You are on page 1of 19

11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

questões cinematográficas

EDUARDO COUTINHO, ENCONTROS


AMOROSOS
Morto há cinco anos, o documentarista valorizava tanto a
proximidade física e o olhar quanto a escuta atenta em suas
entrevistas
EDUARDO ESCOREL
01fev2019_21h30

EDUARDO ANIZELLI/FOLHAPRESS

Este texto foi publicado originalmente em duas


partes, no site da piauí, nos dias 9 e 16 de março de
https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 1/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

2015. E é republicado agora com atualizações do


seu autor, por ocasião do aniversário de 5 anos da
morte do cineasta Eduardo Coutinho.

N
ão deveríamos nos surpreender com
homicídios. Afinal, apenas em 2016, houve
cerca de 62 mil mortes violentas no Brasil –
5,8% mais do que no ano anterior. Para cada 100
mil habitantes foram mais de trinta vítimas, pela
primeira vez na história do país. E desde 1990, as
chamadas “agressões intencionais a terceiros”
passaram a causar mais mortes do que as
provocadas por acidentes de trânsito.

Os dados indicam por que o Brasil ocupa o


desonroso 9º lugar na lista dos países mais
violentos do mundo, entre África do Sul e as
Bahamas.

Mas, apesar de conhecermos o alto grau de


violência do país, imaginamos estar protegidos –
ilusão que agrava o abalo quando alguém próximo
é golpeado. Por vivermos iludidos, estamos
despreparados para formas de agressão incomuns

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 2/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

no círculo mais próximo de nossas relações


pessoais.

De 2005 a julho de 2011, foram identificados 246


casos de parricídio no Brasil (não há dados
atualizados disponíveis), o que correspondia a
0,08% do total de homicídios cometidos naquele
período. Embora a probabilidade de ser atingido
por um raio seja considerada infinitamente menor,
o inesperado impacto da descarga elétrica parece
ser uma metáfora adequada para a comoção
causada pelo ato de violência contra o pai ou a
mãe.

O perfil típico do parricida e as circunstâncias nas


quais costuma cometer o crime confirmam que
vivemos em um mundo ilusório. O assassino do
próprio pai ou da mãe é descrito como “um
homem jovem, solteiro, desempregado, que vive
com a vítima, sofre de esquizofrenia, abusa de
álcool e drogas, e suspendeu um tratamento”,
conforme o estudo “Incidência de Parricídio no
Brasil” de Paula Inez Cunha Gomide, Ana Maria
Freitas Teche, Simone Maiorki e Singra Mara

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 3/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

Nadal Cardoso. A maior parte desses crimes é


cometida em casa, utilizando arma branca.

Com semelhante perfil e nessas circunstâncias,


surpreendente é o homicídio dos pais ser
considerado um imprevisto.

Crentes encontram consolo na fé. Psicólogos e


psiquiatras coletam dados, traçam perfis e fazem
diagnósticos. Advogados tipificam. Todos têm
necessidade de encontrar explicação racional para
a irracionalidade – definem a causa e acreditam ter
esclarecido o horror incompreensível. Em O Brilho
do Bronze (um diário), Boris Fausto escreveu que
temos “a necessidade de restaurar a racionalidade,
diante do irracional. Estabelecemos a causalidade e
explicamos assim o horror incompreensível. Nós e
a mídia ficamos satisfeitos”.

Para ímpios e agnósticos, uns sem religião, outros


conscientes da própria ignorância, ambos
insatisfeitos com diagnósticos e classificações, só
resta lidar com suas próprias perplexidades. Como
Tchekhov escreveu a um amigo: “Nada é claro

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 4/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

neste mundo. Só tolos e charlatães sabem e


entendem tudo.”

Mortes violentas, disse um amigo meu, são como


bombas de fragmentação – além da vítima, ferem
quem está por perto. Atingido pelos fragmentos, o
sobrevivente fica marcado para sempre.

No final de Cabeças Falantes (1980), um conhecido


curta-metragem de Krzysztof Kieslowski, uma
senhora de 100 anos, nascida em 1880, diz que
quer “viver mais. Muito mais”. Eduardo Coutinho
(11 de maio de 1933 – 2 de fevereiro de 2014)
também queria continuar vivo. Em outras
palavras, disse isso mais de uma vez. Quando
estava com 80 anos foi breve: “[…] infelizmente a
gente morre. […] Se eu morrer… Espero que
demore”, declarou à pesquisadora Andrea
Nestrea. Essa graça, porém, não lhe foi concedida.
Poucos meses depois, há exatos cinco anos, foi
abatido pelo braço traiçoeiro do seu filho mais
moço, em um domingo de manhã. E, no dia
seguinte, seu caixão foi posto em um carneiro
rente ao chão, na encosta do cemitério São João
Batista, no Rio de Janeiro.

