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POLÍTICA, GÊNERO E DIVERSIDADES

EMPODERAMENTO, AUTONOMIA FEMININA E TITULARIDADE EM


PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA: AS MULHERES DO PROGRAMA
BOLSA FAMÍLIA

Lina Penati Ferreira


linapenati@gmail.com
Universidade Estadual de Londrina

Trabalho preparado para sua apresentação no 9º Congresso Latino-americano de Ciência


Política, organizado pela Associação Latino-americana de Ciência Política (ALACIP).
Montevidéu, 26 ao 28 de julho de 2017
Empoderamento, autonomia feminina e titularidade em programa de transferência de
renda: as mulheres do Programa Bolsa Família

Lina Penati Ferreira


linapenati@gmail.com
Universidade Estadual de Londrina

Resumo: As políticas de transferência de renda se espalharam por boa parte da América Latina
desde do começo deste século e inúmeros são os estudos que buscam entender seus efeitos,
impactos e resultados. Este trabalho soma-se a essas pesquisas e se propõe a avaliar o Programa
Bolsa Família (PBF), política de transferência de renda brasileira, ressaltando o marcador de
gênero presente no Programa. Apesar de não estar oficialmente em sua formulação, encontra-
se pulsante no PBF uma forte demarcação de gênero. Para se ter uma ideia, atualmente, 93%
das titularidades do Programa são femininas, o que significa que são as mulheres as
responsáveis por administrar e manter o benefício que é direcionado para o arranjo familiar
como um todo. Dentre as pesquisas realizadas com essas mulheres titulares do PBF, alguns
resultados têm apontado um possível empoderamento feminino a partir do recebimento da
transferência monetária, em especial, pelo fato do benefício se encontrar no nome da mulher.
Contudo, neste trabalho, nos questionamos sobre o real efeito desse benefício, seja ele direto
ou indireto, na construção de um possível empoderamento dessas mulheres em situação de
pobreza. Partindo da pesquisa “Discriminação interseccional: estudo sobre a situação de
pobreza e empoderamento feminino entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no
Paraná e no Ceará” destacamos as principais diferenças sobre algumas esferas da vida das
titulares, antes e depois da entrada no Programa, porém, não identificamos possíveis correlações
entre empoderamento, autonomia feminina e o fato de estarem enquanto titulares do Programa.
Palavras-chave: Políticas Públicas; Empoderamento Feminino; Programas de Transferência
de Renda

1
Introdução

Desde meados do século passado as inquietações feministas vem tomando mais e mais
espaços nos debates sociais, acadêmicos e políticos. O incômodo sobre as desigualdades de
gênero tem movido os mais diversos estudos, que buscam verificar, explicar e por vezes propor
objetivos para a superação dessa disparidade. A proposta revolucionária presente na teoria
feminista, isto é, que os centros de poderes não estão somente nos Estados, mas sim dispersos
por diversas relações sociais e institucionais, nos faz reconhecer uma série de problemas,
objetos e perspectivas, que podiam até então passar despercebidos (MIGUEL; BIROLI, 2013).
A primeira Conferência Mundial da Mulher, realizada em 1975 no México foi um marco
na luta feminista internacional, porém, foi mais um início de diversas tentativas de
enfrentamento às desigualdades e violências de gênero. A última conferência realizada em
Pequim, no ano de 1995, trouxe em sua Plataforma de Ações uma tentativa de intervir nas
políticas públicas dos Estados signatários, de modo com que esses se atentem para as
desigualdades de gênero ao decidir e desenhar uma política (BANDEIRA, 2005).
A Plataforma de Ações estabelecida em Pequim trata também da proximidade cada vez
maior entre gênero e pobreza, sinalizando que os programas de enfrentamento à pobreza devem
levar em conta uma dimensão de gênero. Porém, não são esses os passos que os programas de
transferência de renda condicionada, espalhados por boa parte da América Latina, estão
seguindo. Como alerta Rodríguez Enríquez (2011) não se pode dizer que é pelo fato dos
cartões/benefícios estarem no nome da mulher que esses programas têm ações voltadas para o
enfrentamento a desigualdade de gênero, pelo contrário, o que a autora afirma é que esse tipo
de programa trata a mulher apenas como uma beneficiária operativa.
Dessa maneira, o intuito deste trabalho é debater o programa de transferência de renda
condicionada brasileiro, o Programa Bolsa Família (PBF), enquanto política pública, que tem
se distanciado dessa proposta internacional de ação. As mulheres são, no desenho do Programa,
preferencialmente as titulares e gerentes do benefício, contudo, isso não tem se revertido em
ações, dentro do próprio Programa, que estimule o empoderamento e autonomia feminina. No
geral, nossa indagação se refere sobre esse marcador de gênero que não pode ser negado no
PBF.
A partir disso é que nos perguntamos em que medida o PBF interfere direta ou
indiretamente no empoderamento de suas titulares, destacando algumas esferas da vida dessas
mulheres que julgamos relevantes para medir o nível de empoderamento e autonomia, e sua

2
possível relação com o Programa Bolsa Família. Para tal empreitada recorremos a debates
dentro da teoria feminista, bem como na literatura sobre políticas públicas e gênero e programas
de transferência de renda.

Mas afinal, ainda é possível falar em mulheres?

Quando falamos em uma Conferência Mundial de Mulheres ou uma Plataforma de


Ações para Mulheres ou mesmo em políticas públicas para mulheres, suscitamos uma questão
tradicional e espinhosa dentro da teoria feminista: podemos falar em Mulheres no geral? Isto é,
por quem ou de quem fala o feminismo? Poderíamos então rapidamente responder: ora,
mulheres! Mas, seguindo a lógica, a pergunta seguinte seria praticamente a mesma que a
primeira: por qual mulher ou de que mulher fala o feminismo? Segundo Iris Young (2003) esse
é o dilema da teoria feminista, isto é, se por um lado, a política feminista depende de um coletivo
social “mulheres”, por outro lado, definir esse coletivo sem essencializar a mulher tem sido um
grande desafio.
Se tomarmos como ponto de partida deste trabalho o movimento sufragista, podemos
destacar que, ainda que seu discurso estive comprometido com todas as mulheres, o problema
levantado tinha um claro recorte de classe e raça. Mas também podemos pegar outro caminho
e tomar como ponto inicial uma obra influente para a chamada “segunda onda” do feminismo,
a “Mística Feminina” de Betty Friedan1, e novamente teremos a mesma crítica, isto é, há, no
mínimo, um recorte de classe e raça nesta obra. Sem retirar qualquer relevância ou magnitude
desses movimentos e obra, os exemplos citados são importantes para ilustrar o problema do
Sujeito do feminismo.
Então, se optarmos por seguir a trilha de Simone de Beauvoir (2009) também veremos
um primeiro retrato genérico, isto é, a mulher é o Outro, “a mulher determina-se e diferencia-
se em relação ao homem, e não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial.
O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro” (BEAUVOIR, 2009, p. 17). Vale ressaltar que
o Outro, para a autora, não é exclusivamente a mulher, na história da humanidade há sempre
um Outro, principalmente para possa existir o “nós”. A diferença da situação das mulheres,
destaca Beauvoir, é que mesmo não estando em desvantagens numérica (como judeus e negros
nos Estados Unidos2) ou histórica (como o proletariado), as mulheres não se unem enquanto

