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UNIVALI - UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CCS - CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

Dependência química: uma abordagem logoterapêutica

FRANCIELLY FRANDOLOSO

ITAJAÍ
2008
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FRANCIELLY FRANDOLOSO

Dependência química: uma abordagem logoterapêutica

Monografia apresentada como


requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Psicologia da
Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Prof. MS Aurino Ramos


Filho

ITAJAÍ
2008
3

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar, pelo dom da vida e por guiar e iluminar meu o
caminho, dando-me forças para continuar e lutar sempre.
Aos meus pais e familiares pelo incentivo e amor incondicional em todas as
etapas da minha vida.
Ao professor MS Aurino Ramos Filho, meu orientador, exemplo de
competência, cujo apoio foi fundamental para a realização deste trabalho, que muito
contribuiu para o meu aprendizado.
Ao meu namorado, Alexandre Bacan, pela amizade, carinho,
companheirismo, paciência, apoio e amor nos momentos mais importantes da minha
vida.
Os meus mais sinceros agradecimentos. Muito Obrigada.
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SUMÁRIO

Resumo................................................................................................................5

1 Introdução..........................................................................................................6

2 Drogadição: Aspectos gerais.............................................................................8

2.1 Crack..............................................................................................................11

3 Logoterapia........................................................................................................19

4 Considerações Finais........................................................................................29

5 Referências Bibliográficas.................................................................................32

6 Obras Consultadas............................................................................................34
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Dependência química: uma abordagem logoterapêutica

Orientador: Prof. MS Aurino Ramos Filho


Defesa: junho de 2008

Resumo
A dependência química é uma doença crônica resultante de efeitos prolongados da
droga no cérebro. A incidência do uso do crack intensifica-se a cada instante entre
outras drogas, provocando sofrimento, dor, angústia, vazio existencial, doenças e
morte.
A Logoterapia é a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia que intensiona
fundamentalmente possibilitar ao ser humano a descoberta de um sentido na vida.
Constatou-se, por meio de investigação, que a dependência química é, entre outras
razões, a ausência de um propósito na vida.
A pesquisa bibliográfica, focando a inter-relação dependência química com a
abordagem logoterapêutica, permitiu concluir que a Logoterapia pode ajudar muito o
ser humano a encontrar um sentido na vida, distanciando-os das drogas e tornando-
o responsável, livre, esperançoso e assim por meio do sofrimento, da dor, do amor,
ou também criando um trabalho, descubra um sentido para a vida.

Palavras-chave: dependência química - crack - sentido vital.

Sub-Área de concentração (CNPq) 7.07.10.00-7 Tratamento e Prevenção psicológica


Membros da Banca
Márcia Alair da Silva Pereira Michelly de Rocio Dellecave
Professora convidada Psicóloga convidada
Aurino Ramos Filho
Professor Orientador
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1 Introdução

O tema da dependência química sempre me despertou curiosidade e intensa


reflexão devido o fato dos seres humanos viverem a vida de extrema dependência,
por ser um aspecto definitivo da condição humana. Os seres humanos são
dependentes de objetos, não somente das drogas, mas também de jogos, pessoas,
religião, esportes, comidas e, até na própria velhice, a maioria dos seres humanos
também termina a vida em situação de dependência.
A incidência da dependência química vem crescendo a cada dia. Portanto,
vejo grande necessidade de profissionais qualificados incorporarem certas
qualidades humanas que nem sempre a graduação possibilita, mas sim um
conhecimento em nível pessoal que toca na sua existência, sendo eles: competência
científica qualificada, postura ética íntegra e formação humana.
Trabalhando no Programa de Medidas Sócio-educativas, da Secretaria da
Criança e do Adolescente, estabelecido no Fórum da cidade de Itajaí, no Estado de
Santa Catarina, com adolescentes em conflito com a lei, constatei como é alarmante
o número daqueles que usam substâncias psicoativas, especialmente o crack. Esta
é uma droga acessível financeiramente e de difícil interrupção de uso, e mesmo
saindo de eventual internação, é recorrente a recaída. São nesses momentos que
surge a pergunta: Qual o sentido da vida para esses adolescentes? Para quê viver
neste mundo sendo um ser sempre dependente de algo para viver?
Essa falta de sentido pode levar o indivíduo a fazer uso de drogas na tentativa
de substituir um vazio existencial pela sensação de prazer, esquecer por alguns
momentos os sofrimentos e angústias, querendo fugir de situações que não
conseguem lidar e nem ao menos quer entrar em contato com ela. Podendo levar o
adolescente à depressão, ao suicídio, ao roubo e, às vezes, até matar alguém para
conseguir a droga.
De acordo com a Logoterapia, cada pessoa é chamada a ser responsável
pela sua liberdade, tomando atitudes e fazendo suas escolhas, ainda que seja nos
momentos de dor e sofrimento. Por maiores que sejam os sofrimentos, quando o ser
humano possui um sentido na vida, um “para quê” viver, ele suporta qualquer dor e
se mantém vivo. Partindo do ponto que a Logoterapia é a psicoterapia que se
consegue por meio do encontro do logos ou do sentido da vida e sendo ela centrada
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na busca do sentido vital, pretendo trabalhar com adolescentes usuários de


substâncias psicoativas, na prevenção e tratamento destes, despertando-os para a
descoberta de um sentido na vida, por meio da abordagem logoterapêutica.
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2 Drogadição: aspectos gerais

Droga é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento dos


organismos vivos, resultando em mudanças comportamentais ou fisiológicas. A
droga afeta o funcionamento mental e corporal do indivíduo, pode causar
dependência, tolerância, intoxicação e levar o indivíduo à morte.
A droga pode ser lícita ou ilícita. Dentre as lícitas estão o tabaco e o álcool e
dentre as ilícitas: maconha, cocaína, crack, heroína, ácido lisérgico (LSD), ecstasy,
plantas alucinógenas, opióceos e tranqüilizantes, sendo que os dois últimos anos
podem ser adquiridos por prescrição médica.
O primeiro termo empregado para referir-se à dependência de drogas foi a
toxicomania. O uso abusivo de substâncias psicoativas aumentou significativamente
no final do século XX e os usuários deixaram de serem chamados de marginais no
contexto social e passaram a serem identificados como nossos parentes, amigos,
colegas, vizinhos, enfim, como qualquer indivíduo, independente da sua classe
social.
O uso de substâncias psicoativas não é um fenômeno exclusivo da época em
que vivemos, pois as drogas foram utilizadas há tempos para fins medicinais,
culturais e de prazer. O que diferencia o uso das drogas do passado e o uso atual, é
que atualmente aumentou a variedade e quantidade de drogas existentes e ainda a
facilidade para aquisição das mesmas é maior, sendo estes os principais elementos
que contribuem para a diferenciação.
Para o DSM IV, dependência de substâncias corresponde a presença de um
conjunto de sintomas cognitivos, fisiológicos e comportamentais e evidência que o
indivíduo continua a utilizar uma determinada substância, apesar dos problemas
significativos relacionados a mesma.
A dependência química é uma doença crônica, resultante de efeitos
prolongados da droga no cérebro e é provocada pela ação direta da droga nas
diversas regiões cerebrais. As alterações do comportamento tornam-se
inadequadas, mal adaptativas, levando a nova administração da droga. Essa
alteração de comportamento, da motivação e da capacidade são sinais e sintomas
psicopatológicos que se originam do abuso das drogas.
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A continuidade do uso de drogas está relacionada a sensação prazerosa de


