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Ministério da Cultura, Fundação Bienal de São Paulo e Itaú apresentam

33 bienal/sp
afinidades afetivas

convite
à atenção
Um novo olhar
Criada em 1951, a Bienal Internacional de São Paulo cumpriu ao
longo de quase sete décadas um papel fundamental no panorama
da cultura e da arte no Brasil. Aproximou milhões de pessoas
da produção nacional e internacional de arte contemporânea,
conectando-as com um universo de acesso normalmente restrito.
Com isso, realizou exemplarmente o que quase sempre se busca
com a política cultural. Ampliou o acesso, compartilhou experiências
estimulantes, contribuiu para engrandecer o repertório de muitos,
movimentou o mundo da arte, despertou inquietações, provocou o
debate, abriu as portas da percepção.
Agora, em meio à segunda década do Século 21, ela se propõe a
um novo desafio. Romper com o modelo tradicional. Reinventar-se.
Ressignificar-se. Num contexto de aceleração e excesso, em que as
pessoas são inundadas diariamente por um turbilhão de imagens e
informações, a Bienal vai na contramão.
Seus milhares de visitantes terão, em 2018, uma experiência nova
e potencialmente transformadora. Os artistas passam a ter maior
protagonismo sobre o espaço e a experiência geral nesta edição da
Bienal, em que o curador compartilhará com sete artistas a tarefa
de conceber a exposição. O foco e a atenção são priorizados. Sem
dispersão. Sem fragmentação. Mas com a intensidade de sempre.
Reinventar-se é um ato de coragem. Abandonar conceitos
tradicionais que um dia foram revolucionários, navegar contra a
corrente, contrapor-se ao espírito do tempo para valorizar o território
da arte… Não é fácil. Mas é preciso ousar. Parabenizo a organização
da 33ª edição da Bienal por, mais uma vez, apostar na diferença.
“A arte é o exercício experimental da liberdade”, disse num artigo o
grande crítico Mário Pedrosa, cuja obra inspira o nome desta edição
da Bienal, Afinidades afetivas. É na arte que encontramos o espaço
pleno da liberdade, em que princípios constitucionais de caráter vital
se tornam objetivos, concretos, reais.
Atentar para a vida
Arte também é economia e desenvolvimento. Temos enfatizado muito
Nossa era sugere dispersão — profusão de informações, de dados,
esta dimensão no Ministério da Cultura. Não custa repetir, pois nem
de conteúdo insuscetível de apropriação. E o que prevalece é a
todos se dão conta disso. As atividades culturais e criativas são
sensação, a intuição, vestígios da emoção, e não dispomos de tempo
vocações deste país e contribuem muito para a geração de renda, de
para aprofundar o sentir.
emprego, de inclusão e de felicidade. Já são responsáveis por 2,64%
A celeridade dos processos de mudanças imprime um ritmo
do PIB brasileiro, por cerca de um milhão de empregos diretos, por
incompatível com a necessidade de revisitar a própria consciência.
200 mil empresas e instituições e pela geração de mais de R$ 10,5
Nunca foi tão atual o aforismo “conhece-te a ti mesmo”, pois aquele
bilhões em impostos diretos.
que não se conhece tem dificuldades para enfrentar as demais
Neste contexto, convido todos que participam desta edição da
esferas das relações: o contato com o próximo, com a natureza, com
Bienal a refletirem sobre uma mensagem simples: cultura gera futuro.
a transcendência.
Está na hora de dar à cultura o lugar que ela merece; de encarar a
A aproximação com a arte constitui uma oportunidade para esse
política cultural como política de promoção do desenvolvimento que
encontro consigo mesmo. As afinidades afetivas que surgem da
desejamos para a nossa sociedade.
proximidade com o fruto do talento criativo permitem abordar as
Um desenvolvimento que não apenas gera e distribui riqueza; mas
empatias, as predileções e até mesmo o desconforto gerado por
que também transforma, estimula, anima, reinventa e potencializa os
essas manifestações humanas.
indivíduos e o próprio país. Com sua dimensão simbólica e também
Depois dessa experiência, ninguém será o mesmo. À formação da
com sua dimensão econômica, é o que arte faz. E a Bienal de São
personalidade acrescenta-se uma carga nova, e talvez inesperada,
Paulo contribui muito para isso.
de como dosar o tempo e de perceber que o instante de atenção
A todos, uma excelente Bienal.
devotado ao trabalho do outro imprime solidez à edificação da própria
obra. A obra maior e irrecusável de construção de sua história.
Sérgio Sá Leitão
Ministro da Cultura
José Renato Nalini
Secretário da Educação do Estado de São Paulo
Acreditamos que o acesso à cultura é essencial para a construção A cultura e a educação formam um binômio indissociável. Essa ideia
da identidade de um país e um dos caminhos para a promoção da está presente na ação de diversas instituições que têm o campo da
cidadania. arte como foco de trabalho. Assim, reconhecer o caráter irredutível da
Por isso, apoiamos e incentivamos as mais diversas manifestações arte em relação a outras formas de conhecimento e de ação passa pela
artísticas e culturais e pelo quinto ano consecutivo patrocinamos observação de sua capacidade de operar transformações no cotidiano
a Bienal de São Paulo, a maior mostra de arte contemporânea do de pessoas e de coletividades, explicitando seu potencial educativo.
hemisfério sul. Com base nessa premissa, o Sesc e a Fundação Bienal de São Paulo
O mundo das pessoas muda com mais cultura. O mundo da cultura mantêm profícua parceria, fruto da compatibilidade de suas missões
muda com mais pessoas. para a difusão e o fomento à arte contemporânea. Nos últimos anos,
essa parceria vem sendo intensificada e ampliada por meio de ações
Itaú. Feito para você. formativas de curadoria, encontros abertos com o público, seminários
e coprodução de obras, culminando com a itinerância de trabalhos
selecionados por unidades da rede Sesc no interior e no litoral do estado
de São Paulo.
Dar prosseguimento a essa cooperação representa um valor
fundamental do trabalho do Sesc, ligado à continuidade de ações
cuja potencialidade seja explorada diversamente ao longo do tempo.
Apostando em modos de compreensão e de recortes da realidade que
tenham em perspectiva as noções dominantes do mundo, o objetivo
almejado é que os processos de trabalho possam constituir plataformas
permanentes de processos educativos.

Danilo Santos de Miranda


Diretor Regional do Sesc em São Paulo
Ao promover conexões, aproximamos elementos distantes,
possibilitando seu contato e, muitas vezes, criando algo transformador.
Estabelecer conexões que contribuam para o desenvolvimento do país
e da sociedade é o propósito do nosso trabalho. Pela infraestrutura da
ISA CTEEP trafegam 60% da energia consumida na Região Sudeste e
quase 100% da energia consumida no estado de São Paulo.
Nossas conexões vão além de interligar, por meio da energia,
diferentes pontos do Brasil: nosso objetivo é conectar pessoas. Pois
somos parte de um todo e por isso queremos deixar um legado para a
sociedade e para as futuras gerações.
Essa preocupação com o desenvolvimento humano se alinha à
parceria de sucesso com a Fundação Bienal para promover o acesso à
arte a um número cada vez maior de pessoas.
A empresa se orgulha de apoiar projetos educacionais dessa relevância,
que estimulam a reflexão e a evolução dos cidadãos.

