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Escola de Comunicação
Curso de Comunicação Social
habilitação em Jornalismo
Apostila
2006.1
Jornalismo Internacional
(Sistemas Internacionais de Informação)
ECA470
com monitoria do
Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Índice
Créditos ......................................................................................................... 2
Ementa ......................................................................................................... 3
Objetivos ......................................................................................................... 3
Avaliação ......................................................................................................... 3
Programa ......................................................................................................... 4
Bibliografia ......................................................................................................... 5
Textos auxiliares
“Jornalismo Internacional” – definição da Wikipedia, a enciclopédia livre .................... 6
“O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação” ...... 8
Guy de Almeida
“A Batalha no Mundo” (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) ....................... 12
Clóvis Rossi
“Olhai (direito) pra nós!” (Jornalismo Internacional Alternativo) ................................. 15
J.P. Charleaux
“Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon” (Mídia Conservadora dos EUA) ....................... 20
Joel Conrado
“A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo” ................................... 25
John Hohenberg
“Meio Século de Memórias” (História do Fotojornalismo Internacional) ....................... 39
John Morris
“Os Atacadistas de Notícias” (Agências Internacionais de Notícias) ............................ 43
John Hohenberg
“Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior” ............. 49
Guillermo García Espinosa de Los Monteros
“Do Outro Lado do Mundo” (Trabalho do Correspondente Internacional) .................... 55
Fritz Utzeri
“O Fim de uma Era” (Correspondentes Internacionais da TV Globo) ............................ 62
Antônio Brasil
“Crise na Cobertura Internacional” ......................................................................... 65
Antônio Brasil
“Cobertura Internacional é para gente grande” ....................................................... 67
Cristiana Mesquita
Cobertura Brasileira sobre Guerras ......................................................................... 70
Jayme Brener
“Jornalismo sem Fronteiras” (História da CNN) ....................................................... 72
Sidney Pike
“Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico” ............. 79
José Rodrigues dos Santos
“A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional” .................................................. 83
Alan Knight
Apêndices de Referência
Editorias Brasileiras de Internacional 89
Agências Internacionais (telefones/contatos das que atuam no Brasil) 90
Websites de Veículos da Mídia Estrangeira (Jornais, Revistas, Rádios e TVs) 91
Correspondentes Brasileiros no Exterior 98
Correspondentes Estrangeiros no Brasil 99
Sedes de Estado e de Governo de Alguns Países 101
Parlamentos de Alguns Países 102
Outros websites úteis 103
Cronologia da Formação da Mídia Internacional (Veículos e Agências) 104
Fatos marcantes na pauta de Internacional no semestre anterior 105
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Créditos
Docente
Prof. Dr. Mohamed ElHajji
Monitores
Camila Nóbrega
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas
Editoração da Apostila
Anna Virginia Balloussier Ancora da Luz
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas
Projeto Gráfico
Pedro Aguiar
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Ementa
O jornalismo como intérprete das questões globais. O discurso jornalístico sobre fatos
internacionais. Distanciamento e identificação. O noticiário de política internacional.
Agências de notícias, correspondência internacional e correspondência de guerra.
Pauta, apuração, redação e edição em Jornalismo Internacional.
Objetivos
1. Apresentar as questões globais, antigas e contemporâneas, como objeto do
trabalho jornalístico. Discutir em que medida essas questões traduzem e/ou afetam
nossa realidade.
2. Introduzir os principais elementos, aspectos e personagens da política
internacional, discutindo os papéis que efetivamente têm e a sua representação
cotidiana no noticiário.
3. Apresentar a prática do Jornalismo Internacional; as funções, os locais e as
possibilidades de trabalho nesta área. Se possível, realizar visitas aos locais onde se
exerce.
4. Debater temas contemporâneos da geopolítica e da política internacional, a partir
de exemplos da mídia.
Avaliação
1. Seminário (em grupo)
O grupo, com até 5 pessoas, deverá escolher um dos temas pré-definidos e
pesquisar como os veículos jornalísticos tratam do assunto em suas coberturas e
matérias, sempre trazendo exemplos de mídia (recortes de jornais ou revistas,
gravações de TV ou rádio, websites impressos etc.) para ilustrar e embasar suas
conclusões.
• apresentação oral
• relatório escrito
2. Reportagem e/ou ensaio sobre determinada questão de noticiário internacional
(individual)
O aluno deverá escolher um tema atual de política internacional (ou outros temas
internacionais), de preferência não destacado pela mídia, e redigir uma matéria
de cerca de uma lauda (ou 3.000 caracteres, corpo 12, espaçamento simples),
em linguagem jornalística, utilizando fontes alternativas para a apuração (como
as sugeridas no final da apostila). Poderá também fazer um texto ensaístico sobre
a questão abordada.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Programa
1. Jornalismo e Questões Globais
1.1. Definição e Gênese. Jornalismo Internacional como produto do industrialismo do
século XIX. Primeiras coberturas de guerra (Criméia, Secessão, guerras
imperialistas, Primeira Guerra Mundial).
1.2. O Discurso da Mídia e os Fatos Internacionais. A visão de mundo que a mídia
transmite. O etnocentrismo na imprensa estrangeira. Fluxo de informação.
1.3. Teorias da Globalização e suas influências no Discurso Midiático (Fukuyama,
Huntington, Negri, etc.).
1.4. Hegemonia e Alteridade. O olhar do outro anulado pela mídia hegemônica.
Distanciamento x Identificação: o regional interessa mais que o estrangeiro?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Bibliografia básica
BARBER, Benjamin. “Jihad x McMundo”, Rio de Janeiro, Record, 2003
CEPIK, Marco & MARTINS, José Miguel. “Política Internacional”, Belo Horizonte: Newton
Paiva, 2004.
HUNTINGTON, Samuel. “Choque de Civilizações”, Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
NATALI, João Batista. “Jornalismo Internacional”, São Paulo, Contexto, 2004
NEGRI, Antonio & HARDT, Michael. “Império”, Record, 2001
PEREIRA, Marcelle Santana Gonçalves. “Os Últimos Românticos: sobre
correspondentes da imprensa brasileira no exterior”, Monografia de conclusão de
curso, Niterói, IACS, 2001
ROSSI, Clovis. “Enviado Especial: 25 anos ao redor do mundo”, São Paulo, Senac,
1999
TODD, Emmanuel. “Depois do Império”. Rio de Janeiro: Record, 2003
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Jornalismo Internacional
Verbete da Wikipedia, a Enciclopédia Livre, 2005
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_Internacional)
O QUE É A WIKIPEDIA
A Wikipedia é uma enciclopédia online de conteúdo livre, o que significa que qualquer usuário
pode editar os verbetes, alterando o que quiser, sem nenhum tipo de controle ou censura.
Isso também significa, por outro lado, que pode haver erros ou opiniões e ideologias
embutidos nos textos e, nestes casos, a redação final fica a cargo do senso-comum.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto I
O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação
e da Comunicação
Guy de Almeida, 1980
MacBride. Ela esteve formada por 16 por isso, à conciliação de posições para a
especialistas de prestígio mundial1, oriundos obtenção do consenso.
de diferentes nacionalidades e representati- O principal objetivo do documento parece, no
vos, em linhas gerais, das situações e entanto, ter sido razoavelmente atingido, como
tendências políticas e econômicas, mais em evidencia a própria controvérsia que suscitou:
evidência do mundo de hoje. detectar e descrever os problemas essenciais
O seu Relatório final, aprovado por consenso relacionados com a estruturação da Nova
pela XXI Conferência Geral da UNESCO Ordem Mundial da Informação e da
(Belgrado, 1980), apontou uma série de Comunicação e a partir daí apresentar
problemas básicos da área de Comunicação, alternativas para os mesmos.
particularizando também em três capítulos Torna-se, assim, pelo menos um instrumento
especiais, aqueles que afetam a atividade do de estímulo a um debate mais ordenado e
jornalista: "Os profissionais da comunicação", conseqüente que deve promover novos níveis
"Direitos e responsabilidades dos jornalistas" e de consciência quanto ao tema e à viabilização
"Normas de conduta profissional". de fórmulas para a superação dos problemas já
Seu exame, ainda que superficial, mostrará, até conhecidos.
mesmo por uma pragmática consciência em Nesse quadro, alguns aspectos em debate que
relação à influência que terá para a interessam diretamente aos jornalistas
estruturação da profissão no futuro, que o profissionais são, por exemplo, sinteticamente:
jornalista profissional deverá estar pelo menos
atento ao desenvolvimento do debate e 1. O estabelecimento de Políticas Nacionais de
posicionado para influir expressando a sua Comunicação, envolvendo um conceito de
opinião. desenvolvimento global e integrado. A
implantação de novos mecanismos internos e
Quase todos os aspectos abordados pela externos de informação no país deverá ter,
Comissão MacBride têm sido objeto de além de sua importância como instrumento
preocupação intermitente ou permanente dos para o desenvolvimento econômico e social,
setores representativos da categoria um peso específico na valorização profissional
profissional em todo o mundo ao longo dos e na dinâmica do mercado de trabalho.
últimos anos. Pela primeira vez, no entanto,
eles surgem apresentados e analisados em 2. A multiplicação das profissões requeridas
conjunto, enriquecidos, portanto, pelas no mercado de comunicação em conseqüência
vantagens de uma visão global e articulada, da revolução tecnológica (satélites, laser,
apesar de várias limitações observadas devido computadores, etc.) superando o sentido
ao próprio ecletismo da composição da tradicional de transferência da informação, que
Comissão e dos interesses nacionais envolvia basicamente os jornalistas
envolvidos no debate na UNESCO, levada, (repórteres, redatores, pessoal da radiodifusão,
televisão, etc.). O surgimento de diferentes
atividades profissionais na área e a sua
1 articulação para o exame de problemas
Os 16 membros da Comissão foram, além do irlandês comuns são elementos importantes para as
Sean MacBride, seu presidente: Elie Abel (Estados
Unidos). Humbert Beuve-Méry (França), Elebe Ma
relações internas nas novas estruturas de
Ekonzo (Zaire), Gabriel García Márquez (Colômbia), trabalho em elaboração.
Sergei Losev (União Soviética), Mochtar Lubis
(lndonésia), Mustapha Masmoudi (Tunísia), Michio
3. O impacto da nova tecnologia sabre o atual
Nagai (Japão). Fred Isaac Akporuaro Omu (Nigéria), mercado de trabalho e particularmente sobre o
Bogdan Osolnik (Iugoslávia), Gamal El Oteifi (Egito), exercício profissional, problema que deverá
Johannes Pieter Pronk (Países Baixos), Juan Somavia atingir de maneira objetiva o Brasil,
(Chile). Boobli George Verghese (Índia) e Betty proximamente, como já ocorreu na região
Zimmerman (Canadá).
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
da informação. Isto é: tem-se observado em meio de comunicação seja sob o ponto de vista
todo o mundo um crescente exercício crítico da empresa, seja sob o ponto de vista do
do profissional ante o caráter da empresa jornalista profissional.
jornalística pública ou privada e o seu Estes dados preliminares são importantes para
predomínio político e/ou econômico sobre a que o jornalista profissional possa entender
criatividade, a responsabilidade informativa e com mais clareza a relevância das informações
o sentido ético do profissional. Mas apenas que se seguem sobre os esforços realizados
começa o exame do papel do receptor de para o desenvolvimento do debate em torno do
informação (leitor, radioouvinte ou estabelecimento da Nova Ordem Mundial da
telespectador) no processo de produção do Informação e da Comunicação.
Referência bibliográfica
FENAJ, “O Jornalista e a Luta por uma Nova Ordem Mundial da Informação e
Comunicação”, Série Documentos da FENAJ, vol.III, Brasília: FENAJ, 1983, págs.6-16
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• O texto é do início dos anos 1980. Desde então, a situação do fluxo mundial de
informações alterou-se significativamente?
• Que tipos de iniciativas ajudariam a equilibrar (ou até reverter) o fluxo de mundial
de informações?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto II
A Batalha no Mundo
(Fluxo de Informação e Pauta de Internacional)
Clóvis Rossi, 1980
Talvez seja no noticiário internacional — ou, Uma pesquisa feita com jornais mineiros, o
mais precisamente, no controle do fluxo Jornal do Brasil, do Rio, e O Estado de São
internacional de informações — que mais Paulo mostra resultados absolutamente
fique evidente o quanto o jornalismo é uma estarrecedores, embora de conhecimento geral
batalha pela conquista de mentes e corações. no meio jornalístico: no período de uma
Como funciona esse mecanismo? A resposta semana, o noticiário internacional de O Estado
mais ilustrativa pode ser encontrada numa foi preenchido, em 55,8%, com material
publicação mensal brasileira, dirigida fornecido pelas grandes agências citadas. Mais
essencialmente a homens de negócio, a revista 9,4% ficou com reproduções de jornais
Banas, que assinalava em seu número de estrangeiros (The New York Times, The
março de 1980: Washington Star etc.). Somem-se outros 4,8%
de outras fontes externas e verifica-se que o
“Como os países industrializados controlam
jornal paulista preencheu apenas 30% de sua
inclusive os meios de comunicação, e como os
informação internacional com material de seus
centros de produção agrícola ou mineral, na
próprios jornalistas ou colaboradores. No caso
maioria dos casos, não dispõem de estruturas
do Jornal do Brasil, os números são apenas
culturais, empresariais e noticiosas
ligeiramente melhores: 42,5% de seu espaço
fortalecidas, até as informações sobre
internacional era preenchido por fontes
mercados, os boatos e a barragem de notícias
próprias.
forjadas desencorajam uma eficiente defesa de
interesses dos produtores de matérias-primas, E, quando a pesquisa se estende à imprensa
porque a sua imprensa local funciona como regional, a situação se agrava
satélite do mercado noticioso do exterior.” consideravelmente: os jornais de Belo
Horizonte, a terceira cidade do país, ocuparam
Não é uma constatação vazia: os países
93,6% de seu espaço com notícias fornecidas
desenvolvidos controlam praticamente o
por apenas três agências internacionais: a AFP,
circuito mundial de notícias, através de cinco
a AP e a UPI.
agências, editam 83% dos livros publicados no
mundo, controlam as dez maiores agências de Esses números são reveladores e devem ser
publicidade do mundo (sete são norte- entendidos no seu contexto político: quase
americanas e três têm participação majoritária todas as agências mencionadas têm vínculos,
de capital norte-americano), produzem e diretos ou indiretos, com os governos de seus
exportam 77% de filmes para cinema — e respectivos países e refletem, na maioria das
assim por diante. As cinco agências que ditam vezes, posições ou interesses deles — posições
os rumos do noticiário internacional são a e interesses que raramente coincidem com os
francesa Agence France Presse (AFP), as dos países em vias de desenvolvimento.
norte-americanas United Press International A rede das grandes agências internacionais de
(UPI) e Associated Press (AP), a inglesa notícias é tentacular: elas estão presentes na
Reuters, a italiana ANSA e a alemã DPA, às grande maioria dos países do mundo e vendem
quais se poderia acrescentar a espanhola EFE, seus serviços, da mesma forma, para quase
além de algumas menores, mas igualmente todos eles. Vejamos alguns números
baseadas nos países desenvolvidos. ilustrativos: a Associated Press, com sede
central em Nova York, tem 8.500 assinantes
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
em mais de cem países; a Reuters, britânica, jornalismo, qual seja a de que o que acontece
está estabelecida em 69 países e vende seu perto de minha casa é mais importante do que
material para 6.500 clientes (dos quais 4.700 o que acontece a quilômetros e quilômetros de
são jornais); a France Presse, com suas 92 distância.
sucursais no Exterior, atinge 12.400 Ora, o “perto de minha casa”, para o Brasil, é a
assinantes. O resultado dessa extensão das América Latina, gostemos ou não. Por
redes das grandes agências é o seu domínio fatalidade geográfica, o Brasil fica na América
quase absoluto do mercado: um estudo Latina e não pode escapar dessa fatalidade.
realizado em 1967 demonstrou que quase 80% Não se trata, portanto, de uma questão
das notícias do Exterior divulgadas na ideológica. Basta atentar para o seguinte: ao se
América Latina foram distribuídas tão- iniciar a década de 90, vários países latino-
somente por duas agências, ambas norte- americanos decidiram seguir uma política
americanas, a UPI e a AP. econômica parecida, assentada na liberalização
O problema não é apenas de volume: esse da economia e na sua abertura ao mundo, entre
virtual monopólio confere às notícias várias outras semelhanças. É natural que
divulgadas pelas agências um tal peso, interesse ao leitor brasileiro saber como vai
inclusive no interior de cada redação indo a experiência de cada um dos países
brasileira, que elas se sobrepõem às notícias vizinhos ou próximos, até para poder perceber
produzidas por fontes próprias das publicações o que pode eventualmente acontecer de
brasileiras. parecido no seu próprio país.
(...) É pouco provável que as agências
internacionais, cujas atenções estão
Se o papel das agências internacionais é tão
concentradas no mundo desenvolvido, dêem
poderoso, no mundo todo, no caso específico
conta adequadamente desse tipo de cobertura.
da América Latina — subcontinente que
Logo, acompanhar melhor a América Latina
deveria nos interessar mais de perto, pela
não é um problema de combater uma suposta
proximidade e semelhança de problemas — a
“informação imperialista” mas um problema
questão se torna ainda mais grave: a grande
simples de saber, mais depressa e com mais
maioria das publicações brasileiras parece
profundidade, o que está acontecendo “perto
pautar seu enfoque, em assuntos
da minha casa”.
internacionais, por aquilo que interessa a The
New York Times ou Le Monde, e não pelos É óbvio que o ideal seria que cada veículo
interesses nacionais brasileiros. Essa dispusesse de um correspondente em cada
deformação se torna evidente pela simples capital relativamente importante do mundo,
conferência do número de correspondente que mas, quando não se acompanha diretamente o
as publicações brasileiras têm na Europa que acontece na esquina de casa, fica difícil
Ocidental e nos Estados Unidos, de um lado, e entender uma cobertura tão ampla em pontos
na América Latina, de outro. tão distantes.
Em 1990, havia apenas cinco correspondentes A atenção ao que ocorre nas vizinhanças,
de meios de comunicação brasileiros na entretanto, não pode impedir que o jornalismo
América Latina: da Folha, Estado, Globo, brasileiro olhe cada vez mais para o mundo
Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, todos todo. Hoje, a globalização da economia é
baseados em Buenos Aires. Nenhuma tamanha, as telecomunicações tornaram o
emissora brasileira de televisão tem mundo tão “pequeno”, que tudo, a rigor,
correspondentes na América Latina. passou a ser doméstico, de alguma maneira.
Esse é um território em que se viola uma das (...)
primeiras lições que se aprende no primeiro
ano de qualquer faculdade razoável de
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Não se inventou ainda nada que substitua a Esse fato implica maiores desafios para o
visão peculiar de cada país sobre os jornalista. Se já é difícil e complicado entender
acontecimentos mundiais. Um brasileiro o Brasil, mais difícil e complicado é entender
certamente olhará a Espanha, digamos, de uma outros países. Mas é igualmente inevitável.
maneira que um espanhol não consegue ou um
americano tampouco.
Referência bibliográfica
ROSSI, Clóvis. “O que é jornalismo”, São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros
Passos), 2000, 10ª edição, págs.78-87
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• Credibilidade das agências é reforçada por questão da proximidade: “eles estão lá;
nós não” e “se o mundo todo deu, por que nós não?”. Isso é mito?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto III
Olhai (direito) pra nós!
(Jornalismo Internacional Alternativo)
João Paulo Charleaux, 2001
Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos o Brasil aparece mal na mídia internacional”,
agricultores, seringueiros, líderes diz o historiador e jornalista brasileiro José
comunitários, sindicalistas e sem-teto. A quem Luiz Del Roio, da Radio Popolare de Milão,
interessa tratar desses temas com seriedade? na Itália. Ele lembra que o caso mais recente
Quem consegue olhar com lupa os países do foi o da comemoração dos 500 anos, “a polícia
Terceiro Mundo? As grandes agências batendo em índios foi uma coisa fortíssima e é
internacionais dizem que não, o assunto não é claro que isso rendeu muita notícia ruim na
com elas. Reuters, France Presse e companhia Europa”. A radio italiana onde trabalha Del
já provaram ter as antenas conectadas com Roio conta com correspondentes fixos em
pautas grandes, manchetes fortes e assuntos Paris, Londres, Berlim, Nova Iorque e Cairo,
nem sempre edificantes para os países pobres. que produzem uma cobertura alternativa às
Isso se deve à natureza de seu trabalho, seu grandes empresas.
público alvo e seus interesses. No Brasil, a colunista da Folha de S. Paulo
Há ainda muitos que se dispõem a cobrir o Eliane Catanhêde engrossa o coro de críticas à
Brasil apostando na fórmula folclórica da cobertura das grandes agências e não usa
"desgraça social/futebol/carnaval", ou nas meias palavras para avaliar o trabalho dos
notícias econômicas de interesse para o jornais estrangeiros na cobertura de “Brasil”.
investidor estrangeiro. Mas, em ambos os “Quando morei quase um ano na Itália, em
casos, falta espaço para histórias humanas e 1991, a imprensa européia praticamente só
situações nem sempre decifráveis à primeira publicava o lado exótico ou cruel do Brasil:
vista forasteira. Assuntos que não abalam mulatas, bundas, violência, menor abando-
cúpulas de governo nem derrubam bolsas de nado, descaso com a Amazônia. E isso era em
valores, mas são fundamentais na vida de pleno governo Collor, com a política pegando
milhões de pessoas. São histórias que precisam fogo, a economia girando, a abertura come-
ser vistas de perto, com vagar e atenção; çando. Nada do que era sério interessava”.
adjetivos nem sempre compatíveis com o Por outro lado, o colunista Clóvis Rossi,
ritmo de trabalho das grandes redações ao colega de Catanhêde na Folha de S. Paulo, diz
redor do mundo. que em geral “discorda de generalizações, que
É nesse espaço que se encaixam as agências empobrecem a análise”. Ele acha difícil
cidadãs. Ligadas a ONGs internacionais, concordar com a tese de que o Brasil é mal
fundações beneficentes, associações e tratado pela mídia internacional sem uma
confederações de todo tipo, elas garantem observação mais profunda do assunto. “Seria
estar chegando ao mercado com capacidade e preciso examinar caso a caso, o que é trabalho
disposição para encarar a realidade com um para pesquisadores, não para jornalistas”.
