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sem rumo
por Arne Lygre (2005)
DRAMATIS PERSONAE:
Peter
Irmão
Ex-Mulher
Filha
Irmã
Proprietário/Assistente
I ATO
1
(Peter e Irmão estão de pé num terreno desabitado, junto a um rio)
(Irmão não responde. Peter afasta-se um pouco. Ficam calados por um momento)
I- Claro.
P- O que?
I- Eu decido.
P- Claro.
I- Vai ser... Uma linda cidade.
P- Vai.
I- Aqui? Só porque nos metemos por esse rio adentro?
P- Se não fosse isso, não tinha sabido desse lugar.
I- E os teus negócios?
P- Vendo tudo. Invisto aqui. Concentro tudo.
I- Vende tudo o que tem?
P- Preciso de uma coisa nova. De alguma coisa que possa, talvez, não ter
sucesso.
2
I- E aí?
P- Aí?
I- Se não tem sucesso?
P- É essa a diferença.
I- O que?
P- Entre quem faz diferença e um tipo como você. Se. Se. Se. Existe sempre um
risco.
I- Vender tudo. Por causa disso?
P- É uma idéia que... Me enche de entusiasmo.
(Peter senta-se numa pedra. Tira uma garrafa térmica de uma bolsa, enche duas
pequenas canecas com café e estende uma delas a Irmão. Irmão senta-se ao lado
dele)
I- Entusiasmo?
P- A possibilidade.
(Irmão não responde. Bebem. Irmão desata a rir às gargalhadas. Peter observa-o.
Irmão acalma-se)
P- Como somos diferentes. Às vezes eu penso: o que vou fazer com você? (Peter
olha para Irmão) Às vezes eu penso... (Peter interrompe-se)
I- O que?
P- Se você não me trava. Apesar de eu estar bem consciente disso. Apesar de eu
tentar não me deixar influenciar por você. Às vezes eu penso se, de certa maneira,
isso não me contagia. O teu medo. (Ficam em silêncio por um momento. Peter
olha para Irmão) O que vou fazer com você?
I- É você que decide.
P- Claro. Sou eu que decido. O que vou fazer com um irmão que não me serve
pra nada?
I- Mas eu te sirvo pra alguma coisa.
3
P- Mas. Mas. Mas.
I- O que?
P- É disso que eu não gosto em você.
P- Pra alguma coisa, talvez. Mas não para o máximo. Era o que se podia exigir a
quem se diz da família.
4
Pr- Não, obrigado.
P- É a sua casa?
Pr- O que?
P- O barco deslizava na direção da sua casa, foi o que você disse, quando falava
do rio.
Pr- Hã?
P- O rio... É seu também?
Pr- O lado leste. Do rio, até aquela planície, lá embaixo.
P- É tudo seu?
Pr- É meu, sim.
P- E o lado oeste?
Pr- É de um que se diz meu irmão.
P- Que se diz seu irmão?
Pr- Não temos nenhum contato.
P- Briga?
Pr- Era meu! Tudo! Do que nasceu primeiro, era o que eles diziam. Era o que a lei
dizia. Nunca foi dito que se tinha que dividir com um irmão.
P- E foi o que fizeram?
Pr- Ele levou a questão pro tribunal. Devia ser tudo meu, tudo!
(Peter não responde. Ergue outra vez a garrafa térmica na direção do Proprietário)
P- Vai um café?
Pr- Meia xícara. Obrigado.
(Peter serve-lhe uma xícara, e enche também a sua e a do Irmão. Todos bebem)
P- É bonito.
Pr- É.
P- É pena.
Pr- O que?
P- Perder metade de uma coisa assim.
Pr- Odeio ele.
P- Quanto custa o resto?
Pr- O que?
P- Sua parte. Quanto custaria?
(Proprietário hesita)
P- Dinheiro.
Pr- O que?
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P- Ficaria com dinheiro.
Pr- Não basta.
P- Eu compro.
(Peter faz um gesto para Irmão se aproximar. Fala-lhe ao ouvido. Irmão aproxima-
se do Proprietário e ataca-o subitamente. Pressiona-o contra o chão, imobilizando-
o. Irmão fala ao ouvido do Proprietário. Proprietário acalma-se e fica deitado,
imóvel. Irmão o larga e Proprietário levanta-se. Proprietário senta-se. Fica
sentado, silencioso, olhando para a paisagem)
Pr- Vendido.
P- Comprado.
Pr- Estou rico.
P- Está.
Pr- ESTOU RICO! (Peter ri. Proprietário fala em voz baixa, consigo próprio) Rico...