ISA CTEEP
Apresentação11
Fundação Bienal de São Paulo

A atenção como prática curatorial23


Gabriel Pérez-Barreiro

O exercício da atenção31
Helena Freire Weffort e Lilian L’Abbate Kelian

O sentido em todos os sentidos55


Rafael Sánchez-Mateos Paniagua

Bibliografia selecionada69

Créditos77
13

Apresentação

Fundação Bienal
de São Paulo
15

Na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, a escultura Gato


persa (1949), de Luciano Minguzzi (1911 - 2004),
gerou uma interessante polêmica. Essa foi uma
das obras mais discutidas em uma mesa-redonda
promovida pelo Centro de Debates da Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, que contou com
a participação, entre outros, de Lourival Gomes
Machado (1917 - 1967), então diretor do Museu
de Arte Moderna de São Paulo e responsável pela
organização da Bienal. Nesse debate, uma plateia
composta majoritariamente de estudantes podia
esclarecer suas dúvidas sobre a exposição, conver-
sando com os especialistas ali presentes.
Conta-se que, depois de uma longa explanação
de Gomes Machado sobre a escultura de Minguzzi,
uma estudante continuava em dúvida quanto ao
título da obra: “Mas por que Gato persa, se não
vemos o gato?”. Outro estudante que se encontra-
va no debate disse ter circulado nove horas pela
Bienal para, no final, sair decepcionado. Particu-
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larmente impressionado com o quadro Namorados da na 2ª Bienal (1953), de modo organizado, com
no café (1950 - 1951), de Roger Chastel (1897 - 1981), a formação do primeiro grupo de “monitores” de
por mais que tenha tentado entender a pintura, ele uma Bienal.
não havia conseguido “ver” os dois namorados. Com o passar dos anos, essa atividade se con-
As dúvidas desses dois estudantes, sua urgência solidou como um importante espaço — mas não o
de conversar sobre o que tinham encontrado na único — de mediação entre as obras trazidas pela
exposição, estão na origem de um relacionamen- Bienal e seus diferentes públicos. Na 3ª Bienal
to específico entre a Bienal e seus públicos. O in- (1955), por exemplo, foi preparado um “Quadro
tervalo entre o que eles viram, o que não viram e esquemático do desenvolvimento da arte moder-
o que eles ouviram acerca das obras, apareceu ali, na”, disponível no espaço expositivo e impresso em
provavelmente pela primeira vez, como um espaço folhetos. Valendo-se de reproduções das obras e de
no qual a Bienal poderia atuar. conceitos-chave, com esse material pretendiam-se
De início, essa atuação foi considerada didática, resumir os movimentos artísticos a partir do im-
em consonância com o que se acreditava ser a fun- pressionismo, acreditando-se, com isso, facilitar o
ção da exposição: apresentar a história da arte mo- contato dos visitantes com as obras expostas.
derna aos visitantes. Assim surgiram, na primeira À medida em que a Bienal ganhava projeção,
Bienal, os chamados “passeios explicativos”, nos não apenas como referência do que se produzia
quais os “explicadores” conduziam grupos pelas em arte no mundo, mas também como um evento
salas dos países participantes, comentando in loco de caráter educacional, percebeu-se a importância
as obras expostas. Encerrada a mostra, a iniciativa de desenvolver ações específicas para professores
dos passeios resultou bem-sucedida, e foi repeti- e estudantes. Ao longo dos anos, foram organiza-
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dos concursos voltados para estudantes, palestras riais educativos, editados e distribuídos pela Bienal
com “monitores” em bibliotecas e visitas a escolas, somente a partir de sua 24ª edição, em 1998.1
cursos para professores, exibições de filmes didáti- A partir desse primeiro experimento editorial,
cos, entre outras ações que configuram diferentes diversos formatos, conteúdos e modos de relacio-
estratégias implementadas pela Bienal para propi- nar educação e arte embasaram os materiais edu-
ciar espaços de mediação entre as obras de arte da cativos de cada edição da Bienal. Ao longo dessas
exposição, os professores e os estudantes. Na dé- duas décadas, ao mesmo tempo em que se acumu-
cada de 1980, foram criados também os primeiros laram e se reelaboraram repertórios e experiências,
ateliês no espaço expositivo, nos quais as crianças muitos deles com base no acompanhamento do
podiam experimentar os materiais artísticos. uso desses materiais por professores, enfrentou-se
Além dessas iniciativas institucionais, a Bienal também o desafio de acolher, de dois em dois anos,
também apoiava, embora informalmente, o traba- uma nova proposta curatorial para desenvolver as
lho do professor Antonio Santoro Junior, que desen- ações do programa educativo.
volveu, entre os anos de 1969 e 1979, apostilas e ou-
tros materiais de apoio destinados aos professores *  *  *
que desejassem visitar a Bienal com os estudantes,
veiculando-os também nos meios de comunicação
e distribuindo-os por meio de contatos com a Se- 1  Este panorama histórico se baseia em: José Minerini Neto,
cretaria de Educação e com as delegacias de ensino Educação nas Bienais de São Paulo. Dos cursos do MAM ao Educativo
Permanente. Tese de doutoramento. São Paulo: Programa de Pós-
da cidade de São Paulo. As propostas do professor Graduação em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes,
Santoro Junior foram precursoras dos futuros mate- Universidade de São Paulo (USP), 2014.
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A proposta curatorial da 33ª Bienal enfatiza o po- dos pela Bienal: optamos por não incluir pranchas
tencial da atenção à obra de arte, como contra- ou cartazes com reproduções de obras dos artistas
posição ao modo dispersivo com que hoje nos de- que participam da exposição.
dicamos a inúmeras tarefas simultaneamente. A Nas últimas edições da Bienal, o contato com
atenção não é um tema que organiza a mostra, mas obras que ampliaram as noções do que se conside-
uma questão atual a enfrentar. Nosso desafio, por- ra um objeto artístico, abrangendo de um curso de
tanto, foi conceber esta publicação, um dos princi- autoformação de educadores a uma escultura em
pais instrumentos de mediação entre a Bienal e os forma de pista de skate instalada no Parque Ibira-
professores, como um conjunto de exercícios com puera, nos levou a um questionamento sobre a per-
enfoque na atenção. tinência das pranchas com reproduções de obras.
Entendemos que os exercícios de atenção aqui Se a fotografia de uma pintura configura uma ex-
apresentados constituem um tipo de mediação. periência muito diferente do que estar diante da
Com eles, procuramos trabalhar essas práticas pintura em si, a questão se torna ainda mais com-
concentradas no contato entre uma pessoa ou um plexa estando diante de obras cujo registro fotográ-
grupo de pessoas e a arte. Procuramos valorizar fico oferece apenas um fragmento da experiência
esse contato e organizá-lo, mas sem predeterminar que elas propõem. Por outro lado, sabemos da im-
o resultado, acreditando em uma mediação aberta. portância que o uso dessas pranchas têm para os
Essa ênfase na abertura norteou algumas apos- professores em sala de aula. Isso nos leva a uma
tas importantes que definiram a estrutura desta segunda aposta.
publicação. A primeira delas rompe com uma ca- Com esta publicação, assumimos que qualquer
racterística comum aos materiais educativos edita- obra criada para ser vista, ouvida, tocada ou per-
22 23

