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O Assassino

da Torre Malakoff
Samuca Luna

Edição 1
Fevereiro/2019
Samuca Luna

O ASSASSINO
DA TORRE MALAKOFF

Edição 1.

Licenciado via Creative Commons


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Em www.samucaluna.com.br

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ou utilizar para fins comerciais sem autorização.

RECIFE, AGOSTO DE 2015


Paulo Artur está paralisado em frente a uma obra de arte.
É uma exposição de quadros.
Sua esposa o observa e comenta:
“Não sabia que você gostava tanto de quadros assim”
Ele responde: “a gente aprende a gostar”

Recife, Pernambuco, Brasil.


24 de fevereiro de 2003. Segunda-feira. 17h.

TORRE MALAKOFF

Quase carnaval no Recife. No ano de 2003 o Carnaval


fora realizado na primeira semana de março. O Recife
antigo, bairro de São José, é o Coração do carnaval
recifense. Por aqui blocos dos mais diversos tipos
desfilam. O Bloco da Saudade, patrimônio imaterial de
Pernambuco, que desde 1974 desfila pelas ruas de
São José é somente um desses ricos momentos
culturais que podemos ver desfilando pelas ruas do
Recife e realizando seus ensaios para o grande
momento do carnaval que estava se aproximando
naquele ano. A praça do Arsenal da Marinha está onde
antigamente havia um enorme aparato para reforma e
construção de navios, criado por decreto providencial
em 1 de janeiro de 1834. A porta de entrada para o
Arsenal era um portal grandioso que depois da
desativação do Arsenal passou a ser conhecida como
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Torre Malakoff. O nome faz referência ao Cerco de
Sebastapol, um dos principais combates ocorridos
durante a Guerra da Criméia nos anos de 1854 e 1855
que pôs de um lado Rússia e do outro Reino Unido,
França, Turquia e Itália. Durante o Cerco de
Sebastapol aconteceu a Batalha de Malakoff, uma forte
batalha de artilharia que abriu caminho para que os
aliados pudessem quebrar as linhas de defesas Russas
e tomar Sebastapol, importante fato que levou os
Russos à derrota na Guerra da Crimeia. Os jornais da
época no Recife davam total cobertura de todos os
fatos que aconteciam durante a guerra o que levou a
população recifense da época a ter conhecimento
profundo sobre os combates. Uma das batalhas mais
destacadas foi sem dúvida a defesa da Torre
Fortificada Malakoff, que custou fortes baixas ao
exército russo. A própria população do Recife tratou de
chamar o portal de entrada para o Arsenal da Marinha
de Torre Malakoff, pois ela escapou da demolição após
fortes protestos da população que fez referencia a esta
Batalha de Malakoff, quando os russos protegeram a
todo custo aquela torre fortificada.

Precisamente às 17h um maracatu passava em frente


à Torre Malakoff, praça do Arsenal no Recife Antigo. E
maracatus no recifense são comuns e nesta época se
multiplicam ainda mais. O barulho dos sons dos
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tambores abafou o tiro. Um corpo caído no chão do
último andar da Torre Malakoff, conhecido como
observatório. Minutos antes um homem misterioso
subira as escadas da torre. Rápido. Veloz.
Determinado. Após o assassinato saiu sem deixar
pistas. Durante vários e vários minutos ninguém notou
que um corpo estava caído no observatório da torre.
Sangue escorrendo pelo piso emadeirado. Caindo
pelas escadas circulares. Na rua a movimentação era
grande. Na torre uma exposição sobre Carnaval
chamava atenção dos visitantes. Um entra e sai
constante. No último andar um corpo aguardava ser
encontrado. O sangue escorreu e pingou sobre a mesa
da recepcionista no andar de baixo que imediatamente
olhou para cima. Passou o dedo sobre o vermelho.
Pensou ser tinta. Procurou por Edgar Munch, curador
da torre e não o encontrou. Começou a subir
lentamente a escada que dava para o observatório,
sempre buscando com o olhar a fonte daquela “tinta”
vermelha. Ao chegar no teto da torre, um local capaz
de lhe fornecer uma belíssima visão para o mar e para
o Recife Antigo, agora lhe oferecia uma visão
assustadora e terrível: Edgar Munch, caído, esvaindo-
se em sangue. Seus olhos estavam abertos. Olhavam
para cima. Para o céu. A recepcionista imediatamente
se apressou em proibir a subida de mais visitantes.
Não queria que aquilo acabasse virando um centro de
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visitação fúnebre. Edgar Munch, dias antes, havia lhe
alertado como proceder caso algo fugisse do controle
dentro da torre.

Dias antes

Edgar Munch procura por Louise, recepcionista da


Torre Malakoff. – Precisamos conversar – diz ele.
Edgar era de família holandesa. Seus antecessores
vieram ao Brasil ainda na invasão ocorrida no século
XVI. Apaixonado por obras de arte e um profundo
conhecedor das obras holandesas, Edgar fora
selecionado para ser curador da Torre Malakoff
somente meses antes. Estava cuidando da restauração
da torre e de alguns projetos para movimentar e atrair
turistas ao espaço. Um desses projetos eram as
exposições periódicas com temas e artistas diversos.
Sempre preocupado com os detalhes, Munch alertou a
Louise sobre problemas que poderiam acontecer na
torre. Acidentes, discussões (afinal apaixonados por
artes às vezes tem embates calorosos), roubos, dentre
tantos outros.

- Você sabe, Louise, aqui é um lugar público e


devemos estar sempre atentos sobre como proceder
nesses casos. – Louise ouviu atentamente tudo o que
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Munch tinha a dizer. Agora seria bastante útil ter
prestado atenção.

Voltando à cena do assassinato

Louise desceu às escadas. Impediu a subida de novos


visitantes. Rapidamente procurou pelos seguranças e
ordenou que a torre fosse fechada. Sem saber o que
estava acontecendo eles assim o fizeram. Os poucos
turistas ainda dentro da torre foram orientados a sair.
Lousie reuniu a equipe no andar das exposições, entre
o térreo e o observatório e anunciou:

- Chamem a polícia o Dr. Munch foi assassinado! – Os


olhos de todos os funcionários se arregalaram de uma
só vez. Aquilo parecia improvável de acontecer. – O
corpo está lá em cima. Eu o encontrei no observatório.
Quando percebi uma gota de sangue que caiu em
minha mesa, subi para ver o que era e...

Louise desaba em choro. Alguns funcionários sobem


para ver e constatam a cena. O corpo de Edgar Munch
está lá no último andar da Torre Malakoff caído no
chão, com olhos abertos, boca levemente entreaberta
como se quisera dizer algo. Muito sangue pelo chão. A

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esta altura já se fazia uma hora do seu assassinato.
Louise ainda teve força para dar uma orientação:

- Mantenham o silêncio! Não queremos que este fato


vire notícia negativa para a torre. Sabemos o quanto o
Dr. Munch zelava por este patrimônio.

E eram poucos funcionários. Dois seguranças, dois


funcionários de serviços gerais e Louise. Combinaram
de não sair pelos quatro cantos do Recife contando
sobre o assassinato. Não queriam que a morte do Dr.
Munch virasse notícia de página policial como todos os
crimes que acontecem no Recife. O pouco tempo que
Edgar estava ali fora suficiente para ganhar a
admiração dos funcionários. Homem elegante, porém
simples. Inteligente, porém humilde.

Enquanto a polícia não chegava eles aguardavam em


silêncio. Portões fechados. Dava para ouvir de longe os
ensaios dos blocos e maracatus. Duas viaturas
encostaram. Policiais saíram lá de dentro apressados.
Dado à gravidade do assunto, o Delegado Paulo Artur
viera pessoalmente averiguar. Os seguranças abriram
os portões. Os policiais entraram. Louise se dirigiu até
o Delegado Paulo Artur.

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- Antes de tudo, Doutor, gostaríamos de pedir sigilo. O
Dr. Munch era um homem cuidadoso e nos orientou
para não causar nenhum alarde em casos de incidente
dentro da torre.

- Pode deixar, senhora. Embora seja quase impossível


manter a imprensa fora destes casos, eu farei tudo com
a maior discrição possível. Onde está o corpo?

Louise acompanhou os policiais até o teto da torre


onde estava caído o corpo de Edgar. O delegado Paulo
Artur se aproximou. Notou rapidamente um tiro no peito
do curador. Um tiro, somente um tiro fora suficiente
para mata-lo. Era um local fatal para se levar um tiro. O
coração não resiste.

- Testemunhas? Alguém viu alguma coisa? – perguntou


o delegado aos funcionários. A resposta foi negativa.
Ouviu que a quantidade de pessoas subindo e
descendo era intensa neste horário. E que o tiro não
fora sequer ouvido, pois no momento passava um
maracatu bem em frente à torre. Também não havia
monitoramento por câmeras. Nem tampouco controle
sobre os que entravam ou saiam. Quando chegou à
Torre Malakoff o Dr. Munch pensou em facilitar o
acesso do publico, evitando tantos empecilhos de
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outrora. Agora, bastava chegar e entrar. As exposições,
os shows, vários eventos estavam movimentando a
torre. Era um ponto de encontro de artistas, músicos e
turistas.

O delegado Paulo Artur percebeu que estava com um


crime difícil para resolver. Um assassinato de um
curador, pessoa conhecida pela sociedade recifense,
sobretudo artistas e políticos, sem testemunhas e
tentando manter tudo sobre sigilo. A esta altura já
desconfiava pela falta da presença de jornalistas e
curiosos. O comportamento da equipe da torre fora
primordial para isto. Já se passavam mais de duas
horas do assassinato do Dr. Munch. Enquanto a equipe
de legistas e demais policiais averiguavam tudo, o Dr.
Paulo Artur, responsável pela delegacia de homicídios,
era surpreendido com um telefonema:

Outro assassinato, outro curador. Em um local distante


dali.

Instituto Ricardo Brennand. 18h30.

O instituto, um complexo arquitetônico em estilo


medieval, é certamente um dos mais belos locais a se
visitar no Recife. Lá, Castelo, natureza, museu de cera,
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pinacoteca, tudo lhe leva a um mundo encantador e
totalmente desigual daquela cidade movimentada e
urbana que é o Recife. O Museu de Armas Castelo São
João apresenta obras de arte dos quatro cantos do
planeta. A biblioteca possui um amplo acervo com
destaque para obras do brasil-holandes. Ainda há uma
Pinacoteca que abriga exposições durante todo o ano.
O instituto é fruto do esforço e trabalho do empresário e
artista Ricardo Brennand.

Agora, naquele momento, 18h30, o instituto era


também um local de um novo crime assustador: o
curador da pinacoteca que abriga uma enorme coleção
de quadros do período holandês estava assassinado,
com sua cabeça caída sobre à mesa em seu escritório.
O corpo foi encontrado pelo guarda-noturno que havia
ouvido um barulho estranho. Embora não fosse
precisamente de um tiro, o silêncio constante da
pinacoteca no instituto havia sido quebrado por algo
que chamou sua atenção e ele saíra para procurar o
que havia sido, afinal barulhos estranhos ali eram
raros. Ele sabia que o Dr. Joaquim Piaçava, o curador,
estava trabalhando até mais tarde em seu escritório,
mas precisava averiguar se nenhum intruso havia
tentado burlar a segurança. Havia peças guardadas ali
que poderiam despertar enorme interesse de
colecionadores e ladrões de obras de arte, por via das
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dúvidas, a segurança estava sempre alerta. Ao entrar
na sala do Dr. Piaçava, o segurança percebeu seu
rosto caído e o sangue que já escorria pelo chão.