P- Agora você é um dos nossos.
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Pr-Tudo que se pode fazer com o dinheiro.
P- Viajar, talvez.
Pr- Viajar?
P- Pros lugares com que sonhou.
Pr- Acontecia dele sonhar.
P- Já ele nunca sonhava.
I- Peter fazia acontecer.
Pr- Acontecia dele sonhar que tinha mulheres em sua cama.
P- Mais um que não sonhava senão com o amor. Por isso é que havia tanto
espaço no mundo para os que eram como Peter. Para os que não pensavam
senão em fazer acontecer.
Pr- Uma ou duas mulheres. Acontecia dele sonhar que tinha duas em sua cama.
P- Duas mulheres?
Pr- Ajoelhadas na frente dele. Implorando. “Adoro seu pau. Dá ele pra mim. Fode
minha boca.” Duas mulheres. Loucas de desejo.
P- Um sonho engraçado.
Pr- Não havia nada em que ele pensasse tanto.
P- Agora podia conseguir.
Pr- O desejo também?
P- Todo desejo que quisesse.
Pr- Putas?
P- Ou não. Agora podia conseguir.
(Proprietário começa a rir. Pouco depois, pára de rir e olha para Peter)
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P- Tudo!
Pr- Aqui?
P- Sim.
Pr- Pra quem?
P- Pra todos que quiserem vir morar nas casas econômicas que vamos construir.
Pr- Seria o meu sonho.
P- O que?
Pr- Morar aqui.
P- Também é o meu.
Pr- Bem alto na encosta, talvez. Com vista sobre a cidade.
P- Talvez...
Pr- Vou comprar um terreno lá em cima.
P- Não vendo terrenos.
Pr- Não vende?
P- A cidade tem que ser planejada rigorosamente. Tem que ser desenhada. Não
ponho nenhum terreno à disposição antes de estar tudo pronto.
Pr- Eu conheço cada metro quadrado.
P- Pode ajudar.
Pr- Posso?
P- Gosto de você.
Pr- Obrigado.
P- Meu assistente, talvez.
Pr- Assistente?
(Irmão se aproxima)
I- Assistente?
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P- Agora vamos para o barco. Quer vir?
I- Ele tem que tomar conta da propriedade.
P- Quer vir?
Pr- Um dos que alinharam logo. Desde o princípio. Antes que alguém pudesse
imaginar o que viria a ser. Era do que ele teria mais orgulho. Depois.
I- Dez anos depois.
(Aqui há uma passagem de tempo: dez anos. Eles estão agora num cais, e vê-se
a cidade erguida, luminosa, ao fundo)
Pr- Dez anos depois, sentados no cais, altas horas da noite. Na noite do
aniversário da cidade. Depois da grande festa na praça.
P- Ele tinha medo. Também. Tanta coisa podia ter dado errado.
I- Durante toda a primavera tinham aumentado as expectativas para a grande
festa dos dez anos da cidade.
A- As pessoas planejaram as férias em torno daquele dia. Daquela semana.
Ninguém queria perder nada do que iria acontecer.
I- Ou do que não iria.
P- Havia tanta coisa que podia ter dado errado. (Bebem. Peter bruscamente sorri)
Mas não. Deu tudo certo. (Peter bebe outra vez, sorri e grita) DEU TUDO CERTO!
(Assistente ri. Ficam os três calados por um momento ) O discurso também? (Para
o Irmão) O meu discurso, foi bom?
I- Foi.
P- Foi. (Ficam calados por um momento) Foi?
I- Se saiu bem.
P- Nunca gostei de falar em público.
I- Se saiu bem.
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(Peter volta a beber. Passa a garrafa aos outros. Bebem também. A Ex-Mulher
aparece no cais. Todos olham para ela, mas não dizem nada)
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I- Estamos contentes.
A- A festa não podia ter sido melhor.
(Assistente estende a garrafa para Ex-Mulher. Ela bebe e passa aos outros)
E- Ainda bem.
P- O que?
E- Que está contente.
P- Deu tudo certo.
P- Em minha casa?
E- O que?
P- Gostaria de morar em minha casa?
E- Não.
P- Não.
E- Não. Já tentamos uma vez.
(Silêncio)
A- O que é?
I- Peter?
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P- Vão embora.
A- O que?
P- A festa acabou.
E- Estou aqui.
P- Me agrada que esteja aqui.
E- A mim também.
P- Não queria?
E- Eu...
P- O que?
E- A oferta me pegou de surpresa.
P- Pensei nisso muitas vezes.
E- Pensou?
P- Pensei.
