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inovação e sustentabilidade
nas cadeias globais
de valor
| Ciclo 2 |
Do Brasil para o mundo:
inovação e sustentabilidade
nas cadeias globais
de valor
| Ciclo 2 |
Sérgio Adeodato
Ana Moraes Coelho
Paulo Durval Branco
São Paulo
2017
Realização
Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas
(FGV-EAESP)
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)
Sobre a Apex-Brasil
Edição
Sérgio Adeodato
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investi-
Autores mentos (Apex-Brasil) tem a missão de desenvolver a competi-
Sérgio Adeodato tividade das empresas brasileiras no exterior, promovendo sua
Ana Moraes Coelho internacionalização e a atração de investimentos estrangeiros
Paulo Durval Branco
diretos (IED) para o Brasil.
Coordenação Executiva
Mario Monzoni e Paulo Durval Branco, GVces A Agência apoia mais de 11 mil empresas em 80 setores da
Christiano Braga e Adriana Rodrigues, Apex-Brasil economia brasileira, que por sua vez exportam para mais de 190
mercados. A Apex-Brasil também desempenha um papel fun-
Coordenação Técnica
damental na atração de investimento estrangeiro direto para o
Ana Moraes Coelho, GVces
Gilson Spanemberg, Apex-Brasil
Brasil, trabalhando para identificar oportunidades de negócios,
promovendo eventos estratégicos e dando apoio aos investidores
Equipe estrangeiros interessados em alocar recursos no Brasil.
Carolina Ochoa Koepke, Jessica Chryssafidis, Miria Alvarenga, Taís Brandão
Colaboração
GVces: Amália Safatle, Annelise Vendramini, Beatriz Kiss, Bel Brunharo, Bruno Heilton Toledo Hisanoto, Cíntya Feitosa, Daniela
Sanches, Fernanda Macedo, Isabella Fumeiro, Lívia Pagotto, Maria Cristina Fedato, Manuela Maluf Santos, Maria do Carmo
Righini, Mariana Goulios, Marina Borges, Maurício Jerozolimski, Phillipe Lisbona, Regina Lucia Gagliardi de Assumpção, Renato
Moya, Ricardo Barretto, Ricardo Dinato, Roberta Boccalini.
Professores FGV EAESP: André Pereira de Carvalho, Benjamin Rosenthal, Denise Poiani Delboni, Ligia Maura Costa, Marcus
Salusse, Newton Monteiro de Campos Neto, Wilson Nobre Filho
Apex-Brasil: Alessandra Peruzzo, Alex Figueiredo, Ana Cláudia Barbosa, Camila Meyer, Camila Rey, Cassio Akahoshi, Clarissa
Furtado, Diogo Duque, Gabriela Carreiro, Diogo Akitaya, Emanuel Teixeira, Enzo Farany, Fernanda Baker, Fernando Figueiredo,
Fernando Spohr, Gabriel Isaacsson, Guilherme Machado, Hanna Welgacz, Luciana Pecegueiro, Marcia Gomide, Maira Rodrigues,
Sobre o GVces
Mariana Ramos, Manoel Franco, Mauricio Manfré, Mônica Lobo, Priscila Negreiros, Sergio Farias Ferreira, Silvia Breda, Solete
Foizer, Tiago Terra, Ulisses Junior, Victória Osorio Sandoval.
Fundado em 2003, o Centro de Estudos em Sustentabilida-
Projeto Gráfico e Edição de Arte de (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Funda-
Walkyria Garotti ção Getulio Vargas (FGV-EAESP) é um espaço aberto de estudo,
Adeodato, Sergio. aprendizado, reflexão, inovação e de produção de conhecimento,
Fotos
Do Brasil para o mundo [recurso eletrônico] : inovação e sustentabilidade composto por pessoas de formação multidisciplinar, engajadas
Ricardo Lisboa / Yantra Imagens, nas cadeias globais de valor - Ciclo 2 / Sergio Adeodato, Ana Moraes Coelho,
F. Pepe Guimarães / Yantra Imagens, Paulo Durval Branco. – São Paulo : GVces/EAESP-FGV, 2017.
e comprometidas, e com genuína vontade de transformar a so-
ShutterStock
0 p. ciedade. O Centro atua na formulação e acompanhamento de
ISBN: 978-85-94017-02-4 políticas públicas, na construção de instrumentos de autorregula-
Revisão
José Julio do Espirito Santo
1. Sustentabilidade. 2. Pequenas e médias empresas. 3. Comércio exterior. ção e no desenvolvimento de estratégias e ferramentas de gestão
4. Inovações tecnológicas. I. Coelho, Ana Moraes. II. Branco, Paulo Durval. III.
Fundação Getulio Vagas. IV. Título.
empresarial para a sustentabilidade, nos âmbitos local, regional,
CDU 504.06 nacional e internacional. Sua missão consiste em expandir de for-
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação
ma colaborativa as fronteiras do conhecimento, contribuindo para
Getulio Vargas - SP um desenvolvimento sustentável nos setores público e privado.
Prefácio
Nas últimas duas décadas temos observado o avanço persis- sustentabilidade, com objetivo de iniciar ou expandir negócios
tente, em abrangência e profundidade, dos desafios e oportuni- em mercados internacionais.
dades socioambientais na agenda dos negócios. Frente aos limites Se no seu primeiro ciclo o ICV Global teve o mérito de validar
da capacidade de suporte do planeta e à imperiosa necessidade hipóteses e tornar realidade um projeto-piloto, neste segundo
de redução das desigualdades sociais, as empresas cada vez mais avançou na capacidade de atendimento a mais empresas, na
reconhecem que o tema da sustentabilidade está intimamente consistência e completude da metodologia adotada, assim como
relacionado à criação ou destruição de valor para seus proprie- na abrangência de atores mobilizados no Brasil e no exterior com
tários, acionistas e demais públicos de interesse. Por essa razão, o objetivo de criar oportunidades para as MPEs atendidas. Os
tem sido crescente a adoção de práticas de gestão e o desen- esforços empreendidos nos dois ciclos do projeto já se tornam
volvimento de produtos e serviços que, além de minimizarem evidentes aos olhos do mercado, da mídia e de atores interna-
impactos negativos no meio ambiente e na sociedade em geral, cionais ligados ao comércio exterior. No primeiro caso, isso se
contribuem efetivamente para o equilíbrio dos ecossistemas e o expressou em exportações concretizadas por empresas do projeto,
bem-estar de clientes e consumidores finais. no segundo, em presença frequente na imprensa, com destaque
É neste contexto que as empresas de menor porte, em parti- para os casos de sucesso das empresas e a relevância da iniciativa.
cular as micros e pequenas (MPEs), estão ganhando destaque ao Já quanto aos atores do comércio exterior, cabe destacar o reco-
ofertarem soluções inovadoras para desafios reais decorrentes nhecimento pelo International Trade Centre (ITC), que classificou
das demandas socioambientais. Seja provendo rastreabilidade o projeto ICV Global como um dos finalistas da edição de 2016 do
para cadeias produtivas, utilizando matérias-primas de origem Trade Promotion Organization Network Awards, o qual reconhece
sustentável em lugar das não renováveis, criando modelos de ne- as boas práticas das agências de promoção de exportações.
gócio mais alinhados com uma economia circular, e tantas outras Os avanços e resultados obtidos até aqui nos estimulam a
inovações com potencial disruptivo, as MPEs ganham destaque seguir fortalecendo esta rede de apoio às MPEs que protago-
como fornecedores em cadeias de valor cada dia mais globalizadas. nizam soluções sustentáveis em cadeias globais de valor. Não
Essa dinâmica do atual ambiente de negócios não passou temos dúvida de que o esforço é estratégico para o país, com
despercebida para a Agência Brasileira de Promoção de Ex- potencial de melhor posicionar nossos produtos e serviços em
portações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Centro de Estudos mercados-chave, fortalecendo a contribuição do Brasil para um
em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo desenvolvimento efetivamente sustentável.
(GVces), os quais vêm somando esforços desde 2014 com base
em suas competências nos campos do comércio exterior e da
sustentabilidade empresarial. Consolidada através do projeto
Adriana Rodrigues
Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor (ICV
Coordenadora de Competitividade da Apex-Brasil
Global), a parceria entre a Apex-Brasil e o GVces já se encontra
em seu segundo ciclo de atendimento a MPEs brasileiras cujos Paulo Durval Branco
produtos e serviços se destacam por atributos de inovação e Vice-coordenador do GVces
Apresentação
Elaborado por meio da parceria entre a Agência Brasileira de cas empresariais, bem como no desenvolvimento de argumentos
Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Centro de venda que traduzam esses diferenciais. Um conjunto de info-
de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de gráficos aponta as etapas do projeto e os diferentes atores dos
São Paulo (GVces), este livro é fruto da união de conhecimentos ecossistemas de inovação, empreendedorismo, sustentabilidade
e consolidação de experiências em comércio exterior e desen- e comércio exterior que compõem a rede do projeto consolidada
volvimento de negócios por meio das práticas socioambientais, em seus dois ciclos.
advindas de ambas as instituições. A obra tem como fio condu- Já no terceiro capítulo, o leitor encontra os casos inspiradores
tor o trabalho realizado no âmbito do segundo ciclo do projeto das 31 micros e pequenas empresas que foram selecionadas em
Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor (ICV função do grau de inovação e sustentabilidade de seus negócios.