cebida de algum modo pode ser objeto de atenção. sim, unir essa experiência acumulada pela Bienal
Não pretendemos oferecer exemplos do que é ou ao interesse por pensar a atenção, trazido pela pro-
não é arte, mas convidar professores, educadores posta curatorial da 33ª Bienal.
e mediadores a pensar sobre o que pode ser arte e Continuando uma prática bem-sucedida das
em que lugar ela pode estar. Um desses lugares é últimas Bienais, convidamos um grupo de dezoi-
o Pavilhão da Bienal, assim como outros espaços to professores, educadores e pesquisadores para
por onde obras da 33ª Bienal circulem. Mas esses colaborar conosco na elaboração dos exercícios
contextos e essas obras são apenas alguns, entre contidos nesta publicação. Ao longo de três encon-
muitos outros, que podem promover o encontro tros, testamos uma série de protótipos previamen-
com a arte. te criados pela equipe da Bienal e discutimos suas
Esta publicação reconhece e deseja dialogar qualidades, limites e potenciais de uso com dife-
com a diversidade do que pode ser arte, dos espa- rentes públicos e em distintos contextos, seja na
ços que ela ocupa, dos agentes e públicos que ela sala de aula, no Pavilhão da Bienal ou em outros
mobiliza e dos modos de se relacionar com arte. É espaços da cidade. Do projeto gráfico à escrita de
fruto de um acúmulo de repertórios e experiências cada exercício, a contribuição crítica desses profis-
ao longo das últimas Bienais, em que nos vimos sionais foi decisiva para seguirmos com confiança
constantemente confrontados com essa diversi- alguns caminhos e repensarmos outros.
dade, diante de questões como a acessibilidade da Sem a pretensão de atingir a universalidade —
exposição, a diversidade de gênero, as conflituosas que está muito além dos limites desta publicação —,
relações étnico-raciais no Brasil, os modos como o nos preocupamos em torná-la o mais aberta e
público se apropria da exposição. Procuramos, as- abrangente possível. Apostamos na potência dos
24 25

A atenção
afetos que o encontro com a arte pode produzir,
onde quer que ele aconteça, e esperamos que os
exercícios de atenção contidos aqui contribuam
para estruturá-lo, adequando-se às particularida-
des de cada contexto e de cada pessoa.
como prática
curatorial

Gabriel Pérez-Barreiro
27

A relação entre as artes visuais e a atenção parece


evidente: a arte existe para ser percebida e, para
isso, é necessário prestar atenção. No entanto, se
observarmos como a maioria das pessoas se movi-
mentam em museus e em exposições, normalmen-
te constatamos o contrário, ou seja, os visitantes
vão de um objeto ao outro, sem se deter por mais
do que alguns segundos em cada um deles, antes
de seguir adiante. Visitar exposições, ao se tornar
um hábito, parece ter desgastado de alguma forma
a possibilidade de encontros significativos com os
objetos apresentados.
A proposta da 33ª edição da Bienal de São Paulo é
um convite a refletir sobre essa questão. O conceito
central da mostra, Afinidades afetivas, baseia-se em
parte nas ideias de Mário Pedrosa (1900 - 1981), cuja
tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”1
(1949) investiga as maneiras como a arte cria um

1  Publicado em: Mário Pedrosa e Otília Beatriz Fiori Arantes,


Forma e percepção estética: Textos escolhidos. São Paulo: Edusp, 1995.
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ambiente de relação e de comunicação, passando personificadas nos smartphones, que a maioria das
do artista para o objeto e para o observador. Como pessoas carrega consigo, fonte infinita e constan-
diz Pedrosa “a vontade de comunicar é, sem dúvi- te de sedução e de atração à nossa atenção. Numa
da, condição absoluta de todo ser vivo”.2  A questão época em que quase todo o conhecimento humano
para nós é se podemos, de alguma forma, recuperar se encontra disponível 24 horas por dia utilizando-
esse sentido de arte como canal de experiência e -se o mínimo de esforço (é só “dar um google”), a
de comunicação, como um lugar em que podemos sociedade nos oferece poucas oportunidades para
vivenciar algo novo e aprender com a experiência focalizarmos nossa atenção em outro lugar, sem
ali vivida. tentar nos vender algo ou nos convencer de algo.
O projeto educativo para a 33ª Bienal enfatiza Algumas das empresas mais bem-sucedidas mun-
questões relacionadas à atenção. Essa é uma es- dialmente (Facebook, Google, Apple) prosperam
colha de duas vias: de um lado, almeja encontrar com a captura e a revenda de nossa atenção, nos
uma forma relevante de estruturar o encontro transformando, de meros consumidores, no pró-
do visitante com objetos que podem estar fora de prio produto. Talvez seja revelador o fato de que
seu repertório habitual de experiências. Por ou- essas empresas compreenderam melhor algo que
tro, funda-se na crença de que hoje nossa atenção o mundo da arte ainda tem dificuldade para perce-
está sendo atacada pelas várias forças de distração ber: que a atenção é nosso bem mais valioso.
Acreditamos que a arte oferece uma situação
privilegiada para as questões relativas à atenção e
2  Mário Pedrosa, “Problemática da arte contemporânea”, in
Lorenzo Mammì (org.), Mário Pedrosa: Arte ensaios. São Paulo:
que um de nossos principais desafios é oferecer os
Cosac Naify, 2015, p. 262. meios para que esse encontro aconteça e a atenção
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das pessoas floresça. A preocupação com a atenção prolongada e intencional pode nos aproximar da
orientou todos os aspectos do programa curatorial arte, de nós mesmos e dos outros.
da 33ª Bienal, da escolha dos artistas à organização
espacial da mostra. Nossa ambição é criar espaços
favoráveis a desacelerar, observar, refletir e com-
partilhar experiências. Os materiais educativos reu-
nidos nesta publicação foram criados a fim de pro-
porcionar parâmetros para estruturar exercícios de
atenção, visitando a Bienal ou mesmo fora dela.
A 33ª Bienal de São Paulo não elegeu um tema
abrangente que tenta justificar as obras de arte in-
cluídas na mostra. Os trabalhos são apresentados
aos visitantes como são, e espera-se que não seja
necessário que sejam “decodificados” de acordo
com um conjunto predeterminado de questões.
Desse modo, a 33ª Bienal é um convite a apreciar
as obras, a participar delas e a refletir sobre elas,
e, depois, compartilhar essa experiência com ou-
tras pessoas. Esperamos que as ideias e os mate-
riais apresentados aqui ofereçam sugestões úteis e Gabriel Pérez-Barreiro é curador da 33ª Bienal de São Paulo –
caminhos possíveis para explorar como a atenção Afinidades afetivas.
33