A equipe do Delegado Paulo Artur terminou seu


trabalho na Torre Malakoff e seguiu rapidamente para o
Instituto Ricardo Brennand. São somente 14km que
separam a Torre Malakoff do Instituto. Porém, numa
segunda-feira, 18h30 da noite, hora de rush na cidade,
quando todos voltam para casa, não seria tão simples
cruzar esses poucos quilômetros. Foram quase duas
horas até chegar ao portão de entrada do instituto,
onde alguns outros policiais já o esperavam. Durante a
ida, o delegado Paulo Artur já havia pensado, feito e
refeito em sua mente várias teorias. Uma delas
começava a ganhar força em sua cabeça: os crimes
estavam interligados. Seria coincidência demais dois
curadores serem assassinados em locais diferentes e
com poucas horas entre um crime e outro. Ao chegar
no instituto e ser levado até o local do crime esta teoria
ganhou ainda mais força ao perceber como o Dr.
Joaquim Piaçava havia sido assassinado, com um tiro
no peito, o mesmo “modus operandi” e provavelmente
a mesma arma utilizada pelo assassino da Torre
Malakoff.

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Sua equipe iniciou os trabalhos, ele sabia que também
ali era preciso ser discreto. O instituto precisava ser
preservado. Enquanto os policiais colhiam tudo o que
poderia ser preciso para descobrir a autoria do crime, o
delegado Paulo Artur chamou seu auxiliar e homem de
confiança, Pedro Rigaud.

- Pedro, tem algo estranho acontecendo. Não podem


ser coincidência estes dois crimes. O Dr. Edgar e o Dr.
Piaçava, ambos são curadores, ambos morreram da
mesma forma, provavelmente pelo mesmo assassino. –
Pedro o observou atentamente. Pegou um cigarro e
perguntou:

- Será que ele vai atacar novamente?

O delegado Paulo Artur começou a traçar um mapa


que o assassino da Torre Malakoff poderia ter feito. Ele
provavelmente foi até a torre, matou o Dr. Edgar Munch
e depois seguiu até o instituto Ricardo Brennand. O
assassino deve ter levado quase duas horas para
chegar também. Devido ao trânsito, o acesso neste
horário não é nada fácil. O assassino matou o Dr.
Munch às 16h e seguiu até o instituto onde deve ter
chegado por volta das 18h. O local já estava fechado
para o público. Ele se dirigiu até o escritório e
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assassinou sem pestanejar o Dr. Joaquim Piaçava.
Outro curador. O que estava acontecendo? Em sua
carreira policial, Paulo Artur sempre havia se gabado
por ser um policial que tentava agir à frente do
criminoso. Ele era mentalista e por vezes havia evitado
que pessoas fossem mortas. Melhor do que descobrir
um crime é evitar que ele aconteça, pensava. Então,
seguindo o seu instinto policial, Paulo Artur ordenou a
Pedro Rigaud:

- Consiga o telefone de todos os curadores do Recife e


os reúna no auditório da delegacia. Rápido e urgente.
Não dê detalhes, mande viaturas buscarem se for
preciso. Quero todos reunidos em menos de duas
horas.

Deu-se a partir de então uma enorme busca pelos


nomes de todos os curadores da cidade do Recife.
Todos os responsáveis pelas principais exposições e
locais de obras de arte do Recife estavam reunidos no
auditório da delegacia de polícia na avenida
Mascarenhas de Moraes, quando o relógio batia quase
meia-noite. O tempo para conseguir reunir todos foi
superior ao solicitado pelo delegado Paulo Artur, mas
enfim, ali estavam todos que se imaginava que
poderiam ser alvo do assassino da Torre Malakoff. A
maioria estava assustada, pois haviam sido arrancados
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de suas casas àquela hora da noite sem nenhuma
explicação plausível para tal ato. Pelo menos até
aquele momento. O delegado Paulo Artur entrou no
auditório, passou por todos, ganhou seus olhares e
começou a explanar sobre o que estava acontecendo.
Alguns deles não sabiam nem mesmo que os colegas
haviam sido mortos. Foi um momento de tristeza e total
apreensão. O delegado seguiu sua explicação e os
motivos pelos quais resolveu reunir todos ali.

- Ainda não sabemos, mas pode ser um assassino em


série, disposto a matar somente curadores e ele está
agindo esta noite. Qualquer coisa que vocês possam
esclarecer, qualquer pista, qualquer pessoa que tenha
ameaçado, qualquer fato pode ser relevante.

Uma senhora levanta a mão. Ela é Heleonora Rauph,


uma curadora, que outrora já fora também uma
entusiasta em descobrir e investigar pequenos crimes.
Entre pinturas e livros de suspense, Heleonora passava
seu tempo.

- Delegado, não sei se é importante ou se isto trará


alguma contribuição à investigação, ou se é somente
uma coincidência mesmo, mas o fato é que o Dr. Edgar
Munch era de família holandesa e o Dr. Joaquim
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Piaçava, embora não fosse holandês, era um
apaixonado pela cultura holandesa e profundo
conhecedor dos pintores daquelas terras. Tanto que,
era o responsável pela coleção de peças da pinacoteca
do Brennand que é uma das maiores coleções sobre a
invasão holandesa ao Brasil. Talvez isto seja
coincidência, talvez não.

O delegado Paulo Artur havia deixado escapar um


detalhe tão importante quanto este. E é claro que a
senhora Heleonora estava coberta de razão. Poderia
não ser realmente somente uma coincidência, talvez a
Holanda pudesse ser um elo de ligação entre os
crimes. O delegado Paulo Artur indagou se conheciam
mais algum curador que pudesse ter qualquer ligação a
Holanda. A própria Heleonora tratou de responder:

- Sim. O padre Heitor Amaro na Catedral da Sé em


Olinda. – falou Heleonora.

Levantou-se um outro curador presente à reunião.

– Mas o padre Heitor Amaro não é holandês, é


brasileiro e nem curador ele é. – Disse o homem que
também conhece o padre Heitor. Porém, Heleonora
rebateu a informação.
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- O padre é um grande conhecedor de obras de arte e
desde quando assumiu a Catedral da Sé ele vem
tentando recuperar peças holandesas que ficaram
durante anos jogadas no porão da Catedral. É
conhecido por todos que a Catedral da Sé foi
incendiada pelos holandeses quando estes invadiram
Olinda em 1930 e a capital foi transferida para o Recife.
No período da invasão holandesa a igreja foi destituída
e utilizada como depósito. Lá foram abandonadas
pinturas, roupas e esculturas. O padre vem tentando
recuperar boa parte do que foi abandonado há séculos
e tem tido ótimos resultados. Eu mesma o ajudei com a
catalogação de algumas peças holandesas. O material
irá servir para uma exposição em breve na Catedral da
Sé. A ideia do padre é de utilizar a arte para
restabelecer o perdão, já que a igreja fora incendiada
pelos holandeses que agora retorna para expor um
pouco de sua arte e sua história dentro daquele mesmo
local que em outras épocas fora feito de estribaria e
depósito.

O delegado Paulo Artur ouviu atentamente o que


Heleonora falou. Se havia mesmo um matador em série
agindo na cidade do Recife e se este estava disposto a
matar curadores responsáveis por obras holandesas na
cidade, o padre Heitor Amaro seria um excelente alvo.
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Porém como o delegado havia pedido para seu auxiliar
reunir somente os curadores da cidade do Recife, o
padre Heitor, por ser de Olinda, não estava presente à
reunião. O delegado Paulo Artur pediu a Heleonora o
telefone do Padre Heitor Amaro. Ali na sala mesmo ele
resolveu telefonar para o padre. Após a primeira
tentativa frustrada, afinal era mais de meia-noite e o
padre devia estar dormindo, a ligação caiu na caixa de
mensagens. Depois de insistir algumas vezes o padre
Heitor atendeu ainda com uma voz de sono.

- Alô, padre Heitor? – perguntou o delegado.

- Sim, é o padre Heitor quem está falando. O que está


acontecendo? Alguma urgência? – perguntou o padre
levantando-se assustado.

- O senhor não sabe o alívio em falar com o senhor,


padre. – Nesse momento, o delegado Paulo Artur ficou
alarmado com o que ouviu vindo através do celular. Um
barulho agudo, como um tiro abafado, o barulho do
telefone caindo no chão e uma porta sendo fechada
fortemente. Do outro lado da ligação, o delegado Paulo
Artur tentava insistentemente fazer com que o padre
Heitor Amaro respondesse. Mas, ele não iria falar,
estava morto. Assassinado com um tiro no peito.

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Crime na Catedral da Sé

O delegado Paulo Artur finalizou a reunião com os


curadores, deixou seu telefone, todos seus contatos
para que estes avisassem caso lembrassem de alguma
pista. Tentou mantê-los reunidos, afinal agora sua
teoria havia se confirmado, um assassino serial estava
à solta na cidade do Recife e disposto a matar todos
aqueles que pudessem ter ligação com obras de arte
holandesas.

– A caso sintam-se seguros, podem ir para suas casas.


Aqueles que quiserem podem ficar aqui na delegacia. –
falou o delegado para todos reunidos no auditório.
Porém, foi decisão de todos irem embora para suas
casas. Sentiam-se seguros e a maioria não tinha
nenhuma ou qualquer ligação com obras holandesas,
se era este o motivo para se transformar em alvo do
assassino.

O delegado Paulo Artur foi o primeiro a chegar à


Catedral da Sé com sua equipe. Até então, ninguém
sabia que o padre Heitor Amaro fora assassinado.
Afinal tudo aconteceu enquanto o padre falava ao
telefone com o delegado. Nem mesmo este tinha
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certeza se o padre havia sido alvo do assassino
embora os sons ao telefone fossem bastante
esclarecedores. Ao passar por uma porta ao lado da
igreja e se dirigir até o fundo, onde havia um pequeno
quarto em que o padre vivia, o delegado pôde enfim ter
certeza do que havia imaginado ao ouvir os barulhos: o
padre estava morto e da mesma forma dos outros, um
único tiro no peito.

Paulo Artur tinha agora certeza absoluta do que estava


acontecendo. Um violento matador estava disposto a
eliminar todos aqueles envolvidos diretamente com
obras de arte holandesas. Tinham sido três até o
momento, mas ainda eram 2 horas da madrugada.
Havia tempo suficiente para mais assassinatos até o
clarear do dia. A ideia do delegado em reunir todos no
auditório da delegacia havia surtido efeito positivo e por
muito pouco não evitara mais um assassinato. O
delegado estava disposto a tentar impedir que uma
próxima vítima fosse feita e mais alguém tombasse
com um tiro no peito, pois com certeza ainda havia
outros curadores e pessoas envolvidas com arte
holandesa espalhados pelo Recife, Olinda e toda a
região metropolitana.

