O debate sobre a natureza do Estado é um debate sobre
a natureza da burocracia. As diferentes teorias acerca do
Estado assumem, ou implicam, diferentes posições sobre o papel das burocracias nas sociedades capitalistas. Os pluralistas tendem a ver as burocracias como agências que tanto perseguem seus próprios interesses quanto respondem a pressões colocadas sobre elas por indivíduos e grupos externos. Os elitistas afirmam que as burocracias são uma fonte de poder importante ao lado de outras organizações de grande porte. Os marxistas vêem as burocracias, principalmente, como um instrumento pelo qual os interesses das classes dominantes são mantidos, apesar das contribuições mais recentes à teoria marxista reconhecerem um espaço para uma ação independente da burocracia, mediante a noção de autonomia relativa. Os corporativistas sustentam que as burocracias desempenham um papel dominante no processo de elaboração de políticas nas sociedades capitalistas modernas. Entre estas visões há uma importante distinção entre os elitistas e os corporativistas que, em essência, retiram sua inspiração de Max Weber apontando a importância crescente das burocracias, e os marxistas, que afirmam que as burocracias são principalmente instrumentos de dominação de classe – controladas pela burguesia. A posição de Weber sobre a burocracia está associada a sua análise dos tipos de autoridade. Ele postula três tipos básicos de autoridade: carismática, tradicional e racional-legal. A autoridade carismática é baseada em “devoção a um traço excepcional e específico de santidade, heroísmo ou ao caráter exemplar de um indivíduo”. Ela é um fenômeno transitório associado a períodos de tumulto social. Evidência acerca da importância crescente da máquina administrativa - ou burocrática - em sociedades industrializadas Weber encara o desenvolvimento da administração burocrática como intimamente associado à evolução da sociedade industrializada moderna. A burocratização é vista como uma conseqüência do desenvolvimento de um sistema político e econômico complexo e também como um fenômeno que ajudou a tornar este desenvolvimento possível. Em sua visão, portanto, ela é um fenômeno que não pode deixar de ser levado em conta pelos expoentes das várias teorias acerca do governo representativo. Autores como Bottomore (1996) apontam que em relação aos servidores públicos é primariamente baseado na evidência de estudos que mostram que os candidatos aos postos mais altos dos serviços públicos são largamente oriundos da classe média alta e têm formações educacionais que sugerem que eles se identificam intimamente com os interesses burgueses. A evidência não é tão inequívoca quanto Bottomore parece concluir, sendo que o maior obstáculo a este tipo de argumento é o fato da origem social não necessariamente determinar a identificação, o interesse e os compromisso. Paralelamente à preocupação de se analisar o papel de funcionários do governo central, um interesse aí relacionado desenvolveu-se na análise da administração local de estados e cidades. A preocupação intensa com o poder da comunidade, que muito fez para avançar o estudo do poder em geral, teve que inevitavelmente envolver a consideração dos papéis dos burocratas locais. Pahl (1975) escreveu sobre estes burocratas como administradores urbanos com um certo grau de autonomia, mas trabalhando em cooperação estreita com elites do setor privado (proprietários e agentes imobiliários, arquitetos etc.). Outros vêem as elites locais como essencialmente subordinadas ao padrão de poder e de relações de classe do Estado nacional (Cockburn, 1977). Essa análise do impacto da burocracia sobre o poder político examinada concerne principalmente a teorização de relativamente alto nível sobre o impacto de organizações do setor público na sociedade capitalista. Existe a necessidade de se dar atenção mais cuidadosa às manifestações específicas do poder. Primeiramente, ela sugere a importância, conforme indicamos, de concentrar a discussão sobre o papel de diferentes grupos, incluindo profissões, dentro de organizações. Em segundo lugar, ela indica a necessidade de se examinar outro corpo teórico, concernindo burocracias, que analisa de forma mais detalhada a maneira como organizações funcionam.