O exercício
da atenção

Helena Freire Weffort e


Lilian L’Abbate Kelian
35

O problema da apreensão do objeto pelos sentidos é


o problema número um do conhecimento humano.
A primeira aquisição científica, a primeira aquisição
filosófica e a primeira aquisição estética estão
reunidas de início no nosso poder de perceber as
coisas pelos sentidos. […] Tudo no mundo está aí
para ser visto, ouvido, cheirado, tocado, sentido,
percebido, enfim. Esta é a experiência imediata.
Sobre ela o homem construiu os impérios, edificou
seus monumentos, organizou a vida, elaborou a
ciência, inventou as religiões com os seus deuses,
criou a arte.1

Diante das provocações que a pesquisa de um


curador suscita, nos parece interessante entender
a Bienal como uma plataforma de encontros entre
públicos e obras de arte. A atividade das equipes

1  Mário Pedrosa, “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”,


in ___, Forma e percepção estética: textos escolhidos, org. Otília
Arantes. v. 2. São Paulo: Edusp, 1996, p. 107.
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educativas da Bienal tem sido perceber, investigar jeito para o mundo lá fora (educere). Ou o parado-
e conceituar essa relação entre públicos e obras, e xo contido na condição e finalidade da educação: a
propor conceitos e dispositivos que possam afetá- geração experiente ensinando às novas gerações a
-la. No contexto específico da 33ª Bienal, “afetar” viver num mundo que ainda está sendo gerado, um
significa ampliar as possibilidades dessa relação, mundo que simultaneamente conhecemos, trans-
pois não se pressupôs que haja um sentido “verda- formamos e que nos transforma. Essa tensão tam-
deiro” ou “correto” para a experiência estética. bém se pode traduzir na distinção entre intenção
A atenção foi ponto de partida da investigação (educare) e atenção (educere).
que construiu o significado educativo de nossa pro- Embora não haja a pretensão de resolver a ten-
posta. Aceitamos o convite do curador Gabriel Pé- são entre intenção e atenção, pois que é profun-
rez-Barreiro e nos lançamos numa experimentação damente construtiva e essencial aos educadores, e
de exercícios de atenção aos objetos de arte. ao mesmo tempo tendo a clareza da força que no
Essa publicação, portanto, é concebida sobretu- mundo contemporâneo tem a “educação da inten-
do como uma plataforma de trocas com os educa- ção”, fomos ao encontro da “educação da atenção”,
dores. Mas como nomear as práticas educativas em que “leva pelo mundo afora”. O entendimento de
relação às quais desejamos trocar? Como imaginá- Timothy Ingold nos guiou:
vamos, os exercícios de atenção impuseram a cen-
tralidade e a potência da experiência. Sofremos Na passagem das gerações humanas, a contribuição
a profunda tensão que há na atividade educativa, de cada uma para a cognoscibilidade da seguinte
oscilando entre os sentidos de cultivar ou inculcar não se dá pela entrega de um corpo de informação
valores e conhecimentos (educare) e de levar o su- desincorporada e contexto independente, mas pela
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criação, através de suas atividades, de contextos o principal efeito de estarmos atentos se realiza em
ambientais dentro dos quais as sucessoras nós. Não queremos dizer com isso que as obras são
desenvolvem suas próprias habilidades incorporadas secundárias, mas que, antes de tudo, a experiência
de percepção e ação. Em vez de ter suas capacidades da atenção em si e já em seus primeiros instantes
evolutivas recheadas de estruturas que representam (da disponibilidade para atender ou do “estado de
aspectos do mundo, os seres humanos emergem atenção”) transforma profundamente o sujeito.
como um centro de atenção e agência cujos Por outro lado, a indeterminação pulsante do fato
processos ressoam com os de seu ambiente.2 estético e a multiplicidade de recepções que ela
evoca é o que dá sustentação a esse estado de trans-
Mas o que acontece ao prestarmos atenção? formação do sujeito.
Na língua portuguesa, a palavra atenção tem dois
significados principais que se sobrepõem: a con- O que são protocolos?
centração da atividade mental em um objeto deter- Nessa pesquisa sobre a atenção, praticamos e ana-
minado e a concessão de cuidados, gentilezas ou lisamos alguns exercícios que são chamados pro-
obséquios. Embora o verbo “atender” seja transitivo, tocolos. Protocolo é uma palavra de origem grega
isto é, um verbo cujo sentido só se completa na pre- que significa “colado em primeiro lugar”, e reme-
sença de um objeto — nesse caso, a obra de arte —, te aos escritos iniciais (como o título e o autor)
num papiro. Essa palavra, no entanto, expandiu
seu domínio semântico até alcançar o sentido que
2  Timothy Ingold, “Da transmissão de representações à educação
da atenção”, trad. José Fonseca. Educação, Porto Alegre, v. 33, n. 1,
conhecemos hoje, de sequência de procedimentos
pp. 6-25, jan./abr. 2010. padrão ou, em sentido figurado, de formalidade ou
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de cerimônia. Na ciência da computação, os proto- daquilo que se percebeu nessa relação; e, por fim,
colos são convenções que possibilitam a comuni- o compartilhamento da experiência de cada um,
cação entre dois sistemas. Para nós, os protocolos sem realizar o debate das impressões individuais.
são um conjunto de instruções que ampliam as Após esse período de experimentação, passamos
trocas entre os públicos e as obras e, em alguns ca- a investigar a relação existente entre essa estrutura
sos, as trocas entre públicos sobre as obras. Recu- e a experiência de contato com a obra. Se deseja-
perando a noção original da palavra como “aquilo mos intensificar essa experiência, por que seguir
que vem antes”, pode-se dizer que o protocolo em um protocolo? Sua estrutura fixa não impediria o
arte é aquilo que antecede a formação de um juízo caminho singular que cada um deve percorrer em
sobre a obra. sua relação com a obra? Qual é a relação entre a
Nos “protocolos de atenção” estudados durante liberdade e os procedimentos propostos?
alguns meses, pudemos reconhecer uma estrutura Observamos que, ao contrário do que poderia
geral. Sempre coletivos, os exercícios começavam parecer à primeira vista, esses protocolos amplia-
com o convite de alguém que havia realizado de- vam a experiência com a obra. Percebemos que, ao
terminado protocolo. Essa pessoa reunia um grupo nos relacionarmos com a obra a partir de estímu-
de cinco ou seis pessoas e escolhia uma obra a ser los diferentes daqueles com os quais usualmente
observada. A partir disso, a experiência se estrutu- nos aproximamos da arte, o principal efeito alcan-
rava em quatro momentos: um tempo destinado ao çado era uma espécie de descentramento. E, talvez,
encontro com a obra no espaço em que ela se si- esse descentramento fosse responsável pelo alar-
tuava; um momento de atenção prolongada à obra gamento da experiência.
escolhida; um momento de registro individual O primeiro efeito de estar submetido a determi-
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nado protocolo é a suspensão do julgamento e/ou ração que os compunham pareciam ter a única fi-
do gosto, e a desativação dos automatismos cogni- nalidade de oferecer tempo, tempo necessário para
tivos. Assim, manter-se no caminho sugerido pelas que o sujeito se deslocasse e, eventualmente, se des-
instruções contribuía para a conquista de uma aber- fizesse da relação de domínio ou de conhecimento
tura de corpo e mente, e, dessa forma, expunha-se que comumente estabelecemos com o objeto.
ao encontro com a obra e ao encontro consigo. A filósofa francesa Simone Weil (1909-1943)
Reconhecemos que a atenção conquistada não afirma que a condição para a atenção é um olhar
guardava qualquer relação com finalidade, com sa- e não um apego.4 E, de fato, a posição interpretati-
ber aonde chegar. A atenção levava o observador va do sujeito nesse estado de atenção se torna, de
a sua relação com a obra e não em direção a algu- alguma maneira, “enfraquecida”, diluída, suspensa.
ma compreensão ou percepção consideradas mais Ocupar essa posição pode ter algo de desconfortá-
adequadas. “A atenção não nos oferece qualquer vel ou incômodo. Afinal, permanecemos à procu-
perspectiva, mas se abre ao que lhe é apresentado ra, sem guias, sem explicações. Mas é nesse esta-
como evidência. Atenção é a ausência de intenção. do de exposição que se torna possível também se
Trata-se de suprimir o julgamento e implica tam- surpreender. Nessa condição é possível deixar de
bém uma espécie de espera.”3 lado, pelo menos temporariamente, aquilo em que
Os protocolos proporcionaram tempo e espaço acreditamos, gostamos, conhecemos para entrar
para a experiência. As diferentes sugestões de explo-