bem-estar e de alegria momentâneos, sendo conhecida na literatura como reforço
positivo. Há também procura pela droga quando há envolvimento de sensações de
tristeza, depressão ou ansiedade e o usuário busca alívio destas sensações ruins,
neste caso procuram na droga o reforço negativo.
Há vários tipos de dependência, entre elas: a dependência psíquica, física e
psicológica.
A dependência psíquica ocorre quando a droga produz um sentimento de
satisfação e um impulso psicológico que requer o uso contínuo da droga para
produzir prazer. Esta dependência dificilmente leva à morte, mas pode trazer
sofrimentos tão intensos quanto à dependência física.
A dependência física ocorre devido a tolerância e a síndrome de abstinência,
que pode levar à morte. Esta síndrome é decorrente dos sintomas que o dependente
sente por não alimentar seu vício e mesmo que já não queira mais fazer uso da
droga, muitas vezes acaba fazendo, para não sentir mais os sintomas causados pela
abstinência.
Os indivíduos dependentes de drogas, com tolerância, podem consumir
quantidades elevadas de narcóticos e sedativos sem mostrar efeitos nocivos. A
tolerância ocorre como uma tentativa do corpo de resistir e compensar os efeitos da
droga. Neste caso, uma concentração maior da droga deve ser usada para superar a
defesa fisiológica do corpo e produzir os efeitos desejados.
A dependência psicológica é a alteração do estado cognitivo e
comportamental. Inclui uma compulsão dirigida à droga, onde a ausência desta
causa ao indivíduo uma sensação de desconforto. A pessoa pode se livrar desta
dependência, mas é bastante difícil. Isso vai depender de quanto a sua saúde
psíquica está comprometida, pois quanto maior envolvimento, maior a dificuldade de
recuperação.
Segundo Pratta (2006), estudos tem apontado atualmente um consumo
crescente de drogas entre adolescentes, sendo este cada vez mais precoce. A
adolescência é a etapa mais suscetível ao desenvolvimento de uma drogadição. É
na fase da adolescência que o primeiro contato com a droga geralmente ocorre. A
adolescência é marcada por mudanças tanto físicas quanto psíquicas e é nesta fase
que o adolescente se torna mais vulnerável.
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Os principais fatores que levam os adolescentes e outros indivíduos a usarem


drogas são: amigos, comunidades, ambientes de convívio social, família, sociedade
e escola. A droga é utilizada como forma de fugir e esquecer os problemas, aliviar
um vazio interno, se isolar da realidade onde vive, não querer ser careta na turma da
escola, aliviar sofrimentos ou até mesmo por forma de prazer.
Os fatores e experiências familiares durante a infância e adolescência são
importantes no que diz respeito ao uso de drogas tanto na adolescência como na
fase adulta. Aspectos como fortes vínculos familiares, o relacionamento positivo, o
estabelecimento de regras e limites claros e coerentes, o apoio, a negociação, a
comunicação, carinho, amor e equilíbrio são considerados como fatores que
protegem o adolescente do uso de drogas.
Enfim, a qualidade da vida familiar é que estabelece o comportamento do
jovem frente às substâncias psicoativas e sem dúvida nenhuma, a escola também
precisa resgatar a sua ação protetiva, articulando elementos como prevenção, ação
e diálogo no contexto da realidade de adolescentes usuários de drogas.
A dependência química é uma das causas do vazio existencial, da dor, da
angústia e do sofrimento humano. É uma das maneiras que o individuo encontra
para fugir da sua realidade de vida e isso se dá quando ele não tem mais uma razão
para viver, um sentido de vida, uma missão para cumprir.
Muitas vezes, a razão para este indivíduo viver é a droga. Esta passa a ser o
seu sentido na vida, vive para isso e a droga ocasiona uma sensação de prazer. Mas
com o passar do tempo, quando ele começa a perder dinheiro, família, trabalho,
amigos, perder a consciência, não conseguindo mais controlar seus
comportamentos, emoções e desejos, tornando-se um verdadeiro escravo da droga,
ele vê o mundo caindo na sua cabeça, e pensa: “E agora, o que eu faço?”.
Mas também a falta de sentido pode levar o indivíduo a fazer uso de drogas
na tentativa de substituir um vazio existencial pela sensação de prazer, esquecer por
alguns momentos os sofrimentos e angústias, querendo fugir de situações que não
consegue lidar e nem ao menos quer entrar em contato com ela. Esses fatores
podem levar o adolescente à depressão, ao suicídio, ao roubo e, às vezes, até matar
alguém para conseguir a droga.
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2.1 Crack

O uso da cocaína começou há mais de 2000 anos nos países andinos como
Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. O uso da cocaína tornou-se popular, e os seus
efeitos negativos acabaram sendo descobertos.
Nos Estados Unidos, proibiram o uso da cocaína e esta quase desapareceu
no começo do século XX. Na década de 1980, o consumo da cocaína aumentou
significativamente, devido ao aumento da procura, e esta além de aspirada, passou
a ser injetada e fumada (crack).
A cocaína é extraída das folhas de uma planta denominada Erythroxylon
coca (anexo 1), também conhecida como epadú ou coca, sendo esta uma
substância natural. A cocaína pode ser usada sob a forma de sal, o cloridrato de
cocaína, se apresentando na forma de grânulos brancos, pó, farinha, branquinha,
etc. Desta maneira, é solúvel em água e serve para ser aspirada. A outra forma da
cocaína, sob forma de uma base, é o crack (anexo 2). O crack é cocaína alcalina e
apresenta um aspecto de pedra, e é o resultado da mistura da cocaína com o
bicarbonato de sódio. O sal da cocaína precisa retornar a forma de base,
neutralizando-se o cloridrato. É insolúvel em éter e pouco solúvel em água, etanol e
clorofórmio; por esse motivo, não pode ser injetado. Mas que se volatiliza quando
aquecido e, portanto, é fumado em cachimbo (anexo 3).
Esta droga também pode ser colocada no cigarro de tabaco, na maconha ou
fumada com outras substâncias. Utilizada na forma de cigarros, constitui-se numa
mistura de baixo teor de cocaína, mas de alta toxicidade, levando a deterioração
mental e biológica em pouco tempo no indivíduo.
O crack é cocaína alcalina. A sua fórmula química é 3-benzoiloxi-8-metil-8-
azabiciclo octano-4-carboxílico ácido metil éster. O principal mecanismo de ação do
crack é o bloqueio da recaptação pré sináptica e a liberação de monoaminas,
principalmente a dopamina e também a noradrenalina e a serotonina.
A dopamina, serotonina e noradrenalina são neurotransmissores cerebrais
que são secretados para a sinapse, de onde são recolhidos outra vez para dentro
dos neurônios por esses transportadores inibidos pelo crack. Além de bloquear, o
crack pode também liberar dopamina, serotonina ou noradrenalina por reverter a
ação do transportador, ocorrendo então o retorno dos neurotransmissores para fora
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do neurônio pré-sináptico por meio de transportadores monoaminérgicos (GRAEFF,