"enfoque social". Elas esperam acabar de vez
com estigma de que países pobres só entram
na editoria internacional pela porta dos fundos. Um periscópio para cobertura internacional
Apesar de ninguém conhecer nenhuma grande
pesquisa ou grande censo sobre o assunto, há
“Seja mal-vindo” um lugar que pode servir de termômetro
“Seria preciso uma pesquisa profunda, mas eu importante nessa questão. No endereço
me arriscaria a dizer que em 70% das notícias, www.globalpress.com.br é colocada
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
diariamente a coletânea das reportagens e precisa ser ocupado.” Ele sabe que o trabalho
artigos sobre o Brasil ao redor do mundo. A da France Presse e das agências cidadãs não
responsável pelo trabalho é a jornalista Anna são concorrentes, mas podem ser
Lúcia Carneiro, que já trabalhou para a complementares.
agência americana UPI (United Press Gamboa avalia que o tratamento dado ao
International) e para a alemã, DPA (Deutsche Brasil e a outros países subdesenvolvidos está
Press-Agentur). Ela diz que "em economia, as melhorando. “Acontecimentos como o caso
reportagens têm sido mais sérias, Collor ajudaram muito a atrair atenções e
principalmente depois da crise das bolsas e da melhorar o nível da cobertura.”. A sensação de
recuperação. Outro assunto que dá boas que o Brasil é visto de forma folclórica pelas
notícias é a música brasileira, eles grandes agências é normal em sua opinião,
acompanham muito bem e muitas vezes afinal, “dói muito mais quando falam da gente
melhor que nós mesmos." e não do país vizinho”. O jornalista argentino
A dose de exagero tem ficado por conta da pode estar certo com relação à cobertura da
cobertura dada ao MST (Movimento Sem- France Presse, mas, em outros casos, o vizinho
Terra). Anna observa que as publicações diz sofrer de dor no mesmo calo.
acabam muitas vezes carregando nas cores Os países que falam a língua portuguesa são
com que pintam esse quadro. O mais um bom exemplo. No Brasil, pouco ou nada se
exagerado dos jornais estrangeiros, nesse caso, sabe sobre o que acontece em Angola, Cabo
é o The Guardian, da Inglaterra. “Eles dizem Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé
coisas como ‘é imprevisível, tudo pode e Príncipe, Timor-Leste, ou mesmo Portugal.
acontecer no Brasil, com esse movimento dos “Ninguém aqui sabe o que está acontecendo
sem-terra”. em lugares de infinitas semelhanças com o
Essas e outras notícias “curiosas” poderão em Brasil”, diz o jornalista Jorge Manuel Rama-
breve ser pesquisadas com maior exatidão no lho, que nasceu em Portugal, viveu 30 anos em
site da Global Press. A empresa ensaia uma Angola e está no Brasil há 20. “Os jornais
parceria com a E-Clipping, produtora de brasileiros não falam dos países da CPLP
clippings direcionados a empresas a partir da (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)
observação dos jornais brasileiros. A página, e não é porque não há notícias”, diz Ramalho
que já conta com uma média de cinco mil que chegou a protagonizar uma experiência
acessos diários, deverá receber ainda mais quase quixotesca com A Gazeta de Angola,
visitas depois que tiver implantado seu sistema que circulou no Rio de Janeiro entre 1991-92.
de busca por palavras-chaves. Por um ano o jornalista tentou colocar o país
na pauta do dia dos brasileiros com essa
pequena publicação. O plano de Ramalho
Um dos outros lados
mostrou-se pretensioso demais, o jornal
De onde olha o jornalista argentino Aldo angolano/brasileiro acabou fechando e o país
Gamboa, no entanto, a visão é diferente. Ele “primo” do Brasil amarga um anonimato
está no Brasil há 12 anos e é correspondente forçado até hoje. Depois da aventura, o
da France Presse no Rio de Janeiro desde jornalista português descobriu que há outros
1997. Na sua redação, as laudas circulam culpados nesse jogo que põe os países pobres
fartas em recheio econômico, esportivo, para escanteio.
político, ecológico e, mais recentemente,
Um dos carrascos nos anseios de Ramalho foi
Mercosul. Gamboa acha que as grandes
o próprio consulado angolano no Brasil. Lá,
agências estão voltadas para grandes assuntos,
ele pôde ver que não existiam releases nem
grandes manchetes e que, por isso, “as
materiais de assessoria voltados para a
agências cidadãs tem um papel importante a
desempenhar num espaço que está aí e que
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
imprensa. “Quem vai querer cavar notícias de reportagens de fôlego, matérias de mais de
Angola se nem o consulado divulga nada?” cinco minutos, coisa rara no radiojornalismo
brasileiro.
No próprio site existe um link para o jornalista
Novos ventos
que quiser trabalhar para a InterWorld. Os
O principal elemento de contraponto nesse correspondentes recebem aproximadamente
cenário é o trabalho das pequenas agências, as R$ 600 por cada reportagem de seis minutos.
chamadas agências cidadãs, ou de enfoque As exigências, no entanto, são rigorosas. Os
social. Um dos fatores importantes na editores cobram qualidade máxima da coleta
viabilização delas é a Internet. A nova mídia de dados até a transmissão da matéria pelo
possibilitou a apuração da notícia e sua computador.
distribuição numa velocidade antes
Outra experiência interessante em noticiário
inimaginável. Além disso, o custo de
internacional com enfoque cidadão via internet
funcionamento de agências menores caiu
é a Agência Pulsar. Desde 1996, mais de 2 mil
muito, substituindo o preço de ligações
assinantes em 53 países contam com material
internacionais e remessas postais para o
dessa agência. A Pulsar tem uma rede de
exterior por chamadas telefônicas locais no
correspondentes em 20 países da América
acesso à rede e envio de e-mails em apenas
Latina, Caribe e Europa. Eles abastecem
alguns segundos.
diariamente a central da Agência, sediada em
Além de representar um barateamento do Quito, no Equador. De lá, esse noticiário é
processo, essas novas tecnologias encurtaram a distribuído aos assinantes através de internet,
distância entre os maus e bons produtos. com texto e som em formato MP3. Através do
Qualquer jornalista de agência do interior mais endereço www.pulsar.org.ec, o leitor assina
longínquo e inacessível pode trabalhar em gratuitamente esse serviço e recebe, em tempo
condições técnicas semelhantes aos das real, boletins diários, análises, comentários,
grandes empresas de comunicação, desde que resumos semanais e reportagens em texto e em
esteja conectado à internet. Agências de áudio especialmente editados para rádios.
notícias como a InterWorld Radio
"Os intercâmbios de programas gravados em
(www.interworldradio.org), com sede em
fita cassete, sempre chegavam tarde ou muitas
Londres, na Inglaterra, distribuem matérias
vezes se perdiam no correio," explica o
para rádio pela internet. A qualidade do
jornalista venezuelano, Andrés Cañizález,
material é tão boa que qualquer emissora pode
diretor da Pulsar. "Dificilmente poderia se
levar as notícias ao ar na hora em que elas são
falar de notícias quentes com o material
colocadas no site.
chegando em outro país depois de três
Entre seus assinantes estão emissoras de rádio semanas", completa.
de língua inglesa, jornalistas, líderes
Foi o surgimento de tecnologias de
comunitários e ONGs. A agência cobre a área
comunicação como a Internet, o correio
econômica, de desenvolvimento, ciência e
eletrônico, e, por último, o MP3, que nasceram
tecnologia e direitos humanos. Tudo isso, do
novas possibilidades de troca de informações,
ponto de vista de “como as pessoas normais
sobretudo com material gravado em áudio.
são afetadas pelas mudanças globais
provocadas nesses campos”. A agência é fruto A Pulsar é uma produção da Amarc
de uma parceria entre o Panos Institute e a (Associação Mundial de Rádios Comunitárias
OneWorld.net. Seus editores afirmam que esta e Cidadãs), com o apoio da ASDI (Suécia),
é uma publicação totalmente independente, CAF (Holanda), Fundação Friedrich EBERT
apesar de ter sido fundada com doações da (Alemanha) e Unesco (Organização das
Ford Foundation, além da Unicef, Novib e Nações Unidas para a Educação, Ciência e
USAid. A InterWorld Radio aposta nas Cultura). No Brasil, ela funciona com
17
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
18
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
CHARLEAUX, João Paulo. “Olhai (direito) pra nós!” in Revista Pangea, 2001
(publicação online)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=94&ed=9]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• A revista Cadernos do Terceiro Mundo corre o risco de oferecer uma visão tão
etnocentrista e ideologizada quanto a que critica na grande mídia?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto IV
Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon
(Mídia Conservadora dos EUA)
Joel Conrado, 2002
21
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
correspondente em São Paulo manda matérias terrorismo para desacreditar um dos maiores
regularmente ao Washington Times sobre a campeões da democracia na América Latina,
crise e as eleições. Luiz Inácio Lula da Silva". E termina: "As
pessoas que devemos temer no Brasil são os
Para não dizer que não persegue os padrões
inimigos do Sr. da Silva: armados da ideologia
americanos de "liberdade de expressão", o
do medo, podem derrubar o governo e
Washington Times publicou na terça, dia 19/8,
remilitarizar o Brasil."
duas cartas de protesto contra o artigo do Dr.
Menges, uma de Pedro Giglio, do Rio de Quer dizer, até um estudante americano de
Janeiro, e outra de Mark Andrews, estudante graduação, quando quer, faz seu dever de casa
de Relações Internacionais e Estudos do bonitinho sobre o Brasil. Imagine-se do que
Pacífico da Universidade da Califórnia em San seria capaz, se quisesse, a poderosa mídia
Diego, ambas sob o título "Próxima parada da americana. Mesmo não levando (muito) a sério
guerra ao terror: Brasil?". A primeira, cujo pasquins como o Washington Times e
autor afirma não ser eleitor de Lula, rebate dinossauros como o Dr. Menges, a imprensa
uma a uma as afirmações do articulista e diz tem obrigação de ficar de olho (bem) aberto
que o texto é uma afronta ao povo brasileiro. A com essa gente. Afinal, é ela que mantém
segunda lamenta que, não bastando a punição azeitado, com sua propaganda do perigo
que a comunidade financeira internacional externo, o complexo industrial-militar
inflige aos brasileiros por expressarem sua americano, fagueiramente ativo nesta era de
insatisfação nas pesquisas, "neocombatentes tantos eixos do mal.
da Guerra Fria como Menges jogam a carta do
Referência bibliográfica
CONRADO, Joel. “Besteirol à Americana: Lula, o bin Laden do reverendo Moon”, in
Observatório da Imprensa, ?
PONTOS DE DISCUSSÃO:
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto V
A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo
John Hohenberg, 1981
25
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
integral no estrangeiro. E dois terços deles contar com seus próprios correspondentes
estavam na Europa. Por isso, é um exagero utilizam as informações oriundas das grandes
considerável dizer, como algumas vezes organizações noticiosas, o que faz com que as
acontece, que 3.000 ou 4.000 jornalistas notícias tenham um custo relativamente baixo
americanos cobrem uma guerra em um e sejam utilizadas como suplemento ao serviço
pequeno país da Ásia ou da África. das agências.
A maioria é constituída de repórteres
independentes e alguns mostram caracterís-
Washington como centro noticioso
ticas tão estranhas que se suspeita sejam
agentes secretos. Apesar de todas as restrições que lhes são
impostas, os correspondentes em Washington
Uma prova de falsidade de número pode ser são efetivos representantes de jornais e
obtida por qualquer um que visite o quartel- agências de notícias, revistas, semanários e
general da imprensa nas Nações Unidas em associações, estações de rádio e de televisão e
um dia de rotina e veja que há menos de 50 dos boletins informativos. Há, também: os
correspondentes tempo integral credenciados correspondentes "one shot" (enviados espe-
pelas empresas jornalísticas americanas e um ciais), que estão quase sempre em ou fora de
número bem menor de estrangeiros. Ainda Washington a trabalho das suas estações ou
assim, durante o dia da abertura de uma jornais locais, em reportagens de pouca
Assembléia Geral, a Secretaria de Imprensa importância. Os representantes da imprensa
das Nações Unidas anuncia o credenciamento estrangeira freqüentemente fazem o mesmo
de 1.500 a 2.000 "jornalistas", que vão embora em ocasiões de grande interesse.
tão logo as grandes personalidades retornam
aos seus postos regulares. Esse fato serve É importante saber o que fazer para
como lembrete de que nem toda pessoa que diz estabelecer uma base em Washington,
ser jornalista realmente o é. permanente ou temporária, e que opere com
eficiência.Os credenciados para trabalhar em
Washington, como membros de burôs já
O Corpo de Correspondentes em Washington estabelecidos, têm sorte, pois as empresas
compensam os períodos fracos em
Embora alguns jornais tenham retirado seus
acontecimentos e provêem casa, mudanças e
correspondentes de Washington, a capital
escola para os dependentes. Mas para quem
americana é ainda o maior centro de notícias,
vai pela primeira vez e por conta própria é
tanto para as coberturas domésticas quanto
uma experiência dura e às vezes traumatizante.
para as estrangeiras, e o número de
São avisados de que devem conhecer os chefes
representantes de todos os países atinge a
das agências noticiosas e organizações aos
2.000 nos períodos de pique. Enquanto muitos
quais suas empresas estão filiadas, as suas
diários americanos, médios e pequenos, não
delegações no Congresso, e devem ter
fazem segredo de seu preconceito contra as
conhecimentos pessoais importantes em
matérias rotineiras de Washington e do
lugares tais como a Casa Branca, o
exterior, e o jornalismo eletrônico local esteja
Departamento de Estado, o Pentágono e as
ainda menos interessado, nenhum editor
salas de imprensa do Congresso e do Senado.
gostaria de suprimir o serviço.Durante
congressos de editores há sempre um acordo Devido à publicidade dada ao "National Press
solene de que esse tipo de notícia deve ser Club", e à proximidade dos teletipos,
dado ao público americano, porém os seus repórteres solitários tentam às vezes trabalhar
jornais nem sempre publicam tais notícias. nesse clube como uma espécie de sócio
Editores responsáveis, entretanto, se sentem temporário. Mas em geral sentem-se
orgulhosos de poder oferecer informações oprimidos pelos agentes de imprensa de todos
sólidas da capital do país. Os que não podem os tipos. É boa prática trabalhar fora de um
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
lugar como a sala de imprensa do Senado, marcam seus próprios encontros com essas
quando o Congresso está em sessão, ou pegar pessoas e normalmente trabalham utilizando-
uma notícia a cada dia e transmiti-Ia de se do telefone, exceto para grandes
qualquer lugar, não importa qual. Uma regra reportagens. Nos dias em que o Presidente se
inflexível para os que vão a Washington é a de reúne com a imprensa, é normal
obter suas credenciais com bastante comparecerem 200 ou mais correspondentes,
antecedência. Outra, a de se assegurar acesso especialmente quando assuntos de importância
rápido a um telefone ou a um terminal de telex estão pautados. Se a reunião for de última
– algumas vezes é melhor ditar a matéria por hora, somente comparecerão os
telefone para jornal do que escrevê-la em correspondentes regulares, não havendo tempo
Washington (em caso de grande matéria). para avisar a todos. O jornalismo eletrônico
está permanentemente pronto e em alerta para
Em um manual de regras dessa natureza, que
trabalhar na Casa Branca, mas há dificuldades
pode ser somente um auxiliar para as
no uso das minicâmeras em tripés. Elas são
coberturas em Washington, e não um profundo
colocadas na sala de recepção para filmar
estudo sobre o assunto, insere-se uma pequena
visitantes importantes quando deixam o
relação de pontos importantes e sugestões do
escritório do Presidente. Com as minicâmeras
que se deve e não se deve fazer. Ei-la:
e o vídeo-teipe, a equipe de televisão tem
maior mobilidade, podendo ficar nas entradas
1) A Casa Branca laterais, utilizadas por visitantes que querem
evitar publicidade.
Ao Presidente dos Estados Unidos, sendo a
mais importante fonte de notícias no país, bem Equipes de televisão podem também entrar no
como a mais influente, dá-se cobertura intensa, Rose Garden para uma filmagem rápida, se a
diariamente, por todos os veículos noticiosos reunião com a imprensa ali se realizar.
do país e de outros países. Aos membros de Reuniões com personalidades do governo, para
sua família, amigos e assessores diretos, informações de "background", ocorrem em
também se faz o mesmo. uma sala menor, a "Fish Room", assim
As facilidades para a imprensa na Casa Branca chamada em razão dos quadros de peixes
são poucas, se comparadas às facilidades pendurados em suas paredes. Quando o
obtidas nos palácios dos governadores Presidente viaja, os correspondentes que o
estaduais ou até mesmo nas Prefeituras. acompanharão devem ter suas autorizações
Somente pequeno número de correspondentes fornecidas pela Casa Branca. Há períodos de
regularmente credenciados na Casa Branca bonança na Casa Branca, quando os repórteres
dispõe de um dos pequenos cubículos com se sentam e esperam que algo aconteça, mas
telefone na sala de imprensa. A grande maioria cais'períodos são pouco freqüentes. O
tem de encontrar meios de comunicação por si Presidente, a fonte número um de notícias,
própria. mantém os correspondentes sempre ocupados.
têm uma boa relação de trabalho com os recém-chegados (e para muitos veteranos
líderes da Maioria e da Minoria de ambas as também): familiarizem-se com os procedimen-
Casas, assim como com outros membros do tos de ambas as casas, Senado e Câmara; sem
Legislativo. Eles conhecem os presidentes das esse conhecimento, muitas das intrincadas
Comissões e desenvolvem métodos eficientes manobras que ocorrem durante o processo
de estar sempre por perto. Os integrantes do legislativo não podem ser traduzidas para
G0verno normalmente dão entrevistas para melhor entendimento público.
fornecer detalhes de apoio a determinado Há tantas notícias em Washington que se torna
assunto, e os congressistas geralmente querem um problema não a decisão sobre o que
ter suas declarações gravadas. Querem que publicar, mas o que eliminar.
seus pontos de vista sejam conhecidos. Como
funcionários eleitos, precisam de publicidade
para suas ações e posições nos principais 3) O Departamento de Estado
assuntos do dia; os eleitores esquecem
rapidamente um deputado ou senador que No sólido e cinzento edifício no "Foggy
"desaparece" durante semanas. Bottom", cerca de 50 ou 60 correspondentes
cobrem regularmente os assuntos do
Para o jornalista recém-chegado, as salas de Departamento de Estado e outra centena deles
imprensa, tanto no Senado como na Câmara, corre quando há crise. A inadequada sala de
são os lugares mais convenientes para imprensa, com seus estreitos cubículos para os
trabalhar. Os superintendentes e suas pequenas repórteres, é uma caixa de ecos, mas mesmo
mas competentes equipes de assessores nas assim utilizada na falta de coisa melhor. As
salas de imprensa conhecem mais do que equipes das agências de notícias, com
muitos repórteres tudo sobre horários, melhores acomodações, ditam por telefone as
discursos, reuniões das comissões e numerosos notícias para os seus escritórios em
outros fatos sobre acontecimentos que podem Washington.
ser esperados durante o decorrer de um dia no
Congresso. Cópias de discursos podem ser A primeira fonte no Departamento de Estado é
previamente solicitadas às salas de imprensa constituída pelos departamentos de notícias do
ou aos escritórios dos seus respectivos autores. Departamento, situados próximos à sala de
Os funcionários da sala de imprensa e da imprensa e ao escritório do Assistente do
Assessoria do Congresso podem ser muito Secretário de Estado para Assuntos Públicos,
úteis quando se deseja uma entrevista por no sexto andar. Um correspondente conhecido
telefone ou pessoalmente com um senador. Os e respeitado tem acesso à maioria dos
repórteres aprendem rapidamente a não ficar funcionários do Departamento, e algumas
perdendo tempo rondando o Congresso, exceto vezes até ao próprio Secretário de Estado.
quando o acontecimento requer tal Quase todo correspondente pode conseguir,
procedimento. Usar o telefone torna-se às através do pequeno grupo de oficiais de
vezes mais fácil. imprensa, acesso às seções q\.le mantêm
contato direto com Embaixadas e ministros
As fontes de notícias no Congresso são estrangeiros. Esse tipo de informação
inúmeras, como mostra o Registro do geralmente aparece como "background". Para
Congresso. E o Diário Oficial publica todo dia informações mais precisas e diretas, o primeiro
muitos discursos e pronunciamentos que não recurso é a reunião diária de imprensa com um
atraem o interesse público, até serem dos funcionários do Escritório de Assuntos
divulgados na imprensa; além do mais, um Públicos. O mecanismo do Departamento de
discurso publicado pode estar bem diferente da Estado é sobremodo flexível para tratar de
versão original, porque os congressistas têm o questões ou petições a qualquer hora do dia,
direito de corrigir e revê-los antes da mas, à noite, torna-se quase impossível
publicação. Uma observação final para os
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
7) Agricultura
5) A Corte Suprema
Os correspondentes que cobrem o
Os correspondentes credenciados à Corte Departamento de Agricultura, como os
Suprema são poucos e altamente correspondentes nos Departamentos de Estado,
especializados. Não é qualquer repórter que Defesa e Tesouro, são geralmente
pode receber credencial. Não é fácil quem especializados nesse campo.e trabalham para
desconhece o assunto escrever um artigo, empresas jornalísticas com um interesse
capaz de ser entendido pelo público, sobre particular no assunto. A rotina diária desses
decisões e acontecimentos na mais alta Corte repórteres é apoiada pelas agências de notícias.
do país. Alguns repórteres que fazem a Mas nas reportagens mais detalhadas e
cobertura da Corte são advogados; outros profundas em assuntos de importância para os
tiveram aprendizado em leis. Os que não fazendeiros e consumidores, os meios de
tiveram contato anterior com assuntos comunicação devem se voltar para os
jurídicos têm que desenvolver um especialistas.
conhecimento próprio para poder exercer
adequadamente suas funções.