4  Simone Weil, “A atenção e a vontade”, in A condição operária e


3  Jan Masschelein; Maarten Simons, A pedagogia, a democracia, a outros estudos sobre a opressão, org. Ecléa Bosi. Rio de Janeiro: Paz e
escola, trad. Walter Kohan et al. Belo Horizonte: Autêntica, 2014, p. 48. Terra, 1979, p. 388.
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em contato com a obra de outra maneira. Esse estado paciente ou atento movimenta uma
Estabelece-se aqui uma importante relação a res- importante elaboração interior. E pensamos que
peito do que seriam a “passividade” e a “atividade” nisso reside a liberdade na/da estrutura: na tensão
do observador, implícitas nessa estrutura. O obser- entre os estímulos, que são externos ao sujeito, e as
vador não decide o caminho, mas entrega-se à expe- reações singulares de cada um.
riência a partir dos recursos oferecidos (as sugestões É justamente esta “suspensão do eu” que coloca
para explorá-la, o tempo de observação prolongado, o sujeito em contato com a obra, que abre a possi-
o contexto de compartilhamento). bilidade a quem observa de perceber, igualmente,
Pode-se dizer que a lógica que está em jogo não o modo como observa, como ao longo do exercí-
é a da ação (do sujeito avaliando as condições que cio vai estabelecendo relações, como sua atenção é
tem para agir sobre um objeto), mas a da paixão. desviada ou atraída.
E o “sujeito passional”, tal como apresentado por A oportunidade de compartilhar a sua experiên-
Jorge Larrosa, não é meramente passivo, não é cia de contato com a obra e perceber como outros
obediente. O sujeito passional é “paciente”, e “há também se relacionaram com ela só tende a inten-
na paixão um assumir os padecimentos, como um sificar este processo metacognitivo, pois, ao ser-
viver, ou experimentar, ou suportar, ou aceitar, ou mos estimulados a registrar o que vivemos, obser-
assumir o padecer que não tem nada a ver com a vamos o que se tornava foco de nossa atenção, das
mera passividade”.5 associações e dos caminhos da nossa observação.
Esse processo metacognitivo expõe algo funda-
5  Jorge Larrosa, “Experiência e paixão”, in Linguagem e educação mental que está em questão no exercício: a partir
depois de Babel, trad. Cynthia Farina. Belo Horizonte: Autêntica, da atenção à obra, abre-se a possibilidade de com-
2004, pp.163-164.
46 47

preensão da relação que se estabelece com ela. É a suspender histórias por demais familiares; ajuda
possível dar-se conta do modo como se percebe o a instalar uma determinada disciplina do corpo e
objeto. Essa experiência nos entusiasmava e fazia da mente, tentando abrir um espaço que permite
apostar na criação de estruturas para a atenção. experiências, um espaço para [...] o indivíduo se
O modo como os professores Jan Masschelein e expor, a fim de, como dizia Bergson, não ver o que
Maarten Simons apresentam a ideia de protocolos pensamos, mas para pensar no que vemos, para expor
de atenção desenvolvidos em trabalhos de campo o nosso pensamento para o que está acontecendo (ao
com estudantes universitários ajudou a organizar presente) e para superar nossas próprias reflexões,
algumas dessas ideias: para quebrá-las. Isso pede uma arte de estar “lá”, que
transforma um lá em um “aqui”.6
O protocolo é uma orientação clara, que o indivíduo
segue repetidas vezes, mas que não tem um “fim” Seguimos por esse caminho e decidimos iniciar
claro, nenhum destino. É uma espécie de “caminho” um processo de criação de exercícios. Para isso,
que não leva a nada, é como um corte que se abre consideramos que os distintos efeitos que tínhamos
para um mundo. Seguir esse caminho não significa experimentado eram bastante desejáveis numa ex-
realizar as intenções de alguém ou responder às periência de atenção e contribuíam para conquistar
expectativas de alguém, mas é um caminho que abertura e presença na relação com a obra. Passa-
implica a repetição e a regularidade mecânicas, sem mos então a pensar em exercícios de atenção que
“sentido”, justamente para descentralizar nossas pudessem mobilizar os efeitos comentados até aqui
intenções, para tirar o sujeito do caminho, por assim
dizer, ou pelo menos, para expô-lo. O protocolo ajuda 6  Jan Masschelein; Maarten Simons, op. cit., pp. 23-24.
48 49