1
FRIEDAN, Betty. Mística Feminina, Rio de Janeiro: Editora Vozes Limitada, 1971.
2 Neste momento Beauvoir está considerando a situação inicial dos negros em sua chegada no EUA.
3
grupo ou enquanto Sujeito, como fazem as outras minorias sociais (judeus, negros e
proletariado). As mulheres não dizem nós, por que no argumento de Beauvoir, a questão da
subordinação feminina é vista como natural, para boa parte dos homens e mulheres.
Mas temos que dizer que, a crítica direcionada para o movimento sufragista e para a
obra de Friedman, também cabe aqui a Beauvoir. A autora continua a falar em Mulheres, sem
diferenciar, por exemplo a situação entre trabalhadoras e pertencentes das altas classes, entre
brancas e negras, ou entre qualquer marcador social de diferenciação entre as mulheres. Porém,
há algo muito original na obra de Beauvoir (2009) que deve ser retomado na discussão sobre o
Sujeito do feminismo, é exatamente o ponto que deu fama a sua obra, isto é, a ideia de que
“ninguém nasce mulher: torna-se mulher” (BEAUVOIR, 2009, p. 547).
Ao lançar mão da ideia de tornar-se mulher, Beauvoir (2009) está se opondo a dois tipos
de explicação sobre o que é ser mulher. A primeira delas é a que está embasada no argumento
biológico, afirmando que a mulher é a fêmea da espécie humana e as desigualdades referente
aos gêneros deve-se às diferenças biológicas (“naturais”) entre macho e fêmea. A segunda
oposição de Beauvoir (2009) se direciona às explicações essencialistas, que tomam a mulher na
relação de um ideário do eterno feminino, relacionando, por exemplo, a mulher às funções de
maternidade ou trabalho doméstico a partir de um elo vocacional ou de uma essência do sexo.
Esses encaminhamentos dados por Beauvoir (2009) tem ligações diretas com a produção
feminista contemporânea sobre o Sujeito coletivo do qual se fala. Nesse sentido, o próprio
feminismo teve que lidar com a crítica que havia lançado, isto é, se em determinado momento
o feminismo evidenciou e problematizou a identidade abstrata do Sujeito universal, teve que
lidar também com a identidade abstrata da mulher. O essencialismo combatido pelo feminismo,
havia se tornado uma sombra para sua própria teoria. Um dos caminhos possíveis para
solucionar tal questão, passava então pelo reconhecimento da multiplicidade do indivíduo e das
diferentes formas de subordinação existentes (MOUFFE, 2003). Assim, a desconstrução do
sujeito Mulher e a constatação da importância dos outros componentes de identidade tem sido
um percurso seguido por parte das teóricas feminista.
Partindo da preocupação sobre a representação coletiva da qual fala o feminismo, Butler
argumenta que “as qualificações do sujeito têm que ser atendidas para que a representação possa
ser expandida” (BLUTER, 2003, p. 18), ou seja, é preciso rever essa noção de sujeito quando
se fala em representação política. A questão central posta para a perspectiva que adota a ideia
de um sujeito fragmentado é a representação e ação política ou o problema das identidades
coletivas ou mesmo o problema de uma política para mulheres. No entendimento de Butler

4
(2003), lidar com a questão da representação das mulheres seria falar de uma adoção de uma
prática política de coalização.
No geral, o que esse tipo de argumento faz é denunciar pontos essencialistas e discursos
privilegiados dentro da teoria feminista. Porém, como pudemos observar, ele não abre mão de
falar de mulheres enquanto um coletivo. Dessa forma, entendemos que insistir na fala de
mulheres enquanto grupo social é fundamental por diversos motivos. Um deles é a tentativa de
contrapor as teorias individualistas liberais que podem obscurecer as opressões de grupos, ao
não levarem em conta fatores sistêmicos, estruturais e institucionais. Além disso, é ainda
vantajoso pois oportuniza holofotes sobre a condição específica das mulheres inseridas em
outros grupos gerais, podendo assim falar de mulheres de tal religião, nacionalidade, etnicidade,
classe, etc., ademais, vale ressaltar que a política feminista perderia o sentido sem a noção de
“mulheres” (YOUNG, 2003).
Porém, a questão para Young (2003) é que a forma de tentar solucionar o dilema do
feminismo não foi até então bem-sucedida. Para a autora, tanto a “a tentativa de teorizar a
identidade de gênero como múltipla e não binária”, como, “o argumento de que as mulheres
constituem um grupo apenas no contexto politizado da luta feminista” não foram
suficientemente convincentes (YOUNG, 2003, p. 119). Diferentemente do que apresentamos
até agora, Young propõe que tratemos das mulheres enquanto uma série social, uma concepção
inicial de Sartre. Assim, diferente de um grupo, isto é, um “coletivo consciente do seu
reconhecimento mútuo e do seu propósito”, a série é um “coletivo social cujos os membros
estão passivamente unidos pelos objetos para os quais as suas ações estão orientadas, e/ou pelos
resultados objetivados dos efeitos materiais das ações dos outros” (YOUNG, 2003, p.124-5).
De forma mais detalhada, a autora define série como
(...) coletivo cujos os membros estão passivamente unificados pela relação que
suas ações têm com os objetos materiais e as histórias prático-inertes. (...).
Dizer-se que faz parte da mesma série não significa necessariamente que se se
identifique com um conjunto de atributos em comum que todos os outros
membros têm, por que o seu estatuto de membro é definido não por alguma
coisa que as pessoas são, mas antes pelo fato de, nas suas existências e ações
diversas, estarem orientadas em torno dos mesmos objetos ou estruturas
prático-inertes. Ser membro de uma série não define a identidade de uma
pessoa. Cada membro da série está isolado, é Outro para os Outros e, enquanto
membro da série, é Outro além de si próprio (YOUNG, 2003, p. 128).