2005).
A elevação desses três neurotransmissores causa euforia (dopamina),
energia (noradrenalina) e confiança (serotonina) associada à droga.
A dopamina proporciona sensação de prazer e está relacionado a
comportamentos motivacionais, de desejo, como: fome, sede e sexo. A serotonina e
noradrenalina estão relacionadas às funções como, controle de humor, motivação,
percepção e cognição.
O crack não é uma droga nova, mas é uma forma nova de consumir cocaína.
O crack se tornou popular nos EUA, em meados da década de 1980. O uso do crack
era relatado em jornais e televisão como “epidemia” e “praga”. Nos Estados Unidos,
o crack é extraído do cloridrato da cocaína.
Na década de 1990, o consumo de crack teve início no Brasil, na cidade de
São Paulo. No Brasil e alguns países sul-americanos, o crack é preparado da pasta
da cocaína. A história do crack no Brasil começou como estratégia de traficantes,
pois o crack era ofertado a usuários de drogas como única alternativa. Os usuários
de drogas buscavam maconha ou cocaína em pó, mas só encontravam o crack. Os
traficantes estavam seguros do retorno do usuário por ser uma droga de altos
poderes viciantes e conseqüente dependência.
Recentemente, o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil - 2001 (Carlini, Galduróz, Noto & Nappo, 2002) apontou a
Região Sul, dentre todas as regiões brasileiras, apresentando a maior prevalência
de “uso na vida” de cocaína aspirada e de crack.
Um levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas (CEBRID), setor do Departamento de Psicobiologia da EPM, parece nítido o
aumento do crack no Brasil entre estudantes e meninos de rua nas cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro.
Para NAPPO, (s/d, p.20), a fissura, necessidade incontrolável de usar o crack,
favorece a prostituição e esse desespero pela droga e comércio do corpo pode ser
muito perigoso, pois, na maioria das vezes, as usuárias trocam o corpo para obter a
droga e acabam não usando preservativo e fazendo sexo oral para agradar o cliente
e conseguir dinheiro para comprar o crack.
Extraímos de NAPPO (s/d), os seguintes depoimentos, para enriquecer o
trabalho:
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“Durante a fissura faço qualquer coisa para ganhar dinheiro, ficar sem crack é
que não fico”. (ZG19).
“Saio pra rua e qualquer programa baratinho eu faço pra poder comprar a
droga. Eu procuro, eu vou atrás, se aparece um cara que quer me dar uns 10 ou 5
reais, eu vou, faço até por menos pra poder comprar” (AR27).
“Eu prefiro dinheiro porque eu mesma vou buscar, eu mesma vou na boca.
Trocar pela droga eu não sei o que o cabra é, não sei o que ele ta me passando.”
(YK22)
“Não, a troco de droga não, mas a troco de dinheiro sim, pode ser pouco
dinheiro, muito dinheiro, pode ser o dinheiro para uma pedra, mas ter que ser com
dinheiro, se for a droga não faço.” (YF23)
“Eu prefiro a droga e rapidinho. Dava uma rapidinha, catava meu bagulho e já
começava a fumar.” (RN24).
“ O tanto de homem que aparecer eu vou. Já cheguei a fazer nove programas
numa noite.” (RF17)
“Nunca usei camisinha. Acho que a droga sobe na cabeça e eu não ligo pra
camisinha. Nunca me liguei em camisinha.” (ZS21).
“Se o cara chegar e disser: olha sem camisinha eu te pago em dobro, eu
aceito poque o que eu quero é usar a minha pedra”. (YP25)
“Acho que sexo oral e sexo anal não precisa camisinha. É só quando é na
vagina” (YP20).
“Eu cobro R$ 10,00, mas ainda tenho o quarto que é 3, então sobra 7 prá
mim”. (FD27).
O uso do crack aumenta o número de comportamentos sexuais de risco para
HIV devido a troca de parceiros, a utilização do mesmo cachimbo e a falta de uso de
preservativos.
Com o uso do crack o indivíduo torna-se mais violento. Sob o efeito da droga
ficam mais fortes e valentes e a violência aumenta. As mulheres se prostituem com
usuários e acabam sendo violentadas muitas vezes pelo efeito da droga ou também
pela falta dela.
Quando o crack é queimado no cachimbo a temperatura aproximada é de
95ºC, ainda nessa temperatura, o crack sofre sublimação e os vapores produzidos
são absorvidos pelos pulmões, alcançando rapidamente o cérebro.
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O cachimbo é denominado qualquer objeto que utilizem para fumar a pedra


do crack. Os tipos de cachimbos são: lata de cerveja, lata de refrigerante, copo de
água, embalagem de Yakult, caneta BIC, pedaço de cano de ferro, pedaço de
isqueiro, torneira, entre outras. (anexo 3).
A pedra do crack necessita da brasa do cigarro, pois não sofre combustão.
Em uma pesquisa, realizada por NAPPO (s/d, p.81-82), as entrevistadas falam que a
lata de cerveja ou de refrigerante é a mais prática, pois acham nas ruas e podem
usá-la como cachimbo.
“Eu faço na hora...já arrumo uma latinha no chão...enquanto a gente tá indo
eu já preparei...” (AR 33).
Como o uso da lata não oferece proteção, queixam-se da facilidade com que
se queimam e mencionam que quando usam a mesma lata várias vezes, obtêm-se
um resíduo que se concentra no interior e que fumado obtém-se maior efeito.
“Se o cara fumar só na lata, no final de semana ele corta a lata, raspa tudinho
aquele negócio dentro da lata e fuma aquele pozinho. Fica mais louco ainda. “
(FP34).
“Uso copo de Yakult. Gasto pelo menos um por dia. Não bebo Yakult. O moço
da padaria fala: Nossa como você é vitaminada. É que todo dia compro um. Furo a
tampa de alumínio com uma agulha e bombo o líquido para jogar fora. Não tiro o
papel do alumínio, só furo esse alumínio e vou bombando pra jogar fora todo o
líquido. Seco todo alumínio, faço um furo onde está escrito Lactobacilus. Furo com
cigarro, derreto o plástico e faço esse buraco que serve pra eu colocar a boca. No
alumínio coloco a cinza de cigarro e a pedra pra queimar e eu puxar pelo buraco.”
(FD27).
“A gente usa pedaço de cano, aquele cotovelo que liga um cano no outro,
entendeu? Compra um material de construção. Enrola em papel de alumínio para
não esquentar muito e numa das pontas a gente faz uns furinhos e coloca cinza de
cigarro no papel alumínio junto com a pedra e coloca fogo. Do outro lado a gente
puxa a fumaça, segura e depois de uns segundos já sente o efeito.” (YK22)
Pode-se perceber nas entrevistas que o material usado como cachimbos é
inapropriado para protegê-las do calor provocado pela alta temperatura necessária
para sublimar o crack.
“Esquenta, queima toda a boca, sai bolha.” (ZL19)
“Queima, chega a deixar em carne viva”. (ZM40)
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“Queima, faz borbulha... que nem você pegar o cigarro e encostar... aí vira
ferida se estourar aquela borbulha. Mas à maioria você fura porque fica mordendo.
Aí vira ferida”. (AS32)
As entrevistadas não se importam com as bolhas e sangramentos, como a
fissura é muito grande, esse desconforto não as impede de fumar. Não sentem dor
no início e a dor desaparece a medida que continuam fumando e só sentem dor
após ter parado de fumar, no outro dia.
As queimaduras atingem a boca, dedos e nariz, e tornam-se sinais
identificadores de um usuário de crack, sendo fatos que geram receio de serem
denunciadas como usuárias de crack a um policial.
Na fase inicial do uso do crack, as usuárias usam o mesmo cachimbo pela
dificuldade de confeccioná-lo e também pela falta da droga. Mas na fase mais
compulsiva, usam o cachimbo sozinhas, pois evitam certa proximidade com outras
pessoas, apresentando paranóia e medo de serem violentadas.
O crack é uma droga ilícita, e tem sido a droga de maior incidência na
atualidade, sendo causadora de dependência química rápida e danos irreversíveis,
que podem levar o usuário à morte. O termo de gíria “crack” derivou-se do estalo
ouvido quando está forma de cocaína é acesa para fumar, pela quebra da pedra.
O crack fumado é mais barato que as outras formas de cocaína. Mas como
seu efeito dura pouco tempo, acaba sendo usado em maiores quantidades, tornando
o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser cada vez maior.
Para conseguir sustentar este vício, o usuário começa a usar qualquer
método para comprar a droga. Às vezes, submetidos às pressões de traficantes,
começam a traficar drogas, assaltar, roubar, matar e até se prostituir para conseguir
sustentar o vício. A maioria dos usuários passa a usar o crack para atingir efeitos
mais fortes do que as outras drogas. É uma droga de mais altos poderes viciantes.
As pessoas que experimentam sentem um desejo incontrolável de usá-la
novamente.
Produzir crack a partir da pasta da cocaína é muito simples. Basta misturar as
folhas de coca em qualquer solvente, por exemplo, a gasolina. Por isso que está
droga tão pesada tem uma grande aceitação nas classes menos desfavorecidas e
marginalizadas.
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No passado, o uso de drogas estava limitado a uma camada específica da