Pedro Rigaud, auxiliar do delegado observou em cima


da mesa um pequeno caderno. Era o diário do padre
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Heitor. Pedro tentou buscar informações sobre o dia do
padre e acabou descobrindo informações que poderiam
ser úteis. No diário estava assim escrito:

“o homem misterioso me telefonou hoje. Marcou um


encontro às 15h mas não apareceu. Ele queria mais
informações sobre o holandês mas eu realmente não
tinha como ajudar mais. Mesmo assim ele queria vir ao
meu encontro. Depois de mais de uma hora de atraso
eu abandonei o ponto de encontro e retornei à igreja.
Havíamos marcado às 15h na Torre Malakoff, eu, ele e
o Dr. Edgar Munch.”

Ali estavam pistas importantes. O tal assassino queria


informações sobre o holandês. Mas que holandês seria
este? Qual a ligação entre o padre e o curador da Torre
Malakoff, ambos assassinados? O delegado Paulo
Artur precisava agir depressa. Por onde começar?
Aonde ir? O assassino era rápido e determinado.
Enquanto colhia mais pistas na Catedral da Sé, o
telefone do delegado tocou novamente. Do outro lado
da linha a atendente lhe informara que um novo ataque
havia acontecido, porém agora ninguém havia sido
assassinado, mas era preciso investigar urgentemente.

A investida contra a Fundação Joaquim Nabuco

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A fundação Joaquim Nabuco, fundada em 1949, foi
uma idealização do educador Paulo Freyre, em
homenagem a este importante ícone da reforma social
brasileira que foi Nabuco, tendo lutado pela abolição da
escravatura e também pela liberdade religiosa. Local
de debates políticos, sociais e culturais, a Fundação
Joaquim Nabuco possui cinema, galerias, museu e
biblioteca. Localizada próximo à avenida Agamenon
Magalhães e provável rota do assassino da Torre
Malakoff logo após sair de Olinda, a Fundação estava
às escuras, às 3h30 da madrugada quando foi alvo do
matador.

Ao ser informado do ataque à fundação, o delegado


Paulo Artur chamou seu auxiliar Pedro Rigaud e eles
se dirigiram rapidamente até lá. Em poucos minutos
eles encostaram a viatura em frente ao órgão. Uma
viatura já estava no local quando estes chegaram. Um
segurança sentado à calçada era ouvido pelos policiais.
O delegado Paulo Artur se aproximou.

- Estamos investigando uma série de crimes que estão


acontecendo no Recife desde ontem. Tudo o que for
relatado, tudo o que aconteceu aqui nesta madrugada
é de grande importância. Não posso revelar do que se

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 21


trata para não comprometer as investigações mas
preciso saber de cada detalhe.

O delegado Paulo Artur conversava com um policial


que havia recebido a ocorrência e não entendia a
gravidade do assunto. Fora relatado para ele que um
homem branco, quase albino, por volta de um metro e
setenta e armado havia invadido a fundação em busca
de algo que não se sabe o que é. Ele procurou pelas
galerias, jogou quadros no chão e fez uma bagunça
que demoraria semanas para se consertar. O
segurança ao perceber o que estava acontecendo
tentou capturar o bandido que rapidamente o
desarmou, demonstrando forte conhecimento das artes
maciais. O homem possuía sotaque forte e seu
português apresentava sérias falhas na linguagem.
Com certa dificuldade o segurança entendeu o que o
homem queria: o nome e o endereço do curador da
fundação. Após ser pressionado e com uma arma
apontando para seu coração, o segurança buscou na
agenda da fundação telefone, endereço e nome
completo do responsável pelas galerias da fundação
Joaquim Nabuco.

O delegado Paulo Artur determinou que seu auxiliar


Pedro Rigaud cuidasse dos trâmites com o segurança
e tomasse novamente seu depoimento a fim de
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 22
esclarecer todos os detalhes da invasão a Fundação
Joaquim Nabuco. Após tomar endereço da casa do Dr.
Almyr Joel, curador e responsável pela administração
da Fundação, o delegado Paulo Artur saiu em
disparada até o endereço de sua residência, um
edifício conhecido na famosa avenida de Boa Viagem.

O edifício Acaiaca fora construído no fim dos anos


1950 pelo renomado arquiteto Delfim Amorim. Pontos
de encontro de muitos que frequentam a praia de Boa
Viagem, o Acaiaca se mantem firme e forte entre tantos
prédios que surgiram logo após a sua construção e
modificaram a paisagem urbanística da praia. Ali,
residia o Dr. Almyr Joel, diretor responsável pelas
galerias da fundação Joaquim Nabuco. O delegado
Paulo Artur sabia que era para lá que o assassino iria,
então, entrou na viatura e sozinho seguiu em direção
ao prédio. Era madrugada do dia 25 de fevereiro.
Terça-feira, antes do carnaval. 4h da madrugada.
Muitos já estavam de pé, enquanto outros ainda nem
haviam dormido. Em frente ao prédio um calçadão é
convidativo para uma boa caminhada. O sol começava
a jogar seus primeiros raios sobre a cidade do Recife
quando o delegado chegou ao Acaiaca. Estacionou em
frente e desceu correndo. O porteiro ao ver a viatura
nem se atreveu a perguntar sobre o que se tratava. O
delegado estava com pressa. Entrou no elevador. O dr.
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Almyr morava no quarto andar. Quando o delegado
Paulo Artur saiu do elevador e olhou em direção ao
apartamento do Dr. Almyr já percebeu logo que alguma
coisa estava muito errada. A porta estava aberta.
Totalmente aberta. Ele entrou. Não havia ninguém ali.
A casa estava bagunçada e era algo recente. Uma
discussão devia ter acontecido. Algo de muito sério. O
dr. Almyr não estava lá. O delegado desceu até a
portaria. Procurou pelo porteiro.

- Sabe onde está o Dr. Almyr? – Perguntou o delegado.


O porteiro respondeu:

- Olha, ele saiu com o carro pela garagem, estava


acompanhado com um homem brancão, parece turista.
Não sei onde ele foi não. Mas ele parecia apressado.
Este homem que saiu com ele, eu não sei por onde ele
entrou, nem como entrou, mas não foi aqui pela
portaria não.

O delegado agradeceu as informações ao porteiro e


voltou para o apartamento do Dr. Almyr para buscar
mais informações. Para se pegar um criminoso é
preciso estar atento aos detalhes. O assassino da
Torre Malakoff era um homem determinado. Havia
chegado ao país e ao Recife para cometer uma série
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de assassinatos por motivos ainda desconhecidos. Mas
o delegado Paulo Artur também era um homem
igualmente determinado. Enquanto tentava colher
informações no apartamento do Dr. Almyr, o seu
telefone toca novamente e quando o telefone dele
tocava aquela altura do campeonato ele já sabia que
era algo muito sério que poderia estar acontecendo.
Desta vez não foi diferente. Um corpo fora encontrado
na praia do Pina. Detalhe? Um tiro no peito.

Era o corpo do Dr. Almyr Joel. Provavelmente o


assassino o obrigou a dirigir pela avenida Boa Viagem
e o mandou parar na Praia do Pina, aquela altura da
madrugada, quase deserta ainda. Depois de passar
pelos montes de areia, chegar até a areia molhada da
praia, ele atirou. Um tiro certeiro no peito. O delegado
Paulo Artur pensa que algo o fez ser mais paciente
com o Dr. Almyr. Com os outros a conversa foi bem
menor. Ele podia ter assassinado o Dr. Almyr em sua
própria residência, mas o fez sair de casa e o matou
logo depois. Talvez o Dr. Almyr pudesse leva-lo para
algum lugar que ele desejasse, mas no meio do
caminho ele tenha se negado ou talvez o matador
queria algumas informações e após consegui-las
obrigou o dr. Almyr a descer e o matou ali na praia
mesmo. O caso estava ficando difícil e o pior é que não
surgiam pistas definitivamente esclarecedoras. Porém
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ao procurar no corpo do curador morto na praia, um
policial legista encontrou um bilhete que poderia ser
uma pista.

“Proteja Scheveningen“ dizia o pequeno papel em seu


bolso.

O delegado Paulo Artur observou o bilhete. Talvez o


Dr. Almyr Joel quisesse deixar uma mensagem para
que pudessem prender o assassino, ou quisera passar
uma mensagem para alguém que poderia ter uma ideia
melhor do que aquilo significaria. Afinal a mensagem
não era nada clara. O delegado pegou o telefone e
ligou para Heleonora Rauph. Talvez ela pudesse
ajudar.

- Bom dia, Heleonora, desculpe acordá-la a esta hora


da manhã. Não são nem seis ainda. – tratou de
desculpar-se.

- Não há problema. Sei que o caso é sério. Em que


posso ajudar?

- Sabe se o Dr. Almyr Joel esteve presente à nossa


reunião? Era um dos curadores lá? Não lembro-me de
todos.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 26
- Sim. O Dr. Almyr estava lá. É que ele é um homem
muito recatado. Manteve-se em silêncio na maior parte
do tempo. Tímido. O que houve com ele?

- Foi assassinado. Um tiro no coração, como os outros.

- Que horrível! Que pena. Isto está ficando sério


demais.

- Ele deixou uma pista. Sabe o que pode significar


“proteja Scheveningen”?

- Proteja Scheveningen? Foi isso que ele escreveu?

- Sim. Somente isto. Acho que era uma informação que


gostaria de transmitir para alguém. Tem ideia do que
significa?

- Deixe-me pensar. Deixe-me pensar um pouco mais e


lhe telefono em seguida. – Heleonora desligou o
telefone. Ela tinha algumas ideias do que aquilo
poderia significar, correu para sua biblioteca particular
em casa. Nela havia uma lista de quadros famosos
desaparecidos. Ao buscar cuidadosamente em sua
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 27
lista, ela chegou a um quadro do pintor holandês Vicent
Van Gogh que fora roubada na Holanda poucos meses
antes. Seu nome era View of the Sea at Scheveningen.

Rapidamente ela telefonou para o delegado Paulo Artur


que ainda estava na Praia do Pina concluindo o
trabalho de perícia quando recebeu a ligação.

- Dr. Paulo, acredito que sei o que pode estar


acontecendo. Venha imediatamente.

O Delegado Paulo Artur correu até seu carro. Ao entrar


e ligar o carro, percebeu que um policial corria em sua
direção e o aguardou.

- Dr. Paulo? O senhor precisa vir conosco, houve um


outro assassinato no Forte das Cinco Pontas.

Um novo crime, a rota de terror e morte continuava. O


delegado telefonou para a Heleonora.

- Heleonora? Você precisa encontrar-se comigo no


Forte das Cinco Pontas, urgente. O assassino atacou
novamente e nós precisamos entender o que está
acontecendo.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 28


- Em alguns minutos estarei lá. – disse Heleonora, já
correndo para tomar banho, trocar de roupa e sair
apressada, sem nem tomar café da manhã. Diz o
ditado que devagar se vai distante, neste caso devagar
significaria a morte.