Global), que busca contribuir para a maturidade exportadora de São empreendimentos protagonistas de soluções em diferentes
empresas brasileiras de pequeno porte e para o posicionamento setores e desafios da sustentabilidade, como resíduos e pós-con-
de cadeias de valor no mercado internacional a partir do forta- sumo, consumo consciente, desenvolvimento local, agronegócio
lecimento dos atributos de sustentabilidade de seus produtos, e saúde/bem-estar.
serviços e comportamento empresarial. No quarto capítulo, dentro de uma abordagem mais pro-
O livro se inicia evidenciando o ganho de escala da inciativa positiva, explicitam-se os principais desafios e oportunidades a
em sua segunda edição, que triplicou o número de micros e serem endereçados pelo projeto e pelas instituições parceiras,
pequenas empresas atendidas, e a ampliação de parcerias para bem como os principais temas da sustentabilidade que afetam
que pequenos negócios prosperem no mercado internacional. a agenda internacional de negócios. São apresentadas proposi-
O primeiro capítulo também discorre sobre novas atribuições do ções que passam a fazer parte da pauta de atuação do GVces e
ICV Global, que passou a apoiar a Apex-Brasil na inserção de temas da Apex-Brasil, no sentido de fortalecer a presença de empresas
da sustentabilidade de forma mais estratégica e transversal nos brasileiras com diferenciais de inovação e sustentabilidade nas
seus diferentes departamentos e ações. Dessa maneira, a Agência cadeias globais de valor.
passa a promover os produtos e serviços brasileiros no exterior Boa leitura!
e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da
economia brasileira com o diferencial da sustentabilidade cada
vez mais presente. Gilson Spanemberg
Supervisor de Projetos Especiais da Coordenação
O segundo capítulo detalha a metodologia do projeto e sua
de Promoção de Negócios da Apex-Brasil
agenda de trabalho, que buscaram apoiar as empresas na criação
de uma estratégia de exportação a partir do aprimoramento dos Ana Moraes Coelho
atributos de sustentabilidade dos seus produtos, serviços e práti- Gestora de Projetos do GVces
Sumário
Modelo consolidado 22
Maior número de empresas e diversificação de negócios atendidos
ampliam a escala dos benefícios
Mosaico de soluções 40
Empresas incorporam novas práticas e conceitos, elaboram planos de
negócio e colocam a sustentabilidade na vitrine para avançar
no mercado externo
10 11
de 31 negócios de segmentos diver- Busca por
sificados, com oferta de soluções que competitividade
vão de alternativas para reciclagem e
destinação correta de resíduos à mobi- A tendência se reflete no modus
lidade urbana e alimentação saudável, operandi da Apex-Brasil como um
além de produtos e serviços que con- todo na missão de promover os pro-
tribuem com o desenvolvimento local dutos e serviços brasileiros no exte-
sustentável (leia no Capítulo 3). A esse rior e atrair investimentos estrangeiros
grupo somam-se mais dezessete ne- para setores estratégicos da economia
gócios que integram a cadeia produ- brasileira. O aprendizado com o ICV
tiva de grandes empresas “âncoras” em Global, diz Braga, ajudou a dar ampli-
dois setores tradicionalmente exporta- tude ao tema da gestão ambiental,
dores – vestuário e movelaria –, com incorporado de modo transversal nos
potencial de se diferenciar no mercado diferentes departamentos operacio-
internacional mediante atributos de nais e em novas frentes de ação.
inovação e sustentabilidade (leia mais Além disso, a iniciativa conjunta
às páginas 37 a 39). com o GVces tem contribuído para re-
“Nos últimos anos, o comércio novar e diversificar o portfólio de em- Para potencializar vendas externas, as formas de venda”, com suporte de
internacional está se transformando: presas apoiadas pela Apex-Brasil para a o ICV Global passou por adaptações pesquisas de mercado e outras ferra-
cada vez mais, padrões socioambien- exportação. Desta forma, maior número entre o primeiro e o segundo ciclos. mentas já aplicadas pela Apex-Brasil
tais entram no jogo como requisitos de pequenos negócios inovadores tem “Após o aprendizado inicial e o surgi- para apoio comercial às empresas. “A
de grandes corporações e mercados alcançado acesso a ações estruturantes, mento de novos desafios, enfatizamos ideia tem sido levar pequenas empre-
consumidores, para além das barreiras como o Programa de Qualificação para ações práticas de geração de negócios, sas para novos caminhos, ocupando
técnicas ou tarifárias”, analisa o gerente Exportação (PEIEX). “Se no passado foi desenvolvendo nas pequenas empre- nichos”, afirma Rodrigues, ressaltan-
de Exportação da Apex-Brasil, Christia- uma luta difundir internamente a sus sas a capacidade de entender os di- do a promoção de duas missões co-
no Braga. “Da indústria à agropecuária, tentabilidade como algo intrínseco aos ferentes mercados e suas exigências”, merciais no exterior – à Colômbia e à
produtos e serviços com diferenciais nossos objetivos, hoje não precisamos destaca Nejaim. Adriana Rodrigues, Califórnia (EUA) –, com o objetivo de
de sustentabilidade não somente convencer ninguém”, conta Márcia Ne- coordenadora de Competitividade da prospectar oportunidades e conhecer
agregam valor como também per- jaim, diretora de Negócios da Apex-Bra- Apex-Brasil, concorda: “Chegamos ao a realidade de quem busca produtos
mitem acesso a mercados”, completa. sil. Não por acaso, o tema está sob o segundo ciclo de forma mais assertiva, e serviços com diferenciais socioam-
A expectativa de regulações, com o guarda-chuva da competitividade: “A com empresas de perfil voltado prio- bientais (leia mais no Capítulo 2).
surgimento de novas leis e normas de questão tem presença cada vez mais ritariamente a mercados no exterior,
controle sobre a origem ambiental- marcante nas negociações bilaterais de mais maduros sob o ponto de vista de Reduzir risco nas
mente correta das matérias-primas e a comércio das quais temos participado”, valorizar a sustentabilidade”. crises econômicas
adoção de práticas de menor impacto revela a diretora, lembrando: “Além de Trata-se de um processo de apren-
também no campo social reforçam o fazer o bem, produtos com essas ca- dizado. Nesta última edição do projeto, Ao despertar para a necessidade
quadro de demandas e oportunidades racterísticas têm demanda de gente lá a ênfase esteve na “mudança de com- de mudanças e adaptações neces-
(leia mais no Capítulo 4). fora querendo comprá-los”. portamento para adaptar produtos e sárias aos planos de ousar lá fora, as
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de transporte e as elevadas tarifas co- neiro, são importantes vetores que dão
bradas por portos e aeroportos são os visibilidade a produtos e serviços com
aspectos mais críticos. potencial de catalisar o processo de in-
ternacionalização de empresas brasilei-
Exportação precisa ras. No entanto, além das ferramentas
avançar tradicionais de promoção e aproxima-
ção entre vendedores e compradores,
Segundo o World Factbook da Cen- os avanços no comércio exterior exi-
tral Intelligence Agency dos Estados gem capacitação de alto nível para os
Unidos, o Brasil ocupou, em 2016, a empreendedores em itens que vão do
23ª posição no mundo em valor de ex- diagnóstico da empresa às mudanças
portações enquanto possui o 8º maior nas embalagens, adequação a normas
Produto Interno Bruto (PIB). Para ana- técnicas e construção de argumentos
listas, a discrepância entre a realidade de venda, com ênfase nos diferenciais
das exportações e a posição do País dos produtos – entre eles, os atributos
entre as maiores economias mundiais de sustentabilidade.
expõe expressivo potencial a ser ex-
plorado com oportunidades para pe- Desafios para
atividades do ICV Global fortalecem sas de menor porte nas exportações, quenas e médias empresas – setor que ousar lá fora
os negócios também no mercado mas é preciso considerar outro fator: hoje tem ínfima representatividade na
interno. De fato, para além do maior a falta de capacidade e estrutura para balança comercial, em valores. Confor- “Um dos principais desafios é dar
faturamento, a qualificação para ex- o comércio exterior”, explica Heloísa me dados do Ministério da Indústria, foco comercial às inovações, porque,
portar muitas vezes torna a empresa Menezes, diretora técnica do Sebrae. A Comércio Exterior e Serviços (MDIC), nesse campo, não raro o empreende-
mais inovadora e competitiva, com instituição tem realizado estudos para em 2015, os micros e pequenos negó- dor tem perfil muito técnico, faltando
reflexos positivos em seus resultados detectar gargalos e propor a adoção cios representaram 46% do universo visão de negócio, gestão financeira e
como um todo. Além disso, de acordo de mecanismos, como o Simples Inter- de empresas exportadoras, mas o valor demais elementos estratégicos, como
com Rodrigues, “quando se fortalecem nacional, para simplificar os procedi- dessas exportações somaram apenas abordagem de venda baseada nos di-
e diversificam mercados, as empresas mentos para exportação, priorizando 1,08% do total. ferenciais do produto e maior conheci-
ficam menos susceptíveis a oscilações as micros e pequenas empresas. Segundo pesquisadores, entre ou- mento sobre os mercados-alvo para se
na economia”, compensando no ex- Levantamento do Banco Mundial tros fatores, o cenário é fruto da falta detectar oportunidades”, destaca Ana
terior eventual queda de vendas no indica que, em 2014, as exportações de conhecimento do mercado con- Moraes Coelho, gestora do projeto ICV
contexto doméstico. brasileiras de bens e serviços represen- sumidor de outros países, bem como Global, no GVces.
Até 2014, no cenário de crescimen- tavam apenas 12% do PIB, enquanto dos trâmites relacionados à logística de Desta forma, desde o primeiro ci-
to econômico, o mercado interno bra- a média mundial é 30%. Além disso, armazenagem e distribuição, além da clo, a iniciativa tem consolidado uma
sileiro mais fortalecido atraiu as aten- estudo da Confederação Nacional assistência técnica no exterior. Feiras in- metodologia inovadora que abrange
ções dos pequenos e médios negócios da Indústria (CNI) em parceria com a ternacionais e outros grandes eventos oficinas de capacitação para reflexão,
para dentro do País. “Isso explica, em FGV-EAESP lista 62 entraves às expor- culturais e esportivos, como as Olim- diagnósticos e alinhamento de estra-
parte, a baixa participação das empre- tações brasileiras, sendo que o custo píadas de 2016 sediadas no Rio de Ja- tégias juntamente com rodadas de
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negócios, missões comerciais e outros a instituição tornou-se referência ao
instrumentos destinados a fortalecer trabalhar o tema em diversas frentes,
as empresas e aproximá-las de poten- das finanças sustentáveis às mudan-
ciais compradores estrangeiros (leia ças climáticas, mediante fóruns para
mais no Capítulo 2). “É preciso adequar a troca de experiências e uso de ferra-
propostas de valor do produto às ex- mentas para a redução das emissões
pectativas dos mercados-alvo, o que de carbono pelas empresas, também
exige atenção e sensibilidade para di- instadas a considerar a dependência
versos aspectos, inclusive os culturais”, e os impactos dos serviços ecossistê-
afirma Moraes. micos, como a água, para os negócios.