população, mas hoje, atinge a todos, independentemente de raça, idade, sexo,
nacionalidade, crença religiosa ou camada social.
A via de administração da cocaína utilizada na forma do crack é pulmonar. A
absorção da cocaína vaporizada e fumada é rápida. Os pulmões provém uma
grande área e a circulação do sangue até o cérebro ocorre entre dez e quinze
segundos e os primeiros efeitos ocorrem imediatamente. Depois que a droga
penetra no cérebro é rapidamente redistribuída para outros tecidos e se concentra
no baço, rins e cérebro.
O crack é queimado e sua fumaça aspirada passa pelos alvéolos pulmonares,
seguido para a circulação e atingindo o cérebro. A excreção do crack ocorre
principalmente pela via urinária.
Para NAPPO, (s/d), O usuário de crack, até o início da década de 1990, era
identificado como jovem e do sexo masculino, entre dezoito e vinte e nove anos.
Porém, as mulheres começaram a usar o crack e o eleger como a droga
preferencial.
Estudos com mulheres usuárias de crack mostram que a escolaridade é
baixa. Verifica-se que a maioria não vai além do ensino fundamental. As
necessidades da droga, de estudar, trabalhar e algumas vezes a gravidez precoce
são os motivos para esse atraso.
“Eu ia para escola, mas chegava na porta eu cabulava aula para fumar
maconha, ficava na rua...” (YA19)
“Eu parei de estudar porque me envolvi com um cara (ele está preso até hoje)
que usava droga e eu comecei a usar e não consegui ir mais para a escola.” (YL37)
Nas entrevistas com usuárias, percebe-se que elas começam pela maconha,
álcool, cocaína aspirada e terminam no crack e conseqüentemente perdem o
estímulo para estudar.
Apesar de serem jovens, os estudos mostram que a maioria das usuárias tem
filhos. Umas das entrevistadas, NAPPO, (s/d, p/35), tem trinta anos e nove filhos, e
outra, com trinta e seis anos e treze filhos. Estes resultados apresentam evidentes a
prática não segura de sexo. Em geral, os filhos são de pais diferentes e a
paternidade irresponsável é característica nesta pesquisa.
As usuárias de crack, pela dependência da droga, por falta de condições
financeiras, por não ter vontade de estudar e trabalhar e também pela prostituição
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acabam largando as suas crianças indesejadas pelo mundo ou deixam com as suas
famílias. Apesar de jovens, as usuárias não conseguem evitar a chegada de filhos, e
o aborto é praticado como solução para esse problema.
“Tenho três filhos. Esse último ”peguei” com um traficante. Cada um ta num
canto, não moram comigo. Eu tava fumando droga e fui presa. Pegaram meus filhos
para não ficarem jogados na rua”. (ZR30)
Há casos que o filho é resultado de um programa sexual que a usuária fez e
nem lembra com quem e onde está este parceiro.
“Eu tenho nove filhos e estou esperando o décimo. Conheci um cara no
ponto, aí aconteceu. Quando eu fui ver, já não descia mais a menstruação e eu
estou grávida de novo. É... a criança é de um programa, eu nem sei quem é o cara,
eu não vi mais, ele sumiu. Eu vou ser a mãe dele e pai é Deus. “ (CT30)
A grande maioria de usuárias não trabalha, e o motivo principal é a droga.
Roubos no local de trabalho, ausências de trabalho e a falta de interesse e
motivação, impedem-nas de dar seqüência a um emprego fixo.
“O crack atrasa demais a vida. Você usa e no outro dia não consegue
levantar, não tem força no corpo, seu corpo dói, seus ossos também, parece que
você levou uma surra. Se você usa, você quer beber...se você bebe, tem ressaca de
tanto álcool e do crack também. É impossível trabalhar desse jeito”. (ZS21).
“Eu trabalhava de balconista na Rua 25 de Março, me envolvi com crack e
comecei a roubava no trabalho. Roubava os doces para vender fora de lá. Me
pegaram e eu perdi o serviço. Meu patrão teve consideração comigo, não chamou a
polícia”.(ZS24).
As mulheres usuárias de crack saem de casa muito cedo, desligam-se da
família de origem, engravidam e acabam casando para suprir certas necessidades.
Às vezes são violentadas pelo companheiro, acabam se separando e tomam um
rumo equivocado na vida.
Estudos mostram que 80% de mulheres relatam ter tido sua primeira
experiência sexual antes dos 15 anos. Apenas 6% informaram ter usado
preservativos nas suas relações sexuais durante a vida. Estes dados são
alarmantes, pois o comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em
relação às DST (doenças sexualmente transmissíveis) são altos.
Porém, a vontade incontrolável de usar o crack, leva-as a práticas de
qualquer ato para conseguir a droga. Tentam outras estratégicas para conseguir
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parar de usar o crack, como beber e fumar maconha, porém não obtém sucesso. É
por meio da venda do corpo que as usuárias conseguem a maior parte de recursos
financeiros para aquisição do crack. Apesar de detestarem prostituir-se por droga,
passa a ser um trabalho “limpo” para as usuárias.
Os principais efeitos físicos causados pelo uso agudo do crack são: aumento
do tamanho da pupila, sudorese, diminuição do apetite e diminuição da irrigação
sanguínea dos ossos.
Os principais efeitos psicológicos do uso agudo do crack são: euforia,
sensação de bem-estar, estimulação mental e motora, aumento da auto-estima,
agressividade, irritabilidade, inquietação e sensação de anestesia.
Segundo Bordin; Fligie; Laranjeira, (2004), o crack pode produzir alterações
no sistema cardiovascular, aumentando os níveis de adrenalina e provocando
vasoconstrição. Os efeitos iniciais são taquicardia e aumento da pressão arterial. Ao
mesmo tempo em que o coração está sendo estimulado a trabalhar mais, os efeitos
vasoconstrição privam o músculo cardíaco do sangue necessário.
Essa combinação pode causar grave arritmia ou colapso cardiovascular,
mesmo em usuários jovens. Outros processos degenerativos no coração e vasos
sangüíneos foram descritos em usuários crônicos. Além disso, a vasoconstrição
pode causar danos a outros órgãos, como por exemplo: aos pulmões nos indivíduos
que fumam cocaína, destruição da cartilagem nasal daqueles que a aspiram e danos
ao trato gastrintestinal.
O crack provoca um estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda da
sensação do cansaço e em menos de um mês o usuário perde muito peso, de oito a
dez quilos.
A toxicidade do Sistema Nervoso Central pode causar dores de cabeça,
convulsões, perda da consciência temporária, tiques, coordenação motora
diminuída, AVC (acidente vascular cerebral), taquicardia, hipertensão, hipertemia,
depressão respiratória,desmaio, tontura, tremores, tinido no ouvido, visão
embaraçada, podendo levar à morte, devido ao aumento da temperatura corporal
causada pela droga.
O uso do crack aumenta o risco de suicídio, traumas maiores, crimes
violentos, perda do interesse sexual. O uso crônico desta pode levar a uma
degeneração dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
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O crack provoca incapacitação social, isolamento, desinibição, prejuízo da