Assassinato duplo no forte das Cinco Pontas

O forte estava localizado no bairro de São José. Uma


construção volumosa feita por ordens do então Príncipe
Orange - Frederik Hedrik. Foi a última grande
construção holandesa na cidade do Recife, feita no ano
de 1630. Inicialmente o forte tinha forma pentagonal e
foi construído de terra batida e barro, um forte quase
“artesanal”. Em 1684 as forças portuguesas dominaram
o local e expulsaram os holandeses que até então
dominavam o Recife. O forte foi derrubado e
reconstruído de forma mais elaborada, com pedra e
cal, porém perdeu o formato pentagonal passando a ter
somente 4 pontas, o que se mantem até os dias de
hoje. No entanto o nome popular Forte das Cinco
Pontas já havia se espalhado por todo o estado e a
população ignorou o fato de ele ter perdido uma das
pontas e continuou chamando-o com aquele apelido
que já havia sido consolidado entre os pernambucanos.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 29


O delegado Paulo Artur estava cansado. Era uma noite
inteira sem dormir, procurando em vão pistas de um
assassino cruel que matava sem cansaço, cumprindo à
risca um planejamento prévio. Desta vez porém parece
que algo não havia sido tão planejado assim e ele
matara para não perder a viagem. Eram dois corpos e
uma terceira vítima que só não fora baleada pois havia
conseguido se esquivar.

Eram 6h30 da manhã. Havia discreta movimentação


pelo porto e o forte ainda não estava aberto ao público.
Nele somente havia o segurança, que fora
assassinado, e dois funcionários responsáveis pela
limpeza do local. O diretor sequer estava por perto.
Geralmente as vítimas do assassino da Torre Malakoff
são curadores e representantes de locais de arte
holandesa. Matar um segurança e um funcionário da
limpeza talvez fosse fúria por não ter encontrado o que
desejava.

- Ele chegou muito nervoso. – disse o segurança que


havia se esquivado e livrou-se de ser atingido. –
Batendo no portão com uma barra de ferro que nos
assustou bastante. Foi quando eu peguei minha arma e
ouvi o primeiro tiro que atingiu o Arnaldo. Ele estava
tentando ver quem era aquele louco. Ele atirou em mim
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 30
e eu consegui desviar. Esse outro ai foi que não deu
sorte, primeiro dia de trabalho e já levou um tiro no
peito. – falou referindo-se ao funcionário de limpeza
que levou um tiro no peito e morreu ali mesmo no local.
Puro azar. Era o primeiro dia de trabalho dele conforme
havia informado o segurança.

- Eu não o conhecia, chegou 6h da manhã, com crachá


e farda e eu o deixei entrar. Coitado, estava
trabalhando quando foi atingido. Aqui mesmo através
da grade o homem louco atirou e o feriu. Primeiro ele
matou o Arnaldo que estava encostado na grade,
depois atirava em quem passasse pela frente. Eu atirei
de volta duas vezes, mas ele era muito bom de tiro e
fiquei com medo de colocar minha cabeça para fora e
ter uma melhor visão para atirar.

Heleonora Rauph chega até o Forte das Cinco Pontas.


O delegado Paulo Artur a recepciona. Ela observa a
entrada do forte. Um corpo caído logo após a grade de
entrada e outro alguns metros depois.

- E então, Heleonora, o que está acontecendo?

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 31


Ela tira do seu bolso uma folha que contém um quadro
do pintor Van Gogh impresso. O delegado Paulo Artur
observa.

- O que isto significa?

- É a provável resposta para estes crimes. Este é o


quadro View of the Sea at Scheveningen do neerlandês
Vicent Van Gogh. Desapareceu do museu na Holanda
em dezembro de 2002. Final do ano passado. Não é
preciso dizer e mesmo não sendo o senhor um
profundo conhecedor de obras de arte mas este quadro
vale alguns milhões de euros. Atualmente é um dos
quadros mais procurados em todo o mundo. Há poucas
semanas eu fui procurada pelo então curador Dr. Edgar
Munch, assassinado no final da tarde passada, para
compor uma comissão especial que iria cuidar de um
quadro famoso desaparecido. Fiquei curiosa, é óbvio,
eu não sabia qual era o quadro, porque a principio não
nos fora informado. Dados os enormes riscos que isto
traria, eu pensei melhor e resolvi não participar da
comissão que seria formada por quatro membros. Não
sei bem qual era a ideia do Dr. Munch, nem como ele
havia tido acesso a uma obra deste valor. Talvez
estivesse querendo cuidar da obra para devolvê-la ao
governo holandês ou talvez estava pensando em
vende-la no mercado negro de obras de arte. É um
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 32
mercado muito lucrativo. Com milionários dispostos a
pagar uma quantia surreal para obter as obras de seus
desejos. Ou até mesmo, matar se for preciso.

View of the Sea at Scheveningen

O quadro foi pintado por Van Gogh no ano de 1882. É


uma visão para a praia de Scheveningen, local onde
Van Gogh estava hospedado no ano em que pintou o
quadro. Os fortes ventos na praia e os pequeninos
grãos de areia que voavam chegaram a atrapalhar a
pintura. No quadro original é possível notar alguns
grãos de areia presos à tinta. O quadro foi roubado do
museu oficial dedicado à memória do pintor Van Gogh
em dezembro de 2002.

O caso seria muito mais sério do que o delegado Paulo


Artur havia imaginado. Talvez fosse hora de tentar se
conectar a outras forças policiais e pedir ajuda a Polícia
Federal. Com o papel na mão e ainda chocado, o
delegado caminhou até perto dos corpos sem dizer
nenhuma palavra. Raciocinava. Ou tentava raciocinar
pelo menos. O assassino da Torre Malakoff começava
a ganhar forma. Talvez ele fosse um membro especial
da polícia holandesa tentando a todo custo recuperar o
quadro roubado ou talvez fosse um ladrão internacional
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 33
de obras. O delegado Paulo precisava investigar uma
série de dados e pistas que agora estavam ficando
mais claras. Heleorona, embora tivesse escondido a
princípio algo da mais alta importância, agora havia
revelado um segredo que poderia colocar a polícia na
pista correta para desvendar os crimes e chegar até o
assassino. Se tudo que Heleonora Rauph falou era
verdade, o quadro poderia estar escondido na cidade
do Recife e o assassino não iria sossegar até conseguir
colocar suas mãos sobre ele.

Heleonora seguiu logo atrás do delegado e observou


de perto o primeiro corpo caído no chão.

- Esse pobre segurança não deu sorte. Com certeza o


assassino o matou por acaso. Ele não era o alvo. –
disse Heleonora ao delegado.

- Nem aquele outro ali. Era responsável pela limpeza e


ainda era seu primeiro dia de trabalho.

Heleonora Rauph caminhou até perto do segundo


corpo caído dentro do forte das Cinco Pontas. Ela
estranhou mas achou que aquele rosto ali era
conhecido. De fato ao se aproximar mais do corpo
caído ela notou que realmente o conhecia.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 34
- Aquele ali não pode ser o responsável pela limpeza,
ele é Francisco Gerard, um dos membros da comissão
que protegeria o quadro. Quando me convidou para
entrar o Dr. Edgar Munch não disse o nome dos
demais membros, somente do dr. Gerard. Ele é o
curador do MAMAM. Pode ter certeza absoluta que ele
não era um simples limpador.

Francisco Gerard era o curador do Museu de Arte


Moderna criado em 1997 e que homenageia o ativista
cultural pernambucano Aluísio Magalhães. Francisco,
porém, estava ali no forte das Cinco Pontas
devidamente vestido como se fora responsável pela
limpeza, com crachá e todos os apetrechos
necessários para realizar o trabalho. Imediatamente o
delegado começou a unir peças deste quebra-cabeça e
pensou que talvez o quadro pudesse estar escondido
ali no forte. Sendo Francisco um dos membros da
comissão ele poderia ter ido até o museu para tentar
pegar o quadro e levá-lo a um local mais seguro. Se ele
foi assassinado ali, o quadro ainda poderia estar no
forte. O delegado procurou novamente o outro
segurança que havia conseguido escapar dos tiros e
perguntou:

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 35


- Ele fez alguma coisa lá dentro? Você viu se ele retirou
alguma coisa do lugar?

- Olha, alguns minutos antes de tudo começar a


acontecer ele veio até aqui na frente com um pacote
que trouxe lá de trás e entregou o pacote para uma
mulher num carro amarelo. Ela pegou o pacote e foi
embora. Eu achei estranho o cara chegar para
trabalhar, entrar, pegar um pacote e entregar para
outra pessoa, mas se ele tinha chave de tudo é porque
ele era realmente responsável por aquilo. E ele tinha a
chave mesmo, sabe? De tudo, de todas as salas.

- Você lembra como era a mulher?

- Altura média, morena, cabelo curto. Não sei muito


bem, foi tudo tão rápido. Ela pegou pacote entrou no
carro e foi embora. Cantando pneu. Estava apressada.

O delegado deu as últimas orientações para sua equipe


e resolveu seguir para o MAMAM, Museu de Arte
Moderna para tentar colher algumas pistas. Talvez na
sala onde Francisco Gerard trabalhava ele conseguisse
algumas informações. Heleonora se ofereceu para
ajuda-lo. Ele aceitou. Afinal, ela tinha responsável pelas
principais pistas que estavam ajudando até o momento
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 36
a clarear um pouco as ideias sobre tudo que estava
acontecendo.

MAMAM

O museu foi criado em um antigo casarão do século


XIX, em homenagem ao artista e ativista Aloísio
Magalhães. Localizado na famosa Rua da Aurora, o
casarão era agora local de exposições, palestras e
diversas mostras de artistas nacionais e internacionais.

O delegado chegou apressado e estava acompanhado


de Heleonora. Com as novas informações talvez fosse
preciso se antecipar ao criminoso e descobrir onde e
quem ele poderia atacar. Após se apresentar aos
funcionários do local ele foi levado até a sala onde
trabalha Gerard. A esta altura, notícias do assassinato
de Francisco Gerard já chegavam até o MAMAM e
causavam comoção. O delegado notou o notebook de
Gerard sobre a mesa do escritório. Abriu. Buscou
arquivos que pudessem conter informações
importantes. Encontrou um email que Gerard trocara
com Edgar Munch e que dizia:

“Caro, E. M.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 37


Precisamos manter as coisas sobre nosso controle.
Temo, com todas estas ameaças, por nossa
segurança. Preciso de mais dinheiro para a comissão
levar adiante o nosso plano. Segundo o Amaro as
negociações avançaram. Todos estão de acordo com a
entrada do quinto membro. Ela será importante pelos
últimos acontecimentos. Informe à Louise da nossa
reunião extra e que ela a partir de agora está
definitivamente conosco.”

Louise era a recepcionista da Torre Malakoff. E ao ler a


mensagem o delegado Paulo Artur lembrou-se da
descrição da mulher que havia recebido o pacote de
Francisco Gerard no Forte das Cinco Pontas. Morena,
cabelo curto, olhos claros. Era Louise. O delegado
sorriu e comentou com Heleonora:

- Havia um quinto elemento na comissão, Heleonora. –


Nesse momento Heleonora o observou com espanto.
Era algo realmente novo para ela. Até então tinha
conhecimento que somente 4 pessoas formavam a
comissão e todos estavam mortos. – Louise, a
recepcionista da Torre, foi ela quem recebeu o pacote,
ela deve estar com o quadro.

Era preciso correr de volta para a Torre Malakoff. A


vida de Louise poderia estar em perigo, afinal ela
estava com o quadro e caso o assassino desconfiasse
de algo ela seria a próxima vítima. O delegado entrou
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 38
em seu carro e zarpou para a praça do Arsenal onde
ficava a Torre. As enormes portas da Torre Malakoff
estavam ainda fechadas. O delegado Paulo Artur gritou
chamando por Louise mas ninguém respondeu. Ele
ouviu um barulho forte vindo do teto e resolveu forçar a
porta para tentar entrar. Depois de forçar e arrombar a
força o cadeado, ele adentrou à torre, subiu as escadas
e lá no último andar encontrou Louise algemada a uma
cadeira de ferro e com a boca vendada.