30
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
uma frase era um grande acontecimento. Quando muito qualificados, que trabalham para o
Eisenhower permitiu que câmaras de televisão Secretário-Geral Kurt Waldheim. Na seção de
gravassem as reuniões com a imprensa e os documentação é facilmente encontrado
filmes fossem levados ao ar, após uma revisão, material de valor relevante; na biblioteca, há
tornou-se impossível impedir que os repórteres uma quantidade enorme de informações sobre
usassem reproduções diretas do que fora dito. todos os assuntos pendentes e outra grande
Assim, depois de uma verificação rápida, as quantidade sobre temas já esquecidos.
gravações das reuniões presidenciais com a Os procedimentos das Nações Unidas, os
imprensa eram divulgadas. métodos das suas organizações principais e as
interpretações da sua Constituição são
complicados, mas não tão complicados como
A cobertura das Nações Unidas
os de qualquer governo. Correspondentes
Nos anos em que os Estados Unidos dominavam qualificados não tiveram muita dificuldade em
as Nações Unidas, os assuntos a ela trabalhar nas Nações Unidas. O principal
concernentes mereciam atenção dos jornalistas, problema das coberturas é que há muito pouco
embora os meios de comunicação americanos a fazer.
dessem pouca atenção a esses temas, a não ser
quando havia alguma crise. Desde que os
Estados Unidos começaram a ocupar posição Métodos e Fontes
minoritária, perdendo votos ou sendo colocados Seguem-se as quatro principais fontes de
em xeque-mate pela maioria dos países em notícias nas Nações Unidas:
desenvolvimento com vínculos com o bloco
soviético, China, ou ambos, as Nações Unidas 1) A abertura das reuniões, discursos e
tornaram-se impopulares na América. Discursos resoluções dos vários componentes da
enérgicos antiamericanos, crises afetando os organização. Principalmente a Assembléia
Estados Árabes ou os nacionalistas negros da Geral e o Conselho Econômico e Social, com
África, e as manobras pretensiosas do bloco suas comissões subsidiárias.
soviético são de pouco interesse para o povo 2) As delegações estrangeiras, geralmente
americano e até para muitos correspondentes reticentes sobre os negócios de seus países,
estrangeiros, exceto quando esses fatos tocam podem fornecer informações oficiosas de
em um ponto nevrálgico de seus países. "background" sobre o que está acontecendo
Ainda assim, pelo simples fato de existirem as "atrás do pano". Algumas não fornecem
Nações Unidas, e porque a sua sede está detalhes; mas as delegações – como os
localizada em Nova York, é matéria à qual advogados inclinam-se a falar dos seus casos
deve dar-se cobertura. Mesmo se o assunto for aos jornais quando julgam tirar proveito da
desinteressante ou se provocar o repúdio publicidade.
americano, continuará importante. 3) A missão americana nas Nações Unidas. Ela
é uma extensão do Departamento de Estado,
mas tem os seus próprios negócios públicos e
Problemas de Cobertura oficiais de informação e uma excelente
Não é difícil fazer cobertura das Nações biblioteca. A equipe de informações é
Unidas. O problema, tal como no competente, mas geralmente não tem muita
Departamento de Estado, é que há muita liberdade de ação, por razões óbvias.
burocracia e pouca ação. A maioria das 4) A própria equipe de informações das
delegações tem seus assessores de imprensa, Nações Unidas e os recursos do Secretário
poucos podendo ser considerados excelentes. Geral. Através dos anos as Nações Unidas
As próprias Nações Unidas têm um pequeno desenvolveram um sistema de arquivar
grupo de assessores de imprensa de carreira,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Estudos têm revelado que um número bastante uma equipe competente cobrindo os maiores
reduzido de pessoas importantes, as que centros de comércio no mundo.
decidem em todos os níveis do governo, não se
interessa por esses assuntos. Mas isso não
torna mais fácil o trabalho dos editores e O Espaço para as Notícias Internacionais
correspondentes estrangeiros numa época em É difícil precisar o volume de notícias
que os Estados Unidos passam por um internacionais usado, porque isso varia em
envolvimento global maior do que em função de um assunto determinado, das
qualquer outra época da sua história. empresas de notícias envolvidas e da audiência
O desenvolvimento mais promissor na potencial do assunto. Num Período em que os
disseminação de notícias internacionais nos Estados Unidos estão em paz com o mundo, é
Estados Unidos é o rápido progresso dos óbvio haver pouco interesse público e pouco
"syndicates"2 de jornalistas. O New York tempo e espaço dedicados aos assuntos
Times, com o maior e mais eficiente serviço internacionais. Em tempos de guerra, a
internacional, tem mais de 300 jornais como situação muda rapidamente; em qualquer crise
seus clientes. O Los Angeles Times, em poucos prolongada, o espaço e o tempo dedicados às
anos, obteve mais de 200 jornais, e o notícias internacionais têm uma correlação
Washington Post (somente em notícias específica com os anseios do público.
internacionais) se tem expandido considerável- Mesmo fora de crises, o New York Times
mente. O Baltimore Sun, depois de se recusar publica entre 16 a 18 colunas por dia de
a sindicalizar-se por vários anos, agora oferece notícias internacionais. Nas mesmas
suas notícias internacionais a outros jornais e circunstâncias, o Los Angeles Times publica
conquistou grande e respeitável audiência. uma média de 10 a 11 colunas; o Washington
Algumas das mais antigas agências Post, 9 ou 10; o Baltimore Sun, 8 ou 9, com
internacionais, a Christian Science Monitor um número entre 4 a 6 colunas diariamente
entre elas, estão sendo revitalizadas. E jornais em, talvez, 30 outros jornais importantes com
como o Minneapolis Tribune, St. Louis Post- uma circulação de cerca de 10 milhões de
Dispatch, Miami Herald e outros enviam exemplares. Somando-se a isso, certamente,
especialistas para reportarem determinados estão as seções internacionais nas revistas
assuntos do noticiário internacional. Mas o semanais e os comentários e apresentações,
famoso Chicago Daily News desativou sua algumas vezes importantes, nos noticiários
equipe internacional. noturnos da televisão.
Nas áreas em que há jornais pobres com uma O Wall Street Journal publica uma seção
cobertura mínima dos assuntos nacionais e internacional de um dos seus excelentes
internacionais, as revistas de notícias vendem correspondentes, a intervalos regulares, com
grande parte dos seus 7 milhões de exemplares um impacto considerável nos seus mais de 1
semanalmente com seções internacionais milhão de leitores. E quando o New Yorker
detalhadas. Assim como as cadeias de Magazine publica um artigo internacional de
televisão, que ainda tiram a maior parte das um elemento do seu pequeno mas brilhante
suas matérias das agências de notícias, elas grupo de redatores de assuntos internacionais,
desenvolvem uma equipe sofisticada de alcança significativa penetração entre o
correspondentes estrangeiros para trabalharem público leitor. O mesmo vale para os raros
principalmente com seus operadores. documentários na televisão acerca de assuntos
Empresas jornalísticas especializadas em internacionais.
negócios e comércio, como as publicações da
Dow Jones, McGraw-Hill e Fairchild, têm Isso não justifica, e está longe de ser
desempenho satisfatório, a fraqueza da
2
imprensa americana na publicação diária e
N.doE. Cooperativas.
35
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
semanal de notícias internacionais, ou a pouca atingir esse posto através de promoções nas
quantidade desse tipo de material nas agências de notícias e em jornais que têm
emissoras, quando não há guerra. Como foi equipes no estrangeiro, e muitas vezes são
mostrado, o modelo, como um todo, é confuso. convidados para trabalhar como
Poderia ser muito melhor. Mas já foi muito correspondentes internacionais em revistas ou
pior. jornais que mantêm uma equipe no
estrangeiro.
Enquanto a maioria dos correspondentes mais
O Trabalho dos Correspondentes
velhos pode contar com um salário decente, há
Internacionais
jovens que querem trabalhar ganhando menos
Os correspondentes internacionais que do que ganhariam em suas cidades.
manipulam as notícias para as empresas
Entretanto, somente em lugares conturbados e
jornalísticas americanas são jornalistas
onde existem riscos, particularmente áreas de
maduros, com excelente desempenho
guerra, é que se dá preferência aos jovens. Na
profissional e sólida instrução. Não é difícil
primeira guerra documentada pela televisão, a
encontrar entre eles homens e mulheres com
Guerra do Vietnã, os jovens predominaram na
títulos universitários. Alguns são "Nieman
cobertura das batalhas. Isso também ocorreu
Fellows" em Harvard, e existem pós-
no Oriente Médio, especialmente na longa e
graduados.
brutal guerra civil libanesa.
Eles dirigem vários assuntos de suas "bases" e
são designados para outros locais a cada três
anos. Se tiverem que assumir riscos, assim o Como Trabalham os Correspondentes
fazem, não por diversão, mas porque isso faz A maioria dos correspondentes internacionais
parte do seu trabalho. Em zonas de combate, a acredita que sua primeira obrigação é contar a
primeira coisa que aprendem a fazer é manter história do povo do país onde trabalham, e não
as cabeças abaixadas. Um correspondente somente os atos oficiais do governo e os
morto pode ser um herói, mas as empresas comunicados de seu Ministério à imprensa. O
para as quais trabalham os preferem vivos. E trabalho é difícil e exigente, requer longas, e
os que esperam subir às alturas ao atacar algumas vezes irregulares horas de trabalho
governos ditatoriais, bem cedo descobrem que durante o dia e a noite, e pode perturbar a vida
ser demitido por provocações não é o melhor em família. Não admira que o índice de
caminho, do sucesso. divórcio entre os correspondentes
internacionais seja elevado.
Como Ser Correspondente Quando os correspondentes são credenciados a
cobrir um país inteiro, naturalmente dependem
A forma de alguém tornar-se correspondente
das facilidades locais de comunicação de
internacional é ainda incerta, a despeito de
massa para se manterem informados.
tudo que se diga sobre modernos métodos
pessoais. Alguns são escolhidos para o Bem cedo descobrem que precisam fazer mais
trabalho e treinados rigorosamente em cursos do que ler os jornais, ouvir o rádio, assistir à
especiais de grandes universidades e estudam televisão, verificar o que está sendo enviado
várias horas por dia um idioma estrangeiro. por telegramas e manter relações cordiais com
Muitos estão no lugar e na hora certos e tiram a Embaixada americana e com os jornalistas
proveito dessa oportunidade. Outros do país. Precisam obter e desenvolver suas
convencem os editores a testá-los, com próprias fontes de informação, suas próprias
resultados não muito bons (embora, às vezes, idéias para matérias e reportagens, seus
surjam agradáveis surpresas). O restante dos próprios métodos de trabalho – e isso leva
correspondentes internacionais consegue tempo e custa muito dinheiro. Sem contar os
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
custos de transmissão, a média gasta pelas transmitir, contratar circuitos especiais para
empresas jornalísticas com um único essas transmissões. Um serviço completo de
correspondente, excluindo os serviços de telex, por exemplo, poderia manter circuitos
telex;, é de 75.000 a 100.000 dólares por ano – abertos 24 horas por dia, para comunicação
quantia ainda maior em lugares como Moscou nos dois sentidos através do Atlântico. Em
e Pequim. tais. circunstâncias, a notícia é transmitida
Em países totalitários e em muitos países em tanto por cima quanto por baixo da superfície
desenvolvimento, os correspondentes ficam dos oceanos, para lugares em que não se pode
ter uma ligação fio a fio e para a redação de
"amarrados" às fontes oficiais. Em um número
uma grande empresa jornalística. As antigas
cada vez menor de países democráticos há
liberdade de ação, se os correspondentes mensagens codificadas somente têm função
souberem o que fazer e como conseguir. Não é agora entre as seções de uma agência.
comum os editores guiarem os corresponden- Para um serviço internacional como o do New
tes pela mão, ou tentarem isso, a despeito da York Times, a transmissão de certos tipos de
disponibilidade de milagres da moderna dados a uma velocidade de 1.000 a 1.500
comunicação. O serviço de um correspondente palavras por minuto não é incomum. Os
internacional é ainda uma operação altamente modernos serviços de telex trabalham a essa
individual e assim deve permanecer. velocidade. Além do mais, o sistema de ditar
pelo telefone para gravadores, o que possibilita
rápida transcrição do texto, vem ganhando a
Propaganda
preferência em muitos lugares como
É falso que o americano típico no exterior seja concorrente para o telex. Para a televisão, o
presa fácil da propaganda internacional. Os sistema de transmissão por satélites tem sido
políticos americanos que participam de de grande vantagem; com o aumento do
conferências internacionais estão condenados número de satélites e dos sofisticados cabos de
por antecipação. Quanto aos correspondentes múltiplos canais, muitos outros meios estão
internacionais, até seus próprios editores em desenvolvimento. Satélites transatlânticos
algumas vezes recusam-se a acreditar quando poderão, em breve, prover 42.000 canais para
sua reportagem coincide com as declarações comunicação simultânea, ou 24 canais "full-
ou os anúncios de uma agência de propaganda. time" para televisão em cores. E a adaptação
A dificuldade fundamental é definir da tecnologia e da transmissão do "laser" pela
propaganda e separá-la da atividade luz ao longo de fibras de vidro trará grandes
jornalística denominada "notícia". A facilidades aos processos de transmissão.
propaganda não precisa necessariamente A quantidade de notícias internacionais
basear-se em uma informação falsa ou leviana; transmitida é estabelecida pela União
a "grande mentira", de fato, foi certamente Internacional de Telecomunicações,
menos eficiente no passado do que a verdade – principalmente durante as reuniões anuais em
quando acontecia a verdade servir aos fins da Genebra dos representantes dos países
propaganda. De certo, poucos propagandistas membros. É norma geral fixar essa cota pelo
são tolos o suficiente para "rotular" os seus número de palavras transmitidas, ao invés de
mais indeléveis ideais, mas nenhum estabelecer um período de tempo determinado.
propagandista consegue enganar por muito
Com o aumento das despesas, não é de
tempo um correspondente experimentado.
estranhar que o modesto carteiro tenha
reassumido o seu papel. Os aviões a jato, que
Transmissão da Informação ligam Nova York à Europa ou Los Angeles a
Tóquio em poucas horas, tornam o correio
É um hábito, normalmente _praticado pelas
aéreo bastante prático e útil na transmissão de
empresas com grandes volumes de notícias a
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
notícias antes enviadas por cabos telefônicos assim o quisessem. Seguiu-se certa liberdade.
ou por sistemas de radiocomunicação. É Os correspondentes, cautelosamente testando o
necessário colocar-se a data e o local nos regime, descobriram que podiam transmitir
envelopes (por exemplo, Londres, 12 de algumas críticas veladas e até mesmo
março), assim como o dia da publicação pode especular sobre o rumo dos acontecimentos
ser inserido de acordo com as necessidades, atrás da cortina de ferro. Mas também
mas tal procedimento é questionável, não se descobriram que a União Soviética deportava
sabendo ainda por quanto tempo poderá ser mais rapidamente do que nunca
aceito. O transporte por aviões supersônicos correspondentes contrários às suas
(SST) pode ser uma opção mais em conta para determinações.
os jornais e revistas de pequeno porte, ao invés Também na China os correspondentes
de se utilizarem dos satélites, dos cabos concluíram não haver censura formal, no
sofisticados e do popular mas ainda menos sentido exato da palavra, mas também
confiável sistema de rádio para teleimpressão. perceberam que estavam sendo
constantemente observados, e suas fontes de
informação eram restritas e limitadas, de
Censura
acordo com as normas do governo.
Outro impedimento ao fluxo das notícias
Abriu-se uma exceção aos correspondentes
através dos países, ainda maior que os custos
que acompanharam os Presidentes Nixon e
das transmissões, é a censura, sempre
Ford quando de suas visitas ao país. Em
perniciosa. De um jeito ou de outro, os
conseqüência, Max Frankel, do New York
censores existem em todo o mundo e o seu
Times, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer com
número aumenta gradualmente, até mesmo no
sua cobertura sobre a China.
"berço" da liberdade de expressão, a Europa
Ocidental A cruel censura totalitária do início O censor que o correspondente nunca vê e a
do século, quando os despachos eram retidos voz fanhosa que corta uma ligação telefônica
ou mutilados em parte ou no seu conteúdo são as duas figuras mais difíceis de serem
total, está voltando agora. Particularmente no vencidas. São comumente censores de menor
mundo comunista, o sistema deixa os expressão, cumprindo à risca instruções
correspondentes numa posição em que se superiores. Tudo o que os correspondentes
tornam os seus próprios censores, pelo medo podem fazer é reclamar e apelar pata as
de serem deportados. autoridades de sua própria Embaixada ou às
autoridades do país em que estejam
A União Soviética aboliu formalmente a
credenciados. Normalmente não ganham uma
censura em 1961, e permitiu que
batalha desse tipo, mas devem tentar e jamais
correspondentes internacionais inaugurassem
desistir da intenção.
um sistema de teletipo com os seus jornais, se
Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos
meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.362-
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto VI
Meio Século de Memórias
(História do Fotojornalismo Internacional)
John Morris, 1994
Das grandes revistas distribuídas por jornais, Nós, fotojornalistas – estou falando daqueles
testemunhamos recentemente a extinção da que trabalham com fotografias estáticas –
Sunday Times Magazine, de Londres. Os proporcionamos uma ponte entre o filme e a
jornalistas da minha geração conviveram com mídia impressa. Há quatro anos, aqui neste
os dias difíceis da Grande Depressão — a palco, Tony Hall, da SSC, um jornalista de
depressão mundial ocorrida após a Primeira televisão, disse: "Nada fica na memória
Guerra – e com a devastação e o sofrimento daqueles que simplesmente observam." A
das guerras que se seguiram. O fotojornalismo importância do fotojornalismo é que ele induz
moderno estava, ainda, dando os primeiros o público a ler e a reter a mensagem
passos quando essas guerras começaram. A transmitida pelas palavras. Minha primeira
fotografia era utilizada como uma arma. Do revista foi a Life, na época uma revista
lado dos Nazistas, as fotos eram parte do semanal. Ela era tida como a maior força
aparelho de propaganda. Do nosso lado, os editorial da América. Eu comecei na Life em
fotógrafos que eu conhecia, e com os quais 1938, como contínuo, recém-saído da
trabalhava, acreditavam plenamente na causa Universidade de Chicago. A maior parte da
dos aliados. Suas fotos... talvez vocês se equipe, na época, tinha menos de 30 anos e
lembrem da foto do soldado espanhol coragem de tentar tudo. Eu me lembro de ter
morrendo, de Robert Capa, ou da foto de uma pedido ao Arcebispo de Canterbury que
mãe legalista espanhola, de David Simor. subisse na torre do Palácio de Atlanta, para
Fotos assim foram as precursoras de centenas posar para a capa da Life. Eu pedi a Alfred
de imagens inspiradoras, capturadas por Hitchcock, o diretor de cinema, que posasse
dezenas de fotógrafos dedicados, que como garçom em Santa Monica. Nós pedimos
alertaram os Estados Unidos sobre os perigos a milhares de trabalhadores da aviação que
do fascismo e, depois, documentaram a abrissem mão da sua hora de almoço para
marcha dos aliados para a vitória. posar ao lado do bombardeiro que estavam
construindo. Nós insistíamos em levar nossas
Havia um editor na época, que tinha a coragem
máquinas fotográficas a todos os lugares aonde
para realizar suas convicções. Henry Lewis,
íamos, ao laboratório, ao boudoir; às reuniões
das revistas Time e Life, arriscou milhões
fechadas dos homens de negócios e aos
pelos ideais de uma revista. Não apenas uma
encontros entre grandes líderes e generais. Os
vez, mas várias vezes. Quando Lewis ficou
jornais ficavam para trás, porque seus
mais velho, as coisas mudaram. Quando a
fotógrafos continuavam carregando câmeras
Time Inc., em 1964, decidiu vender a revista
de imprensa, das grandes, com flashes. Os
mensal Architectural Form, aquilo representou
editores desses jornais encaravam fotos como
um retrato do futuro. A Form era uma pequena
meros artifícios para criar espaços, quebrar um
revista, bastante séria, que Lewis publicava há
pouco aquela salada de textos. Já os tablóides
muito tempo como inspiração para os
exageravam na direção oposta, publicando
arquitetos, só que ela deixou de dar lucro.
fotos grandes, chocantes e sensuais, mas
Passou a ser considerada dispensável. Hoje,
ignorando o conteúdo sério das notícias.
nos perguntamos se a própria mídia impressa
está para desaparecer ralo abaixo, se vai entrar A grande diferença entre a Life e as outras
mesmo pelo cano. Será que leitores têm publicações era que, nela as fotos vinham em
mesmo que ser reduzidos a telespectadores? primeiro lugar. As palavras eram escritas para
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
serem encaixadas entre a disposição das fotos. Alguns minutos depois, eles retornaram:"f'.ó
Se não houvesse fotos, não havia matéria. Nós fotos estão ótimas e os filmes estão secando."
nos inspiramos nas revistas de fotos anteriores Mas traga só os negativos, e rápido, eu disse.