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 5/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

Falar dos filmes de Coutinho, sem deixar de lado


as circunstâncias da sua morte, talvez seja uma
forma de lidar com a tragédia e manter viva a
lembrança dele.

Sei que algumas pessoas compartilham essa


sensação. Quase um ano depois de ele ter morrido,
Liana Aureliano, uma amiga em comum, contou o
sonho que teve e me parece expressar o mesmo
sentimento: “Esta noite sonhei com Eduardo
Coutinho. Um sonho longo e interessante. Eu ia
entrar no elevador de um hotel e ele estava lá
dentro. Era ele, bem moço e tentando se esconder
de mim. A porta do elevador fechou antes que eu
pudesse entrar. Na portaria do hotel me
informaram que ele era um hóspede antigo e me
deram o número do quarto. Fui falar com ele.
Reclamei do susto horrível que ele nos havia dado,
se fazendo de morto. Ele respondeu que estava
muito cansado do mundo.”

Restaria algo mais a dizer sobre a obra de Eduardo


Coutinho? A pergunta pode parecer retórica, mas
na verdade poucos cineastas brasileiros receberam,
em vida, consagração crítica semelhante à que lhe

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 6/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

foi dedicada. Menos ainda são os que foram tão


prolíficos na maturidade, tornando-se presente
através de oito filmes de longa-metragem lançados
em doze anos, entre 1999 e 2011, além de um nono
filme, Um Dia na Vida (2010), exibido apenas em
sessões privadas, sem lançamento comercial. Além
dos vários documentários que dirigiu, à medida
que seu prestígio crescia, passou a dar tantas
entrevistas e depoimentos gravados que suas
declarações acabaram se tornando repetitivas.
Diante de tamanha exegese e quantidade de
declarações, não há dúvida que todo comentário
póstumo sobre Coutinho arrisca naufragar na
redundância.

A grande novidade em sete dos nove


documentários do Coutinho realizados a partir de
Santo Forte, gravado em 1999, quando estava com
66 anos, é mostrarem um conjunto de encontros e
conversas breves, em geral sem objetivo pré-
estabelecido, realizados em espaços cada vez mais
delimitados, quer seja uma favela, um prédio, um
município contíguo a São Paulo, outro do interior
da Paraíba, um palco ou uma sala. As duas
exceções são Moscou (2009) e Um Dia na Vida

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 7/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

(2010), que apresentam diferenças marcantes,


embora preservem algumas das características
comuns aos demais.

Com o passar dos anos, à medida que a saúde


declinava e Coutinho perdia vigor físico, locações
próximas em espaço circunscrito, além de opção
estética, se tornaram condição necessária para que
conseguisse continuar a fazer filmes,
especialmente depois de O Fim e o Princípio
(2005), gravado no Nordeste em 2004.

É verdade que há encontros e conversas nos filmes


anteriores do Coutinho. A diferença está no fato de
os documentários a partir de Santo Forte deixarem
de tratar, em parte, da sua experiência pessoal,
como é o caso em Cabra Marcado Para Morrer
(1964-1984).

Em 1967, o jovem Coutinho, antes de ter retomado


a realização de Cabra Marcado Para Morrer,
interrompida em 1º de abril de 1964, disse à revista
Cine Cubano esperar que “a nova geração consiga
estabelecer certa sintonia entre sua obra e sua
vida”. Passados mais de trinta anos, essa relação

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 8/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

direta entre vida e obra deixou de existir nos


documentários da maturidade de Coutinho. O
evento histórico é substituído pelo cotidiano; o
mártir por pessoas comuns. A fala, o gesto e o
olhar se tornam o foco da observação. O interesse
está no “que existe, pelo simples fato de existir”.
Daí a afinidade que Coutinho sentiu com Spinoza,
via Bourdieu – “assentir com o mundo, concordar
com o mundo […] com os ‘fatos naturais’”; e
também com Tchekhov –, aceitar as coisas pelo
que são, sem fazer julgamentos, observando
apenas. Postura que o levou a fazer Moscou, no
qual registra uma encenação dos ensaios de As
Três Irmãs.

Além de dispositivos pré-determinados, as


gravações dos filmes de Coutinho tinham um
protocolo estabelecido – eram semelhantes a
encontros amorosos, sendo precedidos por
acurado processo de seleção e obedeciam a regras
precisas, tanto em relação ao modo de gravar,
quanto à dinâmica das conversas, nas quais
Coutinho mais ouvia do que falava. Fazia
perguntas curtas e encarava eleitas e eleitos olhos

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 9/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

nos olhos. Nesses termos, para ele a proximidade


física e o olhar pesavam tanto quanto a escuta.