E- O que você pode fazer com uma ex-mulher?
P- O que eu posso fazer sem uma?
E- O que é?
P- Acabou. A festa.
E- Sim. Deu tudo certo.
II ATO
(Dez anos mais tarde. Peter está de pé, na janela de um quarto de hospital. Olha
para a cidade lá fora. A Ex-Mulher está sentada a uma certa distância.)
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P- Foi bom ter construído o hospital aqui em cima. No melhor terreno. Com vista
para a cidade e o rio.
E- É lindo.
P- Muitos dos meus conselheiros achavam que devíamos colocar aqui um edifício
mais importante, e construir a cidade em volta dele. Mas pensei que... O hospital.
Que em momentos difíceis a beleza em volta não poderia senão fazer bem.
E- Está com medo?
P- Estou.
E- Eu estou aqui.
P- Não adianta nada.
E- Quer ficar sozinho?
P- Quero.
P- NÃO! Não. Não vá embora. (Ex-Mulher hesita. Peter está de costas para ela.
Ela aproxima-se e coloca uma mão nas costas dele. Ficam de pé, em silêncio) Às
vezes eu sinto que nós tenhamos nos divorciado.
E- Eu também.
P- Seria bem diferente se eu te tivesse aqui, agora, como mulher.
E- Seria.
P- Mas somos amigos.
E- Somos.
P- Já não sou o seu homem, mas...
E- Já não é o meu homem, mas eu... Não há ninguém em quem eu pense com
tanto carinho.
P- Eu te amo.
E- Também te amei.
P- (Peter sorri, triste) A culpa foi minha.
E- Foi.
P- É que eu não fui sempre seu...totalmente.
E- Não.
P- Isso foi o pior?
E- Foi doloroso.
P- De tudo que se passou entre você e eu, o que é que te irritava mais?
E- Era eu ter tão pouco em relação a você.
P- Mas tinha o meu dinheiro.
E- Sim, tinha. Mas...
P- Isso era o que eu detestava.
E- O que?
P- Mas. Mas. Mas. Eu podia trabalhar dezoito horas sem parar, passar metade
das noites em reuniões, viajar para um país num dia e no dia seguinte para outro,
mas nunca estava cansado. Não, não era isso o que me cansava.
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(Ex-Mulher não responde. Ficam em silêncio)
(Silêncio)
(Irmão entra no quarto. Peter e Ex-Mulher olham para ele, depois se voltam
novamente um para o outro)
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I-Não foi pra isso que te chamamos, pra vir aqui criar um mau ambiente. Meu
irmão está cansado. Precisa de sossego. (Irmão aproxima-se de Peter) Deita um
pouco. (Peter lentamente acena com a cabeça, como que absorvido em outros
pensamentos. Irmão vai até a cama, dobra o lençol para o lado. Peter segue-o.
Senta-se na cama) Esperamos lá fora.
P- Não.
I- O que?
P- Não quero me deitar.
I- Precisa descansar.
P-Não é isso que vai me fazer melhorar. Eu...
I- Vai te dar forças.
P- Eu...não melhoro.
I- Não diga isso.
(Peter começa a arrancar a roupa de cama. Atira-a para um dos cantos do quarto)
(Peter começa a chorar. Irmão se aproxima dele e põe a mão em seu ombro.
Peter grita)
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P- Me deixa! (Irmão afasta-se. Logo em seguida, Filha entra no quarto. Irmão e
Ex-Mulher olham para ela, mas não dizem nada. Peter não a nota. Filha vai até ele
e põe a mão em seu ombro. Peter grita) Me deixa! (Peter vê Filha) Quem é você?
F- A tua filha? Me pediu para vir.
P- Sim. É parecida.
F- Parecida?
P- Foi assim que te imaginei.
(Peter fica sentado olhando fixamente para Filha. Ela hesita por um momento, olha
para Ex-Mulher e para Irmão, e volta-se outra vez para Peter)
F- A cidade... É linda.
P- Obrigado.
F- Vista com os próprios olhos é diferente.
P- Nunca tinha vindo?
F- Não. Vi só umas imagens na televisão.
P- Está pronta.
F- A cidade?
P- Para a festa dos vinte anos.
F- Já é assim tão velha?
P- Não se pode dizer que seja velha. Em termos de cidade.
F- O que eu queria dizer...
P- Não vamos falar da cidade agora. Não falo de outra coisa desde que a fundei.
F- Você?
P- Eu, sim. E os que me rodeavam e que investiram seus milhões. Não sabia?
F- Sabia que tinha participado.