à Guerra de Weimar: na Alemanha. A Life Alguns minutos depois, o rapaz que havia
reuniu uma equipe de fotógrafos, alguns revelado o filme entrou em meu escritório
generalistas, outros especialistas, que jamais chorando, quase histérico: "Os filmes estão
encontrou rivais. destruídos, estragaram todos." Ele explicou
Em 1943, a Life me mandou para Londres, que os havia colocado em um armário de aço
com nove meses de antecedência, conforme com um aquecedor. para que secassem e, por
ficou constatado depois, para preparar a causa da minha pressa, fechou as portas. A
cobertura do Dia D, a invasão da Normandia. emulsão dos filmes simplesmente derreteu. Eu
A operação militar mais complexa da história, desci correndo com ele e examinei filme por
comandada pelo general Eisenhower. Os filme. Por fim, encontrei 11 fotos que
aliados exigiram que tirássemos nossas fotos poderiam ser impressas, embora estivessem
junto com as três grandes agências muito granuladas. Elas foram salvas, mas por
distribuidoras de fotos: Associated Press, um triz. Essa foi a pior noite da minha carreira.
United Press e a International News Service. Eu vou poupá-los de mais histórias de horror
O Dia D, o dia mais longo, como ficou como essa. Ao invés disso, gostaria de falar
conhecido, foi uma terça-feira, 6 de junho de 1 sobre aonde chegou o fotojornalismo hoje.
944. Apesar de todos os nossos preparativos, Acho que temos fotógrafos tão talentosos
nós ainda não tínhamos boas fotos no final da quanto os antigos, ou até mais, trabalhando
tarde de quarta-feira. O tempo estava terrível, pelo mundo inteiro, com maiores
o que inviabilizava as fotografias aéreas. As concentrações na França e nos Estados
esperanças da Ufe de obter c/osestirados da Unidos. Eles possuem recursos que causariam
invasão por terra estavam depositadas em inveja aos pioneiros do passado, tal como Eric
Robert Capa, o famoso fotógrafo húngaro, que Solomon, que tinha que tirar suas fotos com
já havia feito a cobertura das guerras da pequenas placas de vidro, segurando com as
Espanha, China, África do Norte e Itália. No mãos as exposições que duravam apenas um
começo da noite de quarta-feira, recebi um ou dois segundos. Os fotógrafos de hoje têm
telefonema de um dos portos do canal: "O microcâmeras maravilhosas, lentes com zoom
filme de Capa está indo para Londres de de alta velocidade e filmes velozes. Suas fotos
motocicleta." Nosso prazo final para conseguir são transmitidas quase que instantaneamente,
mandar fotos originais para Nova York, para a em cores, para o mundo inteiro. Os fotógrafos
edição da Life daquela semana, era na quinta de hoje, os mensageiros, possuem
de manhã, quando o malote sairia de Governor equipamentos fantásticos para contar suas
Square, em Londres. Além disso, tínhamos histórias. Mas qual é a mensagem deles? Será
que fazer cópias para as três agências, o mais que a estão transmitindo?
rápido possível, para distribuição como Sim e não. O paradoxo da revolução
radiofotos para um mundo ansioso por tecnológica é que as grandes revistas de fotos
detalhes da grande ofensiva. estão extintas. O semanário americano Ufe
Finalmente o filme chegou, acompanhado de acabou em 1972, seguido por Look, e Saturday
um recado do Capa, explicando que todo o Evening Post, que só ocasionalmente levou o
material deveria estar em quatro rolos de filme foto jornalismo a sério. Na Inglaterra, não
de 35 milímetros. Eu disse ao pessoal do surgiu nenhuma outra revista de fotos
laboratório, que ficava debaixo do meu independente desde a Picture Post. Além
escritório, que trabalhasse o mais depressa disso, acabamos de presenciar o fim da Sunday
possível para me liberar as fotos para a edição. Times Magazine, do senhor Murdoch.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Na França, a Paris Match, seguindo a fórmula como disse Pamela, o tempo de atenção do
da revista americana People, se concentra em público telespectador é mais limitado ainda.
celebridades e em algumas matérias mais Além disso, a televisão faz muito pouco para
recentes e óbvias. Na Alemanha, temos a explicar as causas e as ligações subjacentes
Stern, que é uma colcha de retalhos com coisas entre os fatos. Isso cria um desafio muito
boas e ruins, mas sem qualquer convicção. Na especial para o fotojornalismo, e por foto
Itália, os suplementos de jornais possuem jornalismo estou me referindo agora a fotos e
muitas fotos, só que a grande maioria não é textos trabalhando juntos em jornais, revistas e
produzida naquele país. Eu temo que o mesmo livros, para que o leitor possa determinar seu
possa ser dito a respeito da revista Manchete, próprio ritmo de absorção da informação. O
no Brasil. O que aconteceu? A explicação de aspecto que mais me dá esperanças para o foto
sempre é a televisão. jornalismo mundial de hoje é a escolha, cada
vez mais cuidadosa, das fotos que
A telinha redirecionou o grande público e os
acompanham textos em revistas generalistas
anunciantes de massa. A televisão é mais
semanais, como a Time e a Newsweek mensais
rápida, mais barulhenta e não requer muito
como a National Geographic e Geo, e em
esforço para ser absorvida.
jornais como o New York Times, o britânico
Infelizmente, na minha opinião, os meios de Independent, o francês Libération, além de
comunicação impressos tentaram concorrer vários jornais regionais dos Estados Unidos,
com a televisão, procurando imitá-la. Temos, liderados pelo Detroit Free Press.
então, o USA Today, que embala as notícias
Eu gostaria de voltar um pouco ao cenário da
em espaços curtos e coloridos, equivalentes às
editoração, logo após a Segunda Guerra
emissões da televisão e tão superficiais quanto
Mundial. Foi uma época de oportunismo para
elas.
nós que sobrevivemos. Pensávamos que nunca
Infelizmente, o USA Today é o jornal mais mais teríamos que cobrir uma guerra
imitado nos Estados Unidos. Tenho que novamente. Mas não foi bem assim, nossas
admitir que, pelo menos na previsão do tempo, previsões não levaram em conta o mundo que
eles se saíram bem. Seria mais sensato emergia do colonialismo. Nós não poderíamos
separarmos aquilo que a televisão faz melhor imaginar que as paixões religiosas, étnicas e de
daquilo que a mídia impressa faz melhor. Com classes, resultariam na morte de centenas de
seu incrível imediatismo, a televisão concentra milhares de pessoas nas divisões da Índia ou
a atenção do mundo em um único evento, da Palestina, e em revoluções na China,
como, por exemplo, a abertura dos Jogos Indonésia e África. Nós também nunca
Olímpicos, o bombardeio de Bagdá, ou um imaginamos que ocorreria uma guerra
protesto no Kremlin. Ela realmente consegue chamada de Guerra Fria.
despertar compaixão pelos africanos vítimas
Numa espécie de irmandade, com o objetivo
da fome, ou pelos prisioneiros que estão
comercial de dividir as despesas, fotógrafos de
sofrendo.
meia dúzia de nacionalidades se reuniram em
A acusação mais séria contra a influência da 1947 para fundar a Magnum Photos, com
televisão nos meios de comunicação impressos escritórios em Nova York e Paris. Eu fui seu
é que, com o auxílio da publicidade, o primeiro cliente, assinando uma série chamada
jornalismo foi transformado em entreteni- "People are People The World Over" (Gente é
mento. O mundo inteiro é um grande show, Gente no Mundo Inteiro), que fazia uma
não deixando muito clara a distinção entre a comparação das vidas dos agricultores em uma
guerra das estrelas de Hollywood e as guerras série de países. Foi um ato de humanidade.
reais como as do Golfo e da Bósnia. O tempo Publicada no jornal feminino Home Journal do
que a televisão dedica a cada assunto é qual eu era editor de arte na época, despertou
limitado, a televisão logo perde o interesse. E, muito pouca atenção, a não ser de um homem,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
o fotógrafo Edward Steichen, então diretor de nalistas estavam entre os correspondentes que
fotografia do Museu de Arte Moderna. A série morreram. Entre eles, estava o Larry Burrows,
o inspirou a buscar fundos para uma grande da Life, que trabalhava em Londres, em uma
exposição que ele intitulou "The Family of sala escura, na noite do Dia D, mas não foi.
Man" (A Família do Homem). A família de como eu disse antes, o rapaz que estragou o
Steichen foi vista por milhões de pessoas em filme do Capa. Eu era totalmente contra a
muitos países e, no início deste ano, em Guerra do Vietnã, da mesma maneira que o era
Toulouse, ela deu início à sua segunda turnê contra a histeria da Guerra Fria e também
mundial. contra a recente Guerra do Golfo. Fico
satisfeito de ver que, mesmo um especialista
Infelizmente, as guerras coloniais nos
em Guerra Fria, como John le Carré, também
atingiram. Em 1954, Robert Capa, um dos
já julga a Guerra Fria desnecessária.
fundadores da Magnum, foi morto quando
cobria a guerra francesa na Indochina, uma Gostaria de ver a comunidade do fotojorna-
guerra na qual ele não acreditava. Em 1956, lismo desviar sua atenção das celebridades, e
outro fundador da Magnum, David Seymour, da invasão de sua privacidade, para assuntos
conhecido como Chim, foi morto por uma que realmente interessam, como o abismo
metralhadora egípcia em Suez. A Magnum, no entre os ricos e os pobres, entre os
entanto, resistiu e inspirou todo um grupo de muçulmanos e os cristãos, entre os brancos e
outras agências independentes: Gama, Sigma, os pretos, entre o homem e a máquina, entre o
a Sipa na França, Bilderberg na Alemanha, Norte e o Sul. E também para a preservação do
Network na Inglaterra, e muitas outras cujos nosso planeta. Eu diria que as mensagens
fotógrafos, substituindo as antigas equipes das importantes não estão sendo bem entendidas,
revistas de fotos, agora cobrem os eventos no porque a mídia foi corrompida pela
mundo inteiro. comercialização. O mercado editorial é uma
indústria, mas o jornalismo é uma profissão.
O Vietnã foi uma guerra terrível para o foto-
Não nos esqueçamos dessa distinção. Será que
jornalismo, uma guerra que produziu apenas
estamos vendendo jornais ou nos vendendo?
perdedores. Pelo menos uma dúzia de fotojor-
Referência bibliográfica:
MORRIS, John. “Meio Século de Memórias” in 4º Encontro Internacional de
Jornalismo: conferências e debates (edição: Adhemar Altieri), São Paulo: IBM, 1994.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto VII
Os Atacadistas de Notícias
(Agências Internacionais de Notícias)
John Hohenberg, 1981
Tanto na União Soviética como na China já após a primeira visita de Nixon à China, o
está abolida a primitiva censura militar, em Governo chinês passou a admitir os
vista da eficiência do controle governamental correspondentes americanos por períodos
sobre os meios de comunicação. limitados. Mas não se pode duvidar que as
Teoricamente, todos os correspondentes agências de notícias americanas e chinesas têm
estrangeiros têm liberdade para enviar o que assumido maiores responsabilidades, incluindo
bem entenderem; na prática, contudo, sabem a troca de serviços.
que, se insistirem em ofender os seus Entretanto, com exceção dos grandes
hospedeiros, serão expulsos imediatamente e, acontecimentos, como a visita de um
em casos raros, presos como espiões. Portanto, Presidente a Moscou ou a Pequim, raramente
na realidade o correspondente deve exercer as notícias fornecidas pelas agências
uma autocensura, o que é uma tortura refinada ocidentais e japonesas são divulgadas nos
para o jornalista. Do ponto de vista dos centros da União Soviética ou na China. O
regimes comunistas, essa situação é mesmo se dá com o material das empresas
satisfatória. Alegam, com tranqüila inocência, jornalísticas. Geralmente as notícias do mundo
que não praticam a censura; porém, ao mesmo não-comunista são transmitidas de Moscou ou
tempo mantêm os correspondentes sob de Pequim apenas quando perfilham os
controle absoluto. objetivos desses governos. E os
Apesar dos períodos de hostilidade do Oriente correspondentes ocidentais e japoneses que
e do Ocidente, e das lutas internas em ambos trabalham nessas capitais precisam estar
os lados, os acordos mútuos entre as principais sempre muito atentos ao que dizem e ao que
agências de notícias têm sido mantidos. A escrevem.
Tass, por exemplo, compartilha seu material Em vista dos obstáculos impostos às agências
com as agências ocidentais, em base de e aos correspondentes estrangeiros em geral, é
reciprocidade, há anos, sem levar em conta o quase um milagre que as nações do mundo
que Washington e Moscou dizem um do outro. sejam pelo menos parcialmente informadas
E a Hsinhua tem mantido acordos similares sobre os acontecimentos mundiais. Como as
com as agências que obtiveram permissão para agências de notícias arcam com grande parte
enviar correspondentes a Pequim, e mais desse peso, merecem bem mais elogios do que
recentemente, com a AP e a UPI. Porém, as críticas que geralmente recebem.
durante períodos de intensa agitação política,
as coisas mudam na China. Foi num desses Mas assim são os editores de jornais. Poucos
períodos, no auge da Revolução Cultural, que consideram satisfatório um despacho não
um correspondente da Reuters, Anthony Grey, dirigido por eles próprios.
foi mantido em cárcere domiciliar, num quarto
em Pequim, por dois anos. E um
correspondente japonês permaneceu na prisão As Agências Nacionais
por tempo ainda mais longo. O sistema de comunicações das agências
Quanto ao relacionamento entre Pequim e os expandiu-se gradualmente no correr dos anos,
americanos, ocorreu uma mudança depois que por meio da ligação de uma cadeia de serviços
o Primeiro-Ministro Chou En-lai, ao receber nacionais aos cabos e circuitos de rádio do
um time americano de pingue-pongue, em mundo todo. Isso se faz mediante vários tipos
Pequim, em 1971, voltou-se para John de acordos. Algumas agências nacionais são,
Roderick, da AP, antigo correspondente na na realidade, extensões de um ou mais serviços
China, e disse "Senhor Roderick, os senhores globais, em determinadas áreas. Assim, a
acabam de abrir uma porta". A partir desse Canadian Press é a principal agência do
momento, durante as negociações para o Canadá, e a Australian Associated Press
reconhecimento mútuo dos dois governos, principal da Austrália, ambas parte da
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Muitas vezes estão melhor informadas que os podem desorganizar a programação mais
diplomatas sobre os grandes acontecimentos cuidadosa.
da política mundial. Quanto aos militares, todo Os métodos da AP e os da UPI diferem em
o mundo sabe que muitos oficiais do serviço alguns detalhes, porém, no todo seguem os
secreto estariam perdidos na névoa das mesmos princípios, porque trabalham sempre
comunicações militares, lentas e obscuras, se com jornais na iminência de impressão. As
não tivessem um teleimpressor no escritório. partes das notícias seguem uma ordem, não
Quando um político tem algo a dizer, necessariamente consecutiva. Podem ser
importante ou não, uma das primeiras colocadas entre boletins ou outro material que
perguntas que faz ao seu Secretário de tenha precedência.
Imprensa é se as agências foram informadas. 2) Titulagem: Por todos esses motivos não é
Sejam grandes ou pequenas agências, prático para a agência redigir a matéria do
manchete ou artigo, sexo ou ciência, negócios mesmo modo que o jornal, com os títUlos das
ou crime, pode-se confiar nas agências de páginas numeradas, 1 - 2 - 3 - 4. O material da
notícias para sua divulgação. São também agência consiste em um primeiro "take" e uma
fornecedoras de informação para todo o série de adições, para a maioria das matérias.
inseguro edifício da moderna comunicação de As adições são facilmente identificáveis
massa. porque trazem o título, local e data do original
O jornalismo americano não existiria sem elas. e a seqüência da transmissão.
Tornaram-se indispensáveis. Os títulos, nas agências, funcionam também
como código para indicar urgência na
transmissão. As agências americanas usam
Como Trabalham as Agências de Notícias
geralmente as indicações: "Flash", Boletim e
As técnicas usadas pelas agências no Urgente, em ordem decrescente de
tratamento das notícias diferem dos processos importância.
usados pelos jornais, em alguns aspectos.
Tais indicações são incluídas no material de
1) Programação: Antes do início de cada ciclo, "cabeçalho", necessário para o computador, e
envia-se uma programação a todos os clientes colocado no início de cada matéria. Por
de um determinado circuito para que tomem indicação da Associação Americana de
conhecimento do material avaliável para Editores de Jornais, ambas as agências
transmissão. Essa programação ou relação de incluem no "cabeçalho" certos dados, como
estoque informa os editores sobre cada matéria número da transmissão, indicador do nível da
que receberão, com título, descrição, e, às mesma, código especial "pré-cabeçalho",
vezes, número de palavras. Não indica o prioridade e categoria. Dito assim, parece
tempo específico em que cada uma será muito complicado, mas na prática é mais fácil
transmitida, porque este pode variar. Os furos, e necessário à publicação.
enviados no momento em que acontecem,
Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos
meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.187-
202
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Texto VIII
Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos
sobre o Exterior
Guillermo García Espinosa de Los Monteros, 1998 (tradução: Pedro Aguiar)
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Pese a todo persiste uma constante disputa requisito ideológico para o fluxo
pela vanguarda no estilo e a influencia política de outras exportações materiais."
mundiais. Mais que qualquer outro exercício
jornalístico, o escrito em inglês ganhou uma
dupla reputação no mundo: é escandaloso, Reuter deu ao jornalismo de correspondência
sensacionalista e intrometido, mas também é no exterior a estrutura de negócio. Havas, o
penetrante em fatos e impõe pautas sobre o inglês Reuter, o alemão Peter Wolff, que
conceito de notícia e redação. plantou as raízes da DPA de hoje, e o inglês
William Howard Russell, o primeiro
correspondente de guerra da imprensa
A Economia do Jornalismo Internacional industrial, foram os mais notáveis jornalistas
da primeira geração de repórteres enviados
As agências de notícias foram criadas nos anos
para missões no exterior, e marcaram
trinta do século XIX. A informação econômica
caminhos para esta categoria, que chegou a ser
foi sua primeira matéria-prima; difundiram
uma família peculiar do jornalismo,
dados sobre a agricultura e a mineração no
identificada por um afã migratório.
mundo. O jornalismo é uma atividade
econômica do capitalismo, que em suas
origens satisfez a necessidade de comunicação
Da Redação de Despachos Internacionais
dos comerciantes e banqueiros, de informar-se
sobre preços de mercadorias e mercados de As técnicas de redação de despachos
grãos e metais. internacionais tiveram seu próprio processo
evolutivo. Elas existiram sob a forma da
A informação política foi entregue primeiro crônica, o relato quase literário, ou narrativa
em forma de suplemento. O francês Charles breve de fatos, a interpretação política, ou
Havas pôs à venda a tradução de documentos análise econômica.
com informação de atualidades sobre o
exterior; este foi o primeiro produto de Houve uma mudança constante nas técnicas de
comunicação jornalística que ofertava redação no jornalismo internacional. Quando
acontecimentos de terceiras nações. O inglês John Reed escreveu para a imprensa nova-
Julius Reuter, que foi empregado de Havas, iorquina e bostoniana, seus despachos sobre a
introduziu seu serviço de difusão de "fatos Revolução Mexicana eram crônicas que se
súbitos e imprevistos". Reuter abriu a transformaram em contos literários. As peças
profissão a uma esfera intelectual até então de Reed, como as de seus contemporâneos na
inimaginável, sem o desenvolvimento político África ou na Ásia, foram escritas com
e tecnológico alcançado até então. liberdade de estilo, cumprindo com o
propósito de dar notícias e inteirar os leitores
A venda de informação agrícola e dos acontecimentos que alteravam a
mineralógica foi só o primeiro meio de normalidade dos povos sobre os quais faziam
intercâmbio para as empresas jornalísticas. As jornalismo de correspondência. Hoje os textos
primeiras agências de notícias internacionais de informação internacional são em geral
funcionaram como monopólios traçados a informativos e sucintos.
