Professional Documents
Culture Documents
CURSO DE PSICOLOGIA
FRANCIELLY FRANDOLOSO
ITAJAÍ
2008
2
FRANCIELLY FRANDOLOSO
ITAJAÍ
2008
3
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar, pelo dom da vida e por guiar e iluminar meu o
caminho, dando-me forças para continuar e lutar sempre.
Aos meus pais e familiares pelo incentivo e amor incondicional em todas as
etapas da minha vida.
Ao professor MS Aurino Ramos Filho, meu orientador, exemplo de
competência, cujo apoio foi fundamental para a realização deste trabalho, que muito
contribuiu para o meu aprendizado.
Ao meu namorado, Alexandre Bacan, pela amizade, carinho,
companheirismo, paciência, apoio e amor nos momentos mais importantes da minha
vida.
Os meus mais sinceros agradecimentos. Muito Obrigada.
4
SUMÁRIO
Resumo................................................................................................................5
1 Introdução..........................................................................................................6
2.1 Crack..............................................................................................................11
3 Logoterapia........................................................................................................19
4 Considerações Finais........................................................................................29
5 Referências Bibliográficas.................................................................................32
6 Obras Consultadas............................................................................................34
5
Resumo
A dependência química é uma doença crônica resultante de efeitos prolongados da
droga no cérebro. A incidência do uso do crack intensifica-se a cada instante entre
outras drogas, provocando sofrimento, dor, angústia, vazio existencial, doenças e
morte.
A Logoterapia é a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia que intensiona
fundamentalmente possibilitar ao ser humano a descoberta de um sentido na vida.
Constatou-se, por meio de investigação, que a dependência química é, entre outras
razões, a ausência de um propósito na vida.
A pesquisa bibliográfica, focando a inter-relação dependência química com a
abordagem logoterapêutica, permitiu concluir que a Logoterapia pode ajudar muito o
ser humano a encontrar um sentido na vida, distanciando-os das drogas e tornando-
o responsável, livre, esperançoso e assim por meio do sofrimento, da dor, do amor,
ou também criando um trabalho, descubra um sentido para a vida.
1 Introdução
2.1 Crack
O uso da cocaína começou há mais de 2000 anos nos países andinos como
Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. O uso da cocaína tornou-se popular, e os seus
efeitos negativos acabaram sendo descobertos.
Nos Estados Unidos, proibiram o uso da cocaína e esta quase desapareceu
no começo do século XX. Na década de 1980, o consumo da cocaína aumentou
significativamente, devido ao aumento da procura, e esta além de aspirada, passou
a ser injetada e fumada (crack).
A cocaína é extraída das folhas de uma planta denominada Erythroxylon
coca (anexo 1), também conhecida como epadú ou coca, sendo esta uma
substância natural. A cocaína pode ser usada sob a forma de sal, o cloridrato de
cocaína, se apresentando na forma de grânulos brancos, pó, farinha, branquinha,
etc. Desta maneira, é solúvel em água e serve para ser aspirada. A outra forma da
cocaína, sob forma de uma base, é o crack (anexo 2). O crack é cocaína alcalina e
apresenta um aspecto de pedra, e é o resultado da mistura da cocaína com o
bicarbonato de sódio. O sal da cocaína precisa retornar a forma de base,
neutralizando-se o cloridrato. É insolúvel em éter e pouco solúvel em água, etanol e
clorofórmio; por esse motivo, não pode ser injetado. Mas que se volatiliza quando
aquecido e, portanto, é fumado em cachimbo (anexo 3).
Esta droga também pode ser colocada no cigarro de tabaco, na maconha ou
fumada com outras substâncias. Utilizada na forma de cigarros, constitui-se numa
mistura de baixo teor de cocaína, mas de alta toxicidade, levando a deterioração
mental e biológica em pouco tempo no indivíduo.
O crack é cocaína alcalina. A sua fórmula química é 3-benzoiloxi-8-metil-8-
azabiciclo octano-4-carboxílico ácido metil éster. O principal mecanismo de ação do
crack é o bloqueio da recaptação pré sináptica e a liberação de monoaminas,
principalmente a dopamina e também a noradrenalina e a serotonina.