Dessa maneira, tratar as mulheres enquanto uma série social parece-nos vantajoso, assim
como para Young (2003), pois possibilita equacionar as mulheres como um coletivo social
mesmo que nem todas as mulheres tenham pontos em comum, além de que não se baseia na
identidade como chave da participação do coletivo social. A autora define que “enquanto série,
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mulher é o nome de uma relação estrutural com objetos materiais tal como foram produzidos e
organizados por uma história anterior”, porém, “o gênero, tal como a classe, é um conjunto de
estruturas e objeto vastos, complexo, multifacetado, com várias camadas sobrepostas. Mulheres
são as pessoas que estão posicionadas como femininas por estas atividades” (YOUNG, 2003,
p. 129).
Assim, nos parece plausível afirmar que tratar de “mulheres” enquanto uma série social
é uma saída para o dilema do feminismo por que (1) evita a armadilha do essencialismo, pois
toma a mulher como um coletivo social passivo, não por definição própria, mas pelo local que
ocupam em uma determinada estrutura (estas estruturas podem variar de acordo com os
contextos) e (2) esquiva-se da definição de uma identidade ou uma autoidentidade e de ter que
definir mulher enquanto grupo (no sentido sarteriano) que tem consciência de seus membros e
seus objetivos (YOUNG, 2003). Obviamente, não descartamos a possibilidade das mulheres se
organizarem e então se tornarem um grupo (no sentido sateriano), porém, isso não significa que
ele terá um caráter feminista, nem que darão conta de todas as serialidade de um indivíduo.
Essa discussão é fundamental quando falamos de uma política pública para as mulheres,
ou mesmo, de uma política pública com perspectiva de gênero. É a partir da noção de mulheres
enquanto serialidade que podemos definir um viés de formulação e análise de políticas públicas
voltadas especialmente para esse grupo. É pensando através da lógica da serialidade que
podemos fundamentar as desigualdades presentes na vida de mulheres e homens e então
justificar a importância de políticas de diferentes incentivos para cada série. A seguir
aprofundaremos a discussão sobre política pública com perspectiva de gênero, tendo como
referência a noção de mulher enquanto serialidade.

Políticas com públicas com perspectiva de gênero

Para entender uma das fundamentações de nossa análise é preciso retomar a proposta da
perspectiva de gênero contida nas formulações, implementações e avaliações de políticas
públicas. Esse viés busca constantemente combater uma ideia de política pública tecnicista, em
que o discurso que sobressai é o do custo-benefício, não levando em conta outras dimensões
tão relevantes quanto. Na disputa por esses discursos, Nancy Fraser (2015) nos lembra como a
necessidade, ponto sempre levantado quando se discute uma política pública, é também
discursivamente construída. A autora afirma que “la discusión sobre las necesidades es un
medio para hacer y poner en duda reivindicaciones políticas, una jerga en la que el conflicto

6
político se materializa y las desigualdades se elaboran y cuestionan simbolicamente”
(FRASER, 2015, p. 75).
Dando seguimento na discussão, Fraser (2015) propõe três categorias para classificar as
disputas em torno do discurso sobre o que é necessidade ou, de forma mais direta, sobre o que
é um problema legítimo da sociedade e um possível objeto de políticas públicas. A primeira
classificação remete-se ao que ela denomina de discurso opositor, isto é, quando necessidades
de grupos subordinados adentram no debate público e passam a questionar o discurso
hegemônico. Nesse discurso, os movimentos sociais e grupos articulados tem grande relevância
(FRASER, 2015). Um claro exemplo dessa categoria é o questionamento sobre a divisão
público e privado, ou seja, quando se questiona essas fronteiras a possibilidade de debater
publicamente alguns temas, como o tempo que as mulheres dedicam ao trabalho de cuidado e
ao trabalho doméstico sem remuneração, se tornam realidade.
A segunda categorização feita por Fraser (2015) se remete a um discurso reprivatizante,
marcado institucionalmente pelas “iniciativas destinadas a desmantelar o reducir los servicios
de bienestar social, vender activos públicos, y/o desregular la empresa «privada»;
discursivamente, significa despolitización” (FRASER, 2015, p. 91). Geralmente esses discursos
são evocados no caminho contrário ao discurso opositor, e buscam despolitizar e desonerar a
sociedade e o Estados de certas questões. Nesse caso podemos pensar no mesmo exemplo do
discurso opositor, porém, utilizados para fins contrários, ou seja, reforçando que problemas
como o tempo que as mulheres dedicam ao trabalho de cuidado e doméstico sem remuneração
são de inteira responsabilidade privada e não devem ser pautados enquanto uma
responsabilidade pública.
Por fim, Fraser (2015) fala ainda do discurso dos responsáveis pela formulação,
implementação e avaliação das políticas públicas, os experts. A autora alerta para o fato de que
mesmo que um discurso seja politizado e se torne tema de debate público, dependerá sempre
do convencimento dos experts (burocratas, cientistas sociais, think tanks, revistas e associações
especializadas, juristas e instituições judiciais, etc.) para que se torne real. Segundo Fraser, esses
experts fazem o movimento de tornar as necessidades politizadas em necessidades
administrativas, a questão é que por vezes eles tendem a serem despolitizantes no sentido de
que tratam as pessoas como seres condicionados, minimizando sua agência e sua existência
enquanto sujeito (FRASER, 2015). Para resumir seu argumento, Fraser (2015, p. 95) ressalta
que
(...) cuando los movimientos sociales consiguen politizar necessidades
previamente despolitizadas, entran en el terreno de lo social en el que les
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esperan otros dos tipos de luchas. En primer lugar, tienen que enfrentarse a
poderosos intereses organizados y decididos a modelar las interpretaciones
hegemónicas de las necesidades de acuerdo con sus fines particulares. Em
segundo lugar, se topan con discursos sobre las necesidades elaborados por
expertos en el seno del Estado social y en torno al mismo. (...). Se trata de
luchas altamente complejas, puesto que los movimientos sociales buscan
típicamente la satisfacción estatal de sus necesidades desbordantes incluso
mientras tienden a oponerse a las interpretaciones administrativas y
terapéuticas de las mismas.