partir de fronteiras nacionais. O jornalismo
internacional é uma expressão intelectual do Os despachos de correspondentes e enviados
capitalismo, em vez de um gênero empresarial. especiais às guerras européias ocupavam luga-
Seu produto de exportação é a informação, res privilegiados nos periódicos. Os conflitos
segundo interpretação de Smith. armados foram um motor do desenvolvimento
profissional do correspondente e da evolução
"O fluxo de exportação de meios de das técnicas de redação de crônicas do
informação atua como um tipo de exterior. Os historiadores do jornalismo apon-
tam Russel como o primeiro correspondente
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Referência bibliográfica
Título Original:
“Periodismo Internacional, Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”,
disponível em
[http://www.hemerodigital.unam.mx/ANUIES/colmex/foros/152-153/sec_14.htm]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto IX
Do Outro Lado do Mundo
Fritz Utzeri, 1989
A primeira coisa que posso dizer, com relação Os jornais brasileiros, em geral, têm uma
ao trabalho de correspondente, é que não estrutura que é muito amadorística. Eu fui para
existe nenhuma posição para mim dentro do os Estados Unidos e para a França e ninguém
jornalismo que seja melhor. O Reale Jr., que é jamais me perguntou sequer se eu falava a
correspondente de O Estado de São Paulo, língua. Até achei que falava. Quando cheguei
costuma definir essa posição como a de um aos Estados Unidos, tomei um susto quando
repórter da geral numa cidade que não é a dele. liguei a televisão. Havia uma crise no ar, e eu
O correspondente é alguém que tem que tratar não estava entendendo nada do que a televisão
de tudo, que tem que falar, por exemplo, da dizia. Entrei em pânico, achei que não ia
eleição francesa, e tentar explica-la para um passar de uma semana. No exterior trabalha-se
publico que não vai participar dela. Então,. ele de uma forma muito pouco estruturada – com
tem que traduzir a realidade do pais em que exceção de algumas empresas como a Globo e
esta, e fazer o máximo possível de a Abril, que têm escritórios. Para o resto dos
comparações que permitam às pessoas correspondentes, o que acontece é que temos
identificar o que esta acontecendo com os que ser o produtor, o telefonista, o continuo.
referenciais que estão acostumadas a usar aqui Isso é um pouco angustiante, porque se chega
em casa. numa cidade desconhecida com um
caderninho em branco. E como ser "foca" de
O correspondente não pode, de maneira
novo. Rapidamente é preciso montar um
alguma, perder o contato com o seu país. O
sistema que permita não ser "furado" se
tempo todo ele funciona como um brasileiro
acontecer alguma coisa importante, E o
que está na Europa, nos Estados Unidos, no
importante, no caso, vai desde o fato político
Japão, enfim, onde estiver, observando uma
local, até a passagem de algum brasileiro
realidade que não é a dele. É fundamental que
ilustre pela cidade.
o correspondente esteja sempre bem
informado tanto sobre a realidade do país em Dificilmente o jornal pede as matérias. Em
que esta como sobre a realidade do seu próprio 90% dos casos a decisão do que escrever, do
pais. Não é possível, por exemplo, não saber que apurar é do próprio correspondente. Se,
quem é Fernando Collor de Melo, ou Leonel por um lado, isso da uma grande liberdade, por
Brizola, ou a Xuxa. São coisas fundamentais outro obriga que ele seja muito disciplinado,
para pinçar na realidade francesa, por porque tem que manter um fluxo regular de
exemplo, uma comparação brasileira. matérias. E o problema é saber que matérias.
Pode ser que um assunto, muito interessante
O correspondente, pela estrutura dos jornais
para o correspondente ou para o leitor francês,
brasileiros, é o mais livre dos jornalistas. Isso
não interesse ao público brasileiro. Essa
é mais verdade ainda na Europa, quando se
sensibilidade tem que estar sempre presente.
tem cinco horas a favor. O que significa que,
Descobrir um bom assunto, escrever de uma
quando o correspondente esta com a sua
maneira atraente é importante, porque a
matéria pronta, o pessoal aqui ainda não
maioria dos leitores do jornal não lê a seção
chegou ao jornal. O correspondente trabalha
internacional. É importante que o
no século XXI. Em casa, com um computador
correspondente tenha um certo estilo, que
na sua frente, ele passa a matéria direto para o
descubra um gancho, algo que nem é
jornal. Eu costumo brincar dizendo que o
necessariamente uma noticia importante.
único jornalista que pode bater uma matéria de
cueca, em casa, tranqüilo, é o correspondente.
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O essencial é transmitir para as pessoas que Quando eu era criança, na época em que ainda
estão lendo como é o país onde o havia bonde no Rio, as pessoas me
correspondente está baseado. No meu caso perguntavam quando ia a outras cidades: "Lá
particular, como repórter de gera!, sempre na tua cidade tem bonde?" Cidade que não
achei que, quando não ha um grande assunto tivesse bonde era ruim. Isso é um pouco o que
— quando não se esta cobrindo uma todos fazem com o correspondente: "As
eleição,uma guerra ou uma crise política —, é pessoas comem o quê? Como vivem? Como se
melhor simplesmente sair pela cidade. Sempre vestem? o que gostam? o que não gostam?"
aconselho aos repórteres que não fiquem na Tudo isso nos temos que responder, e bem.
redação, porque ha coisas interessantes Isso não significa que o correspondente não dê
acontecendo na rua, e e!e tem que estar de um tratamento diferenciado às mesmas
olho aberto, à procura de uma novidade. Um noticia.s que as agências estão enviando, mas
simples passeio por Nova York ou Paris não ha condição de ele competir com o tipo de
permite praticamente esbarrar em pautas na estrutura de uma UPI ou AP, por exemplo.
rua. Em ultimo caso, pratica-se o chamado Quando eu era correspondente em Nova York,
vampirismo: pega-se, por exemplo, o tinha uma dupla dificuldade, porque na época
Libération e chupa-se uma matéria. É uma o Jornal do Brasil comprava o serviço do New
coisa que o correspondente não gosta de York Times. Numa cidade onde se tinha o
admitir, mas que acontece. Mas mesmo isso maior jornal do mundo cobrindo e mandando
requer uma certa arte. Não basta simplesmente na mesma noite tudo o que acontecia, fora as
pegar e copiar uma matéria. É preciso outras agências, era preciso realmente procurar
reescrever o texto de um jeito que o Brasil muito por um assunto interessante. Mas é
tenha alguma coisa a ver com aquilo. Não é sempre possível encontrar, até pela liberdade
necessariamente a matéria mais importante do que o correspondente tem. O fato é que ele
jornal, às vezes é uma notinha. precisa montar uma estrutura. Trabalhando em
Quando eu estava em Nova York, li uma casa, eu não podia me dar ao luxo de ter quatro
matéria pequena num jornal sensacionalista, ou cinco maquinas de telex, uma da Associated
New York Post. Era sobre uma escola Press, outra da UPI, outra da France Press.
sofisticada na Califórnia que estava usando as Aliás, pegar um telex de agência e "pentear" é
crianças, há vários anos, para fazer filmes bobagem, porque o mesmo texto que estaria
pornográficos. Apurei mais alguma coisa, e a batendo na minha casa, estaria entrando,
matéria teve a maior repercussão porque a exatamente na mesma hora, na redação do
historia era muito estranha. E era mais Jornal do Brasil.
estranha para mim do que para os americanos. O que quero dizer é que nos precisamos saber
Eu me perguntava como nenhuma dessas basicamente o que esta acontecendo, mas de
crianças, durante anos, disse nada em casa. uma maneira diferente, com uma perspectiva
Através de uma matéria como essa se tem uma local, que permita ao correspondente trabalhar
reflexão do tipo de sociedade que é aquela. É a em cima dela. Nos Estados Unidos o nosso
mesma sociedade onde, de vez em quando, um trabalho é facilitado pela CNN, uma rede de
louco pega uma carabina e vai ao televisão chamada Cable News Network, que
MacDonald’s matar criancinhas. É o que e!es pertence ao Ted Turner e permite receber 24
chamam de hostage situation (situação de horas por dia material não editado. Lembro
refém). Na França, eram freqüentes as que, quando explodiu a embaixada americana
matérias mostrando mordomias, marajás, mas em Beirute, a CNN entrou no ar ao vivo, e as
em geral os corruptos acabavam na cadeia ou imagens foram tão horríveis que eles pararam,
afastados. O papel do correspondente nesses pediram desculpas e editaram um pouco. Isso
casos é comparar as situações. mostra que, se o Reagan levasse um tiro, eu
teria imagens ao vivo. Para não perder nada,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Em relação ao país, depois de sete anos no exterior está em torno de quatro a cinco anos.
exterior, entre os Estados Unidos e a França, é Depois ele deveria .voltar. O primeiro ano é
claro que é difícil voltar e se acostumar. O um ano de construção, não se sabe de nada. No
nível da deterioração dos serviços e até mesmo segundo, já se começa a ficar à vontade, e o
o empobrecimento que noto são enormes. terceiro é o ano em que, efetivamente, a pessoa
Tomei um susto quando recebi o meu primeiro já é conhecida, já tem um alentado caderninho
salário brasileiro, e era um salário razoável de endereços. Quando chega a esse ponto a
para os padrões locais. O correspondente, pessoa é transferida, pega o caderninho,
mesmo dentro dos padrões brasileiros, com a arquiva na mala, e vai para outro lugar com
penúria empresarial e o custo do dólar, em uma nova folha em branco. Fiz isso duas
geral, é um profissional bem pago, inclusive vezes, e estou fazendo pela terceira, porque
para os padrões franceses ou americanos. Eu voltar para o Rio depois de tanto tempo é
ganhava na França iguaI a um bom jornalista recomeçar do zero. Aliás, espero que daqui a
francês, o que significa um bom salário, três anos alguém me mande para fora. Até
porque os salários dos jornalistas de lá são acho que pode existir uma carreira de
melhores do que os daqui. Em geraI os salários correspondente, afinal, hoje, os jornais
lá são o suficiente para viver. Essa é a costumam ser cada vez mais especializados.
diferença básica. Mesmo no caso de um "foca" Mas, mesmo que existisse essa carreira, o
que está começando e ganha mal, esse mal é o jornalista deveria passar um tempo na redação
suficiente para ele viver. antes de seguir para outro país.
Uma das propostas que o Jornal do Brasil Em geral, o cargo de correspondente é visto
tinha me feito, e era até uma boa proposta, era como um prêmio, ou então como solução para
para ser editor nacional, porque eu seria uma questão política interna da redação.
alguém que teria uma visão ainda um pouco Quando saí daqui em 82, tinha chegado ao
escandalizada do Brasil, e poderia transmiti-la Jornal do Brasil e dito: "Não agüento mais o
às pessoas. Quando cheguei, os deputados JB, vou me embora." Então, eles me fizeram a
brasileiros estavam querendo aumentar os proposta de ir para Nova York.
salários deles e as pessoas me perguntaram: Na mesma hora eu disse: "Vou." E fui. Mas
"Quanto é que ganha um deputado na França?" imaginem desembarcar em Nova York —
Eu disse: "Olha, um deputado na França ganha Manhattan, Empire State, World Trade Center,
exatamente a mesma coisa que os deputados Wall Street, milhões de carros na rua, todo
querem ganhar aqui, a única diferença é que mundo falando inglês — com uma folha de
esse dinheiro na França equivale a 12 salários papel em branco, sem conhecer ninguém. É
mínimos, aqui equivale a 120." Há uma preciso ir à polícia tirar uma credencial, ao
distorção maior dentro da sociedade, e são Foreign Press Center, arranjar um apartamen-
coisas com as quais não é possível se to, descobrir quem são os correspondentes dos
acostumar. Talvez fosse bom não se adaptar outros jornais, começar a conhecer as pessoas,
realmente. Acho que ainda estou resolvendo a pôr as crianças na escola. A agenda em branco
minha volta. Conheço alguns "coleguinhas" leva um certo tempo para se encher. O que
que não resolveram bem esse problema, que mais complicou a minha chegada a Nova York
saíram do jornalismo e foram fazer assessoria, foi que, dois meses depois, o México decretou
"piraram" ou voltaram para o exterior. a moratória, e o sistema financeiro
A experiência de correspondente é muito boa, internacional quase foi à falência. Eu, que
tanto que eu não pedi para voltar. Mas os nunca tinha coberto economia, fui aprender
jornais, hoje, criaram uma espécie de rodízio, navegação a bordo do Titanic.
em que acham que o jornalista deve Quando se está lá fora, pode-se reparar que o
permanecer três anos no exterior. O prazo mundo está se integrando cada vez mais, que
adequado para um correspondente ficar no
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
estão se formando grandes blocos econômicos grandes revistas a Time, e a Newsweek, além
e políticos: a Europa de 92, os Estados Unidos, de uma infinidade de outras revistas da melhor
o México e o Canadá que estão praticamente qualidade. O New York Times tem um corpo
formando uma unidade econômica, o Japão e enorme de correspondentes, um staff
os países do Sudeste Asiático e a China, gigantesco, e é um jornal massudo, com um
namorando essa órbita de influência. Nós nos faturamento absurdo, que cobre tudo que se
vemos aqui no quintal, longe desse processo, puder imaginar. Mas há um outro fenômeno
às voltas com as nossas velhas histórias, Os nos Estados Unidos, que é fundamental, a
jornais estão muito preocupados com: "Fulano televisão. As três grandes redes e a CNN têm
diz", "Sicrano faz". Na época em que comecei, programas de jornalismo com os quais nós não
os jornais tinham um ar mais corajoso, se podemos nos comparar. Só para ter uma idéia,
investia mais em reportagem. Posso estar até um programa chamado 60 Minutes tem 150
generalizando. Os jornais não são muito produtores.
diferentes uns dos outros. O Globo, por Na França, todos os jornais têm opinião sobre
exemplo, para mim não mudou nada. Outros tudo. O Le Monde, por exemplo, é um belo
jornais mudaram um pouco, a Folha jornal, com uma perspectiva histórica que,
aperfeiçoou o que já vinha fazendo, é certamente, explicará tudo ou quase, até
interessante mas ainda é um jornal muito porque o francês médio pensa melhor do que o
confuso. Sinto falta da grande matéria, da americano. Mas é difícil saber o que aconteceu
matéria de repórter. ontem. Uma vez houve uma manifestação
No período em que fui correspondente, muito grande da CGT em Paris e o Le Monde
observei dois universos muito diferentes em garantiu, em três linhas, que aquela
termos de jornal. Os nossos jornais e manifestação tinha sido menos importante do
televisões têm um padrão muito mais parecido que a de 1984. Eu li e disse: "Obrigado." Essas
com o americano. O Jornal do Brasil é muito três linhas resumiam tudo o que tinha
mais parecido com o New York Times do que acontecido naquela tarde, e seguia-se uma
com o Le Monde, sem sombra de dúvida. O página de análise sobre sindicalismo. Ou seja,
americano tem um jornalismo mais notícia é em outro lugar.
investigativo. Basta acompanhar, por exemplo, Existe ainda um jornal chamado Libération.
os escândalos que periodicamente acontecem um tablóide muito bem-feito, que não tem a
sobre a vida privada dos políticos americanos. pretensão de cobrir tudo mas sempre tem
Quando o Jornal do Brasil publicou uma alguns assuntos muito bons. O Figaro é o que
matéria sobre a filha do Lula, ele disse que mais se aproximaria do nosso modelo de
isso acontecia porque estava morando aqui e jornalão, uma espécie de Estado de S. Paulo. É
não nos Estados Unidos. Lula disse uma o maior jornal nacional da França. Há 25
bobagem, porque lá, possivelmente, iriam jornais em Paris, cada um deles tem uma
querer saber não só da filha dele, mas da tendência política. O Figaro é escandaloso,
primeira namorada que ele teve... Isso dá idéia porque a posição política não está só no
de que lá as coisas têm conseqüência. Basta editorial, o noticiário também sofre essa
ver o efeito da imprensa em cima do caso interferência. Quem lê o L'Humanité e o
Watergate, e, recentemente, do Irãgate. É só Figaro vê dois fatos completamente diferentes,
comparar com o que acontece no Brasil. Aqui porque eles têm uma posição política que é
as coisas se diluem. muito mais marcada do que estamos
Os jornais americanos são muito ágeis. Até acostumados a ver.
porque eles têm uma enorme quantidade de No Brasil, todo mundo sabe de que lado um
dinheiro. Há os grandes jornalões, o jornal está, apesar de eles gostarem de, pelo
Washington Post, o Los Angeles Times, o New menos, dar uma aparência de que isso não é
York Times; que são nacionais, e as duas
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
verdade. Na França as pessoas, em geral, não inclusive que as mulheres francesas eram feias
se preocupam muito com isso., Os jornais e raquíticas.
defendem suas bandeiras abertamente. O Meu artigo era sobre o seguinte: quando se
jornal mais "furão" da França é um semanário mora na França, todo ano é preciso ir à polícia
satírico que chama-se Le Cal1ard Enchainé, e tirar uma Carte de Sejour, uma autorização
que é, literalmente, o pato acorrentado. Esse de permanência. A Carte de Sejour é o terror
jornal, de vez em quando, dá furos, denuncia do estrangeiro na França, porque ele tem que ir
escândalos, cria crises de governo. É como se para uma fila quase igual à do Félix Pacheco
fosse o Pasquim dos bons tempos dele. do Rio. Os jornalistas são mais bem tratados,
A televisão não tem o mesmo papel, tiram o documento no mesmo lugar em que os
principalmente porque ela era estatal até pouco diplomatas obtêm os deles. Quem não é nem
tempo. Além disso, o francês não gosta muito uma coisa nem outra vai para a fila, e no
de televisão. Não é igual aos Estados Unidos inverno, fica-se esperando na rua. Resolvi não
ou ao Brasil. Basta dizer, por exemplo, que um tomar conhecimento da simpática velhinha que
dos programas de maior audiência na França cuidava disso para mim no serviço dos
chama-se Apostrophes, um programa literário. diplomatas e fui como um mortal comum.
Alguém consegue imaginar um programa Depois de três horas e meia de fila, a 15 graus
literário no Brasil às 9h da noite na Rede abaixo de zero, finalmente me colocaram
Globo? No metrô de Paris, as pessoas, em numa sala, que media 9m2, junto com outras
geral, estão todas apertadinhas com o seu 60 pessoas. Quando consegui chegar ao
livrinho, nas posições mais esdrúxulas, guichê, a mulher carimbou um papel e disse:
tentando ler alguma coisa. lê-se "Volte em maio", ou seja, quatro meses
alucinadamente. Inclusive, às vezes, os depois. Não me deu a Carte de Sejour, me
noticiários terminam recomendando um livro. mandou para uma nova fila, em maio, quando
Realmente isso não faz parte da nossa cultura. já estaria um pouco mais quente. Então tive
Os jornais franceses atendem muito a esse tipo um ataque, gritei, e quase quebrei uma porta
de necessidade. Os franceses têm uma idéia de vidro, porque eu queria ser preso. Não
talvez maior da história, existe uma memória aconteceu nada, porque os franceses não
que nós aqui, infelizmente, não. temos. reagem. Saí de lá morrendo de raiva e escrevi
A preocupação com a imagem do país não é só uma matéria no jornal, contando tudo,
dos brasileiros: Fiz uma matéria que saiu inclusive dizendo que "quando a gente
publicada num livro na França, chamado A importou a cultura francesa, a gente importou
França no exterior, em que se reuniram 250 a arrogância, a prepotência". Foi uma matéria
artigos de imprensa para mostrar como o país editorializada e de um mau humor absoluto.
era visto pelos correspondentes. Depois a Obviamente que os franceses souberam,
revista Actuel traduziu três desses artigos, o porque depois a matéria apareceu traduzida na
meu abria e o do Pravda fechava, dizendo revista. Aliás, não me pagaram por isso até
hoje.
Referência bibliográfica
UTZERI, Fritz. “Do Outro Lado do Mundo” in RITO, Lúcia; ARAÚJO, Maria Elisa de;
ALMEIDA, Cândido J. Mendes de (orgs.). Imprensa ao Vivo, Rio de Janeiro: Rocco,
1989. págs.145-158
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto X
O Fim de uma Era
(Correspondentes Internacionais da TV Globo)
Antônio Brasil, 2003
62
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
somente quando as matérias são bem jornalistas brasileiros são transferidos para
produzidas e fazem conexões com as Londres, não entendem nada de jornalismo
peculiaridades da cultura nacional. internacional e sequer falam inglês.