P- A idéia foi minha. O projeto foi meu. Uma cidade nova. A minha cidade! Desde
que conseguíssemos comprar as duas propriedades que estavam junto ao rio. E
conseguimos. Ninguém diz não a tanto dinheiro. O Estado deu autorização.
Ninguém diz não a uma oportunidade tão grande de desenvolvimento.
F- Ficou bem bonita.
(Peter olha para Filha, como que sugerindo alguma coisa. Primeiro ela não
entende, mas pouco depois prossegue)
(Silêncio)
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F- Como está?
P- Eu... (Peter não consegue continuar)
F- O que? (Peter não responde. Olha para Irmão. Irmão aproxima-se da Filha,
murmura-lhe alguma coisa no ouvido. Filha olha para Peter) Meus pêsames. Quer
dizer... Pêsames não, mas... Que pena.
P- Não queria dizer nada... por telefone.
F- Então era por isso, a urgência?
P- Era.
F- Eu estou aqui agora.
P- Que pena?
F- O que?
P- Foi o que você disse, que pena.
F- Sim, quando aquele homem disse...
P- É o meu irmão. O seu tio.
F- Quando ele disse que você...
P- Pena, só?
E- Chega! (Peter olha amedrontado para Ex-Mulher. Esta levanta a mão para
bater outra vez, mas pára) Vai morrer! Acontece todos os dias. Morrem pessoas,
nascem outras. Não podemos virar tudo de pernas pro ar, só porque dessa vez é
de você que se trata. Controle-se!
I- Cale a boca.
E- Alguém tem que lhe dizer!
I- Nem mais uma palavra!
(Ex-Mulher acalma-se. Filha começa a chorar. Peter olha para ela, admirado. Ela
aproxima-se dele e lhe abraça. A princípio ele hesita, mas em seguida a abraça
também)
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P- Eu tentei.
I- O que?
P- Me controlar.
I- Não era isso o que ela queria dizer.
P- Não adianta. É como se o medo que senti da primeira vez, quando soube o que
me esperava... (Peter interrompe-se)
E- O que?
P- É como se me apertasse mais e mais, a cada dia que eu ainda tenho pra viver.
F-Não. Não posso estar assim. (Afasta-se dele) Não conheço você.
P- Talvez pudéssemos nos conhecer?
F- É muito tarde, não é?
P- Nem sempre o tempo é importante. As pessoas ou se conhecem depressa, ou
nunca se conhecem. É a experiência que eu tenho.
F- Talvez.
P- E se mandássemos os outros lá pra fora?
F- Não.
P- O que?
F- Podem ficar aqui. O silêncio é muito pior.
P-Mas eu pedi que... (Peter interrompe-se. Olha para Filha) Pensei que você fosse
mais falante!
F- Às vezes.
(Filha olha para Irmão e para Ex-Mulher. Filha estende a mão à Ex-Mulher.
Cumprimentam-se)
E- Mulher.
F- Filha.
E- Mora na capital?
F- Moro.
E- Com a sua mãe?
P- Parem com isso.
E- O que?
P- Parem de falar no passado.
E- Eu só queria...
P- Sei bem o que você queria.
F-O que?
P-Ela tem ciúmes.
E- Não tenho ciúmes. Eu não sabia de nada. Até hoje.
F- Vocês viviam juntos quando... eu...
P- Não... Antes.
F- Antes de mim?
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P- Sim.
F- E agora outra vez?
P- Não.
F- Mulher, não foi o que ela disse?
P- Ex-mulher.
E- Ainda tenho a aliança.
I- Você tem a aliança. Eu tive os anos todos, antes de você aparecer. Pára de
chatear com isso.
F- E eu tenho o que?
P- O mesmo que eu. Uns dias. (Peter olha para Filha. Ela olha para ele, com
medo. Peter ri, cada vez mais histericamente. Irmão vai até ele e coloca-lhe um
braço em volta dos ombros. Peter acalma-se) Eu não sou velho. (Silêncio) Por que
eu? (Irmão tenta abraçá-lo. Peter o repele violentamente) Me deixa!
I- Agora vamos deitar.
P- Não ouviu?
I- Você está fora de si.
P- Não me diga o que eu devo fazer!! Está ouvindo? (Irmão não responde. Peter
larga-o) Não me diga nada! Não há nada que você possa me dizer, que eu próprio
já não tenha pensado antes!
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P- (Para Filha) Não vá embora.
F- Não, não vou.
P- (Se aproxima e senta-se ao lado da Filha) Tem medo?
F- O que?
P- De morrer?
F- Não penso nisso.
P- Eu pensava. Quando era da sua idade. Sempre pensei. Agora é só esperar. O
último estágio.