As pautas levantadas pelo feminismo a partir de um discurso opositor têm enfrentado as


lutas ressaltadas por Fraser (2015), tanto em relação aos discursos privatizantes como em
relação aos discursos de experts. Se fizermos o rápido exercício de recuperar historicamente a
relação entre movimentos feministas e de mulheres e Estado no Brasil, teremos uma dimensão
de como a conquista por direitos das mulheres tem sido um caminho de constantes embates.
Segundo Eva Blay (1999), os movimentos feministas e de mulheres brasileiro estiveram
presentes em momento cruciais, seja para as mulheres especificamente – como a luta pelo
sufrágio feminino na década de 1930 – ou para todo o país – na resistência à ditadura Vargas e
à ditadura Militar e no processo de redemocratização. Nesses processos os movimentos
feministas e de mulheres se colocavam enquanto discurso opositor, questionando as
hegemonias que pairavam no debate público (BLAY, 1999).
Ainda segundo Blay (1999), foi durante o processo de redemocratização que muito se
avançou na agenda de políticas públicas para mulheres. Foi nesse período de reorganização
nacional que algumas reinvindicações dos movimentos foram conquistadas, como é o caso da
Delegacia da Mulher e dos Conselhos da Mulher. Todavia, o movimento que obteve esse
sucesso pressionando majoritariamente o poder executivo durante a década de 1980, supôs,
segundo Blay (1999), que os mecanismos democráticos instituídos na redemocratização, como
conselhos, seriam suficientes para a continuidade nos avanços, sem contar com os movimentos
opositores, reprivatizantes e de experts que surgiram nesse processo e que se mantem até hoje.
Um bom exemplo dessa disputa foi o surgimento da Secretaria de Política para as Mulheres
(SPM), sua passagem para o status de ministério e mais recentemente sua minimização, apoiada
no discurso reprivatizante.
Porém, é preciso destacar que nem todas as políticas e avanços foram minados no
recente processo de diminuição do status da SPM. Uma expressão que ainda está presente em
alguns textos de formulação de políticas públicas e no debate sobre implementação é a noção
de transversalidade de gênero, importada da última Conferência Mundial das Mulheres, a
Conferência de Beijing, em 1995. Esse conceito, orginalmente chamado de gender

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mainstreaming, surgiu como uma tentativa de intervir nos processos de decisões das políticas
públicas a partir de uma perspectiva que diferencie homens e mulheres enquanto público dessas
políticas. Essa transversalidade também se propõe a promover a melhoria do status das
mulheres nas mais diversas esferas (econômica, política, cultural, social, educacional, jurídica,
seguridade social, etc.) (BANDEIRA, 2005). Definiremos por transversalidade de gênero nas
políticas públicas
A ideia de elaborar uma matriz que permita orientar uma nova visão de
competências (políticas, institucionais e administrativa) e uma
responsabilização dos agentes públicos em relação à supressão de assimetrias
de gênero, nas e entre as distintas esferas do governo. Esta transversalidade
garantiria uma ação integrada e sustentável entre as diversas instâncias
governamentais e, consequentemente, o aumento da eficácia das políticas
públicas, assegurando uma governabilidade mais democrática e inclusiva em
relação às mulheres (BANDEIRA, 2005, p. 5).

Assim, quando tratamos de uma política pública com perspectiva de gênero, ou a partir
de uma transversalidade de gênero, estamos considerando previamente que há uma diferença
na construção social do que é ser homem e ser mulher e, por conseguinte em seus resultados na
realidade social, além de considerar possível uma ruptura com essas desigualdades.
Outra questão tratada na Conferência de Beijing e que nos dedicaremos a partir de agora
foi a relação entre políticas de superação da pobreza e transversalidade de gênero. Segundo
Lourdes Bandeira (2005) a Plataforma de Beijing verificou a crescente relação entre mulheres
e pobreza e propôs que o enfrentamento desta não poderia se dar a partir de programas que não
levasse em conta as diversas desigualdades, tanto sociais, econômicas e políticas. Na sessão
seguinte, abarcaremos como os programas de enfrentamento a pobreza tem tratado a questão
da desigualdade de gênero.

Programa Bolsa Família e gênero

As políticas de transferência de renda direta, focalizada e condicionada, tornaram-se


instrumentos de alívio da pobreza por grande parte da América Latina, onde as outras políticas
sociais não estavam bem consolidadas. Segundo Barbara Soares (2010), por esse motivo, elas
perderam o sentido original de inserir na rede de proteção aqueles/as que por algum motivo não
estavam sendo atendidos/as, e tornaram-se um fim em si mesmas, tornaram-se a própria e
principal política social.
Políticas desse tipo tem características muito bem formuladas e que estão contidas em
sua própria nomenclatura, isto é, são diretas por que a transferência se dá de forma monetária
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diretamente para o/a beneficiário/a; são focalizadas por que visam atingir famílias
comprovadamente pobres, pagando a diferença necessária para que seus beneficiários/as
atinjam a linha de corte da pobreza; e são condicionadas pois trabalham com uma instrumento
de autofocalização, ou, como é conhecida no caso brasileiro, com as condicionalidades, o que
significa que os indivíduos só recebem o benefício ao cumprir as contrapartidas. O Bolsa
Família é conformado como uma política de transferência de renda focalizada em que a seleção
se dá por autofocalização do tipo welfare, isto é, por meio das condicionalidades que reforçam
os serviços de educação, saúde e assistência social (SOARES, 2010).
Criado no ano de 2003, o Programa Bolsa Família segue um modelo parecido ao de
outros programas do mesmo caráter na América Latina, se destacando pelo número de pessoas
atendidas, tendo uma das mais altas coberturas da população alvo (RODRÍGUEZ ENRÍQUEZ,
2011). Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA)3, o PBF está
focalizado em famílias com renda per capta de até 170,00 reais (situação de pobreza) que
tenham crianças e adolescentes na composição familiar, ou de até 85,00 reais per capta
independente da composição familiar (situação de extrema pobreza). Outra caraterística do
Programa é que ele também é seletivo, o que significa que na prática não basta estar dentro dos
critérios, pois cada município conta com uma cota de benefícios que é estipulada de acordo
com a estimativa da população em situação de pobreza. Assim, mesmo que indivíduos se
encaixem nos critérios do Programa, só receberão a transferência de renda se houver cota de
benefícios para a cidade.
O MDSA afirma ainda que o Bolsa Família conta com três eixos principais: o alívio
imediato da pobreza, através da transferência de renda; o acesso a direitos básico, por meio das
condicionalidades; e a superação da situação de vulnerabilidade, com ação de programas
complementares. O Programa, a partir desses três eixos, se configura como um programa de
transferência de renda condicionada (PTRC) em que a renda somente é transferida em razão do
cumprimento de contrapartidas, ou seja, a família somente recebe o benefício mediante a
permanência de crianças e adolescentes na escola com taxas mínimas de frequência e o
acompanhamento de crianças e gestantes pelo centro de referência da saúde.
A manutenção da condicionalidade revela então uma característica marcante do PBF e
de tantos outros PTRCs instituídos pela América Latina, isto é, a preferência pela titularidade
feminina. Para se ter uma dimensão dessa regra basta dizer que no caso do PBF, 93% das