- Você está bem? – perguntou ele.

- Sim. Estou viva, pelo menos.

- Por que você não me contou, Louise? Eu agora sei de


tudo, você faz parte da comissão que pretendia
proteger o quadro.

- Proteger? – Louise sorriu sarcasticamente – então,


você não sabe muito ainda, delegado.

- Estou esperando você me contar o que não sei.

- E ela, quem é? – perguntou Louise referindo-se a


Heleonora, que prontamente se apresentou.

- Sou Heleonora Rauph. Prazer. O homem tentou lhe


matar? Ele roubou o pacote?

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 39


- Ele me algemou e me obrigou a lhe entregar o pacote.

- Então ele conseguiu o que queria, agora deve ir


embora e deixar todos em paz. Melhor assim. –
Heleonora disse deixando escapar um sorriso.

- Vamos à delegacia, Louise, você tem muito o que


explicar.

Até aquele momento o que se sabia era algo superficial


quanto ao que realmente estava acontecendo. Num
pequeno bloco de anotações o delegado Paulo Artur
havia traçado um esboço para tentar entender melhor
toda esta rota de crimes que foi iniciada às 17h com o
assassinato na Torre Malakoff, Praça do Arsenal do
Recife.

Resumo dos crimes até o momento

Dia 24 de fevereiro de 2003

Às 17h, na Torre Malakoff, o curador Dr. Edgar


Munch fora assassinado.

Às 18h30, no Instituto Ricardo Brennand, o


curador Joaquim Piaçava leva um tiro no peito.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 40


Dia 25 de fevereiro de 2003

À 1h, o padre Heitor Amaro leva um tiro no peito


enquanto conversava ao telefone.

Às 3h30, o assassino ataca na Fundação


Joaquim Nabuco.

Às 4h00, o Dr. Almyr Joel é feito refém em sua


residência, sendo obrigado a dirigir seu carro e
parar na praia do Pina onde fora assassinado às
4h30.

Às 6h, o Dr. Francisco Gerard chega para


trabalhar disfarçado de funcionário da limpeza no
Forte das Cinco Pontas.

Às 6h15, Louise chega ao Forte das Cinco


pontes para pegar um pacote.

Às 6h30 o assassino chega ao Forte, mata o


segurança, tenta matar outro e acerta o Dr.
Francisco Gerard com um tiro.

Após repassar cada detalhe do resumo de crimes que


o delegado Paulo Artur havia feito, era hora de ouvir
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 41
atentamente o que Louise tinha a dizer. Na sala do
delegado estavam Louise, Heleonora e Pedro Rigaud,
além do delegado.

- E então, Louise, nos conte tudo. Não esconda mais


nada, isso pode valer a sua vida. – disse o delegado se
acomodando na cadeira e pronto para ouvir tudo o que
Louise teria para contar.

- As coisas são um pouco diferentes do que vocês


imaginam. – disse ela disposta a realmente contar tudo
o que sabia. – No começo do mês de fevereiro deste
ano eu fui procurada pelo Dr. Edgar Munch para
compor uma comissão que teria uma importante
missão com um quadro que havia desaparecido na
Holanda.

De volta no tempo: 02 de fevereiro, quando Dr. Munch


procurou Louise:

- Esta reunião é muito importante, Louise. Você sabe o


quanto confio em você.

- Sei sim, Dr. Munch.

- Primeiro, não me chame de Dr. Temos um


relacionamento que ultrapassa as barreiras do nosso
trabalho, não vejo motivos para você continuar me
chamando assim.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 42
Edgar Munch e Louise haviam se envolvido e
mantinham secretamente um caso extraconjugal. Edgar
era casado, tinha dois filhos. Louise, solteira, 32 anos,
havia se envolvido com o Dr. Munch buscando um
pouco de aventura para sua pacata vida, que a esta
altura não apresentava grandes chances de mudar.
Entre um encontro e outro, Munch procurou Louise
para lhe convidar a fazer parte de uma comissão
secreta.

- Mas, o que faz esta comissão? Qual é a minha função


neste grupo?

- Eu vou lhe explicar tudo. Mas quero que você entenda


que é algo da mais absoluta seriedade e que ninguém
pode saber de nada. E que, ao final de tudo, você será
muito bem recompensada, Louise, serão duzentos mil
reais caso faça tudo direito.

Voltando à sala da delegacia

- Quando ele me ofereceu aquele dinheiro todo eu


sabia na hora que se tratava de algo ilegal. Era muito
dinheiro. Duzentos mil reais! Aos poucos eu fui
conhecendo e vendo melhor do que realmente se
tratava.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 43


- Como o quadro chegou ao Dr. Munch? – perguntou o
delegado.

- Você não percebeu ainda, não é delegado? O quadro


não chegou ao Dr. Munch. Ninguém trouxe o quadro.
Ele o pegou. Ele é o ladrão responsável pela invasão e
roubo ao quadro de Van Gogh na Holanda.

Edgar Munch tinha visto e passe livre na Holanda. Ele


havia entrado de vez para o mundo da máfia de obras
roubadas. Suas últimas participações nos crimes
tinham sido discretas. Munch estava há anos
planejando um roubo que seria uma cartada fatal. Os
quadros de Van Gogh haviam despertado interesse de
muitos compradores no mundo inteiro. Os valores
estavam altíssimos, na casa dos milhões de euros.
Para se arriscar, só por algo que valesse muito a pena,
ele pensava.

Os olhos do delegado fitaram o olhar de Louise.


Firmes. Até aquele momento, para o delegado, Paulo
Artur e para todos envolvidos na investigação o Dr.
Munch era um homem de conduta exemplar, pai de
família, homem da sociedade recifense, querido por
todos. Mas Munch tinha uma vida paralela bastante
suja. Ele era um ladrão internacional de obras de arte.
Para o roubo na Holanda, Munch associou-se a um
grupo de ladrões ingleses que há anos vinham
estudando a possibilidade de invadir o museu holandês
e sumir com as peças de Van Gogh. O encontro
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 44
realizado na Inglaterra em novembro de 2002, selou
como seria feita a invasão e depois como seriam
divididos os valores da venda dos quadros.

- Foram roubados dois quadros de Van Gogh –


continuara a falar Louise – e ficou acertado que cada
um dos envolvidos ficaria com um quadro. Porém
durante a fuga um dos quadros se perdeu e foi
recuperado pela polícia holandesa, restando somente o
View of the Sea at Scheveningen que ficara sob a
guarda do Dr. Munch e ele o trouxe para o Recife. Foi
ai que começaram as ameaças. O grupo de ladrões
ingleses começou a exigir do Dr. Munch uma grande
quantidade em dinheiro para suprir a perda do quadro
que foi recuperado pela polícia e que seria a parte
deles no roubo. O Dr. Munch alegou que a falha fora
deles e que não poderia dividir os lucros da venda do
quadro que estava sob sua proteção. Em janeiro, o
grupo de ladrões enviou um primeiro ataque para
intimidar e tentar fazer com que o Dr. Munch mudasse
de ideia. Aquela altura, ele já havia formado a
comissão e já tentava vender o quadro.

- Fale mais sobre esta comissão. Qual a função de


cada membro? – perguntou curioso o delegado Paulo
Artur.

- Bem, ladrões de obras de arte não trabalham sozinho.


É um mercado exigente, perigoso e que precisa de
muito manejo. O Dr. Munch sempre formava uma
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 45
comissão para realizar a venda das obras. Esta
comissão mudava de membros de acordo com a
especialidade de cada um. Neste caso específico a
divisão foi assim estabelecida:

“O Dr. Francisco Gerard era o responsável financeiro


para manter o grupo. As reuniões, as viagens
internacionais, a segurança do quadro, tudo custava
muito dinheiro e o Dr. Francisco Gerard era o mais rico
de todos. Foi ele, inclusive que financiou boa parte da
invasão ao museu na Holanda.

Já o senhor Joaquim Piaçava, um especialista em


obras e pintores holandeses era o responsável artístico
pela comissão. Como eu disse, trabalhar com venda de
quadros roubados exige bastante manejo e habilidade.
Você está tratando diretamente com milionários da
mais alta sociedade em diversos países do mundo. O
Dr. Almyr Joel era absolutamente capacitado para falar
com todos sobre a importância do quadro em questão.

O Padre Heitor Amaro tornou-se um grande admirador


da cultura holandesa e especializou-se nela. Seu
esforço na recuperação de peças holandesas
abandonadas na Catedral da Sé despertou o interesse
de ricos compradores de todas as partes do planeta. O
padre viu que ali estava um forte mercado e se tornou
um habilidoso negociador de obras de arte. Soubemos
que, sem que ninguém desconfiasse, o padre havia
recuperado e vendido no mercado negro algumas
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 46
peças que foram encontradas na Catedral. Ele foi
incorporado à comissão, com a tarefa de reunir
compradores para o quadro roubado.

O Dr. Almyr Joel seria o homem responsável por lavar


o dinheiro da venda do quadro. Na última oferta, o
padre Heitor Amaro havia levantado 7 milhões de
euros, mas ele conseguiria ainda mais, por isso não
havia vendido o quadro ainda. Alguém precisaria fazer
o serviço para que esse dinheiro pudesse chegar até
nós e o Dr. Almyr era o chefe da lavagem.”

- E você, Louise? Por que foi chamada para entrar na


comissão?

- Eu fui incorporada ao grupo depois das fortes


ameaças e ataques no mês de janeiro. O Dr. Edgar
descobriu que o grupo de ladrões ingleses tentaria
roubar o quadro. Eu recebi a missão de levar o quadro
até o comprador, pois eu não fazia parte da comissão e
meu nome não era conhecido pelos ladrões ingleses.
Seria muito mais discreto. Além do mais eu tinha de
proteger o quadro em caso de ataque.

- E parece que você não conseguiu, não é? Afinal o


ladrão levou o quadro. – completou Heleonora Rauph
que tomava nota de tudo que ouvia de Louise.

- Fique tranquila, Heleonora, o quadro está a salvo.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 47


Nesse momento Heleonora ficou muito séria. O
delegado se aproximou de Louise. Pedro Rigaud ficou
inquieto. E ela terminou:

- O assassino e ladrão caiu direitinho no nosso plano:


aquele era um quadro falso!

A informação caiu como uma bomba. Por alguns


instantes se fez silêncio. Louise deixou um sorriso
escapar. O delegado percebeu a seriedade do que
poderia estar acontecendo. Em breve o assassino
descobriria que havia sido enganado e poderia voltar a
matar novamente. Heleonora estava pasma. Pedro
Rigaud olhava para baixo fazendo os cálculos da
reviravolta que isto causaria.

- Existe mais alguém que o assassino queira matar? –


perguntou o delegado.

- Da comissão não. Somente eu que estou viva.

- Você sabe onde está o quadro?

- Não. Ninguém sabia, somente o Dr. Munch. A


localização do quadro morreu com ele.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 48


- Temos de cuidar da sua proteção. O assassino pode
querer matá-la. Quanto tempo deve levar até que ele
descubra que aquele é um quadro falso?