A metodologia oferece caminhos Desta forma, ao longo de sua história,
para se vencer paradigmas, como a o GVces tem participado ativamente
dificuldade do pequeno negócio em da criação de marcos, como o Índice
priorizar ações de sustentabilidade de Sustentabilidade Empresarial (ISE),
e se destacar no mercado por isso, do BM&FBovespa, além de influenciar
diante das barreiras de vários tipos políticas públicas e criar espaços es-
– burocráticas, tributárias, etc. – que tratégicos de diálogo entre diferentes
as obrigam a priorizar medidas de instâncias para que valores e práticas
sobrevivência imediata. Gradativa- socioambientais sejam incorporados surgiu o ICV Global, que agora chega “É preciso olhar não somente para o
mente, como contribuição do ICV ao universo corporativo. ao segundo ciclo, e novas empreita- capital de investidores, mas princi-
Global, os empreendimentos de O contexto inclui a experiência das envolvendo pequenos, como o palmente para as cadeias produtivas,
menor porte incorporam visão de com micros e pequenas empresas, a projeto Bota na Mesa, direcionado à onde estão as oportunidades devi-
longo prazo e passam a incluir o exemplo da New Ventures, iniciativa cadeia de alimentos a partir da pre- do às pressões sofridas pelas gran-
apelo socioambiental como quesito voltada à aproximação de negócios missa de que o modo de produzir e des empresas”, afirma André Pereira
vital, sobretudo quando os próprios inovadores a potenciais investidores, consumir impacta diretamente a saú- de Carvalho, professor da Escola de
produtos se constituem em soluções conduzida em parceria com o World de das pessoas e a sustentabilidade Administração de Empresas de São
sustentáveis e pretendem prosperar Resources Institute. Posteriormente, dos recursos do planeta. Paulo (FGV-EAESP). Em sua análise,
no exterior. foi criado o projeto Inovação e Susten- a demanda por rastreabilidade, ou
O modelo construído pelo ICV tabilidade na Cadeia de Valor, em coo- O foco nas cadeias seja, a garantia de produtos menos
Global tem como importante pilar a peração com o Citi, com o objetivo de produtivas nocivos sob o ponto de vista am-
expertise acadêmica do GVCes, que mobilizar empresas de menor porte biental e social desde a sua origem,
reúne uma equipe multidisciplinar para o atendimento de demandas das Desta forma, desenvolvem-se é campo fértil para inovações. Ele dá
de 55 pesquisadores engajados em grandes. Além disso, o GVces realizou competências para o País avançar um exemplo: “Basta ver o que ocorre
expandir fronteiras do conhecimen- diagnóstico de sustentabilidade e re- nos setores em que mais se destaca, hoje com a tecnologia de blockchain,
to, contribuindo com o desenvolvi- comendou ações para o setor move- incluindo pequenas empresas com tema de ponta na academia, voltado
mento sustentável. Criada em 2003 leiro alavancar mercados, no projeto a perspectiva de exportar ou instalar ao controle de segurança nas redes de
no contexto de expansão da susten- Brazilian Furniture, que inspirou voos sedes em países estrangeiros, tendo bitcoin (moeda virtual) desde as tran-
tabilidade no mundo dos negócios, mais altos. Como desdobramento, como diferencial a sustentabilidade. sações iniciais – lógica que pode ser
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para combustível de biomassa, subs- tar algo novo e relevante”. Na opinião
tituição de fontes energéticas fósseis de Campos, o empreendedorismo vai
e tecnologia de informação para além de ter o próprio negócio e deve
melhorias incrementais no uso de re- necessariamente abranger a inovação
cursos, como água, e na redução de – novos modos de fazer. A tecnologia
resíduos e das emissões de carbono. ajuda a tornar o processo mais fácil,
Isso sem falar do controle biológico ágil e barato. No entanto, o contex-
de pragas e ganhos em eficiência na to de hoje tem um fator adicional: a
agropecuária e na indústria florestal, maior consciência ecológica e social.
como a de papel e celulose”, aponta “Há vinte anos, ninguém perguntava
Carvalho. Se para o analista entregar para o ´herói´ empreendedor se o
rastreabilidade socioambiental em que ele criou destruía rios e florestas”,
cadeias renováveis “é um campo im- ilustra o professor. Ele conclui: “Hoje
portante”, outra potencial fonte de incentivamos o potencial de inovar e
bons negócios está no fornecimento empreender, mas na verdade quere-
de ativos da biodiversidade brasileira mos que, além disso, as consequências
para a indústria de cosméticos, além sejam positivas para a sociedade”.
da aposta em ingredientes veganos Desta forma, é crescente o capi-
adaptada e inspirar novos métodos ve das pequenas e médias empresas e orgânicos. tal direcionado ao chamado “inves-
para rastrear padrões socioambientais que almejam operar na vanguarda e Para Newton Campos, diretor do timento de impacto”. Cada vez mais,
ao longo de cadeias produtivas”. ocupar novos espaços. Private Equity and Venture Capital Re- afirma Campos, os empreendedores
Segundo Carvalho, o mercado glo- search Center da FGV-EAESP, o atual se perguntam: “Como posso inovar
bal incorpora novas noções de valor. Oportunidades momento da expansão da sustenta- fazendo algo mais sustentável?” Esses
“Neste ano, a Tesla, fabricante de auto- brasileiras bilidade como negócio está relacio- terão mais chances de sucesso diante
móveis elétricos do Vale do Silício, na nado à globalização. “Ela chega a ní- das preocupações globais que ende-
Califórnia, passou a valer mais do que O caminho das mudanças é longo. veis elevados nos países emergentes, reçam novos modos de produção e
a General Motors, não devido à quan- Atualmente, de acordo com Carvalho, promovendo grande intercâmbio de consumo e medidas que reduzam
tidade de carros vendidos, mas pela o apelo da sustentabilidade convence soluções inovadoras que no passado desigualdades no acesso a recursos
inovação focada na sustentabilidade. mais pelo aspecto da ecoeficiência, demoravam para cruzar o planeta”, vitais. “O Brasil está muito bem po-
No caso, a eliminação de combustível pois a economia de água e energia, diz o professor, ao ressaltar que “hoje, sicionado para explorar a inovação
fóssil.” O custo de impactos ambien- por exemplo, implica na redução de tecnologias relativamente simples frugal, que gera impacto positivo na
tais, como as emissões de carbono, custos operacionais. Isso deve ser ob- permitem construir impérios e causar sociedade a partir de recursos escas-
hoje pago por toda a sociedade ao servado pelas empresas que desen- grande impacto na sociedade”. sos e simplificados”, avalia o professor,
sofrer a ação das mudanças climá- volvem soluções inovadoras. No curto O cenário é marcado por novos lembrando que China, Índia e países
ticas, tende a entrar nas contas em- prazo, as maiores oportunidades com perfis de empreendedor, “bem dife- da África já exploram esse conceito, a
presariais e na formulação de preços potencial para exportar estão nas áre- rentes de décadas atrás, quando era exemplo das geladeiras que custam
(leia no Capítulo 4). São tendências as em que o país já se mostra compe- necessário elevado capital e grande in- dez vezes menos em relação às con-
que devem atrair os olhares inclusi- titivo: “Podemos ir bem nas soluções fraestrutura de produção para se mon- vencionais e refrigeram apenas o su-
18 19
ficiente para a conservação do básico. quando se pensa em exportar solu-
“O Brasil está atrás nessa tendência e
costuma olhar mais para a referência
ções sustentáveis: o acesso à tecnolo-
gia e inovações e a cultura empreen-
Diversidade de negócios
dos países desenvolvidos do que para dedora. “Diferente do passado, quando Como resultado da chamada de casos, dos 89 micros e pequenos empreendimentos que se
candidataram ao ciclo 2 do ICV Global, foram selecionados 38, sendo que 30 chegaram à
os vizinhos da América Latina, o que o sonho dos universitários de econo-
etapa final da formação. Além do maior número de participantes em relação ao ciclo 1 (leia
pode significar perda de oportunida- mia e administração era trabalhar em mais no Capítulo 3), que representaram uma grande diversidade de setores (agronegócio,
des”, adverte Campos. multinacionais ou governo, hoje a cosméticos e tratamento de resíduos, entre outros), um avanço marcante do projeto no ciclo
“Quase sempre uma pequena maioria quer trilhar caminho próprio”. 2 foi a ampliação da abrangência geográfica, oportunizando a participação de empresas
sediadas em regiões fora do eixo Sudeste-Sul, principalmente no Nordeste.
empresa que nasce em São Paulo, Como dito anteriormente, a diversi-
Rio de Janeiro ou Porto Alegre, por dade cultural e natural do País abre
CHAMADA DE CASOS
exemplo, projeta um dia conquistar possibilidades para negócios inovado- Nº DE EMPRESAS/REGIÃO/CICLO
RR
o Brasil. Enquanto isso, uma empresa res com o diferencial socioambiental, 48 AP
42 NE 11 empresas
criada em Buenos Aires, na Argenti- como os retratados no segundo ciclo
CICLO 2
CICLO 1
na, se pergunta como faz para vender do projeto ICV Global. Porém, para SE N 2 empresas
20 21
principais quesitos avaliados para par- oferta de produtos obtidos de fontes
ticipação no ICV Global. Na análise do renováveis. Ter perfil jurídico de micro
potencial de negócios, os especialis- ou pequena empresa e no mínimo
tas integrantes do comitê de seleção um ano de atividades operacionais
verificaram o que havia de inovador é obrigatório.
nas soluções apresentadas e como A chamada de casos ocorre em di-
elas se traduziam em diferenciais ferentes etapas. Após a inscrição das
competitivos. candidatas, é feita uma pré-seleção
Os especialistas também contri- pela equipe do GVces. As empresas
buíram nas etapas de simulação e pré-selecionadas passam pelo crivo do
vendas, preparativas para rodadas de comitê de especialistas, que faz novo
negócios promovidas pela iniciativa filtro para chegar aos melhores casos.
do GVces e Apex-Brasil. Na ocasião, Na fase seguinte são realizadas visitas
foram aportadas recomendações in loco para maior conhecimento dos
Modelo consolidado
voltadas aos materiais de comuni- processos produtivos e avaliação do
cação e aos pitchs, para que ambos negócio. Como resultado, chega-se ao
evidenciassem as especificidades grupo final de empresas participantes
de cada negócio e as questões de do ICV Global (leia no Capítulo 3).
Maior número de empresas e diversificação de negócios
sustentabilidade como diferencial De um modo geral, as empresas
atendidos ampliam a escala dos benefícios
de valor agregado e assim efetivar selecionadas no ciclo 2 do ICV Glo-
transações no exterior. bal demonstraram grau razoável de
O
Neste segundo ciclo, o ICV Global estrutura e maturidade no mercado,
desafio de qualificar e fomentar da gestão do negócio a partir de boas reuniu 21 especialistas de diferentes aptas a fazer adaptações e explorar
MPEs para acesso à exportação com estratégias e argumentos de venda, perfis nos temas da sustentabilidade, novos horizontes, como o da expor-
a marca da sustentabilidade exigiu bem como conhecimento mais apro- inovação e internacionalização para tação. Além disso, muitas se carac-
o desenvolvimento de uma meto- fundado sobre potenciais mercados a seleção das MPEs. Na primeira edi- terizaram pelo nível de inovação e
dologia inovadora, especialmente que valorizam atributos socioambien- ção do projeto, o comitê reuniu sete sustentabilidade no processo pro-
desenhada com diferentes ferra- tais, foram pontos de atenção rumo à integrantes. O expressivo aumento dutivo e gestão empresarial – não
mentas de capacitação e espaços de consolidação do modelo. do número de analistas se traduziu apenas no que está aparente nos
aproximação entre empreendedores, na garantia de um processo seletivo produtos ou serviços. Além disso,
compradores e players associados ao Seleção das empresas plural e criterioso a partir de critérios chamou atenção a diversidade dos
universo do comércio exterior. Com como o nível de atuação no merca- negócios selecionados, totalizan-
base na experiência inaugural do ICV A etapa inicial de seleção das em- do externo e de inovação, tanto em do quase vinte setores produtivos.