3
Valores referentes ao mês de maio de 2017. Acesso em 15 de maio de 2017. Disponível em:
http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e/como-funciona
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titularidades são femininas. Isso significa que há uma predileção pelas mulheres enquanto
representantes da família, delegando a elas a responsabilidade de realizar e atualizar o Cadastro
Único (porta de entrada do Programa); receber a transferência em seu nome; aplicar os recursos
beneficiando toda a família; gerenciar as condicionalidades (acompanhar a frequência escolar
e a pesagem das crianças e adolescente); e, participar de reuniões e atividade vinculadas ao
programa (MARIANO; CARLOTO, 2009). Nesse sentido, é que Silvana Mariano e Cássia
Carloto (2009), nos alertam para como o PBF e os PTRCs latinos se tornaram um objeto
importante de reflexão sobre como o Estado incorpora os papéis tradicionais de gênero e
família.
Nos documentos disponibilizados pelo governo, a partir do MDSA e da Controladoria
Geral da União (CGU), o argumento para a titularidade feminina no PBF está fundamentado
no fato de que “evidências levantadas em experiências de implementação de políticas sociais
no Brasil e no exterior, indicam que as mulheres são mais seletivas no gasto e privilegiam as
demandas de toda a família, o MDS recomenda que a mulher seja cadastrada como responsável
legal pela família” (BRASIL, 2007, p.56). Além de documentos do MDS, essas indicações
encontram-se também em pesquisas, como a realizada pelas Ações em Gênero, Cidadania e
Desenvolvimento (AGENDE). Tal pesquisa revela que os agentes governamentais apostam na
titularidade feminina por questões ligadas à maternidade, mas fundamentalmente por questões
ligadas ao contato diário com a casa, e consequentemente com as crianças. Para a pesquisa,
“seja a ênfase posta nas crianças ou na casa, o entendimento mais generalizado é que as
mulheres devem ser as titulares do benefício porque são elas as que sabem como fazer”
(AGENDE, 2015, s/p).
Segundo Ana Fonseca (2010), dois argumentos estariam em um plano de fundo para o
fato de as mulheres serem titulares dos programas de transferência de renda. A primeira
hipótese é de que a transferência de renda no nome das mulheres equilibraria a diferença de
poder entre homens e mulheres, e por consequência, essa relação entre gêneros mudaria. A
segunda é que as mulheres utilizariam melhor o recurso para a família e cumpririam as
condicionalidades com maior naturalidade. Do que foi exposto até agora podemos perceber
como o PBF utiliza em seu desenho e em sua implementação, o tradicional papel social da
mulher, diretamente ligado à esfera reprodutiva e de cuidado, para fazer a interlocução entre as
ações estatais e a família. Para Mariano e Carloto (2009, p. 904) “ao ser incluída no PBF a
mulher é tomada como representante do grupo familiar, vale dizer, o grupo familiar é

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materializado simbolicamente pela presença da mulher. Esta, por sua vez, é percebida tão
somente por meio de seus papéis femininos, que vinculam, sobretudo, o ser mulher ao ser mãe”.
Nesse sentido, Corina Rodríguez Enríquez (2011) chama a atenção sobre como as
relações de gênero estão intrínsecas no desenho dos programas de transferência de renda
espalhados pela América Latina. Assim, para a autora, o fato de o cartão estar no nome da
mulher “no implica que tenga incorporado enfoque de género, ni garantiza que contribuya a
la pomoción de los derechos de las mujeres y a igualdad de género” (RODRÍGUEZ
ENRÍQUEZ, 2011, p. 22). Ela denominará o papel reservado às mulheres nesses programas
como beneficiárias operativas.
Las mujeres son, por tanto, beneficiarias operativas. Esta funcionalidade se
sostiene em la creencia de que las mujeres tienen una mayor predisposición
“natural” a redistribuir los recursos al resto de los miembros del hogar, a
uma actitud altruísta a favor del bienestar de los niños y las niñas, y a um
manejo más prudente, cauteloso, cuidadoso y eficiente de los recursos
(RODRÍGUEZ ENRÍQUEZ, 2011, p. 22).

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que rege também o PBF, tem como
foco a família. Porém, segundo Carloto e Mariano (2010), é preciso entender o que é a família
e analisá-la por diversas faces, considerando-a um espaço físico, relacional e simbólico, que se
refere a significados bons (exemplo: espaço acolhedor) e ruins (exemplo: espaço marcado por
diversas violências). Dessa forma, entendemos que a família contemporânea ocupa um lugar
contraditório e privilegiado nas discussões sobre a divisão entre o mundo público e o privado.
Vale destacar aqui que as críticas sobre a divisão público/privada proposta pelo
feminismo rende um extenso debate teórico. De forma simplista, podemos dizer que para as
feministas o nó do problema está no fato de que a partir desse dualismo criou-se uma série de
fronteiras sobre o que deve ou não fazer parte dos debates públicos, afastando, na maior parte
das vezes, questões familiares, domésticas e até mesmo trabalhistas da arena política. Nessa
tradicional divisão, o público está baseado em princípios racionais, universais e impessoais,
enquanto a esfera privada, em princípios pessoais e íntimos. Dessa mesma forma,
tradicionalmente o homem estaria para a esfera pública, assim como a mulher para a privada
(MIGUEL; BIROLI, 2013).
Ao identificar a mulher como mediadora do grupo familiar, por excelência a
representante do mundo privado, o Programa e, em geral, as políticas da assistência social,
acabam por configurar as mulheres como meio e não fim da política social. Por outro lado,
devemos reconhecer que a própria assistência social e o Programa Bolsa Família produziram
uma entrada das mulheres na vida pública por meio de sua configuração e desenho, isto é, as