F- Um pouquinho, talvez.
P- O que?
F- Te ver assim. Talvez por isso tenha um pouquinho de medo.
P- Ainda bem.
F- O que?
P- Quero que tenha medo. (Peter olha fixamente para a Filha. Ela desvia o olhar.
Peter vira-se para os outros) Quero que vocês todos tenham medo. Eu quero que
todos tenham medo! É mais fácil o medo coletivo.
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F- Ela talvez. A filha dele?
P- Talvez.
F- Não foi por isso que pediu para ela vir?
P- Foi por isso?
F- Ele nunca disse.
P- Ele nunca dizia nada.
I- No entanto, eles o compreendiam.
P -Ele nunca conseguiu dizer nada.
E- Peter era um homem que se podia compreender.
F- Ela não compreendeu. Na realidade, não compreendeu.
(Peter senta-se no chão. Os outros olham para ele. Durante um longo período,
ninguém diz nada)
(Irmão olha para Peter. Peter fica sentado, olhando pra frente)
(Irmão baixa a cabeça. Parece que vai começar a chorar, mas não chora. Ex-
Mulher aproxima-se e pousa-lhe a mão no ombro. Ficam de pé, calados)
F- Não era nada de que ter medo. Só um ligeiro movimento. Antes do fim.
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(Irmão vai buscar dois envelopes. Dá um deles à Filha e o outro à Ex-Mulher. Filha
abre o dela e olha dentro)
I- Pára!
(Ex-Mulher olha para Irmão. Parece que vai dizer alguma coisa, mas desiste)
E- Eu também não.
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I- O que?
E- Uma ex-mulher. Não entendi o que ele queria.
F- Quanto tempo vocês estiveram casados?
M- Não me lembro. Ele me disse... Mas eu esqueci.
I- Oito anos.
M- Foi tanto tempo?
I- Primeiro, oito anos casados. Em seguida, dois anos sem nenhum contato, antes
de se encontrarem outra vez. Por acaso.
E- No parque.
I- Não se lembra, ou o que?
E- Faço confusão com os números. Oito e dois e...
F- Com o que?
E- Com o tempo que passou desde que o encontrei de novo.
I- Dez.
E- Foi há tanto tempo?
F- Anos? (Ex-Mulher não responde) Fez o papel de ex-mulher durante dez anos?
I- Parem com isso.
F- O que?
I- Não falem assim. Peter morreu agora mesmo.
F- Desculpa.
I- Não sente nada?
F- Não o conhecia bem.
I- Não consegui entender o que ele queria de você. (Vira-se para Ex-Mulher) De
vocês duas.
E- A mim também me custa agora. Peter morto. Mas não era nada que não
soubéssemos que ia acontecer. Estávamos esperando. Esperando.
I- O que seria você hoje, se não fosse ele? O que seria você?
E- Seria outra.
I- (Irmão ri) Bem outra. Sim.
E- O que quer dizer?
I- O que?
E- Bem outra, foi o que disse. Pejorativamente.
I- Não fale comigo como se eu não soubesse o que você fazia da vida na época
em que o Peter te encontrou.
E- Não fale comigo como se soubesse que decisões eu teria tomado se não o
tivesse encontrado.
F- Quando foi que ele te contratou?
I- (Irmão grita para Filha) Parem com isso! Não falem como se se tratasse de um
trabalho! Peter morreu!
E- (Ex-Mulher grita para Irmão) MORREU! ACABOU-SE! Não nos diga mais como
é que temos que fazer!
(Irmão olha para Ex-Mulher. Parece que vai responder aos berros, mas domina-
se. Pouco depois, responde à meia voz)
I- Estamos de luto.
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(Silêncio, um longo tempo)
(Peter deita-se na cama. Irmão vai até ele e fecha-lhe os olhos. Ex-Mulher cobre-
lhe o corpo com o lençol. Ficam um momento em silêncio, ao lado da cama)
(Silêncio)
E- (Tira a aliança e a coloca sobre o corpo de Peter) Ele insistia que eu usasse
essa aliança.
F- Era tudo que ele exigia de você?
E- (Hesita) Não.
F- E o que mais?
E- Não me lembro.
F- (Olha para o seu envelope e acena com ele para Ex-Mulher) Um assim, todos
os dias. Durante dez anos?
E- Todos os dias em que eu estive aqui. Sim.
F- Muitas vezes?
E- Variava. Durante longos períodos, ficava esperando que ele me telefonasse.
I- Durante longos períodos ele não suportava sequer pensar em você.
E- Eu sei.