Para Coutinho, as relações estabelecidas nos


encontros eram eróticas “no sentido amplo da
palavra”, como sentiu necessidade de esclarecer no
depoimento a Carlos Nader em 7 de Outubro
(2013). Nas suas próprias palavras, eram relações
físicas que faziam “uma velha ou uma garota de
programa”, que estava com o joelho colado no
dele, falarem com ele. Segundo Coutinho, “o corpo
fala, e a fala que tá ligada ao corpo, quando é
visceral, é por que há uma relação erótica”.

No encontro com Daniela, a professora de inglês


que mora sozinha com três gatos em Edifício
Master (2002), fica clara a importância do olhar e
da ausência de anteparo entre Coutinho e suas
eleitas. Há uma mesa baixa entre os dois. E Daniela
evita ostensivamente olhar nos olhos dele durante
os quase cinco minutos da conversa. Mantendo-se
de perfil, o máximo que ela se permite no início
são olhadas rápidas. Daniela diz ter “problemas de
neurose e sociofobia”. Coutinho pergunta: “Por
que que a gente conversa e você não olha pra

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 10/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

mim?” Ela continua de perfil, mas a partir dessa


pergunta passa a olhar para ele de maneira menos
fugidia e chega a sorrir. Diz ter falta de
“autoconfiança para encará-lo sem talvez gaguejar
ou piscar compulsivamente”. Olhando para
Coutinho, admite que o medo a impede de ficar
tête-a-tête, e vira o rosto. Ela está na defensiva e
recusa o que Coutinho mais quer, uma relação
íntima. No final, porém, um elo parece ter sido
estabelecido entre os dois. Depois de ler em voz
alta, primeiro em inglês, depois em português, seu
poema “Opium dreams”, sempre de perfil, Daniela
mostra uma pequena tela pintada por ela à qual
deu o título “A floresta do meu desespero”. Para
ela, “a floresta é um lugar dúbio” e o quadro “fala
de paranoia e desamor”.

Exemplar dos jogos de sedução organizados por


Coutinho é As Canções (2011), seu último filme
lançado, no qual predominam canções de amor. As
Canções começa, não por acaso, com versos de
Vinícius de Moraes que estabelecem as condições
para a mulher ser a amada, “aquela amada pelo
amor predestinada/Sem a qual a vida é nada/Sem
a qual se quer morrer.” Enquanto canta Minha

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 11/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

namorada, Sônia pensa em Luiz Carlos mas olha


nos olhos de Coutinho – é para ele que ela canta
naquele momento, assim como acontece com a
maioria das demais personagens.

“Quanto mais esquecido de si mesmo é o ouvinte,


mais fundo o que ele ouve fica gravado na sua
memória.” Confrontado pelo jovem diretor Josafá
Veloso com o aforisma VIII de Walter Benjamin,
em O Narrador, que Coutinho havia citado
quatorze anos antes, ele responde: “O resumo do
que eu gostaria de ser, do que gostaria de fazer nos
filmes está expresso nessa citação.” Isso, depois de
ter dito, momentos antes, ser “apaixonado pelo
messianismo e pela melancolia de Benjamin”.

As normas da gravação incluíam a imobilidade da


câmera e a inexistência de anteparos entre
Coutinho e sua interlocutora ou interlocutor, que
deviam estar a “justa distância”, conforme
declarou a Nader. Embora ele ficasse fora de
campo a maior parte do tempo, sua presença e
interação eram cruciais.

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 12/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

Para fazer a escolha dos participantes, homens e


mulheres, desses encontros, o cupido (ou
assistente) conduzia uma conversa prévia gravada
sem a participação de Coutinho. Ao fazer a seleção
alimentava grande expectativa pelo resultado do
encontro, a ponto de ter acessos ocasionais de fúria
quando se decepcionava. Nos intervalos das
gravações, diante só da equipe, seu pessimismo
congênito podia aflorar e chegou a dirigir os piores
impropérios às pessoas que acreditava não terem
se mostrado na conversa à altura da proposta de
estabelecer uma relação com ele através da
proximidade física, do olhar e da escuta,
componentes essenciais para o sucesso do
encontro amoroso.

Coutinho não fazia juízos morais das suas


parceiras e dos seus parceiros. Era todo olhos e
ouvidos nos encontros. Procurava estabelecer
relação harmoniosa com quem conversava, mas
não deixava de questionar o sentido das palavras
ditas por eles, assim como das suas atitudes.