Cobertura internacional exige estratégias a Repito, ser correspondente internacional não
longo prazo que educam e formam um publico deveria ser prêmio ou oportunidade para
exigente. Mas, por outro lado, muito editores passar alguns anos no exterior desfrutando de
acreditam que podem mostrar o mundo nos um "televidão". Ser correspondente
telejornais com algumas "lapadas" – aquelas internacional deveria significar uma vontade
imagens rápidas, sem pé nem cabeça que tanto muito grande de viajar pelo mundo a qualquer
mostram enchentes em Bangladesh como custo e sempre em busca de boas pautas com
mostram desfiles de modas em Milão. Isso é pouquíssimo dinheiro no bolso, muitas idéias
no mínimo ingênuo e irresponsável, mas ou pautas na cabeça e muita coragem para
explica o desinteresse do público. enfrentar as dificuldades.
Sempre acreditei na cobertura internacional, Correspondente internacional contratado a
mas, de preferência, produzido por gente peso de ouro pelas grandes redes de TV parece
jovem e qualificada. Nada contra os veteranos. ser cada dia mais uma espécie em extinção.
Muito pelo contrário. Mas transformar a Hoje, muitos jornalistas que cobrem os
função de correspondente internacional da grandes eventos internacionais estão baseados
Globo em prêmio, homenagem merecida ou em suas próprias sedes, mas também estão
maneira de "esfriar" jornalistas famosos em sempre prontos para serem deslocados para
situações de perigo no Brasil, nunca me qualquer parte do mundo a qualquer instante.
pareceu a solução. Afinal, bem sabemos que Manter "embaixadas" ou escritórios suntuosos
você pode ser um excelente jornalista no exterior é coisa do passado. Hoje, a
especializado em esportes e coberturas cobertura internacional economiza trocados e
policiais e não entender nada de jornalismo correspondente tanto pode ser contratado
internacional. Assim como nem todo bom como pode ser um "free-lancer" em busca de
repórter se transforma da noite para o dia em uma oportunidade profissional no exterior. É
bom editor, nem todo bom repórter no Brasil um trabalho árduo, muito competitivo e
vai ser bom correspondente no exterior. Tem perigoso que envolve enfrentar situações
que ter uma vocação especifica dentro da extremamente hostis para cobrir eventos de
própria vocação do jornalismo. qualquer maneira, vencer barreiras cada vez
maiores e convencer editores indiferentes a
Em outros tempos pioneiros, pude participar
"comprar" as suas historias todos os dias. Não
de um outro momento histórico no jornalismo
é fácil, mas certamente é possível. Pode abrir
da Globo. Nos anos 70, com uma censura
portas para muitos jovens jornalistas que
feroz nas redações brasileiras, a direção da
querem viajar, falam diversas línguas e estão
Globo na época resolveu investir na cobertura
dispostos a enfrentar muitas dificuldades. A
internacional. Nomes como Sandra
cobertura internacional em TV ainda custa
Passarinho, a primeira correspondente
caro, mas rende uma boa audiência para quem
brasileira de TV, passariam a ser referência de
sabe fazer.
qualidade em jornalismo para milhões de
brasileiros. Sandra foi transferida da editoria Mas o maior problema do jornalismo da Globo
do Jornal Internacional com Heron Domingues é não ter uma competição de verdade. Tanto
para o escritório de Londres aos vinte e poucos faz mudanças de modelo que implicam
anos. Era uma jornalista competente, mas não reduzir, realocar ou demitir correspondentes. É
era uma das estrelas globais. Falava diversas tudo pura questão de semântica para explicar
línguas e conhecia profundamente o noticiário ou justificar a necessidade de redução de
internacional. Bem sabemos que muitos custos. Mas, infelizmente, as demais emissoras
63
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “O fim de uma era”, in Comunique-se, 10 de outubro de 2003.
disponível em:
[http://comuniquese.com.br]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• Por que o autor afirma que o maior problema da TV Globo é não ter concorrência
na cobertura internacional?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XI
Crise na Cobertura Internacional
Antônio Brasil, 2002
violência das ruas e com a violência de um humanidade. Com todo seu poderio
noticiário que se recusa a manter o econômico e militar, ao se afastarem das
distanciamento legítimo entre os seus próprios notícias internacionais os americanos parecem
interesses econômicos e os interesses do apontar para tempos ainda mais difíceis. A
público. Afinal, para que tanta notícia? informação utilitária imediata supera os
Internacional então, nem se fala – ou nem se dividendos de uma cobertura mais ampla,
cobre! A pátria de chuteiras, com o voltada para a conscientização do público.
telejornalismo a reboque, esquece o resto do Globalização não é só abertura de fronteiras
mundo e se torna apêndice do plantão das econômicas. Deveria ser uma orientação da
agências internacionais. Ou seja, quase nada. ordem planetária na qual o jornalismo tem um
papel essencial. Mas quando o sucesso se
Independente da Copa, os motivos por esse
transmuda em índices de audiência e as
desinteresse do público está na falta de
notícias locais privilegiam as amenidades,
notícias, está no mundo e... no público. Não se
existe pouco espaço para o jornalismo
fazem mais guerra fria e ameaças de
investigativo sério. A apuração se confunde
holocausto nuclear como antigamente. Os
com sensacionalismo, torna-se perigosa, mata
tempos mudaram e a TV decidiu que ninguém
jornalista e faz com que a cobertura
mais se interessa por nada que esteja
internacional também seja declarada
ocorrendo além das próprias fronteiras. Os
"desaparecida" – ou enterrada em cova rasa no
fatos recentes e a História comprovam que isso
cemitério do "novo" jornalismo de televisão.
é muito perigoso.
Um jornalismo de resultados com jornalistas
Ainda em relação aos americanos, os dados da mortos em todo o tipo de guerras e pautado
pesquisa do Pew Center apontam para um pela redução de custos, aumento de riscos e do
isolacionismo informacional por parte lucro.
daqueles que decidem o futuro de toda a
Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “Crise na cobertura internacional”, in Videotexto.tv, .
disponível em:
[http://videotexto.tv.br]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• O que pode ser feito para atrair a atenção do público para o noticiário
internacional?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XII
Cobertura Internacional é para gente grande
Cristiana Mesquita, 2002
Ao ser instada por este Observatório a escrever seja apenas uma questão de custos.Grandes
sobre a cobertura do conflito no Oriente Médio redes em todo mundo também foram forçadas
pela mídia brasileira, minha primeira reação a fechar escritórios e a reduzir equipes. A
foi rápida: "Que cobertura?". E tive que parar diferença é que elas se adaptaram aos novos
e pensar. O que estaria impedindo a Globo de tempos de vacas magras.
enviar uma equipe a Israel? A Globo, sim,
porque no Brasil é a única emissora a produzir
uma cobertura internacional própria. Novas tecnologias
Confesso que tem sido uma tortura Há duas maneiras de cobrir um conflito
acompanhar o noticiário nacional sobre o violento ou guerra – seja em Israel, no
Oriente Médio. Tenho preferido assistir aos Afeganistão, na Bósnia ou qualquer outro
telejornais da CNN ou da BBC – ao quais, lugar.
apesar de não serem perfeitos, ao menos têm Você pode planejar sua cobertura como uma
equipes reportando do olho do furacão. Se é grande rede americana, que envia equipes de
uma tortura para mim, fico imaginando que pelo menos 10 pessoas, mais suas próprias
como devem estar se sentindo os facilidades de geração, e isso custa uma
correspondentes internacionais da Rede Globo. verdadeira fortuna. Ou você manda um
Tenho certeza que os repórteres da Globo pequeno grupo de profissionais altamente
estão infelizes por ter que destrinchar horas de treinados que vai saber se virar com o mínimo
imagens enviadas pelas agências para, depois, de recursos. As emissoras brasileiras não têm
escrever um texto, também baseado nas dinheiro para a primeira opção e nem os
agências, e, finalmente, descer três lances de profissionais, para a segunda.
escada para encerrar a matéria com uma Os jornalistas brasileiros que são enviados
"passagem" de Londres... para o exterior foram criados e treinados nas
Desde o fim da ditadura, quando a cobertura emissoras, onde acostumaram-se a contar com
internacional era fundamental para tapar os uma estrutura de trabalho que jamais
buracos deixados pela censura nos telejornais, encontrarão no campo. Nas minhas coberturas
as emissoras brasileiras optaram por delegar de guerras para agências internacionais de
essa tarefa para as agências internacionais de notícias, raramente contei com mais de duas
notícias e para a CNN. Os altos custos de pessoas na equipe. E para que isso funcionasse
cobertura, aliado à idéia (totalmente absurda) era necessário que todos fizéssemos de tudo.
de que o público brasileiro não se interessa por Repórteres e cinegrafistas são treinados para
matérias do exterior, foi a pá de cal no fazer muito mais do que suas respectivas
jornalismo internacional de qualidade na funções exigem. Já aconteceu, por exemplo, de
televisão brasileira. eu estar ocupada produzindo ou escrevendo
A Globo se esforça. Mantém escritórios em uma matéria e o cinegrafista sair correndo para
Londres e Nova York e, mesmo sem ter fazer uma entrevista; ou então o cinegrafista
competidores, continua buscando os furos de estar ocupado com uma edição e eu ter que
reportagem – como a entrevista com sair para gravar imagens complementares.
brasileiros que estão passando o pão que o Os tempos mudaram e a televisão, por mais
diabo amassou em Ramallah, por telefone. É irônico que pareça, deve se mirar no exemplo
melhor do que nada, mas não posso aceitar que dos bons e velhos repórteres de jornal que
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
saíam da redação de ônibus, com um endereço cobertura internacional da Globo melhorou. Houve
num pedaço de papel e uma câmera uma época em que as matérias de fora entravam
fotográfica pendurada no ombro, e voltavam como "lapadas", isto é, dez segundos para cada
com a matéria. Talvez esteja exagerando um assunto, como uma revista em que as páginas eram
pouco, mas esse é o espírito. viradas rapidamente dando tempo de ler apenas as
manchetes. Hoje já se pode ver longos minutos
Cobertura de guerra é muito caro, a começar
dedicados a uma matéria com participações de
pelo seguro de vida dos profissionais. Se
correspondentes em Londres, Nova York e
alguém já se deu ao trabalho de ler as letrinhas
Washington.
de alguma apólice de seguros vai notar que
todas esclarecem que não cobrem acidentes O Jornal Nacional, que tem um padrão
ocorridos em zonas de guerra. Depois, vêm os extremamente rígido, inovou colocando no ar o
custos de transmissão, hotéis, aluguel de carro, trabalho do videojornalista Luis Nachbin, que viaja
intérpretes, diárias e por aí vai. Não se pode o mundo sozinho gravando suas próprias matérias.
abrir mão do seguro, mas, para todo o resto, Por enquanto são apenas matérias frias, com
uma equipe bem treinada pode dar um jeito. formato quase idêntico ao das reportagens
tradicionais, mas já é um começo. A Globo se
As redes brasileiras de TV também têm sido
arriscou, e muito, quando colocou no ar, para
incrivelmente lentas em reagir às novas
reportar direto do Afeganistão, uma completa
tecnologias. Boa parte das equipes que
desconhecida que nunca fez sequer uma aulinha de
estavam cobrindo a guerra no Afeganistão já
dicção. Está certo que houve um momento de
usavam pequenas câmeras de vídeo e
pânico na redação quando me perguntaram se eu
transmitiam suas matérias pelo computador. A
tinha um blazer para fazer o "ao vivo" – e eu
própria CNN faz isso o tempo todo. O
respondi que não tinha blazer nem batom e o que o
videofone, que permite ao jornalista entrar ao
cabelo não era lavado havia pelo menos 5 dias. Foi
vivo de qualquer lugar do mundo utilizando
importante lembrar a eles que eu estava em Cabul
apenas uma linha telefônica, já tem qualidade
e não em Brasília.
suficiente para ser adotado em qualquer
telejornal com relatos de primeira mão. Correspondente de guerra não é estrela, é operário.
Trabalha feito operário e vive como operário. E
Dou minha cara a tapa se uma entrada do
não adianta mandar uma equipe para marcar
repórter Caco Barcelos via videofone no Jornal
presença por uma semana para acompanhar a
Nacional, mesmo que com a qualidade inferior
visita a Israel do secretário de Estado americano
mas falando direto de Israel, não daria o maior
Colin Powell. A equipe tem que ficar lá o tempo
ibope.
necessário para entender a história (ainda não
inventaram maneira melhor para cobrir um fato),
Paletó e gravata estabelecer contatos e se entrosar com a pequena
comunidade de correspondentes de guerra que, no
O conflito em Israel, que a qualquer momento final das contas, são as únicas pessoas com quem
pode descambar para uma crise geral no se pode contar quando alguma coisa dá errado.
Oriente Médio com conseqüências
inimagináveis para todos nós, enquanto isso O correspondente de guerra tem que ter a
vai deixando de ser a matéria de abertura dos experiência que vai lhe permitir total autonomia
telejornais e daqui a pouco passa para o para decidir o que cobrir – e como. O
segundo bloco, depois para o terceiro, até virar correspondente de guerra tem que estar
uma notinha. Aí vão dizer que é porque o familiarizado com todo o tipo de tecnologia que
público cansou da história quando, na verdade, vai facilitar e baratear sua cobertura.
o público cansou é de ver aquela matéria fria Resta saber se a Globo está disposta a tirar o
que não acrescenta nada ao que já não tenha paletó e a gravata e botar a mão na massa.
visto nos jornais ou em outro canal. Esperamos que sim.
Muita gente talvez não tenha notado, mas a
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
MESQUITA, Cristiana. “Cobertura internacional é para gente grande”, in Observatório
da Imprensa, 17 de abril de 2002.
disponível em:
[http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo170420021.htm]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XIII
Cobertura Brasileira sobre Guerras
Entrevista com Jayme Brener, 2003
A imprensa retrata a guerra de maneira Para qual veículo o sr. trabalhava quando
justa e imparcial? Ela pode realmente cobriu a Guerra da Nicarágua e como foi
influenciar a população a favor ou contra essa experiência? O que mudou na
um conflito armado? cobertura das guerras desde então?
Brener – Quando se fala em imprensa, Brener – Cobri o conflito para o Jornal do
conceitos como “justiça” ou “imparcialidade” Brasil e depois para a Rádio Eldorado e,
são discutíveis. Tanto é assim que toda a principalmente, para o Jornal da Tarde. A
imprensa brasileira é “parcial” no caso, é experiência foi fantástica, com um detalhe: eu
contra a guerra. A mídia pode influenciar a era stringer, isto é, um free lancer fixo. Quer
população em relação a um conflito armado. A dizer, não tinha nenhuma estrutura de apoio.
cobertura altamente profissional da Guerra do O que mudou na cobertura tem a ver com o
Vietnã (quase sem censura, ao contrário de fim da Guerra Fria. Hoje, nas grandes guerras,
hoje) teve papel decisivo para o crescimento o jornalista é muito mais monitorado. Veja-se
do movimento pacifista nos EUA. o caso da Guerra do Golfo, em 1991. É quase
impossível imaginar um jornalista ocidental
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
entrando na guerra pelo lado iraquiano. Na na 2ª Guerra Mundial, ou dos argelinos contra
América Central e no Oriente Médio, tive a o colonialismo francês, nos anos 50 e 60, são
sorte de poder cobrir a partir de vários lados exemplos disso.
diferentes.
Como o conhecimento da história o ajudou
Qual sua visão sobre o Oriente Médio e a no jornalismo?
relação deste com a imprensa? Brener – Por muito tempo tive uma certa crise
Brener – Acho que estamos diante de uma de identidade Sou jornalista, professor de
situação sem solução de curto prazo. De um história, historiador ou o quê? Hoje, acho que
lado há o governo de Israel, que eterniza a essa divisão foi fundamental para o meu
ocupação dos territórios dominados. De outro trabalho. Sou um contador de histórias que
lado, com Yasser Arafat temendo a força do utiliza instrumentos diferentes a cada
integrismo islâmico, não se vislumbra momento.
nenhuma força disposta a negociar de fato, o
que implicaria em concessões mútuas. Os dois Até que ponto o sr. nota uma diferença de
lados parecem se orientar apenas pela método entre jornalismo e história?
destruição absoluta do outro. Brener – A pesquisa histórica requer um certo
distanciamento de tempo que o jornalismo não
É voz corrente que numa guerra a primeira pode tolerar. Mas há inúmeros pontos de
vítima é a verdade. Como o sr. mantém a intersecção. A narrativa de uma guerra é
verdade em uma cobertura de guerra? fundamental para a construção da massa crítica
Brener – O que é verdade? Isso não existe. O da historiografia. É isso que vou tentar
que há é a busca por ouvir vários lados, ser trabalhar no curso da Cásper.
mais ou menos objetivo. Mas qualquer matéria
é versão, a partir da própria escolha dos Como autor de livros paradidáticos, o sr.
tópicos principais. Isso é “uma” verdade. acredita que o texto didático influencia o
texto jornalístico?
Para os pacifistas, nenhuma guerra é justa, Brener – Acho que uma das coisas mais
pois, independentemente da razão pela qual interessantes do jornalismo é o
se luta, pessoas morrem. Já os defensores desenvolvimento da habilidade de escrever de
dos conflitos armados alegam que uma formas diferentes, para públicos diferentes. O
guerra pode ser justa dependendo do que a garoto que lê um paradidático não é o
motiva. Na sua opinião, existe guerra justa? empresário que lê um release ou o engenheiro
Brener – Essa hipótese sobre a posição dos que lê uma publicação técnica. Acho que um
pacifistas não me parece correta. Uma guerra dos temperos do ofício é justamente a arte de
contra a ocupação pode ser justa. O conflito contar histórias de formas diferentes.
dos resistentes contra a ocupação nazi-fascista,
Referência bibliográfica:
Entrevista de Jayme Brener concedida a Fabiana Panachão e Noêmia Lopes, alunas
do 3º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (São Paulo)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=182&ed=2]
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XIV
Jornalismo sem Fronteiras
(História da CNN)
Sidney Pike, 1991
Ted Turner começou a sua vida profissional A distribuição do sinal que enviávamos para o
trabalhando no negócio criado pelo pai: uma satélite era feita a partir das instalações de TV
empresa de publicidade em outdoor. Depois a cabo de cada cidade. O sistema ainda era
quis entrar no show business e comprou bem incipiente, porque as leis da época só
algumas estações de rádio, que não fizeram permitiam que o cabo fosse usado para
muito sucesso. Seu passo seguinte foi uma retransmitir as estações locais. Quem iria
pequena estação de TV em UHF, que também pagar pela TV a cabo, quando podia sintonizar
ia mal porque, na época, 1970, só as redes as estações locais diretamente com a antena e
eram bem sucedidas, obtendo mais ou menos de graça? Mas o governo mudou essa situação,
96% da audiência. Dessa forma, quando ele permitindo que as estações de TV a cabo
me chamou para trabalhar eu hesitei muito, avançassem para além do seu mercado local.
porque eu era um profissional e ninguém com Foi nessa ocasião que Ted colocou no satélite
experiência em TV trabalharia para uma a nossa estação, que tinha uma programação
estação terrível, que os telespectadores mal de entretenimento e esportes. Eu era o
podiam localizar. administrador da estação e comecei a receber
cartas até de Yukon, no Alaska, pedindo que
Naquele tempo, não havia esses seletores de
transmitíssemos determinados filmes, e assim
canais com botões para apertar. O seletor de
por diante. Eu não conseguia acreditar que as
UHF a gente girava, como o dial do rádio, e
pessoas, àquela distância, estavam recebendo
era difícil sintonizar os canais. A emissora de
nosso sinal.
Turner era uma das que estavam "perdidas no
dial", mas, assim mesmo, resolvi trabalhar Nesse começo, as redes nacionais de TV
com ele. Logo descobrimos que os únicos baseadas em VHF, UHF e microondas eram
telespectadores que conseguiam encontrar o bem superiores às emissoras a cabo e
nosso sinal eram as crianças. Elas não se abrangiam todos os Estados Unidos. O resto
incomodavam de girar o botão até achar o que do mercado de teledifusão era muito fraco.
queriam. Por isso, começamos a lutar para sair Mas Ted teve uma idéia que fez com que a TV
do anonimato colocando no ar programas a cabo se expandisse: criou um serviço de
infantis. notícias para ficar 24 horas no ar. Assim, no
Aceitar o convite de Ted Turner foi, dia 1 de junho de 1980, inauguramos a Cable
provavelmente, a decisão mais inteligente que News Network, CNN.
já tomei na vida. A pequena estação em UHF A CNN é hoje a maior rede de TV a cabo dos
que ninguém assistia logo seria vista por todo Estados Unidos. Atinge 58.892.000
mundo – literalmente. Em 17 de dezembro de residências, o que corresponde a 63,3% de
1976, nós começamos a transmitir o seu sinal todos os lares americanos. Seu índice de
para um satélite e foi então que a coisa audiência mais alto foi alcançado durante a
começou para valer. Apertamos um botão e, de Guerra do Golfo: 23%, durante quinze
repente, a estação podia ser vista em todos os minutos. Foi um índice cinco a sete vezes
Estados Unidos, além do Canadá e da América maior do que os usuais. junto aos jovens, a
Central. Inicialmente, porém, só estávamos audiência atingiu uma faixa mais expressiva,
interessados nos Estados Unidos. variando de dez a treze vezes mais do que o
normal.