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E- Ele fica com tudo.
I- (Gritando) O corpo ainda não esfriou!
F- Desculpa.
I- Vá embora.
F- Ele me pediu...
I- (Grita) Vá embora, já disse!
F- Vou sim. (Filha vai sair. Detêm-se um momento e olha para Irmão) Meus
pêsames.
(Filha sai. Irmão não olha para ela. Pega a aliança que está sobre o corpo de
Peter. Olha para o corpo, e depois larga a aliança no chão. Ex-Mulher fica
impassível. Irmão pousa a mão sobre a testa de Peter)
(Irmão parece que vai responder, mas hesita. Ele parece profundamente triste)
E- Quem é você?
I- O que?
25
E- Atrás desse irmão. Que nunca foi mencionado.
I- Nunca foi mencionado?
E- Pelo Peter.
I- O que quer dizer?
E- Ele me mostrou antigas entrevistas que tinha dado. Nunca, em nenhuma delas,
ele mencionou qualquer irmão.
I- Ele não gostava de falar da família.
E- Ele, às vezes, me dizia que sentia falta de uma família.
I- Ele não gostava de falar de... mim.
E- Ele não gostava de você.
I- Peter... morreu.
E- Morreu. Sim.
III ATO
(Uma semana depois. Irmão está sentado no chão de um grande quarto vazio da
mansão de Peter. O Assistente tira um relógio da parede. Com o objeto nas mãos,
prepara-se para sair do quarto)
26
A- É o último objeto. Abro o portão? (Irmão está imerso em seus pensamentos.
Tem um catálogo em seu colo) Abro o portão?
I- Já?
A- Este é o último objeto. Os homens da mudança esvaziaram a casa toda. Está
tudo no jardim.
I- É muito comprida, a fila?
A- Vai até o rio.
I- O quê?
A- Dissemos aos que estão atrás que já não vai haver nenhum objeto pra eles
quando entrarem, mas é como se não acreditassem em nós. Continuam na fila.
I- É uma casa muito grande. Peter era um colecionador. Talvez dê pra mais do
que pensamos.
A- Talvez. O gramado está cheio de objetos, na frente e atrás da casa. Está
apinhado.
I- Então podemos abrir o portão.
A- Vou avisar.
I- E só um objeto por pessoa.
A- Nisso somos rigorosos. Marcamos.
I- Os objetos?
A- As pessoas na fila. Quando passarem pelo portão para escolherem alguma
coisa, marcamos elas com uma caneta que não sai facilmente. Não podem
trapacear e se enfiarem outra vez na fila.
I- E um de cada vez. Entra um de cada vez.
A- O que?
I- Vão poder escolher em paz.
A- Assim leva muito tempo.
I- Vão poder escolher em paz durante um minuto. Ou dois. Podem ser dois
minutos. E depois tem que sair pelo portão outra vez.
A- Muito bem.
I- Muito bem?
A- Se quer assim...
I- Sim, quero.
A- Vai levar muito...
I-(Interrompendo) Não os quero aqui no jardim aos bandos. Lutando pelas
melhores coisas. Quebrando e destruindo os móveis, os vasos, os quadros.
A- Um de cada vez, então. (Faz um pequeno cumprimento com a cabeça e sai do
quarto, levando o relógio. Irmão começa a folhear o catálogo. Pouco depois, entra
outra vez o Assistente, ainda com o relógio nas mãos) A sua irmã está aí. Diz que
você lhe telefonou.
I- Deixa entrar.
(Assistente sai. Pouco depois, Irmão entra no quarto. Ficam calados. Após um
longo período, Irmão começa outra vez a folhear o catálogo)
27
Ia- O quê?
I- A minha primeira coisa, agora que a casa é minha. O que vai ser?
Ia- Você precisa de quase tudo, aqui.
I- Mas do que eu preciso primeiro?
Ia- Uma cama?
I- Não. Preciso de uma coisa da qual nunca me canse.
Ia- Eu, talvez.
I- Você, talvez. (Ficam calados por um momento) Há muito tempo não te via.
Ia- Sim.
I- Desculpa. (Irmã não responde. Ficam calados por um momento) Desculpa.
Ia- Vamos falar do presente.
I- Sim.
Ia- Com o passado não podemos fazer nada.
I- E a mãe?
Ia- Tinha perdido a esperança. (Irmão não responde) Não posso ficar aqui à
espera dele, dizia ela. Seja como for, nunca a vi tão contente como quando lhe
contei que tínhamos sido convidadas pra vir aqui.
I- Mas ela não veio.