Global, o processo de formação incor- presas concentrou esforço redobrado produtos e serviços como no mode- Um dos destaques foi o segmento
porou em seu segundo ciclo novas para se chegar a um grupo diversifica- lo de negócio. Também foi avaliada de saúde, com soluções inovadoras
atividades, melhorias e ajustes finos do com grau mínimo de maturidade a existência de diferenciais de sus- que vão de suplementos alimentares
capazes de potencializar resultados para avançar no projeto de exportar. tentabilidade, a exemplo do uso de a tecnologias assistivas e acessórios
práticos positivos. O aperfeiçoamento O diferencial competitivo foi um dos rejeitos para geração de energia ou da hospitalares (leia no Capítulo 3).
22 23
dimensões econômica, ambiental e so- cronograma econômico-financeiro
cial – da relação com trabalho terceiriza- para colocar de pé a estratégia de
do ao consumo de água. Os resultados acessar mercados internacionais com
são avaliados individualmente e com- atributos de sustentabilidade. O plano
parados com os do grupo. Com base é dinâmico, podendo ser ajustado no
nesse check list da gestão sob o ponto caso de mudanças de conjuntura. E
de vista das práticas socioambientais, também funciona como ferramenta
as empresas mapeiam pontos que de comunicação interna para o en-
podem afetar de forma mais relevante volvimento das pessoas e a garantia
o desempenho do negócio e, a partir do fluxo de recursos necessários às
disso, definem adaptações e melhorias atividades ao longo do tempo.
na perspectiva das exportações. “É no plano de ação que as em-
Nas oficinas de mentoring, as em- presas são provocadas a transformar
presas são apresentadas a uma plata- uma estratégia em ações concretas.
forma básica para o planejamento: o Elas revisitaram diversos conteúdos
Canvas Business Model. Aplicada pelo trabalhados nas oficinas e atualizaram
Diferenciais da o mentoring, em que são apresentadas ICV Global com foco nas exportações, a ferramenta ao longo do processo de
metodologia ferramentas de gestão; e a aceleração a ferramenta se destina a formatar mo- formação, justamente para que ele
de impacto, reunindo atividades para delos de negócios e novos projetos, refletisse o objetivo de exportar no
A metodologia do ICV Global, aper- o desenvolvimento mais intenso do permitindo desenvolver e esboçar curto/médio prazo, dimensionando
feiçoada a partir de aprendizados do negócio em suas especificidades. atividades novas ou aprimorar as já recursos, tempo e previsão de recei-
primeiro ciclo de atividades com as Ao longo de um ano, as ativida- existentes para conseguir um melhor tas”, ressalta Jéssica Castro Chryssafidis,
empresas participantes e de novos des de formação se concentram no resultado. Funciona como um mapa pesquisadora do projeto ICV Global.
inputs para agregar conhecimento, tro- auxílio à elaboração de um raio X do visual estratégico que possibilita rela-
car experiências e aumentar resultados negócio e planejamento de ações, cionar informações de maneira sistê-
positivos, tem como diferencial a apli- com a análise do comportamento da mica, integrada e rápida, relativas ao
Força feminina
cação de um conjunto de atividades empresa sob o ponto de vista socio- que se precisa fazer e às atividades ne-
conceituais e práticas em gestão de ambiental, além dos exercícios para cessárias para isso. A tarefa dá suporte O segundo ciclo do ICV Global também se desta-
negócios, chanceladas pela expertise definir diferenciais do produto e bons à busca de respostas para questões cou pela participação feminina. No total, dezessete
técnica do GVces e da Apex-Brasil, com argumentos de venda. Nesta etapa, básicas: como atingir o público, qual empresas inscritas foram fundadas exclusivamen-
foco na interface entre sustentabilida- são produzidos company profiles em a proposta de valor adequada ao mer- te por mulheres. O cenário abre novas perspec-
tivas para ganhos oriundos da diversidade de gê-
de e exportação e internacionalização. português, inglês e espanhol – fer- cado-alvo e quais custos e fonte de
nero, principalmente no universo da inovação e
No auxílio às empresas para apre- ramenta básica de comercialização recursos, por exemplo.
sustentabilidade, em que as startups são tradicio-
sentação dos atributos necessários inédita para a maioria das empresas. Após desenhar o Canvas, as empre- nalmente lideradas pelos homens. O desafio está
visando posicionamento estratégico Uma das atividades iniciais é o diag- sas chegam ao gran finale: a elabora- alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento
junto a mercados importadores de pro- nóstico de sustentabilidade, elaborado ção de um plano de ação contendo Sustentável da ONU. Essas empresas integraram
dutos e serviços brasileiros, as etapas de pelas empresas com base em um ques- a lista das atividades necessárias para o projeto Mulheres na Exportação da Apex-Brasil.
formação têm dois pilares como base: tionário envolvendo 58 indicadores nas atingir os objetivos, apresentando um
24 25
Fluxo de etapas do projeto
Etapas da agenda de trabalho com micros e pequenas empresas (MPEs) selecionadas Etapas em conjunto da agenda de trabalho
Chamada de casos
(dezembro/2015 a fevereiro/2016)
Etapas da agenda de trabalho com empresas âncoras e suas parceiras na cadeia de valor
26 27
Para muitos participantes, lidar Rodadas de negócios de setores e a amplitude de estágios
com plataformas gerenciais desen- em relação à maturidade exportadora,
volvidas na academia para a tomada A atividade representa o grande cada MPE foi encaminhada para ati-
de decisões e direcionamento dos momento de gerar negócios entre as vidades mais alinhadas ao momento
O valor da
negócios foi uma grande novidade. empresas participantes e organiza- atual do negócio. As iniciantes, por interculturalidade
Em teoria, a oportunidade poderia aju- ções internacionais que demandam exemplo, tiveram aproximação com os
dá-los a voar mais alto nos negócios gestores de projetos setoriais da Apex- “Um importante desafio das vendas para o
e valorizam seus atributos de inova-
exterior é lidar com estereótipos, conhecer
mirando o exterior. Mas o processo de ção e sustentabilidade. A rodada de -Brasil. Já as mais maduras puderam
os valores culturais dos mercados e cons-
formação vai além: exige uma etapa negócios é o marco final da jornada apresentar seus modelos de negócio
truir relações de confiança”, ressalta a con-
de aceleração e maior lapidação do do ICV Global. Na ocasião, a partir da para potenciais representantes e com- sultora Maria do Carmo Righini, especialista
plano, com suporte especial em temas expertise da Apex-Brasil, comprado- pradores internacionais. no desenvolvimento de “competência inter-
técnicos, como branding, marketing res internacionais, tradings brasileiras Essa leitura só foi possível graças cultural” associada a negócios. O tema ga-
e design, mediante atendimento in- a um breve questionário no qual as nhou destaque como novidade do ciclo 2 do
e representantes dos projetos setoriais
dividualizado e acesso a programas empresas puderam manifestar seu ICV Global. Nas etapas de formação foram
da agência foram convidados para um
conduzidas oficinas especiais com dinâmi-
de capacitação da Apex-Brasil. Tam- encontro de dois dias no hotel Mak- interesse, compartilhar informações
cas para estimular a reflexão e sensibilizar
bém são promovidas simulações de soud Plaza, em São Paulo. da estratégia comercial e corporativa,
os empreendedores para levar em conta os
rodadas de negócio com acompanha- De painéis temáticos e momentos bem como indicar possíveis organiza- aspectos culturais no relacionamento com
mento de analistas para o treinamento de networking a reuniões bilaterais en- ções do seu hall de relacionamentos compradores.
do pitch, ou seja, da comunicação dos tre compradores e empresas, a rodada para participação do evento. A agenda “É estratégico para o sucesso conhecer o
diferenciais de sustentabilidade junto da rodada comercial também contem- terreno onde se está pisando”, afirma Regina
do ciclo 2 foi mais estratégica na cons-
aos compradores internacionais. plou visitas em campo e a algumas Shagal, também consultora da atividade, ao
trução da agenda. Dadas a diversidade
reforçar a importância de fazer perguntas:
empresas que transmitem a imagem
“Saber ouvir e desenvolver a curiosidade
competitiva e inovadora do Brasil.
sem julgamentos prévios pode ter grande va-
lor para o negócio”.
Missões comerciais Não é para menos. A maneira como um po-
tencial parceiro comercial vê o mundo e as
Em novembro de 2016, o ICV Glo- coisas, e lida com questões-chave para a vida,
bal realizou uma missão comercial à a exemplo do desafio da sustentabilidade,
pode exigir um processo de reinvenção ou
Colômbia – terceira maior economia
adaptação de produtos, além de mudanças
da América do Sul, atrás do Brasil e Ar-
na comunicação de suas vantagens. O tema
gentina, segundo o Fundo Monetário foi desenvolvido nas oficinas em diferentes
Internacional (2015). Devido à demanda módulos, conceituais e práticos, de forma
por infraestrutura e bens de consumo, o que o aprendizado fosse aplicado nas mis-
país é um potencial parceiro comercial sões comerciais e simulações da rodada de
envolvendo as soluções oferecidas pelas negócios para então fazer parte do dia a dia
das vendas no exterior.
pequenas empresas do ICV Global.
Na ocasião, durante quatro dias,
onze empreendedores participantes
28 29
Empresas do primeiro ciclo registram ganhos
“Ter sido selecionado para o ICV Glo- ajustou argumentos de venda e assi-
bal foi a prova de temos algo diferente”, nou parceria com a Premier Speciali-
relata Samy Menasce, empreendedor ties para distribuição no mercado ame-
da Brasil Ozônio, que opera tecnologias ricano, com foco inicial em derivados
para tratamento e desinfeção de água, de plantas nativas para uso cosmético
efluentes, gases, alimentos e materiais em substituição a insumos petroquími-
cirúrgicos sem uso de cloro e outros cos.
produtos químicos. A solução está base- Tanto a Poli Óleos, que exportou para
ada na aplicação de ozônio, obtido do ar. o Whole Foods, como a Safe Trace, es-
A participação das oficinas de formação pecializada em rastreabilidade da ca-
e da missão comercial aos Estados Uni- deia produtiva de alimentos, participa-
dos, no ciclo 1 do projeto, abriu portas. ram como case inspirador na oficina de
Em 2015, a empresa recebeu aporte de formação para as empresas do segundo
capital de dois fundos de investimento ciclo do ICV Global, em Recife. Caso do projeto tiveram agenda intensa aproveitamento de resíduos urbanos,
(o Criatec II, do BNDES, e o Schnubart), emblemático é o da Fazenda Retiro em Bogotá e Medellín: interagiram entre outros.
que permitiu adequações com vistas à Santo Antônio, produtora de café, que com o HubBOG, que opera como co- Durante uma semana, assistidos por
internacionalização. Há propostas em começou a fazer a torrefação e criou -working e aceleradora de startups de especialistas da Apex-Brasil e GVces, os
negociação com potenciais parceiros marca própria – o café Kaynã – para se tecnologia da informação; e partici- empreendedores participaram de men-
na Bélgica, Suíça, Inglaterra e EUA. No diferenciar pelos atributos de sustenta-
param de palestras sobre o contex- toria no Google, visitaram as Universida-
mercado interno, o negócio decolou: bilidade junto aos consumidores finais.