capacidade de julgamento, da memória, do controle do pensamento, prejuízo da
capacidade do trabalho e perda de vínculos escolares e familiares.
Os usuários de crack apresentam também uma maior incidência de transtorno
bipolar, crises de pânico durante a intoxicação ou fase de abstinência, transtornos
de personalidade anti-social, bonderline e narcisista e a prevalência de esquizofrenia
entre usuários de crack é maior do que aquela encontrada na população geral.
Para Rodrigues; Caminha; Horta (2006), os déficits cognitivos em usuários de
crack perduram por longo prazo e podem ser irreversíveis. O uso do crack afeta todo
o corpo humano e pode ocorrer prejuízo das funções cognitivas do indivíduo, como
déficits de memória, atenção, concentração, aprendizagem, habilidades viso-
espaciais, formação de conceitos e funções executivas.

3 A Logoterapia

A Logoterapia é uma teoria abrangente, pois se dirige a pessoas sadias,


doentes, jovens e velhos, em todas as situações de vida. A Logoterapia quer
preparar um caminho para uma vida plena de sentido, centrada no sentido,
descobrindo possibilidades deste sentido no dia-dia e fazer renascer a esperança
que existe dentro de todos. É a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, sendo
ela, uma proposta de rehumanizar as psicoterapias.
O criador da Logoterapia chama-se Viktor Emil Frankl (1905-1997). Ela é
conhecida como psicoterapia do sentido da vida, sendo escola psicológica de
caráter fenomenológico, existencial e humanista.
Este foi discípulo de Sigmund Freud (1855 – 1939), mas rompeu com ele,
porque não acreditava que a pessoa humana andava pelo mundo sob força dos
impulsos e sim acreditando que o indivíduo é livre, responsável e tem consciência
desta liberdade.
Para Frankl, o ser humano é incondicionado, age involuntariamente em tudo,
tem uma intencionalidade nas suas atitudes, possui uma dimensão noética, uma
capacidade de transcender, de elevar-se. Portanto, busca um sentido para a sua
vida e traz dentro de si um Deus insconsciente.
20

Frankl juntou-se com Alfred Adler (1870 – 1937), pois achava que a proposta
da sua Psicologia Individual estava mais próxima da concepção do ser humano. Mas
por Adler achar que o ser humano estava em busca no mundo de poder e de
conquista com a superioridade, ocorre a separação de ambos. Para Frankl, é preciso
compreender o homem na sua totalidade: psiquíca, corpórea e noética.
Nasce a Logoterapia, que se afirma e consolida principalmente após as
experiências cruciais que Frankl viveu nos campos de concentração durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo ele, o primeiro psicólogo a viver e sobreviver num
campo de concentração. A principal tarefa de Frankl no campo de concentração foi
resgatar a esperança e sentido vital, pois apesar de muita dor, sofrimento e tortura,
ele não queria morrer e com isto, surgia uma força que tornava o sofrimento
suportável e o encorajava para agüentar este momento que estava passando. Tinha
esperança de sair e completar uma missão inacabada.
Toda a família de Frankl, exceto a sua irmã, morreram nos campos de
concentração. Ele passou muita fome, humilhação, sofrimento, agonia, medo e
profunda raiva das injustiças no campo de concentração e foi aí que ele percebeu
que “quem tem algo por que viver é capaz de suportar qualquer como”. Foi também
nos campos de concentração que Frankl viu o que ninguém pode tirar de um
homem: a liberdade humana, a escolha de atitude pessoal para decidir o seu próprio
destino e caminho.
Para Frankl, precisamos aprender e também ensinar as pessoas em
desespero, pois não importa o que nós temos que esperar de nossas vidas, mas sim
o que a vida espera de nós. Viver é arcar com a responsabilidade de responder às
perguntas da vida e a vida é algo concreto, de modo que as exigências que a vida
faz sempre são bem concretas. Toda e qualquer situação se caracteriza por um
caráter único e exclusivo que permite uma única resposta correta a pergunta feita na
situação. O destino de cada ser humano é sempre algo singular e único, nenhum
destino e nenhum ser humano podem ser comparados com outro e nenhuma
situação se repete.
Mesmo diante de um sofrimento na vida, quando o indivíduo descobre que
seu destino lhe reservou um sofrimento, deve-se assumir este sofrimento, pois
ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento e ninguém pode assumir o destino
desta pessoa. Mas na medida em que o indivíduo suporta este sofrimento, há uma
possibilidade de realização única e singular.
21

Na crença no homem como ser noético, a Logoterapia percebe o ser humano


como um ser bio-psico-sócio-noético. O ser humano é livre, consciente, possui livre-
arbítrio, é um ser único, raro, puro e irrepetível neste mundo em que vivemos. A
partir do momento em que somos atirados neste mundo, a vida já tem um sentido.
Esse sentido já existe, falta descobrirmos.
No campo de concentração, em um dia terrível onde o campo inteiro ficou o
dia todo de jejum, Frankl, mesmo desanimado e irritado, juntou forças e aproveitou a
oportunidade única e pediu àquelas pessoas que o escutassem no meio da
escuridão do barracão, que olhassem de frente para esta situação, por mais difícil
que ela fosse não desesperassem e recobrassem o ânimo e a esperança, pois
mesmo que a luta já estivesse perdida, os esforços de todos não perderiam seu
sentido e dignidade. Dar a vida naquele barracão àquela hora, naquela situação
praticamente sem saída, foi o propósito das palavras de Frankl.
A busca de sentido na vida da pessoa, para a Logoterapia, é a principal força
motivadora no ser humano. Somente este sentido assume a importância que
satisfará a sua própria vontade de sentido. Está vontade de sentido também pode
ser frustada. A frustração existencial pode resultar em neuroses, sendo as neuroses
noogênicas. Este conceito significa qualquer coisa pertinente à dimensão humana
que surgem de problemas existenciais, por exemplo, a frustração da vontade de
sentido.
O sofrimento pode ser também uma realização humana. O sofrimento não é
sempre um fenômeno patológico. O desespero da pessoa sobre sua vida se vale a
pena ser vivida ou não é uma angústia existencial. A Logoterapia se preocupa com
as realidades existenciais.
A busca por sentido pode causar tensão interior, tensão por aquilo que já
alcançou, ou aquilo que quer alcançar. Esta tensão está relacionada à saúde mental,
indispensável ao bem-estar mental. O ser humano não precisa de equilíbrio, mas
sim de noodinâmica, pois a dinâmica existencial num campo polarizado de tensão,
onde um pólo está representado por um sentido a ser realizado e outro pólo pela
pessoa que realizar.
A partir de um estado de tédio, o vazio existencial se manifesta. Ao preencher
o vazio existencial, o indivíduo estará prevenido contra recaídas futuras. As pessoas
geralmente se perguntam: Qual é o sentido da minha vida? Mas ela só vai responder
22