e que decidimos nomear como: a “emoção do en- to que os protocolos mostraram é que eles abalam
contro” (o fato de não sabermos qual seria a obra as relações hierárquicas que temos com o conheci-
observada nos deixava em alerta, nos preparava mento. Como o exercício nos libera para pensar de
para a experiência); a “suspensão do gosto” (deixar outras maneiras nossa relação com a obra, ele pro-
de lado as preferências e as classificações prévias); a porciona liberdade interpretativa. Portanto, o que
“imersão na obra” (possibilitada pelo tempo de aten- se compartilha não são informações, referências e
ção à obra e pelo mergulho que toda a experiência conceitos sobre a obra, mas a experiência de cada
provocava); o “deslocamento narcísico” (abrir-se a pessoa. Assim, tanto para as pessoas que pouco ex-
uma experiência em que o observador não ocupa perimentaram essa relação como para aquelas que
lugar central) e a “inversão da relação sujeito-obje- já estão bastante familiarizadas, cada exercício de
to” (perceber a obra agindo em você). atenção é singular e, caso seja repetido com a mes-
Mas uma pergunta perturbadora quase impedia ma obra, produzirá efeitos singulares.
a disponibilidade para pensar os exercícios: Todos Esses tempos alargados diante da obra sempre
são capazes de dedicar atenção? Seria necessário nos pareceram o principal desafio em relação à di-
estar “educado” no sentido de possuir algumas re- versidade dos públicos. Quem teria paciência para
ferências e alguns recursos ou de deter a disciplina estar tanto tempo ali? Há de fato coisas suficientes
quase cerimonial da concentração? Seria preciso para investigar? O que é bonito de experimentar
ter certo temperamento, certa paciência? nesse alargamento dos tempos, talvez o principal
Não temos uma resposta definitiva para esses elemento da metacognição, é que descobrimos
questionamentos, mas apostamos que qualquer nossos movimentos interiores. Percebemo-nos em
pessoa possa se educar pela atenção. E algo imedia- dissolução, percebemos como as múltiplas pessoas
50 51

que se encontram em nós estabelecem afinidades fundamental para o desenvolvimento de vínculos


com a obra. Por isso, a experiência nunca é tediosa, mais democráticos, na medida em que permite ao
abrindo sempre um feixe de afetos diversos, mui- indivíduo ver-se como outro.
tas vezes ambivalentes; sempre determina inúme- Essa dissolução da identidade que a atenção é
ros questionamentos. Ao nos colocarmos diante do capaz de operar se transforma, em maior ou me-
movimento do nosso desejo, a atenção que acom- nor grau, numa abertura para outros pontos de vis-
panha um mundo que não está pronto nos faz lem- ta. A construção permanente da democracia nos
brar que somos também seres inacabados. parece diretamente ligada a essa possibilidade dos
As instituições culturais têm constantemente diferentes e desiguais produzirem algo em comum.
diante de si o desafio de promover a igualdade no Para Larrosa, “o comum não é outra coisa que aqui-
acesso a manifestações culturais e de reconhecer, lo que se dá a pensar para que seja pensado de mui-
bem como sustentar, sua pluralidade. O enfrenta- tas maneiras, aquilo que se dá a perguntar para que
mento desse desafio exige avançar além dos dis- seja perguntado de muitas maneiras e aquilo que se
cursos identitários em direção à construção de dá a dizer para que seja dito de muitas maneiras”.7
contextos que propiciem leituras singulares dos
sujeitos sobre os objetos que se prestam ao conhe- Apresentação dos exercícios de atenção
cimento. Interessa-nos muito mais que as pessoas Depois de praticarmos os protocolos e de pes-
possam reconhecer as relações singulares que es-
tabelecem com os objetos de atenção e perceber
7  Jorge Larrosa, “Sobre a lição ou do ensinar e do aprender na
como são construídas. A compreensão dos signi- amizade e na liberdade”, in Pedagogia profana. Danças, piruetas e
ficados emergentes dessas relações é um aspecto mascaradas, trad. Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
52 53

quisarmos sua estrutura e seus efeitos, iniciamos estrutura e retornamos a ela em busca de critérios
um processo de invenção de nossos protocolos de para a navegação. A ideia de cartas de um baralho
atenção. Desenvolvemos livremente novos exercí- com seus naipes serviu de estrutura geradora e or-
cios e procuramos efeitos análogos de suspensão ganizadora. As etapas dos protocolos foram sepa-
do julgamento, emoção, de imersão na obra, de radas e formaram os seguintes naipes: “encontrar
deslocamento do sujeito e de inversão da relação uma obra”; “dedicar atenção”, “investigar a experi-
sujeito e objeto. Experimentamos esses protocolos, ência” e “compartilhar”. O elemento lúdico pareceu
e percebendo suas limitações e possibilidades os criar o ambiente afetivo análogo ao do convite. O
reformulamos; depois, experimentamos outra vez sorteio de uma sequência de instruções poderia ser
e os reformulamos novamente. um modo de proporcionar a curiosidade e a emoção,
Com dezenas de exercícios criados, podíamos dialogando com a ideia de que não escolhemos o
ter dado como concluída a concepção, mas como caminho. O caráter aleatório e a multiplicidade de
proporcionaríamos aos públicos alguma estrutura combinações nas etapas 1 a 3 pareceram represen-
de navegação? Como criar uma materialidade que tar bem a noção de que há maneiras diversas de se
não perdesse de vista a relação afetiva que a todo relacionar com a arte e que podemos experimentar
momento nos acompanhou? Como sustentar uma diferentes deslocamentos nessa relação.
abertura para que as pessoas se sentissem convida- Desenvolvemos então instruções para que as
das a desenvolver suas próprias pesquisas sobre a cartas possam ser utilizadas por uma pessoa, indi-
atenção e elaborar exercícios que dialogassem com vidualmente, ou por um grupo. No segundo caso,
seus contextos? a expectativa é de que uma pessoa assuma a me-
Em nossa análise, havíamos identificado uma diação e avalie o quanto os exercícios são possíveis
54 55

para os públicos, nas suas diversas situações edu- dos dão forma ao mundo, oferecendo múltiplos ele-
cativas, e possa adaptá-los ou mesmo reinventá-los. mentos para refletir sobre a atenção. Convidamos
Notamos, por exemplo, que, com grupos de crian- os leitores a aprofundarem algumas das questões
ças, o tempo de observação pode ser aumentado apontadas considerando o panorama social e polí-
aos poucos, de acordo com o que for considerado tico apresentado por Paniagua e, assim, buscarem
suficientemente desafiador. A única condição que uma experiência emancipada em que a atenção pos-
nos parece fundamental para que qualquer pessoa sibilite nos reconhecermos uns nos outros.
crie ou adapte um exercício de atenção é que te- Esperamos que esse conjunto de exercícios de
nha tido uma experiência direta dele. atenção estimule profissionais da educação a se
O artista espanhol Antonio Ballester Moreno, lançarem na investigação das relações afetivas com
um dos curadores e artistas da 33ª Bienal, mostrou a arte e de estruturas que contribuam para promo-
interesse em acompanhar esse processo educativo ver a atenção.
que guarda muita relação com seu conceito curato-
rial para a exposição e com sua obra. A nosso con-
vite, Ballester Moreno criou quatro colagens para
as cartas, que ajudam a distinguir as quatro etapas
do protocolo.
Rafael Sánchez-Mateos Paniagua, também espa-
nhol e artista convidado para a 33ª Bienal, apresenta Helena Freire Weffort é historiadora e educadora.
no texto a seguir uma reflexão instigante acerca da Lilian L’Abbate Kelian é historiadora, educadora e militante da rede
construção social da percepção e de como os senti- internacional de educação democrática.
56 57