Ia- Ele sabe onde eu moro, foi o que ela disse.
28
Ia- Não escolhi nada.
I- Nada?
Ia- O ódio.
I- Eu também. Quero que tudo desapareça. (Irmã está olhando pela janela) Quem
é que está aqui dentro agora?
Ia- Uma velha e um menino.
I- Eu disse: um de cada vez.
Ia- O menino está ajudando. Não acho que ela consiga caminhar sem ajuda.
I- O que estão vendo?
Ia- Os quadros.
I- É o que dá mais dinheiro.
Ia- Eu sei.
I- Foi o que te deixou mais tentada?
Ia- Não quero nada dele.
I- Eu também não.
Ia- Já o esqueci.
I- Obrigada, foi o que você disse?
Ia -Por eu poder. Se quisesse. Por eu poder escolher primeiro.
I- Somos da mesma família.
Ia- Somos. Agora.
I- E a mãe. A mãe também.
Ia- Podiamos ir visitá-la. Nós dois.
I- Talvez.
Ia- Não é longe.
I- Mas... De certa maneira. É que...
(Assistente entra)
29
(Assistente sai)
(Assistente entra)
I- Uma casa para Irmã. Uma casa grande. Lá em cima, num dos melhores
terrenos. É urgente.
A- Vou tratar das formalidades. (Sai. Irmão olha para Irmã)
Ia- Obrigada.
I- O prazer é meu.
Ia- Tenho sentido a sua falta.
I- É.
Ia- Andávamos sempre juntos. Antes.
I- Podemos voltar a andar.
Ia- Sempre juntos, você e eu.
I- Não vamos falar nisso.
Ia -Nem que seja para entender melhor o que aconteceu.
I- Nós sabemos bem.
Ia- Eu não sei tudo de você. Não sei tudo de mim. Uma pessoa se esquece.
I-Talvez seja melhor.
Ia- Esquecer?
I- O que se esquece sem querer? Sim. É melhor.
Ia- Não sei.
I- Não devíamos falar nele. Foi o que você tinha dito, quando mencionei Peter.
Ia- Não era porque quisesse esquecê-lo. Era só pra que ele não ocupasse um
lugar ainda maior do que já tem na minha cabeça.
I- Ele tinha muitos lados bons.
Ia- Pára com isso.
I- Só bons, praticamente.
Ia- (Gritando) Pára com isso! (Irmã dirige-se à porta)
I- Não vá embora.
Ia- Vou.
I- Preciso de você.
(Assistente entra com uma caixa cheia de envelopes, iguais aos que Filha e Ex-
Mulher tinham recebido)
Ia- O que é?
I- Envelopes.
Ia- Isso eu vejo.
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I- Pega um.
Ia- Eu fico.
I- Me perdoa.
Ia- Está bem.
I- Eu mudei. (Silêncio) Desculpa.
Ia- Você é que tem que me desculpar.
I- Por que?
Ia- Por eu ter contado com outra coisa. Nós mudamos. É assim... O tempo. Não
é?
I- Não me lembro.
Ia- Do que?
I- De quem eu era. (Irmã não diz nada. Irmão olha para ela, fala em voz baixa,
quase murmurando) Quem eu era?
Ia- Era o melhor irmão mais velho que eu podia querer.
(Ficam em silêncio)
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Ia- Ela fazia o melhor que podia.
I- Uma espécie de ódio. De qualquer jeito.
Ia- Eu odeio eles.
I- Quem?
Ia- Todos que iam e viam, e que mamãe dizia que amava.
I- Ela era incapaz de viver sozinha. Nem por um dia.
Ia- Seja como for. Deles todos, não havia nem um que fosse uma pessoa decente.
I- Talvez estejamos confundindo uns com os outros. Agora. É possível que as
cores se misturem. Que os melhores deles sejam manchados pelos piores.
Ia- Talvez. (Ficam calados. Irmã começa a chorar) Era tão importante. E afinal não
era nada importante.
I- O quê?
Ia- Como você pôde ir embora?
(Assistente entra com a Ex-Mulher. Ela tem marcada na testa uma cruz negra, e
traz nas mãos um quadro)
I- Quem é essa?
A- (Hesitando, sem entender) A ex-mulher do Peter?
I- Não conheço nenhuma ex-mulher do Peter.
A- Ela não queria ir embora sem te ver primeiro.
E- Quero voltar.
I- Voltar?
E- Também quero fazer parte disso aqui.
I- O que eu posso fazer com a ex-mulher de um homem que já não significa nada?
E- Que não significa nada?
I- O que ele era está lá fora, no gramado. Daqui a pouco desaparece a última
recordação.