A dopamina, serotonina e noradrenalina são neurotransmissores cerebrais
que são secretados para a sinapse, de onde são recolhidos outra vez para dentro
dos neurônios por esses transportadores inibidos pelo crack. Além de bloquear, o
crack pode também liberar dopamina, serotonina ou noradrenalina por reverter a
ação do transportador, ocorrendo então o retorno dos neurotransmissores para fora
12
“Durante a fissura faço qualquer coisa para ganhar dinheiro, ficar sem crack é
que não fico”. (ZG19).
“Saio pra rua e qualquer programa baratinho eu faço pra poder comprar a
droga. Eu procuro, eu vou atrás, se aparece um cara que quer me dar uns 10 ou 5
reais, eu vou, faço até por menos pra poder comprar” (AR27).
“Eu prefiro dinheiro porque eu mesma vou buscar, eu mesma vou na boca.
Trocar pela droga eu não sei o que o cabra é, não sei o que ele ta me passando.”
(YK22)
“Não, a troco de droga não, mas a troco de dinheiro sim, pode ser pouco
dinheiro, muito dinheiro, pode ser o dinheiro para uma pedra, mas ter que ser com
dinheiro, se for a droga não faço.” (YF23)
“Eu prefiro a droga e rapidinho. Dava uma rapidinha, catava meu bagulho e já
começava a fumar.” (RN24).
“ O tanto de homem que aparecer eu vou. Já cheguei a fazer nove programas
numa noite.” (RF17)
“Nunca usei camisinha. Acho que a droga sobe na cabeça e eu não ligo pra
camisinha. Nunca me liguei em camisinha.” (ZS21).
“Se o cara chegar e disser: olha sem camisinha eu te pago em dobro, eu
aceito poque o que eu quero é usar a minha pedra”. (YP25)
“Acho que sexo oral e sexo anal não precisa camisinha. É só quando é na
vagina” (YP20).
“Eu cobro R$ 10,00, mas ainda tenho o quarto que é 3, então sobra 7 prá
mim”. (FD27).
O uso do crack aumenta o número de comportamentos sexuais de risco para
HIV devido a troca de parceiros, a utilização do mesmo cachimbo e a falta de uso de
preservativos.
Com o uso do crack o indivíduo torna-se mais violento. Sob o efeito da droga
ficam mais fortes e valentes e a violência aumenta. As mulheres se prostituem com
usuários e acabam sendo violentadas muitas vezes pelo efeito da droga ou também
pela falta dela.
Quando o crack é queimado no cachimbo a temperatura aproximada é de
95ºC, ainda nessa temperatura, o crack sofre sublimação e os vapores produzidos
são absorvidos pelos pulmões, alcançando rapidamente o cérebro.
14
“Queima, faz borbulha... que nem você pegar o cigarro e encostar... aí vira
ferida se estourar aquela borbulha. Mas à maioria você fura porque fica mordendo.
Aí vira ferida”. (AS32)
As entrevistadas não se importam com as bolhas e sangramentos, como a
fissura é muito grande, esse desconforto não as impede de fumar. Não sentem dor
no início e a dor desaparece a medida que continuam fumando e só sentem dor
após ter parado de fumar, no outro dia.
As queimaduras atingem a boca, dedos e nariz, e tornam-se sinais
identificadores de um usuário de crack, sendo fatos que geram receio de serem
denunciadas como usuárias de crack a um policial.
Na fase inicial do uso do crack, as usuárias usam o mesmo cachimbo pela
dificuldade de confeccioná-lo e também pela falta da droga. Mas na fase mais
compulsiva, usam o cachimbo sozinhas, pois evitam certa proximidade com outras
pessoas, apresentando paranóia e medo de serem violentadas.
O crack é uma droga ilícita, e tem sido a droga de maior incidência na
atualidade, sendo causadora de dependência química rápida e danos irreversíveis,
que podem levar o usuário à morte. O termo de gíria “crack” derivou-se do estalo
ouvido quando está forma de cocaína é acesa para fumar, pela quebra da pedra.
