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Na efetivação desta reconfiguração ela deve enfrentar com uma lacuna nos estudos
organizacionais focado na conduta ética dos grandes conglomerados, a exemplo da
Vale, a despeito da relevância da orientação ética na conformação da sua estrutura de
governança e do seu desempenho operacional e financeiro.
Isto porque a Vale dado a sua magnitude e influência é de fato não só um econômico,
mas também um agente político, já que tem influência no processo que define o desenho
das regras do jogo, que ela própria via jogar. A ação econômica e política é articulada a
partir de uma base ética que informa o conjunto de valores que se materializa nos
modelos mentais e nos frames que constituem sua cultura organizacional, a qual
estrutura simbolicamente a ação e decisão ao longo de toda a cadeia hierárquica,
envolvendo desde s seus executivos aos operados das suas instalações e, que no
conjunto forma sua cultura organizacional.
Este arcabouço simbólico vigente até recentemente ruiu e as evidências são que ele se
ancorou numa postura ética que, no rastro do insight de Milton Friedman(1984), assume
como principio moral maximizar a rentabilidade da empresa, tornando imperativo a
redução dos custos, com destaque para os associados aos investimentos ambientais
(aqueles dedicado a atividades preventivas dos danos da ação da empresa sobre
terceiros). A obsessão pelo lucro é magnificada pela sua capacidade de desenhar as
regras do jogo, em especial as que estabelece sua relação com o meio ambiente.
Esta situação atrai grandes acionistas que estabelecem uma estrutura de governança
ancorada no interesse dos acionistas, em contraste com a estrutura de governança
fundada nos concernidos. O resultado desta excepcionalidade organizacionais e
institucional foi uma, talvez a mais importante, das causas da naturalização que os
investimentos ambientais não contribuem para aumentar o lucro e, consequentemente o
valor da empresa e da riqueza dos detentores de suas ações.
Em função disso torna-se plausível uma restruturação organizacional que tenha como
referência não seus ativos materiais, os quais continuam intactos e, salvo engano,
utilizados de forma eficiente. A restruturação que se faz necessário é na esfera dos seus
ativos simbólicos, entre os quais destaco é ética conseqüencialista na versão de M
Friedman. . Esse giro deve ter como ponto de partida um deslocamento dos seus
fundamentos éticos do consequencialismo friedmaniano, o que é justificável pelos
prejuízos causados a Vale, ou seja, pelas evidências manifestas de perda de valor em
decorrência do Desastre de Brumadinho.
“ […] institutions are the rules of the game of a society and consist of
formal and informal constraints constructed to order interpersonal
relationships. The mental models are the internal representations that
individual cognitive systems create to interpret the environment and the
institutions are the external (to the mind) mechanisms individuals create to
structure and order the environment. Some types of mental models are
shared intersubjectively. Different individuals with similar models enables
them to better communicate and share their learning.”[DENZAU &
NORTH, 1999]
“We all perceive, frame, and interact with the world through a conceptual
scheme modified by a set of perspectives or mental models. Putting the
point metaphorically, we each run our “camera” of the world through
certain selective mechanisms: intentions, interests, desires, points of view,
or biases, all of which work as selective and restrictive filters. We each have
what I call our own metaphysical movies of the world, because they entail
projections of one’s perspective on the given data of
experience.[WERHANE, 1999)
Enfim, a consciência critica dos condicionantes ideológicos dos valores morais, dos
modelos mentais e dos frames que se articulam para formar a cultura organizacional da
Vale é, a condição sine qua non, para que inicie o processo de requalificação dos ativos
simbólicos, que combinados com seus ativos físicos poderão criar as condições
necessárias para que a Vale volte a ser um orgulho nacional.
BIBLIOGRAFIA
GENTNER, Dedre, and Whitley, Eric W.. 1997. “Mental Models of Population
Growth,” in Environment, Ethics, and Behavior, ed. Bazerman, Max, Messick, David,
Tenbrunsel, Ann, and Wade-Benzoni, Kimberley A.. San Francisco: New Lexington
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