à vida, respondendo por sua própria vida, sendo responsável. Para a Logoterapia, a
responsabilidade é a essência da existência humana.
O verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no mundo e não dentro da
psique humana. Quanto mais uma pessoa servir uma causa ou amar uma pessoa,
conseguindo esquecer de si mesma, mais humana esta pessoa será e
consequentemente mais ela se realizará. O sentido da vida jamais deixará de existir
e podemos descobrir este sentido na vida de três formas diferentes: praticando um
ato ou criando um trabalho; encontrando alguém ou experimentando algo como a
bondade e o amor; o sentido pode ser encontrado pelo sofrimento humano.
O terceiro caminho é o mais importante, porque mesmo a pessoa numa
situação de dor e sofrimento e sem esperança, enfrentando uma situação em que o
destino não pode mudar, mesmo uma vítima desamparada, pode criar coragem,
crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se assim mesma.
Podem dar sentido à vida, transformando a tragédia e sofrimento em triunfo,
amor e felicidade.
De acordo com Gomes (1992, p. 38) ”o sentido da vida, um para quê viver é a
questão fundamental da existência, e a doença mental pode ser compreendida como
vazio existencial ou falta de um direcionamento no mundo, não um direcionamento
externo, mas uma busca interna, partindo da responsabilidade pessoal, assumindo e
pilotando livremente o projeto de vida.”
Não é homem quem faz a pergunta sobre o sentido da vida, mas sim é o
próprio homem que deve responder que deve dar respostas às perguntas que a vida
lhe oferece. E é através da nossa ação e de nossos atos que poderão ser
verdadeiramente respondidas. Isso acontecerá pela responsabilidade assumida pela
nossa existência, pois a existência só poderá ser nossa se for responsável. A
responsabilidade da existência é sempre uma responsabilidade de determinada
pessoa numa determinada situação, necessariamente no aqui e agora. Na análise
existencial, algo precisa tornar consciente. O ser responsável é a base fundamental
do homem enquanto noético.
O ser humano pode ser verdadeiramente ele próprio também nos seus
aspectos inconscientes, quando ele é responsável.
O ser humano não é somente um ser que decide, mas também um ser
separado. O ser humano está sempre centrado em algo, centrado em um meio, em
23

torno do seu próprio centro. O ser humano é um ser integrado, pois somente a
pessoa noética estabelece a unidade e totalidade do ente humano.
A consciência moral constitui algo que ainda vai se tornar real, que terá que
ser realizado. Poderá ser realizado se não for antecipado espiritualmente. Esta
antecipação espiritual ocorre num ato de visão, através da intuição. Quando a
consciência for antecipar aquilo que terá que realizar, a consciência deverá intuí-lo.
A consciência é a voz da transcendência, ela se origina dentro da
transcendência e só pode ser compreendida a partir da transcendência, constituindo
um fenômeno transcendente. Pode-se dizer que a consciência é o órgão que escuta
a voz da transcendência, e esse processo de escutar envolve o silêncio, reflexão,
meditação e um tempo de recolhimento.
Somente o caráter transcendente da consciência faz com que possamos
compreender o homem, num sentido mais profundo. O homem que não possui
religião considera a consciência como algo último, pois não vai para além da
consciência, não pergunta pelo que é responsável e é aquele que ignora esta
transcendência da consciência.
Segundo Frankl, Deus espera que saibamos sofrer e morrer com orgulho e
não miseravelmente, Deus espera que não o decepcionemos. O tratamento
psicoterapêutico na Logoterapia permite liberar a fé primordial reprimida no
inconsciente. Todos temos segundo o autor, um estado inconsciente de relação com
Deus, uma presença ignorada de Deus.
Para a Logoterapia, o alvo da psicoterapia é a cura da alma. A Logoterapia
não faz julgamentos sobre a ausência de sentido ou um desvalor, pois o sentido não
pode ser dado a uma pessoa, mas sim o sentido precisa ser encontrado e nesta
procura pelo sentido é a consciência que orienta a pessoa.
Para Frankl, a fé não pode ser um objeto de um ditame da vontade, pois ela é
um ato intencional, um ser crê em algo, ou não se crê. Já uma relação com algo
pode ser mantida por um ato de vontade. A fé se realiza quando uma pessoa é
merecedora de fé.
Na vida, quanto mais buscamos satisfação, bem-estar, sucesso,
reconhecimento e vantagens pessoais, menos conseguimos esses objetivos, porque
quem ama para ser amado, não é alguém que ama de verdade.
Para Lukas (2002), o segredo mais profundo da superação de um vício, pode-
se afirmar, é a confiança num sentido para a vida e a renúncia para desfazer-nos do
24

que nos degrada. Para o usuário de drogas, o desenvolvimento de uma confiança


fundamental e de uma atitude de renúncia dotada de sentido é de grande
importância tanto para vencer o vício como para prevenir vícios.
Confiar quer dizer algo em que alguém confia, em que alguém crê, supõe algo
acima de si mesmo, ao qual pode-se dizer sim. Na Logoterapia, fala-se da
capacidade de transcendência, que quer dizer a ultrapassagem do limite em direção
a algo em que ama e também crê. Renunciar quer dizer que a pessoa pode se
afastar, ficar distante de tais impulsos e dizer não. Supõe algo dentro da pessoa.
Fala-se da sua capacidade de autodistanciamento, formar-se a si mesmo sob o
aspecto da valorização do amor.
O homem só se torna homem quando esquece de si mesmo em dedicação a
uma causa, tarefa ou um amor. Se o homem ver no prazer todo o sentido de vida, a
vida se tornará uma vida sem sentido. Na dependência química, o usuário não
reconhece os seus valores e dificilmente vê a necessidade de uma renúncia ao
prazer ou à eliminação do desprazer. E usar drogas é apenas uma sensação
agradável de curta duração e o prazer faz com que seja desejado e esta breve
duração de usar certa droga pode causar a dependência no indivíduo. No início as
pessoas usam drogas por prazer, pela sensação agradável, por querer fugir de
certos problemas e dificuldades da vida, por querer ser forte e corajoso. Mas assim
que acaba essa sensação agradável, será necessário aumentar a dose cada vez
mais, caso contrário, a sensação agradável de pleno prazer pela droga passa ser
uma sensação desagradável. Dessa maneira ocorre o fenômeno de tolerância.
Se a pessoa quiser sentir-se menos inútil na vida, basta fumar uma pedra de
crack, que logo terá uma sensação de alívio. Mas, ao contrário, se a pessoa quiser
ser útil na vida, esta precisa assumir uma tarefa, uma causa, um trabalho que tenha
sentido e fazê-la sua e não importa o que for, importa que faça. O que importa na
vida é fazer algo que seja bom e não o que nos dê uma sensação boa, pois a
sensação boa uma hora passa e fazer algo bom, deixa marcas para nós e para a
pessoa que recebe.
O homem não quer obter a felicidade, mas sim ter um motivo para ser feliz e
viver plenamente. A vontade de sentido no ser humano orienta para uma realização
de sentido, ao qual acaba por prover uma razão para ser feliz. Quando temos uma
razão para viver, para ser feliz, a felicidade surge espontânea e automaticamente em
nossas vidas.
25