O crack fumado é mais barato que as outras formas de cocaína. Mas como
seu efeito dura pouco tempo, acaba sendo usado em maiores quantidades, tornando
o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser cada vez maior.
Para conseguir sustentar este vício, o usuário começa a usar qualquer
método para comprar a droga. Às vezes, submetidos às pressões de traficantes,
começam a traficar drogas, assaltar, roubar, matar e até se prostituir para conseguir
sustentar o vício. A maioria dos usuários passa a usar o crack para atingir efeitos
mais fortes do que as outras drogas. É uma droga de mais altos poderes viciantes.
As pessoas que experimentam sentem um desejo incontrolável de usá-la
novamente.
Produzir crack a partir da pasta da cocaína é muito simples. Basta misturar as
folhas de coca em qualquer solvente, por exemplo, a gasolina. Por isso que está
droga tão pesada tem uma grande aceitação nas classes menos desfavorecidas e
marginalizadas.
16
acabam largando as suas crianças indesejadas pelo mundo ou deixam com as suas
famílias. Apesar de jovens, as usuárias não conseguem evitar a chegada de filhos, e
o aborto é praticado como solução para esse problema.
“Tenho três filhos. Esse último ”peguei” com um traficante. Cada um ta num
canto, não moram comigo. Eu tava fumando droga e fui presa. Pegaram meus filhos
para não ficarem jogados na rua”. (ZR30)
Há casos que o filho é resultado de um programa sexual que a usuária fez e
nem lembra com quem e onde está este parceiro.
“Eu tenho nove filhos e estou esperando o décimo. Conheci um cara no
ponto, aí aconteceu. Quando eu fui ver, já não descia mais a menstruação e eu
estou grávida de novo. É... a criança é de um programa, eu nem sei quem é o cara,
eu não vi mais, ele sumiu. Eu vou ser a mãe dele e pai é Deus. “ (CT30)
A grande maioria de usuárias não trabalha, e o motivo principal é a droga.
Roubos no local de trabalho, ausências de trabalho e a falta de interesse e
motivação, impedem-nas de dar seqüência a um emprego fixo.
“O crack atrasa demais a vida. Você usa e no outro dia não consegue
levantar, não tem força no corpo, seu corpo dói, seus ossos também, parece que
você levou uma surra. Se você usa, você quer beber...se você bebe, tem ressaca de
tanto álcool e do crack também. É impossível trabalhar desse jeito”. (ZS21).
“Eu trabalhava de balconista na Rua 25 de Março, me envolvi com crack e
comecei a roubava no trabalho. Roubava os doces para vender fora de lá. Me
pegaram e eu perdi o serviço. Meu patrão teve consideração comigo, não chamou a
polícia”.(ZS24).
As mulheres usuárias de crack saem de casa muito cedo, desligam-se da
família de origem, engravidam e acabam casando para suprir certas necessidades.
Às vezes são violentadas pelo companheiro, acabam se separando e tomam um
rumo equivocado na vida.
Estudos mostram que 80% de mulheres relatam ter tido sua primeira
experiência sexual antes dos 15 anos. Apenas 6% informaram ter usado
preservativos nas suas relações sexuais durante a vida. Estes dados são
alarmantes, pois o comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em
relação às DST (doenças sexualmente transmissíveis) são altos.
Porém, a vontade incontrolável de usar o crack, leva-as a práticas de
qualquer ato para conseguir a droga. Tentam outras estratégicas para conseguir
18
parar de usar o crack, como beber e fumar maconha, porém não obtém sucesso. É
por meio da venda do corpo que as usuárias conseguem a maior parte de recursos
financeiros para aquisição do crack. Apesar de detestarem prostituir-se por droga,
passa a ser um trabalho “limpo” para as usuárias.
Os principais efeitos físicos causados pelo uso agudo do crack são: aumento
do tamanho da pupila, sudorese, diminuição do apetite e diminuição da irrigação
sanguínea dos ossos.
Os principais efeitos psicológicos do uso agudo do crack são: euforia,
sensação de bem-estar, estimulação mental e motora, aumento da auto-estima,
agressividade, irritabilidade, inquietação e sensação de anestesia.