Buscava estabelecer uma relação intensa, sentir


prazer e despertar paixão. Coutinho sabia de

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 13/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

antemão que seria um amor fugaz, pois limitado


àquela hora e pouco do encontro, depois do qual
perdia interesse por suas efêmeras parceiras e
parceiros, evitando deliberadamente novos
encontros depois da gravação. Comparadas a suas
maravilhosas personagens, considerava as pessoas
reais uma fraude. “Quando você volta e passa uns
dias juntos é rotina. E a rotina é insuportável, a
rotina é insuportável”, declarou ainda a Nader.

Por oposição ao historiador, memórias coletivas e


fidelidade dos relatos não tinham interesse para
Coutinho. Ele centrou sua atenção nas diferentes
formas de auto-representação suscitadas nos
encontros. O que o entusiasmava eram
testemunhos ou memórias individuais, subjetivos
e irreprodutíveis por natureza. Para ele, tinham
valor em si mesmos pelo simples fato de terem
sido contados, conforme declarou a Nader: “num
instante dado em que houve uma fricção, um
querer se mostrar, medo, se conhecer etc. dos dois
lados”.

Encontros e conversas eram demarcados por um


anti-romantismo radical. O pressuposto da relação

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 14/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

que Coutinho buscava estabelecer era a brevidade.


Como para o poeta dos Tableaux parisiens, no
famoso soneto “A uma passante”, comentado por
Benjamin, para Coutinho “o momento do
encantamento coincide com a despedida para
sempre”. A exceção foi Elizabeth Teixeira, com
quem manteve contato esporádico durante cinco
décadas, desde que a conheceu em 1962.

Os breves encontros amorosos e a convivência com


sua equipe serviram de antídotos para a solidão de
Coutinho. Para ele, gravar era uma necessidade
vital. “É o que me mantém vivo”, disse a Nader:
“[…] se eu não filmar, eu morro. […] É um meio de
estar vivo. Por que o resto não tem a menor
importância.” As gravações talvez tenham sido um
dos momentos mais felizes da última década de
sua vida. Mesmo assim, sem se deixar levar por
sentimentalismos, Coutinho fez questão de dizer a
Nader que continuava “tão infeliz quanto antes”.

Nas inúmeras ocasiões nos últimos anos de vida


em que mudou de lugar e sentou diante da câmera
ou apenas do microfone, Coutinho parece ter
tentado compensar seu relativo mutismo quando

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 15/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

estava na posição de diretor. O ritual era sempre o


mesmo. Chegava de mau humor, começava com
má vontade, rejeitava a primeira pergunta, às
vezes de forma agressiva. Depois, costumava
aderir ao jogo e falar muito. Às vezes de maneira
incompreensível, articulando mal, atropelava as
palavras e omitia a frase usual que introduz o
assunto. Outras vezes era inconveniente. Recorria
a impropérios à vontade. Errava nomes e datas,
sem deixar de dizer também muita coisa
reveladora não mencionada em entrevistas
anteriores.

Na tarde de sua última quinta-feira, por exemplo,


falou com veemência incomum do seu medo, da
utilização dos cadáveres e dos mártires pela
esquerda e pela direita, da sua prisão no Recife, em
1964, após a interrupção da filmagem de Cabra
Marcado Para Morrer, com a qual sonhou durante
anos, do regime de terror instaurado na Paraíba e
em Pernambuco depois do golpe, do assassinato
de um filho de Elizabeth Teixeira, morto por seu
irmão diante da mãe.

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 16/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

Meses antes, fora profético ao dizer que seu ideal


era “morrer no meio de um filme”. Sonhava “fazer
filmes inacabados”, declarou a Nestrea.

Por razões legais, Coutinho não pode realizar um


de seus últimos projetos. Dessa vez os encontros
seriam com meninos e meninas, pista segura para
situar a origem da sua inspiração no encantamento
de Benjamin por crianças.

Coutinho deixou um filme gravado sem editar –


registro final do seu olhar, da sua voz, da sua
escuta e do seu corpo. Montado por Jordana Berg e
concluído por João Moreira Salles, Últimas
Conversas (2015) preserva vestígios preciosos que
nos restaram junto com os filmes anteriores de
Coutinho, suas declarações e nossas lembranças.

Este texto é a versão completa, revista e atualizada


de comunicação de abertura feita em 6 de março
de 2015, na mesa-redonda “Listening and Seeing:
An Homage to Eduardo Coutinho”, na
Universidade de Princeton, promovida pelo

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 17/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

Programa de Estudos Latino Americanos, dirigido


por Pedro Meira Monteiro.

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 18/19
11/02/2019 Eduardo Coutinho, encontros amorosos

https://piaui.folha.uol.com.br/eduardo-coutinho-encontros-amorosos/ 19/19

You might also like