- Ele não é especialista em artes, é somente um


matador. Deve estar à procura de alguém que possa
fazer uma análise do quadro para atestar se é
verdadeiro ou não.

- Ele deve ter ajuda de alguém aqui no estado. Não


conseguiria fazer tudo isto se não fosse com alguém
que pudesse lhe acompanhar e lhe informar
devidamente todos os locais. O Recife é uma cidade
grande, difícil de locomover, com certeza há alguém
com ele.

O delegado continuou ouvindo Louise. Ainda restavam


algumas perguntas embora os principais fatos já
estivessem sendo esclarecidos. Enquanto tomava o
depoimento de Louise um novo crime acontece. O
assassino continua agindo.

Assassinato na Praça da República

A praça está localizada na Ilha de Santo Antônio.


Antigamente fora o jardim do Conde Maurício de
Nassau. A praça foi idealizada pelo naturalista francês
Emile Bérenger sendo remodelada por Burle Marx no
ano de 1936. Ao redor da praça da República estão
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 49
algumas das mais importantes construções da cidade
do Recife, como o Palácio do Campo das Princesas,
Palácio da Justiça, Liceu de Artes e Ofícios e o
imponente e belíssimo Teatro de Santa Isabel. Na
praça um Baobá centenário divide espaço com as mais
variadas estátuas. Na década de 1920 o escritor e
aviador Antoine de Saint-Exupéry visitou o Recife e viu
o Baobá na Praça da República, a partir de então teve
a ideia que culminou com a criação do livro “O
Pequeno Príncipe” um dos livros mais vendidos e
famosos em todo o mundo. Tal fato é desconhecido por
grande parte dos leitores. E foi ali na Praça, aos pés do
Busto de Maurício de Nassau que o assassino se
encontrara com um analisador de obras de arte
contratado para lhe orientar acerca da autenticidade
daquela obra que possuía.

Passava das 14 horas quando o matador adentrou à


praça. Desconfiado. Passo firmes e caminhando
rapidamente, ainda analisava tudo a sua volta. Por um
instante se deixara levar pela beleza do local. Aquelas
construções antigas, aquele clima de que havia
retornado no tempo. Lembrou do tempo em que era
criança. Feliz. Inocente. Lembrou dos parques em que
frequentou com sua família. O clima mágico daquela
praça era capaz de fazer até mesmo um matador
impiedoso e cruel viver em paz por alguns instantes.
Logo voltou a si. Sua missão. Olhou o relógio. Estava
atrasado. Chegou até o busto de Mauricio de Nassau.
Um homem o aguardava. A conversa entre os dois
deveria ser pouca, rápida e decisiva.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 50
- Então, é este o pacote? – perguntou o homem.

- Este é o quadro. – respondeu, entregando o pacote.

O homem abriu um pouco o pacote. Abaixou-se e com


uma lanterna começou a percorrer toda a embalagem,
olhando por dentro. Virando e revirando o quadro.

- Vamos depressa! – disse o assassino, nervoso.

O homem continuou observando o quadro. Abaixado.


Analisava.

- Sinto muito, mas este não é o quadro original. Isso


aqui não tem valor nenhum. É uma cópia.

Nesse momento uma raiva obscura percorreu o corpo


do assassino. Ele estava sendo possuído. Todo aquele
trabalho até ali havia sido em vão. E ódio quando entra
no corpo é feito uma doença devastadora e viral lhe
tomando por dentro. Ele ia saindo da praça quando
ouviu o homem o chamar de volta.

- Ei, e o pagamento? No telefone fora dito que você iria


me pagar aqui agora e em dinheiro. – ele não sabia o
erro que havia cometido. Não se cobra a um assassino.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 51


O assassino parou. Voltou rapidamente. Olhou ao
redor. Ali estavam muitos policiais, um tanto distantes,
nos prédios históricos, mas ele não podia fazer o que
estava com vontade e atirar dali mesmo matando o
pobre homem sem nem direito a defesa. Talvez com o
ódio que estava sentindo naquele momento não daria
somente um tiro como de costume, mas encheria o
corpo do homem de bala. Ao invés disto ele se
aproximou do homem, encostou seu rosto no ouvido
dele e disse:

- O seu pagamento está aqui! – por baixo da blusa


atirou com seu revólver dotado de um silenciador.
Aguardou o homem morrer, agonizando, como se
estivera abraço a ele num momento de despedida.
Depois o colocou sentado, aos pés de Maurício de
Nassau e foi embora. Somente minutos depois, turistas
que fotografavam na praça perceberam o homem
baleado e acionaram a polícia que estava ali em todos
os prédios ao redor.

Na delegacia o delegado Paulo Artur tentava juntar as


peças do quebra-cabeça quando seu telefone toca e
ele é chamado com urgência até a Praça da República,
local onde o assassino havia atacado novamente.
Dessa vez ele fora bem audacioso, porém discreto e
profissional como sempre. Ao chegar na praça da
República e se dirigir até o corpo baleado, Paulo Artur
começou sua investigação.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 52


- Ninguém percebeu nada?

- Negativo. – respondeu um dos policiais que guardava


a entrada do Palácio do Campos das Princesas cede
do governo de Pernambuco. – Quem fez isso aqui é
bastante profissional e usou um silenciador. Por entre
árvores e arbustos ninguém notou nada de estranho.
Já viu isso aqui?

O policial mostra ao delegado Paulo Artur um recado


que o assassino deixara escrito sobre o pacote rasgado
no chão, utilizando diabolicamente o sangue do
analisador como tinta. O recado dizia:

“QUERO O QUADRO”

Pedro Rigaud aproximou-se do delegado.

- O homem quer o quadro, delegado. Mas onde está o


quadro?

- Confesso que se soubesse o entregaria só para parar


com estas mortes.

- Acha que ele vai atacar novamente?

- Ele vai matar todo mundo que passar pela frente dele
até conseguir esse maldito quadro.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 53
- O problema é que quem escondeu o quadro morreu.
E agora?

- Ele pode ter deixado uma pista em algum lugar. Ele


sabia que poderia ser assassinado. Edgar Munch era
um homem inteligente, pode ter certeza. Se
procurarmos bem poderemos encontrar uma pista que
nos leve ao quadro. E se chegarmos ao quadro
chegaremos ao assassino porque ele vai fazer de tudo
para tirá-lo de nós.

- Mas, delegado, onde está a pista?

A pista existia e minutos depois uma ligação importante


recebida pelo delegado Paulo Artur estava prestes a
mudar o rumo das investigações.

Encontro na Praça Rio Branco, Marco Zero

O matador havia se dirigido ao Marco Zero do Recife,


ponto de encontro com seu “chefe” como chamava. Na
verdade o “chefe” era uma pessoa que fazia parte do
grupo de ladrões ingleses que estavam tentando
recuperar o quadro. Este “chefe” atuava no Recife,
morava aqui e sabia de tudo.

- Alô! Chefe? Estou aqui no ponto de sempre. O quadro


era...
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 54
- Falso! Eu sei. Não tinha como lhe telefonar antes.

- Eu matei o desgraçado do homem que você contratou


para analisar a obra.

- Por que fez isto?

- Ele estava me cobrando um pagamento e na hora eu


não sei, me descontrolei.

- Bem, por um lado foi bom que acabou ocupando a


polícia com o crime. Olha, por segurança, atravesse de
barco até o outro lado. Vou me encontrar com você
embaixo da Coluna de Cristal.

A Coluna de Cristal é uma obra de Francisco Brennand


com 32 metros de altura e que pode ser vista do Marco
Zero. Para chegar até ela é preciso atravessar de barco
através do Porto. O assassino tomou um pequeno
barco em frente ao Porto e fez a travessia. Minutos
depois seu “chefe” chegou em outro barco. Desceu e o
encontrou.

- Chefe? Você está linda!

O chefe, ou melhor a chefe do assassino da Torre


Malakoff era ninguém menos que Heleonora Rauph.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 55


Um breve histórico de Heleonora

Uma mulher de 62 anos, cabelos grisalhos, alta. Muito


educada e elegante. Acima de qualquer suspeita.
Heleonora fora a principal curadora de diversas
exposições na cidade do Recife e até mesmo no
exterior. Uma apaixonada pela cultura pernambucana,
Heleonora levou ao mundo uma exposição acerca do
Frevo, principal ritmo recifense e um forte marco da
cultura pernambucana. Por trás de toda aquela
simpática senhora, escondia-se uma mulher rancorosa
e envolvida com uma máfia de ladrões de obras de
arte. Heleonora havia participado ativamente de várias
delas, sendo em algumas sócia de Edgar Munch, com
quem tivera um romance no passado.

Ela foi ativada pelo grupo de ladrões ingleses para


ajudar na caça ao quadro holandês roubado. Sua
recompensa: um milhão de euros, assim que o quadro
embarcasse com destino à Inglaterra. Heleonora tratou
de se envolver na investigação, pousando de boa
“garota” para ludibriar o delegado e fazê-lo acreditar
que ela estava realmente disposta a ajudar sem
receber nada em troca. Ilusão.

- As coisas não estão boas. Mas o quadro ainda está


aqui no Recife, isto é certeza.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 56


- Você acha que a garota sabe de algo? Sabe da
localização?

- Ela disse que não. Mas é claro que eu também diria.

- Temos de tentar pegá-la. Ela é nossa única chance.

- Louise está na delegacia e entregou tudo, toda a


história. Não sei se conseguiremos tirá-la de lá.

Enquanto Heleonora debatia com o assassino e


planejavam algo para conseguir pôr as mãos em
Louise, na praça da república o delegado Paulo Artur
recebia uma ligação muito importante. Era o médico
responsável pela necropsia do corpo de Edgar Munch.

- Alô, Delegado?

- Sim, sou eu.

- Resolvi telefonar porque acho que tem algo que o


senhor queira saber.

- Tudo o que possa contribuir é importante, doutor.

- Ao tirarmos as meias da vítima havia um pequeno


pedaço de papel que ela colocou lá. Deve ser uma
pista, ele sabia que estava sendo caçado.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 57
- Um papel? E o que diz?

- Não é uma mensagem muito clara, mas talvez ajude


em algo.

No pequeno papel que Edgar Munch carregara sobre a


sola do sapato estava escrito:

“Sob a guarda da filha de Constança de Hohenstaufen”

Não era uma pista assim tão clara e animadora. Algo


que pudesse resolver o caso e levar o delegado direto
ao quadro roubado. Mas, pelo menos, era uma pista.
Imediatamente ele telefonou para Pedro Rigaud que
estava na delegacia com Louise.

- Pedro? Passe o telefone para Louise, preciso que ela


escute algo.

Louise atende o telefone.

- Oi, delegado!

- Escute, surgiu uma nova informação e talvez você


possa ajudar. O que você entende por “Sob a guarda
da filha de Constança de Hohenstaufen”.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 58


- Onde isto estava? – perguntou Louise.

- Provavelmente é uma pista da localização do quadro.

- Eu ouvi o Munch falar sobre isso alguma vez. Era


parte de um artigo que ele estava escrevendo em
companhia do professor Antônio Suassuna. Não
lembro bem do que se trata, mas talvez o professor
decifre.