Segundo Bordin; Fligie; Laranjeira, (2004), o crack pode produzir alterações
no sistema cardiovascular, aumentando os níveis de adrenalina e provocando
vasoconstrição. Os efeitos iniciais são taquicardia e aumento da pressão arterial. Ao
mesmo tempo em que o coração está sendo estimulado a trabalhar mais, os efeitos
vasoconstrição privam o músculo cardíaco do sangue necessário.
Essa combinação pode causar grave arritmia ou colapso cardiovascular,
mesmo em usuários jovens. Outros processos degenerativos no coração e vasos
sangüíneos foram descritos em usuários crônicos. Além disso, a vasoconstrição
pode causar danos a outros órgãos, como por exemplo: aos pulmões nos indivíduos
que fumam cocaína, destruição da cartilagem nasal daqueles que a aspiram e danos
ao trato gastrintestinal.
O crack provoca um estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda da
sensação do cansaço e em menos de um mês o usuário perde muito peso, de oito a
dez quilos.
A toxicidade do Sistema Nervoso Central pode causar dores de cabeça,
convulsões, perda da consciência temporária, tiques, coordenação motora
diminuída, AVC (acidente vascular cerebral), taquicardia, hipertensão, hipertemia,
depressão respiratória,desmaio, tontura, tremores, tinido no ouvido, visão
embaraçada, podendo levar à morte, devido ao aumento da temperatura corporal
causada pela droga.
O uso do crack aumenta o risco de suicídio, traumas maiores, crimes
violentos, perda do interesse sexual. O uso crônico desta pode levar a uma
degeneração dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
19
3 A Logoterapia
Frankl juntou-se com Alfred Adler (1870 – 1937), pois achava que a proposta
da sua Psicologia Individual estava mais próxima da concepção do ser humano. Mas
por Adler achar que o ser humano estava em busca no mundo de poder e de
conquista com a superioridade, ocorre a separação de ambos. Para Frankl, é preciso
compreender o homem na sua totalidade: psiquíca, corpórea e noética.
Nasce a Logoterapia, que se afirma e consolida principalmente após as
experiências cruciais que Frankl viveu nos campos de concentração durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo ele, o primeiro psicólogo a viver e sobreviver num
campo de concentração. A principal tarefa de Frankl no campo de concentração foi
resgatar a esperança e sentido vital, pois apesar de muita dor, sofrimento e tortura,
ele não queria morrer e com isto, surgia uma força que tornava o sofrimento
suportável e o encorajava para agüentar este momento que estava passando. Tinha
esperança de sair e completar uma missão inacabada.
Toda a família de Frankl, exceto a sua irmã, morreram nos campos de
concentração. Ele passou muita fome, humilhação, sofrimento, agonia, medo e
profunda raiva das injustiças no campo de concentração e foi aí que ele percebeu
que “quem tem algo por que viver é capaz de suportar qualquer como”. Foi também
nos campos de concentração que Frankl viu o que ninguém pode tirar de um
homem: a liberdade humana, a escolha de atitude pessoal para decidir o seu próprio
destino e caminho.
Para Frankl, precisamos aprender e também ensinar as pessoas em
desespero, pois não importa o que nós temos que esperar de nossas vidas, mas sim
o que a vida espera de nós. Viver é arcar com a responsabilidade de responder às
perguntas da vida e a vida é algo concreto, de modo que as exigências que a vida
faz sempre são bem concretas. Toda e qualquer situação se caracteriza por um
caráter único e exclusivo que permite uma única resposta correta a pergunta feita na
situação. O destino de cada ser humano é sempre algo singular e único, nenhum
destino e nenhum ser humano podem ser comparados com outro e nenhuma
situação se repete.
Mesmo diante de um sofrimento na vida, quando o indivíduo descobre que
seu destino lhe reservou um sofrimento, deve-se assumir este sofrimento, pois
ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento e ninguém pode assumir o destino
desta pessoa. Mas na medida em que o indivíduo suporta este sofrimento, há uma
possibilidade de realização única e singular.
21
à vida, respondendo por sua própria vida, sendo responsável. Para a Logoterapia, a
responsabilidade é a essência da existência humana.
O verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no mundo e não dentro da
psique humana. Quanto mais uma pessoa servir uma causa ou amar uma pessoa,
conseguindo esquecer de si mesma, mais humana esta pessoa será e
consequentemente mais ela se realizará. O sentido da vida jamais deixará de existir
e podemos descobrir este sentido na vida de três formas diferentes: praticando um
ato ou criando um trabalho; encontrando alguém ou experimentando algo como a
bondade e o amor; o sentido pode ser encontrado pelo sofrimento humano.
O terceiro caminho é o mais importante, porque mesmo a pessoa numa
situação de dor e sofrimento e sem esperança, enfrentando uma situação em que o
destino não pode mudar, mesmo uma vítima desamparada, pode criar coragem,
crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se assim mesma.
Podem dar sentido à vida, transformando a tragédia e sofrimento em triunfo,
amor e felicidade.
De acordo com Gomes (1992, p. 38) ”o sentido da vida, um para quê viver é a
questão fundamental da existência, e a doença mental pode ser compreendida como
vazio existencial ou falta de um direcionamento no mundo, não um direcionamento
externo, mas uma busca interna, partindo da responsabilidade pessoal, assumindo e
pilotando livremente o projeto de vida.”
Não é homem quem faz a pergunta sobre o sentido da vida, mas sim é o
próprio homem que deve responder que deve dar respostas às perguntas que a vida
lhe oferece. E é através da nossa ação e de nossos atos que poderão ser
verdadeiramente respondidas. Isso acontecerá pela responsabilidade assumida pela
nossa existência, pois a existência só poderá ser nossa se for responsável. A
responsabilidade da existência é sempre uma responsabilidade de determinada
pessoa numa determinada situação, necessariamente no aqui e agora. Na análise
existencial, algo precisa tornar consciente. O ser responsável é a base fundamental
do homem enquanto noético.
O ser humano pode ser verdadeiramente ele próprio também nos seus
aspectos inconscientes, quando ele é responsável.
O ser humano não é somente um ser que decide, mas também um ser
separado. O ser humano está sempre centrado em algo, centrado em um meio, em
23
torno do seu próprio centro. O ser humano é um ser integrado, pois somente a
pessoa noética estabelece a unidade e totalidade do ente humano.
A consciência moral constitui algo que ainda vai se tornar real, que terá que
ser realizado. Poderá ser realizado se não for antecipado espiritualmente. Esta
antecipação espiritual ocorre num ato de visão, através da intuição. Quando a
consciência for antecipar aquilo que terá que realizar, a consciência deverá intuí-lo.
A consciência é a voz da transcendência, ela se origina dentro da
transcendência e só pode ser compreendida a partir da transcendência, constituindo
um fenômeno transcendente. Pode-se dizer que a consciência é o órgão que escuta
a voz da transcendência, e esse processo de escutar envolve o silêncio, reflexão,
meditação e um tempo de recolhimento.
Somente o caráter transcendente da consciência faz com que possamos
compreender o homem, num sentido mais profundo. O homem que não possui
religião considera a consciência como algo último, pois não vai para além da
consciência, não pergunta pelo que é responsável e é aquele que ignora esta
transcendência da consciência.
Segundo Frankl, Deus espera que saibamos sofrer e morrer com orgulho e
não miseravelmente, Deus espera que não o decepcionemos. O tratamento
psicoterapêutico na Logoterapia permite liberar a fé primordial reprimida no
inconsciente. Todos temos segundo o autor, um estado inconsciente de relação com
Deus, uma presença ignorada de Deus.
Para a Logoterapia, o alvo da psicoterapia é a cura da alma. A Logoterapia
não faz julgamentos sobre a ausência de sentido ou um desvalor, pois o sentido não
pode ser dado a uma pessoa, mas sim o sentido precisa ser encontrado e nesta
procura pelo sentido é a consciência que orienta a pessoa.
Para Frankl, a fé não pode ser um objeto de um ditame da vontade, pois ela é
um ato intencional, um ser crê em algo, ou não se crê. Já uma relação com algo
pode ser mantida por um ato de vontade. A fé se realiza quando uma pessoa é
merecedora de fé.