em 2016, faturou mais do que em 2015 “O plano foi materializar essas caracte-
to socioeconômico colombiano e o des da Califórnia e Stanford e conver-
e 2014 juntos. O plano agora é investir rísticas para além do selo socioambien- processo de superação das marcas saram com empresários e investidores
no uso do ozônio para substituir agro- tal que já tínhamos para o café verde, deixadas pelo narcotráfico, além do sobre temas como venture capital para
tóxicos na agricultura familiar. comercializado junto com a produção contato com representantes de inves- empresas verdes, empreendedorismo
Ao participar da primeira oficina de de outras fazendas”, explica o empresá- tidores e escolas de negócios. feminino e sustentabilidade urbana.
mentoring para as empresas do ciclo 2 rio Jefferson Adorno. Em maio de 2017, o palco da inves- Além disso, tiveram contato próximo
em São Paulo, Menasce destacou a im- Logo surgiram novidades: o fubá de
tida foi a Califórnia (EUA). Conhecer a com iniciativas inovadoras de referên-
portância do networking e o ambiente milho não transgênico processado na
propício à realização de negócios en- fazenda em moinho de pedra, já presen-
realidade daquele mercado, meca da cia para os negócios emergentes, como
tre participantes do ICV Global. Sua te em cardápios de restaurantes famo- tecnologia e da valorização da sus- mercados que compram de produtores
empresa, por exemplo, forneceu siste- sos. “Tudo isso está servindo como vitri- tentabilidade como negócio, foi uma locais e promovem o uso responsável
ma de tratamento de efluentes para a ne para a fazenda, que recebe número oportunidade inspiradora para dez de recursos e o trabalho justo.
Atina, fabricante de extratos vegetais, crescente de visitantes”, conta Adorno, pequenas empresas brasileiras do ICV Realizada em maio de 2017, a mis-
também integrante do projeto. Sedia- informando que o turismo virou um Global que carregavam na bagagem são aos Estados Unidos foi ponto alto
da em Pouso Alegre (MG), a empresa novo negócio.
inovações, como cosméticos naturais da etapa de promoção comercial do
à base da biodiversidade, soluções projeto ICV Global, após o proces-
para mobilidade de cadeirantes e so de formação, com o objetivo de
30 31
Do Brasil para o mundo: Conexões no ecossistema de inovação e sustentabilidade
PROCESSO DE SELEÇÃO DAS MPES CONEXÃO INTERNACIONAL
Aumento de 6 para 21 especialistas envolvidos Aproximação com atores do ecossistema de empreendedorismo
(representando 18 organizações), sendo: e sustentabilidade nas missões comerciais
7 do setor privado Na Colômbia: Medellín
6 da academia IE – Business School Escritório da Apex-Brasil na
Universidad EAFIT América do Sul
4 do terceiro setor Universidad de Los Andes
3 de órgãos governamentais Sistema B Colômbia Nos Estados Unidos:
Innpulsa Colombia Escritório da Apex-Brasil na
Instituto Quintessa Sebrae
Endeavor Colombia América do Norte
Sistema B ESPM
Ruta N – Ecosistema de innovación Prefeitura de San Francisco
Ashoka Fundo Zona Leste Sustentável
de Medellín BayBrazil
Inseed Investimentos Natura
Connect Bogotá The Bellos Group
Imaflora BNDES
HubBOG OneSkin
IBM Brasil Fundação Vanzolini
Natura BovControl
Fundo Pitanga Cietec
PolyMath Ventures Asteroide Films
Citi Foundation Angatu Consultoria
Ecoflora GH Branding
Finep FGV-EAESP
Nutresa Terra Global Capital
ACI - Agencia de Cooperación e Google Developers Launchpad
NOVOS STAKEHOLDERS DA APEX-BRASIL E DA FGV-EAESP Inversión de Medellín y el Área StartSe
Metropolitana UC Berkeley
BIOinTropic – Centro de Desarrollo Stanford University
Apex-Brasil de Negocios de Biotecnología de Stanford Research Institute
Mais de 10 projetos setoriais envolvidos
5 frentes de atuação da Agência nas oficinas: Inteligência de mercado, 3º setor; iniciativa privada; setor público; academia
Internacionalização, Competitividade, Atração de Investimentos e Exportação
Aproximação com o PEIEX
Extensionistas: > Presentes em 10 visitas in loco para a pré-seleção de MPEs ICV GLOBAL NO NORDESTE
> 4 participaram de oficinas de formação
Das 31 MPEs selecionadas, 7 fazem parte da região
Núcleos operacionais: > 16 núcleos participaram presencialmente de oficinas sobre Replicação das 5 oficinas de formação para as MPEs locais,
sustentabilidade e negócios, realizadas em São Paulo e em Recife, na cidade de Recife-PE
e outros 194 extensionistas assistiram as oficinas online. Participação de AD Diper (Agencia de Desenvolvimento Econômico do
Pernambuco) e da UFPE (Universidade Federal do Pernambuco) em
FGV-EAESP
todo o processo formativo
6 professores enriqueceram as oficinas de formação em temas como
inovação, empreendedorismo, marketing e redes sociais, branding e Parceria com a aceleradora de negócios Jump Brasil
comunicação empresarial.
3 MPEs foram atendidas por alunos do curso de administração de empresas
no tema de gestão financeira e contabilidade TEMAS TRAZIDOS POR ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS
11 pesquisadores do GVces envolvidos nas oficinas de formação,
especialistas nos assuntos de finanças sustentáveis, comunicação, Design como diferencial competitivo | Centro Brasil Design
desenvolvimento local, inovação e produção e consumo sustentáveis Propriedade Industrial e Intelectual | INPI
Mecanismos financeiros de apoio à exportação e inovação | Banco do Brasil
Mecanismos de apoio à exportação e inovação | Senai e Sebrae
Certificação de empresas B | Sistema B
32 33
aproximar as empresas de potenciais as empresas aos diferentes atores do
compradores internacionais, permitir ecossistema de inovação, empreen-
a identificação de oportunidades e dedorismo e sustentabilidade (veja às
aumentar o nível de conhecimento páginas 32 e 33) para que novas parce-
O apoio da inteligência de mercado
sobre o comportamento de mercados rias sejam estabelecidas e o caminho
As empresas participantes do ICV Glo- envolvendo 40 países. Por fim, chegou-se a
mais promissores. No final, o propósito para as exportações continue sendo
bal tiveram acesso a um suporte estratégi- um grupo de cinco a oito destinos de maior
maior é aumentar o leque de parce- seguido após as atividades de forma-
co oferecido pela Apex-Brasil: estudos de potencial. “Os resultados contribuem para
rias comerciais envolvendo produtos ção e encerramento do ciclo. mercado customizados para cada perfil de a estratégia das empresas nos próximos
e serviços com atributos de sustenta- Neste contexto, ao funcionar como negócio, para que o caminho lá fora fosse dois anos e para futuras consultas na busca
bilidade, diversificando o perfil e os um hub de conexão entre instituições trilhado com menor risco e perspectivas de por novas oportunidades”, explica Franco.
destinos das exportações brasileiras. e iniciativas ligadas ao desafio de ex- maiores ganhos. “Desde o ciclo 1 do projeto, “A qualidade do mapeamento de mer-
portar com o viés da sustentabilida- a tarefa tem se constituído em importante cados-alvo foi surpreendente”, atestam
desafio para nosso atendimento de rotina, Ana Carolina Winkler Heemann e Rodrigo
Avanços para ampliar de, o projeto deu novos passos para
tendo em vista as características desses Heemann, da empresa Heide Extratos Ve-
resultados promover o networking estratégico
produtos e serviços, associados à inovação getais, do Paraná. “Tivemos acesso a um
para as empresas, permitindo flexi- e sustentabilidade, de alto valor agregado”, recurso valioso de inteligência comercial,
O segundo ciclo do ICV Global am- bilidade de adaptação e construção afirma Manuel Franco Júnior, analista de uma vez que o estudo foi direcionado aos
pliou parcerias, criou novos espaços coletiva da metodologia a partir das Negócios Internacionais da Agência. nossos produtos, considerando diversos
de formação e promoveu adaptações necessidades identificadas pelo gru- Com o objetivo de incorporar o comércio critérios”. Segundo eles, “além de confirmar
na metodologia para maior troca de po. Temas como registro de patentes exterior como algo perene aos negócios, o como prioritários os países já conhecidos
estudo identificou mercados prioritários pela preferência por naturais e orgânicos,
experiências. E também aproximou e proteção de marca, por exemplo,
para cada tipo de produto ou serviço, a estudo apontou outras regiões promisso-
partir da análise de dezenas de variáveis ras que não estavam no nosso radar”.
34 35
A força do trabalho em cadeia
Mobilizando soluções de sustentabilidade entre fornecedores e grandes compradores
36 37
Vicunha Duratex
38 39
RESÍDUOS E PÓS-CONSUMO
Encontrar soluções para saneamento entre governo, empresas e cidadãos. A ne-
básico é um dos principais desafios para as cessidade de aumento da coleta seletiva
cidades dos países emergentes. Do total de municipal e da implantação de sistema de
esgoto sanitário gerado no Brasil, apenas logística reversa pelas empresas para que
40% é recolhido e, desse total, 26% é tra- embalagens e outros resíduos recicláveis
tado antes do despejo no ambiente. Além retornem à produção industrial pode abrir
disso, o País produz diariamente 228 mil oportunidades de negócio. Além da pres-
toneladas de lixo, 37% destinadas de for- são regulatória, a maior conscientização
ma inadequada, com a existência de 3 mil ambiental e as estratégias empresariais de
40 41
Banco de Tecido
oficinas educativas e pesquisa sobre depois que o negócio foi selecionado para
mudanças de hábito de consumo. o Guia de Inovação e Sustentabilidade, da A moda é reutilizar
Em 2015, diante do potencial FGV-GVces, em 2015, ocasião em que o
do mercado, a Morada da Floresta empresário tomou conhecimento do ICV
A inquietude diante da grande quantidade
desenvolveu um novo modelo Global e por meio dele levou adiante a
de tecidos que se acumulava no atelier
de minhocário menos artesanal ideia que já tinha de exportar. Assim, ao
após o uso em shows, peças teatrais e
mediante parceria financeira com uma participar da missão comercial promovida
outros espetáculos culturais despertou na
indústria, para lançamento em 2017, pelo projeto à Califórnia (EUA), deu
cenógrafa e figurinista Lu Bueno a ideia de
apresentando vantagens de eficiência passos importantes para consolidar o
fazer algo inovador, que começou em 2013
da compostagem, praticidade e redução plano de disputar o concorrido mercado
como ação entre amigos, difundiu-se pelo
de custos de produção. O salto permitiu americano com ênfase na solução voltada
boca a boca nas redes sociais e depois se
o reposicionamento da empresa, que a resíduos de jardinagem, além do
estruturou como modelo de negócio ao
antes focava mais o uso doméstico pelo argentino e peruano, mais parecidos com
oferecer solução criativa para um problema
consumidor final e passou a mirar grandes a realidade brasileira.
ambiental. Assim nasceu o Banco de Tecido,
geradores de resíduos orgânicos, como Motivações não faltam também para a
destinado a recolocar no mercado cortes
indústrias, refeitórios de empresas e expansão no Brasil. Os resíduos orgânicos
de algodão, popelines, flanelas, napa e
condomínios. “O objetivo foi reduzir representam 50% de todo o lixo urbano do
couro que estão sem uso em estoques,
a dependência em relação ao varejo e País. Além do aspecto ambiental e social, a
prateleiras e fundos de gavetas, com menor
diversificar fontes de recursos”, sua transformação em adubo reduz o custo Lu Bueno inova na economia circular
geração e descarte inadequado de resíduos,
afirma Spínola. de transporte e despejo em aterro (R$ 200 como solução para o setor têxtil
conectando diferentes atores para o
Até o momento foram comercializas no por tonelada, em média) e as emissões de
desenvolvimento de uma cadeia têxtil
total 15 mil composteiras, com receita carbono representadas pelo gás metano
mais sustentável.
média atual de R$ 120 mil mensais. liberado nessas áreas.