72
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
dólares por ano à KDD, a PTT japonesa, para Mas os problemas não eram muito diferentes
receber o nosso sinal, quando poderia fazer quando se tratava de administrar o nosso sinal
isso usando simplesmente uma antena 20 nacional. Em reunião com nosso departamento
vezes mais barata. Além disso, a PTT fez com jurídico, criamos um documento chamado
que o sinal fosse enviado a 60 milhas de "Programa de Dispensa de Direitos Autorais".
distância de Tóquio, obrigando a Asahi a Com ele, podíamos dizer a um país do Caribe
investir mais 500 mil dólares em microondas ou da América Central que não iríamos
para trazê-lo até a cidade. Nossos parceiros processá-los se estivessem utilizando nosso
tiveram que desembolsar, então, um milhão e sinal, protegido por direitos autorais. Mas
meio de dólares pelo sinal, quando tudo o que também dizíamos a eles que obter o sinal era
tinham que fazer era pagar 50 mil dólares por problema deles...
uma antena e colocá-la do lado de fora da Essa foi a forma que encontramos para
estação. Mas era a PTT que controlava o envio começar e, com o tempo, conseguimos
de sinais do satélite para a Terra. desgastar o esquema que nos tolhia. Primeiro,
Quando fui a Taiwan, encontrei com fizemos um acordo com o Intelsat, chamado
representantes das três redes de emissoras "Sinal de Multitransmissão". Começamos a
locais e expliquei-lhes que a CNN estaria à pagar não só pelo envio do nosso sinal ao
disposição. Mostrei como nosso trabalho era satélite, mas também todos os encargos
realizado e eles aceitaram operar conosco. normalmente desembolsados pelas estações
receptoras, para trazer os sinais à Terra. Todos
Então, perguntaram: "como teríamos recursos
os custos passaram a ser cobertos pela CNN e
para receber o sinal?"
qualquer pessoa podia receber o sinal. O único
Eu entendi o que queriam dizer. Quando os problema no acordo era que as PTTs tinham
satélites apareceram, trinta anos atrás, as que aprová-lo.
estações recebiam apenas dez minutos de
A outra forma que encontramos para romper o
notícias por dia, contendo de três a quatro
monopólio surgiu no Brasil. Este era um país
histórias. O pagamento do envio do sinal à
crucial para a nossa estratégia, porque
Terra foi estabelecido da seguinte forma: 350
acreditávamos que se o Brasil entrasse no
dólares pelos dez primeiros minutos e 29
nosso sistema, todo o resto da América Latina
dólares para cada minuto adicional. Eu não
o seguiria. Na época, um homem chamado
estava oferecendo transmissões de dez
René Anselmo, que era um dos donos da SIN -
minutos, mas uma programação de 24 horas.
Spanish International Network, tinha acabado
Então peguei minha calculadora e fiz 29
de vender sua parte na empresa por mais de
dólares vezes 60 minutos, vezes 24 horas,
200 milhões de dólares e resolveu gastar 100
vezes 365 dias. Dava mais de 16 milhões de
milhões para construir um satélite denominado
dólares.
PanAm Sat, que abrangeria toda a América
Disse a eles que as três emissoras, juntas, Latina. Anselmo construiu, de fato, mas
iriam pagar apenas cerca de 400 mil dólares ninguém o utilizava. Então, ele nos procurou.
por ano pelo nosso serviço. Mas eles
Imediatamente vi a oportunidade de utilizar
lembraram que tinham que prestar contas à
esse satélite em nosso benefício. Mas, o
PTT e que ela não aceitaria que o negócio
Intelsat, percebendo que, pela primeira vez,
fosse fechado fora das regras estabelecidas.
enfrentaria competição, tornou-se mais
Exigiria que pagassem 16 milhões de dólares
flexível nas oportunidades que nos oferecia.
para receber um sinal que eu estava
oferecendo por 400 mil... Só que a Embratel não queria permitir que o
Intelsat fizesse uso de seus satélites para
Esse era o tipo de situação que tínhamos que
transmitir o sinal como necessitávamos. Sua
enfrentar no exterior.
rigidez era um grande problema.
74
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Foi quando alguém deu uma olhada na lei qual seja o seu noticiário local, você pode
brasileira e descobriu que, embora a Embratel incluir as nossas histórias. É um serviço novo,
fosse apontada aí como a responsável pela igual ao da VisNews ou da WTN. A segunda
transmissão dos sinais dos satélites brasileiros opção são as notícias de impacto, as mais
e do Intelsat à Terra, não havia nenhuma importantes e de maior efeito. Assim que algo
menção a respeito de outros satélites. Era o acontece, nós colocamos imediatamente no ar,
nosso caso. Tínhamos um satélite particular, de modo que o fato pode ser visto na mesma
que não era nem nacional, nem internacional, e hora em que está acontecendo e ao mesmo
cujo proprietário era um indivíduo. A tempo em que as pessoas em Washington,
Embratel teve de admitir que não era Londres ou Tóquio também o estão vendo. Foi
responsável por esse satélite e conseguimos a o serviço utilizado durante a Guerra do Golfo,
permissão para transmitir o sinal, como por exemplo. Na terceira opção, permitimos
fazemos agora no Brasil. que os licenciados utilizem nossas outras
atrações: programas de ciência e tecnologia,
O melhor exemplo desse problema com a
alimentação, nutrição, moda, cozinha, etc. A
Embratel foi o caso da TV Manchete. Três ou
emissora de televisão licenciada pode utilizar
quatro anos atrás, vim ao Brasil e fiz um
esse material não apenas em noticiários, como
acordo com a Manchete, que foi a primeira
também em seus próprios programas.
estação daqui a se interessar pela CNN.
Além das emissoras, vendemos um serviço de
Assinamos um contrato que dependia da
TV a cabo para os países onde o sistema já
aprovação da Embratel, permitindo a
está implantado. Nossos clientes são hotéis e
transmissão do sinal pelo seu sistema, já que
também particulares que possuem antenas
eles não tinham condições de pagar por 24
parabólicas. Jornais recebem nossas imagens e
horas de transmissão pelo nosso. O pessoal da
colocam monitores na redação, para que todos
Manchete não conseguiu fazer com que o
vejam o que está acontecendo no mundo.
governo concordasse com isso, até o
surgimento do PanAm Sat. Mas depois que a Nós fornecemos as imagens da CNN a todos
Embratel aceitou os nossos argumentos legais, os líderes mundiais. E de graça. Elas são vistas
tudo se acertou e, conforme o previsto, todos por Gorbatchov, Ieltsin, Bush, todos eles. Há
os outros países sul-americanos permitiram uma história sobre um primeiro-ministro de
que continuássemos. Bahrein que foi ao Hemsley Plaza Hotel de
Nova York com sua comitiva. Ele chegou, foi
Alguns anos atrás criamos um terceiro canal
para a sua suíte e foi logo ligando a televisão
de 24 horas de duração, especialmente para
na CNN. Mas, por alguma razão, não
transmitir para fora dos Estados Unidos: o
conseguiu encontrar o canal e ligou para a
CNN International. Ele não é um canal tão
recepção. Desculpando-se, a recepcionista
americano. O interessante é que os únicos que
informou que o hotel não assinava a CNN. Na
fizeram objeção foram os japoneses, porque
mesma hora, o primeiro-ministro saiu do
queriam assistir a tudo o que estivesse
quarto, mandou pagar a conta e ordenou aos
relacionado com os Estados Unidos. Ainda
assessores que encontrassem um hotel que
hoje, em alguns casos, eles trazem o sinal
recebesse o nosso sinal.
nacional da CNN ao Japão para utilizá-lo em
seus noticiários. De qualquer forma, agora Fornecemos serviços atualmente a 122 países.
temos um sinal internacional separado, para os Mas é certo que eles atingem uma audiência
nossos clientes ao redor do mundo. dez, vinte, talvez 100 vezes maior onde há
algum tipo de pirataria. A CNN é vista em
Oferecemos três opções de serviços. A
muitas partes do mundo por qualquer pessoa
primeira são notícias compactas, contendo
que possua uma antena parabólica. O sinal só é
histórias que acontecem a toda hora e são
codificado no hemisfério ocidental, nas
inseridas nos noticiários locais. Não importa
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
transmissões nacionais e no PanAm Sal. Mas Hussein queria aparecer na televisão, mais
utilizamos um satélite soviético chamado especificamente na CNN, para que o mundo
Statsionar 12, que abrange metade do mundo e inteiro escutasse o que ele tinha a dizer, eu
é captado, sem codificação, na África, na Ásia recebia um telefonema do Iraquee o transferia
Meridional e no Oriente Médio. ao setor internacional da CNN. Cinco minutos
depois, porém, eles me ligavam de novo. Não
A pirataria é feita de várias formas. Há, por
importava quantas vezes eu os transferisse, o
exemplo, o que chamo de "Sistema
telefonema sempre passava pelo meu
Guatemala". Quando fui àquele país fazer
escritório. Para eles, o meu cartão escrito em
acordos para a CNN, descobri como funciona.
árabe era o meio de fazer Saddam aparecer na
Em um lugarejo qualquer, alguém instala uma
televisão...
antena e consegue receber as imagens da
CNN. Então o seu vizinho pede para receber Há alguns comentários a fazer sobre as
também. Eles puxam um fio da primeira casa condições de reportagem na Guerra do Golfo.
até a do vizinho. Então outro vizinho diz que Travou-se uma grande polêmica sobre o rigor
também quer assistir a CNN e puxa outro fio das Forças Armadas. Li recentemente um
até sua casa. Assim, os fios vão se espalhando artigo que foi publicado na revista da
até que se tenha um serviço de cabo. O único Universidade de Syracuse, com o qual
problema é que ninguém paga por ele... concordo plenamente. O artigo foi escrito por
Mel Elfen, um membro de grande destaque do
A CNN é pioneira em propaganda
“quarto poder” em Washington, e ele próprio
internacional. Temos um departamento que faz
chamou suas observações de
acordos com patrocinadores ou clientes
“anticonvencionais”. Elfen trabalha na
interessados em anunciar mundialmente. A
imprensa desde que se formou, em 1951, no
18M, por exemplo, é uma dos clientes mais
curso de Jornalismo de Syracuse. Durante
importantes que temos. Mas, à parte as
vinte tumultuados anos, entre 1965 e 1985, ele
considerações comerciais, uma característica
foi chefe do escritório da revista Newsweek em
da CNN é que através dela muitos povos
Washington. Atualmente é o redator de
descobrem como outros países são
reportagens especiais na US News & World
conduzidos. Opiniões sobre as formas de
Report.
governo no mundo ou sobre as bolsas de
valores agora correm de país em país. A Ele diz que os jornalistas em ação no Golfo, ao
informação é instantânea. Cenas de fome, contrário dos generais, estavam lutando a
tragédia e repressão estão à disposição de guerra anterior, a do Vietnã. O desapareci
quem quiser assistí-las. Foi por isso que a mento da credibilidade do poder público após
Guerra do Golfo concentrou tanto a atenção a guerra do Vietnã provocou o surgimento de
mundial. uma geração de jornalistas céticos e
antagônicos ao poder.
Visitei o Golfo um pouco antes da guerra, no
final de 1989. Fui a Omã, Bahrein, Arábia Para eles, o Vietnã tornou-se um modelo de
Saudita, Kuwait e Iraque. O fato de ter como cobrir uma guerra, de como ganhar uma
trabalhado com a televisão no Iraque, enorme reputação como jornalista. E muitos
conseguindo acordos para a CNN, e deles desses jornalistas foram parar no centro de
terem participado da Conferência Mundial de imprensa de um hotel de Riad.
Reportagem que realizamos em Atlanta todos Mas, no deserto, a situação era completamente
os anos, foram as únicas razões pelas quais diferente. Não havia aldeões com quem se
conseguimos um bom relacionamento. Quando misturar, não se podia fazer um apanhado dos
parti do Iraque, logicamente deixei meu cartão corações e mentes do campo. Não se marchava
com eles, que vinha escrito em inglês na frente com as tropas até a frente de batalha. Não
e em árabe atrás. Assim, sempre que Saddam havia nenhuma oportunidade de se fazer uma
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
reportagem exclusiva. “No Golfo”, diz Elefen, A imprensa tinha que enfrentar também outro
“não havia muito para se ver”. A guerra teve problema: o fato da CNN estar transmitindo
uma duração de seis semanas, com um conflito todas as instruções militares. Diariamente
em terra que durou apenas quatro dias. Por transmitíamos os briefings matinais dos
esse motivo, a imprensa ficou frustrada e Estados Unidos, do Reino Unido e da França,
atacou violentamente as restrições. assim como da Arábia Saudita. A imprensa
estava nesses lugares para obter as mesmas
O fato é que essa não foi uma guerra
notícias que as pessoas recebiam em suas
jornalística. Não havia ambigüidades a
casas. Assi m, era bem compl icado enviar ao
investigar. A imprensa é notável quando há
editor uma reportagem a que ele já tinha
ambigüidades e houve bastante em Saigon. A
assistido. Isso pressionava bastante os
imprensa ridicularizava os briefings militares
repórteres e os deixava frustrados. Mas serviu
diários, os chamando de "as loucuras
para mostrar a eles como está mudando a
exageradas e enganadoras das cinco horas".
forma pela qual as notícias são colhidas e
Por outro lado, Elfen elogia os instrutores
apresentadas.
militares do Pentágono e de Riad, dizendo que
eles formaram um grupo bastante honesto. Devemos guardar de recordação alguns dos
Diz, ainda, que não repetiram os erros jornais que lemos hoje, porque não os veremos
cometidos nos briefings da fase de treinamento por muito tempo. Nós até podemos continuar a
na Europa Ocidental. vê-los, mas os nossos netos com certeza não.
Ecologicamente falando, não temos condições
Mas os repórteres moldados pela herança do
nem de sustentar a população que cresce
Vietnã permaneceram profundamente céticos
rapidamente no planeta, nem de provê-la com
em relação aos militares no Golfo. Elfen diz
jornais e revistas, derrubando todas as árvores
que eles examinavam as declarações não tanto
necessárias para isso e para a construção de
para descobrir as verdades que elas pudessem
casas, para a mobília, ete. As notícias serão
conter, mas para descobrir suas mentiras. Isso
transmitidas eletronicamente.
acarretava uma constante busca de falhas.
"Ninguém espera que a imprensa tenha uma O jornal não vai deixar de existir, mas o
amizade íntima com o Exército, mas havia um sistema que utiliza será transformado. Em vez
relacionamento antagônico sem necessidade", de usar notícias impressas em papel, ele
diz o jornalista. utilizará meios eletrônicos para a transmissão
de informações. Temos canais de TV
Quanto às restrições, a imprensa era mantida
suficientes para isso. Atualmente, um único
em pools escoltados pelo Exército. A mídia
aparelho de TV pode sintonizar centenas de
cresceu tanto nos Estados Unidos que há pools
canais. Digamos que um jornal ocupe quatro
em toda parte, incluindo a Casa Branca. Elfen
ou cinco canais. Um deles poderia tratar de
acha que se tivessem permitido que a imprensa
esportes, com repetições durante todo o dia.
se deslocasse à vontade, teria havido mais Bob
Outro poderia tratar de economia, um terceiro
Simons, o repórter da CBS que foi preso pelos
transmitiria só notícias gerais e assim por
iraquianos junto com sua equipe.
diante. Dessa forma, o público só teria a
O que eles teriam obtido? Para onde iriam? O preocupação de escolher o canal a que
Golfo não era o tipo de guerra que eles quisesse assistir a cada momento.
esperavam. Para Elfen, Watergate e Vietnã
Parte do jornal seria, então, transmitida pela
pertencem ao passado. Ele diz: "O desafio da
televisão e parte seria impressa. Poderia haver,
imprensa nos dias de hoje é lidar com as
inclusive, um canal só para anúncios
mentiras que surgem no nosso governo todos
classificados.
os dias, mas sem apresentar uma atitude
agressiva, sem ficar pensando que cada detalhe Um bom exemplo de como as coisas
é um novo Watergate". caminham nesse sentido foi o equipamento
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
utilizado na Guerra do Golfo. Seis horas após ano antes, na Romênia e no Panamá. Como se
a guerra estourar, todos os satélites de que a vê, as possibilidades técnicas de uma cobertura
CNN necessitava já tinham sido reservados ao vivo, simultânea, através dos meios
por seis meses. Isso incluía conexões com a eletrônicos, foram muitas nessa Guerra do
Arábia Saudita, Jordânia e Bahrein. Toda a Golfo. No futuro, então, serão praticamente
cobertura acabou sendo realizada através do infinitas e isso consolidará de vez a
Comsat, a PTT dos Estados Unidos, e do BTI comunicação eletrônica como a base de toda a
de Londres, a PTT britânica. atividade jornalística.
Além disso, mantivemos um canal aberto no Trabalhar na CNN não tem sido uma tarefa
Intelsat 24 horas por dia. fáciI. Há alguns países que são bastante
resistentes a nós, particularmente os países em
Tivemos ainda permissão para utilizar dois
desenvolvimento. Eles tentam manter
uplinks, sistemas de comunicação via satélite
afastadas não só a CNN, mas outras redes de
que cabiam em um conjunto de pequenas
televião, principalmente aquelas que
malas. Pode-se fazer um uplink om uma antena
transmitem notícias ao vivo. Tentam evitar que
pequena, de apenas 1,8 metro de diâmetro. Um
sua população e seu comércio tenham contato
deles foi instalado na Arábia Saudita e outro,
com a realidade que temos que enfrentar todos
um com antena de 12,4 metros, ficou em Amã.
os dias e o tempo todo.
Ambos foram devidamente autorizados pelas
PTT locais. Houve problemas com a Mas não terão sucesso a longo prazo. Os
permissão de trabalho no Iraque, já que, governos e religiões que cultivam a ignorância
naturalmente, o Departamento de Estado tinha de seus povos para se manter no poder
rompido relações com aquele país. O jeito, acabarão perdendo o controle. Dentro em
então, foi a Jordânia fazer os acordos breve, a tecnologia dos satélites irá superar
necessários com Bagdá e nós realizarmos os qualquer forma de resistência, emitindo sinais
acordos com a Jordânia. Assim, o sinal de de fácil recepção, a custo baixo. Dessa forma,
Bagdá era enviado a Amã e de lá para Atlanta. a população mundial poderá compartilhar as
melhores formas de governo, comércio,
Os repórteres também utilizavam telefones do
medicina e justiça, sem nenhuma interferência.
ImmarSat, um satélite de navegação marítima,
que já tinha sido empregado pela imprensa um
Referência bibliográfica:
PIKE, Sidney. “O Jornalismo Sem Fronteiras” in Encontro Internacional de Jornalismo:
conferências e debates (edição: Gabriel Priolli), São Paulo: IBM, 1991.
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• Como a CNN se expandiu de pequeno canal a cabo para a maior emissora mundial
de notícias, e por que essa estratégia não é aplicada em outros países?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XV
Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no
discurso jornalístico
José Rodrigues dos Santos, 2003
Passava já das duas e meia da manhã de 20 de Esta reportagem de Carlos Fino, transmitida
março de 2003 quando se ouviu um estrondo em directo pela RTP com uma panóplia de
em Bagdade. Carlos Fino e Nuno Patrício, que imagens confusas, luzes dançando no céu, a
se encontravam na varanda do seu quarto, no voz tensa do repórter abafada pelo trovejar das
14º andar do Hotel Palestina, deram o alerta explosões e das rajadas, marcou um momento
para Lisboa. Começaram a soar os alarmes na simbólico nas profundas mudanças que
capital iraquiana e a emissão da RTP foi ocorreram no mundo do jornalismo, e foi
imediatamente para o local. adequado que essas alterações se tenham
tornado visíveis na guerra de 2003 contra o
"Eu presumo que estamos agora em
Iraque, uma vez que foi na guerra de 1991
directo. Portanto, eram cinco e meia
contra o Iraque que elas começaram.
daqui quando se começaram a ouvir
estrondos. O hotel em que estamos Em boa verdade, o conflito de 2003 não foi
sofreu um abanão e de imediato mais do que o culminar das hostilidades
começaram a tocar as sirenes de encetadas em 1991. Quando da eclosão da
alarme contra ataque aéreo. Neste Guerra do Golfo, o mundo intuiu que era
momento essas sirenes sossegaram e possível ver uma guerra em directo. Na noite
voltam a ouvir-se o chilrear dos de 16 de Janeiro de 1991, a CNN foi colocada
pássaros neste amanhecer em no mapa internacional quando transmitiu o
Bagdade. Mas é um sinal claro de relato telefónico de três repórteres seus,
que está iminente, ou já mesmo entrincheirados no 9º andar do Hotel Al-
começou, um ataque por parte dos Rashid, a descrever em directo para todo o
Estados Unidos (…) São claramente mundo o início do ataque aéreo da força
audíveis aqui mais explosões… É um multinacional contra Bagdade. As primeiras
trovejar sobre Bagdade, é um palavras de Bernard Shaw, atravessando a
trovejar sobre Bagdade. Há estática do telefone, ficaram imortalizadas.
também… há claramente mísseis no "Os céus sobre Bagdade foram
ar. É um trovejar profundo sobre iluminados. Estamos a ver flashes
Bagdade. No entanto, as luzes da brilhantes por todo o céu." (Shaw,
cidade continuam acesas. Os CNN, 16 de janeiro 1991).
pássaros fogem e silenciam-se.