Na vida, quanto mais buscamos satisfação, bem-estar, sucesso,
reconhecimento e vantagens pessoais, menos conseguimos esses objetivos, porque
quem ama para ser amado, não é alguém que ama de verdade.
Para Lukas (2002), o segredo mais profundo da superação de um vício, pode-
se afirmar, é a confiança num sentido para a vida e a renúncia para desfazer-nos do
24
circunstâncias e que mesmo perto da cadeira elétrica, estavam muito felizes e que
sempre há uma possibilidade de desenvolvermos para além de nós mesmos.
Para Frankl, a violência é desumanizadora. Quer dizer empobrecimento e
descaracterização do ser humano e é pela autotranscendência que a violência deve
ser superada. A violência e agressividade estão vinculadas a uma falta
transcendente.
Para o autor, não existe sentido na violência, sendo um sentimento
subhumano. O homem tem causas para violência, sendo elas causas psíquicas,
econômicas, emocionais, fisiológicas e psicológicas, mas não existe uma
intencionalidade como amor e ódio, que ambos tem uma razão. A falta de sentido na
vida e a falta de liberdade responsável encontram-se na violência. A violência é esta
ausência de sentido para a constituição da relação com o outro. Um norte para a
superação da violência é a humanização do ser humano.
A moral é algo interno e pessoal que pertence à dimensão singular do
homem, pois somente a consciência moral pode desvelar os valores humanos, se
direciona para o alcance de todos. Segundo Frankl, o amor é irracional e intuitivo,
portanto, o amor se realiza de uma forma semelhante à da moral. O amor e a
consciência moral revelam-se hábeis a apreender as possibilidades ontológicas, mas
apresentam diferenças em torno da experiência existencial. O ser humano por meio
do amor procura uma potencialidade existencial, um ser-que-poderia-ser e que ainda
não é. Já a consciência moral não quer uma revelação de um ser-que-deveria-ser,
mas que deverá sê-lo.
A moralidade para Frankl é transformação da possibilidade do ser em
necessidade de realização, é um fenômeno singular do ser, processo primário,
intuitiva e intencional, inconsciente, pré – lógica e não é compreendido como
impulso determinista da atividade psíquica, mas sim como uma intencionalidade da
existência do ser humano. Portanto, moralidade é uma expressão de
autotranscendência.
O que marca a experiência humana é a sociabilidade em busca de um sentido
mediante o caráter autotranscendente, pois a sociabilidade é um anseio humano
para encontrar um sentido na vida e o homem encontra sentido de sua existência em
sua experiência social.
O ser humano só existe em relação ao outro ser, o sentido pessoal possui
sentido próprio, assim como o todo também possui sentido próprio. A vida do ser
27
humano só adquire sentido quando este transcende a sua existência, quando este
se supera.
Nos dias de hoje as pessoas estão sofrendo muito com depressão,
violência, dependência de drogas, álcool e isso tudo leva as pessoas a adoecer ou
ao suicídio. Este vazio existencial leva o indivíduo a perder o sentido na vida.
Sendo assim, a Logoterapia atua no sentido de promover saúde na busca de
um sentido na vida, buscando o enfrentamento de qualquer situação, por exemplo, a
dependência química. Para Gomes, (1987) uma das preocupações essenciais do ser
humano é o isolamento existencial, onde o indivíduo se isola e não consegue
compartilhar com o outro o que há de mais íntimo.
Quando o indivíduo se envolve com drogas, começa a se isolar das outras
pessoas, especialmente quando usa o crack. O dependente químico começa a
achar que está sendo perseguido pela polícia, pelos traficantes, “bandidos” e até
mesmo amigos e família. Vivem em um mundo isolado, não conseguem mais
interagir, conversar, trabalhar e amar. Este isolamento existencial leva o dependente
químico a sentir solidão e desespero.
Estudos científicos apontam que os dependentes de drogas apresentam
melhor tratamento e recuperação quando o tratamento está ligado à religiosidade e
espiritualidade, pois a pessoa que procura um culto religioso, que tem fé e acredita
em Deus, está menos propensa a usar drogas lícitas e ilícitas (Sanchez; Nappo,
2007).