O modelo funciona a partir de uma rede que buscam se adequar à Política Nacional
O plano a partir do novo modelo é Além dos minhocários, a empresa
de correntistas que fornecem sobras de de Resíduos Sólidos. Ações são exigidas,
aumentar em 50% o faturamento, oferece cursos de permacultura e
seus tecidos para que tenham chance de porque as perdas no processo têxtil podem
expandindo parcerias com prefeituras, agricultura urbana e produz fraldas
virar novas criações. O usuário recebe chegar a 20%, com geração de resíduos que
além de atingir o mercado internacional. e absorventes femininos ecológicos.
créditos por cada quilo entregue e, com precisam de solução adequada.
“Estamos agregando benefícios porque o Novidades estão por vir, como o
eles, pode sacar outros tecidos quando O desafio é finalizar a plataforma de
potencial das exportações é alto”, revela lançamento de jarras, regadores e
quiser. A título de remuneração do serviço, e-commerce e de market place para
Spínola. Os preparativos começaram outros acessórios com visual apropriado
o sistema retém 25% dos créditos e integração das lojas virtuais dos vários
à exportação, iniciativa que integra o
vende o tecido a R$ 45 por quilo. Além do segmentos e regiões, dando escala à
projeto Design Export, da Apex-Brasil.
preço, a vantagem é que o acervo conta oferta e reuso dos tecidos. A tarefa inclui
Isso sem falar do desenvolvimento de
com produtos exclusivos e antigos, não mecanismos de valuation para captação
hortas verticais, “uma demanda de clientes
encontrados no comércio tradicional, e tem de investimentos, a partir dos quais será
para uso do adubo produzido em suas
garantia de origem. possível amadurecer e exportar o modelo
composteiras domésticas”, diz Spínola,
Desta forma, o sistema é inclusivo e de serviço. “Estamos nos preparando para
orgulhoso por gerar impacto positivo na
circular, com reflexos sociais, econômicos e a chegada desse momento, que certamente
sociedade com o negócio.
ambientais, tanto em benefício de ateliers será rápida diante das demandas globais,
de costura e pequenas e médias confecções em que estender o ciclo de vida dos
Claudio Spínola aposta na disseminação como de grandes indústrias de tecelagem, materiais é essencial.”
das composteiras domésticas
42 43
Ectas Procytec
44 45
Piscis
46 47
Lap Mosaicos Oka
48 49
Ratorói Engpiso
50 51
CONSUMO CONSCIENTE
O poder do consumo consciente por nário é reforçado por padrões normativos
parte de indivíduos, empresas e gover- ambientais e sociais, como as regras con- fazer peças com alma brasileira pegou e
no é chave para se influenciar políticas e tra uso de trabalho análogo ao escravo, um ano depois a empreendedora já abria
o primeiro ponto em shopping center, até
práticas produtivas de menor impacto ao cada vez mais exigidos para a venda de
que enfim veio a primeira exportação: 53
meio ambiente e às condições de vida das determinados produtos. Na corrida por mil peças para a “Semana Brasil”, da rede
pessoas. Em nível global, há mercados que chances do comércio exterior, quem se americana Macy’s.
se destacam por valorizar diferenciais de preparar agora sairá na frente quando o “Foi uma loucura, porque a Amazônia
sustentabilidade, das tendências da moda quadro de exigências se tornar maior e estava no período de cheia dos rios e não
à demanda por cosméticos naturais. O ce- mais complexo. havia sementes de jarina e flores de inajá
suficientes para a encomenda, sendo
necessário acionar redes de artesãs em
vários locais do País”, conta Oiticica,
desde menina habituada a lidar com
objetos da floresta levados para casa
pelo pai, tradicional comerciante que
Maria Oiticica negociava gêneros alimentícios nas
comunidades ribeirinhas em troca de
Maria Oiticica transforma sementes
produtos extrativistas para revender na
Questão de estilo cidade grande.
e fibras amazônicas em peças de alto
valor agregado
Hoje com treze funcionários e três
lojas na capital carioca, a marca busca
A beleza exótica dos colares pendurados extrativistas para inspirar a criação artística, alternativas para superar a queda de
nas paredes chama atenção. Alguns são ganhar ares de sofisticação e assim reluzir vendas devido à situação econômica do é preciso fôlego para encarar o atual
de flores de babaçu; outros, de cortiça nas passarelas da moda, com ganhos para País. Para a empresária, a exportação é momento”, avalia a empresária. Matéria-
com inajá, ou de macramê com cipós, além todos desde a floresta que precisa ser uma saída. “Os produtos encantam, mas prima, frete para recebê-la e esterilização
do “açaí 33 voltas”. Os nomes não deixam mantida em pé. das sementes representam 30% do
dúvidas sobre a origem: a biodiversidade. Tudo começou quando o marido custo total, o que obriga agregar valor.
Naquela casa da bucólica Rua Visconde precisou dar um presente típico da terra à A empresa mantém um projeto social
de Carandaí, no Jardim Botânico, Rio curadora de um museu americano: “Sugeri em que 30 mães de baixa renda são
de Janeiro (RJ), funciona não somente um colar, mas como não achei um modelo remuneradas para fazer a montagem de
o showroom, mas o quartel-general da de melhor estilo nas lojas de artesanato brincos e colares enquanto aguardam o
designer amazonense Maria Oiticica – e em Manaus, comprei várias peças, as atendimento médico dos filhos no hospital
da marca de acessórios que leva o seu desmontei e criei uma nova”, recorda-se a pediátrico do Instituto Fernandes Figueira.
nome. A batalha está em avançar no designer. O resultado veio mais tarde: com “Usamos menos do que deveríamos
mercado aliando estilo à brasilidade e a lembrança do belo presente sempre viva, nossos atributos socioambientais”, admite
à sustentabilidade. Com uma arma que a curadora comprou quase todo o estoque Oiticica, reforçando o aprendizado no ICV
pode fazer a diferença: sementes e fibras do atelier que Oiticica acabara de montar, Global. “Lá entendemos as barreiras para
da Amazônia, debulhadas pelas mãos de no Rio de Janeiro, em 2003. A ideia de conseguir ultrapassá-las”.
52 53
Algodoeiro Bioart
54 55
Bio Vegan Brasil Mate
56 57
Flávia Aranha Farofa.la
58 59
Feitiços Aromáticos
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Criações sensuais Priorizar o uso de mão de obra, produ- geradores de renda deve ocorrer por meio
ção e matérias-primas locais figura entre de processos participativos para enga-
Quando largou o emprego numa grande aceitação no Chile, revela Cruz. os principais itens da chamada “nova eco- jamento da sociedade. A valorização do
multinacional e usou o dinheiro da Além da origem natural e da eliminação nomia”, baseada em valores socioambien- comércio justo e das boas relações com
rescisão para montar junto com o marido de químicos tóxicos, os diferenciais
tais, e está incluído entre os Objetivos de comunidades é apontada como fator es-
um negócio de produtos esotéricos, a abrangem questões sociais. A própria
Desenvolvimento Sustentável (ODS), da tratégico para o sucesso das empresas e
empreendedora paulistana Raquel da Cruz localização da fábrica, em Itaquera, Zona
não imaginava o mundo que se abriria à Leste de São Paulo, é um indicativo: “Desde ONU. Desta forma, o desenvolvimento de do chamando “investimento social priva-
sua frente. “Foi como passar na catraca do o início, temos o objetivo de gerar emprego inovações de baixo impacto e negócios do territorial”.
ônibus e não ter como voltar atrás”, ilustra. local e outros benefícios à região, vítima de
Na virada dos anos 2000, o mercado do constantes preconceitos”.
esoterismo e autoajuda estava a todo vapor, Após entrar no mercado chileno e Green Social Bioethanol
mas com o tempo foi necessário buscar vendas antigas para Portugal, a empresa
opções. Dos incensos, óleos essenciais, se preparou para novas incursões Combustível do arroz
ervas, amuletos e outros itens criados para internacionais ao participar do ICV
atrair boas energias e garantir o conforto Global. “Repensamos a forma de usar Ao investir em microdestilarias de etanol
da mente, a empresa Feitiços Aromáticos nossos atributos de sustentabilidade e como solução para o aproveitamento
deu um passo estratégico ao diversificar implantamos procedimentos de gestão que energético das sobras de arroz no campo, Nova tecnologia esbarrou em
o portfólio, agregando produtos naturais nos colocam lado a lado com as grandes o agricultor gaúcho Eduardo Mallmann dificuldades do mercado de etanol
e sensuais, como óleos de massagem e empresas”, diz a empresária. A meta é mobilizou parcerias com plano de
espumas de banho. aumentar a fatia das exportações no empacotar a tecnologia para transações no
Assim, entre os 400 produtos em carteira, faturamento, que em 2016 atingiu mercado externo. O potencial se mostrava de outros na Nigéria, que acabaram não
um carro-chefe é um lubrificante íntimo R$ 2,5 milhões, com mais de 500 pontos promissor. Na Etiópia, por exemplo, projetos vingando em razão de crises políticas no país.
feminino – o “Segredinho”, que divide o de venda no Brasil. Para isso, novos em campos de refugiados distribuíam “Foi quando decidimos priorizar negócios
sucesso das vendas com o gel excitante produtos estão por vir no rastro do fogões a etanol – até porque já não havia com empresas, sem dependência dos
“Total Chock”, feito com extrato de jambu, a recém-lançado “Titanium” – poderoso vaso mais madeira na natureza para uso como governos, e o ICV Global se encaixava
erva amazônica bastante usada na culinária dilatador à base de extrato de catuaba lenha – e o combustível vinha do Brasil. perfeitamente ao momento de reviravolta”,
da região com a característica de causar e guaraná, indicado para melhorar a A inovação carregava como diferencial ressalta Gaston Kremer, integrante do
certo tremor dos lábios. “O produto teve performance masculina. a independência energética a partir da time da empresa como especialista em
geração de energia limpa (comparada com relações internacionais. De fato, o plano
o poluidor carvão) e oriunda de resíduos da de exportar parecia perfeito, tendo em
própria produção agrícola da comunidade. vista o prestígio do Brasil pelo uso do
O apelo social motivou o empreendedor etanol da cana. Surgiram dificuldades
Produtos eróticos a também fabricar geradores de energia gerenciais e comerciais. Para completar,
naturais são movidos com etanol do arroz, dando maior empreendimentos da empresa no Sudão e
armas para a autonomia aos produtores rurais. Para Nigéria acabaram impactados pela flutuação
conquista do isso, reuniu especialistas e montou a Green do câmbio. Dependente de capital intensivo,
mercado externo Social Bioethanol, empresa que chegou o negócio perdeu o fôlego e foi encerrado.
a fazer projetos para uso do melaço da “O mercado quer soluções, mas em muitos
cana como combustível, na Guiana, além casos não está preparado para recebê-las”.