É na adolescência que a maioria das pessoas começa a usar droga, e é nesta


época que o adolescente quer descobrir e conhecer tudo que acontece a sua volta,
abusando de tudo, como por exemplo: drogas, sexo, festas, velocidade etc. Com
isto, acarretando em acidentes, gravidez indesejada, doenças às vezes sem cura e o
vício das drogas.
Na maioria das vezes, o usuário fala que não é dependente da droga,
dizendo: “Eu paro quando quiser”. Mas, na verdade, os usuários que já apresentam
síndrome de abstinência acabam usando a droga não por vício, mas porque não
suportam os sofrimentos causados pela falta da droga.
Esses sofrimentos são de ordem psicológica, como a ansiedade, angústia,
frustração de não suportar a ausência da droga. Tudo isto leva o usuário a tornar-se
instável, agressivo, irritável e entrar em profunda depressão, devido ao vazio
existencial que está vivendo neste momento.
Diante desta ausência da descoberta de um sentido da vida, o ser humano
começa também a buscar por meio das drogas um motivo para matar seus
sentimentos, evitar pensar na vida, tendo em vista que refletir sobre a sua vida
significa deparar-se com a sua verdadeira realidade.
O ser humano pode encontrar no sofrimento um sentido para a vida. Pois a
vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Dar sentido maior a sua
dor é descobrir o sentido maior da sua existência. Todos sabemos que as drogas
não fazem bem para a nossa saúde. Somos livres, temos consciência e
responsabilidade para seguir nossas vidas de maneira correta. Mesmo que a pessoa
não assuma tal responsabilidade que deva assumir, esta teve a liberdade e tomou
atitude de não tomar atitude.
Estudos mostram que as pessoas que procuram ajuda de Deus, usam menos
drogas, são menos violentas e vivem melhor. A Logoterapia, não é uma religião,
teologia ou culto-esotérico. Mas acredita num Tu-eterno, num Deus inconsciente que
existe dentros de nós. A Logoterapia pode contribuir muito para o tratamento de
usuários e também para fazer com que esses encontrem um sentido, desenvolvam
um projeto de vida e cumpram a sua a missão na terra.
Na medida em que o homem preenche um sentido na vida, no mundo, é que
ele se realizará a si mesmo. Frankl cita depoimentos de alguns presidiários que lhe
escreveram dizendo que apesar da miséria do passado e o fracasso do presente,
encontraram um sentido da própria vida e apesar de estarem naquelas
26

circunstâncias e que mesmo perto da cadeira elétrica, estavam muito felizes e que
sempre há uma possibilidade de desenvolvermos para além de nós mesmos.
Para Frankl, a violência é desumanizadora. Quer dizer empobrecimento e
descaracterização do ser humano e é pela autotranscendência que a violência deve
ser superada. A violência e agressividade estão vinculadas a uma falta
transcendente.
Para o autor, não existe sentido na violência, sendo um sentimento
subhumano. O homem tem causas para violência, sendo elas causas psíquicas,
econômicas, emocionais, fisiológicas e psicológicas, mas não existe uma
intencionalidade como amor e ódio, que ambos tem uma razão. A falta de sentido na
vida e a falta de liberdade responsável encontram-se na violência. A violência é esta
ausência de sentido para a constituição da relação com o outro. Um norte para a
superação da violência é a humanização do ser humano.
A moral é algo interno e pessoal que pertence à dimensão singular do
homem, pois somente a consciência moral pode desvelar os valores humanos, se
direciona para o alcance de todos. Segundo Frankl, o amor é irracional e intuitivo,
portanto, o amor se realiza de uma forma semelhante à da moral. O amor e a
consciência moral revelam-se hábeis a apreender as possibilidades ontológicas, mas
apresentam diferenças em torno da experiência existencial. O ser humano por meio
do amor procura uma potencialidade existencial, um ser-que-poderia-ser e que ainda
não é. Já a consciência moral não quer uma revelação de um ser-que-deveria-ser,
mas que deverá sê-lo.
A moralidade para Frankl é transformação da possibilidade do ser em
necessidade de realização, é um fenômeno singular do ser, processo primário,
intuitiva e intencional, inconsciente, pré – lógica e não é compreendido como
impulso determinista da atividade psíquica, mas sim como uma intencionalidade da
existência do ser humano. Portanto, moralidade é uma expressão de
autotranscendência.
O que marca a experiência humana é a sociabilidade em busca de um sentido
mediante o caráter autotranscendente, pois a sociabilidade é um anseio humano
para encontrar um sentido na vida e o homem encontra sentido de sua existência em
sua experiência social.
O ser humano só existe em relação ao outro ser, o sentido pessoal possui
sentido próprio, assim como o todo também possui sentido próprio. A vida do ser
27

humano só adquire sentido quando este transcende a sua existência, quando este
se supera.
Nos dias de hoje as pessoas estão sofrendo muito com depressão,
violência, dependência de drogas, álcool e isso tudo leva as pessoas a adoecer ou
ao suicídio. Este vazio existencial leva o indivíduo a perder o sentido na vida.
Sendo assim, a Logoterapia atua no sentido de promover saúde na busca de
um sentido na vida, buscando o enfrentamento de qualquer situação, por exemplo, a
dependência química. Para Gomes, (1987) uma das preocupações essenciais do ser
humano é o isolamento existencial, onde o indivíduo se isola e não consegue
compartilhar com o outro o que há de mais íntimo.
Quando o indivíduo se envolve com drogas, começa a se isolar das outras
pessoas, especialmente quando usa o crack. O dependente químico começa a
achar que está sendo perseguido pela polícia, pelos traficantes, “bandidos” e até
mesmo amigos e família. Vivem em um mundo isolado, não conseguem mais
interagir, conversar, trabalhar e amar. Este isolamento existencial leva o dependente
químico a sentir solidão e desespero.
Estudos científicos apontam que os dependentes de drogas apresentam
melhor tratamento e recuperação quando o tratamento está ligado à religiosidade e
espiritualidade, pois a pessoa que procura um culto religioso, que tem fé e acredita
em Deus, está menos propensa a usar drogas lícitas e ilícitas (Sanchez; Nappo,
2007).
A religiosidade está ligada ao bem-estar físico e mental do ser humano e com
isto pode estar ajudando na prevenção do consumo de drogas. Os dependentes de
drogas são portadores de doença crônica e vivem momentos traumáticos nos
momentos de recuperação ou também nos momentos que desejam muito parar de
usar a droga, mas não conseguem. Diante disso, se o indivíduo pertence a uma
igreja, participa, ora e acredita em Deus, vai levar a usar menos drogas, prevenir ou
conseguir fazer um tratamento sem recaída.
Cinco técnicas psicológicas foram desenvolvidas pela Logoterapia para
atuação prática. As técnicas são: Derreflexão, Intenção Paradoxal, Apelação,
Técnica do denominador comum e do Diálogo Socrático.
A Logoterapia pode ajudar muito o dependente químico no sentido de
resgatar a esperança e também de diminuir o consumo e encorajá-lo, utilizando a
técnica de derreflexão. A derreflexão é uma técnica da Logoterapia que acontece
28

quando o indivíduo consegue deslocar a sua atenção do sofrimento que está


vivendo naquele momento para o futuro, para então concluir tarefas interrompidas.
Quando o indivíduo luta contra a doença o tempo todo, usa-se a derreflexão
com o objetivo de deslocar a atenção do indivíduo que está preocupado com a sua
doença, para algo mais significativo de sua vida que esteja no futuro e não no aqui e
agora, procurando dar sentido maior a sua dor.
Frankl utiliza a Intenção paradoxal desde a década de 1930 e esta técnica é
uma das mais importantes e acabou sendo incorporada em quase todas as linhas de
tratamentos clínicos. Esta técnica ajuda no tratamento de fobias, neuroses
obsessivas e dificuldades sexuais. É funcional e rápida. A intenção paradoxal
prescreve ao cliente o sofrimento que ele já possui. O terapeuta propõe ao cliente
manter o sintoma que está incomodando como estratégica para conseguir eliminá-lo.
A apelação é uma técnica que procura mostrar para o cliente que ele possui
uma capacidade de sentir e isso só é possível com muita criatividade, em um clima
de intenso calor humano, com muito humor, amor e participação do terapeuta.
O diálogo socrático é a técnica da Logoterapia utilizada no processo
terapêutico aproximadamente 95% do tempo de duração de cada atendimento. O
restante do tempo utiliza-se apelação, derreflexão e intenção paradoxal. O diálogo
socrático é a conversa sobre o autoconhecimento que ajuda os clientes a descobrir
o seu Deus inconsciente, ignorado, permitindo entrar em contato com seu
inconsciente noético. Ajuda na descoberta do verdadeiro eu, escondido em sua
intimidade, a sua parte noética.
A quinta técnica da Logoterapia tende trabalhar com a capacidade do cliente
de tomar decisões responsáveis e é chamada de técnica de denominador comum.
29