A religiosidade está ligada ao bem-estar físico e mental do ser humano e com
isto pode estar ajudando na prevenção do consumo de drogas. Os dependentes de
drogas são portadores de doença crônica e vivem momentos traumáticos nos
momentos de recuperação ou também nos momentos que desejam muito parar de
usar a droga, mas não conseguem. Diante disso, se o indivíduo pertence a uma
igreja, participa, ora e acredita em Deus, vai levar a usar menos drogas, prevenir ou
conseguir fazer um tratamento sem recaída.
Cinco técnicas psicológicas foram desenvolvidas pela Logoterapia para
atuação prática. As técnicas são: Derreflexão, Intenção Paradoxal, Apelação,
Técnica do denominador comum e do Diálogo Socrático.
A Logoterapia pode ajudar muito o dependente químico no sentido de
resgatar a esperança e também de diminuir o consumo e encorajá-lo, utilizando a
técnica de derreflexão. A derreflexão é uma técnica da Logoterapia que acontece
28
4 Considerações Finais
5 Referências Bibliográficas
CARLINI, E.A; GALDURÓZ, Jóse Carlo F; NOTTO, Ana Regina; NAPPO, Solange A. I
Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: Estudo
envolvendo as 107 maiores cidades do País. São Paulo: CEBRID: Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas: UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo,
2002.
FRANKL, Viktor Emil. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Tradução: Victor
Hugo Silveira Lapenta. Aparecida: Santuário, 1989.
PRATTA, Elisângela Maria Machado and SANTOS, Manoel Antonio dos. Reflections about
the relationships among drug addiction, adolescence and family: a bibliographic review.
Estud. psicol. (Natal) [online]. 2006, vol. 11, no. 3 [cited 2008-04-03], pp. 315-322. Available
from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
33
SANCHEZ, Zila van der Meer; NAPPO, Solange Aparecida. Progression on drug use and its
intervening factors among crack users. Rev. Saúde Pública , São Paulo, v. 36, n. 4, 2002
. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102002000400007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 Mar 2008. doi: 10.1590/S0034-
89102002000400007
6 Obras consultadas
COELHO JUNIOR, Achilles Gonçalves; MAHFOUD, Miguel. The Spiritual and Religious
Dimensions of Human Experience: Distinctions and Relations on Viktor Frank's Work.
Psicol. USP , São Paulo, v. 12, n. 2, 2001 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
65642001000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 May 2008. doi: 10.1590/S0103-
65642001000200006
MARQUES, Ana Cecilia P. Roselli. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Rev.
Bras. Psiquiatr. , São Paulo, v. 21, n. 1, 1999 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
44461999000100016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 Mar 2008. doi: 10.1590/S1516-
44461999000100016
MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ABREU, Anderson Kerley Chaves de; OLIVEIRA, Marina
Clemente de. Morality and sociability in Frankl: a route to overcome violence. Psicol. estud.
, Maringá, v. 11, n. 3, 2006 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722006000300019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 May 2008. doi: 10.1590/S1413-
73722006000300019
PEREIRA, Ivo Studart. A vontade de sentido na obra de Viktor Frankl. Psicol. USP.
[online]. mar. 2007, vol.18, no.1 [citado 02 Maio 2008], p.125-136. Disponível na World Wide
Web: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
51772007000100007&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1678-5177.
SUDBRACK, Maria Fátima Olivier and DALBOSCO, Carla. Escola como contexto de
proteção: refletindo sobre o papel do educador na prevenção do uso indevido de drogas.. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 2., 2005, São Paulo. Proceedings
online... Available from:
<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC000000008200500
0200082&lng=en&nrm=abn>. Acess on: 03 Apr. 2008.
TIBA, Içami. 123 respostas sobre drogas. Içami Tiba. São Paulo: Scipione. 2003. (colecão
diálogo na sala de aula).
VOLPE, Fernando Madalena et al . Cerebral vasculitis and cocaine and crack abuse. Rev.
Bras. Psiquiatr. , São Paulo, v. 21, n. 3, 1999 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
44461999000300009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 May 2008. doi: 10.1590/S1516-
44461999000300009
36
Anexos
Anexo 1
37
Anexo 2
38
Anexo 3