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Cooperflorest Sanhaçu
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Cachoeira Coffees Heide
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AGRONEGÓCIO
O agronegócio correspondeu a 23% tos, como a carne, ao suporte para práticas
do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, produtivas como a Integração Lavoura-Pe-
em 2016, e está entre os principais setores cuária-Floresta. Em paralelo, abrem-se pers-
exportadores de commodities. Sua impor- pectivas em torno do desenvolvimento da
tância para a economia é proporcional aos cadeia da restauração florestal, bem como
desafios ambientais e sociais que enfrenta da implantação do Cadastro Ambiental
no contexto das mudanças climáticas e da Rural, com a solução dos passivos ambien-
transição para um novo modelo de desen- tais – indispensáveis no âmbito dos com-
volvimento, capaz de conciliar ganhos de promissos climáticos brasileiros. Igualmente
produção e conservação de recursos vitais, promissora é a demanda pela adequação
como a água. Neste cenário, surgem opor- de produtos agropecuários não alinhados
tunidades para negócios envolvendo solu- a padrões de sustentabilidade impostos por
ções que vão da rastreabilidade de produ- mercados externos.
Fornari
Com um diferencial: o banimento do as expectativas se ampliaram. Entre as
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Biovida EDB Polióis Sigo Homeopatia
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SAÚDE/BEM-ESTAR
2016, mais que o triplo do ano anterior, notícia: “Estamos criando o Índice de Butão
A busca por inovações e modelos de ne- eficientes, economicamente acessíveis e de
a estimativa é de chegar a R$ 4 milhões para medir a felicidade de quem usa o nosso
gócios de impacto social para a melhoria da menor impacto ambiental, além de avanços em 2017, quando deverá ser criada a produto em São Paulo para mobilidade no
saúde e bem-estar está intrinsecamente li- na biotecnologia para melhorar diagnósti- primeira loja própria Kit Livre em São lazer e trabalho”.
gada a diretrizes internacionais envolvendo cos. O desenvolvimento sustentável tem Paulo – estratégia viabilizada por recurso Se no showroom a empresa expõe
a sustentabilidade. A lista de oportunidades ainda como desafio o investimento em tec- de um fundo de investimento. O plano as várias versões de triciclos desde os
é variada. Vai das soluções que promovem a nologias que reduzam causas de doenças, é em três anos começar a exportar primeiros protótipos, no escritório chama
regularmente para países da América atenção o quadro com os dizeres:
alimentação natural e saudável às que facili- como a poluição, e garantam qualidade de
do Sul e depois EUA. O uso de energia “Canvas – propostas de valor”. A lista de
tam o acesso da população à medicina pre- vida nas cidades, com melhoria da acessi-
limpa é um diferencial, além dos ganhos objetivos e medidas para alcançá-los é
ventiva. Inclui o desenvolvimento de novos bilidade e mobilidade urbana. com mobilidade. “Queremos primeiro resultado de um processo de capacitação
materiais e equipamentos hospitalares mais fortalecer a marca no mercado interno, que começou em 2013 e culminou com
com variedade de soluções e customização o ICV Global, credenciando a Kit Livre
para clientes com diferentes problemas de a se posicionar no mercado externo e a
movimento”, afirma Lúcio Oliveto. participar de premiações importantes,
No Brasil, há cerca de 4 milhões de como o Chivas The Venture, que distribui
Kit Livre
cadeirantes, segundo o IBGE. A cada ano US$ 1 milhão para inovações. Na ponta
surgem outros 47 mil. Hoje, 400 usam os final está um sonho: “Acreditamos que em
Mobilidade top equipamentos da empresa. “A tendência é cinco anos as nossas soluções podem criar
a sociedade enxergar cada vez mais essas uma sociedade onde os cadeirantes possam
A ideia de transformar qualquer modelo São Paulo, e no final daquele ano já tinham
pessoas”, ressalta o empresário, com uma estar integrados de forma plena”.
de cadeira de rodas em triciclo motorizado sido distribuídos 76 kits para 12 estados
surgiu no mestrado em Engenharia brasileiros. Parcerias para validação junto
Mecânica da Universidade Estadual Paulista a potenciais usuários foram estratégicas
(Unesp), e virou negócio quando os irmãos para cultivar confiança na novidade, que
gêmeos Lúcio e Júlio Oliveto, autor do exigia acoplar equipamentos às cadeiras
projeto de tese, tinham uma locadora de de rodas. Em 2016 o negócio se ampliou
empilhadeira e buscavam novo investimento com canais de venda direta e forte trabalho
na área de transporte. nas redes sociais, já envolvendo diferentes
O mote foi contribuir para a qualidade modelos, além de acessórios como o guidão
de vida de pessoas com dificuldade de especial adaptado para esses usuários. Na
locomoção. Desta forma, após modelos busca por segurança, design e conforto,
experimentais mostrados com sucesso em surgiu a linha “radical”, de finalidade
feiras de inventos, a dupla registrou patente esportiva, além de outros produtos. Entre
e recebeu R$ 100 mil de um concurso eles, está a handbike, que permite “pedalar”
de empreendedorismo para produzir o com as mãos, e o kit flex, opção em que o
primeiro lote de equipamentos e constituir equipamento é movido por pedaladas e
a empresa – a Kit Livre, sediada em São motor a bateria. Versões mais requintadas
José dos Campos (SP). oferecem kit multimídia com carregador de
Inovações abrem horizontes para pessoas
O lançamento ocorreu em abril de 2015 celular e música via bluetooth. com dificuldade de locomoção
na feira do setor de tecnologia assistiva, em Com faturamento de R$ 1,4 milhão em
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BioLogicus BR Goods
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PSS ColOff
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uma estratégia de exportação com No entanto, para que essas van-
esses diferenciais. tagens prevaleçam, são necessárias
Se para algumas das pequenas em- políticas públicas e outras estraté-
presas integrantes do projeto, o viés gias voltadas a transformações no
da sustentabilidade já se encontrava ambiente de negócios em favor dos
presente na raiz e estratégias do negó- que investiram e internalizaram a sus-
cio, para outras, no entanto, expressões tentabilidade, mas ainda enfrentam
como “rastreabilidade”, “cadeia de valor” riscos de competividade em cenário
e “atributos socioambientais” se consti- hostil às novas práticas. Um desafio,
tuíam algo novo e instigante. Conceitos por exemplo, repousa na questão
que, ao longo do caminho, inspiraram tarifária, que em muitos casos não
uma visão mais ampliada dos negócios favorece os produtos de maior valor
e se traduziram em novas parcerias e agregado para a exportação, hoje
oportunidades de mercado – uma se- pautada principalmente por commo-
mente inestimável para o cultivo de dities. No que tange ao apoio técni-
padrões diferenciados no cenário geral co às pequenas empresas visando o
das MPEs e de seus desafios produtivos comércio exterior, esforços positivos
F
a soluções de impacto positivo para a do negócio em suas especificidades.
oi uma imersão em valores ocultos, Das oficinas para melhorias da sociedade, com a disseminação de con- De acordo com Branco, embora
nem sempre mensuráveis, descortina- gestão e dinâmicas sobre intercultu- ceitos e práticas alinhados aos dilemas essas estratégias sejam ainda periféri-
dos pelo afã de fazer bons negócios. ralidade para o relacionamento com socioambientais do planeta. “As empre- cas, o mercado começa a funcionar a
Uma viagem rumo a novos paradig- os diferentes mercados às missões sas, com sua demanda por matérias- partir de uma “demanda por necessi-
mas, a um mundo a ser explorado. Du- comerciais no exterior, o trabalho -primas e poder de influência sobre o dades reais e não forjadas por market
rante 18 meses, o ICV Global mobilizou resultou em três avanços básicos: consumo, têm papel fundamental nes- ing” – isto é, da procura por produtos
108 empresas de inúmeros segmentos aprimoramento dos atributos de sus- se contexto”, analisa Paulo Branco, vice- e serviços que minimizem danos ao
da economia, sediadas em quase to- tentabilidade ligados ao produto ou coordenador do Centro de Estudos em meio ambiente e às condições de
das as regiões do País, representando serviço; fortalecimento do compro- Sustentabilidade (GVces), da FGV-EAESP. vida. Além do interesse econômico
a expressiva diversidade brasileira no misso empresarial no tema; e criação “A transição para uma nova economia envolvendo os novos espaços no mer-
esforço de transformar soluções socio- de argumentos de venda alinhados de baixo carbono abre oportunidades, cado, o movimento tem por trás uma
ambientais em negócios preparados às demandas dos mercados-alvo, e quem estiver melhor preparado pros- preocupante constatação científica: o
para os desafios das exportações. que juntos culminam na definição de perará no novo ambiente competitivo”. uso de recursos naturais pela popu-
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lação mundial é 50% maior do que a Além disso, após atingir maior di- temperatura média global no limite
capacidade do planeta em renová-los, versidade, o ICV Global aprofundará o dos 2°C acima dos níveis pré-indus-
de acordo com a Pegada Ecológica debate sobre temas estratégicos, como triais. Ao ratificar o acordo, em 2016,
Global, calculada pelo WWF. os modelos de negócio business-to-bu- o Brasil assumiu o compromisso ofi-
O ICV Global, em suas duas edi- siness (B2B) e business-to-consumer cial de diminuir as emissões em 37%,
ções, tem fortalecido empresas para (B2C), para melhor adequação das so- até 2025, em comparação a 2005, e
o atendimento dessa nova demanda luções construídas pelas empresas. Está em 43% até 2030. Para isso, o país se
da sociedade num planeta de recursos também previsto maior alinhamento compromete a restaurar 12 milhões
finitos. “Ter a sustentabilidade como entre os setores produtivos seleciona- de hectares de florestas, bem como al-
negócio ajuda cultivá-la no meio so- dos para o projeto e os que são mais cançar uma participação estimada de
cial”, completa Branco. representativos no Brasil para canalizar 45% de energias renováveis na com-
exportações e atrair investimentos es- posição da matriz energética em 2030.