O Professor Antônio Suasuna era doutor em direito e


professor da Faculdade de Direito do Recife. Uma das
mais antigas instituições de ensino do Recife, a
faculdade foi fruto da ordem do Imperador Dom Pedro I
no ano de 1827. O prédio é tombado pelo Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.

Quando o delegado Paulo Artur chegou à Faculdade


não foi difícil encontrar o professor Antônio Suassuna
em uma das salas da instituição. O professor, doutor
em direito, era um historiador de altíssimo nível,
sempre preocupado com a historicidade por trás das
construções históricas, sobretudo na cidade do Recife.
Entre uma aula e outra, o professor parou por uns
minutos, foi até a porta e conversou com o delegado
Paulo Artur.

- O senhor é aluno? – perguntou com um sorriso no


rosto, sempre simpático como sempre.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 59


- Ah, não, não. Já passei minha fase de estudos. Sou
delegado da polícia civil.

- Não se para de estudar nunca, meu jovem.

- Nem sou tão jovem assim.

- Para mim você é um bebê. Em que posso lhe ajudar?

- O senhor era amigo do Dr. Edgar Munch, não era?

- Sim, sim. Soube ainda há pouco do que aconteceu.


Mas as notícias não são claras. Há muitas dúvidas.

- Muitas. E uma delas pode ajudar a desvendar o caso.

- Sério? Tão importante assim? – perguntou o


professor, fechando a porta da sala e saindo de vez
para atender ao delegado.

- Seríssimo. – o delegado tira um papel onde havia


anotado a pista que foi encontrada aos pés de Edgar
Munch. Entrega para o professor que lê e sorri.

- Isto aqui pode ajudar em algo?

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 60


- O senhor consegue decifrar?

- Facilmente, delegado. Isso aqui era parte de uma


conversa que eu e o Dr. Munch estávamos tendo.
Vínhamos debatendo há certo tempo sobre esta sua
ideia. O Munch era um homem inteligentíssimo e dado
a criar e recriar certas teorias sobre a história de
algumas edificações aqui no Recife e isto me
interessava bastante. Foi por isso que nos
conhecemos, quando li um artigo seu acerca deste
local que ele descreve no bilhete.

- E que local é este?

- Bem, Constança de Hohenstaufen era uma beata que


foi Rainha de Aragão na Espanha. O Dr. Munch
contrariava a versão dada pelos historiadores locais de
que uma importante construção no Recife tinha seu
nome em homenagem à filha do imperador Dom Pedro
II e afirmava categoricamente que o nome deste
famoso local era sim devido à filha da senhora de
Hohenstaufen, a Santa Isabel de Aragão.

Naquele momento o delegado Paulo Artur entendeu a


mensagem que estava sendo decifrada. A filha de
Constança de Hohenstaufen, Santa Isabel estava
guardando o quadro roubado e isto só o levaria para
um local: o lendário Teatro de Santa Isabel.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 61


Para o Dr. Edgar Munch o Teatro de Santa Isabel tinha
seu nome em homenagem a Santa Isabel de Aragão.
Ele dizia que, se o teatro fosse mesmo em homenagem
à Princesa Isabel, deveria chamar-se de Teatro
Princesa Isabel e diferentemente disso era conhecido
como Santa Isabel. Isto só poderia fazer referência à
Yzabel (forma como era escrita em português
medieval) rainha consorte de Portugal até o ano de
1325, que após sua canonização virou Santa Isabel e
era uma santa muito devotada na época da construção
do teatro de Santa Isabel no Recife.

O Teatro de Santa Isabel

Imponente, bonito e histórico, com arquitetura


neoclássica, foi idealizado por Francisco do Rego
Barros, então presidente da província de Pernambuco
e foi inaugurado em maio de 1850.

O delegado Paulo Artur chegou ao Teatro de Santa


Isabel. Estacionou. Observou aquela gigantesca obra
rosa, que embelezava a cidade do Recife. Durante o
trajeto até o teatro o delegado teve uma ideia e tratou
de executá-la.

- Alô, Pedro?

- Pois não, delegado.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 62


- Leve Louise para o Catamarã e aguarde minhas
instruções. Trate de informar ao máximo de pessoas
que você estará com ela no Catamarã. Eu quero que o
assassino saiba onde ela está e vá atrás dela. E diga a
ela o mais importante. Mas somente a ela: o quadro
está escondido no Teatro de Santa Isabel.

Pedro Rigaud não indagou o delegado sobre sua ideia.


Ele há anos trabalhava com o delegado e sabia que
suas instruções poderiam levar a prisão do assassino.
Seguindo as ordens do delegado, Pedro Rigaud entrou
numa viatura acompanhado de Louise e foi até o
Catamarã aguardar as novas instruções do delegado.

O delegado Paulo Artur percebeu que a porta do lado


esquerdo do Teatro de Santa Isabel estava entreaberta
e entrou. Caminhou por todo o teatro até chegar no
único local possível onde a obra poderia estar: o porão
do teatro. Embaixo do palco. Ele começou a descer
lentamente as escadas por trás do palco que o
levariam até o porão. Acendeu as luzes e iniciou uma
busca. Afastando móveis, procurando por entre
cenários e figurinos, quando sentiu algo encostado em
sua nuca. A ponta de um revólver. Ele parou. Olhou de
soslaio. Ouviu a voz:

- Levante as mãos.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 63


O delegado obedeceu. O dono da voz o revistou e
retirou sua arma da cintura. Ordenou que o delegado
desse alguns passos à frente.

- Você está querendo o quadro, não é? – perguntou o


dono da voz.

- Você sabe onde ele está? – indagou o delegado,


tentando olhar de lado e ver quem era aquele homem
que agora o encurralava com uma arma.

- O Dr. Munch me orientou a matar qualquer pessoa


que tentasse colocar as mãos no quadro.

- O Dr. Munch está morto.

- Mas ele já me pagou pelo serviço e eu não sou de


falhar.

A conversa entre o homem e o delegado não seria


nada amistosa. Próximo dali, Pedro Rigaud já chegava
com Louise no Catamarã.

O Catamarã está localizado no Cais das Cinco Pontas


e lá é possível pegar barcos para passear pelos rios do
Recife ou até mesmo fazer tours para outras
localidades, como Tamandaré, Suape e Ilha de
Itamaracá. O delegado havia escolhido este local para
que Pedro Rigaud levasse Louise pois sabia que seria
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 64
de fácil acesso para o assassino que estava agindo
naquela região e talvez chegasse rapidamente até eles.

- Louise, já sabemos onde está o quadro.

- Onde?

- No Teatro de Santa Isabel. A pista que o Dr. Munch


deixou leva até lá.

- Meus Deus, é claro! É óbvio! Como não pensei nisso


antes? O Dr. Munch visitava sempre que possível o
Teatro de Santa Isabel. Ele era amigo pessoal da
administradora do teatro.

Eloisa agora relembrava todo o apego sentimental que


o Dr. Munch tinha com o Teatro de Santa Isabel.
Qualquer peça de teatro ou recital era motivo para levá-
lo ao local. E também eram inúmeras as vezes que o
Dr. Munch parava seu carro, ia até o teatro e voltava
após alguns minutos.

Próximo dali, ainda no Recife Antigo, o telefone de


Heleonora toca. É um informante:

- Alô! Sou eu. Heleonora. Como? Ela saiu da


delegacia? Está indo para o Catamarã? Ok. Obrigado
pela informação. Está na hora de agir, vamos pegá-la e
acabar com isso.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 65
Heleonora chamou o assassino. Era hora do ataque
final. Estava certa que Louise saberia onde está o
quadro e era verdade. Agora sim, Louise seria uma
excelente vítima. O plano do delegado Paulo Artur
consistia em desviar o foco do assassino até Louise,
pois ele sabia que o assassino tentaria raptá-la e assim
ficaria mais fácil de prendê-lo. Em poucos minutos
Heleonora deixava o assassino no Cais das Cinco
Pontas. Sua última ordem foi:

- Faça o que for preciso, mas arranque a informação


dela! Ela sabe onde está aquele maldito quadro.

O assassino havia entendido bem qual seria sua


missão. Determinado. Passos rápidos. Ele entrou no
Catamarã já com a arma em punho. Suava. Era inglês
e aquele calor do Recife o fazia quase derreter. E
quando calor se junta ao ódio e o sangue corre
fervendo pelas veias, você fica em tempo de explodir.
De longe, Pedro Rigaud percebeu uma correria.
Algumas pessoas que notaram um homem armado
correram derrubando cadeiras. Pedro Rigaud ordenou
que Louise se escondesse em uma lancha que estava
ali aguardando alguns turistas para embarcarem. O
assassino não teve dúvida e atirou em direção a Pedro
Rigaud que se esquivou, mas sua falha iria lhe custar a
vida. Ele tentou revidar com tiros ao assassino. Sua
posição não permitia muito conforto para um bom tiro e
o assassino era um profissional capacitado. Enquanto
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 66
Pedro atirava sem direção. O assassino só precisou de
um tiro. A bala atravessou pelo olho esquerdo de
Pedro. Ele caiu. Sem tempo de pensar. Sem tempo de
agir. Sem tempo para nada. Seu tempo, agora, havia
passado. O telefone dele tocou. Era o delegado
querendo informações sobre sua posição e se algo
estava acontecendo. Enfim, já havia acontecido. O
assassino entrou na lancha, apontou a arma para
Louise.

- Agora, somos eu e você. – disse com sangue nos


olhos. Recolheu a âncora da lancha e zarpou.

No Catamarã as viaturas chegaram com certo atraso.


Pedro Rigaud havia menosprezado um assassino tão
potencial quanto este. Ele devia ter pedido reforços
antes de tudo acontecer. Mas acreditou que sozinho
poderia prender o bandido e salvar a situação. Sair
como herói. É o que os policiais sempre esperam. Na
lancha, uma conversa nada amigável entre Louise e o
assassino:

- Escuta aqui, mulher, eu sei que você sabe onde o


quadro está. Ou fala ou...

- Está bem. Eu falo, eu falo. – Louise não aguentava


mais aquela situação em que havia se metido. – Pelo
Rio Capibaribe você chega até lá. Está no porão do
Teatro de Santa Isabel.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 67


O assassino olhou para frente tentando visualizar como
faria para chegar ao teatro. Buscou um mapa em seu
bolso. Enquanto lia, Louise se atirou na água. O
assassino deu alguns tiros tentando acertá-la mas
seguiu em frente sem voltar. Ele sabia que toda a
polícia poderia estar atrás dele e ele deveria agir mais
rápido que todos. Enquanto pilotava a lancha telefonou
para Heleonora.

- Fim de papo, Heleonora, como vocês dizem aqui no


Brasil. O quadro está no porão do Teatro de Santa
Isabel.

- Ah, que maravilha! Então, o achamos. Eu vou


correndo para lá. E você onde está? No Catamarã
ainda?

- As coisas saíram um pouco de controle. Estou numa


lancha bem no meio do Rio. Por aqui devo chegar
depressa no teatro. Preciso que tudo esteja pronto: o
helicóptero para me resgatar e levar-me até a pista
clandestina no interior e o avião.

Havia todo um planejamento pronto para quando o


assassino colocasse as mãos no quadro. Ladrões de
obras de arte não são amadores. Quando pegasse o
quadro, um helicóptero seria acionado e o levaria para
uma, entre tantas, pistas irregulares no interior do
estado. Lá, um avião o aguardava para decolar em
direção à Colômbia e de lá ele seguiria sem maiores
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 68
problemas com um passaporte falso até o país de
destino, levando o quadro roubado consigo.