O sentido
em todos os
sentidos

Rafael Sánchez-Mateos
Paniagua
59

Para que o progresso técnico e a modernidade ca-


pitalista pudessem ocorrer, foi necessário reconfi-
gurar o sistema de percepção do mundo, das coisas
e de nós mesmos. Por exemplo, foi preciso tornar
suportável aos sentidos as longas, duras e monóto-
nas jornadas de trabalho, compensadas pelo sonho
de uma “vida feliz” amparada pelo benefício eco-
nômico, alcançado por meio de uma atividade por
vezes completamente alienante e embrutecedora.
Também foi necessário desenvolver técnicas para
tornar desejáveis aos nossos olhos a infinidade de
mercadorias que capturam nossa atenção sensorial
e nos fascinam, coagindo nossa necessidade, de-
sejo e opinião, dissimulando, assim, o volume de
exploração ou de prazer que sua fabricação oculta.
Além disso, foi absolutamente necessário eli-
minar a percepção que tínhamos da própria terra
e de sua matéria encadeada de vida e morte; de-
sencantá-la de sua magia, para que ela pudesse ser
explorada e dominada sem contemplação. Algo que,
em parte, se pôde obter submetendo as mulheres
60 61

— mater, materia — e sua força reprodutiva — criar abandonamos nossa experiência ao primeiro au-
[gerar, alimentar, cuidar, educar], crear [produzir, tomatismo ou inércia adquiridos. Quem decide e
inventar] — àquele mesmo destino. Nossas facul- como se decide o significado e o sentido das coisas?
dades sensoriais deviam ser capturadas, adminis- Seriam os especialistas eruditos que, com seu co-
tradas e postas a trabalhar em favor de um siste- nhecimento, nos livram da ignorância com a qual
ma de relações baseado no interesse, na falta de nos caracterizam? Ou a economia com seus cálcu-
confiança em si mesmo e nos demais, na falta de los que nos endividam? Os poderosos com suas leis
empatia e de imaginação, no isolamento, na indi- coercitivas que nos tutelam? Quem afinal imagina
ferença e na desatenção total. E a verdade é que as vidas que vivemos? É importante nos pergun-
não opusemos muita resistência a tudo isso… Mas tar isso, porque a resposta determinará as relações
quem se favorece com essa perspectiva? que desenvolvemos no mundo. Equipados de um
Se alguma vez foi possível deixar no mundo al- complexo aparelho perceptivo sempre em evolu-
guma marca de cumplicidade, hoje, na maior parte ção, nas sociedades contemporâneas não temos a
do tempo, só há gestos vazios, ausentes, e temos a noção de onde vêm as ideias e quase tudo o que
sensação de que o que é importante jamais acontece unia o sentido (significado) aos sentidos — sabor e
verdadeiramente onde estamos, mas em algum de saber, atentar e entender, imagem e magia… — foi
nossos “lares” digitais, no qual cabe apenas o fantas- separado, deixando-nos em um deprimente estado
ma — autoexibido de modo complacente — de uma de analfabetismo afetivo e de atrofia experiencial.
vida e de corpos que, para nós, são cada vez mais es- Que contraditório o fato de sermos nós, os adul-
tranhos e desconfortáveis. Os dias, que são sempre tos, a diagnosticar o “deficit de atenção” das crian-
novos e desconhecidos, parecem velhos quando ças quando elas não se adaptam bem ao difícil
62 63

mundo no qual as inserimos! A que queremos que gado e normatizado, permeáveis a se reconhecer e
elas estejam atentas? No fundo, seria das crian- a se descobrir em tudo o que não são, e, portanto,
ças (ou de todos os que são tratados como tal, seja entregues ao jogo do que poderiam ser.
para incapacitá-los ou para governá-los) que pode- Embora exista quem se beneficie desse panora-
ríamos aprender algo e recuperar a sensibilidade ma, o certo é que todo esse esvaziamento ocorreu
para viver uma experiência livre do mundo — que em pouco tempo, com nossa colaboração cons-
hoje contemplamos desencantados e assediados ciente e inconsciente. Prestamos atenção no que
por uma experiência prescrita dele, que nos revela nos interessa e ignoramos o que não nos interessa,
como ausentes e cheios de preconceitos. esquecendo que o produto da atenção dedicada,
Na realidade, as crianças talvez sejam a única e e que deixamos entregue a essa inércia, é o que
verdadeira resistência séria a esse plano geral e glo- importa. Por isso, é decisivo nos perguntar pelo
bal de adormecimento e de desconexão vital, ainda olhar que depositamos sobre o mundo e sobre as
que essa afirmação seja sempre confusa em uma coisas, e pelos efeitos e afetos que (nos) suscitam,
época e em uma sociedade em que a infantilidade pois conduzem a maneiras distintas de nos relacio-
impera em benefício dos que esperam que, como narmos com essas coisas e com esse mundo, e, por
crianças, simplesmente obedeçamos. No entanto, extensão, com nós mesmos e com as pessoas.
poderíamos aprender das crianças sua disponibi- Se descuidamos de nossa capacidade sensorial
lidade de viver experiências e sua capacidade de de entrar em contato com “a realidade” — e, por-
perceber, sentir e imaginar, dando tudo por certo tanto, de transformá-la —, devemos refazer nosso
sem dar nada por certo. Crianças, absolutos estran- vínculo com ela, aproximando-nos para que ela
geiros diante do que parece plenamente homolo- possa ser sentida e, ao mesmo tempo, possa nos
64 65

