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TRANSCRIÇÃO PSIQUIATRIA – ARTHUR GOMES P8 1

Aula 12.07: História da psiquiatria


A partir da década de 50 surgiram as medicações na psiquiatria.

Há dois períodos bem definidos na história da psiquiatria Pré-Pinel e Pós-


Pinel. Pinel foi o primeiro psiquiatra e foi com ele que surgiu um modelo de
atendimento médico para pacientes com doença psiquiátrica.

No período da idade média a doença psiquiátrica mais estudada foi a


histeria. Havia a ideia de que seria uma doença restrita as mulheres. Acreditava-
se que o útero tinha a propriedade de se deslocar pelo corpo trazendo diferentes
acometimentos a depender de por onde o útero estivesse se movendo. A
percepção apesar de equivocada, passa a ter caráter científico fugindo do
componente mágico religioso. A partir daí a doença mental para de ser pensada
como sobrenatural.

Grécia antiga: Rompe-se com a estrutura cósmica. Hipócrates traz grandes


contribuições, dizendo que o homem é regido por leis semelhantes ao MACRO
(nós somos o micro). Hipócrates define a histeria de maneira já sexual, porém
por enquanto relacionada à genitália – uma paciente sem relações sexuais teria
o útero se movendo pelo seu corpo, onde o tratamento era feito com plantas
aromáticas na vagina ou aconselhando ato sexual.

Hipócrates ainda abandona a ideia de que epilepsia é uma doença sagrada


e mostra que lesões num hemisfério trarão acometimento contralateral. Além
disso, propõe uma doença “melancolia” causada sobretudo pelo excesso de bile
negra. O termo melancolia perdurou como sinônimo de depressão até o séc. XIX.

Asclepíades alguns séculos antes de Cristo, dizia que mania era uma
exaltação sem febre e frenite seria com; ele faz ainda a distinção entre
alucinações e ilusões e trata a alucinação pondo as pessoas em salas
iluminadas.

Galeno posteriormente aponta que a histeria não tem relação com


migração uterina, mas na verdade retenção de líquidos pela abstinência sexual.
Define as pessoas em 4 eixos de personalidade – sanguíneo, colérico,
melancólico e fleumático –.

Platão dizia que para se atingir uma personalidade ótima deveríamos


atingir a crase, que seria um equilíbrio entre as forças internas e externas. Uma
ruptura no equilíbrio dessas forças causaria discrasia. Platão ainda divide o
homem em apetite, razão e força/coragem, algo semelhante à futura divisão de
Freud em id, ego e superego.
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- Na idade média todos os conceitos místicos são retomados. O papa


Inocência VIII junto de dois freis franciscanos compõe a campanha de caça as
bruxas. Enquanto isso a Ásia se mantém evoluindo nas ideias de Hipócrates.
Nesse período os pacientes psiquiátricos eram tratados com penas severas e
morte.

São Tomás de Aquino se opunha às explicações de cunho religioso para


as doenças psiquiátricas, mas o pensamento se manteve de 1400 até século
XVII.

No séc. XVII Luís XIV sanciona uma lei que todos aqueles com lepra,
tuberculose, ladrões, assassinos, pacientes psiquiátricos... fossem acorrentados
e retirados publicamente da sociedade.

Uma mudança ocorre no séc XVIII a partir da criação dos hospitais


psiquiátricos. - Entrada de Pinel – Pinel atua em dois hospitais separando os
pacientes entre aqueles que tem doença psiquiátrica e os que não tem, depois
ele institui tratamento moral que consistia simplesmente no cuidado básico ao
paciente. Pode se dizer que as duas maiores contribuições de Pinel foram a
aplicação do tratamento moral e classificações a partir do estudo dos pacientes.

Pinel classifica a loucura em 5 grandes grupos: melancolia ou delírio


exclusivo sobre objeto, mania com delírio, mania sem delírio, demência ou
abolição do pensamento, idiotismo ou alteração das faculdades. Perceber que o
termo “demência” permanece na psiquiatria até a descoberta da doença de
Alzheimer.

Já o idiotismo apresenta grande semelhança com o que atualmente é


entendido como esquizofrenia, referida posteriormente como demência precoce,
quando é feita a associação com demência e doença psiquiátrica.

Pinel teve muita influência sobre outros pensadores, na Itália Vicenzo


Chiaguri expandiu os conceitos de Pinel pela Europa. Samuel Tuke fundou
hospital retrô em Washington – 1796, onde os pacientes eram tratados com
tranquilidade, higiene, conversa... Esse hospital passa a ser modelo para os
outros hospitais psiquiátricos nos EUA.

Contemporaneamente na Europa, Esquirol modificava a classificação de


Pinel diferenciando quatro grupos principais de doenças mentais, por meio dos
quais procurou separar as perturbações de fundo claramente orgânico das
perturbações de natureza psíquica, consideradas disfunções mentais: Idiotia,
demência, mania e monomanias.

Aqui encontra-se a contribuição mais original e também mais controvertida


de Esquirol: a separação da melancolia, da antiga classificação de Pinel, em
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duas categorias diferentes – a mania e a lipemania, umas das formas de


monomania. A lipemania consistiria num delírio intelectual, de natureza
depressiva, situado em primeiro plano e que acabaria por afetar toda a vida do
paciente.