Ele chegou próximo ao Teatro de Santa Isabel e pulou


da lancha, ainda ligada. Ligou o acelerador e a lancha
seguiu seu caminho. Isso serviria para despistar a
polícia. A lancha seguiu acelerando sozinha até bater e
explodir próximo a uns 2 quilômetros dali.

O assassino chegou ao Teatro de Santa Isabel e entrou


pela mesma porta que o delegado Paulo Artur havia
entrado. Com passos largos, arma em punho e com
pressa, o assassino procurou por algum tempo, até
encontrar o porão do teatro e iniciou a descida da
escada. Notou a luz acesa e viu um corpo caído no
chão. Muito sangue escorria pelo porão. O assassino
se pôs na defensiva. Algo estava errado. O homem
tinha em suas mãos uma caixa da madeira, totalmente
lacrada, só poderia ser o quadro. Por um instante
desconfiou. Não entendeu como o homem poderia ter
sido morto e o assassino ter deixado ali um quadro tão
valioso. Talvez a pessoa que matara aquele homem
não sabia o valor do que estava dentro daquela caixa.
Eram perguntas que àquela altura ele gostaria que
fossem respondidas mas não havia tempo hábil, era
preciso pegar o quadro e fugir.

Enquanto o assassino se certificava de que aquele era


mesmo o quadro, abrindo a caixa, Heleonora Rauph

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 69


aparece no porão. O assassino retira a obra da caixa e
a entrega a Heleonora. Ela sorri.

- É ele. É ele! É o quadro de Van Gogh.

- Então, fim de papo, fim de linha, fim de conversa.


Coloque o quadro dentro da caixa e vamos dar o fora
daqui.

Heleonora guardou o quadro e o entregou para o


assassino. Era hora do plano de fuga começar a
funcionar. Ele correu com a caixa contendo o quadro
para a parte de fora do teatro, disparou um sinalizador
e em poucos instantes um helicóptero que já rondava a
região pousou para busca-lo. Dali até o aeroporto
clandestino no interior do estado seriam alguns minutos
de viagem.

Heleonora respirou aliviada. Observou mais uma vez o


corpo caído no chão. Passou por ele. Foi até a frente
do teatro, viu enquanto o helicóptero levando o
assassino e o quadro se distanciava. Tirou da bolsa
uma carteira de cigarro, acendeu, fumou sossegada,
seu plano enfim havia funcionado. Por alguns instantes
fez planos mirabolantes de como iria gastar todo
aquele dinheiro que ganharia. Enfim, a riqueza
absoluta. Heleonora posava de uma pessoa muito bem
de vida mas estava falida. Os débitos cada vez maiores
a levavam para uma crise sem saídas. Iria perder tudo,
casa, carros, amigos. Ninguém na alta sociedade
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 70
Recifense quer ser amigo de pessoas falidas. Assim
era no mundo, assim era no Brasil, assim era no Recife
também. Seus planos de gastar todo aquele dinheiro
foram cruelmente interrompidos quando ela ouviu a voz
do delegado Paulo Artur que vinha de trás e apontava
para ela uma pistola automática pronta para disparar
qualquer que fossem os passos que ela desse.

- Então, você estava por trás disso tudo? – perguntou o


delegado segurando a arma.

Heleonora parece não ter se assustado com a arma,


continuou fumando. Olhou o horizonte.

- E quem não estaria? Era muito dinheiro, delegado


Paulo Artur.

Paulo Artur se surpreendeu com a calma da cúmplice.

- Você pode ser presa.

- Por qual motivo? Quais as provas que a polícia tem


contra mim? Eu não fiz nada, delegado. Não apertei um
gatilho, não planejei tudo isso, eu só fui uma
informante. Quantos dias eu vou passar na cadeia por
causa disto?

Heleonora falou com bastante vigor. Ela tinha razão. O


delegado pensou, baixou a arma. Pediu um cigarro.
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 71
Ambos se encostaram nas colunas na entrada do
teatro. Ficaram ali, fumando por alguns instantes. O
delegado estava pensativo como se soubesse de algo
que poderia mudar toda aquela situação. Deixou um
sorriso escapar enquanto fumava. Heleonora se
despediu.

- Olha, delegado, quando eu receber meu pagamento,


eu lhe mando uns vinte mil reais, para o senhor fingir
que nada aconteceu, ok?

O delegado mais uma vez sorriu. Agradeceu.

- Estarei aguardando o dinheiro. – falou, ainda


fumando.

Heleonora entrou em seu carro e partiu. A esta altura


as viaturas da polícia já encostavam no Teatro de
Santa Isabel. Muitos policiais e em seguida a imprensa.
O delegado Paulo Artur solicitou a presença de outro
delegado, estava cansado demais para comandar este
fim de investigação. Havia virado a noite atrás de
assassino e pistas. Um policial se aproximou dele e
perguntou:

- O que aconteceu, delegado?

- Acabou! O assassino matou o zelador do teatro e se


mandou com a obra. Não vão conseguir pegá-lo. Pode
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 72
acionar a polícia federal, mas não vai dar tempo. Em
poucos instantes ele estará voando em direção a outro
país.

Paulo Artur deu mais alguns depoimentos, conversou


um pouco com os colegas de polícia. Entrou em sua
viatura e foi embora. Enquanto dirigia, sorria, sorria
muito. Ele sabia que a história não era aquela que ele
estava contando e que o destino havia lhe reservado
um grande futuro.

Minutos antes de o assassino chegar ao porão do


teatro

- O Dr. Munch me orientou a matar qualquer pessoa


que tentasse colocar as mãos no quadro. – falou o
homem apontando a arma para a cabeça do delegado.

- O Dr. Munch está morto.

- Mas ele já me pagou pelo serviço e eu não sou de


falhar.

- Pagou muito dinheiro?

- Cinquenta mil reais.

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 73


- E por cinquenta mil você vai matar um delegado de
polícia? Vai passar o resto da vida na cadeia.

O homem desconfiou. Fez silêncio e raciocinou.

- Você é delegado mesmo?

- Pegue aqui no bolso minha carteira e você verá.

O homem, que era o zelador do Teatro de Santa Isabel,


continuou segurando a arma com sua mão direita e
com a esquerda tentou pôr a mão no bolso do
delegado para retirar sua carteira. Quando tentou puxar
a carteira do bolso do delegado, este o surpreendeu
girando rapidamente e arrancando a arma de sua mão.
Quando o zelador tentou recuperar a arma o delegado
atirou no peito do homem que caiu sussurrando no
chão. O delegado trazia consigo um pacote. Ele voltou
a procurar o quadro roubado. Encontrou uma caixa de
madeira, com as inscrições “E.M” que só poderia
significar Edgar Munch. Pegou a caixa, abriu e viu que
se tratava do quadro. Retirou o quadro roubado. Abriu
o pacote que trazia consigo. Era o quadro falsificado
que havia ficado em poder da polícia. Ele colocou o
quadro falsificado dentro da caixa de madeira. Depois
tratou de colocar a caixa nas mãos do zelador para
montar uma cena de crime. Ele sabia que, quando o
assassino chegasse, teria certeza de que dentro
daquela caixa estaria o quadro original, pois o quadro
falsificado já havia sido apreendido pelas autoridades
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 74
policiais. Depois, foi somente guardar o quadro original
dentro do antigo pacote, correr para o carro, colocar o
quadro na mala e aguardar o desenrolar dos
acontecimentos.

O plano do delegado Paulo Artur havia funcionado. O


assassino levou o quadro falsificado na caixa,
pensando se tratar da obra original de Van Gogh. Até
mesmo Heleonora acreditava que tudo havia saído
como ela queria. A polícia jamais desconfiou que o
zelador fora assassinado pelo delegado, que o matou
com um tiro no peito, igual ao assassino fazia. Este
crime também foi creditado ao matador.

O delegado estava agora em seu carro com um quadro


que valia milhões de euros e com uma ferramenta
importante para conseguir vendê-lo. Sob seu poder
estavam todas as anotações do Padre Heitor Amaro
que levavam a diversos compradores bilionários que
poderiam adquirir a obra roubada. Era a oportunidade
ideal que Paulo Artur sempre quis. Por vezes ele foi
aliciado para participar de alguma falcatrua na polícia
mas nunca quis se envolver com a ilegalidade. Ele
pensava que se fosse para sujar a mão com algo
podre, deveria ser por algo que realmente valesse a
pena. E aquela era uma oportunidade de ouro.

Alguns meses depois do crime na Torre Malakoff a


polícia ainda investigava e sem sucesso a onda de
crimes que havia assolado o Recife naquela semana
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 75
pré-carnavalesca. O delegado Paulo Artur conseguiu
uma venda excepcional para o quadro. Nove milhões e
meio de euros pela obra de Van Gogh. Ele montou sua
própria comissão de venda e fechou com sucesso a
negociação. Depois de fazer a lavagem do dinheiro,
nada difícil num país de corruptos, ele se desligou da
polícia e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde seria
um ilustre desconhecido. Para sua esposa ele disse
que ganhou na mega sena.

Heleonora Rauph teve um fim triste e cruel. Ela


recebeu uma encomenda que dizia “pagamento”. Ficou
feliz pois pensava que seria o seu um milhão de euros
a que teria direito por ter contribuído diretamente com o
sucesso do roubo do quadro. Quando abriu o pacote,
não teve nem tempo de pensar. Uma forte explosão fez
sua cabeça voar pelos ares.

Recife tinha vivido dias de cão. Esta cidade agitada e


calorosa havia dividido suas belezas com a avidez de
um cruel e determinado assassino. Estes crimes se
misturaram a outros nas páginas dos jornais. A cidade
de encantos mil e de tanta magnitude também pode ser
palco do que há de mais cruel no ser humano, onde
ganância e a busca insaciável pelo dinheiro se
misturam. Às vezes o trânsito intenso e o inferno de um
dia de chuva, esconde uma cidade bela que continua
ali para ser descoberta por seus habitantes e pelas
pessoas que venham visitá-la. Seja para passear ou a
trabalho, não deixe de ver a beleza por trás das nuvens
de fumaça, daquele trânsito barulhento e daquelas
O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 76
pessoas que te olham com cara de mau. Assim como a
cidade, as pessoas também sofrem com todos estes
vetores que influenciam nossa vida.

Cidade de poetas, de artistas, com intensa


movimentação nas artes dramáticas, de uma vocação
nata para o carnaval, capital internacional do frevo e de
tantos ritmos, o Recife é o portal da felicidade, sempre
disposto a lhe receber de braços abertos. A alegria
contagiante pode dar por alguns instantes, espaço para
um ligeiro sentimento de estar sendo consumido pela
cidade, afinal é como dizia Chico Science “a cidade não
para, a cidade só cresce”, mas ai, você vai passear na
orla de Boa Viagem, vai ao Recife Antigo e toma um
gole de felicidade passeando por pontes e ilhas ou
espera para brincar o carnaval. Ai você esquece
trânsito e violência e pensa: “estou no Recife e aqui,
amigo, é tudo de bom!”

FIM

O Assassino da Torre Malakoff Samuca Luna Pág. 77

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