Vêem-se mísseis no ar, sinais
luminosos, e tudo em redor começa A reportagem em directo da CNN marcou
a explodir como num fogo de então um decisivo ponto de viragem. Até 1991
artifício. Há um fogo de artifício era impensável ver repórteres de um país a
aparente, um fogo mortal sobre os descrever uma guerra a partir do território do
céus de Bagdade. Há carros que país inimigo. Ninguém imagina jornalistas
circulam na cidade e as luzes britânicos a relatar em Berlim os
mantéem-se para já acesas, a bombardeamentos aliados da Segunda Guerra
energia eléctrica continua a Mundial. Além disso, até 1991 era igualmente
funcionar. Mas é um ataque impensável ver repórteres a relatar em directo
fortíssimo à capital do Iraque" operações militares. Mas isso aconteceu
(Fino, RTP, 20 de março 2003). naquela madrugada de 16 de Janeiro devido
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
O conflito de 2003 veio preencher as promes- Mas se a guerra de 2003 trouxe a novidade da
sas deixadas em aberto pelas hostilidades de democratização do scoop, com pequenas
1991. O ataque anglo-americano foi lançado a televisões como a RTP, a Al Jazira e a Abu
20 de março, mas a primeira estação de Dhabi TV a bater as grandes anglo-americanas,
televisão do mundo a noticiar o início da as mudanças no tipo de cobertura jornalística
guerra não foi a CNN nem a BBC nem a ITN não se ficaram por aqui. Foi em 1991 que pela
nem qualquer estação americana. Foi a RTP. primeira vez houve um relato em directo de uma
As palavras em directo de Carlos Fino guerra, se bem que audio, e foi na operação de
marcaram simbolicamente uma mudança de 1998 que pela primeira houve um relato em
fundo no panorama do jornalismo interna- directo com imagem de um bombardeamento.
cional. Já não é preciso ser um gigante para ter Mas nunca ninguém tinha visto imagens em
acesso às tecnologias necessárias que permi- directo de um campo de batalha. Esse derradeiro
tem a uma estação estar na vanguarda da infor- passo foi dado em 2003.
mação internacional. Basta um videofone, um Quando as forças americanas pensaram no
instrumento barato e com custos de transmis- relacionamento que iriam ter com os jornalistas
são dez vezes inferiores ao de um equipamento na altura em que eclodisse o último acto da
de alta definição, e um pouco de astúcia para Guerra do Golfo, decidiram retomar o conceito
bater a concorrência. A CNN levou três de "integrado" (embedded), que vinha da
minutos a dar a informação transmitida em Segunda Guerra Mundial, quando os
directo por Carlos Fino na RTP, e fê-lo apenas correspondentes faziam parte das forças
ao telefone, enquanto o jornalista português militares e tinham até a patente de capitães. Ou
estava em directo com imagem a mostrar os seja, os militares optaram por integrar jornalistas
acontecimentos. E, dois dias mais tarde, nas suas unidades de combate. Foi uma decisão
quando as forças anglo-americanas lançaram o arriscada, uma vez que colocava em perigo o
grande bombardeamento contra Bagdade, as segredo operacional e expunha as suas forças ao
imagens que transmitiram o ataque em directo escrutínio implacável dos repórteres, mas, aliada
para todo o mundo voltaram a não ser as das às inovações tecnológicas entretanto ocorridas,
estações anglo-americanas, mas antes da Al esta opção veio revelar-se revolucionária.
Jazira e da Abu Dhabi TV.
Ao integrar os jornalistas nas unidades, os
Outra importante alteração tem a ver com a responsáveis do Pentágono impuseram várias
natureza do directo. Em 1991, o relato de Shaw, condições. Qualquer jornalista integrado teria de
Holliman e Arnett foi feito ao telefone, durou se sujeitar a um treino militar, teria de
apenas uma noite e decorreu às escondidas. Em acompanhar sempre as forças militares e estava
2003, o relato de Carlos Fino e de todos os
proibido de fazer descrições precisas sobre os
outros jornalistas que se encontravam no Hotel
locais onde se encontravam e as forças que
Palestina foi efectuado com imagem, durou toda
constituiam a sua unidade. Além disso, os
a guerra e decorreu perante os olhos dos
oficiais tinham o direito de rever os despachos
iraquianos. É importante notar, todavia, que,
dos repórteres para os expurgar de informações
neste aspecto, o conflito de 2003 não foi
que pudessem pôr em risco a segurança
pioneiro. A primeira acção militar transmitida
operacional das suas missões.
com imagem em directo pela televisão foi a
operação de 1998 contra o Iraque, quando a A compensação por todos estes inconvenientes e
CNN transmitiu as imagens dos estas restrições não era de menosprezar. Os
bombardeamentos da Operação Raposa do correspondentes de guerra teriam acesso ao
Deserto, com relato em directo de Christianne campo de batalha, algo que não acontecia desde
Amanpour em Bagdade, as câmaras equipadas a Guerra do Vietname. Percebendo plenamente o
com sistema de nightvision que permitia ver os alcance dessa situação, as televisões americanas
mísseis e o fogo das antiaéreas em verde-negro. e britânicas compraram jipes militares e
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XVI
A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional
Alan Knight, 1995 (tradução: Pedro Aguiar)
Este artigo se refere à pesquisa acadêmica que, indiano. Lá, eu conversava com
quando posta em prática por uma equipe meus colegas dos jornais da Índia
multidisciplinar, tenta utilizar novas e com os assessores de imprensa.
tecnologias para alterar práticas de Juntos, nós bebíamos chá, depois
reportagem. Pode ser considerado ensino de do que, com algumas migalhas de
Jornalismo não apenas para matriculados em informações anotadas, eu
cursos universitários, mas talvez mais prosseguia até outros órgãos do
relevantemente para os vários jornalistas governo indiano, o parlamento, a
profissionais em busca de melhores maneiras Alto Comissariado Britânico, as
de conduzir seu trabalho. embaixadas, e voltava ao hotel
O trabalho se foca em reportagem para almoçar. Se houvesse uma
internacional e espera potencializar as várias matéria a fazer, eu datilografava
fontes socialmente importantes que normal- na Agência Telegráfica de Nova
Délhi.” [2]
mente ficam de fora das pautas da corrente
hegemônica.
Stuart dizia que, além dessas tarefas diárias,
ele tinha que fazer uma transmissão semanal
Reportagem Internacional
para Londres. Naqueles tempos, o trabalho de
Há muito tempo, correspondentes estrangeiros um correspondente estrangeiro sofria
têm sido vistos por outros jornalistas como consideravelmente mais pressão. No início
uma elite dentro do jornalismo3. Eles deste ano, eu estava no carro indo trabalhar em
representam um componente relativamente Sydney, ouvindo o rádio, quando uma
raro e custoso do processo de noticiar. No correspondente da ABC entrou no ar ao vivo
passado, a relativa riqueza de países ocidentais via satélite pelo telefone falando de um
permitiam-nos ter uma abordagem relaxada subúrbio no Taiti. A passagem dela foi
(relaxed) à apuração de notícias (news pontuada pelo som de bombas de gás
gathering) na Ásia. Tome-se o caso do ex- lacrimogêneo enquanto os policiais franceses
correspondente da BBC Douglas Stuart, que tentavam conter os manifestantes.
foi enviado para Nova Délhi para cobrir a
Meio século de desenvolvimento na tecnologia
Índia em 1949. Em seu livro, A Very
de comunicações transformaram a habilidade
Sheltered Life (Uma Vida Muito Abrigada),
dos correspondentes em apurar e distribuir
Stuart descreveu o trabalho diário de um
notícias. Ainda assim, o trabalho elementar
correspondente estrangeiro no pós-guerra.
dos correspondentes estrangeiros continua
“Diariamente, pela manhã, eu lia sndo a capacidade de relatar e interpretar
os jornais, marcando os trechos notícias do exterior de uma forma relevante e
que exigiriam maior investigação. compreensível para o público doméstico4.
Então, após alguns telefonemas, eu
entrava no carro ao lado do
motorista, que me levava à 4
O escritor e correspondente Ian Fleming disse o que
assessoria de imprensa do governo seriam para ele os ingredientes de um correspondente
estrangeiro ideal: “Ele (sic) deve ser creditado por seu
3
TUNSTALL, Jeremy. Journalists at Work; Specialist país e pelo seu jornal no exterior; ele deve ser ou
Correspondents. (Londres: Constable, 1971) págs.138- solteiro ou estavelmente casado e feliz em ter seus
142. filhos trazidos junto; sua personalidade deve ser tal que
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Nos últimos três anos, eu examinei o modo incidentes isolados, em vez das tendências e
como correspondentes australianos no exterior questões em desenvolvimento”5.
cobrem o ASEAN e a Indochina. Como parte
Ainda assim, é muito fácil, para
desse estudo, ao longo de 1993 eu visitei
correspondentes estrangeiros, culpar os
Jacarta, Hanói (uma vez cada), Kuala Lumpur
editores por pontos-de-vista; particularmente
(duas vezes), Singapura e Bangcoc (quatro
quando se considera de onde os
vezea cada). Passei um mês no Camboja
correspondentes dizem que conseguem as
durante as eleições, cobrindo os repórteres
matérias. Como parte do meu questionário,
enquanto eles trabalhavam. Mais de 40
pedi aos correspondentes para identificar suas
entrevistas foram gravadas até agora com
fontes e classificá-las como muito úteis, de
correspondentes expatriados, colunistas,
alguma utilidade ou inúteis. Havia mais de 20
editores e executivos, produzindo mais de
categorias à disposição deles, incluindo fontes
40.000 palavras de transcrições. As entrevistas
primárias como políticos, empresários e
foram complementadas por um questionário de
dignatários, bem como fontes secundárias
sete páginas que foi preenchido por 16 dos 19
como agências internacionais de notícias,
correspondentes australianos identificados.
revistas, emissoras de rádio e televisão. Havia
mais de 90 subcategorias para marcar.
Cobertura De acordo com as respostas da pesquisa, os
A maior parte dos correspondentes jornalistas australianos trabalhando na Ásia
australianos no exterior acreditava que a opressivamente favoreciam fontes ocidentais
cobertura australiana sobre a região não era ao buscar informações sobre suas matérias
nem precisa nem equilibrada. Os que achavam sobre o ASEAN e a China. Fontes asiáticas,
que sim, achavam que tal cobertura era “muito particularmente as das Filipinas, eram
fraca em algumas áreas” ou carecia de significativamente classificadas como as
“profundidade”. Outros disseram que, ainda menos úteis. Fontes de um único país asiático
que matérias individuais fossem bastante já tinham alta probabilidade de receber baixa
precisas, a cobertura em geral era seletiva e classificação, talvez por causa da
falha. Um entrevistado disse: “Geralmente eu disponibilidade reduzida em outros países,
acho que fica provavelmente preciso e mas agências internacionais de notícias
equilibrado o suficiente, mas no conjunto é tão asiáticas com múltipla presença regional
inconsistente e esporádico que pode dar uma também receberam nota baixa. As únicas
imagem distorcida, principalmente por cobrir exceções foram os jornais tailandeses, a única
fonte asiática ou não-ocidental a ficar entre as
10 mais.
nosso Embaixador fique feliz em recebê-lo. Quando a
ocasião exigir, ele deve conhecer algo do protocolo e
Como Douglas Stuart, meio século antes, os
ainda assim gostar de beber com o espião mais grosseiro correspondentes australianos no exterior
ou o contrabandista mais desprezível. Ele deve dominar atualmente dão preferência a diplomatas
completamente um idioma estrangeiro e ter outro à mão estrangeiros, particularmente os que vêm do
para recorrer. Ele deve estar bem inteirado da História e seu próprio país. Eles ainda examinam a mídia
da cultura do território onde está trabalhando; deve ser
intelectualmente insaciável e ter algum conhecimento da
em língua inglesa; neste caso, a Far Eastern
maior parte dos esportes. Ele deve saber guardar um Economic Review, rádio BBC, Radio Australia
segredo; deve ser fisicamente forte e não ser viciado em e os principais serviços a cabo, “marcando os
bebida. Ele deve se orgulhar do seu trabalho e do jornal trechos que exigiriam maior investigação”.
em que trabalha, e finalmente deve ser um bom repórter
com um vocabulário vasto, ligeiro na máquina de
escrever, com conhecimento de taquigrafia e saber
5
dirigir.” (FLEMING, Ian. "Foreign News". ed. Viscount KNIGHT, Alan. "Re-inventing the Wheel: Australian
Kelmsley. The Kelmsley Manual of Journalism Foreign Correspondents in Southeast Asia". Media Asia
(Londres: Cassell&Co.,1952) pág.238.) (Singapura: AMIC. vol 22. nº.1. 1995) págs.9-15.
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10
Internet: uma teia mundial de interativa de intercâmbio HERMAN, Edward. CHOMSKY, Noam.
de informação aberta a qualquer um com um Manufacturing Consent; The political economy of the
computador moderno e um modem. mass media. (Nova York: Pantheon. 1988) pág.18.
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Talvez o maior benefício econômico a longo- A notícia, nesta perspectiva, é uma construção
prazo do uso crescente destes recursos narrativa que permite a seres culturais cumprir
eletrônicos possa advir da transformação do seus deveres cívicos. É um processo
noticiário como um repositório oral de hermenêutico, buscar não a profusão de
declarações oficiais para a apresentação destas detalhes, mas a compreensão interpretativa.
declarações num contexto crítico e mais Leitores e espectadores aprendem a ler o texto
equilibrado. Até o ponto em que esta mudança sócio-político. Como uma criação simbólica, a
criar um sistema de informação pública mais notícia identifica os contornos da paisagem
completo, mais “objetivo”, isto pode atrair moral representando as delimitações de
aqueles que optaram por não ler, assistir ou valores ao longo das quais a comunidade
ouvir os produtos jornalísticos nos seus humana se forma.13
formatos atuais.11
Professores de jornalismo deveriam fazer algo
além de ensinar excelência na prática
convencional. Deveríamos tentar aplicar nossa
Conclusão
pesquisa às novas tecnologias para explorar
O Signposts afirma os Princípios de Conduta métodos profissionais que nos levarão ao
adotados pela Federação Internacional dos próximo século. Acreditamos que o projeto
Jornalistas (IFJ). Signposts pode ter aplicação global e tem
Destaca-se o primeiro princípio da IFJ, que potencial para mudar a forma como o
estabelece: noticiário internacional é produzido.
Referência bibliográfica
KNIGHT, Alan.
disponível em:
[http://www.signposts.uts.edu.au/articles/Australia/Media_and_Journalism/321.html]
11
KOCH, Tom. Journalism for the 21st Century: Online
Information, Electronic Databases and the
13
News.(Londres: Praeger. 1991) pág.310 CHRISTIANS, Clifford, FERRE, John, FACKLER,
12
International Federation of Journalists, Danger: P. Mark. Good News: Social Ethics and the Press.
Journalists at work. (Bélgica: 1992) pág.27. (Oxford: Oxford University Press. 1993) pág.14.
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Apêndices de Referência
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Agências Internacionais
País/Região Agência/Sigla Tipo Website
África (pan) PANA http://www.africanews.org/PANA
África do Sul SAPA http://www.sapa.org.za
Alemanha DPA http://www.dpa.de
América Latina Adital ONG http://www.adital.org.br
Arábia Saudita SPA (Saudi Press Agency) http://www.spa.gov.sa
Argélia ANA http://www.aai-online.com
Ásia (pan) Asia News Network http://www.asianewsnet.net
Austrália AAP http://aap.com.au
Áustria APA http://www.apa.co.at
Brasil AE (Agência Estado) privada http://www.agestado.com.br
Brasil Agência Brasil estatal http://www.radiobras.gov.br
Camboja AKP (Agence Khmer Presse) akp@camnet.com.kh
Canadá Canadian Press http://www.cp.org
China Xinhua, Hsinhua estatal http://www.xinhua.org
Coréia do Norte KCNA estatal http://www.kcna.co.jp
Coréia do Sul Yonhap privada http://www.yonhapnews.net
Cuba CubaPress estatal http://www.cubapress.com
Cuba Prensa Latina estatal http://www.prensa-latina.org
Emirados Árabes WAM http://www.wam.org.ae
Espanha EFE estatal http://www.efe.com
Estônia BNS http://www.bns.ee
EUA AP privada http://www.ap.org
EUA Bloomberg privada http://www.bloomberg.com
EUA UPI privada http://www.upi.com
Filipinas PNA http://www.pna.ops.gov.ph
França AFP (France-Presse) privada http://www.afp.com
global RSF ONG http://www.rsf.org
Haiti AHP http://www.ahphaiti.org
Holanda ANP http://www.anp.nl
Índia PTI (Press Trust of India) http://www.ptinews.com
Índia UNI http://www.uniindia.com
Indonésia Antara http://www.antara.co.id/en
Irã IRNA estatal http://www.irna.com
Itália ANSA estatal http://www.ansa.it
Japão Kyodo estatal http://home.kyodo.co.jp
Jordânia Petra estatal http://accessme.com/Petra
Líbia JANA http://www.jamahiriyanews.com
Palestina WAFA http://www.wafa.pna.net/
Polônia PAP http://www.pap.com.pl
Portugal Lusa http://www.lusa.pt
Reino Unido Press Association privada http://www.pa.press.net
Reino Unido Reuters privada http://www.reuters.com
Rússia Interfax privada http://www.interfax.ru
Rússia RIA Novosti estatal http://www.rian.ru
Rússia TASS (Itar-Tass) estatal http://www.itar-tass.com
Síria SANA http://www.sana-syria.com
Tailândia Thai News Agency http://www.mcot.org
Turquia Anadolu Ajansi estatal http://www.anadoluajansi.com.tr
Vietnã VNA estatal http://www.vnagency.com.vn
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Nota: “Governo”, em países parlamentaristas, denota exclusivamente o gabinete de ministros chefiado pelo Primeiro-
Ministro e não inclui o chefe-de-estado (presidente ou monarca).
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Nation Master
http://www.nationmaster.com
Gráficos e Estatísticas Personalizáveis (e atualizadas)
Press Display
http://www.pressdisplay.com
Reproduções em PDF do conteúdo integral de 225 jornais em 55 países.
Online Newspapers
http://www.onlinenewspapers.com
Links para centenas de websites de jornais estrangeiros.
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Julho:
4/7 - Projétil da Nasa atinge o cometa Tempel.
16/7 - O comitê olímpico internacional concede os jogos olímpicos de 2012 a Londres.
7/7- Três explosões relatadas no metrô de Londres e uma em um ônibus, deixando 50 mortos, e
mais de 200 feridos.
22/7 - Um eletricista brasileiro, Jean Charles de Menezes, recebeu um tiro fatal em uma estação
do metrô de Londres disparado por um policial, que o confundiu com um terrorista suicida.
28/7 - As lideranças do IRA emitiram uma determinação formal ordenando o fim da campanha
armada, que persiste desde 1969 e requisitaram todas suas unidades a depor suas armas.
Agosto:
23/8 - Israel desapropria estabelecimentos palestinos na Faixa de Gaza.
29/8 - Ao menos 1.417 mortos e sérios danos foram causados ao longo da costa do golfo dos
EUA, pelo furacão Katrina, que atingiu as áreas litorâneas da Louisiana, do Mississippi e do
Alabama.
Setembro:
11/9 - O primeiro ministro Junichiro Koizumi e o partido democrático liberal retornam ao poder
nas eleições gerais japonesas.
26/9 - O reservista Lynndie England do exército dos EUA foi condenado por um júri militar por
seis dos sete jurados, pelo escândalo do abuso do prisioneiro Abu Ghraib.
Outubro:
4/10 - O furacão Stan atinge o México e a América central matando mais de 1.620 pessoas.
7/10 - O diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, recebe o prêmio Nobel da paz.
19/10 – Começa o julgamento de Saddam Hussein.
20/10- O furacão Wilma entra no Caribe mexicano, passando por Cozumel e pela península de
Yucatan.
28/10 - O conselheiro do vice-presidente dos EUA Lewis Libby renuncia após ser acusado de
obstrução da justiça, perjúrio e falso testemunho na investigação do vazamento de informações
na CIA.
Novembro:
8/11- Jacques Chirac declarou estado de emergência no 12º dia do levante popular francês.
12/11 - O secretário geral da ONU, Kofi Annan, faz sua primeira visita ao Iraque, desde o início
da segunda Guerra do Golfo, e incita iraquianos a iniciar um processo de reconciliação entre os
grupos étnicos e religiosos do país.
21/11 - Ariel Sharon anunciou sua renúncia do cargo de líder do Likud e sua intenção de criar
um partido novo devotado à paz na região, Kadima, pedindo antecipação das eleições gerais
30/11 - Cirurgiões franceses realizam o primeiro transplante de face em humanos.
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Dezembro:
15/12 - Realizadas as primeiras eleições parlamentares iraquianas sob a nova constituição.
18/12 - Evo Morales ganha as eleições presidenciais bolivianas.
18/12 - O primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon, é hospitalizado após ter sofrido um
derrame.
24/12 - O papa Bento XVI conduz a sua primeira missa de natal, rezando pela paz no Oriente
Médio.
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