4 Considerações Finais

Esta presente Monografia estruturou-se a partir de alguns objetivos. O


objetivo geral foi investigar a ausência da descoberta de um sentido para vida na
dependência do crack. Sendo assim, esta monografia conseguiu abranger o objetivo
geral que se propunha investigar e também pode-se afirmar que foi possível
responder a pergunta de pesquisa: A dependência química é também a ausência da
descoberta de um sentido para a vida.
Os objetivos específicos foram: Especificar os efeitos no organismo humano
do uso do crack, descrever a abordagem logoterapêutica, analisar a contribuição da
abordagem logoterapêutica na dependência do crack e propor medidas
psicoterapêuticas à superação da dependência do crack.
Diante das leituras em livros, artigos da internet e entrevistas com usuários de
drogas, especialmente o crack e adolescentes que estão em recuperação e outros
que já usaram, mas, felizmente conseguiram parar de usar a droga, pode-se
assegurar que há diferentes tipos de usuários de drogas. Sendo eles: o
experimentador, que começa pelo álcool e cigarro e depois fuma maconha e
continua experimentando várias drogas, por curiosidade, pressões do grupo onde
vive ou até mesmo para não ser o careta da turma. Mas geralmente, o
experimentador de várias drogas tem o desejo de novas experiências. Pode
acontecer um evento na sua vida, como encontrar um amor, ou realizar uma tarefa,
que ele caí em si e não dá continuidade no uso de drogas.
Há os usuários casuais, que usam certas drogas, dependendo da ocasião e
do acesso disponível da droga. Por meio de relatos, pode-se perceber que na vida
destes usuários, não há dependência e também quando usam, não alteram as suas
relações sociais.
Já os usuários dependentes vivem exclusivamente pela droga. Os vínculos
sociais, afetivos e profissionais são rompidos, provocando a dependência física,
dependência psicológica, tolerância, isolamento, angústia, vazio existencial,
sofrimento, dor, baixa auto-estima, falta de amor próprio, incapacidade de amar o
próximo, marginalização, roubos, assaltos, mortes, tráficos e também há uma
ausência da descoberta de um sentido para vida.
Nota-se que hoje em dia, a dependência química atinge a todos,
independentemente de raça, idade, sexo, nacionalidade, crença religiosa ou camada
30

social. E o começo do uso de drogas inicia-se na adolescência. Portanto, é muito


importante a presença e o bom contato da família nesta fase de vida. A família é
importante em todas as fases da vida do indivíduo, tanto na adolescência para
prevenção de drogas, como também na recuperação e tratamento de drogas. É
essencial a postura de diálogo, aconselhamento e acolhimento da família nestas
situações.
Pode-se perceber que o dependente químico está começando a usar a droga
nas escolas tanto privadas, como públicas. Nesse sentido, devem ser desenvolvidas
campanhas de prevenção nas escolas e na mídia, visando informar o não-usuário
sobre o risco das drogas e o usuário sobre as doenças associadas.
Felizmente, pessoas que apresentam uma religiosidade e espiritualidade e
que freqüentam culto religioso, oram e acreditam em Deus, apresentam um melhor
tratamento e recuperação de drogas. Pessoas que praticam esportes, como
caminhadas, academia, futsal, vôlei, etc, estão menos propensas ao uso de drogas.
O ser humano é consciente e possui uma intencionalidade em suas atitudes e
só as faz por terem sentido, e é através da consciência, que o homem se humaniza
e passa a tomar atitude, tendo uma liberdade pessoal para assumir uma posição
responsável frente à vida e ao sentido desta.
A liberdade oferece ao ser a oportunidade de mudar, renunciar ao seu eu e
enfrentá-lo. O homem consciente não precisa dos limites que o mundo impõe. Ele
constrói seus limites de acordo com a sua própria consciência que reconhece até
que ponto o mundo pode tolerar seu processo de libertação. Portanto, cada pessoa
é chamada a ser responsável pela sua liberdade, tomando atitudes frente à vida,
ainda que ela seja de dor e sofrimento.
Por maiores que sejam os sofrimentos, dores e angústias, quando o indivíduo
tem um sentido na vida, “um para quê” viver, ele suporta qualquer dor e se mantém
vivo. O ser humano é capaz de suportar os mais intensos sofrimentos, quando tem
um sentido para a vida, uma missão ou tarefa cobrando realização. Quando a
pessoa consegue ressuscitar a esperança que existe dentro dela, o sofrimento
ganha sentido, tornando-se suportável.
O objetivo do sofrimento humano é transformá-lo em outra pessoa, o
sofrimento só tem sentido quando quem sofre muda para melhor. Uma coisa é
descrever o sofrimento, outra é viver o sofrimento. Grande parte do sofrimento do
ser humano vem do ressentimento de uma pessoa, e a experiência do sofrimento é
31

sempre individual. Toda e qualquer situação se caracteriza por um caráter único e


exclusivo que permite uma única resposta correta a pergunta feita na situação. O
destino de cada ser humano é sempre algo singular e único. Nenhum destino e
nenhum ser humano podem ser comparados com outro e nenhuma situação se
repete.
O sofrimento dificulta as manifestações das potencialidades, porque tem
medo de existir, medo de ser, medo de assumir as suas potencialidades, capacidade
de resistir às pressões sociais e lutar por uma causa.
A Logoterapia vai ajudar o dependente químico por meio da conversação, por
exemplo, fazendo com que o indivíduo encontre um sentido na sua vida,
transformando sentimentos como culpa, ressentimento, mágoa, dor, em aspectos
positivos. A vontade de sentido é o ponto de partida para curar o dependente. A
Logoterapia vai conscientizar o dependente, mostrando as qualidades e
potencialidades que existem dentro deles.
A psicoterapia possibilita no ser humano a tentativa de promover a esperança.
Só pode haver “esperança” numa possibilidade de libertação. O objetivo da
Psicologia como ciência e profissão é dar ao ser humano uma vida digna, qualificada
com liberdade e esperança.
A psicoterapia ameniza a dor, mas não a retira, pois se retirá-la, outro
sofrimento se apresentará, pois isto é a condição. Pode-se compreender, conversar,
ajudar a compartilhar a dor, colocar a disposição para ajudá-lo numa dor
insuportável, mas não pode retirar essa angústia e sim só ameniza-lá, pois o
sofrimento jamais sairá da condição humana.
32

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Anexos
Anexo 1
37

Anexo 2
38

Anexo 3

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