E- (Dá uma pequena gargalhada) Não se livra dele tão fácil.
I- Ele desapareceu.
E- Nunca vai se livrar dele.
(Irmão não responde. Pouco depois, vai até a janela e olha para baixo, para o
jardim)
I- Merda! Que devagar! Deixem o portão aberto! Deixem entrar todo mundo!
Façam tudo desaparecer!
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(Irmão fecha a janela e se afasta. Assistente sai do quarto rapidamente. Irmã vai
até a janela e abre uma fresta)
(Ex-Mulher vai também até à janela. As duas ficam olhando para fora)
I- Saiam da janela.
E- Quem é você?
E- Quem é ela?
I- É a minha irmã.
E- Um novo ramo.
I- O que?
E- A árvore genealógica tem que estar numa terra muito boa, para crescer assim
tão bem.
I- Ela é realmente minha irmã.
E- (Observa Irmã durante um momento) Vocês não são parecidos.
I- Somos parecidos, de certo modo.
Ia- Somos parecidos.
(Ex-Mulher olha para Irmã. Subitamente dirige-se para a caixa de envelopes, tira
um e dá à Irmã)
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I- Acabou.
Ia- Põe ela na rua.
I- Vai embora.
E- Desculpa.
I- A minha irmã não quer você aqui.
E- Não tenho mais ninguém.
I- Tem muita gente assim. Não posso acolher todos.
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I- Talvez. Uma coisa da qual ele não se cansasse?
E- Era urgente. Eles estavam esvaziando o jardim.
Ia- Não ouça o que ela diz.
(Silêncio)
(Irmã chora)
Ia- Ela notou que os gritos tinham mudado. Já não eram gritos de isso-é-meu, mas
choro e gritos de a-menina-não-respira.
I- QUEM?
E- Uma menina.
I- Uma menina?
A- Sim.
I- De que idade?
A- 14,15.
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I- E os pais? (Assistente não responde. Irmão grita) Os pais!
A- A mãe.
I- A mãe?
A- A menina veio com ela.
I- E?
A- Ela esperou lá embaixo, no jardim, enquanto Irmã estava aqui em cima com
você.
I- Irmã?
A- A filha dela. A menina.
I- Irmã tem uma filha?
A- Deve ter sido empurrada e pisoteada quando perdemos o controle.
I- Morta?
A- Não respira.
I- Ninguém pode fazer nada?
A- Eles estão tentando.
I- Quem?
A- Havia médicos na multidão. A ambulância está vindo.
I- Não estamos fazendo teatro! Está ouvindo? Não estamos fazendo teatro agora.
(Ex-Mulher não responde. Irmão deixa-a) Irmã é... Minha. (Irmão vai até a janela.
Olha de relance para fora, de modo que não possa ser visto do exterior) Tenho
que ir lá. (Fica calado durante um momento) Tenho que ir lá, não tenho? (Olha
para Assistente e Ex-Mulher. Não respondem. Irmão hesita) Vamos falar do que
vamos comprar. Do tempo em que éramos crianças. Não vamos falar disso. (Fica
calado por um momento) Não a conheço.
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A- (Olhando pela janela) Estão falando do que aconteceu.
I- Nós não. Disso não. Não há coisa pior. Perder um filho.
E- A ambulância chegou.
I- Minha.
E- Sua.
E- Todos?
I- Não quero isso. Tenho você. (Volta-se para o Assistente) Amarra ela.
A- O que?
I- Amarra ela!
E- Me amarrar?
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I- Por tantos envelopes, porra, eu tenho o direito de te amarrar.
(Ex-Mulher não responde. Sorri forçadamente. Irmão olha para ela, mas não diz
nada)
E- Tenho medo.
I- Claro. Por tantos envelopes tenho o direito de te fazer ter medo.
E- Sim.
I- Não gosta que te amarrem? Vou te amarrar.
E- Sim.
I- Sim.
E- Me amarra.
I- Porra, claro que vou te amarrar! (Grita da porta) Assistente!
(Assistente entra no quarto. Irmão arranca-lhe a corda que ele traz. Assistente
volta a sair. Irmão aproxima-se de Ex-Mulher. Ela olha para ele. Tenta sorrir, mas
desata a chorar)
E- Me amarra.
I- Quero que se deite ali.
E- Me deito aqui.
I- Os braços para trás.
(Ex-Mulher deita-se de lado, com os braços atrás das costas. Irmão lhe amarra os
braços e as pernas)
E- Me amarra!
I- Não chora!
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I- Você é minha.
E- Você é meu.
FIM
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