Mudança de escala trangeiros – sinergia que significa maior As metas abrem oportunidades
potencial de oportunidades, inclusive para soluções com potencial no mer-
Enquanto no ciclo 1 o ICV Global de participação em outros programas cado interno e externo, no rastro de
teve um caráter piloto ao trafegar em da Apex-Brasil, maximizando as chan- políticas públicas, incentivos e medi-
terreno de inovações com o desafio de ces no comércio exterior. das regulatórias e autorregulatórias
dar os primeiros passos no desenvol- Fomentar a liderança social das pe- que poderão se tornar barreiras co-
vimento de uma metodologia inédita quenas empresas como protagonistas merciais no contexto climático. Para desenvolvimento social e econômico
de formação, no segundo ciclo o pro- capazes de multiplicar boas práticas especialistas, trata-se de um caminho permanece em grande parte alheio ao
jeto se consolidou. Credenciado pelos em seus territórios e influenciar as sem volta – indicativo reforçado quan- risco de desastres ambientais induzi-
aprendizados iniciais, se expandiu no demais a seguir o rumo da susten- do grandes empresas americanas rea- dos pelo homem em escala planetária”,
território brasileiro e nos modelos de tabilidade é um importante legado firmaram seus compromissos climáti- afirma o estudo “Planetary Boundaries:
parceria para a ampliação de resulta- do ICV Global, também conectado às cos, depois de o presidente americano Exploring the Safe Operating Space for
dos. Nos próximos passos, o objetivo tendências emergentes no cenário Donald Trump ter anunciado a retirada Humanity”, publicado neste ano pelo
é atingir maior escala, aumentando a internacional, que podem pressionar dos Estados Unidos do acordo. Stockholm Resilience Centre, da Suécia.
dimensão dos ganhos e replicando mudanças na produção e lastrear a Para Steven Stone, chefe da divisão De fato, questões ambientais, como
soluções sustentáveis no mercado, busca por inovações. de Economia e Comércio do Progra- os impactos das mudanças climáticas
capazes de inspirar novas práticas ma das Nações Unidas para o Meio e a escassez de fontes básicas para a
empresariais, ações de governo e Perspectivas das Ambiente (Pnuma), “as mudanças produção e para a qualidade de vida,
políticas públicas. Para isso, o proje- mudanças climáticas são inevitáveis”. Virão pelo bem, para como a água, têm mobilizado organis-
to construirá indicadores de modo a quem se antecipar e ocupar espaços mos internacionais, ONGs, centros de
identificar dificuldades e caminhos O Acordo de Paris sobre Mudanças no mercado; ou pelo mal, no caso dos ensino e pesquisa, governos das dife-
de maior potencial de sucesso para do Clima, aprovado no final de 2015 altos investimentos para conserto de rentes esferas e cidadãos preocupados
os pequenos negócios nos diferentes para reduzir gases de efeito estufa danos ambientais e reconstrução da com o futuro do planeta. Juntamente
setores, integrados em cadeias globais no contexto do desenvolvimento imagem perante a sociedade. a isso, não menos importante como
no contexto da nova economia ba- sustentável, estabeleceu objetivos “Trata-se de um profundo dilema, base à sustentabilidade, estão os inú-
seada em princípios socioambientais. no sentido de conter o aumento da porque o sistema predominante de meros desafios sociais que marcam o
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atual momento da humanidade, como ODS deverá ser adotado com desta- essas oportunidades só acontecerão no ranking da inovação e sustentabi-
a necessidade de inclusão econômica que na continuidade do ICV Global se os ODS estiverem no centro da lidade. Hoje, o Brasil ocupa o 69º lugar
e redução das desigualdades no aces- como instrumento de referência à estratégia econômica mundial, com no The Global Innovation Index 2017,
so a recursos vitais. inserção desses diferenciais nas ca- “mudança significativa nas agendas avaliação mundial elaborada pelo The
deias de valor das pequenas empre- empresariais e de investimento”. Business School for the World a partir
Na rota do sas brasileiras que almejam avanços Está em jogo, por exemplo, a ne- de dezenas de indicadores.
desenvolvimento no mercado externo, no cenário da cessidade de gerar energia e duplicar Os novos conceitos e as mudanças
susentável economia verde e inclusiva. a produção de alimentos para uma de comportamento empresarial culti-
Pode ser um caminho para superar população global que deverá atingir 9 vadas pelo ICV Global contribuem para
Desta forma, o meio empresarial, as dificuldades de crises econômicas. bilhões de habitantes em 2050, com um cenário mais positivo. Ações arti-
puxado por grandes corporações, Segundo o estudo “Better Business, dois terços vivendo em aglomerados culadas e trabalho em rede podem dar
começa a incorporar a agenda dos Better World”, feito pela Business & Sus- urbanos, conforme dados da ONU. Para luz ao empreendedorismo inovador
17 Objetivos de Desenvolvimento tainable Development Commission, reduzir riscos aos negócios, corporações no Brasil para fazer negócios em mer-
Sustentável (ODS), estabelecidos que reúne mais de 35 CEOs e líderes globais buscam soluções que podem cados competitivos que demandam
pela ONU em 2015 com metas am- da sociedade civil, modelos de negó- ser apresentadas por pequenas empre- produtos e serviços diferenciados pela
bientais, sociais e econômicas para cios sustentáveis nas áreas de energia, sas como boas oportunidades, desde ótica da sustentabilidade. Devido aos
2030. O processo de adequação, com cidades, alimentos e saúde e bem-es- que alicerçadas em pilares firmes, como resultados positivos, a metodologia do
influência nos diferentes mercados, tar poderiam movimentar pelo menos os da gestão eficiente com uso de ferra- projeto poderá ser replicada em ou-
possivelmente criará nichos para ino- US$ 12 trilhões e gerar cerca de 380 mentas para medir impactos positivos tras regiões do mundo, como a África,
vações de impacto socioambiental milhões de empregos por ano até 2030 e negativos e do trabalho em rede. A por meio do International Trade Centre
positivo. Nesse cenário, o tema dos no mundo. O documento ressalva que urgência da sustentabilidade traz junto (ITC). Em 2016, o ICV Global foi finalista
a lógica colaborativa na inovação, sem do prêmio promovido pela entidade
regras que trancam em caixas-pretas para reconhecimento dos melhores
soluções importantes para toda a so- projetos desenvolvidos por agências
ciedade. Aspirar, escolher, descobrir, governamentais de exportação – e a
desenvolver, acelerar, escalar, ampliar e credencial pode abrir espaços para in-
mobilizar são os verbos mais importan- vestidas internacionais em conjunto
tes do vocabulário da inovação, segun- com a Apex-Brasil.
do pesquisa da consultoria McKinsey A expectativa é de que o conheci-
junto a lideranças globais do setor. mento gerado nos dois primeiros ciclos
Assim, a contribuição das micros e do projeto e o bom desempenho das
pequenas empresas pode ser estraté- empresas participantes sirvam de refe-
gica para se inovar com sucesso a partir rência para novos avanços. O esforço de
de novos modelos favorecidos pelo rit- capacitar para o mercado externo negó-
mo alucinante das mudanças na era di- cios de pequeno porte que respondem
gital. No entanto, o tamanho da econo- aos desafios globais da sustentabilidade
mia e os expressivos estoques naturais de forma inovadora é roteiro de uma
credenciam um maior protagonismo história que está longe do fim.
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Evolução na parceria entre Apex-Brasil e GVces
O segundo ciclo do projeto ICV Glo- tre as iniciativas vigentes coordenadas concebido pelo ICV Global, do PEIEX e de e as negociações em torno de acordos
bal inaugurou uma nova frente de apoio pela área destacam-se: o já mencionado outros possíveis aportes da Apex-Brasil do clima, por exemplo, é chave para o
para inserção da sustentabilidade de PEIEX, com foco em qualificar as empre- (como o atendimento pela área de Inter- fomento de setores e atividades econô-
forma mais estratégica nas iniciativas sas para exportação; o Design Export, que nacionalização), as empresas enfrentam micas que, além de serem competitivos,
da Apex-Brasil. Como destaque está a busca aprimorar design de produtos e desafios de vários tipos – e algumas se promovem o crescimento econômico
contribuição para a qualificação de ex- embalagens para exportação; o Programa destacam ao desenvolver suas estraté- verde. De igual modo, tomar conheci-
tensionistas do corpo técnico do PEIEX Brasil + Produtivo, com foco em aumen- gias para exportação com o diferencial mento da transição cada vez mais veloz
e a maior participação de pesquisadores tar eficiência e reduzir custo no processo da sustentabilidade. de medidas de autorregulação para as
de diversas áreas do GVces em eventos e produtivo das empresas; o Mulheres na Com o objetivo de consolidar apren- de regulação é tão estratégico quanto
ações organizados pela Agência. Exportação, que visa sensibilizar, capaci- dizados das distintas trajetórias das inteirar-se das políticas públicas em
Trabalhar com empresas não expor- tar e promover negócios internacionais empresas rumo à exportação e dar luz mercados-alvo no sentido de preparar
tadoras ou iniciantes (que exportam para empresas lideradas por mulheres; e às suas conquistas no decorrer do pro- as empresas brasileiras frente a futuras
esporadicamente via distribuidores ou por fim, o próprio ICV Global. jeto, estudos de casos serão elaborados barreiras técnicas.
agentes) requer uma preparação espe- Com base na demanda da Apex-Brasil, em diferentes formatos para que sirvam Diante da relevância cada vez maior
cífica de sensibilização dos empreende- para medir avanços desse portfólio de tanto como peças de comunicação como que o tema da sustentabilidade tem
dores, identificação de mercados-alvo iniciativas voltadas a empresas de menor para fins didáticos. adquirido, o GVces se propõe a seguir
e fortalecimento das suas capacidades porte e em estágios iniciais de maturida- apoiando a Apex-Brasil, identificando
produtivas, de gestão e marketing, vol- de exportadora, foram desenvolvidos in- Sustentabilidade na agenda e compartilhando o conhecimento ge-
tadas ao comércio exterior. Após esse dicadores de resultados e impactos para global de negócios rado em tópicos e setores econômicos
preparo, elas se tornam mais qualificadas aplicação nas diferentes fases metodo- relevantes para a agenda internacio-
para competir e alçar voos mais altos no lógicas do ICV Global. Atenta ao potencial brasileiro de se nal de negócios, de forma a contribuir
mercado internacional. destacar no cenário econômico e socio- para o posicionamento do Brasil no
É lidando majoritariamente com esse Estudos de caso ambiental, a Apex-Brasil tem orientado mundo como país que exporta e atrai
perfil de empresas que a Apex-Brasil de- cada vez mais suas ações à luz da sus- investimentos de soluções sustentá-
senvolve e conduz seus projetos. Den- Ao longo do processo de formação tentabilidade. Acompanhar o debate veis e inovadoras.
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Bibliografia
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