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mulheres adentram os espaços públicos através da política de assistência. A grande questão,
porém, é que essa saída parece ambígua, pois os problemas que trazem tais mulheres à essa
esfera pública têm relação direta com problemas privados que resultaria em uma passagem
incompleta e insuficiente para o avanço das mulheres à esfera do público, do político, do
produtivo, etc. (CARLOTO; MARIANO, 2010).
Assim, a ideia de empoderamento feminino através da titularidade do Programa cai por
terra e se revela o lado em que o Estado, a partir de uma política pública, passa a reforçar a
divisão tradicional entre público e privado, entre papeis de homens e mulheres. Políticas que
realmente poderiam alterar as relações sociais, econômicas e políticas das mulheres são
ignoradas. Isso é exemplificado em pesquisas, como a de Lavinas (2015), que tem apontado
fatores realmente relevantes para a melhora na renda das mulheres. Por exemplo, ter máquina
de lavar, o que envolveria ter água e esgoto encanado, poderia aumentar em 42% a renda das
mulheres pobres. Outra política que poderia elevar a renda das mulheres seria o serviço de
educação infantil. Segundo os dados apresentados pela autora, um filho fora da creche significa
menos 46,70 reais no orçamento mensal familiar, já um filho fora da pré-escola significa um
déficit de 28,57 reais. Pesquisas como essa apontam como a oferta de serviços pode atingir
positivamente a renda das mulheres, tanto quanto a transferência de renda (LAVINAS, 2015).
Por fim, seria interessante recuperar a proposta de Corina Rodríguez Enríquez (2011)
sobre duas possíveis tipologias de programas de transferência de renda, uma que leva em conta
a perspectiva de gênero e a outra não. Assim, para a autora um PTRC com potencialidades de
enfrentamento às desigualdades de gênero se caracteriza por priorizar direitos individuais e não
familiares, excluindo assim o papel do titular; incluir serviços de cuidado, como creches, na
lista de serviços básicos oferecidos; pela adoção de condicionalidades não punitivas; promoção
de componentes que incentivem a divisão do trabalho produtivo e de cuidado; e, mecanismo de
participação dos/as beneficiários/as e identificação das demandas específicas das mulheres. Já
os programas com fraca potencialidade à igualdade de gênero são oposto e costumam se
caracterizar pela focalização na família com titularidade feminina; por baixos benefícios e não
oferta de serviços de cuidado; pela presença de condicionalidades punitivas; pelo não incentivo
à divisão do trabalho produtivo e de cuidado; e, a não promoção da participação e identificação
das demandas das mulheres (RODRIGUEZ ENRÍQUEZ, 2011).

13
Estudo de caso: as titulares do PBF em Curitiba-PR

O que se pretende neste momento é testar, pelo menos em alguma medida, as hipóteses
de que a titularidade feminina no Programa Bolsa Família aumenta o poder das mulheres
titulares em relação aos homens e às outras relações de poder nas quais estão envolvidas. Como
esclarecido neste trabalho, reforçamos que os objetivos diretos do PBF não contam com
questões sobre empoderamento feminino, porém, entendemos que ao tomarem as mulheres
como titulares preferências traçam um claro recorte de gênero no Programa. Assim, nosso foco
será nos chamados “efeitos” do Programa, isto é, resultados não objetivados, mas que estão
relacionados a implementação do Programa. Para isso, tomaremos como referência de análise
empírica a proposta metodológica de Sônia Draibe (2001), que irá propor um passo a passo
para análise dos chamados “efeitos”.
Para a autora, antes de qualquer passo é preciso definir a natureza do objeto analisado,
podendo ser uma política, um programa ou um projeto – no nosso caso o Programa Bolsa
Família. Dado esse primeiro passo, Draibe (2001) apresenta um esquema sobre os tipos e a
natureza das avaliações de políticas públicas e sociais, ilustrado no quadro a seguir.
Quadro 1- Tipologias de avaliação de políticas públicas e programas sociais.
ex ante: ocorre durante a preparação ou
formulação do programa; objetivos: produzir
orientações e diagnósticos para futuras
comparações.
Relação temporal
ex post: ocorre durante ou após a realização do
programa; objetivos: medir a eficiência e a
eficácia e avaliar os resultados, impactos e
efeitos.
Processos: centralizam-se no desenho,
características organizacionais e
Natureza da avaliação desenvolvimento.
Resultados: foca na relação entre objetivo e
resultados alcançados.
Fonte: DRAIBE, 2001.
Organização: própria autora.

A primeira tipologia refere-se ao período delimitado para o estudo, isto é, antes, durante
ou após a implementação da política. Como também está evidenciado no quadro, nossa análise
pode ser considerada ex post, pois se trata de uma avalição durante o funcionamento do
programa. Já a segunda tipologia é referente à natureza da proposta, no nosso caso, sobre
avaliação de resultados. Nesse tipo de análise, as perguntas têm relação com os objetivos, como
por exemplo, se estes estão sendo cumpridos, como e com qual qualidade (DRAIBE, 2011).
14
Outra preocupação metodológica de Draibe (2011) se apresenta a partir da nossa escolha
pelo tipo ex post. Seguindo então seus passos podemos dizer que nossa análise ocorreu da forma
que a autora denominou de avaliação de resultados. O Quadro 2 exemplifica as possibilidades
e os indicadores necessários para realizar uma análise desse tipo, e novamente nossa escolha
encontra-se destacada. A justificativa por esse tipo de análise está relacionada ao nível de
indicadores produzidos por nossa pesquisa, que se aproximam muito mais de uma percepção
de efeitos produzidos pelo PBF na vida dessas mulheres do que, por exemplo, números que nos
garantam os chamados “efeitos líquidos” do Programa, o que significaria a escolha por uma
análise de impactos.
Quadro 2- Tipologias e indicadores para avaliação de resultados de políticas públicas e
programas sociais.
Tipologias Indicadores
Que confrontem as realizações
Desempenho: os resultados
alcançadas com os objetivos
esperados nas metas.
esperados.
Impactos: alterações Que possam medir os efeitos
Avaliação de resultados
produzidas pelo programa na “líquidos” que o programa
realidade social. produziu na realidade.
Que meçam impactos indiretos
Efeitos: impactos indiretos
nos implementadores, grupos
sociais e institucionais.
interessados, instituições, etc.
Fonte: DRAIBE, 2001.
Organização: própria autora.

Os dados utilizados neste trabalho fazem parte da pesquisa Discriminação


Interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino entre mulheres
titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará coordenada pela Profa. Dra.
Silvana Mariano. A pesquisa foi desenvolvida do início de 2013 até o final de 2014, tendo como
mês de realização das entrevistas setembro e outubro do primeiro ano. A coleta de dados se deu
de duas maneiras: através de um questionário misto, em entrevistas realizadas com 190
mulheres; e de grupos focais, sendo realizado um em cada cidade. Por limites desse trabalho,
analisaremos apenas as informações referente a cidade de Curitiba-PR.
O questionário utilizado nas entrevistas contava com mais de sessenta questões, por
vezes sendo perguntas fechadas (com opções pré-determinadas de respostas) e por outras vezes
abertas (sem opção prévia de resposta). Vale salientar que esse instrumento vem sendo
desenvolvido e aperfeiçoado pelo grupo de pesquisa coordenado pela Profa. Silvana Mariano
desde 2009 e já foi aplicado em outras versões e em outras localidades. Levando em conta nossa
amostragem, resultada através dos cálculos estatísticos de confiabilidade, chegamos ao total de

15
95 questionários para cada cidade. No município de Curitiba, realizamos as entrevistas com
uma equipe de cinco pesquisadoras em oito Centros de Referência da Assistência Social-CRAS,
localizados em diversos pontos da cidade. Vale ressaltar que para a edição, cruzamento e análise
dos dados, foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences- SPSS.
Como mencionado no início dessa sessão, a questão central que procuraremos responder
é sobre um possível aumento de poder entre as titulares do PBF. Dessa forma, foi dirigida às
entrevistadas a questão sobre suas percepções sobre um possível aumento de poder nas tomadas
de decisões após a entrada no PBF.
Gráfico 1- Percepção das titulares do PBF sobre o aumento de poder após a entrada no
Programa- Curitiba. (porcentagem).

