes univer-
base dessa raiz. Ensaiamos a músi- sais, ajudam as crianças a compreender
ca Massa de mandioca, enfeitamos o mundo. O preparo dos alimentos é um
peneiras para apresentação da mú- dos saberes comunitários de grande va-
sica, realizamos diversas atividades lia e deve ser explorado na instituição de
pedagógicas acerca do tema, inclu- Educação Infantil como elemento que
sive um trabalho artístico utilizando pode estimular a curiosidade e o interes-
a folha da planta. se das crianças pelo mundo que a cerca.
Consideramos a experiência ri-
quíssima para as crianças, que parti-
ciparam de todas as atividades com 10 O professor deve procurar sempre en-
muito entusiasmo e muita atenção volver a comunidade escolar de alguma
em todas as etapas do processo, em forma nos projetos da instituição. Des-
que foram recriadas situações de ta forma, possibilita que outros adul-
aprendizagem e aulas prazerosas. tos, além das famílias, contribuam com
a aprendizagem das crianças e ampliem
O interesse e a curiosidade são os seus próprios conhecimentos, tanto so-
maiores mobilizadores das crianças. bre o mundo social e natural quanto so-
Sobre este assunto, consta nos Refe- bre o processo de aprendizagem infantil.
renciais Curriculares Nacionais que,
“movidas pelo interesse e pela curio-
sidade e confrontadas com as diver-

27
sas respostas oferecidas por adultos, por outras crian-
ças e/ou por fontes de informação, como livros, notícias
e reportagens de rádio e TV, etc., as crianças podem co-
nhecer o mundo por meio da atividade física, afetiva e
mental, construindo explicações subjetivas e individuais
para os diferentes fenômenos e acontecimentos”. (rC-
nei, 1998, p. 169).


ƒ antonini, Elizabeth. A natureza e a descoberta da realidade natural e
artificial. Cuiabá: Ed. uFmt, 2008. Faz.1.
ƒ arriBas, Tereza Alleixá e cols. Educação Infantil: desenvolvimento,
currículo e organização escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.
ƒ BarBosa, Maria C. Silveira e Horn, Maria da G. Souza. Projetos peda-
gógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008
ƒ Brasil. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, vol. 3. Brasília: meC/seF, 1998.
ƒ Harlan, Jean e riviKin, Mary S. Ciências em Educação Infantil: uma
abordagem integrada. Porto Alegre: Artmed, 2002.

28
aCervo paralapraCá

29
dados internaCionais de CataloGação na puBliCação (Cip)
(Câmara Brasileira do livro, sp, Brasil)

Assim se explora o mundo / Instituto C&a e Avan-


te : Educação e Mobilização Social ; textos de
Rita Margarete Santos ; ilustração de Santo
Design. — 1. ed. — Barueri, sp : Instituto C&a,
2013. — (Coleção paralapracá. Série cader-
nos de experiências)

isBn 978-85-64356-16-0

1. Educação infantil 2. Educadores - Forma-


ção 3. Projeto Paralapracá I. Instituto C&a e Avan-
te : Educação e Mobilização Social. II. Santos, Rita
Margarete . III. Santo Design. IV. Série.

13-00204 Cdd-372.21

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1. Educação infantil 372.21

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