sentir, capacitando-nos a operar nela em todas as A atenção não é uma reconexão instantânea, es-
suas nuances. pontânea ou imediata com o objetivo, o real ou o
Porque o mundo, as coisas e as pessoas conti‑ verdadeiro, mas o árduo e generoso gesto de se co-
nuam aqui, ainda que seja em forma de fragmentos locar em suspenso diante da indeterminação para
ou de ruínas que esperam adquirir nova vida. Cada imaginar novos sentidos. A percepção — afetada
acontecimento, cada forma vivente tem origem em pela memória e pelo desejo — cria e transforma a
um olhar depositado sobre o mundo, que continua realidade material. Não nos revela sua transparên-
emitindo seu sinal. De alguma maneira, não há lu- cia, mas nos insere ativamente em sua densidade.
gar que não nos veja. O que nos diz? O que escuta- A percepção dá forma ao mundo. Os sentidos não
mos? Nesta época de esvaziamento, importa renun- são apenas receptores, são também emissores e
ciar e suspender todo enfoque preconcebido e nos mudam de acordo com as culturas. Por exemplo,
dispor a viver uma experiência diferente que seja aquele que possui o sentido do maravilhoso cer-
disruptiva, por meio da qual possamos reaprender tamente terá experimentado em si mesmo como
e ressignificar os gestos mais básicos da existência. essa sensibilidade impregna suas ações, como re-
Isso é possível se assumirmos o prazeroso esforço de percute no mundo dos acontecimentos e das for-
recuperar a sensibilidade para a vida, se trabalhar- mas, nos outros e na vida em geral. Um olhar, uma
mos para intensificá-la em vez de meramente vivê-la, carícia, não significam o mesmo em diferentes cul-
se conjurarmos e conspirarmos por uma plenitude turas. Não são somente os sentidos que se trans-
que defenda o que ainda conservamos inalienável: formam; as coisas também mudam conforme as
nossa livre capacidade de nos apaixonar, de imagi- percebemos. A cidade em que vivemos é diferente
nar, de nos identificar em afinidades, de realizar. de acordo com aquilo a que estamos atentos e de
66 67

acordo com quem as olha, e, no entanto, parece transformar o mundo em um lugar mais habitável;
a mesma. Se aos nossos olhos as demais pessoas que ajude a crescer de modo verdadeiro e ter uma
surgem como competidoras, competiremos. Se vida boa e bela que possibilite rir, chorar, descan-
as observarmos como iguais, cooperaremos com sar, descobrir, brincar, preferir um gesto a outro,
elas. Se percebermos a diversidade da sociedade uma palavra a outra.
— racial, cultural, de gênero, geracional… — de Conhecer sem dominar. Tocar sem ferir. Amar.
maneira discriminativa, isso provocará um gesto Existe melhor maneira de despertar os sentidos?
também discriminativo e endossaremos a exclusão O amor exige generosidade e confiança, reconhe-
e a desigualdade. cer a vulnerabilidade para que existências distintas
Essa experiência excludente do mundo pode acoplem seu ser e seu estar e inventar algo novo
se reorientar se nos prestarmos a uma experiência que não existia em separado. A atenção, como o
emancipada que, por meio da escuta, do diálogo amor, exige confiança, lentidão, cuidados, dedicar
e da atenção, possibilite que nos reconheçamos tempo, “perdê-lo” em algo que não sabemos mui-
nas outras pessoas. É preciso descobrir o coletivo to bem para onde conduz. No entanto, este é um
no singular, o forte no frágil, a beleza no que foi tempo obtido para sempre, um tempo ganho para
descartado, o fino fio que conecta as coisas e as todas as pessoas e para a vida, inclusive depois da
vidas. Uma experiência livre e libertadora que de- experiência ter chegado a seu fim.
volva não uma nova explicação, interpretação ou A atenção, o cuidado, a sensibilidade e a ousadia
teoria, mas um sentido prático que seja ao mesmo de viver experiências novas, a observação do que
tempo emancipador e ajude a derrubar os muros importa, das expectativas e das possibilidades que
que limitam o compartilhamento da experiência; a há em cada coisa são qualidades de quem não acre-
68 69

dita que o mundo já está dado, definido, fechado e em torno de dinâmicas corporais novas, cuidar de
organizado em torno de algumas ideias ou normas nossos sentidos e semeá-los é um modo de nos re-
concebidas e engessadas. São qualidades das vidas cuperar da inquietação, do isolamento e da indife-
rebeldes e indóceis que procuram algo diverso do rença. Rearmar nossa sensibilidade diante do mun-
que existe; que desejam interromper a ordem im- do para nos situar nele de modo mais vivificante é
posta sob o pretexto de ser “natural”. Também são o convite que recebemos a cada momento, a cada
as qualidades das crianças e das pessoas que criam, situação, a cada encontro, diante de cada forma do
ainda que injustamente não lhes seja atribuído o mundo que, a partir de sua configuração e de seu
papel de artistas. Sempre atiçadas pela sabedoria de sentido sempre em movimento, nos pergunta “do
não saber e por um irrefreável desejo e necessidade que necessitamos”. Mundo ao qual também vale a
de dar forma e expressão à sua percepção — resga- pena perguntar o que ele poderia necessitar de nós.
tada por fim do meramente visual —, cujos efeitos
e afetos prometem ser imprevisíveis, pois o campo
do possível está totalmente aberto.
Se tentarmos “perceber com arte”, o que chama-
mos arte será um imenso laboratório de gestos, de
formas e de significados. Sua infinita diversidade
sensorial incita a imaginação e mobiliza a força
criativa que lembra que não somos apenas criatu-
ras, mas também existências criativas. A arte como
Rafael Sánchez-Mateos Paniagua é estudante, professor e artista
oportunidade para cultivar a atenção, reorganizá-la convidado da 33ª Bienal de São Paulo.
71

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Créditos
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FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO Conselho fiscal Superintendência


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Administrativo-financeiro Relações institucionais e 33ª BIENAL DE SÃO PAULO – AFINIDADES AFETIVAS


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Vinícius Robson da Silva Araújo Raul Loureiro educativo
Wagner Pereira de Andrade Convidados
Alexandre Araújo Bispo
Tecnologia da informação Ana Lívia Castro
Leandro Takegami · gerente Anita Limulja
Cintia Valente
Comunicação Clarissa Suzuki
Felipe Taboada · gerente Cristine Takuá
Ana Elisa de Carvalho Price Diogo de Moraes
Adriano Campos Elaine Fontana
Diana de Abreu Dobránszky Erika Kobayashi
Eduardo Lirani Gisleide dos Santos
Julia Bolliger Murari Juliana Rosa Lima
Victor Bergmann Júnior Ahzura
Marisa Szpigel
Massumi Guibu
Mônica Cardim
Tamar Guimarães
Tiago Judas
Vandei Oliveira
Viviane Sarraf
correalização parceria cultural

apoio

patrocínio master patrocínio

realização
© Fundação Bienal de São Paulo

ISBN 978-85-85298-58-6

www.bienal.org.br
33bienal.org.br

Fontes
Whitman (Font Bureau) e Helvetica Neue LT Std(Linotype)
Papéis
 Offset Alta Alvura 75 g/m² (miolo); Offset Alta Alvura 120 g/m² (capa)

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