Por muito tempo acreditou-se também que as doenças mentais eram


causadas pela sífilis, pensamento que permaneceu até a descoberta do
Treponema.

Morel já no séc XIX diz que as doenças psiquiátricas teriam um caráter


hereditário. Suas ideias foram utilizadas de maneira errada no sentido de
legitimar discursos arianos. Ele volta a falar sobre a demência precoce –
caracterização mais aproximada ainda da esquizofrenia –

Magnan em 1886 descreve a doença boufée delirante – um transtorno


psicótico com vários sintomas como alucinação, delírio, agitação psicomotora
num período de um mês.

Até então, a psiquiatria era domínio francês, o que mudou com Emil
Kraepelin (alemão). Kraepelin reuniu sob o rótulo dementia praecox
(equivalente à demência precoce dos franceses) as formas hebefrênica,
hebefrenocatatônica (ou catatonia) e a paranoide diferenciando de uma outra
grande síndrome, a psicose maníaco depressiva que diziam até então se tratar
do mesmo transtorno.

A dementia praecox teria um prognóstico reservado enquanto a PMD


(transtorno bipolar hoje) teria um prognóstico melhor. Além disso ele promove
uma ampla classificação de doenças, base para CID e DSM.

Depois de Kraepelin pensar em Karl Jaspers, o médico que estudou


fenomenologicamente todas as funções mentais e descreve toda a
psicopatologia geral.

Em 1940 Schneider descreve os sintomas de primeira ordem para


diagnóstico de esquizofrenia (alucinações auditivas, mandatórias, crença de
publicação no pensamento, somatização do pensamento), sendo em alguns
casos necessário preencher sintomas de segunda ordem; fornecendo base para
a descrição atual da esquizofrenia.

Fora da psiquiatria alemã Freud segue inicialmente as ideias de Charcot,


mas rompe com elas e passa a estudar associações, psicologia infantil e a
sexualidade humana.

Em 1911 a dementia praecox passa a ser chamada de esquizofrenia (cisão


da mente). Alteração da associação de ideias, isolamento, alterações do afeto e
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ambivalência (sentir sentimentos opostos por uma mesma pessoa). Diz ainda
que o paciente tem sintomas secundários (alucinações, delírios e etc). – Os
sintomas diferem dos critérios atuais.

No séc. XX começam a surgir opções farmacológicas de tratamento. Vale


lembrar que anteriormente associaram crises epilépticas a cura de doenças
psiquiátricas, tendo permanecido até hoje a eletroconvulsoterapia, importante
para os pacientes com depressão grave + risco de suicídio, outras técnicas eram
introdução de plasmodium, indução de hipoglicemia e lobotomia.

Em 1950 surge a clorpromazina (ampliquitil) usado inicialmente como anti-


histamínico, só que essa droga acalmava os paciente psiquiátricos. Em 49
médicos australianos já tratavam a psicose maníaco depressiva com citrato de
lítio, mas o grande avanço veio com a clorpromazina. A partir de 58 o aloperidol
passa a ser sintetizado, sendo usado até hoje. Vale ressaltar que até a década
de 90 esse foram os únicos medicamentos disponíveis.

Pulando de 58 para 63 tinham-se 3 categorias disponíveis: antipsicóticos,


antidepressivos e benzo, mas ainda em 91-92 as residências tinham que tratar
os pacientes com aldol, imipramina (1958) ou benzodiazepínicos.

Os barbitúricos surgiram no final do séc. XIX; entretanto a dose terapêutica


é muito próxima da letal.

No Brasil em 1852 não havia nada para tratamento psiquiátrico, mas


instituíram o hospício Pedro II no RJ, com dois outros hospitais até 1866 quando
diferentes hospitais foram construídos pelo Brasil – Juliano Moreira 1928. → Em
todos, os pacientes eram mantidos em condições sub-humanas.

Teixeira Brandão assumiu o comando das unidades psiquiátricas


instituindo o tratamento moral. Depois de Teixeira Brandão duas grandes
lideranças surgiram: Ulisses Pernambucano e Juliano Moreira. Ulisses propunha
várias formas de atenção humanizada ao paciente psiquiátrico (atendimento
ambulatorial, não institucionalização...), a partir daí Juliano sugere que os
pacientes agudos fossem tratados em hospitais fechados e os pacientes
crônicos em locais calmos abertos, além disso apoia Adalto Botelho responsável
por expansão de leitos psiquiátricos (tratamento hospitalocêntrico – tratamento
baseado na internação).

Desse período até institucionalização do SUS a estratégia de tratamento


se manteve hospitalocêntrica. A partir das conferências nacionais passa a haver
uma nova estratégia de tratamento. Em 87 ocorre a primeira conferência,
adotando uma sociedade sem manicômios e surge o primeiro CAPS. Entrando
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em vigor a partir da II as normas reguladoras que eram usadas inclusive para


avaliar os hospitais.

Na terceira conferência (2001) foi dito que o ponto estratégico de


tratamento psiquiátrico era o CAPS, porém essa teoria não se adequa à
realidade, diante da baixa qualidade do serviço oferecido.

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