66,3
31,6
2,1

Houve aumento Não houve aumento Não Sabe/ Não Respondeu


Fonte: Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino
entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará.

Segundo o Gráfico 1, as titulares do Programa, em Curitiba, sentem-se com maior


aumento de poder nas decisões tomadas. Das 95 entrevistadas, 66,3% consideraram que houve
um aumento de poder após se tornarem titulares, diferença notória para aquelas que não tiveram
a mesma percepção (31,6%). Porém, ainda nos resta saber que tipo de poder elas estão
considerando que aumentaram, questão que o gráfico seguinte responde. Vale salientar, que a
próxima questão era “aberta” e com resposta não obrigatória, o que significa que teremos um n
alterado. Essas respostas foram categorizadas a partir da análise de conteúdo e se encontram
nas categorias representadas no Gráfico 2.

16
Gráfico 2- Tipos de decisões sobre as quais as titulares do PBF adquiriram mais poder -
Curitiba

Passear com os filhos 1%


Acesso ao crédito 1%
Compras sem pedir autorização do marido 3%
Pagamento de água e luz/contas 4%
Compra de uniforme e material escolar 4%
Tomar as decisões de casa 5%
Compra de roupas e calçados 7%
Compra de comida 8%
Outros 9%
Administração do dinheiro 9%
Escolha sobre o que quer comprar 11%
Compras (sem especificações) 16%
Compras para as crianças/filhos 22%

Fonte: Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino


entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará.

Ao responderam em quais decisões perceberam esse aumento de poder, a grande maioria


apontou questões relacionadas ao consumo, isto é, 71% das entrevistadas disseram que as
decisões sobre as quais adquiriam mais poder foi o de compras, levando em conta desde a
possibilidade de escolher o que comprar, passando pelas compras em gerais, até aquelas mais
específicas, como para as crianças. Isso significa que, o aumento de poder percebido pela
maioria das titulares está relacionado com o poder de consumo.
As repostas que não tem relação com o poder de compra são minoritárias. A primeira
que se destaca é a administração do dinheiro com 9%, seguida da “tomada de decisão em casa”,
com 5%. Outra categoria que, apesar de estar relacionada com o poder de compra, está
diretamente ligada com um possível aumento de poder é “compras sem pedir autorização para
o marido” que aparece apenas com 4%. Essas categorias elencadas são fundamentais para uma
análise que tente apontar um possível empoderamento feminino, porém, essas porcentagens são
estatisticamente irrelevantes em comparação com aquelas relacionadas ao poder compra.
Esses dados também confirmam uma aposta do Programa, isto é, de que as mulheres
maximizam o dinheiro, convertendo os gastos da melhor forma possível para toda a família.
Quando o documento do MDS (2007, p. 56) afirma que “as mulheres são mais seletivas no
gasto e privilegiam as demandas de toda a família” e por isso devem ser preferencialmente as
titulares do benefício, eles relatam uma realidade também encontrada por nossa pesquisa. O
ponto é que ao tomar esse posicionamento, o Programa trata as mulheres enquanto beneficiárias
operativas (RODRIGUEZ ENRÍQUEZ, 2011), minimizam sua agência e autonomia,
17
encarando-as apenas como uma mediadora entre Estado-cidadãos e não como um sujeito de
direitos.
Na tentativa de continuar a investigar os possíveis níveis de empoderamento, a Tabela
1 apresenta as informações sobre qual membro do arranjo familiar que toma as decisões em
uma série de fatores no domicílio. De acordo com as declarações das entrevistadas, a maior
concentração de poder nas decisões femininas encontra-se em tópicos relativos à autonomia
individual (cuidados estéticos, escolha do vestuário, trabalho remunerado, uso de
anticoncepcionais). Nos quesitos relativos às liberdades individuais, aquele referente à
liberdade de ir e vir é o que apresenta o menor percentual de respostas, com 76% dos casos em
que a decisão é da própria entrevistada, ainda sim, uma alta porcentagem.
Em segundo lugar, o poder de decisão das entrevistadas se localiza nos tópicos relativos
ao consumo doméstico. Nesse rol, os gastos com roupas para os/as filhos é o quesito que mais
se concentra na decisão das mulheres (83%), seguido de perto pela decisão sobre os gastos com
alimentação (80%). Em contrapartida, as situações sobre as quais as respondentes menos
decidem são relativos ao poder econômico (gastos com bens duráveis e com saúde). As decisões
tomadas pelo companheiro/marido aparecem pouco e são minoritárias em todos os tópicos da
consulta, ou seja, ter o não companheiro/marido pouco muda no seu poder de escolha, razão
pela qual dispensamos o trabalho de cruzamento desses dados com a situação conjugal das
respondentes.

18
Tabela 1 - Que membro do arranjo familiar toma as decisões sobre determinadas situações no
domicílio – Curitiba

Casal igualmente

Outra pessoa da
Companheiro/a

Entrevistada e
Entrevistada

Filhas/os

filhas/os
família

Total
Gastos com alimentação da casa 80% 4,2% 7,3% 4,2% 1,1% 3,1% 100%
Gastos com as roupas de crianças e
87,7% 2,2% 2,2% 2,2% 3,3% 2,2% 100%
filhos/as
Interrupção da escolarização de crianças
65,5% 2,2% 11,5 % 2,2% 16,1% 2,2% 100%
e filhos/as
Gastos com serviços de saúde e remédios
78,3% 9,6% 7,2% 1,2% 2,4% 1,2% 100%
de crianças e filhos/as
Gastos com compra de bens duráveis
64,1% 12,8% 12,8% 3,8% 2,5% 3,8% 100%
para a casa
A entrevistada deve ter um trabalho
93,6% 2,1% 2,1% 0% 1,1% 1,1% 100%
remunerado
O companheiro/a deve ter um trabalho
27,9% 67,4% 4,6% 0% 0% 0% 100%
remunerado
O de uso de métodos anticoncepcionais 89,7% 2,2% 7,9% 0% 0% 0% 100%
O uso de vestuário da entrevistada 91,5% 4,2% 3,1% 0% 0% 1,1% 100%
Cuidados estéticos da entrevistada 98,9% 0% 0% 0% 1,1% 0% 100%
Lugares que que a entrevistada pode
77,4% 8,6% 10,7% 1,1% 1,1% 1,1% 100%
frequentar

Fonte: Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino


entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará.

