QUAL É A BOA NOVA DO EVANGELHO PARA OS NOSSOS DIAS?
Refletindo um pouco sobre a XI Semana Temática Teológica que acontecerá em
nosso Seminário, com o tema, “A Evangelização no presente e no futuro”, pensei: a palavra evangelho significa boa nova ou boa notícia, mas, será que a nossa evangelização corresponde hoje, de fato, à esta boa notícia? Quando evangelizamos, nossa metodologia (palavras, instrumentos técnicos, atitudes), mas, sobretudo, nosso testemunho enche de alegria e esperança quem ouve o anúncio? Confesso que refleti muito sobre esta questão e a partir desta, várias outras interrogações surgiram. Imaginei primeiro o anúncio do anjo a Maria com seu “Ave cheia de graça”, expressão que evoca alegria (chaire) e não simplesmente um “ave” que sobretudo para nossa comunicação atual não diz quase nada. Nesta saudação do anjo percebe-se claramente a boa nova repleta de esperança, expectativa de tempos messiânicos que iriam cumprir a promessa feita a Abraão em tempos longínquos. Alegria que segundo São Lucas é comunicada aos pastores logo após o nascimento de Jesus: “Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” Lc 2,10. A alegria da Boa Nova, que é o advento de Jesus, vai do anúncio do anjo até a ressurreição do Senhor que confirma todas as profecias sobre o Messias e transforma em alegria a decepção dos discípulos de Jesus diante do desfecho da cruz. Ressurreição. Aqui temos a razão da alegria anunciada pelo anjo, sentida pelos pastores, cantada por Maria no Magnificat. Pois a crença de que o amor é forte como a morte (Ct 8,6) estava de vez superada. Não! O amor não é forte como a morte, é mais forte, ele a venceu no madeiro da cruz. Portanto, eis a razão da alegria de nosso evangelho: Jesus está vivo, ressuscitou! Imaginei então a alegria do kerigma dos primeiros cristãos, não alegria ilusória e romântica de uma vida sem problemas e sem desafios, pregada aos quatro ventos por “religiosos” de uma “teologia da prosperidade” que ignora por completo a proposta de Jesus, ou pior ainda, desvirtua por razões mercantilistas a verdadeira alegria do Evangelho: a morte não tem a palavra final, Jesus a venceu. O velho Simeão pressentiu a alegria desta vitória e declarou solenemente e sem medo algum: “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel” Lc 2, 29-32). Mesma alegria que levou o Apóstolo Paulo afirmar no meio de tantas provações: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl 121). Depois imaginei tantos mártires que não hesitaram em doar a vida pela alegria de serem instrumentos do evangelho. Mesma razão da força excepcional dos místicos que diante de noites escuras diziam com serena certeza que a aurora sempre vem depois de uma noite escura. Mesma razão ainda que faz de nossas comunidades leigas verdadeiras comunidades de esperança e de vida, onde a sede de Deus continua mais forte do que nunca, apesar de tantas provações, diferentes dos primeiros tempos do cristianismo, contudo, não menos desafiadoras. Diante destas reflexões não poderia deixar de concluir, não como uma receita mágica, mas, como uma provocação evangélica: a crise de valores, de existência, não seria por falta de um anúncio evangélico que fizesse ecoar em toda a terra a Boa Nova de uma grande alegria expressa não tanto por acúmulo de palavras lapidadas, mas por atitudes concretas de Franciscos de ontem e de hoje? Franciscos desapegados que sabem que o valor dos bens materiais pode ser medido pela alegria que eles nos proporcionam à medida que são partilhados, revelando o Cristo ressuscitado (cfr. Lc 24,30) e não acumulados num posso sem fundo de nossa pequena compreensão do verdadeiro sentido de todas as coisas, que não se encerram no tempo presente, pois neste caso seríamos os mais miseráveis de todos os homens (cfr. 1 Cor 15,19).