O que a Tabela 1 nos apresentou foram questões importantes para o processo de


empoderamento feminino, com as altas porcentagens sobre suas decisões individuais. Todavia,
é preciso destacar que quando as decisões se dão nas esferas coletivas, suas ações se voltam
mais para as relações de reprodução e cuidados, do que para as deliberações que envolvem
gastos extraordinários. É sabido, como ressaltado no trabalho, que o Programa Bolsa Família
tem reforçado tais obrigações, fortalecendo o papel tradicional feminino, que envolve os
cuidados com a casa e com os filhos. Além disso, esses dados são relativos a vida das mulheres
de forma mais ampla que apenas sua relação com o Programa, o que significa que é difícil
afirmar que as altas taxas referentes a indicadores de empoderamento tenham relação com o
recebimento do benefício.

19
Um outro fator importante quando se fala em possibilidades de empoderamento das
mulheres, principalmente em situação de pobreza, é a participação no mercado de trabalho.
Adiante veremos a relação das entrevistas com o mercado de trabalho.
Gráfico 3- Situação das titulares do PBF no mercado de trabalho remunerado- Curitiba
(porcentagem)
52,6
47,4

Trabalha Não trabalha


Fonte: Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino
entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará.

Gráfico 4- Relação das entrevistadas com o mercado de trabalho remunerado e o PBF- Curitiba
(porcentagem).

NS/NR 3,2
Trabalho intermitente 3,2
Nunca trabalhou 5,3
Não trabalhava e passou a trabalhar depois do PBF 6,3
Trabalhava e parou de trabalhar antes do PBF 8,4
Trabalhava e parou de trabalhar depois do PBF 9,5
Sempre trabalhou 64,2

Fonte: Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino


entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará.

Os Gráficos 3 e 4 nos mostram a relação dessas titulares com o mercado de trabalho no


momento da entrevista e ao longo de suas vidas, tendo como marcador a entrada no Programa
Bolsa Família. A partir desses dados, podemos perceber que a maioria (52,6%) das titulares
trabalhava no momento em que foram entrevistadas, contudo, essa situação não seria uma
novidade dada a partir do Programa, pois no gráfico seguinte, observamos que 64,2% sempre
tiveram uma relação constante com o mercado de trabalho remunerado.
Sobre a ideia de que o Programa é um marcador em relação ao mercado de trabalho,
tanto negativamente como positivamente, isto é, ora acusado de causar um “efeito preguiça”,
ora promovido a agente de geração de renda, entendemos que pouco tem interferido em
qualquer dessas relações. Como tratado anteriormente, a maioria das entrevistadas, mantem
uma relação constante com o mercado remunerado, independente da condição de beneficiária
ou não do PBF. Os indicadores que tentaram demonstrar alguma relação com a entrada no
Programa foram neutralizados, ou seja, enquanto 9,5% parou de trabalhar após receber o
benefício, 8,4% parou antes mesmo e 6,3% adentrou nesta esfera de trabalho após se tornar

20
beneficiária. Dessa forma, não foi percebida nenhuma alteração estatisticamente relevante
nessas categorias.
Nesse sentido, como já exposto por diversas autoras nesse trabalho, podemos afirmar
que o PBF tem ignorado as considerações feitas pela Plataforma de Ações da Conferência de
Pequim que propõe uma aproximação no enfrentamento à pobreza e às desigualdades de gênero.
Ter pouca influência sobre a inserção e permanência de suas beneficiárias titulares no mercado
de trabalho revela uma baixa potencialidade no enfretamento efetivo a pobreza, e como efeito,
uma baixa potencialidade também na promoção do empoderamento feminino.

Considerações Finais

A partir da análise de efeitos contida na metodologia de trabalho de Sônia Draibe (2001),


nos propusemos a trabalhar com indicadores que pudessem medir os impactos inesperados do
Programa, questionando sobre um possível empoderamento dessas mulheres. Entendemos que
não seja um objetivo do Programa promover o empoderamento e autonomia feminina, contudo,
ignorar o marcador de gênero existente no Programa seria impossível.

Assim, a hipótese de que a titularidade feminina produziria algum tipo de


empoderamento não foi comprovada. As análises demonstraram que apesar da maioria
identificar a entrada no Programa com um aumento de poder, esse poder está basicamente
relacionado ao consumo e entendemos que relacionar esse resultado a autonomia feminina seria
limita-la e reduzi-la ao poder de compra. Destacamos outros avanços na vida dessas mulheres,
principalmente em relação à autonomia individual, porém não há uma relação direta desse
resultado com o Programa. Por fim, também não identificamos uma maior entrada no mercado
de trabalho, indicador que poderia demonstrar uma possibilidade de saída da pobreza e aumento
da autonomia feminina. Dessa forma, esta pesquisa não demonstrou relação entre
empoderamento e autonomia feminina e titularidade do Programa.

Entendemos, mobilizando a proposta de transversalidade de gênero que é preciso


identificar nas políticas públicas os efeitos diferentes em homens e mulheres, e propor soluções
para tais pontos. Além disso, é relevante que se olhe para os níveis de desigualdades para uma
efetiva política de combate à pobreza. Segundo Lourdes Bandeira “a pobreza enfraquece a
cidadania feminina e impede as mulheres de assumir ações políticas interferenciais e legais para
modificar sua condição. Também torna precárias as possibilidades de romper com o ciclo
intergeracional da pobreza” (BANDEIRA, 2005, p. 12).
21
Assim, debater a interseccionalidade entre pobreza, gênero e outros marcadores sociais
da desigualdade é fundamental para o avanço do combate à miséria. Reforçamos a ideia de que
as políticas desenvolvidas também precisam se atentar para essa realidade e que o Programa
Bolsa Família não tem avançado suficientemente para que aumente a participação das mulheres
pobres no mundo do trabalho e da política, o que aumentaria evidentemente as chances de
superação do ciclo intergeracional da pobreza e o combate às desigualdades de gênero.

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